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Boca livre: Comida e boa forma com muito prazer e sem neura
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Boca livre: Comida e boa forma com muito prazer e sem neura
E-book125 páginas1 hora

Boca livre: Comida e boa forma com muito prazer e sem neura

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Sobre este e-book

Jornalista, corredora e especialista em alimentação saudável, Patricia Julianelli oferece um caminho possível para quem quer manter a forma e a saúde sem abrir mão do prazer de comer. Desviando de regras tirânicas e fórmulas milagreiras, a autora propõe uma relação mais harmoniosa com a "comida de verdade" — aquela que é ao mesmo tempo nutritiva e saborosa. Na defesa do esporte como melhor acompanhamento de uma dieta balanceada, Boca livre traz dicas valiosas para uma rotina prazerosa de exercícios. E inclui o treino mental como terceiro pilar de uma equação de difícil equilíbrio, mas essencial para se viver melhor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de jul. de 2017
ISBN9788560171965
Boca livre: Comida e boa forma com muito prazer e sem neura

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    Boca livre - Patricia Julianelli

    Agradecimentos

    Apresentação - Sem nutricionês

    Por Sérgio Xavier Filho*

    A primeira dúvida surgiu no primeiro encontro. Será que era ela? Patricia Julianelli não era a corredora que eu buscava para compor em 2008 a equipe que faria a edição brasileira da revista americana Runner’s World. Percebi que era mais fácil injetar a corrida no sangue de bons jornalistas do que implantar talento em corredores animados.

    A segunda dúvida apareceu algum tempo depois. Precisávamos falar de nutrição na revista, e o ideal seria termos uma colunista mulher, já que nosso time de articulistas contava com cinco marmanjos. Será que era ela?

    Arriscamos. Em poucos meses, eu estava envergonhado de minhas dúvidas. Patricia Julianelli tinha feito o que eu nem sonhava. Conseguiu fazer uma coluna gostosa sobre nutrição. É sempre uma delícia ler um bom texto sobre comida. O assunto é atraente por natureza. Quando bem escrito, então, dá água na boca.

    Não é fácil falar sobre nutrição. O saudável tende a brigar com o apetitoso. Vitamina nem sempre combina com crocância. Pati criou a coluna Boca Livre na revista e no Facebook e colocou esses dois mundos no mesmo prato. Ela conseguiu informar, ensinar e atrair. Destrinchou o linguajar insosso do nutricionismo, gratinou as palavras e trouxe à mesa a coluna fumegante.

    Devo admitir, odeio a palavra nutrição. Não entra na minha cabeça — muito menos na boca — a ideia de que a gente ingere elementos químicos. Sim, sei que é assim. Mas comida para mim é sinônimo de felicidade, não é obrigação. Patricia, sem a marra dos que tudo sabem, explica que é possível conciliar o prazer dos pratos gostosos com a inteligência das escolhas certas. Comida para manter a forma, comida para melhorar a forma, comida para atletas dedicados ou nem tanto. Palavras bem temperadinhas vão surgir nas próximas páginas, vá se preparando.

    E tudo isso sem zombar da ciência. Patricia estabeleceu uma relação direta e próxima com os principais nutricionistas do Brasil. É divertido escutar as conversas dela com as fontes. Porque é um papo de igual para igual, Pati fala com fluência o nutricionês. Checa calorias, confirma quebras de moléculas, faz piada com as enzimas. Mas, na hora de escrever, ativa a tecla SAP, e o texto ganha sabor. O leitor recebe as informações complicadas em um português com sotaque gastronômico. Bom apetite.

    * Sérgio Xavier Filho é diretor das revistas Runner’s World, Men’s Health, Women’s Health, Playboy e Placar e autor dos livros Operação Portuga (2010) e Correria (2013).

    Introdução

    A conta é simples. Pra manter a forma, as calorias consumidas não devem ultrapassar as que queimamos. Mas então por que tanta gente ainda luta contra a balança numa era em que a obesidade mata mais que a desnutrição? Porque há muito mais que calorias envolvidas nessa equação. Se engordar e emagrecer fosse um simples fluxo de caixa, bastaria contratar um bom contador e rezar para que ele fizesse sumir todos aqueles numerozinhos da coluna consumo e multiplicasse os da coluna gastos.

    Nessa matemática, temos que levar em conta filhos, amigos, trabalho, além de tentações, alegrias e frustrações diárias. Manter a forma e a saúde sem abrir mão do prazer é exercício diário. Não basta conhecer a fundo os alimentos, decorar calorias e valores nutricionais; é preciso autoconhecimento. Saber quais são nossos pontos fortes e fraquezas, onde o calo aperta. Conhecer nossos limites e quando e como superá-los.

    De simples, essa tarefa não tem nada. Nos meus últimos oito anos como jornalista, tenho me dedicado a apurar, escrever e editar reportagens sobre nutrição, saúde e fitness. O contato frequente com profissionais da saúde — como nutricionistas, endocrinologistas e fisiologistas — rendeu belas amizades e dicas valiosas sobre comida de verdade: nutritiva e gostosa. Um pouco desse conhecimento, tentei levar aos textos deste livro.

    Mas muito do que você verá aqui é fruto da minha experiência pessoal e da observação — combustível primário de qualquer jornalista que se preze. Já aviso de antemão: você não encontrará fórmulas milagrosas, dietas salvadoras, alimentos com poder sobrenatural. Encontrará alguns caminhos para uma relação mais harmoniosa com a comida e até com você mesmo. Perceba que, em alguns momentos, não sigo meus próprios conselhos — alguns repetidos à exaustão. Sou mulher, portanto contradição ambulante entre os lados esquerdo e direito do cérebro. E muito humana, como você. Admitir isso já ajuda demais, vai por mim.

    Todos os textos deste livro foram originalmente publicados na revista Runner’s World, da editora Abril, da qual sou redatora-chefe. A maioria permanece intacta, bom sinal de que me ative a conceitos que sobreviveram a modismos e novos estudos. Mas, em algumas colunas, adaptei o texto a novas evidências e pontos de vista. O livro está dividido em três blocos principais: dieta equilibrada, exercícios físicos e trabalho mental — na minha modesta opinião, pilares complementares e eternos da boa forma. Um posfácio, ou quarto bloco, traz a mexida que já dei nesses pilares com a chegada do Felipe, meu primeiro filho. Espero que a leitura deste livro seja o pontapé para que você tenha uma vida mais saudável, nutritiva e prazerosa.

    São Paulo, outubro de 2014

    Cardápio para a vida

    Falsa magra

    Maxilar travado, respiração suspensa. O juiz autoriza a cobrança de falta na entrada da grande área. E eis que ela se planta bem na frente da TV. Tá marcando?, pergunta a esposa, sobre o vestido branco justíssimo. Ela sabe que está marcando, o marido sabe; até o bandeirinha cego viu. Mas é evidente que a resposta correta seria: Eu acho que você ficou gostosa. É a mentira necessária. Para a relação do casal ir para a frente, e para ela sair logo da frente da TV.

    Se você decidiu que está na hora de aprender a comer direito e emagrecer de vez, precisará de um punhado delas. Das mentiras necessárias. Para derrubar os obstáculos que surgirão no caminho, especialmente a inveja alheia. O sucesso incomoda, ofende, mesmo o iminente. Você pode nem chegar a correr os tais cinco quilômetros ou perder os tais cinco quilos, mas só a intenção de se tornar uma pessoa mais saudável, ativa e atraente já vai acordar o diabinho em muita gente. Gente que não pretende mover uma batata-palha de lugar na alimentação ou um centímetro de nádega do sofá. Mas acredite: você vai dizer eu estou de dieta, e eles vão ouvir você deveria fazer dieta. Para lidar com essa turma, é preciso boa dose de imaginação.

    O conto da promessa costuma funcionar. Faça o teste no próximo happy hour ou aniversário na firma. Espere a colega simpática vir com a fatia de bolo em sua direção. Em vez do Não, obrigada, estou de dieta, tente um Não, obrigada, fiz uma promessa. Vou ficar seis meses sem comer açúcar e fritura e sem beber. A primeira justificativa transforma a entrega do seu pedaço em ponto de honra. Já a segunda costuma vir acompanhada de um olhar piedoso e não dá direito à réplica.

    Já no boteco, a ideia é escapar da chacota. Homem vai ao bar para fazer rir, não virar motivo de piada. Nesse contexto, meu caro, você ganha o direito de ficar doente. Sim, a coisa tá preta. O médico foi enfático na última consulta: Ou você maneira na bebida e na fritura, ou você não vai ver seu filho crescer. Pronto, silêncio geral, e a galera vai respeitar quando você parar no segundo ou terceiro chope.

    Comida de restaurante não é incrível só porque o cozinheiro tem mão boa, mas também porque carrega na gordura. É o tal segredinho do chefe. Não há risoto molhadinho sem um naco de manteiga. Nem legumes salteados sem banho de azeite. E garçom adora

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