Texto Sobre História Dos Números e Sistema de Numeração
Texto Sobre História Dos Números e Sistema de Numeração
Texto Sobre História Dos Números e Sistema de Numeração
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PARTE 1
Uma ideia sobre como surgiu a noção de número
Para responder a essa pergunta precisamos ter uma idéia de como esses homens
viviam e quais eram suas necessidades. Naquele tempo, o homem, para se alimentar,
caçava, pescava e colhia frutos; para morar, usava cavernas; para se defender, usava
paus e pedras.
Mas esse modo de vida foi-se modificando pouco a pouco. Por exemplo: encontrar
alimento suficiente para todos os membros de um grupo foi se tornando cada vez
mais difícil à medida que a população aumentava e a caça ia se tornando mais rara. O
homem começou a procurar formas mais seguras e mais eficientes de atender às suas
necessidades.
Foi então que ele começou a cultivar plantas e criar animais, surgindo a agricultura e o
pastoreio, há cerca de 10.000 anos atrás.
Alguns vestígios indicam que os pastores faziam o controle de seu rebanho usando
conjuntos de pedras. Ao soltar as ovelhas, o pastor separava uma pedra para cada
animal que passava e guardava o monte de pedras.
Quando os animais voltavam, o pastor retirava do monte uma pedra para cada ovelha
que passava. Se sobrassem pedras, ficaria sabendo que havia perdido ovelhas. Se
faltassem pedras, saberia que o rebanho havia aumentado. Desta forma mantinha
tudo sob controle.
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Uma ligação do tipo: para cada ovelha,
uma pedra chama-se, em Matemática,
correspondência um a um.
Fazer correspondência um a um é
associar a cada objeto de uma coleção
um objeto de outra coleção. Como você
vê, o homem resolveu seus primeiros
problemas de cálculo usando a
correspondência um a um.
Mas, provavelmente o homem não usou somente pedras para fazer correspondência
um a um. É muito provável que ele tenha utilizado qualquer coisa que estivesse bem à
mão e nada estava mais à mão do que seus próprios dedos. Certamente o homem
primitivo usava também os dedos para fazer contagens, levantando um dedo para
cada objeto.
Pergunta: Imagine que você esteja numa festa-baile. Em que momento é mais fácil
saber se há mais homens ou mais mulheres na festa: quando estão dançando, ou
quando a música para e as pessoas estão conversando pelo salão? Por quê?
3
Os primeiros registros de números
Isso parece indicar que o homem sentiu necessidade de registrar o total de objetos
que contava. E como se fazia isso? Para registrar o total de objetos ele usava também
a correspondência um a um: uma marca para cada objeto.
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Você já viu alguma vez um pacote grande de fósforos? Um pacote grande vem com 20
maços, cada maço com 10 caixas e cada caixa com 40 palitos de fósforo.
Mas, em que época de sua história o homem percebeu que agrupar ajuda a contar?
Sabemos que não foi de um dia para o outro. Sabemos também que as primeiras
formas de agrupar, provavelmente, se relacionavam com as mãos e também com os
pés. O homem deve ter começado a agrupar de cinco em cinco, de dez em dez, de vinte
em vinte, fazendo a correspondência com os dedos das mãos e dos pés.
Depois que o homem teve a ideia de fazer agrupamentos para facilitar a contagem,
surgiu o problema de registrar os agrupamentos usando algum tipo de marca. Veja
porque isso era necessário:
Imagine que uma pessoa usasse traços para representar cada ovelha. Por exemplo:
um homem tinha
| | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | ovelhas.
Não seria nada prático, não é mesmo? Talvez a solução encontrada tenha sido separar
grupos de marcas.
Ainda hoje em dia, nos jogos, é muito comum contar pontos registrando
agrupamentos de 5.
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Imagine, agora, que você esteja numa terra estranha, onde as coisas são contadas de 7
em 7; para cada coisa contada, faz-se corresponder uma marca: . A cada 7 marcas,
Responda:
b) Qual será o registro para 38 coisas contadas, das três opções abaixo?
(1)
(2)
(3)
Essa idéia de agrupar marcas foi utilizada nos sistemas mais antigos de numeração.
Os egípcios da Antiguidade criaram um sistema muito interessante para escrever
números, baseado em agrupamentos.
3 ||| 7 |||||||
4 |||| 8 ||||||||
5 ||||| 9 |||||||||
6 ||||||
Quando chegavam a 10, eles trocavam as dez marcas: |||||||||| por , que indicava o
agrupamento. Feito isso, continuavam até o 19 do seguinte modo:
6
10 15 |||||
11 | 16 ||||||
12 || 17 |||||||
13 ||| 18 ||||||||
14 |||| 19 |||||||||
30
40
90
Juntando vários símbolos de 100, escreviam o 200, o 300,... etc. até o 900.
Dez marcas de 100 eram trocadas por um novo símbolo, que era a figura da flor de
lótus:
Desta forma, trocando cada dez marcas iguais por uma nova, eles escreviam todos os
números de que necessitavam.
Veja a seguir os símbolos usados pelos egípcios e o que significava cada marca.
bastão 1
calcanhar 10
7
Símbolo egípcio descrição Nosso modo de escrever
peixe 100000
homem 1000000
Exercícios
(a) 23
(1)
(2)
(3)
8
(b) 234
(1)
(2)
(3)
(c) 999
(1)
(2)
(3)
Outro vestígio de uma numeração antiga pode ser observado nos mostradores de
relógios, na indicação de datas e de capítulos de livros: são os símbolos de numeração
romana.
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Estes são os símbolos usados no sistema de numeração romano:
I V X L C D M
Observe alguns números que seriam escritos com 4 símbolos e como os romanos
passaram a escrevê-los:
IV IX XL XLIV CM
CDXC MCMXCIV
(500-100)+(100-10) 1000+(1000-100)+(100-10)+(5-1)
10
Assim como no sistema egípcio, também na numeração romana é trabalhoso escrever
certos números. Veja:
MMMDCCCLXXXVIII
1000+1000+1000+500+100+100+100+50+10+10+10+5+1+1+1
a)23
b)234
c)999
Exercícios
No começo, todas as bolinhas estão do lado direito dos fios de arame. Cada vez
que um jogador faz um ponto, puxa uma bolinha para a esquerda. Ao completar 20
bolinhas, o jogador faz uma marca no quadro-negro. Depois, volta as bolinhas para
o lado direito e recomeça a contagem. Pedro, Luiz e Ribamar estavam jogando
sinuca e saíram para tomar um cafezinho, deixando, no quadro, a seguinte
marcação:
11
Quantos pontos fez cada um?
Um pacot e t em 5 caixas.
12
(1)
(2)
(3)
DIA MÊS
(1) (1)
(2) (2)
Idade do Faraó
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Embaixo da respectiva figura, escreva o número indicado no nosso sistema de
numeração.
PARTE 2
O sistema de numeração decimal
Com o nosso sistema de numeração, usando apenas dez símbolos diferentes [0, 1, 2,
3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10], podemos escrever qualquer número, enquanto que, nas
numerações egípcia e romana, para se escrever números muito grandes seria preciso
criar novos símbolos: um para o dez mil, outro para o dez milhões, outro para o cem
milhões e assim sucessivamente.
Essas dificuldades foram superadas pelos hindus, que foram os criadores do nosso
sistema de numeração. Eles souberam reunir três características que já apareciam em
outros sistemas numéricos da Antiguidade:
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Estas três características, reunidas, tornaram o sistema de numeração hindu o mais
prático de todos. Não é sem motivo que hoje ele é usado quase no mundo todo.
Vamos analisar as características do nosso sistema de numeração para compreender
suas regras de funcionamento. Sem esta compreensão é impossível entender as
técnicas operatórias, os números decimais e o sistema métrico decimal.
Agrupando e reagrupando
Vimos que, para contar grandes quantidades, costumamos agrupar os objetos. Para
contar as bolinhas do desenho
15
ou
Exercício
16
Agrupar e reagrupar de 10 em 10 é uma das características do nosso sistema de
numeração, que, por isso, é chamado de sistema de numeração decimal. Também
dizemos que nosso sistema tem base 10.
Entretanto, o homem não se contentou só com suas mãos. Ele criou alguns
instrumentos para auxiliá-lo nos cálculos. Dentre esses instrumentos, destaca-se o
ábaco, pela eficiência e simplicidade. Ele continua a ser usado até os dias de hoje.
O ábaco
Há vários tipos diferentes de ábacos, mas todos obedecem basicamente aos mesmos
princípios. Vamos nos referir ao mais simples deles. Numa moldura de madeira são
fixados alguns fios de arame. Dez bolinhas correm em cada fio. As do 1º fio
representam as unidades; as do 2º fio representam as dezenas; as do 3º fio, as
centenas e assim por diante.
Vamos nos imaginar que estamos contando as crianças que entram na escola,
passando uma a uma pelo portão. Inicialmente todas as bolinhas devem estar do lado
esquerdo do ábaco.
1. Para cada criança que passa, deslocamos uma bolinha do 1º fio para a direita.
2. Quando as dez bolinhas do 1º fio estão à direita, deslocamos uma bolinha do 2º fio
para a direita e voltamos com as dez bolinhas do 1º fio para a esquerda.
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3. Assim, prosseguimos a contagem.
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Podemos registrá-la deste modo:
3 6 5
ou seja:
3 x 100 + 6 x 10 + 5 x 1 = 365
300 + 60 + 5 = 365
No ábaco, as bolinhas são todas iguais, mas o valor de cada bolinha depende do arame
em que ela está. Certamente, foi esta característica do ábaco que fez surgir a idéia de
dar valores diferentes a um mesmo algarismo, dependendo do lugar em que ele está
escrito.
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Antes de aparecer o sistema de numeração desenvolvido pelos hindus, o princípio
posicional já aparecia em outros sistemas de numeração, como o dos babilônios, por
exemplo. Entretanto, foi na numeração hindu que ele ganhou força total. Mas isto só
aconteceu graças à criação de um símbolo para o nada.
A necessidade do zero
Estamos tão acostumados com sistema de numeração decimal que ele nos parece
incrivelmente simples. No entanto, desde os tempos em que os homens fizeram suas
primeiras contagens, até o aparecimento do sistema de numeração hindu, decorreram
milhares de anos. É surpreendente que diversas civilizações da Antiguidade, como as
dos egípcios, babilônios e gregos, capazes de realizações maravilhosas, não tenham
chegado a um sistema de numeração tão funcional quanto o dos hindus. Por que
tanta dificuldade? Uma possível resposta a esta pergunta nos leva ao zero, isto é, a
um símbolo para o nada.
Estamos tão familiarizados com o zero que não sentimos a menor dificuldade em
raciocinar com ele. As crianças o dominam com facilidade. Entretanto, nem sempre foi
assim. Nossos antepassados custaram muito para inventar o zero e, mesmo depois de
nascido, o símbolo para o nada demorou a ser aceito.
É fácil compreender o porquê dessa demora: os números foram criados pelos homens
como um recurso para auxiliá-los nas diversas contagens que precisavam fazer no seu
dia-a-dia. Os números surgiram da necessidade de determinar quantidades. Ora,
quem não tem coisa alguma, que necessidade pode ter de contar o que não tem? Por
exemplo: você tem alguma girafa em sua casa? Imaginamos que não! E se você não
tem girafas em casa, não vai sentir necessidade alguma de contar quantas girafas tem
em casa. Portanto, enquanto se tratava apenas de determinar quantidades, ninguém
sentiu falta de um símbolo para o nada.
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O ábaco e o zero
Depois do zero ter sido inventado para resolver um problema do sistema posicional de
numeração, ocorreu uma coisa interessante: o zero passou a ser tratado como
qualquer um dos outros nove símbolos. O zero passou a ser tão número quanto os
outros. O nada tornou-se número também, sendo introduzido na sequência: 0, 1, 2, 3,
etc.
21
Exercício
Vamos apresentar outro tipo de ábaco. Neste ábaco, as fileiras de arame são
substituídas por pinos gravados em uma tabuinha. Ele apresenta uma vantagem em
relação ao ábaco de fio de arame: suas bolinhas são removíveis.
(1) (2)
(3)
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Comparando três sistemas de numeração
1) Base
Note que, no sistema romano, os símbolos são sempre reagrupados de dez em dez:
dez "I" formam um "X", dez "X" formam um "C", dez "C" formam um "M".
Neste ponto, pode surgir uma dúvida, pois cinco "I" são substituídos por um "V".
Entretanto, não existem reagrupamentos de cinco. Cinco "V" não são trocados por um
símbolo novo. Os símbolos "V", "L" e "D", que indicam 5, 50 e 500 são utilizados
somente para simplificar a escrita. Portanto, podemos afirmar que a base do sistema
romano é mesmo 10.
2) Valor posicional
ou asssim: ;
o romano é posicional, mas não no mesmo sent ido do nosso sist ema. Édiferente
escrever VI ou IV.
3) Zero
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4) Princípio multiplicativo
5) Princípio aditivo
O número representado é a soma dos valores que cada um dos símbolos representa. O
princípio aditivo comparece nos três sistemas:
Entretanto, no sistema romano, o princípio aditivo precisa ser aplicado com cuidado,
porque nele existe também o princípio subtrativo. Por exemplo:
24
Exercícios
(1)
(2)
5. Responda:
25
a) O que é base de um sistema de numeração?
b) Qual é a base do nosso sistema de numeração?
• Toda vez que estivesse com os dez dedos levantados, Taciana deveria
levantar um dedo e João, imediatamente, abaixar todos os seus.
Escolha a alternativa correta, para a representação dos dedos das mãos dos
dois alunos, ao final da contagem:
(a) (b)
(c)
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8. Como vimos, no nosso sistema de numeração registramos fielmente o que
acontece no ábaco, ao passo que, no código empregado pelos romanos, isto não
acontece. Represente as quantidades indicadas nos ábacos abaixo, nos dois
sistemas de numeração.
a) b)
c)
romano: ____________________
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(a)
(b)
10. O menor número de três algarismos é o 100 e o maior 999. Baseado nessa
informação, escreva os quatro números possíveis de três algarismos, em ordem
crescente, usando somente os dígitos 2, 5 e 0, sem que, num mesmo número,
haja repetição de algarismos. (Lembre-se: dígito é o mesmo que algarismo)
11. Responda:
a) Qual é o maior número que se pode escrever com quatro algarismos, sem
repetir algum deles?
b) Qual é o menor número que se pode escrever com quatro algarismos, sem
repetição?
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Leitura 1
O desenvolvimento da Matemática entre os povos antigos
Para a compreensão desta leitura, é importante observar que estas civilizações não
vieram umas depois das outras. Pelo contrário, muitas coexistiram durante séculos e,
embora localizadas em regiões diferentes, mantiveram contato umas com as outras.
Com exceção dos maias, que habitavam a América, as civilizações da Europa, Oriente e
Oriente Médio trocavam mercadorias e conhecimentos.
Era importantíssimo também prever as épocas de chuva e seca, de frio e calor, ou seja,
as estações do ano, que determinavam momentos de plantar e colher. A previsão das
estações só foi possível em função da observação cuidadosa dos movimentos dos
astros e da posição do Sol, da Lua e das estrelas, nas diferentes épocas do ano. Os
povos da Antigüidade, assim como os povos americanos que mais se desenvolveram
(os maias, astecas e incas) criaram seus calendários, o que exigia conhecimentos de
astronomia e habilidades de cálculo. Contudo, nossos antepassados não se limitaram
a conhecimentos de caráter prático. Foram mais longe, pelo prazer do conhecimento
em si mesmo. Nisto, muito se destacaram os gregos. No campo da Matemática, a
ciência dos gregos atingiu grande desenvolvimento no século IV "a.C.", com Euclides,
cuja obra sobre Geometria influencia o ensino dessa parte da Matemática, até hoje,
em muitas de nossas escolas. Os gregos criaram seu próprio sistema de numeração,
com base 10, utilizando letras para representar os números, o que não facilitava os
cálculos.
30
A civilização do Vale do Indo
Os rios sempre tiveram grande importância na vida dos homens. São fontes de vida,
pois fornecem água e alimento. Além disso, são estradas naturais. Quase todas as
grandes civilizações do passado desenvolveram-se às margens de rios. Isto aconteceu
também com os hindus.
O rio Indo está localizado onde hoje é o Paquistão: próximo à Índia atual. Em seu vale,
há mais de 4000 anos, foram construídas várias cidades, com ruas, calçadas, sistemas
de fornecimento de água e canalizações de esgoto. Possuíam piscinas para banhos
públicos e casas construídas com tijolos de barro. Seus habitantes praticavam um
comércio bastante intenso, inclusive trocando mercadorias com outros povos.
Como não poderia deixar de ser, numa sociedade com este nível de organização, os
habitantes da região possuíam uma linguagem escrita e um sistema numérico.
Entretanto, este não era ainda o sistema de numeração que usamos hoje. Muitos
séculos se passaram até que os hindus desenvolvessem o sistema de numeração
decimal. Não há muitos documentos sobre a Matemática conhecida pelos hindus da
Antigüidade. Por isto é impossível saber, com exatidão, quando e como os hindus
chegaram ao sistema de numeração decimal posicional. Ao que parece é que, por volta
do século V, eles já o utilizavam. Apesar disso, uma coisa é certa: os hindus tiveram
contato com muitas outras civilizações. Influenciaram-nas e foram influenciadas por
elas. O princípio posicional, presente na numeração hindu, também aparece no
sistema numérico dos babilônios, e sabemos que houve contato entre esses povos. A
base dez, que é uma das características do sistema hindu, também era usada pelos
egípcios e chineses. Isto pode ser explicado pelo fato de todos terem dez dedos nas
mãos, mas, talvez, também seja devido ao intercâmbio que houve entre eles. O zero,
que é outra característica importante da numeração dos hindus, talvez também não
seja uma criação deles. Há indícios de que, na fase final da civilização babilônia, já era
usado um símbolo para o nada. Entretanto, um grande mérito deve ser creditado aos
hindus: o de reunir estas diferentes características num mesmo sistema numérico.
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O intercâmbio cultural entre os povos da Antigüidade também se revela no uso do
ábaco, cuja origem não é conhecida, mas que, sabemos, era usado pelos chineses,
hindus e romanos. É certo que o ábaco teve grande importância na criação do nosso
sistema de numeração, como procuramos mostrar na segunda parte da lição.
Enquanto os hindus, que habitavam o vale do rio Indo e tinham contatos com muitos
outros povos, iam pouco a pouco juntando os fios e preparando a trama do nosso
sistema de numeração; grandes acontecimentos tiveram início na Península Arábica.
Esta era uma região desértica habitada principalmente por tribos nômades que se
deslocavam em grandes caravanas entre os poucos centros de comércio existentes.
Nesse ambiente viveu Maomé, o criador da religião islâmica (ou religião muçulmana)
no início do século VII da era cristã. Ele não foi apenas líder religioso, mas também
grande chefe guerreiro que submeteu ao seu governo toda a Península Arábica. Seus
sucessores empreenderam muitas guerras de conquista, ampliando a área de
influência do islamismo e estabelecendo um grande império que, um século depois da
morte de Maomé, atingia, a leste, a região do rio Indo e, a oeste, o norte da África e a
Península Ibérica.
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No extremo oriental do seu império, os árabes entraram em contato com a cultura
hindu e interessaram-se especialmente pela astronomia, a aritmética e a álgebra,
muito desenvolvidas naquela civilização. Estudaram sobretudo o sistema numérico
hindu, reconhecendo sua simplicidade e praticidade. Esses conhecimentos já eram
dominados pelos hindus há vários séculos, mas não haviam se difundido entre os
povos do ocidente.
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A resistência ao novo
O sistema numérico criado pelos romanos foi usado na Europa durante muitos
séculos. Isto aconteceu, sobretudo, devido ao grande poder da Igreja Católica
Apostólica Romana durante toda a Idade Média (do século V ao século XV,
aproximadamente). O sistema de numeração decimal, como vimos, chegou à Europa,
levado pelos árabes, por volta do século VIII. Portanto, quando a numeração hindu
chegou à Europa, os europeus estavam acostumados com a numeração romana.
Para nós, que conhecemos os dois sistemas, é muito fácil perceber as enormes
vantagens que o sistema numérico decimal tem sobre a numeração romana. Isto
poderia nos fazer concluir que a numeração hindu-arábica tenha sido prontamente
aceita pelos europeus, em vista de sua superioridade. Entretanto, não foi isso que
aconteceu. Foram necessários alguns séculos para que as novas idéias triunfassem
definitivamente. Isto só aconteceu no século XVI.
Durante muitos anos, uma verdadeira batalha foi travada entre os adeptos do novo
sistema e os defensores do sistema antigo. Os numerais hindu-arábicos chegaram a
ser proibidos nos documentos oficiais, mas eram usados na clandestinidade. A
perseguição, contudo, não conseguiu impedir a disseminação do novo sistema, que se
impôs pelas suas qualidades.
Antes da invenção da imprensa, que ocorreu no século XV, os livros eram copiados
manualmente, um a um. Como cada copista tinha a sua caligrafia, durante os longos
séculos de copiagem manual as letras e os símbolos para representar números
sofreram muitas modificações. Além disso, como o sistema de numeração criado
pelos hindus foi adotado pelos árabes e passado aos europeus, é natural que, nesse
percurso, a forma de escrever os dez algarismos sofresse alterações.
Por volta do século IV, os hindus representavam os algarismos assim:
Não havia ainda um símbolo para o nada. No século IX, já com o zero, a representação
evoluiu para:
34
No mesmo século XI, os árabes que estavam no Ocidente representaram assim:
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Leitura 2
Crianças e números
Senso numérico
Observe as figuras :
Em qual dos dois casos foi mais fácil perceber onde há mais pessoas?
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Um fato curioso: alguns animais também parecem ter esta capacidade de distinguir
pequenas quantidades. Sobre isso, há um caso interessante relatado por Tobias
Dantzig, no livro que indicamos nas sugestões de leitura.
A experiência foi repetida nos dias seguintes, com três e, depois, quatro pessoas. Não
adiantou: a ave só voltou ao ninho depois da saída de todos.
Finalmente, com cinco pessoas, o corvo "perdeu a conta". Não percebendo a diferença
entre cinco (que entraram) e quatro (que saíram) ele voltou ao ninho assim que o
quarto homem se retirou. Pobre corvo! Passou desta para melhor!
E as crianças? Será que elas têm senso numérico como o corvo da história?
37
É possível ajudar as crianças a formar a idéia de número, mas não devemos nos iludir:
somente explicações não levam a criança à noção de número.
Por isso, antes de ensinar a escrever números e a contar, devemos criar situações para
o aluno ter experiências com quantidades.
Mas, como são essas experiências com quantidades?
Desta forma você leva as próprias crianças a fazerem a distribuição. No final elas
percebem que falta um lápis. Nesta situação, as crianças podem comparar
quantidades. Comparam a quantidade de lápis com a quantidade de crianças do grupo
e podem perceber que há mais crianças do que lápis. Elas conseguem fazer isso sem
usar números.
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A partir de experiências como esta, trabalhando com quantidades, é que as crianças,
pensando sobre a situação, vão construindo a idéia de número.
Vamos ver outro exemplo. Diante dos livros e cadernos empilhados você pergunta:
A resposta a essa pergunta pode não ser tão fácil para as crianças. Elas podem achar
que há mais livros porque eles formam uma pilha mais alta. É uma opinião razoável:
mostra que elas têm um critério para responder.
Primeiro, deixe que as crianças espalhem os livros e cadernos, mexam nos objetos e
percebam como eles são.
Se as crianças ainda não descobrirem que há mais cadernos, você coloca lado a lado
um livro para cada caderno. Então ficará visível que sobra um caderno.
Muitas situações podem ser aproveitadas. Vejamos mais alguns exemplos: você pode
pedir a um aluno que pegue os pratos da merenda na quantidade certa (um prato para
cada aluno). Pode perguntar :
-Tenho o bastante para todos os alunos?
Você também pode fazer uma pergunta do tipo:
- Há mais meninos ou mais meninas na classe?
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Em todos esses momentos, estamos proporcionando experiências com quantidades e
ajudando as crianças a formarem a idéia de número. Tente imaginar quantas
situações assim você pode criar em sua sala de aula e anote-as. Faça uma lista
quando você estiver preparando sua aula de matemática.
Poém, atenção para o seguinte: devemos auxiliar as crianças, mas não responder por
elas. Elas devem usar a própria cabeça. A idéia de número não se explica. Ela vai se
formando, pouco a pouco, dentro de cada criança.
Tudo o que dissemos sobre as experiências com quantidades pode ser feito todo dia,
um pouquinho por dia. Se você percebe que os alunos resolvem facilmente os
problemas propostos, esse período inicial pode ser mais curto. Caso contrário, você
propõe maior número de experiências.
Veja, agora, uma situação interessante que uma professora inventou para desafiar
suas crianças. Elas já tinham tido experiências com quantidades, mas o novo desafio
era mais complicado. Nesse caso, elas não tinham duas quantidades para comparar.
Tinham uma só e tiveram que descobrir a outra.
A menina colocou um feijão na frente de cada criança, isto é, "casou" um feijão com
cada criança, fazendo uma correspondência um-a-um. Seus colegas logo
entenderam a idéia.
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Outras experiências
Veja que as sementes estão organizadas, que elas têm uma ordem.
Discuta com a classe que ordem é essa: uma semente branca, duas pretas, etc.
Discuta com a classe como foi organizada a fileira. Por que é bom que os menores
fiquem à frente?
• Conte a história das formiguinhas que viram o açúcar e foram comê-lo, bem
organizadinhas.
As três últimas situações apresentadas envolvem a noção de ordem que também está
envolvida no conceito de número.
• Podemos trabalhar com fichas coloridas, combinando, por exemplo, que 10
fichas amarelas podem ser trocadas por uma azul (que equivale a uma
dezena).Veja, por exemplo, como esse material pode ser usado para
representar 23 :
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Peça que as crianças identifiquem, entre duas quantidades, qual é a maior, como por
exemplo :
Discuta com as crianças quando seria necessário usar uma ficha de outra cor; por
exemplo, fichas vermelhas.
Um símbolo pode ter ou não semelhança figurativa com a coisa que ele representa.
Em geral, ao serem inventados pelas crianças, os símbolos dos números indicam a
própria quantidade, como os povos antigos os representavam. Assim, por exemplo,
para representar os números um, dois, três, quatro, etc., uma criança poderá fazer
risquinhos: / // /// ////.
Neste momento, a criança já está preparada para aprender os símbolos que utilizamos
atualmente para representar os números. Mas, devemos ter ainda alguns cuidados.
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Em primeiro lugar, como já vimos na lição, quem conta, conta alguma coisa, portanto,
não faz sentido começar a ensinar a escrita dos números pelo zero, pois este não
representa quantidade. O símbolo para o zero só deve ser ensinado depois que as
crianças já sabem representar os nove primeiros números, a partir do um.
A construção de um ábaco simplificado é muito fácil e barata, podendo ser feita pelas
próprias crianças. A base do ábaco pode ser um pedaço de isopor, ou de qualquer
material semelhante, como, por exemplo, uma caixa de ovos. As casas do ábaco
podem ser varetas, espetinhos de churrasco ou pedaços de arame grosso, que serão
espetados na base.
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No entanto, a criança não encontrará o símbolo para esta quantidade.
Podemos sugerir, então, que as crianças troquem as dez bolinhas da primeira vareta
por uma, que será colocada na segunda vareta, representando uma dezena. Neste
momento, deve ser introduzido o cartão com o símbolo zero, que indicará a casa vazia
do ábaco, pois ao trocarmos dez unidades por uma dezena, não sobra nenhuma
unidade na primeira vareta.
Continuando esse processo, a próxima unidade contada deverá ser representada por
uma bolinha colocada na primeira vareta do ábaco, e a situação será assim
representada pelos cartões:
Prosseguindo com outros exercícios desse tipo, a criança vai percebendo que a escrita
dos números corresponde à situação representada no ábaco.
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