Emerson Elias Merhy - Engravidando Palavras - Setembro 2012

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Engravidando Palavras: o Caso da Integralidade

EMERSON ELIAS MERHY1

Pedir emprestado o olhar do outro para o seu olhar o mtodo, o resto so ferramentas.

1. Introduo Este texto devedor da minha fala no Congresso da Rede Unida, que ocorreu em Belo ori!onte, em "ulho de #$$%, e para o qual fui convidado para dar uma confer&ncia so're integralidade na forma(o e nos servi(os de sa)de. *inha "+ atuando nesse evento desde as oficinas pr,congresso e estava 'em estimulado, pelo coletivo da oficina, a tratar do tema das nossas implica(-es no cuidado, que fa!emos como tra'alhadores de sa)de, apontando para a necessidade de colocar em xeque o lugar de onde falamos e atuamos. os n)cleos das profiss-es. / interessante disso que, no meio dessa confer&ncia, houve quem me interrogasse so're essa questo, como um inc0modo ou mesmo uma impossi'ilidade para ousarmos outros modos de agir em sa)de. 1em querer dar conta de tudo que isso possa significar, neste material, procuro dialogar com essa situa(o. 2. Desenhando o Problema 2alve! uma das piores coisas que podem nos acontecer fetichi!armos as palavras, como se elas pudessem em si ser portadoras de sentidos e significados sem os su"eitos que lhes do recheio. 34s que engravidamos as palavras. 3o sou to ing&nuo de imaginar que, neste ato de engravidamento, os su"eitos no tenham "+ posi(-es tomadas, se"am culturais, pol5ticas, ideol4gicas, entre v+rias. 6as o que destaco aqui que, ao reconhecermos que n4s que engravidamos as palavras, podemos olhar para o nosso processo de insemina(o. Podemos com isso desfetichi!ar as palavras de sentidos e significados, colocando,nos o desafio de ir atr+s de novas possi'ilidades. Essa uma das quest-es que quero tratar neste texto, em particular considerando que, com muita facilidade, no caso da integralidade 7 que procura expressar uma categoria anal5tica para o pensamento, com a
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Professor livre-docente do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Cincias Mdicas da Unicamp. Pesquisador colaborador do !PP"S. #-mail$ emerson.mer%&'(mail.com.

inten(o de ser portadora de uma formula(o de mudan(as radicais, para as a(-es em sa)de 7, adotamos a postura de que a palavra portadora de sentidos e significados por si e que 'asta adot+,la, no nosso falar, para nos sentirmos profundamente inovadores. 3o assim. 1omos testemunhas, no dia,a,dia dos nossos servi(os, que so muitos os que falam em integralidade e que isso no, necessariamente, significa que se"am protagonistas de novas pr+ticas de sa)de. 8o contr+rio. 3a maioria das ve!es a integralidade est+ sendo capturada por modelos de praticar a produ(o do cuidado em sa)de 'em tradicionais, 'em corporativo,centrados. /s modos atuais de se produ!ir o cuidado em sa)de, a partir dos territ4rios nucleares das profiss-es 7 que podemos chamar de modelos mdicos hegem0nicos, pela for(a representativa que essa categoria profissional tem como expresso dos paradigmas dominantes, nas maneiras de se construir atos de sa)de 7, t&m tido a for(a de capturar v+rias categorias anal5ticas, dispositivos do an)ncio de novas pr+ticas e torn+,las gr+vidas de outros sentidos. / con"unto das pr+ticas centradas em procedimentos profissionais, na sa)de, tem expressado esse tipo de a(o hegem0nica. 3o estranho assistirmos a movimentos corporativos centrados, que reconhe(am perdas de efetividade nos seus territ4rios de a(-es tecnol4gicas, produtores de cuidados em sa)de, e que prop-em solu(-es para esses pro'lemas. *e"a o caso da 'usca de constru(o de uma medicina integral, que vem sendo ela'orada desde o p4s,1egunda 9uerra 6undial. 3o que no ha"a quest-es interessantes apontadas por esse movimento, mas olhemos pelo lado da captura que apontei. 8o reconhecer que o campo de pr+ticas da medicina estava devendo em resultados o que prometia 7 ou se"a, cuidar glo'almente do outro nas suas necessidades de sa)de: e, identificando isso com a perda de v+rias dimens-es tecnol4gicas da a(o mdica 7 esse movimento procurou ad"etivar a medicina a ser feita. medicina integral. 6as, com isso, fe! outra interven(o interessante. tornou a idia de integralidade uma categoria que passou a fa!er sentido no interior do modo mdico de agir. E, com isso, uma pr+tica que s4 faria sentido a partir de um ato centrado no agir de um profissional de sa)de. Capturou seus sentidos e significados no campo nuclear das profiss-es. Engravidou a integralidade de um paradigma "+ dado. a perspectiva 'iologicista da medicina hegem0nica. E no podemos di!er que s4 os mdicos fi!eram e fa!em isso, pois, com um olhar atento, vemos que esse o movimento reali!ado por todas as profiss-es de sa)de, universit+rias ou no. /lhar para isso e poder perce'er que esse o modo mais comum de se fa!er uso das apostas na integralidade pode nos posicionar em rela(o aos nossos pr4prios modos, individuais e coletivos, de encher as palavras

de sentidos e significados, posicionando,nos em rela(o ao nosso pr4prio agir, como uma pororoca;. 1aindo do nosso territ4rio "+ dado e a'rindo,se para novas possi'ilidades de engravidamento. <ndo atr+s de novos o'"etos e modos de produ!ir o cuidado que invadam o nosso agir a partir do n)cleo profissional, tornando,o lugar comprometido com a constru(o de um cuidado em sa)de que v& no outro o olhar a ser emprestado. Reconhecendo nesses atos a presen(a de n4s mesmos e a'rindo,se para novas ressignifica(-es, como atos de inseminar palavras, vendo,se tam'm como seu parteiro. <mplicando,se com isso. Esse processo s4 pode ser um ato coletivo no mundo do tra'alho, mesmo que se"a no plano individual que fa(amos ressignifica(-es, enquanto su"eitos morais. 3. O Mundo do rabalho ! uma Es"ola2

/lhar para o dia,a,dia, no mundo do tra'alho, e poder ver os modos como se engravidam as palavras com os atos produtivos, tornando esse processo o'"eto da nossa pr4pria curiosidade, vendo,nos como seus fa'ricantes e podendo dialogar no pr4prio espa(o do tra'alho, com todos os outros que ali esto, no s4 um desafio, mas uma necessidade para tornar o espa(o da gesto do tra'alho, do sentido do seu fa!er, um ato coletivo e implicado. 3a sa)de tomo isso como um imperativo categ4rico. Como algo que devemos no s4 dese"ar, mas do qual no podemos fugir. Pois, diferentemente de outros processos produtivos, na sa)de, o tra'alhador a qualquer momento poder+ ser seu pr4prio usu+rio. <mperativamente, quase que de modo o'rigat4rio, ter+ que sempre se ver diante do fa!er de si mesmo, porque mesmo inconscientemente tem que responder para si se seria um usu+rio do que est+ fa!endo com o outro. =+ sa'ido por muitos de n4s que h+ tra'alhadores que passam de!enas de anos fa'ricando certos produtos 7 como, por exemplo, uma 'icicleta 7 e que no sa'em utili!+,los, ou mesmo que no lhes so )teis para nada. 3o se v&em como poss5veis usu+rios dos produtos de seus tra'alhos. Porm, na sa)de isso imposs5vel. 8 qualquer momento, no interior do pr4prio processo produtivo, um tra'alhador pode passar de um territ4rio situacional para outro, ou se"a, pode sair do lugar de tra'alhador para o de necessitado imediato da produ(o de atos de sa)de. E, como tal, sa'e se o que est+ fa!endo enquanto tra'alhador ou no carregado de ofertas significativas para o outro que o 'usca. >a!er do mundo do tra'alho, na sua micropol5tica, um lugar para tornar essas intencionalidades e implica(-es elementos expl5citos, a fim de constitu5,los em matria,prima para a produ(o de redes de conversas coletivas entre os v+rios tra'alhadores, que ha'itam o cotidiano dos servi(os e das equipes de sa)de, explorar essa pot&ncia inscrita nos fa!eres produtivos, como atos pedag4gicos. Por isso, o mundo do tra'alho uma escola. ? lugar de se de'ru(ar so're o'"etos das a(-es, de fa!eres,

sa'eres e agenciamentos de su"eitos. / mundo do tra'alho, nos encontros que provoca, a're,se para nossas vontades e dese"os, condenando,nos tam'm @ li'erdade e a estarmos diante de n4s mesmos, nos nossos atos e nossas implica(-es. / que isso, ento, na sa)deA 8 produ(o de um ato de sa)de, para ser concreti!ada, deve construir certas situa(-es como seu o'"eto de a(o e, como tal, opera um ato tecnol4gico, ou se"a, um ato comprometido com a reali!a(o de um certo produto. Um ato direcionado para isso. Um ato que desde o come(o "+ final5stico, porque visa a produ!ir um produto. o ato de sa)de so're um o'"eto qualquer. Bependendo do paradigma de cuidado em foco esse ato tecnol4gico estar+ considerando o usu+rio como um portador de necessidade C fragmento, isto , ele ser+ visto como um o'"eto, como um corpo ou parte de um corpo com pro'lemas 'iol4gicos, como um ser sem su'"etividade, sem inten(-es, sem vontades, sem dese"os. 1o' o olhar dos n)cleos profissionais consagrados, hegem0nicos, o usu+rio ser+ mais partido ainda, pois ser+ olhado como um o'"eto suporte para a produ(o de um ato de sa)de redu!ido a um procedimento profissional, o que vem consagrando a constru(o de modos de cuidar centrado em procedimentos. Bentro desse tipo de a(o de cuidado, somando todos os olhares profissionais, no se consegue chegar no outro como quem tam'm olha, que tam'm tem dese"os, vontades, inten(-es, modos de expressar necessidades no,fragment+rias. Como um outro que no parte de n)cleo profissional nenhum, de nenhum territ4rio tecnol4gico de a(o. Como um outro que um mundo de necessidades, rico de complexidades l4gicas, pois pode conter desde dimens-es restritas @s formas corporais de sofrer, at necessidades de ser escutado, vinculado, inserido em redes comunicativas com outros, com vontades cidads. 8 soma dos profissionais centrados no d+ conta do va!amento que as l4gicas que ha'itam a produ(o do cuidado contm. /lhando de outro lugar 7 o do usu+rio por exemplo 7 essas l4gicas no podem ser plenamente capturadas por a(-es tecnol4gicas profissionais centradas: elas as extrapolam. Elas colocam o cuidado em outro lugar, que no s4 o da inten(o de um ato tecnol4gico de um agir profissional so're um o'"eto, como o corpo que sofre. Elas colocam o cuidado como referente sim'4lico do campo da sa)de. Produ!em,no como um outro tipo de o'"eto. 3o aquele da a(o que visa @ reali!a(o de um ato de sa)de, como o corpo alvo do cuidado, mas aquele que prometido sim'olicamente como a alma do campo da sa)de, enquanto um lugar que cuida. Esse cuidado, referente sim'4lico, muito mais amplo e largo que qualquer inten(o ou possi'ilidade de reali!a(o produtiva, que um con"unto de tra'alhadores de sa)de de uma profisso possa fa!er, ou mesmo, que a "un(o de todos os profissionais de sa)de possam somar.

2omar o mundo do tra'alho como escola, como lugar de uma micropol5tica que constitui encontros de su"eitosCpoderes, com seus fa!eres e sa'eres, permite a'rir nossa pr4pria a(o produtiva enquanto um ato coletivo e como um lugar de novas possi'ilidades de fa!eres, a serem extra5das do pr4prio encontro e do pr4prio fa!er, ao se desterritoriali!ar dos n)cleos profissionais e se deixar contaminar pelo olhar do outro do campo da sa)de. o usu+rio, individual e coletivo, como lugar de um complexo modo de viver o mundo. 8'rindo,nos, em ato, para novos engravidamentos e partos. 8 integralidade gr+vida de n4s, nesse cotidiano, pode revelar os modos de capturas ou os espa(os de poss5veis li'erdades que operamos, individual e coletivamente, no fa!er do nosso tra'alho de cuidar. Pensar como ir para alm dos encontros, mutuamente irritativos e de reafirma(-es de territ4rios 'em institu5dos, entre as distintas profiss-es, no cotidiano do tra'alho em sa)de, e 'uscar novas formas de engravidar nossos atos, com sentidos e significa(-es diferentes dos paradigmas que temos adotado a partir dos nossos n)cleos profissionais, uma tarefa colocada para todos os tra'alhadores, que no t&m a coragem de ser usu+rios do seu pr4prio fa!er, muito menos do colega do lado, ou de toda a sua equipe. #. $ Porosidade da Dimenso Cuidadora e das %alises das &ela'es( Invadindo os )*"leos Pro+issionais( $brindo,os -ara o Cuidado "omo &e+erente .imb/li"o do 0su1rio =+ venho, "unto com outros, afirmando que o ato de cuidar para o tra'alhador de sa)de, para dar conta de parte do que est+ posto no seu encontro com um usu+rio, individual ou coletivo, mo'ili!a o tra'alhador enquanto portador de caixas de ferramentas tecnol4gicas, que denomino valises da mo, da ca'e(a e das rela(-esD. 3a composi(o dessas valises encontramos equipamentos, sa'eres tecnol4gicos e modos de se comunicar com o outro. Para construir essas tecnologias 7 duras, leves,duras e leves 7 mo'ili!amos pelo menos dois n)cleos de constitui(o tecnol4gicos. o n)cleo cuidador e o profissional, centrado. 8s ;E profiss-es universit+rias da +rea da 1a)de procuram se distinguir entre si pelo n)cleo profissional, pelo qual definem os sa'eres que dominam com exclusividade ou predominFncia, os o'"etos de suas a(-es e suas finalidades enquanto produtores de atos de sa)de espec5ficos. Este n)cleo se fa! presente em cada uma das valises, tornando,se parte das composi(-es destas, tornando,as formas da profisso se reali!ar. Por exemplo, um mdico, como uma das ;E categorias profissionais, di! que sua identidade profissional se d+ pelo seu dom5nio da cl5nica e da terap&utica que tomam o outro enquanto um corpo doente, em

sofrimento. Gue ca'e a ele, profissional, dominar esse territ4rio, a ponto de di!er para os outros qual o diagn4stico do pro'lema de sa)de apresentado por um indiv5duo, que toma como seu o'"eto, enquanto um corpo doente, e que tipos de interven(-es podero ser reali!ados. 3o processo de constru(o do seu n)cleo profissional, o mdico constitui parte das suas valises. 8t a das rela(-es ele procura formatar, com suas teorias so're a rela(o mdico,paciente. 8o considerar que seu n)cleo o que possui para poder falar so're o pr4prio campo da sa)de como um todo, aca'a por ponderar que todas as outras profiss-es so 'ra(os da sua. E mais, toma aquilo que produ! como seu o'"eto de a(o, o referente sim'4lico do campo, reprimindo todo movimento que expressa um va!amento de sua pretenso imposs5vel. Entretanto, o o'"eto sim'4lico do campo, o cuidado como referente, so'ra e pede muito mais do que uma profisso pode lhe fornecer. ? interessante tam'm olhar para o fato de que as outras ;D profiss-es fa!em movimentos semelhantes, como uma forma institu5da de ordenar organi!a(-es profissionais, impondo l4gicas de regras de constitui(o iguais. E, desta forma, em qualquer outra profisso da +rea vemos movimentos iguais, procurando impor seu territ4rio de dom5nio pela conforma(o de o'"etos da pr+tica, pr+ticas e sa'eres, que tomam o referente sim'4lico do campo da sa)de como soma de seus o'"etos. 6as, de novo, ve"o que o referente so'ra, ele imp-e pedidos para o agir tecnol4gico das profiss-es mais do que cada n)cleo s4, ou somado ao outro, pode lhe fornecer. 8lm disso, vemos que uma outra parte das valises recheada de outros territ4rios de sa'eres e pr+ticas, que no pertencem a nenhuma das ;E profiss-es, porm a todas fa! refer&ncia. Cria uma porosidade entre o mundo das profiss-es entre si e entre o mundo dos tra'alhadores de sa)de e o dos usu+rios. Porosidades locali!adas de modo mais expl5cito nas valises das rela(-es, que opera tecnologias leves para dar conta dos encontros e rela(-es de alteridades, com o outro. o usu+rio. 6as essas porosidades tam'm esto locali!adas em um n)cleo tecnol4gico no, profissional de conforma(o, para dar conta do cuidado, que denomino de dimenso cuidadora das pr+ticas de sa)de, que visa ou visado pelo mundo do referente sim'4lico do campo. Por serem porosidades, por a5 que as profiss-es podem se encontrar desterritoriali!adas e, por a5, que, o outro de n4s, o usu+rio, penetra com seu complexo mundo de necessidades que va!a as nossas capturas nucleares. *e"amos um pouco mais de perto esses dois HlugaresI micropol5ticos. 1o encontros de su"eitos em a(o, com seus poderes, produ!indo rela(-es, se interditando e mutuamente produ!indo. Com isso, disparando nos mapas desses encontros possi'ilidades de novos desenhos, como um a'erto para novas conforma(-es cartogr+ficas. 6icropol5ticos, pois a5 que o tra'alho vivo em ato se efetiva na constru(o do cuidado e como tal

opera como parteiro de palavras, significados e sentidos. 85 poss5vel construirmos dispositivos de gesto coletivas do tra'alho em sa)de, que a'ram encontros p)'licos para os fa!eres privados dos atos profissionais centrados. Provocar tudo isso, ao mesmo tempo, na l4gica do tra'alho como ato pedag4gico, expresso pelo olhar da educa(o permanente, cria novas formas de se construir os cotidianos nos servi(os de sa)de. 8 dimenso cuidadora opera situa(-es com que todos os profissionais de sa)de se defrontam, mesmo que procurem, sem muito sucesso, torn+,la seu o'"eto restrito de a(o, como apontei no caso da rela(o mdico,paciente. ? no espa(o desta dimenso, do agir tecnol4gico em sa)de, que o profissional 7 ou os profissionais 7 est+ diante de pr+ticas tecnol4gicas, que devem responder pela produ(o de v+rios pedidos poss5veis de serem inscritos no campo do referente sim'4lico 7 inclusive, aquele que promete que o campo da sa)de lugar da produ(o de um cuidado que cuida, comprometendo,se de fato com a vida do outro. 14 como exemplo, para estimular idias em todos n4s, cito alguns dos pedidos poss5veis, inscritos nessa dimenso cuidadora.

rela(o intercessora com o mundo su'"etivo do usu+rio e seu modo de representar e construir necessidades de sa)de: rela(o acolhedora que inclua o usu+rio como su"eito de sa'eres e pr+ticas no campo das a(-es de sa)de: rela(o acolhedora com o usu+rio que permita produ!ir v5nculos e responsa'ili!a(-es entre todos que esto implicados nos atos de sa)de: rela(o que permita articula(o de sa'eres para compor as valises tecnol4gicas e os pro"etos de interven(-es em sa)de do modo mais amplo poss5vel: rela(o que possi'ilita o encontro dos n)cleos profissionais a partir do mundo do usu+rio como l4gica capturante das outras l4gicas, e no o contr+rio: rela(o que se compromete com a finalidade dos atos de sa)de como efetivos para a qualifica(o do viver individual e coletivo: rela(o que se orienta pela aposta no agenciamento de su"eitos morais implicados com a defesa da vida individual e coletiva: rela(o de incluso cidad, que opera na constru(o de autonomias e no de clones no campo da produ(o dos su"eitos sociais: entre outras.

*e"am que no por acaso que este exerc5cio de engravidamentos apontou para a produ(o em rela(-es. Entendo que o lugar mais a'erto para um agir em produ(o, no plenamente capturado, que denuncia a todo o tempo o limite dos modos institu5dos de se produ!ir atos de sa)de, onde atua a valise das rela(-es, cheia de tecnologias leves e em ato E. Plenamente preenchida de porosidades, como apontado antes. E, como

tal, a're,se em ato para todas as possi'ilidades instituintes no campo da sa)de. / tra'alho vivo em ato sua su'stFncia produtiva nuclear, alm de no pertencer a nenhum n)cleo profissional na sua plenitude. ? nesse territ4rio tecnol4gico que, por exemplo, a rela(o mdico,paciente denunciada como limitada, insuficiente, ou mesmo como lugar de domina(o e de controle. 6as territ4rio de ru5dos dos va!amentos, e por isso um 4timo dispositivo para as equipes de sa)de, nos seus cotidianos, constru5rem seus encontros em a'erto. Bisparando novas formas comunicativas entre si, compondo valises em con"unto. 8 maior parte a preencher as valises das rela(-es, diferentemente das outras duas, a dimenso cuidadora. Por isso, ela se torna lugar privilegiado, a ser visto como lugar de a(-es que interrogam os limites dos modelos hegem0nicos, centrados nos pr4prios profissionais de sa)de. 3o so poucos os exemplos que podemos vivenciar no cotidiano dos servi(os que mostram essa porosidade, revelando novos territ4rios de encontros e a(-es, na 'usca de um agir coletivo em sa)de que se interroga pela integralidade que engravida. 2. 0m $gir em .a*de no 3ual a Integralidade .e4a Desa+io a uma Desterritoriali5ao / relato de um caso pode a'rir nossas imagens em rela(o a isso. / que descrevo est+ inserido em uma experi&ncia que vivenciei com uma equipe de tra'alhadores de sa)de, de uma unidade '+sica, na rede de servi(os de sa)de de Campinas J1PK, no final dos anos L$, e que inclusive me estimulou a construir o texto so're valises tecnol4gicas. Conversando com os tra'alhadores dessa unidade, propus que eles trouxessem situa(-es do cotidiano so're as quais que gostariam de conversar, alm do mapeamento que est+vamos % fa!endo so're quem eram e como se movimentavam na unidade os usu+rios, em um dia inteiro de tra'alho. Esse mapeamento foi feito a partir da constru(o de certas tcnicas, no coletivo dos tra'alhadores da unidade, para a produ(o de informa(-es de sa)de, no dom5nio da pr4pria equipe, e que nos daria a imagem de quem tinha ido ao servi(o, com que pro'lema eCou queixa, a que hora, que tipos de a(-es tinham sido feitas, quem fe!, a que hora, quanto tempo demorou na unidade e que pro'lemas foram enfrentados, por quem e como. 3a mistura de conversas so're a cartografia produ!ida do dia de tra'alho, fi!emos uma reflexo so're que tecnologias port+vamos para fa!ermos nossas a(-es, naquele cotidiano. 8 partir dessa conversa e com a necessidade de aprender o que estava sendo falado, propus algumas idias conceitos para fa!ermos um outro tipo de mapeamento. o das valises tecnol4gicas, sugerindo que cada um visse o que tinha nas mos, na ca'e(a e nos atos relacionais, nos v+rios momentos de seus tra'alhos

e os cartograf+ssemos. Uma auxiliar de enfermagem, numa certa altura, virou para o grupo e falou como ela estava alegre de se ver uma produtora e portadora de tecnologias em sa)de, afirmando que pela primeira ve! tinha a no(o do quanto era uma tra'alhadora de sa)de e atuava com uma valise, como a das rela(-es. 8lm de di!er isso, fe! a seguinte o'serva(o. que ela, agora, passou a entender por que o modo como os mdicos tratavam as senhoras mais idosas, com remdios para acalmar, a irritava e o que colocaria no lugar. 6inha ca'e(a pirou ao ouvir isso. Estimulei,a a continuar falando, dando,lhe respaldo 7 o tipo de tutela que voc& pode emprestar para alavancar o outro, que nos atos pode se autonomi!ar: maneiras 'em usadas em cuidados como as que se fa!em nas redes de aten(o em sa)de mental 7 para que continuasse a explorar sua desco'erta. Ela di!ia que as pessoas velhas, como aquelas senhoras, tinham uma vida muito rica a oferecerem e o modo como os mdicos se relacionavam com elas era muito po're. 3o viam nelas isso tudo. Gue agora ela entendia que podia ir para o interior da equipe e a'rir essa conversa, propondo modos diferentes de se relacionar com aquelas senhoras. <maginava a possi'ilidade de elas mesmas, em rodas de conversas, colocarem coisas novas, uma para a outra, ou mesmo perce'erem naquele lugar espa(o para poderem ser escutadas. Gue iria propor isso para o grupo de tra'alho dela e para os mdicos e ver se eles topavam fa!er algo diferente, que no fosse s4 dar receita de Bia!epan. 3o precisa di!er que algo ocorreu ali naquele coletivo. o"e, no sei como isso se mantm, apesar da minha curiosidade: mas, muito deve ter mudado, pois a pr4pria equipe dessa unidade no mais a mesma. Porm, essa tra'alhadora com certe!a no deixar+ mais de se sentir su"eito da a(o e com poderes. Bisso eu tenho certe!a. Entretanto, quero chamar a aten(o, neste momento, so're como o modo de engravidar as palavras e, 4'vio, nossos atos de sa)de com certas vis-es ou pro"etos de integralidade das nossas a(-es, podem estar a'rindo novidades, utili!ando,se das porosidades da dimenso cuidadora e das valises das rela(-es. 2omar de modo expl5cito, pelo coletivo de tra'alhadores, a capacidade interrogativa que a integralidade, como dispositivo de transforma(o das pr+ticas de sa)de, contm, parece,me no s4 poss5vel, mas necess+rio, como "+ disse, para todos aqueles que se inquietam com o fa!er cotidiano dos servi(os de sa)de, mas em particular para aqueles que sa'em que no seriam usu+rios de si mesmos. 8 possi'ilidade de se olhar desses lugares utili!ando o potencial desterritoriali!ante que a aposta na integralidade contm, permite que interroguemos como seus preenchedores de sentidos, nos nossos fa!eres, apontando para este campo de porosidades. 8're a gesto do tra'alho para o coletivo e para um mundo novo no campo da sa)de, operando

outras l4gicas capturantes, pelas quais o mundo dos usu+rios pode e deve invadir nossos n)cleos tecnol4gicos de a(o e impor novas l4gicas, que olham para o lugar da promessa do referente sim'4lico da sa)de. o ato de cuidar como um fa!er coletivo voltado para a defesa da vida, individual e coletiva. 6ibliogra+ia estimuladora 8BR8 M/, 8. N. Produo de subjetividade e gesto em sade: cartografias da gerncia, defendida como doutorado junto ao Curso de Ps-graduao em Sade Coletiva, U !C"#P, Cam$inas, SP, %&'()')((*+ C86P/1, 9. O. 1. Reforma da Reforma. 1o Paulo. >N/RE1, >. La empresa del siglo XXI. 1antiago. >R83C/, 2. et al. Acolher Chapec. 1o Paulo. ucitec, ;LL#. achette, ;LLE. ucitec, #$$E. ucitec,

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6ER Q, E. E.: /3/CR/, R. J/rgs.K. Agir em sa&de. um desafio para o p)'lico. 1o Paulo. ucitec, ;LLP. P<3 E<R/, R.: 6822/1, R. 8. Os se$tidos da i$tegralidade $a ate$!"o e $o c#idado ' sa&de. Rio de =aneiro. <61CUER=, #$$;.

! idia de pororoca retirada de !na ucia !bra%)o* que* em sua tese de doutorado* usa dessa fi(ura para mostrar a dobra da a+)o sobre o pr,prio a(ente do ato. -.#F#./0C"!12 3 #sta ima(em emprestada de #rminia Silva* que* no seu estudo sobre os circenses e sua arte* nos mostra que o circo uma escola* por ser o lu(ar de produ+)o do fa4er art5stico* de seus pr,prios artistas e dos saberes. 6 7er essa discuss)o no livro Sade: a Cartografia do Trabalho Vivo -M#.89* 3::32. ; <s primeiros te=tos que produ4i neste ei=o est)o no livro Agir em Sade. Um Desafio para o Pblico . -M#.89 e <0<C><* 1??@2. A B#stCvamosD fa4 referncia a meus parceiros neste trabal%o* Marta Eornavoi e Mauricio C%aFFour.

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