Need for Speed Heat é o Carbon 2 que merecíamos

Uma reconciliação com a natureza de NFS.

Need for Speed Heat é o Carbon 2 que merecíamos

Afastei-me da franquia Need For Speed pela altura em que o reboot foi lançado, em 2015. Desde então, vi os jogos a sucederem-se, mas sem o mesmo impacto da franquia original. Com o período gratuito de Need For Speed Heat no PlayStation Plus, achei que seria uma boa altura para dar uma chance de reconciliação a NFS – e ainda bem que o fiz.

Underground, Most Wanted, Carbon. É uma tríade que fará parte do catálogo de qualquer jogador aficionado por automóveis, e é inacreditável que uma única franquia consiga ter acumulado tanta qualidade em formatos tão distintos. Além destes, temos ainda Hot Pursuit e Shift, o que me leva a crer que Need For Speed é uma das séries de videojogos mais subvalorizadas de sempre. Talvez porque títulos menos bem recebidos, como ProStreet e Undercover, tenham acabado por afetar a perceção face a NFS.

Após várias horas em Heat, é possível perceber que esta é a experiência mais clássica de Need For Speed desde Carbon, em 2006. Com isto, não quero dizer que seja a melhor desde então, porque Shift e Hot Pursuit foram grandes adições, assim como o subvalorizado Rivals. Mas nenhum outro título de NFS desde Carbon me deixava com tanta vontade de colocar um underglow em néon debaixo do meu carro, ligar o Gasolina, de Daddy Yankee, e entrar em picanços com a polícia pelo meio da noite gentrificada.

Em termos de condução, Need For Speed Heat tentou reinventar a roda. Quis redesenhar o sistema de drift, assim como Ridge Racer fizera há duas décadas, pelo que o drift já não estava associado ao botão de travagem, mas sim à aceleração. Para derrapar, temos de largar o acelerador e voltar a apertá-lo. É uma tentativa que simplesmente não resulta, e que se podia tornar em algo fatal para a experiência, mas eis que Heat incorporou o meu botão favorito de sempre nos jogos de corrida: o botão que desliga o sistema de drift de Heat e nos devolve o antigo formato.

É caso para dizer: em equipa que ganha não se mexe. Lá voltei ao sistema de drift antigo, ao fim de cerca de uma volta e meia com o novo formato.

A melhor funcionalidade de Heat: poder regressar ao sistema de drift clássico.

E porque é que digo que Heat parece mais uma evolução de Carbon do que de outro título da franquia? Por causa da ênfase nas perseguições policiais - aqui mais brutais e difíceis que nunca - e nas corridas de drift.

Carbon era um jogo que decorria totalmente à noite, enquanto Heat tem um ciclo de dia e noite, com corridas legais intercaladas com os desafios noturnos ilegais. Aqui, há diferença, mas é tudo a partir de uma base de design que parece retirar mais de Carbon do que de qualquer outro título da franquia.

O próprio nome da cidade - Palm City - parece uma referência a Palmont, a localização fictícia de Carbon. É verdade que Palm City tem um ambiente muito distinto, inspirado sobretudo em Miami, mas desafio qualquer leitor a entrar pelas estradas secundárias (eu cá chamo-lhes "As Estradas Nacionais de Palm City") durante a noite e a fazer uma curva em derrapagem na perfeição. Voltará rapidamente a 2006, com a música eletrónica a tocar enquanto leva um Mazda RX‑8 ao limite.

Há localizações e paisagens de Need for Speed: Heat que o tornam num verdadeiro sucessor espiritual de Need for Speed: Carbon.

Heat consegue, ao mesmo tempo, conciliar a introdução de novas mecânicas e um modo história surpreendentemente interessante (é certo que não estamos perante um enredo de Coppolla, mas é provavelmente a campanha mais cativante de sempre na franquia) e devolver Need for Speed às ruas, trazer de volta a sensação de que estamos a correr à margem da lei.

A atenção a carros clássicos e asiáticos é um dos pormenores que mais ajudam a distinguir Heat dos anteriores títulos da franquia.

A coleção de carros, com inclusão de vários clássicos europeus e asiáticos (apesar da infeliz ausência da Toyota) mostra uma atenção da Criterion, que nos últimos tempos se focava em colocar-nos ao volante dos maiores bólides o quanto antes. Não é algo necessariamente mau, mas poder andar pelas ruas de Palm City com um Nissan 180SX dá uma sensação única à lá Velocidade Furiosa 1 e 2, que não consigo ter ao controlar um Lamborghini Murcielago.

Em Heat, é totalmente possível pegar num carro de early game e levá-lo durante grande parte da campanha, através de um sistema de customização que teve e a sua conceção precisamente em Carbon. É algo que tomamos como garantido, mas foi neste título que NFS deixou de ter uma progressão linear dos carros.

Levar um Nissan 180SX pela campanha fora foi uma das experiências mais nostálgicas de Heat, e levou-me de volta a 2006.

Tanto em Heat como em Carbon, não se trata apenas de comprar as melhores peças para potenciarmos o automóvel. Temos de saber o estilo de condução desejado (Drift, On-Road, Corrida, Off-Road) e ir alterando os componentes em função disso.

Esta remoção da linearidade do progresso mudou por completo a customização em videojogos de automóveis, e Heat acrescenta-lhe ainda mais camadas e opções, desde o aspeto visual à performance do carro.

Need For Speed Carbon era corridas à noite, era curvas a velocidades estonteantes, era perseguições intensas com a polícia. Need For Speed Heat pode não ter as grandes colinas de Carbon – da Palmont a Palm City vai uma grande distância –, mas incorpora todos os elementos que tornaram esta franquia numa das experiências arcade mais memoráveis da Geração 6 de consolas. Para quem procura um regresso nostálgico a NFS, tem aqui uma excelente opção - é aproveitar o período gratuito.


Gonçalo Taborda nasceu a chorar, estudou para falar e viveu a jogar. Foi ele que inventou esta frase e orgulha-se muito disso. Adivinhou a plot twist do SW:KOTOR antes do final da história e chegou a Silver V no LoL, por um dia. Podes segui-lo no Twitter: @OMelhorTaborda

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Need for Speed Heat

Ghost | 9 de Novembro de 2019
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