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Copa, olimpíadas e outras festividades políticas no corpo social do Brasil: 2013 a 2018
Copa, olimpíadas e outras festividades políticas no corpo social do Brasil: 2013 a 2018
Copa, olimpíadas e outras festividades políticas no corpo social do Brasil: 2013 a 2018
E-book121 páginas1 hora

Copa, olimpíadas e outras festividades políticas no corpo social do Brasil: 2013 a 2018

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Sobre este e-book

Este livro aborda acontecimentos caros ao cotidiano político do Brasil no período de 2013 a 2018. Desde as jornadas de junho de 2013, como ficaram conhecidas, e a aclamação "o gigante acordou", passando pela dinâmica da circulação de vários enunciados que materializaram a convocatória da população brasileira para voluntariar-se na Copa de Mundo de Futebol e nas Olimpíadas e o anúncio do "tchau, querida", várias marcas discursivas ratificaram o pressuposto de que a História traz marcas na língua. Esta análise é conduzida pela interface dos campos da Análise de Discurso, Psicanálise, Antropologia e Nova História e resultou no livro que o leitor tem em mãos. Em "Copa, Olimpíadas e outras festividades políticas no corpo social do Brasil – 2013 a 2018" há lugar para o debate, para a reflexão, para a imersão no registro cotidiano do Brasil contemporâneo, a partir da análise de comentários feitos por internautas acerca do que ocorreu/está ocorrendo. Aqui você leitor poderá encontrar fôlego e manutenção da participação ativa nestas discussões.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de jan. de 2021
ISBN9786580096459
Copa, olimpíadas e outras festividades políticas no corpo social do Brasil: 2013 a 2018

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    Copa, olimpíadas e outras festividades políticas no corpo social do Brasil - Anderson de Carvalho Pereira

    2018.

    PRIMEIRO CAPÍTULO – Copa do mundo de Futebol de 2014 e Olimpíadas de 2016 – I want you/Eu quero você

    ²

    Havia muitas festividades em torno da vinda das Olimpíadas pela primeira vez ao Brasil, bem como a comemoração do retorno da realização da Copa do mundo de futebol organizada sob a supervisão da Federação Internacional de Futebol (FIFA). Tratava-se de certa forma de um dilema. De um lado, a possibilidade de o país retornar à era de ouro, no sentido de reviver alguns aspectos do crescimento econômico e do glamour de marcadores genuinamente nacionais como a vitória da primeira copa de futebol em 1958, a estampa da bossa nova e a veiculação de Carmen Miranda e Zé Carioca um pouco antes como ícones nacionais.

    E, por outro lado, elaborar alguns traumas deste passado, época em que a derrota para o Uruguai em 1950 havia se tornado metáfora para, conforme Da Matta (1982) uma derrota dos brasileiros. Não à toa, em torno do futebol Da Matta (1982) também explique que o esporte contribuiu para dar identidade ao Brasil, pois no futebol exercemos nossas dramatizações e falamos em tom sério por meio da irreverência do esporte. Assim como no carnaval, no futebol e na religião antropologicamente brasileira, a umbanda, foca-se nas singularidades, e suspende-se temporariamente a rígida hierarquia social por atributos do personalismo e algo se consegue por meio do mérito.

    Todavia, recentemente podemos dizer que em um dado momento do período recente certo ufanismo mascarava os percalços ainda insistentes de péssimos índices de desigualdade sócio-econômica sob os auspícios de que seja em 2014 com a Copa, seja em 2016 com as Olimpíadas mostraríamos ao mundo termos nos tornado uma grande nação.

    Este dilema, esta contradição passou a circular na grande mídia. Um marco é a propaganda da marca de bebidas Johnny Walker de 2012 que mostra colinas de pedra, especificamente o Pão de açúcar no Rio de Janeiro (marco do turismo, da vista do país para estrangeiros) se transformar em um gigante que se levanta e caminha. O anúncio termina com o slogan: keep walking Brazil. Em tradução livre: continue caminhando, Brasil.

    Neste momento também aparece na capa da revista britânica The Economist em 2009 o enunciado Brazil takes off (em tradução livre: O Brasil decola), com o objetivo de mostrar a ascensão econômica que em seguida, em 30 de junho de 2017 teria a mesma imagem do Cristo Redentor decolando, transformada em outubro de 2013 em How Brazil blown it (ou: Como o Brasil sucumbiu) abaixo de uma imagem em que a decolagem do Cristo Redentor dá uma guinada em espiral e indica sua queda. Não é nosso objetivo neste momento analisar estas capas do referido hebdomadário, o que permitiria uma pesquisa específica acerca dos enunciados que ali circulam. É suficiente um breve aceno na internet para acessar estas imagens e vídeos.

    Nota-se em um pequeno intervalo de tempo, imagens e enunciados que no imaginário comum poderíamos chamar de otimistas, esperançosos e também de indicadores de uma ascensão e queda prementes e quase concomitantes.

    Um pouco adiante um expressivo número de enunciados que remontam ao próprio espelhamento do estrangeiro em relação à construção de uma identidade de Estado-nação serão aqui evocadas, mais adiante, ao nos focarmos mais especificamente na análise de algumas imagens e enunciados veiculados para estabelecer uma propaganda de governo, principalmente, para convocar os brasileiros a valorizarem e participarem dos eventos esportivos apresentados, ora como redenção a uma iminência de crise, ora como marcadores de uma volta fortalecedora ao passado histórico.

    Pretendemos apontar com isso que houve um encadeamento semântico-discursivo veiculado em propagandas da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, encadeamento este que dialoga com o passado histórico e remexe modelos de auto-percepção do sujeito comum de forma que não se esgota a imagem espelhada pelo Estado, mas extrapola-a em refrações de imagens mais periféricas e/ou atentas aos detalhes do cotidiano.

    Notamos que os efeitos ideológicos dessas propagandas têm base em determinantes políticos, do ponto de vista da relação entre interpelação ideológica e o conceito de memória discursiva em Análise de Discurso (doravante, AD).

    Para Pêcheux (1993), a ideologia não é um aparato metafísico, mas se refere ao mecanismo inconsciente de interpelação a ser tomada no sentido lacaniano do grande Outro, devendo-se discernir:

    de que modo o recalque inconsciente e o assujeitamento ideológico estão materialmente ligados, sem estar confundidos, no interior do que se poderia designar como o processo do Significante na interpelação e na identificação, processo pelo qual se realiza o que chamamos as condições ideológicas da reprodução/transformação das relações de produção (p.133/134).

    Na grande mídia, em se tratando dos eventos esportivos mais aclamados do período recente da História do Brasil (A Copa do Mundo de Futebol, de 2014 e as Olimpíadas, de 2016) aparecem anúncios que afirmam se tratar de eventos totais, ou seja, que incluem todos. Há deste modo um apagamento da polêmica, da discussão e da discordância em suas realizações. O efeito de somos um só tal como tem circulado no slogan da rede Globo de televisão é uma materialização deste apagamento, que pode ser entendido como um efeito de naturalização ideológica.

    É aqui evocado o lugar da interpelação constitutiva do sujeito, que indica que todos falariam da mesma maneira e do mesmo lugar (expressão nossa), pois indica um sempre-já-aí, que na linha pecheutiana indicaria o paradoxo fundamental da ideologia.

    Este paradoxo fundamental faz parecer que o sujeito não está assujeitado a um discurso mesmo que seja necessário indicar parte deste assujeitamento em sua própria constituição. A ilusão da unidade é marcada de forma sutil também pela aparência de ausência de conflito, pelo consenso, em um ideário de recrutamento de uma infantaria.

    Lembremos que infantaria vem de infans, em latim, aquele que não fala; aquele que apenas obedece e executa; o que opera neste lugar não é uma ideologia como visão de mundo, ou partidária de um governo, mas como uma naturalização dos sentidos da linguagem. O valor da posição que cada um ocupa ou deve/ria ocupar é resultante e também incide neste mundo aparentemente estável e consensual em que o valor do que se faz e/ou diz se pauta em uma ilusão de pensamento comum.

    A partir do estranhamento dessa evidência ideológica veiculada em propagandas sobre ambos os eventos esportivos, mostramos adiante uma análise de enunciados marcados por imagens e textos que faz parte de uma discussão sobre o determinante político no discurso.

    Temos do ponto de vista da grande mídia dois espetáculos, em que as imagens exercem papel fundamental. Para trilhar esta investigação, mobilizamos principalmente os conceitos de memória discursiva e ideologia da AD, porque oferecem subsídios para a discussão dos elementos discursivos implícitos em questão.

    Após esses caminhos introdutórios, mostramos a análise de peças publicitárias que tem circulado antes e durante a realização desses eventos com o intuito de persuadir a população acerca da necessidade de sua realização. Seguem a apresentação dos conceitos teóricos e a análise do corpus. Trata-se de um corpus formado por propagandas dos dois eventos esportivos acima mencionados.

    Nossa hipótese principal é a de que a memória estabelece um regime de paráfrases (PECHEUX, 1999) e de legibilidade (PECHEUX, 1999), portanto, uma possibilidade de leitura ao interlocutor, em que à textualização (ORLANDI, 2001) em questão, é conferido um encadeamento de evidências ideológicas que não deixa lacunas para rupturas, conferindo uma linearidade eficaz ao convencimento do público-alvo; no caso, trata-se de analisar especificamente, o convencimento da participação dos brasileiros nesses eventos, como voluntários de sua organização e execução.

    Em uma primeira leitura, os aspectos de recrutamento voluntário e de marcas de uma igualdade com viés militarizado nos evocaram os enunciados voluntários da pátria ou expedicionários filiados a marcadores históricos como a convocatória para a participação na revolta constitucionalista paulista e na Segunda Grande Guerra. Voltaremos a isto.

    Em um primeiro contato com a materialidade do corpus, chama a atenção, a veiculação de expressões como todos estão convocados. Nosso caminho de investigação, ligado à hipótese inicial é de se tratar de um efeito ideológico eficaz, baseado no efeito de unidade. É este um dos efeitos da ideologia sustentado por meio

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