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dengue

O aumento das temperaturas pode ter um impacto na incidência de dengue em Campinas. É o que mostra um artigo de pesquisadores da Unicamp publicado em setembro na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Com base em modelos estatísticos, o estudo aponta que uma elevação da temperatura em 1 °C pode acarretar um crescimento de até 40% no número de casos de dengue na cidade, chamando atenção para a importância do combate à doença em um cenário mundial de temperaturas médias cada vez mais altas.

A publicação tem autoria de Bernardo Geraldini, doutorando do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, e dos professores Igor Cavallini Johansen, do Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e Marcelo Justus, do Centro de Estudos em Economia Aplicada, Agrícola e do Meio Ambiente (CEA) do IE. Os modelos usados consideraram dados mensais de incidência da dengue registrados pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2022, e as médias de temperatura mensal no mesmo período estabelecidas pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp.

Geraldini
Bernardo Geraldini, doutorando do IE, explica que diferentes modelos estatísticos podem revelar relações distintas entre os dados

A pesquisa também investigou a relação entre a incidência de chuvas e a quantidade de casos de dengue em Campinas. Os cálculos, no entanto, não mostraram uma relação direta entre os dois fatores. “Há muitos estudos no Brasil que propõem uma relação entre a incidência de dengue e a precipitação. Isso é algo que parece ser mais intuitivo”, diz Geraldini. “Porém os modelos mostraram que a temperatura parece ser mais importante.”

Os dois modelos selecionados mostraram haver uma relação entre o aumento da temperatura e a incidência da dengue. No primeiro modelo, o aumento de 1 °C na média histórica de temperatura implicaria um crescimento médio de 20% na incidência de dengue, sendo 12,4% no mesmo mês e 8,4% no mês seguinte. Já no outro modelo, o mesmo aumento de 1 °C levaria a um crescimento na incidência de dengue de 16,8% no mesmo mês, podendo chegar no máximo a 40% de aumento em dois meses.

Os modelos confirmam uma tendência observada em gráficos elaborados pelos pesquisadores: o aumento na temperatura antecede o crescimento no número de casos. “A lógica dos modelos reproduz a lógica dos dados. Há todo um processo de desenvolvimento do mosquito [Aedes aegypti, transmissor da dengue] e da doença para que os casos ocorram, os sintomas apareçam e haja a notificação, o que captamos em nossos dados”, detalha Johansen.

Controle sobre variáveis

A metodologia utilizada pelos pesquisadores no desenvolvimento dos modelos estatísticos tem por objetivo analisar a relação entre duas ou mais variáveis, ou seja, prever o valor de uma delas – como preços, nas análises econômicas, ou incidência de doenças, na área da saúde – com base na variação de outros índices. No caso da dengue, a sazonalidade da doença e sua imprevisibilidade são fatores que devem ser considerados. Por isso, para analisar o comportamento de uma determinada variável, os modelos tomam por base as variações ocorridas anteriormente e assumem que permanecerão constantes ao longo do tempo.

gráfico
O calor intensifica a transmissão da dengue: os picos antecedem quase sempre altas na incidência da doença

Segundo Geraldini, em um cenário de variáveis que podem se comportar de muitas formas e que estão sujeitas a diversas interferências, a modelagem demanda uma simplificação da realidade, limitando-a aos dados considerados nas análises. “Se, no início do ano, houvesse um grande mutirão de saúde, que acabasse com os criadouros do mosquito, os dados mostrariam a ausência de novos casos logo em seguida”, exemplifica, deixando claro ser necessário ter prudência ao identificar qualquer relação entre as variáveis. “Vários modelos diferentes podem mostrar relações distintas entre os dados.”

Também se faz necessária a contribuição de conhecimentos vindos de outras áreas e que sirvam para os pesquisadores compreenderem as variáveis relacionadas à ocorrência de epidemias de dengue. Johansen lembra que pesquisas biológicas na área já verificaram que o processo de desenvolvimento do A. aegypti se acelera no calor, potencializando a ocorrência de casos da doença. O professor ressalta ainda que a dengue é uma doença multicausal, o que exige esforços em várias frentes. “Problemas de saúde pública como a dengue não são resolvidos em uma única gestão municipal. É necessário atuar em múltiplas frentes com uma perspectiva de longo prazo”, comenta.

De 1º de janeiro até 7 de outubro deste ano, o município contabilizou 119.204 casos de dengue, de acordo com os números disponibilizados pelo Painel Interativo de Monitoramento de Arboviroses, administrado pela Secretaria Municipal de Saúde. O número é bem maior do que os 11.523 casos registrados em 2023 e aponta para a maior epidemia da doença na história de Campinas. As regiões mais afetadas pela dengue, sudoeste e noroeste do município, concentram cerca de 44% dos casos.

Johansen
Igor Cavallini Johansen, professor do IFCH, alerta que o aquecimento global pode levar a dengue a avançar para áreas hoje livres da doença

“Quando atuamos nas causas da dengue, contribuímos para a redução de outras doenças, o que melhora a qualidade de vida das pessoas”, pontua Johansen. “O investimento em saneamento básico, por exemplo, também impacta o controle de diarreias, leptospirose, entre outras doenças.” O pesquisador alerta, ainda, para o risco de doenças como a dengue avançarem para novas regiões. “Em um contexto de mudanças climáticas, com a expansão das áreas mais quentes no planeta, há o risco de a dengue se espalhar para regiões onde, até então, o ambiente não era favorável ao desenvolvimento do vetor da doença. Isso é extremamente preocupante.”

dengue

O aumento das temperaturas pode ter um impacto na incidência de dengue em Campinas. É o que mostra um artigo de pesquisadores da Unicamp publicado em setembro na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Com base em modelos estatísticos, o estudo aponta que uma elevação da temperatura em 1 °C pode acarretar um crescimento de até 40% no número de casos de dengue na cidade, chamando atenção para a importância do combate à doença em um cenário mundial de temperaturas médias cada vez mais altas.

A publicação tem autoria de Bernardo Geraldini, doutorando do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, e dos professores Igor Cavallini Johansen, do Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e Marcelo Justus, do Centro de Estudos em Economia Aplicada, Agrícola e do Meio Ambiente (CEA) do IE. Os modelos usados consideraram dados mensais de incidência da dengue registrados pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2022, e as médias de temperatura mensal no mesmo período estabelecidas pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp.

Geraldini
Bernardo Geraldini, doutorando do IE, explica que diferentes modelos estatísticos podem revelar relações distintas entre os dados

A pesquisa também investigou a relação entre a incidência de chuvas e a quantidade de casos de dengue em Campinas. Os cálculos, no entanto, não mostraram uma relação direta entre os dois fatores. “Há muitos estudos no Brasil que propõem uma relação entre a incidência de dengue e a precipitação. Isso é algo que parece ser mais intuitivo”, diz Geraldini. “Porém os modelos mostraram que a temperatura parece ser mais importante.”

Os dois modelos selecionados mostraram haver uma relação entre o aumento da temperatura e a incidência da dengue. No primeiro modelo, o aumento de 1 °C na média histórica de temperatura implicaria um crescimento médio de 20% na incidência de dengue, sendo 12,4% no mesmo mês e 8,4% no mês seguinte. Já no outro modelo, o mesmo aumento de 1 °C levaria a um crescimento na incidência de dengue de 16,8% no mesmo mês, podendo chegar no máximo a 40% de aumento em dois meses.

Os modelos confirmam uma tendência observada em gráficos elaborados pelos pesquisadores: o aumento na temperatura antecede o crescimento no número de casos. “A lógica dos modelos reproduz a lógica dos dados. Há todo um processo de desenvolvimento do mosquito [Aedes aegypti, transmissor da dengue] e da doença para que os casos ocorram, os sintomas apareçam e haja a notificação, o que captamos em nossos dados”, detalha Johansen.

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O calor intensifica a transmissão da dengue: os picos antecedem quase sempre altas na incidência da doença

Controle sobre variáveis

A metodologia utilizada pelos pesquisadores no desenvolvimento dos modelos estatísticos tem por objetivo analisar a relação entre duas ou mais variáveis, ou seja, prever o valor de uma delas – como preços, nas análises econômicas, ou incidência de doenças, na área da saúde – com base na variação de outros índices. No caso da dengue, a sazonalidade da doença e sua imprevisibilidade são fatores que devem ser considerados. Por isso, para analisar o comportamento de uma determinada variável, os modelos tomam por base as variações ocorridas anteriormente e assumem que permanecerão constantes ao longo do tempo.

Segundo Geraldini, em um cenário de variáveis que podem se comportar de muitas formas e que estão sujeitas a diversas interferências, a modelagem demanda uma simplificação da realidade, limitando-a aos dados considerados nas análises. “Se, no início do ano, houvesse um grande mutirão de saúde, que acabasse com os criadouros do mosquito, os dados mostrariam a ausência de novos casos logo em seguida”, exemplifica, deixando claro ser necessário ter prudência ao identificar qualquer relação entre as variáveis. “Vários modelos diferentes podem mostrar relações distintas entre os dados.”

Também se faz necessária a contribuição de conhecimentos vindos de outras áreas e que sirvam para os pesquisadores compreenderem as variáveis relacionadas à ocorrência de epidemias de dengue. Johansen lembra que pesquisas biológicas na área já verificaram que o processo de desenvolvimento do A. aegypti se acelera no calor, potencializando a ocorrência de casos da doença. O professor ressalta ainda que a dengue é uma doença multicausal, o que exige esforços em várias frentes. “Problemas de saúde pública como a dengue não são resolvidos em uma única gestão municipal. É necessário atuar em múltiplas frentes com uma perspectiva de longo prazo”, comenta.

De 1º de janeiro até 7 de outubro deste ano, o município contabilizou 119.204 casos de dengue, de acordo com os números disponibilizados pelo Painel Interativo de Monitoramento de Arboviroses, administrado pela Secretaria Municipal de Saúde. O número é bem maior do que os 11.523 casos registrados em 2023 e aponta para a maior epidemia da doença na história de Campinas. As regiões mais afetadas pela dengue, sudoeste e noroeste do município, concentram cerca de 44% dos casos.

Johansen
Igor Cavallini Johansen, professor do IFCH, alerta que o aquecimento global pode levar a dengue a avançar para áreas hoje livres da doença

“Quando atuamos nas causas da dengue, contribuímos para a redução de outras doenças, o que melhora a qualidade de vida das pessoas”, pontua Johansen. “O investimento em saneamento básico, por exemplo, também impacta o controle de diarreias, leptospirose, entre outras doenças.” O pesquisador alerta, ainda, para o risco de doenças como a dengue avançarem para novas regiões. “Em um contexto de mudanças climáticas, com a expansão das áreas mais quentes no planeta, há o risco de a dengue se espalhar para regiões onde, até então, o ambiente não era favorável ao desenvolvimento do vetor da doença. Isso é extremamente preocupante.”

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