14856-Capitulo A Ser Estudado

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A

*Dout or a em Educao
pela Unicamp.
(Re)Pensando a
Educao Ambiental
Marlia Freitas de Campos Tozoni-Reis*
Introduo
o iniciarmos nossos estudos sobre as Metodologias Aplicadas Educao
Ambiental, importante refetirmos sobre seus fundamentos tericos, isto
, empreendermos uma refexo conceitual acerca da Educao Ambiental.
Iniciemos com a indagao sobre a (im)possibilidade de educar fora
do ambiente, fora de um determinado espao biofsico, social e histrico. Por
consideramos impossvel realizar qualquer proposta educativa sem incluir a refexo
sobre a relao que temos com o ambiente em que vivemos, problematizemos, ento,
o uso do adjetivo ambiental. Necessitamos qualifcar a Educao como ambiental
porque sentimos necessidade de destacar dimenses esquecidas do fazer educativo
no que se refere compreenso das relaes entre a vida e o ambiente, em suas
dimenses biofsicas, scio-histricas, flosfco-polticas e socioculturais.
Nossa primeira refexo a de que a Educao Ambiental
Educao e que a introduo do termo ambiental prope o resgate do
que parecia esquecido na Educao moderna: o ambiente. Grn (1996)
identifca este esquecimento como uma das reas de silncio da
Educao moderna, que estabeleceu-se sob a organizao da sociedade capitalista
industrial e, desde sua origem, esteve a servio deste projeto social, econmico
e poltico. A Educao moderna, em particular a escola, surgiu para contribuir,
pela formao dos sujeitos, na construo deste modelo de sociedade, principal
responsvel pela degradao ambiental que hoje vivemos, pois, ao transformar a
natureza em mercadoria, retira-lhe o valor em si mesma para transform-la em
valor de troca. Por outro lado, o movimento ambientalista, principalmente a partir
de 1970, trouxe para a Educao a necessidade de (re)pensar as formas predatrias
de nossas relaes com o ambiente.
O que Educao
Ambiental?
Diferentes defnies de Educao Ambiental
Educao Ambiental um processo permanente, no qual os indivduos
e a comunidade tomam conscincia do seu meio ambiente e adquirem
conhecimentos, valores, habilidades, experincias e determinao que os
tornam aptos a agir individual e coletivamente e resolver problemas
ambientais presentes e futuros. (Ministrio do Meio Ambiente MMA).
Metodologias Aplicadas Educao Ambiental
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A Educao Ambiental defnida como um processo de formao e
informao orientado para o desenvolvimento da conscincia crtica sobre as
questes ambientais, e de atividades que levem participao das comunidades
na preservao do equilbrio ambiental. (Conselho Nacional do Meio Ambiente
Conama).
O conceito de Educao Ambiental complexo, abstrato e difcilmente
compartilhado, porque no est abrangentemente explicado. Pode ser vista como
uma forma de interveno na problemtica ambiental mediada por projetos
defnidores de programas educativos. A Educao Ambiental envolve-se na
formao das pessoas na busca da utopia que signifca oportunidade de reinveno
do compromisso com a emancipao. A Educao Ambiental um processo
continuado, permanente, com estratgias especfcas desenvolvidas pelos seus
participantes, incluindo a de sobrevivncia econmica, comunitariamente
articulada. Assim, o bairro, a microbacia, o ambiente urbano articulam a rede
de cidadania, base do desenvolvimento sustentvel. A prtica da Educao
Ambiental deve objetivar a ser perpassada pela intencionalidade de promoo
e pelo incentivo ao desenvolvimento de conhecimentos, valores, atitudes,
comportamentos e habilidades que contribuam para a sobrevivncia a nossa e de
todas as espcies e sistemas naturais do planeta , a participao e a emancipao
humana. (Instituto Ecoar).
[...] a Educao Ambiental compreendida como o espao onde se
engendram relaes sociais resultantes de um passado instituidor que, atualizando
o presente, faz emergir as referncias para futuras aes educativas no campo das
polticas pblicas de meio ambiente. Signifca, ainda, desvelar para a sociedade
experincias e propostas de Educao Ambiental, em tempos diferentes, muitas
vezes at conceitualmente divergentes, mas, todas, reveladoras de um nexo
comum com as conjunturas poltica, social, econmica e ambiental vivenciadas.
(Secretaria do Meio Ambiente SP).
A Educao Ambiental deve ser direcionada para a compreenso da busca
de superao das causas estruturais dos problemas ambientais por meio da ao
coletiva e organizada. Segundo esta percepo, a leitura da problemtica ambiental
deve se realizar sob a tica da complexidade do meio social e o processo educativo
deve pautar-se por uma postura dialgica, problematizadora e comprometida
com transformaes estruturais da sociedade, de cunho emancipatrio. Neste
sentido, acredita-se que, ao participar do processo coletivo de transformao
da sociedade, a pessoa estar, tambm, se transformando. (Secretaria do Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel MG).
A verdadeira Educao ambiental em sua essncia, uma vez que o planeta
no uma somatria de sujeitos isolados por redomas Sua tnica deve ser a
de conectar as vrias reas do conhecimento, com noo de encadeamento dos
fatos. E que o aprendizado se concretize em mudana de comportamento, por
adoo de uma nova flosofa de vida. Que as pessoas possam se conscientizar
de seu papel na engrenagem e da importncia e conseqncia de suas aes.
(Maria Vitria Ferrari Tom Rede Ambiente).
A Educao Ambiental ferramenta de Educao para o desenvolvimento
sustentvel (apesar de polmico o conceito de desenvolvimento sustentvel,
tendo em vista ser o prprio desenvolvimento o causador de tantos danos
(Re)Pensando a Educao Ambiental
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No entanto, podemos dizer que temos, hoje, no pensar e agir educativo
ambiental, diferentes concepes acerca da Educao Ambiental. Essas diferentes
concepes sero analisadas nesta aula, com o objetivo de contribuir para que os
educadores ambientais em formao identifquem os contedos educativos que
lhes parecem mais signifcativos.
A trajetria histrica da Educao Ambiental
Para compreender o estgio atual de desenvolvimento da Educao Ambiental,
necessrio identifcar alguns marcos histricos importantes na preocupao do
homem com o ambiente muito presente, hoje, em toda a sociedade, apesar de
todas as suas contradies. Essa preocupao faz parte da histria da humanidade.
Encontramos nos registros do pensamento dos artistas, flsofos e cientistas, desde
a Antigidade, refexes acerca da relao dos homens com a natureza, seja pelas
refexes flosfcas sobre a natureza humana, seja pela expresso de admirao com
a natureza presentes nesses registros. Mas foi no sculo XX que essa preocupao
tomou vulto, em conseqncia das transformaes na maneira de organizar a
produo e a reproduo da vida defnidas pela Revoluo Industrial no fnal do
sculo XVIII. Esse novo modelo de produo articulado com a nova cincia, a
cincia moderna, promoveu o desenvolvimento econmico e cientfco num ritmo
espantosamente acelerado. A humanidade entrou na modernidade com uma nova
estruturao do poder cientfco, poltico e social e, conseqentemente, com
novos problemas. Podemos dizer que a preocupao com o ambiente se acentuou
quando a humanidade se viu ameaada pelo poder de destruio total do ambiente,
o que tem como marco histrico as bombas atmicas sobre Hiroshima e Nagasaki
em 1945, no fnal da Segunda Guerra Mundial, expresso do poder poltico e
econmico de um pas sobre o mundo social e natural. Nesse momento, os homens
conquistaram o poder de destruio total da vida sobre o planeta. Podemos dizer
que aqui o movimento ambientalista teve origem, e o livro Primavera silenciosa,
de Rachel Carson, publicado em 1962, popularizou essa preocupao.
ambientais). Ampliando a maneira de perceber a Educao Ambiental, podemos
dizer que se trata de uma prtica de educao para a sustentabilidade. (Projeto
Apoema RS).
O conceito de Educao Ambiental foi mudando ao longo do tempo.
Inicialmente relacionado idia de natureza e o modo de perceb-la, tem se
acentuado a necessidade de levar em conta os vrios aspectos que interferem
nas situaes ambientais, incorporando as dimenses socioeconmica, poltica,
cultural e histrica de uma populao. (Vidagua).
A Educao Ambiental se constitui numa forma abrangente de Educao,
que se prope atingir todos os cidados, atravs de um processo pedaggico
participativo permanente que procura incutir no educando uma conscincia crtica
sobre a problemtica ambiental, compreendendo-se como crtica a capacidade
de captar a gnese e a evoluo de problemas ambientais. (Ambiente Brasil).
Metodologias Aplicadas Educao Ambiental
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Desde ento, muito se tem discutido sobre a Educao Ambiental e suas
formas de realizao. Nos vrios e diferentes eventos nacionais e internacionais,
espaos importantes para a construo de diretrizes poltico-flosfcas para a
Educao Ambiental, a busca da sustentabilidade foi apontada como a principal
tarefa da Educao Ambiental.
O Tratado da Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e
Responsabilidade Global, um dos principais documentos de referncia da
Educao Ambiental pactuado no Frum das ONGs que aconteceu no Rio de
Janeiro em junho de 1992, paralelamente Conferencia das Naes Unidas
para o Meio Ambiente, a ECO-92, reconhece a Educao como direito dos
cidados e frma posio na Educao transformadora. Esse documento, principal
referncia para muitos educadores ambientais, merece destaque por se tratar de
posies no-governamentais, isto , posies da sociedade civil organizada em
entidades ambientalistas. O Tratado convoca as populaes a assumirem suas
responsabilidades, individual e coletivamente, para cuidar do ambiente:
a Educao Ambiental para uma sustentabilidade eqitativa um processo de aprendizagem
permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educao afrma valores e
aes que contribuem para a transformao humana e social e para a preservao ecolgica.
Ela estimula a formao de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que
conservem entre si a relao de interdependncia e diversidade. Isto requer responsabilidades
individual e coletiva no nvel local, nacional e planetrio. (FRUM INTERNACIONAL
DAS ONGS, 1995).
Desde ento, a Educao Ambiental para a sustentabilidade considerada
um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas
de vida, afirmando valores e aes que contribuam para as transformaes
socioambientais, exigindo responsabilidades individual e coletiva, local e planetria.
A sustentabilidade entendida como fundamento da Educao Ambiental crtica,
transformadora e emancipatria, compreendida como estratgia para a construo
de sociedades sustentveis, socialmente justas e ecologicamente equilibradas. A
Educao Ambiental para a sustentabilidade , assim, uma Educao poltica,
democrtica, libertadora e transformadora. A questo ambiental e a Educao,
sem perspectiva de neutralidade, so eminentemente polticas e portanto implicam
construir, pela participao radical dos sujeitos envolvidos, as qualidades e
capacidades necessrias ao transformadora responsvel diante do ambiente
em que vivemos.
No entanto, a Educao Ambiental crtica e transformadora no consenso
entre aqueles que vm se dedicando a realiz-la. Trata-se de uma escolha poltico-
educativa marcada pela idia de que vivemos numa sociedade ecologicamente
desequilibrada e socialmente desigual, resultado das escolhas histricas que fzemos
para nos relacionarmos com o ambiente.
As tendncias tericas da Educao Ambiental
Embora a Educao Ambiental j seja reconhecida como uma necessidade
da sociedade contempornea, no uma modalidade de Educao cujos princpios,
objetivos e estratgias sejam iguais para todos aqueles que a praticam. Isso signifca
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dizer que h diferenas conceituais que resultam na construo de diferentes prticas
educativas ambientais. Essas diferenas conceituais podem ser sintetizadas em
alguns grandes grupos: os que pensam que a Educao Ambiental tem como tarefa
promover mudanas de comportamentos ambientalmente inadequados (Educao
Ambiental de fundo disciplinatrio e moralista, como adestramento ambiental),
aqueles que pensam a Educao Ambiental como responsvel pela transmisso de
conhecimentos tcnico-cientfcos sobre os processos ambientais que teriam como
conseqncia o desenvolvimento de uma relao mais adequada com o ambiente
(Educao Ambiental centrada na transmisso de conhecimentos) e aqueles que
pensam a Educao Ambiental como um processo poltico de apropriao crtica
e refexiva de conhecimentos, atitudes, valores e comportamentos que tm como
objetivo a construo de uma sociedade sustentvel do ponto de vista ambiental e
social (Educao Ambiental transformadora e emancipatria).
Vemos que, nessas diferentes abordagens, a Educao Ambiental pode ser
adaptadora, fundamentada nas teorias no crticas da Educao, ou ser transformadora,
fundamentada nas teorias crticas da Educao (SAVIANI, 1983).
A Educao com funo adaptadora sociedade tal qual ela vem se desenvolvendo
o fundamento flosfco-poltico da Educao moderna. Enguita (1989) afrma que
as instituies educativas (principalmente a famlia e a escola) sempre estiveram
vinculadas estrategicamente s relaes de produo. Com a Revoluo Industrial,
a escola foi se consolidando como principal instituio de formao para o trabalho
para o trabalho moderno, industrial. Essa formao no diz respeito somente
dimenso tcnica dos processos de trabalho, pois durante muito tempo o capital se
benefciou da desqualifcao do trabalhador, mas principalmente dimenso poltica:
a formao cultural (ideolgica) dos indivduos para o trabalho industrial. Essa
dimenso diz respeito formao dos indivduos para as novas relaes de trabalho
exigidas pela indstria e fundamentadas no controle do tempo, na efcincia, na ordem
e na disciplina, na subservincia etc. Ento, a Educao adaptadora, disciplinatria,
tem origem histrica nas teorias no crticas da Educao geradas no incio do
processo de industrializao e a seu servio.
Por outro lado, as teorias crticas da Educao tm identidade com o
pensamento crtico no campo do conhecimento pedaggico. Podemos identifcar
Paulo Freire (1921-1997) como um dos principais representantes desse pensamento,
pois a Pedagogia do Oprimido colocou em discusso a conscientizao poltica do
sujeito-educando para a transformao social como princpio educativo. Dermeval
Saviani (1943) tambm tem sido um importante terico na elaborao da Pedagogia
Metodologias Aplicadas Educao Ambiental
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crtica, entendendo a Educao e o ensino como instrumentos de transformao
social, resgatando a importncia dos contedos culturais no processo educativo.
Para a Pedagogia crtica, a funo da Educao a instrumentalizao dos sujeitos
sociais para uma prtica social transformadora.
o pensamento marxista o principal referencial epistemolgico da Pedagogia
crtica. Nele, podemos encontrar um enorme, complexo e por vezes confuso conjunto
de idias que emergem do pensamento de Marx (1818-1894) e de seu parceiro
intelectual, Engels (1820-1895). Na teoria marxista de interpretao da realidade,
esses pensadores identifcaram as formaes econmicas da sociedade capitalista
como condies histricas determinantes da vida dos sujeitos considerando o
trabalho, em sua dimenso flosfca e histrica, como a categoria central dessas
relaes. Nesse sentido, as categorias de totalidade, concreticidade, historicidade
e contraditoriedade so perpassadas por um movimento (dialtico) que d forma
relao homem-natureza e Educao. A histria , ento, a fora construtiva das
relaes sociais, e as relaes sociais, a fora construtiva da relao dos sujeitos
com o ambiente em que vivem.
As idias educativas que emergem dessa concepo histrica das relaes
sociais dizem respeito formao humana. O desenvolvimento pleno dos sujeitos, a
busca do homem onilateral
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e o processo de humanizao, que histrico, concreto
e dialtico, expresso pela sua prtica social, fazem a estrutura das idias educativo-
pedaggicas desse referencial. A confgurao de uma possvel teoria educacional
marxista vem sendo construda por vrias correntes e tendncias do pensamento
marxista e do pensamento educacional. Nesse sentido, um dos principais tericos
de grande infuncia no meio educacional, inclusive no Brasil, o italiano Antonio
Gramsci (1891-1937). Os temas educativos e suas idias sobre escola, como outros
temas abordados no conjunto de sua obra, tm referenciais nas concepes marxistas
de homem e de sociedade e tomam a centralidade do trabalho como base terica.
Assim, o trabalho como princpio educativo a sntese de sua contribuio s
teorias educacionais (MANACORDA, 1991). A escola formativa, desinteressada,
a expresso gramsciana de uma proposta educativa em que a preparao para o
trabalho no o objetivo da Educao (tcnica, de treinamento, profssionalizante),
mas o princpio (flosfco e poltico, humanizador) da organizao da Educao
e do ensino. A Educao Ambiental na perspectiva da transformao social, de
inspirao gramsciana, a defesa da transformao do carter organizativa do
trabalho na sociedade capitalista, instrumento e meta do processo educativo.
Um outro terico marxista de grande infuncia no meio educacional brasileiro
o russo/sovitico Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934), cujos estudos tm
contribudo para a construo de teorias educacionais de inspirao marxista. O
desenvolvimento humano e particularmente o funcionamento intelectual humano
em sua dimenso histrica e social foram estudados por ele e seus parceiros de
estudos, tendo como base o mtodo materialista histrico e dialtico e como contexto
histrico-cultural a revoluo socialista e o desafo da construo do socialismo
sovitico. A relao dialtica homem-natureza mediada por instrumentos, os
conhecimentos, que so fornecidos e modifcados pela cultura. Os conhecimentos
so produtos e produtores sociais e histricos.
1 Homem oni l at er al
uma expr esso mar xi st a
que s i gni f i c a o s uj e i t o
pleno, plenamente desen-
vol vi do em t odas as suas
d i me n s e s , e m t o d a s
suas pot enci al i dades . A
oni l at er al i dade super a a
condio unilateral.
(Re)Pensando a Educao Ambiental
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Essa teoria da formao humana traz conseqncias para a Educao, traando
diretrizes e alternativas para propostas pedaggicas, inclusive no mbito escolar. Para
Vygotsky (1984), a contextualizao histrica e social dos conhecimentos constitui-se
como princpio organizador dos processos de ensino-aprendizagem. A apropriao
desses conhecimentos como instrumentos do processo de humanizao modifca
intencionalmente os homens, os prprios conhecimentos, a histria e a sociedade e
elabora cultura para que esta seja apropriada no processo de humanizao.
A formao de sujeitos ambientalmente responsveis, comprometidos com
a construo de sociedades sustentveis, fundamento flosfco-poltico e terico-
metodolgico da Educao Ambiental, uma ao poltica intencional, um processo
educacional intencional e que, portanto, necessita de sistematizao pedaggica e
metodolgica. A Educao Ambiental Educao, formao humana, Educao
em suas vrias dimenses sendo, portanto, um processo de apropriao, pelos
sujeitos, da humanidade construda histrica e coletivamente pela prpria humanidade
(SAVIANI, 1994). Dessa forma, o processo educativo ambiental diz respeito relao
entre cidadania e ambiente, s formas histricas com que a humanidade se relaciona
com o ambiente, assim como as formas histricas das relaes entre os sujeitos e
destes com o ambiente, priorizando a necessidade de participao poltica dos sujeitos
sociais empenhados na transformao social. Essa participao poltica, no campo
educativo resultado da apropriao crtica e refexiva dos conhecimentos sobre o
ambiente, a qual poder garantir os espaos de construo e reelaborao de valores
ticos para uma relao responsvel dos sujeitos entre si e deles com o ambiente.
A apropriao crtica de conhecimentos parte de uma concepo de ambiente
mais complexa, que considera seu carter social, histrico e dinmico, superando a
concepo biolgica, reducionista, entendendo o ambiente como sntese de mltiplas
determinaes. Nesse sentido, Leff (2001) afrma que
o ambiente no pois o meio que circunda as espcies e as populaes biolgicas, uma
categoria sociolgica (e no biolgica), relativa a uma racionalidade social, confgurada por
comportamentos, valores e saberes, como tambm novos potenciais produtivos (p. 224).
Esse autor coloca o ambiente como tema fundante do processo de construo
do saber ambiental, um tema a ser problematizado, gerando aes voltadas para
a construo de uma nova racionalidade ambiental, uma racionalidade em que a
sustentabilidade, a justia e a democracia estejam sempre presentes, uma racionalidade
social e ambiental.
A Educao Ambiental para a sustentabilidade, capaz de atuar na formao
de sujeitos sociais crticos, participativos, que se pautem pela construo de uma
sociedade em que a sustentabilidade seja entendida tambm como democracia,
eqidade, justia, autonomia e emancipao, nossa referncia neste estudo. Isso
signifca superar a idia, muito presente nas propostas de Educao Ambiental, de que
a Educao Ambiental tem como objetivo a mudana de comportamento dos sujeitos
em busca de comportamentos considerados ambientalmente corretos, confgurando-
se, como nos ensina Brgguer (1994), num adestramento ambiental. Nesse sentido,
temos tambm que buscar a superao do carter moralista e moralizante que temos
observado em algumas aes educativas ambientais (LOUREIRO, 2004) para ser
possvel a construo da Educao Ambiental crtica e emancipatria.
Metodologias Aplicadas Educao Ambiental
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Concluso
A Educao Ambiental, ento, um processo de formao humana, amplo,
contnuo e complexo. Podemos pensar em projetos de Educao Ambiental para
idosos, adultos, jovens e crianas, assim como propostas em variados espaos
educativos onde vivem, real e concretamente, os sujeitos sociais.
Reigota (1995) analisa alguns aspectos que considera importantes para
fundamentar uma flosofa da Educao Ambiental. Partindo do pressuposto de
que a Educao Ambiental sempre realizada a partir da concepo que se tem
do meio ambiente, aponta para a necessidade urgente e radical da mudana de
mentalidade sobre as idias acerca dos modelos de desenvolvimento. Faz crticas
a algumas dessas concepes, argumentando a favor do que se tem chamado de
teoria da complexidade. Esse novo paradigma pode, segundo o autor, explicar
as relaes humanas e ambientais, sendo possvel tom-lo como referencial
terico-epistemolgico para a Educao Ambiental. Relacionando-a com a ps-
modernidade, afrma: as concepes educacionais vigentes no do conta da
complexidade do cotidiano que vivemos neste fnal de sculo. Nesse sentido,
defne Educao Ambiental como
uma educao poltica, fundamentada numa flosofa poltica, da cincia da educao
antitotalitria, pacifsta e mesmo utpica, no sentido de exigir e chegar aos princpios bsicos
de justia social, buscando uma nova aliana (Prigogine & Stengers) com a natureza
atravs de prticas pedaggicas dialgicas. (REIGOTA, 1995, p. 61).
Assim, podemos considerar que a Educao Ambiental como dimenso da
Educao atividade intencional da prtica social que imprime ao desenvolvimento
individual um carter social em sua relao com a natureza e com os outros seres
humanos, com o objetivo de potencializar essa atividade humana, tornando-a mais
plena de prtica social e de tica ambiental. Essa atividade exige sistematizao
por meio de metodologia que organize os processos de transmisso/apropriao
crtica de conhecimentos, atitudes e valores polticos, sociais e histricos. Assim,
se a Educao mediadora na atividade humana, articulando teoria e prtica, a
Educao Ambiental mediadora da apropriao, pelos sujeitos, das qualidades e
capacidades necessrias ao transformadora responsvel diante do ambiente em
que eles vivem. Podemos dizer que a gnese do processo educativo ambiental o
movimento de fazer-se plenamente humano pela apropriao/transmisso crtica e
transformadora da totalidade histrica e concreta da vida dos homens no ambiente
(TOZONI-REIS, 2004).
A Educao Ambiental, assim, construda na relao entre os conhecimentos
e as relaes sociais, constri e construda no e pelo novo paradigma da
responsabilidade da ao humana na natureza e na sociedade. Dessa forma,
somente uma teoria crtica da Educao pode ser sufciente para fundamentar
aes educativas ambientais mais conscientes e conseqentes, aes educativas
emancipatrias. A Educao para o ambiente s tem sentido se tomarmos como
referncia a idia de que a ecologia ser poltica ou no ser (SADER, 1992).
(Re)Pensando a Educao Ambiental
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O conceito de natureza no natural
(PORTO-GONALVES, 1990)
comum entre aqueles que se envolvem com a problemtica ecolgica citar outras sociedades
como modelos de relao entre os homens e a natureza. As comunidades indgenas e as sociedades
orientais so, via de regra, evocadas como modelos de uma relao harmnica com a natureza.
Se em diferentes religies o paraso projetado no reino dos cus, para diversos ecologistas este
se localiza em outras sociedades. H uma virtude nesse procedimento: ele oferece um consolo,
enquanto idia, para o mundo em que vivemos que concretamente no tem consolo. Isto no deixa
de ser, sua moda, uma crtica sociedade que no tal e qual os modelos citados, da as utopias.
Nesse sentido, as utopias tm lugar concreto num mundo onde no existem concretamente, sendo
por isso sonhadas e projetadas enquanto utopias. Por outro lado, esse procedimento no deixa de
ser tambm uma fuga dos problemas concretos, muitas vezes derivada de uma incompreenso
das razes pelas quais em nossa sociedade e cultura as coisas so do jeito que so.
Toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada idia do que seja a
natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza no natural, sendo na verdade criado e institudo
pelos homens. Constitui um dos pilares atravs do qual os homens erguem as suas relaes sociais,
sua produo material e espiritual, enfm, a sua cultura.
Dessa forma, fundamental que refitamos e analisemos como foi e como concebida a
natureza na nossa sociedade, o que tem servido como um dos suportes para o modo de produzirmos
e vivermos, que tantos problemas nos tem causado e contra o qual constitumos o movimento
ecolgico.
1. Cada aluno dever, individualmente, escrever em meia folha de papel uma refexo sobre o que
Educao Ambiental.
2. Com a participao de toda a turma, os alunos devem organizar as respostas num quadro na sala.
3. A seguir, empreender uma discusso coletiva das semelhanas e diferenas que compem o
quadro.
4. Agrupar, ento, as respostas semelhantes.
5. Selecionar, coletivamente, as respostas que tm mais signifcado para todos.
6. Construir um texto coletivo partindo das idias selecionadas.
Metodologias Aplicadas Educao Ambiental
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Leituras
BRGGER, Paula. Educao ou adestramento ambiental? Florianpolis: Letras Contemporneas,
1994.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetria e fundamentos da educao ambiental. So Paulo:
Cortez, 2004.
REIGOTA, Marcos. Por uma filosofia da educao ambiental. In: _____. Meio ambiente e
representao social. So Paulo: Cortez, 1995.
Sites:
<www.mma.gov.br >;
<www.wwf.org.br>;
<www.sf.dfs.furg.br/mea/remea>;
<www.sosmatatlantica.org.br>;
<www.redeambiente.org.br>;
<www.wwiuma.org.br>.
Vdeo: Ilha das Flores. Jorge Furtado (dir). Brasil: Sagres, 1988. Parte da coletnea Curta os
Gachos.
BRGGER, Paula. Educao ou adestramento ambiental? Florianpolis: Letras Contemporneas,
1994.
ENGUITA, Mariano. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1989.
FORUM INTERNACIONAL DAS ONGS. Tratado de educao ambiental para sociedades
sustentveis e responsabilidade global. Rio de Janeiro: 1995.
GRN, Mauro. tica e educao ambiental: a conexo necessria. Campinas: Papirus, 1996.
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 2. ed.
Petrpolis: Vozes, 2001.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetrias e fundamentos da educao ambiental. So Paulo:
Cortez, 2004.
MANACORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia moderna. So Paulo: Cortez, 1991.
PORTO-GONALVES, Carlos Walter. Os (des)caminhos do meio ambiente. 2. ed. So Paulo:
Editora Contexto, 1990.
(Re)Pensando a Educao Ambiental
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REIGOTA, Marcos. Educao ambiental e representao social. So Paulo: Cortez, 1995 (Coleo
Questes da Nossa poca)
SADER, Emir. A ecologia ser poltica ou no ser. In: GOLDEMBERG, Miriam (Org.). Ecologia,
cincia e poltica. Rio de Janeiro: Revan, 1992.
SAVIANI, Dermeval. A pedagogia histrico-crtica: primeiras aproximaes. Campinas: Autores
Associados, 1994.
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TOZONI-REIS, Marlia Freitas Campos. Educao ambiental: natureza, razo e histria. Campinas:
Autores Associados, 2004.
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