Eu sei o que vocês fizeram no verão passado: Alguns segredos não poderão ser esquecidos...
De Lois Duncan
3.5/5
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Sobre este e-book
Neste clássico do terror – adaptado para o cinema e para a televisão –, quatro adolescentes tentam escapar de um assassino que deseja vingar a morte de um garotinho.
Depois de uma noite de muita festa, quatro adolescentes atropelam acidentalmente um garoto de dez anos. Sem querer lidar com as consequências de seus atos, eles abandonam o corpo e decidem fazer um pacto, com a intenção de manter o ocorrido em segredo.
No entanto, nem tudo é tão simples, e o sentimento de culpa não será o único problema com que terão de lidar. No ano seguinte, uma das adolescentes recebe um bilhete anônimo com uma mensagem curta, mas que diz tudo: "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado".
Em um romance repleto de reviravoltas e obstáculos constantes, os quaro jovens terão que lutar por suas vidas, fugindo e se escondendo de um assassino que está determinado a fazê-los pagar pelo terrível crime que cometeram.
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3 avaliações1 avaliação
- Nota: 2 de 5 estrelas2/5super previsível e nada assustador. algumas partes foram até entediantes e nada criveis
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Eu sei o que vocês fizeram no verão passado - Lois Duncan
1
O bilhete estava ali, ao lado do prato, quando ela desceu para o café da manhã. Depois, vasculhando a memória, Julie se lembraria dele. Pequeno. Sem nenhum detalhe que chamasse a atenção. Seu nome e seu endereço estavam escritos à mão, em tinta preta austera, na frente do envelope.
Naquele momento, porém, ela só tinha olhos para a outra carta: branca, grande e oficial. Pegou-a apressadamente e se deteve, lançando por cima da mesa um olhar para sua mãe, que voltava da cozinha.
— Chegou — disse Julie.
— E então? Não vai abrir? — A sra. James devolveu a jarra de café à cafeteira quente. — Você está esperando por isso há tanto tempo! Achei que já teria aberto antes mesmo de se sentar.
— Acho que estou com medo — admitiu Julie. Ela passou o indicador sob o canto da aba. — Certo. Aqui vamos nós.
Correndo o dedo ao longo do envelope, Julie retirou a folha e a colocou sobre a mesa.
— Prezada srta. James
— leu em voz alta. — Temos o prazer de informar que a senhorita foi aceita
…
— Ah, querida! — A mãe suspirou de alegria. — Que maravilha!
— Fui aceita! — Julie repetiu. — Mãe, você acredita nisso? Fui aceita! Eu vou para a Smith!
A sra. James contornou a mesa e deu um abraço caloroso na filha.
— Estou tão orgulhosa de você, Julie, e sei que seu pai também estaria. Se ele ao menos tivesse vivido para ver isso, mas… Não faz sentido olhar para o passado agora. — Havia um brilho suspeito em seus olhos. — Talvez ele saiba. Gosto de acreditar que sim. E, se não sabe, estou orgulhosa o bastante por nós dois.
— Não acredito — disse Julie. — Eu realmente não acredito. Quando fiz as provas, pensei que tinha errado várias questões. Acho que sabia mais do que achava que sabia.
— Foi o seu último ano na escola que te levou a isso — disse a mãe. — Nunca vi alguém mudar tanto. O jeito como você se empenhou… Você mudou completamente. E agora posso admitir que isso me deixou um pouco preocupada.
— Preocupada? — perguntou Julie, surpresa. — Achei que fosse seu sonho que eu fizesse a mesma faculdade que você. Ano passado, você ficou me perturbando o tempo inteiro porque eu saía muito, nunca abria um livro, passava tempo demais nos ensaios de líder de torcida.
— Eu sei. É que nunca imaginei essa guinada, só isso. E acho que posso apontar o dia exato em que ela aconteceu. Foi bem na época em que você terminou com o Ray.
— Mãe, eu já falei… — Julie tentou manter a tranquilidade na voz, apesar do choque frio que atingiu seu estômago. — Ray e eu não terminamos exatamente. A gente só achou que estava se vendo demais e precisava ir devagar. Aí ele foi para o litoral, e isso pôs um ponto-final nas coisas.
— Mas você nunca mais saiu com ninguém…
— Não é verdade — Julie falou impacientemente. — Às vezes eu saio. Aliás, Bud vai passar aqui hoje à noite. Viu? Um encontro.
— É, tem o Bud. Mas isso é muito recente… e não é a mesma coisa. Ele é mais velho, mais sério com relação a tudo. Estou feliz e orgulhosa por você ter se esforçado tanto para ser aceita em uma boa faculdade da Costa Leste, mas queria que tivesse equilibrado melhor as coisas. Sinto que perdeu boa parte da diversão do seu último ano na escola.
— Bom, não dá pra ter tudo — disse Julie. Sua voz soou aguda e estridente até mesmo para os próprios ouvidos. A sensação de frio no estômago se espalhou para cima, em direção ao coração. Ela empurrou a cadeira para trás e se levantou.
— Vou para o meu quarto. Preciso achar minhas anotações de História.
— Mas você não comeu nada! — exclamou a sra. James enquanto apontava para o prato intocado de ovos mexidos e torrada.
— Desculpe — disse Julie. — Eu… acho que estou agitada demais.
Ela conseguia sentir o olhar preocupado da mãe conforme deixava a mesa. Mesmo quando já estava fora de vista, essa preocupação a acompanhou escada acima e ao longo do corredor.
Mamãe sabe demais, pensou. Ela tem essa coisa estranha de sempre saber mais do que eu conto.
— Nunca vi alguém mudar tanto — dissera a mãe. — Acho que posso apontar o dia exato.
Mas não pode, Julie falou para si mesma. Não mesmo. E não deveria tentar. Por favor, mãe, não tente, nunca.
Julie entrou no quarto e empurrou a porta, que se fechou com um clique seco. Sua mãe ficara para trás, na sala de jantar, junto com os ovos intactos e a cafeteira. O quarto a protegia, um quarto perfeito para uma adolescente bonita, amada e feliz. Uma garota que nunca havia tido um só problema na vida.
A mãe redecorara o quarto havia pouco mais de um ano, quando Julie completara dezesseis.
— Vamos pintar da cor que você quiser — ela dissera. — Pode escolher.
— Rosa — Julie respondera imediatamente.
Era a sua cor favorita, a cor que vestia com maior frequência, ainda que tivesse cabelo ruivo.
Havia uma camiseta rosa-pálido no fundo do armário, escondida atrás de outras roupas. Era uma peça nova naquela noite do verão passado.
— Você está parecendo uma rosa sardenta — Ray provocara. A camiseta ficava ótima em Julie, mas desde então ela nunca mais a usara. A garota a teria doado se não houvesse ficado com medo de que sua mãe um dia se lembrasse da peça e perguntasse o que tinha acontecido com ela.
Julie se sentou na beira da cama e respirou profunda, lentamente. O frio dentro dela desapareceu, e seu coração desacelerou.
Que idiotice, disse a si mesma com firmeza. Faz quase um ano que aconteceu. Já foi, já acabou, e eu jurei a mim mesma que nunca mais pensaria nisso. Se ficar ansiosa a cada comentário inocente que mamãe faz, voltarei à estaca zero, totalmente descontrolada.
À sua frente, no espelho oval sobre a cômoda, era outra Julie que a fitava, pálida e séria. Eu mudei, ela pensou com leve surpresa. A menina no espelho tinha pouca semelhança com a Julie do ano anterior – cheia de energia, saltitante, a alma das animadoras de torcida, a menor das líderes, porém a que gritava mais alto. A garota que a encarava tinha sombras atrás dos olhos e uma tensão nos lábios.
Você vai para a Smith, Julie falou para si mesma. Ponha isso na cabeça. Daqui a poucos meses você vai embora daqui. Não vai simplesmente para a faculdade, vai para a Costa Leste, para longe desta cidade, da estrada e daquela área de piquenique. Você não vai mais esbarrar com a mãe do Ray na farmácia. Não vai ver o Barry na escola, nem a Helen na TV. Você vai estar longe daqui, livre! Um lugar novo, com gente nova, coisas novas para fazer e para pensar, coisas inteiramente novas para preencher suas lembranças.
Ela se sentia mais calma agora. Sua respiração se tornara lenta e constante outra vez. Julie pegou a carta da Smith, que tinha deixado cair ao seu lado, na cama, e leu novamente seu nome metodicamente digitado no envelope de aparência sofisticada. Ela o levaria à escola, decidiu; havia pessoas ali às quais poderia mostrá-lo. Nenhum aluno, particularmente – não ficara próxima de ninguém no último ano –, mas o sr. Price, seu professor de inglês, ficaria feliz por ela, assim como a sra. Busby, de Estudos Americanos.
E, naquela noite, quando Bud viesse, mostraria a ele, que ficaria impressionado, e talvez triste por ela estar indo embora. Ele telefonava com tanta frequência ultimamente que era possível que estivesse levando o relacionamento mais a sério do que deveria. Isso seria bom para ele ver que aquilo não daria em nada, que era algo passageiro e que, no outono, ela estaria em outro lugar.
Houve uma batida na porta do quarto.
— Julie? — chamou a mãe. — Você viu que horas são?
— Não… Acho que perdi a hora. — Julie se levantou e abriu a porta. — Eu estava só curtindo o fato de ter sido aceita. Juro, quase não tinha esperanças. Faz tanto tempo que mandei a inscrição…
— Eu sei — falou a sra. James amavelmente. — Não quis te desanimar. Sei quanto deu duro. Tive medo de que você tivesse exagerado, mas estou feliz porque agora pode relaxar e aproveitar o verão.
— Também estou.
Ela colocou os braços em volta da mãe em um abraço impulsivo. A mãe, surpresa e feliz, também a abraçou de volta.
Eu deveria abraçá-la mais vezes, pensou Julie. Não mereço uma mãe assim. Eu a amo tanto e sou tudo o que ela tem desde que o papai morreu. E agora eu vou embora e ela vai ficar sozinha, e mesmo assim está feliz por mim.
— Tem certeza de que vai ficar bem? — Julie perguntou enquanto ainda a abraçava e encostava seu rosto na bochecha macia da mãe. — Você acha que vai dar conta, comigo tão longe?
— Ah, acho que sim — disse a sra. James com uma desafinação na voz que pretendia passar por riso. — Eu me saí bem antes de você nascer, não foi? Vou me manter ocupada. Estou pensando em voltar a trabalhar em tempo integral.
— É o que você quer? — perguntou Julie.
Sua mãe lecionara Economia Doméstica antes do casamento e, desde a morte do marido, oito anos antes, trabalhava como professora substituta.
— Acho que sim. Seria bom ter a minha própria turma de novo. Com você longe do ninho, não haverá ninguém em casa precisando de mim, então é hora de ser útil em outro lugar.
— Perdi mesmo a noção da hora — Julie falou em tom de desculpa. — Melhor eu ir andando.
A mãe olhou o relógio.
— Você está atrasada. Quer uma carona?
— Não, tudo bem. Não cheguei atrasada nenhuma vez este ano, não vou morrer por causa de uma advertência. E talvez eu nem receba uma. O sr. Price é bem tranquilo com essas coisas.
Ela pegou os livros e as anotações de História na mesa de cabeceira. Já no andar de baixo, parou diante da tigela de moedas, no aparador, e pegou dinheiro para comprar uma Coca-Cola.
— Vejo você depois da escola — falou. — Bud só vem me pegar por volta das oito, então não precisamos jantar tão cedo. Você vai a algum lugar?
— Não planejei nada — disse a sra. James. — Espere, querida. Você não pegou a sua carta.
— Peguei, sim. Está dentro do meu caderno.
— Não, estou falando desta outra aqui.
A mãe se inclinou sobre a mesa e pegou o segundo envelope, parcialmente escondido sob a borda do prato de ovos.
— Havia duas cartas pra você. Não que esta possa ser tão empolgante quanto a primeira.
— Pelo tamanho, parece ser um convite pra uma festa. Mas não sei quem me convidaria pra uma festa. — Julie pegou o pequeno envelope. — Que estranho. Está todo escrito em letra de forma e não tem remetente.
Ela rasgou o envelope e tirou uma folha dobrada de papel pautado.
— De quem é? — perguntou a mãe enquanto levava a louça do café para a cozinha. — Alguém que eu conheço?
— Não. Ninguém que você conheça.
Com um pânico crescente, Julie olhou fixamente para a solitária frase que a encarava do papel borrado.
Vou vomitar, pensou. Suas pernas ficaram bambas, e ela estendeu o braço para se segurar na mesa.
É um sonho, disse esperançosamente a si mesma. Não estou realmente acordada, não estou na sala de jantar. Estou na cama, dormindo, e isso não passa de um pesadelo como aqueles que eu costumava ter no começo. Vou fechar os olhos e, quando abrir, vou acordar. Isso terá sumido… o papel terá sumido. Ele nunca terá existido.
Então ela fechou os olhos. Quando os abriu novamente, o papel continuava em sua mão, com uma curta frase:
EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO VERÃO PASSADO.
2
O sol começava a se pôr quando Barry Cox deixou o estacionamento nos fundos da fraternidade, dirigiu pelo campus e depois em direção ao Norte pela Madison, até o condomínio Four Seasons.
Era um percurso familiar, e ele, às vezes, até brincava com seus irmãos da fraternidade que o carro conhecia o caminho tão bem que era capaz de fazê-lo sozinho.
— Será que ele não vai se confundir? — caçoavam eles. — Esse carro conhece o caminho para algumas outras casas também…
— Ele nunca se perde — Barry costumava dizer, cheio de si. — Tem GPS.
Era verdade que Helen não era a única garota com quem Barry saía, ainda que ele tivesse certeza de que era o único rapaz com quem ela saía. O que era uma loucura, porque morando onde ela morava, num condomínio cheio de homens solteiros, e com aquela aparência de modelo de biquíni e aquele emprego chamativo… Bem, era inevitável que houvesse muitos lobisomens uivando ao pé de sua janela.
Essa era uma das razões pelas quais Barry continuava saindo com Helen. Isso não fazia parte de seus planos depois que a escola tivesse acabado. A Universidade era um território vasto, e havia meninas bem gostosas no campus com as quais seria fácil ficar, sem compromisso. Mas aí Helen conseguiu aquele emprego como Futura Estrela, e as coisas mudaram. Só um maluco dispensaria a Futura Estrela do Canal Cinco.
Agora, enquanto estacionava no Four Seasons, Barry abriu um enorme sorriso para si mesmo. Helen estava indo bem para uma garota de dezoito anos que nem sequer terminara os estudos. A mãe dele ficara possessa ao saber que Helen largaria a escola no fim do penúltimo ano.
— Isso só prova o que sempre falei — ela dissera ao filho. — Cada pessoa é o resultado da criação que teve. Essa garota não é para você, Barry. Não entendo por que você sai com ela.
Essa questão, é claro,