Direitos Humanos, democracia e desenvolvimento
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Pré-visualização do livro
Direitos Humanos, democracia e desenvolvimento - Boaventura de Sousa Santos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Santos, Boaventura de Sousa
Direitos humanos, democracia e desenvolvimento [livro eletrônico] / Boaventura de Sousa Santos, Marilena Chaui. -- 1. ed. -- São Paulo : Cortez, 2014.
2,30 Mb ; e-PUB
ISBN 978-85-249-2243-5
1. Ciências sociais 2. Democracia 3. Desenvolvimento 4. Direitos humanos I. Chaui, Marilena. II. Título.
Índices para catálogo sistemático:
1. Ciências sociais 300
Título: Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento
Boaventura de Sousa Santos e Marilena Chaui
Capa: de Sign Arte Visual sobre arte de Mário Vitória
Preparação de originais: Solange Martins
Revisão: Maria de Lourdes de Almeida
Composição: Linea Editora Ltda.
Coordenação editorial: Danilo A. Q. Morales
Produção Digital: Hondana - http://www.hondana.com.br
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa dos autores e do editor.
Direitos para esta edição
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Publicado no Brasil – 2014
Sumário
Prefácio
José Geraldo Sousa Junior
Saudação a Boaventura de Sousa Santos
(Cerimônia de recepção do título de Doutor Honoris Causa na Universidade de Brasília, 29 de Outubro de 2012)
Marilena Chaui
Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento
Boaventura de Sousa Santos
Prefácio
José Geraldo de Sousa Junior
[1]
O Estatuto da Universidade de Brasília prevê, seguindo a tradição universitária ocidental, os títulos de Mérito Universitário, Professor Emérito, Professor Honoris Causa e Doutor Honoris Causa. Este último, atribuível pelo Conselho Universitário, em concessão aprovada por maioria absoluta baseada em proposta fundamentada, a personalidade que se tenha distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.
As personalidades galardoadas pela UnB formam uma lista parcimoniosa de notáveis, todos mundialmente celebrados, entre educadores, cientistas, professores, escritores, poetas, estadistas, líderes espirituais, artistas, alguns dos quais em reconhecimento post mortem: Aryon Dall’Igna Rodrigues, Giovanni Casertano, Rúmen Borilavov Soyanov, Paulo Freire (in memoriam), Nilza Eigenheer Bertoni, Immanuel Wallerstein, Serge Moscovici, Claudio Santoro (in memoriam), Abdias do Nascimento, Michelle Bachelet, Roberto Aureliano Salmeron, James Alexander Ratter, Peter Haberle, Roberto Cardoso de Oliveira, William Saad Hossne, Cassiano Nunes, José Mindlin, Anísio Spindola Teixeira (in memoriam), Lygia Fagundes Telles, Carolina Martuscelli Bori, Dom Paulo Evaristo Arns, Milton Almeida dos Santos, Tensin Gyatso XIX Dalai Lama, Athos Bulcão, Calyampudi Radhakrishna Rao, Jorge Amado de Faria, Giovanni Berlinguer, José Saramago, Darcy Ribeiro, Celso Monteiro Furtado, Nelson Mandela, Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Liberato João Affonso Didio, Viktor Emil Frankl, Raul Alfonsín, Júlio Maria Sanguinetti, Juan Carlos I de Borbón Y Borbón, Roberto Marinho, Pe. Theodore Martin Hesburgh, José López Portillo, Albert Sabin, Adriano Moreira e General Charles de Gaulle.
A outorga da honraria a Boaventura de Sousa Santos, em cerimônia realizada em outubro de 2012, ocorreu ao final do ano jubileu, como expressão forte das celebrações do cinquentenário da Universidade de Brasília. A eloquência de seu ritual, apto a perenizar o sentido hoje universal do lema bolonhense da primeira universidade europeia, confere à alma mater da instituição brasiliense vigor e seiva nutriente, para um conhecimento que civilize enquanto emancipa.
Com efeito, o Memorial de candidatura lembra isso, vale dizer, a indicação do homenageado para integrar o raro panteão de notáveis que a Universidade de Brasília toma como a expressão de sua alma mater traduz bem como ela aspira se ver representada:
Pode-se dizer que a marcante influência de Boaventura de Sousa Santos contribuiu, nos últimos quatro anos, para a recuperação do belo e generoso projeto originário da UnB, pensado por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. E muito dessa contribuição é ter inspirado o resgate da ideia de universidade necessária, projetada por Darcy, para levar à tarefa atual, de fazê-la, além de competente, democrática e socialmente inclusiva, por isso, também emancipatória.
O Memorial, aliás, é em si mesmo um exercício coletivo e dialogado que combina biografia com trajetória e foi cuidadosamente coordenado pela professora Nair Heloisa Bicalho de Sousa e seus colegas acadêmicos do Núcleo de Estudos para a Paz e os Direitos Humanos, da UnB [Carolina Pereira Tokarski (direitos humanos), Cleuton César Ripol de Freitas (democracia e epistemologia), Diego A. Diehl (economia solidária), Eneida Vinhaes Bello Dultra (democracia e epistemologia), Erika Macedo Moreira (epistemologia), Fábio Costa Morais de Sá e Silva (sociologia do direito), Flávia Carlet (as relações entre Boaventura e o Brasil), José Humberto de Góes Junior (universidade), Layla Jorge T. Cesar (teoria pós-colonial), Lívia Gimenez Dias da Fonseca (direitos humanos), Priscila Paz Godoy (Organizações da Sociedade Civil e o Fórum Social Mundial) e também a professora Nair Bicalho (contribuições e parcerias com a UnB, além da sistematização do texto).
O texto elaborado se preocupou, pedagogicamente, em trazer para toda a universidade, para convencimento necessário do Conselho Universitário, o conhecimento de um percurso de que ela tem notícia, fragmentadamente, mas que só nos seus termos se revela na continuidade crítica e propositiva que é a marca de modo radical de contribuição da personalidade distinguida. Os autores que formam esse coletivo lograram atualizar o percurso do homenageado, enriquecendo a narrativa com o comprometimento do arranjo interessado, porque são todos admiradores e interlocutores da obra exposta e se deixam impregnar pela força epistemológica do pensamento que orgulhosamente exibem.[2]
Por outro lado, o discurso de elogio, que a universidade atribuiu à professora Marilena Chaui, da USP, trouxe para a cerimônia acadêmica a sua melhor expressão: rigorosa hermenêutica da obra in fieri e um amoroso tributo à amizade, conforme poderão constatar os leitores e leitoras deste livro, imediatamente idealizado pelo senhor Cortez, da Cortez Editora, presente ao evento, como dedicado divulgador editorial brasileiro da obra de Boaventura. A presença de Marilena Chaui certamente honrou o doutorando honoris causa, mas para mim representou a dimensão de completude simbólica de meu mandato e, ali, na cerimônia do doutoramento a Boaventura, uma verdadeira epifania.
Não faltou ao evento e sei que agradou o homenageado que tem sabido construir mediações entre saberes e entre ciência, política e direito, o ângulo da interpretação popular, com a celebração dos rappers GOG e MC Renan, em leitura artística de seus trabalhos. Para além da performance dos artistas populares que galvanizou o auditório excedente às acomodações do belíssimo Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo, como Darcy queria que fosse chamado, e assim o foi pelo Presidente Lula, quando de sua inauguração em 2010), o conteúdo da exibição confirmou o alcance que seu conterrâneo Eduardo Lourenço atribui à literatura e à arte tout court, que longe de se constituírem um delírio, são apropriações do real por meio de outra linguagem e, assim também, modos de conhecer.
Posso afiançar ter colhido a mesma impressão dos componentes da mesa de honra, composta por mim que a presidiu, pelo vice-reitor João Batista de Sousa, pela professora Marilena Chaui, pela comissão de recepção formada pelas professoras Nair Heloísa Bicalho de Sousa, coordenadora do Núcleo de Estudos para a Paz e Direitos Humanos da UnB, e Maria Lúcia Pinto Leal, do Departamento de Serviço Social da UnB; da professora Nilma Lino Gomes, do Departamento de Administração Escolar da Universidade Federal de Minas Gerais; do secretário-executivo do Conselho Nacional de Saúde Márcio Florentino Pereira; do professor, ex-reitor da UnB e senador Cristovam Buarque; e do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho.
Reporto-me às peças explicativas que fundamentam e realçam a proposta de outorga e a concessão do título e me imponho a contingência de não recuperar esses fundamentos para orientar minha própria manifestação, salvo num aspecto singular que penso ser necessário pôr em relevo, para a circunstância.
Refiro-me à insistência atual que Boaventura de Sousa Santos tem proporcionado ao tema universidade, desde sua manifestação no espaço do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, quando apresentou uma bem elaborada proposta para a constituição de uma Universidade Popular dos Movimentos Sociais.
Diante dos limites de concretização de saberes emancipatórios, ele alude a um certo esgotamento dos espaços convencionais de produção de conhecimento — as Universidades e os centros de pesquisa —, em geral vinculados ao que ele designa de monocultura do saber científico que suprime, marginaliza e desacredita outros saberes socialmente constituídos.
Daí a sua proposta de um projeto popular de Universidade, que pressupõe, segundo ele, a promoção de diálogos significantes entre diferentes tipos de saberes, entre os quais a própria ciência, para poder identificar fontes alternativas de conhecimento e também criadores alternativos de saberes e fazer experiências com critérios alternativos de rigor e relevância à luz de objetivos partilhados de transformação social emancipatória. Trata-se, nessa linha, ele continua, de apelar a saberes contextualizados, situados e úteis, ancorados em práticas transformadoras e, que, por isso, "só podem exercer-se em ambientes tão próximos quanto possível dessas práticas e de um modo tal que os protagonistas da ação social sejam também protagonistas da criação de saber".
Na sua comunicação ao terceiro Fórum Social Mundial, Boaventura aproxima a sua proposta, cujo objetivo, segundo ele, seria o de "proporcionar a autoeducação dos ativistas e dirigentes dos movimentos sociais, dos investigadores e artistas empenhados na transformação social progressista, da concepção de
Universidade Popular", entendida já não no sentido, diz ele, de universidade operária, como as que proliferaram na Europa e na América