Eqm E Espiritismo
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Eqm E Espiritismo - Edomberto Freitas Alves Rodrigues
EQM e Espiritismo
Novos paradigmas para velhos paradoxos
Edomberto Freitas Alves Rodrigues
Independente (Clube dos Autores)
O autor
Edomberto Freitas Alves Rodrigues. Formado em História pela UFMG e Filosofia pela PUC-MG. Professor de história em BH e Betim. Pesquisador de espiritualidade e filosofia. Escreveu a coleção Religare, dialogando com várias áreas do conhecimento humano, entendendo que não devemos compartimentalizar o saber. Afinal, no universo tudo está integrado. Só uma visão holística do real poderá possibilitar uma maior aproximação da verdade, que todos dizem possuir, mas que nossa condição humana e limitada permite apenas aproximações. Assim, não há pretensão de verdade pelo autor, mas uma busca sincera e apaixonada pelo conhecimento.
Capa: Edomberto Freitas
1ª Edição: Junho de 2023
Introdução 5
1 8
A transição 8
2 42
Desencarnados no plano físico 42
3
Revisão da vida e julgamento
4
A grande Transformação
5
O suicídio
6
A homossexualidade
7
A reencarnação
8
Outros seres e planetas
9
O contexto cultural
10
Experiências negativas
11
Túnel, corpos e planos espirituais
12 182
A unidade e o conhecimento universal 182
Conclusão
Bibliografia
Introdução
Meu interesse em escrever este livro nasceu quando escrevi a Coleção Religare, uma coleção em cinco volumes. Estudei muitas EQMs para encontrar orientações para algumas ideias defendidas lá. Como estudei a doutrina espírita durante longos anos, espantava-me os encontros e os desencontros das experiências relatadas nas EQMs e nas narrativas espíritas. Se, por um lado, as EQMs reafirmam muitas ideias do espiritismo, como a imortalidade da alma, por outro lado, trazem informações nunca antes relatadas nos romances e livros doutrinários espíritas, como o túnel de luz e o encontro com a luz divina. Acredito que esses encontros e desencontros deveriam ser estudados e explicitados para buscarmos um maior entendimento do mundo espiritual. Não acredito que eles se anulem mutuamente, mas, pelo contrário, enriquecem nosso conhecimento e espiritualidade. No entanto, uma postura dogmática, sem abertura para o novo e para o confronto de ideias, pode impedir que se estabeleça esse diálogo, ou que se acredite que ele seja válido.
Há muito tempo me desapeguei de dogmatismos. Acredito que a formação em filosofia me ajudou nesse ponto. Embora tenha procurado verdades espiritualistas ao longo da vida, que pudessem alimentar minha sede de conhecimento e me dessem o conforto de estar de posse da verdade, entendi que isso atrapalha nossa visão para o novo e para as contradições das verdades que defendemos. Demora muito para percebermos que nossas verdades são relativas e não absolutas. Isso acontece na maior parte das vezes porque é difícil aceitar a nossa ignorância e nossa incapacidade de captar o conhecimento objetivo. A filosofia tem um potencial enorme para nos acordar do sonho dogmático.
Assim, os dogmas nos fazem cegos para novos paradigmas. O que nos leva a rejeitar sem questionamento quaisquer ideias ou informações que contradigam nossos pontos de vista dogmáticos, ou doutrina. É justamente o que pode acontecer quando analisamos e confrontamos os relatos mediúnicos e os relatos de EQMs.
Do ponto de vista de quem não é médium e nem tenha experimentado uma EQM, estamos na condição precária de quem avalia informações subjetivas e sem possibilidade de comprovação. Embora muitas informações de cartas psicografadas tenham sido comprovadas, o que nos dá alguma segurança, isso não acontece com a maioria dos relatos mediúnicos e com quase todos os relatos de EQMs. Algumas experiências de quase morte trazem a possibilidade de serem comprovadas informações do que o espírito observou no ambiente da cirurgia e ações dos familiares, enquanto o observador estava morto. Isso não é pouco, mas muito promissor para comprovarmos a realidade de que a consciência sobrevive à morte do corpo físico.
O trabalho de análise dos relatos mediúnicos e das EQMs pode nos trazer um manancial imenso de conhecimentos e conclusões fantásticas. Um talvez complemente o outro, e é isso que vamos buscar nesta obra: usar as duas fontes de informação como alavancadores do nosso conhecimento da realidade espiritual e também da finalidade da vida consciente na Terra e no Universo.
Vamos usar muitas ideias que desenvolvemos e defendemos na Coleção Religare que escrevi. Em muitos casos vou desdobrá-las novamente aqui, mas sem a profundidade que já fiz na referida obra. Assim, pode ser interessante para o leitor (a) visitar essa coleção.
Um exemplo disso é a ideia de planos da criação, que teorizam sete planos de manifestação da consciência divina. Vamos usar essa ideia para explicar algumas contradições entre os relatos de EQMs e os relatos mediúnicos. Defenderemos que os relatos mediúnicos se concentram nos planos espirituais próximos ao plano físico, enquanto os das EQMs, muitas vezes, alcançam planos ainda mais acima no astral, o que pode ensejar o encontro direto com a luz divina. Por outro lado, os relatos mediúnicos fazem de Deus um ser distante, como é para nós aqui na Terra.
Tentei encontrar outra obra que fizesse essa sistematização que aqui trabalhamos, mas o que encontrei foram pessoas tentando enquadrar as EQMs nos dogmas espíritas ou vice-versa, sem avançar no entendimento das contradições. Assim, considero essa obra um pontapé inicial em discussões que são inadiáveis, pois, dizem, a humanidade atravessa uma fase muito importante em sua jornada, e ela não pode esperar mais tempo. A hora é agora.
1
A transição
Atransição entre planos, que ocorre na morte, tem padrões diferentes nos relatos mediúnicos e nos relatos de EQMs. Embora tenhamos que relativizar a palavra padrão
, pois, tanto nos relatos mediúnicos, quanto nas EQMs, as experiências são únicas para cada caso. Mas, ainda assim, podemos falar em certos padrões nas narrativas. Neste capítulo, vamos analisar esses padrões e confrontar as contradições e pontos de convergências.
A transição nos relatos de EQM
Como já dissemos na introdução, cada EQM é uma experiência subjetiva, pessoal e irrepetível. No entanto, existem certos parâmetros que poderiam ser chamados de padrões, que estão presentes na maioria dos relatos, sem que haja, necessariamente, a presença de todos eles em cada EQM. De modo geral, uma pessoa que tenha vivido uma EQM, pode se ver fora do corpo, presenciando os médicos realizarem os procedimentos cirúrgicos, ou ainda verem seus corpos no local do acidente, onde ocorreu o desencarne temporário. Depois de contemplarem seus corpos sem vida, muitos dizem se ver em uma ambiente de escuro
, mas eles têm dificuldade de explicar essa escuridão. Uns dizem que é um vazio, no qual nãosentem medo, que é calmo e, muitas vezes, sentem que há uma ou mais presenças que não veem, mas que estão lá para auxiliá-los.
Depois vem uma revisão da vida. Descrevem como o filme da vida passando em minutos ou, inexplicavelmente, de uma vez só. Alguns dizem que esse filme é preto e branco, outros que é mais real que a própria vida, outros que é possível parar a cena e contar até o número de moscas que voavam no momento e que eles nem repararam na ocasião. Nessa parte da experiência, sentem que não são julgados por nenhuma consciência exterior, embora haja relatos em que uma voz faz algumas observações. O que chama a atenção é que momentos que pareciam insignificantes, ganham uma nova dimensão e outros, que pareciam de elevada grandeza, perdem toda a importância. No entanto, o que confere relevância para cada cena é o altruísmo, ou seja, se aquele ato foi bom e feito com desprendimento. Momentos que acreditavam fazerem o bem podem ser revistos como gestos interesseiros e, portanto, não são considerados como importantes.
Logo após vem a experiência do túnel, que também não conseguem explicar direito o que seja. Alguns dizem que é escuro, outros que as paredes são feitas de luz, outros que ele é sinuoso, outros que é reto com uma luz atrativa na distância. Mas, em todos, tem a presença dessa luz poderosa, imensa e indescritível, que os atraem e fazem viajar em grande velocidade rumo a ela.
Quando chegam na presença dessa luz, às vezes, é colocado um impedimento: Não é sua hora, sua missão ainda não terminou, você tem que retornar
. Muitos dizem que esse momento é muito frustrante, pois na presença da luz experimentam uma paz e um amor indescritível. Um amor incondicional, que não se exige que você seja nada em particular, só você mesmo, com suas imperfeições e idiossincrasias. Nessa luz, muitos relatam que tem a sensação de que acessam o conhecimento universal, de que sabem de todas as coisas, sabem falar em todas as línguas, podem responder a qualquer pergunta, desde física quântica a qualquer informação histórica. Há também a sensação de unidade com todo o universo. Muitos dizem que se sentiram unos com a luz, ou de que seriam a própria luz. No entanto, quando retornam, não é permitido que eles voltem com esse manancial de conhecimento e perdem tudo quando voltam.
Essa questão do acesso ao conhecimento universal e de ser uno com a luz levanta incríveis problemas filosóficos e teóricos a respeito da evolução que é defendida nos moldes espíritas. Segundo essa doutrina, o homem foi criado simples e ignorante, para evoluir. Evoluímos em sentimento e conhecimento, mas nunca teremos acesso ao conhecimento absoluto, pois ele pertenceria somente a Deus. Nessa nova perspectiva, trazida pelas EQMs, podemos nos perguntar como essas pessoas sentiram que tinham todo o conhecimento do universo, apenas esqueceram dele, por não ser permitido esse acesso no plano físico, enquanto a doutrina espírita afirma que temos que conquistar o conhecimento e o altruísmo? Se ficarmos com as EQMs termos que questionar esse sentido de evolução e procurar outro mais adequado.
Na coleção Religare apresentamos uma solução para esse paradoxo com a teoria da descida dos fractais divinos, que descem no plano físico para efetivarem os infinitos potenciais divinos e os conquistam com mérito. Vamos aprofundar essa questão fundamental em um capítulo à parte.
Em outros casos, é a própria pessoa que entende que não é a sua hora e que ela tem coisas pendentes para resolver: filhos para criarem ou algo que envolva mais pessoas. Quando ela pondera com a luz, ou com os seres que lhes aparecem, é dito que a decisão está nas mãos deles, sobre ficar ou voltar. Então a pessoa retorna.
Há relatos que dizem que, embora a luz parecesse uma fronteira, eles vislumbravam cidades e paisagens inteiras dentro da luz. Tudo luminoso, resplandecendo uma luz própria e indescritível. Em muitos casos encontram com parentes e amigos já falecidos, que os recebem com grande alegria, mas dizem que não é a hora do reencontro definitivo. Há pouquíssimos relatos de pessoas que foram além dessa fronteira, ou mesmo além, vendo até mesmo o início de toda a Criação. São consideradas EQMs transcendentais e excepcionais. Veremos algumas delas aqui.
Todas as pessoas que voltam dessa experiência voltam transformadas. Dizem que se pode estabelecer uma fronteira de como elas eram antes e de como eram depois da EQM. Voltam mais espiritualistas, desapegadas de bens materiais, mas sem apego a nenhuma religião específica, que veem como limitadas. Em muitos casos, relatam que nenhuma religião os prepararam para esse encontro formidável com a luz. De que está além de todas as narrativas religiosas. Até mesmo as mais espiritualistas, que tratam da vida após a morte.
Muitas voltam com habilidades especiais, mediúnicas, premonitórias, ou inusitadas, como interferir em aparelhos eletrônicos, ou acessar a consciência de alguns animais ou plantas. Alguns desenvolvem essas habilidades e se tornam terapeutas, médiuns e tentam ajudar a quantos podem. Alguns ainda conseguem experimentar o sentimento de unidade em algumas ocasiões, e há relatos maravilhosos que vamos analisar nesta obra.
Como é dito para as pessoas que elas têm uma missão para cumprir, muitas voltam com o sentimento torturante de qual seja essa missão. Outras, pelo contrário, já possuem clareza de qual missão possuem e o que elas têm que fazer para a completarem.
Muitas voltam com um sentimento de inadequação ao mundo, depois de verem a grandeza do outro. Muitas coisas na vida perdem a importância e passam a ter dificuldades de se adaptarem ao mundo e suas trivialidades. Por isso, muitos casamentos acabam, porque a pessoa não encontra mais sentido nas coisas que seu parceiro cultiva e gosta.
Outra questão importante é que os corpos dessas pessoas estavam muito enfermos, por isso chegaram à morte. Muitos relatos afirmam que os médicos dizem tratar-se de um milagre que elas tenham voltado à vida. Esse milagre parece ser uma verdadeira intervenção divina, para que essas pessoas possam completar suas missões aqui na Terra. Em muitos casos, os cânceres desaparecem, os ossos e colunas quebradas são consertados e a pessoa sente-se curada e bem-disposta em poucos dias. Esses milagres, por si só, deveriam despertar a curiosidade da medicina. No entanto, ainda não chegou o tempo em que a medicina abraçará a espiritualidade e se abrirá para uma nova fronteira do conhecimento.
Vou transcrever um relato a seguir de Peter N (nome fictício)[1]. Aconteceu em 1974, na Escócia, em função de um acidente de moto, para exemplificar tudo o que disse antes. Nele, o experimentador compara o que vivenciou com outros relatos de EQM. Isso torna esse relato bem interessante, pois nos dá elementos valiosos para perceber como essas narrativas são cunhadas de subjetividade, mas, ao mesmo tempo, traz importantes padrões de experiência.
(...) sentia a onda começar a me inundar de dor e eu sabia que não conseguiria resistir, pois era muito forte. Só que eu estava subindo muito rápido para eu conseguir segurar e lidar com aquilo. Eu simplesmente senti-me subindo e me perdendo, que eu estava indo embora.
Foi nesse ponto que eu soube, mais tarde, que eu perdi a minha consciência ou a minha lucidez. Foi então que eu percebi que estava em um lugar escuro, vazio e preto. Eu não conseguia ver nada além da escuridão. Embora eu tivesse registrado que era assim, não era assunto que me preocupasse de alguma forma. Aqui, no ambiente, eu parecia estar desinteressado de tudo aquilo.
Aconteceu também que eu não parecia ter um corpo. Eu existia apenas como consciência. Isso também não tinha nenhum tipo de preocupação para mim. O que mais me interessava era a natureza de outra coisa que estava ocorrendo. Gostaria de observar que, ao longo dos anos, li relatos de experiências de quase morte nas quais esse tipo de situação é descrita como um vazio
. Vejo muitos paralelos entre o que escrevi e as descrições de tais vazios. No entanto, não usei o termo aqui, pois não experimentei este lugar como vazio enquanto estava nele. Especificamente, não tive nenhuma experiência de negação, de nada durante essa fase da vivência, apesar de experimentá-lo, pois era um lugar escuro vazio e preto, no entanto, vejo como os outros podem se referir a isso como uma espécie de vazio
, especialmente se houve censos de negação associado a tal lugar.
(...)
Houve, então, algo como uma pausa muito breve. Na vida cotidiana, podemos dizer que era algo como tirar um tempo para pensar. Só que, no entanto, o que parecia é que eu estava fazendo algo que eu não tinha consciência. Antes parecia que eu estava comparando minhas sensações de tristeza com a compreensão que a voz me dera. Era como se eu estivesse comparando os termos que poderiam ser melhor descritos como duas frequências combinando. Era como se meus sentimentos estivessem dialogando consigo mesmos. Então, de repente, aquele diálogo interno acabou. Embora eu tivesse uma leve sensação residual de tristeza, parecia aceitar o entendimento que me foi dado e a total validade da resposta e essa aceitação era quase equivalente a um ato físico, como se fosse o determinante do que aconteceria a seguir.
(...) Não é possível descrever isso em palavras adequadas, mas pode-se dizer que foi como se eu começasse a formar algo a partir desse vazio. Com isso eu quero dizer que, no ato de me virar, embora não fosse uma preocupação real se eu possuía de fato um lado ou não, parecia que eu tinha formado uma espécie de corpo, uma forma física, ao qual eu não estava ciente antes de possuir. Ao mesmo tempo que fiz esse movimento de giro, comecei a me mover para cima. Comecei a perceber um som. Eu fui atingido por um forte pensamento de que aceitação real de resposta, esse meu giro, tinha a indução de produzir uma forma de mim diferente e isso promoveu uma espécie de início de um som e o surgimento de um espaço imediato. Todos esses eventos estavam ligados à aceitação e a minha resposta pela mudança. Esse som que surgiu tinha um ritmo, ou seja, tinha uma periodicidade, como se fosse uma batida. No início me lembrou o som de uma hélice de helicóptero iniciando, por analogia, que é o mais próximo que eu posso escrever do que aquele som parecia. Portanto, havia uma parte baixa de energia no som e também uma parte alta e, à medida que me movia, cada vez mais para cima, eu percebi cada vez mais o início daquele som. Percebi como um espaço foi surgindo ao meu redor. Para qualificar isso, eu diria que, desde então que li sobre experiências semelhantes, nas quais pessoas escrevem um túnel de luz, eu não identifiquei isso como um túnel nada como espécie de tal. Embora pudesse falar como se fosse uma orientação ligeiramente parecida com o túnel. Eu mesmo não usei o termo túnel porque, definitivamente, não foi assim que eu identifiquei, quando eu estava dentro dele, também não usei o termo porque, enquanto escrevia isso, em