Memórias Amazônidas em Escavações: Ocupação e Modos de Vida Entre Rios e Florestas Marajoaras
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Memórias Amazônidas em Escavações - Eliane Miranda Costa
1
INTRODUÇÃO: DA ESCOLHA DO OBJETO À ESCAVAÇÃO
DA MEMÓRIA!
Lá, onde o poderoso rio encontra o mar, há alguns milhares de anos, formou-se um conjunto de ilhas que, nessa região de superlativos, é o maior arquipélago que se tem notícias.
(SCHANN, 2009a, p. 10)
O livro socializa aspectos históricos da ocupação humana no arquipélago de Marajó, especificamente da área de floresta, a partir de vivências, memórias culturais e materialidade de moradores do rio Mapuá e área por ele banhada no município de Breves, estado do Pará. O Mapuá é um dos rios mais extensos de Breves, suas margens e floresta guardam histórias, memórias e vestígios de distintas temporalidades, significativas para compreendermos o processo de ocupação humana nesse arquipélago.
Nas palavras da arqueóloga Denise Schaan (1962-2018), os primeiros habitantes deste arquipélago foram pequenos grupos de populações dedicadas à pesca e à coleta de moluscos, que viveram na costa ao longo de alguns rios há cerca de cinco mil anos
(SCHAAN, 2009a, p. 34)⁵. Esse modo de vida simples e disperso desapareceu gradualmente, após o início da era cristã, quando a população aumentou e começou agregar-se em vilas maiores junto às cabeceiras dos rios na região dos campos ou área intermediária entre campos e floresta (SCHAAN, 2009a).
Situados nessas áreas, do século VI ao XIII, os marajoaras desenvolveram um sofisticado modelo ecológico-econômico, com escavação de reservatórios de água, construção de barragens e formação de tesos e cacicados. Com esse modelo controlavam os recursos aquáticos o ano todo, assim, durante a maré baixa e meses sem chuvas contavam com quantidades massivas de peixes, assegurando o sustento dos grupos sob a coordenação de chefias regionais (cacicados), espalhadas pelo arquipélago.
As pesquisas arqueológicas indicam que os cacicados eram relativamente independentes, mas mantinham alianças entre si, o que se verifica com as trocas de objetos cerimoniais e padrões culturais similares. Sugere-se que uma acirrada competição entre os caciques, em várias partes do Marajó, contribuiu para a construção de tesos e a demonstração de riqueza e poder entre os chefes. O que se constata com a produção de objetos de luxo e da cerâmica⁶ com suas engenhosas pinturas e qualidade, além da importação de objetos de prestígios, como as pedras verdes e os machados cerimoniais (SHCAAN, 2009a; BARRETO, 2008).
Essa fase, chamada de Marajoara da Tradição Policrômica Amazônica, compreende o período de 400 a 1.300 A.D. (MEGGERS; EVANS, 1957), entrou em declínio a partir do século XIII, por razões desconhecidas. Para os/as arqueólogos/as, esse fenômeno pode ser explicado pela perda de controle dos chefes sobre a vida cerimonial e a capacidade de mobilização do trabalho social, ao menos 300 anos antes da chegada dos europeus. Esse descontrole levou os indígenas a retornarem ao padrão disperso e mais autônomo, como os Nheengaíba
⁷, prováveis remanescentes da cultura marajoara, pois, apesar do colapso sociopolítico, constata-se que compartilhavam dos mesmos costumes e cultura no período da invasão portuguesa (SCHAAN, 2009a).
A extinção da cultura marajoara de Tradição Policrômica pode ser explicada também por alguma pandemia; ou pelo abandono do território marajoara; ou ainda ter sido conquistada e absorvida pelos Aruã falantes da língua Arawak, que penetraram em Marajó partindo de Mexiana, Caviana e do que hoje constitui o território do Amapá
(MEGGERS; EVANS JR. 1954, p. 10). Duzentos anos antes da Colonização, os Aruã restringiram-se mais ao litoral norte-oriental, ocupando esse território até o início da colonização portuguesa (MEGGERS; EVANS JR., 1954; SIMÕES, 1967), quando desencadearam-se intensas disputas e conflitos pelo domínio do território marajoara.
Conta-se que Nheengaíba e Aruã vivam em intensa disputa, por isso, quando os colonizadores chegaram, os Nheengaíba ocupavam o centro do arquipélago, no lado ocidental, para evitar confronto com os encrenqueiros Aruã. Para além dos incômodos vizinhos, os Nheengaíba tiveram que enfrentar a sangrenta investida portuguesa, que, de acordo com Pacheco (2009), perdurou por mais de duas décadas e só foi vencida porque os opositores contaram com a interferência de Padre Antônio Vieira, missionário jesuíta que convenceu os indígenas a assinarem, à época, o acordo de paz com os portugueses.
As pazes do Mapuá
encerraram a guerra entre nativos e invasores, e representaram a estes a consolidação da conquista lusitana na Amazônia, e aos aborígenes, submissão e extermínio. Esse acordo, em hipótese, ocorreu na localidade vila Amélia, na época, aldeia dos Mapuá, entre os dias 22 e 27 de agosto de 1659, sob a condução do cacique Piyé Mapuá, chefe da federação de sete cacicados desse arquipélago (Anaja, Aruã, Camboca, Guianá, Mamaianá, Mapuá, Piixi-Pixi) (PACHECO, 2009). Nessa localidade se encontra, atualmente, um sítio arqueológico de cemitério indígena, atribuído à nação Mapuá, que, juntamente dos demais vestígios, sugerem ser o Mapuá, território ancestral e lugar de memória (NORA,