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Confidências de uma ex-popular
Confidências de uma ex-popular
Confidências de uma ex-popular
E-book498 páginas8 horas

Confidências de uma ex-popular

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Sobre este e-book

Da autora de Os 12 signos de Valentina. Mais de 4 milhões de leituras no Wattpad.
 Antes de perder tudo, Renata tinha a vida que considerava perfeita. Além de ser bonita, loira e padrão como uma boneca Barbie, ela sabia usufruir disso. Apesar de ausentes, seus pais eram tão ricos que a menina morava em uma mansão que mais parecia um palácio e ainda tinha duas babás amorosas que faziam todas as suas vontades. E, para coroar a situação, era extremamente popular na escola e namorava um bad boy gato. Não tinha como melhorar!
Porém, tudo isso vai por água abaixo quando ela se envolve em um escândalo que culmina em sua expulsão da escola. Por determinação dos pais, a menina foi obrigada a deixar sua antiga vida de regalias para trás e entrar em um rígido colégio interno. O namorado terminou com ela quase que imediatamente e, da noite para o dia, suas antigas amigas sumiram do mapa.
Humilhada, Renata chega ao campus do Internato Nossa Senhora da Misericórdia decidida a não se relacionar com ninguém. A última coisa que a herdeira quer nesse momento é se envolver — seja com meninos, amigos ou atividades escolares. Afinal, as antigas amizades não serviram de nada quando ela mais precisou. Além disso, ninguém ali ia com a sua cara mesmo! Mas quando Renata descobre um esquema de corrupção envolvendo o alto escalão de diretores e o padre da escola, ela precisa decidir: deve se arriscar a ser expulsa novamente para fazer a coisa certa, ou ficar calada perante essa injustiça para se preservar?
Aos poucos, com a ajuda de Lívia, sua colega de quarto, e de Guilherme, o bolsista charmoso por quem Renata sente um misto de atração e raiva, a garota acaba repensando seus privilégios e entendendo que, às vezes, a popularidade pode ser útil para coisas mais importantes do que apenas festas e selfies. Porém, para que ela conquiste a confiança dos novos colegas de escola, precisará passar nas provas do Conselho, uma sociedade secreta dos alunos influentes do colégio. Os testes não serão nada fáceis, desde roubar a Bíblia da capela até participar de festas clandestinas durante a madrugada. Mas será que Renata está pronta para arriscar-se a outro escândalo escolar? E será que seus novos amigos ainda vão gostar dela se descobrirem o que ela fez para ser expulsa da antiga escola?
IdiomaPortuguês
EditoraGalera
Data de lançamento5 de ago. de 2019
ISBN9788501117878
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Confidências de uma ex-popular - Ray Tavares

1ª edição

Rio de Janeiro | 2019

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Tavares, Ray

T233c

Confidências de uma ex-popular [recurso eletrônico] / Ray Tavares. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Galera, 2019.

recurso digital

Formato: epub

Requisitos do sistema: adobe digital editions

Modo de acesso: world wide web

ISBN 978-85-01-11787-8 (recurso eletrônico)

1. Romance. 2. Literatura juvenil brasileira. 3. Livros eletrônicos. I. Título.

19-58397

CDD: 808.899283

CDU: 82-93(81)

Vanessa Mafra Xavier Salgado - Bibliotecária - CRB-7/6644

Copyright © 2019 por Ray Tavares

Todos os direitos reservados.

Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.

Os direitos morais do autor foram assegurados.

Design de capa: Renan Araujo

Ilustração de capa: Rafaella Machado

Projeto gráfico e composição de miolo: Renata Vidal

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Direitos exclusivos de publicação desta edição reservados pela

EDITORA RECORD LTDA.

Rua Argentina, 171 - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: (21) 2585-2000,

Produzido no Brasil

ISBN 978-85-01-11787-8

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Atendimento e venda direta ao leitor

[email protected] ou (21) 2585-2002

Dedico este livro à minha avó Zilda,

aquela que me ensinou a amar histórias.

Sumário

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Epílogo

Agradecimentos

1

— Atende, atende, atende, atende, atende, ate… Vivian! Oi, oi, sou eu, a Rê, sua amiga, lembra? Eu… Não, pera aí, eu preciso… Vivian, eu preciso da sua ajuda! Os meus pais enlouqueceram, eu preciso que vo… O quê? Isso é mentira! Eu nunca… Você vai acreditar na sua melhor amiga ou nele? Nele? Eu não acredito ni… Não! É mentira! Ele que me meteu nisso e agora está envenenando vocês contra mim! Vivian, me escuta, eu preci… Alô? Alô? Você tá me ouvindo? Alô…? Filha da puta!

Renata Vincenzo, filha única e herdeira de um império, jogou o celular na cama de maneira infantil e displicente no exato momento em que dona Ivone irrompeu no quarto sem bater na porta, num ato de confiança compartilhada apenas por pessoas muito íntimas. O rosto da garota estava tomado por uma vermelhidão que a babá/empregada doméstica só tinha visto em algumas ocasiões, mas conhecia muito bem: Renata estava prestes a ter um ataque.

— Renata! Isso é jeito de uma mocinha falar?! — exclamou dona Ivone, como se ainda se espantasse com a boca suja da garota.

— É, sim. Jeito de uma mocinha muito puta da vida, Vone! — rebateu Renata, andando de um lado para o outro no imenso quarto planejado até os últimos detalhes pelos arquitetos mais renomados do país. — Eu não acredito que isso está acontecendo! Eu não acredito que eles estão fazendo isso comigo! Eu não acredito que…

— Amorzinho, é só um colégio novo! E um dos bons! — dona Ivone tentou consolar a adolescente inconsolável ao mesmo tempo em que colocava uma pilha de roupas passadas na cadeira da escrivaninha. Se Renata soubesse o que muitos jovens fariam pela oportunidade de estudar em uma boa escola… — Lavei suas blusas preferidas para você levar!

— Eu vou usar uniforme… — murmurou Renata, como se esse fosse o último prego no caixão em que sua vida tinha se transformado quando os pais decidiram avisar, na noite anterior, que iriam jogá-la em um internato católico no interior de São Paulo.

No começo, ela não tinha acreditado. Respondeu com um Uhum, tá bom, tem muitos internatos no Brasil, sim de seu lugar à mesa de jantar, que, havia meses, servia apenas deliciosas tortas de climão — desde meados de novembro, mais especificamente, quando Renata foi convidada a se retirar do colégio em que estudava na época.

Mas, terminada a refeição, Renata entrou no quarto e encontrou na cama uma horrorosa combinação de saia plissada vinho, que ia na altura das canelas, camisa social branca e gravata-borboleta da mesma cor da saia. O seu grito preencheu todos os sete quartos da mansão.

— Tenho certeza de que você vai ficar linda nesse uniforme! — exclamou dona Ivone, tentando animar Renata de alguma maneira.

A garota abriu a boca para responder que não, não ficaria, e que inclusive já havia experimentado o uniforme, escondida no banheiro, e odiado cada centímetro do seu corpo naquela coisa horrorosa, mas foi interrompida por dona Neide, que entrou carregando outro cesto de roupas limpas.

— Renata! Você ainda não está pronta? — repreendeu, depositando o cesto com todas as peças íntimas caríssimas da garota ao lado da primeira pilha. — Os seus pais estão esperando na cozinha. É uma viagem longa!

Renata olhou para baixo, analisando a situação, como se só tivesse se dado conta de que ainda estava de pijama e bastante descabelada ao ouvir a voz da babá.

— Vamos fazer assim: enquanto você toma um banho bem gostoso, nós terminamos a mala. — Dona Ivone suavizou o tom de voz e olhou de soslaio para dona Neide, pedindo por ajuda telepaticamente.

— Isso, a gente termina de arrumar tudo. — A outra babá tinha entendido o recado, mesmo que terminar fosse um baita eufemismo, já que a garota não havia arrumado absolutamente nada até o momento.

Dona Neide não tinha muita paciência para os dramas de Renata, afinal, tinha (muito) mais o que fazer além de lidar com os ataques de alguém que nunca havia enfrentado um problema de verdade na vida. Era dona Ivone a encarregada de apagar os incêndios da herdeira, não ela. Mas até dona Neide reconhecia que aquela era uma verdadeira crise, e resolveu dar o braço a torcer.

— Eu não quero ir — miou Renata, sentando-se, cabisbaixa, na cama. — Eu não quero ir, eu não quero ir, eu não quero ir…

Ninguém no mundo conhecia aquela versão frágil e insegura de Renata, sempre tão independente, desbocada e até arrogante. Exceto as babás. Conscientes daquele papel, elas sentaram-se cada uma de um lado da garota.

— Vai ser legal, amor — dona Ivone tentou animá-la, acariciando os dedos dela.

— Você vai fazer novos amigos! — acrescentou dona Neide, sem muito jeito para contato físico, mas muito talentosa com as palavras. — Amigos que não vão te fazer mal.

— Vai poder finalmente esquecer toda essa dor de cabeça… — A menina sorriu ao ouvir dona Ivone resumir o caos dos últimos meses como uma simples dor de cabeça. Renata sabia que as babás eram boazinhas demais com ela, muitas vezes até condescendentes, e não se sentia merecedora daquele carinho todo, principalmente porque nenhuma delas recebia o suficiente para isso.

— E respirar o ar puro do interior! Sair um pouco de São Paulo, sair um pouco dessa cidade com más influências, estudar para o vestibular, passar para uma boa faculdade… — completou dona Neide.

— Vai ser ótimo!

— Ótimo!

Renata suspirou, não acreditando em uma só palavra daquele discurso. Ela sabia que não seria ótimo, mas não conseguia contrariar as babás que a conheciam desde bebê e que só estavam tentando animá-la. Além disso, o que havia sobrado para ela em São Paulo, além de uma péssima reputação e nenhum amigo?

Até alguns meses antes, Renata estava no topo do mundo. Tinha um namorado lindo, amigas que a admiravam, influência, dinheiro e liberdade. Mas bastou apenas um deslize…

Talvez mais do que um deslize. E, no fundo, ela sabia disso — só era difícil demais admitir que pisou com tanta força na bola que chegou a estourá-la.

— Vamos, antes que o seu pai se irrite — disse dona Neide, levantando-se da cama e estendendo a mão para Renata.

Ambas sabiam que ninguém naquela casa queria ver o sr. Vincenzo irritado.

Renata ainda titubeou, mas acabou aceitando a ajuda, marchando rumo ao banheiro sem ter certeza se guiada pelo cérebro ou no modo automático.

Assim que ela se trancou e ligou o chuveiro, as babás se puseram a arrumar as malas da garota de maneira precisa e profissional, cochichando de tempos em tempos sobre toda a situação. Empacotaram aquilo que sabiam ser imprescindível para a sobrevivência de Renata, como os livros favoritos (que ela teimava em esconder do mundo) e as meias de dormir.

Elas não concordavam com a decisão dos patrões, mesmo depois da última que Renata havia aprontado. Sentiam como se a própria filha estivesse sendo arrancada delas à força. Mas o que podiam fazer? Não possuíam voz naquela situação, apenas certo poder de persuasão sobre a garota, diferentemente dos pais.

Era triste que Renata tivesse chegado àquele ponto, principalmente porque ela sempre recebeu tudo do bom e do melhor e, por isso, deveria ter mais noção das consequências dos seus atos. As senhoras sabiam que ela precisava de um corretivo, ou sairia cada vez mais de controle, até se transformar na pior versão de si mesma. Mas também sabiam que muito daquele comportamento era culpa dos pais ausentes e frios, que não souberam impor limites, que não a ensinaram que nem tudo na vida girava ao redor de dinheiro e poder.

Quando Renata saiu do banheiro e encheu o cômodo de vapor, as malas já estavam prontas, as roupas limpas, guardadas nas gavetas, e o quarto, arrumado.

A garota foi até a cama e encontrou a blusa e a saia que deveria vestir. O uniforme não era obrigatório no primeiro dia, ela bem sabia, já que havia passado a noite inteira pesquisando obsessivamente tudo sobre o novo colégio — sem encontrar sequer uma coisa que a agradasse.

Ao lado da roupa, o celular indicava uma mensagem não lida. Esperançosa de que fosse algum de seus amigos desistindo de ignorá-la para sempre por medo de represálias, Renata agarrou o aparelho, o coração palpitando nos ouvidos.

Mas encontrou apenas uma mensagem fria e distante do pai:

Renata se sentou na cama e olhou para os pés.

Estava, mais uma vez, sozinha.

2

— Isso é ridículo! — Renata cruzou os braços e negou veemente com a cabeça, uma última tentativa desesperada de se livrar daquela situação. — Eu já disse que não vou sair desse carro!

— Vamos, querida, saia antes que fique conhecida pelos novos colegas como a menina que apanhou na porta da escola no primeiro dia de aula. — A sra. Vincenzo estendeu a mão para ajudar a filha a sair do carro, mas, como resposta, só teve a expressão impassível da garota.

— Como se você fosse correr o risco de quebrar as unhas. — Ela revirou os olhos.

Renata se transformava em outra pessoa longe das babás. Uma pessoa intragável.

— Ela não vai bater em você, Renata, mas eu vou. — O sr. Vincenzo engrossou a voz e puxou a esposa do caminho.

A cabeça do seu pai tapava o sol, o que deixava os fios grisalhos do cabelo mais brancos do que o normal; as rugas, que se multiplicavam desde que Renata entrara na puberdade, pareciam afluentes do rio que se tornara seu rosto.

— Você teve todas as chances do mundo. Agora vai ter que aguentar as consequências da sua imaturidade. Desça desse carro. Já!

Algumas das pessoas que estavam perto da suntuosa BMW branca de Giuseppe Vincenzo começaram a cochichar, e foi o medo da vergonha que estava prestes a passar que finalmente tirou Renata do carro, não as ameaças dos pais.

O sol da cidade queimava como o fogo do inferno, e nem os imensos óculos de sol Gucci eram capazes de proteger Renata da luz. Dentro do carro, as últimas notas de seja lá qual fosse a música clássica que os pais ouviram a caminho do internato pareciam fazer questão de lembrá-la de que a vida como ela conhecia estava prestes a terminar. Por mais que Renata tivesse tomado café da manhã ao lado dos pais, se despedido das babás que a criaram, entrado no carro com suas imensas malas de viagem e passado as últimas horas em completo silêncio, observando a paisagem urbana transformar-se em rural, foram as últimas notas de piano que finalmente a despertaram para a nova realidade.

Dessa vez, ela sabia que seria o modo automático a guiá-la por aquela segunda-feira quente de verão, não o cérebro. Que, aliás, parecia ter finalmente despertado.

Os pais já tinham feito tantas ameaças vazias que Renata apenas continuava fazendo o que lhe dava na telha, pois sabia que nunca seria punida. Nos casos mais graves, só precisava chorar e se dizer arrependida, e logo sua rotina de irresponsabilidades voltava ao normal, o sermão desmanchando-se junto com a fraqueza dos pais em disciplinar a única filha. Além disso, era difícil manter qualquer castigo quando eles nunca estavam em casa.

Mas não daquela vez… Ela reconhecia que tinha passado dos limites, e os pais estavam levando muito a sério a ameaça. Afinal, lá estavam eles, estacionados na frente de um internato católico no meio do nada, todos os pertences caríssimos de Renata no porta-malas, depois de o pai tirar um dia de folga para levá-la até lá. Um dia inteiro! Quando foi a última vez em que Renata vira o pai fora do trabalho? Nem quando o próprio pai morreu o sr. Vincenzo se deu uma folga.

Renata suspeitava de que ele tinha voltado a trabalhar logo depois do casamento, passando a lua de mel sentado entre pilhas de livros de contabilidade.

— Isso aqui é o fim do mundo — murmurou para o pai, e agarrou a manga do terno caríssimo e impecável, levando lágrimas aos olhos com tanta facilidade que não saberia dizer por que perdia tempo na escola desperdiçando todo o seu talento como atriz. — Por favor, papai, por favor, não me deixe aqui! Eu prometo que nunca mais faço nada de errado, eu prometo! Você não pode me deixar aqui, eu vou morrer nesse lugar!

— Chega, Renata! — repreendeu o sr. Vincenzo entre dentes, soltando-se das garras da filha e sorrindo para todos os que o cumprimentavam ao passar.

Não que ele conhecesse aquelas pessoas, eram elas que o conheciam da TV.

Se tinha algo pior para Giuseppe Vincenzo do que a rebeldia de Renata, era que os outros soubessem que o presidente e acionista majoritário da EPPE, maior conglomerado tecnológico do país, não sabia lidar com a própria filha adolescente.

O que eram as pressões do mercado perto do furacão Renata?

— Eu já pedi desculpas! O que mais vocês querem de mim?

— Desculpas não vão trazer de volta o dinheiro que eu gastei com advogados. — O distinto empresário caminhou até o porta-malas do carro com a filha em seu encalço. Algumas famílias sussurravam ao observar a cena. — Desculpas não vão limpar a nossa reputação. Que você manchou com a sua irresponsabilidade.

— Você precisa aprender a ter limites, Renata. Entender o que é certo e o que é errado. Meu Deus, ainda tenho que ouvir você dizer essas coisas, achando que o que fez foi só mais uma brincadeira de adolescente… Eu não sei onde foi que erramos na sua criação! — Laura Vincenzo abanou as mãos recém-feitas, balançando a cabeça.

— Qual criação? Da Babá Ivone ou da Babá Neide? — retrucou Renata.

— Não seja ingrata, Renata — murmurou a mãe, perguntando-se onde a filha havia aprendido a arte de magoar apenas com palavras.

Renata observou atônita enquanto o pai colocava as duas malas Louis Vuitton imensas no chão. Aquilo não estava acontecendo. Aquilo não podia estar acontecendo com ela!

Atrás do carro deles, uma Mercedes Classe A antiga buzinou, e uma senhora de meia idade irritada fez gestos para que a BMW continuasse andando.

— Esperem aqui. — Giuseppe fechou a porta com um estrondo. — Vou estacionar o carro e já volto.

Renata subiu na calçada com seus chinelos personalizados e segurou as alças das malas até prender a circulação dos dedos enquanto a mãe respondia a um e-mail qualquer pelo celular. A BMW branca desapareceu no bolsão de terra, dando lugar à barulhenta Mercedes prateada. Uma senhora irritada saiu do carro e caminhou rapidamente até o porta-malas ao mesmo tempo em que uma garota baixinha, negra e com tranças coloridas saía do carona em câmera lenta, balançando a cabeça no ritmo de qualquer que fosse a música que tocava em seus fones de ouvido.

Ela usava uma saia jeans muito curta, revelando suas pernas também curtas e uma tatuagem de dragão que envolvia a panturrilha direita. Ao subir os olhos pela garota, Renata viu uma camiseta larga com estampa do Star Wars e um piercing prateado no septo, até ser surpreendida pelos olhos castanhos da garota a encarando de volta.

— O que foi, Barbie? Não ficou sabendo que a princesa Isabel fingiu que aboliu a escravidão? Nós estamos livres!

— Lívia, por favor. — A mulher foi até a garota com uma pequena mala de rodinhas preta e a entregou sem qualquer cerimônia, voltando-se para a mãe de Renata. — Me desculpe por isso. Ela não tem filtro.

— Então acho que as duas vão se dar muito bem — respondeu Laura, dando um de seus sorrisos de fechar negócio e voltando a responder e-mails no celular.

Renata revirou os olhos, desviando-os da garota, que já voltava a balançar a cabeça e a se concentrar na música.

— Lívia. — A senhora se virou para a garota. — Lívia. Lívia!

A tal Lívia retirou os fones com uma expressão magoada.

— Como ousa atrapalhar um solo do Brian May, mãe?

— Por favor, Lívia, chega de gracinhas e me dê um abraço, eu preciso ir.

Sorrindo, a baixinha agarrou a mãe pelos ombros com carinho e disse algo em seu ouvido que a fez rir. Aquilo deixou Renata com a boca seca e o estômago embrulhado, como se qualquer tipo de carinho entre mãe e filha fosse uma cena anormal e difícil de observar.

Depois, as duas se separaram e a senhora de meia-idade voltou para o carro, mas não sem antes acenar para a mãe de Renata, que também a cumprimentou.

— Vejo você daqui a seis meses, mãe! Por favor, mantenha o Oswaldo vivo! — berrou a garota tatuada, chamando a atenção de todos a sua volta e fazendo com que a mãe acelerasse o carro e desaparecesse pelo corredor, visivelmente constrangida.

Outro automóvel de luxo ocupou o lugar, e Lívia se voltou para a metade da família Vincenzo parada em frente ao arco de boas-vindas que dizia que a graça de Deus cresça em nós. Olhando para Renata, ela disse:

— Oswaldo é meu hamster, não meu pai. Eu não te conheço. É o seu primeiro dia, Barbie?

Renata assentiu, sem jeito pela primeira vez na vida. Não que tivesse ficado intimidada pelo excesso de personalidade da menina, mas não estava esperando fazer contato com alguém tão cedo naquele internato.

— Primeiros dias são sempre assim. Os pais entram no colégio, conhecem as instalações, te acompanham até o quarto, beijam a sua testa e dizem que vão ligar todos os dias — continuou ela, um sorrisinho maldoso tomando seus lábios cheios. — Mas, depois de algum tempo, eles percebem que você é só mais um caso perdido, deixam o resto da sua criação nas mãos da Igreja Católica e mandam o motorista vir te buscar de seis em seis meses. Como se isso pudesse dar certo… Aproveite a estadia! Diego, não se esconda, você ainda me deve 200 reais!

A garota deixou mãe e filha para trás e foi em direção a um garoto qualquer que acabava de chegar. Renata poderia ter ficado horas analisando aquela incrível criatura se o pai não tivesse retornado naquele exato momento com um sorriso meio sádico nos lábios.

— Vamos conhecer o seu novo lar, querida? — Ele a cutucou, puxando para si uma das malas que a filha segurava com tanta devoção, enquanto a mãe pegava a outra.

Renata olhou de um para outro e depois para a entrada brega e antiga do colégio. Sentiu uma vontade imensa de chorar.

3

— Ah! Bem-vindos, bem-vindos! — Um senhor de careca lustrosa, tufos de cabelos brancos perto das orelhas e um nariz proeminente abriu os braços à visão da família Vincenzo. — Estávamos esperando por vocês! Podem deixar as malas aqui no hall!

Depois que os Vincenzo atravessaram o pórtico, avistaram uma antiga construção de tijolos vermelhos e seguiram por uma trilha ladeada por arbustos até a entrada. O interior do antigo prédio era gelado e cheirava a mofo e lustra-móveis. A luz solar não era tão forte ali, nem as risadas de reencontro dos amigos do lado de fora. Renata foi obrigada a retirar os óculos escuros, pendurando-os no decote de sua regata branca e transparente. Com os olhos mais acostumados, pôde reparar na quantidade de freiras que circulavam, conversando baixinho, recepcionando algumas famílias e sorrindo para os jovens que entravam no colégio; uma delas olhou com bastante reprovação para o generoso decote de Renata, que sorriu para a freira e abaixou mais ainda o tecido.

— Você vai conhecer todas as nossas irmãs pelo nome em breve, tenho certeza — o careca falou com a voz agradável de um tio brincalhão, percebendo que Renata analisava as noivas de Deus —, mas hoje serei eu quem vai mostrar o campus para vocês. É um prazer incomensurável conhecê-los. Principalmente você, Renata!

— Não posso dizer o mesmo.

— Sr. Gonçalves — interveio Giuseppe, antes que a filha pudesse falar mais, e ergueu a mão para cumprimentá-lo. — Conversamos ao telefone. Agradeço mais uma vez por ter conseguido essa vaga de última hora.

— Foi uma honra, sr. Vincenzo, uma honra. — Os dois trocaram um caloroso aperto de mãos, e Renata suspirou; estava acostumada àquela bajulação perto do pai, mas nunca deixava de ser desconfortável. O homem estranho se voltou para ela, sorrindo como se tivesse ganhado na loteria; cifras brilhavam em seus olhos. — Sou o diretor do Colégio Interno Nossa Senhora da Misericórdia, Renata, e você pode sempre recorrer a mim se tiver algum problema.

— Posso começar agora? — Renata ergueu uma das sobrancelhas, em claro sinal de desafio. Se os pais não iriam cair em suas graças, talvez fosse hora de apelar para o constrangimento na frente dos outros para resolver aquela situação. — Os meus pais estão querendo me enfiar em um maldito colégio de freiras que cheira a mofo e gente velha e com um potencial gigantesco de estragar o meu futuro. O que você pode fazer quanto a isso?

O diretor olhou de Renata para os pais sem perder o sorriso profissional.

— Então temos uma espirituosa entre nós!

— Eu diria possuída por um espírito maligno, mas espirituosa é um bom meio-termo — respondeu o pai, sem graça.

— Bom, se estivermos todos prontos, podemos começar a visita! Vamos por…

Antes que o sr. Gonçalves pudesse terminar a frase, porém, uma mulher elegante, na casa dos cinquenta, apareceu no hall, usando saltos finos vermelhos que combinavam com os seus óculos estilo gatinho. Ela não parecia nada feliz.

— Gonçalves — sibilou, sem formalidades —, você recebeu o meu e-mail?

— Agora não, professora Trenetim. Vou apresentar o colégio à família Vincenzo. — O diretor frisou a palavra Vincenzo como se estivesse se referindo à realeza, estreitando os olhos rígidos para a mulher.

— Boa tarde e sejam muito bem-vindos. — A professora inclinou a cabeça na direção da família, analisando Renata por alguns segundos antes de voltar-se ao diretor. — Gonçalves, eu preciso que você…

— Agora não, professora — repetiu ele, dando as costas à mulher, que permaneceu no hall, transtornada.

Renata a observou por cima dos ombros, curiosa com aquela figura tão… imponente. Antes de ir embora, a professora percebeu que estava sendo observada e, quebrando as expectativas da garota, deu uma piscada jovial e se afastou.

— Vamos, então? — O sr. Gonçalves bateu duas palminhas e conduziu a família pelo corredor que dava na outra saída. — Este aqui é o prédio principal, onde a sua filha vai estudar das oito ao meio-dia e, depois do almoço, das duas e meia às seis e meia.

Oito horas de aula por dia! Era o que faltava para Renata ter um ataque de pânico.

— Acreditamos que um ensino integral e de boa qualidade seja a chave para a aprovação dos nossos alunos nos melhores vestibulares, e é por isso que a nossa taxa de ingressantes em universidades públicas e particulares de ponta é a mais alta do país. Aqui no térreo temos a administração, a papelaria, a xerox e esse tipo de coisa… as salas de aula ficam nos outros seis andares.

O prédio revestido de tijolos tinha escadas de pedra estreitas que levavam aos andares superiores e murais abarrotados de recados da direção, convites para missas, feiras de estudantes e lembretes sobre os vestibulares. As janelas, cujos batentes eram pintados de branco, iam do teto ao chão, mas nem assim conseguiam iluminar de forma decente o lugar, que, de tão gelado, arrepiava os pelos claros nos braços de Renata: era o típico cenário de filme de terror. Além do mais, ela percebeu que não havia elevadores.

O colégio era um claro contraste a todos os outros em que ela havia estudado, tecnológicos, iluminados e modernos. Ali, os costumes antigos e a moral cristã tomavam o lugar do progressismo e da modernidade, e Renata começava a entender por que seus pais o tinham escolhido: o internato gritava corretivo.

O grupo seguiu pelo corredor enquanto o diretor tagarelava sobre os programas de esportes e artes do colégio, mas Renata estava mais interessada em procurar defeitos. No meio da inspeção daquele caso sério de arquitetura barata e cafona, ela bateu os olhos em uma porta entreaberta, um contraste gritante com todas as outras perfeitamente fechadas. Em um primeiro momento, achou que a sala estava vazia, mas, ao ouvir vozes, desvencilhou-se do grupo, colocou a cabeça lá dentro e deu de cara com um casal praticando atos libidinosos contra uma escrivaninha.

Renata pôde ver o contorno do corpo de um garoto com as costas arqueadas para trás, segurando a cabeça de uma menina morena contra a sua virilha e fazendo movimentos para a frente e para trás. Renata percebeu que as veias dos antebraços do menino estavam saltadas, como se ele estivesse fazendo força.

Ela segurou a respiração.

Aquele ato não parecia nada cristão.

— Renata! Venha! — a voz autoritária do pai ecoou pelo corredor. A garota retirou a cabeça da sala no exato momento em que o rapaz loiro abriu os olhos e relaxou o braço com o qual segurava a nuca da menina, procurando de onde tinha vindo aquela voz.

Renata correu de volta até o grupo, sentindo as bochechas coradas.

— … e é por isso que não permitimos que os garotos e as garotas se relacionem aqui dentro do colégio — o sr. Gonçalves ia terminando o discurso de moral e bons costumes quando Renata voltou a prestar atenção, deixando a libertinagem adolescente para trás. — Os dormitórios são bem separados, e nós temos olhos por todos os cantos. Incentivamos a amizade, claro, mas qualquer relacionamento além disso é proibido.

— Que bom. — O sr. Vincenzo assentiu. — Agora você está livre das más influências dos garotos, Renata.

Ela foi obrigada a segurar o riso, ainda com a imagem da pegação que acabara de presenciar na cabeça. Porém, quando viraram o corredor, a risada se desmanchou em uma careta. O grupo parou em frente a uma capela com bancos de madeira polidos e alinhados um atrás do outro, ornamentada por velas brancas e imagens de diversos santos por todos os lados. No fim do corredor, havia um grande altar forrado de branco, com um candelabro em cima do tampo e um imenso e assustador Jesus pregado na cruz logo atrás.

— Essa é a capela principal do colégio, onde nos encontramos todos os domingos para a missa. A missa de domingo é obrigatória, e a capela comporta todos os alunos de ensino fundamental e médio que abrigamos aqui.

— É linda! — exclamou a mãe, segurando Renata pelos ombros.

— A capela principal? Existem outras? — quis saber a herdeira, um pouco enjoada com a ideia.

— Sim! Temos pequenas capelas em cada dormitório, além da capela interna, a qual somente o padre Josias e as freiras têm acesso. Aqui nós levamos a nossa fé muito a sério, Renata — explicou o diretor, não parecendo tão comprometido assim. — Agora, se me permitem, vou mostrar o refeitório, as instalações recreativas e os dormitórios!

4

O grupo saiu da capela e, pelo mesmo corredor, chegou à ampla porta dos fundos que dava acesso aos outros prédios. Assim que colocaram o nariz para fora, Renata enfiou novamente os óculos escuros no rosto e sentiu o choque térmico.

A área total do Colégio Interno Nossa Senhora da Misericórdia, cravada no coração do estado de São Paulo, era impressionante, até mesmo para Renata Vincenzo, que já havia conhecido o mundo inteiro. O verde era muito verde, o azul era muito azul, e o clima era intenso. Os outros prédios ficavam a uma distância de cerca de duzentos metros uns dos outros, e a extensa área livre entre eles estava ocupada por jovens de todos os jeitos, cores e estilos, agrupados em diferentes tribos. Aquilo era uma novidade para Renata, acostumada a adolescentes muito parecidos com ela: garotas brancas com luzes loiras e cabelos alisados, garotos brancos com franjas lisas caindo no rosto e atitude de quem merece o mundo sem sequer sair da cadeira. Mas ali todos pareciam muito diferentes, como se aquela fosse uma zona segura para mostrarem seu verdadeiro estilo e quem realmente eram.

Alguns tocavam violão sob a sombra de uma grande árvore, enquanto outros tomavam sol com a cabeça apoiada nas próprias malas enormes. E, no meio de tudo aquilo, cerca de dez garotos jogavam futebol em um campo improvisado.

— Os meninos chamam esse lugar de campão, mas o nome oficial é acesso aos dormitórios — explicou o diretor, indicando o grupo que jogava bola. — Nós temos duas quadras de futsal e um campo de futebol, mas eles sempre acabam dando um jeito de jogar por aqui mesmo. Vai entender!

Com o disfarce dos óculos, Renata foi ficando cada vez mais distante da conversa morna dos pais com o diretor, que pareciam não calar a boca. Ela não sabia se era o calor do mormaço ou o cansaço da viagem, mas as suas pernas estavam fracas e ela só queria deitar e dormir pelo resto da vida.

Enquanto inspecionava os alunos, um grito raivoso chamou a sua atenção, e ela se voltou para o jogo de futebol. Tinha sido o goleiro, que jazia patético no chão, esmurrando a grama, enquanto o autor do gol comemorava com os colegas de time, de costas para ela.

— Caralho, Guilherme! — O goleiro se levantou, limpando a grama da bermuda com raiva. — Você andou treinando na favela?

O garoto chamado Guilherme se voltou para o goleiro, só então revelando o rosto para Renata. Com um dos olhos escuros fechados por causa do sol e, apesar da ofensa, um sorriso debochado nos lábios, ele abrandou a repulsa de Renata por aquele lugar. Alto e com o cabelo cacheado na altura do pescoço todo grudado de suor, ele destoava do resto do colégio por não parecer pertencer àquele mundo de dinheiro.

Ele não podia ser real. Renata estava delirando e desmaiaria a qualquer momento. Ela tinha certeza.

Meu Deus! Como ele era lindo.

— Treinei lá na quadra do seu condomínio, sua mãe que liberou — respondeu ele, não se deixando abalar pelo comentário do goleiro.

— Garotos, linguajar — interveio o sr. Gonçalves, olhando, ansioso, para os pais de Renata, que, de tão fascinados pelo lugar, nem ouviram a comoção na partida de futebol improvisada. — Querem pegar quarenta horas?

Os meninos resmungaram e voltaram ao jogo.

— Nós temos um programa de bolsas — explicou o diretor. — O garoto que acabou de fazer aquele gol, por exemplo, é o melhor aluno do terceiro ano, com a maior média do colégio e primeiro lugar nos simulados. Temos outros alunos campeões de Olimpíadas de física, matemática e química, além de atletas de ponta e verdadeiros artistas. Somos um colégio de mentes e corpos brilhantes!

— Incrível! — exclamou o sr. Vincenzo, realmente maravilhado com a perspectiva de ver Renata se encontrar em alguma atividade que não fosse destruir tudo por onde passa. — É uma pena que a minha filha nunca tenha se esforçado por nada nessa vida…

— Claro, porque herdar a empresa que o pai herdou do pai, que também herdou do pai, é a definição de se esforçar por alguma coisa. — Renata se irritou, desviando o olhar dos garotos no campo. — Será que esses garotos brilhantes também foram criados pelas babás, pai?

— Vamos seguir para os dormitórios, então! — O diretor, já acostumado com famílias em pé de guerra, bateu palmas novamente, antes que os pais de Renata tivessem tempo para responder à provocação.

O sr. Gonçalves sabia que o internato era a última opção de muitos pais desesperados, aquela lavagem de roupa suja não era novidade nenhuma para ele. Por mais que o Colégio Interno Nossa Senhora da Misericórdia fosse um dos melhores do Brasil, os pais só pareciam lembrar de sua existência quando queriam se livrar da presença dos filhos.

Quando eles voltaram a caminhar, Renata se viu muito próxima ao campo de futebol improvisado, onde o bolsista já driblava novamente os oponentes com muita facilidade, fazendo algumas gracinhas pelo caminho e irritando o time rival. Quando a família Vincenzo e o diretor estavam perto o suficiente para receberem uma bolada, Guilherme deu um chute certeiro para o gol delimitado por chinelos, sem dar tempo para que o goleiro pudesse pegá-la.

Mais uma vez.

Ele saiu correndo para abraçar o seu time, e Renata foi obrigada a rir da comemoração imbecil deles, uma Macarena desengonçada. Ao fundo, os berros do goleiro eram mais irados

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