Se você tentar rastrear a história dos Sketchbooks, que também podem ser chamados de cadernos de desenho, de esboços, de rabiscos, descobrirá que, embora o papel nem sempre fosse preso em Moleskines de couro como conhecemos, o conteúdo em si das páginas não mudou muito nos últimos séculos.
O diário sempre foi utilizado por artistas para desenhar ou pintar como parte de seu processo criativo ou como uma documentação do mundo externo, contando sobre suas paixões, jornadas internas, invenções, viagens e natureza.
A história mostra uma mistura de anotações visuais e lexicais. As centenas de páginas dos cadernos de desenho de Da Vinci (1452-1519), por exemplo, as quais muitos consideram os 1ºs sketches do mundo, incluíam desde estudos anatômicos detalhados, gatinhos saltitantes, até esboços de uma máquina voadora. Durante toda a sua vida, o gênio rascunhou, desenhou e até catalogou inúmeras coisas, como sua listas de afazeres e compras e escolhas de looks do dia (roupas diárias), evidenciando uma queda por meia-calça rosa.
Assim, os sketches acompanharam toda a evolução da arte até os dias atuais e se espalharam pelo mundo a partir do século XIX — anos 1800 —, quando os lápis foram fabricados pela 1ª vez, no início daquele século.
Quando o barateamento das técnicas de impressão do século XX levou à duplicação das obras de arte por meio de processos gráficos e de livros, consequentemente, a reprodução dos cadernos e esboços dos artistas, também aumentaram.
SKETCHBOOKS: UMA FORMA DE CONTEMPLAR O INFINITO
Para quem desenha, eles são práticos, úteis para fins documentais e criativos. Já para o público, passaram a ser interessantes pelo lado antes escondido da criação. O interesse cresceu tanto que os produtos da marca Moleskine, conhecida neste segmento, tornaram-se objetos de desejo mesmo para quem não desenha. Várias outras marcas seguiram este caminho, e hoje, papelarias artesanais, designers, e inúmeros tipos de lojas oferecem este produto.
Vendo-os pendurados em galerias de arte atualmente pode parecer que as pinturas, colagens, poesias, caligrafias ou criações mais importantes do mundo vieram do nada. No entanto, o processo criativo muitas vezes é o mais importante, os testes e erros, tudo é documentado no caderno anteriormente a criação de algo realmente ótimo.
Outras vezes, o sketch é uma ‘forma de contemplar o infinito’; certamente, uma saída para quebrar a casca e colocar ali frustrações, sensações e limites. Como escreveu a escritora, cineasta, filósofa e professora Susan Sontag aos 14 anos em seu caderno sobre a frustração da própria infância: “Chego cada vez mais perto de estourar esta pobre concha – agora sei – contemplação do infinito – o esforço da mente (…) E sabendo que não possuo a saída …”.
O sketch também é uma forma de dizer: “eu estive aqui”, um armazenamento de memórias para o sempre, um processo de produção – o seu modo de pensamento criativo.
Talvez um dia no futuro, quando você olhar para as páginas e ver que estão cheias de cores, desenhos, frases, colagens e fotografias de diferentes momentos, isso seja um poderoso testamento sobre seus gostos e interesses – e também um espaço para contemplar tudo o que você foi e é para si mesmo.
3 EXEMPLOS DE ARTISTAS E SEUS SKETCHBOOKS
Muitos dos maiores artistas da história levavam seus cadernos para todos os lugares desenhando tudo o que os interessasse. Por trás de cada obra-prima, existe uma vida inteira de prática. Selecionamos aqui, alguns exemplos para te inspirar.
1 – LEONARDO DA VINCI
Não poderíamos deixar Leonardo Da Vinci de fora, afinal, existem páginas e páginas do gênio que trazem anotações que datam de 1480 a 1518 e mostram seu fascinante processo de criação. Curiosamente, para um homem que estava tão em sintonia com a inovação e a tecnologia, o artista nunca tentou publicar seus cadernos durante a vida.
Em vez disso, eles foram deixados para seu aluno Francesco Melzi e algumas folhas individuais foram dispersas entre colecionadores ricos, as quais muitas acabaram em coleções de museus.
Mais de 7.000 páginas escritas pelo mestre sobreviveram, incluindo este caderno conhecido como Codex Arundel intitulado após o dono ser o colecionador inglês Thomas Howard, 14º conde de Arundel.
A partir de 2007, a British Library disponibilizou o chamado Codex Arundel on-line graças a uma colaboração com a Microsoft. O projeto permite que os visitantes vejam os cadernos com anotações na tela para explicar os diferentes aspectos escritos nas páginas.
2 – JANIS JOPLIN
Os esboços do Sketchbook de Janis Joplin intitulado Days & Summers foram predominantemente compilados entre 1966-1968, quando a cantora estava em ascensão com ‘Big Brother’ e ‘Holding’. Vemos nas páginas como os recortes ofereceram a Janis uma saída para a autoexpressão antes que ela realmente encontrasse seu lar na música.
As páginas começam ainda com Janis no colégio e trazem até uma amostra de tecido verde e branco, em homenagem a um vestido que sua mãe fez para ela; encenações de apresentações escolares; um recorte de um cartão de Dia dos Namorados com dois cachorros-quentes ilustrados (escrito: “Vamos ser francos! Eu quero VOCÊ no meu Dia dos Namorados!” – Joplin escreve que quase caiu da cadeira quando o professor deu a ela); além de recortes de jornais e revistas.
Janis sempre manteve suas publicações, mais tarde mostrando centenas de selfies, ingressos de shows dos anos 80, sinalizações de rua interessantes, cartas e memórias. Os cadernos de Janis viraram até um livro editado pela Genesis Publications.
3 – DAVID HOCKNEY
David Hockney (1937) é um pintor, desenhista, cenógrafo e fotógrafo inglês. Contribuiu para o movimento pop-art nos anos 1960, e é considerado um dos artistas britânicos mais influentes do século XX.
Em 2018, o trabalho de Hockney, Retrato de um Artista (Piscina com Duas Figuras) de 1972, foi vendido nos leilões Christie em Nova York por $ 90 milhões (£ 70 milhões), tornando-se a obra de arte mais cara de um artista vivo. Isso quebrou o recorde anterior, estabelecido em 2013 por Jeff Koons ‘ Balloon Dog (Orange).
Durante toda a sua vida, David criou inúmeros Sketchbooks que mostram desenhos de sua casa, de seu estúdio, suas viagens, paisagens, naturezas mortas, quartos de hotel, seus amigos e sua família. Ainda trabalhando e exibindo em seus 84 anos, ele se tornou um símbolo vivo do que é viver como um artista.
Nos últimos anos, Hockney voltou à Inglaterra para pintar a paisagem de sua infância em East Yorkshire. Embora seu interesse por novas tecnologias o tenha levado a desenvolver uma técnica de desenho no iPad, ele também viajou para o ar livre com um caderno tradicional, capturou a mudança de luz e os efeitos do clima.
Criadas em aquarela e tinta, as cenas panorâmicas mostram a complexidade espacial de pinturas inacabadas – a ampla extensão do céu ou da estrada, a tapeçaria de retalhos da terra – e o imediatismo das impressões de Hockney, que se transformaram em um lindo livro.
Fonte: Desenho Online / Revista Continente / Wikipedia / The Blue Review / Domestika / WePresent.
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