Por Memória Globo

Memória Globo

José Vasconcelos de Assis Dias cursou estatística na Universidade Católica do Recife, tendo viajado para os Estados Unidos antes de concluir o curso. Lá, estudou Eletrônica na Cleveland University e trabalhou na General Motors. Ao retornar ao Brasil, foi trabalhar como engenheiro da Simmens, onde montava equipamentos médicos e hospitalares.

Em 1971, José Dias foi convidado para trabalhar na Globo em Recife, onde passou a atuar como responsável pela área de videoteipe. Três anos depois, mudou-se para São Paulo para ajudar a remontar a sucursal da emissora após o incêndio ocorrido em 1969. Em 1976, a emissora do Rio também pegou fogo, e José Dias mudou-se para a cidade a fim de colaborar na recuperação das instalações e das máquinas.

Posteriormente, Adilson Pontes Malta, diretor de Engenharia da Globo, convidou-o para montarem juntos um departamento de Pesquisa e Desenvolvimento. Começou, então, a chefiar esse departamento e a criar projetos que pudessem trazer excelência técnica para a Globo. Durante o período de transição entre Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, já havia iniciado o desenvolvimento de diversos projetos na área de televisão, todos com o objetivo de melhorar a exibição.

Segundo José Dias, ele foi responsável pelo desenvolvimento de um projeto para tornar colorido o videoteipe que exibia os comerciais, de modo que pudessem levar ao ar a programação em cores. Em 1980, desenvolveu também um sistema de computador, chamado de DIG, que controlava máquinas de videocassete para a exibição automática da programação. O projeto foi levado, ainda, para a Tele Montecarlo, da Itália; e a Globosat iniciou seus trabalhos com essa estrutura de equipamentos.

Com o projeto desenvolvido, foi para São Paulo fazer uma palestra, onde conheceu o designer Hans Donner. No debate, José Dias mostrou um novo equipamento para a manipulação de vídeo, criado para produzir efeitos especiais para 'Os Trapalhões'. Pensava em aprimorar o visual da Rede Globo e convidou Hans Donner para uma parceria. Em 1982, foi para os Estados Unidos para contratar uma equipe e comprar equipamentos a fim de montar a Pacific Data Image (PDI), que trabalhou em parceria com a Rede Globo por dois anos desenvolvendo tecnologia. O projeto foi tão bem-sucedido que a PDI acabou por ser comprada pela Dream Works, de Steven Spielberg.

Em 1984, a Globo montou a Globo Computação Gráfica (GCG), departamento da emissora chefiado por José Dias, que passou a estar à frente do desenvolvimento de vinhetas e aberturas da programação da emissora. O departamento criou todo o visual da década de 1980 da Globo, partindo de projetos desenvolvidos a seis mãos: José Dias desenvolvia tecnologia, Hans Donner criava formas para acoplar aos mais modernos recursos visuais, e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, coordenava todo o processo de criação. O resultado foi uma estética sempre à frente do que se produzia mundialmente para a televisão.

A Globo Computação Gráfica era a única produtora do gênero no país até então. No mesmo ano da fundação do departamento, Hans Donner e José Dias uniram técnicas de computação gráfica a cenários virtuais e sintéticos para criar aquela que consideram a mais revolucionária abertura do Fantástico. Um laser cortava uma pirâmide metálica, que passou a ser o símbolo do programa, formando diversas plataformas que flutuavam no espaço. Sobre elas, dançava um grande corpo de baile, idealizado por Hans Donner e Silvia Trenker. Além desse trabalho, realizado na fase inaugural da GCG, José Dias esteve à frente da premiada campanha do jornal O Globo, quando criou e lançou o áudio da máquina de escrever que celebrizou o anúncio que foi ao ar por muitos anos.

Em 1988, esteve no Japão visitando os laboratórios da Sony. Lá, foi apresentado a um protótipo de computador que a empresa estava desenvolvendo para uso policial: um gerador de retratos falados em terceira dimensão. Usando o equipamento, desenvolveu ao lado de Hans Donner uma abertura para o programa de Chico Anysio considerada revolucionária na televisão brasileira: a vinheta apresentava imagens fotográficas dos personagens de Chico Anysio que ganhavam tratamento tridimensional e hiper-realista.

Ainda em 1988, a Globo Computação Gráfica desenvolveu um projeto com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para a fabricação de um frame-buffer, equipamento usado na computação gráfica para transformar dados do computador em imagens. No mesmo ano, José Dias ainda esteve à frente da produção da vinheta de 16 segundos que abriu o show Tina in Rio, da cantora Tina Turner, transmitido pela Globo diretamente do Maracanã. Feita através de um programa de computador que gerava 450 fotogramas, a vinheta consumiu 35 dias de trabalho de uma equipe de 30 pessoas.

Em 1989, a Globo Computação Gráfica foi transformada em mais uma empresa das Organizações Globo e ganhou o nome de Globograph. Sob o comando de José Dias, a produtora, além de trabalhar para a Rede Globo de Televisão criando vinhetas e aberturas, desenvolveu tecnologia de ponta e vendeu ideias para o mercado publicitário, inclusive para a Argentina e o Chile. No Brasil, criou cerca de mil comerciais, atendendo a grandes empresas. Com isso, obtinha uma receita do mercado com a qual pagava parte de seus custos.

No início da década de 1990, José Dias esteve à frente do projeto do primeiro simulador de periscópio da Marinha na América do Sul. Orçado em US$ 30 milhões, o equipamento possibilitava o treinamento de aspirantes antes de irem ao mar. O periscópio só foi concretizado graças ao domínio tecnológico da Rede Globo no momento. Como o mercado publicitário demandava novas ideias, o crescimento tecnológico da Globograph era muito estimulado. Para atender os clientes, José Dias e sua equipe de engenheiros e matemáticos criavam todos os softwares que utilizavam, sem precisar importar programas.

Em maio de 1992, a Rede Globo começou a veicular os comerciais da campanha institucional Emoções, da Fundação Roberto Marinho. A novidade era a utilização do efeito Morphe, o mesmo usado no clipe Black or White, de Michael Jackson. No filme, o efeito transformava um menino em chimpanzé, enquanto uma voz dizia que quando o direito à educação e a cultura é negado a um ser humano ele deixava “de ser humano”. Produzido pela agência Contemporânea, o comercial teve os efeitos de computação gráfica comandados por José Dias através dos computadores da Globograph. A campanha rendeu ao engenheiro um Leão de Bronze no 39º Festival Internacional do Filme Publicitário de Cannes. No ano seguinte, José Dias foi convidado para fazer parte do júri do Festival Publicitário de Nova York. O evento premiou as melhores peças publicitárias produzidas no mundo durante o ano de 1992.

Em 1994, a Globograph chegava ao ápice de suas possibilidades tecnológicas com a nova abertura do Fantástico. Trabalhando em cima das ideias de Hans Donner, José Dias desenvolveu para o programa uma abertura que mesclava formas inteiramente sintéticas: das bailarinas, passando pelo fogo, até as nuvens, tudo foi realizado a partir da computação gráfica. Dessa vez, mulheres aladas cortavam o céu e o mar como borboletas, e homens de metal carregavam tochas, provocando grandes clarões de fogo. Todo o visual foi garantido por recursos tecnológicos que, ainda hoje, poucos softwares alcançam.

Há sete anos, a Globograph foi desligada do mercado publicitário, e sua equipe foi incorporada ao departamento de Multimídia da Rede Globo, voltando a produzir somente para a emissora. José Dias, diretor-geral do departamento, passou então a desenvolver tecnologia virtual, atualmente utilizada em muitos cenários de programas da emissora. Em 1997, a equipe de José Dias foi responsável pelo desenvolvimento de todo o visual do canal de notícias Globo News.

Além do desenvolvimento das aberturas e vinhetas, José Dias passou a se dedicar também à criação de animações e projetos visuais para o parque temático da Rede Globo, além de técnicas de realidade virtual aplicadas a Cenários Virtuais, Publicidade Virtual, Ator Virtual e Games Virtuais. Em parceria com outras empresas, como a agência de publicidade Contemporânea, também foi o responsável pela campanha do jornal Extra, lançada em 2000.

Nos anos 2000, José Dias passou a proferir palestras no Brasil e no exterior sobre projetos e tendências de realidade virtual e convergência digital. É membro da SMPTE, IEEE, The Planetary Society e da SET. Em 2009, foi premiado pela NAB (National Association of Broadcasters) por um filme em 3D sobre o carnaval brasileiro.

José Dias deixou a emissora em 2017.

FONTES:

Depoimento concedido ao Memória Globo por José Dias em 04/05/2001. Perfil de José Dias no LinkedIn
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