Desplumada
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Desplumada - Flávia Lins e Silva
DIAS SECOS
lá se vão onze meses e dezesseis dias sem chuva. É uma das piores secas que já vi. A terra anda vermelha, dura, e a poeira me faz tossir de manhã até de noite. Somos os deschuvados, pessoas esquecidas pelas nuvens, que sobrevivem debaixo de um sol escaldante. A temperatura aqui sempre ronda os 40 graus e toda vez que minha mãe sai de casa, leva uma sombrinha para se proteger. Sei que alguns chamam por aí esse objeto de guarda-chuva, mas aqui no sertão ele só serve para proteger do sol mesmo.
A cada vez que olho para o céu, procuro nuvens, mas tudo segue azul. Falta d’água aqui na fazenda Siriema significa problema. Problema dos grandes. O reservatório de água já está quase vazio, e meu pai já não pode regar a plantação de cana-de-açúcar.
A pouca água que sobra vai primeiro para as vacas e, depois, para nós.
— Apenas dois copos de água por dia, Rosa —, já me avisou meu pai.
Algumas vezes, a seca dura 7 ou 9 meses. Mas agora parece interminável.
Já notei que minha mãe usa um de seus copos de água para cozinhar e depois fica tomando a sopa aos bocadinhos, como se fosse uma espécie de suco. É duro de ver. E vai ficar ainda mais duro se não chover em breve.
Se pelo menos as nuvens viessem nos visitar… Mas os Deschuvados são assim. Sem nuvens nem para admirar.
Minha mãe reza muito, mas eu não. Sei bem que nuvens não têm ouvidos e prefiro escrever no meu caderno, onde coleciono palavras que faltam para descrever tudo aquilo que aqui não brota.
Meu pai olha para o céu toda manhã e murmura para si mesmo, desanimado:
— Sem chuva, sem trabalho.
Ele está perdendo as forças e sei que em breve entrará naquele outro estado
que minha mãe e eu tanto tememos.
Se a chuva não vem, a plantação seca completamente e os donos da fazenda vão culpá-lo por suas perdas. Meu pai ficará desempregado mais uma vez e teremos de trocar de casa.
Foi assim na outra fazenda e na anterior também. Os donos da fazenda Siriema só aparecem aqui uma vez por ano. Eles não gostam desta terra, nunca ficam mais do que uma semana e sempre reclamam que o trabalho está malfeito, que não vai dar lucro, que não vai sobrar dinheiro para pagar ninguém.
A cada dia que passa, meu pai está mais calado, como se estivesse economizando até saliva para não secar completamente. Como minha mãe, ele só toma um copo de água por dia. O outro, divide com Manico, seu cavalo, seu único bem, seu único amigo.
Quando eu nasci, minha mãe me deu um nome de flor: Rosa. Talvez imaginasse que depois viriam outras plantas para o seu jardim: Violeta, Margarida, Jasmim…, mas, assim como a terra, acho que minha mãe também secou por dentro. E só nasci eu. Logo eu, que não sei pegar na enxada, que desmaio debaixo do sol.
Não sirvo para o campo. Já tentei ajudar na plantação muitas vezes, mas o calor é forte, as manchas brancas queimam, ardem, a pressão baixa, e eu desmaio.
A mãe nunca reclama da falta de água ou da falta de comida. Ela poderia ser chamada de uma desreclamadora da vida, se não reclamasse de nada mesmo. Mas tem uma coisa da qual ela reclama sem parar: da minha mania de escrever neste caderno.
— Larga esse caderno e vem rezar comigo, Rosa! —, ela insiste, toda vez que pego na caneta.
Ela pensa que escrever é não fazer nada.
Como posso explicar a ela