Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Açúcar: riqueza e arte em Pernambuco
Açúcar: riqueza e arte em Pernambuco
Açúcar: riqueza e arte em Pernambuco
E-book211 páginas2 horas

Açúcar: riqueza e arte em Pernambuco

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Neste minucioso trabalho de coleta de dados, sistematização de informações e seleção de imagens primorosas (pinturas, mapas, fotografias), Fernaneo Guerra de Souza mostra como a Colônia conviveu intensamente com a produção de açúcar, o primeiro ciclo econômico do Brasil e o mais extenso, antecedendo o ciclo do ouro e o do café. O autor analisa, principalmente do ponto de vista morfológico, as edificações de cinco engenhos pernambucanos, dos séculos XVII, XVIII e XIX, enfatizando seu estado atual de conservação ou abandono. Arquiteto e historiador, experiente no ensino da História da Arte e na restauração de edificações, sobretudo daquelas do Barroco, Fernando Guerra mostra como quase toda a costa nordestina teve sua civilização estruturada à base dos canaviais e dos engenhos, como os investimentos na produção geraram um quantitativo significativo de engenhos, e como o açúcar alicerçou a riqueza, o fausto e o luxo da vida colonial, entre a chamada nobreza rural do Nordeste..
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de set. de 2024
ISBN9788578589998
Açúcar: riqueza e arte em Pernambuco

Relacionado a Açúcar

Ebooks relacionados

Arte para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Açúcar

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Açúcar - Fernando Guerra de Souza

    Capa do livro. Metade de cima da arte da capa é uma pintura representando escravos africanos trabalhando na moeção da cana-de-açúcar em um engenho de açúcar. A metade inferior da capa está em branco. Texto: Fernando Guerra de Souza. Açúcar: riqueza e arte em Pernambuco. Abaixo do texto, um açucareiro de cerâmica branco com pinturas decorativas de rosas. Logo da Cepe editora no canto direito inferior da capa.Contra-capa do livro. Fundo branco. Texto: Fernando Guerra de Souza. Açúcar: riqueza e arte em Pernambuco. Logo da Cepe editora.

    Copyright © 2022 Fernando Guerra de Souza

    Direitos reservados à

    Companhia Editora de Pernambuco — Cepe

    Rua Coelho Leite, 530 — Santo Amaro

    CEP 50100-140 — Recife — PE

    Fone: 81 3183.2700


    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Souza, Fernando Guerra de

    Açúcar : riqueza e arte em Pernambuco / Fernando

    Guerra de Souza. -- Recife, PE : Cepe, 2022.

    Bibliografia.

    ISBN 978-85-7858-999-8

    1. Arquitetura - Pernambuco (Estado) 2. Arte e arquitetura 3. Engenhos de açúcar - Brasil - História - Período colonial 4. Pernambuco (Estado) - História I. Título.

    22-121897 CDD-720.98134


    Índices para catálogo sistemático:

    1. Arquitetura : Pernambuco : Estado :

    Urbanização : História 720.98134

    Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

    Foi feito o depósito legal

    Dedico este trabalho a Suely Cisneiros Muniz, minha companheira

    de todos os momentos, pelo apoio

    e pela inestimável presença.

    Agradecimentos

    Aos meus familiares, pelo carinho fraterno de todos os dias, especialmente à minha querida mãe, Stella Guerra de Souza, um exemplo de honradez e de amabilidade ( in memoriam ).

    Aos professores Enivaldo Rocha, José Luiz Mota Menezes e Henry Socrates Lavalle Sullasi.

    Ao historiador e genealogista Reinaldo Carneiro Leão.

    A todos os professores e aos amigos que contribuíram para a realização deste trabalho: Carlos Newton, Edja B. F. Trigueiro, Silvia Leon Ramos Martins, Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão e Marconi José Pimentel Pequeno.

    Ao secretário do Departamento de Arqueologia (UFPE), Daniel Baltar, pelo seu irrestrito apoio e pela sua responsabilidade.

    Um agradecimento especial à minha aluna, monitora e amiga Hilayane Maras e ao aluno Emanuel Queiroz.

    Aos amigos, pela alegria do reencontro.

    Apresentação

    Carlos Newton Júnior

    Poeta, ensaísta e professor da UFPE

    Em admirável texto publicado no livro O patrimônio construído , o poeta e ensaísta Alexei Bueno afirma, com muita propriedade, que não sabemos nem jamais saberemos precisar quando surgiu no mundo a ideia de patrimônio histórico, de patrimônio cultural, de preservação. E lembra, logo em seguida, da atitude de Alexandre, o Grande, que, ao arrasar a cidade de Tebas, em uma de suas inúmeras guerras de conquista, preservou a casa do poeta Píndaro, cuja obra admirava, exemplo que faltou ao Rio de Janeiro, onde demoliram a casa de Machado de Assis na década de 1930 e a de Cruz e Sousa na de 1980. ¹

    Lembraríamos, então, por uma simples associação de ideias, que, no ano do nascimento de Alexandre, 356 a.C., um homem até então obscuro, chamado Heróstrato, tornou-se célebre da noite para o dia ao incendiar o templo de Ártemis em Éfeso, na atual Turquia, ato criminoso que ele perpetrou simplesmente porque queria se tornar famoso e entrar para a história. Não sendo capaz de construir nada de valor, Heróstrato teve a triste ideia de imortalizar o seu nome destruindo o edifício, que já era considerado uma das sete maravilhas da Antiguidade.

    Teríamos assim, já na Antiguidade, exemplos categóricos para ilustrar as duas atitudes que podem ser tomadas em relação ao patrimônio edificado — a preservação e a depredação. Heróstrato é o paradigma absolutamente atemporal de todo aquele que pretende alcançar a celebridade a qualquer custo, e há um pouco de Heróstrato em todos esses vândalos que, ainda hoje, em nossas cidades, depredam o patrimônio arquitetônico ou escultórico através disso que se chama pichação e que alguns energúmenos iguais a eles, todavia aparentemente letrados, defendem como uma nova forma de arte.

    Talvez a maior qualidade deste livro do professor Fernando Guerra, que o leitor tem em mãos, seja o potencial para despertar, sobretudo no público jovem, o amor pelo patrimônio edificado, pois não se ama o que não se conhece, nem se preserva o que não se ama. Isso, convenhamos, não é pouca coisa, principalmente num país como o nosso, de modo geral, com pouca tradição na área da preservação do patrimônio histórico e artístico e historicamente dirigido por governantes para quem o verbo preservar é quase sempre conjugado em causa própria, em relação a seus mandatos e às benesses que destes advêm. Daí a ênfase relativamente recente nas ações para a preservação do chamado patrimônio imaterial, que não demandam verbas públicas e são tão eficientes para o frenesi midiático quanto certas obras de arte de vanguarda — e então tomba-se tudo, do frevo ao acarajé, do bolo de rolo ao vatapá.

    A veemência crítica desta constatação, de ordem geral, não pretende ofuscar (e nem poderia, mesmo se o quisesse) o trabalho de importância incomensurável dos pioneiros na preservação do nosso patrimônio, a exemplo de um Mário de Andrade, de um Rodrigo Melo Franco de Andrade e de tantos outros que os seguiram, enfrentando dificuldades de toda natureza, tampouco os esforços empreendidos pelo Iphan, responsável pelo tombamento de mais de 1,5 mil imóveis de indiscutível valor histórico e artístico ao longo do século XX, em todo o território brasileiro.

    Ao receber, em 1961, o título de doutor honoris causa da Universidade de Minas Gerais, pelo seu trabalho em defesa do patrimônio histórico e artístico nacional, afirmou Rodrigo M. F. de Andrade que a defesa do nosso patrimônio, mesmo amparada pelas leis, só poderia ser garantida por obra de educação, o que levou seu amigo e compadre Manuel Bandeira a declarar, em crônica a ele dedicada:

    Urge incutir no espírito de cada um dos nossos conterrâneos a noção de que somos todos responsáveis condôminos dos bens de valor histórico e artístico existentes no país. Sem essa consciência de condomínio da parte de cada brasileiro, as riquezas espirituais legadas pelas gerações passadas estarão sempre correndo perigo, porque os interesses materiais de indivíduos e entidades públicas ou particulares a cada passo procuram obstar a ação da lei que instituiu a proteção de tais riquezas.²

    Nota-se, no livro de Fernando Guerra, o minucioso trabalho realizado pelo autor na coleta de dados e na sistematização de informações, num arco temporal tão abrangente quanto complexo, bem como na seleção de imagens (pinturas, mapas, fotografias) que enriquecem o volume e esclarecem a exposição, por si mesma já fluente e objetiva. Da maior relevância, a nosso ver, é o último capítulo, quando o autor analisa, principalmente do ponto de vista morfológico, as edificações de cinco engenhos pernambucanos, dos séculos XVII, XVIII e XIX, dando-nos conta do seu estado atual de conservação ou abandono.

    Arquiteto e historiador, com larga experiência no ensino da História da Arte e na restauração de edificações, sobretudo quando adentramos pela rica produção do nosso Barroco, mundialmente reconhecida, Fernando Guerra palmilha, com segurança, um chão para ele sagrado.

    Recife, 23 de janeiro de 2021.


    11 BUENO, Alexei et al. O patrimônio construído: as 100 mais belas edificações do Brasil. São Paulo: Capivara, 2002. p. 17.

    2 BANDEIRA, Manuel. Somos todos condôminos. In: Andorinha, andorinha. Org. de Carlos Drummond de Andrade. 4. ed. São Paulo: Global, 2015. p. 114.

    1. Introdução

    Pode-se afirmar, após o descobrimento do Brasil e no decorrer de todo o século XVII, que a Colônia conviveu intensamente com a produção de açúcar. Foi, na verdade, o primeiro ciclo econômico e o mais extenso deles, provocando, por todo o seu tempo, inúmeras guerras de interesse comercial, antecedendo, portanto, dois outros ciclos: o do ouro (século XVIII), na região das Minas Gerais; e o do café (século XIX), no Vale do Paraíba, na região Sudeste.

    Revela-nos Costa Porto (1979) que, de modo geral, quase toda a costa nordestina teve sua civilização estruturada à base dos canaviais e dos engenhos, que deram à Colônia aquele brilho e aquele fulgor registrados pelos antigos cronistas. De fato, os investimentos aqui depositados geraram um quantitativo significativo de engenhos:

    [...] a impressão que nos deixa a análise da vida colonial, sobretudo nos dois primeiros séculos, é de que no açúcar se alicerçavam a riqueza, a grandeza, o fausto da chamada nobreza rural do Nordeste, por exemplo, a descrição de Cardim, que encontrou em Olinda um luxo desadorado, senhores de engenho grossos de oitenta mil cruzados, bebendo bons vinhos, tendo mesa farta, vestindo bem, montando ginetes caros e bem ajaezados, acentuando que, na Nova Lusitânia, se luxava tanto quanto em Lisboa (COSTA PORTO, 1979, p. 55).

    Na verdade, a civilização do açúcar se arrastará e influenciará a Colônia por mais de quatro séculos, desde os primeiros anos do século XVI até as últimas décadas do século XIX. Tal esperteza dos lusitanos estava em perceber o futuro daquela empreitada depender do cultivo da terra conquistada.

    As dificuldades e crises surgidas sucessivamente no decorrer dos primeiros séculos foram aos poucos superadas e, a partir da primeira metade do século XIX, a Colônia reviveu àquela opulência do início do ciclo, legando-nos notáveis exemplares de construções nos antigos engenhos, portanto uma herança do poder e da luxúria da aristocracia açucareira.

    Nos mosteiros medievais, os monges tinham guardados inúmeros documentos valiosíssimos em suas salas e bibliotecas secretas. Os mosteiros eram frequentados por artistas, filósofos, pensadores, ocultistas, cavaleiros, geógrafos e cartógrafos, que se irmanavam no ideal de perpetuar a chama da fé, do espiritualismo e da cultura. Esses ideais indicaram os caminhos e as rotas aos navegadores na busca de novos rumos.

    Entre os séculos XV e o XVI, época das Grandes Navegações e dos descobrimentos, o mundo experimentou profundas transformações. Inúmeros geógrafos surgiram com novas teorias, às vezes até absurdas, entre as quais as cartas náuticas e os mapas da época. Eles tentavam explicar a localização dos continentes, transformando e configurando as antigas viagens em acontecimentos épicos para várias nações.

    O continente europeu assimilava a ideia de que o controle de domínios ultramarinos lhe possibilitaria a hegemonia pretendida. Nesse contexto, Portugal resolve se aventurar ao mar, sobrepondo as fantasias da época ao superar as incredulidades vigentes, investindo-se da coragem dos seus navegantes, bem como da sua vocação marítima, assim escrevendo um dos mais notáveis capítulos das navegações do mundo. A busca por outros continentes era a motivação expansionista à procura das especiarias, de novos produtos dos trópicos, muitos dos quais ainda eram desconhecidos.

    Já descoberto e explorado, o Brasil fora esquecido aos olhares lusitanos, pois estavam voltados para o Oriente, dispensando pouca atenção à sua conquista americana. Na verdade, procuravam mais riquezas através do comércio e de novos produtos. Isso, de início, a Colônia não oferecera, contudo o que fez a Metrópole voltar as vistas para a Colônia foi a ameaça gaulesa, cuja presença, no Brasil, chegou a pôr em perigo o domínio lusitano (COSTA PORTO, 1979, p. 19).

    Portugal já conhecia o açúcar antes mesmo de cultivá-lo na Colônia, em meados do século XV, através da sua produção nas ilhas dos Açores, de São Tomé e da Madeira. No final desse século, o açúcar já era considerado um dos mais rentáveis produtos do comércio lusitano. E graças à grande procura deste açúcar para o comércio da Europa, Portugal ocupa as terras conquistadas, especialmente no litoral, criando, assim, inúmeras áreas produtivas ao longo da costa do Recife e de Salvador. Na verdade, já no início do século XVI, D. Manuel procurava recrutar um homem experimentado para instalar engenhos no Brasil (COSTA PORTO, 1979, p. 19).

    Confirma-se, desde 1518, o registro da existência de engenhos, em Pernambuco, bem como de entrarem em Lisboa, em 1526, açúcares produzidos em Itamaracá, antes mesmo da divisão da Colônia em capitanias hereditárias. Vale ressaltar a coexistência dessa primeira atividade de produção açucareira com o comércio do pau-brasil, o chamado pau-de-tinta, ou Ibirapitanga, árvore vermelha, como era chamada pelos índios (COSTA PORTO, 1979, p. 19).

    Ao ser confirmado Duarte Coelho como primeiro mandatário de Pernambuco, a sua intenção era fazer um outro Portugal ao designar de Nova Lusitânia a capitania que lhe doara D. João III, da boca meridional do canal de Santa Cruz à foz do São Francisco. (MELLO, 2002, p. 70). Com 70 léguas, entre dois rios, o São Francisco e o Igarassu, a capitania foi beneficiada pelas ações do donatário, cujos feitos em diversas missões na Índia já o haviam qualificado.

    Ao desembarcar uma considerável comitiva, em 1535, cria-se a Vila de Igarassu e, em seguida, em 1537, fixa-se em uma agradável colina, chamada Vila de Olinda. Ergue-se, então, uma torre para a estadia de toda comitiva e sua família, como também uma capela dedicada ao Salvador do Mundo. Assim, os primeiros assentamentos urbanos da capitania foram instalados no alto de colinas, encontrando-se sempre a igreja Matriz, a Santa Casa de Misericórdia — com a sua capela e o seu hospital —, a casa do governador, a Casa de Câmara e de Cadeia, a ferraria e o açougue e, finalmente, uma cerca de

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1