Mãe
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Sobre este e-book
Com coordenação editorial do médico e escritor Ricardo Marcondes de Mattos, o livro "Mãe" é uma homenagem às mães, figuras tão influentes e fundamentais em nossa formação e em nossas vidas. Os textos foram escritos por diferentes autores, que compartilham, cada um à sua maneira, momentos e histórias que celebram o amor materno e o vínculo tão intenso, forte e especial que se estabelece entre mãe e filho. Que as histórias apresentadas aqui possam emocionar, divertir, trazer saudades, nostalgia e despertar memórias felizes!
São autores desta obra: Mariza Aparecida Bazo, Marlene Braz, Monica Donetto Guedes, Ricardo Marcondes, Sergio Povoa, Simone Gomes de Souza, Simone Lopes, Sônia Maria Almeida, Tereza Cristina Gonçalves, Mendes Castro e Vilma Xavier Alves.
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Mãe - Ricardo Marcondes de Mattos
© literare books international ltda, 2022.
Todos os direitos desta edição são reservados à Literare Books International Ltda.
presidente
Mauricio Sita
vice-presidente
Alessandra Ksenhuck
diretora executiva
Julyana Rosa
diretora de projetos
Gleide Santos
relacionamento com o cliente
Claudia Pires
editor
Enrico Giglio de Oliveira
assistente editorial
Luis Gustavo da Silva Barboza
revisão
Ivani Rezende
capa
Edvam Pontes
designer editorial
Lucas Yamauchi
Diagramação do ebook
Isabela Rodrigues
literare books international ltda.
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Vila Mariana — São Paulo, SP. CEP 01550-060
+55 11 2659-0968 | www.literarebooks.com.br
Tudo igual
1
Educar é uma tarefa difícil. O amor maternal é fundamental. Criar os filhos para serem independentes e livres é uma arte. Nesse contexto, os erros e fracassos fazem parte do processo de aprendizado. Essa é a ideia deste texto. Tratar sobre a experimentação, com liberdade e responsabilidade na dose certa.
por ricardo marcondes
Dizem que ninguém passa por esta vida sem experimentar adversidades e Dona Julieta não foi uma exceção. Embora tenha enfrentado muito sofrimento, havia se tornado uma simpática senhora que preservava a alegria de estar viva e a sabedoria diante das demandas, recursos que os mais experientes dominam com tranquilidade.
Aos 73 anos, Dona Julieta dependia da cadeira de rodas em razão de um trauma de coluna, uma espécie de marca física do acidente de carro que há dez anos a deixara viúva de Alaor, seu grande companheiro. Tiveram apenas uma filha, Juliana.
Naquela tarde, Dona Julieta aguardava ansiosamente a chegada de sua única neta, Sofia, aos seus olhos um presente vivo que Juliana trouxera ao mundo. E como Dona Julieta era grata por sua netinha!
Olhava para Sofia e percebia em seus traços a impressionante semelhança com o falecido avô.
Quando Sofia entrou apressada na sala, após a escola, Dona Julieta abriu um grande sorriso. Parecia aliviada com a súbita chegada da neta.
— Minha querida, preciso de sua ajuda. Estou com um problemão!
— Nossa, vó. Está me assustando. O que houve de tão grave?
— Acho que caí em um golpe. – disse Dona Julieta, assustada.
— Ligaram do banco, dizendo que precisavam atualizar os dados para que eu continuasse a receber o benefício da aposentadoria. É pouco, mas ajuda nas despesas, sabe?
A avó fez uma pausa, respirou fundo, e continuou a explicação.
— Fiquei preocupada, com medo de perder o benefício. Acabei passando minha senha bancária, porém e, talvez, por sorte, acho que passei uma senha antiga.
— Meu Deus, vó! Vamos ligar agora para a gerente do banco. Ela é muito prestativa e pode ajudar!
— Bobinha! Já fiz isso. Dei bobeira com a senha, mas não sou totalmente ingênua! A gerente já cancelou as senhas e o cartão. Parece que está tudo certo, mas quero que você confira tudo pela internet. Afinal, você sabe mexer com essas coisas, não é?
— Sim, vó. Que baita susto! Vamos fazer isso agora. Tenho tudo no aplicativo do celular.
Sofia mexeu no celular enquanto a avó a observava passear com o dedo indicador pela tela do aparelho para cima e para baixo, da esquerda para a direita. Como essa menina cresceu
, pensou Dona Julieta. Não tardou mais do que três minutos para que a jovem trouxesse a resposta.
— Tudo certo!
— Obrigada, querida. Agora estou em paz! — e sorriu tranquila, abraçando a neta.
— Vó, isso não pode acontecer de novo, cuidado! Banco não liga para checar dados, foi uma clara tentativa de golpe.
— Agora vou ficar daquele jeito que vocês jovens dizem: fica esperta, mano. Pode deixar comigo! Sofia, mudando de pato para ganso, me diga: e aquele seu namoradinho?
— Aí, vó. Eu já disse que não estamos namorando. Ele é legal, mas...
— Sem mas
com a vovó que é sua amiga, né? Conta, vai!
Sofia olhou para o horizonte, procurando uma resposta.
— Estou na dúvida, vó. Gosto dele, mas tenho que terminar o ensino médio e passar na faculdade, não quero namorar agora. E a mamãe sempre diz que homem não presta, que não devo me envolver, que preciso me preocupar só com o meu futuro. Sabe como é?
Sofia pensou que sua resposta deveria ser mais detalhada e continuou:
— Vovó, sou fã da mamãe. Depois que o papai morreu ela nunca mais se envolveu com ninguém, está sempre trabalhando. Sei de todo o esforço dela para me criar. Uma mulher forte, que trabalha muito para me dar as melhores condições. Sei também das expectativas que ela deposita em mim, já que precisou ir à luta. Quero ser igual a ela e adotar esse espírito guerreiro.
A avó não parecia convencida e resolveu provocar Sofia:
— Minha querida, vou te dar um conselho. Presta bem atenção! Interprete bem o que vou dizer: você precisa matar sua mãe
!
— Credo, vó!
— Calma, vou explicar tim-tim por tim-tim: quer ser feliz? Precisa matar sua mãe, ou seja, esquecer sua mãe. Não paute sua vida nas opiniões dela, nem fique pensando o que ela faria em seu lugar; apenas viva e tome suas decisões. Curta seus momentos e pode namorar, sim. Ela proporcionou seu estudo, não deixou faltar nada e está feito. Cada fase de sua infância e adolescência foi vivida com muita alegria. Agora você já é uma moça. Precisa assumir as próprias decisões e parar de se preocupar com a opinião das outras pessoas, mesmo que seja a da sua mãe. Você precisa amadurecer, buscar a felicidade, fazer o que tem vontade, errar aqui e ali para ganhar força, acertar acolá.
Dona Julieta tomou um gole de chá, serviu mais uma xícara para Sofia e continuou a dar seus conselhos de avó.
— Existe algo que a sua mãe não pode dar e chama-se vivência. Aprender com as suas experiências, por vezes ter frustrações e se decepcionar, lidar com as pressões sem deixar a peteca cair. A vida é boa, só precisamos deixá-la mais leve, Sofia. Isso só acontece quando temos bom senso e entendemos que as pessoas e as coisas não são definitivas, sempre renovando a motivação, seguindo em frente, nos adaptando, sendo flexíveis diante dos acontecimentos, sem medo. Você pode aprender o caminho das pedras com os mais velhos; isso se chama inteligência, mas precisa de liberdade para ter suas experiências. Em vez de depender da sua mãe, apenas saiba que ela sempre estará perto e pronta para dar carinho, amor e colo. É isso que digo quando sugiro que precisa matar sua mãe. Entendeu?
— Nossa! — exclamou a menina, ainda meio atordoada com os sábios conselhos da avó.
Chegando da sua jornada diária de trabalho, Juliana abriu a porta no exato momento em que Sofia abraçava Dona Julieta, agradecendo o compartilhar daquela sabedoria de mãe dupla, isto é, de quem já viveu a experiência de ser mãe e avó.
Sofia levantou-se, abraçou a mãe, deu um beijo em sua testa e perguntou:
— Mãe, você tem seguro de vida, né?
Sofia se despediu às pressas, partindo para dizer ao garoto que aceitaria namorar com ele.