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Medo e fuga
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E-book367 páginas4 horas

Medo e fuga

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Sobre este e-book

Em Medo e Fuga, Edward T. Welch investiga as raízes do medo na alma humana e as ramificações de viver nas garras da ansiedade, preocupação e pavor. Welch incentiva os leitores a descobrirem por si mesmos que a Bíblia está cheia de belas palavras de conforto para pessoas temerosas (e que toda pessoa tem medo de alguma coisa). No quadro de trinta meditações tópicas, Welch oferece sólida teologia bíblica e momento a momento, incentivo ponderado para o salvamento de vidas no meio do campo de batalha do coração e da mente de respostas desenfreadas de pânico. Esta cartilha abrangente sobre o tema do medo, da preocupação e do resto de Deus fará com que os leitores se retirem para as Escrituras para obter constância, cuidado firme e conforto robusto, em vez de – como Welch define – pressionar o botão padrão ao responder com característica independência humana, controle e autoproteção.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de set. de 2022
ISBN9786559891528
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    Medo e fuga - Edward Welch

    Edward T. Welch. Medo e fuga. Temor, preocupação e o Deus do descanso. Cultura Cristã.Edward T. Welch. Medo e fuga. Temor, preocupação e o Deus do descanso. Cultura Cristã.

    Medo e Fuga – Temor, preocupação e o Deus do descanso, de Edward T. Welch © 2020 Editora Cultura Cristã. Título original Running scared: Fear, Worry and the God of Rest Copyright © 2007 by Edward T. Welch. Traduzido e publicado com permissão da New Growth Press, 728 W. Davis Street – Burlington NC 27215, USA. Todos os direitos são reservados.

    1ª edição 2020

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Sueli Costa CRB-8/5213

    W439m

    Welch, Edward T.

    Medo e fuga / Edward T. Welch; tradução Letícia Forcellini Scotuzzi. – São Paulo : Cultura Cristã, 2020.

    Recurso eletrônico (ePub)

    Título original: Running scared

    ISBN 978-65-5989-152-8

    1. Medo 2. Aconselhamento 3. Vida cristã I. Scottuzi, Letícia Forcellini II. Título

    CDU-241.538

    A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

    ABDR. Associação brasileira de Direitos Reprográficos. Respeite o direito autoral.Editora Cultura Cristã

    Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP

    Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099

    www.editoraculturacrista.com.br – [email protected]

    Superintendente: Clodoaldo Waldemar Furlan

    Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

    Para J. Alan Groves

    Um pastor sábio

    Um pai amoroso

    Meu amigo querido

    (1952–2007)

    SUMÁRIO

    Prefácio

    Agradecimentos

    I. Observações iniciais

    Um mundo de medo

    Nossos medos e ansiedades

    O medo fala

    A ansiedade e a preocupação se apresentam

    II. Deus fala

    Não temas

    O princípio do maná

    O Deus do suspense

    Preocupação sobre preocupação

    A. Sobre dinheiro e posses

    Não se preocupe

    A mensagem do reino

    Quando o reino não é suficiente

    Graça para amanhã

    Busque a minha face

    Onde está o meu tesouro? Reino de quem?

    B. Sobre pessoas e seus julgamentos

    Não confie no homem

    Ame mais do que precisa ser amado

    Combata o medo com o medo

    C. Sobre morte, dor e castigo

    Medo da morte

    Medo do julgamento

    Um vislumbre do céu

    Já morto

    D. Paz seja convosco

    Eu serei contigo

    Eu prometo

    Ore

    Que venha o pior

    Paz seja convosco

    Paz para pacificadores

    Ontem e hoje

    Amanhã

    Últimas palavras

    Notas

    PREFÁCIO

    Há anos que estava ansioso para escrever sobre o medo. Quase o fiz em When people are big and God is small, mas tudo o que eu pude fazer foi rodear as beiradas e saborear as possibilidades. Toquei no assunto em Depressão – a tenebrosa noite da alma, mas como o medo não é relevante para todos os que lutam contra a depressão tudo o que fiz foi levantar a questão e mencionar que há belas palavras de consolo para pessoas temerosas.

    Agora posso me deleitar nessas belas palavras.

    Como a maioria dos projetos literários, este livro é diretamente orientado para mim mesmo. Embora eu possa ficar bravo ou melancólico, sou um especialista em medo. E descobri que não estou sozinho nisso. Nem todo mundo é especialista em medo, mas não há dúvida de que cada uma das pessoas que já viveu esteja pessoalmente familiarizada com o medo. É uma característica inescapável da vida terrena. Negar isso é... bem... negar isso.

    Inicialmente, fiquei intrigado com o relato de Lucas sobre o mandamento de Jesus: Não temais. Houve um tempo em que as ordens bíblicas não estejais preocupados e não temais rapidamente punham um fim à esperança de que houvesse qualquer coisa atrativa para dizer às pessoas assustadas. Parecia que o conselho bíblico era: A lei diz para não ter medo; então, não tenha. Fim de papo. Mas há pelo menos duas maneiras diferentes de dizer não se preocupe. Uma é uma advertência judicial, que carrega um tom ameaçador; a outra é um incentivo paternal, que visa a consolar. A Escritura tem ambas, mas Lucas ressaltou o encorajamento paterno. Essas acolhedoras palavras do Pai amoroso eram tudo o que eu precisava para perceber a paixão de Deus em confortar as pessoas assustadas.

    Claro, a Escritura me levou a lugares novos. Eu não esperava ter de aprender como orar ou o quanto ser um pacificador ativo é uma maneira infalível de conhecer a paz. Também não previ como os elementos básicos da vida cristã – leitura bíblica, oração e comunhão – comporiam os rudimentos da nossa batalha com o medo e a preocupação.

    Com isso em mente, por favor, não encare as passagens das Escrituras que encontrará no decorrer dessas meditações como meros complementos. Elas são alimentos essenciais. Você provavelmente já conhece a maioria delas, mas não permita que essa familiaridade seja ocasião para leitura dinâmica.

    O sumário lhe fornecerá um panorama, mas este livro não é exatamente linear. Não é uma série de passos a serem seguidos. Em vez disso, são 30 meditações ligadas por um tema comum. Depois de ler as observações iniciais, leia um capítulo por dia. Não leia o capítulo seguinte até ter conversado com alguém sobre o que acabou de ler.

    AGRADECIMENTOS

    Está chegando o tempo em que a única palavra que serei capaz de escrever ou dizer será obrigado. A cada dia tenho ficado mais em dívida para com outras pessoas e grato a elas:

    À diretoria da Christian Counseling & Educational Foundation (CCEF), que aprovou e apoiou o período sabático necessário para concluir este livro.

    Aos meus colegas da CCEF – David Powlison, Paul Tripp, Winston Smith, Bill Smith, Tim Lane e Mike Emlet – cujas ideias eu roubei descaradamente.

    À Jayne Clark, que inicialmente propôs o plano sabático da CCEF.

    Aos funcionários da CCEF, que fazem tudo correr mais suavemente em minha ausência.

    Ao Westminster Theological Seminary, pelo privilégio de ensinar tantos alunos sábios e amorosos.

    À Sue Lutz, cujos incansáveis esforços para moldar minhas ideias e palavras continuam a me humilhar.

    Às minhas filhas, Lindsay e Lisa, que fazem parte de tudo que eu faço, mas, como companheiras na especialidade do medo, ainda mais neste projeto.

    À minha esposa, Sheri, que estava sempre feliz em conversar comigo sobre as ideias neste livro e em ler trechos desajeitados. De alguma maneira, ela sabe exatamente quando rir de minhas variadas ansiedades e quando compartilhar meus fardos. Ela deve ser listada como coautora.

    PARTE UM

    Observações iniciais

    A Parte Um olha para os nossos medos e preocupações a olho nu. Numa simples inspeção, aqui está o que salta à vista.

    • Medo e preocupação habitam profundamente em todos nós.

    • Medo e preocupação têm significado. Eles dizem alguma coisa.

    • Medo e preocupação dizem que o mundo é perigoso.

    • Medo e preocupação nos revelam. Eles revelam as coisas que amamos e valorizamos.

    Capítulo um

    UM MUNDO DE MEDO

    Eu gosto de assustar as pessoas, e as pessoas gostam de serem assustadas.

    – Stephen King

    Olhe para as crianças, veja toda a humanidade. Enquanto os adultos encobrem e escondem, as crianças são despojadas e abertas. Elas não têm fachadas sofisticadas nem armadilhas culturais que silenciosamente acrescentam camada sobre camada à nossa experiência adulta. Com as crianças, você obtém a realidade.

    Aqui está o que você vê.

    As crianças são profundamente carentes, mas teimosamente independentes: o NÃO! entra no vocabulário delas logo após papai ou mamãe.

    Elas podem ser encantadoras e charmosas, mas ainda egoístas e manipuladoras: meu! vem logo depois de NÃO!.

    Quando meu! não funciona, elas fazem birra, e o fazem sem nunca ter testemunhado adultos batendo os punhos no chão e gritando loucamente. As crianças não precisam aprender a ira. Em vez disso, a ira pode brotar espontaneamente da mente já emergente delas.

    Elas podem contar mentiras com a expressão séria, olhando diretamente para você, sem nem mesmo piscar. Nesse caso, mais uma vez, as crianças não precisam de professores. Elas podem mentir sem nunca terem ouvido uma mentira.

    E mesmo se vivessem numa fortaleza inatacável, protegida 24 horas por dia por escudeiros que afastam todos os ladrões, fantasmas e monstros, com entes queridos sempre a curta distância, câmeras de vídeo e alarmes perpetuamente ligados, luzes noturnas acesas antes do anoitecer, protegidas de Stephen King, de Walt Disney, dos desenhos animados das manhãs de sábado e de todas as coisas assustadoras, elas vão – certamente – sentir medo. De algum modo, sem ninguém lhes dizer isso, elas sabem que vivem num mundo que não é seguro.

    O MEDO NAS CRIANÇAS

    Um dos dons valiosos da infância é uma imaginação extraordinária. Dê qualquer objeto a uma criança e brincadeiras acontecem. Bonecas tornam-se filhos amados; varetas transformam-se em espadas, armas, sabres de luz e telescópios. O problema é que, aliadas a um coração temeroso, essas maravilhosas imaginações também podem vislumbrar o pior. Observe a imaginação à solta de uma criança e você sente como se estivesse assistindo a alguém de 8 anos de idade ao volante de um carro de corrida da Indy. Um quarto escuro é tudo o que elas precisam para que sua imaginação comece a sair do controle. De repente, os relógios as observam, enquanto criaturas ainda não classificadas correm por dentro das paredes e atrás da porta do armário se esconde um mundo maligno.

    Considere o Calvin de Calvin e Haroldo. Ele está certo de que, assim que seus pais saem do quarto e as luzes se apagam, existe algo babando debaixo da sua cama. De uma hora para outra – com apenas um toque no interruptor – o jovem Calvin passa de super-herói mundial para o jantar do monstro debaixo da cama. E, sem dúvida, ele fala em nome dos seus colegas.

    Se não for a imaginação das crianças levando-as a esses lugares assustadores, certamente as histórias para dormir as levarão. João e Maria, A Bela e a Fera, livros de contos amedrontadores como Things that go bump in the night.* Por que há tantas histórias assustadoras para as crianças? Sim, nos contos de fadas clássicos, as pessoas boas prosperam e a justiça vence no final. Mas quem pode dizer se somos bons o suficiente para nos identificarmos com a Cinderela? E se não formos? E mesmo que achemos que podemos ser poupados do caldeirão da bruxa, ainda descobrimos que existem coisas horríveis por aí.

    Considere estes trechos de populares histórias infantis de todo o mundo. Observe como eles sugerem que coisas ruins virão e se associam às ansiedades até da criança mais segura.

    Nunca ninguém na família chegava perto do sótão. Eles esperavam que os estranhos sons vindos lá de cima fossem de galhos raspando contra a casa. Porém, não se arriscavam. E isso era sábio, pois lá no sótão um demônio feminino esperava por eles.1

    Não há nada de sutil nesse início de um popular conto infantil alemão. Os sons estranhos presentes em todas as casas acabam de ser identificados, e nenhuma criança sensata subirá qualquer escada sem um exorcista ou o pai ou a mãe. Esqueça até mesmo de fechar os olhos durante a próxima semana. A aparição do sótão não tem nada para fazer senão esperar até que a família durma.

    Há muito tempo na China vivia um velho com um coração de pedra. Ele expulsava todos os mendigos que vinham à sua porta.2

    Essa história começa de um modo um tanto inocente. Talvez você preveja um conto moral sobre generosidade. Não está esperando arrepios ao longo do caminho. Porém, esse velho logo acaba se tornando um mendigo. (Histórias assustadoras adoram simetria.) E antes que ele encontre o seu fim, o que é certo, você não irá... fechar os olhos durante a próxima semana.

    Era uma vez uma viúva que tinha uma filha biológica e uma enteada. Sempre que a sua própria filha dizia ou fazia qualquer coisa, a mulher lhe dava tapinhas na cabeça e dizia: Garota esperta!. Mas não importava o quanto a enteada tentasse, ela era sempre chamada de tola ou preguiçosa pela mulher, que frequentemente a repreendia e às vezes a espancava.3

    Nesse caso, você certamente não quer ser nem a viúva nem a filha dela. A insensatez delas será exposta, e então o machado cairá, talvez literalmente. Enquanto isso, a enteada, que (você espera) representa você, casará com alguém rico e bonito.

    Anya finalmente declarou: Eu não tenho medo de nada.4

    Esse é um sinal claro de que depois de três páginas Anya tomará o maior dos sustos. Muito provavelmente ela, também, estará morta no final, e você terá arrepios. E observe a lógica da história. Se você não tem medo, você é tolo e coisas ruins acontecem. A única escolha é, para nossa própria segurança, ser cheio de pavor.

    O que está acontecendo? Essas são histórias que você pode encontrar em todas as culturas conhecidas. Talvez Stephen King esteja certo – nós gostamos de assustar e de ficar assustados. Afinal, quem nunca se divertiu pulando na frente de um amigo desavisado e gritando BU!? E que americano nunca entrou voluntariamente numa casa maluca ou pagou para ser assustado num parque de diversões? Desde que saibamos que realmente não há nada a temer, gostamos de sentir medo. A adrenalina faz com que nos sintamos mais vivos. Um bom susto pode ser melhor do que um café extragrande.

    No entanto, estamos falando de crianças pequenas aqui. Elas ainda não se alegram em assustar os outros ou em serem assustadas (pelo menos não até que sejam incitadas por irmãos travessos), e não precisam de energia extra. O que mais está acontecendo? Por que a imaginação delas vai tão rapidamente para coisas assustadoras, mesmo que não tenham conhecimento delas? E por que parecem gostar de histórias assustadoras?

    Uma possibilidade é que as crianças sintam medo antes de sequer depararem com sua primeira história assustadora, caso em que a função da história é validar medos primais preexistentes. Em outras palavras, as crianças já sentem como se houvesse perigos à espreita em todos os quartos escuros. Esses medos vêm com o pacote de ser humano. As histórias assustadoras não criam medo; elas simplesmente oferecem explicações para ele: "Sim, existem razões pelas quais você sente medo. Você sente como se houvesse monstros debaixo da cama e você está certo. Realmente existem monstros debaixo da cama". As crianças podem não gostar de descobrir que o ruído na parede é um bicho-papão, mas pelo menos elas têm uma explicação para o seu medo, e agora entendem por que precisam de uma luz noturna. (Evidentemente, monstros são estritamente noturnos.)

    O medo é natural para nós. Não precisamos aprender. Sentimos medo e ansiedade antes mesmo de haver qualquer razão lógica para eles. Os medos das crianças antecedem sua familiaridade com histórias assustadoras.5

    O MEDO NOS ADOLESCENTES

    Quando se tornam adolescentes, as crianças levam suas histórias assustadoras consigo, mas essas histórias fortificadas já não são fofas. Já se foram as fadas boas e os gentis desconhecidos com poderes incomuns. Agora é apenas horror deslavado: Goosebumps**, Freddy Krueger, Chuckie e motosserras.***

    Alguns adolescentes – talvez dois ou três – se recusam a assistir a esses filmes. Eles já têm diversos medos. Por que acrescentar mais? O restante parece precisar desses contos de pesadelo. Para alguns, o medo faz com que se sintam vivos. Funciona do mesmo modo que atrações radicais nos parques de diversão. Os meninos riem e as meninas gritam, que é uma das razões pelas quais os meninos riem. Mas o gênero horror serve a mais propósitos do que uma descarga de adrenalina ou conseguir um par romântico para abraçar você durante uma cena especialmente arrepiante. Essas histórias dizem: O mundo não é seguro! Algo está nos observando!. E elas estão mais corretas do que imaginam. Ser bom, o que era a sua proteção nas histórias infantis, não parece importar agora. Seja lá o que for que está à espreita por aí, essa coisa parece ser incapaz de julgar entre quem foi desobediente e quem foi bonzinho. Não tem preconceitos ou preferências. Os adolescentes não são tão ingênuos a ponto de pensar que seus próprios atos de bondade os protegerão de alguma maneira.

    Talvez os adolescentes poderão ser protegidos se manifestarem abertamente os seus medos. Pelo menos essa parece ser a lógica por trás do Halloween. Quantas emoções têm os seus próprios feriados nacionais? Em todo o mundo, há variações do Dia das Bruxas. As pessoas se fantasiam e fazem algo para afastar os espíritos que supostamente andam entre nós ou para firmar a paz com eles. Nos Estados Unidos, independentemente de quanto pensamos que somos seculares e científicos, as implicações espirituais do Halloween estão bem na superfície. As fantasias estão cada vez mais macabras. Numa rápida caminhada pela rua, você vê zumbis, corpos mutilados, demônios e seus pesadelos ambulantes. Os trajes não são exclusivamente fantasmagóricos; há anjos adoráveis em abundância. Mas os anjos têm um propósito. Anjos são seres espirituais, enviados de Deus para nos proteger. Eles fazem parte da atmosfera sobrenatural da noite. O medo é, de fato, um assunto espiritual.

    O MEDO NOS ADULTOS

    À medida que a idade adulta vai se instalando na nossa vida, podemos supor que guardaríamos nossos medos e ansiedades infantis. Mas fazemos isso? Embora os adultos não vão de porta em porta pedindo doces, há mais festas à fantasia de Carnaval e Halloween do que nunca; programas de televisão do horário nobre protagonizando vampiros, médiuns, fantasmas e outros visitantes da vida após a morte. O mistério de assassinato é leitura de praia obrigatória. Histórias de horror para adultos levam nossos sentidos ao limite. O noticiário da noite continua sendo um reality show de terror. Embora haja tentativas ocasionais de notícias positivas, ninguém sintoniza se o noticiário ficar suave e afetuoso demais. No âmbito da cultura, nós, jovens e velhos, tateamos buscando um local para retratar a irracional, misteriosa, arriscada e absolutamente assustadora essência da vida cotidiana.

    Nossas cidades têm tiroteios aleatórios e a ameaça da jihad aumenta nossas ansiedades. Ao que parece, o aumento da liberdade ajudaria, mas isso não acontece. Tanto a opressão quanto a liberdade podem incitar o medo. A liberdade resolve o medo e a ansiedade associados à perseguição e à opressão, mas aumenta o medo do fracasso pessoal, razão pela qual Søren Kierkegaard disse que a ansiedade é a vertigem da liberdade. Com a liberdade vêm mais escolhas, o que significa mais oportunidades de errar. Liberdade ou opressão – escolha seu veneno. Ambas contribuem para nossos medos e ansiedades.

    Em suma, nada acontece para amenizar nossos medos quando completamos 20 anos, e muitos na nossa sociedade presumem esse fato. Políticos, por exemplo, contam com eles. É axiomático que o candidato que toca nos nossos medos é o que vence. Antigamente era a ameaça comunista. Agora os políticos preveem catástrofe fiscal ou aumento do terrorismo ou de armas de destruição em massa – a menos que, claro, eles sejam eleitos.

    Tudo isso acontece em países onde há relativa paz e prosperidade. Muito mais intenso deve ser o medo em regiões menos estáveis. Considere aqueles que vivem no Sudão, onde a campanha de perseguição étnica e religiosa de Omar al-Bashir matou mais de 180.000 em dois anos. Mais de dois milhões foram expulsos de suas casas; a queima de aldeias diminuiu apenas porque sobraram muito poucas aldeias para queimar. Tal opressão gera um medo paralisante.

    Como podemos supor, longe de se extinguir gradualmente na idade adulta, nossos medos aumentam ao longo da nossa vida. O que antes era uma pequena família de preocupações conduz silenciosamente um agressivo programa de reprodução para se tornar uma fervilhante comunidade de medos palpáveis e ansiedades privadas. O código pelo qual o medo e a ansiedade vivem é primário: multiplicar-se. À medida que possuímos mais coisas, cuidamos de mais pessoas, acumulamos mais experiências ruins e assistimos ao programa de televisão Fear factor**** e ao noticiário noturno, é como se absorvêssemos medo. Se eles não são óbvios na sua própria vida, talvez seja porque você tem vivido numa zona de guerra durante sua vida inteira. No começo, você notava todos os tiros. Depois de um tempo, o caos mistura-se com o farfalhar das árvores, a TV e as crianças brincando no outro cômodo. Gradualmente, o medo tornou-se o ruído de fundo da vida cotidiana.

    No entanto, não é preciso muito para que esse ruído de fundo pule para a linha de frente da nossa atenção. Quando os patronos da cidade de Sarasota, Flórida, anunciaram uma proposta para colocar alguns bonecos realistas de palhaços em torno da cidade, medos subterrâneos irromperam.

    Quando os coulrofóbicos [aqueles que temem palhaços] dali tomaram conhecimento de que os oficiais da cidade estavam prestes a aprovar um plano para colocar 70 palhaços de fibra de vidro em tamanho natural no centro da cidade, eles inundaram agências com telefonemas, e-mails e em protestos presencialmente.6

    A proposta caiu por terra porque um em cada sete de nós é um coulrofóbico certificável.

    Pergunte a um amigo se ele tem uma fobia específica e seus próprios medos não parecerão tão bobos. Existem nomes para literalmente milhares de medos.

    Você já leu um livro ou assistiu a um filme sobre submarinos? Histórias como Ice station Zebra de Alistair MacLean são contos assustadores para adultos porque suscitam nossa claustrofobia, medos de asfixia e medos de sermos enterrados vivos. O submarino serve também como um caixão. O escritor infantil Hans Christian Anderson sempre teve medo de que fosse enterrado vivo. Ele costumava deixar um bilhete no seu criado-mudo explicando que poderia parecer morto, mas que estava apenas dormindo.

    Houve um tempo em que os adultos eram cuidadosamente classificados em um de dois grupos: ou você era neurótico, ou era psicótico. Psicótico significava que você estava fora de contato com a realidade e com medo; neurótico significava que você estava em contato com a realidade e com medo. Hoje somos muito mais esclarecidos e oferecemos bem mais possibilidades de diagnóstico. Há dezenas de distúrbios psiquiátricos dentre os quais podemos selecionar. No entanto, a maior categoria continua sendo o medo. Perceba como o medo e a ansiedade são centrais nessa lista de psicopatologias modernas.

    Transtorno de ansiedade generalizada

    Agorafobia

    Fobia social

    Transtorno obsessivo-compulsivo

    Transtorno de aversão sexual

    Transtorno do terror do sono

    Transtorno de personalidade esquiva

    Delírio persecutório

    Transtorno de pânico

    Esquizofrenia paranoica

    Outras fobias específicas

    Transtorno de stress pós-traumático

    Transtorno de pesadelo

    Personalidade paranoica

    Transtorno de ansiedade de separação

    Cerca de uma em cada dez experiências apresenta versões mais extremas desses problemas. Mas se olharmos de perto para nós mesmos, perceberemos algo em cada descrição que parece familiar.

    O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), em sua forma acentuada, afeta uma em cada 50 pessoas. É preocupação correndo à solta. A obsessão é uma ideia intrusiva que parece impossível de ser desalojada. A compulsão é a ação que pretende neutralizar a obsessão. Em sua forma menos disruptiva é bastante comum: a maioria das pessoas pensa sobre germes e contaminação, e não é anormal que verifiquem o alarme três vezes, e o fogão, duas. Mas isso pode começar a dominar a vida. A obsessão por germes pode levar à compulsão de intermináveis lavagens das mãos, o que pode deixar a pele ferida e sangrando. O medo imaginário de que você pode ter testemunhado ou causado um acidente o mantém circulando de volta para a rua onde acha que tudo aconteceu. Você verifica o cenário até que a compulsão seja desalojada por outra. Dúvidas e medos religiosos são abordados em contagem repetitiva. Horas de cada dia são preenchidas com rituais que, espera-se, anularão tais medos.

    Um em 50 é a estatística para a forma mais grave de TOC, mas traços do transtorno podem ser encontrados em todos os lugares. As preocupações chegam até nós cobertas por papel colante; não conseguimos nos livrar delas tão facilmente.

    O pânico é outra forma comum de medo e ansiedade. É o medo que explode totalmente em sintomas físicos: palpitações cardíacas, falta de ar, tontura, tremedeira, medo de morrer, medo de enlouquecer. Após o episódio inicial, nós acrescentamos o medo de que possa acontecer novamente, o que torna tudo ainda mais provável que aconteça.

    Claro, existem tratamentos para medos e ansiedades. A medicação atenua os sintomas físicos; os tratamentos psicológicos abordam os pensamentos. Se está com medo de voar porque fica pensando que o avião vai cair, você pode substituir esse pensamento por outro. Eu já voei muitas vezes antes e nada aconteceu. É o modo mais seguro de viajar. Isso pode ajudar, mas depende da premissa de que o medo se submete à lógica, o que é uma suposição duvidosa. Na realidade, os medos raramente são lógicos. Ou, como pessoas temerosas podem protestar, eles

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