"Em que voz eu vou cantar?": uma análise sobre a classificação de voz em coros amadores
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Sobre este e-book
E um de seus primeiros desafios a serem enfrentados, com a chegada de novos candidatos a coristas, é a inserção desses em um naipe de voz. Daí a importância da classificação vocal, que precisa ser realizada sob a orientação de alguns critérios norteadores descritos na literatura especializada. Serão analisados os da extensão vocal, tessitura, timbre e mudança de registro.
Este trabalho busca ajudar no seu manuseio, fundamentado em estudos de autores brasileiros e norte-americanos, para que os subsídios técnicos pertinentes apresentados possam resultar não só em boas performances do coro, como também na correta inclusão do novo integrante no naipe que condiz com sua realidade vocal.
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"Em que voz eu vou cantar?" - Carlos Eduardo Souza da Luz
1. MINHAS CONSIDERAÇÕES SOBRE HABILIDADE E COMPETÊNCIA
Das diversas experiências musicais que tive, não foram poucas as vezes em que surgiam algumas discussões, provocadas por mim mesmo, quando analisava o que eu estava produzindo e a sua qualidade.
Em muitas delas, o resultado até parecia bom, mas tinha a sensação de que ele não era suficientemente capaz de me fazer sentir satisfeito. Faltava-me um detalhe e ele provavelmente estava passando despercebido. Talvez eu soubesse, mas não queria enxergar.
Durante um dia de estudos, me deparei com duas palavras que iriam mudar a maneira do meu ‘fazer música’. E a partir disso, toda oportunidade que tenho para falar sobre assuntos relacionados à prática musical, busco trazer considerações acerca dos conceitos de habilidade e de competência.
Ainda que já tivesse tido contato com o tema no Curso de Licenciatura em Música, especialmente nas disciplinas de Pedagogia, foi através dos ensinamentos que busquei na área da Administração que eles se revelaram ainda mais importantes.
E dentro da proposta que este livro busca trazer, a figura do regente, ainda que exerça sua função de forma amadora¹, deve ter em mente que sua atividade, frente aos seus coristas, precisa – ou pelo menos precisaria – ser o resultado de buscas constantes no aprofundamento do seu conteúdo.
Os conceitos de habilidade e de competência podem possuir significados diversos, mas sempre partem de uma mesma ideia central.
Na maioria dos trabalhos que li, a concepção de habilidade está atrelada à qualidade, à capacidade que uma pessoa tem, naturalmente, para fazer algo. De modo mais abrangente, até poderíamos caracterizá-la como sendo um talento. Mas acredito, também, que a habilidade possa vir da experiência. Isso porque algumas pessoas desempenham muito bem determinadas funções, sem que, em muitos casos, a tenham aprendido formalmente; e, diante da sua vivência diária em realizá-la, acabam por se tornar bastante habilidosas.
Se formos para a campo específico da Gestão, especialmente quando o assunto é direcionado para líderes – volto a dizer que são ideias gerais que estou propondo – a habilidade é a capacidade que essas pessoas têm de partir do teórico e ir para a prática. Elas conseguem transformar o seu conhecimento, que é abstrato, em algo concreto. Dão vida à letra ou às ideias! Mas ainda assim, diante de certos obstáculos que encontram durante a execução de uma atividade, podem ter dificuldades para emitir julgamentos sobre ela; e, consequentemente, se veem impedidas de decidir favoravelmente por mudanças no caminho que tinham escolhido seguir.
Já a competência, de acordo com Chiavenato² – guardando a imensidão da matéria e sem me arriscar em profundas análises – precisaria abarcar quatro aspectos: o conhecimento, a perspectiva, o julgamento e a atitude. E ao analisá-los, pude verificar que eles estão intimamente interligados. É como se fossem degraus que subimos à medida de cada aprendizado.
Em linhas gerais, o conhecimento é fruto do que já se buscou saber, entender. A perspectiva é o que sabemos fazer a partir do conhecimento que temos sobre determinado assunto. O julgamento, por sua vez, é a aptidão ao analisar o que fazemos, e somos capazes de decidir a respeito, atribuindo-lhe aspectos positivos ou negativos; e até mesmo, em alguns casos, ambos. E a atitude é a realização, a concretização da nossa disposição que temos em fazer acontecer algo, na medida que ela promova os resultados que idealizamos.
Se trouxermos para a prática musical, e mais especificamente, a do coral, é indiscutível e imprescindível que o regente tenha alguma habilidade na condução do coro. E muitas vezes ela é desenvolvida ao longo de anos de experiência, e que trazem – não duvido disso – bons frutos.
Inclusive, o autor Daniel J. Levitin, que estuda profundamente a relação da neurociência com a música, tem pesquisas na área indicando que pessoas talentosas adquirem mais rapidamente habilidades musicais do que outras. Mas há também algumas que podem chegar a se destacarem quando são submetidas a um treinamento mais efetivo, com períodos mais longos de aprimoramento. Contudo, ele constatou que os melhores alunos nas escolas de músicas eram os que mais se dedicavam, e as vezes, pelo dobro do tempo em comparação com os alunos tidos por medianos
³.
A ideia aqui é tentar trazer à reflexão de que podem existir resultados ainda maiores e melhores quando se há uma disposição em mergulhar nos estudos que envolvem a prática coral, oportunizando momentos e meios para seu desenvolvimento.
Poderíamos, no ambiente do Coro, aplicar as lições de Chiavenato e ter como exemplos: o estudo da teoria e do currículo voltados ao canto coral (conhecimento); a execução das músicas, seja instrumental ou cantada, feita previamente no estudo particular do regente, para um bom entendimento e assimilação do que ele irá ensaiar com seu grupo (perspectiva); a escolha do repertório baseado na realidade musical e vocal dos coristas (julgamento); e a busca pelos meios do saber-fazer, com a obtenção de metodologia adequada para o sucesso do ensino da música (atitude).
Termos habilidade para desempenhar determinada função, infelizmente não quer dizer, em alguns casos, que somos competentes o suficiente para realizá-la. E da mesma forma, o mais competente nem sempre é o mais habilidoso, apesar desse aspecto estar intrinsicamente ligado à competência. Que desafio! Coordenar esses saberes para a obtenção de resultados sólidos e positivos, não só a nós enquanto regentes, como também para os coristas, que confiam no nosso trabalho.
Aliás, esse tem sido o meu desafio!
Espero que você também se sinta desafiado em buscar constantemente os ensinamentos na música, que, mesmo às vezes obtidos de forma lenta e gradual, nos permitem alçar voos mais altos com a apaixonante prática do canto coral.
1 A intenção do uso do termo não é a diminuição de sua importância, mas apenas para diferenciar daqueles que são profissionais habilitados por instituições e centros acadêmicos.
2 CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 9ª ed., Barueri, SP: Manole, 2014, p. 5
3 LEVITIN, Daniel J. A música no seu cérebro: a ciência de uma obsessão humana. Tradução Clovis Marques – 1ª ed., Rio de Janeiro: Objetiva, 2021: p. 189-190
2. INTRODUÇÃO
2.1. QUAL A RAZÃO DA ESCOLHA DESTE TEMA?
Sendo o coro amador uma das manifestações mais presentes quando da prática coral, e sabendo que a classificação vocal é uma das primeiras decisões que o regente deve tomar, esperamos que as considerações tratadas neste livro sirvam como guia básico de orientação quando lhe for apresentado o desafio de indicar o naipe de voz pertinente ao novo corista.
Uma observação, de cunho pessoal, é que, desde muito pequeno, tenho tido a oportunidade de vivenciar a música dentro do