António Souza Cardoso, Tristezas.Cabeça - (1912), Óleo sobre tela.
Guillerme Santa Rita (1912), Cabeça, Óleo sobre tela.
Dórdio Gomes, Éguas de Manada, 1929, óleo sobre tela.
No princípio do século XX, as
letras foram marcadas em Portugal por duas correntes literárias antagónicas; o
Integralismo Lusitano, e a corrente do movimento Seara Nova. O primeiro, de que
faziam parte nomes como António Sardinha, Hipólito Raposo e Rolão Preto, tinha
raízes conservadoras, monárquicas e católicas; o segundo, cujos nomes mais
conhecidos foram os de António Sérgio, Jaime Cortesão, Raul Proença ou Aquilino
Ribeiro, situava-se na linha do nacionalismo e apresentava preocupações
político-sociais e democráticas. Esta segunda corrente que deu lugar ao
modernismo, reflectia as estéticas de vanguarda que no ínicio do século XX,
manifestavam-se na Europa, mas não tinham uma linha programática dominante, por
isso mesmo era possível uma associação à persistência de linguagem tradicionais
frente a manifestações de linha cubista, futurista ou dadaísta. ( Casos das
influencias do futurismo e do cubismo, nas obras de Santa Rita, Almada
Negreiros e Amadeo Souza Cardoso. Outro aspecto que não podemos ignorar a
influência de artistas portugueses que residiram no estrangeiro e de
estrangeiros que desenvolveram parte da sua obra em Portugal (caso do Casal
Delaunay que instalou-se em Vila do Conde onde desenvolveu parte da sua obra no
nosso país).. O primeiro modernismo português (1911-1918), centrou-se em torno
da Revista Orfheu, veículo de difusão do modernismo, dele fazendo parte nomes como Mário de Sá
Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa. O modernismo português, surgia
ainda no contexto da crise de consciência colectiva do pós-guerra,
caracterizou-se pela ausência de qualquer ideologia, pela denúncia da decadência
e da mediocridade da literatura, pela necessidade de romper com o saudosismo e
o provincianismo que afastavam Portugal das grandes tendências literárias
europeias. Almada Negreiros e Santa –Ritta Pintor, figuras de destaque do
primeiro modernismo , empenharam-se de uma maneira particular na divulgação do
Futurismo, que todavia não tiveram grande adesão do público. Fernando Pessoa
foi o principal expoente do Orpheu e da poesia portuguesa. O sentido de
mudança, a inquietação perante o destino do homem, a lucidez revelada na
análise de um mundo que se desintegrava sem conseguir restituir-lhe o sentido,
a capacidade de se desmembrar em várias personagens, cada qual correspondendo a
um perfil bem definido, conferiram à sua poesia uma dimensão que lhe granjeou
enorme prestígio no exterior. Neste contexto o primeiro modernismo, procurou
divulgar as suas propostas artísticas e literárias, em exposições, conferências
e em revistas ( como a citada revista Orpfeu e o Portugal Futurista), numa
perspectiva renovadora relativamente à sociedade e à mentalidade do país, mas
esta procura pela originalidade, que incitava à revolta e à provocação, acabou
por não ter o efeito desejado pelos seus promotores. Dificuldades decorrentes
da escassez de públicos culturais, resultantes querdo elevado analfabetismo
quer do conservadorismo dos meios urbanos mais eruditos – agravadas pela
situação política do país, foram algumas das razões. Nas artes plásticas, o modernismo, surgido em
força na segunda década do século XX, manifestou-se com pintores como Dórdio
Gomes, Santa Rita-Pintor e especialmente Souza Cardoso, o qual procurou
realizar a síntese de diversas tendências, na medida que ele próprio se
confessava impressionista, cubista, futurista e abstraccionista. Uma segunda
geração de modernistas, de que faziam parte José Régio, Miguel Torga e Adolfo
Casais Monteiro, lançou a revista Presença (1927), em Coimbra. Continuando a
proclamar-se como não doutrinários e sem filiação política, reagiram contra a
literatura academizante e preferiram centrar-se na análise introspectiva, na
confiscação ou na expressão da individualidade. Mas uma vez mais, os artistas
continuaram a deparar-se com a rejeição pelos organismos oficiais, pelo que as
exposições independentes que realizavam, de forma individual ou colectiva, a
única forma de afirmação deste novo ciclo modernista que marcou os anos 20 e
30.