
Paulo Espínola
Born in Azores (Portugal). Geographer, graduated and master's degree from the University of Coimbra. Completed in 2022 his PhD in Human Geography at the same university, where is researcher of Centre of Studies in Geography and Spatial Planning (CEGOT), since 2011. His research is mainly on island spaces and international migration.
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Papers by Paulo Espínola
Duas circunstâncias geográficas, como a pequenez e a enorme distância aos grandes centros socioeconómicos, geralmente acarretam dificuldades acrescidas para os espaços insulares. Com efeito, uma área demasiado reduzida limita bastante os recursos que esse território poderá oferecer, pelo que perante elevadas densidades demográficas muitas vezes a população procura melhorar o nível de vida através da emigração (King, 1993; King, 1999; McCall, 1994). No entanto, quando o total de habitantes de uma ilha decresce até determinado limite torna-se complicado obter investimento privado, dado que a dimensão do mercado local não possibilita grandes margens de lucro, podendo mesmo originar prejuízo (trata-se de um mau negócio, portanto!) (Srebrnik, 2000). Por seu lado, estar distante dos territórios com os quais estão interligados economicamente (exportações vs. importações) assume-se como uma desvantagem, pois naturalmente a distância promove o aumento dos custos do transporte de mercadorias e pessoas, o que encarece as deslocações de gente e os bens que chegam às ilhas, bem como aqueles que são exportados (Read,
2004; King, 2010). John Connell (2007) afirma que as ilhas estão invariavelmente caracterizadas por migração. Genericamente este geógrafo australiano considera três etapas principais: a uma longa fase de colonização que contribuiu para o crescimento demográfico insular, seguiu-se um período de declínio demográfico das ilhas marcado por um processo de intensa emigração (a partir dos anos 60 do século anterior), mais recentemente destaca o aparecimento de um novo tipo de imigração de reformados em determinadas ilhas próximas do continente europeu, originando assim um novo incremento populacional. No entanto, a imigração laboral também pode ocorrer em ilhas, caso se verifique uma certa recuperação da vitalidade económica insular, sendo o turismo, e os seus serviços complementares, uma das atividades económicas que exige maior recrutamento de mão de obra exterior (Royle, 2001).
O cruzamento de culturas nas ilhas não é algo novo, uma vez que já Vidal de la Blanche (1926) referia-se às ilhas como centros de encontro e fusão de povos. Porém, Baldacchino (2010) distingue os visitantes de curta duração (turistas) dos residentes de longa duração provenientes do exterior. Sugere que a população local insular exibe uma atitude de tolerância otimista face ao primeiro grupo (tendo em conta os benefícios económicos que estes trazem no imediato), mas muitas vezes demonstram desagradado e desconfiança, senão mesmo hostilidade, para com os elementos do segundo conjunto, excluindo-os da participação do modo de vida insular. Será desta forma que todos os imigrantes insulares são tratados? Este tipo de atitude dos autóctones acontecerá em todas as sociedades das ilhas?
O inglês Russell King (2010), propõe mais duas hipóteses no âmbito das relações sociais entre os locais e os imigrantes: será que a pequena escala das sociedades insulares constituiu um ambiente mais acolhedor? Ou será que alguns grupos de imigrantes são bem-vindos,
outros tolerados e outros ainda rejeitados?
Com o propósito de esclarecer este tipo de dúvidas, elaboramos o presente texto. Para tal, optamos por estudar três ilhas açorianas, Graciosa, Flores e Corvo, as que possuem menos população das ilhas portuguesas habitadas. Imigrantes nos Açores? A ideia pode parecer estranha quando se sabe que o arquipélago tem uma longa história de emigração (Machado, 2010, p. 19). Mas de facto faz parte da realidade atual do arquipélago e que atravessa as suas nove ilhas, quando se sabe que a sua mais pequena parcela – o Corvo – foi a que registou maior acréscimo demográfico relativo ao longo do último período intercensitário, alicerçado sobretudo na fixação de imigrantes estrangeiros ao longo dos seus 17 km². O estudo realizado sobre a imigração açoriana por Rocha et al. (2009) enquadra este fenómeno migratório no plano nacional, embora refira um certo desfasamento temporal, dado ser mais recente nos Açores relativamente ao território ibérico português. Apesar da tendência dominante ser para os imigrantes se concentrarem nas principais cidades do arquipélago, os efeitos da imigração estende-se a todas as ilhas e sente-se com mais intensidade em áreas de baixa densidade demográfica, mais envelhecida e com tendência para o declínio demográfico (Fonseca, 2007, p. 128). É neste contexto que se justifica um estudo deste tipo nas ilhas selecionadas.
O principal objetivo deste artigo passa por determinar os tipos de relação entre as várias comunidades imigrantes e as sociedades (de)autóctones, numa perspetiva que pretende verificar o padrão de inserção social dos não naturais nas três ilhas dos Açores. Além disso,
será igualmente analisada a relação entre os diferentes grupos de estrangeiros residentes. O tratamento e interpretação de dados provenientes de dois inquéritos aplicados durante a realização do trabalho de campo da nossa dissertação de doutoramento constituiu
a metodologia principal. No conjunto das três ilhas foram realizados 124 inquéritos aos imigrantes estrangeiros e 167 à população autóctone, durante o último semestre de 2013. A distribuição do número de entrevistas foi efetuada tendo em conta o peso dos habitantes residentes nacionais e nascidos no estrangeiro de cada ilha, utilizando-se como referência os resultados do último Recenseamento Geral de População de Portugal (2011).
O presente texto encontra-se organizado com a seguinte lógica. Em primeiro lugar, será realizado um enquadramento natural e demográfico das unidades espaciais em análise. Segue-se uma abordagem às principais diferenças e ao modo de relacionamento entre as várias comunidades imigrantes, para numa fase posterior determinar-se os tipos de relação entre os imigrantes a população natural, numa perspetiva dos que migraram. Por último, será apresentada a perceção e o tipo de interelação dos autóctones com as diversas comunidades de imigrantes.
Duas circunstâncias geográficas, como a pequenez e a enorme distância aos grandes centros socioeconómicos, geralmente acarretam dificuldades acrescidas para os espaços insulares. Com efeito, uma área demasiado reduzida limita bastante os recursos que esse território poderá oferecer, pelo que perante elevadas densidades demográficas muitas vezes a população procura melhorar o nível de vida através da emigração (King, 1993; King, 1999; McCall, 1994). No entanto, quando o total de habitantes de uma ilha decresce até determinado limite torna-se complicado obter investimento privado, dado que a dimensão do mercado local não possibilita grandes margens de lucro, podendo mesmo originar prejuízo (trata-se de um mau negócio, portanto!) (Srebrnik, 2000). Por seu lado, estar distante dos territórios com os quais estão interligados economicamente (exportações vs. importações) assume-se como uma desvantagem, pois naturalmente a distância promove o aumento dos custos do transporte de mercadorias e pessoas, o que encarece as deslocações de gente e os bens que chegam às ilhas, bem como aqueles que são exportados (Read,
2004; King, 2010). John Connell (2007) afirma que as ilhas estão invariavelmente caracterizadas por migração. Genericamente este geógrafo australiano considera três etapas principais: a uma longa fase de colonização que contribuiu para o crescimento demográfico insular, seguiu-se um período de declínio demográfico das ilhas marcado por um processo de intensa emigração (a partir dos anos 60 do século anterior), mais recentemente destaca o aparecimento de um novo tipo de imigração de reformados em determinadas ilhas próximas do continente europeu, originando assim um novo incremento populacional. No entanto, a imigração laboral também pode ocorrer em ilhas, caso se verifique uma certa recuperação da vitalidade económica insular, sendo o turismo, e os seus serviços complementares, uma das atividades económicas que exige maior recrutamento de mão de obra exterior (Royle, 2001).
O cruzamento de culturas nas ilhas não é algo novo, uma vez que já Vidal de la Blanche (1926) referia-se às ilhas como centros de encontro e fusão de povos. Porém, Baldacchino (2010) distingue os visitantes de curta duração (turistas) dos residentes de longa duração provenientes do exterior. Sugere que a população local insular exibe uma atitude de tolerância otimista face ao primeiro grupo (tendo em conta os benefícios económicos que estes trazem no imediato), mas muitas vezes demonstram desagradado e desconfiança, senão mesmo hostilidade, para com os elementos do segundo conjunto, excluindo-os da participação do modo de vida insular. Será desta forma que todos os imigrantes insulares são tratados? Este tipo de atitude dos autóctones acontecerá em todas as sociedades das ilhas?
O inglês Russell King (2010), propõe mais duas hipóteses no âmbito das relações sociais entre os locais e os imigrantes: será que a pequena escala das sociedades insulares constituiu um ambiente mais acolhedor? Ou será que alguns grupos de imigrantes são bem-vindos,
outros tolerados e outros ainda rejeitados?
Com o propósito de esclarecer este tipo de dúvidas, elaboramos o presente texto. Para tal, optamos por estudar três ilhas açorianas, Graciosa, Flores e Corvo, as que possuem menos população das ilhas portuguesas habitadas. Imigrantes nos Açores? A ideia pode parecer estranha quando se sabe que o arquipélago tem uma longa história de emigração (Machado, 2010, p. 19). Mas de facto faz parte da realidade atual do arquipélago e que atravessa as suas nove ilhas, quando se sabe que a sua mais pequena parcela – o Corvo – foi a que registou maior acréscimo demográfico relativo ao longo do último período intercensitário, alicerçado sobretudo na fixação de imigrantes estrangeiros ao longo dos seus 17 km². O estudo realizado sobre a imigração açoriana por Rocha et al. (2009) enquadra este fenómeno migratório no plano nacional, embora refira um certo desfasamento temporal, dado ser mais recente nos Açores relativamente ao território ibérico português. Apesar da tendência dominante ser para os imigrantes se concentrarem nas principais cidades do arquipélago, os efeitos da imigração estende-se a todas as ilhas e sente-se com mais intensidade em áreas de baixa densidade demográfica, mais envelhecida e com tendência para o declínio demográfico (Fonseca, 2007, p. 128). É neste contexto que se justifica um estudo deste tipo nas ilhas selecionadas.
O principal objetivo deste artigo passa por determinar os tipos de relação entre as várias comunidades imigrantes e as sociedades (de)autóctones, numa perspetiva que pretende verificar o padrão de inserção social dos não naturais nas três ilhas dos Açores. Além disso,
será igualmente analisada a relação entre os diferentes grupos de estrangeiros residentes. O tratamento e interpretação de dados provenientes de dois inquéritos aplicados durante a realização do trabalho de campo da nossa dissertação de doutoramento constituiu
a metodologia principal. No conjunto das três ilhas foram realizados 124 inquéritos aos imigrantes estrangeiros e 167 à população autóctone, durante o último semestre de 2013. A distribuição do número de entrevistas foi efetuada tendo em conta o peso dos habitantes residentes nacionais e nascidos no estrangeiro de cada ilha, utilizando-se como referência os resultados do último Recenseamento Geral de População de Portugal (2011).
O presente texto encontra-se organizado com a seguinte lógica. Em primeiro lugar, será realizado um enquadramento natural e demográfico das unidades espaciais em análise. Segue-se uma abordagem às principais diferenças e ao modo de relacionamento entre as várias comunidades imigrantes, para numa fase posterior determinar-se os tipos de relação entre os imigrantes a população natural, numa perspetiva dos que migraram. Por último, será apresentada a perceção e o tipo de interelação dos autóctones com as diversas comunidades de imigrantes.
A entrada na segunda década do novo milénio coincidiu com o inicio das célebres revoluções árabes, que estariam na origem da crise de refugiados registada tempos depois e que colocaram o continente europeu sobre uma enorme pressão migratória, principalmente a leste, através dos fluxos provenientes do médio oriente. Conjugando as crises económica e de refugiados e a tentativa de associar esta última à falta de segurança dos cidadãos europeus, muitos partidos populistas anti-imigração utilizaram esta estratégia para subirem os seus resultados nas eleições nacionais, procurando assim condicionar as políticas de imigração de vários países europeus, nomeadamente na França, mas também no centro (Alemanha e Áustria) e a leste (Polónia e Hungria, por exemplo). No entanto, a confirmação do Brexit, no referendo de 2016, terá sido o facto que mais abalou a União Europeia (UE). A campanha pela saída do Reino Unido da UE utilizou o tema da imigração (e da livre circulação no espaço Schengen) para captar votos, sendo bem-sucedida.
É neste contexto que os Açores se afirmam como uma região com capacidade atrativa para imigrantes. O censo da população portuguesa de 2011 revelou percentagens assinaláveis de habitantes naturais do estrangeiro entre os residentes das duas ilhas do grupo ocidental, confirmando que este fenómeno se estendeu a todo o arquipélago. Tratando-se de duas sociedades insulares de pequena dimensão, os principais objetivos desta comunicação passam por verificar o grau de interação entre os autóctones e a população imigrada, bem como procurar demonstrar o tipo de perceção dos locais para com os que chegam do estrangeiro. Este tipo de análise tem em conta as várias características dos imigrantes, nomeadamente a sua região de origem, numa época em que cresce um pouco por toda a Europa o sentimento anti-imigração. Será que se verifica o mesmo nestas duas ilhas duplamente periféricas? Ou, os locais terão preferência por uns em detrimento de outros? Existirão preconceitos em relação a esses imigrantes? A pequenez das ilhas contribuirá para o estabelecimento de relações de proximidade entre os dois conjuntos de população ou facilita o surgimento de conflitos entre ambas?
Aproveitando a experiência recente de florentinos e corvinos com os imigrantes e recorrendo a um inquérito realizado a essa população em plena crise económica nacional (2013/2014), no âmbito da nossa dissertação de doutoramento, procuraremos dar resposta a estas e a outras questões sobre a integração de imigrantes nestas duas ilhas açorianas.
imigrantes. É o caso das pequenas unidades insulares atlânticas Graciosa e El Hierro – ilhas tradicionalmente associadas a territórios de emigração, mas que apresentam nos últimos trinta anos um acréscimo do contingente imigrante. O presente texto procura desmitificar este tipo de fenómeno migratório recente nestes espaços insulares tão limitados e, raramente, conhecidos. O principal objetivo passa por determinar os principais impactos que a chegada de imigrantes
produz nas ilhas, e mais concretamente nas sociedades insulares. As questões nucleares que norteiam este estudo estão relacionadas com o tipo de atratividade que exercem nos imigrantes e com o seu nível de aceitação por parte das populações locais. Com o auxílio de fontes estatísticas oficiais de ambos os países ibéricos e recorrendo aos dois inquéritos aplicados no âmbito da nossa dissertação de doutoramento em 2014, um à população local (86 na Graciosa e 53 em El Hierro) e outro aos imigrantes estrangeiros (40 na Graciosa e 62 em El Hierro), procuraremos apresentar conclusões elucidativas sobre o modo de vida dos imigrantes nas pequenas ilhas dos Açores e das Canárias.