Desafios Da Cidadania

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 290

EDITORA

DESAFIOS DA CIDADANIA

DIRCEU GALDINO CARDIN

DESAFIOS
DA CIDADANIA

EDITORA

Roberto Antonio Busato

P re s id e n te d a O A B e P re sid e n te H o n o r rio d a O A B E D IT O R A
Sergio Ferraz

P re sid e n te E xe cu tivo acJ hoc d a O A B E D IT O R A


Francisco Jos Pereira

E d ito r
Rodrigo Dias Pereira

C a p a e P ro je to G rfico
D ad o Luiz Osti

R e vis o
Aiine Machado Costa Timm

S e cre t ria E xe cu tiva

C o n s e lh o E d ito ria l
Sergio Ferraz (P reside n te )
Jefferson Luis Kravchychyn
Alberto de Pauia Machado
Ana Maria Morais
Cesar Luiz Pasold
Hermann Assis Baeta
Oscar Otvio Coimbra Argoiio
Pauio Bonavides
Rubens Approbato Machado

G 25 7d

C afd in, D itce u Gatdino


D e s a fio s d a c id a d a n ia / D irceu G aldino C ardin .
-

B r a s ilia : O A B E dito ra, 2006.


2 88 p.
1. D ireito. I. Ttulo
340
IS B N . 85-872 60-6 2-6

EDITORA
SA S Q u a d ra 0 5 - Lote 01 B loco M
E difcio S e de d o C on selho Federal da O AB
Braslia, D F - C E P 7007 0-0 50
Tet. (6 1 )3 3 1 6 -9 6 0 0
ww w .oaD .org,br
e-m ail: oa bed ito ra@ oab .org .br

DEDICATRIA

E ste livro d e d ic a d o a o s a d v o g a d o s, g u e rre iro s q u e v o a c a m p o lu ta r p ela


d ig n id a d e d a p e sso a h u m a n a , p o is fo ra m esc o lh id o s p e la so c ie d a d e , d e n tr e to
d o s o s p ro fissio n a is, p a r a q u e a d e fe n d e sse m .
Eles o u tr o r a lu ta r a m p ela d e m o cracia, e a g o ra lu ta m p ela d e m o c ra c ia com
a u t n tic a c id a d a n ia .
E sp e ra m o s q u e este livro p o s sa a lim e n ta r n o v a s e sp eran as:
A se m e n te , q u a n d o son h a,
n o so n h a com a g ra n d e z a d a cop a,
n e m co m as flores,
n e m c o m os frutos.
T e m so m e n te
n o seio d o so n h o
o u tr a s sem entes.
(DGC)

AGRADECIMENTOS

M e u s a g r a d e c im e n to s a A. A. d e Assis; A n d r L uiz Piola; A lb e rto d e P au la


M a c h a d o ; E z a q u e l E lp d io d o s Santos; Jos M aria d e Faria; Jlio C sa r Palone;
L uiz L o u ren o ; L u iz Ajita; L a u ro F e rn a n d o Z an etti; N a c if A lc u re N eto; O sw a ld o
F e r r e i r a B a r b o z a ; S r g io I n c io G o m e s ; W a g n e r P e t e r K r a i n e r J o s , " i n
m e m o ria m " ; a W a lte r P eleg rin i e aos juizes e leito rais d o E s ta d o d o P a ra n pela
re m e ssa d a s in fo rm a e s q u a n to e s c o la rid a d e d a s p e s s o a s q u e o c u p a m cargo
n o ex e c u tiv o e legislativo.

EPGRAFE

D e v e m o s s e g u ir s e m p r e o c a m in h o q u e c o n d u z ao m a is alto.
(Plato)

PREFACIO

id a d a n ia p a la v ra -c h a v e p a ra r e s u m ir e d e s ig n a r a c o n d i o h u m a n a
n u m co n te x to social d ig n o e civilizado. T o rn o u -se h o je e m b le m a d e p a r
tid o s p o ltico s e e n tid a d e s d a so c ie d a d e civil o r g a n iz a d a , a l m d e p a la

v ra re c o rre n te n o d isc u rs o d o s go v ern an tes.


M as, e m pa se s perifricos e desig uais com o o nosso, co n tin u a a in d a distan te
d a re a lid a d e d a m aioria. O Brasil inclui-se en tre os p ases q u e d e s p e rta ra m ta rd i
a m e n te p a r a o se n tid o dessa p alav ra, q u e j c o m p u n h a o id e rio d a s lideranas
polticas que, n o final d o sculo XVIII, e m p re e n d e ra m a R evoluo Francesa.
E n tre ns, a lu ta po ltica c e n tro u -se d u r a n te m u ita s d c a d a s n o d is c u rs o jurd ic o -in stitu c io n a l. P a ra n o re c u a r m u ito n o te m p o , v e ja m o s os a c o n te c im e n
tos d a s ltim a s d u a s d c a d a s. E m 1984, o p a s u n iu -s e n a lu ta c o n tra o reg im e
m ilitar, im p la n ta d o d u a s d c a d a s antes.
Foi u m a luta m e m o r v e l, q u e teve se u p ice n a c a m p a n h a d a s diretas-j, que
r e s u lto u n a v it ria d a c a n d id a tu r a civil d e T a n c re d o N e v e s e Jos Sarney, p a s
s o u p e la c o n v o c a o d e u m a A ssem blia N a c io n a l C o n stitu in te e p ela rem oo
d o e n tu lh o d a legislao a u to rit ria . H a v a m o s , en fim , c o n q u is ta d o a d e m o c ra
cia p len a. H a v a m o s ? Se d e m o c ra c ia o re g im e d a m a io ria , c o m o s u p -la n u m
q u a d r o so cio eco n m ico e m q u e a m a io ria n o te m v e z n e m v o z? C o m o falar em
d e m o c ra c ia n u m re g im e e m q u e u m b e m essencial, c o m o a Justia, est a in d a
lo ng e d o alcance d o c id a d o c o m u m ?
Eis o p a r a d o x o e m q u e a in d a e sta m o s m e tid o s, n e sta p r im e ir a d c a d a d o
sculo XXI: e n q u a n to as in stitu i es d o E sta d o c o n tin u a m b e m a q u m d o a te n
d im e n to d a s d e m a n d a s sociais, se m sin ais d e m e lh o ria , e s ta s n o cessam d e
crescer.

A o c o n tr rio d o q u e in g e n u a m e n te im a g in a v a m m u ito s d o s q u e se e n v o lv e
ra m n a lu ta c o n tra o a rb trio , a re c o n q u ista d e m o c r tic a n o a so lu o p a r a os
d esafio s d e n o sso pas. a p e n a s o p o n to d e p a rtid a p a ra m e lh o r equacion -lo s,
com v ista s ao g ig a n te sc o e m p r e e n d im e n to d e su p e r -lo s. A c id a d a n ia n o u m
b e m q u e se receb e n a b a n d e ja . u m a c o n stru o , lenta e in in te r r u p ta , tarefa de
geraes.
Este "D esafio s d a C id a d a n ia " , e ru d ito e m in u c io so e n sa io d e D irc e u G a ld in o
C a rd in , faz u m a e sp cie d e ra d io g ra fia d esses d esafios. Ele a b o rd a , s e m p r e com
m u ito c o n h e c im e n to d e ca u sa s, te m a s os m ais d iv e rs o s q u e e n v o lv e m o dia-ad ia d o c id a d o b ra sile iro , d e s d e m e io a m b ie n te at os s iste m a s b a n c rio e fiscal,
p a s s a n d o p e la a n lise d o s trs P o d e re s d a R epblica. C o m o b o m ju rista q u e ,
se a t m a o s te m a s q u e e n v o lv e m as relaes d o c o n trib u in te c o m a Justia.
u m livro q u e in stru i, o rie n ta e p ro p e . E isso b a sta p a r a to rn -lo precioso,
s o b r e tu d o a o s q u e m ilita m n a v id a p b lica, o q u e n o se r e s trin g e a p e n a s ao
u n iv e rs o d o s q u e d e t m m a n d a to o u o c u p a m fu n o n o E stado . E a est m ais
u m a lio d a c id a d a n ia : so m o s to d o s h o m e n s p b lic o s, o u , n a v is o aristotlica,
a n im a is polticos, c o m p ro m e tid o s c o m os in te re sse s coletivos.
A m e n ta lid a d e s e g u n d o a qual cada u m d e n s d e v e c u id a r d e si m e sm o e
co b rar o m ais d o E sta d o e d e seus ag en tes resu lta n u m a so c ie d a d e com o a q u e
temos: injusta, d e sig u a l e tirnica. E resulta ta m b m n u m E sta d o insacivel que, a
p retex to d e a te n d e r a cidadar\ia, d ela s u g a o q u e p o d e e d e v o lv e -lh e b e m po u c o ,
e m p recrio s servios. C id a d a n ia militncia. e n v o lv im e n to e m cau sas p b li
cas. ro m p e r com as z o nas pessoais d e conforto p a r a estabelecer direitos.
N o b a sta q u e a lei - n e m m e s m o a m a io r, a C o n stitu i o - p rev eja u m d ire i
to. Ele fre q e n te m e n te s se m a te ria liz a se fo r d e v id a m e n te c o b ra d o . E, p a ra
q u e isso acontea, a so c ie d a d e pre c isa se o rg a n iz a r, se in fo rm a r, agir. N o ba sta
ele g e r - p re c iso a c o m p a n h a r o tra b a lh o d o s eleitos. C id a d a n ia isto: c u m p r i
m e n to d e d e v e re s , d e s fru te d e d ire ito s - u m a coisa re la c io n a d a o u tra , u m a
coisa d e c o rre n te d a o u tra , e n a d a m en os.
E ste livro u m a esp cie d e b u la d a cid a d a n ia . In d ic a a es c o n c re ta s e m sua
d efesa. D ia g n o stic a fra g ilid a d e s e a b s u rd o s d a v id a p b lic a b ra sile ira , d a s re la
es d o c o n trib u in te c o m as in stitu i e s d o E stado . P a ra u m a e n tid a d e c o m o a
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil, q u e te m sido, d e s d e su a fu n d a o , h 75 an os,
u m a trib u n a d a c id a d a n ia brasileira, este tra b a lh o h d e s e rv ir c o m o p re c io sa e
c o n sta n te fo n te d e c o n su lta. D e sd e j o re c o m e n d o a to d o s os q u e t m a r e s p o n

s a b ilid a d e p ro fissio n a l d e se rv ir o p b lico , in d e p e n d e n te m e n te d e ideo lo g ia o u


p a r tid o poltico. Este livro n o a p e n a s m o stra o q u e c id a d a n ia : ele m e sm o
u m p r o d u to d o e s p rito c id a d o d e seu a u to r, a q u e m p a r a b e n iz o p e lo e m p r e
e n d im e n to .
ROBERTO BUSATO
P re sid e n te d o C o n se lh o F e d e ra l d a OAB

15

SUMRIO

1 PRLOGO

....................................................................................................................................1 9

2 D E S A F I O S D A C I D A D A N I A ................................................................................................. 2 0
2 .1 A L N G U A ..........................................................................................................................2 0
2 . 2 O S I S T E M A L E G I S L A T I V O B R A S I L E I R O .................................................. 2 7
2 . 2 . 1 P r o c e s s o l e g i s l a t i v o ...................................................................................... 3 4
2 . 2 . 2 V o t o a b e r t o .........................................................................................................3 6
2 . 2 . 3 A r e e l e i o ..........................................................................................................3 7
2 . 2 . 4 O s p a r t i d o s p o l t i c o s .................................................................................... 3 8
2 . 2 . 5 A s c a m p a n h a s e l e i t o r a i s ...........................................................................4 0
2 . 3 D O P O D E R E X E C U T I V O ....................................................................................... 4 3
2 . 3 . 1 M e d i d a s p r o v i s r i a s ......................................................................................4 3
2 . 3 . 2 O n e p o t i s m o ..................................................................................................... 4 6
2 . 3 . 3 G e s t o a d m i n i s t r a t i v a ..................................................................................4 7
2 . 3 . 4 R e f o r m a a d m i n i s t r a t i v a ............................................................................. 4 9
2 . 4 S I S T E M A D O P O D E R J U D I C I R I O ............................................................... 5 8
2 . 4 . 1 C o n t r o l e e x t e r n o d o P o d e r J u d i c i r i o .............................................. 6 5
2 . 4 . 2 S m u l a s v i n c u l a n t e s ................................................................................... 6 8
2 . 4 . 3 M e d i d a l i m i n a r ................................................................................................. 7 8
2 . 5 O M I N I S T R I O P B L I C O ...................................................................................... 7 9
2 . 6 O A D V O G A D O .............................................................................................................. 8 8
2 . 6 . 1 E x a m e d e O r d e m .......................................................................................... 9 5
2 . 7 S I S T E M A T R I B U T R I O .......................................................................................... 9 6
2 . 7 . 1 I n t r o d u o ........................................................................................................... 9 6

2 . 7 . 2 I m u n i d a d e s ........................................................................................................ 9 8
2 .7 .3 re a s d e p re s e rv a o p erm a n e n te e d e
r e s e r v a f lo r e s t a l l e g a l ............................................................................................101
2 . 7 . 4 C o o p e r a t i v a s .................................................................................................. 1 0 2
2 . 7 . 5 C o n t r i b u i o p r e v i d e n c i r i a e s e g u r i d a d e s o c i a l ................... 1 0 3
2 . 7 . 6 S i s t e m a trib u t r io e p r i n c p i o s .............................................................1 0 5
2 . 7 . 7 S i s t e m a trib u t rio : a n l i s e p o ltic a ,
j u r d i c a e e c o n m i c a ..............................................................................................1 1 9
2 . 7 . 8 R e f o r m a t r i b u t r i a ................................................................................... 1 2 5
2 . 7 . 9 C o m e n t r i o s f i n a i s ...................................................................................... 1 2 7
2 . 8 C O N S E L H O S D E C O N T R I B U I N T E S ..........................................................1 2 9
2 . 9 T R I B U N A L D E C O N T A S ......................................................................................1 3 3
2 . 1 0 E S P E C T R O S D E M U N I C P I O S ....................................................................1 3 5
2 .1 1 S I S T E M A D E S A D E .......................................................................................... 1 3 8
2 . 1 2 S I S T E M A P E N I T E N C I R I O ............................................................................1 4 2
2 . 1 3 C O O P E R A T I V I S M O .............................................................................................. 1 4 4
2 . 1 4 S I S T E M A F I N A N C E I R O .................................................................................... 1 5 3
2 . 1 4 . 1 A l e g i s l a o a f a v o r d o s b a n c o s .................................................... 1 5 3
2 . 1 4 . 2 J u r o s e c a p i t a l i z a o ............................................................................ 1 5 4
2 . 1 4 . 3 A n a t o c i s m o ...................................................................................................161
2 . 1 4 . 4 D u p l a c o b r a n a d e j u r o s r e m u n e r a t r i o s ................................161
2 . 1 4 . 5 H i e r a r q u i a d o s c r d i t o s ........................................................................1 6 3
2 . 1 4 . 6 B a n c o s c o m o l e g i s l a d o r e s - t a x a s p r p r i a s ............................1 6 3
2 . 1 4 . 7 A c o r r e o m o n e t r i a p e lo n d ic e m a i s e l e v a d o ................ 1 6 4
2 . 1 4 . 8 E x c e s s o d e g a r a n t i a ............................................................................... 1 6 4
2 . 1 4 . 9 C o n t r a t o s d e a n t e c i p a o d e r e c e it a
o r a m e n t r i a ( A R O ) .............................................................................................. 1 6 5
2 . 1 4 . 1 0 P r i s o d o d e v e d o r n a a l i e n a o f i d u c i r i a ............................1 6 6
2 . 1 4 . 1 1 E x e c u o d o s c o n t r a t o s d e f i n a n c i a m e n t o im o b ili r io 1 6 7
2 . 1 4 . 1 2 H o r r i o d e a t e n d i m e n t o ....................................................................1 6 8
2 . 1 4 . 1 3 T r i b u t a o b e n f i c a a o s b a n c o s ................................................. 1 6 8
2 . 1 4 . 1 4 Q u e b r a d o s b a n c o s ............................................................................. 1 6 9
2 . 1 4 . 1 5 I m u n i d a d e f i n a n c e i r a ...........................................................................1 7 2
2 . 1 4 . 1 6 O s b a n c o s e o S u p e r i o r T r ib u n a l d e J u s t i a ...................... 1 7 4

E S T R U T U R A O D A C I D A D A N I A ........................................................................... 1 7 5
3.1 A T R A G D I A N A A D O O ............................................................................... 1 7 5
3 . 2 G R A V I D E Z I N D E S E J A D A ................................................................................... 1 7 8
3 . 3 S I N D I C A L I S M O ............................................................................................................1 7 9
3 . 4 C R T I C A S G E N E R A L I Z A D A S ........................................................................... 1 8 5
3 . 5 F U N D O S P R I V A D O S D E I N V E S T I M E N T O ............................................. 1 8 5
3 . 6 D O M I N G O ....................................................................................................................... 1 8 7
3 . 7 S A N I T R I O S E B A N H E I R O S P B L I C O S ................................................ 1 8 7
3 . 8 T U R I S M O ........................................................................................................................ 1 8 8
3 . 9 P A R O U E S D E D I V E R S O .................................................................................. 1 8 9
3 . 1 0 C E N T R A L D E T E L E F O N E ............................................................................... 1 9 0
3 .1 1 P O N T U A L I D A D E .....................................................................................................191
3 . 1 2 P R O G R A M A E D U C A T I V O ................................................................................191
3 . 1 3 L E G I S L A O T R A B A L H I S T A .......................................................................1 9 2
3 . 1 4 M E I O A M B I E N T E .................................................................................................... 2 0 2
3 . 1 5 C O N T R A T O S A G R R I O S ............................................................................... 211
3 .1 6 O D IR E IT O D E S U P E R F C IE E A R E F O R M A
A G R R I A .................................................................................................................................2 1 4
3 . 1 6 . 1 E m p r e e n d i m e n t o s v i a b i li z a d o s p e lo d ir e ito
d e s u p e r f c i e ............................................................................................................... 2 1 6
3 . 1 6 . 2 C o o p e r a t i v i s m o r u r a l ............................................................................. 2 1 7
3 . 1 6 . 3 C o o p e r a t i v i s m o ru ra l in t e g r a d o i n d u s t r i a l i z a o

217

3 . 1 6 . 4 E m p r e e n d i m e n t o s p a r t i c u l a r e s ...................................................... 2 1 7
3 . 1 6 . 5 E m p r e e n d im e n to s p a rtic u la re s r e a liz a d o s e m
c o n j u n t o c o m o p o d e r p b l i c o .........................................................................2 1 7
3 . 1 7 O P R O T E S T O ......................................................................................................... 2 1 9
3 .1 8 S U S P E N S O D A E X IG IB IL ID A D E D O C R D IT O
T R I B U T R I O ........................................................................................................................2 2 0
3 . 1 9 S O C I A L I Z A O D O S P R E J U Z O S .............................................................2 2 3
3 .1 9 .1 P re ju z o s c a u s a d o s p or a lg u n s m e m b r o s do
M i n is t r io P b l i c o ..................................................................................................... 2 2 3
3 . 1 9 . 2 P r e j u z o s c a u s a d o s p o r p e s s o a s ju r d i c a s d e d ire ito
p b lic o e e q u i p a r a d a s ..........................................................................................2 2 7
3 . 1 9 . 3 P r e j u z o s c a u s a d o s p o r b a n c o s ................................................... 2 2 8

8b

3 . 2 0 D E F E S A D A H O N R A ..........................................................................................2 2 8
3 .2 1 L IB E R D A D E D E E X P R E S S O E O P R I N C P I O
D A I N O C N C I A ..................................................................................................................2 3 0
3 . 2 2 F R I A S F O R E N S E S ...........................................................................................2 3 3
3 . 2 3 P R E F E R N C I A N O T R N S I T O ..................................................................2 3 3
3 . 2 4 V E L O C I D A D E ...........................................................................................................2 3 4
3 . 2 5 P E D G I O .....................................................................................................................2 3 5
3 . 2 6 F I L A S ............................................................................................................................. 2 3 6
3 . 2 7 D I M E N S O D A S C I D A D E S ........................................................................... 2 3 7
3 . 2 8 I N D S T R I A A U T O M O B I L S T I C A ...............................................................2 3 8
3 . 2 9 H I P E R M E R C A D O S ..............................................................................................2 4 1
3 . 3 0 T R A N S P O R T E S .....................................................................................................2 4 2
3 . 3 1 T R O T E .......................................................................................................................... 2 4 3
3 . 3 2 P R O - L C O O L ......................................................................................................... 2 4 4
3 . 3 3 P R I V A T I Z A O ...................................................................................................... 2 4 4
3 . 3 4 I N D I G N A O ...........................................................................................................2 4 6
3 . 3 5 E X R C I T O ..................................................................................................................2 4 7
3 . 3 6 E D U C A O ............................................................................................................... 2 4 8
3 . 3 7 C I V I S M O ...................................................................................................................... 2 5 6
3 . 3 8 G L O B A L I Z A O ....................................................................................................2 5 8
4 M O V IM E N T O E M D E F E S A D A C ID A D A N IA P O S T O
E M P R T IC A

................................................................................................................................ 2 6 9

4 .1 F O R M A O D E G R U P O S D E T R A B A L H O ......................................... 2 6 9
4 . 2 R A C I O N A L I Z A O .................................................................................................2 7 0
4 . 3 P E R S E V E R A N A N A E X E C U O D E P R O J E T O S ....................... 2 7 0
4 . 4 D I V I S O D E T A R E F A S ........................................................................................ 2 7 1
4 . 5 C O N F R A T E R N I Z A O E I N V O C A O A D E U S ...............................2 7 1
4 . 6 P O S S V E I S A T U A E S ......................................................................................2 7 2
5 E P L O G O

................................................................................................................................ 2 7 6

6 R E F E R N C I A S .........................................................................................................................2 7 8

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

1 PRLOGO
A d e m o c ra c ia foi im p la n ta d a e e s tr u tu r a d a , p o r m p re c isa se r u rg e n te m e n te
a p e rfe i o a d a.
Ela o re g im e q u e a ss e g u ra a d ig n id a d e ao se r h u m a n o e p e r m ite q u e social
m e n te o c o rra m a tolern cia, o re sp e ito m tu o , o b e m -e s ta r in d iv id u a l. T odavia,
te m p e s ta d e s e st o d e s a b a n d o so b re ela.
O s alicerces (P o d e re s E xecutivo, Ju dicirio e L egislativo) e sto c o m g ra n d e s
fissuras, e q u a lq u e r tro v o os abala. O sistem a trib u t rio fam lico: d e v o ra a
s o c ie d a d e , in ib e os in v e stim e n to s, c o m p ro m e te o d e s e n v o lv im e n to econm ico,
a sfix ia n d o os se to re s p ro d u tiv o s . C o m p ro m e te ta m b m o p o d e r d e c o n s u m o d o
tr a b a lh a d o r e a in d a p ro v o c a o d e s e m p re g o . O g o v e rn o , e m v ez d e r e d u z ir a
carg a trib u t ria , a u m e n ta -a , la m e n ta v e lm e n te , a c a d a ano. E d e p o is a in d a a tri
b u i a ele v a o d a a rre c a d a o eficincia d o siste m a d e arrecad ao ...
O p r p r io g o v e rn o p o d e r ia r e d u z ir o cu sto d a e s tr u tu r a a d m in is tra tiv a , to r
n a n d o -a eficiente e d in m ic a , m a s to rn a-a c a d a v e z m a is p a q u id r m ic a e a infla,
a t m e s m o c o m in te n e s eleitoreiras.
O siste m a a d o ta d o p ela legislao trab alh ista, q u e n o in c e n tiv a o e m p r e g a
d o r a a ju d a r ao m x im o o e m p re g a d o , cria m e c a n is m o s d e sa n e s financeiras,
e o e m p r e g a d o r , to m a n d o conscincia disso, elim in a o s ben efcios e m p rejuzo
d o tra b a lh a d o r.
A s n o r m a s re la c io n a d a s a o s b a n c o s lh es s o e x tr e m a m e n te b enficas, e m
d e tr im e n to d a so cied ad e.
O c u sto d a d e m o c ra c ia est c o m p r o m e te n d o su a s u s te n ta b ilid a d e d ia n te da
e s tr u tu r a p o ltica q u e foi c riad a, p e r m itin d o q u e haja u m b a n q u e te p blico.
O p o v o est p e r d e n d o su a s referncias. Est d e s a c r e d ita n d o d o s v a lo re s d e
m o crticos, ta n to assim q u e fica g ira n d o e m to rn o d e m ito s polticos, o u c am i
n h a n d o p e r d i d o e m m ira g e n s . N o sab e p a r a o n d e v a i e ta lv e z j n o saiba
a o n d e ir ch eg ar. O ceticism o est c o m e a n d o a d o m in a r a so cied ad e.

20

D IR C E U G A L O IN O C A R D IN

E m vez d e fazerm o s u m a anlise real do s p ro b le m a s, p r o c u r a n d o alternativ as


ta m b m reais e n o dem ag g icas, u sa m o s a tcnica psicolgica d a transferncia,
d e b ita n d o aos o u tro s os nossos erros, e m especial d a n d o d e o m b ro s o u ale g a n d o
q u e to d a a culpa d o FMI o u d o s p o rtu g u e se s q u e d e s b ra v a ra m esta terra.
E a n o ssa parte ?
Desafios da cidadania faz u m a a nlise d a s n o s s a s aflies e a n g s tia s sociais, a

fim d e q u e , to m a n d o conscincia d a re a lid a d e , p o s sa m o s a p r im o r a r o re g im e


d em ocrtico. N a d e m o c ra c ia h exigncia d e m a io r p a rtic ip a o d o p o v o , d ife
re n te m e n te d o q u e se d n o s re g im e s d itato riais, e m q u e o p o v o se afasta d o
p o d e r e d a s p rin c ip a is decises. O co rre q u e , to d a v ia , p e lo s iste m a hoje v ig en te
n o Brasil, o p o v o a p e n a s p a rtic ip a sim b o lic a m e n te , q u a n d o p a rtic ip a . P a ra ser
m ais exato: u m fa z-d e-con ta. P or isso a n e c e ssid a d e d e q u e ha ja u m a d e m o
cracia p a rtic ip a tiv a e n o a p e n a s re p re se n ta tiv a , c o m o d e m o n s tr a m o s a n te rio r
m e n te e m A revoluo da cidadania.
E v id e n te m e n te , o livro n o e x a u re to d o s o s p ro b le m a s q u e c o m p r o m e te m
o u q u e a g rid e m a c id a d a n ia ; a in te n o foi a p e n a s su sc ita r o s p rin c ip a is, a fim
d e q u e , a p a r tir deles, a s o c ie d a d e p o ssa d e s c o rtin a r n o v o s h o riz o n te s e d e sc o
b r ir o u tro s c a m in h o s d e a p rim o ra m e n to .
Se a s o c ie d a d e to m a r conscincia, ser im p e lid a a se m o d ific a r, p a r a o b e m
d e todos. C e rta m e n te b u s c a r se d e se n v o lv e r d e n tr o d a c iv ilid ad e. P o r isso p r e
te n d e m o s d e sp e rt -la , m o s tr a n d o as falh as o b s e rv a d a s n o s d iv e r s o s siste m a s, e
ta m b m o u tra s, q u e s v e z e s p a s s a m d e sp e rc e b id a s, m a s cujos efeitos s o ig u a l
m e n te p e rv e rs o s socied ade.
P ro c u ra m o s , com esta o b ra, so m a r n o sso s esforos a o s d a q u e le s q u e ta n to
lu ta r a m o u c o n tin u a m lu ta n d o p e lo a p r im o r a m e n to d a d e m o c ra c ia . S u sc ita n d o
d e b a te s e p r o v o c a n d o reflexes, j n o s d a r e m o s p o r satisfeitos. M as, se re a l
m e n te h o u v e r o a p r im o r a m e n to c o m q u e s o n h a m o s , e n t o e sta re m o s re a liz a
d os, p o r q u e se r a s o c ie d a d e q u e ir co lh er os frutos.

2 DESAFIOS DA CIDADANIA
2.1 A LNGUA
A ln g u a a a lm a d e u m a nao. Esta com ea a se r e s c ra v iz a d a p o r o u tra
q u a n d o o m o d is m o e s tra n g e iro a d o m in a . N o se p o d e ir ao excesso d e im p e d ir

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

certos n e o lo g ism o s - m e s m o p o r q u e h p a la v ra s to p re c isa s e m d e te r m in a d a


ln g ua, q u e a s u a tr a d u o d ificilm en te e x p re ssa ria c o m e x a tid o a idia q u e ela
c o n t m (veja-se, p o r ex e m p lo , a p a la v ra m arketing), m a s ta m b m n o se p o d e
tr ip u d ia r so b re o b o m se n so e o civism o, in c o r p o r a n d o ta n to s e ta n to s v o c b u
los e s tra n g e iro s q u e t m pe rfe ito s c o rre s p o n d e n te s n a ln g u a p o r tu g u e s a .
O s b ra sile iro s q u e v a lo riz a m e x c e ssiv a m e n te o q u e v e m d o ex te rio r - co m o
os n d io s q u e re c e b ia m e sp e lh o s e com eles fic a v a m m a r a v ilh a d o s

nem que

seja v e r d a d e ir o lixo c u ltu ra l, c o m o ce rta s m sic a s, film es e liv ro s, to rn a m -se


te rre n o frtil p a r a a d iss e m in a o d e p a la v ra s e s tra n g e ira s n o p a s, q u e , a seu
v e r, s e ria m e x p re s s o d e c o m p e t n c ia , d e sta tu s o u d e p o d e r. M e sc la m -se letras
q u e n o so d o n o ss o alfabeto, p a r a d a r id ia d e p a la v r a s e s tra n g e ira s , a fim de
d e m o n s tr a r s u p e r io r id a d e . E x e m p lo este n o m e d e loja: P e k a d o K apital.
D e v id o a essa m a n ia d e im itao, e m c a rrin h o s d e la n c h e se v e m n o m e s
c o m o K o m e Bem, e e m e sta b e le c im e n to s b eira d a e s tr a d a n o m e s c o m o K o m id a
K aseira, e m q u e , c o m o K, p ro c u ra -se d a r sta tu s s p a la v ra s . Isso n o s faz le m
b r a r q u e , d u r a n te a s lu ta s d o s a m e ric a n o s n o Pacfico, m u ito s in d g e n a s b a tiz a
ra m s e u s filhos com p a la v r a s e e x p re ss e s ing lesas cujo s o m lh e s h a v ia a g r a d a
d o, tais c o m o L o w G e a r (ro u p a d e baixo; leo d e p a ra fin a ) e K erosene.
O q u e e s p a n ta q u e a ln g u a p o r tu g u e s a n o te m re c e b id o a a te n o q u e
seria in d isp e n s v e l. N o s so c olo nialism o n o p e r m ite s e q u e r d isc e rn im e n to : d e s
p r e z a m o s o q u e n o ss o e m e lh o r, e ficam os c o m o p io r, s im p le s m e n te p o rq u e
e stra n g e iro .
D iz H e rc u la n o M a rtin s Franco:

A proliferao de publicaes de todos os tipos, contendo formas lxicas,


sintticas, ortogrficas e fonticas estranhas ao nosso idioma, exige ur
gentes e decisivas medidas profilticas em defesa da lngua e da cultura.
Atribuo ser o descaso governamental responsvel pelos problemas das
condies de ensino em geral, ao preparo deficiente, quando existente,
dos hericos professores incumbidos do ensino primrio, e pelas conse
qncias trgicas da incapacidade do povo para comunicao, tolhidos
do cabal manuseio da fala e impedidos de xito em seus objetivos. A falta
de cumprimento das leis regulamentadoras de publicaes tem gerado
deteriorao da cultura e da educao, sendo intolervel a proliferao
de placas, anncios, volantes e de outros impressos, com erros de todos

22

D IR C e U G A L D IN O C A R D IN

OS tipos, inclusive com d ize re s e g rafias exticas, e rra d a s t a m b m nas


lnguas a rr e m e d a d a s .'

P a ra o d e v id o re s p e ito n o s s a ln g u a , f u n d a m e n ta l a c o la b o ra o e o e m
p e n h o d o s m e io s d e c o m u n icao . N o a d ia n ta o a lu n o a p r e n d e r o c o rre to na
escola c a m d ia m a ssa c r -lo c o m o u tra fo rm a d e e x p re ss o , p o is o p o d e r d e sta
in d isc u tiv e lm e n te s u p e rio r a o d aq uela:

"Hoje, re c e b e m o s trs e d u c a e s d iferen tes ou contrrias; a d e nossos


pais, a d e n ossos m e s tre s e a d a s o c ie d ad e . 0 q u e nos dito n a ltima
destri to d a s a s idias d a s primeiras. Isso d eco rre, e m p arte, do c o n tra s
te e x iste n te e m nosso m e io entre os c o m p ro m is so s d a religio e os da
s o c ie d a d e , fato q u e os antigos d e s c o n h e c ia m .^

A d e m a is, i n d e p e n d e n te m e n te d o a sp e c to cvico, n o se p o d e ig n o ra r o lad o


p o ltico d a q u e st o . V rio s p e n s a d o r e s p o ltico s s e m p r e d e s a c o n s e lh a r a m os
g o v e rn a n te s a d a r a o p o v o acesso e d u c a o e c u ltu ra , p o r q u e , p e r s is tin d o na
ig n o rn cia, fcil d o m in -lo s. R ichelieu afirm a;

C o m o u m corpo q u e tivesse olhos e m to d a s a s s u a s p a rte s s e ria m o n s


tru oso , d a m e s m a fo rm a um E s ta d o o s e ria s e tod os o s s e u s sditos
fo s s e m sbios; v e r-s e -ia a to p o u c a o b e d i n c ia, q u a n to o orgulho e a
p re s u n o s e ria m comuns".^

E d iz M o n te sq u ie u :

C u m p re q u e a e d u c a o , n e s s e s Estados, s e ja servil. S e r u m a v a n t a
g e m ter tido s e m e lh a n te e d u c a o , m e s m o no c o m a n d o , pois a n in g u m
s e r tirano s e m s e r a o m e s m o te m p o e s cravo.
A e x t r e m a o b e d i n c ia s u p e Ig n o r n c ia e m q u e m o b e d e c e ; s u p e - n a

' FRANCO, Herculano Martins. A lngua e a lei. In "0 Dirio do Norte do Paran", 19/12/ 2000, p. 02,
' MONTESQUIEU, Op. C/f., p. 61.
^ RICHELIEU, Armand Jean Du Plessis, Testamento poltico do Cardeal Duque de Richelieu, PrimeiroMinistro de Frana sob o reinado de Luiz XIII. Traduo de David Carneiro. So Paulo: Atena, 1955,
p. 93.

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

m e s m o e m q u e m c o m a n d a ; e s te n a d a te m a deliberar, a duvidar, n e m a
raciocinar; b as ta q u e r e r " /

O in te re sse d a n a o q u e o p o v o seja cu lto e e d u c a d o ; o in te re sse d o s p o l


ticos q u e o p o v o seja ig n a ro e m a n ip u la d o , a fim d e q u e eles p e r m a n e a m com
o p o d e r , se m s e re m o m b r e a d o s p o r ld eres e m e rg e n te s e m a is cultos. A ssim ,
c o m o n o h p re o c u p a o c o m a c u ltu ra e c o m a e d u c a o , p o r c o n seq n cia
n o h c o m a ln g ua. Pela internet, p o r ex e m p lo , c o m u m a lin g u a g e m mire,
a u t n tic a lin g u a g e m tribal, e o jov em , p rin c ip a lm e n te , a caba p r o n u n c ia n d o p a
la v ra s c o m o as escreve, to rn a n d o -a s m o n ossilb icas. A p a la v r a n o escrita de
fo rm a in te g ra l, p o r m seccionada. Enfim , h u m a re g re s s o ao tribalism o .
A c id a d a n ia c o m ea c o m a ln g u a , p o is, c o m o a c e n tu a v a P la t o , "a in c o rre
o d e lin g u a g e m n o s o m e n te u m a falta c o n tra a p r p r ia ln g u a ; ela cau sa
ta m b m m a l s alm as".^
p o r isso q u e , q u a lq u e r q u e seja o m o v im e n to v o lta d o p a r a a c id a d a n ia , a
ln g u a d e v e se r c u ltu a d a . V im os n u m pain e l a s e g u in te frase: " C o rru p o e d e
v o lu o j". L o go abaixo, lia-se: " C ru z a d a d a C id a d a n ia " . b v io q u e o p ain e l
n o p r e g a v a a corru p o ... A frase d e v ia te r sid o re d ig id a c o m m a io r zelo, p o r
ex em p lo: " C o rru p o ? D e v o lu o j!" o u " C o rru p o n o; d e v o lu o j!"
O u tr o d ia e s t v a m o s e m u m a p a d a ria , te n d o a n o s so la d o u m s e n h o r idoso,
q u e p a re c ia se r u m a p e sso a im p o rta n te .
- J p onhei o p o - d isse-lh e a h u m ild e co n feiteira, e n tr e g a n d o - lh e u m pacote.
I m a g in v a m o s q u e ele, com u r b a n id a d e , a c orrig isse, d iz e n d o alg o com o:
- V oc j p s? O b rig ad o !
E n tre ta n to , ele disse:
- V oc j p o n h l O brig ad o!
Se a c id a d a n ia com ea com o c u ltiv o d a ln g u a , o c iv ism o se cu ltiv a c o m a
leitu ra. E la m e n t v e l o b se rv a r q u e as escolas n o d e s e n v o lv e m n o a lu n o o
h b ito d a leitura. Elas o p r e p a r a m p a ra o v e s tib u la r o u p a r a o exerccio tcnico
d e d e te r m in a d a a tiv id a d e , m a s n o o p r e p a r a m p a r a a v id a . A g r a d e cu rric u la r
d e v ia m u d a r a c o n v erg n cia: e m v ez d e fo rm a r a p e n a s o tcnico, fo rm a r ta m
b m o a u t n tic o c id a d o .
' MONTESQUIEU,

op. cit, p. 61.

^ PLATO. 0 banquete.
135.

Coleo Biblioteca Clssica. Volume XXXVI. 3. ed. So Paulo: Atena, 1956, p.

24

D IR C E U G A L D t N O C A R D IN

Se for feita u m a p e s q u is a c o m p e s so a s q u e se g r a d u a r a m e m u m a u n iv e r s i
d a d e , p e r g u n ta n d o - lh e s q u a n to s liv ro s elas le ra m d e p o is d e fo rm a d a s, c e rta
m e n te se ficar e s ta rre c id o , p o r q u e p o u q u s s im a s t m a m o r p e la leitura.
Pior a in d a d o q u e n o ler a castrao fin anceira im p o s ta p e la s e d ito ra s aos
escritores. P a g a m a p e n a s 10% ao a u to r so b re a cap a, q u a n d o , n o m n im o , d e v e
ria se r 20%; 40% ficam p a r a a e d ito ra (a lg u m a s c h e g a m ficar c o m 60%), e 50%
v o p a r a as d is trib u id o ra s , q u e p a r tilh a m com as liv rarias. A s e d ito r a s g o z a m
a t d e im u n id a d e trib u t ria ; p o r m , c m v ez d e r e d u z ir e m os p re o s, to m a n d o os acessveis ta m b m a o s leitores d e m e n o r p o d e r a q u isitiv o , faz e m d o p re o
d o liv ro u m a rtig o d e luxo. Q u e m sabe u m d ia p o s s a m ra c io c in a r n o s e n tid o d e
re d u z ir o cu sto e a u m e n ta r o v o lu m e d e v e n d a s . H oje, a c h o c a n te re a lid a d e
esta: o liv ro c a ro d e m a is, e quem m enos ganha quem o criou!
A le itu ra a lim e n to d o e sp rito , m a s p o u c o s le v a m isso e m c o n sid e ra o . E
se a escola n o c o n s e g u e fazer c o m q u e o a lu n o a d q u ir a esse h b ito , q u e m u ito
o e n riq u e c e r p a r a a v id a , c o m certeza ela n o c u m p r e su a m isso . p o r isso
q u e h ta n to s p r o g r a m a s m e d o c re s d e televiso. O s p ro fe ss o re s p re c is a m fazer
o a lu n o a p r e n d e r a ler, p o r m a in d a m a is im p o r ta n te p e n s a r e raciocinar. So
e ta p a s d e p ro g re sso . T o d a v ia , se n o h o b sico d a le itu ra , c o m o o a lu n o a p r e n
d e r a racio cinar? a e sc ra v id o d e u m povo.
A escola p re c isa c o m b a te r o im p rio d a televiso, p rin c ip a lm e n te co m a a rm a
d a leitu ra, p o r q u e a r e a lid a d e trgica: a im a g e m est d o m in a n d o a m e n te d a s
p esso as, q u e c a d a v e z m a is se h a b itu a m a n o refletir so b re o s p ro b le m a s q u e
afligem a s o c ie d a d e . E a ssim a im a g e m m a ta o p e n s a m e n to , a reflexo, o e s p ri
to crtico. M u ito s a lu n o s p a g a m p a r a a lg u m fazer se u s tra b a lh o s; e os q u e fa
z em b u s c a m n a In tern et. E nfim , os trab alh os, q u e o u tr o r a c o n s titu a m fo n te d e
c o n h e c im e n to p a r a o a lu n o , hoje p e r d e r a m su a fin a lid a d e . P o r isso, e m p r o v a o
p ro fe ss o r d e v e d a r p ro b le m a s p a r a q u e o a lu n o p o s sa raciocinar. P ro v a d e "d e c o re b a " re g re ss o intelectu al. O a lu n o a p r e n d e u p a r a a p ro v a , n o p a r a a v id a.
P ro v a s c o m p ro b le m a s o in stig a m a p e n sa r.
A escola d e v e te r ta m b m a m iss o d e d e s e n v o lv e r o e sp rito cvico, a fim d e
lib e rta r as p e s so a s n o s d a p o b re z a m a te ria l, m a s ta m b m d a m e n ta l. P ara
isso, p re c iso q u e o a lu n o saiba, p e lo m e n o s, in te r p r e ta r u m texto. M a s n o o
q u e ocorre:

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

"(...) 0 Brasil ficou em ltimo lugar no Program a Internacional de Avalia


o de Alunos (Pisa), que aplicou uma prova a estudantes brasileiros de
15 anos, mostrando que, para eles, textos escritos em portugus simples
so como se estivessem em latim ou grego: os estudantes simplesmente
no foram capazes de entender o texto, como por exemplo: A enfermeira
aplicou a injeo no paciente - questionados sobre quem havia aplicado
a injeo, aps a leitura dessa frase, responderam que foi o mdico.
0 Pisa aplicou prova semelhante a 26 5 mil alunos de 15 anos de idade,
estudantes de escolas pblicas e particulares de 32 pases (no Brasil,
foram 4 ,8 mil estudantes). 0 Brasil conseguiu ficar em ltimo lugar, atrs
de pases como Letnia, Rssia e Mxico, enquanto as melhores notas
foram obtidas por jovens da Finlndia e C anad, entre outros pases de
senvolvidos.

M a s as escolas, a p a r d e ta n to s inim igo s, a in d a t m o u tr o q u e se to rn o u v iz i


n h o : os bares, E stes se tra n s fo rm a m e m p o n to s d e d istrib u i o d e d ro g a s , focos
d e b e b id a s e d e p ro s titu i o etc. s o p ro fe ss o r fa z e r a c h a m a d a , a classe se
e sv azia, e os a lu n o s v o se r d is c p u lo s d o Z d o Bar. P o u c o s o s a lu n o s q u e tm
o d is c e rn im e n to d a re s p o n s a b ilid a d e e d a d e d ic a o a o s e s tu d o s , p a r a s e re m
fu tu r a m e n te e xcelentes profissionais.
D e v e ria h a v e r u m a lei, em m b ito n acion al, q u e p ro ib is s e b a r e s a u m a d is
tncia d e q u in h e n to s m e tr o s d e in stitu i es d e ensino . C a so c o n tr rio , seria n e
cessrio u m po licial c o n s ta n te m e n te n esses locais, o q u e seria u to p ia . Q u a n to
aos la n c h e s e re frig e ra n te s, a c antina d a escola c o n tin u a r ia se rv in d o .
V ia ja n d o p e lo ex te rio r, tiv e m o s a o p o r tu n i d a d e d e v e rific a r a lg o q u e no s
s u r p r e e n d e u ; m u ito s e s tra n g e iro s c on fiam m a is n a g r a n d e z a d o Brasil d o q u e
os p r p r io s b rasileiro s... p re c iso d e s p e r ta r n o b ra sile iro o civism o, a fim de
a c e le ra r o p r o g r e s s o d a na o , e a co nscin cia cvica d e v e se r d e s p e r ta d a na
escola. A c o m e a r p a r a q u e seja e le v a d a a baixa a u to -e s tim a d o p o v o brasileiro ,
p o is a c re d ita q u e tu d o q u e se o rig in a d o ex te rio r m elh o r.
A le itu ra d e s e n v o lv e o raciocnio e o e sp rito crtico, p r o p ic ia n d o o d e s e n
v o lv im e n to d o c id a d o e, c o n se q e n te m e n te , d o p r p r io pas.

LOPES FILHO, Osiris. A d e v o g a d o d a E stssio. Disponivei em: <http://novomilenio.inf.br/ humor/


0112f005.htm> Acesso em 19 de fevereiro de 2002,

25

26

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

D e n tr o d o e n f o q u e d a ln g u a , h a lg o q u e ta m b m n o p o d e p a s s a r d e s
p e r c e b id o : o p o d e r d a s p a la v r a s . J c a iu n o ja rg o c o m u m , s e r e m e la s fle
c h a s q u e , q u a n d o n o m a ta m , fe re m . M u ita s v e z e s a s p e s s o a s , p r i n c i p a l
m e n te a s a d u l t a s e m r e la o s c ria n a s, n o p e r c e b e m isso , o u , s e p e r c e
b e m , fa z e m q u e s t o d e jo g a r se u s r e c a lq u e s e f r u s tr a e s n e la s. O u ta lv e z ,
d e f o rm a im a t u r a , q u e r e m m o s t r a r q u e s o in te lig e n te s , e n q u a n t o as c r ia n
as s e r ia m b u r r a s ... E m v e z d e e d u c a r o s filh o s p a r a q u e s e ja m lu ta d o r e s ,
a n iq u ila - s e o p o te n c ia l d e le s c o m c rtic a s fe rin a s , d e s tr u id o r a s . N o se p o d e
d e ix a r d e le m b ra r q u e m u ito s p a is c h e g a m , no m o m e n to d a ra iv a , a
d e s c a r r e g -la n a s c ria n a s, a t m e s m o a s a m a l d i o a n d o , q u a n d o o p r o b le m a
n o e st n e la s , m a s n eles.
E m v e z d e u s a r a e stra t g ia d a m o tiv a o , u s a -s e a d o a n iq u ila m e n to d a
p e rs o n a lid a d e . P o r exem plo:
- V oc p re g u i o so , s fica d o rm in d o ! q u a n d o se p o d e r ia d izer: Filho, voc
b e m q u e p o d ia d a r u m a a ju d a p a ra a m e.
- Voc b u rro ! n o faz n a d a direito! q u a n d o se p o d e r ia d izer: V oc in te li
gente... voc c a p a z d e fazer m elhor!
- V oc egosta] q u a n d o se p o d e ria dizer: voc p o d ia a g ir d e fo rm a legal
p a r a c o m o p a i, e e u a g iria ta m b m d e fo rm a legal p a r a c o m voc.
A p r o p s ito d a s crticas d e s tru id o ra s , le m b ro -m e d o q u e a c o n te c e u c o m o
m a io r te n o r q u e o m u n d o j co nh eceu : C aruzo.
Ele era c ria n a e, n o M xico, fre q e n ta v a a u la s d e m sic a . D e sa fin o u e n
q u a n to c a n ta v a n o coral. A p ro fe sso ra criticou-o m o r d a z m e n te fre n te d a s d e
m a is crianas. Ele foi p a r a casa ch o ra n d o . E, b a lb u c ia n d o , c o n s e g u iu n a r r a r
m e 0 q u e a con tecera. Esta o a b ra o u e lhe disse:
- Filho, ela n o sa b e o p o te n c ia l d a tu a voz...
A q u e la s p a la v r a s d a m e fo ra m o ince n tiv o p a r a q u e ele a fro n ta s se os o b st
c u lo s e co n se g u isse v encer. Se ele n o tivesse o u v id o a s p a la v r a s d e e stm u lo ,
seria u m re c a lc a d o , q u e n o sa b e ria d e sc o b rir su a s p o te n c ia lid a d e s vocais.
Q u a n d o as p a la v r a s ir r a d ia m m o tiv a e s, s o a m c o m o m s ic a e re sso a r o
p a r a s e m p r e n o m a g o , e m b a la n d o so n h o s ; q u a n d o d e s tr u id o r a s , fu lm in a m
co m o raios, e m custica re a lid a d e .
C o m o a re s p o n s a b ilid a d e d o s pais, fam iliares e, p r in c ip a lm e n te , p ro fe sso re s
e le v a r as p e s s o a s p a r a q u e p o s s a m ed ificar u m a so c ie d a d e civ iliz a d a , o p o d e r

d a s p a la v r a s p o d e r aju d -la s a c o n stru ir m ais r p id o d o q u e se im a g in a , d e s d e

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

q u e seja u tiliz a d o in te lig e n te m e n te tal p o d e r. C o m o o p o e ta u sa -o p a r a c o m p o r


se u s versos...

2.2 O SISTEMA LEGISLATIVO BRASILEIRO


O siste m a le g islativ o b ra sile iro c o n stitu d o p e la C m a ra d o s D e p u ta d o s e
p e lo S en ad o . P a ra d e lib e ra o so b re a lg u m a s m a t ria s (art. 48 d a CF), eles se
u n e m , fo r m a n d o o C o n g re sso N acional.
H n o Brasil 513 d e p u ta d o s federais e 81 se n a d o re s. Tal q u a n tid a d e confis
s o p b lic a d e estu ltic e . P e rg u n ta -se : h n e c e s s id a d e d e ta n ta s p e s s o a s p a ra
leg islar? u m n m e r o b e m in ferior, p o r m d e p e s s o a s c o m m e lh o r q u a lid a d e
in telectu al, n o seria su ficiente p a ra fazer b o a s leis?
N a d e m o c ra c ia re p re s e n ta tiv a priv ileg ia-se a q u a n tid a d e e m vez d a q u a lid a
de, r e p e tin d o -s e a "L ei d e G re s h a m " , s e g u n d o a q u a l a m o e d a m e x p u lsa a
b o a , p o r q u e se p rio riz a o c ritrio n u m ric o . P o u c a s p e s so a s , d e s d e q u e in teli
g en tes, h o n e s ta s e eficientes, c o m certeza s a b e ria m d e c id ir o q u e c o n v e n ie n te
p a r a a nao. A g r a n d e q u a n tid a d e c o n d u z m e d io c rid a d e ; a p e q u e n a c o n d u z
q u a lid a d e , p o r q u e se d e p u r a a seleo. Se h o u v e s s e r e d u o d o n m e r o de
p a r la m e n ta r e s , o s p r p r io s p a r tid o s sele c io n a ria m m e lh o r o s se u s c a n d id a to s.
E m p o c a d e eleio tra n s p a re c e m as c h a g a s d a d e m o c ra c ia : o p ta -s e n o r m a l
m e n te p o r c a n d id a to s p o p u lis ta s, p o r a q u e le s p e rte n c e n te s a u m a d in a s tia de
p o ltico s o u p o r a q u e le s q u e p o ss a m ser im p in g id o s a o s e leito res p o r la b o ra t
rio s d e m arketing. N o s o e sco lh id o s p ela c o m p e t n c ia e h o n e s tid a d e .
s v e z e s os m a is cnicos e in e s c ru p u lo so s g a lg a m o p o d e r p o r q u e os h o n e s
tos e c o m p e te n te s n o t m c o ra g e m d e fazer o q u e eles fazem . Isso faz le m b ra r
o a p lo g o d e Joato:
"Decidiram as rvores, um dia, ungir um rei para reinar sobre elas. Disse
ram oliveira: 'Reina sobre ns! A oliveira lhes respondeu: Renunciaria
eu ao meu azeite, que tanto apraz aos deuses como aos homens, a fim
de balanar por sobre as rvores? Ento as rvores disseram figueira:
'Vem tu, e reina sobre ns!' A figueira lhes respondeu: 'Iria eu abandonar
minha doura e o meu saboroso fruto, a fim de balanar sobre as rvo
res? As rvores disseram ento videira: Vem tu, e reina sobre ns!' A
videira lhes respondeu: Iria eu abandonar meu vinho novo, que alegra os
deuses e os homens, a fim de balanar por sobre as rvores? Ento

27

D IR C E U G A L D iN O C A R D IN

to d a s a s rv o re s d is s e ra m a o espinheiro: V e m tu, e rein a sob re ns! E o


e sp in h e iro re s p o n d e u s rvores: S e d e b o a -f q u e m e ungis p a r a rei
n a r sob re vs, vind e e a b rigai-vos m in ha s o m b ra . S e n o. s a ir fogo
d os e s p in h e iro s e d e v o ra r os ce dros do L b a n o !^

D e v id o a u s n c ia d c b o n s lideres, j c h e g a ra m a se r d e p u ta d o s fe d e ra is ou
s e n a d o re s m u ito s traficantes, g rileiros, c o rru p to s p b lic o s etc. A a u t n tic a d e
m o cracia d e v e p r im a r p e la q u a lid a d e d o s h o m e n s q u e in te g r a m o P o d e r L egis
lativo, e n o p e la q u a n tid a d e . T o d a v ia , esta tem p re v a le c id o .
P o d er-se-ia a le g a r q u e n ecessrio esc o lh e r d e p u ta d o s d e to d a s as c a m a d a s
sociais, p a r a q u e , n a d is c u s s o e v o ta o d a s leis, haja a p o n d e r a o d e to d o s os
in te re sse s e m jo g o, vista d o s in te re sse s m a io re s d a n ao. C o n tu d o , a p r e m is
sa falsa, p o r q u e , e m re g ra , c a d a d e p u ta d o se v in c u la a d iv e rs o s s e g m e n to s
sociais e m su a b a s e eleitoral. Q u a lq u e r u m d e le s r e p r e s e n ta v ria s c a m a d a s
sociais, p o r q u e e m to d a s ele p e n e tra , co m m a io r o u m e n o r in te n s id a d e , d e a c o r
d o c o m se u perfil d e atuao.
D isc e rn ir o q u e m e lh o r p a r a a p o p u la o u m a to d e in telig ncia. E se a
in telig n cia d o s c a n d id a to s n o p r io r iz a d a e sco lh em -se p e ss o a s p o u c o o u n a d a
q u a lific a d a s p a r a re g e r o s d e s tin o s d o pas. E n tre g a -se u m c h e q u e e m bra n c o
p a r a esses poltico s, q u e o p r e e n c h e m d e a c o rd o c o m as s u a s lim ita e s o u se u s
in te re sse s p e ss o a is o u p a rtid rio s . T alvez p o r isso ch e g a a s e r in se n sa te z u m
n m e r o to e le v a d o d e d e p u ta d o s e s e n a d o r e s , c o m o se a q u a n t i d a d e fosse
re so lv e r os p ro b le m a s na c io n a is, q u a n d o , ao co n tr rio , p re ju d ic a a soluo. Eles
so, in d isc u tiv e lm e n te , p e s so a s b e m -re la c io n a d a s n a so c ie d a d e , p o r m n e m to
d o s e sto p r e p a r a d o s tica, c u ltu ra l e in te le c tu a lm e n te p a r a tal m ister.
O r e tra to d is so u m a lu v i o legislatrio q u e , s e g u n d o o a d g io latin o , re v e
la a fra q u e z a d a d e m o c ra c ia re p re se n ta tiv a , p o r q u e C orrupta republica plurim ne
legis (O excesso d e leis c a u sa d e c o rru p o d a rep b lica). C o m o n o Brasil h

594 le g isla d o re s fe d e ra is ( d e p u ta d o s e se n a d o re s), se a c a d a a n o c a d a u m c o n se


g u ir a a p ro v a o d e p e lo m e n o s u m a lei, te re m o s 594 n o v a s leis p o r a n o e, n o
final d o m a n d a t o d e q u a tr o a n o s, 2.376 leis. A so c ie d a d e n ec e ssita d e s s a q u a n ti
d a d e d e leis?
E e v id e n te q u e as p e sso a s d e v is o lim ita d a p r o p e m e a p r o v a m leis q u e
A B blia d e J e rusa lm , Juizes 9, 7-15, p. 270,

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

v isa m a p e n a s a d e te r m in a d a situao, com in te re sse s im e d ia tista s, e n q u a n to as


p e s s o a s in te lig e n te s p r o p e m e a p r o v a m leis v o l ta d a s p a r a o b e m c o m u m ,
a b ra n g e n te s , e q u e p o s s a m v ig o ra r p o r lo ng o te m p o , p o is c o m o o b s e rv o u com
m u ita p r o p r ie d a d e F ranco Sobrinho:

" Q u e m b e m c o n h e c e , hoje e na histria, os Legislativos no Brasil, s a b e


q u e n o p o s s u e m e n u n c a p o s s u ra m c o n d i e s polticas p ara g o v e rn a r
ou a d m in is tra r a n a o . S o cole tiv id a de s q u e , a p e n a s p o d e m f a z e r leis,
m a s q u e , a o fa z -la s , p articu larizam s itu a e s e n o g e n e ra liz a m solu
e s . A todo m o m e n to , n a o rd e m fed e ra l ou fe d e ra tiv a , o s Legislativos se
d e ix a ra m e d e ix a m le v ar p a ra os c a m in h o s do o po rtun is m o g re g rio, no
s e c ria n do a o longo d a histria u m a tra di o c a p a z d e v a lo riz-lo s com o
p o d e r d e g ov e rn o, e m b o r a alguns muitos h o m e n s lhes t e n h a m d a d o ins
ta n te s d e glria p a rla m e n ta r.

C o m u m g r u p o m e n o r d e leg islad o res, o tra b a lh o seria d e s e n v o lv id o d e for


m a m a is r p id a e eficiente, al m d e se r e d u z ir s ig n ific a tiv a m e n te o n m e r o de
leis e o e le v a d o c u s to d a m a n u te n o d e ta n ta s p e s s o a s le g isla n d o . A lis, os
p ro je to s d e lei d e v e r ia m se r p r im e ira m e n te d e b a tid o s p e la so c ie d a d e , p a r a s o
m e n te d e p o is se re m s u b m e tid o s a p ro v a o d o s rg o s c o m p e te n te s . A ssim ,
q u a n d o u m a lei fosse a p r o v a d a , a so c ie d a d e j teria c o n h e c im e n to d e la e estaria
p r e p a r a d a p a r a s e g u ir se u s d ita m e s , d if e re n te m e n te d o q u e o co rre hoje: n o
beneficia o in fra to r a aleg ao d e ig n o r n c ia d a lei (a n o se r c o m o c ircu nstn cia
a te n u a n te d e p e n a - art. 48, III, d o C d ig o Penal), m a s a m a io r p a rte d elas
c o m p le ta m e n te d e sc o n h e c id a .
N o se d ig a q u e essa a sse rtiv a e x a g e ra d a . V ejam -se, p o r ex e m p lo , as leis
trib u t ria s: t o g r a n d e o n m e r o delas, q u e os a d v o g a d o s trib u ta ris ta s esto
se e s p e c ia liz a n d o , p o r e x e m p lo , e m im p o s to d e r e n d a , e m IC M S o u e m IPI.
Im a g in e m -se , e n t o , as d ific u ld a d e s d o c id a d o c o m u m , q u e n o te m a o b rig a
o tcnica e p ro fissio n a l d e a c o m p a n h a r c a d a lei q u e p r o m u lg a d a .
M erece d e s ta q u e a se g u in te inform ao:

T e m o s e m vigo r hoje no nosso P a s c e rc a d e 2 8 mil n o rm a s jurdicas.

Op. cit Parania poltica, p. 121.

30

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

M a is d e 10 mil s o leis ordinrias. M ilhares d e m e d id a s provisrias. A fria


legislativa incessante: d es d e a p rom ulgao d a Constituio F ed e ra l (5/
1 0 /8 8 ) a t 2 8 / 2 / 0 2 foram e ditadas (nos trs nveis d a F ed e ra o ; Fed eral,
Estadual e Municipal) 1 .7 8 7 .2 4 8 norm as (incluindo-se e m e n d a s constituci
onais, leis, m e d id a s provisrias, decretos e n orm as c o m p le m e n ta re s etc.).
S no m b ito fe d e ra l tivem os (at 2 8 /2 /0 2 ) : 6 e m e n d a s d e reviso, 3 5
e m e n d a s constitucionais, 2 leis d e le g a d a s , 5 5 leis c o m p le m e n ta r e s , 2 .7 3 8
leis ordinrias, 6 5 3 m e d id a s provisrias, 5 .4 9 1 m e d id a s re e d ita d as , 7 .1 81
d e c re to s e 7 8 . 4 2 2 n o rm a s c o m p le m e n ta r e s (po rtarias, instrues, atos
norm ativos, o rd e n s d e servio etc.) (cf. le v a n ta m e n to feito pelo Instituto
Brasileiro d e P la n e ja m e n to Tributrio, C uritiba, in O E s ta d o d e S . P a u lo
d e 1 4 /0 4 /0 2 , p. A -1 2 ).
A c a b o u , h muito tem po , a s b ia lentido do le gislado r (q u e d e m o r a v a
p a r a fa z e r u m a lei, p a ra q u e e la fos s e b e m feita ), L a s a g e le n t e u r foi
sub s titud a p o r um turbilho d e leis mal e la b o ra d a s , retricas, d e m a g g i
ca s , d e s c o n e x a s e p u ra m e n te sim blicas (s s o a p ro v a d a s p a ra e n g a
n ar a p o p u la o ). 0 ca os norm ativo a q u e c h e g a m o s no te m n a d a de
sim ilar na n os s a histria",^

E m m a t ria p u b lic a d a n a revista "V eja", v -se n itid a m e n te a sa n g ria so frid a


p e lo s cofres p b lic o s e m de c o rr n c ia d o ex a g e ra d o n m e r o d e le g isla d o re s e do
d is p e n d io s o g a s to c o m su a rem u n e ra o :

"C o m os novos reajustes, c a d a d e p u ta d o cu s ta r a o s con tribu intes 6 9 . 8 0 0


reais por m s.
O g a b in e te d e u m s e n a d o r c o m p a r v e l a u m a p e q u e n a e m p re s a . C a d a
u m p o d e c o n tra ta r a t 2 9 p es s o as , o uso d e te le fo n e livre, o C o n g re s s o
re e m b o ls a 5 0 0 reais p a ra te le fo n e m a s feitos d e c a s a e tod os t m c e lu la
res p ag os pelo E s ta do . A l m d e tais facilidades, e le s a in d a p o d e m g a s ta r
im p re s s io n a n te s 6 6 . 0 0 0 reais a p e n a s p a ra postar c o rre s p o n d n cia s . C a d a
s e n a d o r p o d e c u s ta r im p re s s io n a n te s 1 5 0 .0 0 0 reais p o r m s " .

GOMES, Luiz Flvio. F ria legislativa. In " 0 Estado do Paran", caderno Direito e Justia, 21 de abril
de 2002 , p . 1 .
MARIZ, Cristiano. S a iu a 1- re fo rm a: o a u m e n to d o s depu ta d os. In Revista Veja", 12 de maro de
2003. Disponvel em: <http;//veja.abril.com.br> Acesso em 18 de maro de 2003.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

So e x p re ssiv o s os re c u rso s financeiro s d e q u e c a d a le g is la d o r d is p e p a r a a


a ssistn cia social. E m u ito s d e s tin a m e ssa s " v e rb a s assiste n c ia is" o b jetiv an d o
t o -so m e n te a reeleio. c erto q u e a lg u n s se re e le g e m p e lo excelente trabalh o
q u e d e s e n v o lv e ra m , m a s g r a n d e p a r te so m e n te o c o n s e g u e g ra a s a tais verbas.
E h at m e s m o a q u e le s q u e c o b ra m " p e d g io s " p a r a d estin -las.
O u tr o s e x ig e m q u e o p re fe ito d iv u lg u e p ela im p re n s a , a e x p e n s a s d o m u n i
cpio, o re c e b im e n to d e b e n s, im p le m e n to s agrco las o u c o n g n e re s, p a r a que,
a ssim , ele p o ss a s e m p r e ficar e m ev idn cia, d a n d o a a p a r n c ia d e s e r atuante...
C o m o d e te c to u , c o m a rg cia, D iogo M ain ard i: " T u d o m a n ip u la d o pelos
p olticos. T u d o p a g o p o r ns, P o r u m p re o a lto d e m a is. E n tre o q u e se gasta
e m p r o p a g a n d a oficial, m a is o q u e se g asta e m p r o p a g a n d a c a m u fla d a , m ais o
q u e se g a s ta c o m e m p r e g u is m o eleitoreiro, m a is o q u e se g a s ta e m c o rru p o
p a r a fin a n c ia r a p r o p a g a n d a , a p oltica acaba c u s ta n d o m a is d o q u e e d u c a o e
s a d e " .
A C m a ra d o s D e p u ta d o s d e v e ria ter o m n im o p o ssv e l d e d e p u ta d o s , tal
v ez n o m a is d o q u e s e te n ta d e p u ta d o s federais, e m v e z d o s 513 o ra existentes.
E d e v e ria h a v e r a p e n a s u m se n a d o r p o r e sta d o , to ta liz a n d o 26. A l m d e se m e
lh o ra r a q u a lid a d e d o s p a rla m e n ta re s , h a v e ria u m a e x p re ssiv a e c o n o m ia p a ra a
n ao. R e d u zir-se-ia a sa n g ria d e trib u ta o so b re a so c ie d a d e , com a p ossibili
d a d e d e p a g a m e n to d o s e le v a d o s ju ro s d a d v id a ex tern a. A l m d isso , ao lo n go
d o te m p o , p o d e r-se -ia c o n c e n tra r os recu rso s, p o r e x e m p lo , n a e d u c a o e e m
m o ra d ia .

n o h a v e ria a ra p in a g e m aos cofres p b licos, c o m o a tu a lm e n te ocorre.

C o m o te m p o , m e d id a q u e o corresse o fo rta le c im e n to d o s C o n s e lh o s d a C id a
d a n ia , p ro c u ra r-se -ia r e d u z ir a in d a m ais o n m e r o d e le g isla d o re s (na esfera
federal, e s ta d u a l e m u n ic ip a l), p o r q u e s e ria m d im in u d a s s u a s a tiv id a d e s: fica
r ia m lim ita d a s s leg islativ as, v isto q u e as a d m in is tra tiv a s s e ria m ce n tra liz a d a s
n a q u e le s C o n selh o s.
P o u c o s le g isla d o re s b a s ta m p a r a d e c id ir o q u e m e lh o r p a r a a p o p u la o ,
d e s d e q u e c o m p e te n te s e h on esto s. R e d u z in d o -s e a q u a n tid a d e , m e lh o ra -se a
q u a lid a d e , p o r q u e o s m a is c o m p e te n te s e h o n e s to s n a tu r a lm e n te so bressaem .
E nto, te ra m o s o a u t n tic o civism o e o C o n g re sso N a c io n a l seria re v e re n c ia d o
p e la q u a l i d a d e d o s h o m e n s q u e o c o m p o r ia m , e n o m a lv is to c o m o hoje:
c o rru p o , c o n c h a v o s, p re v a l n c ia d e in te re sse s m in o rit rio s , n e g o c ia ta s etc.
MAINARD, Diogo. A p ra g a brasileira. In Veja", ano 36, n- 48. So Paulo: Abril, 3 de dezembro de
2003, p. 135.

31

32

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

T a m b m n o m b ito e s ta d u a l nec e ss ria a r e d u o d r stic a d o n m e r o d e


d e p u ta d o s . C ria d o , n e sse m b ito , o C o n se lh o d a C id a d a n ia , n o so n e c e ss ri
os m a is q u e 8 d e p u ta d o s e s ta d u a is p a r a to m a r b o a s d e c is e s leg islativas, d e s d e
q u e sejam p e s so a s b e m qualificadas. M e n o r q u a n tid a d e d e le g isla d o re s p r o p i
ciaria seleo q u a n to q u a lid a d e , p o r q u e os p a r tid o s e sc o lh e ria m os m e lh o re s
p a ra rep resen t-lo s.
O n m e r o d e v e re a d o re s j foi re d u z id o , c o n tu d o eles n o d e v e r ia m receber
n e n h u m a r e m u n e r a o d o s cofres pb lico s; o p e ro d o d o m a n d a to d e v e ria ser
c o n s id e ra d o c o m o d e efetivo te m p o d e servio. P o r e x e m p lo , se u m v e r e a d o r
p ro fe sso r, o te m p o d e se u m a n d a to seria c o n s id e ra d o c o m o te m p o d e servio
p a r a o m a g ist rio . O m e s m o raciocnio se a p licaria p a r a o tr a b a lh a d o r d e e m
p re s a p riv a d a . P o r su a relev n cia poltico-social, a fu n o p b lic a d a v erean a
d e v e ria se r e x e rc id a p o r civism o, se m n e n h u m a re m u n e ra o .
M u ita s p e ss o a s t m (ou a firm a m ter) a v e rs o p e lo s po ltico s p o r q u e os r e p u
ta m in c o m p e te n te s e c o rru p to s. P essoas d e estofo m o ra l e q u e re a lm e n te q u e
re m fazer o b e m p a r a a c o m u n id a d e a c a b a m se a fa s ta n d o d a v id a po ltica, e m
b o ra m u ita s v e z e s j te n h a m v id a pblica.
N o h a v e n d o re m u n e ra o , m u ito s p o ssv e is c a n d id a to s p e r d e r o o in te re s
se p e la funo.
T o d a v ia , p a r a u m a v e r d a d e ir a d em o cracia, e m q u e ha ja p a rtic ip a o p o p u
lar, e c o m civ ism o , os p a r la m e n ta r e s d e v e m ser p e ss o a s q u e e fe tiv a m e n te q u e i
ra m c u m p r ir u m a u t n tic o d e v e r social e q u e sa ib a m d e s se n u s: p o r d e te r m i
n a d o p e r o d o c o lo caro o b e m coletivo so b re os se u s in te re sse s p artic u la re s.
P o r isso, im p e -se u r g e n te m o dificao n o siste m a legislativo. A q u a lid a d e
d a d e m o c ra c ia se faz p e la q u a lid a d e d o s h o m e n s p b lic o s q u e a c o m a n d a m , e
n o p e la q u a n tid a d e .
N o L e g isla tiv o , b a sta v e rific a r o n vel c u ltu ra l d e n u m e r o s o s v e re a d o re s ,
d e p u ta d o s e s ta d u a is e federais. A lis, a tu a lm e n te , n e m h m a is p r e o c u p a o d e
p r e p a r o c u ltu ra l p a r a tais carg os, b a s ta n d o u m a b o a im a g e m p e sso a l, sim p a tia ,
e u m e s q u e m a fin a n c e iro p o r trs... A n tig a a o b se rv a o d e M o n te sq u ie u :
O s polticos gregos, q u e viviam no g overno popular, s rec o nh e cia m um a
fora c a p a z d e mant-los: a fora d a virtude. O s polticos atuais s nos
fala m de m anufaturas, de comrcio, d e finanas, de riquezas e at d e luxo".
MONTESQUIEU. Do esprtlo das leis, p. 50.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

N o E x e cutivo s p e rg u n ta r; q u a n to s p re fe ito s t m c u rso su p e rio r? E o q u e


d iz e r d o recen te " a p a g o " , q u e re v e lo u s cla ra s a in c o m p e t n c ia d a h ie ra rq u ia
v e rtic a liz a d a d o s c a rg o s pblico s?
A in c o m p e t n c ia ta m b m d e v e ria ter lim ite, p o r m isso n o ocorre. Faz q u e s
to d e se r p b lic a e n o t ria . E x em p lo sim ples: n a s p la c a s d e m u ita s ro d o v ia s lse: L o n g a p is ta c o m defeitos; 15km d e p ista c o m d e fe ito etc. M a s n o se r e s ta u
ra... P o d e ria a t a v isa r o m o to rista p a ra q u e ele tivesse m a is c u id a d o , c o n tu d o
in f o r m a n d o q u e at o dia X e sta ria m te rm in a d o s os servios.
O p io r d e t u d o isso: a q u e la s p lacas, q u e se ria m p ro v is ria s, ficam perenes...
A F o lha d e S. P a u lo " in form a: "A s in fo rm a e s d o TSE (T rib un al S u p erio r
Eleitoral) m o s tr a m q u e 24,2% d o s 377 m il c a n d id a to s a p re fe ito , vice o u a v e re
a d o r d e c la ra ra m n o ter c o m p le ta d o o e n sin o fu n d a m e n ta l. O u tr o s 4,9% n o
p o s s u e m e n sin o form al, te n d o d e c la ra d o a p e n a s s a b e r 'le r e escrev er"'...
O p erfil o m e s m o d o e le ito ra d o b ra sile iro e n o m u d o u e n a s ltim a s
d c a d a s, n o se p o d e e s p e r a r q u e u m a p o p u la o c o m b aix a e sc o la rid a d e esco
lha r e p r e s e n ta n te s co m alto g ra u d e in stru o ", avalia O c ta c ia n o N o g u e ira , p r o
fesso r d e C in cia Poltica d a U nB (U n iv e rsid a d e d e Braslia). u m a q u esto
d e identificao".''^
A OAB, S u b se o d e M a rin g , fez p e s q u is a n o P a ra n e m n o v e m b r o d e 2001,
so b re o n vel e d u c a c io n a l d o s polticos, e c o n s ta to u q u e s a m in o ria te m g ra u
u n iv e rsit rio .

P R E F E IT O

VEREADOR

G ra u Incom pleto ......

.........15

1 G ra u I n c o m p le t o ..... .......4 4 3

G ra u C o m p le to ...........

.........22

1- G ra u C o m p l e t o ........ .......3 6 5

2-

G ra u Incom pleto........

.........08

2 - G ra u In c o m p l e t o .... ........ 116

G ra u C o m p le to ...........

.........60

2 G ra u C o m p l e t o ....... .......6 0 0

3 G ra u Incom pleto.........

.........08

3 G ra u In c o m p le to .... ....... 1 2 8

3 - G ra u C o m p le to ...........

.........77

3 G ra u C o m p l e t o ....... .......3 5 6

1-

TOTAL .........................

189

T O T A L ................................

2008

O b se rv a -se d o s grficos acim a q u e a q u e le s q u e tem o 3 g r a u c o m p le to se


to rn a m m in o ria a n te os d e m a is. Em face disso, o co rre o u tr o fato q u e o p o v o no
'3 In Folha de S. Paulo", 02,09.2004, p. A-6.

33

34

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

c o n se g u e ta m b m d isc e rn ir, c o m p re ju z o s irre p a r v e is socia lm e n te . Q u e m


u m excelente a d m in is tr a d o r c o m o p re fe ito n o significa q u e ser u m excelente
d e p u t a d o o u se n a d o r. A v ocao p a r a o L egislativo (s e n a d o r o u d e p u ta d o ) n o
a m e s m a q u e p a r a o Executivo. H excees, m a s s o ra ra s. P a ra p e rc e b e r
isso, b a s ta v erificar se tal poltico u m a p e sso a d e v is o a m p la . Se n o for, co m
certeza, s u a g e st o c o m o d e p u ta d o o u se n a d o r, se r p lid a ; se for, as e x p e ri n
cias c o m o a d m in is tr a d o r m u n ic ip a l o e n riq u e c e r o , p e r m itin d o - lh e fazer a in d a
u m a m e lh o r g e st o n a q u e le s c a rg o s legislativos.
G r a n d e p a r te d a s e m p r e s a s p b lic a s e d e e c o n o m ia m is ta (b a n c o s, c o m p a
n h ia s , f u n d o s fin a n c e iro s etc.) ta m b m s e r v ir a m d e tr a m p o l im p a r a in c o m
p e te n te s , q u e o c u p a v a m c a rg o s n a d ir e to r ia o u s u p e r i n te n d n c i a . E m p re s a s
q u e , p e lo s in c e n tiv o s fiscais e b e n e s s e s p o ltic a s , te r ia m p o r d e v e r so cial, n o
m n im o , s u p e r a r e m m u it o as e m p r e s a s p r i v a d a s n o m e s m o r a m o , a c a b a r a m
s e n d o l e v a d a s a d a r p r e ju z o s v o lu m o s o s n a o . C o m isso o g o v e r n o foi
o b r ig a d o a e m i ti r m o e d a s p a r a p a g a r ta n to p r e ju z o , p r o v o c a n d o a e s p ira l
in fla c io n ria .
A tu a lm e n te , n o Brasil, ocorre insatisfao d a m a io ria d o s leg isla d o re s, q u e
q u e r e m re a liz a r m u ito e m p ro l d o p o v o e n o c o n se g u e m , p e la p r p r ia e s tr u tu
r a d o P o d e r L egislativo; m u ita s v e z e s eles d e se ja m aes r p id a s e efetivas, m a s
e sta s so d e c o m p e t n c ia d o Executivo. P o r o u tro la d o , m u ito s p re fe re m aes
c o n c re ta s a fazer leis, e sta n d o , p o rta n to , m a is v o c a c io n a d o s p a ra o Executivo.
Essa in satisfao resso a n a s o c ie d a d e , q u e e sp e ra m u ito d o s leg isla d o re s, m as
s u a s e x p e c ta tiv a s so fru stra d a s.
A s o c ie d a d e s e m p r e p re c isa r d e polticos, p o r q u e o tcnico m u ita s vezes
n o p e rc e b e os efeitos n e g a tiv o s d e se u s atos. C o n tu d o , d e v e -se lu ta r p a r a q u e
n o o corra p ro fissio n a liz a o n a p o ltica o u d in a stia d e polticos.
o h o m e m q u e faz a in stituio , e n o ao c on trrio. E a g r a n d e z a d e u m a
in stitu io d ir e ta m e n te p ro p o rc io n a l g r a n d e z a d e c a r te r d o s h o m e n s q u e a
c o m p e m . n ecessrio , p o rta n to , o a p r im o r a m e n to d o P o d e r L eg islativ o e m
to d o s os m b ito s: m u n ic ip a l, e s ta d u a l e federal.

2.2.1 Processo legislativo


N o Brasil, o c id a d o fre q e n te m e n te se v e m sria d ific u ld a d e d e v id o ao
n m e r o excessivo d e leis, d a s q u a is ele pre c isa ria ter c o n h e c im e n to , m a s se q u e r
sabe q u a is e s ta ria m e m d isc u ss o n o C o ng resso . U m a m in o ria (p rin c ip a lm e n te

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

a d v o g a d o s , ju iz e s e m e m b ro s d o M in istrio Pblico) a c o m p a n h a a tram itao ,


p o r q u e est d ir e ta m e n te e n v o lv ida.
O a rtig o

3"

d a Lei d e In tro d u o a o C d ig o Civil c la ro a o esta b e le c e r q u e

n in g u m se esc u sa d e c u m p r ir a lei a le g a n d o q u e n o a conhece. A ssim , p r e v a


lece o critrio fo rm a l so b re o substancial: fo rm a lm e n te , to d o s d e v e m co nh ecer
as leis, a in d a q u e n o as c o n h e a m d e fato.
p reciso, e n t o , p o ssib ilita r ao c id a d o u m ra z o v e l c o n h e c im e n to d a s leis.
P ara isso, ne c e ss rio m o d ific a r a sistem tica d o p ro c e s so leg islativo , e n v o l
v e n d o a p a rtic ip a o d a socied ad e. Se esta p a rtic ip a r d o s d e b a te s d a s leis, p o r
in te rm d io d e su a s in stitu i e s, j ter u m b o m c o n h e c im e n to d e la s q u a n d o
fo re m a p ro v a d a s . p re fe rv e l q u e a a p ro v a o d a s leis d e m o re , m a s q u e haja
a m p la d iv u lg a o e debate.
D essa fo rm a , n e n h u m a lei d e v e se r a p r o v a d a p e lo C o n g re s so s e m q u e ten h a
sid o d is c u tid a p e la so c ie d a d e a tra v s d e rg o s d e classe (tais c o m o asso cia
es, s in d ic a to s, fe d e ra es e confederaes) e se m q u e se ja m a p r e s e n ta d a s s u
g estes p a r a o se u a p rim o ra m e n to .
C o m isso se r e d u z ir o n m e r o d e leis, in c lu siv e p o r q u e a q u e la s q u e forem
a p r o v a d a s a tin g ir o p le n a m e n te a su a fin a lid a d e . A v a n ta g e m d iss o q u e a
d e m o c ra c ia ser fortalecida, p o r c a u sa d o d e b a te e m to r n o d a s leis. M u ito s p r o
jetos d e lei m o r r e r o n o n a s c e d o u ro (leis u t p ic a s, d e m a g g ic a s). E os legisla
d o re s refletiro m e lh o r so b re a c o nv en in cia d e a p r e s e n ta r certos pro jetos, com
receio d e v -los rejeitados.
Ser m ais fcil g o v e rn a r, p o r q u e h a v e r u m s iste m a legislativ o m a is c o m
p a c to e s lid o , q u e e v o lu ir n a tu ra lm e n te , se m g r a n d e s q u e b ra s d e c o n tin u id a
d e , c o m o o co rre hoje. A s leis a c o m p a n h a r o m e lh o r as m u d a n a s sociais.
C o m a febre leg iferan te atu a l, e stam o s c o rro m p e n d o a d e m o cracia, pois, com o
d iz ia Tcito, o excesso d e leis to rn a c o rru p ta a re p b lic a (C orruptissim a republica
p lurim ae legis).

Q u e m so fre os efeitos o p o v o , p o r q u e a e n o rm e q u a n tid a d e d e leis ta m b m


p ro v o c a in s ta b ilid a d e social, a lm d e in s e g u ra n a jurd ica,
H o u tr o a sp e c to q u e pre c isa se r c o n sid e ra d o : n a s u a e la b o ra o , as leis d e
v e ria m receb er la p id a o p e lo s juizes. C o n v iria c ria r u m a c o m iss o p e r m a n e n
te d e ju iz e s e x p e rie n te s (alg u n s juizes d o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia e o u tro s
d o S u p re m o T rib u n a l Federal), p a ra q u e a v a lie m te c n ic a m e n te as leis, a n te s que
o p r e s id e n te d a R e p blica as sancione. A s leis d o C o n g re sso s o e n c a m in h a d a s

D I R C E U Q A L D I N O C A R O IN

d ire ta m e n te a o p r e s id e n te d a R ep b lica, e este, e m b o ra te n h a a sse sso ria ju r d i


ca, a d o ta u m a a n lise p re d o m in a n te m e n te poltica. O s ju iz e s e n c o n tr a m g r a n d e
d ific u ld a d e p a r a a a p licao d e d e te rm in a d a s leis, d e v id o a d v id a s d e in te r
p re ta o , q u e p o d e r ia m se r e lim in a d a s e m su a gnese.
Essa m e d id a seria im p o rta n te , p o r q u e q u e m a p lica as leis d e v e d e a lg u m a
fo rm a p a rtic ip a r d a e la b o ra o d e se u projeto. Isso seria feito a tra v s d e co m is
so d e s ig n a d a p e lo S u p r e m o T rib u n a l F ed eral, e m caso d e n o r m a c o n stitu c io
n al, o u d e s ig n a d a p e lo S u p e rio r T rib u n a l d e Justia, e m caso d e n o r m a infrac o n stitu cio n al.
H o u tr o a s p e c to q u e d e v e ria se r re p e n s a d o . N o s E s ta d o s U n id o s , q u e m
legisla q u a n to m a t ria p ro c e ssu a l d e q u a lq u e r n a tu r e z a a S u p re m a C o rte
A m eric a n a . E v id e n te m e n te , ela est m ais a p ta a faz-lo q u e o P o d e r Legislativo,
p o is ela q u e v iv n cia o p ro b le m a forense. P o r isso o s p ro c e sso s l a tin g e m
r a p id a m e n te a e fe tiv id a d e da justia, d ife re n te m e n te d a n o s sa m o ro s id a d e . N o
seria o caso d e ta m b m a d o ta rm o s esse b o m exem plo ?
A b e m d a v e r d a d e , o p o d e r L egislativo n o v ivn cia, n o d o m in a , n o ac o m
p a n h a a v id a fo ren se, p a r a le g islar so b re d e te r m in a d a m a t ria . D e v e faz-lo
q u e m a d o m in a . In d isc u tiv e lm e n te , o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l esta ria m e lh o r
a p a r e lh a d o e a p to a tal m ister, p o r m c o a d ju v a d o p o r r e p r e s e n ta n te s d a OA B e
d o M in ist rio P blico. So os trs a g e n te s d o processo; e ste s d e v e m p a rtic ip a r
ta m b m d a e la b o ra o d a s re sp e c tiv a s n o rm a s p ro c e ssu a is. Se a p e n a s o S u p re
m o legislar, e m b o r a c o n h e c e d o r da m a t ria , p o d e r c ria r u m a b so lu tism o .

2.2.2 Voto aberto


o vo to d o s p a r la m e n ta r e s d e v e se r a b e rto , p a r a q u e os eleito res sa ib a m co m o
eles v o ta m . A ssim h a v e r tra n sp a r n c ia , e v ita n d o -se m a n ip u la e s d e b a s tid o
res. O inicio d a q u e d a d o Im p rio R o m a n o o c o rre u e x a ta m e n te q u a n d o os votos
c o m earam a se r secretos, sin to m a d e c o rru p o , c o m o e x p e M o n te sq u ie u ;

Constitui u m srio p ro b le m a s a b e r s e os s u ir g io s d e v e m s e r pblicos


ou s ecreto s. C c e ro e s c re v e u q u e a s leis q u e to rn a ra m s e c re to s os sufr
gios no ltimo p ero d o d a repblica ro m a n a c on stituram u m a d a s c a u s a s
principais d e sua q u e d a . C o m o isso se pratica d e d ife re n te s m a n e ira s nas
d iv e rsa s repblicas, eis, creio, algo e m q u e n e c e s s rio pensar.
E s t fora d e dvida q ue, q u a n d o o povo vota, s e u s votos d e v e m s e r pbli-

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

COS. e isso d e v e s e r c o n s id e rad o c o m o u m a lei fu n d a m e n ta l d a d e m o c r a

cia. preciso q u e a p le b e se ja e s c la re c id a pelos principais e con tid a p ela


s e rie d a d e d e c ertos p e rs o n a g e n s .

E m b o ra a sesso seja p b lic a , se os v o to s n o fo re m a b e rto s, estar-se- p o s


te rg a n d o o p rin c p io d a tra n sp a r n c ia , q u e d e v e im p e r a r n a d e m o cracia.

2.2.3 A reeleio
p e r m itid a a reeleio p a r a p re s id e n te d a R e p b lica, g o v e r n a d o r e s d e E sta
d o e d o D istrito F ed eral, b e m c o m o p refeito s (CF, art. 14, 5^).
C o m b a se nisso, m u ito s e s ta tu to s d e e n tid a d e s p b lic a s e p r iv a d a s p re v e m
ta m b m a reeleio d e se u s p re sid e n te s.
T o d a v ia , n o aco n se lh v e l a reeleio, p o r m e lh o r q u e te n h a sid o o tra b a
lho d o p r e te n d e n te a ela, p o rq u e : a) dificulta a e m e rg n c ia d e n o v a s lideran as;
b) d im in u i o d in a m is m o e o r itm o d e tra b a lh o d o reeleito; c) e stratificam -se
g r u p o s n o p o d e r; d) c riam -se q u isto s e vcios n o p o d e r e n a q u e le s lig a d o s a ele;
e) te n d e a h a v e r a b u s o d e p o d e r o u d e a u to r id a d e , in c lu siv e c o m p r o p e n s o
p a r a a m a n u te n o d o p o d e r p o r n o v o s p e ro d o s ; f) c o m o te m p o cria-se certa
a p a tia n o g o v e r n a n te e n o g o v e rn a d o .
C o n tra -a rg u m e n ta -s e q u e , c o m a reeleio, h c o n tin u id a d e d e p la n o s e p r o
jetos re le v a n te s, p o r m n o se p o d e e sq u e c e r q u e to d a s as p r o p o s ta s , m e s m o de
p o ltico s a n ta g n ic o s, d e v e m ser a b so rv id a s, d e s d e q u e a te n d a m ao b e m co
m u m . Essa m u d a n a d e v iso d e v e o c o rre r c o m a c riao d o s C o n selh o s. A s
sim , a q u e le s p la n o s e pro je to s p o d e r o ter c o n tin u id a d e n a g e st o seg uin te.
C o m a reeleio su b jaz algo m ais com plexo: o te m p o d e m a n d a to p a ra
q u e m realiza p a s s a r p id o ; p o r m , p a r a q u e m age d e fo rm a in c o m p e te n te , d e
m o ra. A ssim , o p o v o fica v tim a d e ssa situ a o e p re c isa a g u a r d a r o m a n d a to
p a ra q u e haja m u d a n a . T alvez p u d e s s e se r c ria d o n o B rasil o m e s m o sistem a
d e recall d o s E s ta d o s U n id o s, q u e significa re v o cao d e m a n d a to . R etira-se o
m a n d a to d e q u e m est n o c o m a n d o , im p e d in d o - o d e c o n tin u a r a e x ercer a f u n
o p b lica. A d o ta d a essa a titu d e p e lo p o v o , n o v a p e ss o a seria eleita p a r a o
cargo.
O recall cabvel p a r a d e stitu ir do m a n d a to o p o ltico c o rru p to , o u cujas

MONTESQUIEU,

Do espirito das leis, v, XXI, p. 41

0 I R C 6 U G A L D IN O C A R D IN

p olticas g o v e rn a m e n ta is sejam c o n sid e ra d a s c o m o in a p r o p r ia d a s e ineficazes


p ela p o p u la o .
E m 2002 os e leito res califo rniano s fiz e ra m recall p a r a d e s titu ir d o c a rg o o
g o v e r n a d o r C ra y D avis, e le g e n d o o ato r A rn o ld S c h w a z e n e g g e r, p a r a se r o p r
xim o chefe d o Executivo. E m 1921, ta m b m o co rrera recall c o n tra L y n n Frazier,
d a D ak ota d o N o rte . A lg u n s tericos c o n stitu cio n alistas s u s te n ta m q u e , p o r ser
o recall p o u c o u sa d o , n o se justifica a su a in tro d u o n o Brasil. E n te n d e m o s
d ife re n te m e n te : o re m d io ju rd ic o d e v e existir, p a r a se r u tiliz a d o a d e q u a d a
m e n te q u a n d o n ecessrio , p o is fu n c io n a r c o m o p e n a lid a d e ao po ltico, e m e s
m o n o s e n d o a p lic a d o ele te m u m a fu n o in tim id a t ria . T a m b m e n te n d e m o s
q u e c ab eria recall q u a n d o o p o ltico faz u m a b a se d e c a m p a n h a d e f e n d e n d o
d e te r m in a d a id ia , e, d e p o is q u e a s s u m e o p o d e r , n o a im p le m e n ta , p o rq u e
era d e m a g g ic a , o u s im p le s m e n te p o r se r in exeq v el o u p o r q u e ele a u tilizo u
s im p le s m e n te p a r a criticar q u e m estava n o p o d e r. A e x p e ri n c ia d o s E stad os
U n id o s q u a n to ao recall p o d e r n o s ser til, ta n to q u e V nia Siciliano A ieta, no
a rtig o O Recall e o V o to D e stitu in te , conclui: "o recall p o d e se to rn a r u m in s tr u
m e n to e s p e ta c u la r d e d e m o c ra c ia p a rtic ip a tiv a " .^
D a m e s m a fo rm a q u e se p o d e r ia e lim in a r o m a n d a to d e q u e m n o
c o rre s p o n d e , ta m b m se p o d e ria p re s tig ia r q u e m est c o r r e s p o n d e n d o s ex
p e c ta tiv a s d a p o p u la o , p r o r r o g a n d o se u m a n d a to p o r m a is d o is an os. Q u e m
sab e seria u m a fo rm a d e d a r u m eq u ilb rio a tu a l situ ao, e m q u e m u ito s , q u e
est o re a liz a n d o b o m tra b a lh o , d e sv in c u la m -se d o c a rg o e m p re ju z o d a p o p u
lao, e o u tr o s , q u e d e v e r ia m se r ex p e lid o s, c o n tin u a m u s a n d o a m q u in a a d
m in istra tiv a e m benefcio pr p rio .
J ficou c o m p r o v a d o q u e , n a m aio ria d o s casos, n a s e g u n d a g e st o h certo
c o m o d ism o d o E xecutivo, a in d a q u e se d c o n tin u id a d e a a lg u n s p ro jeto s. A
ten d n cia q u e a s e g u n d a g esto fique a m o rfa e aptica. E o p re ju z o , q u e m
sofre, a c o m u n id a d e . A p o ssib ilid a d e d e p ro rro g a o d e m a n d a t o d a ria u m
p o n to d e eq u ilb rio a essa situao.

2.2.4 Os partidos politicos


A m a t u r i d a d e p o ltica d e u m p o v o a tin g id a q u a n d o ele v o ta v ista d o
p a rtid o , d e su a s d ire triz e s filosficas. E lab o rad o s os p la n o s po ltico s d o s p artiR e vista d e D ire ito C o n stitu cio n a l e Internacional. So Paulo. RT, ano 10, julho-selembro 2002, n- 40,
p. 169.

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

d os, os e leito res d e v e r ia m v o ta r a vista d esses p la n o s. N o Brasil, to d a v ia , q u ase


s e m p re se v o ta se m c o n s id e ra r esse aspecto, o u seja, v o ta -se se m le v a r e m c o n
sid e ra o o p a r tid o a q u e o c a n d id a to est filiado. E ra r a m e n te os eleitos o b se r
v a m as d ire triz e s fix adas p o r se u p a rtid o , fa z e n d o o q u e , n o m o m e n to , m ais
lhes p a re c e c o n v e n ie n te p a r a s e d im e n ta r s u a c a rre ira po ltica. P a ra isso, fre
q e n te m e n te a t m u d a m d e partid o .
F e rn a n d o P e d re ira incisivo;
H o je, na m a io ria d a s v e z e s , a v o n ta d e p o p u la r g ro s s e ira m e n te trada
p o r u m a r c u a d e partidos e le g e n d a s q u e n o p a s s a m d e g a z u a s eleito
rais, d es p ro v id o s d e q u a lq u e r re p re s e n ta tiv id a d e v e rd a d e ira . M q u in a s
p artid rias e as d e d iversas p e q u e n a s a g r e m ia e s e s t o f re q e n te m e n
te e n t re g u e s a v e rd a d e ira s m fia s corruptas e ine s c ru p ulo sa s . S o e s s as
m fia s q u e e s c o lh e m os c a n d id a to s e os im p in g e m a u m e le ito ra d o d e s a
ten to q ue, e m g eral, n o te m s e q u e r id ia d e q u e m e s t m a n d a n d o para
a s c m a r a s legislativas.
S e ria preciso re fo rm a r ra d ic alm e nte tudo isso....

A rig o r, os p a r tid o s po lticos bra sile iro s d e v e m se r ex tin to s; so d e sn e c e ss


rios ao d e s id e r a to d e se a tin g ir o b e m c o m u m , p o r q u e se u s objetiv os e sto s u
p e ra d o s . N e n h u m p a r tid o d e t m u m a linh a n tid a d e a tu ao . Suas p r o p o sta s
e sm a e c e ra m . O e leito r n o tem co n dies d e o p ta r p o r d e te r m in a d o p a r tid o
v ista d e s e u p ro je to poltico. V ota s e m p re no c a n d id a to , in d e p e n d e n te m e n te do
p a rtid o . A lis, fre q e n te m e n te os p a rtid o s se d e f r o n ta m c o m u m a p e r g u n ta in
digesta: se a q u a s e to ta lid a d e d o s eleitores v o ta se m le v a r e m c o n sid e ra o os
p a rtid o s , q u a l a r a z o d a existncia destes?
A ssim , seria n e c e ss ria u m a reviso d o s asp e c to s id eo l g ico s d o s p a rtid o s,
d ire c io n a n d o -o s ao b e m c o m u m . O m u n d o m u d o u , e m u ito . N o se p o d e m ais
ater-se a id e o lo g ia s s e p u lta d a s p e lo te m p o o u p e la h ist ria . p re c iso q u e os
p a r tid o s in d iq u e m c a m in h o s p a r a o b e m -e sta r social, m a s d e n tr o d o co ntex to
atual. Eles d e v e m m ir a r o fu tu ro , m a s a g in d o n o p re s e n te , com so lu es efica
zes. P o r isso, seria im p o r ta n te q u e c a d a p a r tid o tiv esse caractersticas e f u n d a
m e n to s filosficos b a s ta n te s lid o s e claros, a fim d e q u e o e leito r p u d e s s e ve ri
ficar c o m q u a l d e le s tem m a io r afin idad e.
PEDREIRA, Fernando. Q u e m vem p a ra o ja n ta i^ In 0 Estado de S. Paulo, 1 de abril de 2001, p. A-2.

39

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

T a m b m seria n e c e ss rio m o d ific a r o siste m a d e coeficiente eleitoral, p a ra


q u e n o o co rra, c o m o te m o c o rrid o , q u e u m c a n d id a to q u e tev e e x p re ssiv a v o
tao in d ir e ta m e n te eleja c a n d id a to s com m in g u a d a votao. Estes a c a b a m eli
m in a n d o b o n s c a n d id a to s d e o u tro s p artid o s.
O p r o b le m a m a is cru cial com q u e se d e fro n ta n o m u n d o d a p o ltica a falta
d e c u ltu ra d o p o v o . P o u c a s p e s so a s p r o c u r a m se a p r o f u n d a r n a cincia p oltica
e a c o m p a n h a r a s a tu a e s polticas. P o r e ssa ra z o , os p a r tid o s m u ita s v e z e s
oferecem a o p o v o c a n d id a to s p o p u lis ta s , m a s com m io p ia c u ltu ra l, p o is sa b e m
q u e ele s t r a z e m v o to p a r a o p a r ti d o . E m e r g e m a s s im i n m e r o s p o ltic o s
d e s p r e p a r a d o s e d e m a g o g o s . E o p o v o a p e n a s p e rc e b e q u e v o to u m a l n o d e
c o rre r d o m a n d a t o d e ss e s p o ltico s, o u c o m o d iz F ra n c o S o b rin h o : " O s p a r ti
d o s p o ltic o s, p o r falta d e u n i d a d e e re s p e ito p r o g r a m a o , n o p r o c u r a m os
q u a s e - m e lh o r e s o u q u a s e -c a p a z e s , q u e d e p o is s a lia n a m in te n e s c o n fo r
m e d ite m os in te r e s s e s p e sso a is. D iv id e m a n a o e m b lo c o s h e te r o g n e o s ,
n o s q u a is o m a io r o b je tiv o o p o d e r p a r tilh a d o e n tr e m a io r e s e m e n o r e s com e n sa is polticos.
H d c a d a s o p o v o sab e d isso e c o n tin u a cego e s u r d o n a s u a p a rtic ip a o
eleitoral. A lg u n s d iz e m q u e falta e d u c a o , p r e p a r a n d o o c id a d o p a r a se r u m
se r poltico. Eu d ig o q u e , al m d e e d u cao , falta p a trio tis m o o u conscincia d o
d e v e r eleitoral. Se a ssim c a m in h a rm o s , j n o p r x im o scu lo , e s ta re m o s d e sfi
g u r a d o s c o m o n ao ".
S om ente ser possvel sair d esse fosso q u a n d o for p ro p ic ia d a c u ltu ra ao povo,
pois a p rim o ra n d o -s e o nvel d o s eleitores estar-se- a p r im o r a n d o o d o s c a n d id a
tos. T o d av ia, p a ra o a p rim o ra m e n to do s p a rtid o s im p re sc in d v e l a fidelidade
poltica, C o m a abolio dela, os p a rtid o s d ilu ra m a essncia d a tica poltica.

2.2.5 As campanhas eleitorais


O s e le v a d o s g a sto s c o m c a m p a n h a s eleitorais s o u m a c on fisso p b lic a e
n o t ria d e c o rru p o . C o m p u ta n d o - s e to d a s as re m u n e ra e s q u e o eleito rece
b e d o s cofres p b lic o s d u r a n te se u m a n d a to , verifica-se q u e s o m u ito in ferio
re s ao q u e foi g a sto n a c a m p a n h a . E n to, b v io q u e eles q u e r e r o r e c u p e ra r
p e lo m e n o s o q u e g a s ta ra m , p o r q u e n in g u m c a n d id a to p a r a fazer ca rid a d e .
M u ito s de le s n o g a s ta m d in h e iro p r p rio ; s u a eleio fin a n c ia d a p o r g ru p o s
Op. cit. Ouvidos bem $urdos, olhos bem fechados, p. 164.

DE S A FIO S DA C i d a d a n i a

p o d e ro s o s , in c lu siv e d e b ic h e iro s o u d e traficantes, o q u e os o b rig a a ag ir de


a c o rd o c o m a o rie n ta o d e sse s g ru p o s.
A c o rru p o p o d e o c o rre r e m d o is m o m e n to s; a n te s d a s eleies, q u a n d o se
a n g a r ia m f u n d o s , in d o a l m d o s lim ites e p r o c e d im e n to s p r e v is to s e m lei, e
d e p o is d e la s, a tra v s d e d iv e rsa s fo rm as d e a tu a o , p o is frtil o c a m p o p a ra
o b te r p ro p in a s : "c o m p e n sa o " p a ra a p re s e n ta r p ro je to s d e lei d e in te re sse s de
g r u p o s o u p a r a v o ta r neles, p a r a c o n tra ta r o b ras, p a r a lib e ra r c o n stru e s, p a ra
lib erar v e rb a s p a r a d iv e rso s fins...
H o u tro n g u lo d a c a m p a n h a , m u ito in te re ssa n te p a r a a lg u n s polticos, com o
rev e la o jo rn a lista A lex G u te n b e rg :
N u m d e te rm in a d o m o m e n to d a c a m p a n h a d e 1 9 8 6 , a s burras e s ta v a m
c h e ia s . E m p o rtu g u s m ais a c e ss v e l, a g ra n a e s ta v a n a s co n tas b a n c
rias d o s la ra n ja s e dos d iversos c a ix a s 2. Foi q u a n d o , n u m a d a q u e la s
reu ni es, d e s ta v e z s e m os e m p re s rio s , a p e n a s c o m polticos, u m c a n
d idato a d e p u ta d o e s ta d u a l m a is in g nu o p erguntou: E s e e u p e rd e r?
'O r a , d is s e o poltico e x p e rie n te , c o n h e c id o n a c io n a lm e n te , se a lg u m
aqui perder, n o f a z mal algum , V o c p re c isa a p r e n d e r q u e a g e n te fa z
c a m p a n h a p a r a g a n h a r dinheiro e n o p a r a g a n h a r e le i e s . A g ra n a que
e n tra tim a, reso lve o p ro b le m a d a s u a vida. S e por a c a s o o sujeito for
eleito, fica c o m b n u s . J a m a is m e e s q u e c e re i d a q u e la s p a la v ra s , a ind a
m a is vin d a s d e um sujeito d e primeiro e s c a l o d a poltica brasileira,
N o c a s o Collor, c o m e n ta v a -s e q u e a d in h e ira m a le v a n ta d a pelo P. C . F a
rias d u ra n te a c a m p a n h a c h e g a v a a 1 bilho d e d la re s . N o e x a g e ro .
M u ita g en te m o rreu por c a u s a d a g ra n a .

P o r e s sa s ra z e s, d e v e se r r e p e n s a d a a fo rm a a tu a l d e fin a n c ia m e n to d a s
c a m p a n h a s e leito rais, q u e e sto c o m p r o m e te n d o o p r p r io s iste m a d e m o c r ti
co, c o m o a d m o e s ta C a rlo s H e ito r Cony; " O fin a n c ia m e n to d a s c a m p a n h a s fu n
ciona c o m o u m v r u s q u e infecta to d o o sistem a. P o d e p a re c e r in sig n ific a n te se
c o m p a r a d o a o s g r a n d e s d esafios d a n ao , m a s o e s tra g o q u e faz n o s circuitos
in te rn o s d o c o m p u ta d o r , o u m elh o r, d a m q u in a d o g o v e rn o , to rn a v en al toda
a e s tr u tu r a d o E stado".'^
GUTENBERG, Alex. Polticos querem fazer dinheiro na campanha. V encer e le i o um a histria

secur)dria. Jornal 0 Estado do Paran , 24 de maro de 2002, p. 9.


CONY, Carlos Heitor. 0 vrus e a ir)feco. In Folha de S. P aulo, 5 feira, 5 de junho de 2003, p. A-2.

41

42

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

T od av ia, a in d a p r e te n d e m q u e haja fin a n c ia m e n to p b lic o d e c a m p a n h a s , o


q u e , m a is u m a vez, p ro v o c a r a sa n g ria d o E stad o . O c u sto p b lic o , e m v ez d e
se r re d u z id o , se r a u m e n ta d o . O co rrer a socializao d o s p re ju z o s, q u e sero
tra n sfe rid o s socied ad e.
p o s sv e l q u e o re g im e d e m o c r tic o n o e n c o n tre u m a so lu o satisfatria
p a ra esse p ro b le m a , c o m o at hoje n o foi e n c o n tra d o . T alvez se p o ssa , co m o
a lte rn a tiv a , fa z e r c o m q u e o s c a n d id a to s sejam e s c o lh id o s p e lo C o n s e lh o da
C id a d a n ia , d e n tr e a q u e la s p e sso a s q u e se u s m e m b ro s ju lg a re m a p ta s ao cargo.
P o d e-se a d o ta r d o is cam in ho s: a) os m e m b ro s d o C o n se lh o e s c o lh e ria m d e n tro
d a c o m u n id a d e os m e lh o re s a d m in istra d o re s, e assim , p o r ex e m p lo , se o C o n
selho n o m b ito m u n ic ip a l, ind ic a ria o p re fe ito e o vice, e a p s h a v e ria u m
p leb iscito q u e h o m o lo g a ria os n o m e s o u os recusaria; b) os m e m b ro s d o C o n s e
lh o e sc o lh e ria m o s a d m in is tra d o re s q u e m a is c o r r e s p o n d a m s e x p e c ta tiv a s d a
p o p u la o . In d ic a d a s, p o r ex em p lo , 4 (qu atro ) p esso as, o p o v o d e c id iria q u e m
seria o p re fe ito e o vice. N e ste ltim o caso, h a v e ria o in c o n v e n ie n te d e o co rrer
ta m b m a p r o p a g a n d a poltica.
De q u a lq u e r fo rm a, u m a soluo precisa ser e n c o n tra d a , a in d a q u e n o satis
faa a to d o s, p o r q u e , caso c o n tr rio , e s ta re m o s d ia n te d e u m a irre to rq u v e l
c o rru p o d a dem ocracia, q u e principia com as c a m p a n h a s eleitorais. T o d o p a rti
d o q u e r p e rm a n e c e r no p o d e r, e, p a ra co lim ar esse objetivo, precisar d e recursos
financeiros. C o n se q e n te m e n te , q u e m estiver n o p o d e r b u s c a r p ro p in a s n os re
lacionam entos; se a in d a n o est no p o d e r p ro c u ra r a ascen so ta m b m b u s c a n
d o p ro p in a s, alm d e fazer p ro m e ssa s e m relao q u e le s q u e o a ju d arem . Esse
pacto d o silncio oco rrer e m q u a lq u e r hiptese. e x a ta m e n te aq u i o calcanhard e-A quiles d a D em ocracia, tan to q u e o cientista poltico R a y m o n d A ron, louvando-se e m Jos O rte g a y G asset, assevera: "A s a d e d a s d e m o cracias - q u a lq u e r
q u e seja se u tip o e g ra u - d e p e n d e d e u m h u m ild e p o r m e n o r tcnico: o p ro c e d i
m e n to eleitoral. T u d o o m ais secun d rio. Se o reg im e d a s eleies o p o rtu n o ,
a d e q u a d o re a lid a d e , tu d o v a i bem ; e m caso contrrio, a in d a q u e tu d o o m ais
m a rc h a sse d a m e lh o r m a n e ira possvel, as coisas iriam m al. N o p rin c p io d o p r i
m e iro sculo, a n tes d e Jesus Cristo, R om a era p o d e ro sa , rica, n o tinh a inim igos.
C o n tu d o , esteve a p o n to d e se a rru in a r, p o rq u e se o b stin a v a e m c o n se rv a r u m
reg im e eleitoral est p id o . O ra, u m reg im e eleitoral e s t p id o q u a n d o falso".
ARON, Raymond. E stu d o P oltico. P e n sa m e n to P oltico. Traduo de Srgio Bath, 2. ed. Editora
Universidade de Braslia. Braslia, 1985, p. 193.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

A c e ita m o s a c o rru p o e a ela fecham o s os olhos, c o n tin u a n d o a v iv e r no


p a s do faz-de-conta, o u d ire m o s n o c o rru p o , e b u s c a r e m o s m eio s d e m o ra
lizar as c a m p a n h a s eleitorais. A nao decide.

2.3 DO PODER EXECUTIVO


2.3.1 Medidas provisrias
M e d id a s p ro v is ria s tm sid o b a ix a d a s com fre q n c ia e x a g e ra d a , e m b o ra
m a is r e c e n te m e n te o n m e r o de la s te n h a d im in u d o . R ep ete-se o e rro q u e o co r
re u com os decreto s-leis, p o c a d o re g im e m ilitar. C o m o eles ficaram d e s m o
ra liz a d o s, fo ra m c ria d a s tais m e d id a s , m a s n a e ssn cia elas ex e rc e m a m e sm a
fu n o n o r m a tiv a d a q u e le s decretos.
O d e creto -lei foi c ria d o n a Itlia, e m 1926, p a r a m a t ria s d e assoluta ed u rgen
te necessita. P o r c a u s a d o s a b u s o s q u e p a s s a ra m a se r c o m e tid o s, a lei d e 1 9 / 0 1 /

39 lim ito u se u e m p r e g o aos casos d e g u e rra , finan as p b lic a s e n o r m a s trib u t


rias. D e fato, d u r a n te a S e g u n d a G u e rra M u n d ia l o E x e cu tiv o p re c is a v a d is p o r
d e u m in s tr u m e n to n o r m a tiv o q u e lhe p e rm itiss e a g ir r a p id a m e n te a re sp e ito
d a q u e la s m a t ria s. N a F ran a o c o rre u o m e s m o fato d u r a n t e a S e g u n d a G u e rra
M u n d ia l.
N o Brasil, o d e creto -lei r e p r e s e n to u a a tiv id a d e n o r m a tiv a d o P o d e r Exe
c u tiv o , q u e d e s p o n to u n a C a rta d e 10 d e n o v e m b ro d e 1937. N o e sta v a p re s e n
te n a C o n stitu i o F e d e ra l d e 1946, m a s se u re a p a re c im e n to d e u -s e p e la C o n s ti
tuio F e d e ra l d e 24 d e ja n e iro d e 1967. R e ssu rg iu com os A to s In stitu c io n a is n"
2 (arts. 30 e 31) e n^ 4 (art. 9", 1"). O artig o 58 d a C o n s titu i o F ederal d e 1967
n o r m a tiz o u a m a t ria , e p o s te rio rm e n te o a rtig o 55 d a EC n 1, d e 1 7 /1 0 /6 9 ,
estabeleceu;

"Art. 5 5 . O P re s id e n te d a R ep b lica, e m c a s o s d e u rg n c ia ou d e inte re s


se pblico re le v a n te , e d e s d e q u e n o h a ja a u m e n to d e d e s p e s a , p o d er
e x p e d ir d e c re to s -le is s ob re a s s e g u in te s m a t ria s ; I - s e g u ra n a n a c io
nal; II - fin a n a s pblicas, inclusive n o rm a s tributrias; e III - cria o de
c a rg o s pblicos e fixa o d e v e n c im e n to s .

C o m o d u r a n te o re g im e m ilitar h o u v e excesso d e d ecreto s-leis, a p o n to de


e ss e i n s t r u m e n t o le g is la tiv o ficar d e s m o r a liz a d o , p a s s a n d o a s im b o liz a r o

43

44

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

a u to rita ris m o , a C o n s titu i o F e d e ra l d e 1988 crio u as m e d id a s p ro v is ria s , em


s u b stitu i o q ueles; c o n tu d o , c o n tra d ito ria m e n te , a m p lio u o le q u e n o rm a tiv o :

Art. 6 2 E m c a s o d e re le v n c ia e urg n cia, o p re s id e n te d a R e p b lic a


p o d e r a d o ta r m e d id a s provisrias, c o m fo r a d e lei, d e v e n d o s u b m e t las d e im e d ia to a o C o n g re s s o N acion al, q u e , e s ta n d o e m re c e s s o , s e r
c o n v o c a d o e x tra o rd in a ria m e n te p a r a s e reunir no p ra z o d e cinco dias".

A ssim , as M P s ficaram m a is a b ra n g e n te s q u e os decretos-leis.


v e r d a d e q u e a pr tic a d e m o n s tr o u a "n e c e ss id a d e d e a to n o r m a tiv o ex
cepcio n al e clere, p a ra situ a es d e relev n cia e u rg n c ia " ^ ', co n tu d o , esse n o v o
in s tru m e n to tem sid o e m p r e g a d o e m excesso, e m p re ju z o d e c o m p e t n c ia o ri
g in ria d o P o d e r L egislativo. E h u m a ag ra v a n te : o S u p r e m o T rib u n a l F ederal
tem sis te m a tic a m e n te d a d o tu tela a essas m e d id a s , e n te n d e n d o q u e a p o n d e r a
o d o s critrio s d e u rg n c ia e d e relev n cia so a to s d iscricio n rio s, q u e to r
n a m im p o ssv e l q u a lq u e r esp cie d e controle, c o m o q u e ficaria v e d a d o a o P o
d e r Jud icirio a p re c ia r o a te n d im e n to d e tais requisitos.
O ra, isso u m a a titu d e p oltica e tpica d e P ncio Pilatos, q u e lav a as m o s,
p o r q u e n o difcil sa b e r se d e te r m in a d a m e d id a re le v a n te e u rg en te... Foi
d a d o u m c h e q u e e m b ra n c o a o E xecu tiv o p a r a leg islar d e a c o rd o c o m s u a c o n
ven in cia.
A p rin c ip a l fu n o d o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l p r o te g e r a C on stitu io ,
S e n d o ele g u a r d i o d e sta , ta m b m o ser d a so cied ad e. N a a tu a l circu n st n c ia ,
d e se p e r g u n ta r , c o m o o r o m a n o Ju v e n a l, n o s c u lo

II:

Q u is custo d iei ipsos

citstodes? (Q u e m c u s to d ia r os cu st d io s?)

A m a io ria d a s m a t ria s trib u t ria s v e ic u la d a a tra v s d e m e d id a p r o v is


ria, v is a n d o a u m e n ta r a a rre c a d a o p e lo p o d e r p blico , in c r e m e n ta n d o o ter
ro ris m o fiscal e m q u e o p a s v iv e h m u ito tem po.
H m e d i d a s p r o v is r ia s q u e , a n te s d e s e re m a p r o v a d a s , t m n u m e r o s a s
reedies. P o r ex e m p lo , o real foi in s titu d o pe la M P n" 542, d e 3 0 / 0 7 / 9 4 , q u e s
foi c o n v e rtid a e m Lei e m 1 9 /0 2 /0 1 ... E a M P so b re e m iss o d e ttulo s d a d iv id a
p b lic a j est e m s u a 89' edio... Se p ro v is ria , c o m o se explica e sse e x a g e ra
d o n m e r o d e reedies?!
RAMOS, Saulo. A n o va o rde m co n s liiu c io n a l: a sp e cto s p o l m ico s. Rio de Janeiro; Forense, 1990, p.
530.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

O e x -p re s id e n te N ac io n a l d a OAB, R u b e n s A p p r o b a to M a c h a d o , o b se rv o u
a r g u ta m e n te :
"O prprio lder do g o vern o (o d ep u ta d o tu c a n o A rth ur Virglio, do A m a z o
n as) d isse re c e n te m e n te q u e 'o p as fica in g o v e rn v e l s e m a s m e d id a s
p ro vis rias. S e aquilo q u e e ra ex c ep c io n a l virou n orm a l, sinal d e q u e o
n o rm a l virou e x c e o . E s ta m o s , p ortan to , e m um re g im e d e e x c e o .
T e m o s u m a c o n c e n tra o a b s o lu ta d e p o d e re s n a s m o s do Executivo,
q u e fa z u m p a rla m e n ta ris m o s a v e s s a s . 0

E x e c u tiv o d e t m p o d e r de

legislar, tirando a s fina lida d e s do P o d e r Leg islativo .

C o ra jo s a m e n te , o m in is tro M arco A u rlio , q u a n d o v ic e -p re s id e n te d o S u


p r e m o T rib u n a l F ed eral, criticou c o m vee m n c ia o a b u s o d e p o d e r n a e d i o de
m e d id a s p ro v is rias:
E s ta e d it a d a e re e d ita d a s e m p e ia s , c h e g a n d o - s e , a t m e s m o , a o
e m b a ra lh a m e n to d e m atrias. A d e m a is , no raro te m u tiliza o p ro vo c a d o ra d e u m m a io r d es e q u ilb rio d e fo r a s , c o n flita n d o , a s s im , c o m os
a r e s d e u m v e r d a d e i r o E s t a d o D e m o c r t ic o d e D ire ito . m e r c d a
p o te n c ia liz a o d e in te re s s e s s e c un d rio s do E s ta d o -

U n io , Es ta do s

p ro p ria m e n te ditos. M un icpios, fu n d a e s p blicas e a u ta rq u ia s


s a m , c o s tu m e ira m e n te , s o b re tra ta m e n to p riv ileg ia d o -

v e r

e a expresso

e x a ta e s s a - d is p e n s a d o s e n tid a d e s pblicas. A l m disso, v e m s u r


gin d o te n d n c ia e s p ria . P o r m eio d e m e d id a s provisrias - e, portanto,
d e instru m en to s com fora d e lei d e c a r te r p re c rio e e f m e ro q u e a c a
b a m s e p e rp e tu a n d o no c a m p o d a s re la e s jurdicas, s e m q u e s e con te
c o m a m a n ife s ta o dos re p re s e n ta n te s do povo - os D e p u ta d o s F e d e
rais - e dos Es ta do s - os S e n a d o re s - c e rc e ia -s e ofcio ju d ic a n te , proi
b in d o -s e ce rtos ato s p ro ce s s ua is s e m u m a ra z o p la u s v e l, a o m e n os
s o c ia lm e n te a c e it v e l. O p od er jud icante p re s s u p e a tiv id a d e q u e p ossa
s e r d e s e n v o lv id a s e m em p e c ilh o s . N o e x e rc c io q u e lhe p ertin ente, o
rg o h d e a tu a r c o m a m p la liberdade, a p e n a s s u b m e te n d o -s e fo rm a
o h u m a n s tic a e profissional d a q u e le q u e o corporifica. R e c e a m o s , pelo
a n d a r d a s coisas e e m te m p o no q ual se m a n u s e ia o instituto d a m e d id a
MACHADO, Rubens Approbato. 0 p re sid e n te u m im pe ra do r. In Isto ", 21 dez, 2001, p. 10.

46

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

p rovisria c o m a finalidad e, a t m e s m o , d e a fa s ta r ju ris p ru d n c ia d a m ais


a lta C o rte do P a s , q u e d en tro e m pouco fiq u e m inv ia b iliza d a s a o cid a d o
c o m u m , sob o ng ulo d a e fic c ia d a p re s ta o jurisdicional, d e m a n d a s
c on tra o P o d e r Pblico, ta m a n h a a c on struo n o rm a tiv a a lic e r a d a e m
p se u d o -in te re s s e coletivo.^

P o s te rio rm e n te a e ssas crticas e, p rin c ip a lm e n te , a p s corajoso d is c u rso d o


p r e s id e n te N a c io n a l d a O A B, Dr. R u b e n s A p p r o b a to M a c h a d o , n a p o s s e d o
m in istro M a rc o A u r lio , foi a lte ra d a a sistem tica d a s m e d id a s p ro v is ria s , a tr a
vs d a E m e n d a C o n stitu c io n a l n " 32, d e 1 1 /0 9 /0 1 . C o m essa e m e n d a , o p ra z o
d e v ig n c ia d a s M P s p a s s o u a se r d e 60 d ia s (art. 62 d a EC n" 32).
c erto q u e e sse p r a z o era d e 30 (trinta) d ia s e p a s s o u a ser d e 60 (sessenta),
a d m itin d o -s e u m a p ro rro g a o d e 60 (sessenta) d ias, m a s h o u v e significativo
p ro gresso: a p ro ib i o e x p re ssa d e reed i es n o m e s m o a n o leg islativ o, e x p e d i
e n te la rg a m e n te u tiliz a d o p e lo P o d e r Executivo, c o n fo rm e o 10 d o artig o 62 d a
E m e n d a C o n stitu c io n a l n" 3 2 /01 .
" 10: v e d a d a a reedio, n a m e sm a sesso legislativa, d e m e d id a provisria
q u e tenha sido rejeitada o u q u e tenha p e rd id o sua eficcia p o r decu rso d e prazo".
E n tre ta n to , c o n tin u o u a p o s sib ilid a d e d e , a tra v s d e M P , o E x e cutivo in sti
tu ir o u m a jo ra r im p o s to s ( T d o art. 62 d a EC n 3 2 /0 1 ), o q u e c o n tra ria o
sistem a con stitu cio n al brasileiro, q u e so m e n te a d m ite a in stitu io o u a m ajorao
d e trib u to s a tra v s d e lei e m se n tid o estrito, c o n fo rm e o art. 1 5 0 ,1, d a CF.
Alis, a in stitu i o o u a m ajorao d e trib u to s p o r a to d o E xecu tiv o in c o m
patv el c o m o siste m a a d o ta d o p ela CF, q u e c e n tra liz o u n o P o d e r L egislativ o tal
p re rro g a tiv a , e isso p a r a q u e o c id a d o tivesse se g u ra n a ju rd ica.

2.3.2 O nepotismo
A p a la v ra " n e p o tis m o " v e m d o la tim "n e p o te " (neto, so b rin h o ), e significa
fav oritism o, p ro te o esca n d a lo sa , filhotism o^^ P o d e-se d iz e r q u e n e p o tis m o
o fa v o re c im e n to a p a r e n te s d e m e m b ro s d o s P o d e re s E x ecu tiv o, L egislativo o u
Ju d icirio , p rin c ip a lm e n te p a r e n te s d e polticos, p o r m e io d e n o m e a o p a ra
fu n es p blicas.
MELLO, Marco Aurlio Mendes de Farias. Judicirio: uma viso realista. In In fo rm a tivo A D C O A S . n
31, novembro de 2000, p. 3.

G ra n tie Enciclopdia Larousse Culural. So Paulo; Nova Cultural, 1998. v. 17, p. 4187.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

N o s re g im e s a u to rit rio s ele in ev itv el, m a s d e v e se r a b o m in a d o n o re g i


m e d e m o c r tic o , v ista d a ig u a ld a d e d e direitos.
Q u a n d o se tra ta d e e sco lh er aux iliares p a ra c a rg o s d e co nfian a, os q u a is so
n o m e a d o s s e m c o n c u rs o p b lic o e so d e m issv e is ad n u tu m , a justificativa que
a lg u n s po ltico s a p re s e n ta m q u e p re c isa m e sc o lh e r p e s s o a s d e su a a b so lu ta
confiana, e e n tre e sta s se d e s ta c a m os fam iliares.
G e ra lm e n te , e ssa justificativa n o p a ssa d e m e ro p re te x to , p o is n o seria d i
fcil e n c o n tra r fora d a fam lia p e sso a s q u e , a l m d e confiveis, te n h a m excelen
tes c o n d i e s p a r a o exerccio d a funo. Se se c o n s id e ra r ra z o v e l a indicao
d e m e m b r o d a fam lia, p a re c e -n o s q u e d e v e ria se r a d m itid o a p e n a s u m , e m e d i
a n te certas con d ies, c o m o d e te r m in a d a qualificao p ro fissio n a l e e x p e ri n
cia n a rea e m q u e ir atuar.
Essa exceo c o n firm a ria a regra: as fu n es p b lic a s d e v e m ser exercidas
p o r p e s s o a s eficientes e h o n e s ta s , in d e p e n d e n te m e n te d e s u a orig e m .

2.3.3 Gesto administrativa


A caracterstica bsica d e u m b o m g o v e rn o te r u m a b o a e q u ip e , q u e tenha
excelente c a p a c id a d e a d m in is tra tiv a . Se as p e s so a s q u e o c u p a m d e te r m in a d o s
carg os n o fo re m eficientes tcnicos, ser u m d e s a s tre , a p e s a r d o e m p e n h o d a
q u e le q u e c o m a n d a . A lis, u m d o s p ro b le m a s cru ciais n o Brasil a m -g esto
a d m in is tra tiv a , n o q u e con c e rn e aos recu rso s p blico s. A in c o m p e t n c ia tro p e
a n a in c a p a c id a d e . O p e r d u la r is m o se alastra. E u m a d a s ra z e s d o d e se n c a d e a m e n to d e p ro b le m a s n o E sta d o a falta d e d im e n s io n a m e n to d o ta m a n h o real
dele. A c o n ta b ilid a d e p b lic a n o tem sid o a fo tog rafia d a re a lid a d e .
M uitas vezes a e stru tu ra adm inistrativa arq u itetad a com exclusiva finalidade
poltica. Constata-se esse fato q u a n d o a u m e n ta d o d e form a expressiva o n m e ro
d o s cargos e m com isso, q ue, despiciendo dizer, so cargos d e confiana.
M a c h a d o H o r ta le m b ra q u e n o e s tu d o d o siste m a d e m o c r tic o n o rte -a m e ri
c ano Ja m e s Bryce " a p o n to u os trs vcios q u e c o r r o m p ia m o siste m a d e m o c r ti
co n o rte -a m e ric a n o : o p o d e r excessivo, exercido p e lo s g r a n d e s p a r tid o s p o lti
cos, a in flu n c ia ilegtim a d o d in h e iro n a a tiv id a d e leg isla tiv a e o a v ilta m e n to
d a fu n o p b lic a , n a fo rm a re m u n e ra t ria d a a trib u i o d e c a rg o s e com isses,
p a ra re c o m p e n s a r d e d ic a e s p artid ria s",^ '
25 h o r t a , Raul Machado. Improbidade e Corrupo. R evista d e D ire ito A d m in istra tivo , Rio de Janeiro,
236:121-128, abr,/jun./2004, p. 123.

48

D IR C E U G A L D IN O C A R O IN

O Executivo, q u a n d o a s s u m e o m a n d a to , d e im e d ia to su b s titu i o s se rv id o re s
q u e est o n o s c a rg o s e m co m isso p o r a q u e le s d e su a estrita confiana. E lev an
d o e sse n m e r o , tra n s f o r m a m esses se rv id o re s e m s o ld a d o s polticos. A a d m i
n istra o fica v isiv e lm e n te v o lta d a p a r a fins polticos, n o r m a lm e n te c o m o bjeti
v os d e reeleio.^'
O s e n a d o r Jorge B o rn h a u se n in fo rm a q u e o g o v e rn o Lula p r e te n d e "a cria
o d e 2.797 n o v o s c a rg o s e m c o m iss o e fu n e s g ra tific a d a s - p a r a se re m
d is trib u d o s a m e m b ro s d o p a rtid o , q u e , n o a to d e n o m e a o , a u to r iz a m o d e s
co n to m e n sa l, e m folha, d e c o n trib u io p a rtid ria p r o p o rc io n a l a o salrio..."^
Faz-se u m q u e stio n a m e n to : os c a rg o s tcnicos d e co n fia n a d e v e m se r p r e
e n c h id o s p o r polticos? A p a re n te m e n te , n o h n e n h u m in c o n v e n ie n te e m tal
situao. T o d a v ia , e n te n d e m o s q u e isso n o seja acon se lh v e l, p o is se cria u m a
situ a o a n m a la d e n tr o d a a d m in istra o : m u ita s v e z e s o o c u p a n te d o cargo
d e ix a d e fazer o q u e d e v e e faz o q u e n o d e v e , c a u s a n d o situ a e s c o n s tr a n g e
d o ra s p a r a a q u e le q u e est g e rin d o o Executivo.
O p r o b le m a se a g ra v a q u a n d o se a p ro x im a m as eleies: o o c u p a n te d o c a r
g o p o d e p r e te n d e r s e r c a n d id a to , e a tra v s d ele a a d m in is tra o n o c o n se g u e
m ais d iz e r no. E m u ita s v ezes a a d m in is tra o te m q u e , p a r a d o x a lm e n te , ser
im p o p u la r, p a ra se r patritica.
A d e m a is, tal p e sso a fica sujeita c o rrup o ; p re c isa a n g a ria r re c u rso s p a r a a
c a m p a n h a , e e n t o as p ro p in a s p ro liferam . E m tal caso p o d e -s e a p lic a r o im p e
ra tiv o c a teg rico k a n tia n o : u m cargo tcnico p o d e se r p r e e n c h id o p o r polticos,
m a s n o deve.
E m te rm o s d e g e st o a d m in is tra tiv a a a d v e rt n c ia d e F ran co S o b rin h o im o rr e d o u r a : " U m a m a d m in is tr a o , o r q u e s tr a d a n a d e s o r d e m , s e m n e n h u m a
d ire triz c o ncreta p o ssv e l, s u b v e rte m u ito m ais o p a s q u e as id ia s d o s id elo go s
rev o lu c io n rio s. C o rr i, n o s alicerces, tan to a se g u ra n a d o re g im e , c o m o a es
ta b ilid a d e d o s governos".^*

Isto aconteceu com o Governador Jaime Lerner, do Estado do Paran que, em 1995, criou 508 cargos de
provimento em comisso e eliminou 92. conforme a Lei n- 11.066, de 01/02/95.
Gafanhoto, o bicho petista. /n Folha de S. Paulo , Tendncias/Debates. So Paulo, 5 letra, 12 de
fevereiro de 2004, p. 3.

Op. cit. A n a rq u ia O rq u estra da , p. 229.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

2.3.4 Reforma administrativa


A re fo rm a a d m in is tr a tiv a u rg e n te , p o r q u e o p o d e r p b lic o est g a sta n d o
p e r d u la r ia m e n te o q u e o c id a d o p a g o u c o m e x tre m a d ific u ld a d e , a l m d a es
tr u tu r a b u ro c r tic a , q u a n d o a d m o e s ta J o a q u im Falco; "A b u ro c ra tiz a o ex
cessiva clssico m e c a n ism o d e violao e statal d e d ire ito s d o s c id a d o s".
A e s tr u tu r a a d m in is tra tiv a p a q u id rm ic a , c o m s e rv id o re s a p tico s. A e s
t a b i l i d a d e f o m e n ta e s s a c o n d i o d e s e r v i li s m o , p o is c o m o a c e n t u a Jos
Ingenieros:

" 0 fu n c io n rio c re s c e n as m o d e r n a s b u ro c ra c ia s . O u tr o r a , q u a n d o foi


n e c e s s rio d e le g a r p arte de sua s fu n e s , os m o n a rc a s e s c o lh ia m h o
m e n s d e m rito, e x p e ri n c ia e fide lida d e . Q u a s e tod os p e rte n c e n te s
c a s ta feu d al. O s g ra n d e s c a rg os a v in c u la v a m c a u s a do senhor. Jun to a
e s ta , fo r m a v a m - s e p e q u e n a s burocracias locais. C o m o c re s c im e n to das
instituies d o g ov e rn o, o funcionalism o c re s c e u , c h e g a n d o a s e r um a
c la s s e , u m ra m o novo d a s o lig a rq u ia s d o m in a n te s . P a r a im p e d ir q u e
re to rn a s s e altiva, a re g u la m e n ta o lhe tirou to d a iniciativa, s u fo c a n d o -a
n a rotina. A s e u a f de m a n d o s e op s u m a s u b m is s o e x a g e ra d a , A
p e q u e n a b u ro c ra c ia n o varia; a g ra n d e , q u e s u a c h a v e , m u d a c o m a
p iara q u e g o v e rn a . C o m o s is te m a p arla m e n ta r, foi d u p la m e n te e s c ra v i
za d a : pelo E xecutivo e pelo Legislativo. E s s e jo g o d e influncias c o n v e r
g e p a ra a p e q u e n a r a d ig n id ade dos funcionrios. 0 m rito fica c o m p le ta
m e n te e x c lu d o , bas ta a influncia. C o m e la s e a s c e n d e por c a m in h o s
e q u v o c o s, A ca ra c te rs tic a do inculto s e a c h a r a p to p a ra tudo, c o m o se
a b o a in te n o s a lv a s s e a in c o m p e t n c ia .

O q u e se deseja c o n d e n a r a e sta b ilid a d e e s ta r v in c u la d a a o fato r tem po,


p o r q u e o s e rv id o r te n d e a ficar a c o m o d a d o , to rn a n d o -s e in eficiente o u n o cor
r e s p o n d e n d o s a tis fa to ria m e n te fu n o exercida. U ltra p a s s a d o o est g io p r o
b at rio , a e s ta b ilid a d e p e rm ite q u e a m e d io c rid a d e c o m ece a r e in a r n a carreira
fu n c io n a l. S o m e n te p o d e d a r-se a d e m is s o d o s e r v i d o r se h o u v e r u m fato
g ra v ssim o ; se, to d a v ia , o fu n c io n rio se m a n tiv e r a p tic o , p o r m c u m p r in d o

In ADV- Advocacia Dinmica, Informativo Semanal 32/2004, "A estatizao da sociedade civil, p, 462.
INGENIEROS, Jos. 0

Homem Medocre. Curitiba: Livraria do Chain, s/data, p. 164-165.

50

O IR C E U G A L D IN O C A R D IN

co m o m n im o d o s se u s d e v e re s, ficar at a a p o s e n ta d o ria , n o c o n trib u in d o


co m a ra p id e z e a eficcia q u e d e v e im p e ra r no servio pblico.
O p io r; a q u e le s q u e ex e rc e m o p o d e r h ie r rq u ic o c o n s ta ta m e sse s fatos, p o
r m n o p o d e m d e m itir. P o r isso a e sta b ilid a d e d e v e se r m u d a d a , e ficar re s tri
ta a p e n a s a d e te r m in a d a s funes. N a q u e la s e m q u e for im p re s c in d v e l a s e g u
ran a ju rd ic a ao s e rv id o r n o in te re sse d a so cied ad e, h a v e r e sta b ilid a d e , m as
esta ser exceo e n o re g ra geral.
N o se trata, p o is, d e b a n ir a e sta b ilid a d e , m a s a p ro v e ita r essa c o n d i o p a ra
m e lh o r d e s e m p e n h o d o fu n c io n a lism o p b lico . E xem plo: u m p re fe ito deseja
a p o ia r u m d e te r m in a d o in v e stim e n to e m rea d e p re s e rv a o p e rm a n e n te , na
q u a l n o p o ssv e l fazer c o m p e n sa o n e m m itig ao d o im p a c to a m b ie n ta l,
p o r ser local d e re p r o d u o d e espcies. Se o s e rv id o r p b lic o e n c a rre g a d o de
e m itir o p a re c e r q u a n to ao im p a c to a m b ie n ta l n o tiv e r e sta b ilid a d e , ele estar
su jeito a se r d e m itid o , p o r q u e e s ta r c o n tr a r ia n d o o s in te re s se s p o ltic o s d o
E xecutivo. A ssim , a e sta b ilid a d e d e v e r ser a n a lis a d a d e n tr o d o s in te re sse s p r i
m o rd ia is d a sociedad e.
A re fo rm a a d m in is tra tiv a d e v e se r feita vista d a ra c io n a lid a d e , d a o p erac io n a b ilid a d e e d a eficcia. E nfim , o p a s p recisa d e u m a e s tr u tu r a e n x u ta , p o
r m eficiente. E p a r a se fazer u m a re fo rm a a d m in is tr a tiv a in d is p e n s v e l a
a nlise d e e c o n o m ic id a d e d e to d o s os rgo s e re p a rti e s p b lic o s, at m e s m o
sob o n g u lo d e su a n e c e ssid a d e , n u m a a n lise global, a p r o v e ita n d o a p o te n c i
a lid a d e d o s s e rv id o re s e m v ir tu d e d e se u s c o n h e c im e n to s tcnicos e d e suas
e sp e cialid ad es. M u ito s p o d e r ia m ser m e lh o r a p r o v e ita d o s p e lo s se u s co n h e c i
m e n to s, m a s ficam n u m a m b ie n te d e apatia.
A v u lta a in d a o u tr a situ ao q u e n o se e n te n d e c o m o p d e p e r d u r a r tanto:
c a d a c id a d o b r a s ile ir o te m a s u a c a rte ira d e id e n tid a d e . O c o r r e q u e ela
e x p e d id a p e lo E s ta d o -m e m b ro o n d e a p e sso a resid e, o q u e significa q u e se p o d e
te r m u its s im a s id e n tid a d e s . Basta a p e s s o a te r d iv e rs a s re sid n c ia s, e m b o ra
com u m d om iclio. U m c id a d o ser sa n to n u m E sta d o -m e m b ro , p o r m b a n d i
d o e m d iv e rso s o u tro s , se a ssim o desejar. D esse m o d o , o E sta d o c o o p e ra c o m a
m a la n d ra g e m . O corre to o c id a d o ter u m a n ica id e n tid a d e , m a s d e m b ito
n acio n al, inc lu siv e p a r a facilitar a avaliao c o m p o rta m e n ta l.
C o m m e n o r n m e r o d e p esso as, p o r m m a is eficientes; c o m m e n o r q u a n ti
d a d e d e rg o s, p o r m geis; com u n ifo rm id a d e d e p ro c e d im e n to s, p a r a sim
plificao e r a p id e z n a s decises, co m certeza a re d u o d e c u s to ser significa

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

tiva, p e r m itin d o q u e o p a s g a n h e ta m b m fin a n c e ira m e n te , a lm d e p a s s a r a


oferecer ao c id a d o u m a e s tr u tu r a a d m in istra tiv a d e m e lh o r q u a lid a d e . O q u e
se o b se rv a q u e o E sta d o su g a ao m x im o a so c ie d a d e a tra v s d a trib u tao . A
s o c ie d a d e j c h e g o u a u m visvel e sg o ta m e n to finan ceiro, e lim in a n d o q u a lq u e r
p o s sib ilid a d e d e c re sc im e n to eco n m ico e d e b e m -e sta r. Sofrem p rin c ip a lm e n te
os tra b a lh a d o re s , so b re os q u a is re c a e m m a is d ir e ta m e n te os efeitos m alficos
d esse e sg o ta m e n to , ficand o sem o m n im o p o d e r d e c o n su m o . E to d o s os p r e s i
d e n te s tm a g id o c o m o av e stru z : e n fia m a cabea n a are ia d a d e m a g o g ia p a ra
n o v e r q u e a m q u in a d in o ss u ric a est liq u id a n d o com a nao.
A ra z o bvia: o u se em ite a m o e d a p a r a p a g a r o fu n c io n a lism o p b lic o ou
se a u m e n ta a trib u ta o ; o u se a u m e n ta a receita o u se r e d u z o custo. C o m o o
g o v e rn o n o q u e r q u e haja r e d u o d e c u sto , ter q u e a d o ta r u m a d a q u e la s
fo rm as. E v id e n te m e n te , q u a lq u e r q u e seja a m e d id a a d o ta d a ser e x tr e m a m e n
te p re ju d ic ia l ao d e s e n v o lv im e n to d a so c ie d a d e , e m face d o d e s e n c a d e a m e n to
d a e sp ira l in flacion ria. e x a ta m e n te o q u e est o c o r r e n d o c o m o Brasil... E
n in g u m se c u ra se n o e n fre n ta r a doena. N s e s ta m o s a g in d o c o m o bb ado s:
e m b ria g a m o -n o s c o m e m p r s tim o s financeiros in te rn a c io n a is - p o r q u e n o p o
d e m o s m a is a u m e n ta r a carg a trib u t ria n e m r e d u z ir cu sto s - e, e n t o , e m b ria
g a d o s, ficam os c a n ta n d o felizes n o ssa s e p o p ia s futebo lsticas o u sau d ossticas.
Q u a n d o est o v e n c e n d o as d v id a s, to m a m o s pileques d e e m p r s tim o s in te rn a
cionais e, d e p o is, n o d e s e s p e ro , a g im o s c o m o Esa: v e n d e m o s a p rim o g e n itu ra
d a p tria p o r u m p r a to d e lentilhas...
U m a e m p r e s a p r i v a d a faz c rite rio sa m e n te essa a n lis e fin a n c e ira e a d m i
n istra tiv a . P o r q u e o p o d e r p b lic o , q u e d e v e ria se r e x e m p lo d e eficcia, foge?
E x a ta m e n te p o r q u e u s a os c a rg o s p b lic o s p a r a in fla r a a d m in is tr a o , a fim
d e a t e n d e r a o s in te re s s e s p o litiq u e iro s , t o r n a n d o - a p r e n h e d e " c a b id e s d e e m
p re g o s " ,
H u m a o b se rv a o h ist rica q u e n o p o d e se r e sq u ecid a: fo ra m a lie n a d a s
e m p re s a s p b lic a s p o c a d o m o d is m o d a p riv a tiz a o , u m a id ia at in te re s
sa n te p o litic a m e n te p a ra o E stado; se ele m a l a d m in is tr a d o r , tra n sfe re p a ra
q u e m c eficiente. O u tro ra , tin ha prejuzo, a g o ra receb er o s trib u to s. C o n tu d o ,
h o u v e a lien ao d a q u e la s e m p re s a s p a ra liq u id a r as d v id a s d o Brasil, m a s e s
sas d v id a s c o n tin u a ra m ...
O e n x u g a m e n to d a m q u in a a d m in is tra tiv a d e v e ser u r g e n te , ta n to q u e Ives
G a n d r a M a rtin s a p o n ta:

52

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

C o n v e n o -m e , c a d a v e z m ais, d e q u e a b ata lh a b rasileira p a r a o d e s e n


v olvim en to n o se tra v a na s o c ie d ad e , q u e te m o fe rta d o a d m ir v e l e x e m
plo d e p a c i n c ia e c a p a c id a d e d e sacrifcio, m a s n a s m q u in a s in s ta la
d a s no e s ta m e n to g o v e rn a m e n ta l d a s q u a tro e s fe ra s do poder. A s o c ie
d a d e b ra s ile ira n o te m m a is c o m o s u p o rta r c inc o mil g o v e rn o s , com
cinco mil Legislativos, cinco mil Exe c utiv os e vinte e s e te P o d e r e s Judici
rios e s p a lh a d o s p ela U n io , Estado s, Distrito F e d e ra l e M u n icp io s .^

S u gere a q u e le jurista:

U m a f e d e ra o m o d e rn a d e v e ria s e r c o m p o s ta d a U n i o , d e alg u n s E s
tad o s c o m d e n s id a d e d em o g r fic a prpria, tra n s fo rm a n d o -s e , os d e m a is,
e m territrios fed e ra is (a q u e le s q u e no t m c o n d i e s d e s e au to -s u ste n ta r s e m a s tra n s fe r n cia s fed e ra is ), d e tal fo rm a q u e s e elim in ariam ,
n ele s , os P o d e r e s Executivos, Legislativos e Judicirios locais, subordi
n a n d o -s e a o L egislativo fe d e ra l e a o E xecutivo ind icado p e la U n io . A
e c o n o m ia p a r a a N a o s eria fantstica, s o b re re d u zir-s e o nvel d e d e s
perdcio s reais q u e tais e struturas c a u s a m .
E, e v id n c ia , c o m o e n te n d e m a s F e d e ra e s c o n h e c id a s , os M u n ic p i
os n o s e ria m e n tid a d e s fed erativas.
E n q u a n to o Brasil n o to c a r n e s ta v a c a s a g r a d a d o s hindus q u e a
F e d e ra o inflacion ria n o sa ir d a crise

P od er-se-ia, p o r e x e m p lo , e m relao ao P o d e r Ju d icirio , a d o ta r a lg u m a s


alteraes: e lim in a r a a tu a o d o M in istrio Pb lico n a s c a u s a s d e d ire ito de
fam lia e d e m e n o re s. P o d er-se-ia ju lg a r h ertica tal crtica, m a s, n u m a anlise
m a is p ro f u n d a , n o o . Ju rid ic a m e n te , o E s ta d o est a g in d o c o n tra d ito ria m e n te: ele n o d e v e n e m p o d e c o n stitu c io n a lm e n te in te rfe rir n a fam lia. C o n tu d o ,
in te rfe re n a p ra x is q u a n d o coloca o M P p a r a a tu a r n o s litgios fam iliares. A in d a
q u e se e n te n d a q u e o E s ta d o d e v a ter re p re s e n ta n te , b a s ta o juiz. N o asp ecto
e co n m ico , ele est e s b a n ja n d o d in h e iro p a r a te r d o is r e p r e s e n ta n te s n a a tu a
o d e litgios fam ilia re s - o ju iz e o M P

q u a n d o a a tu a o d o ju iz seria sufici-

BASTOS, Celso Ribeiro & MARTINS, Ives Gandra. C om e n t rio s C o n stitu i o d o Brasil. 3 vol., tomo
III. So Paulo: Saraiva, 1993, p. 119,

Idem , p. 120,

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

ente. N e m m e s m o os E s ta d o s U n id o s, a m a io r p o t n c ia e c o n m ic a a tu a l, se d o
a o lu x o d e m a n te r u m m e m b ro d o M in istrio P b lic o a tu a n d o e m d ire ito de
fam lia, n a d efesa p r iv a d a d o s c id a d o s, m e s m o p o r q u e n o d e v e o E s ta d o se r o
fin an ceiro d o s in te re sse s p riv a d o s , sob p e n a d e se d e s v ia r d o e s p rito o n tolgico
p a r a o q u a l existe.
Im a g in e -se o m o m e n to e m q u e se re tira r os m e m b r o s d o M in ist rio P blico
d essa re s p o n s a b ilid a d e , lib e ra n d o -o s p a r a a tu a r c o n tra a c rim in a lid a d e , q u a n to
n o g a n h a r a so c ie d a d e . Enfim , a in stitu io d o M in ist rio P b lico d e v e ser
v o lta d a d efesa d o s in te re sse s p b lic o s, e n o d e in te re sse s p r iv a d o s p a r a q u e
p o s sa , c a d a v e z m a is, se r a d e fe n so ra da so c ie d a d e , ju n ta m e n te c o m a OAB.
A a u s n c ia d e ra c io n a liz a o n o s serv io s p b lic o s s e n o ta at e m sim p le s
p ro c e d im e n to s , q u e se ria m d isp e n s v e is. P ara t u d o n e c e ss rio re c o n h e c im e n
to d e firm a. E m a lg u n s p a se s n o existe essa exigncia, p o r m q u e m falsifica
a s sin a tu ra re a lm e n te p reso . O c id a d o d e v e m e re c e r confiana.
A in d a so b e ssa tica, verifica-se q u e , e m in q u rito s c rim in a is, q u a n d o a le
gislao dete rm in a q u e h av er extino d e p u n ib ilid a d e se h o u v e r o p a g a m e n to do
tributo o u contribuio social, inclusive acessrios, conform e o artig o 34 d a Lei n
9.249, d e 26 d e d e z e m b ro d e 1995, o M P a in d a im p e q u e o a c u s a d o seja o u v id o ,
g a sta n d o te m p o dele, d o escrivo e d o d elegad o. Estes p o d e r ia m e sta r tra b a lh a n
d o e m a s su n to s d e m a io r interesse p a ra a sociedade. Se, c om o p a g a m e n to , ho u v e
a extino d a m a te ria lid a d e d o delito, n o h m n im a r a z o lgica p a r a tal d e p o
im e n to a p s o p a g a m e n to . C o m o diz o ditado; c h o v e r n o m olhado...
Essa p r e o c u p a o c o m o a p ro v e ita m e n to d o te m p o d o s s e rv id o re s p b licos
n o a n a lis a d a d e u m a m a n e ira geral, m e s m o e m relao D elegacia d e P o l
cia. N e sta a p a re c e m reclam a es d e to d a o rd e m , at fam iliares. E o d e le g a d o e
policiais a c a b a m fic a n d o p re s o s a p e q u e n o s d elito s, e m c o n s e q n c ia d a e le v a
d a q u a n tid a d e d e d e n n c ia s o u reclam aes. F icam a b s o rv id o s, e a c a b a m n o
te n d o c o n d i e s d e d e d ic a o a a s su n to s m a is re le v a n te s e q u e e x ig e m m a io r
e m p e n h o . P re c isa ria h a v e r u m J u iz a d o E special p a r a esses p e q u e n o s d elito s p o d e r ia se r m e s m o u m ju iz leigo - c o m o a n tig a m e n te h a v ia o ju iz d e Paz; p o d e
ria a t u s a r-s e e s s a m e sm a d e sig n a o , d e s d e q u e a a u to r id a d e tivesse a u to n o
m ia p a r a im p o r p e n a s a lte rn a tiv a s e re so lv e r p ro b le m a s d e fu rto s d e bicicletas,
toca-fitas, a g re ss e s fam iliares, e m b ria g u e z etc., p e r m itin d o q u e o d e le g a d o e
os policiais c u m p r a m re a lm e n te o p a p e l d e d e fe n so re s d a so c ie d a d e , c u id a n d o
d e a s s u n to s m a is com p lex os.

53

54

O IR C E U G A LO )N O C A R D IN

O u tr a q u e s t o re le v a n te en v o lv e o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l e o S u p e rio r
T rib u n a l d e Justia. O p r e s id e n te d o S u p re m o te m su s te n ta d o , ju n ta m e n te c o m
o u tro s m in istro s, q u e se d e v e m e lim in a r recu rso s, p a r a a ra p id e z p ro c e ssu a l.
so fism a tal su ste n ta o . C o m o j o d e m o n s tra m o s , o m a io r v o lu m e d e p ro c e s
sos p r o v o c a d o p e lo E stado ; logo, n o p o d e ser a so c ie d a d e g u ilh o tin a d a com
a s u p re ss o d e re c u rso s, q u e d ire ito n a tu r a l d o c id a d o . Basta ra c io n a liz a r os
recu rso s, a c o m e a r p e lo re c u rso e x tra o rd in rio , q u e p r iv a tiv o d e a n lise pela
C o rte S u p re m a .
O S u p r e m o T rib u n a l F ed eral tev e c o m o in s p ira o o d ire ito n o rte -a m e ric a
no: a S u p re m a C o rte (L/S S up rem e Court), q u e a p re c ia m a t r ia c o n stitu cio n al.
P o ste rio rm e n te , co m o g r a n d e v o lu m e d e p ro c e sso s, Jos A fo n so d a Silva s u g e
r iu a criao d e u m o u tr o T rib u n a l, p a r a q u e a p re c ia ss e m as n o r m a s infraco nstitu cion ais, q u a n d o e n t o foi c ria d o o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia.
D essa fo rm a , cabe aos ju izes d e in stn cias in feriores a n a lis a re m a in c o n stitu c io n a lid a d e incidenter ta n tu m , e ao S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l o co n tro le c o n
c e n tr a d o e o difuso. A ssim , n a p rim e ira e s e g u n d a in st n c ia s, o ju iz a p re c ia a
m a t ria c o n stitu c io n a l, m a s su a d ec la ra o ter eficcia a p e n a s com relao s
p a r te s litig antes. H a p e n a s u m a exceo: o T rib u n a l d e 2" in st n c ia , q u a n d o
d e c re ta a in c o n s titu c io n a lid a d e d e lei m u n ic ip a l, q u e ter eficcia ergn omnes,
m a s c o m o re g ra g eral p re v a le c e a p e n a s o efeito e n tre as p a rte s. A ssim , p o d e r
h a v e r r e c u rs o p a r a a m a is a lta C orte. Isso re s u lta e m le n tid o n a a n lis e d a
q u e st o c o n stitu c io n a l, p o r q u e q u e m d ir se e fe tiv a m e n te c o n stitu c io n a l o u
n o a M a g n a C o rte. O q u e ela d iss e r q u e p re v a le c e r. As d e c is e s in ferio res
se to rn a m sim blicas.
E m te rm o s realsticos: p u r a p e r d a d e te m p o . N o a sp e c to fin an ceiro , o c id a
d o te m q u e a rc a r c o m d e s p e s a s d e d o is recursos: u m p a r a o trib u n a l d e sua
ju risd i o c d e s te p a ra a Excelsa Corte.
O S u p r e m o T rib u n a l F e d e ra l e o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia t m a n a lisa d o
q u e st e s a p r o x im a d a m e n te cinco a n o s a p s as in st n c ia s in ferio res (1*' e 2), e
sab e-se q u e h p ro c e sso s n esses trib u n a is com m a is te m p o q u e isso. C o m o p o d e
se se n tir s e g u ra u m a so c ie d a d e q ual, c o m o d ire ito fu n d a m e n ta l, a s s e g u ra d a
a s e g u ra n a ju rd ic a (art. 5" d a CF), m a s n a p r tic a isso m e ra u to p ia ? Im ag in ese e x e c u ta r u m a se n te n a a p s d ez, q u in z e anos?
P are c e -n o s m a is eficaz o siste m a alem o. T o d a m a t ria c o n stitu c io n a l d ir e
ta m e n te a p re c ia d a p e la C o rte C o n stitu c io n a l, m e s m o q u a n d o a r g id a e m c o n

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

testao. V a m o s d a r u m e x e m p lo p a ra facilitar a c o m p re e n s o , e x tra d o d e d e


ciso d a q u e la C orte. D e te rm in a d o c id a d o fez u m c o n tra to d e locao co m o
in q u ilin o , fa z e n d o co n s ta r u m a c lusula q u e p ro ib ira q u a lq u e r b en feito ria. C o n
tu d o , o in q u ilin o m a n d o u in s ta la r u m a a n te n a p a ra b lic a , p a r a m a n te r-se be m in fo rm a d o . O p r o p r ie t r io e n t o in g re s s o u c o m a o d e d e sp e jo , p o r q u e h o u v e
d e s c u m p r im e n to d e u m a cl u su la c o n tra tu a l. O in q u ilin o , n a con te sta o , s u s
c ito u m a t ria c o nstitucion al: o d ire ito a o acesso in fo rm a o . D ois d ire ito s se
to r n a r a m con flituo so s: o d a p r o p r ie d a d e e o d a in fo rm a o . A C o rte C o n stitu c i
o nal e n te n d e u q u e o in q u ilin o tin ha o d ire ito in fo rm a o , p o r q u e in e re n te a
to d o se r h u m a n o . A c a u sa , q u e ficara s u s p e n sa e m V in st n c ia , p o r q u e h a v ia o
in q u ilin o in g re s s a d o c o m re c u rso d ire ta m e n te C o rte C o n stitu c io n a l, foi e x tin
ta com a d e c is o d esta. M eio prtico, r p id o , e co n m ico . Eficaz.
O q u e ac o n te c e ria n o siste m a b ra sile iro e ta m b m n o rte -a m e ric a n o , e m rela
o ao m e s m o caso? O ju iz d e p rim e ira in stn cia a p re c ia ria a m a t ria co n stitu c i
onal. Ele p o d e r ia a c a ta r a in c o n stitu c io n a lid a d e incidenter ta n tu m o u no. H a v e
ria re c u rso , p e la p a r te q u e p e rd e ss e , p a ra a 2 " in st n c ia , p o r m o re c u rso em
m a t ria d e d e sp e jo re c e b id o n o efeito d e v o lu tiv o , p o d e n d o se r e x e c u ta d a a
d e c is o d e 1" g ra u ; e m face d e sse fato, o in q u ilin o teria q u e p e d ir, n o re c u rso de
a p e la o , q u e o r e la to r lh e c o n c e d e sse efeito s u s p e n s iv o ; se n o c o n ced esse,
c aberia a g ra v o re g im e n ta l, p o r m p o d e r ia n o se r c o n c e d id o efeito s u s p e n s iv o
a ele, e teria q u e in g re s s a r c o m m a n d a d o d e se g u ra n a . A ssim , h a v e ria u m a
tert lia fo re n se e m b u sc a d e u m p ro v im e n to ju dicial q u e a m p a r a s s e o in q uilin o ,
a n te s q u e tiv esse h a v id o a deciso final, com a a p re c ia o d o m rito d a q uesto ;
o trib u n a l v o lta ria a a p re c ia r a m atria; d a d e c is o d e sse trib u n a l h a v e ria re c u r
so e n t o p a r a a S u p re m a C o rte, pe la p a r te q u e p e rd e s se . E n o final a deciso
d e ssa C o rte p re v a le c e ria , q u a n d o viesse, n o m n im o , a p s seis anos. (E stam os
c o n s id e ra n d o d o is a n o s p a r a c a d a in stn cia, s e n d o m u ito otim istas!).
N o se p o d e a in d a ig n o r a r o u tro s incidentes: se o c o n tra to d e locao for p o r
te m p o in ferior, a p r p r ia ao d e d e sp e jo p e r d e r objeto q u a n d o v ie r a se r d eci
d id a , p o r q u e p o ss iv e lm e n te o in q u ilin o j ter d e s o c u p a d o o im v e l e s p o n ta n e
a m e n te .
Ju stifica-se p e r c o r r e r trs in stn cias, q u a n d o se p o d e r ia d ir e ta m e n te obterse u m a d e c is o d a S u p r e m a C o rte e q u e reso lv eria lo g o o p r o b le m a d o cid ad o ?
E n e c e ss rio e v ita r d e s p ro p o r o e n tre o s v e n c im e n to s e a re le v n c ia d o c a r
go, b e m c o m o e x tirp a r fu n e s no-essenciais. P o r e x em p lo : justifica-se u m d i

56

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

r e to r d e s e c re ta ria a u fe rir v e n c im e n to s s u p e rio re s a o s d e u m juiz? Justifica-se


u m a P r o c u ra d o ria d o T ra b a lh o p a r a ex e c u ta r os m e s m o s servio s q u e so reali
z a d o s p e lo s fiscais d o M in ist rio d o T ra b a lh o , q u a n d o h c a r n c ia d e juizes
leigos p a r a a tu a r n o s Ju iz a d o s d e P e q u e n a s C a u sa s, d e ju iz e s s u b s titu to s em
d iv e rs a s c o m a rc a s, b e m c o m o d e d e fe n so re s p b lic o s e m m u ito s m u n icp io s?
Justifica-se d e s e m b a r g a d o r e s e sta d u a is a u fe rire m v e n c im e n to s m u ito s u p e r io
res aos d o s m in is tro s d o S u p re m o ?
C riam -se v a ra s cveis, e com isso e m cada u m a d elas h n e c e ssid a d e d e u m
m e m b ro d o M inistrio Pblico, u m juiz, u m cartrio, c o m to d a a s u a in fra -e stru
tura, q u a n d o seria m a is sim p les e econm ico a p e n a s d e s ig n a r u m ju iz auxiliar.
O m e s m o o c o rre c o m os se c re ta ria d o s m u n ic ip a is, e s ta d u a is e d a U nio; criase u m a in fin id a d e d e se cretarias, m in istrio s, m u ita s v e z e s p a r a a te n d e r a in te
resses po lticos d a s coligaes p a rtid ria s , o q u e c h e g a at m e s m o a c a u s a r p r o
b le m a s a d m in istra tiv o s, p o r conflitos d e co m p e t n c ia . O s re q u e r im e n to s ficam
in d o e v in d o e n tre a s re p a rti e s e n in g u m q u e r a s s u m ir a r e s p o n s a b ilid a d e
p e la deciso . o " p in g u e - p o n g u e " in stitu c io n a l. M e lh o r se ria c ria r d e p a r ta
m e n to s , a g iliz a n d o o a te n d im e n to e r e d u z in d o c u sto s, c o m p o u c a s s e c re ta ria s e
m in ist rio s.
A te n d n c ia n o Brasil, c o m o se isso estivesse g e n e tic a m e n te v in c u la d o sua
e x te n s o te rrito ria l, in fla r os carg o s, to r n a n d o a a d m in is tr a o p b lic a u m
g ig a n te d e p s d e b a r r o p a ra m a s sa g e a r a in d a m a is os egos.-.
O u tr a situ a o q u e a fro n ta a ra c io n a lid a d e a d m in is tra tiv a : se u m ag ric u lto r
d e r r u b a m a ta ciliar, ele p o d e so fre r a u tu a o d o fiscal d a p re fe itu ra , d o I n s titu
to d o M eio A m b ie n te d o E s ta d o -m e m b ro e d o IBAM A. T rs fiscais p a r a u m a
a tiv id a d e s... A n a lise m -se os cu sto s financeiros q u e isso re p re s e n ta p a r a a soci
e d a d e , q u e p a g a os v e n c im e n to s d o s trs fiscais. R eclam a-se q u e fa lta m fiscais
p a r a a p re s e rv a o d o m e io a m b ie n te , m a s se eles fo ssem lo ta d o s n u m n ico
rg o n o h a v e ria ta n ta s p e s so a s e n v o lv id a s n u m n ic o fato irre g u la r, e u m
n m e r o b e m m a io r d e fatos p o d e r ia ser fiscalizado.
T a m b m p re c iso q u e os se rv id o re s m a is p r o d u tiv o s a u fira m v e n c im e n to s
m e lh o re s d o q u e a q u e le s q u e a p e n a s p r e e n c h e m cargo. Isso c o m u m n a a d m i
n istra o pb lica: h a q u e le s q u e se d e d ic a m fu n o e m u ito p r o d u z e m , e h
a q u e le s q u e fin g e m q u e p r o d u z e m . E o u tro s q u e p e la p r p r ia fu n o d e v e ria m
a u fe rir m ais: so ld a d o s, p ro fe sso re s etc.
P e r g u n ta so b re a q u a l se d e v e refletir : p a r a d e te r m in a d a fu n o , u m a e m

D E S A F IO S OA C I D A D A N I A *

p re sa p r iv a d a p a g a r ia aos se u s e m p r e g a d o s o m e s m o v a lo r q u e o p o d e r p b lico
p a g a ? A n a lise m -se , p o r e x e m p lo , os v e n c im e n to s d o s m o to ris ta s e cabeleireiros
d o L eg islativ o e o u tr a s fu n es, e m relao ao m e rc a d o b rasileiro. n ecessrio
u m r e e s tu d o d e to d a a a d m in is tra o p b lic a e so b a s m a is v a r ia d a s v erte n te s,
p a r a q u e se to rn e eficiente e te n h a o se u cu sto re d u z id o .
A p r o p s ito d a m a t ria . Franco S o b rin ho a d m o e sta :

"A g ra n d e re fo rm a q u e e s p e r a m o s u m a re fo rm a d e c o n s c i n c ia polti
c a , d e m e n ta lid a d e adm inistrativa, d e h o n e s tid a d e nos a to s pblicos. C o m
a tic a e a m o ra l c o m a n d a n d o os a to s d e g o v e r n o . T r a z i d a d e leis
c u m p rv eis , e n o n as c id a d e n e g o c ia e s d e b as tido re s . T en d o o inte
re s s e pblico c o m o fu n d a m e n to e o in te re s s e social c o m o b a s e d e tod as
a s s o lu e s polticas. N o s d a n d o o q u e nosso q u e se re c e b e o que
d o s outros.
N o m oral, n e m jurdico, n e g o c ia r c o m a s a d e pblica, c o m a e d u c a
o e s c o la r ou c o m os servios e s s en c ia is . N e m f a z e r e m p r s tim o s o n e
rosos, t ra n s a n d o votos legislativos. T o p ou co s a n c io n a r n o m e a e s s em
a te n d e r a o princpio d a c a p a c ita o a dm inistrativa. A s s im e s ta m o s hoje.
P a r a o n d e v a m o s ? N o s a b e m o s . P o r m , p o d e m o s adivinhar. Digo: para
u m a c o n f e d e ra o q u e b ra n te d a u n id a d e nacional.
E s ta n o s s a n a o , e s s e nosso Brasil, e s t e m c o n s ta n te perigo. S o b e r a nias e s tr a n h a s c e rc a m n os s a e c o n o m ia , nos d e s v ia m d e c a m in h o s hist
ricos, to m a m p os s e d a s nossas riq u e za s potenciais. T u d o ou q u a s e tudo
q u e t e m o s resulta d e d o a e s internacionais, p a g a s no c o rre r do tem p o
a tr a v s d e g a n h o s c o m e rc ia is e juros c a p ita liza d o s . A t p a r e c e q u e s o
m o s um p a s e m leilo poltico s e m re s g u a rd a s constitucionais.
P o u c o s c o n h e c e m a real s itu a o b ra s ileira n a s re la e s c o m n a e s
m a is p o d e ro s a s . R e la e s q u e e n v o lv e m s o b re tu d o a e c o n o m ia n ativ a e
a fo ra do tra b a lh o social, d eix a n d o na o b s c u rid a d e p a r a o n d e v a m o s e a
fo ra d o tra b a lh o social. D e ix a m o s na o b s c u rid a d e p a r a o n d e v a m o s e
a t o n d e p o d e m o s chegar. J q u e as im p o rta e s s u p e ra m a s e x p o rta
e s , 0 q u e s e o b s e rv a n a prtica q u e n o te m o s a u to n o m ia q u e baste
p a r a c o lo c a r o p a s num p lan o igual a o d o P rim eiro M u n do .
N o con tex to internacional, a ind a so m o s u m a c o l n ia s e m d v id a civiliza
d a , m a s u m a col nia q u e d e p e n d e p a ra viver, c o m o viv e os fa v o re s do

57

58

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

m e rc a d o exterior. V e ja m o p ro b le m a d a s m a rc a s e p ate n te s . O b s e r v e m a
ind u stria liza o d e s e n v o lv id a p ela s m ultinacionais. T o m e m n ota d a c o n
c o rr n c ia dos produtos es tra ng e iros no m e rc a d o interno. N a tec n o lo g ia e
n a c o m p u ta o , so nfim as as tc n ic as nacionais.
B e m o b s e rv a n d o , n o n en h u m s e g re d o s a b e r o n d e e s ta m o s . O te m o r
e s t e m s a b e r p a ra o n d e v a m o s . O s horizontes c o n tin u am fe c h a d o s , t a n
to p a r a o d e s e n v o lv im e n to n a c io n a l c o m o p a r a a c o n q u is ta d e n ov os
m e rc a d o s . P a r a s o s s e g o histrico nosso, n o nos b a s ta u m a civilizao
d e fa c h a d a . J qu e no q u e re m o s ficar na riq u e za d e u m turism o caribenho,
falso nos resultados, intil n as c o n s e q n c ia s e c o n m ic a s .

2.4 SISTEMA DO PODER JUDICIRIO


N a In g la te rra , o s m e m b ro s d a Court o f A ppeal e d a H ig h C ourt s o e sco lh id o s
e n tr e p ro fissio n a is b e m -su c e d id o s e n o m e a d o s p ela ra in h a , so b re c o m e n d a o
d o Lord Chancellor.
A ssim , o s a d v o g a d o s q u e , d e p o is d e lo n g o s an o s d e la b u ta n a s u a profisso,
d e m o n s tr a r a m p r o f u n d o c o n h e c im e n to ju rd ico , c u ltu ra , tica e v id a ilib a d a
q u e se to rn a m juizes. Tal a confiana q u e se d e p o s ita neles, q u e eles n o tm
r e m u n e ra o fixa: s a c a m c o n tra o T e so u ro d e a c o rd o c o m as s u a s n e c e ssid a d e s
p esso ais e fam iliares.
O b v ia m e n te , n o se r e c o m e n d a tal siste m a p a r a a m a g is tr a tu r a n o Brasil,
p o r q u e m u ito s ju iz e s a in d a d e m o n s tr a m falta d e m a tu r id a d e . P o r isso, a r e m u
n e ra o d e v e c o n tin u a r s e n d o fixada e m lei, in c lu siv e p o r q u e esse s iste m a ta m
b m co nfere a o juiz total lib e rd a d e q u a n to aos se u s g astos, q u e p o d e m sc r feitos
m a is a m p la m e n te , a b r a n g e n d o a q u e le s n o necessrios.
T o d a v ia , p o d e r-se -ia a d o ta r u m siste m a p e lo q u a l os ju iz e s s e ria m escolh i
d o s p e lo s p r p r io s m a g is tra d o s , e m c o n ju n to c o m a OA B e o M in ist rio P b li
co, e m e s m o in stitu i e s d a c o m u n id a d e , d e p o is d e d e te r m in a d o p e r o d o d e
efetivo exerccio d a advocacia.
E m a lg u n s p a se s d a E u ro p a h Escolas d a M a g is tra tu ra , e a q u e le s q u e est o
se p r e p a r a n d o p a ra a m a g is tra tu ra re c e b e m d o E sta d o u m a re m u n e ra o , a fim
d e se d e d ic a re m a p e n a s a o s e stu d o s. N o Brasil ta m b m h tais escolas p r e p a r a
trias, p o r m o s se u s a lu n o s n o recebem n e n h u m a a ju d a d o E stad o ; n a m aio Op. c/f. O n d e e sta m o s/p a ra o n d e vam os, p. 95.

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A *

ria d a s vezes, p ro c u r a m - n a a p e n a s com in tu ito d e u m a reciclagem , c o m os m e s


m o s p ro b le m a s d e g ra d u a o . A ssim , n o r m a lm e n te eles so o b rig a d o s a se d e
d ic a r a p e n a s p a rc ia lm e n te a esses e stu d o s, p o is p re c is a m tr a b a lh a r p a r a se m a n
terem .
H a q u e le s q u e e n te n d e m q u e o E sta d o d e v a r e m u n e r a r os a lu n o s d a s E sco
las d e M a g is tra tu ra , p o is a ssim eles n o a d q u ir ir o vcios, a s s im ila n d o d e s d e
logo a titu d e s d e juiz.
Esse e n te n d im e n to faz le m b ra r o q u e s tio n a m e n to feito p e lo s telogos d a Id a d e
M d ia q u a n to santificao: esta d e c o rre d a v id a c o n te m p la tiv a o u d a ativa?
Pela p r im e ir a , o h o m e m a fa sta -se o u te n ta a fa s ta r-s e d o m u n d o ; p e la o u tra ,
d e p o is d e so fre r v ic is s itu d e s e a m a d u r e c e r n o s o frim e n to e n a lu ta p e la so b re v i
vncia, ele e n fre n ta o m u n d o .
N o caso d o ju iz, p re fe rim o s esta ltim a h ip tese. P ara se r juiz n o se p o d e
e s ta r d iv o rc ia d o d a re a lid a d e , n u m v e rd a d e iro a u tis m o fo ren se, d e s c o n h e c e n
d o as fra q u e z a s e as g r a n d e z a s h u m a n a s .
Esse a lh e a m e n to q u a n to re a lid a d e p o d e le v a r c h a m a d a "juizite": o sen ti
m e n to d e o n ip o t n c ia d o m in a a m e n te d o m a g istra d o . D e fato, m u ito s exercem
esse c a rg o n o p o r v ocao, e sim p o r sed e d e p o d e r. P o r isso, ne c e ss rio q u e
ele p e rc e b a q u e o q u e e n g ra n d e c e u m juiz su a sa b e d o ria , h o n e s tid a d e , d e d ic a
o, c u ltu ra (p rin c ip a lm e n te c o n h e c im e n to s ju rdico s) e e x e m p lo , e n o s u a a u
to rid a d e .
A im a tu r id a d e e m o c io n a l ta m b m tem re v e la d o u m a r e a lid a d e trgica: al
g u n s juizes n o s o m a g istra d o s, p o r m longa m a n u s d o s in te re s se s d o E xecuti
v o o u , e n t o , d o s p r p r io s m e m b ro s d o M in ist rio P blico. T ra n s fo rm a ra m -s e
e m s e rv id o re s pblicos... A su b se rv i n c ia d e d e te r m in a d o s ju iz e s a tais p o d e re s
o a m e s q u in h a m e n to d a m a g istra tu ra .
N o se p o d e , in clusive, e sq u e c e r a a n lise h istrica: jurisp ru d ncia n o D ireito
R o m a n o tin h a o sig n ificad o in ic ia lm e n te d e o p ru den te (prudentia) em leis (juris),
ta n to q u e ta m b m o ju ris c o n su lto era o ju risprud en te. A ex p e ri n c ia e m relao
ao p a s s a d o e ra e x tre m a m e n te im p o rta n te , p o r q u e refletia u m e s p rito a m a d u
recido . P o s te r io r m e n te , g a n h o u a p a la v ra ju risp ru d n c ia u m sig n ific a d o m ais
a m p lo no s e n tid o d e ju lg a m e n to re ite ra d o d a m e s m a m a t ria p e lo s tribunais.
A rele v n c ia d o exerccio d a m a g is tra tu ra n o se p o d e d e ix a r d e c a ir n o te m
po; ao c o n tr rio , o ju iz e s e m p r e d e v e r se r a e sp e ra n a d o p o v o , a s e g u ra n a
ju rd ic a d a nao.

59

50

D i n C E U G A L D I N O C A R D IN

T e n d o ex ercid o a p ro fiss o d e a d v o g a d o , ele ter a m a d u r e c id o m a is r a p i d a


m en te. E ter sid o te sta d o e tic a m e n te to d o s os dias. A lis, s o r a ra s as p ro fis
ses e m q u e os v a lo re s tico s sejam t o p o s to s p r o v a q u a n to a ad v o c a c ia .
A ssim , se o f u tu r o m a g is tr a d o d e u p ro v a s d e in a b a l v e l c a r te r n o exerccio d a
ad vo c a c ia , p o r certo ja m a is a lg u m te n ta r c o rro m p -lo , o u ja m a is a lg u m ter
s ucesso n esse intento.
Q u a lq u e r recm -fo rm ad o p o d e p restar concurso p a ra a m agistratura. Todavia,
com o ele n o rm a lm e n te b astante jovem , ain d a n o tem m a tu rid a d e em ocional e
cultura jurdica. Esse m e sm o m al afeta os m em b ro s d o M inistrio Pblico. C erta
m en te h recm -form ados q u e so bo n s juizes o u p ro m o to res, m a s isso exceo.
P a rtin d o -s e d e sse p rin c p io , d ev er-se-ia exigir d o s c a n d id a to s a juiz, a m e m
b ro d o M in ist rio P b lico o u a p r o c u r a d o r d a F a z e n d a n a c io n a l, e s ta d u a l o u
m u nic ip a l q u e c o m p ro v a sse m o exerccio d a advocacia p or, p e lo m e n o s, 5 (cinco)
a n o s o u q u e tivessem n o m n im o a id a d e d e 30 anos, n a p re ssu p o si o d e q u e
estes te n h a m m a tu r id a d e em ocional e experincia jurdica. T a m b m d ev eria, aps
o con cu rso pblico, h a v e r u m a avaliao pelo s a d v o g a d o s q u e m a n tiv e ra m rela
c io n a m e n to profissional co m eles. Isso p o rq u e o con curso p b lic o j d e u p ro v a s
infin d v eis d e q u e n o revela q u e m re a lm e n te tem v ocao e esteja p re p a ra d o
p a ra a m a g istra tu ra seja p a ra o M inistrio Pblico. H oje, m u ito s a d v o g a d o s se
p e rg u n ta m : co m o q u e d e te rm in a d a pessoa p o d e ser juiz? p ro m o to r?
A escolha d o s m in is tro s d o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l p re c isa s e r revista,
p a r a o b e m c o m u m d a so cied ad e. Eles so e sco lh id o s liv re m e n te p e lo p r e s id e n
te d a R e p blica, m a s s p o d e m ser n o m e a d o s se fo re m a p r o v a d o s p e la m a io ria
a b so lu ta d o S e n a d o F e d e ra l (CF, art. 101, p a r g ra fo nico). O m e s m o o corre
c o m os m in is tro s d o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia (CF, art. 104, p a r g r a f o nico).
A esco lh a e x c lu siv a m e n te poltica, e p o r isso m e s m o a fro n ta a tica; o p r e
s id e n te d a R e p b lic a e sc o lh e r a lg u m q u e ju lg a r m u ito s p ro c e sso s e m q u e
e sto v in c u la d o s o s in te re sse s d a q u e le , o u in te re sse s q u e os d e fe n d e . e v id e n te
q u e o n o m e a d o n o ter total lib e rd a d e d e conscincia, p o is ficar c o n s tra n g id o
d e ju lg a r c o n tra q u e m o n o m e o u , te n d e n d o , se m p re , a e n c o n tra r a lg u m a filigrana
p a ra ju lg a r fa v o r v e l a ele. A ssim , g e ra lm e n te o esc o lh id o to m a d e c is e s p r p re s id e n te , e n o p r -n a o . D essa fo rm a, n o m e a r a lg u m q u e p o ss iv e lm e n te
ju lg a r a fa v o r d e q u e m n o m e ia c o m p ro m e te a lisu ra e a tica. R a ro s s o os
m in istro s q u e d e c id e m c o m a b so lu ta a u to n o m ia e in d e p e n d n c ia , p rin c ip a lm e n te
e m m a t ria tribu tria.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

N o s e s ta d o s , os d e s e m b a r g a d o r e s so esc o lh id o s p e lo g o v e r n a d o r . T a m b m
eles n o d e v e ria m se r in d ic a d o s p elo E xecutivo, p e la m e s m a q u e s t o tica.
P ela a tu a l fo rm a d e escolha d o s m in istro s d o STF e ST] p e lo p re s id e n te da
R e p b lic a , c o m o se e stiv s se m o s n u m a m o n a r q u ia , p o r q u e o STF e STJ se
to rn a m long m a n u s d o E xecutivo. Em certa po c a , o rei ju lg a v a ; p o s te r io r m e n
te, ele p a s s o u a in d ic a r a q u e le s q u e ju lg a v a m , p o is o s T rib u n a is fa z ia m p a r te da
C orte. A ssim , ta m b m o p r e s id e n te d a R ep b lica c o n tin u a r in d ir e ta m e n te ju l
g a n d o a tra v s d a q u e le s q u e ele n o m e ia c o m o m in is tro s d o STF e d o STJ, q u a n
d o a im p a r c ia lid a d e d e q u e m ju lg a p r im o rd ia l n a e fe tiv id a d e d a justia.
O P o d e r J u d ic i rio d e v e e sta r acim a d o s d e m a is p o d e r e s c o n stitu d o s e d a
so c ie d a d e , p a r a p o d e r ju lg a r c o m total a u to n o m ia e p le n a lib e rd a d e .
P o d e r-se -ia d iz e r q u e h e xag ero n a a sse rtiv a d e q u e o S u p r e m o m u ita s v e
zes ju lg a a fa v o r d o s in te re sse s d o p r e s id e n te d a R e p b lic a , e n o d a nao.
E n t o , a n a lis e m o s d u a s decises recen tes d a q u e le trib u n a l, q u a n d o p o d e r ia m
se r feitas a n lise s d e m u ita s outras...
A CF, n o a rtig o 155, XII, 3 estabelece u m a im u n id a d e :

e x c e o dos im postos d e q u e tratam o inciso II do

ca p ut d e s te artigo e

0 art. 1 5 3 , I e II, n e n h u m outro tributo p o d e r incidir s o b re o p e ra e s


re lativas e n e rg ia eltrica, servios d e te le c o m u n ic a e s , d e riv a d o s de
petr leo, c om b u s tv e is e m inerais do P a s .

A ra z o d a n o r m a c o n stitu c io n a l sim p les: p o s sib ilita r q u e o s servio s e


p r o d u to s c o n te m p la d o s te n h a m p re o m ais b a ix o p a r a o c o n s u m id o r, le v a n d o se e m c o n ta ta m b m q u e eles so in d is p e n s v e is, c o m o fator d e p r o d u o , p a ra
a e la b o ra o o u a c o m ercializao d e o u tro s p r o d u to s , p o r s e re m in su m o s.
T o d a v ia , o STF p r o f e r iu d e c is o q u e tev e a s e g u in te e m enta:

" E M E N T A : P I S E C O F IN S . E M P R E S A S P R E S T A D O R A S D E S E R V I O S
D E T E L E C O M U N IC A E S , IN C ID N C IA . A R T S . 155, 3 ^

E 195,

CAPUT, D A C O N S T I T U I O F E D E R A L . O S u p r e m o T rib u n a l F e d e ra l
(s e s s o do d ia 1 d e julho d e 1 9 9 9 ), concluindo o ju lg a m e n to do R e curso
Extra o rd in rio n- 2 0 5 .3 5 5 , e A g ra v o R e g im e n ta l

2 2 7 ,8 3 2 , 2 3 0 . 3 3 7 e

2 3 3 .8 0 7 , R e i. M in. C a rlo s Velloso, a b r a n g e n d o a s c on tribu i e s re p re


s e n ta d a s p e la C O F IN S , pelo P IS e p elo F IN S O C I A L s o b re a s o p e ra e s

62

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

relativas e n e rg ia eltrica, a servios d e te le c o m u n ic a e s e a d eriv ad o s


d e petr leo, co m b u s tv e is e m inerais, e n te n d e u q u e , s e n d o e la s contri
buies sociais s o b re o fa tu ra m e n to d a s e m p re s a s , d e s tin a d a s a o fin a n
c ia m e n to d a s e g u rid a d e social, nos term o s d o art. 1 9 5 , c a p u t, d a C o n s ti
tuio F e d e ra l, n o lhes aplicvel a im u n id a d e p revista no art. 15 5 ,
3 -, d a Lei Maior. R e c u rs o c on hecid o e provido".^"*

A c a b o u , assim , co m a im u n id a d e d a s c o n trib u i es d o PIS e d a C O F IN S em


relao aos co m b u stv e is, o q u e fez com q u e a gaso lin a, q u e e n t o c u s ta v a R$
0,99 (n o v e n ta e n o v e c e n ta v o s d e real), n o d ia s e g u in te p a ss a s se a c u s ta r R$ 1,59
(u m real e c in q e n ta e n o v e centavos). D e im e d ia to , o g o v e rn o g a n h o u c o m o
rec o lh im e n to d a C O F IN S e d o PIS. A m d io e a lo n g o p r a z o s ele p e r d e u , pois
isso c o n trib u iu p a ra o a u m e n to ex a c e rb a d o d a inflao.
N e m ju rid ic a m e n te , concessa venia, su s te n t v e l essa d e c is o d o S u p re m o .
Q u a n d o o c o n stitu in te utiliza te rm o s tcnicos, estes p re v a le c e m so b re a lin g u a
g e m c o m u m , o q u e significa d iz e r q u e ele e sta v a c o n scien te d o q u e e s ta v a d i
z e n d o a o u s a r o te rm o " tr ib u to " e m vez d e " im p o sto ".
O S u p r e m o T rib u n a l F ed eral e n te n d e u q u e a C F /8 8 e m p r e g o u d e fo rm a er
r n e a o te rm o tributo, p o is ela teria p r e te n d id o d iz e r im posto. A ssim , s e g u n d o a
deciso, a i m u n id a d e ficou restrita aos im p o sto s, n o in c lu in d o as c o n trib u i es
(com o PIS e COFINS).
P ara fu lm in a r a im u n id a d e a m p la , o S u p re m o in v o c o u o p rin c p io d a u n i
v e rsa lid a d e , ap licv el a p e n a s s e g u rid a d e social. E fa lh o u at e m re g ra d e h e r
m en u tic a : a n o r m a especfica (da im u n id a d e p a r a certo s trib u to s) afasta a re
g ra g eral d o p rin c p io d a u n iv e rs a lid a d e d a s e g u r id a d e social.
O S u p re m o a g iu c o m o leg islad o r po sitiv o , m u d a n d o a fin a lid a d e clarssim a
d a C o n stitu i o d e bene fic ia r o c o n su m id o r. E p ro v o c o u u m efeito p io r; o d es e n c a d e a m e n to d a inflao. O s co m b u stv e is e d e r iv a d o s d e p e tr le o so a loco
m o tiv a d a inflao, p o r q u e p r o d u z e m u m reflexo im e d ia to n o s m e io s d e tr a n s
p o rte e n a in d u s tria liz a o d o s p ro d u to s . F ican d o co m p re o s e le v a d o s, a u to
m a tic a m e n te e le v a m os d e m a is, d e s e n c a d e a n d o -s e u m a im e d ia ta su p e rp o s i o
d e p reo s. Basta s im p le s m e n te im a g in a r u m frete d o Rio G r a n d e d o Sul ao N o r
d este, o q u a n to n o e le v a d o e m face d a q u e le s a u m e n to s... E n o p re c isa ser

^ RE 259541/AL, 1 Turma STF, Rei. Min. limar Gaivo. DJ 28.04.00, p, 101.

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

e c o n o m ista p a r a se c o n sta ta r essa evid n cia, d e q u e se d e v e r e d u z ir ao m x im o


a trib u ta o so b re os in s u m o s p a ra se ben e fic ia r o c o n s u m id o r. s c alcu lar a
in c id n c ia d a C O F IN S n a in d s tria , d e p o is p a r a o d is trib u id o r, p a ra o varejista,
p a r a o c o n su m ido r!...
P o s te rio rm e n te q u e la d e c is o d o STF, e e m v ir tu d e d o e n te n d im e n to re ite
r a d o d a q u e la C o rte , a d v e io a S m u la 659 - " leg tim a a c o b ra n a d a C O FIN S,
d o PIS e d o FIN SO C IA L so b re as o p e ra e s re la tiv a s e n e rg ia eltrica, servios
d e telec o m u n ic a e s, d e r iv a d o s d e p e tr le o , c o m b u s tv e is e m in e ra is d o Pas".
C o m o n o Brasil a v o ra c id a d e fiscal ta n ta q u e o b n u b ila o raciocnio, a M ed id a
Provisria 1 6 1/0 4 p re te n d e a in d a a incidncia d a C o n trib u io d e In terv en o no
D om n io E conm ico (CIDE), sobre a com ercializao d e p e tr le o e se u s d e riv a
dos, gs n a tu ra l e seus d e riv a d o s, e lcool etlico co m bustvel. E d e p o is se fala em
c o m b ater a inflao, se o p r p rio g o v e rn o a cria, e e m v e z d e m e lh o ra r a q u a lid a
d e d e v id a d o p o v o brasileiro, se lhe d c o n stan tes e sto c a d a s tributrias...
O u tr a d e c is o d o STF n e g o u o sa l r io - m a te r n id a d e p a r a a m e a d o tiv a ^ \
o b v ia m e n te p a r a e v ita r n o v o n u s p a ra a P re v id n c ia Social. T o d a v ia , a C o n sti
tu io , n o art. 227, 6", v e d a q u a lq u e r d is c rim in a o e n tr e filhos a d o tiv o s e
n a tu ra is , e o caput d e sse artig o p re c o n iz a q u e o E s ta d o d e v e a s s e g u r a r criana
e a o a d o le sc e n te , c o m a b so lu ta p rio rid a d e , o d ire ito c o n v iv n c ia fam iliar.
M elaine Klein-''' d isc o rre sobre a in terao d a m e c o m o se r e m g estao p o r
to d o o p e r o d o d e v id a in tra -u te rin a , e a firm a q u e , c o n fo rm e o c o m p o rta m e n to
d a m e, a c ria n a p o d e r ia to rn ar-se, p o r ex em p lo , in se g u ra , c iu m e n ta e im a tu
ra. A ssim , SC c o m a m e n a tu r a l necessria e ssa in te g ra o , m a io r a necessi
d a d e c o m a m e a d o tiv a , p a r a q u e a criana se s in ta a m a d a , in te g ra d a a u m a
fa m lia . C o m a d e c is o d o S u p r e m o , h s im p le s tro c a : a c r ia n a p a s s a d o
d e s a b rig o p a r a o c u id a d o d e terceiros, s v ezes b a b o u vizinhos...
O E sta d o g a n h o u e m a rre c a d a o , c o n tu d o p r o v o c o u g r a n d e leso a o relaci
o n a m e n to fam iliar. Foi tal a a g re ss o a o s v alo res fam ilia re s p r e c o n iz a d o s pela
C F /8 8 , q u e , a p s a q u e la deciso, foi p r o m u lg a d a a Lei n" 10.421, d e 1 5 /0 3 /0 2 ,
q u e s a n o u a q u e la injustia social.
O c id a d o n o deseja q u e o S u p re m o a tu e a p e n a s pro contribuinte: o q u e ele
deseja q u e n o ju lg u e s e m p r e pro fisco e q u e aja pro legatate.

RE n- 197.807 - Relator: Octvio Gallotti.


Cf. KLEIN, Melaine. 0 s e n tim e n to de solido. 2. ed. Rio de Janeiro; Imago, 1975.

63

64

D I R C E U G A L D I N O C A R D IN

P o r c o n s e q n c ia d a s decises d a q u e la C o rte, e m n v el d e trib u n a is, a m a


g is tra tu ra n a c i o n a l c o m r a r a s excees, inclina-se a fa v o r d o g o v e rn o , e m p r e
juzo d o E stado.
A so c ie d a d e n o te m se g u ra n a ju rd ica. M u ita s v e z e s n o se sab e se o ju iz
est s e n d o v e n a l, se n o d o m in a a m a t ria q u e est ju lg a n d o o u se c o m e te erro
gro sseiro. E m n o ssa p o c a d e caa s b ru x a s q u a n to c o rru p o , n a n sia d e
ap lic a r a Lei d e I m p r o b id a d e , verifica-se d e m u ita s se n te n a s q u e h c o n d e n a
o d e p e s so a s in o c e n te s s im p le s m e n te p e lo c la m o r p blico . C risto , in o c e n te
m en te, ta m b m foi c o n d e n a d o p o r essa razo...
A t seria caso d e se p e n s a r se n o c o n viria OA B fa z e r u m c o n tro le e x te rn o
c o m relao a decis es d is p a r a ta d a s , d e s ig n a n d o u m a c o m iss o p a r a q u e fizes
se u m a a v aliao p a r a q u e fosse e x o n e ra d o q u e m n o est p r e p a r a d o p a r a tal
funo. O s ju iz e s a m e ric a n o s ta m b m so fre m d e s sa s m a z e la s , c o m o o b se rv a
Karl M e n n in g er:

O s ju iz e s , d o s q u a is c e rta m e n te e s p e r a r a m o s q u e f o s s e m os lde re s
d o re s ta b e le c im e n to e m a n u te n o d a m o ral, n o p o d e m s e r a v a lia d o s
c o m o u m g ru p o a e s s e resp eito . N a v e r d a d e , a lg u n s s o tu d o a q u ilo q u e
s e p o d e ria e s p e r a r - id e a lis ta s , h u m a n o s , p a c ie n te s , s b io s e d e v is o
a m p la . In fe liz m e n te , o utro s s o m e s q u in h o s , p e tu la n te s , ig n o ra n te s e
s dico s".

O s ju iz e s d e s p r e p a r a d o s p a r a e le v a d a fu n o c o m p r o m e te m o tra b a lh o do s
n te g ro s, e, in fe liz m e n te , hoje, exerce a m a g is tra tu ra m e s m o q u e m n o te m v o
cao. A so c ie d a d e e sp e ra s e m p re d e u m ju iz q u e ele seja sbio.
N o c a m p o trib u t rio o c id a d o b ra sile iro est v iv e n d o v e r d a d e ir o te rro ris
m o, p o is 0 P o d e r Ju d icirio ch e g a a to rn ar-se le g isla d o r p o sitiv o , i m p o n d o a q u ilo
q u e a lei n o d e te r m in o u n e m quis.
A p ro p s ito , o e x -P re sid e n te d o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l, M arco A u rlio
d e M ello, afirm a:
D e s d e q u e m e c o n h e o , o E s ta d o se d efro n ta c o m p ro b le m a s d e caixa.
E a a te n d n c ia , e v id e n te m e n te , a d e p ote n c ia liza r o bjetivos e m detriMENNINGER, Karl. 0 p e c a d o d e n o ssa poca. Traduo de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Jos
Olmpio, 1975, p. 197.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

m e n to do m eio. E c o m o a trop e lo do q u e e s t constitudo, d o q u e e st


e s ta b e le c id o .
A d e m a is , s e g u n d o e le , os m in is tro s f a z e m v is ta s g r o s s a s a c e rta s
inconstitu cion alid ades d a o fen siva a rre c a d a t ria d o governo: N a m inha
tica, ou o tributo constitucional ou no. N o h a c o lu n a do m e io a firm a M e llo , voto vencid o n a m a io ria dos p ro ce s s o s s ob re a q u e s t o .^

im p re sc in d v e l a re fo rm u la o d a m a g is tra tu ra , a c o m e a r p e la fo rm a de
n o m e a o d o STF e STJ, p a r a q u e o c id a d o p o ssa te r se g u ra n a ju rd ica a fim
d e a fa sta r q u a lq u e r in g ern cia g o v e rn a m e n ta l, c o n fe rin d o -se a o P o d e r Ju d ic i
rio p le n a a u to n o m ia e in d e p e n d n c ia .

2.4.1 Controle externo do Poder Judicirio


n e c e ss rio o c o n tro le e x te rn o d o P o d e r Judicirio?
N a cincia p oltica h u m axiom a q u e n o p o d e se r esq u e c id o : " U m p o d e r
se m c o n tro le te n d e s e m p r e a se to rn a r u m p o d e r se m m e d id a " .
M o n te s q u ie u afirm a;

(...) a e x p e ri n c ia e te rn a m o stra q u e todo h o m e m q u e te m p o d e r te n ta


do a a b u s a r dele; vai a t ond e enc o n tra limites, Q u e m o diria! A prpria
v irtude te m n e c e s s id a d e de limites.
P a r a q u e n o s e p o s s a a b u s a r do p o d e r preciso q ue, p e la disp osio
d a s coisas, o p o d e r freie o p o d e r " .

P o r se u tu rn o . L o rd A cton a d m o e sta : " O p o d e r c o rro m p e , e o p o d e r a b s o lu


to c o rro m p e a b so lu ta m e n te ".'^
Po r m ais q u e se e sp e re d o P o d e r Ju d icirio c o n d u ta tica e d e re tid o , seus
m e m b ro s n o e sto im u n e s s im p erfeies h u m a n a s , n e m s cav ila es d o p o
d e r. P o r isso, n e c e ss rio o c o n tro le e x te rn o d e s s e p o d e r , c o m o ta m b m do
M in ist rio Pblico.

Criticas a colegas e rasgados elogios a Luta.


MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat.

/n Gazeta Mercantil", 27-29/12/02, p. A-8,

Do espirito das leis. So Paulo: Abril Cultural, 1973. v.

XXI, p. 156.

Apud PENNA, Jos Osvaldo de Meira, op. cit.. p. 32.

65

66

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

Contrario sen su , n o fazer tal c o n tro le seria v er n ele u m a in stitu i o p erfeita

o u fechar os o lh o s p a r a irre g u la rid a d e s e ab uso s, ta n to fu n c io n a is q u a n to fin a n


ceiros.
A fin a lid a d e d o co n tro le e x te rn o d e v e se r a verificao d o efetivo c u m p r i
m e n to d o s d e v e re s fu n c io n a is p e lo s ju iz e s e p e lo s m e m b ro s d o M in ist rio P
blico, b e m c o m o a p a rtic ip a o n o p la n e ja m e n to o r a m e n t rio e fin an ceiro d e s
ses p o d e re s. A t m e s m o p a r a e v ita r q u e ju iz e s d e in st n c ia s in fe rio re s te n h a m
v e n c im e n to s s u p e rio re s aos d o s m in istro s d o S u p re m o T rib u n a l F ed eral, o u q u e
d ire to re s d e se c retaria g a n h e m m a is q u e juizes.
O c o n tro le e x te rn o n o in terferiria n a a tiv id a d e ju risd ic io n a l, m a s n a s a tiv i
d a d e s a d m in is tra tiv a , fu ncion al, e n a id o n e id a d e d e s e u s m e m b ro s , e p e rm itiria
a a p licao d o s p rin c p io s d a oficialidad e e d a tra n sp a r n c ia . H oje, n u m a re p re
s en tao co n tra u m ju iz o u m e m b r o d o M in ist rio P blico, n o se to m a co n h e c i
m e n to d a deciso, fican do visvel o c o rpo rativism o.
H d u a s fo rm a s d e controle: a) o efetu ad o p o r in te g ra n te s d a p r p ria m a g is
tratura; b) o e fe tu a d o p o r integrantes d e o u tra s instituies, se n d o o p re sid e n te
in d ic a d o p e lo p re s id e n te d a R epblica. Esta ltim a form a a a d o ta d a na Frana.
N e n h u m a d a s d u a s fo rm a s resiste a u m a a n lise so b o p o n to d e v ista tico; a
p rim e ira , p o r q u e o fato d e o s re sp o n s v e is se re m m e m b ro s d a p r p r ia m a g is
tra tu ra d azo ao c o rp o ra tiv ism o , c o m n a tu r a l p ro te c io n ism o ; a s e g u n d a , p o r
q u e o p r e s id e n te d o C o n s e lh o n o d e v e se r escolh id o p e lo p r e s id e n te d a R e p
blica, p o is este p o d e fazer esco lh a poltica, d e a c o rd o c o m se u s in te re sse s o u de
se u p a r tid o , e n o p e lo s d o te s m o ra is e in telectu ais d o escolhido.
O rg o d e c o n tro le e x te rn o n o p o d e se r m a is u m rg o e sta ta l, e sim u m a
longa m a n u s d a s o c ie d a d e , p o r q u e esta q u e tem in te re sse e m a c o m p a n h a r a

a tiv id a d e a d m in is tra tiv a e fu n c io n a l d a m a g is tra tu ra . Ela p o d e se r r e p r e s e n ta


d a p o r m e m b ro s d a OAB, d o M in ist rio P blico, d o p r p r io P o d e r Ju d ic i rio e
d e o u tro s rg o s q u e te n h a m relao c o m o P o d e r Judicirio.
D iz R u b e n s A p p r o b a to M ach ado :

" n e c e s s rio s a b e r p orqu e alg u n s m a g istrado s no d o s e n te n a s , p o r


q u e n o ju lg a m os feitos, por que, julg a nd o-o s, re ta rd a m , in d e fin id a m e n
te e s e m c o m p ro m is so com prazos, a s u a d eciso. preciso s a b e r p o r
q u e um recurso, p a ra sim p les distribuio a o R elator, e m a lg u n s T rib u
nais le v a a t quatro anos. preciso s a b e r porqu e d e m a n d a s se e te rn iza m ,

D E S A F I O S DA C i d a d a n i a

a lg u m a s j c o m p le ta n d o b od as d e p rata ou m ais. S um v e rd a d e iro c o n


trole e x te rn o , c o m a p artic ip a o d e tod os a q u e le s q u e s e in te g ra m
a d m in is tra o d a Justia, c a p a z d e abrir aquilo q u e o P re s id e n te da
R e p b lic a qualificou c o m o c a ix a -p r e ta / '

R e afirm a-o Jos C a rlo s Dias;

"A v is o re p u b lic an a d e E s ta d o no d is p e n s a o a p ro fu n d a m e n to do p ap e l
do juiz p e ra n te o povo, e assusta s a b e r q u e a m e t s ta s e d o c rim e o rg an i
z a d o s e infiltra por tod as as clulas do corpo brasileiro, inclusive atin g in
do 0 P o d e r Judicirio. D iz e r q u e a c orru p o a u m e n ta d e fo rm a a s s u s ta
d o ra t a m b m e n tre os rg o s d a Justia n o constitui o fe n s a a o s juizes.
B e m a o contrrio, isso d e m o n s tra atitude d e ze lo ,., N o fcil, m a s sinto
s e r n e c e s s rio d iz e r que m uita coisa v e m p iorando d e fo rm a a s s u s ta d o
ra; 0 direito v e m s e n d o c a d a v e z m ais m al distribudo, p o r m uitas ra z e s
e x te r n a s a o Judicirio, m a s t a m b m p e la in c o m p e t n c ia , in rc ia b u ro
crtica, falta d e iniciativa, c a p a c id a d e in o v a d o ra ou d e z e lo d e q u e m o
aplica, ou e m ra z o d a corru p o que, c a d a v e z m ais, c o n s p u rc a a o g a .*'^

N o se d ig a q u e o c o n tro le extern o n o ser til. H a tu a lm e n te o C o n selh o


d a Justia F ed eral, q u e c o m p o sto p o r m e m b ro s d o s tr ib u n a is federais e q u e
faz a s u p e rv is o a d m in istra tiv a e o r a m e n t ria d a Justia Federal. O trab alho
d e s e n v o lv id o tem sid o eficaz, p r o d u tiv o e re c o n h e c id o p e lo s m e m b ro s d a Ju sti
a F ed eral. C o m o ele u m co nselho v o lta d o a p e n a s p a r a e ssa ju stia, im p r e s
cin dv el a criao d e u m m a is a b ra n g e n te , at m e s m o p a r a o forta le c im e n to d o
P o d e r Judicirio.
O rg o d e c o n tro le e x te rn o p re c isa r ter a m p la a u to n o m ia e in d e p e n d n
cia, n o p o d e n d o e s ta r v in c u la d o a g o v e rn a n te s, p a ra n o se r m a n ip u la d o p o li
ticam ente, p rin c ip a lm e n te e m p oca d e d ita d u r a , a in d a q u e v e la d a , d o E xecuti
vo, com efeitos n e fa sto s p a ra a m a g istra tu ra .
O re fe rid o rg o , a l m d e ser im u n e s in g e r n c ia s d o E xecu tiv o e d o LegisOs a d vo g a d o s co ntra-a taca m . In 0 Estado de S. Paulo", 06 de maio de 2003. Disponvel na internet,
atravs do s ite http://www,estado.esladao.com.br/colunistas/kramer/2003/'Q5/kramer03Q5Q6.htm,
acessado em 15 de agosto de 2003.

'2 d ia s , Jos Carlos. A ca ixa -p re ta da Justia. In Folha de S. Paulo", 18 de maio de 2003, p. A-3.

$7

68

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

lativo, p re c isa e s ta r im u n e ta m b m s in g ern cias d o p r p r io P o d e r Ju d icirio e


d o M in ist rio P b lic o , p a r a p o d e r a g ir c o m c rit rio s ju sto s, d e te r m in a n d o a
co rreo d a q u ilo q u e d e v a se r sanad o.
O controle externo deve contribuir significativam ente p a ra o a p rim o ra m e n to do
P od er Judicirio e d o M inistrio Pblico, e no ser u m a form a d e encabrest-los.
N a m a io ria d a s v e z e s e m q u e se fala e m c o n tro le e x te rn o , s e m p r e su rg e
a lg u m a a u to r id a d e q u e d eseja ta m b m q u e haja e m re la o O A B -O r d e m d os
A d v o g a d o s d o Brasil.
u m desejo d e c o n te r a a u to n o m ia e in d e p e n d n c ia in e re n te s a o a d v o g a d o ;
m a s a OAB, c o m o in stituio , tem ata v ic a m e n te , c o m m a io r in te n s id a d e , a li
b e r d a d e d e e x p re ss o q u e lh e g a ra n te o ste n ta r su a s id ia s n a d efesa d o s p rin c
pios b sicos d a C o n stitu i o e p ro c e d e r, c o m d e n o d o , d efesa d a so cied ad e.

"R e s s a lte -s e q u e a s itu ao jurdica d a O A B peculiar, c o m o re c o n h e c i


do, d e lon g a d ata . pelo Judicirio e p elas lies dos m ais c on s a grad o s
m estres d e direito, A O rd e m , d iferen tem ente dos d e m a is conselhos e enti
d a d e s sindicais, detm u m conceito constitucional e legal m a is am plo, ul
tra p a s s a n d o a condio d e m ero ente d e fiscalizao profissional. S u a ati
v id a d e institucional e os misteres constitucionais q u e lhe s o outorgados
im p e m sua desvin cu lao dos rgos d a adm inistrao pblica.'*^

E p o r e ssa r a z o q u e a O A B p o d e d e fe n d e r c o m h o n ra , e, ao m e s m o te m p o ,
com d e v e r, a so c ie d a d e brasileira.

2.4.2 Smulas vinculantes


P re te n d e -se , p o r m eio d a s s m u la s v in c u la n te s, u n if o r m iz a r as decis es a
fim d e r e d u z ir o n m e r o d e p rocessos.
A ssim , as s m u la s v in c u la n te s b a ix a d a s p e lo S u p e rio r T rib u n a l d e Justia e
p elo S u p re m o T rib u n a l F ed eral o b rig a ria m os trib u n a is in ferio res e os ju iz e s d e
p rim e ira in st n c ia a d e c id ire m s e g u n d o elas.
T o dav ia, d iz o s a u d o s o e x -m in istro E v a n d ro L ins e Silva:

S m u la s , sim , m a s n o vincu lan tes, e o u tra s p ro v id n c ia s q u e d e m


MACHADO, Rubens Approbate. A O A B e o TCU. In "Folha de S. Paulo, 5 - feira, 11 de dezembro de
2003, Caderno Tendncias e D ebates, p. A-3.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

aos ministros d o S u p r e m o Tribunal F e d e ra l e dos trib un ais su p e rio re s os


m e io s d e to rn a r p ossvel e vivel o seu fu n c io n a m e n to n orm al s e m sa c ri
fcio dos s e u s ju iz e s " /"

A s s m u la s v in c u la n te s, a p re te x to d e re d u z ir e m o tra b a lh o d o s trib un ais,


fac ilita n d o o a n d a m e n to d o s processos, n a v e r d a d e , sig n ific a ria m d ita d u r a d o
P o d e r Ju dicirio . Elas n o p e r m ite m q u e os ju izes e tr ib u n a is in fe rio re s te n h a m
a u to n o m ia e in d e p e n d n c ia , p o is cies d e v e r o o b e d e c e r c e g a m e n te ao q u e nelas
co n sta, a in d a q u e d is c o r d e m d e se u c o n te d o . A l m d o q u e e s ta r tra n sfo r
m a n d o ta m b m o S u p r e m o T rib u n a l F ederal e m v e r d a d e ir o le g isla d o r d o d ire i
to m a te ria l a tra v s d e s m u la s vin c u la n te s. Se fosse a p e n a s d e d ire ito p ro c e s s u
al, d ira m o s q u e a c o m p e t n c ia estaria co rreta, p o is e m te rm o s d e p r o c e d im e n
tos p ro c e ss u a is est m a is h a b ilita d o a leg islar d o q u e o P o d e r L egislativo, c o n
tu d o a p r e te n s o e m d ire ito m a te ria l u s u r p a o d e p o d e r.
O p r o v v e l d e sa fo g o d o Ju d icirio p o d e p ro v o c a r a p e r p e tu a o d e certas
s m u la s , e s tim u la n d o o STF e o STJ a n o re v e re m s e u s e rros. A lis, se h vinte
a n o s ex istisse m as s m u la s v in c u la n te s, n o teria h a v id o a e v o lu o d o d ireito
social e d e o u tr a s re a s d o d ire ito refletid as n a C F /8 8 .
A ssim , a s s m u la s v in c u la n te s p re ju d ic a m o a p r im o r a m e n to d a justia, p o is
cerceiam d e b a te s q u e p o d e m tra z e r n o v a s lu z e s p a r a d ecises re le v a n te s. A lm
d isso , elas b lo q u e ia m os recu rso s, q u a n d o estes, d e s d e a A n tig id a d e , s e m p re
fo ra m c o n s id e ra d o s c o m o d ire ito n a tu ra l d o cid a d o .
in te re ss a n te o b s e rv a r q u e o e x a g e ra d o n m e r o d e p ro c e s so s n o p r o v o
c a d o p ela s o c ie d a d e . N a v e r d a d e , esta v tim a d a in a d im p l n c ia e sta ta l o u da
p ro c ra s tin a o p ro c e ss u a l e n sejad a p e lo p o d e r p b lic o , p o is, c o m o in fo rm o u o
p r e s id e n te d o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia, os trs n v e is d e a d m in is tra o (fe
d e ra l, e s ta d u a l e m u n ic ip a l) est o "e n v o lv id o s e m 85% d a s c a u sa s judiciais".''^
N o d ife re n te n a rea trabalhista;

D e a c o rd o c o m le v a n ta m e n to re a liza d o pelo v ic e -p re s id e n te d o tribunal,


ministro Vantuil A b d a la , o seto r pblico re s p o n d e pelo prim eiro, segu nd o,

LINS E SILVA, Evandro. Crime de hermenutica e smula vinculante. Texto disponvel na internet,
atravs do site www.imb.org.br. acessado em 19 de junho de 2002.
PRADO, Srgio. Judicirio amplia atuao poltica em 2002. In Gazeta Mercantil", 31 de dezembro
de 2001 a 02 de janeiro de 2002, p. A*7.

70

D I R C E U G A L D IN O C & R D tN

sexto, s tim o e n ono postos d a lista, por m eio, re s p e c tiv a m e n te , d o B a n


co do Brasil (B B ), d a C a ix a E c o n m ic a F e d e ra l ( C E F ), d a Pe tro bra s , da
U n io F e d e ra l e d a C o m p a n h ia Estadu al d e E n e rg ia Eltrica.
E m conjunto, ele s s o p arte e m 2 4 ,9 mil processos, ou c e rc a d e 1 7 % das
1 4 5 mil disp utas e m a n d a m e n to no TST".-*

Joo R icardo do s Santos C osta, e m artig o p u b lic a d o n o jornal O E stad o d o


P a ra n ", sintetiza o a ssu n to , a firm a n d o q u e "o efeito vin c u la n te p re te n d id o al
canar o d e s id e ra te d e re d u z ir o ac m u lo d e servio d o s m e m b ro s d a S u p re m a
C orte, n a m e s m a p ro p o r o , p o r m , e m q u e aniq uilar o E sta d o D em o crtico de
Direito, im p o n d o u m totalitarism o co nc e n tra d o m a g is tra tu ra e sociedade.'"*^
A d e m a is, a s m u la v in c u la n te p ro c u ra c o m b a te r u m efeito e n o u m a causa,
q u a n d o se sab e q u e o im p o rta n te e lim in a r a c a u sa , p o is o o u tr o d eco rrncia.
Q u a l a m e lh o r m a n e ira d e re d u z ir o n m e r o d e p ro c e sso s, p r e s e r v a n d o a
a u to n o m ia e a in d e p e n d n c ia d o juiz?
C ria n d o -s e e m c a d a f ru m u m a C m a ra d e C onciliao.
A m o r o s id a d e p ro c e ss u a l se a c e n tu a e m d ec o rr n c ia d o v o lu m e cresc e n te d e
aes q u e d ia r ia m e n te so a ju iz a d a s, o u d o excesso d e p r a z o s , e n tr e o u tro s
m o tiv o s.
N o se o b se rv a c o m p r o f u n d id a d e a ocorrncia d e d o is fatos re le v a n te s p a ra
o a u m e n to d o n m e r o d e aes: o c id a d o c a d a v e z m ais tem -se co n sc ie n tiz a d o
d e se u s d ireito s, o q u e s a u d v e l e cvico, m a s, p o r o u tr o la d o , a so c ie d a d e vai
se to r n a n d o c a d a v ez m a is egosta, n o c u ltu a n d o o re s p e ito a o p r x im o e n o
r e p r im in d o o e sp rito d e litigiosidade.
O q u e e s t f a l t a n d o o d i l o g o c o m o f o r m a d e r e s o l v e r a s r e la e s
c o n flitu o sa s, p o is a Lei n" 8.952, d e 1 3 /1 2 /9 4 , p r o c u r o u d e s p e r t a r a a te n o
p a r a a im p o rt n c ia d o d i lo g o ao d is p o r q u e c o m p e te ao juiz tentar, a qualquer
tempo, conciliar as partes (art. 125, IV, d o CPC).

E p re c iso ir alm : to rn a r m a is fre q e n te a conciliao, d e tal fo rm a q u e ela


a ss u m a , enftica e d e c isiv a m e n te , re le v a n te p a p e l social n a so lu o d e conflitos,
c o m o fo rm a d e c o m b a te r o esp rito d e litig io sid a d e q u e c o lm a ta a sociedad e.
PEREIRA, Daniel. Setor pblico lidera lista do$ maiores litigantes no TST. /r? Gazeta Mercantil, 14 a
16 de maro de 2003, p. A-11.
" COSTA, Joo Ricardo dos Santos, Atentado contra o Estado Democrtico de Diretto. In 0 Estado do
Paran", 1- de abril de 2001, caderno Direito e Justia, p. 1.

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A

A s a u d i n c ia s d e in s tru o ou d e in stru o e ju lg a m e n to so e stressan tes. O


ju iz u m p ra -ra io q u e a tra i as ene rg ia s n e g a tiv a s d o s d e m a n d a n te s e d e seu s
a d v o g a d o s . Se cie n o tiver c o ntro le e m ocion al, e x p lo d ir o u te rm in a r o d ia
e s tre ssa d o .
O ra , o juiz q u e p r e s id e a a u d i n c ia d e conciliao n a tu r a lm e n te p ro c u ra cri
a r u m clim a c o rd ia l, e m q u e as p a rte s p o s s a m se m a n ife s ta r se m o fo rm alism o
d a s a u d i n c ia s d e in stru o e ju lg a m e n to . N o e n tr a r n o m rito d a q u esto ,
p o r q u e isso c o n d u z ao a trito e afasta a p o ssv el conciliao. E, q u a n d o as p a rte s
q u is e re m e n tr a r n o m rito d a q u e st o , ele p r o c u r a r e n fa tiz a r a im p o rt n c ia
social d a conciliao.
T o d o s g a n h a r o c o m ela: a so cied ad e, com a m in im iz a o d e litgios; o juiz,
c o m a r e d u o satisfa t ria d o s p rocessos; as p a rte s, p o is, c o m o d iz an tig o d ita
d o , " m a is v ale u m m a u a c o rd o q u e u m a b o a d e m a n d a " ; os a d v o g a d o s , q u e
a u fe rir o h o n o r rio s vista d o ac o rd o , re c e b e n d o m e n o s, p o r m m a is cedo , em
v ez d e te re m q u e tra b a lh a r a o lo n g o d e d iv e rso s a n o s p a r a re c e b e r u m valor
m a io r.
I m p e n d e o b s e r v a r a in d a u m a sp e c to psicolgico d a qu e st o : a Lei n" 8.952,
d e 1 3 /1 2 / 9 4 , p r o c u r o u e stab elecer a conciliao, m a s a p s o litgio j e s ta r ins
ta u r a d o e c o m os n im o s acirrad o s; p a ra u s a r u m a e x p re ss o p o p u la r,/o ,
feita . T o d a v ia , d a fo rm a q u e p r o p o m o s , n o o c o rre r tal fato, p o r q u e se q u e r

h o u v e o u h a v e r con te sta o , o u seja, o fo g o apenas fo i nceso c o m a citao, e fogo


b r a n d o m a is fcil d e a p a g a r d o q u e u m a fogueira.
P o r isso p r o p o m o s q u e seja cria d a e m c a d a co m a rc a p e lo m e n o s u m a C m a
ra d e C onciliao.
M as, n e s s e p o n to , s u rg e a questo: co m o se p o d e r ia d a r a o p e ra c io n a liz a o
d e ss a s C m a ra s d e C onciliao? T e n te m o s re sp o n d e r.
A d istrib u i o d o s p ro c e sso s seria feita n o r m a lm e n te , d a fo rm a a tu a l, a tra
v s d o c a rt rio d e d is trib u id o r, q ue, d e p o is d e a u tu a r os p ro c e sso s, faz o so r
teio, d istrib u in d o -o s p a r a as re sp e c tiv a s v a ra s (cveis o u crim in ais) d a com arca.
E n tre ta n to , q u a n d o se tra ta sse d e d ire ito s d isp o n v e is, o juiz d a v a ra d e o ri
g e m e n c a m in h a ria os a u to s a o ju iz d a c m a ra d e conciliao, m e s m o n o caso de
te r sid o c o n c e d id a m e d id a lim in a r o u a n te c ip a o d e tu tela. N e sse s casos, flui
ria d a d a ta d a in tim a o d o d e s p a c h o o p ra z o p a r a a g ra v o d e in s tru m e n to , ou
a ssim q u e to m a ss e c o n h e c im e n to dele. P o r m tal re c u rs o n o a fetaria e m n a d a a
te n ta tiv a d e conciliao.

71

72

D IR C E U G A L O IN O C A R D IN

O ju iz d a c m a ra d e conciliao exp e d iria ofcio in tim a n d o as p a r te s p a r a a


a u d i n c ia p r v ia d e conciliao. Elas c o m p a re c e ria m a c o m p a n h a d a s d e seus
a d v o g a d o s , e ele e n v id a ria esforos p a ra a com p o si o a m ig v e l, m e s m o p o r
q u e in c u m b e aos a d v o g a d o s , c o m o p re c e itu a o art. T \ p a r g ra fo n ic o , inciso
VI - estim ular a conciliao entre os litigantes, prevenindo, sempre que possvel, a instau
rao de litgios. E m h a v e n d o aco rd o , o juiz o h o m o log aria, fixaria as cu sta s e os

h o n o r rio s e e n c a m in h a ria os au to s v a ra d e orig em , p a r a q u e o cartrio recebes


se as custas e d e se n c a d e a sse a respectiva baixa d a d istrib u io d o s autos.
C a so n o h o u v e s s e a c o rd o , a p a r tir d a d a ta d e ssa a u d i n c ia c o m earia a
fluir o p r a z o p a r a c on testao , e o juiz d essa c m a ra re m e te ria os a u to s p a r a a
v a ra d e origem .
P o d e ria essa c m a ra receb er a co n testao , p o r m isso p ro v o c a ria co n fu so
s p a rte s , q u e te ria m d v id a so b re se a e n tre g a ria m ali ou n a v a ra d e origem .
P o r isso m e lh o r q u e C m a ra seja a trib u d a a p e n a s a fu n o re strita d a conci
liao. A co n te sta o seria p ro to c o liz a d a p e ra n te o c a rt rio o n d e tra m ita o p r o
cesso, m e s m o p o r q u e p e r a n te esse cart rio d e u -s e a citao.
As a u d i n c ia s n a c m a ra d e conciliao se ria m re a liz a d a s d e h o ra e m ho ra,
la v ra n d o -se o im e d ia to te rm o d e conciliao, se ela o corresse, s e n d o as cu sta s
p a g a s v a ra d e o rig e m , n o p e rc e n tu a l d e 50%, e os h o n o r r io s ad v o c a tc io s
p a g o s p e la s p a rte s , c a d a q u a l a rc a n d o c o m a v e rb a d e s e u a d v o g a d o , exceto se
e s tip u la s se m o con tr rio . Se n o h o u v e s se ac o rd o , os a u to s se ria m r e m e tid o s
v a ra d e o rig e m , n o im p e d in d o q u e o juiz d esta, m e s m o p o s te rio rm e n te , p u
d esse a c o n se lh a r a s p a r te s a v o lta re m a te n ta r u m a conciliao.
O m u n u s d e ju iz d e c m a ra d e conciliao d e v e ria se r e x e rc id o p o r ju iz e s q u e
fo ssem v o c a c io n a d o s p a r a a n o b re fu n o d e conciliar, c o m p le n a conscincia
d a relevn cia social d a conciliao. E os ju izes d a c o m a rc a e sc o lh e ria m o conci
liad o r.
Esses ju iz e s p o d e r ia m ter auxiliares, q u e s e ria m r e p r e s e n ta n te s d a so c ie d a
de; p o r exem p lo: u m in d ic a d o p e la C m a ra M u n ic ip a l, o u tr o p e la A ssociao
C o m e rc ia l e I n d u s tr ia l d o m u n ic p io . O s a u xiliares s e ria m r e m u n e r a d o s p e la s
e n tid a d e s q u e os in d ic a sse m , o u seja, ficariam ju r id ic a m e n te v in c u la d o s a elas,
m a s p r e s ta r ia m serv io n a s c m a ra s d e conciliao.
Q u a n d o as p a rte s e stiv e re m n a c m a ra d e conciliao, p e rc e b e r o q u e ali
est re p r e s e n ta d a a so c ie d a d e , q u e deseja a conciliao. A t m e s m o p e d id o s d e
falncia p o d e r o nela se r a p re c ia d o s, p o is so c ie d a d e n o in te re ssa d e fo rm a

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A

a lg u m a m a is u m a e m p r e s a falida, com e m p r e g a d o s d e m itid o s e o e m p re s rio


na ru a d a a m a r g u r a . N e ss e caso, a c m a ra p r o c u r a r fa z e r c o m q u e o b e m co
m u m p re v a le a so b re os in te re sse s in d iv id u a is.
A tra v s d o d i lo g o c o n sta n te na c m a ra d e conciliao, p o d e r ser b a sta n te
r e d u z id o o n m e r o d e p ro c e sso s em tr m ite n a s v a ra s. A s p a r te s c o m p r e e n d e
ro q u e , m e s m o q u e u m a d e la s te n h a a lg u m p re ju z o , ele se r c o m p e n s a d o pela
econ o m ia d e te m p o e d e energ ia q u e seriam d e s p e n d id o s a o lo n g o d a tram itao
p ro c e ssu a l (com o p r o c u r a r d o c u m e n to s, localizar te s te m u n h a s , c o n v e rsa r com
elas, c o m p a re c e r s au d in cias, ficar na expectativa d a sentena e recorrer).
A lis, c o n fo rm e visto, os a n tig o s j d iziam : M a is vale u m m au acordo do que
um a boa demanda.

Verifica-se, e n t o , q u e a b a n d o n a m o s v ir tu d e s p ro c e s s u a is d o p a ssa d o .
A p ro p sito , in fo rm a D o m in g o s Svio B ra n d o Lima:

" C o n c e b id a e p ra tic a d a d e s d e os primrdios d a h u m a n id a d e , c h e g o u aos


g re go s , o n d e a con ciliao e s ta v a re g u la d a por lei, c a b e n d o a fun c io n ri
os 0 e n c a r g o d e e x a m in a r os fatos m o tiva d o re s d o litgio e te n ta r c o n v e n
c e r as p artes d e q u e d e v ia m transigir e q ita tiv a m e n te s u a s dife re n as .
E m R o m a , n a Lei d a s XII T b u a s (I, 8) j c o n s ta v a : s e a s p arte s e n tra m
e m a c o rd o e m c a m in h o , a c a u s a e s t e n c e r r a d a . C c e ro a c o n s e lh a v a a
c o n c ilia o , fu n d a d o no a b o rre c im e n to q u e d e v ia te r-s e a o s pleitos, di
z e n d o q u e e la e ra um a to de liberdad e digno d e e log io e p ro veitoso p ara
q u e m o re a liza v a .
C a lig u la ditou s u a q u a s e extino, a o e s ta b e le c e r o im posto d e 4 0 % s o
bre 0 v a lo r d a c a u s a (u m a e s p c ie d e t a x a jud ic i ria ), p un ind o a s concili
a e s c o m o c o n tra v e n e s e m fra u d e a o fis c u s .
R e in tro d u zid a p elo cristianismo, g ra a s a o seu esprito d e c a rid a d e e paz:
En tra e m a c o rd o s e m d e m o ra com o teu a d v e rs rio , e n q u a n to e s t s em
c a m in h o c o m ele, p ara q u e no s u c e d a q u e te e n tre g u e a o juiz, e o juiz te
e n tre g u e a o seu ministro e sejas posto na priso (M a te u s : 5, 2 5 ). 0 poder
d e conciliao d a s controvrsias civis entre fiis foi atribudo pelos im p e ra
d ores cristos a o s bispos (Cd. Just., Liv. 7, D e Aepiscopali Audientia).
A p s s u a c o n s o lid a o no direito e u ro p e u , v a m o s lo c a liz -la florescente
no direito h o la n d s , p a s s a n d o a o fra n c s , a o e s p a n h o l e a o portugus,
d e o n d e a re c e b e m o s .

73

74

D IR C E U G A L D I N O C AR DtN

(...)

C o n s id e r a -s e c o m o o d o c u m e n to m a is antigo e c o m p le to , re fe re n te te n
tativ a obrig at ria d e conciliao, se gu nd o P e d ro A r a g o n e s e s (P ro c e s o y
d e re c h o procesal, M adrid, Aguilar, 1 9 6 0 , p. 19, 4 4 ), um b an d o bolo nh en se
d e 2 4 - 1 2 - 1 5 7 4 . A instituio d a con ciliao obrig at ria s foi introduzida
por P e n n , n a P e n s ilv n ia, um sculo m a is tarde, e n a P rs s ia , e m 1 7 9 4.
E m Portugal, instituiu-se a v e lh a legislao reincola. As O r d e n a e s Fi
lipinas (Liv. 3, T t. 2 0 , 1), re p ro d u zin d o a s O rd e n a e s M a n u e lin a s
(Liv. 3, T t. 15, 1-), a s s im d ete rm in a v a m : E no c o m e o d a d e m a n d a
dir 0 juiz a a m b a s as p arte s q u e a n te s q u e f a a m d e s p e s a s , e s e sigam
e n tre e le s dios e d is s e n s e s , se d e v e m concordar, e n o g a s ta r sua s
f a z e n d a s por s e g u ire m s ua s v o n tad e s , p o rq u e o v e n c im e n to d a c a u s a
s e m p re duvidoso. E isto, q u e d ize m o s , d e re d u zire m a s p arte s c o n
crdia, n o d e n e c e s s id a d e , m a s s o m e n te d e h o n e s tid a d e nos casos
e m q u e o b e m p u d e re m f a z e r .
A C o nstitu io do Im prio, d e 2 5 - 0 3 - 1 8 2 4 , d e u -lh e u m c a r te r c o m p u ls
rio, q u a n d o e s ta b e le c e u , no art. 1 61: S e m s e fa z e r c o n ta r q u e s e te m
in te n ta d o o m eio d e reconciliao n o se c o m e a r p ro ce s s o a lg u m , e,
s im u lta n e a m e n te , iniciou o declnio do instituto, p a s s a n d o -o a o d e v e r do
ofcio dos ju iz e s d e p a z (art. 1 6 2 ). Su rg ind o d a a d efin i o d e P e re ira e
S o u z a (P rim e ira s linhas sob re o processo civil, Rio d e J a n e iro , H . G arnier,
1 9 0 7 , p. 5 3 , 7 8 ): re conciliao o ato pelo qual o autor, a n te s d e c o m e
a r seu p ro cesso, p re te n d e a m ig a v e lm e n te evit-lo no ju zo d e p a z , ou,
c o m o q u e r P a u la Baptista, o ato judicial q u e p re c e d e a o e x e rc c io d as
a e s cveis e com e rc ia is p ara o fim d e a c o m o d a r a s p a rte s dissid en tes
sob re s e u s direitos' (C o m p n d io d e the o ria e prtica, Lisboa, Liv. C l s s i
c a Ed., 1 9 1 0 , p. 73, 8 2 ).
A Lei d e 2 9 - 1 1 - 1 8 3 2 , a o regular a disp osio provisria d a a d m in is tra o
civil, nos s e u s arts. 1 ^ 6 7 -, p receituou a s regras do p ro c e d im e n to c on c i
liatrio, a s quais e s t o re s u m id as por M o ra e s d e C a rv a lh o , e m s u a P ra x e
B rasileira, e d i o d e 1 8 5 0 , 1 6 2 -7 3 .
P e lo D e c re to d e 1 7 -1 1 - 1 8 5 0 , a co n c ilia o e ra p ra tic a d a por q u a lq u e r
juiz. a in d a q u e n o fos s e juiz d e p az. D e po is , to rn o u -s e u m p ro c e d im e n to
d a c o m p e t n c ia d a q u e le ju zo , a t 1 8 9 0.
O R e g . n - 7 3 7 , d e 2 5 - 1 1 - 1 8 5 0 , nos s e u s a rts . 2 3 a 3 8 , d is c ip lin o u

D E S A F IO S OA C ID A D A N IA

m in u c io s a m e n te e s s e p ro ce d im e n to prvio e m to d a s as c a u s a s c o m e rc i
ais. O m e n c io n a d o art. 2 3 p rec e itu av a : N e n h u m a c a u s a c o m e rc ia l s er
p ro po sta e m ju z o con tencioso, s e m q u e p re v ia m e n te s e te n h a ten tad o
m eio d e c on ciliao , ou por ato judicial, ou por c o m p a r e c im e n to v olu nt
rio d a s p a rte s .
A C o n s o lid a o d a s Leis do Proc e s s o Civil, d e a uto ria do C o n s . Antnio
J o a q u im R ib as , c o m fora d e Lei, no art. 18 5 , pre s c re v ia: E m reg ra, n e
n h u m p ro ce s s o pod e c o m e a r s e m q u e s e fa a c o n s ta r q u e se te m te n ta
do 0 m e io d e con ciliao p era n te o juiz d e paz".*'

D e sp re z o u -s e o d i lo g o , e os p ro c e sso s d e ix a m a so c ie d a d e possessa...
G raas a tal c m a ra , h a v e ria re d u o d o n m e r o d e p ro c e sso s, c o m im p o r
ta n te d ife re n a e m relao s s m u la s v in cu lan tes; e sta s p r o c u r a r ia m r e d u z ir o
n m e r o d e p ro c e sso s d e fo rm a c o m p u ls ria e dita to ria l; a q u e la p ro c u ra ria eli
m in a r n a ra iz o e s p rito d e litigncia, a tra v s d e ato e s p o n t n e o , d e fo rm a a m is
tosa.
A s s m u la s v in c u la n te s r e d u z ir ia m o n m e r o d e p ro c e s so s , a c e le ra n d o a
p re sta o d a tu te la ju risd ic io n a l. C o n tu d o , elas tm p o r objetivo p r e c p u o b e n e
ficiar o E sta d o , e m v e z d o c id a d o , e re p re s e n ta m cnpifis d h n in u tio p a r a o s juizes
e tr ib u n a is inferiores. A ssim , m e sm o q u e o S u p r e m o erre, im p e -se u m e n te n
d im e n to q u e p o r certo se m a n te r p o r m u ito tem p o.
E p o r q u e elas v is a m b ene fic ia r o E stado? P o rq u e m u ita s v e z e s o S u p re m o
T rib u n a l F e d e ra l e o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia ju lg a m p o litic a m e n te , e no
ju rid ic a m e n te .
Se as s m u la s v in c u la n te s fo ssem re a lm e n te c ria d a s c o m a in te n o d e r e d u
zir o n m e r o d e p ro c e sso s, a c e le ra n d o a tra m ita o p ro c e ss u a l, a legislao ofe
receria v ria s o p e s q u a n d o se tra ta sse d e d ire ito s h o m o g n e o s o u d ifu so s,
c o m o a p o s s ib ilid a d e de, co m a p e n a s u m a ao, re so lv e r o p r o b le m a d e m ilh a
re s d e p esso as.
N o fu tu ro h a v e r o p r e d o m n io d e aes coletivas, q u e a g o ra c o m e a m a ser
p ro p o s ta s , v isto q u e a C o n stitu i o F ed eral as p re stig io u . A ssim , ela possibilita
o m a n d a d o d e se g u ra n a coletivo (art. 5", LXX), a ao p o p u la r (art. 5^, LXXIII)
e o m a n d a d o d e in ju n o coletivo (art. 8 ^ III).
FRANA, R. Limongi (Coordenao). E n ciclo p d ia S a raiva do D ireito, vol. 17. So Paulo: Saraiva,
1977, p, 109-110,

75

76

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

N o p la n o in fra c o n stitu c io n a l, existe a ao civil p b lic a (Lei n 7.347/85).


C o n tu d o , a re c e n te M e d id a P ro visria n ' 2.102-27/2001 v eio a im p e d ir a u tiliz a
o d e sta e m m a t ria trib u t ria , p o is a c re sc e n to u ao a rtig o 1" d a q u e la lei o se
g u in te p a r g ra fo nico: " N o ser cabvel ao civil p b lic a p a ra v e ic u la r p r e
ten s es q u e e n v o lv a m trib u to s, c o n trib u i es p re v id e n c i ria s, o F u n d o d e G a
ra n tia p o r T e m p o d e Servio - FGTS o u o u tro s f u n d o s d e n a tu r e z a in stitu c io n a l
cujos b en eficirio s p o d e m se r in d iv id u a lm e n te d e te rm in a d o s " .
C o m o a ao civil p b lic a era o rig in a ria m e n te d o ta d a d e efeitos erga om nes,
co m u m a n ica ao se re so lv e ria m d iv e rso s p ro b le m a s d e c o b ra n a in d e v id a
re la tiv a q u e le s tem as. O E xecutivo v iu o risco q u e co rria c o m tal tip o d e ao
( p o rq u e b a s ta ria , p o r e x e m p lo , q u e u m ju iz ju lg a sse fa v o ra v e lm e n te u m a ao
civil p b lic a e m m a t ria trib u t ria p a r a q u e ela tivesse efeito erga o m nes e im e d i
a to e m to d o o Brasil) e tra to u d e im p e d i-la c o n tra o s se u s in te re sse s, a l m disso
re s trin g iu a esfera d e a b ra n g n c ia , "nos lim ites da competncia territorial do rgo
prolator, c o n so a n te a re d a o d a Lei n 9 .494/97, q u e d e u n o v a re d a o a o art.

16 d a Lei n" 7.347, d e 24 d e ju lh o d e 1985.


L o g icam en te, se c o m a p e n a s u m a ao civil p b lic a , q u e e n v o lv e d ire ito s
d ifu so s e h o m o g n e o s, p o d e r ia ser re so lv id o o p r o b le m a d e m ilh a re s d e c id a
d o s e o g o v e rn o p re fe riu v e d a r s u a u tiliz a o e m m a t ria s d e se u in teresse,
c o n tra d it rio in v o c a r as s m u la s v in c u la n te s p a ra r e d u z ir o n m e r o d e p ro c e s
sos... A in a d m is s ib ilid a d e d e c o m p o rta m e n to c o n tra d it rio {venire contra fa c tu m
proprium ) seria o m n im o q u e o c id a d o p o d e ria e s p e ra r d o g o v e rn o .

O u tra m e d id a possvel p a ra e v itar a sobrecarga d o P o d e r Judicirio exigir a


m e d ia o e a a rb itra g e m co m o pr-fase ao exerccio d o d ireito d e ao. E m m u i
tos pases (A rgentina, EUA etc.), n o se bu sca a tutela ju risd icio n al sem q u e antes
sejam e x a u rid a s a m ed iao e a arbitragem . Isso n o elim ina o direito d e ao,
c o n stitu cio n alm ente g a ra n tid o p e la C F /8 8 , m a s t o -so m en te o condiciona.
A b e m d a v e r d a d e , ta m b m n o p o d e m o s d e ix a r d e fa z e r u m a o u tra a nlise
d e d ire ito c o m p a ra d o . O Brasil d e u n fase lei d e a rb itra g e m , e n q u a n to a F ra n
a, m ed iao . T alv ez se p o ssa c o m p re e n d e r isso p e lo siste m a ju rd ic o im p e ra n te
e n tre o s d o is pases: o Brasil c e n tra liz a v a a ap lic a o d o s iste m a ju rd ic o n a
fig u ra d o juiz. A Frana, n o , ta n to q u e n a re a tra b a lh ista , q u e m a is c o m p le
xa, j h a v ia o C o n se lh o d o s H o m e n s P ru d e n te s {Conseil de p ro u d 'hom m es), d e sd e
1806, o q u a l fo rm a liz a v a a conciliao e n tre os e m p r e g a d o s e o s e m p re g a d o re s .
A ssim , e n q u a n to a q u i h av ia n e c e ssid a d e d e q u e b r a r a s b a rre ira s n o s e n tid o d e

DE S A FIO S DA C I D A D A N IA *

q u e a p e n a s o ju iz to g a d o d e v a so lu c io n a r os litgios, l e sta v a a rra ig a d a n a soci


e d a d e a id ia d e q u e p e ss o a leiga ta m b m p o s s a faz-lo.
D essa fo rm a , n a F ra n a , p e la Lei n" 95,125, d e 8 d e fe v e re iro d e 1995, foi
d a d a n fase m ed iao :

"Art. 2 1 . O juiz p od e, depois d e ter obtido o a c o rd o d a s parte s , d e s ig n a r


u m a te rc e ira p e s s o a q u e p re e n c h a a s c o n d i e s fixa d a s p elo d e c re to do
C o n s e lh o d e E s ta d o p a ra proceder; 1) se ja s te n tativ a s prvias d e c on c i
lia o p rescritas p e la lei, salvo e m m a t ria d e divrcio e s e p a r a o de
corpos; 2 ) se ja a u m a m e d ia o , e m q u a lq u e r t e m p o do p ro ce s s o , c o m
p re e n d id o e m recu rso d e u rg n cia, p a r a ten ta r c h e g a r a u m a c o rd o entre
a s partes".

A q u e la lei a in d a e stab eleceu q u e as p a rte s d e te r m in a m liv re m e n te a r e p a rti


o e n tre elas d o e n c a rg o d o s c u sto s d a m e d ia o (art. 22). A d u r a o d a m isso
d e conciliao o u d e m e d ia o in icialm en te fixada p e lo ju iz s e m q u e possa
e x c e d e r u m p ra z o fixado p o r d ecreto d o C o n se lh o d e E stad o . P o d e o ju iz, no
e n ta n to , r e n o v a r a m iss o d e conciliao o u d e m e d ia o . Ele p o d e ig u a lm e n te
e n c e rr -la a n te s d a e x p ira o d o p r a z o q u e fixou, d e ofcio, o u a p e d id o do
c o nciliado r, d o m e d ia d o r o u d e u m a p a r te (art. 23).
Jean -F ran o is Six re c o n h e c e ta x a tiv a m e n te que: " a m e s m a id ia fixa, de
d e sa fo g a r o s trib u n a is "
Percebe-se q u e n o Brasil h o u v e a legislao c o m e n fo q u e n a a rb itra g e m , p o r
q u e q u e m p o d e o m a is p o d e o m en o s; assim , se se p o d e a a rb itra g e m , p o d e r-se a m ed iao . J n a q u e le pas, co m o a m e d ia o e sta v a a r r a ig a d a n a sociedad e,
a legislao a p e n a s a c o n so lid o u , p e r m itin d o ao ju iz q u e , se p e rc e b e ss e a co n v e
n incia, n o p ro c e sso , d e m e d ia d o re s , ac o n se lh a sse as p a r te s a p ro c u r -lo s. Esse
sistem a foi p o litic a m e n te m e lh o r q u e o n osso , p o rq u e ; re c o n h e c e u q u e n e m to
d o s os ju iz e s t m v o cao p a r a m ed iar; q u e o p a p e l d o ju iz ju lgar; q u e o te m p o
d e s p e n d id o p e lo ju iz e m te n ta r a m e d ia o estaria c o m p r o m e te n d o se u s afaze
res n o rm a is; e q u e , im p lic ita m e n te , o E s ta d o esta ria a d m in is tr a n d o p ro b le m a s
p a r tic u la r e s c o m v e rb a p b lic a (p a g a n d o o juiz). Fica p a te n te q u e n a F rana
aceita-se n o r m a lm e n te a fig u ra d o juiz leigo (m e d ia d o r), e q u e n o Brasil h u m

D in m ica da M edia o . Belo Horizonte; Del Rey, 2001, p. 143.

77

78

O IR C E U G A L D IN O C A R D IN

certo p r u r i d o d e resistncia, e m b o ra , aos p o u c o s, a s o c ie d a d e v se c o n scien ti


z a n d o d a im p o rt n c ia d a m e d ia o e d a a rb itra g e m . N o ssa lei d e a rb itra g e m foi
falha p o r q u e d e u n fase n esta, q u a n d o d e v e ria ta m b m t-lo feito e m relao
m ed iao . N a p ra x is a m e d ia o p e n e tra m a is r a p id a m e n te e c o m m a io r efic
cia d o q u e a a rb itra g e m . sim p les o raciocnio: p a ra o b rasileiro, q u e se fixa n a
fig ura d o juiz, n a a rb itra g e m os rb itro s so ju izes leigos, e a in d a h prefe r n c ia
p o r u m a deciso d o ju iz to g a d o . Tal raciocnio n o co rre to , p o r q u e o rb itro
tem e x p erin cia e c o n h e c im e n to tcnico so b re a m a t ria q u e a n a lisa , talvez at
m a is q u e o juiz; c o n tu d o , p refern cia n o se discu te. J n a m e d ia o , o m e d ia
d o r n o se n ten cia, a p e n a s a p ro x im a as p a rte s e as in d u z m o s tra n d o -lh e s as v a n
ta g e n s d a conciliao; e n t o a m e d ia o se to rn a m ais sim p tic a a o brasileiro.
C o m u m a v a n ta g e m : n a m e d ia o p re v a le c e o g a n h a - g a n h a p a r a a m b a s as p a r
tes; j n a se n te n a jud icial e n a a rb itra g e m u m a g a n h a e o u tra p e rd e . O risco
n esses casos s e m p re m aior.
T a m b m , c o m o se v iu , n a F ran a h resistncia q u a n to m e d ia o "e m m a
tria d e d iv rcio e se p a ra o d e c o rpo s". T odavia, u m p re c o n c e ito legislativ o
in fu n d a d o , im a tu r o e p e rv e rso , ta n to l c o m o c, p o r q u e se h u m a re a q u e
necessita d e m e d ia d o r - a lg u m p o n d e r a d o , sen sato , e q u e d is p o n h a d e te m p o
e d e m u ita pacincia - , essa rea a d o d ire ito d e fam lia. U m a d e c is o r e p e r c u
te e m geraes.
O juiz, s e m p r e a s so b e rb a d o , n o d is p e s e q u e r d e te m p o p a r a d a r a d e v id a
a te n o aos casais e m caso d e se p a ra o o u d e divrcio. Ser q u e e fe tiv a m e n te
q u e r e m se s e p a ra r? Ser q u e e sto a m a d u re c id o s q u a n to a e ssa a titu d e ? Ser
q u e n o a p e n a s u m im p u lso e m ocion al p o r alg u m re ss e n tim e n to , q u e o te m p o
lo g o a p a g a ? E nfim , se h m a t ria q u e p re c isa ria re a lm e n te d e u m m e d ia d o r q u e
d esse m a io r d e d ic a o a o s p o te n c ia is litgios, e x a ta m e n te a c o n c e rn e n te ao
d ire ito d e fam lia, p e lo s reflexos q u e tra z e m q u a is q u e r q u e sejam as a titu d e s
to m a d a s p o r q u a lq u e r d a s p a rte s . E p a r a q u e e rro s g ra v e s se ja m e v ita d o s
n ecessrio q u e o m e d ia d o r ten h a te m p o e tolerncia, at q u e o s casais p o s sa m
to m a r u m a deciso co nscien te e a m a d u re c id a .

2.4.3 Medida liminar


A m e d id a lim in a r n o u m fav o r q u e o juiz c o n c e d e p a rte . N o ato d e
b en e v o l n c ia n e m d e cortesia: se p re e n c h id o s os p r e s s u p o s to s legais, ela u m
d ire ito d o cidad o .

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

A co n cesso d a lim in a r n o ato d iscricio n rio (sujeito a o s critrio s d a o p o r


tu n id a d e e d a c o n v en in cia, s e g u n d o o p o n to d e v ista d o juiz), e sim ato v in c u
lado . V in cu la-se u n ic a m e n te aos p r e s s u p o s to s d o /iin iu s boni hiris (fu m aa d e
b o m direito ) e d o periculu m in mora (p erigo d a d e m o ra ). P re e n c h id o s esses p r e s
s u p o s to s, o ju iz te m o p o d e r - d e v e r d e conced-la. Se ele n o o fizer, esta r p e r
p e tr a n d o m a n ife sta ilegalid ad e.
T o d a v ia , n a p r tic a , o q u e se verifica q u e s u m a m in o ria d e m a g istra d o s
a g e d e n tr o d o p a d r o d a leg alid a d e . A ssim , a lg u n s, e m b o ra a le g u e m in d e p e n
d n cia d o P o d e r Ju d icirio, so h n g n mciniis d o E xecu tiv o , o q u e se c o m p ro v a
com su a s atitu d e s; n o c o n c e d e m lim in ar, p o r q u e n o q u e r e m c ria r in c o m p a ti
b ilid a d e s com 0 E xecutivo. M u ita s vezes eles a le g a m q u e p re c is a m a n te s o u v ir
a a u to r id a d e c o a to ra (com o q u e in d ire ta m e n te co n fe ssa m q u e n o d o m in a m a
m a t ria , o u q u e t m te m o r reveren ciai a u to r id a d e c o ato ra) o u q u e , co m o a
m a t ria n o v a , p re fe re m se n te n c ia r sem c o n c e d e r lim in a r e e s p e r a r q u e os tri
b u n a is d e fin a m d ire triz so b re ela, p a ra , no s ju lg a m e n to s s e g u in te s, a g ire m de
a c o rd o com tal d ire triz (estes re v e la m q u e n o e sto p r e p a r a d o s p a r a o carg o de
juiz, p o is s o im a tu ro s , n o te n d o o p in i o p r p ria ); o u tro s d e ix a m p a r a a p re c i
ar a lim in a r ao p r o la ta r a sen ten a (o q u e j n o a p re c ia o d e lim in a r, e sim
d o m rito , e re v e la m receio d e c o n c e d e r a lim inar); o u tr o s a in d a e s p e r a m p a r e
cer d o M in ist rio P blico, p a ra e m se g u id a ju lg a r o m rito d o m a n d a d o d e se
g u ra n a , se m q u e te n h a m a p re c ia d o o p e d id o d e lim inar.
E nfim , o m a n d a d o d e s e g u ra n a , q u e u m a g a ra n tia c o n stitu c io n a l d o c id a
d o , g o lp e a d o j n a m e d id a lim inar...

2.5 O MINISTRIO PBLICO


O M in istrio P b lico s u rg iu com N a p o le o , q u e c rio u essa in stitu i o p a ra
q u e fosse a d e fe n s o ra d o P o d e r E xecutivo. Ele a b o m in a v a os a d v o g a d o s , p o r
q u e estes o o m b re a v a m .
M erece d e s ta q u e a o rig em m ais u s u a lm e n te c o m e n ta d a p e la d o u trin a .
C o n fo rm e e x p la n a M o u ra Rocha:
"... surgiram a in d a na F ra n a medieval os p r o c u r e u r s d u roi, inspirados
no s a io n g erm n ic o . P a s s a ra m d e d e fe n s o re s d a lei fiscal a fiscais d a lei
(e m sentido g en ric o ) e d efe n s o re s dos o prim idos. D u ra ra m a t o sculo
X , p o c a d a d e c a d n c ia do reino fra nc s e s im u lt n e a influncia d a Ig re

79

80

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

ja, q u e utilizou p a r a si tais d e fe n s o re s , d e n o m in a n d o -o s

advocatus. P o s

t e rio rm e n te , o p o d e r real foi re co nstru do , a p r e s e n t a n d o o

baillis p a ra

d e fe n d -lo .
O b s e r v a - s e n e s s e d efe n s o r real a m ais c o m u m ind ic a o d e n a s c im e n to
do M inistrio Pblico, c uja certido a O r d e n a n a d e 2 5 d e m a r o de
1 3 0 2 , d e F e lip e IV, o Belo, rei d a F ra n a , o qual e x ig ia d e d ic a o exclu si
v a s c a u s a s reais.
In te re s s a n te p e rc e b e r que a etim ologia d a p a la v ra
v o c b u lo latino

ministrio s e p re n d e ao

m anus, q u e re n d o significar a m o do rei, hoje m o d a lei.

C o m a re v o lu o fra n c e s a e s e us ideais, fo ram tra zid a s m a io re s g a ra n ti


a s instituio e s e u s integrantes. Po s te riorm e nte , os tex to s d e N a p o le o
B o n a p a rte v ie ra m instituir o q u e hoje se c o n h e c e p o r c orpo d e oficiais do
M inistrio Pblico n a F ra n a , o u s e ja, o

p a rq u e t.

T o d a v ia , a o lo n g o d o te m p o , o M in ist rio Pb lico p a s s o u a te r d u p la funo:


e m a lg u n s casos, ele d e f e n d e o E xecutivo; e m o u tro s, a so cied ad e. P o r ex em p lo ,
e m m a n d a d o s d e se g u ra n a e e m ex ecutivos fiscais, d e fe n d e o E xecutivo; em
aes civis p b lic a s e d e im p ro b id a d e , d e fe n d e a so c ie d a d e . T o d a v ia , se u s v e n
c im e n to s a d v m d o E sta d o , s e fo r d o M in ist rio P blico E sta d u a l, o u d a U n io,
se for d o M in istrio P blico Federal.
A ssim , e sse siste m a d e a tu a o cria p a ra o M P - q u e d e f e n d e o ra a so c ie d a
d e , o ra o E xecutivo, n o s a b e n d o p a r a o n d e c a m in h a - u m a crise d e id e n tid a d e ,
p o is d e v e ria a g ir a p e n a s c o m o d e fe n s o r d a so ciedad e. N e ssa d ire o d e v e ca
m in h a r. A d efesa d o E xecutivo e d o s en te s p b lic o s (U nio, e sta d o , m u n ic p io )
d e v e r se r lim ita d a aos p ro c u ra d o re s m u n ic ip a is, e s ta d u a is o u fed erais, d e a c o r
d o com a c o m p e t n c ia constitucional.
P o r o u tr o la d o , in d isp e n s v e l criar m e c a n ism o s ju rd ic o s q u e e v ite m a b u
so d e p o d e r e a rb itra rie d a d e s p o r a lg u n s m e m b ro s d o M P, p o r q u e , in fe liz m e n
te, isso te m o c o rrid o c o m freq n cia, e com aes te m e r ria s o u a titu d e s q u e
re v e la m d e sc o n h e c im e n to jurdico. Isso n o u m a ofensa; u m a co n sta ta o
d e a tu a o d e c e rto s m e m b ro s d o M P, m a s q u e d e v e se r c o a rc ta d a , p a r a q u e
re fe rid a in stitu i o n o seja m a c u la d a p o r a titu d e s d e a lg u n s deles. A m in o ria
Texto e x tra id o da

internet, atravs do s/fe

h ttp ://w w w .Q 0 0 Q le .C 0 m .b r/se a rch 7 Q sca ch e :

2VslN rPN 8B EJ:www.m D.pr.gov.br/institucional/c0at/m onoafaf.doc+M inist% C3% A9rio-t-P% C3%


BAblico +suraimen(o+Naoole%C3%A3o&hl=pt'BR&ie=UTF-8. acessado em 26

de maro de 2004.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

sen sa c io n a lista n o p o d e c o m p ro m e te r o tra b a lh o q u e a m a io ria d isc re ta tem


re a liz a d o .

M u ito s a b u s o s j fo ra m c o m e tid o s e m uitas re p u ta e s j fo ra m injusta


m e n te e n x o v a lh a d a s g ra a s a o s is te m a d e jo g a d a s e n s a i a d a s e n tre
m e m b ro s do M P e seto re s d a im p ren sa, no q ual o p ro cu ra d o r f a z v a z a r
a lg u m a s d es c o n fia n a s , a lg u m a s ins in u a es - ou a lg u m a s a le ivo s ia s c o m p r o m e te d o r a s d e d e te rm in a d a s p e rs o n a lid a d e s pblicas, tais m e x e
ricos s e tra n s fo rm a m e m fatos, v e icu la d o s p e la im p re n s a , e d a p o d e m
e n s e ja r u m a n o tita c rim n s c a p a z d e f u n d a m e n ta r d e n n c ia do M P - e o
crculo fec h a .
O u tr a fo rm a d e a b u s o -

muito p ra tic a d a d u ra n te o g o v e rn o F H C , pelo

fa m o s o p ro cu ra d o r Luiz F rancisco d e S o u z a , e n tre outro s - o d e m e m


bros d o M P a s s u m ire m o palco e os holofotes, a n te s d e q u a is q u e r con c lu
s e s d e inq u rito s ou d es e n v o lv im e n to a p r o fu n d a d o d e in v e s tig a e s ,
p ara fa z e re m

g ra n d e e s ta rd a lh a o -

com o q u e in d u z e m

a um

p re ju lg a m e n to c o r a m p o p u lo , q u e pod e e s tra g a r im a g e n s e re p u ta e s de
p e s s o a s , d e m odo irreversvel.^'

T alv ez at p u d e s s e d iz e r se m m e d o d e errar: a s o c ie d a d e b ra sile ira n o


c o ntra a in stitu i o d o M in istrio P blico, m as, a a p ia , p o r m re p e le e c e n su ra
as a titu d e s d e a lg u n s d o s in te g ra n te s, c o m o re tra ta o d e sa b a fo d o ex-secretriog eral d a P re sid n c ia E d u a r d o Jorge C a ld a s P ereira: C h e g a r a m a d e s tr u ir e a
tro c a r d o c u m e n to s p blico s. Esse g r u p o age to ta lm e n te fora d a lei".'^
m u ito c o m u m o M P in g re ssa r com ao civil p b lic a o u d e im p ro b id a d e
e m face d a ile g a lid a d e d e u m ato a d m in is tra tiv o , p o r m se m q u e te n h a h a v id o
le s o ao p a tr im n io p b lic o . C o n fu n d e -s e ile g a lid a d e c o m im p r o b id a d e . N o
p rim e iro caso, h m e ra tra n sg re ss o d a lei; n o se g u n d o , h vio lao d a n o rm a ,
p o r m c o m u m a a g ra v a n te : h leso ao p a tr im n io p b lic o , c o m o e n riq u e c i
m e n to d o a g e n te p blico.
N o m u n ic p io d e C id re ira (RS), o M in istrio P b lico E s ta d u a l p o s tu lo u em
juzo, e m face d e a le g a d a " im p ro b i d a d e a d m in is tr a tiv a " , o a fa s ta m e n to lim in a r
Da teoria conspiratria mordaa. In 0 Estado de S. Paulo", 4 de abril de 2004, p, A-3.
JORGE, Eduardo. E s s e g ru p o a ge to ta lm en te fora da lei. In "0 Estado de S. Paulo , domingo, 04 de
abril de 2004, p. A-4.

82

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

d o p re fe ito Eli Braz S essim eleito e m 1992, b e m c o m o q u e ele fosse c o n d e n a d o


a r e p a r a r d a n o s c a u s a d o s ao m u n ic p io . A lim in a r foi c o n c e d id a , e ele ficou
a fa s ta d o d o cargo. C o n tu d o , ao sen ten ciar, o ju iz ju lg o u im p r o c e d e n te a ao,
m a s o m a n d a to d a q u e le p re fe ito j h a v ia e x te rm in a d o fazia te m p o . Fatos sim i
lares o c o rre m e v m o c o rre n d o e m d iv e rsa s o u tra s c id a d e s d o Brasil. A ssim , o
M P tr ip u d ia so b re a h o n r a alh eia, e n o re s p o n s a b iliz a d o p o r isso. M a s h
o u tro s casos q u e d e ix a m q u a lq u e r p e sso a su rp re sa : se h a lg u m q u e d e v a p r i
m a r p ela le a ld a d e p ro c e ssu a l, o M P; to d a v ia , altera in te n c io n a lm e n te a v e r d a
d e d o s fatos, d e t u r p a n d o at q u a n to a d o c u m e n to s . E x em p lo : o M P d iz q u e
h o u v e p a g a m e n to a d e te r m in a d o c id a d o , p o r m q u e n o tin h a sid o e fe tu a d o o
e m p e n h o p e la p re fe itu ra , e p o r essa ra z o c o n sta ta v a -se u m a irre g u la rid a d e .
T o d a v ia , ele an e x a o e m p e n h o p e ti o inicial, a n exa-o n o in q u rito civil, q u e
ta m b m fica a n e x a d o p e ti o inicial, e a p re fe itu ra v e m e d e m o n s tr a e m sua
co n te sta o q u e h o u v e e m p e n h o e anexa-o. C inic a m e n te , n a s ale g a e s finais, o
M P d iz q u e n o h o u v e e m p e n h o , e insiste n a "irre g u la rid a d e " ...
O u tr o e x em p lo : o M P d iz, n u m a ao, q u e d e a c o rd o c o m o p rin c p io d a
p u b lic id a d e , o c o n tra to n o foi p u b lic a d o n o D irio Oficial; c o n tu d o , a p u b lic a
o h a v ia o c o rrid o u n s d e z d ia s a n tes d a d a ta d o in g re sso d a ao, e sabe-se q u e
o M P, p o r d e v e r d e ofcio, o b rig a d o a fazer a leitu ra d i ria d o D irio Oficial.
D e p re e n d e -se q u e ele sabia q u e h o u v e ra a p u b licao , p o r m a p r e s e n to u u m a
re a lid a d e to ta lm e n te d ife re n te ao juiz, p a r a in d u z i-lo a c o n c e d e r a in d isp o n ib ilid a d e d e bens.
A in d a , n u m ltim o ex em p lo , o M P in g re ssa c o m "ao civil p b lic a (sic) d e
r e s p o n s a b ilid a d e p o r a to d e im p r o b id a d e a d m in is tra tiv a " e ta m b m co m a ao
p e n a l c o n tra s e rv id o re s p b lic o s a le g a n d o q u e a c u m u la r a m in d e v id a m e n te c a r
g o s pblicos.
Q u a n to ao p e n a l, n o h n o sistem a n o rm a tiv o b ra sile iro n e n h u m a lei
d iz e n d o se r d e lito a a c u m u la o d e carg os p b licos. A C F /8 8 clara: " n o h
crim e s e m lei a n te rio r q u e o d efina, n e m p e n a se m p r v ia c o m in a o legal" (art.
5", XXXIX) e " n in g u m ser o b rig a d o a fazer o u d e ix a r d e fazer a lg u m a coisa
seno e m v irtu d e d e lei" (art. 5, II). P o r c o n seq n cia, in ex iste q u a lq u e r sano
p e n a l p a r a o s e r v id o r p b lic o q u e a c u m u la in d e v id a m e n te c a rg o s p b lic o s.
H a v e ria u m a in co ern cia lgica n o rm a tiv a , se, e m tese, h o u v e s s e u m a lei nesse
s e n tid o , p o r q u e o E sta d o ta m b m se ben eficio u com o tra b a lh o d e sse servid or.
Seria u m a a titu d e d ra c o n ia n a p u n ir o se rv id o r q u e lhe p r e s ta r a servios, q u a n -

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

d o O E s ta d o foi b e n e fic ia d o c o m tais pr stim o s. A fro n ta r-se -ia o p rin c p io venire


contra factu m pro p riu m , p e r a n te a in a d m is s ib ilid a d e d e u m c o m p o r ta m e n to c o n

tra d it rio .
C o m relao p re te n s o cvel n o se n tid o d e q u e o s e r v id o r re stitu a o salrio
q u e p e rc e b e u , h a v e ria e n riq u e c im e n to ilcito p o r p a r te d o E sta d o , p o is afinal ele
u s u f r u iu o serv io p r e s ta d o p e lo s e rv id o r. A Lei n" 8 .6 6 6 /9 3 , c o m a re d a o
d a d a p ela Lei n 9 .6 4 8 /9 8 , d is p e n o p a r g ra fo n ic o d o art. 59 q u e a n u lid a d e
n o e x o n e ra a A d m in is tra o d o d e v e r d e in d e n iz a r o c o n tr a ta d o p e lo q u e este
h o u v e r e x e c u ta d o at a d a ta e m q u e ela for d e c la ra d a " . O ra, se o s e rv id o r rece
b e u s e u s v e n c im e n to s d e boa-f, m e s m o q u e h o u v e s s e a c u m u la o d e cargos,
ele n o teria q u e d e v o lv e r o resp ectiv o n u m e r r io , p o r q u e o E sta d o se b e n e fi
cio u c o m a p r e s ta o d o s servios e ele la b o ro u d e boa-f. A d e m a is , os v en ci
m e n to s t m c a r te r d e a lim en to s; c o n su m id o s, n o h c o m o se r re stitu d o s. S
se p o d e c o g ita r d e d e v o lu o d e d in h e iro d e p o is q u e se o p o r tu n iz a a o s e rv id o r
a o p o p o r u m d o s c a rg o s a c u m u la d o s e se p r o v a q u e ele a g iu d e m -f. N a
a u s n c ia d e ssa p ro v a , m e s m o p o r q u e a boa-f se p r e s u m e , n o se p o d e r exigir
q u e p r o c e d a d e v o lu o d o n u m e r r io recebid o; a rig o r, e v e n tu a l m -f s o
m e n te p o d e se r a le g a d a a p s se r o u to r g a d o o d ire ito d e o p o pelo s e rv id o r
p b lic o a fim d e q u e ele o p te p o r u m do s cargos.
Frise-se; te c n ic a m e n te , o M P n e m p o d e r ia in g r e s s a r c o m a o p e n a l n e m
c o m ao d e im p r o b id a d e , p o r q u e a Lei F ed eral n" 8.112, d e 11 d e d e z e m b r o de
1990, q u e d is p e so b re o R eg im e Jurdico do s S e rv id o re s P b lico s C ivis d a U nio,
d a s a u ta r q u ia s e d a s fu n d a e s p b lic a s federais, d iz n o a rtig o 133:

"Art. 13 3 . V e rific a d a e m pro cesso disciplinar a c u m u la o proibida e pro

vada a b o a -f , o servidor o ptar por um dos cargos.


1 P r o v a d a a m -f , p e rd e r t a m b m o c a rg o q u e e x e rc ia h m a is te m
po e restituir o q u e tiver percebid o ind e v id a m e n te .
2 N a h ip tese do p a r g ra fo anterior, s e n d o um dos ca rg o s , e m p re g o
ou fu n o e x e rc id o e m outro rg o ou e n tid a d e , a d e m is s o lhe s e r
c o m u n ic a d a .

D e p re e n d e -s e q u e essa lei, se g u in d o o c o m a n d o c o n stitu c io n a l d o re sp e ito


d ig n id a d e d a p e s so a (art. 1, III, d a C F /8 8 ), e m re sp e ito a o se rv id o r p b lico,
im p s c o m o c o n d i o d a ao q u e , a d m in is tra tiv a m e n te , h o u v e s s e o p ro cesso

84

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

d isc ip lin a r a fim d e q u e fosse e fe tiv a d o o d ire ito d e o p o p e lo s e rv id o r p b lic o


p o r u m d o s c a rg o s, caso re a lm e n te estivesse c o n fig u ra d a a a c u m u la o ilegal
d e cargos. Isso p o r q u e o s e rv id o r p b lic o q u e m d e t m o d ire ito lq u id o e certo
d e o p ta r p o r u m d eles, q u a n d o e v e n tu a lm e n te h a c u m u la o . N o p o d e o p o
d e r p b lic o im p o r su a v o n ta d e so b re a d o s e rv id o r. P o r isso foi im p o s to q u e
h o u v e ss e o d e v id o p ro c e sso a d m in istra tiv o , p a r a q u e o s e rv id o r p b lic o p u d e s
se ex ercer o d ire ito d e fe sa e o p rin c p io d o c o n tra d it rio (art. 5, LV, d a C F /
88), se m q u e su a h o n r a fosse p u b lic a m e n te c o n s p u rc a d a . E x a ta m e n te ao c o n tr
rio d o q u e t m a g id o a lg u n s m e m b ro s d o M P, cujo d ile ta n tis m o b rin c a r com a
h o n r a d a s p e sso a s. M as n u n c a se p o d e e sq u e c e r q u e , q u e m n o p r e z a a h o n ra
alheia ta m b m n o p re z a a p r p ria .
In fere-se d e s sa s a titu d e s q u e o s m e m b ro s d o MP: o u re v e la m ig n o r n c ia
ju rd ic a , r a z o p e la q u a l d e v e ria m se r e x clu d o s d a n o b r e c o rp o ra o , o u ag em
d e m -f o u c o m dolo. Q u a lq u e r q u e seja a h ip te se , n o m e re c e m c o n tin u a r n a
re le v a n te fu no . U m a a g ra v a n te : o m n u s p b lic o d o M P s e r o fiscal d a lei,
e m d e fe sa d a so c ie d a d e . Ele d e m o n s tr a q u e se o m ite n o s e u m ister. O p r o c e d i
m e n to co rre to seria, q u a n d o h o u v e s se a c u m u la o d e carg o s, n o tific a r o E xecu
tivo o u a q u e le q u e exerce o c a rg o m ais alto n a h ie r a r q u ia d a in stitu i o (Presi
d e n te , G o v e rn a d o r, P refeito, R eitor etc.), a fim d e q u e este im e d ia ta m e n te in s
ta u ra sse o p ro c e sso d is c ip lin a r p a r a verificar se, d e fato, h a c u m u la o in d e v id a
d e carg os p blico s. A p e n a s a p s isso, caso p e rsista a a c u m u la o in d e v id a ,
q u e p o d e r in g re ss a r c o m ao v is a n d o d e v o lu o d e n u m e r r io p e lo se rv i
d o r pblico.
D este m o saico ftico co n sta ta -se q u e o M P o m ite-se e m s e u d e v e r fu ncional,
p o r q u e n o a g e n o te m p o e p o c a o p o rtu n o s , e d e p o is a in d a in g re ssa c o m ao
te m e r ria c o n tra o s se rv id o re s p b lic o s, p a ra e n c o b rir se u e rro funcional.
Q u estio n a-se: c o m tais a titu d e s , m e re c e m os m e m b ro s d o M P c o n tin u a r d e n
tro d a n o b re c o rp o ra o ? O u a so c ie d a d e est s u s te n ta n d o e sses m e m b ro s do
M P p a r a q u e aja m atica, ilegal e a b u siv a m e n te ? Q u a l a sa n o finan ceira q u e
so frero? E c o m o fica a h o n r a d o s s e rv id o re s p b lic o s, j c o n d e n a d o s p u b lic a
m e n te p e la a c u m u la o d e carg os, q u a n d o s e q u e r se d e u a eles o d ire ito d e
o p o ?

A c a d a d ia q u e p as s a , m a is difcil se torna a v ida d o p ro cu ra d o r q u e se


d e d ic a c o m s e rie d a d e a seu trabalho, porqu e s u a p a la v ra vai p e rd e n d o a

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A

fora, 6 s u a le gitim id a de vai s e n d o q u e s tio n a d a d e v id o a o s a b u s o s c o


m etidos por m e ia d z ia deles.
Q u a n d o um p ro cu ra d o r c o m e te u m a le v ia n d a d e , d e n u n c ia s e m provas,
ou pior, s e m crim es, a fe ta o tra b a lh o d e tod os os s e u s p a re s c o m p r o m e
tidos c o m a s e rie d a d e e c o m a d iscrio e o prprio P o d e r J udicirio que,
te n d o q u e d e b ru a r sob re provas, n o a c o lh e a s d e n n c ia s p ro p a la d a s "

S u s te n ta m a lg u n s q u e n o o M P q u e d e v e se r r e s p o n s a b iliz a d o , e sim o
E sta d o o u a U n i o . L ogo, h a v e ria im u n id a d e fu n c io n a i, o q u e v a i c o n tra os
p rin c p io s d e m o c r tic o s, p o r q u e to d a p e sso a d e v e se r re s p o n s a b iliz a d a p o r seus
atos. N u m re g im e d e m o c r tic o n o se a d m ite tal im u n id a d e , p o r q u e seria liber
tin ag em .
M u ita s vezes, a lg u n s m e m b ro s d o M P q u e r e m fazer su a v o n ta d e p re v a le c e r
so b re a lei. A ssim , f r e q e n te m e n te n o in s ta u r a d o in q u r ito p a r a o ajuizam e n to d e ao civil p b lic a , e q u a n d o isso feito a g e d e fo rm a u n ila te ra l, no
p e r m itin d o q u e o a c u s a d o p r o d u z a p ro v a s o u faa su a d efesa: o u v e m -se as tes
te m u n h a s e sc o lh id a s p e lo M P, e logo a s e g u ir este aju za a ao , sob o b e n e p l
cito d o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia, q u e v eio a a d m itir q u e "a d e c is o so b re a
d is p e n sa , o u n o , est re s e rv a d a ao M in istrio P blico, in te r d ita d a a p o ssib ili
d a d e d e lide te m e r ria o u c o m o sin ete d a m -f".'''
A ten te-se: m u ita s d e s s a s a es a c a b a m , a o final, s e n d o ju lg a d a s im p ro c e
d e n te s, p o r q u e fo ra m s u p r im id a s e ta p a s p ro c e d im e n ta is in d is p e n s v e is a p u
rao d a v e r d a d e real. N e m c h e g a ria a h a v e r ao se h o u v e s s e o u tr o s p r o c e d i
m e n to s , im p re sc in d v e is defesa d a h o n r a e d a d ig n i d a d e d o c id a d o . E isso
p o r q u e d e u m fa to p o d e s u r g ir u m a a c u s a o , m a s p o d e - s e c o n tr a p o r u m a
e x c lu d e n te d e c u lp a o u d e re sp o n s a b ilid a d e , d e m o n s tr a n d o - s e q u e o a c u s a d o
inocente, e m face d a in te rp re ta o e rr n e a d a acusao.
O M P e n te n d e q u e n o in q u rito civil n o h exig ncia d e r e s g u a r d a r o p r in
cpio d o c o n tra d it rio e d a a m p la d efesa, b a s ta n d o -lh e o u v ir a p e ss o a q u e est
s e n d o a c u sa d a . E ssa p o s tu r a a fro n ta d ire ta m e n te o d is p o s to n o art. 5, LV, da
C F /8 8 , q u e estabelece: "a o s litig an tes, e m p ro c e sso ju d ic ia l o u a d m in istra tiv o , e
aos a c u s a d o s e m g e ra l so a s se g u ra d o s o c o n tra d it rio e a m p la d efesa, com os
NASSIF, Lus.

Mdia, denuncismo e democracia. In Folha de S. Paulo", de 09 de julho de 2002.

Resp 152447 - Rei. Min. Milton Luiz Pereira. DJU de 25 de fevereiro de 2002, p, 0203, Disponvel em:
<http://www.stj.gov.br/webstj> Acesso em 28 de maro de 2003.

85

86

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

m eios e re c u rso s a ela in e re n te s". O b v ia m e n te , n u m in q u rito civil a p e s so a est


s e n d o acusada...
O c o n tra d it rio e a a m p la d efesa so im p re sc in d v e is a n te s d e ao civil p
blica o u d e im p r o b id a d e , se n d o , p o is, o b rig a t rio o in q u rito civil p b lic o , com
su a s fases d e d efesa e p ro v a , e d e p o is a deciso, e x a ta m e n te p a r a q u e se evite m
lides te m e r ria s. p re fe rv e l d e m o r a r n a tra m ita o d e u m in q u rito civil, p o
r m c h e g a r-se re a lid a d e d o s fatos, a s u p r im ir a ta b a lh o a d a m e n te fases e p r o
c e d im e n to s p a ra se o s te n ta r p re te n s e s tem errias. Saliente-se: o in q u rito civil
b e m e la b o ra d o e f u n d a m e n ta d o q u e re a lm e n te d c re d ib ilid a d e d a c o m p r o
v a o d o s fatos p a r a o m a g istra d o .
A d e m a is, c o n tra a deciso d o M P q u e apre c ia sse o in q u rito d e v e ria caber
re c u rso c o m efeito s u s p e n s iv o ao C o n se lh o S u p e rio r d o M in ist rio P blico, p o r
q u e h in m e r o s e x e m p lo s e m q u e o re p re s e n ta n te d o M P n o te m d o m n io
ju rd ico , o u tem e n te n d im e n to e q u iv o c a d o so b re d e te r m in a d a m a t ria : e n q u a
d r a e rro n e a m e n te os fatos n a n o rm a ju rd ica, o u fora u m a situ a o ju rd ica, o u
a in d a ag e c o m a b u s o d e p o d e r o u in te re sse s polticos. A ssim , o C o n se lh o S u p e
rio r d o M in ist rio p o d e r ia co a rc ta r as ile g a lid a d e s e os a b u so s d e p o d e r.
A d o ta d o esse p ro c e d im e n to , h a v e ria e q u ilbrio e n tre o p o d e r d e a c u s a r d o
M P e o d ire ito d o c id a d o d e se d e fe n d e r, p a ra e v ita r q u e , c o m o o c o rre a tu a l
m e n te , o siste m a ju rd ic o d azo a q u e o c id a d o p rim e iro seja p u b lic a m e n te
o fe n d id o e m su a h o n ra , e a p e n a s m u ito s a n o s d e p o is seja in o c e n ta d o p e lo P o
d e r Judicirio.
T a m b m p ro v o c a ria o u tr o efeito: a in stitu i o d o M in ist rio P b lico n o se
ria d e n e g rid a ; seria a p r im o r a d a . O C o n se lh o S u p e rio r iria p e rc e b e r o n v e l d e
c o n h e c im e n to d o s m in ist rio s p b lic o s d e in st n c ia s in ferio res e q u e e sta ria m
a b u s a n d o d o p o d e r etc., e p o d e r ia im e d ia ta m e n te to m a r p r o v id n c ia s a d m in is
trativ as. O q u e n o p o d e ocorrer, com o te m o c o rrid o, a a rb itr a r ie d a d e i m p e
r a r e a v o n ta d e d e a lg u n s a g e n te s m in isteriais ficarem acim a d a lei; o u seja, n o
p o d e a v o n ta d e de le s to rn a r-se a lei, tal c o m o acontecia so b L uiz XIV: "L 'E ta t
c est m oi".

M ig u e l R eale J n io r criticou as disto r es e m p ro c e sso s d e in v e stig a o , fri


s a n d o q u e m u ita s v e z e s a a p u ra o n o d irig id a p a r a a p u r a r a v e rd a d e , m as
p a ra o b te r c o n d e n a e s "a q u a lq u e r cu sto ".
N e sse se n tid o , c o n d e n o u v e e m e n te m e n te as re stri es d e acesso d e a d v o g a
d o s a a u to s p ro c e s s u a is , p r o m o v id a s so b a le g a o d e n e c e s s id a d e d e sigilo

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

in v e stig a tiv e . A firm o u q u e isso significa "a p ro ib i o d o exerccio d a a d v o c a


cia, a s s e m e lh a n d o -s e a p r tic a s d o s te m p o s d o AT-5".N a v e rd a d e , c o m a in d e p e n d n c ia fu n cio n al p r e c o n iz a d a n o art. 127, 1" da
C F /8 8 , c a d a m e m b r o d o M P faz o q u e q u e r, q u a n d o q u e r e c o m o q u e r, e n a d a
lhe acontece. C rio u -se u m a n a r q u is m o sistm ico e m relao ao MP. S o m en te
o co rrer a lg u m a r e p r im e n d a se o c id a d o q u e foi v tim a re c la m a r C o rre g e d o ria
d o M P, m a s n o h a v e r u m a te n d n cia ao c o rp o ra tiv ism o ? A C o rre g e d o ria s e
q u e r r e s p o n d e a o c id a d o q u a n to s u a deciso...
T e n ta -se ju stificar a im u n id a d e d o s m e m b ro s d o M in ist rio P blico a le g a n
d o q u e ela in d is p e n s v e l p a r a o c o m b a te c o rru p o . A p r e m is s a falsa,
p o r q u e o M P p o d e o b te r inform a es re le v a n te s m e d ia n te p e d id o a o Ju d icirio
(com o a q u e b ra d e sigilo b a n c rio e telefnico). A d e m a is, co n fere-se p re su n o
legal d e in c e n s u ra b ilid a d e e in ta n g ib ilid a d e a q u a lq u e r a to d o M P, m a s, infeliz
m e n te , h a lg u n s m e m b ro s d e le s b u s c a n d o os h o lo fo te s d a m d ia , fa z e n d o imp u ta e s falsas, a g in d o com a b u s o d e p o d e r , a in d a n a fase d e in v estig ao .
A p e n a s c o m ea a a p u r a r os fatos, e o c id a d o c o n d e n a d o publicam en te!!! Isso
n o in te re ssa n e m so c ie d a d e e n e m m u ito m e n o s n o b r e in stitu i o d o M in is
trio Pblico, q u e n o p o d e ficar m a c u la d a p o r a titu d e s le v ia n a s e p re c ip ita d a s
d e a lg u n s d e s e u s m e m b ro s q u e p r e te n d e m co lo car n u m a v a la c o m u m tan to
p e s so a s h o n e s ta s q u a n to d e so n e sta s. A d e m a is, c o m o a d m o e s ta o P re s id e n te da
OAB, R o b erto B usato: "in v e stig a o n o sh o w .^^
O M in ist rio P blico tem d a d o re ite ra d a s p ro v a s d e s u a r e n h id a lu ta con tra
a c o rru p o ; p re c isa , p o r m , ev o lu ir, p a s s a n d o a ag ir a p e n a s c o m o d e fe n so r da
s o c ie d a d e , p a r a , ju n ta m e n te com a OAB e a m a g is tr a tu r a , a p r im o r a r as in stitu i
es d o pas.
P o d e -se fa z e r u m a co nstatao . P re s e rv a n d o -s e s e m p r e a in d e p e n d n c ia d a
m a g is tr a tu r a , o M in ist rio P blico ter con d i e s, e m face d a s p re rro g a tiv a s
co n stitu c io n a is, d e a tu a r d e fo rm a e n d g e n a n a d efesa d o E sta d o (verificando
casos d e im p r o b id a d e etc.), e n q u a n to a OA B a tu a r d e fo rm a ex g en a, n a d e fe
sa d e m o c r tic a e d a cid a d a n ia . E a m a g istra tu ra tu te la r a s p re te n s e s d essas
institu i es, q u a n d o e fe tiv a m e n te justas. A s trs in stitu i e s a tu a r o n u m a c o n
ve rg n c ia e m p ro l d a c id a d a n ia e d o a p r im o r a m e n to d e m o c r tic o e n o c in d id as,
c o m o m u ito s as vem .
In R e vista d a O A B /P R , agosto-2004, n 2, p. 3.
In P o rta l J u n d ic o d a O A B F o z d o Iguau. 27.08.2004,

87

88

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

2.6 O ADVOGADO
" O a d v o g a d o in d is p e n s v e l a d m in is tra o d a Justia"=' c " n o h h ie ra r
q u ia n e m s u b o rd in a o e n tre a d v o g a d o s , m a g is tra d o s e m e m b ro s d o M in ist
rio P blico, d e v e n d o to d o s tra ta r-se c o m c o n sid e ra o e re s p e ito re c p ro c o s " ^ ,
m u ito e m b o ra , n a p r tic a , p e n s e m os ju izes e os p r o m o to r e s se re m su p e rio re s
aos a d v o g a d o s . N o o b s e r v a m q u e o a d v o g a d o o p rim e ir o ju iz, o p rim e iro a
fazer o p a p e l d e a c u sao , n o p ro c e sso dialtico, q u a n d o p r o c u r a d o p e lo se u
cliente. Ele q u e m a n a lisa r e d ir as p e rsp e c tiv a s. N o a sp e c to poltico-social, a
figu ra d o a d v o g a d o g a n h a relevo, p o r q u e n o a u fe re n e n h u m a r e m u n e ra o
p a ra d e fe n d e r a so c ie d a d e . M a g istra d o e M P a u fe re m r e m u n e r a o p b lic a p a ra
d efen d -la. O a d v o g a d o tra b a lh a e m p ro l d a s o c ie d a d e p o r id e a lism o . F-lo p o r
a c e n d r a d o h u m a n is m o , n ica e ex c lu siv a m e n te , p a r a a te n d e r a u m im p u ls o de
conscincia; p u g n a r p e lo b e m c o m u m e p e lo s id e a is d e m o c r tic o s, p o r q u e "se m
a d v o g a d o n o h justia, e se m ju stia n o h d e m o c ra c ia ".
P a ra R en D otti, p a s s a d o s 10 a n o s d a p ro m u lg a o d o E s ta tu to d a A d v o c a
cia e d a OAB " m u ltip lic a ra m -s e os pre c o n c e ito s c o n tra o s a d v o g a d o s " . Frisou
ta m b m q u e , m u ita s vezes, o a d v o g a d o tra ta d o p o r ju iz e s " p re c o n c e itu o s a
m e n te e m relao a m e m b ro s d o M inistrio P u blico ", e c o n d e n o u c o m v e e m n
cia as re stri e s a o acesso d e a d v o g a d o s a a u to s d e p ro c e sso s. D o tti criticou
a b u so s d o s v ecu lo s d e co m u n ic a o "n a c h a m a d a r e p o r ta g e m in v e stig a tiv a ",
q u e tra n s fo rm a m e ro s s u sp e ito s e m c u lp ado s.
R essaltou a in d a q u e "d e le g a d o s d e polcia e p ro m o to re s p b lic o s excedem -se
e m declaraes im p re n sa , c o m p ro m e te n d o a necessria im p a rc ia lid a d e ", e que
d e p u ta d o s e s e n a d o re s " u s a m CPIs c o m o p a ssa re la s d e v a id a d e s " , b e m com o
q ue, n o Pas, fo rm am -se v e rd a d e iro s " e s q u a d r e s d e ju sticiam en to sum rio".^'

"In c u m b e O rd e m dos A d v o g a d o s do Brasil pro m o ver, c o m e x c lu s iv id a


d e, a re p re s e n ta o , a d efe s a , a s e le o e a disciplina dos advogados".

O s c u rso s d e D ire ito n o d o a m e re c id a a te n o d is c ip lin a d e tica, e


g e ra lm e n te a p e n a s a lg u n s p ro fe sso re s, m a is c o n scien tes, s a lp ic a m p rin c p io s
Art, 2- do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB.
Art. 6 do mesmo Estatuto.

In R evista da O A B /P R , agosto-2004,

2, p. 3.

^ Art. 44, II, do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB.

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A

so b re ela ao m in is tr a r e m a u la s d e o u tra s d iscip lin as. E m b o ra a tica e a h o n e s ti


d a d e sejam p rin c p io s q u e a d v m d o s lares, a tica, e m fo rm a d e disciplina,
faria c o m q u e fosse s e d im e n ta d a na con scin cia d o aca d m ic o . A rig o r, p a ra
q u e u m a so c ie d a d e aja d e fo rm a tica p reciso q u e p r im e ir o seja s e m e a d a essa
s e m e n te p a r a q u e d e p o is sejam c o lh id o s os frutos, C o n tu d o , se n o se e n sin a a
tica n o s c u rs o s s u p e rio re s , c o m o q u e r e m d e p o is q u e as p e s s o a s a p r im o r e m
s u a s a titu d e s?
A ssim , a O A B se v d ia n te d e d u a s a lternativ as; o u re iv in d ic a a o b rig a to rie
d a d e legal d e tal disc ip lin a , o u oferece, re g u la r e m e to d ic a m e n te , c u rso s so b re a
m e s m a , p rin c ip a lm e n te v ista d o E xam e d a O rd e m .
ta m b m n e c e ss rio estab elecer lim ites p a r a a a tu a o d o a d v o g a d o , visto
q u e a tu a lm e n te u m re c m -fo rm a d o p o d e a tu a r in c lu s iv e p e r a n te o S u p re m o
T rib u n a l F e d e ra l. Isso so m e n te d e v e ria ser p e r m itid o a p s a lg u n s a n o s d e exer
ccio d a a d v o c a c ia , n a rea d o s re c u rso s q u e s o in te rp o s to s n a q u e le T ribu n al.
O u e n t o d e v e ria se r a d o ta d o u m siste m a d e lim ites d e v a lo re s, p a r a a a tu ao
d e a d v o g a d o s re c m -fo rm a d o s, c o m o feito e m o u tr o s p a s e s (p o r exem plo:
Itlia e E sta d o s U nidos).
p re c iso ex ig ir r e s p o n s a b ilid a d e funcional d o a d v o g a d o . N a p r tic a , isso,
d e certa fo rm a , j ocorre: o a d v o g a d o c riterio so e n c a m in h a a c a u sa p a r a u m
a d v o g a d o m a is e x p e rie n te n a q u e la rea, o u lhe p e d e o rie n ta o , o u c o m p a rti
lha o tra b a lh o . T o d a v ia , o cliente fica sujeito ao se n so d e r e s p o n s a b ilid a d e e de
tica d o s e u a d v o g a d o , q u e n e m s e m p r e est p r e p a r a d o p a r a d e f e n d e r seus
in te re sse s, p r in c ip a lm e n te p o rq u e , a tu a lm e n te , o r e c e b im e n to d e re c u rs o e x
tr a o r d in r io , p e r a n te ta n ta s filig ra n a s ju rd ic a s, se tr a n s f o r m o u n u m a loteria
e s p o rtiv a ; ta n to a s s im q u e S am u el M o n teiro afirm a:
"Se o re c o rre n te d e m o n s tr o u q u e o re c u rs o esp ecial p r e e n c h e os p r e s s u p o s to s-co n d io o u re q u isito s tcnicos j e s tu d a d o s , c o n tu d o , n o d e v e o "juzo de
a d m is s ib ilid a d e " e x e rc id o p e lo m e s m o trib u n a l local q u e p r o la to u o a c rd o ,
c o n tra o q u a l tira d o o re c u rso especial, c ria r ta n ta s m in c ia s , ta n ta s filigranas,
ta n to s bices q u e tra n sfo rm e m -n o e m a u t n tic a c h a ra d a o u m ira g e m , c o n v e r
te n d o o p a tr o n o e m jo g u e te d e c a p ric h o o u d e s u b je tiv ism o s in c o m p a tv e is co m
a s d istrib u i o d a justia, q u e d e v e se r d a d a a c a d a u m q u e m e s m a faa ju s"
(STJ, Ag. n" 3.454-SP, DJU-1 d e 16.08.90, p. 7.819)."

MONTEIRO, Samuel. R e c u rs o E s p e c ia l e E xtra o rdin rio . So Paulo: Hemus, 1992, p, 212.

89

90

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

P o r o u tr o lad o , n o se p o d e d e ix a r d e o b se rv a r q u e a O A B m u ita s v e z e s fica


im p o te n te p a r a c o m b a te r d e fo rm a r p id a e eficaz a c o n d u ta d e a d v o g a d o s que
se to rn a m c o -a u to re s c o m os d e lin q e n te s d o c rim e d e trfico d e d ro g a s , o u seja
d e ix a ra m d e ser a d v o g a d o s p a r a ficar b a n d id o s.
T a m b m os p ro c e d im e n to s d isc ip lin a re s d e v e m tr a m ita r d e fo rm a r p id a ,
p a ra q u e os a d v o g a d o s q u e estejam s o fre n d o im p u ta o in ju sta sejam lo g o a b
so lv id o s, m a s os q u e m e re c e m a lg u m a san o sejam lo g o c o n d e n a d o s . M u ita s
d a s a c u sa e s d a so c ie d a d e d e q u e a O A B c o rp o ra tiv is ta o c o rre m p o rq u e ,
q u a n d o o c id a d o faz a re p re s e n ta o con tra o a d v o g a d o , d e p o is n o to m a co
n h e c im e n to d a deciso, se a O r d e m o ab so lv e u o u o c o n d e n o u , te n d o a sen sao
d e q u e n a d a foi feito. O q u e n o v e rd a d e . A OA B d e s e n c a d e ia o p ro c e sso
d iscip lin ar, e ju lga o a d v o g a d o . Ressalte-se; talv ez seja a n ic a in stitu i o que
m a n t m o T rib u n a l d e tica, no q u a l os a d v o g a d o s se d e s p e m d e s u a co n dio
n o ato d e ju lg a r, e se tra n s fo rm a m e m juizes, p a r a ju lg a r se u s p r p r io s colegas.
H o u tra a titu d e q u e a O A B pre c isa red iscu tir. Ela d e fe n s o ra d a so c ie d a d e
e e n c a rre g a d a d e lu ta r p e la c id a d a n ia , m a s a d o ta u m a p o s tu r a p a ra d o x a l com
os a d v o g a d o s : a o m e s m o te m p o e m q u e conscien tiza os c id a d o s d e se u s d ire i
tos, ela im p e d e q u e os a d v o g a d o s a n g a rie m clientela. E x e m p lo e x p re ssiv o o co r
reu re la tiv a m e n te ao e m p r s tim o c o m p u ls rio so b re co m b u stv e is. M u ito s a d
v o g a d o s fiz e ra m p r o p a g a n d a , o fe re c e n d o se u s servios p ro fissio n a is, e, c o n tra
ria n d o o E sta tu to d a OAB, a n g a r ia r a m clientela. T o d a v ia , eles m o tiv a r a m os
c id a d o s a re iv in d ic a r os se u s direitos. Se o a d v o g a d o n o p u d e r a n g a r ia r clien
tela, ele ficar n o s e u e scrit rio e sp e ra d e q u e a p a re a m clientes, e p o u c o s o
p ro c u ra r o , p o r q u e s e q u e r sa b e r o d e seu s direitos. A ssim , se ele tem o d e v e r
d e c o n sc ie n tiz a r os c id a d o s q u a n to aos se u s d ireitos, en to , p o r c o n se q n c ia ,
te m o d ire ito d e de fe n d -lo s, e n o p o d e ria h a v e r n e n h u m a c e n s u ra se p a r a isso
p re c isa s se p r o p a g a n d a . D ev e-se e v ita r a p r o p a g a n d a m e rc a n tilis ta , m a s n o
a q u e la q u e in te re ssa d ir e ta m e n te c o m u n id a d e , q u a n d o se tra ta d e d ire ito s
d ifusos, co letiv o s o u h o m o g n e o s.
O u tro p ro b le m a q u e e n v o lv e a adv o cacia d iz re s p e ito aos ju iz e s o u m in is
tros q u e se a p o s e n ta m e im e d ia ta m e n te co m e a m a a d v o g a r. A m d ia j re la to u
situ a es n o m n im o c o n s tra n g e d o ra s, tais c o m o o fato d e ju iz e s a p o se n ta d o s
q u e a d v o g a m to m a re m fre q e n te m e n te ca fe z in h o com ju izes e m exerccio. Isso
traz c o n s tra n g im e n to p a ra o s a d v o g a d o s e ta m b m p a r a o s p r p r io s ju izes e m
exerccio. N o seria ju sto q u e o s juizes o u m in istro s q u e se a p o s e n te m sejam

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

o b rig a d o s a ficar d e b ra o s c ru z a d o s, m as, a p s a a p o s e n ta d o ria , d e v e ria d e c o r


re r u m p ra z o (p o r exem p lo; d e cinco anos) a n te s q u e eles p u d e s s e m a d v o g a r.
T ais fatos ta m b m o c o rre m com p r o c u r a d o r e s d a U n i o , o u c o m p e sso a s
q u e o c u p a v a m c a rg o s d e d e s ta q u e v in c u la d o s a o g o v e rn o , e se tra n s f o r m a m em
m in istro s, o u m e s m o ju izes, e m o u tro s trib un ais.
A C F /8 8 , o u m e s m o u m a E m e n d a C o n stitu c io n a l, d e v e ria n o e n ta n to e sta
b elecer a d is p e n s a d e c o n c u rso p b lic o carreira a c a d m ic a p a r a o s ju izes e os
m in istro s q u e se a p o se n ta s se m , a fim d e q u e p u d e s s e m lecio n ar, u m a v e z q u e j
p r o v a r a m s u a c a p a c id a d e tcnica e id o n e id a d e .
P o r o u tr o p ris m a , a OA B j d e u ex e m p lo so c ie d a d e ao exig ir o E xam e da
O r d e m p a r a a q u e le s q u e e fe tiv a m e n te iro ex ercer a p ro fiss o d e a d v o g a d o .
C o n v iria q u e t a m b m d e sse o u tro: exigisse a tu a liz a o d o s a d v o g a d o s . P o
d e ria exigir u m m n im o d e h o ras, p o d e n d o o a d v o g a d o p re e n c h -la s c o m p a r ti
c ip ao e m s e m in rio s, c u rso s d e a tu a liz a o , c o n g re sso s, a rtig o s, g r u p o s de
e s tu d o s oficializad o s pela p r p r ia OAB^" o u e n t o c o m aulas. N o s E sta d o s U ni
d o s, so 39 h o ra s-a u la , e se n o h o u v e r a reciclagem , q u e feita d e q u a tr o em
q u a tr o an os, n o p o d e r o c o n tin u a r a d v o g a n d o .
Esse a v a n o se faz n ecessrio , p o r q u e a OA B j d e u e x e m p lo c o m relao ao
E x am e d e O r d e m , m a s p recisa d e m o n s tr a r su a p re o c u p a o c o m a elev ao d o
n v el d o s a d v o g a d o s . A lis, h u m fato q u e n o p o d e p a s s a r d e sp e rc e b id o ; a
OAB, c o m o in stitu i o , u m a d a s m ais r e s p e ita d a s n o Brasil, p o r s u a a tu a o
corajosa e m p ro l d o s id e a is d e m o c r tic o s e h u m a n it rio s , c o n tu d o o a d v o g a d o
n o g o za d e sse pre stg io . E o q u e pior; o a d v o g a d o , p o r c a u s a d a s a titu d e s de
a lg u n s, te m su a im a g e m c o m p ro m e tid a . C o m o resg at-la?
A OA B ta lv e z n o p o s s a fazer m u ito pelo a d v o g a d o ; ele p r p r io q u e d e v e
fa z e r p o r si; ze la r p e la s u a im a g e m p e s s o a l p ela u r b a n id a d e , p e lo re sp e ito s
p esso as, c o n s id e ra o c o m su a clientela, p e la s a b e d o ria e m su a s p a la v ra s , pela
p r u d n c ia e in telig n cia e m se u s co n selh o s a o s clientes. P o r m , c o m o in s titu i
o, a OA B d e v e traar as d ire triz e s bsicas, e in d ic a r os c a m in h o s p o r o n d e

Nota do Autor: em Maring foi criado o Grupo de Estudos na gesto 2000/2003, que reunia os advo
gados na 2^ semana do ms. Na 2- feira, Direito Civil, Processo Civil e Direito Comercial; na 3- feira.
Processo Penal e Direito Penal: na 4- feira, Direito Tributrio e Processo Tributrio; na 5- feira, Direito
do Trabalho e Processo do Trabalho; e, na 6^ feira, Direito Constitucional e Direito Administrativo. Em
cada dia h um coordenador e os participantes debatem sobre os mais variados temas, cujo cresci
mento intelectual e aumento de conhecimento favorece a todos.

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

fazer a c a m in h a d a , e c re m o s q u e , c o m a exig ncia d e c o n s ta n te a tu a liz a o ,


e s ta r p r im a n d o p a r a q u e o a d v o g a d o a n g a rie re sp e ito n a c o m u n id a d e .
E m p o c a d e c a m p a n h a eleitoral n a in stitu io, o b se rv a -se n itid a m e n te que
h d u a s corren tes: a q u e le s q u e p e rfilh a m a id ia d a OA B p a r a so c ie d a d e , e a q u e
les q u e d e f e n d e m a OA B p a r a os a d v o g a d o s . A m b a s e sto p a rc ia lm e n te co rre
tas, p o r m preciso a lo n g a r a viso. Alis, esse p ro b le m a histrico: a OA B
poca d o m ilitarism o concentrou-se n a defesa d a sociedade, e se fez m ereced ora de
d e sta q u e nacional com as lutas pela "Defesa do s Presos Polticos"; "A n istia A m p la
G eral e Irre strita ", "C o n stitu in te " e "D ire ta s J", p e lo im peachem ent d e C ollor,
ju n ta m e n te c o m ABI - A ssociao Brasileira d e Im p re n sa , e, m ais recen tem en te,
n o com b ate sa n h a legiferante do s decretos-leis e d a s m e d id a s provisrias.
A O A B n o p o d e a p e n a s d e f e n d e r o E sta d o d e D ire ito n e m ta m p o u c o a p e
n a s os a d v o g a d o s . Ela d e v e c a m in h a r d e f e n d e n d o o a d v o g a d o , p a r a valo riz-lo
e m s u a d ig n id a d e p ro fissio n a l, c o n tu d o d e v e ta m b m e m p u n h a r c o m a m o
f rre a a d e fe sa d o s d ire ito s f u n d a m e n ta is d o c id a d o e d a c id a d a n ia . D essa
form a, se n o p a s s a d o lu to u p e la im p la n ta o d a d e m o c ra c ia , a g o ra h o ra d e
lu ta r c o m o m e s m o d e n o d o p e la s e d im e n ta o d a d e m o c ra c ia c o m a u t n tic a
c id a d a n ia .
Esse tra b a lh o d e v e c o m e a r p e la s Subsees (nas C o m a rc a s) e se r e stim u la
d o p ela Seo (d o E stado). P o de-se tra b a lh a r - e m u ito ! - ao la d o d a c o m u n id a
d e , p o r in te rm d io d a s d iv e rsa s com isses q u e c o m p e m a OAB: d o m e io a m b i
ente; d a c riana e d o a d o lescente; d o s d ire ito s h u m a n o s; d o s d ire ito s d a m u
lher; d o tra b a lh o v o lu n t rio etc. P o d e-se a in d a fazer p a le s tra s p a r a a p o p u la o
n o se n tid o d a p re v e n o d e litgios, o rie n ta n d o q u a n to a o d ire ito d o c o n s u m i
d o r, d a fam lia, d o tra b a lh o , com ercial, civil etc. Im a g in e -se se e m to d o Brasil
h o u v e r u m tra b a lh o d e s s e o q u a n to n o lu c ra r a na o e o q u a n to n o p a s s a r o
a se r p re s tig ia d o s o s a d v o g a d o s.
A O A B d e v e fazer esse tra b a lh o c o m u n it rio , p o r m , se m c u n h o polticop a rtid rio . Ela d e v e e s ta r acim a d o s p a r tid o s e d o s po ltico s, c u m p r in d o seu
p a p e l in stitu c io n a l, co lo c a n d o s e m p re o b e m c o m u m c o m o o bjetivo p rio rit rio .
C o m o e n v o lv im e n to d a c o m u n id a d e , e m b o ra a lid e ra n a seja d a OAB, Se
o o u d a S ubseo, o s a d v o g a d o s g ra n je a r o a e stim a e o re s p e ito pblicos.
E staro tr a b a lh a n d o n o a p e n a s a o la d o d a c o m u n id a d e , m a s fren te, in d ic a n
d o o s c a m in h o s, d a n d o e x e m p lo , e m vez d e ficar a p e n a s d iz e n d o o q u e se d e v e
fazer. M u d a -s e a ret rica p e la s atitu des.

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

A OA B tev e n o p a s s a d o a glria d e lu ta r s e m p r e p e la d e m o c ra c ia ; essa fora


a s u a b a n d e ir a , a g o ra p re c is a se r a d a e fe tiv id a d e d a c id a d a n ia . T o d a v ia , os
a d v o g a d o s p r e c is a m e m p e n h a r - s e c o m a m e s m a g a r r a , o m e s m o d e n o d o , a
m e s m a c o ra g e m e m tal e m b a te , q u e m u ito m a is difcil d o q u e lu ta r p e la d e m o
cracia. N e sta lu ta sab ia-se q u e m e ra m os a d v e rs rio s; n a lu ta p e la cid a d a n ia ,
no. Im p e -se u m a c o n stru o co n tn u a , p o r m os p ro b le m a s so ta n to s e to
c o m p le x o s q u e p o d e m le v a r m u ito te m p o , e p o r isso p re c iso c o m e a r e p e rs is
tir. O q u e , d e fato, est o c o rre n d o q u e e sta m o s f in g in d o n o v e r o s p ro b le m a s,
o u m e lh o r, n o q u e re m o s v-los... Sem to m a r con scincia d o s n o sso s e rro s e das
n o ss a s falhas, n o p o d e m o s n o s corrigir. E a OA B est n u m to rp o r, c o m o in sti
tuio, p o r q u e a in d a se a p e g a a o p a s sa d o , e s q u e c id a d e q u e o p r e s e n te se m
p r e m a is g lo rio so p a r a q u e m tem esp rito d e luta.
O u tr a q u e s t o q u e , d e q u a n d o e m q u a n d o , e m reta lia o s a titu d e s c o ra
josas e c o m b a tiv a s d o s a d v o g a d o s , h q u e m se m a n ife ste n o s e n tid o d e q u e a
OA B se s u b m e ta a o T rib u n a l d e C o ntas, fican d o ig u a la d a aos d e m a is p o d e r e s e
e n c a b re s ta d a p e lo E xecutivo. O c o rre q u e ela n o est v in c u la d a a d m in is tr a
o d ire ta o u in d ire ta d a a d m in is tra o p b lica. A d e m a is , os v a lo re s d a s a n u i
d a d e s q u e ela receb e n o s o c a n a liz a d o s ao E stado; o u seja, n o in g re s s a m no s
cofres p blico s. Logo, falta le g itim id a d e q u e le T rib u n a l p a r a ju lg a r s u a s c o n
tas. E im p o r ta n te m e sm o q u e n o haja fiscalizao o r a m e n t ria n e m fin ancei
ra p o r a q u e le T rib u n a l, p a r a q u e a OAB n o p erca s u a a u to n o m ia e su a in d e
p e n d n c ia .
E ssas p re te n s e s d e a n iq u ila r co m a OAB, p o r p a r te d e a u to r id a d e s p b licas
q u e t m o e s tig m a d o a u to rita rism o , n o s faz le m b ra r fa to h ist ric o q u e ocorria
e m R om a. C o n sta q u e , n o a u g e d o Im p rio R o m a n o , u m s o ld a d o a c o m p a n h a v a
s e m p r e o im p e r a d o r , q u a n d o este ia ao e st d io assistir s lu ta s e aos jogos, com
a m iss o d e c a m in h a r ao la d o d ele d iz e n d o : "L e m b ra -te d e q u e s h u m an o !"!
R epetia a q u e la s p a la v r a s p a r a q u e o im p e ra d o r, n a s u a eufo ria , n o se ju lgasse
u m d e u s. C o n tu d o , a d e c a d n c ia d o Im p rio o c o rre u p e la c e n tra liz a o d o p o
der, e foi e x a ta m e n te n e sse p e ro d o q u e os im p e r a d o r e s c o m e a ra m a se ju lg a r
d e u se s e a b o lira m a q u e le costum e. N o h a v ia n in g u m p a r a lh e s d iz e r q u e e ra m
h u m a n o s ; ju lg a v a m -s e d e u s e s e tu d o lh es e ra p e r m itid o fazer, d e s e n c a d e a n d o
as n e g o c ia ta s c o m o S e n a d o e im p la n ta n d o u m a g e ra l c o rru p o .
H oje, o a d v o g a d o a q u e le so ld a d o corajoso q u e o m b re ia o a u to rita ris m o de
m u ita s a u to r id a d e s p b licas, re tira n d o -lh e s a m sc a ra d e d e u s e s p a r a d iz e r q u e

94

O I R C e U G A L O IN O C A R D I N

so h u m a n o s . N o se p o d e , po is, e sq u e c e r q u e "o d e sp re stg io e o e n fra q u e c i


m e n to d o a d v o g a d o im p lica d e sre s p e ito Justia e D em o cracia e, p o r fim,
m e n o s p r e z o p r p r ia soc ie d a d e ".
A d e m a is , m u ita s a u to r id a d e s p b lic a s n o g o s ta m d o s a d v o g a d o s , ju s ta
m e n te p o r q u e eles re v e la m a elas as su a s so m b ra s. Essas a u to r id a d e s so, re g ra
geral, a u to rit ria s. Ju lg a m -se d e te n to ra s d a v e rd a d e ; q u a n d o e st o a p e n a s e n
c o b rin d o o v azio in te rio r o u a fra g ilid a d e ntima.^"*
A O r d e m d o s A d v o g a d o s ta m b m p o d e r ia , q u a n d o h o u v e s s e n e c e s s i d a
d e , e m itir d o c u m e n to pro verita fe, q u e s e ria u m e s c la r e c im e n to a o p b lic o ,
u m a a n lis e p r o f u n d a , q u e to rn a s s e o s a r g u m e n t o s ir r e f u t v e is , a s s im c o m o
faz 0 V a tic a n o q u a n d o e m ite as encclicas. T al d o c u m e n to p r e c is a r ia r e v e la r,
n o m n im o , as v i r tu d e s d a s a b e d o r ia , d is c e r n im e n to , in te lig n c ia , p r u d n c i a
e c o ra g e m . N o h a v e r ia n e c e s s id a d e d e e m iti-lo s p r e s s a s , m a s c o m s e g u
r a n a e d e p o i s d e a m a d u r e c im e n t o s o b r e o te m a , p a r a o d e v id o e sc la re c i
m e n to s o c ie d a d e . O t e m p o r e v e la n g u lo s d o p r o b le m a q u e d e in c io n o
s e r ia m p e r c e b id o s , p o r isso p re f e r v e l h a v e r d e m o r a , m a s c o m a c o n v ic o
in a b a l v e l d e q u e se est e x p o n d o a v e r d a d e . E x e m p lo : q u e m h o je c o n d e n a
o s tra n s g n ic o s , q u e d e a s s u n t o cie n tfic o se tr a n s f o r m o u e m p o ltic o - p a r tid r io , d a q u i a d e z a n o s n o ir se e n v e r g o n h a r ? B asta l e m b r a r q u e , q u a n d o
s u r g iu a p e n ic ilin a , d iz ia -s e q u e os seios d a s m u lh e r e s fic a ria m g r a n d e s , ig u a is
a o s d a v a c a ; e q u a n d o d o s u r g i m e n to d a s lo c o m o tiv a s , d iz ia - s e q u e e la s e r a m
co isa s d o d e m n io ....
O q u e aco n te c e u n a U n i o Sovitica ta m b m n o s d e ix o u lies, c o m o a p o n ta
M arcelo Gleiser;

"A filosofia p a rtid ria h av ia invad ido a s u n iv e rs id a d e s , d e te rm in a n d o o


q u e p od ia e o q u e n o podia s e r es tu d a d o pelos cientistas. P o r e x e m p lo ,
q u a lq u e r e s tu d o e m cosm olo gia, ou outros tpicos re la c io n a d o s relati
v id a d e g e ra l d e Einstein, e s ta v a proibido, pois e le s e ra m c o n s id e rad o s

Eleies OAB/2003 (matria de capa). In R evista Ju rd ica C onsulex, ano VII, n - 163, Brasilia: Consulex,
31 de outubro de 2003, p. 21.
NA: as denncias contra as autoridades pblicas que desrespeitam as prerrogativas institucionais dos
advogados. Ver em Prerrogativas Profissionais dos Advogados. Anais do Encontro Brasileiro alusivo
aos 10 anos do Estatuto da Advocacia e da OAB. OAB Paran. Coordenao: Ren Ariel Dotti e Elias
Mattar Assad,

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

contrrios a o m a te ria lis m o dialtico. 0 d o g m a tis m o n e c e s s a ria m e n te leva


ign o r nc ia . E a ig n o r n c ia inspira o d o g m a tis m o .^

T a m b m d e v e ria a OA B d iv u lg a r a rtig o s q u e fo sse m d e in te re sse d a socie


d a d e ; p o r e x e m p lo , e n fo c a r a g u a r d a - c o m p a r tilh a d a , o rie n ta r o s casais q u e es
to se s e p a r a n d o so b re essa v a n ta g e m e so b re o s ben efcio s q u e p o d e tra z e r aos
filhos. H oje, n a g r a n d e m a io ria d a s se p a ra e s, so eles in s tr u m e n to s d e v in
g ana d e u m d o s cnjuges. Q u a n d o for o caso, e la b o ra r ca rtilh a s d e o rientao
c o m u n id a d e .
A O r d e m d o s A d v o g a d o s n o d e fe n d e in te re sse s p riv a d o s . D e fe n d e a socie
d a d e , o E sta d o , a d e m o c ra c ia , a c id a d a n ia , e to d o s o s b e n s e v a lo re s d eles d e
corren tes. P o r isso, n o p o d e jam ais e sta r s u b m e tid a a o E sta d o , n e m a o P o d e r
Judicirio, n e m a o M inistrio Pblico, p a ra q u e e fe tiv a m e n te c u m p r a o se u ldim o
p a p e l.

2.6.1 Exame de Ordem


A O r d e m d o s A d v o g a d o s d o Brasil in tr o d u z iu h a lg u m te m p o o E x am e de
O r d e m , n o q u a l p re c is a m se r a p r o v a d o s os b a c h a r is e m D ireito q u e desejam
n ela se in sc re v e r, p a r a p o d e r e m a d v o g a r. D e v id o ao ex cessiv o n m e r o d e c u r
sos d e D ireito, essa foi a m e lh o r fo rm a q u e a O A B e n c o n tro u p a r a im p e d ir q u e
b a c h a r is n o -q u a lific a d o s exercessem a p ro fisso. E, in d ir e ta m e n te , p ro v o c a r
a m e lh o ria d o e n s in o ju rd ic o n a s fa c u ld a d e s d e D ireito , p o r q u e o r e s u lta d o
d e sse e x a m e p b lic o , e o b t m -se p o r estatstica o p e rc e n tu a l d e a lu n o s a p r o
v a d o s o u r e p r o v a d o s p o r tais faculdades.
O re s u lta d o te m s id o satisfatrio. N o b a s ta q u e a p e n a s a O A B exija a p r o v a
o n e sse e x a m e e m favo r d o c id a d o , a q u e m o a d v o g a d o p r e s ta r servios.
p re c iso q u e to d o s os rg o s d e classe p r o c e d a m d a m e s m a fo rm a e m relao
aos c u rso s a essa classe re la c io n a d o s, in c lu siv e os d e e sp e c ia liz a o , q u a n d o
esta exig id a p a r a o exerccio d e d e te r m in a d a e sp e c ia lid a d e d e u m a profisso.
N e ste ltim o caso, o in te re ss a d o d e v e re a liz a r a p r o v a d e c a r te r geral, c o m o os
d e m a is, e p o s te r io r m e n te a p r o v a especfica d e su a e sp e c ia lid a d e .
So c o m u n s e rro s d e m d ic o s, e n g e n h e iro s , p sic lo g o s, o d o n t lo g o s e de
ta n to s o u tro s p ro fissio n ais d o s q u a is se exige cu rso su p e rio r. A ssim , n o se justlfiGLEISER, Marcelo,
tras, 2002, p. 377.

A dana do Universo. 2.ed, (11^ reimpresso). So Paulo: Companhia das Le

95

96

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

ca a ale g a o d e q u e , te n d o eles co n c lu d o c u rso s u p e rio r, c o m p r o v a r a m a p ti


d o p ro fissio n a l, n o se d e v e n d o exigir d e le s e x a m e p a r a inscrio n o rg o de
classe p e rtin e n te . O E x a m e d e O r d e m e x ig id o p a r a q u e m re a lm e n te for e x e r
cer a p ro fiss o , e n o p a r a q u e m a p e n a s q u is se b a c h a re la r.
O c id a d o p re c isa te r a lg u m a se g u ra n a q u a n to q u alificao d o p ro fissio
n a l q u e p r e te n d e c o n tra ta r. C o m a criao d e ta n to s c u rso s e d e ta n ta s fa c u ld a
d e s - a m a io ria m a is in te re s sa d a n o lu cro d o q u e n a q u a lid a d e d e e n s in o

boa

q ualificao o m n im o q u e a so c ie d a d e p o d e exigir. N a falta d o e x a m e e m


p a u ta , c h e g a r o m o m e n to e m q u e o p ro fissio n a l ter q u e a p r e s e n ta r se u d ip lo
m a d e g r a d u a o , p a r a s a b e r o n d e se g r a d u o u e e n t o d e fin ir a c o n tra ta o o u
n o d e se u s servios.
E m b o ra o e x a m e d e o r d e m seja feito p a r a d ir e ta m e n te d a r se g u ra n a ao ci
d a d o , h q u e m deseje elim in-lo. C o n tu d o , v a p re te n s o . A O A B u m a
c o rp o ra o , q u e te m a u to n o m ia p a r a n o rm a tiz a r o s a s s u n to s d e s e u interesse,
n o a d m itin d o , lo g icam en te, in g ern cias ex tern as. S u m a o b servao : q u a n d o
ela p r o c u r a m o ra liz a r o e n s in o ju rd ic o e m e lh o r a r a q u a l id a d e p ro fissio n a l,
a in d a h q u e m p r o c u r e d e r r u ir tais valores... T o d a v ia , i m p o r ta n te p a r a a soci
e d a d e , a t m e s m o e m te rm o s d e m a io r se g u ra n a , q u e o s d e m a is p ro fissio n a is
(m d ico s, o d o n t lo g o s , e n g e n h e ir o s etc.) ta m b m se s u b m e ta m a u m e x a m e
d e n tr o d e s u a co rp o rao .

2.7 SISTEMA TRIBUTRIO


2.7.1 Introduo
O s in g le se s j s a lie n ta ra m q u e o siste m a trib u t rio te m o p o d e r d e c o n s tru ir
e o p o d e r d e d e stru ir: "T h e power to tax involves the pow er to destroy".
R ic h a rd Bulliet, e m s e u livro The camel and the wheel (O c a m e lo e a ro d a ), faz
in te re ssa n te c o m e n t rio , c o m o n a rra F re e m a n D yson:

Bulliet um historiador d a civilizao ra b e a n tig a . E le d e m o n s tra com


a m p la d o c u m e n ta o q ue, nos te m p o s ro m a n o s , o m u n d o r a b e inteiro,
q u e s e e s te n d ia m a is ou m e n o s d a T u n s ia a t o A fe g a n is t o , b a s e a v a
s u a vida e c o n m ic a na m e s m a infra-e s tru tu ra d o Im p rio R o m a n o , ou
seja, na tec n olo gia dos v e cu lo s com rodas e n as e s tra d a s p a v im e n ta
d as . N a r e a d o M e d ite rr n e o , a u n id ad e b s ic a d e tra n s p o rte d e c a rg a

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

e ra o c a rro d e boi. P o r volta d e 5 0 0 d .C ., p o u ca s c e n te n a s d e a n o s a nte s


d a a s c e n s o do Isl, ocorreu u m a m u d a n a d r stica. P o r todos os territ
rios ra b e s , a s c a ra v a n a s d e c a m e lo s fo ra m substituindo os c arros d e boi
no tra n s p o rte d e c a rg a , a s e s tra d a s d e ix a ra m d e re c e b e r m a n u te n o e
os v e c u lo s c o m ro d as d e s a p a r e c e r a m . P o r m a is d e mil a n o s , a t os
e u ro p e u s s e m u d a re m p a ra l c o m e s tra d a s d e ferro e lo c o m o tiv a s , o
c a m e lo reinou sup rem o.
Bulliet foi c a p a z d e identificar c o m a lg u m a p re c is o um d o s e v e n to s prin
cipais q u e levou a o d ecln io do carro d e boi e vitria do c a m e lo , Ele
des c o b riu u m cdigo d e im postos do sculo V na c id a d e d e P a lm ira , um
im p o rtan te c entro com ercial na S ria s eten trion al. A s t a x a s fo ra m e s ta b e
le c idas d e m o d o q u e um carro d e boi p a g a v a o m e s m o q u e q u a tro c a m e
los. M a s Bulliet c on segu iu c a lcu la r a c a rg a d e u m c a m e lo e a d e um carro
d e boi. O resu ltad o foi q u e um c a m e lo p od ia c a rr e g a r u m a m d ia d e 2 7 0
quilos e um carro d e boi s up ortava q u a s e o dobro. A s s im , u m c a rro d e boi
p a g a v a o m e s m o q u e q u a tro c a m e lo s m a s s le v a v a o e q u iv a le n te
c a rg a d e dois d a q u e le s anim ais.
0

im posto foi d e te rm in a d o c o m o q u e p a ra d is c rim ina r o c a rro d e boi.

p ro v v e l q u e os funcionrios q u e c a lc u la ra m a ta b e la d e im posto tive s


s e m ligaes fam iliares c o m os con du tores d e c a m e lo s . D e q u a lq u e r modo,
u m a t a b e la d e tax a s a s s im d iscrim inatria s e ria e fic a z e m f a z e r a b a la n
a c o m e rc ia l p e n d e r c o n tra o c a rro d e boi. E o eq u ilb rio e n tre os dois
s is te m a s rivais d e tra n s p o rte e ra ins t v el p o r s u a p r p ria n a tu re z a . A
e fic i n c ia c o m e rc ia l do c a rro d e boi d e p e n d ia d e u m a in fra -e s tru tu ra d e
e s tr a d a s q u e p re c is a v a m e s ta r s e m p re e m b o a s c o n d i e s d e u so . A s
sim q u e o s n e g c io s c o m c arros d e boi c o m e a r a m a e n tra r e m dec ln io,
a s e s tr a d a s fo r a m s e d e te rio ra n d o . E, c o m e s s a d e te rio ra o , a d e c a
d n c ia d o c a rro d e boi se ria r p id a e irre v e rs v e l. N o in te rv a lo d e u m a
ou d u a s g e r a e s , n o s e a c h a ria m a is n e n h u m a rte s o habilidoso c a
p a z d e con struir e c o n s e rta r carros d e boi. N o s os prprios carros de
boi, m a s a t a le m b ra n a de s u a ex ist n c ia d e s a p a r e c e u d o m u n d o r a
b e. A p a la v ra q u e d e s ig n a v a os vecu los c o m rodas foi b a n id a d a lngua
ra b e p o r mil anos".

DYSON, Freeman. G e n te e m qu ina s. So Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 268-9.

98

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

D e d u z -se q u e os trib u to s so d e te rm in a n te s d e fatos d e re le v o e q u e a a n li


se social d a n o r m a q u e os im p e m ais re le v a n te q u e a a n lise ju rd ica, p o r
c a u s a d o s efeitos p a r a a s o c ie d a d e . C o n tu d o , q u a n d o e d ita d a u m a n o rm a ,
esta g e ra lm e n te a n a lisa d a a p e n a s sob o a sp e c to ju rd ico , ig n o ra n d o -s e o refle
xo financeiro. O s efeitos sociais q u a s e s e m p r e s u r g e m le n ta m e n te , e n e m se m
p r e p o ssv el a n te v -lo s e m to d o s os d e sd o b ra m e n to s . P o r isso, n ecessrio
te n ta r v isu a liz a r a m b o s os en fo qu es.
A a n lise d o p r is m a ju rd ic o d e n o rm a trib u t ria a t fcil, p o is a d o u tr in a
u n n im e e m co n sid e r -lo rgido. T od avia, m ais im p o rta n te q u e isso p e rsc ru t la lu z d o q u e s a b ia m e n te p re c o n iz a a Lei d e I n tro d u o a o C d ig o Civil, cujo
a rtig o 5 d e te rm in a q u e to d o s o s prin c p io s, conceitos e n o r m a s d e v e m se r en fo
c a d o s sob o n g u lo d o b e m c o m u m : " N a a plicao d a lei, o ju iz a te n d e r aos
fins sociais a q u e ela se d irig e e s exigncias d o b e m c o m u m " .
N e ssa v e rte n te , o q u e b ro ta so v e rd a d e ira s ch a g a s sociais...

2.7.2 Imunidades
O s c o m p o n e n te s d a cesta bsica (com o a rro z , feijo, sal, a car, m a r g a r in a e
leo) so tr ib u ta d o s com a lq u o ta m e n o r q u e os d e m a is p r o d u to s , exceto o a
car cristal, a re s p e ito d o q u a l a d ia n te se d isc o rre r p o rm e n o r iz a d a m e n te .
Tais p r o d u t o s d e v e r ia m se r im u n e s trib u ta o - v a le d iz e r, d e v e ria m ser
re tira d o s d a c o m p e t n c ia im p o sitiv a d o s trs e n te s d e p o d e r p o ltico (U nio,
e s ta d o s e m u n ic p io s), e x clu d o s d o c a m p o d e in cid n cia d e q u a lq u e r trib u to , p o r q u e a g r a n d e m a io ria d a n o ssa p o p u la o p o b re , a c o m e a r p e lo N o r d e s
te, o n d e s e q u e r h classe m d ia . O c a r te r r e g re s s iv o d a trib u ta o d e b e n s
essenciais d e c o n s u m o u n iv e rs a lm e n te reco n h ecid o , p o is a b so rv e m a io r p o r
o d e r e n d a e x a ta m e n te d o s m a is n ecessitados. A lis, o salrio m n im o u ltr a
jante, n o a te n d e n d o a o q u e p re sc re v e a C o n stitu i o F ederal, s e g u n d o a q u a l
ele d e v e ser, p a r a o tra b a lh a d o r, "c a p a z d e a te n d e r s s u a s n e c e s sid a d e s vitais
bsicas e s d e s u a fam lia com m o ra d ia , alim e n ta o , e d u c a o , s a d e , lazer,
v e stu rio , h ig ien e, tra n s p o rte e p re v id n c ia social" (cf. art. T \ IV).
C a so se a p liq u e a teoria d o s v alores, p re c o n iz a d a p o r H e sse n , n o s e n tid o de
q u e " n s n o s p o d e m o s co n h e c e r o s v alo res, co m o p o d e m o s realiz-los"^^.

HESSEN, Johannes. F iloso fia d o s Valores. Traduo de L. Cabral de Moncada. Coimbra: Armnio
Amado, 1967, p. 237.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

sob a v e rte n te d o ju s to a v alo ra o d o s p r o d u to s d e cesta b sica, cotejados com


os d e m a is casos d e im u n id a d e , d e v e se r ig u al d e q u a lq u e r o u tr a im u n id a d e
e s ta m p a d a n a CF. C o m o a trib u ta o , co m o m e io d e justia social, d e v e p r e o c u
p a r-se co m os m a is n e c e ssita d o s, in d is c u tiv e lm e n te d e v e h a v e r i m u n id a d e ob
jetiva d o s p r o d u t o s d a cesta bsica.
Po r isso, e s tra n h a -s e - e m u ito - o tra ta m e n to q u e h a lg u m te m p o foi d a d o
a o a c a r cristal n o Brasil, re la tiv a m e n te a lq u o ta d o IPI: 18% p a r a o Sul e
C e n tro -O e ste , 9% p a r a os E sta d o s do E sprito S anto e d o Rio d e Jan eiro, e 0%
p a r a o N o r te e N o rd e ste .
Tal tra ta m e n to trib u t rio g rita n te e a fro n to s a m e n te in c o n stitu cio n al; fere o
p rin c p io d o fe d e ra lism o , p o r q u e o Brasil u m a R e p b lic a F e d e ra tiv a , fo rm a d a
p ela u n i o in d is s o l v e l d o s E stado s e m u n ic p io s e d o D istrito F ed eral, c o n sti
tu in d o u m E sta d o D em o c r tic o d e D ireito, q u e te m o s se g u in te s fu n d a m e n to s ,
c o m o est n o a rtig o 1" d a C onstituio; "I - a so b e ra n ia ; II - a c id a d a n ia ; III - a
d ig n id a d e d a p e s so a h u m a n a ; IV - os v a lo re s sociais d o tra b a lh o e d a liv re inici
ativa; V - o p lu r a lis m o poltico".
A ssim se n d o , inco nstitucion al q u a lq u e r lei q u e d e sre s p e ite o u p o n h a em
risco a v a lid a d e e a eficcia desses princpios. N a v e rd a d e , a referida tributao
re p re s e n ta u m a violncia con tra as c a m a d a s m ais p o b re s d o s e sta d o s d o Sul e d o
C entro-O este, m o rm e n te p o r q u e o salrio m n im o n a c io n a lm e n te unificado.
Se o o b jetivo d a d iferen ciao d e alq u o ta s e m foco fosse p r o c e d e r ao d e s e n
v o lv im e n to re g io n a l, ela teria sid o feita p o r lei c o m p le m e n ta r, c o m o o rd e n a o
art. 148, II, d a CF.
C o m o se isso n o b a sta sse , a trib u ta o d o a c a r fere o p rin c p io d a seletivi
d a d e , nsito a o IPI. D iz a C onstituio:

Art. 153 (...)


3 - 0

im posto previsto no inciso IV [IPI]:

(...)
I s e r seletivo, e m fun o d a e s s e n c ia lld a d e d o produto(.

Tal d is p o sitiv o v e d a a trib u ta o igual p a r a to d o s os p r o d u to s (pois o IPI


d e v e ser seletivo) e d e te rm in a q u e seja le v a d a e m co n ta a su a e sse n cialid ad e,
a p lic a n d o -se as a lq u o ta s na ra z o d ire ta d a s u p e r f lu id a d e e n a ra z o in v ersa
d a n ec e ssid a d e .

I 00

D IR C E U G A L O IN O C A R D IN

H d u a s d c a d a s , P a u lo d e Barros d e fe n d e q u e "(...) as a lq u o ta s d o im p o sto


sejam e s tip u la d a s se le tiv a m e n te , e m fu n o d o g r a u d e e s se n c ia lid a d e d o s p r o
d u to s. Serviu-se, p a r a ta n to , d a d iv is o d o s p r o d u to s e m trs categorias: a) os
n ecessrio s sub sistn cia; b) os teis, m a s n o necessrio s; c) os p r o d u to s de
luxo. A os p rim e iro s, c o rre s p o n d e m a lq u o ta s m a is su a v e s, a fim d e n o m a jo ra r
o v a lo r a q u isitiv o d o p r o d u to e, co m isso, to rn -lo acessvel s b o lsa s m o d e sta s.
O s s e g u n d o s se r o trib u ta d o s com alq u o ta s m o d e r a d a s , a te n d e n d o a su a utili
d a d e . E, fin a lm e n te , os p r o d u to s d e luxo so frero trib u ta o m a is rig o ro sa , d a d o
o c a r te r d e in teira p re s c in d ib ilid a d e d e q u e as revestem".''
A d v e rte Jos E d u a r d o Soares d e M elo q u e e sse

(...) u m s u p e rio r princpio constitucional tributrio a s e r rig o ro s a m e n te


o b e d e c id o p elo legislado r fed e ra l, n o tra d u zin d o m e ra re c o m e n d a o . E
a e s s e n c ia lid a d e d ec o rre dos v a lo res c a p ta d o s p elo le gis la do r con stituci
onal e inseridos n a Constituio, c o m o o c aso d o salrio m n im o , q u e
to m a e m c o n s id e r a o a s n e c e s s id a d e s vitais b s ic a s c o m o m o ra d ia ,
a lim e n ta o , e d u c a o , s a d e , lazer, ve s tu rio, h ig iene, tra ns p orte e p re
vid n c ia (art. 8 -, IV, d a C F ) .^

R ic a rd o L o b o T o rre s o b se rv a q u e "... fica sob sria su sp e ita d e incon stitu cio n a lid a d e a n o r m a q u e in tr o d u z a re g re s siv id a d e d a trib u ta o , o u seja, q u e cria
tarifas m e n o re s p a r a os p r o d u to s su p rflu o s, m a io re s p a r a o s essenciais e iguais
p a r a o s d e s ig u a is n a escala d a essencialidade".^*
O ra, o a c a r u m d o s c o m p o n e n te s d a cesta bsica. E n t o , c o m o p o d e ser
tr a ta d o c o m o se fosse p r o d u t o d e luxo o u suprfluo?!
D iva M alerbi, a rg u ta m e n te , observa:

A ssim , 80 e s c o lh e r os produtos objeto d a s o p e ra e s a s e re m a tin gid as


p elo IPI, 0 legislado r d e v e , o brig a to ria m e n te , le v ar e m c o n ta a q u e le s que
s e r / e m p a ra s a tis fa z e r s n e c e s s id a d e s b s icas do tra b a lh a d o r e d e sua

A p u d MELO, Jos Eduardo, 0 Im p o sto s o b re P ro d u to s In d u stria liza d o s n a C o n stitu i o d e 198S (IPI).


So Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p, 81-81.

Idem , p. 83.
TORRES, Ricardo Lobo. O I P l e o p rin cp io da se letividade. In R e vista D ia l tica d e D ire ito Tributrio, n18, So Paulo; Dialtica, 1997, p. 99.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

fam lia, a s s im considerados com o d e e le v a d o g rau d e e s s en ciad ad e, pelo


con te do q u e lhes e m p re s ta o art. 7, IV, d a Constituio, q u a n d o define o
m n im o vitalm en te necessrio m a n u te n o e s ob revivncia. A o m enos
q uanto a e s s es produtos, a Constituio n o perm ite liberdade d e escolha
por p arte do legislador federal. E o que ocorre c o m o produto acar, que,
d ad o seu e le v a d o g rau de essen ciad ad e, , d e s d e 1 9 3 9 , lega lm en te defi
nido c o m o alim ento q u e c o m p e a c e s ta b sica do tra b a lh a d o r e d e sua
fam lia {v. g., D ecreto-Lei 2 9 9 /3 9 ) e, por isso, tradicio nalm en te n o s u b m e
tido tributao p ela legislao do IPI. Assim se n d o , a m a rg e m d e discri
o do legislador s perm ite isent-lo do IPI, ou, q u a n d o muito, tribut-lo
m o d ic a m en te. J a m a is sofrer c arg a tributria e le v a d a , e aind a m a is e le va d a
-

c o m o b e m salienta a im p e tra o - que rao p ara a n im a l ou caviar^

A ssim , c o m o o a c a r c o m p o n e n te d a cesta b sic a , g n e r o d e p rim e ira


n e c e ssid a d e , d e v e se r im u n e tributao.

2.7.3 reas de preservao permanente e de reserva


florestal legal
E m relao s re a s d e p re se rv a o p e r m a n e n te c d e re se rv a florestal legal, o
le g isla d o r a g iu certo ao c o n c e d e r isen o d e trib u to s o u d e v ia ter o p ta d o p e la
im u n id a d e ? F az-se e ssa p e r g u n ta p o r q u e a o s p a r tid o s polticos, s e n tid a d e s
sin dicais d o s tr a b a lh a d o r e s e s in stitu i es d e e d u c a o e d e assistn cia social
foi c o n c e d id a im u n id a d e .
Sob a tica d a s teo rias d o s v alo res e d o in te re sse p b lic o , q u e n o rte ia m a
im u n id a d e , as re a s d e p re se rv a o p e r m a n e n te e a s d e re s e rv a florestal legal
n o t m rele v n c ia m e n o r q u e a q u e le s p a rtid o s , e n tid a d e s e in stitu i e s, p rin c i
p a lm e n te te n d o e m v ista q u e tais re a s so c o n s id e r a d a s b e n s d e in te re sse da
h u m a n id a d e , e n o a p e n a s d e d e te r m in a d a regio. A d e m a is, c o m o p re c e itu a o
art. 225 d a CF: " ,..im p o n d o -s e ao P o d e r P b lico e c o le tiv id a d e o d e v e r d e
d e fe n d -lo e p re se rv -lo p a r a as p re se n te s e f u tu r a s g era es".
C o rre to e sta v a o C d ig o Florestal (Lei n" 4 .7 71 /65 ), cujo a rtig o 38 estabelecia
a i m u n i d a d e d e tributos^^ ta n to p a r a as flo restas n a tiv a s q u a n to p a r a as q u e
AMS 140.652-SP - Revista Dialtica de Direito Tributrio, v. 7, p, 132-3.
Art. 38. As florestas plantadas ou naturais so declaradas imunes a qualquer tributao e no podem
determinar, para efeito tributrio, aumento do valor das terras em que se encontram.

101

102

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

fo ssem p la n ta d a s . T o d a v ia , essa lei foi re v o g a d a p e la Lei n" 5.106, d e 0 2 /0 9 / 6 6 ,


te n d o O sn y D u a r te P ere ira , a n te rio rm e n te rev o g a o , tec id o c o m e n t rio s q u e
m e re c e m reflexo:

"O ra, s e a floresta a c im a d e tudo um b e m d e in te re s s e c o m u m a todos


os h a b ita n te s do p a s , c o m o a d efin e o art. 1 - do C d ig o , e s e a im u n id a
d e trib utria foi e s ta b e ie c id a ten d o e m v is ta e s s e in te re s s e coietivo, n o
c on stituin do , p o rta n to , e x c e o re g ra , a in te rp re ta o n o p o d e s e r
r e s t r i t i v a , c o m o a c o n t e c e n o s c a s o s d e e x c e e s o u p r iv il g io s
d erro ga tiv os d a n o rm a geral. T em q u e s e r e x te n s iv a , tal c o m o p re te n d e u
0 legislador. C o m o b e m e n u n c ia o D r. Luciano P e r e ir a d a Silva, a u to r do
dispositivo, a a u s n c ia dos tributos , a n te s d e tudo, u m a c o m p e n s a o
s re s tri es sofridas p elo proprietrio q u e s e a b s t m d e d estruir a flo
resta p a ra . e m s e u lugar, d e s e n v o lv e r lavou ras d e m uito m a io r proveito
p ara ele".'^

P o rta n to , e m relao s re a s d e p re se rv a o p e r m a n e n te e d e re s e rv a flo


restal legal, d e v e r-se -ia a d o ta r a im u n id a d e , e n o a iseno.

2.7.4 Cooperativas
A C F /8 8 e n fa tiz a o c o o p e ra tiv is m o (art. 174, T ) , a p o ia n d o - o e e s tim u la n
do -o, p o is n ele p r e d o m in a a so lid a rie d a d e , a u x ilia n d o n a p r o d u o , n a v e n d a ,
n o c o n s u m o e n a p re sta o d e servios e m geral, c o m o q u e p r o p o r c io n a m e lh o
re s co n d i e s d e v ida.
C o m o a teo ria d ife re n c ia d a d a p rx is, n o Brasil, c o n tu d o , a b s u r d a m e n te ,
so as c o o p e ra tiv a s a s e m p re s a s q u e m a is s o fre m a trib u ta o d a co n trib u i o
p re v id e n c i ria , d e 7,7% (as d e m a is t m o lim ite m x im o d e 5,8%). E isso p o r q u e
a c u m u la d a a " c o n trib u i o " p a r a o IN C R A com a c o n trib u i o p a r a o SE N AR.
O ra, o re c o lh im e n to a o SE N A R d e v e ria a fa sta r im e d ia ta m e n te o d o IN C R A . A
n o r m a c o n stitu c io n a l p r o c u r a e stim u la r o c o o p e ra tiv ism o , m a s o p r a g m a tis m o
trib u t rio asfixia-o.
Foi p r o m u lg a d a a Lei n" 10.336/01, q u e fez c o m q u e in c id isse a C ID E (C o n
trib u i o d e In te rv e n o n o D o m n io E conm ico) so b re as a tiv id a d e s d a s coo-

PEREIRA, Osny Duarte, D ire ito F lo re sta l B rasileiro. R io d e Ja rie iro: Borsoi, 1950, p. 231.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

p e ra tiv a s. T o d a v ia , p a r a e sta s ela d ev ia ter sid o e x p re s s a m e n te e x clud a, p o r


q u e , c o m o n o h in cidn cia d e P IS /C O F IN S so b re os v a lo re s d o s a to s c o o p e ra
tivos, a CID E n o p o d e se r c o m p e n s a d a com e ssas co n trib u i e s, c o m o o corre
p a r a as d e m a is e m p re sa s. A ssim , a m e n c io n a d a lei feriu o p rin c p io d a iso no m ia,
c ria n d o u m a c o n trib u i o q u e , n a v e rd a d e , u m im p o s to resid ual.
A trib u ta o d a s c o o p e ra tiv a s rev e la s cla ra s o p a n ta g r u e lis m o e statal, q u e
n o p o u p a n e m as c o o p e ra tiv a s, a p e s a r d e rec o n h e c e r e x p re s s a m e n te a su a re
le v a n te fu n o social.

2.7.5 Contribuio previdenciria e seguridade social


o a rtig o 201, 11, d a C o n stitu i o F ed eral p re v a in c id n c ia d a c o n trib u i
o p re v id e n c i ria so b re os ganhos habituais do empregado, a qualquer ttulo, in clu
ind o , o b v ia m e n te , o s a l rio -u tilid a d e e as p re sta e s in natura.
N e s se a sp e c to , a poltica a rre c a d at ria re p re s e n ta u m a v io ln cia letal c o n tra
o tra b a lh a d o r, p o r q u e , n a prtica, im p e d e q u e o e m p r e g a d o r lhe c o n c e d a q u a l
q u e r benefcio e s p o n t n e o . Se o fizer, ser p u n i d o trib u ta ria m e n te .
E xem plifica-se. O in d u s tria l, p re o c u p a d o c o m o p ro b le m a d a h ab itao , for
n ece m o ra d ia g r a tu ita p a r a os se u s e m p re g a d o s. P o r a q u e la n o rm a , co m b in a d a
com o a rtig o 458 d a CLT, o e m p r e g a d o r sofrer e n c a rg o s p re v id e n c i rio s sobre
o v a lo r c o r r e s p o n d e n te cesso d a m o ra d ia , q u e , s e g u n d o a CLT, d e v e ser de,
p e lo m e n o s, 20% so b re o salrio m n im o , E nto , p a r a e v ita r esse e n c a rg o previd e n c i rio , o q u e faz o in d u s tria l? C obra a lu g u e l d o tra b a lh a d o r... A d e m a is, p o r
o u tra a n o m a lia d o D ire ito d o T rab alho , ele tem q u e c o b ra r o a lu g u e l a p re o de
m e rc a d o , p o r q u e , se c o b ra r v a lo r sim blico p a r a n o r e d u z ir o g a n h o d o tra b a
lh a d o r, o ju iz tra b a lh is ta e n te n d e r q u e h o u v e fra u d e , a n u la r o c o n tra to de
a lu g u e l, c o n s id e ra r c o m o s a l rio -u tilid a d e o v a lo r d o a lu g u e l, c o m b a s e n o
p re o d e m e rc a d o , e c o n d e n a r o e m p r e g a d o r a p a g a r a in te g ra o d e sse v a lo r
ao salrio. C o b r a n d o a lu g u e l, o e m p r e g a d o r e s ta r r e d u z in d o os re n d im e n to s
d o tr a b a lh a d o r e, p o r c o n seq n cia, o p o d e r d e c o n s u m o deste.
A ssim , a legislao - q u e d e v e ria in c e n tiv a r as p re sta e s In natura e as u tili
d a d e s [d e sd e q u e haja o p a g a m e n to d o salrio m n im o o u d o sa l rio d a c a te g o
ria p ro fissio n a l d o tra b a lh a d o r], acaba d e s e s tim u la n d o q u a lq u e r ato d e g e n e ro
s id a d e p a ra c o m o e m p re g a d o .
A in d a q u a n to s e g u r id a d e social, o le g isla d o r ta m b m foi infeliz n a form a
c o m o r e g u la m e n to u a c o n tra ta o d e deficientes, v isto q u e , s e g u n d o a Lei n"

103

104

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

7 .853/89, " n a a p licao e in te rp re ta o d e s ta lei, se r o c o n s id e ra d o s os v alo res


bsicos d a ig u a ld a d e n o tra ta m e n to e o p o rtu n id a d e ..." (art.

1). O ra , co m o

a s s e g u ra r ig u a ld a d e p a r a a lg u m q u e se m p re ter g r a n d e d ific u ld a d e p a r a c o m
p e tir c o m u m a p e sso a n o rm a l? O q u e o le g isla d o r d e v e ria te r feito n o e ra fixar
u m n m e r o m n im o d e deficien tes a s e re m c o n tra ta d o s p o r e m p re sa , m a s sim
c ria r in c e n tiv o s fiscais p a r a q u e as e m p re s a s c o n tra ta s se m deficientes, a fim d e
q u e estes fo ssem v isto s com sim p a tia , e n o c o m o encargo.
Serve d e e x e m p lo o siste m a d a s e g u r id a d e social d a E s p a n h a , q u e cria b o n i
ficaes n a s c o ta s-p a tro n a is, q u e so d e 70% p o r tr a b a lh a d o r d eficien te m e n o r
d e 45 a n o s e d e 90% p a r a a q u e le s c o m id a d e s u p e r io r a essa, c o m o in fo rm a
M a n u e l A lo n s o Garcia.^^
R essalte-se q u e n a q u e le p a s h e m p re s a s cujo q u a d r o d e e m p r e g a d o s c o m
p o s to e x c lu siv a m e n te d e deficientes.
O u tr o a sp e c to q u e enseja reflexo sob o n g u lo social d iz re s p e ito s e m p r e
sas e stra n g e ira s, p rin c ip a lm e n te a u tom ob ilsticas, q u e im p la n ta m p a r q u e s in
d u s tria is n o Brasil p a r a u s u f r u ir d e m o -d e -o b ra b a ra ta . C a so elas e x p o rte m
to d a a su a p r o d u o , p a g a m s o m e n te o im p o s to d e r e n d a e as c o n trib u i e s
p re v id e n c i ria s re la c io n a d a s com a folha d e p a g a m e n to s , n o p a g a n d o , p o r ta n
to, 0 IC M S (art. 155, X, a, d a CF), n e m o IPI (art. 153, 3", III, d a CF), n e m a
C O F IN S (art. T d a LC n" 7 0 /9 1 e Lei 10.833, d e 29 d e d e z e m b r o d e 2003). S
p a g a r o e sse s trib u to s r e la tiv a m e n te p ro d u o q u e for v e n d id a n o m e rc a d o
in te rn o . A ssim , o Brasil se t o m a s im p le s m e n te p a r q u e in d u s tr ia l d e g ra n d e s
e m p re s a s a u to m o b ilstic a s, se m efetivas v a n ta g e n s sociais.
E m ais: e ssas e m p re s a s t m im u n id a d e d e trib u to s n a s v e n d a s a o ex terior, e
ta m b m d ire ito a o c r d ito d e in s u m o s , com o se d com o ICMS. A ssim , com o
elas n o p a g a m o ICM S n a sa d a d o p r o d u to , ficam c o m c r d ito s v u lto s o s p e
ra n te o E stado . P o rta n to , a l m d e n o p a g a re m , a in d a recebem !... (O m e s m o
fe n m e n o o co rre c o m a C O FIN S, a p s a R efo rm a T rib u t ria , c o n s o a n te a Lei
10.833, d e 29 d e d e z e m b r o d e 2003, p o is te r o cr d ito s p e r a n te a U nio).
P e d ro V ieira M o ta, e m co m e n t rio s in tro d u t rio s o b ra A s causas da grande
za dos rom anos e da sua decadncia, d e M o n te s q u ie u , a p r e s e n ta e x e m p lo histrico,

se m e lh a n te a o caso e m foco:

" Cf. GARCIA, Manuel Alonso. C u rso d e D e re ch o d e i Trabajo. 8. ed. Barcelona: Ariel, 1982, p. 411

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A !

"Sob a dinastia dos C o m n en o s. porm (sculos XI e XII), a d es o rd e m poltico-adm inistrativa avultou, d eg eneran d o e m verd a de ira c egu eira suicida n a
cional, C o n c e d e ra m a V e n e za e, depois, ta m b m a G n o v a o direito d e co
m erciar e m Constantinopla livremente, s e m p ag a r nada, p enalizando o co
m e rcian te bizantino. M ais. Aos primorosos a rte s o s bizantinos vilipendia
va m , c h a m a n d o -o s g u a d e clo a ca , e preferiram os m an ufatu rad os importa
dos. D e s ta rte a b a la ra m d uas vigas m estras d a e c o n o m ia bizantina; o co
m rcio e a indstria. 0 em p ob re c im e n to c o m e o u , im p erc e p tiv e lm e n te ,^^

Em n o ta d e ro d a p , e sse tr a d u to r afirm a; " m io p ia p r p r ia d e a tr a s o p o lti


co. A ssim os latino-am ericanos".^''

2.7.6 Sistema tributrio e princpios


O p ro fe s s o r ta lo Paolinelli M on ti, d a U n iv e r s id a d e d e V a lp a ra iso , C hile,
a sse v e ra q u e q u a lq u e r siste m a trib u t rio , p a r a c u m p r ir s u a i m p o r ta n te fu n o
social e e c o n m ic a , te m q u e a te n d e r a certos re q u isito s, d o s q u a is d e sta c a m o s
"la suficincia, la s im p lic id a d , la justicia o e q u id a d trib u ta ria .
P ara q u e h aja a suficincia, p reciso q u e os re c u rs o s o r iu n d o s d a trib u ta o
sa tisfaam s n e c e s s id a d e s pbU cas, se m q u e o E s ta d o p re c ise re c o rre r d e for
m a c o n sta n te ao e n d iv id a m e n to p a ra fin an ciar se u s g a sto s n o rm a is.
MONTESQUIEU. C o n sid e ra e s so b re a s ca u sa s da g ra n d e za d os ro m a n o s e da d eca d n cia , p. 86.

Idem . p. 136.
Que e l siste m a trib u t rio s e a su ficie n te significa, e n sin te sis, q u e io s in g re so s g e n e ra d o s p o r este

co n c e p to s a tisfa g a n Ias n e ce ssid a d e s p b lica s en la fo rm a p re s u p u e s ta ra m e n te p re vista , a obje to de


q ue e l E sta d o n o d e b a recurrir, de m a n e ra habitual, a e m isio n e s in o rg n ic a s o e n d e u d a m ie n to p e rm a
n e n te p a ra p o d e r fin a n c ia r s u s g a s to s corrientes.
(...)

La simplicidad, que consiste en obtener la mayor acilidad en Ias leyes tributarias, Io que puede
canalizarse hacia dos objetivos: evitar la multiplicidad, tendiendo a un rgtmen de pocos tributos pero
de una base imponible ancha y general, y simplificar fa administracin de tales tributos, eliminando
trmites engorrosos y otorgando facilidades en base a normas expeditas, sencilias y de facil comprensin
para el contribuyente,
(...)

O u tra e xig e n cia d e i siste m a, e in d u d a b le m e n te la m s im po rta n te , es q u e s e a ju s to o e q u iia tivo , c o n


ce p to q u e st b ie n e s cierto h o rig in a d o a p a sio n a d a s d is c u s io n e s y co ntrov rsia s, p u e d e caracterizarse,
e n t rm in o s g en e ra te s, co m o ig u a ld a d en e l sacrificio, e s to es, q u e la m e d id a e n c a d a c u a l d ebe
c o n trib u ir d e b e e s ta r d ete rm in a d a p o r la c a p a c id a d co n lrib u tiv a q u e c a d a c u a l te n g a " (MONTI, Italo
Paolinelli. Los sistemas tributrios en general, com especial referencia a Chile. RDT 31. p. 92).

105

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

N o Brasil, a le g a v a -se q u e as e m p re s a s p b lic a s e r a m as re s p o n s v e is p ela


su co d e n u m e r rio . V e n d e ra m -n a s, p riv a tiz a n d o -a s. E o ciclo d a d v id a c o n ti
n u o u... C o n tin u o u , e a trib u ta o , a c a d a a n o q u e p a ssa , m a is p e s a d a , c h e g a n
d o ao p o n to d a in s u p o r ta b ilid a d e , u m a v e r d a d e ir a d e r r a m a fiscal: n o se co nse
g u e saciar o a p e tite d o d in o s s a u ro a d m in istra tiv o .
A f a m ig e ra d a re fo rm a a d m in is tr a tiv a , q u e d e v ia te r v in d o , n o veio. E a
a d m in istra o p b lic a a b so rv e os re c u rso s trib u t rio s q u e o p o v o p a g a . evi
d e n te , p o r ex e m p lo , q u e h im o ra lid a d e n o fato d e o d e p u ta d o federal a p o s e n
tar-se a p s o ito a n o s d e m a n d a to , n o s "cab id es d e e m p r e g o s " e e m p o lp u d a s
a p o s e n ta d o ria s d e s e rv id o re s pblicos.
H u m b a n q u e te - n o , e v id e n te m e n te , o d a s id ia s filosficas d e Scrates,
m a s o d o p e r d u la r is m o d o s re c u rso s p b lico s, c ria n d o -se c o n tra s te s sociais:

"... c o m o justificar q u e o conjunto d a s o c ie d a d e (incluindo os q u e g a n h a m


9 0 0 reais p o r m s ) b a n q u e a p o s e n ta d o ria s m d ia s d e 2 . 3 0 0 reais, contra
os 2 9 9 reais p ra ticad os no m u n d o p rivado?^

A sim plicidade p r e s s u p e p o u c o s trib u to s, e v ita n d o -se a s u a m u ltip lic a o e


sim p lific a n d o -se a a d m in is tra o a rre c a d at ria.
Tal re q u is ito n o existe n o Brasil; h to g r a n d e q u a n tid a d e d e trib u to s, q u e
eles p a re c e m v ru s, tal o efeito m u ltip lic a d o r.
N o p rin c p io e r a m o s im postos... H a v ia -o s d e to d o s os tipos. C o m o o P o d e r
J u d ic i rio re c h a a sse m u ito s d eles, e n t o o p o d e r tr ib u ta n te d is s e m in o u p o r
to d a p a r te a s taxas. T axas p a r a to d o s os gostos... T a n ta taxa, q u e at so b re a
b a s e d e c lcu lo d o im p o s to ela incidia. Foi p re c iso q u e n o r m a c o n stitu c io n a l
v e d a s s e {art. 145, 2, d a CF).
A gora, e sta m o s e m po ca d e p ra g a d a s contribuies, q u e se ala stra m , inclusi
ve im p o sto s co m d e stin ao especfica ro tu la d o s d e co ntribuies (salrio-educao, SEBRAE = Servio Brasileiro d e A p o io s M icros e P e q u e n a s E m p resas; SESC
= Servio Social d o C om rcio; SE N A C = Servio N ac io n a l d e A p re n d iz a g e m C o
mercial; SEN AI = Servio N acion al d e A p re n d iz a g e m Ind u stria l; SEN A R = Servi
o N acion al d e A p re n d iz a g e m Rural; SESI = Servio Social d a In d stria ; D PC =
D iretoria d e P o rto s e C ostas; SEST = Secretaria Social d o T ran sp o rte), contribui-

SECCO, Alexandre; PATURY, Felipe. Fe ra fam inta. In Veja", 14 de novembro de 2001, p. 116.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

es s u p e rp o s ta s (IN CRA = In stituto N acional d e C olo nizao e Reform a A grria


e SENAR), c o ntribu i es com a m e sm a b ase d e clculo (C O FIN S e PIS)... Tal p ro
c e d im e n to tem u m a finalidade: elevar a a rrecad ao d a U n i o e m d e trim e n to dos
E sta d o s-m e m b ro s e d o s m u n icp io s, co m o expe s claras Jorge B ornhausen: "A
fo rm a sim ples: co m o a C o n stituio d e te rm in a q u e u m a p a r te d e to d o s os im
p o sto s (e s fala e m im p osto s) recolhidos pela U nio seja d iv id id a com os Estados
e os m u n ic p io s, o g o v e rn o federal p a s s o u a c ria r (e a u m e n ta r a arrecadao)
'co n tribu i es', q u e n o so d iv id id a s com os E stado s e m unicpios.
O ra, as tais 'contribuies' tm tu d o d e imposto; p a re c e m im postos, so coerci
tivas, universais, tm cara, corpo e esprito d e im postos, m as, com o so d e n o m in a
d a s 'co n trib u i es', n o e n tra m na p artilh a d e q u e p a rtic ip a m os m u n ic p io s." ^
in te re ss a n te n o ta r q u e o p r p rio S u p re m o T rib u n a l c o n s a g r o u o prin c p io
d a u n i\'e r s a lid a d e d a s c o n tribu i es, a m p lia n d o ta n to o raio d e in c id n c ia d e s
tas, q u e se c h e g a ao a b s u r d o de, m e s m o s e m lei, e m p r e s a s u r b a n a s e ru ra is
e s ta re m s e n d o o b r ig a d a s a p a g a r as m e s m a s "c o n trib u i e s" . P o r ex em p lo , o
re c o lh im e n to d a c o n trib u i o p a r a o IN C R A , q u e seria tip ic a m e n te ru ra l, est
s e n d o o b rig a t rio ta m b m p a ra e m p re s a s u rb a n a s , e m b o r a as situ a e s fticas
e ju rd icas sejam c o m p le ta m e n te diferentes. Isso sem d iz e r d a in co n stitu cio n alid a d e d a " c o n trib u i o " p a ra o IN C R A , q u e foi s u b s titu d a p e la co n trib u i o
p a ra o SE N A R , q u e n o tem c a u sa jurd ica p a ra se r exigida.*"
E ssas "c o n trib u i e s" fo ra m tr a n s fo rm a d a s e m fonte d e re c u rs o s p a r a o E sta
d o , c o n s titu in d o v e r d a d e ir o confisco.

C o m efeito, a C o fin s incide s ob re o fa tu ra m e n to e a re c e ita d a e m p re s a ,


0 P IS te m a m e s m a b a s e d a Cofins, a C P M F tributo g ile te - c o rta dos
dois la do s

e n c a re c e n d o a pro du o e dificultando o c o n s u m o . E m re a

lidad e, a U n i o e s t invadindo a b a s e d e inc id n c ia d o ICfvIS - a s v e n d a s


-

c o m 08 m e n c io n a d o s tributos. V e n d a s e fa tu ra m e n to s e s t o s e n d o o n e

rad os d e m a s ia d a m e n te , e m p rejuzo d a p o p u la o e d a F e d e ra o .'

Conforme declarao de Jorge Bornhausen, na matria Contribuio" quer dizer "mos ao alto". In
Folfia de S. Paulo, 31 de jultio de 2003, p. A-3,
Vide GALDINO, Dirceu; ARZUA, Heron. A Contribuio ao INCRA e a Constituio de 1988. In R evista

D ia l tica d e D ire ito Tributrio, n - 16. So Paulo: Dialtica, 1997, p. 7-14.


LOPES FILHO, Osiris. S iste m a trib utrio brasileiro, /n Revista Jurdica Consulex, ano V, n - 117. Braslia:
Consulex, 2001. p. 9.

108

D I R C e U G A L D IN O C A R D IN

v ista d a a p a r e n te rig id e z d o sistem a trib u t rio , o b se rv a H e r o n A rzua:

E x e g e s e d iv e rsa c on cluir q u e o s is te m a tributrio d a C o n s titu i o de


1 9 8 8 n o rgido, s e n d o tudo perm itido U n i o d e s d e q u e inv o q u e a
p a la v rin h a m g ic a: c ontribuies!^

A in d a c o m relao s e g u rid a d e social, tra z e m o s baila as concluses a p re s e n


ta d a s p o r M a u rlio S c h m itt a p s p r o f u n d a a nlise d o custe io d o sistem a:

a ) a p ro life ra o d e contribuies sociais, e m b o r a te n h a res p o n d id o


n e c e s s id a d e d o T e s o u ro d e d is p or d e fo n tes d e rec u rs o s s e m t e r q u e
reparti-las c o m E s ta do s e M unicpios, a c a b o u introd uzin do distores no
s is te m a tributrio p e la c ria o d e fun do s espe c fic o s , c o m v in c u la o de
rec e itas , p a ra fin a n c ia r os respectivos p ro g ra m a s setoriais;
b) 0 e le v a d o n m e ro d e contribuies constitui um d o s principais fato re s
re s p on sveis p ela co m p le x id a d e d a atual estrutura tributria; so um pouco
m a is d e 2 0 e s p c ie s d e contribuies q u e n o p o s s u e m u nifo rm iza o
q uanto a o s rg o s re s p o n s v e is pelo seu reco lh im en to , n e m tam p o u c o
q u a n to a o s p ra zo s ou aos d e m a is p ro ce d im e n to s a s s o c ia d o s s u a a r r e
c a d a o , o q u e a c a rre ta nus aos contribuintes e e s tm u lo e v a s o ;
c) a incidncia s o b re o fa tu ra m e n to e (ou) receita o p e ra c io n a l bruta, nos
c a s o s d a C O F IN S e d a C ontribuio p a ra P IS /P A S E P , re s p e c tiv a m e n te ,
a o atingir a s v ria s fa s e s interm edirias, b e m c o m o a f a s e final do p ro
c e s s o produtivo, p ro du z um e fe ito -c a s c a ta n e g a tiv o q u e e le v a a c a rg a
s o b re o pro du to final, re percutindo c u m u la tiv a m e n te s o b re o s e u preo";^
d) e m d e c o rr n c ia d a incidncia cum ula tiv a d a C O F IN S e P IS /P A S E P , a
c a rg a Im p ositiva, d e la s res u lta n te , d ife re n c ia d a q u a n d o s e a n a lis a m
s e u s efeitos s ob re os d iversos s e to re s d a a tiv id a d e e c o n m ic a . A s e m
p re s a s e os s e to re s v e rticalizad os, por e x e m p lo , a c a b a m re s p o n d e n d o
p o r u m a c a rg a m a is expressiva;*

ARZUA, Heron. A s c o n trib u i e s so cia is na C o n stitu i o d e 1988. So Paulo: Revista dos Tribunais,
1989, p. 190,
NA: ainda que haja a possibilidade de crdito, em face do princpio da no-cumulatividade.
NA: aps a Reforma no Governo Lula, at mesmo a prestao de servios, quando essa, pelos efeitos
sociais, deveria ficar margem da tributao da Cofins.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

e ) a s e x p o rta e s n o g o z a m de p le n a is e n o , pois o fato d e s e te r o


fa tu ra m e n to c o m o b a s e p a ra fins tributrios, a in d a q u e a v e n d a d e m e r c a
dorias e s e rvios d es tina d os a o exterior s e ja le g a lm e n te e x c lu d a , signifi
c a o n e r a r os b e n s e x p o rt v eis p ela incid ncia s o b re os ins u m o s in te rm e
dirios utilizados no seu p ro cesso produtivo;
f) a folh a d e s a lrios te m sido o n e ra d a c o m e n c a rg o s d e n a tu re z a t ra b a
lhista e g ra v a d a p o r contribuies d e s tin a d a s a o fin a n c ia m e n to , n o s o
m e n te d a p re v id n cia social, c o m o t a m b m d e p ro g ra m a s d e ens in o fu n
d a m e n ta l ou p ro fission alizan te p a ra e m p re g a d o s d e d iverso s s e to re s de
a tiv id a d e , q ua is sejam :

C o n trib u i o p re v iden ciria


C o n trib u i o do s a i rio -e d u c a o

22 ,0 %
2 ,5 %

C o n trib u i o para
S E S I / S E N A I ou
S E S T /S E N A T o u
S E S C / S E N A C ou

2 ,5 %

I N C R A /S E N A R ou
E n sino a e ro virio ou
Ensino m artim o
C o n trib u i o adicional p a ra o IN C R A

0 ,2 %

C o n trib u i o p ara o S E B R A E

0 ,6 %

C o n trib u i o para o F G T S

8 ,0 %

TOTAL

g)

3 5 ,8 %

a r g u m e n t a - s e q u e e x c e s s iv a a c a r g a in c id e n te s o b re a fo lh a d e

s a l rio s , s e n d o e s ta r e s p o n s v e l p e la s lim ita e s im p o s ta s a o m e r c a


d o d e tr a b a lh o fo rm a l, b e m c o m o p e lo e s tm u lo e v a s o d e rec u rs o s
d a s c o n trib u i e s n e la b a s e a d a s ; a l m d is s o , a fir m a - s e s e r in ju stificvel
t e c n ic a m e n t e a m a n u t e n o d e to d a s e s s a s c o n trib u i e s , c o m n a tu
r e z a t o d s p a r, v in c u la d a s a o v a lo r d a r e m u n e r a o p a g a m o -d e o b ra c o n tra ta d a .
E m resum o;
a)

a s e g u rid a d e social existe p ara garantir, a q u a n to s e x e r a m com digni-

110"

D IR C E U Q A L D IN O C A R D IN

d a d e o tra b a lh o , a s u a re a liza o c o m o p e s s o a s d es tin a t ria s d e b e m e s ta r e d e justia;


b) 0 s is te m a d e s e g u rid a d e social e n g e n d ra d o no Brasil, e n q u a n to e le n c o
d e objetivos a s e re m a lc a n a d o s , ideal, p o rm a s fon te s e leitas p a ra
s eu custeio o p e m distores funcionais no e m p re g o , no inves tim e n to e
n a p ro d u o dom stica;
c) e q u v o c o atribuir aos e m p re g a d o re s a re s p o n s a b ilid a d e s o b re trs
c on tribu ies sociais, c o m b a s e s e c o n m ic a s (folha d e salrios , fa tu ra
m e n to e lucro) q u e e x p o n e n c ia m o seu real e v e rd a d e iro e n c a rg o por
incid ncia e m c a s c a ta e por incluso d e u m a con tribu io social com o
b a s e d e c lcu lo d e outra;
d) p a ra g e r a r efeito e resu ltad o a t m a io r do q u e a re tira d a d a s contribui
e s a o s S S (S e s i, S e n a i e tc.) b as ta a u to riza o legis la tiv a q u e p erm ita
excluir, dos v a lo re s d e fa tu ra m e n to (b a s e d e clcu lo d a C O F I N S e do
P IS ), 0 v a lo r total d e salrios p ag os e d e re m u n e ra e s a trib u d a s a a d
m inistradores, a u t n o m o s e a vulso s (pois j tra b a lh o , c o m o e n c a rg o do
e m p re g a d o r)",

N a c o n tin u id a d e d a v o ra c id a d e arrecad at ria, so e m p re g a d o s estratagem as:

"Nessa ta re fa d e tirar d inheiro do contribuinte, a R e c e ita F e d e ra l a d o ta


tod os os e x p e d ie n te s con h e c id o s . C ria um im posto p ro m e te n d o q u e s e r
provisrio, m a s e le logo se torna definitivo. A C P M F d e v e ria d u ra r dois
ano s . J d u ra cinco. O u tro tru qu e criar um tributo d iz e n d o a o C o n g re s
so q u e a a lq u o ta s e r m n im a . N o a n o se gu inte , e la a c a b a reaju sta d a .
A c o n te c e u c o m o Cofins, q u e subiu d e 2 % p a ra 3%".

E o p io r d e tu d o q u e e ssa s c o n trib u i es se a g re g a m a o p re o d o p r o d u to ,
e vo -se a c u m u la n d o . A ssim , a m a io ria d o s c o n s u m id o re s bra sile iro s - d a s clas-

SCHMITT, Maurilo. S e g u rid a d e social. N ature za e conceitos. C o n trib u i e s d e c u s te io d o sistem a.


E xclu s o d e sa l rio s e d e o u tra s re m u n e ra e s d o tra b alh o da b a s e d e c lcu lo (fa tu ra m e n to ) da C ofins
e d o PtS. E xce rto s d e te x to p a ra d iscu ss o intern a na F e d e ra o d as In d stria s d o E sta d o d o Paran,
p ro d u z id o em p e rio d o a n te rio r a o da re tirad a d a cu m ula tivid a d e d o P is e da C ofins. No publicado.
SECCO, Alexandre; PATURY, Felipe. F e ra fam inta. In Veja , 14 de novembro de 2001, p. 112.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

ses m d ia e b aix a

e m d ec o rr n c ia d e u m a trib u ta o irra c io n a l, acaba p a g a n

d o p re o s m u ito e le v a d o s p e lo s p r o d u to s , o q u e a u m e n ta os p ro b le m a s sociais.
O s c o n s u m id o r e s s o s e m p re o s c o n trib u in te s d e fato d e s se s trib u to s in direto s,
e m b o ra a m a io ria d e le s n o te n h a c a p a c id a d e c o n trib u tiv a . E o pior; com a re
p e rc u s s o d o s tr ib u to s in d ire to s so b re o p re o d o s p r o d u to s , p ro v o c a -s e ta m
b m a inflao, q u e a fo rm a d e trib u ta o m a is in sid io sa e in q u a d e q u e se
te m notcia. O Brasil, u m d o s c a m p e e s m u n d ia is d e d e s ig u a ld a d e s e com u m
h ist ric o d e inflaes re c o rre n te s, n o p o d e jo g a r n o lixo o esforo d o s ltim os
d e z a n o s p a r a , c o m o p la n o Real, c o n stru ir u m a m o e d a estvel. O s riscos d e se
ter u m a re b ro ta d a inflao so laten tes, a p e rs istire m o s cclicos p ro c e d im e n to s
d c ele v a o d a c a rg a trib u t ria d o s ltim o s anos.
P o r o u tr o la d o , h u m a in fin id a d e d e tribu tos: fed erais, e s ta d u a is e m u n ic i
p ais. P ara efeito d e trib u ta o , c a d a g o v e rn o p r o c u r a e le v a r as a lq u o ta s d o s
se u s, c o m o se n o e x istisse m o u tro s. A ssim , as e m p r e s a s s o fre m v e r d a d e ir o
m assacre. A s u n id a d e s p r o d u tiv a s so asfixiadas. S o p o d e r p b lic o trib u ta n te
n o o v. A lis, finge n o v e r q u e elas est o n a UTI, ta n to a ss im q u e as in d s tr i
as n o e st o te n d o co n d i e s d e fazer in v e stim e n to s p a r a a u m e n ta r o se u p a r
que, p o is est o lu ta n d o p a r a n o ir b a n c a rro ta . C o m o a m q u in a a d m in is tr a ti
va v e r d a d e ir o p a q u id e r m e , o g ro invisvel, d e q u e n o s fala O t v io Paz, n e c e s
sita d e u m a c a rssim a e s tr u tu r a a d m in is tra tiv a p a r a a rr e c a d a r o s tributos...
O sbio T c h e o u K o n g a d m o e s ta v a : " U m b o m g o v e r n a n te c o m o v e n to so
b re a relva. / U m b o m d irig e n te m a n t m os im p o s to s baixos".^
A so b re c a rg a trib u t ria p ro v o c a a son egao , q u e d e c o rr n c ia d o p r p rio
sistem a:

"O a b s u rd o d a c a rg a tributria a q u e e s t su b m e tid o o con tribu inte brasi


leiro q u e a s u a re n d a m d ia muito inferior dos c id a d o s dos E s ta
d os U n id o s e J a p o . P o r isso, a p re s s o q u e s u p o rta brutal. Isso, e v i
d e n te m e n te , e s tim ula a e v a s o .

N o E sta d o d o P a ra n , a a rre c a d a o a u m e n to u q u a n d o foi r e d u z i d a a trib u


tao so b re a cesta bsica; n o M xico e n o s E sta d o s U n id o s o c o rre u o m e sm o

yApud POUND, Ezra, Os ca ntos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972, p. 303.
LOPES FILHO, op. d l , p. 6.

112*

D IR C E U G A L O IN O C A R D IN

q u a n d o foi r e d u z id a a c arg a trib u t ria . P or q u? sim ples: r e d u z in d o - s e a c a r


ga trib u t ria , d im in u i a so n e g a o e a m p lia -se o u n iv e rs o d e co n trib u in te s . N o
h n e c e s sid a d e d e s u s te n ta r ta n to s fiscais, n e m d e re c o rre r a c o n ta d o re s m g i
cos p a r a m a q u ila r as escritas fiscais, b u s c a n d o to d o s o s tip o s d e e s tra ta g e m a s
p a r a a eliso fiscal. O re c o lh im e n to d o s trib u to s p o d e to rn a r-s e satisfao , co m o
dizia o ju iz O liv e r H o lm e s, d a S u p re m a C o rte d o s EUA: "E u g o sto d e p a g a r
im p o sto s, p o r q u e c o m p ro civilizao".^'^
Hoje, n o Brasil, a trib u ta o to esco rch an te, q u e a s o n e g a o to rn o u -se
e s ta d o d e n e c e ss id a d e ; so n e g a -se p a r a p o d e r so b re v iv e r. O v a lo r c o r r e s p o n
d e n te so n e g a o q u e p ro p ic ia lu cro a m u ito s e m p re s rio s. A so n e g a o
p e c a d o social q u e q u a s e to d o s o s bra sile iro s c o m e te m , n o p o r q u e q u e r e m co
m e te r, e sim p o r q u e o E s ta d o c atico n a trib u ta o , fa z e n d o -o s a g ir assim . O
E sta d o c o n d e n a o c id a d o p e lo crim e d e son eg ao, m a s n a d a o c o n d e n a pelo
excesso d e tributos...
P o r o u tr o la d o , a C F /8 8 , n o a rtig o 150, 5", diz: "A lei d e te r m in a r m e d id a s
p a r a q u e os c o n s u m id o r e s sejam esclarecid os acerca d o s im p o s to s q u e in c id a m
so b re m e rc a d o ria s e servios".
Essa n o r m a a d e q u a d a p a r a a C o n stitu i o d e certos p a se s, c o m o os EUA,
o n d e o c o n trib u in te , ao a d q u ir ir u m p r o d u to , p a g a a p e n a s u m trib uto : o im p o s
to s o b re v e n d a s , q u e a g re g a d o ao "p re o d e p ra te le ira " d a m e rc a d o ria . Logo,
o c o n trib u in te te m p le n a co nscincia d e q u a n to p a g a d e im p o sto . T o d a v ia , a
n o r m a c o n stitu c io n a l b ra sile ira cnica, p o is n e m G e ra ld o A talib a o u A lio m ar
Baleeiro, r e s su sc ita n d o , sa b e ria m , ao a d q u ir ir q u a lq u e r p r o d u to , q u a is o s trib u
tos q u e so b re ele in c id ira m , p o is os in d ire to s s o s u p e rio re s aos diretos...
A p ro p s ito d o C u s to Brasil, o e c o n o m ista M au rlio L. Schm itt, enfoca a r g u
tam en te:

T o d a s e s s a s m e d id a s , enfim , c o n v e rg e m na d ire o d e in v e rte r a lgica


a tu a l do s is te m a tributrio brasileiro, fo c a d o no p re s s u p o s to d e q u e
preciso e le v a r a s a lq u o ta s nom inais dos tributos c o m o re a o s is te m ti
c a d o s g e s to re s pblicos e x is t n c ia d e s o n e g a o . N o a tin a m q u e
e s ta , por s u a v e z, e s tim u la d a e re tro a lim e n ta d a p o r a u m e n to s d a s al-

A p u d SOUSA, Rubens Gomes de e t alli. In te rp re ta o n o D ire ito Tributrio. So Paulo: Saraiva, 1975,
p. 106.

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA 1 1 3

q u o ta s re q u e rid o s p a ra g ara ntir o m e s m o nvel a nte rio r d e a rre c a d a o .


E m u m a p alavra: e le v a m -s e as a lqu otas p o rq u e h s o n e g a o e a s o n e
g a o s e a m p lia porqu e a s a lq u o ta s n om in ais s o e le v a d a s .
N in g u m g a n h a n e s te jog o d e s o m a ze ro . 0 g o v e rn o p e rd e e m receitas
p a ra fornir s e u s cofres e perm itir o a te n d im e n to d a s d e m a n d a s sociais. E
0 crculo p erv e rs o d a injustia fiscal se instala; os con tribu intes q u e e tic a
m e n te p e r m a n e c e m ou re m a n e s c e m cu m p rid o re s d e s u a s o b rig a e s tri
b u t ria s s o la n a d o s na a re n a d a c o m p e ti o d e s le a l e d e s v a n ta jo s a
c o m s o n e g a d o re s q ue, iro nicam en te, c a d a v e z m a is a c a b a m s e b en e fic i
a n d o d e n ov os a u m e n to s de a lq u o ta s n om in ais dos tributos

C o n v m a te n ta r m ais: e n q u a n to a trib u ta o b ra sile ira v io le n ta n a fonte de


p r o d u o , a sfix ia n d o a a tiv id a d e in d u stria l, a n o rte -a m e ric a n a in c id e n o c o n s u
m id o r, p ro p ic ia n d o co n d i e s p a ra a e x p a n s o in d u s tr ia l e a g e ra o d e e m p r e
gos. A trib u ta o so b re a re n d a n o c o m p ro m e te esses objetivos.
E m relao a o s EU A , n o Brasil a m u ltip lic a o d e trib u to s a p re se n ta , p a r a os
g o v e rn o s , u m a v a n ta g e m p o ltico -tribu tria: l, q u a n d o se a u m e n ta q u a lq u e r
trib u to , c o m o o c o n trib u in te sa b e o q u e est s e n d o a u m e n t a d o e c o m o s o p o u
cos os trib u to s, ele v a i p a r a as ru a s e p ro te sta ; a q u i, c o m o s o in m e ro s e d e
ta n ta s fontes, o c o n trib u in te n o c a p a z d e id e n tific a r d e o n d e p r o m a n a a sa n
gria e sen te-se im p o te n te p a r a p ro testar.
O re q u isito d e q u e o siste m a trib u t rio d e v e se r ju sto e eqitativo fica a p e n a s
n o d e v e r-se r. N a r e a lid a d e , o siste m a trib u t rio in justo p a r a o p o v o e nocivo
p a r a a n ao . in ju sto p a r a o p o v o p o r q u e se te m a im p re s s o d e q u e , n o Brasil,
as e m p re sa s s o p u n id a s p o r p ro d u z ire m : p ra tic a m e n te to d o s o s trib u to s incidem
so b re a p r o d u o (fa tu ra m e n to ).

no civ o

n a o p o r q u e as e m p re s a s b ra sile i

ra s a c a b a m n o p o d e n d o c o m p e tir com as estra n g e ira s.


N o Brasil, a p ro life ra o d e trib u to s g e ra o u tr o im p a c to p e r v e r s o s o b re o
fu n c io n a m e n to d a econom ia: p e rd e -se m u ito te m p o e g a sta -se m u ito p a r a c o n
tro lar, a d m in is tr a r e a r r e c a d a r os trib uto s. S e g u n d o a o rg a n iz a o in tern acio n al
IP A, o Brasil ga sta R$ 30,00 (trin ta reais) e m b u ro c ra c ia (p b lic a e p riv a d a ) p a ra
c a d a R$ 100,00 (cem reais) a rre c a d a d o s . C o m as c o n trib u i e s d a C O F IN S e PIS

SCHMITT, Maurilio. Custo Brasil

- M o d e lo d e Tributao. In Jornal

Oficial do Corecon-PR), n- 60, janeiro a maro de 2001, p. 5.

do Economista" (Informativo

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

n o -c u m u la tiv a s , c o m certeza, esse cu sto se elevou: s o ta n to s la n a m e n to s, q u e


in fe rn iz a m o c o n trib u in te .
N o ta n g e n te ao m e rc a d o in terno , c o m a sobrecarga d a trib u tao , as e m p re sa s
d e ix a m d e se e x p a n d ir e d e c o n tra ta r trabalhado res, o q u e a u m e n ta o desem p reg o .
D e p a r a - s e c o m o s e g u in te q u a d r o social: a tr ib u ta o v io le n ta asfix ia a e m
p r e s a ; a e m p r e s a , e s m a g a d a , c o m p r im e o tr a b a l h a d o r ; e ste fica c o m o o m u s g o
e n tr e o r o c h e d o e os v a g a lh e s d o m a r; e s m a g a d o , o t r a b a l h a d o r fica se m
p o d e r a q u is itiv o ; fic a n d o s e m p o d e r a q u is itiv o , ele n o a d q u i r e b e n s d e c o n
sum o; n o a d q u irin d o b en s d e consum o, as em p resas n o escoam sua p r o d u
o; n o e s c o a n d o o s p r o d u t o s , as e m p r e s a s c o m e a m a te r d if i c u ld a d e s fi
n a n c e ir a s , e a c a b a m c o n c o r d a t r ia s o u in d o fa l n c ia , a u m e n t a n d o o d e s e m
p re g o ... O d e s e m p r e g a d o d e ix a d e s e r c o n s u m id o r . D e ix a n d o d e c o n s u m ir ,
n o o c o rre v e n d a , a p r o d u o fica e s t a g n a d a e a s e m p r e s a s p a s s a m a te r d if i
c u ld a d e s f in a n c e ira s , a t q u e q u e b r a m . o c rc u lo v ic io so ... Isso s e m d iz e r
q u e , e m m u i t o s c a so s, o s q u e e r a m e m p r e s r io s , a p s a q u e b r a , ficam d e
sem p reg ad o s.
P a ra o tra b a lh a d o r, o q u e ele recebe d e salrio p o u c o ; p o r m , d e v id o aos
trib u to s, p a r a a e m p r e s a esse p o u c o to rn a -se m uito...
F o rd a c o n se lh a v a os e m p re s rio s a re m u n e ra re m b e m o tra b a lh a d o r.
A n te v ia q u e , a u m e n t a n d o o p o d e r d e c o n s u m o d e s te , e s ta r ia f a z e n d o c ir c u
la r r iq u e z a s e, c o m isso, p o s s ib ilita n d o q u e a s e m p r e s a s e s c o a s s e m r a p i d a
m e n te s e u s p r o d u to s .
H e n o r m e d if e r e n a e n tr e o s is te m a tr i b u t r io b r a s ile ir o e o n o r te - a m e r i
c an o : e s te o p t o u p o r t r i b u t a r o c o n s u m id o r ; a q u e le a fo n te d e p r o d u o .
A q u i, p s d e ferro p is a m o e m p re s rio , q u e fica se m co n d i e s d e in v e s ti
m en to ; p is a m o tr a b a lh a d o r, q u e fica se m p o d e r d e c o n su m o .
A propsito, diz, com pro pried ade, A d d y M azz, no artigo "Sistema Tributrio":

D o p o n to d e v i s t a m a is c o n c r e t o , o i n s t r u m e n t o f is c a l n o d e v e
o b s ta c u llz a r o d e s e n v o lv im e n to p o r m otivo d e t c n ic a fiscal irra c io n al. 0
d e s e jo d e a u m e n t a r a a rr e c a d a o d o s tributos s e m c o n s id e r a r os e f e i
tos d o m e s m o , a s c o n fig u ra e s t c n ic a s c o m p le x a s e c a ra s d e s te s ,
p o d e m t e r e fe ito s n e g a tiv o s p a ra o m e rc a d o q u e n o c o m p e n s a m p a rc i
a lm e n te a s v a n ta g e n s d o a u m e n to n a a r r e c a d a o . A lu d e -s e c o m isso a
to d o s os im p ostos q u e o b s ta c u liz a m o m e rc a d o d e c a p ita is , a fo rm a o

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

d e n o v a s e m p r e s a s ou a fu s o d a s j e x is te n te s , a tra n s fe r n c ia d e
b e n s etc . E s s a s e s tru tu ra s d e te rm in a m a e x ig n c ia d e c ria r incen tivo s
fiscais q u e re s u lta m m uito m a is o n e ro s o s p a ra o o r a m e n to pb lico q u e
a e lim in a o d e tais inconvenientes".

P recisa-se a v a n a r d a d e m o c ra c ia m e ra m e n te fo rm a l e re p re s e n ta tiv a p a r a a
d e m o c ra c ia e c o n m ic a c p a rtic ip a tiv a , p a r a q u e h aja m e lh o r d istrib u i o d e ri
qu e z a . O siste m a trib u t rio v ig e n te n o Brasil leva c o n c e n tra o d e riq u e z a , p o r
q u e , a p e sa r d a trib u ta o esco rch an te, as g ra n d e s e m p re s a s d is p e m d e re c u rso s
fin anceiros p a r a su p o rt -la e d e t m d o m n io d e m e rc a d o p o r a tu a r e m e m re g im e
d e o lig o p lio o u d e m o n o p lio , al m d e te re m m e lh o re s c o n d i e s p a r a fazer
m a q u in a e s c o n t b e is m ais m eticulosas... certo q u e as e m p r e s a s d e p e q u e n o
p o rte e as m ic ro e m p re s a s so fre m trib u ta o d ife re n c ia d a , o q u e co n stitu i u m b e
nefcio social. A s m d ia s em p re s a s , q u e p o d e r ia m te r m a io r e s ta b ilid a d e e s e g u
ran a q u a n to s u a situ a o financeira, so s u g a d a s p e la trib u ta o , o q u e as
im p e d e d e crescer.
C o m re la o s p e ss o a s fsicas, o siste m a tr ib u t r io v o r a z c o m a classe
m d ia . S e g u n d o re p o rta g e m d e P a u lo H e n riq u e d e S ouza, p u b lic a d a n o jornal
"F o lh a d e S. Paulo"'^^, u m e s tu d o d a e m p re s a E rn est & Y o u n g " d e m o n s tr o u q u e
o c o n trib u in te p a g o u tr s v e z e s m ais im p o sto d o q u e d e v e ria n o s ltim o s q u a
tro a n o s e q u e o tr a b a lh a d o r b ra sile iro q u e receb e salrio m e n sa l d e R$ 2.000,00
d e s d e 1996 p a g o u 51% a m ais d e im p o s to d e r e n d a , e a q u e le q u e g a n h o u R$
3.000,00 p a g o u 33% a m ais. S e g u n d o esse e stu d o , a 'm o r d i d a d o leo ' m a io r
n a faixa sa la ria l d a q u e le s q u e g a n h a m at R$ 1.500,00, os q u a is e sta ria m isentos
d e IR se a tab ela d o im p o s to tivesse sid o co rrig id a".

Del punto de vista ms concreto, el instrumento fiscal no debe obstaculizar el desarollo por razones de
tcnica fiscal irracional, El deseo de aumentar Ia recaudacin de los tributos sin considerar los efecfos
de los mismos, Ias configuraciones tcnicas complejas y costosas de estos, puedem tener efectos
negativos sobre el mercado que no compensa si parcialmente Ias ventajas dei aumento en Ia
recaudacin. Se alude com esto a todos los impuestos que obstaculizam el mercado de capitales, Ia
tormacin de nuevas empresas o Ia fusion de Ias ya existentes, Ia transferencia de bienes, etc. Estas
estructuras determinan ia exigencia de crear incentivos fiscales que resultam mucho ms onerosos
para el presupuesto pblico que Ia eliminacin de tales inconvenientes" (MAZZ, Addy, Sistema tribu
trio. In Revista de Direito Tributrio. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1985. v. 31, p. 66).
SOUZA, Paulo Henrique. Congelamento da tabela de IR castiga quem ganha menos. In Folha de S.
Paulo, 16 de abril de 2001, p. B-10.

O m C E U G A L D IN O C A R D IN

S e g u n d o d a d o s fornecidos pelo U n a fisco (Sindicato d o s A u d ito re s Fiscais d a


Receita), "e n tre 1996 e 2000 a reteno d o IR d os assa la ria d o s cresceu 68%, o u
seja, q u a se o d o b ro d a inflao d o p erodo. Sem a correo d a tabela d e reteno,
cerca d e 6 m ilhes d e b rasileiros q u e n o p a g a v a m im p o sto p a s sa ra m a co ntri
b u ir"
A n to n io O liv eira S an tos inform a:

A c a rg a tributria, q u e e ra d e 1 3 ,8 % do P IB , e m 1 9 4 7 , v a rio u e n tre 2 0 % e


2 5 % , no longo p e ro d o d e 1 9 7 0 a 1 9 8 9 . Su biu a 2 9 , 5 % e m 1 9 9 0 , c o m o
P la n o Collor, caind o, nos trs a n o s segu intes, p a ra 2 4 , 7 % e m 1 9 9 3 , s e
gun do d a d o s do M inistrio d a F a z e n d a . E m 1 9 9 4 , no incio d o P la n o R eal,
a c a rg a subiu p a ra 2 6 ,9 7 % . S e g u n d o o IB G E , continuou c re s c e n d o : e m
1 9 9 5 , p a ra 2 8 ,4 4 % ; e m 1 9 9 6 , p a ra 2 8 ,6 3 % ; e m 1 9 9 7 , p a ra 2 8 ,5 8 % ; e m
1 9 9 8 , p a ra 2 9 ,3 3 % ; e, e m 1 9 9 9 , p a ra 3 1 ,6 7 % . N o incio d e s te a n o , j e ra
d e 3 2 ,3 % , s e g u n d o c lcu lo d o B N D E S , e, e m julho, 3 3 ,1 8 % , s e g u n d o a
R e c e ita F e d e ra l. Ag ora, n a s e q n c ia d e s s a e s c a la d a , e s tim a -s e e m c e r
c a d e 3 4 % . U m e s tu do do IP E A , re a liza d o no a n o p a s s a d o , d e m o n s tra
q u e e s s a c a rg a tributria atin ge, fo rte m e n te , a c a m a d a m a is p o b re d a
p o p u la o , c o m re n d a a t dois salrios m n im o s, n a tu ra lm e n te , p o r e fe i
to d a la rg a Inc id n c ia indireta d e nosso u ltrap a s sa d o s is te m a tributrio
(IP I, I C M S , C P M F , C O F IN S etc.)".G"

N s e s ta m o s a in d a n a q u e la fase p rim ria d e d e m o c ra c ia , e m q u e os p o b re s


p a g a m p e lo s ricos, ta n to a ssim q u e o re c e n te re c e n se a m e n to d o IBGE "re v e lo u
q u e as p e ss o a s q u e g a n h a m at R$ 2.000,00 re p re s e n ta m 77,5% d o u n iv e rs o total
d e contribuintes".'^^
Esse d a d o estatstico j h a v ia s id o o b s e rv a d o p e lo h is to r ia d o r n o r te -a m e ri
c a n o T h o m a s S kidm ore:

CEZARI, Marcos. L e o a fia a s g arra s, e b rasile iro p a g a m a is 126% d e trib u to e m s e is ano s. In Folha
de S. Paulo", 25 de maro de 2001, p. B-4.
^ SANTOS, Antonio Oliveira. Terrorismo tributrio, In C ou ro b u sin e ss n 19, ano IV, nov./dez. 2001. Dis
ponvel em: <http://www.courobusiness.com.br/pvistadez 2001 .htm> Acesso em 21 de junho de 2002.
Conforme divulgado pela agncia "0 Globo", em 27 de outubro de 2000, Disponvel em <http://
www,sintese,com/newsletter/titml061 ,htm> Acesso em 22 jun. 2002.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

A elite a c h a q u e e s s es pobres esto s e m p re a o lado d e la e que a pob reza


u m a fatalidad e. N o vislum bra u m a d e m o c ra c ia e c o n m ic a n e m sonha
e m criar u m a e c o n o m ia prspera, e m q u e todo m u n d o te n h a um e m p re g o
bom . N e s s e ponto, o Brasil b e m d iferente dos Estados Unidos e d a A le
m a n h a . N o existe um ideai d e ig u aldad e no Brasil. O s p ob res ta m b m
n o a c re d ita m q u e te n h a m o direito d e ficar m e lh or n a vida. E n c a ra m o
destino c o m u m a certa fatalidade, o s e nh or q u e s a b e , a s e n h o ra que
m a n d a , s e D e u s q u is e r. E s s e um trao muito im portante do s istem a
social brasileiro. (...) A elite a m e ric a n a te m m ais s e ntim e n to d e culpa. um
trao d o protestantism o. O rico brasileiro n o te m s e n tim en to d e culpa. O
a m e ric a n o fica en v e rg o n h a d o por te r muito dinheiro.

P io r q u e o rico n o te r s e n tim e n to d e c u lp a a c u ltu ra d a m isria, p ela q u a l


h in c e n tiv o p a r a q u e os p o b re s p e rsis ta m n a p o b re z a . D e fo rm a d ife re n te ag e a
P a sto ra l d a C ria n a , q u e p ro c u ra re s g a ta r a d ig n id a d e d o se r h u m a n o , s e g u in
d o o le m a d o e v a n g e lista Joo (Jo: 10-10): " P a ra q u e to d o s te n h a m v id a , e a
te n h a m e m a b u n d n c ia " .
A ssim , ta m b m p a r a a p e ss o a fsica in ju sto o siste m a trib u t rio . Pela legis
lao d o im p o s to d e re n d a , a d o ta -se o c ritrio d a p ro g re s s iv id a d e : m e d id a
q u e a u m e n ta a re n d a , a u m e n ta a trib u tao . O c ritrio e m si justo. T o d a v ia , a
n sia a rre c a d a t ria ta m a n h a , que, c o n tra ria n d o a h ip te s e d e in c id n c ia d e tal
im p o s to , q u e o acrscim o patrim onial^^, q u a se to d o r e n d im e n to trib u ta d o ,
a l m d e s e re m im p o s ta s a lq u o ta s e le v a d a s , q u e in d u z e m o c id a d o a o p ta r
p e la son egao .
Q u a n to s d e s p e s a s , c o m e te m -se v e r d a d e ir a s a g re s s e s a o c o n trib u in te : n o
se p o d e d e d u z i r os a lu g u is p a g o s, n e m to d o s o s v a lo re s d e s p e n d id o s com a
e d u c a o , co m o, p o r e x e m p lo , m a te ria l escolar, tr a n s p o r te esc o la r e un ifo rm e;
s se c o n s id e ra d e s p e s a c o m in s tru o o p a g a m e n to d e m e n s a lid a d e escolar, e o
lim ite p a r a a d e d u o , q u e a n te rio rm e n te era d e R$ 1.700,00 (m il e setecentos

^ SKIDMORE, Thomas. C h e g a d e receitas. Revista Veja, 19 de abril de 2000, p. 14.


Cdigo Tributrio Nacional: "Art. 4 3 . 0 imposto, de competncia da Unio, sobre a renda e proventos
de qualquer natureza, tem como fato gerador a aquisio da disponibilidade econmica ou jurdica: I
de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinao de ambos; II de
proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acrscimos patrimoniais no compreendidos
no inciso anterior .

118"

D IR C E U G A L O IN O C A R D IN

reais), a tu a lm e n te d e R$ 1.998,00. O q u e ex c e d e r a esse m o n ta n te n o p o d e ser


c o m p e n sa d o com o u tr o d e p e n d e n te q u e te n h a gasto v alo r in fe rio r a R$ 1.998,00^.
A ssim , o p a i q u e p r o p ic ia r aos filhos e d u c a o d e b o m n v el, e m escola p a r tic u
lar, n o p o d e a b a te r in te g ra lm e n te os v a lo re s p a g o s , n e m c o m p e n s -lo s e n tre os
d e p e n d e n te s , n e m e n tre si e os d e p e n d e n te s .
O u tr a situ a o a n m a la : se a lg u m d o a d ire ito s a u to ra is a u m a in stitu io
d e c a rid a d e , sofre trib u ta o so b re o v alo r d esses d ire ito s, p o r q u e e sse v alo r
ser c o n s id e ra d o re n d im e n to , u m a v ez q u e in te g ro u se u p a trim n io . A ssim , em
v e z d e h a v e r m e c a n is m o d e incentivo fiscal p a r a tais d oa e s, d e se stim u la -s e o
d o a d o r, p r e ju d ic a n d o -s e in stitu i es d e re le v a n te v a lo r social.
S ach a C a lm o n N a v a r r o C o lh o , a n a lis a n d o a r e f o r m a tr ib u t r ia d e 1964
(E m e n d a n"" 18 d a C F / 67), critica d iv e rso s a sp e c to s q u e , c o m p e q u e n a s m o d ifi
caes, se m a n t m n a C o n stitu i o atu a l, a tal p o n to q u e p a re c e e s ta r fa la n d o
d esta:

"a) trib utao indireta regre s s iv a m a io r q u e a trib u ta o d ire ta p ro g res s i


v a . E m c o n s e q n c ia lib era-se o capital (de p oucos) p ara investim entos
in c en tivado s e p e n a liz a -s e o tra ba lh o (d a m aio ria) p a ra s u s te n ta r os g a s
tos do Estado:
b) p re fe r n c ia p e la tc n ic a d a rep e rc u ss o . C o m isto s o g ra v a d a s as
e m p re s a s , p e rm itin d o -s e a tra n s fe r n c ia do nus a o s c o n s u m id o re s e
usu rio s finais, q u e dificilm ente p e rc e b e m s e re m o s contribuintes d e fato
d a m a io ria dos tributos;
c) c e n tra liza o tributria na p e s s o a d a U n io F e d e ra l, perm itind o a q u e
b ra do esprito fed e ra lis ta e a s u b m is s o poltica e fin a n c e ira d e E s ta do s
e M un icp ios...;
d) h ip ertro fia d o E x ecutivo F e d e ra l, e m d e trim e n to do L eg islativo e do
Judicirio; ta n ta s e t o g ra n d e s fo ra m a s lic e n a s c o n c e d id a s a o E x e
cutivo, q u e e s te re assum iu as fu n e s outrora tpicas d o m o n a rc a a b s o
luto, s o i d is a n t e s c la re cid o , c o m o hoje ocorre c o m a s e x a g e r a d a s M e d i
d a s Provisrias;
e ) u tiliza o d e p a la v ra s o ca s , a m b g u a s , p o lis s m ic a s, n a s Leis e na
C o nstitu io , tais c o m o inte rv e n o no d o m n io e c o n m ic o , contribui^ Conforme Lei n= 9.250/95, arl. 8S II, b". Lei n= 10.451/2002, art. 2, RIR/1999, art. 81. In SRF 15/
2001, arl, 39 - Instruo Normativa da Secretaria da Receita Federal n^ 15 de 2001, art. 39.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA # 1 1 9

e s soc ia is ', in te re s s e pblico r e le v a n te , s e g u r a n a , p o s s ibilitan d o


e s tip u la e s judiciais do significado d e s s a s n o m in a s , in te ira m e n te fa v o
rveis a o s d e s g n io s do P o d e r Central;
f) substituio dos v a lo res d e s e g u ra n a e resp eito a o contribuinte, por
outros b a s e a d o s n a p re te n s a e ficin cia e n e c e s s id a d e s d e c a ix a do P o
d e r C entral:
g) perverso com pleta dos conceitos previstos no Cdigo Tributrio Nacional;
h) c ria o , a p e s a r d e tudo, d e tributos inconstitucionais, c o m im possibili
d a d e d e restituio dos m e s m o s , p e la a le g a o d a re p e rc u s s o do nus
tributrio;
i) p ro life ra o d e contribuies, m a rg e m do o r a m e n to e do controle
c o n g re s su a l;
j) a u m e n to insuportvel d a c a rg a tributria s o b re a s fa m lia s e indivduos
d a c la s s e m d ia p a ra baixo, pouco v a le n d o e s ta r o o p e ra ria d o livre, pelo
limite m n im o , do im posto direto sobre a re n d a g a n h a (sa l rio s ), eis q u e
trib utado pelo c o n s u m o d e b en s e servios (co m id a , re m d io , luz, gu a ,
tra n s p o rte , te le fo n e e hab itao );
I) m a l v e r s a o d o s fu n d o s p a r a f i s c a i s c o m p u l s r i o s ( F G T S , P IS ,
F IN S O C IA L , S a l rio -E d u c a o , C o ntrib ui es P re v id e n c i ria s ).

2.7.7 Sistema tributrio: anlise poltica, jurdica e econmica


A lv a r e z V ita , r e n o m a d o i n te r n a c io n a l is ta p e r u a n o , n a o b r a D erecho ai
Desarrollo, a n a lisa a e v o lu o d o s dire ito s h u m a n o s : a p rim e ira fase co n siste nos

"d ire ito s e lib e rd a d e s fu n d a m e n ta is " , a s e g u n d a , n o s " d ire ito s eco nm icos, so
ciais e c u ltu ra is" , e a terceira, no s "d ire ito s d e s o lid a rie d a d e " , d e n tr o d o s q u ais
se e n c o n tra o " d ire ito d o desenvolvim ento".'*^
O siste m a trib u t rio v ig e n te no Brasil, d iv e rs a m e n te d o e s p e ra d o , n o p e r
m ite d e se n v o lv im e n to satisfat rio , seja p ela so b re c a rg a trib u t ria , seja p ela im
p o si o d e u m a rg id a e s tr u tu r a b u ro c r tic a p a r a o rg o a r r e c a d a d o r e p a r a o
c o n trib u in te , seja a in d a p e lo e stm u lo so neg ao , a l m d e n o a te n d e r p le n a
m e n te aos id e a is d o b e m c om u m :
^ COELHO, Sacha Calmon Navarro. 0 novo sistema tributrio, /n Revista de Direito Tributrio, n- 36.
So Paulo: Revista dos Tribunais, 1986, p. 113,
Apud HENDERSON, Enrique Vidal. Poder tributrio y derechos humanos. In Revista de Direito Tribu
trio. n 53. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, p. 61.

120

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

O M xico te m u m PIB se m e lh a n te ao d o Brasil, m a s u m a c a rg a trib u t ria de


16,8%, o u seja, m e ta d e d a nacional. E ele e x p o rta US$ 160 b ilh e s, c o n tra os
m e d o c re s US$ 55 b ilh e s brasileiro s. n e c e ss rio q u e o p o v o s a ib a q u e a p o l
tica trib u t ria n o Brasil im p e d e q u e as e m p re s a s a q u i in s ta la d a s se m o s tre m
c o m p e titiv a s n o e x te rio r - o Brasil e x p o rta tr ib u to s

a ss im c o m o e lim in a a

c o n corrn cia d a s e m p r e s a s b ra sile ira s d e n tr o d o p a s, p o is o p r o d u to e s tra n g e i


ro m e n o s tr ib u ta d o d o q u e o brasileiro.^'
O n o s s o siste m a trib u t rio e s tim u la a im p o rta o .
A ilo g ic id a d e d a e sc o rc h a n te c arg a trib u t ria te rm in a p o r criar, n o p a s, u m
''p ro te c io n is m o s a v e ssa s". S e n d o o p r o d u t o b ra sile iro fa n ta s tic a m e n te m ais
ta x a d o q u e o e stra n g e iro , m u ita s e m p re s a s p r e f e r e m im p o r ta r q u e p r o d u z ir .
S e n d o o p r o d u t o e stra n g e iro m e n o s tr ib u ta d o n a o rig e m , e v id n c ia , te m m a i
o r c o m p e titiv id a d e q u e o brasileiro, m ais caro p o r fora d a e n e r g m e n a carga
fiscal. D esta fo rm a , o g o v e rn o b ra sile iro p r o te g e o p r o d u t o e stra n g e iro e p re ju
dica o n a c io n a l, g e ra e m p re g o s fora e g e ra d e s e m p r e g o n o Brasil. S u g e re q u e os
ricos p a r t a m p a r a o u tro s p a se s, o n d e so b e m re c e b id o s, d e s a c o n s e lh a n d o a
ficar n o p a s, o n d e so m al vistos.
A p e s a r d a e le v a d a c a rg a trib u t ria , o tr a b a lh a d o r b r a s ile iro p r a tic a m e n te
n o recebe c o n tra p re s ta o p o r aq u ilo q u e reco lh e a o s cofres p b lic o s, o u q u e
g raas a ele re co lhid o. Ele at m e s m o " p ro ib id o " d e ficar d o e n te . Se adoece,
te m q u e e n f r e n ta r u m v e r d a d e ir o calv rio , c o rre n d o d e h o s p ita l p a r a h o sp ita l,
e n fr e n ta n d o filas d e m a d r u g a d a , d e ita n d o -s e n o ch o o u e m b a n c o d e co rre d o r,
e s p e r a d e a te n d im e n to , q u a n d o lhe a c e n a m com essa p o ssib ilid a d e ...
O p rin c p io d a u n iv e r s a lid a d e d a s e g u rid a d e social t o falacioso, q u e q u e m
deseja u m a ra z o v e l assistn cia m d ic o -h o s p ita la r te m q u e c o n tra ta r u m p la n o
d e s a d e . A lis, m u ita s e m p re sa s , p a ra d a r m e lh o r a te n d im e n to a o s s e u s e m
p re g a d o s , c o n tr a ta m p a r a eles tal p la n o , m a s n o s o d is p e n s a d a s d e c o n tin u a r
c o n trib u in d o n o r m a lm e n te p a ra a P re v id n c ia Social. Fato s e m e lh a n te ocorre
c o m p ro fissio n a is liberais o u c o m executivos: a c a b a m ta m b m v in c u la n d o -s e a
u m p la n o d e sa d e , p a r a n o se s u b m e te r a o a te n d im e n to p e lo SUS...

MARTINS, Ives Gandra da Silva. n e ce ss rio q ue o p o v o saiba. In Opinio", 04 de novembro de


2001, p. A-3.

Idem . Carga confiscatria, In J o rn a l d a S E S C A P /P R , maro de 2000, p. 5.

D E S A F IO S OA C ID A D A N IA

#121

T a m b m a e d u c a o est a b a n d o n a d a . E cia d e v e ria se r a s s u n to p rim o rd ia l,


p o is r e e r g u e u o Ja p o e d iv e rs o s o u tro s pases.
D iz Jo elm ir Betting:

"nica c e r t e z a : o s is te m a tributrio b rasileiro e c o n o m ic a m e n te suicida,


ju rid ic a m e n te catico, s o c ia lm e n te p erv e rs o e p o litic a m en te ladino. S u i
cid a , p o rq u e d e s e n c o ra ja o investim ento e p atro c in a a info rm alid a d e . C a
tico, p o rq u e te c n ic a m e n te c o m p le x o e le g a lm e n te p erm is s iv o . P e rv ers o ,
p o rq u e c o n c e n tra a c a rg a , facilita a e v a s o , s u b v e rte a c o n c o rr n c ia , c a s
tiga a p ro d u o , destr e m p re g o s e a u m e n ta a a fli o d o s aflitos. Ladino,
p o rq u e n o d e s p e rta o contribuinte e m b u tid o no c on s um ido r. O c ontribu
inte, sim , o m a is s e v e ro dos d em o c ra ta s e o m a is vigila n te dos c id a
d o s .

A tu a lm e n te , a m a io r p a r te d a s e m p re s a s n a c io n a is s o m e n te te m "carcaa",
p o r q u e se u s b e n s - e s v e z e s at m e sm o os d o s scios - e s t o re g is tra d o s em
n o m e d e "te s ta s d e ferro".
De fato, o siste m a trib u t rio b rasileiro p ro v o c a a p r o f u s o d e "laranjas"^"' :
p a r a a b e r tu r a d e e m p re s a , p a r a gerenci-la, p a r a o e n c e r r a m e n to dela. A ssim ,
h u m a re la o ju rd ic o -trib u t rio q u e d e sc a m b a p a r a o d e lito o u p a r a a in fo r
m a lid a d e .
Sob o a sp e c to eco n m ic o , o sistem a trib u t rio b ra sile iro u m a a v e s tr u z q u e
enfia a cabea n a te rra p a r a n o v e r ao d e rre d o r; ta n to a ssim q u e , n o s ltim o s 10
a n o s, 26 d a s m a io re s e m p r e s a s b ra s ile ira s fo ra m in c o r p o r a d a s p o r e m p re sa s
e s tra n g e ira s , d e v id o a reflexos d a excessiva c arg a trib u t ria . O E sta d o , p a r a as
e m p re s a s , v e r d a d e ir o scio m a jo rit rio oculto. A q u ilo q u e o s scios, g raas a
e x a u s tiv o lab o r, re c e b e m d u r a n te o d ia , o E s ta d o re tira d u r a n t e a noite. Ele q u e r
receb er a im p o rt n c ia lq u id a se m n e n h u m risco, n e n h u m a p re o c u p a o , e no
d ia a p r a z a d o . E o p io r: v a lo re s q u e ele e stip u la se m s a b e r d a s reais condies
e m p re sa ria is. A v o r a c id a d e a rre c a d a t ria insacivel.
BETTING, Joelmir, R e fo rm a e m p e rra d a . Disponvel em; <http://www2.uol.com.br/JC/_l999/ 2403/
job2403.htm> Acesso em; 27 mar. 2003.
Laranja: indivduo, nem sempre ingnuo, cujo nome utilizado por outro na prtica de diversas
formas de fraudes financeiras e comerciais, com a finalidade de escapar do fisco ou aplicar dinheiro
de origem ilcita; testa-de-ferro (Dicionrio eletrnico Houaiss da lngua portuguesa).

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

A cincia eco n m ica inflexvel; p a r a h a v e r lu c ro n e c e ss rio r e d u z ir custo


do

q u e , n a e x p re ss o d o s g erm n ico s, e q iv a le a u n h a : s e m p r e p re c isa se r c o rta


- o u e le v a r a receita. N o Brasil, c o m o o E sta d o n o r e d u z se u s e le v a d o s

c u sto s a d m in is tra tiv o s , e f r e q e n te m e n te os a u m e n ta , im p o ssv e l a re d u o


d o s trib u to s. D iz Iv es G a n d r a d a Silva M artins:

2 ,5 m ilh e s d e burocratas e polticos a p o s e n ta d o s g e r a m um dficit


d e R $ 4 5 b ilh es p a ra a P re v id n c ia , por re c e b e re m , e m vida, d e z v e z e s
m a is d o q u e re c e b e m o s inativos d o seto r privado. n e c e s s rio q u e o
povo s a ib a q u e g ra n d e p a rte d a s fu n e s q u e o E s ta d o e x e rc e d is p e n
s vel, n o s e justificando a m ultiplicidade d e e x ig n c ia s im p o s ta s a o ci
d a d o , o q u e s s e rv e p a ra g arantir a m a n u te n o d e e q u ip e s d e se rv id o
res, e m u m a a d m in is tra o e s c le ro s a d a .

M also n d a N b re g a , e x -m in istro d a F a z e n d a , a nalisa crite rio sa m e n te :

In fe liz m e n te , e n q u a n to m uitos p a s e s a v a n a v a m nos p rincpios d e tri


b u ta o , 0 S T N (S is te m a Tributrio N a c io n a l) iniciava u m a lon g a tra je t
ria d e d e te rio ra o d e sua q u a lid a d e e d e s e u g rau d e e q id a d e . E m
parte , isso e x p lic a a p e rd a d e d in a m is m o d a e c o n o m ia a partir dos ano s
8 0 . N o s a n o s 7 0 a p a r e c e u o P IS , e nos a n o s 8 0 o F in social, q u e p as s o u
a s e c h a m a r C o fin s nos a n o s 9 0 . O s dois re p re s e n ta ra m um trgico retor
no trib u ta o e m c a s c a ta sob a justificativa d e fin a n c ia r polticas soc i
ais (m u itas v e z e s a c a rre ta ra m o contrrio). A C o ns titu i o d e 1 9 8 8 pio
rou 0 i C M S e a u m e n to u d e tal m a n e ira a s d e s p e s a s q u e s e f e z n e c e s s rio
criar u m novo tributo, a C o ntrib uio Social s o b re o Lucro Lquido. Nos
a n o s 9 0 , v eio a g ra n d e d es g ra a : a C P M F , N o a tu al g ov e rn o , g ra a s
e s ta b ilid a d e , m e lh orou muito a estrutura d o Im posto d e R e n d a . A p e s a r
disso, a d ete rio ra o d o S T N s e a c e le ro u . A s con trib u i e s e m c a s c a ta
a u m e n ta ra m m a is d e 5 0 % . D e z e ro e m 1 9 7 2 , s u a a r r e c a d a o c h e g a
h oje a 4 0 % d a receita adm inis tra d a p e la R e c e ita F e d e ra l, a u m e n ta n d o a
re g re s s iv id a d e d o s is te m a . M a is re c e n te m e n te , o a rs e n a l d e id ia s d a

MARTINS, Ives Gandra da Silva. necessrio que o povo saiba.


2001, p. A-3.

In Opinio, 04 de novembro de

D E S A F IO S D A C ID A 0 A N 1 A B

R e c e ita e u m a v o ra c id a d e fiscal s e m p re c e d e n te s t m g e r a d o propostas


q u e p o d e m te r n e fa s ta s c o n s e q n c ia s e c o n m ic a s e sociais".

A u m e n to d e trib u to n o significa n e c e s sa ria m e n te a u m e n to d e arrecad ao .


A C PM F re tra ta a v o ra c id a d e arre c a d at ria; a id ia inicial era u m trib u to que
c o n stitu sse im p o s to n ic o , p o r m ela foi im p le m e n ta d a c o m o m a is u m a c o n tri
bu io , d ita " p ro v is ria " , e receia-se q u e esta a cab e se tr a n s f o r m a n d o e m p e r
m a n e n te . D iz G ilb e rto D u p as:

E m re la o com pe titiv id ad e , b as ta le m b ra r a C P M F , im p os to a b s o lu ta
m e n te inc o m p a tv e l c o m a lgica d a fra g m e n ta o d a p ro d u o - quanto
m a is e ta p a s , m a is im posto - e do qual o g o v e rn o n o s e c o n s e g u e livrar,
porqu e p re c isa a rr e c a d a r p a ra m a n te r s e u equilbrio fiscal",

C o m o a C P M F n o d ife re h ip te s e s d e in c id n c ia , fe re a c a p a c id a d e
c o n trib u tiv a :

"A C P M F tributa o dinheiro s a c a d o d a s instituies fin a n c e ira s . A a p lic a


o d e s s e d inheiro q u e d e v e s e r trib utada, c a s o s e ja e x p licitao de
c a p a c id a d e contributiva. N o atu a l d e s e n v o lv im e n to d a teo ria d a trib uta
o , e s s a c o n trib u i o u m a e x c re s c n c ia , m a n tid a p o r o p o rtu n is m o
a rr e c a d a t rio .'

P o r o u t r o la d o , c o m o d e m o n s tr a a c u r v a d e L a f e r "^, c o m o a u m e n to d e
a lq u o ta , a p a r tir d e c crto n v el a a rre c a d a o cai, p o r d o is m o tiv o s p rincipais:
a) a u m e n to d o s p re o s e c o n se q e n te q u e d a d o c o n s u m o ; b) a u m e n to d a s o n e
ga o , p o is o im p o s to e le v a d o p a s s a a c o m p e n s a r os risco s d e la d eco rren tes.

NBREGA, Mailson da, Involuo tributria. In "0 Estado de S, Paulo, 10 de dezembro de 2000, p,

e-16.
DUPAS, Gilberto. A rm a d ilh a s d a inse r o global. In 0 Estado de S. Paulo", 05 maio 2001, p, A-2,
LOPES FILHO, Osiris, S iste m a trib utrio brasileiro. In Revista Juridica Consulex, ano V, n 117. Bra
silia; Consulex, 2001, p. 8,
Teoria do economista americano Arthur Lafer que analisa a relao entre nivel de tributao e arreca
dao. Ela diz claramente que, acima de determinado ponto, cada percentual a mais de impostos
representam dois a menos de arrecadao.

123

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

A lis, A r th u r L afer e la b o ro u o se g u in te axiom a: e m c erto s p r o d u to s , so b certas


con d i e s d e m e rc a d o , m a is v ale trib u ta r m e n o s so b re c a d a v e z m a is d o q u e
m a is s o b re c a d a v e z m e n o s , o q u e significa d izer; u m a u n i d a d e a m e n o s d e
trib u to p o d e significar u m a u n id a d e a m a is d e receita, o u contrario sensii, u m a
u n id a d e a m a is d e im p o s to p o d e significar d u a s u n id a d e s a m e n o s d e receita.

Estudos elaborados por Arthur D . L afer (C urva de Lafer) concluram que o


a um e nto e a q ue da d a arre ca d a o esto ligados, respectivam ente, redu
o ou a um e nto de alquotas; a o se re m reduzidas as alquotas d e Impostos,
a a rre ca d a o a m e rica n a cresceu, consideravelm ente, no G overno R e a ga n .
N o Brasil, j p a s s a m o s p o r e s s a e x p e ri n c ia. E m 1 9 8 8 , h o u v e a re d u o
d e 9 p a r a 2 fa ix a s d e p ro g res s iv id a d e d a t a b e la d o Im p o s to d e R e n d a na
F o n te, p a s s a n d o a m a io r alq u o ta a s e r a d e 2 5 % . c on tra a d e 4 5 % , e n t o
v igen te: a g u a rd a v a -s e um d e c r s c im o d e 2 0 % n a a r r e c a d a o fed eral;
no enta n to , d e u -s e o contrrio: a a rr e c a d a o subiu 1 5 % .
Q u a n d o a Lei 8 . 8 4 8 / 9 4 criou, p a ra a s p e s s o a s fsicas, m a is u m a a lqu ota,
a d e 3 5 % , e a u m e n to u a d e 2 5 % p a ra 2 6 ,6 % , a o in v s d e a u m e n to , h o u
v e q u e d a d e a rr e c a d a o e m re la o anterior.
O s p ro b le m a s tributrios, pois, re s u lta m d e u m a e s tru tu ra d is torcida e
in q u a d e im postos, ta x a s e contribuies, e m q u e p re d o m in a m os tribu
tos cum u la tiv o s , c on tribu ies proibitivas s o b re a fo lh a d e salrios , com
m ltiplas in c id ncias s ob re a m e s m a b a s e e a lq u o ta s e le v a d a s .

N e s sa lin h a , re a firm a Jo e lm ir Betting: "E m c erto s m e rc a d o s , sob ce rta s c o n


d ies, u m a u n i d a d e a m e n o s d e trib u to p o d e sign ificar u m a u n i d a d e a m a is d e
receita. O tal n e g c io d e trib u ta r m e n o s so b re m a is e n o m a is s o b re m e n o s " .'
E h trib u to s q u e in c id e m e m cascata, os q u a is p ro v o c a m tr s a cinco u n i d a
d e s a m e n o s d e receita...
O s p r e s id e n te s d a R e p blica s e m p r e re c o n h e c e m q u e a trib u ta o ex a g e ra
d a . C o n tu d o , p a u la tin a m e n te ela a u m e n ta d a ...
E m p re sa s q u e b r a m , o d e s e m p re g o se av o lu m a...
MACHADO, Srgio Approbato. B e io rm a Tributria. Disponvel no site: httD://www.c:ontabil.cQm.br/
apf reformalribtaria.htm. Acesso em 03/09/2003.
BETTING, Joelmir, R e fo rm a e m p e rra d a . Disponvel em: <http://www2.uol.com.br/JC/_1999/ 2403/
ob2403,htm> Acesso em 27 de maro de 2003.

D E S A F IO S D A C I D A D A N I A 1 2 5

2.7.8 Reforma tributria


A " R e fo rm a " T r ib u t r ia d o g o v e rn o L ula n o p o d e s e r c o n s id e r a d a u m a
re fo rm a c o n s o a n te a n e c e s s id a d e poltico-social e ju rd ic a , n e m te c n ic a m e n te
q u a n to s u a e s tru tu ra o , n e m c o m o m o d ific a o d o siste m a trib u trio .
Ela n o a te n d e a o s p rin c p io s d o siste m a trib u t rio , b a s e a d o s n a d o u tr in a
u n iv e rsa l, c o m o le m b ra M au rlio Schmitt:

E fic i n c ia : o s is te m a n o d e v e interferir c o m a e fic ie n te a lo c a o d e re


cu rs o s .
S im p lic id a d e a d m in is tr a tiv a : a a d m in is tra o do s is te m a d e v e te r baixo
custo, s e ja p a ra o fisco, s e ja p a ra o contribuinte.
F le x ib ilid a d e : o s is te m a d e v e s e r c a p a z d e re s p o n d e r fa c ilm e n te (ou at
a u to m a tic a m e n te ) a m u d a n a s no a m b ie n te ec on m ic o.
R e s p o n s a b ilid a d e p o ltic a : o s is te m a d e v e s e r tra n s p a re n te , os c ontribu
intes d e v e m s e r c a p a z e s d e d iz e r q u a n to p a g a m e p orqu e, a o m e s m o
t e m p o e m q u e a v a lia m o q ua nto o s is te m a reflete s u a s p re fe r n c ia s .
J u s ti a : o s is te m a d e v e s e r e p a re c e r justo, tra tan d o a q u e le s e m circu ns
t n c ia s s im ila re s c o m is o n o m ia e im p o n d o tributos m a is a lto s q u e le s
q u e p o d e m a rc a r c o m o p eso d a tributao.
N o preciso m uito esforo p ara inferir q u e , s e p ra tic s s e m o s um regi
m e d e tributos q u e p erfilh asse tais princpios, j nos te r a m o s g uin d a d o
a o e s ta d o d e s o c ie d a d e p r sp e ra e d e s e n vo lv id a .
A histria d a trib utao no Brasil, e n tretanto, p r dig a e m e x e m p lo s de
n e g a o d e s s e s v a lores.
q u e s e c u la rm e n te te m o s c o n c e b id o nosso s is te m a tributrio luz d a
r e c o m e n d a o d e J e a n -B a p tis te C o lbert, ministro d a s F in a n a s d e Lus
X IV : A a rte d a trib utao consiste e m d e p e n a r u m g a n s o d e tal m a n e ira
q u e se o b te n h a o m a io r n m ero d e p e n a s c o m o m e n o r n m e ro possvel
d e g ra s n id o s ."^

O s g ra s n id o s sociais fo ra m inten sos, c o m o j fo ra m e n fo c a d o s p e la im p r e n


sa, m a s a p e n a s q u e r e m o s p o n t u a r que: a) e le v o u a c a rg a trib u t ria , a u m e n ta n SCHMITT. Maurilio. Sistema tributrio, princpios e valores.O ICMS como efetivo instrumento de
poltica tributria e fiscal no Estado do Paran. In Anlise Conjuntural IPARDES, v, 25, n- 3*4.
maro/abril 2003, p. 3-8.

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

d o o C u s to Brasil; b) foi tr ib u ta d o servio, q u a n d o n o d e v e ria ; n o Brasil, a


a tiv id a d e e m q u e m a is p re v a le c e a a tu a o d a s classes m d ia e p o b r e a p r e s ta
o d e servios, p o r m o se to r m a is p e n a liz a d o n o m e rc a d o e m face d a c o n
c o rrn cia, te n d o s id o a g o ra e s m a g a d o trib u ta ria m e n te ; c) c o m a trib u ta o so
b re servios, o C u s to Brasil elev o u -se e a u m e n ta a e sp ira l in flacion ria, p o d e n
d o -se citar, p o r ex em plificao, os in s u m o s d a c o n stru o civil, acim a d e 27%,
q u a n d o o Brasil u m p a s q u e m ais p re c isa d e h ab itao , in c lu siv e n o m b ito
ru ra l, q u e tem sid o esq u e c id a ; a "G a z e ta M e rc a n til" d e 2 d e fev e re iro d e 2004
faz u m e s tu d o e m q u e d e m o n s tra re fe rid o a u m en to :

IMPACTO DA COFINS NA CONSTRUO CIVIL


Aumento da
tributao

Intensidade da
mo-de-obra

A lv e n a ria e reboco

8 4 ,4

4 2 ,2

S is te m a s d e v e n tila o e d e refrigerao

5 4 ,9

3 3 ,9

E ltricas

5 2 ,9

3 9 ,2

M o n ta g e m d e estruturas

4 9 ,5

4 2 ,3

A lu gu el d e e q u ip a m e n to s d e construo

4 7 ,2

2 7 ,2

Im p e rm e a b iliz a o e s e rvios d e pintura

4 4 ,4

4 6 ,3

H id r ulic a s , san it ria s , g s e incndio

3 9 ,8

3 9 ,2

E s ta e s e re d e s d e distribuio d e en e rg ia

38,1

4 1 ,4

Ed ific a e s

3 7 ,5

2 9 ,7

P e r fu ra e s e e x e c u o d e fu n daes

3 4 ,7

3 1 ,0

P r e v e n o e re c u p e ra o d o m eio a m b ie n te

2 8 ,7

3 4 ,9

E s ta e s e red es d e tele fo n ia e c o m u n ic a o

2 5 ,7

3 7 ,6

Mdia do setor

22,3

32,4

d)

a cresceu a c o m p le x id a d e d o s p ro c e d im e n to s trib u t rio s, in c lu siv e la n a

m e n to s trib u t rio s, e x ig in d o u m n m e r o e le v a d o d e fu n c io n rio s p a r a c u id a r


d a s o b rig a e s trib u t ria s e acessrias; e) a g ra v o u a b u ro c ra c ia , c o m o excesso
d e d o c u m e n to s a s e re m a p re s e n ta d o s ao fisco o u g u a r d a d o s n a e m p re sa , e com

D E S A F IO S DA C I D A D A N I A !

relao a estes a in d a a "G a z e ta M e rcan til" relata: "A b u ro c ra c ia d o g o v e rn o e m


relao s e m p re s a s b rasile ira s a u m e n ta a c a d a d ia. N o b a sta s se a q u a n tid a d e
d e d e c la ra e s e d e m o n s tra tiv o s q u e d e v e m se r e n tr e g u e s a o Fisco, u m a in s tr u
o n o r m a tiv a d a Receita F ederal d o incio d e sse a n o a u m e n to u a in d a m ais as
o b rig a e s d o c o n trib u in te . A in stru o p re v o a u m e n to d a re te n o d e trib u
tos e c o n trib u i e s no s p a g a m e n to s e fe tu a d o s p e la s p e s s o a s ju rd ic a s. O u seja,
vai ficar r e tid o m a is trib u to n a fonte p a g a d o ra . O r e s u lta d o d is so o a u m e n to
d a p r e o c u p a o e d o tra b a lh o d o s to m a d o r e s d e se rv i o s q u e a g o ra t m de
a p u r a r , re c o lh e r im p o s to s d o s se u s p r e s ta d o r e s d e serv io s e p r e s ta r co n tas d is
so p a r a o F isc o "^; f) e m m a t ria d e trib u tao , co n c e n tra -se a a rre c a d a o nas
co n trib u i es, e m benefcio d a U n i o , e x c lu in d o os e s ta d o s e m u n ic p io s. A ssim
cria-se u m re g im e fe d e ra tiv o p ira m id a l, fo rta le c e n d o c a d a v e z a U n io , e m d e
trim e n to d e e n te s fe d e ra tiv o s m e n o re s e d a b a se , o n d e r e s id e m o s c id a d o s,
fic a n d o esses e n te s m e n o re s se m as co n dies n e c e ss ria s p a r a a te n d e r s n e
c e ssid a d e s bsicas (ed u cao, s e g u ra n a p b lic a , s a d e , tr a n s p o r te etc.).
Basta cotejar a a lu d id a "R efo rm a " - d e p o is d e g a r a n tid o so c ie d a d e b ra si
leira e m in m e r a s e n tre v ista s, p e lo ld e r d o g o v e rn o , q u e n o h a v e ria a u m e n to
d e trib u to s - c o m o s p rin c p io s, acim a cita d o s, p a r a se c o n s ta ta r q u e se trata d e
u m a R e fo rm a caricata. M ais u m a vez, o g o v e rn o tra n sfe re so c ie d a d e o p a g a
m e n to d a s d v id a s e d o s en c a rg o s pblicos... A so c ie d a d e c o n tin u a n a UTI, com
m e ra v id a vegetativa!

2.7.9 Comentrios finais


M arco s O liv eira, v ic e -p re sid e n te d a A sso ciao Brasileira d a s I n d s tria s d e
Q u m ica Fina (A bifina), j a d m o estav a;
O s is te m a tributrio brasileiro, tal c o m o e s t m o n ta d o , e x tr e m a m e n te
p e n /e rs o , regressivo e injusto, p e n a liza n d o a p ro d u o e n o o con sum o,
0 sa lrio e n o a re n d a e a riq ueza. A e le v a d a c a rg a tributria incidente
s ob re a p ro d u o , m u ltas v e z e s e m c a s c a ta , sacrifica a e m p re s a n ac io
nal ro u b a n d o -lh e a com petitividade e m nvel intern acion al. O im posto sobre
a s re m e s s a s d e lucros d a s e m p re s a s e s tra n g e ira s foi re d u zid o e a s tari
fa s s o b re as im p o rta e s m in im iza d as , re d u zin d o a c o m p e titiv id a d e da
e m p r e s a brasileira e m seu prprio territrio.
/n Gazeta Mercantil, 23 a 25 de fevereiro de 2004, p. A-9,

127

128

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

O p e s o dos im postos sob re os a s s a la ria d o s re d u z s e u p o d e r d e c om pra ,


dim inui s u a q u a lid a d e d e vida e p rojeta n e g a tiv a m e n te s u a s p ossibilid a
d e s d e a s c e n s o social. N o se d ig a q u e a c a rg a tributria total, d e 3 0 %
do P IB , e x a g e ra d a . A m aio ria dos p a s e s d es e n v o lv id o s e s o c ia lm e n te
m a is justos s u p o rta c a rg a s tributrias a in d a m a io re s . O p ro b le m a reside
e m c o m o e s s a c arg a tributria es t distribuda, q u e m ab s o rv e o nu s m a i
or e q u e m d e la se beneficia. O sistem a produtivo o n e ra d o e m sua c o m p e
titividade, m a s dentro d e limites pod e re p a s sa r a c a rg a tributria aos p re
os; o assalariado, no entanto, este n o te m com o fugir ou repassar.
A q u e s t o d o s is te m a tributrio n acional n o p o d e ficar restrita a u m a
d is c u s s o tc n ic a e n tre m e m b ro s do govern o. preciso d is s e c a r o a s
sunto p a ra io d a a p o p u la o , m o strar q u e m re a lm e n te a rc a c o m o nu s
d e p a g a r os im postos e p a ra o n d e vai o d inheiro q u e o g o v e rn o a rre c a d a .
N a v e rd a d e , e m m a t ria d e s is te m a tributrio o Brasil n o p re c isa d e um a
re fo rm a - p re c isa d e u m a re v o lu o " /'"

A t hoje, to d a s as v e z e s q u e o g o v e rn o fa lo u e m re fo rm a trib u t ria foi p a ra


a u m e n ta r a a rre c a d a o , e n u n c a p a ra im p la n ta r u m siste m a r e s p a ld a d o nos
p rin c p io s d a suficincia, d a sim p lic id a d e , d a justia trib u t ria , d a flex ib ilid ad e
e d a re s p o n s a b ilid a d e poltica. A t se te m a im p re s s o d e q u e o E s ta d o e n te n d e
q u e fazer justia trib u t ria a u m e n ta r a a rre c a d a o , e fa z e r re fo rm a trib u t ria
e le v a r a lq u o ta e c o m p lic a r u m p o u c o m a is , tr a z e n d o m a is l o u c u r a s ao
n o s o c m io trib u t rio , c o m o d iria o s a u d o s o Becker...
I m p e n d e o b s e r v a r a in d a q u e o p o d e r ptiblico acaba fic a n d o c o m a m e n te
bito la d a : d p re fe r n c ia a rre c a d a o , in d e p e n d e n te m e n te d o s efeitos fin a n
ceiros, at asfixiar d e te r m in a d a rea p r o d u tiv a . Isso se m d iz e r d a e lim in a o d e
in c e n tiv o s fiscais p a r a d e te r m in a d a regio, o u e m casos d e s u b stitu i o trib u t
ria, e m q u e o p o d e r p b lic o n o a d o ta os p a r m e tr o s reais. A s u b stitu i o trib u
tria, q u e , m u ita s v e z e s, p o d e in te re s sa r ao c o n trib u in te e a o p o d e r p b lic o ,
acaba se tr a n s f o r m a n d o e m g u e rra silenciosa, d e v id o d e tu r p a o p o r este, e
p r o v o c a n d o a d e s o n e s tid a d e daquele...
E m face d o e n fo q u e financeiro, u m p e rfe ito siste m a trib u t rio d e v e n ecessa
r ia m e n te c a m in h a r p a r a tr s finalidad es: m a io r p r o d u o , m e lh o r d istrib u i o ,
OLIVEIRA, Marcos. P o ltica tributria q ue d istrib u i injustia. In Gazeta Mercantil", 08 de junho de
2000, p. A-2.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

m a io r c o n su m o . A p ra x is d e m o n s tra q u e n o Brasil fo ra m s e p u lta d a s essas trs


fin a lid a d e s, e q u e s im p le s m e n te fo ra m ig n o r a d a s p e r a n te o a tu a l sistem a, q u e
as d e to n a . E o p io r q u e o p o d e r estatal n o q u e r v e r essa g rita n te re a lid a d e ,
q u e d e se n c a d e ia p ro b le m a s d e to d a o r d e m so b re a s o c ie d a d e b rasileira. D esd e
o s a to s aticos d o E sta d o at a tra n sfo rm a o d e e m p re s rio s e m viles; d e s d e a
q u e b r a d e e m p r e s a s at a e lim in a o d o p o d e r d e c o n s u m o d o tra b a lh a d o r;
d e s d e a im p o s s ib ilid a d e d e in v e stim e n to tecnolgico d a s e m p re s a s b ra sile ira s
at o d o m n io c o m p le to d a s estran g eiras.
Se o siste m a trib u t rio n acio n al n o for u rg e n te m e n te m o d ific a d o , e s ta re
m o s e m lita n ia c o m o p o e ta Ezra P o u n d , q u e c o lo cou n a bo ca d e Sir M o n ta g u o
q u e se p o d e a firm a r se r a sin a d o p o v o brasileiro: "... c a d a c a m p o n s d e v e p a
g a r o d o b ro e m g r o p a r a c o b rir os ju ro s e os im p o s to s " . '^

2.8 CONSELHOS DE CONTRIBUINTES


O s C o n se lh o s d e C o n trib u in te s d e v e r ia m se r rg o s im p a rc ia is, e n o de
d efesa p re v a le n te d o s in te re sse s d o Fisco. A ssim , a t a s u a d e n o m in a o e n g a
n o sa , p o is eles q u a s e n u n c a aco lhem os a r g u m e n to s d o s c o n trib u in te s.
A s d e c is e s d e s se s C o n se lh o s q u a se s e m p r e s o pro fisco, p o r q u e , e m b o ra
haja p a r id a d e e n tr e os m e m b ro s q u e re p re s e n ta m o E s ta d o o u a U n i o e aq u eles
q u e r e p r e s e n ta m a so c ie d a d e , o v o to d e q u a lid a d e d o p r e s id e n te , o q u a l
in d ic a d o p e lo E xecutivo. A rigor, eles d e v ia m c h a m a r-s e C o n se lh o s d a s F azen
d a s P b licas, p a r a fa zerem ju s ao nom e...
A p ro p s ito , p u b lic a m o s, e m co -au to ria c o m o D r. H e r o n A rz u a , a rtig o em
q u e a firm a m o s:

J d o n g u lo m a terial, v erifica-se o contrrio; a p re v a l n c ia dos in te re s


s es do E s ta d o , a p re p o n d e r n c ia d e s e u p o d er d e im prio, a s u p re m a c ia
do auto ritarism o . R e le m b ra , inclu s iva m e n te , os fale c id o s re g im e s s o c ia
listas, q u e s e intitulavam R e p b lic a s P o p u la re s D e m o c r tic a s ', q uand o
e ra n o t r io o p re d o m n io d a v o n ta d e d a c la s s e p olfic o -a d m in is trativ a d i
rig ente.
C o m a g u d e z a d v e rte Cano tilh o q u e O princpio d a con s tituc io na lid ad e
m a is a m p lo q u e o princpio d a c on stitucio nalid ad e d a s leis. P o r u m lado,

"5 POUND, op. c it , p. 519.

130#

D IR C E U G A .D IN O C A R D IN

e le e x ig e c o n fo rm id a d e intrnseca e form al com a constituio d e todos


os atos dos p od ere s pblicos, e x p re ss o e s ta ac e ita no sentido m ais am p lo,
a a b r a n g e r o prprio Estado, os p od ere s a u t n o m o s , a s e n tid a d e s pbli
c a s e tc .. ^
O princpio d e m o c r tic o n o se a t m u n ic a m e n te fo rm a d e e le i o para
p re s id e n te d a R e p b lic a ou d ep u ta d o s , m a s s e a m p lia n a o nos p ris
m a s e c o n m ic o s , sociais e culturais. N u m a s n te s e feliz, C a n o tilh o se
e x p re ss a ; A d e m o c ra c ia , no sentido constitucional, d e m o c r a tiz a o da
d e m o c r a c ia . ^
M a is a d ia n te , a m p a ra d o e m Vilim ar, c o m p le m e n ta a idia: D e m o c ra tiz a r
a d e m o c ra c ia a tra v s d a p articip ao significativa, e m te rm o s g era is, in
ten s ific a r a o p tim iza o d a s participaes dos h o m e n s no p ro ce s s o de
d e c is o (p. 3 6 5 ).
P o d e -s e d iz e r q u e h um in teresse pblico d e q u e o c id a d o te n h a parti
c ip a o a c e n tu a d a n as d ecis es, ou q u e p o s s a e s c o lh e r c o m liberdad e
se us re p re s e n ta n te s p a r a tan to, a fim d e q u e os s e u s direitos f u n d a m e n
tais, s e n d o e s s e n c ia l o direito d e liberdad e, p o s s a m p re e n c h e r os e s p a
os d o p o d e r a ntidem ocrtico.
Assim , d e perguntar: c o m o p o d e o contribuinte te r s e g u ra n a jurdica
p e ra n te os C o n s e lh o s d e Contribuintes se, a o e x e rc e r o direito d e a m p la
d e fe s a e do contraditrio, a s s e g u ra d o s no art. 5 inc. LV, d a CF, s o es t
f a z e n d o no a s p e c to form al, pois no m aterial e le n o e s t e m p a rid a d e de
c o n d i e s c o m a F a z e n d a P blica, e m s u a a c e p o am p la ?
O b s e r v a -s e d e fato fica r a igu aldad e, im p rescind vel n a re la o jurdica,
c o n s tra n g id a , a m e s q u in h a d a , e lim in a d a , suprim ida: q u e o p o d e r e s ta
tal te m privilgios no sentido d e abafar, no a s p e c to substantivo, n o s o
princpio d o contraditrio e d a a m p la d e fe s a , in te g ra n te s d o d u e process
of la w , m a s p ra tic a m e n te aniquilar com o princpio isonm ico q u e d e v e
ria existir e n tre a a d m in is tra o pblica e o contribuinte.
A n o ta 0 n u n c a por d e m a is cita d o C a n o tilh o o q u e s e c o s tu m a d es ig n a r
p o r d e m o c r a tiz a o d a adm in is tra o : D e m o c ra tiz a o d a A d m in is tra
o p o d e significar: (1 ) substituio d a s estruturas h ie rrq uico-auto ritri-

Jos Joaquim Gomes CANOTILHO, op. c/f,, p. 287,

Idem , p. 342,

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

a s p o r fo rm a s d e d e lib e ra o colegial [ex.; g e s t o d e m o c r tic a d a s e s c o


las o n d e os c o n s e lh o s d e g e s t o sub stituram os d ire to re s (cfr. art. 7 7 -)];
(2) intro d u o do voto n a s e le o d a s p e s s o a s a q u e fo ra m confiados
ca rg o s d e d ir e c o individual; (3 ) p a r tic ip a o p artid ria d e tod os os e le
m e n to s q u e e x e rc e m a s u a a ctivid ad e e m d e te rm in a d o s s e c to re s d a a d
m in is tra o (ex.: a q u e s t o d a p a rid a d e d e p ro fe s s ore s, e s tu d a n te s e fu n
c ion rio s n a g e s t o d a s e s colas s uperiores); (4) tra n s p a r n c ia ou publici
d a d e do p ro ce s s o adm inistrativo [( direito d e in fo rm a o dos c id a d o s
s o b re o a n d a m e n to dos processos e m q u e s e ja m d ire c ta m e n te in te re s s a
dos (cfr. a n . 2 6 8 -/1 ) ]. E s ta d im e n s o d a d e m o c r a tiz a o tra d u z -s e , entre
o utras c o isas, n a es tru tu ra o do p ro c e d im e n to adm inistrativo , c o m o foi
referido a propsito do princpio do E s ta d o d e direito; (5 ) g e s t o partici
p a d a , ou s e ja, p articip ao dos adm in is tra d o s a tra v s d e o rg a n iza e s
p o p u la re s d e b a s e e d e o utras fo rm a s d e re p re s e n ta o n a g e s t o d a
a d m in is tra o pblica (arts, 9 % , 4 8 , 65/2/b, 6 6 -, 7 0 - / 3 e 2 6 3 - ) . A g e s
t o p artic ip a d a , ju n ta m e n te c o m a e x ig n c ia d a tra n s p a r n c ia , s o e le
m e n to s d e d e m o c ra tiz a o contra a o p a c id a d e b u ro c r tic a -te c n o c r tic a
(p.

368).

Ap lic a n d o e s s a s n oes, insitas d e m o c r a c ia , a o s C o n s e lh o s

d e C o n trib uin tes, d e p re e n d e -s e , n um rpido e x a m e , a falta do voto d e


m o c r t ic o , d a p a r tic ip a o p a r it r ia nos ju lg a m e n t o s e d a q u e s t o
p artic ip a tiv a .

Os Conselhos de Contribuintes e a democracia


C o lo c a d o s a q u e le s pressup ostos e a v e rig u a d a a o r g a n iz a o dos C o n s e
lhos d e Contrib uin tes, d e logo se p e rc e b e s e r e la a uto ritria e a n tid e m o
c r tica. A tre la m -s e ele s adm in is tra o ativa, q u a n d o d e v e ria m s e r in
d e p e n d e n te s ou a u t n o m o s, ou vinc u lad o s a o P o d e r Judicirio, ou m e s
m o a o C o n g re s s o N a c io n a l, p ropiciando p re s e n a e n tre con tribu intes e a
F a z e n d a Pblica.
N o s e d e v e o lvidar q u e o P o d e r Executivo, rg o poltico p o r definio,
te m a sin g u la rid a d e d e c o ag ir todos os q u e the s o su b o rd in a d o s e s u b
m issos, fa z e n d o s e m p re p re v a le c e r in te re s s e s q u e , in o b stante possam
s e r e g tm o s (c o m o si s e r o in c re m e n to d a a rre c a d a o ), n a d a tm com o
justia fiscal.
d e s e p r e m re le v o q ue, e m b o r a a c o m p o s i o dos C o n s e lh o s de
C o n trib u in te s s e ja fo rm a lm e n te paritria (e n tre m e m b ro s indicados p elas

131

1 32

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

e n tid a d e s re p re s e n ta tiv a s dos contribuintes e p e la a d m in is tra o ), o p re


s id e n te d e s s e s o rg an is m o s , q u e r no m b ito fe d e ra l, q u e r no e s ta d u a i ou
no m unicipal, s e m p re d e e s c o lh a e n o m e a o d a a u to rid a d e fa z e n d r ia
superior. C o m o , e m c aso d e e m p a te n a v o ta o d o s m e m b ro s dos C o n
s e lh o s , 0 p re s id e n te do C o n s e lh o q u e t e m o v o to d e M in e rv a , a partici
p a o p aritria, n a prtica, p e rd e s u b stn cia. C o m o e le m e n to d e c o n fia n
a d a a d m in is tra o , dificilm ente e s s e ju lg a d o r tributrio p o d e a g ir com
im p a rc ia lid a d e .
R e g is tre -s e , a b e m d a v e rd a d e , q u e s v e z e s h a q u e le s - c o m o s e m p re
u m a m inoria - q u e c u m p re m o d e v e r d e c o n s c i n c ia e a p lic a m a lei d e
ofcio. M a s os C o n s e lh o s d e v e m s e r constitudos p a ra o h o m o m e d iu s , e
os ju iz e s fa z e n d rio s im parciais s o e x c e e s .

A p ro p s ito , d iz M rcia Q u a d ro s:

N o C o n s e lh o d e C ontribuintes ta m b m h ou ve m u d a n a d e p osio. 0
tribunal adm inistrativo v in h a ju lg a n d o os p ro cessos s is te m a tic a m e n te a
fa v o r dos contribuintes a t c e rc a d e quatro a n o s atr s . P o r m , le m b ra
A n d ra d e , d ep o is q u e o ministro d a F a z e n d a , P e d ro M a la n , a lte rou a c o m
p o s i o d a s c m a ra s d o C o n s e lh o , e q u e m u d o u o s c o n s e lh e iro s q u e
ju lg a v a m os pro cessos, o e n te n d im e n to p as s o u a s e r o c on tr rio ."

A ssim a isonom ia constitucional a p e n a s u m a plid a iluso, p o is n a pr tic a o


q u e ocorre q u e a F az e n d a Pblica encarn a to d o s os p o d e re s e m to d a s as fases
d o pro cesso a d m in istra tiv o tributrio: legisla, acusa, julga, c o n d e n a e executa!...
A con cre tiz a o d a justia so m e n te ser p o ssv e l q u a n d o h o u v e r au t n tic a
p a r id a d e d o c o n trib u in te p e r a n te a F a z e n d a P blica n o s C o n se lh o s d e C o n tri
b u in te s , p o r q u e s o m e n te a ssim estar s e n d o o b s e rv a d o o p rin c p io d a ison o m ia.
E ta m b m q u a n d o h o u v e r a conscincia d e q u e o p ro c e sso a d m in is tr a tiv o a
justia q u e d e v e r se r e fe tiv a d a p ela a d m in is tra o p b lic a , e n o q u e la v a r as
m o s c o m o P ncio P ilatos, e n c a m in h a n d o o s p ro c e sso s via judicial.
GALDINO, Dirceu; ARZUA, Heron, A formao antidemocrtica dos Conselhos de Contribuintes. In

R e vista D ia l tica d e D ire ito Tributrio, n 34. So Paulo: Dialtica, julho de 1998, p. 47-51.
QUADROS, Mrcia. S e m e stra lid a d e d o P IS se r ju lg a d a . In Gazeta Mercantil", 19 de maro de 2001,
p. A-10.

D E S A F IO S DA C I D A D A N I A * 1 3 3

N u m E sta d o q u e d e v e p r im a r p ela tica e p e la tra n s p a r n c ia , a justia a d m i


n is tra tiv a o p rin c p io d e ssa efetivao.

2.9 TRIBUNAL DE CONTAS


A in d icao d o s m e m b ro s d o T rib u n a l d e C o n ta s d a U n i o p e lo p re sid e n te
d a R epblica e d o s m e m b ro s d os T rib u nais d e C o n ta s d o s E sta d o s p e lo g o v e rn a
d o r a te n d e a interesses polticos e afro n ta a tica, p o is n o tico in d icar pessoas
p a r a apre c ia r as contas d o p r p rio governo. tico in d ic a r p e sso a s q u e n o sejam
su b se rv ie n te s, c o m a u to n o m ia e in d e p e n d n c ia p a r a essa apreciao.'^
F r e q e n te m e n te d e m o n s tr a d a p u b lic a m e n te a falncia d o s T rib u n a is de
C o n ta s , a tra v s d e d e n n c ia s d e casos d e c o rru p o n o Brasil. A rev ista "Veja"
p u b lic o u r e p o r ta g e m in titu la d a "C o n selh e iro s d e tr ib u n a is d e c o n ta s so a c u sa
d o s d e fazer o q u e d e v e ria m im pedir"'^*, e m q u e consta:

A lg u n s trib un ais d e co n tas t m e m s e u s q u a d ro s c o n s e lh e iro s c o m re la


e s d e m a s ia d a m e n te ntim as com os g o v e rn a n te s q u e d e v e r ia m vigiar.
O utros co n s e ltie iro s re s p o n d e m na J ustia p o r d e s liz e s q ue, id e a lm e n te ,
d e v e r ia m s e r suficientes para d ec la r -lo s im p e d id o s d e e x e r c e r a fun o
d e ju lg a d o re s d e co n tas p blicas.

p re c is o r e v e r o siste m a v ig en te, p o r q u e o tra b a lh o d e ss e s tr ib u n a is tem


sid o m e r a m e n te re m e d ia d o r , o u seja, eles a g e m a p e n a s d e p o is q u e o c o rre u o
ato d e im p r o b id a d e . Q u a n d o o d e te c ta m , e x ig e m p r e s ta o d e co n tas, e isso se
fa to re s e x te rn o s n o in te rfe re m . S eriam n e c e ss ria s m e d id a s p re v e n tiv a s , p a ra
q u e n o o c o rre s s e m irre g u la rid a d e s .
M a n u e l Jac in to N o g u e ira d a G a m a , q u e , d e s d e a criao d o TC, e m 1826, j
d e n u n c ia v a s u a falta d e eficcia, e m d is c u rs o p ro fe rid o e m 0 6 /0 7 /1 8 2 6 , disse:

...s e 0 Tribu n al d e R e v is o d e C o n ta s , q u e s e p re te n d e e s ta b e le c e r, se
c o n v e rte s s e e m tribunal d e fisc a liza o d a s d e s p e s a s pblicas, a n te s de

Ives Gandra, no volume 4-, t. II, de C om e n t rio s C o n stitu i o d o Brasil, ao tratar do assunto re
ferente ao Tribunal de Contas, defende a possibilidade do Tribunal de Contas se dissociar do Poder
Legislativo e se integrar ao Poder Judicirio, realizando-se por concurso o acesso a seus cargos.

In "Veja", 16 de janeiro de 2002, p. 36 e seguintes.

134#

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

s e re m feitas e m to d a s e q u a is q u e r rep arties, p o d e r-s e -ia c o lh e r d ele


proveito; m a s , s e n d o u n ic a m e n te d estinad o a o e x a m e d a s co n tas e d o c u
m en to s, e x a m e q u e se fa z no Tesouro, p a ra n a d a servir, sa lvo p a ra n o
v id a d e d o s is te m a e o a u m e n to d a s d es p e s a s c o m os n e le e m p re g a d o s .

O TC d a U n i o u m rg o q u a s e d eco rativ o , p o is n o te m a u to n o m ia . Seus


p a re c e re s p o d e m n o se r a p r o v a d o s p e lo C o n g re sso , o q u e o s to rn a ria inteis.
Se h o u v e r conflito e n tre o TC e o Judicirio, p re v a le c e o e n te n d im e n to d o J u d i
cirio. Q u a n to a o L egislativo, caber a ele p r p r io e x a m in a r os p a re c e re s e m iti
do s, a c a ta n d o -o s o u no.
O inciso X d o a rtig o 71 d a CF^^^ u m a d a s excees e m q u e a m a n ife sta o
d o TC se to rn a e xecutv el. Se o TC d e te c ta r ir r e g u la r id a d e s d a s c o n ta s o u ilega
lid a d e s d a s d e sp e s a s , a ssin a r p r a z o p a r a q u e o rg o (a d m in istra o direta)
o u e n tid a d e (in direta) c o rrijam as falhas, o b je tiv a n d o o ex ato c u m p r im e n to da
lei. Se n o a te n d id o , p o d e r im p o r a su sta o d o a to im p u g n a d o s e m p r v io
e x a m e d o C o n g re s s o N a cio n al. P ara g a r a n tir a s u sta o d a e x e c u o d o ato,
p o d e r c o n ta r c o m fora policial e re sp a ld o judicial, m e s m o q u e a a u to r id a d e
a d m in istra tiv a p e rte n a a o Ju d icirio o u ao Legislativo. A p e n a s n e sse caso, p e r
cebem -se a a u to n o m ia e a in d e p e n d n c ia d o TC.
Q u a n d o h o u v e r ir r e g u la r id a d e o u ileg a lid a d e , a p rin c ip a l fu n o d o TC, q u e
fiscalizar, h d e te r m in a r e m re p re se n ta o , at m e sm o q u a n d o ele exige a
s u sta o d o a to irre g u la r o u ilegal, Essa re p re se n ta o s o c o rre r d e p o is d e
e n c e rra r as co n tas p b licas.
Ives G a n d r a d a Silva M a rtin s desabafa:
N a p ro po sta q u e fiz p a ra a Constitu io d e 1 9 8 8 e q u e c o n s ta d e m eu
livro R o t e ir o p a r a u m a C o n s titu i o , pretendi q u e o T C fo s s e u m autntico
p o d e r re s p o n s a b iliz a d o r e n q u is ta d o no P o d e r J u d ic i rio , c o m m a io re s
p o d e re s tcn ico e jud ic a nte , e x igin do -se, e m d e c o rr n c ia , q u e o a c e s s o
a o s s e u s q u a d ro s s e fiz e s s e m e d ia n te e s c o lh a e n tre ju iz e s d e carreira,
p re s e rv a d o o quinto constitucional.

A p u d PONTES DE MIRANDA. C om e r)t rios C o n stitu i o de 1967. So Paulo: Revista dos Tribu
nais, 1970, t. Ill, p, 244.
Constituio Federal, art. 71; 0 controle externo, a cargo do Congresso Nacional, ser exercido com

0 auxlio do Tribunal de Contas da Unio, ao qual compete: (...); X - sustar, se no atendido, a


execuo do ato impugnado, comunicando a deciso Cmara dos Deputados e ao Senado Federal.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

F o s s e a c e ita a proposta, o p o d e r d e re s p o n s a b iliza o se ria in q u es tio n a


v e lm e n te m aior, c o m os a s p e c to s polticos n o p r e v a le c e n d o s o b re os
jurdico s e constitucionais, n as d ec is es d e T ribu n ais d e C o nta s.

Entre m in h a p ro p o sta e o re d u zid o p o d e r d ecisrio a tu a l dos T rib u n a is de


C o n ta s d a U n i o h um profundo a b is m o , m uito e m b o r a , no to c a n te
c o m p e t n c ia , seu perfil, hoje, se ja m e lh o r q u e o q u e p o s s u a no direito
p re t rito .^'*

D ever-se-ia c ria r u m s iste m a p r e v e n tiv o , d e eficcia im e d ia ta , tal c o m o o


o m b ud sm a n n a E u ro p a , o u e n t o e lim in a r o re fe rid o trib u n a l e co n ferir o p o d e r

d e fiscalizao a u m a a u d ito ria in d e p e n d e n te , p o r m d e a tu a o d iu tu r n a , q u e


fosse in d ic a d a p e la OAB, P o d e r Jud icirio e p a r tid o s polticos, e so b a s u p e r v i
so d o M in ist rio P blico. N o conviria q u e a a u d ito ria fosse in d ic a d a pelos
p o d e r e s leg islativ o e ex e c u tiv o , p o r q u e d a ela faria a u d it a g e m d a s p e s s o a s que
a in d ic a ra m . P e n s a m o s q u e u m a a u d ito ria i n d e p e n d e n te , n o s m o ld e s acim a,
seria m a is eficaz. O q u e n o p o d e c o n tin u a r o a tu a l siste m a , e m q u e , alegoric a m e n te , d e p o is q u e h o u v e o fu rto q u e se p ro v id e n c ia o ala rm e .

2.10 ESPECTROS DE MUNICPIOS


P o r interesses eleitoreiros, so criados e m p ro fu s o m u n ic p io s se m as m n i
m a s condies d e su ste n ta o financeira, e eles a c a b a m s u g a n d o exp ressiv as v e r
b a s d o s e sta d o s, e estes d a Unio. A U nio acaba o b te n d o em p r stim o s internaci
o nais p a ra a rcar c o m seu s c o m p ro m isso s p oltico-financeiros e assim as finanas
p b licas ficam c o m p ro m e tid a s, p o is fica institucion alizad a, a in d a q u e n a praxis,
u m a ciran d a-fin anceira. C o m a criao d e u m m u n icp io , h a v e r ele v a d o s custos
financeiros; e n tre ta n ta s ou tra s, h a v e r d e sp e sa s com a re m u n e ra o d o prefeito,
d o s secretrios, d o s v e re a d o re s, d o s se rv id o re s e d o s fu tu ro s apo sen tad o s...
E m ja n e iro d e 1988, p o r ta n to a n te s d a C F /8 8 , h a v ia 4.177 m u n ic p io s; a tu a l
m e n te , s e g u n d o o 1BG E'^\ h 5.507 m u n ic p io s n o Brasil. In fere-se q u e foram
c ria d o s 1.330 n o v o s m u n icp io s.
U m jo rn a l d e circ u la o re g io n a l in fo rm a:
BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. C o m e n t rio s C o n stitu i o o B rasil. So Paulo:
Saraiva, 1996. v. 4, t. II, p. 64.
Dados disponveis na in tern e t, atravs do site httD://www.ibge.oov.br. acessado em 26 de maro de
2004.

1 3 5

1 3 6

D IR C E U Q A L D IN O C A R D IN

U m e s tu d o d o d e p u ta d o fed e ra ! A le x a n d re C a rd o s o ( P S B - R J ) c o n s ta ta
q u e 2 . 9 7 4 ( 5 4 ,0 1 % ) dos 5 .5 0 6 m unicpios brasileiros n o a rr e c a d a m s o
z in h o s 0 s ufic ie nte s e q u e r p a r a s u s te n ta r a s d e s p e s a s d e s u a s p re fe itu
ras e c m a ra s m unicipais. M a s sua s a d m in is tra e s g e r a m R $ 2 , 8 bi
lh e s e m d e s p e s a s a n u a is , b a n c a d a s por re p a s s e s d o F P M (F u n d o de
p a rtic ip a o dos M u n icp ios), q u e fe d e ra l, e do i C M S (Im p o s to s ob re
C irc u la o d e M e rc a d o ria s e S e n /io s ), tributo es ta d ua l.
N a m a io ria dos c a s o s , os m u n icp ios t m a t 1 5 mil h a b ita n te s e a r r e c a
d a m a t R $ 5 . 0 0 0 a n u a is , s o m a d o s e m IP T U (Im p o s to P re d ia l e Territori
al U rb a n o ) e IS S (Im p os to s ob re S e rvio s). E m alg u n s E s ta d o s , o IC M S
t a m b m insignificante.
S o m u n icp ios q u e v iv em d e re p a s s e s do F P M - d is s e o p arla m e n ta r.
S e g u n d o A le x a n d re C a rd o s o , e s s a s c id a d e s, p ra tic a m e n te s e m a r r e c a
d a o p rpria, c o n s o m e m q u a s e tod os os re p a s s e s fe d e ra is no p a g a
m e n to d o s s a lrios d e s e u s prefeitos, s ecretrios, v e re a d o re s e a s s e s s o
res, a l m d e p a g a r d e s p e s a s d e custeio".^

E d iz u m a rtic u lista d o jorn al " O E sta d o d e

S.

P aulo":

D o s 5 4 m u n icp ios q u e s e r o instalados d ia 1-, 4 5 s e s o m a r o a o s c e rc a


d e 9 0 0 q u e . c ria d o s a partir d e 1 9 8 9 , t m m e n o s d e 5 mil h a b ita n te s e
a r r e c a d a m e m im postos m e n o s d e 3 % d e s u a s re c e itas co rre n te s . E m
9 8 7 d es s a s cida d e s, a C m a r a d e V e re ad o re s c o n s o m e m a is dinheiro que
a h ab ita o e o urbanism o. E m 3 5 2 d e s s e s municpios, os v e re a d o re s c o n
s o m e m m a is recursos do que os gastos com s a d e e s a n e a m e n to .
S o m u n ic p io s q u e , o b v ia m e n te , n o t m c o n d i e s d e s e sustentar.
F re q e n te m e n te , a diviso c o n d e n a os dois m u n icp ios - o novo e o q u e
j e x istia - e s ta g n a o . Alto B o a Vis ta , do q ual s e d e s m e m b ro u S e rra
N o v a D o u ra d a , fica r com 3 .6 6 8 h ab itan tes. J a n o v a s e d e d e m u n ic
pio, s e g u n d o a d e s c ri o d e um m orador, 's te m c a s a s s im p le s , d e p a
lha, u m a e s c o la m unicipal d e 1 g rau e u m posto telefn ico'. M a s p a s s a
r a te r p re fe itu ra e C m a r a M u n icip a l, isto , n o v e v e r e a d o r e s e um
p refeito a s u s te n ta r com os recursos e s c a s s o s q u e v iro d a U n io .

A rre c a d a o e m 5 4 % d o s m ue)icpios m suficiente. In "0 Dirio do Norte do Paran, 10 de agosto de


1997, p. 3.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

A c ria o dos 1 .3 2 7 m unicpios, d e s d e 1 9 9 8 , s tro u x e b e n e fc io s vis


veis p a ra c e rc a d e 1 5 .5 0 0 p es s o as , q u e p a s s a ra m a r e c e b e r p ro ve n to s de
p refeitos e v e re a d o re s . A e le s se s o m a r o , a p artir d e 1 d e ja n e iro , m ais
c e rc a d e 5 0 0 feliza rd o s . O s gastos a d m inistrativo s, portan to , a u m e n t a
ram , 0 q u e significa q u e fo ra m re d uzid os , p ro p o rc io n a lm e n te , os recu r
sos pblicos d e s tin a d o s a p ro g ram a s sociais e pro jetos d e investim ento.
N a im e n s a m a io ria d a s v e z e s , a c ria o d e m u n ic p ios a te n d e a projetos
polticos d e g ru po s q u e t m g ra n d e influ n cia local. M a s tais caprichos,
e m p ou co te m p o , re v e la m -s e c o n tra p ro d u c e n te s p a ra a p o p u la o local e
c a u s a m p re ju zo s ta m b m a o conjunto d o p as , pois os Im p ostos g e r a
d os nos m u n ic p io s m a is p rodutivos s o d e s v ia d o s , via tra n s fe r n c ia s
constitucionais, p a ra m u n icp ios q u e s e x iste m p a ra g a ra n tir e m p re g o s
p blicos.
A p ro life ra o d e m u n icp ios s e m con di e s d e se s u s te n ta r in c o m p a t
vel c o m a s n o rm a s d e a u s te rid a d e c ria d a s c o m a Lei d e R e s p o n s a b ilid a
d e Fiscal. E m v e z d e criar, d e v e -s e tra ta r d e extinguir os m u n ic p ios fin a n
c e ira m e n te inviveis, P a r a q u e isso s e ja p os s v el, b a s ta q u e o C o n g re s s o
a p ro v e um projeto do s e n a d o r G e ra ld o Althoff q u e d e te rm in a q u e , s e a
re c e ita prpria fica r ab a ix o dos 8 % dos recu rso s totais d is p o n v e is d e um
m u n ic p io d u ran te dois ano s , e le s e r extinto e re in c o rp o ra d o u n id a d e
original".

Se n a c riao d o s m u n ic p io s c o n tin u a re m p r e v a le c e n d o o s in te re sse s p o lti


cos, e se a q u e le s q u e n o t m p o p u la o acim a d e d e z m il h a b ita n te s n e m a u to
n o m ia fin a n c e ira n o fo rem im e d ia ta m e n te tr a n s f o r m a d o s e m d istrito s, e v i
d e n te q u e q u e m p a g a r p e lo p e r d u la r is m o ser u m a v e z m a is o p o vo .
D iz o p ro fe s s o r E d u a r d o G iannetti: "A a u to n o m ia fin a n c e ira d e v e ser a base
d a a u to n o m ia po ltica. O s m u n ic p io s q u e n o c o n s e g u ir e m a r r e c a d a r u m a p r o
p o r o m n im a , a se r d e fin id a , d a q u ilo q u e g a s ta m , s im p le s m e n te n o t m re a
lid a d e eco n m ica. Jo g a r a co n ta p a ra o re sto d a s o c ie d a d e p a ra s itis m o . C o n te r
a p ra g a n o b asta. p re c iso r e c u p e r a r o q u e ela to m o u .

M u n icp io s q u e n o d e v e ria m existir. Ir) 0 Estado de S. Paulo", 27 de dezembro de 2000, p. A-3.


/n DalaPactum - In fo rm a e s T ributrias e E m p re sa ria is S e le cio n a d a s, ano IV, n - 84, janeiro de 1999,
p. 6.

1 38

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

Sob o u tr o e n fo q u e , p o c a d o g o v e rn o m ilita r a E m e n d a C o n s titu c io n a l n.


0 1 /6 9 , c e n tra liz o u o m a io r v o lu m e d e re c u rso s d a s a rre c a d a e s d o s trib u to s
p a r a a U n i o e d e ix o u v a lo r e s b e m m e n o r e s a o s m u n ic p io s . A f in a lid a d e
q u e la p o c a e ra o e x p a n s io n is m o b r a s ile ir o q u e , i m p u l s i o n a d o r e a liz a o
d e g r a n d e s o b r a s , p r e c is a v a d a c e n tr a liz a o d a q u e l e s re c u rs o s . E ta m b m
p o r q u e h a v ia m - g e s t o p o r m u ito s p r e f e ito s , q u e fic a v a m f a z e n d o c h a f a r i
ze s, b u s to s , m o n u m e n t o s e m c a d a lo c a l d a c i d a d e etc., e c o m isso n o d a v a m
d e s tin a o c o r r e ta s v e r b a s p b lic a s . H u m a o b s e r v a o h is t ric a ; q u a l
q u e r p a s te v e o s e u n a s c e d o u r o c o m a s fo r a s d o s m u n ic p io s . N o Brasil,
p o r e x e m p lo , d e s ta c a m - s e os d e S a n to s, Rio d e J a n e iro , S a lv a d o r , R ecife etc.
M a s o q u e s e p e r c e b e h o je q u e , c o m e s sa c e n tr a liz a o - q u e ta m b m tev e
a f in a lid a d e , r e a lm e n te , d e c e n tr a liz a r o p o d e r e d e s t i n a r a s v e r b a s d e a c o r
d o c o m o s in te r e s s e s p o ltic o s - e s t o d e f i n h a n d o o s m u n ic p io s . E o p io r; as
n e c e s s id a d e s b s ic a s d o c id a d o e s t o a ele s v in c u la d a s : e d u c a o , s a d e ,
lu z , g u a , te le fo n ia , s e g u r a n a etc., m a s a m a io r p a r t e d e s s e s se rv i o s p b l i
cos n o e s t o v in c u la d o s a eles, o q u e p r o v o c a u m d e s c o n te n ta m e n t o g e n e
r a liz a d o n a p o p u la o , p o r c a u s a d a in e fic i n c ia d e m u i to s d e s s e s se rv i o s.
O e x e c u tiv o m u n ic ip a l fica to ta lm e n te im p o t e n t e p a r a s o lu c io n a r s e u s p r o
b le m a s o u p a r a d a r r e s p o s ta im e d ia ta s n e c e s s id a d e s d a c o m u n id a d e . M ais
g r a v e a in d a ; c o m r e la o a m u i ta s v e r b a s , a s d e s tin a e s d e p e n d e m d e lobby
p o ltic o etc., e d e o E x e c u tiv o s e r d o m e s m o p a r t i d o q u e o g o v e r n a d o r o u d o
p r e s id e n te d a R e p b lic a . E nfim , u m a s itu a o q u e e lim in a o b e m c o m u m . O
m u n ic p io teria q u e re c e b e r d e n tr o d e d e t e r m i n a d o s p a r m e t r o s , p a r a q u e
n o o b tiv e s s e m a is v e r b a s q u e o o u tr o , e ta m b m s e m i n g e r n c ia p a r t id r i a ,
s e m lobby, p a s s a n d o a te r m a io r p o d e r d e c o m a n d o s o b r e as a t i v i d a d e s b s i
cas, q u e e s t o m a is p r x im a s d o c id a d o .

2.11 SISTEMA DE SADE


O s iste m a d e s a d e d o B rasil n o c o r r e s p o n d e a o s a n s e io s d a so c ie d a d e ,
p o r q u e v iv e m o s n a " c u ltu ra d o re m d io ". N o ex te rio r ra r a m e n te e n c o n tra -se
fa rm c ia ; n o Brasil, d is tr ib u e m - s e p e la s q u a d r a s . N o f o m o s e d u c a d o s p a r a
p re v e n ir, m a s p a r a re m e d ia r. P o r isso, a lo n g a m -se as filas n o s h o s p ita is p b li
cos, cujo a te n d im e n to , q u a n d o ocorre, d eix a m u ito a d esejar. O p r o b le m a n o
d e d eficincia d a rea m d ic a , m a s d o p r p rio sistem a, q u e i m p o te n te p a ra
p ro p ic ia r a te n d im e n to razovel.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

A ssim c o m o q u a n to s farm cias, h ta m b m excesso d e c o n su lt rio s m d i


cos. A p ro p sito , d iz u m p ro fe s so r suo:

"Achei e s tra n h o v e r tantos consultrios m d ic o s , m a s p e n s e i q u e d ev ia


s e r u m b o m negcio, N a S u a existe u m a p re o c u p a o g ra n d e c o m a
p re v e n o ; isso alia d o q u a lid a d e d e vida fa z c o m q u e n o h a ja ta n ta
n e c e s s id a d e d e consultrios.'^

O a te n d im e n to s a d e est s e n d o c o n d u z id o p o r g r a n d e s g r u p o s fin an cei


ros, e o m d ic o se to r n o u u m in s tru m e n to d e sse siste m a (ta lv e z a p a la v r a a p r o
p r ia d a seja v tim a , p o r q u e , d e certa form a, d im in u iu s u a d ig n i d a d e p ro fissio
nal). E, c o m as o c o rr n c ia s d e e rro s m d ico s, s u r g iu a falta d e c o n fia n a d o
pacien te. N a r e d e p b lic a , o m d ic o se tra n s fo rm o u n u m m e ro o p e r rio d a s a
de: m - r e m u n e r a o e falta d e co n d i e s d e tra b a lh o . P o d e -se fincar u m a p r e
m issa: o n v e l d a m e d ic in a n o Brasil b o m , m a s a s a d e p b lic a ru im .
O u tr o p r o b le m a e m relao s a d e p e rtin e n te s d o e n a s m en tais: m u ita s
v e z e s elas r e p r e s e n ta m sria am e a a p a ra a so c ie d a d e e s o ig n o ra d a s . C o m o
n in g u m v a m e n te d e q u e m as tem , corre-se risco d e a g re s s o e a t m e s m o de
m o rte , m e s m o e m a m b ie n te s pblicos. D epo is, v e m o e s p a n to social...
A s o c ie d a d e p re c isa c u id a r com m a io r e m p e n h o d o p r o b le m a d a s d o en as
m e n ta is, p o is "a m s a d e m e n ta l , c e rta m e n te , to c o m u m q u a n to a m s a d e
fsica; p r o v a v e lm e n te m a is a in d a . Ccero disse: 'A s d o e n a s d o e sp rito so m ais
n u m e r o s a s e m a is d e s tr u id o r a s q u e as d o c o rp o '. T in h a razo . M a s n e m se m p re
so elas re c o n h e c id a s c o m o ta is " .''^
O m d ic o A lex C a rre l reafirm a: "A s d o e n a s d o e s p rito to rn a m -s e a m e a a
d o ra s, e m a is p e rig o s a s d o q u e a tu b e rc u lo se , o c an cro , as afeces d o c o rp o e
d o s rin s, e a t d o q u e o tifo, a p e ste e a clera. O se u p e r ig o n o est a p e n a s n o
facto d e a u m e n ta r o n m e r o d e crim in oso s, m a s s o b r e tu d o n o d e se d e te rio ra
re m c a d a v e z m a is as raas b rancas".'^'
H p o u c o te m p o , n a lite ra tu ra m d ic a p a s s o u a se r e m p r e g a d a a ex p re ss o
mornl in sa n ity ( in s a n id a d e m o ral), q u e u m tip o d e d o e n a m e n ta l. E stu d o s

GUNTENSPERGER, Thomas M. Um suio em Maring, in R e vista d a A C IM . n- 360, p, 30.


MENNINGER, KarI Augustus. A m e n te hum a n a . So Paulo; Ibrasa, 1971, p, 29,
CARREL, Alex, op. c/.,p. 179.

1 4 0

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

re a liz a d o s p o r p s iq u ia tr a s e g en eticistas re v e la m q u e ela u m a m a n ife sta o


g e n tica e a tra v e s s a geraes. O s p o r ta d o r e s d e ssa d o e n a s e m p r e a g e m c o n so
a n te os se u s im p u ls o s , in d e p e n d e n te m e n te d o s asp e c to s ticos, m o ra is o u reli
giosos. E c o m o essa d o e n a te m au m en tad o !...
H e n r i Ey re v e la d a d o s e starreced o res:
d e o b s e rv a o fre q e n te o c a r te r familiar, ou h ere ditrio , d e s s e s tra n s
torno s ca ra c te ro l g ic o s { m o r a l in s a n ity ).
R e c o rd e m o s o c a s o d e u m a fam lia e s tu d a d a p o r J u k e s (1 9 1 5 ) : d e 2 .0 9 4
m e m b ro s e s tu d a d o s , 3 0 0 h av ia m sido assistidos p siq u ia tric a m e n te , 6 0 0
e r a m d b e is . 3 0 8 prostitutas e 1 4 0 crim inosos, dos q u a is 7 h om icidas.
A m a io ria dos psiq uiatras e gen e tic is tas q u e t m s e o c u p a d o d o assun to
m a is re c e n te m e n te c o n c lu e m q u e a h e ra n a d e s e m p e n h a u m g ra n d e papel
n e s te tipo d e d e g e n e r a o psicoptica.^^

C o m o as d o e n a s m e n ta is so in v isveis e so m e n te se re v e la m e m a titu d e s , e
a p r p r ia so c ie d a d e est e n fe rm a , h in d iferen a social. A q u i m o ra o v e r d a d e i
ro p e rig o , p o r q u e a so c ie d a d e te m e v e r se u la d o so m b rio .
A p r e o c u p a o a u m e n ta p o r q u e m u ito s o c u p a n te s d e c a rg o s p b lic o s o u
p e s so a s q u e g o z a m d e d e s ta q u e social e sto m e n ta lm e n te d o e n te s , in c lu siv e
im p r e g n a d o s d e moral in sa n ity, c o m risco social m u ito g ra n d e . e n o r m e o d a n o
social q u e p o d e s e r c a u sa d o , p o r e x e m p lo , p o r u m m e m b r o d o E x ecu tiv o, u m
juiz, u m p a d r e , u m p a s to r, u m p ro fe s s o r o u u m m e m b r o d o M in ist rio P blico
c o m d e te r m in a d a s psic o p a tia s. C o m o e v ita r essa situao ?
N o r m a lm e n te , p o c a d e c o n c u rs o p b lic o ex ig e -se e x a m e d e s a n id a d e
m en ta l. T o d a v ia , m u ito s d o s q u e n ele so a p r o v a d o s se tra n s f o r m a m a s sim q u e
a s s u m e m o cargo: ficam a u to rit rio s, a rro g a n te s, e fre q e n te m e n te a b u s a m d o
p o d e r . O s s u p e r io r e s t m receio d e ex ig ir n o v a a v a lia o clnica, e " d e ix a m
c o m o est p a r a v e r c o m o q u e fica". S o m e n te d e p o is d e a lg u m fa to b a s ta n te
g ra v e q u e to m a m a lg u m a p ro v id n c ia , n e m s e m p r e eficaz.
D ever-se-ia p e rio d ic a m e n te exigir e x a m e s p sicolgicos p a r a d e te c ta r as d o
enas sociais, p r in c ip a lm e n te as m a is g ra v e s, q u e c o lo c a m e m risco a v id a d e
o u tr a s p e sso a s; p o r exem plo : n o v e stib u la r, a n te s d a o b te n o d o ttu lo a c a d
m ico, e m c o n c u rso p b lic o , d e 5 e m 5 a n o s a p s a lg u m o c u p a r c a rg o pblico...
EY, Henri. Tratado d e P siqu iatria . Barcelona: Toray Masson, 1969, p. 361.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

O s e x a m e s psico l g icos d e v e ria m ser feitos j n o p rim e ir o g ra u , p o is m e sm o


a e sq u iz o fre n ia , se d e te c ta d a e m te m p o , p o d e se r tra ta d a , c o m o a sse v e ra Jorge
A lb erto d a C o sta e Silva:

N a U n iv e rs id a d e d e N o v a York, o n d e dirijo u m c e n tro d e p es q u is a , gosto


e s p e c ia lm e n t e d a b u s c a d e um tra ta m e n to p a r a a e s q u iz o fre n ia , q u e
e s ta m o s e m p re e n d e n d o com resultados fa s c in a n te s a t a g o ra . E s ta m o s
p ro va n d o q u e , s e a d o e n a for tra ta d a n a fa s e d a a d o le s c n c ia , q u a n d o
oco rre u m a re m o d e la o d a s ligaes n eu ra is d o indivduo, a s c h a n c e s
d e c u ra s o e n o rm e s . 0 m e s m o a c o n te c e c o m a d e p e n d n c ia d e drogas
ou o a lc o o lism o .

A ssim , d e v e m se r re a liz a d o s ex a m e s a o lo n g o d a v id a , e, d e te c ta d a q u a lq u e r
a n o r m a lid a d e , d e v e -se im e d ia ta m e n te iniciar o tra ta m e n to . E m m u ito s casos,
s o m e n t e d e p o i s d e o i n d i v d u o c o m e te r u m d e l i t o q u e se d ia g n o s tic a :
p sicopatia... N a p ris o o tra ta m e n to psicolgico d e v e se r in te n so , c o m o a s s e v e
ra A a rd w e g ;

A p riso n e c e s s ria , pois fun cio n a c o m o u m a a m e a a p rev e n tiva , m as


n o a lte ra o d e lin q e n te , u m a v e z q u e o c o m p o rta m e n to d e lin q e n te
e x p re s s o d e u m a p ertu rb a o neurtica. Im p lica isso e m q u e u m a m e d i
d a c on tra u m violad or d a s leis te m d e s e r a c o m p a n h a d a p o r ten tativ a s
te ra p u tic a s : s o m e n te u m a te ra p ia (ou a u to te ra p ia ) inte ns iv a q u e a ta q u e
c o n tin u a m e n te os im pulsos d a a u to p ie d a d e e m r e a o a ru s tra e s n a
v ida ou q u e s urja m e s p o n ta n e a m e n te , a n iq uila a b a s e d e p os s v eis re c a
das. P o s s u m o s u m a e x p e ri n c ia d e uns 13 a n o s c o m e s te tra b a lh o , no
C e n tro P e n ite n c i rio d o M inistrio d e Justia d a H o la n d a , e m H a ia . S a b e
m o s q u e u m a te ra p ia d e n eu ro s e s e m p re u m a luta inte n s iv a , m a s c o m
e s s e s d e lin q e n te s rein c id e n te s u m a luta total; l, p o d e -s e o b s e rv a r
q u e a fora m a l fic a d a a u to p ie d a d e infantil fu n c io n a e n e r g ic a m e n te , num
n eu r tico crim inoso, d u ran te 2 4 horas por dia. E m b o ra difcil, e s te tra b a
lho d xito, c o m a c o o p e ra o total do detido. P o r m , te m o s u m a srie
d e c a s o s q u e , a p s tra ta m e n to e a u to tra ta m e n to d e vrios ano s , m u d a -

COSTA E SILVA, Jorge Alberto, Psiquiatria S.A. In Veja", 27 de junho de 2001, p. 15,

141

1 4 2

D IR C E U Q A L D IN O C A R D IN

ram c o m p le ta e p ro fu n d a m e n te a s e m o e s b s ic a s p ertu rb a d a s . C o n s i
d e ra m o s isto c o m o u m a ind icao d a v ia bilidad e d e n os s a te ra p ia radical
p a ra e n fre n ta r o p ro b le m a d a d elin q n c ia .

Seria a c o n se lh v e l q u e , e m m u n ic p io s d e m d io e g r a n d e p o rte , e m cada


C o n se lh o M u n ic ip a l d a S a d e h o u v e ss e u m a C o m iss o d e V igilncia M ental,
co m p o sta p o r p ro fissio n a is d e s a d e m e n ta l (p siq u ia tra s, psic a n a lista s, n e u r o
logistas, p siclogos), p a r a ao p re v e n tiv a .

2.12 SISTEMA PENITENCIRIO


N o Brasil, o s iste m a p e n ite n c i rio est falid o c o m o s iste m a d e re c u p e ra o
d o e n c a rc e ra d o , p rin c ip a lm e n te pe la falta o u m -a p lic a o d e re c u rso s fin a n
ceiros.
N o a sp e c to financeiro, a lg u n s E sta d o s g a s ta m m e n s a lm e n te acim a d e oitoc e n to s re a is p o r p r e s id i rio . u m c u s to e le v a d s sim o , se c o m p a r a d o c o m o
sa l rio m n im o , p o r q u e n o h re to rn o financeiro, u m a v e z q u e o p r e s o n o
p r o d u z . T alv ez, re la tiv a m e n te a a lg u n s p re so s, se consiga a lg u m re to rn o a tra
v s d a terceirizao d o s servios penitencirios.
E sse m e s m o c u sto p e s a d o ta m b m ocorre n o exterior. N a p ris o d e A lach ua
C o u n tr y Sheriff's Office, n a c id a d e d e G ainesville, n o E sta d o d a F l rid a (EUA),
0

cu sto d i rio , p o r p re so , d e $54,00 (cin q en ta e q u a tr o d la re s), e m b o ra os

q u e v o p a r a a p e n ite n c i ria te n h a m q u e trabalhar.


Julita L e m g ru b e r afirm a:

U m poltico ingls, D o u g las Hurd, te m u m a fra s e la p id a r sob re e s s e a s


sunto: A priso u m a m a n e ira muito c a ra d e to rn a r a s p e s s o a s p io re s .
H o je, no Rio. u m preso c us ta 5 4 8 reais por m s . E m Braslia, 1 .2 0 0 . A
m d ia n a c io n a l d e 3 6 0 reais. A priso u m instru m en to d e controle
social cars s im o , a l m d e ineficaz. S d e v e ria m e s ta r p re s os os vio le n
tos, os q u e re p re s e n ta m risco p a ra a s oc ie d a d e . O s d e m a is p o d e ria m ser
c o n d e n a d o s a p e n a s a lte rnativas. C a s o contrrio, e s t -s e t a m b m pun in
do 0 contribuinte.

ARDWEG, Gerard J. M. van den. A u to p ie d a d e n eu r tica e te ra pia a n tiq u e ixa . So Paulo: Cortez &
Moraes, 1978, p. 215.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

U m m ilh o d e d la re s g asto com prises im p e d e s e s s e n ta crim e s por


a n o . A m e s m a q u a n tia a p lic a d a a o ens in o e v ita 2 5 8 c rim e s por a n o . O u
s e ja , b a ta lh a r por v e rb a s p a ra m ais e m a is p re s d io s c h e g a a s e r u m a
in s a n id a d e .^

S u p u n h a - s e q u e o e n c a rc e ra d o fizesse ex a m e d e co n scin cia e se a r r e p e n d e s


se, n o v o lta n d o a delin q ir.
A re a lid a d e m o s tr a a fra g ilid a d e d e ssa idia: os p s ic o p a ta s , p o r ex em p lo ,
n o tm s e n tim e n to d e cu lp a, p o r q u e o q u e q u e re m a p e n a s a realizao d e
se u s desejos. E a v id a c o n te m p la tiv a difcil a t m e s m o p a r a o s m o ng es... O
id e a l seria u n ir a v id a c o n te m p la tiv a c o m a ativa;

O nico fato d e q u e p o d e m o s e s ta r s e g u ro s q u e a c o in c id n c ia d a
in v e rs o d e p o s i e s e n tre a a o e a c o n te m p la o c o m a in v e rs o p re
c e d e n te e n tre a vida e o m u n do v eio a s e r o ponto d e p artid a p a ra todo o
d e s e n v o lv im e n to m o d erno . Foi s q u a n d o p erd e u o s e u pon to d e re fe r n
c ia n a v ita c o n t e m p la t iv a q u e a vita a c tiv a p d e to rn a r-s e vid a a tiv a no
sen tid o m a is a m p lo do term o; e foi s o m e n te p o rq u e e s ta vida a tiv a se
m a n te v e lig a d a vida c o m o nico ponto d e re fe r n c ia q u e a vida e m si, o
labo rio so m e ta b o lis m o do h o m e m c o m a n a tu re z a , p d e to rn a r-s e a tiv a e
exibir to d a a sua fertilid a de .'^

O crcere d eix a o p re so e m c o n sta n te cio, e a ociosidade fbrica do demnio,


co m o j o b s e r v a v a m o s ro m a n o s. P o r isso, d e v e -se r e in tr o d u z ir n a s p e n ite n c i
rias o tra b a lh o , b e m c o m o con d i es p a r a q u e ele p o s s a e s tu d a r . O s trab alh o s
fo rad o s d o p a s s a d o d e b ilita v a m o c o rp o , m a s a o c io sid a d e d o p r e s e n te d e b ili
ta o esprito. E n t o , p reciso equilbrio e n tre o tra b a lh o e o cio, p a r a q u e o
excesso n o seja prejudicial. O trabalho u m a fo rm a n o s d e re e d u c a r o delin
q en te, m a s ta m b m d e faz-lo rep a ra r, p e lo m e n o s e m p a rte , o d a n o q u e causou.
H m u ito s caso s e m q u e o p r e s id i r io p o d e r ia c u m p r i r p e n a a lte rn a tiv a ,
d e s o n e r a n d o a s o c ie d a d e e a fa sta n d o -se d a s v e r d a d e ir a s escolas d o crim e, q u e
so as p en ite n c i ria s.

LEMGRUBER, Julita. Q u e m p a g a a pen a . /n "Veja", 16 de julho de 1997, p. 9-10.


ARENDT, Hannah, op. cit., p. 333.

144#

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

A ssim , p re c iso d a r n fa se s p e n a s a lte rn a tiv a s , r e s e r v a n d o - s e a p ris o


a p e n a s p a ra o s p ra tic a n te s d e d elito s graves.
G e ra lm e n te , o c o n d e n a d o sai d a p e n ite n c i ria p io r d o q u e q u a n d o e n tro u ,
p o r q u e recebe p s s im o tra ta m e n to , n o se qualifica p a r a n e n h u m tra b a lh o e,
e m co n v v io c o m o u tro s d e lin q e n te s , fam iliariza-se c o m o u tr o s delitos. L iber
to, re je ita d o pe la s o c ie d a d e e v o lta a d e lin q ir, m u ita s v e z e s c o m m a io r g ra v i
dade.
T iv e m o s u m a e x p erin cia in te re ssa n te n e sse se n tid o . Q u a n d o r a m o s a c a d
m ic o s, e u e m e u s c o le g a s d e t u r m a fiz e m o s u m a v is ita p e n i te n c i r i a d e
P ira q u a ra , n o E sta d o d o P a ra n , p o r su g e s t o d e d o is d o s n o ss o s e stim a d o s
p ro fe sso re s, H e le n to n Borba C o rte s e Francisco d e P a u la Xavier. ta rd e , o d i
re to r d a p e n ite n c i ria le v o u -n o s a u m a capela. D ois d o s p re s id i rio s c a n ta ra m
Te D eiim, e to b e m , q u e n o s d e ix a ra m co m o v id o s. D ep o is, v ie ra m o s m o m e n

tos d e lazer, e u m g r u p o se r e u n iu e m vo lta d a q u e le s d o is p re so s, q u e h a v ia m


c a tiv a d o a to d o s. U m d o s n o sso s colegas p e r g u n to u a eles:
- Q u a n d o s a re m d a q u i, o q u e q u e vocs v o fazer?
Im a g in v a m o s q u e os p re s o s iria m falar so b re o re c o m e o d a v id a , m a s fo
m o s s u rp re e n d id o s :
- E u v o u m a ta r o tax ista q u e m e " d e d o u " ...
- E u v o u m a ta r o m e u v iz in h o q u e m e d e n u n c io u ...
Im p r e s s io n a d o c o m e ssa s afirm aes, o u tr o colega in d a g o u :
- M a s c o m o v ocs v o fazer isso, se n a c ap ela c a n ta ra m c o m o co ra o v o lta
d o p a r a D eus?
N o v a r e sp o s ta s u rp re e n d e n te :
- N s c a n ta m o s a ssim s p a r a a g r a d a r ao diretor...
C o m o o p re sid i rio n o tra b a lh a , ele n o c o n se g u e fazer a lg u m a re se rv a fi
n a n c e ira p a ra , q u a n d o o b tiv e r a lib e rd a d e , p o d e r m a n te r-s e p o r a lg u m te m p o ,
a t c o n s e g u ir e m p re g o , e acaba c a in d o n a reincidncia.
M e d ia n te o tra b a lh o p o ssv e l re g e n e ra r b o m n m e r o d e p re s id i rio s, m a s
esse siste m a d e re c u p e ra o tem sid o d e s c u r a d o p e lo p o d e r p b lico .

2.13COOPERATIVISMO
A p rim e ira c o o p e ra tiv a d e q u e se te m notcia s u r g iu e m 1844, e m R ochdale,
n a In g la te rra , e foi f u n d a d a p rin c ip a lm e n te p o r teceles: a S o c ie d a d e d o s P r o
b o s P io n e iro s d e R ochdale. O objetivo e ra e v ita r a in te rm e d ia o n a c o m erciali

D E S A F IO S D A C I D A D A N I A

z ao d o s p r o d u to s d e n e c e s sid a d e s bsicas, tais com o; m a n te ig a , fa rin h a de


trigo, aveia, ch , a c a r e vela, u m a v ez q u e os o p e r rio s se n tia m -se o p rim id o s
p e lo c a p ita lism o in d u stria l. O s teceles d e R o ch d ale, m a is d o q u e o r g a n iz a r a
c o m ercializao d o s se u s p r o d u to s , tin h a m a n e c e s s id a d e d a c o o p e ra o m tu a
p a r a su b sistir.
O s p rin c ip a is p rin c p io s ro c h d a le a n o s foram ;
r ) p rin c ip io d a livre adeso;
2) p rin c p io d a a d m in is tra o d em o crtica;
3") p rin c p io d o re to rn o n a p ro p o r o d a s c o m p ras;
4") p rin c p io d o s ju ro s lim ita d o s ao capital;
5) p rin c p io d a n e u tr a lid a d e p oltica e religiosa;
6") p rin c p io d o p a g a m e n to e m d in h e iro vista;
7) P rin c p io d o fo m e n to d a e d u c a o c o op erativ a.

N o s E sta d o s U n id o s s u rg iu e m 1990 u m o u tr o m o v im e n to d e c o o p e ra tiv ism o


d e m a r c a d o p e la influ n c ia capitalista, d e n o m in a d o C o o p e ra tiv a s d e N o v a G e
rao - N G C 's. N a sc e u , en to , o m o d e lo d e c o o p e ra tiv a a m e ric a n o , c o m os se
g u in te s p rincpios:
l'') p rin c p io d o q u a d r o d e a sso c ia d o s lim itad o ;
2") p rin c p io d a p ro p o rc io n a lid a d e n a co n trib u i o d e capitai;
3") p rin c p io d a s a es tran sferv eis e apreciveis;
4") p rin c p io d o c o n tra to d e com ercializao;
5") p rin c p io d o c o n tro le p ro p o rc io n a l ao in v e stim e n to .
A n o ss a legislao so b re o c o o p e ra tiv ism o d e 1971 (Lei 5 7 .6 4/7 1), p o r essa
r a z o ela se e s p e lh a n o n ic o m o d e lo e x is te n te n a p o c a , q u e o m o d e lo
r o c h d a le a n o , s e n d o im p o ssv e l n o Brasil se r c o n s titu d a u m a s o c ie d a d e c o o p e
rativ a sob m o d e lo am erican o. A lg u n s q u e r e m s u s te n ta r q u e a q u i h o m o d e lo
a m e ric a n o , e m v ir tu d e d o c o n tra to d e in te g ra o p a r a c riao d e av es e n tre a
s o c ie d a d e c o o p e ra tiv a e o c o o p e ra d o . C o n tu d o , e ssa relao e n tre a co o p e ra tiv a
e o c o o p e r a d o p o r m e io d e sse tipo d e c o n tra to a to n o -c o o p e ra tiv o , o q u e
esfacela a q u e la a rg u m e n ta o .
I m p e n d e o b se rv a r q u e , n o o b sta n te tais d isc u ss e s, h o u v e u m a ev o lu o
e m relao a o c o o p e ra tiv ism o , ta n to q u e n o C o n g re sso d e M a n c h e te r, e m 1995,
a A lian a C o o p e ra tiv a In te rn a c io n a l a p r o v o u os se g u in te s p rin c p io s coo p e ra ti
vos;
1" p rin c p io - a d e s o livre e v o lu n tria;

145

1 4 6

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

T p rin c p io - c o n tro le d e m o c r tic o p e lo s scios;

3" p rin c p io - p a rtic ip a o econ m ica d o s scios;


4" p rin c p io - a u to n o m ia e in d e p e n d n c ia ;
5" p rin c p io - e d u c a o , tre in a m e n to e inform ao;
6" p rin c p io - c o o p e ra o e n tre cooperativas;
T p rin c p io - p re o c u p a o c o m a c o m u n id a d e .

O c o o p e ra tiv is m o b ra sile iro c o m e o u n a a g ric u ltu ra e ficou re strito a esse


s e g m e n to p o r lo n g o te m p o . A g o ra , o u tro s seto res, in c lu s iv e o c o m e rc ia l e o
b an crio , v e m s u a s g ra n d e s v a n ta g e n s , com o aco n te c e u c o m o Banco C o o p e ra
tivo S icredi S / A - B ansicredi, q u e n a s c e u e m 1 6 / 1 0 /9 5 , e o B ancoob (Banco
C o o p e ra tiv o d o Brasil S.A.), q u e e m 2 1 / 0 7 / 9 7 foi a u to r iz a d o a fu n c io n a r. A
m a io ria d o s b ra sile iro s a in d a est ctica q u a n to s v a n ta g e n s d o c o o p e ra tiv ism o ,
d e v id o ao q u e o c o rre u n o Brasil e m p a s s a d o n o m u ito dista n te : h o u v e r p id a
e x p a n s o d ele, p o r m q u e m se ben eficiava e ra m a s d ire to ria s d a s co o p e ra tiv a s,
e n o o s c o o p e ra d o s , e in m e r a s d elas ficaram insolventes.
O c o o p e ra tiv ism o d e v e re s u lta r d e p r o f u n d a so lid a rie d a d e , q u e se to rn a fonte
d e s a u d v e l d e s e n v o lv im e n to , co m o o c o rre u e m M o n d ra g n , n a E sp a n h a , o n d e
a c o o p e ra tiv a p a ss o u a fu n c io n a r co m o ala v a n c a d a p r o d u o local e d e d e s e n
v o lv im e n to regional;

MONDRAGN CORPORACIN COOPERATIVA - MCC


6 0 .0 0 0

COOPERADOS

N M E R O DE EM PR ESA S Q U E C O M P EM MCC;
-IN D S T R IA S ;

119

- C R D IT O ;

- CONSUMO;

- A G R C O L A :

- EDUCAO;

- P E S Q U IS A ;

-S E R V I O S ;

10

-T O T A L
4 P IL A R E S ;

147
- E D U C A C IO N A L ( M O N D R A G N U N I V E R S I D A D )
- F IN A N C E I R O (C A J A L A B O R A L )
- S O C IA L ( L A G U N A R O )
- T E C N O L G I C O (IK E R L A N - S A IO L A N )

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

P a s sa m o s a n a r r a r a h ist ria d e u m a c o o perativa.


U m a e m p r e s a m u ltin a c io n a l, a C o n ti leos, c o n s tru iu u m a in d s tr ia d e le
os ao la d o d a C o c a m a r - C o o p e ra tiv a d o s C a fe ic u lto re s e A g ro p e c u a ris ta s de
M a rin g

q u e n a sc e u a p e n a s co m o C o o p e ra tiv a d o s C a fe ic u lto re s d e M aring.

A q u e la e m p r e s a e ra s u b s id i ria d a C o ntin en ta l G rain, e m p r e s a a m e ric a n a d e


g r a n d e p o rte , q u e a c a b o u e n tr a n d o e m d ific u ld a d e s fin a n c e ira s n a d c a d a d e
1990. E ssas d ific u ld a d e s fo ra m a u m e n ta n d o , e a C o n ti le o s a c a b o u s e n d o v e n
d id a p e la C o n tin e n ta l G rain , q u e era a e m p re sa -m e , e m 2000 p a r a a Cargil. A
C o n ti leo s tin h a v rio s ra m o s d e neg cios, m a s o p rin c ip a l era re la c io n a d o
c o m g ro s, p rin c ip a lm e n te d e soja. Era q u a n to a esse p r o d u t o q u e ela concorria
c o m a C o cam ar.
Em m e a d o s d a d c a d a d e 1970, j se d isc u tia u m p ro je to d e insta la o da
in d s tria d a C o cam ar. O e n t o p re s id e n te d e ssa c o o p e ra tiv a foi p r o c u r a d o p e
los d ire to re s d a C o n ti leos, q u e lhe o fe re c e ram v a n ta g e n s n o especificadas
p a r a n o c o n s tr u ir a in d s tr ia d a C oc a m a r. N a d a d e c o n c re to foi o ferecido,
p o r q u e o p r e s id e n te d a C o c a m a r rec h a o u q u a lq u e r d is c u s s o a resp eito . N a
po ca, os fin a n c ia m e n to s p a r a in d s tria s d e leo e ra m fceis e a lta m e n te su b s i
d ia d o s, c o m g r a n d e s v a n ta g e n s p a r a os to m a d o re s . A l m d o fin a n c ia m e n to p a ra
c o n stru o d a in d s tr ia , h a v ia u m v o lu m e m u ito alto d e c ap ital d e g iro d e s tin a
d o a in c e n tiv a r as ex p o rta e s, ta m b m a cu sto m u ito baixo. Se b e m a p licad o ,
esse c a p ital d e g iro n o m e rc a d o financeiro, p o r si s ele j p a g a v a o fin an cia
m e n to d a co n stru o .
A C o c a m a r c o n s tru iu su a fbrica e m 1978, q u a n d o j h a v ia m m i n g u a d o as
fo n te s d e fin a n c ia m e n to p a ra c o n stru o d e in d s tria s e p ra tic a m e n te a c a b a d o
o fin a n c ia m e n to d e ca p ital d e giro a baixo custo. G a sto u v a lo r e q u iv a le n te ao de
1.100.000 sacos d e soja p a ra co n stru ir, e ao lo n g o d e 10 a n o s p a g o u v a lo r e q u i
v a le n te ao d e a p e n a s 150.000 sacos d e soja, g raas p rin c ip a lm e n te inflao.
A o lo n g o d o se u fu n c io n a m e n to , m e s m o c o m ta n ta s fa c ilid a d e s e incentivos
e x p o rta o , a C o n ti leos s a c u m u lo u p re ju z o s, d e v id o crise p e la q u a l a
e m p re s a p a s s a v a n o s EUA. Esses p re ju z o s a c a b a ra m s e n d o a tra e n te s p a r a a
C evai, e m p r e s a b rasile ira p e rte n c e n te ao g r u p o H e rin g , d e S an ta C a ta rin a , q u e
cresceu a p a r tir d e in c e n tiv o s fiscais, p rin c ip a lm e n te d a ise n o d e ICM S conce
d id a p o r e s ta d o s in te re s sa d o s e m d e s e n v o lv e r a in d u stria liz a o . Esse tipo de
ince n tiv o s u b s titu iu a farra d o s fin a n c ia m e n to s com co rreo e ju ro s fixos em
p oca d e inflao. Em 1989, q u e m c o m p ra sse e m p r e s a c o m p re ju z o n o exerci-

148

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

cio a n te rio r p o d ia a b a te r aq u e le p re ju z o d o im p o s to d e r e n d a a p a g a r. A Cevai,


q u e e sta v a g a n h a n d o m u ito d in h e ir o n a q u e la p o c a , p r a tic a m e n te g a n h o u a
in d s tria C o n ti leos, ao a d q uiri-la.
A p a r t i r d e m e a d o s d a d c a d a d e 1990 a f a rra d o s in c e n tiv o s fiscais c o n
c e d id o s p e lo s e s ta d o s t a m b m a c a b o u , e a C e v a i (n a p o c a , a m a io r e s m a g a
d o r a d e soja d o B rasil) foi v e n d i d a p a r a a m u ltin a c io n a l B u n g B o rn , a n tig a
S A N B R A /M o in h o S a n tis ta . A C e v a i s a iu d o n e g c io d e so ja e m b o ls a n d o
m u ito d in h e ir o .
A fbrica B u n g Born, c o n c o rre n te d a C o c a m a r, s p ro c e s sa v a soja d e o u tro s
e sta d o s, p rin c ip a lm e n te d o M a to G ro sso d o Sul e M a to G rosso . C o m o fim d os
in cen tiv os, e te n d o q u e p a g a r ICM S n a tra n sfe r n c ia p a r a o P a ra n , ficou difcil
m o v im e n ta r a in d s tr ia c o m soja d e o u tro s e sta d o s. A d ic io n e -se q u e p a s s o u a
c a p ta r p o u c a soja n a reg io , p o r q u e o c o o p e ra tiv is m o m u ito forte n o Paran .
E ssas fo ra m as ra z e s d a tran sfe r n c ia d a in d s tr ia B u n g B o m p a r a o M ato
G rosso. A B u ng e A lim e n to s, n o v a d e n o m in a o d o g r u p o B u n g Born, a p e n a s
m a n t m o s a r m a z n s p a r a o tra n s b o rd o d e m e rc a d o ria s, u tiliz a n d o o sistem a
fe rro virio .
G raas fora d o c o o p e ra tiv ism o , u m a m u ltin a c io n a l b a te u a sas p a r a o u tro
local...
C ite-se o u tr o e x e m p lo , ta m b m d e M a rin g; o S istem a d e C o o p e ra tiv a s d e
C r d ito In te g ra n te s d o B ancoob - SICOOB (Sistem a d e C o o p e ra tiv a s d e C r d ito
d o Brasil).
C o m o s e m p re , n o incio h o u v e m u ita s d ific u ld a d e s. A s p rin c ip a is foram :
-

d e s c o n h e c im e n to d o negcio;

d e sc o n fia n a e receio d o s coo p erad o s;

legislao restritiva;

carn cia d e p ro fissio n a is g aba rita d o s;

p o u c o s e x e m p lo s b e m -su c e d id o s n e sse tip o d e c o o perativ a;

c o n corrn cia e in ev itv el c o m p a ra o com bancos;

p o u c o s re c u rso s tecnolgicos;

falta d e e sp rito s o lid rio d o seg m en to ;

exign cia d e benefcios im ed iato s;

d e s c o n h e c im e n to d o s p rin c p io s c o o perativistas;

falta d e d e d ic a o d o s d irig entes.

M e sm o assim , o Sicoob M e tro p o lita n o iniciou su a s a tiv id a d e s e m 2 9 / 1 1 /9 9 ,

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

co m 26 c o o p e ra d o s f u n d a d o r e s , c a p ital inicial d e R$ 35.000,00 e m o v im e n to , no


p rim e ir o m s d e fu n c io n a m e n to (d e z e m b ro d e 1999), d e R$ 235.583,86.
N o incio, h a v ia 6 fu n c io n rio s e a p e n a s 1 ag ncia. A tu a lm e n te h 75 fu n cio
n rio s, 14 e sta g i rio s e 7 ag n cias (4 e m M a rin g , 1 e m S a ra n d i, 1 e m A ra p o n g a s
e 1 e m C ianorte).
E v o lu o d o s re c u rs o s d o S ico ob M e tr o p o lita n o
Dado/Ms

Dez./99

DezVOO

Dez./01

Dez./02

Jan./03

Dep. vista

43.872

895,397

2 .4 81,000

3 .9 4 7 ,2 2 0

5.8 55,553

Dep. a prazo

9 5 .6 3 0

1,136,552

3 ,7 48,986

7,8 24.734

9,168,821

Capital social

96.081

255,074

78 9 ,0 2 8

1,779,443

1.876,717

235.583

2.287.023

7.019.614

13.551.397

16.901.091

Total
Oper. crdito
Resultado

64,535

1.933.123

5.20 8 .0 2 4

11.439.478

12.278.716

-2 8 .1 0 6

54,795

231.532

13.501

20 .1 5 0

64

500

1106

2.626

2.802

Associados

Dado/Ms

Pev./03

MarV03

Abr./03

Malo/03

Jun./03

Jul./03

Dep, vista

5,3 88,999

7 .7 64.585

8.404.615

8 ,2 40,700

8 ,2 3 1 ,7 7 0

7.427,931

Dep, prazo

14.916,551

10.968,685

12,642,442

14,085,981

13.889.017

14.634.391

Capital

2 .0 7 2 .2 6 7

2 .3 2 7 .6 0 7

2 ,6 58,744

2,933.571

3 ,1 4 0 ,1 5 4

3,06 1 ,1 6 0

Total

18.429.95

22.734.634

25.149.341

25.063.288

26.006.316

25.405.642

Crdito

12,261.40

10.858,096

17.133,799

18,630,089

2 1 ,1 8 7 .8 6 9

21,30 7 ,3 6 4

Resultado

14.63

2 9 ,9 4 4

99,145

97,337

103,709

79,955

Associado

3.093

3.240

3,394

3.556

3,817

3,647

Recursos

Centro

Colombo

Shopping

Liberdade

Sarandi

Arapongas

Cianorte

Dep, vista

2 ,9 5 0 .0 5 2

2.20 9 .7 3 6

433,320

112.993

179.081

2,254.441

20 9 ,7 8 3

Dep, prazo

7 .2 3 1 .7 4 3

3.18 4 .7 4 8

1.849.681

85.003

7 0 5 .9 5 7

2 .3 8 9 ,7 7 2

286,513

Capital

1.765,394

524.860

253.731

37,577

2 5 1 .2 8 0

268.811

113,040

TOTAL

11.947.189

5.919.344

2.536.732

235.573

1.136.318

4.913.024

609.336

T alvez o cooperativism o seja a nica form a d e o m b re a r a globalizao, p e rm a


n ec e n d o n a defesa in transigen te do s interesses nacionais. Essa assertiva p o d e p a re
cer visionria, m a s a d e m o n strao d e su a pertinncia ocorreu na A rgentina: com a
d e rro c a d a d a s in stitu ies financeiras d a q u e le pas, a p e n a s as c o o p e ra tiv a s de
crdito se salv a ra m . O s in vestim ento s e os p a trim n io s d e la s so slidos, e n q u a n to
os d o s b anco s flu tu a m , p o r eles serem suscetveis a o m e rc a d o externo. Isso revela
q u e o c o o p e ra tiv ism o n o s p o d e se r a sa lv a o d o s c o o p e r a d o s , c o m o ta m
b m p o d e q u e b r a r u m p o u c o a v o r a c id a d e d a s in stitu i e s financeiras,

1 5 0 " D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

O s servios o fe re c id o s p e la s d e m a is in stituies fin a n c e ira s n o d ife re m d os


o ferecid o s p e la s c o o p e ra tiv a s d e crdito. C o n tu d o , e sta s o ferecem v a n ta g e n s
c o m o c r d ito facilitado, ju ro s m ais baixos, p o s sib ilid a d e d e a p lica es m a is re n
tveis e isen o d e tarifas, b e m c o m o p a rtic ip a o a n u a l n o s r e su lta d o s, p o d e n
d o , inclu siv e, re in v e stir na p r p r ia coo p erativ a.
P o r n o te re m fins lu crativ os, as c o o p e ra tiv a s d e c r d ito p o d e m c o b ra r juro s
m a is b a ix o s q u e o s d e m e rc a d o , p o ssib ilita r m e lh o r r e n ta b ilid a d e d a s a p lic a
es e re v e rte r a s so b ra s d e caixa e m p ro l d o s asso ciado s. Elas s o tim a a lte r
n a tiv a d e c r d ito p a r a a p o p u la o m e n o s favo recid a, in c lu siv e p a r a as m ic ro e
p e q u e n a s e m p re sa s , to rn a n d o -s e in s tru m e n to d e d e s e n v o lv im e n to socioeconm ico d a c o m u n id a d e .
O p r p r io p r e s id e n te L uiz Incio Lula d a Silva, e m d ec la ra e s feitas d u r a n
te o IV C o n g re s so Brasileiro d e C o o p e ra tiv ism o d e C r d ito , re a liz a d o na c id a d e
d e Santos (SP), ressalto u q u e a c o o perativa d e crdito u m a d a s m ais im p o rta n
tes instituies d o Brasil, d iz e n d o -se con v en cid o d e q u e " u m a g r a n d e fe rra m e n
ta p a ra a lterar a lgica a favor d a socied ad e" e a firm a n d o q u e "os b an cos funcio
n a m co m o u m sistem a prisional: e m v ez d e re c u p e ra r, a f u n d a m o cliente".
P a u l Singer, d e p o is d e fazer u m e s tu d o d a ev o lu o h ist rica d o c oo p erativ ism o n o Brasil, enfatiza:

A luta p elo s direito s sociais e s t lon g e d e e n c e r ra d a , m a s m u d o u de


d ire o . A t o fim dos a n o s d o u ra d o s , os direitos sociais e s ta v a m c o n
s ig n a d o s n a leg is la o e s u a o bs e rv n c ia e s ta v a a c a rg o do E s ta do , a s
sim c o m o p re s ta o d e servios q u e d e le s d ec o rriam , c o m o a a s s is t n c ia
s a d e , e d u c a o e p re v id n cia social. A g o ra a prpria s o c ie d a d e
q u e s e to rn a a p ro tag on ista d a solu o dos p ro b le m a s q u e os direitos
sociais p re te n d ia m prevenir. A s s o c ia e s e c o o p e ra tiv a s o rg a n iz a m soli
d a r ia m e n te os s oc ia lm e n te exclu do s com o a po io d e u m a re d e c a d a v e z
m a is a m p la d e a g n c ia d e fom en to . A ssim , p a rte dos d e s e m p r e g a d o s e
dos in e m p re g v e is se re in s ere na e c o n o m ia por s u a prpria iniciativa.

EID J N IO R , W illia m : G ALLO . Fbio. C o o p e ra t iv a s d e c r d ito . D isp o n ve l em: <h ttp ://
(jltimosegundo.ig.com.br> Acesso em 31 mar. 2003,
PINSKEY, Jaime. H is t ria d a cidadania. So Paulo: Contexto, 2003, p. 260.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

C o n tu d o , o Brasil p re c isa a d o ta r u m sistem a c o o p e ra tiv o p r p rio , a in d a q u e


h aja n e c e s s id a d e d e a d e q u a o , a p ro v e ita n d o a lg u n s p rin c p io s ta n to d o siste
m a r o c h d a le a n o q u a n to d o am e ric a n o , e m o ld -lo c o n so a n te a n o s sa re a lid a d e ,
c ria n d o u m h ib r id is m o coo p erativo .
G ilm a r P e ru fo Z olin, q u e a n a liso u c o m p r o f u n d id a d e a m a t ria , p ro p e :

O b s e r v a m o s q u e no Brasil o m o d elo ro c h d a le a n o v e m te n d o dificulda


d e s d e re s p o n d e r s n e c e s s id a d e s atu ais. E n tre ta n to n o p o d e m o s s im
p le s m e n te p ro p o r u m a re lo rm a no c o o p e ra tiv is m o b rasileiro b an in d o e s s e
m o d e lo d e c o o p e ra tiv a , ten d o e m vista a s u a gloriosa distribuio d e ju s
tia social. M a s c o m o difcil, n es s e m o d e lo d e c o o p e ra tiv a , c o n v e n c e r
os c o o p e ra d o s a a p o rta re m capital c o o p e ra tiv a . C o m o difcil m a n te r
um p acto d e c o o p e ra o forte neste m o d e lo d e c o o p e ra tiv a , q u e te m sido
u m m o d e lo t o contraditrio.
O m o d e lo d e c o o p e ra tiv a a m e ric a n o , e m m uitos a s p e c to s , soluciona os
p ro b le m a s d o m o d e lo ro c h d a le an o , c o m o o a p o rte d e c a p ital, a q u e s t o
d a fid e lid a d e , o p acto d e c o o p e ra o , m a s num p as d e s c a p ita liz a d o com o
0 Brasil, p od eria e m muitos c a s o s tra z e r m a is injustias sociais, com o,
por e x e m p lo , a im p ossib ilid ade do c u m p rim e n to d o c on tra to d e c o m e rc i
a liz a o .
E n t o o m o d e lo brasileiro, por s e r um m o d e lo hbrido, p o d e ria s olucionar
a m a io r p a rte d e s s e s p ro b le m a s e a o m e s m o te m p o a m e n iz a r as injusti
a s dos m o d e lo s a lu a is . 0 m o d elo b rasileiro p o d e ria s e r u s a d o e m c o o
p e ra tiv a s c on stitud as sob o m o d elo ro c h d a le a n o c o m m a is d e um s e g
m e n to . E s s a co o p e ra tiv a , q u e c h a m a re m o s d e c o o p e ra tiv a m atriz, p o d e
ria e x p lo ra r o seu s e g u n d o s e g m e n to , por m e io d e u m a c o o p e ra tiv a filial.
N e s te c a s o um gru po , d e no m n im o vinte c o o p e r a d o s d a c o o p e ra tiv a
m a triz, e n v ia ria a o C o n s e lh o d e A d m in is tra o u m a p ro po sta p a ra e x p lo
ra r u m n o v o s e g m e n to ou a p r pria c o o p e r a tiv a m a triz c o n v id a ria um
gru po , d e no m n im o vinte c o o p e ra d o s , p a ra e x p lo ra r e s te novo s e g m e n
to p o r m e io d e u m a outra c o o p e ra tiv a . S e n d o a s s im s e ria c o n s titu d a
u m a n o v a c oo pe ra tiv a ; e s ta seria u m a c o o p e ra tiv a filial, con stitud a sob o
m o d e lo a m e ric a n o , o b v ia m e n te seg u in d o s o m e n te os princpios c o o p e ra tivistas a m e ric a n o s . A c o o p e ra tiv a m atriz particip aria do q u a d ro social da
c o o p e ra tiv a filial e n tre um m n im o e um m x im o d e p o rc e n ta g e m d eter-

1 51

152

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

m in a d o s p o r lei, e c o m b a s e n e s s a p articip ao a c o o p e ra tiv a m a triz ju n


t a m e n te c o m os d e m a is c o o p e ra d o s p ro p o n e n te s investiriam u p f r o n t na
c o o p e ra tiv a filiai. Q u a n to transferib ilid ade e a p re c ia b ilid a d e d a s a e s
en tre os c o o p e ra d o s p ro p o n e n te s ou e n tre e s s e s e a c o o p e ra tiv a m atriz
ou v ic e -v e rs a s e d a ria n o rm a lm e n te c o m o n as c o o p e ra tiv a s d e m o d elo
a m e ric a n o . O c on tra to d e c o m e rc ia liz a o s eria c u m p rid o pelos c o o p e r a
dos p ro p o n e n te s , b a s e a d o no seu direito d e e n tre g a e a c o o p e ra tiv a m a
triz ta m b m cu m p riria e s s e contrato c o m a p ro d u o dos s e u s c o o p e r a
dos q u e p articip am in d ire ta m e n te d a c o o p e ra tiv a filial. O con tro le se ria
p ro porcional a o investim ento, m uito e m b o r a a c o o p e ra tiv a m a triz tive s s e ,
Ind iv idu a lm e nte , u m a possvel m a io r particip ao , m a s o fato d e la e s ta r
re p re s e n ta n d o in d ire ta m e n te tan tos outros c o o p e ra d o s a m e n iz a r ia es ta
s itu a o . O b rig a to ria m e n te a c o o p e ra tiv a m a triz te ria q u e p artic ip a r da
g e s t o d a c o o p e ra tiv a filial m a s e s ta s e ria in d e p e n d e n te d a q u e la . E m
c a s o d e q u e b r a d a c o o p e ra tiv a m atriz os c o o p e ra d o s d a c o o p e ra tiv a filial
te ria m o direito d e p re fe r n c ia s o b re o direito d e e n tre g a d a q u e la c o o p e
rativa, c o m o t a m b m e m c aso d e q u e b ra d a c o o p e ra tiv a filial o direito de
p re fe r n c ia s o b re o direito d e e n tre g a s eria d a c o o p e ra tiv a matriz.
Q u a n d o a c o o p e ra tiv a m atriz p articipa do q u a d ro social d a c o o p e ra tiv a
filial o co rre u m a m aio r distribuio d e justia social, ten d o e m v is ta s e r a
c o o p e ra tiv a m a triz d e m o d e lo ro c h d a le an o . E n t o , s e m a b rir o q u a d ro
social, tod os os c o o p e ra d o s d a c o o p e ra tiv a m atriz, a princpio, p od eria m
p a rtic ip a r d a c o o p e ra tiv a filial, m e s m o q u e in d ire ta m e n te . C o m isso a
c o o p e ra tiv a m a triz n o pre c isa ria e x p lo ra r s e g m e n to s por m e io d e e m
p re s a s m e rc an tis, c o m o v e m o co rrend o c o m a lg u m a s d e n o s s a s c o o p e
ra tivas.
O s c o o p e ra d o s p ro p o n e n te s , com m aio r s e g u ra n a ju rdica, investiriam
u p fr o n t g ra n d e p arte do capital social d a c o o p e ra tiv a , s o lu c io n a n d o um
g ra n d e p ro b le m a d a s c o o p e ra tiv a s ro c h d a le a n a s . A q u e le s c o o p e r a d o s
q u e n o p u d e s s e m p articipar d ire ta m e n te d a c o o p e ra tiv a filial, p o r e s ta
re m d e s c a p ita liza d o s , p o d e ria m p articipar in d ire ta m e n te p o r m e io d a c o
o p e ra tiv a m atriz.
O s c o o p e ra d o s p ro p o n e n te s teria m , p re s u m id a m e n te , m a io r c o n d i o d e
c um prir ou sofrer a s s a n e s diretas pelo n o -c u m p rim e n to do c on tra to
d e c o m e rc ia liz a o . O s c o o p e ra d o s d a c o o p e ra tiv a m atriz, n e s te caso,

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

p o d e ria m p articip ar d a c o o p e ra tiv a filia! s e m s o fre r e s s e risco direto, por


q u e q u e m re s p o n d e d ire ta m e n te p elo n o -c u m p rim e n to d e s te c on tra to
a c o o p e ra tiv a m atriz.
C o m o m o d e lo d e c o o p e ra tiv a brasileiro, a l m d a s g ra n d e s c oo p e ra tiv a s
d e m o d e lo ro c h d a le an o , te ra m o s a possibilid ad e d e te r c o o p e ra tiv a s fili
ais d e m o d e lo a m e ric a n o , s e n d o q u e e s ta s e s ta ria m interlig adas s c o o
p e ra tiv a s m a trize s n u m a s estrutura, ten d o u m a d im inu i o d e custos,
a u m e n to d a s e g u ra n a ju rd ic a , fac ilid a d e no a p o rte d e c a p ita l, m a io r
p ro b a b ilid a d e d e suc e s s o, forte p acto d e c o o p e r a o e g ra n d e c o o p e r a
o e n tre e s s a s coo p e ra tiv a s .
E n t o e n te n d e m o s q u e a l m d e s e r c riad o o m o d e lo d e c o o p e ra tiv a b ra
sileiro d e v e s e r m an tid o o m o d elo d e c o o p e ra tiv a ro c h d a le a n o e ta m b m
a d o ta d o o m o d e lo d e c o o p e ra tiv a a m e ric a n o , p o d e n d o e s s e s dois m o d e
los s e re m u sa d o s , ind ividu alm ente. D e s ta fo rm a te r a m o s trs m o d elo s
d e c o o p e ra tiv a s , c o m a possibilidade d e s e usar, c o n fo rm e o c a s o c o n
c re to , q u a lq u e r um d e s s e s m o d elo s . P a r a isso p re c is a r a m o s d e u m a
a m p la re fo rm a na leg is la o c o o p e rativista brasileira. A s s im te ra m o s um
c o o p e ra tiv is m o m a is forte e c a d a v e z m a is justo .

Q u a lq u e r q u e seja a fo rm a q u e se v e n h a a a d o ta r, c o n s o a n te as p e c u lia rid a


d e s d e c a d a a tiv id a d e , o essen cial q u e c o o p e ra tiv is m o e m e rg iu d o v e rb o coo
p e ra r; p o r isso, n e ssa m t u a a ju d a a c a m in h o d o d e s e n v o lv im e n to eco n m ic o e
social, n o p o d e m o s e sq u e c e r q u e o c o o p e ra tiv ism o a fora v iv a d a p tr ia em
fo rm a d e u n i o . So as m o s u n in d o -s e e m so lid a rie d a d e .

2.14 SISTEMA FINANCEIRO


2.14.1 A legislao a favor dos bancos
P a rte sig n ificativ a d a legislao brasile ira est c o m p r o m e tid a c o m as in sti
tu i es fin a n c e ira s, o q u e c o m p ro m e te o b e m c o m u m , p o is e m b o ra o D ireito d
n fase p r e p o n d e r n c ia d o b e m -e sta r coletivo, s o b re os in te re sse s p r iv a d o s, os
in te re sse s d a s in stitu i e s fin an ceiras tm s o b re p u ja d o a todos.
L. J. L e b re t j a d v e rtia : " N u m a so c ie d a d e e m q u e o s e s p e c u la d o re s conse-

MBA Cooperativismo, Fundace - USP - Universidade de So Paulo, monografia ainda no publicada.

1 54

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

g u e m n o s s a lv a g u a r d a r os se u s interesses, m a s d a r-lh e s u m a p ro te o c o n s
titucio n al, im p o ssv e l in s ta u r a r o b e m c o m u m . D isso lvem -se, n e ssa p e rs p e c ti
va falsa, as a n tig a s fo rm a s d e s o lid a rie d a d e h u m a n a " .
So a stro n m ic o s o s lucros q u e o s b a n c o s a u fe re m , e m c o m p a ra o com as
d e m a is e m p re s a s b ra s ile ira s , p e lo d o m n io n o rm a tiv o q u e c o n s e g u ira m
escalonar. G r a n d e p a r te d e sta s, n a e sp e ra n a d e salv ar-se re c o rre n d o a e m p r s
tim os e fin an ciam en to s, n a v e r d a d e esto p is a n d o e m te rre n o p a n ta n o s o , e m u ita s
v e z e s a c a b a m e n tr e g a n d o aos b a n c o s o s e u p a trim n io ... P o r essa ra z o , c o n
v m , a in d a q u e sin te tic a m e n te , fazer a lg u m a s p o n d e ra e s so b re a m atria.

2.14.2 Juros e capitalizao


A C o n stitu i o F ed eral, n o artig o 192, 3", lim ito u o s ju ro s a 12% ao ano,
v isa n d o c o n te r a u su ra .
O c ristian ism o , d e s d e s u a orig e m , c o m b a te u a u s u ra . Tal fato ilu s tr a d o p o r
F u lto n S heen, a p a r tir d e e p is d io d o E v a n g e lh o d e So M arco s s o b re o po ssesso e o s p o rc o s, p o r ocasio d a visita d e Jesus C risto ao p a s d o s geraseno s:

H a v ia n a q u e le p a s um jo v e m p o s s e ss o d o esprito im u nd o q u e h a b ita v a
nos s e pu lcro s e q u e n in g u m c o n segu iu subjugar, n e m m e s m o c o m gri
lh es. D e s p e d a o u vrias v e z e s os grilhes e a s a lg e m a s , e c o s tu m a v a
v a g u e a r p ela s m o n ta n h a s e e m re d o r dos sepu lcro s, g ritando e c o n tu n
d in d o -s e n as p ed ra s . J e s u s Cristo a p ro x im o u -s e d e le e disse: - Esprito
im undo, sai d e s te h o m e m . S a in d o do jo v e m , os e sprito s im u nd o s e n tra
ra m n u m a v a ra d e porcos, e os porcos e m n m e ro d e q u a s e dois mil
p re c ip ita ra m -s e no m a r c o m g ra n d e violn cia e no m a r s e a fo g a ra m . V e n d o
Isto, os d on os dos porcos v ie ra m te r c o m J e s u s e v ira m o jo v e m a o lado
d Ele, a g o ra j c u ra d o , b e m vestido e e m p le n a p o s s e d e s u a s fa c u ld a
d es . O s g e ra s e n o s n e n h u m inte re s s e tin h am pelo jo v e m , m a s s pelos
s e u s porcos. P o r isso d is s e ra m a J e s u s p a ra s a ir d e s u a s terras.
V e rte n d o a lin g u a g e m dos g e ra s e n o s e m n os s a lin g u a g e m industrial m o
d e rn a . a re s p o s ta do c apitalism o a o cristianism o fo rm u la -s e c o m o segue:
-

S e v ie ste aqui p re g a r a d ig n id ade d o h o m e m e o sa lrio vital, e o ca s io -

S u icd io o u s o b re viv n cia d o O c id e n te ? T ra d u o de Benevenuto de Santa Cruz. 3. ed. So Paulo:


Duas Cidades, 1964, p. 365.

D E S A F IO S DA C I D A D A N I A !

155

n a r a s s im a p e rd a d e n ossos lucros; se ju lg a s q u e a re s ta u ra o do h o
m e m e m s u a h u m a n id a d e v a le m a is q u e a p ro p r ie d a d e , e n t o sai de
n o s s a s terras.
E s ta v a m os g e ra s e n o s muito m a is in te re s s a d o s nos porcos d o q u e no
h o m em ; m a is p ertu rb a d o s com a p erd a d e a lg u m a p a rte d e s u a riq u e za
m aterial d o q u e c o m a re s ta u ra o dos direitos e d a d ig n id a d e h u m a n a .
T o rn a ra m -s e a s s im o sm bolo, e m n ossos dias, d a q u e le s p a ra q u e m os
lucros t m m a is a lta significao q u e os direitos h u m a n o s .*''

V eja-se a d e sc ri o q u e Balzac faz d o a v a r e n to a g io ta Sr. G ra n d e t:

O o lh a r d e um h o m e m a c o s tu m a d o a tirar d e s e u s c a p itais um juro e n o r


m e a d q u ire n e c e s s a ria m e n te , c o m o o do libertino, o do jo g a d o r ou do
co rte s o , c e rtos hbitos indefinveis, m o v im e n to s furtivos, v id o s , m is te
riosos, q u e n o e s c a p a m a o s c orreligionrios. E s s a lin g u a g e m s e c re ta
constitui d e certo m o d o a m a o n a ria d a s paixes".

d ire ito p o sitiv o b ra sile iro s e m p re p r o c u r o u c o m b a te r a u su ra . J e m 0 7 /

0 4 /3 3 foi b a ix a d o o D ecreto n'' 22.626, q u e tin h a p o r fin a lid a d e " re g u la r, im p e


d ir e r e p r im ir o s excessos p ra tic a d o s p ela u s u r a " , v isto q u e " d e in te re sse s u
p e rio r d a e c o n o m ia d o p a s n o te n h a o c a p ital re m u n e r a o e x a g e r a d a im p e
d in d o o d e s e n v o lv im e n to d a s classes p r o d u to r a s " . Esse d e c re to a p re s e n ta , e n
tre o u tro s , os s e g u in te s dispositivos;

Art. 1 v e d a d o , e s e r punido nos term o s d e s ta lei, e s tip u la r e m q u a is


q u e r co n tra to s ta x a s d e juros s u p e rio re s a o d o b ro d a ta x a le g a l (C d .
Civil, art. n^ 1 .0 6 2 ).
(. .. )

Art. 2 - v e d a d o , a p re te x to d e c o m is s o , re c e b e r ta x a s m a io re s do q u e
a s p erm itidas por e s ta lei.
(...)
Art. 4 - proibido c o n ta r juros dos juros; e s ta proibio n o c o m p re e n d e
SHEEN, Fulton J.

0 problema da liberdade. Traduo de Augusto de Melo Saraiva. 7. ed. Rio de

Janeiro: Agir, 1962, p. 74.


BALZAC, Honor de.

Eugnia Grar)del So Paulo; Abril Cultural, 1971, p, 22.

156"

D IR C U G A L D IN O C A R D IN

a a c u m u la o d e juros v e n cid os a o s saldos lquidos e m c o n ta c orre n te


d e a n o a a no .
Art. 5 A d m ite -s e q u e p e la m o ra dos juros c o n tra ta d o s e s te s s e ja m e le v a
d os d e 1 % e n o mais.
(. .. )

Art. 8 A s m u ltas ou cl u s u la s p en ais, q u a n d o c o n v e n c io n a d a s , re p u ta m s e e s ta b e le c id a s p a ra a te n d e r a d e s p e s a s judiciais e hon orrios d e a d v o


gad o s , e n o p o d e r o s e r exigid as q u a n d o n o for in te n ta d a a o judicial
p a ra c o b ra n a d a res p e ctiv a obrigao.
Art. 9 N o v lid a a c l u s u la p en a l s up e rio r im p ortn c ia d e 1 0 % do
v a lo r d a dvida.
(...)
Art. 13. c o n s id e ra d o delito d e u su ra to d a a s im u la o ou p r tic a te n
d e n te a o c u lta r a v e rd a d e ira ta x a d o juro ou a fra u d a r os dispositivos
d e s ta lei, p a ra o fim d e s ujeitar o d e v e d o r a m a io re s p re s ta e s ou e n c a r
gos, a l m dos e s ta b e le c id o s no respectivo ttulo ou instrum ento.
( . .. ) .

T o d a v ia , a tra v s d a S m u la n 596, d e 1 5 /1 2 /1 9 7 6 , o STF a s sim decid iu :

A s d is p o s i es do D e c re to 2 2 . 6 2 6 d e 1 9 3 3 n o s e a p lic a m s ta x a s de
juros e a o s outros e n c a rg o s co b ra d o s n as o p e ra e s re a liz a d a s p o r insti
tuies pblicas ou p rivadas q u e in te g ra m o s is te m a fin a n c e iro n a c io n a l.

P o ste rio rm e n te , a C F /8 8 , n o a rtig o 192, 3, estabeleceu:

3 A s ta x a s d e juros reais, n ela s includas c o m is s e s e q u a is q u e r o u


tras re m u n e ra e s d ireta ou in d ire ta m e n te referid as c o n c e s s o d e c r
dito, n o p o d e r o s e r s up erio res a d o z e por c e n to a o ano : a c o b ra n a
a c im a d e s te limite s e r c o n c e itu a d a c o m o crim e d e u su ra , p unido, e m
tod as a s s u a s m o d a lid a d e s , nos term o s q u e a lei determ inar".

T o d a v ia , n o s so s trib u n a is s u p e rio re s t m re ite ra d a m e n te d e c id id o q u e esse


p argrafo

n o r m a d e eficcia lim ita d a , o u seja, q u e ele n o

d e p e n d e n d o d e lei r e g u la m e n ta d o ra .

au to -a p lic v e l,

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

C o m isso, os b a n c o s e st o lib e ra d o s p a r a a c o b ra n a d e ju ro s v e r d a d e ir a
m e n te extorsivos.
M a is re c e n te m e n te , o p r p r io P o d e r E x e cu tiv o p a s s o u a c o m p a c tu a r com
isso, a tal p o n to q u e foi b a ix a d a a M e d id a P ro v is ria n 1.963-17, d e 3 0 / 0 3 /
2000, cuja ltim a re e d i o d e u -se e m 2 1 /1 2 /2 0 0 0 . A M e d id a P ro v is ria atu a l
q u e re g e a m e s m a m a t ria a d e n" 2.170-36, d e 2 3 /0 8 /2 0 0 1 , n a q u a l consta;

"Art. 53 N a s o p e ra e s re a liz a d a s p ela s instituies in te g ra n te s d o S is te


m a F in a n c e iro N a c io n a l, a d m is sv e l a c a p ita liz a o d e juros c o m perio
d ic id a d e inferior a um a n o .

A ssim , in stitu c io n a liz o u -se a v e rd a d e ira e x to rs o q u e v in h a s e n d o p ra tic a


d a p e lo s b an cos.
D iz Joo D o m in go s:

C o n tra ria n d o a c h a m a d a Lei d a U s u ra (D e c re to 2 2 . 6 2 6 / 1 9 3 3 ) e a S m u


la 121 d o S u p re m o Tribu n al F e d e ra l ( S T F ) , q u e p ro b e m a c o b ra n a d e
juros s o b re juros, a M e d id a Provisria 1 .9 6 3 , q u e e s t e m s u a d c im a
n o n a re e d i o , a d m ite a c a p ita liz a o d e juros c o m p erio d ic id a d e inferior
a u m a n o . A M P p as s o u a auto rizar a c o b ra n a d e juros s o b re juros d e s d e
a re e d i o p a s s a d a , s u a d c im a o itava, re a liz a d a no dia 2 7 d e abril p a s
s a do .
O

d e p u ta d o A rton X e r e z ( P P S -R J ) fe z a s co n tas e concluiu q u e e m a p e

n as d e z m e s e s o prejuzo d e um a pesso a q u e estiver d e v e n d o R $ 1 0 .0 0 0 ,0 0


no c h e q u e e s p e c ia l s e r d e R $ 5 .0 0 0 ,0 0 . O u s e ja, s e m a c o b ra n a de
juros s o b re juros, e e s ta n d o a ta x a d o c h e q u e e s p e c ia l e m 9 % a o m s , ao
final d e d e z m e s e s a p e s s o a e s ta r d e v e n d o R $ 1 9 . 0 0 0 , 0 0 . M a s . n a c o
b r a n a d o s ju ro s s o b re o s ju ro s , s u a d v id a no p e r o d o s e r d e R $
2 4 .0 0 0 ,0 0 ".'^ ^

P ara a p a r e n ta r p re o c u p a o com a u s u ra , o p o d e r E x e cutivo b a ix o u a M P


2.172-32, d e 2 3 / 0 8 / 0 1 , q u e estabelece:

DOMINGOS, Joo. M e d id a a u to riza ju ro s s o b re ju ro s . In Gazeta Mercantil", 9 a 11 de junho de 2000,


p. A -13.

1 57

1 58

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

Art. 1 S o nulas d e pleno direito as e s tip u la e s u su rrias, a s s im con s i


d e r a d a s a s q u e e s ta b e le a m :
I - nos con trato s civis d e mtuo, tax a s d e juros s u p e rio re s s le g a lm e n te
p erm itidas, c a s o e m q u e d e v e r o juiz, s e requerido, a ju s t -la s m e d id a
legal ou, na h ip te s e d e j te re m sido cum prida s , o rd e n a r a restituio,
e m dobro, d a q ua n tia p a g a e m exc es s o , com juros le g a is a c o n ta r d a d a ta
do p a g a m e n to indevido;
(...)

P a r g ra fo nico. P a ra a con fig u rao do lucro ou v a n ta g e m exces s iv os ,


c o n s id e ra r-s e - o a v o n ta d e d as partes, as circ u ns tn c ia s d a c e le b ra o
d o con trato , o seu c o n te d o e n atu re za , a o rige m d a s c o rre s p o n d e n te s
o b rig a e s , a s prticas d e m e rc a d o e a s ta x a s d e juros le g a lm e n te p e rm i
tidas.
Art. 2 S o ig u a lm e n te nulas d e p len o direito as d is p o s i es con tratu ais
q ue, c o m o pretexto d e c onferir ou transm itir direitos, s o c e le b ra d a s para
garantir, d ire ta ou ind ire ta m e n te , con trato s civis d e m tuo c o m estipula e s usurrias.

T o d a v ia , e m tal M P c o n sta u m m a lfa d a d o artig o 4:


"Art. 4 - A s d isp osi es d e s ta M e d id a Provisria n o s e a p licam :
I - s instituies fina n c e iras e d e m a is Instituies a u to riz a d a s a funcio
n a r pelo B a n c o C e n tral do Brasil, b e m c o m o s o p e ra e s re a liz a d a s nos
m e rc a d o s financeiro, d e c a p itais e d e v a lo res m obilirios, q u e c o n tin u am
re g id a s p e la s n o rm a s legais e re g u la m e n ta re s q u e lhe s s o aplicveis;
(...) .

A ssim , leg alizo u -se o m o n o p lio d a a g io ta g e m p a r a as in stitu i e s fin an cei


ras, q u e , a o m s, p o d e m p a g a r ju ro s d e m eio p o r cen to e e m p r e s ta r a ju ro s
s u p e rio re s a 12% ao ano, ta n to a ssim q u e a E m e n d a C o n stitu c io n a l n"' 40, d e 2 9 /
0 5 /2 0 0 3 , e lim in o u tal lim ite.
G iacom o Rizzo, A n d e rso n d e A zevedo e H en riq u e A fonso Pipolo p o nd eram ;

'(...) pode-se d iz e r q u e a capitalizao, c o m o e le m e n to c o m p o n e n te da

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

ta x a d e juros, se constitui e m fator q u e te n d e , ju n ta m e n te c o m o perc e ntua l,


a a u m e n t -la . A c a p ita liza o e a tax a , d e p e n d e n d o d a p erio d ic id a d e da
prim e ira e d a m a g n itu d e d a s e g u n d a , c o n c o rre m , e m c onjunto ou s e p a r a
d a m e n te , p a ra q u e u m a t a x a de juros n orm a l, p o s s a to rn a r-s e usurria. A
u s u ra fere os bons c o s tu m e s d a s o c ie d a d e , q u e d e v e m s e r n e c e s s a ria
m e n te p re s e rv a d o s pelo o rd e n a m e n to jurdico.
O Executivo, a o privilegiar o s is te m a fin a n c e iro nac io na l, p erm itind o-lhe
a c a p ita liz a o d e juros a t diria, se e s tiv e s s e c o n v e n c id o d e q u e a c a p i
ta liz a o n o re p re s e n ta n e n h u m m al p a r a a s o c ie d a d e , te r ia d e rro g a d o
c o m p le t a m e n t e o a rtigo 4 d o D e c re to 2 2 . 6 2 6 / 3 3 . D a fo r m a c o m o agiu,
p riv ileg ia n d o um dos s e to re s m a is ricos e p o te n te s , e m d e trim e n to dos
d e m a is s e to re s d a s o c ie d a d e , fere n o a p e n a s o princp io c o n s titu c io
nal d a is o n o m ia , m a s o prprio es p rito social d a C o n s titu i o . P e r g u n
ta -s e ; q u o v lid a u m a n o rm a ju rd ic a q u e diz, e m o u tra s p ala v ra s ,
q u e d e t e r m in a d a n o rm a , cuja fin a lid a d e a p r e s e r v a o d o s bon s c o s
tu m e s d a s o c ie d a d e , n o se aplica a u m d e te rm in a d o s e to r d e s ta m e s m a
s o c ie d a d e ? '**'

] R a lp h S a p o z n ik afirm a:

"U m e x e m p lo b a n a l d a im p ortn c ia d es s a s re g ra s fo i-n o s o fe re c id o p elo


g ra n d e p e n s a d o r a u s tra c o F rie d e rich H a y e k : P o u c o im p o rta s e dirigi
m o s n o s s o s carros do lado direito ou do lado e s q u e rd o ; fu n d a m e n ta l
q u e tod os d irijam os d o m e s m o la d o .
E m n os s a d e m o c ra c ia tropical, v e m o s u m a e s tra n h a e p erig o s a a lte ra
o d e s s a lgica. Im p e-se aos particu lares limites n a c o b ra n a d e juros
aos 1 2 % a o a n o constitucionais e p ro b e m -n o s c a p ita liz a r os juros, e x c e
o feita s instituies financeiras, q u e p o d e m fa z e r o q u e b e m e n te n
d e m . E q iv a le a e s ta b e le c e r o 'lado' p a ra s e c onduzir, a b rin d o -s e , p orm ,
e x c e o a c a m in h e s , q u e p o s s a m c o rre r s e m limite d e v e lo c id a d e , do
lado o po sto e contrrio e s ta b e le c id o p a ra os a u to m v e is d e p a s s e io . 0

RIZZO, Giacomo; AZEVEDO, Anderson de; PI POLO, Henrique Afonso. A inconstitucionalidade do


artigo S- da MP 1.963-17, que admite a capitalizao dos juros com periodicidade inferior a um ano.

In R e p e rt rio d e Ju risp ru d n cta , l - quinzena de maio de 2001, caderno 3, p. 185.

1 5 9

1 60

O IR C E U G A L O IN O C A R D IN

a rg u m e n to to rn a -s e a in d a m a is surreal q u a n d o o uvido s os c la m o re s d e s
s as m e s m a s instituies financeiras...
p roibido c o n ta r juros d e juros. proibido a c u m u la r juros v e n c id o s ao
principal, salvo c o m p eriod icidade a n u a l. Tal proibio resulta d o d e s e n
v o lv im en to d a civiliza o ocidental. p arte d e se us v a lo re s m a is antigos
e seu c on ceito p e rm e ia a prpria s u s te n ta o d e n o s s a cultura.
U m a s o c ie d a d e cujos recursos s o d re n a d o s por s e to re s d e p u ra inter
m e d ia o , s e m a s s u n o do risco, te n d e a o e s fa c e la m e n to . A fu n o dos
inte rm e di rio s fina nc e iros p ro m o ve r liquidez a o m e rc a d o e a s s u m ir p arte
do risco d a e c o n o m ia .
E s s a a ra c io n a lid a d e q u e os fe z surgir e a nica q u e justifica s u a ex is
tn cia. A b s o lu ta m e n te legtim o o direito d e a u fe rir u m a r e m u n e ra o e
d iversificar o risco a o perm itir q u e recursos flua m d e o n d e e x is te m e m
a b u n d n c ia p a ra o n d e falta m . M a s o a b u s o d e s s e direito e a im p os i o
d e c o n d i e s u ltraja n te s e m fun o d o p o d e r e c o n m ic o d e v e m s e r coibi
dos pelo Estado.
d e v e r d e n osso E s ta d o d em o c r tic o d e direito d e fe n d e r re g ra s p e re n e s
e fa z -la s v a le r in d e p e n d e n te m e n te d e p re s s e s , u m a v e z q u e , s e a nica
re g ra ap lic v e l a lei do m ais forte, n o existe q u a lq u e r n e c e s s id a d e do
Estado".

A ca p ita liz a o d e ju ro s a g rid e fro n ta lm e n te o q u e , re la tiv a m e n te a o siste m a


fin an ceiro n acion al, a CF q u e r p re s e rv a r e an seio d o p o v o brasileiro : " p r o m o
v e r o d e s e n v o lv im e n to e q u ilib ra d o d o P a s" e "s e rv ir aos in te re sse s d a coletivi
d a d e " (art. 192, caput).
N o se p o d e c o n d e s c e n d e r c o m a ag io ta g e m , p ro v e n h a ela d e p e s s o a s fsicas
o u d e bancos:

"Eu g osto m uito d a fra s e d e Rui B a rb os a , q u a n d o dizia: A s leis no Brasil


fo ra m feita s p a ra p ro te g er os ricos P o r isso, s e o g o v e rn o b rasileiro
u m a d ita d u ra ( 1 9 6 4 - 1 9 8 5 ) ou u m a d e m o c ra c ia , s e o p as e s t e m crise
ou e s t cre s c e nd o, s e existe in flao ou d efla o , n o im p o rta. O s b a n
q ue iro s e s t o s e m p re fa tu ra n d o m uito e os lucros s o a ltssim o s. Abrir
SAPOZNIK, Ralf, Os ju ro s e a in te rp re ta o q u e corivm . Ir) Gazeta Mercantil", 2 a 4 de junho de
2000, p. A-3.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

u m a c o n ta e m b a n c o s e m p re um perigo p a ra , a p a r e n te m e n te , c o n s e
guir e s s a p ro te o d a m o e d a c orre n te no p as . O s p re os p a g o s so s e m
pre exto rsivos".

E o brasileiro, q u e v iv ia asfixiado p e lo s banco s, c o m a E m e n d a C o n stitu c io


n a l n" 40 p a s s o u a se r a in d a m ais asfixiado, p o r q u e a c o n te c e u e x a ta m e n te o q u e
eles ta n to d esejav am .

2.14.3 Anatocismo
A n a to c is m o a c o b ra n a d e ju ro s so b re juro s, o u a c a p ita liz a o d e ju ro s de
im p o rt n c ia e m p re s ta d a .
E xem plos; a) o c id a d o te m u m c h e q u e especial, e x tra p o la o lim ite e o b anco
p a s sa a ex ig ir ju ro s d i rio s e n o final d o m s a in d a cob ra so b re o v a lo r d o lim ite
q u e co lo c o u d isp o si o d o c id a d o ; b) e m fin a n c ia m e n to s d e lo n g o p e r o d o as
p re sta e s q u e n o fo ra m p a g a s c o m p o n tu a lid a d e p e lo c id a d o so fre m a inci
d n c ia d o s ju ro s e d e p o is a in d a c o rrig id o o sa ld o d e v e d o r , e m b u tin d o -s e m ais
juros.

2.14.4 Dupla cobrana de juros remuneratrios


fre q e n te n o s c o n tra to s b a n c rio s o a c m u lo d e en c a rg o s, e m b u tin d o -s e
ju ro s n a c o rre o m o n e t ria e d e p o is c o b ra n d o -se n o v a m e n te juros.
E x e m p lifiq u e m o s co m a T axa Bsica F in anceira - TBF, c o m o nd ic e d e co rre
o m o n e t ria .
A base d e clculo d e ssa taxa a " re m u n e ra o m e n s a l m d ia d o s C D B /R D B
e m itid o s a tax as d e m e rc a d o prefix ad o s, com p ra z o e n tre 30 (trinta) e 35 (trinta
G cinco dias), in clu siv e", co n fo rm e o artigo 2" d a R esoluo n'^ 2 .4 37 /97 d o BACEN
e ta m b m M P 1.540-31, d e 27.11.97.
A q u e la re s o lu o estabelece q u e , p a ra fins d e clculo d a TBF, " s e r c o n s titu
d a a m o s tr a d a s 30 (trinta) m a io re s in stitu i es fin a n c e ira s d o p a s, a ssim co n si
d e r a d a s e m ra z o d o v o lu m e d e cap ta o d e c e rtificad os e recibo s d e d e p sito
b a n c rio (C D B /R D B )" (art, 1").
E nto, p a r a a b a se d e clculo d a TBF foi to m a d a c o m o p a r m e tr o a re m u n e -

GUTENBERG, Alex, B a n c o s e b a n q u e iro s e sfo la m e d e sg ra a m o povo . In 0 Estado do Paran", 25


de novembro de 2001, p. 11.

161

162

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

rao m e n s a l m d ia d o s C D B s/R D B s e m itid o s p e la s m a io re s in s titu i e s do


p as, 0 q u e significa, d e im e d ia to , v a lo re s m a is e le v a d o s. A l m d isso , fo ram
p re v is to s p o r a q u e la re so lu o e M P, c u m u la tiv a m e n te , o in d e x a d o r d a inflao
e o g a n h o re a l d e ju ro s. E sto, p o r ta n to , e m b u tid o s n a TBF ju ro s e co rreo
m o n e t ria .
Tal a ss e rtiv a d e flu i d o fato d e q u e , c o m o a TBF c a lc u la d a e m ra z o da
re m u n e ra o m e n sa l m d ia d o s C D B s/R D B s, so c o m p u ta d o s o s ju ro s reais e o
in d e x a d o r in te r b a n c r io d a in flao , p o r q u e e ste s d o is e s t o e m b u tid o s n o s
C D B s/R D B s.
T a n to isso v e r d a d e , q u e a M e d id a P ro v is ria R e e d ita d a n'' 1.540-31, d e 3 0 /
1 0 /9 7 , a o in s titu ir a TBF, estabeleceu:

F ic a instituda a T a x a B s ic a F in a n c e ira - TBF. p ara s e r u tiliza d a e x clu si


v a m e n te c o m o b a s e d e re m u n e ra o d e o p e ra e s re a liz a d a s no m e r c a
d o fin a n c e iro .

A ssim , a TBF n o a p e n a s ndice d e a tu a liz a o d o c ap ital, m a s ta m b m d e


re m u n e ra o .
L ogo, se, a l m d a a tu a liz a o p ela TBF (q u e inclui a tu a liz a o m o n e t ria e
juros), ta m b m se c o b ra m ju ro s e m c l u su la especfica, o to m a d o r d o e m p r s ti
m o p a g a r d u a s v e z e s p o r estes, h a v e n d o e n riq u e c im e n to ilcito d o banco.
N e ss e s e n tid o , p o r ex e m p lo , a se g u in te deciso:

"A u tilizao d a T B F p a ra c o rre o d e fin a n c ia m en to s n o p o d e p re v a le


cer, p o rq u e c o b ra r juros - q u e o custo do d inheiro - e a in d a a tu a liz a r o
s a ld o p o r n d ic e q u e s e rv e c o m o b a s e d e re m u n e ra o d e o p e ra e s
re a liz a d a s no m e rc a d o financeiro c o b ra r juros d u a s v e z e s .

E o q u e o c o rre c o m os ju ro s rep e te -se co m a correo m o n e t ria . N o s c o n tra


tos d e m tu o , e m c lu su la d istin ta d o s juros, fixada a TBF com o ndice d e corre
o m on etria. Esse p ro c e d im e n to incorreto. O ban co estaria c o b ra n d o os juros
e ta m b m a correo m o n etria, u tiliz a n d o co m o p a r m e tro d e s ta a TBF.

TA/PR - 7 CCv. - Ap. Civ. 0139317-7 - Ac. 9873 - Rei. Juiz Conv. Noeval de Quadros - DJPR 12
nov. 1999.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

Frise-se: n a TBF e s t o e m b u tid o s ju ro s e a c o rre o m o n e t ria . A ssim , a


TBF, q u e foi c ria d a p a r a se r u tiliz a d a e x c lu siv a m e n te c o m o b a s e d e r e m u n e r a
o d e o p e ra e s re a liz a d a s no m e rc a d o finan ceiro (M P n" 1.540-31, d e 3 0 / 1 0 /
97), a d o ta d a , n a p r tic a , n o a p e n a s c o m o nd ic e d e co rreo o u d e a tu a liz a
o d a m o e d a , m a s ta m b m d e re m u n e ra o .
A re m u n e ra o d o c ap ital feita pelos ju ro s, e n o p o r n d ic e d e correo
m o n e t ria . P o r isso, q u a n d o o b a n c o a d o ta a TBF, u sa u m n d ic e q u e e m b u te
ju ro s e c o rre o m o n e t ria . C o b ra n d o ju ro s ta m b m e m c l u s u la especfica, leva
o cliente a p a g a r d u p la m e n te .

2.14.5 Hierarquia dos crditos


H p riv il g io s d o s c r d ito s fiscais e tra b a lh ista s s o b re o s d e m a is crditos,
u m p o s tu la d o c red itcio b rasileiro. S u r p re e n d e n te m e n te , q u a n d o h falncia os
c o n tra to s d e A d ia n ta m e n to so b re C o n tra to d e C m b io (A CC ), o A d ia n ta m e n to
so b re C a m b ia is E n tre g u e s (ACE), o leasing e a a lie n a o fid u ciria t m p r io r id a
d e at so b re o s c r d ito s trab alh istas, p rio riz a n d o as in stitu i e s financeiras.'"'*^
A Lei d e R e sp o n s a b ilid a d e Fiscal ta m b m a d o to u a m e s m a p o s tu r a d e p ro te
c io n ism o s in stitu i e s financeiras v e d a n d o q u a lq u e r lim ita o ao p a g a m e n to
d e d iv id a s p e lo P o d e r Pblico''*'^, c o n tu d o , o u tr a s d e s p e s a s f o ra m lim ita d a s
(m d icas, a ssistenciais etc.).
P rio riz o u -se a g a ra n tia d e p a g a m e n to s ao s e to r fin an ceiro e m d e tr im e n to d o
social.

2.14.6 Bancos como legisladores - taxas prprias


O u tr a q u e s t o re le v a n te o fato d e as in stitu i es b a n c ria s se asso c ia re m e
c ria re m tax as d e ju ro s o u d e correo, tra n s fo rm a n d o -se e m le g isla d o ra s d a q u i
lo q u e m a is lh e s interessa: os ju ro s e a co rreo m o n e t ria . M irabile dictu\
E x e m p lo s s o o C D I (C ertificado d e D e p sito Interbancrio)'^", a taxa CETIP
Sm ula 3 07 do STJ.
Cf. art, 9-, 2 - da Lei Complementar n- 101/2000.
CDI (taxa de um dia anualizada com base em 252 dias teis): Certificado de Depsito Interbancrio
(GDI) um titulo de renda fixa que representa operaes de crdito entre bancos, Um banco emite
um CDI, vende este papel no mercado, e com isso consegue levantar dinheiro para suas necessida
des. Para o clcuto deste rendimento utilizada a taxa do CDI Cetip (Dl extra), que uma taxa
parmetro divulgada pela Cetip {Central de Custdia e de Liquidao Financeira de Ttulos), que
representa a mdia das taxas negociadas pelo mercado do CDI no dia.

64

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

(C entral d e C u s t d ia e d e L iq u id a o Fin an ceira d e T tulos) e a taxa A N B ID


(A ssociao N a c io n a l d e Bancos d e In v e stim e n to ), e m q u e s o e m b u tid o s os
ju ro s e a co rreo m o ne t ria .
F e liz m e n te o P o d e r Ju d icirio n o p a c tu o u c o m e ssa a rb itr a r ie d a d e d o s b a n
cos; ta n to a ssim q u e o STJ a p r o v o u a S m u la 176, q u e diz: " n u la a c l u su la
c o n tra tu a l q u e sujeita o d e v e d o r taxa d e ju ro s d iv u lg a d a p ela A N B ID /C E T IP ".
D a m e s m a fo rm a q u e e stip u la a S m u la , in sere-se n e sse co n te x to o C D I C e rtific a d o d e D e p s ito In te rb a n c rio , q u e u tiliz a o m e s m o e s tr a ta g e m a d o
CETIP e A N B ID , p o is h o u v e n o rm a tiz a o n o in te re sse p r p r io d o banco.

2.14.7 A correo monetria pelo ndice mais eievado


H e m a lg u n s c o n tra to s b a n c rio s c lusu la c o n tra tu a l q u e o u to rg a ao ban co
0

d ire ito d e esco lh er, d e n tre v rio s n dices d e co rreo m o n e t ria , o m a is e le v a

d o d o p e ro d o .
T o d a v ia , essa c l u s u la c o n tra tu a l n u la , p o r se r p o te s ta tiv a , s e n d o v e d a d a
"c l u su la e m v ir tu d e d a q u a l o c u m p r im e n to d e o b rig a o fica sujeito v o n ta
d e exclusiva d e u m a d a s p a rte s".

2.14.8 Excesso de garantia


As in stitu i e s fin an ceiras e x ig em g a ra n tia d o s e m p r s tim o s q u e e fe tu a m , o
q u e n o rm a l: q u e m e m p r e s ta q u e r a re stitu i o in teg ral d o v a lo r e m p re s ta d o ,
com correo m o n e t ria e juros.
Eles e x a g e ra m n a s g a ra n tia s q u e exigem : a v al n o ttu lo d e c r d ito , fiana n o
c o n tra to , g a ra n tia real (hip oteca so b re d e te r m in a d o bem ), s e m p r e e m v a lo r b e m
acim a d o m tu o ...
O C d ig o d e P ro te o e D efesa d o C o n s u m id o r c o m in a d e n u lid a d e a c l u
su la q u e p ro p ic ia v a n ta g e m excessiva ao banco:

Art. 5 1 . S o nulas d e pleno direito, e n tre outras, a s c l u s u la s contratuais


relativas a o fo rn e c im e n to d e produtos e servios que:
(...)

IV - e s ta b e le a m o b rig a e s c o n s id e rad a s inquas, a b u s iv a s , q u e colo*

GALDINO, Dirceu. Condies de reajuste do le a sin g . R e vista d o s T ribunais


Revista dos Tribunais, 1989, p. 10.

639. So Paulo:

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

q u e m o c o n s u m id o r e m d e s v a n ta g e m e x a g e r a d a , ou s e ja m in c o m p a t
veis c o m a b o a -f ou a e q id a d e .

F az-se n e c e ss ria u m a n o r m a q u e lim ite o d ire ito d a s in stitu i e s financeiras


q u a n to s g a ra n tia s , p a r a q u e 0 c id a d o te n h a m a io r se g u ra n a ju rd ic a q u a n to
a o se u p a trim n io .

2.14.9 Contratos de antecipao de receita oramentria (ARO)


O s c o n tr a to s d e A R O t m re s p a ld o n a C o n s titu i o F e d e ra l, q u e p r e v a
p o s s ib ilid a d e d e ''p re sta o d e g a ra n tia s s o p e ra e s d e c r d ito p o r a n te c ip a
o d e receita, p re v is ta s n o art. 165, 8", b e m a ssim o d is p o s to n o 4 d e ste
a rtig o " (art. 167, IV, in fin e).
A ssim , o b a n c o a n te c ip a receita ao m u n ic p io o u a o e s ta d o , m a s o b t m p r o
c u ra o q u e lhe o u to r g a p o d e re s p a r a sacar, p a rc ia l o u in te g ra lm e n te , parcela
d o F u n d o d e P a rtic ip a o q u e c re d ita d a m e n s a lm e n te n a c o n ta -c o rre n te d o
b e n eficirio d o e m p r s tim o .
Se se a d m itir , a p e n a s p a r a efeito d e a r g u m e n ta o , o p r o c e d im e n to d a s e n ti
d a d e s b a n c ria s c o m relao o u to rg a d e p ro c u ra o p a r a tais sa q u e s (pois j
se e n c o n tr a m n a ju r is p r u d n c ia decises q u e o s b en eficiam ), m e s m o a ssim estara m o s d ia n te d e u m a s itu a o in u sita d a : as e n tid a d e s b a n c ria s e sta ria m se n
d o d o ta d a s d o j u s im perii, te n d o p o d e r e s m a io re s q u e o c id a d o e o p r p r io
p o d e r p b lico . A lis, no p ro je to d a Lei d e Falncia j se p r e te n d e p o s itiv a r a
iso n o m ia d a s in stitu i e s b a n c ria s c o m o p o d e r p b lic o , p o r q u e o s "c r d ito s
g a ra n tid o s p o r n u s re a l" fo ra m co locado s e m " ig u a ld a d e d e co n d i e s n a p r o
p o r o d e u m p a r a u m " c o m os "c r d ito s fiscais, i n d e p e n d e n te m e n te d a sua
n a tu r e z a e te m p o d e constituio''.'^^
D e fato, p a r a q u e o c id a d o o u o p o d e r p b lic o s o fra m c o n stri o d e b ens,
eles d e v e m s u b m e te r-se a p ro c e sso judicial, e m q u e v ig e o p rin c p io d o c o n tra
d it rio e d a a m p la d efesa, p o r q u e n in g u m p o d e se r c o n d e n a d o se m ser o u v i
d o. E m relao e sp e c ific a m e n te a o p o d e r p b lic o , ele d e v e se r s u b m e tid o ao
d e e x ecu o e, se v e n c id o , d e v e s o b re v ir a fase d o p re c a t rio , o b s e rv a n d o -se o
d is p o s to no a rtig o 100 d a CF:
' Art, 11, inciso II, alineas a e , do projeto: Regula a recuperao judicial, a extrajudiciais a ialncia de
devedores pessoas fsicas e jurdicas que exeram atividade econmica regida pelas leis comerciais,
e d outras providncias.

1 65

16 6

Dim C E U G A L D IN O C A R D IN

"... OS p a g a m e n to s d ev id o s p e la F a z e n d a F e d e ra l, E s ta d u a l ou M unicipal,
e m virtude d e s e n te n a judiciria, fa r -s e - o e x c lu s iv a m e n te n a o rd e m c ro
nolgica d e a p r e s e n ta o dos precatrios e c o n ta d o s crd ito s re s p e c
tivos. proibida a d e s ig n a o d e c a s o s ou d e s p e s a s n a s d o ta e s o r a
m e n t ria s e nos crd ito s adicio nais a b e rto s p a ra e s te fim .

D everia, p o is, h a v e r s e m p re u m a deciso jud icial p a r a q u e o m u n ic p io o u o


e s ta d o p u d e s s e m se r d e s p r o v id o s d e se u s b e n s, in c lu siv e d e re c u rso s fin a n c e i
ros. T o d a v ia , os b a n c o s, v ista d a m e n c io n a d a p ro c u ra o , s a c a m o n u m e r r io
a ssim q u e ele c re d ita d o n a c o n ta -c o rre n te d o p o d e r p b lic o , s e m q u a lq u e r
p ro c e sso ju dicial, s e m n e n h u m a fase d e execuo, se m a fase d o p re c a t rio , sem
q u e o p o d e r p b lic o seja s e q u e r ouvido...
A q u e p o n to se chegou!

2.14.10 Priso do devedor na alienao fiduciria


A C o n stitu i o F e d e ra l p re v iu , n o artig o 5", LXVII, q u e " n o h a v e r p ris o
civil p o r d v id a , sa lv o a d o r e s p o n s v e l p e lo i n a d im p le m e n to v o lu n t r io e
in e sc u s v e l d e o b rig a o alim entcia e a d o d e p o s it rio infiel".
Q u a n d o u m b e m a lie n a d o fid u c ia ria m e n te n o e n c o n tr a d o o u n o se acha
e m p o d e r d o d e v e d o r , o a rtig o 4" d o D ecreto-L ei n" 9 1 1 /6 9 p e r m ite a c o n v e rs o
d a b u sc a e a p re e n s o e m ao d e d ep sito .
S e g u n d o o S u p r e m o T rib u n a l F ed eral, a d m issv e l a p r is o d o d e v e d o r c o n
s id e ra d o d e p o sit rio infiel, a q u a l so m e n te o c o rre r a p s o tr n s ito e m ju lg a d o
d a se n te n a q u e tiv e r ju lg a d o p ro c e d e n te a ao d e d e p sito .
C o n tu d o , v ista d o d isp o sitiv o c o n stitu cio n al in ic ia lm e n te c itad o , a p ris o
civil p o r d v id a n o p o d e a tin g ir o d e v e d o r fid ucirio, p o is a a lie n a o fid u c i
ria n o c o n tra to d e d e p sito , se n d o m e r a m e n te a ele e q u ip a r a d a .
A ssim d e c id iu o T rib u n a l d e Justia d e S an ta C atarina:

A L I E N A O F ID U C I R IA - P ris o civil d o d e v e d o r - In a d m issibilid ade.


E m e n ta O ficial: A lib e rd a d e o m a io r b e m d a vida, q u e por isso m e s m o
s o b re p a ira a o in te re s s e p ec u nirio d e q u a lq u e r credor. S e m ltimo ca s o
HC 72.131-RJ, j. 23/11/95, rei. Min. Moreira Alves; no mesmo sentido: 5- Turma do STJ, no RHC
4.712, rei, Min. Jesus Costa Lima, j. 16/08/95, DJU 04/09/95; HC 73.044-SP, rei. Min. Maurcio Corra,
j. 19/03/96, DJU 20/09/96; HC 71.286, Min. Francisco Rezek, j. 30/08/94. DJU 04/08/95.

D E S A F IO S DA C I D A D A N I A !

d e v e -s e p re n d e r o c id a d o com um , q u e confia s u a prpria lib e rd a d e ao


credor, forta le c ido p e la lei p a ra e x p lo ra r a tiv id a d e e c o n m ic a c o n s id e ra
d a til a o d e s e n v o lv im e n to do P a s .'^*'

"O instituto d a a lie n a o fiduciria e m g a ra n tia tra d u z -s e e m u m a v e rd a


d e ira a b e r r a t io le g is : o c re d o r iducirio n o proprietrio: o d e v e d o r fiducia n te n o depositrio, A priso civil por d v id a do d ep o s it rio infiel do
art. 5, inc. L X V II, d a CF, s p o d e s e r a q u e la tradicio nal ( C C , art. 1 .2 6 5 )
(V e rb e te

7 0 .8 3 6 , In A D V Jurisp., 1 9 9 5 , p. 5 8 8 ) .'^^

N o o b s ta n te , a s in stitu i e s fin an ceiras tm a s e u la d o a ju r is p r u d n c ia do


S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l e o D ecreto-L ei n 911/69...

2.14.11 Execuo dos contratos de financiamento imobilirio


o D ecreto-Lei n 7 0 /1 9 6 6 a u to riz a os a g e n te s fin an ceiro s a e x e c u ta re m extra ju d ic ia lm e n te os c o n tra to s d e fin a n c ia m e n to im o b ili rio n o m b ito d o Siste
m a F in a n c e iro d e H abitao .
O S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l e n te n d e u q u e tal d e c re to co nstitucion al.
E n tre ta n to , ele fere os p rin c p io s d a a m p la d efesa e d o c o n tra d it rio , p o r q u e
p e r m ite u m a e x ecu o a u t n o m a , in d e p e n d e n te d o p ro c e ss o d e execuo na
esfera judicial. E o q u e pior; isso acontece at m e s m o n o s p ro c e sso s judiciais,
e m q u e se p r e te n d e s u s ta r o u a n u la r os efeitos d o s m a ls in a d o s leiles e x tra ju d i
ciais; o p ro c e sso a d m in is tra tiv o d o b a n c o flui p a r a le la m e n te ao ju dicial. Assim ,
a e n tid a d e fin a n c e ira fica s e n h o ra a b so lu ta d a situ a o , c o m p o d e r e s su p e rio re s
aos d o juiz.
O b se rv a R o n a ld o Gotlib:

"(...) s e r p riv a do d e se us b en s s e m o d e v id o p ro c e s s o legai, c o n fo rm e j


a s s e v e r a d o , e perm itir um leilo c o m b a s e e m p re te n s o in a d im p le m e n to ,
s e q u e r p ro va d o e n q u a n to a dvida o bje to d e litgio, violar tod a s as
reg ras p ro cessuais e constitucionais que re g e m n o s s a d e m o c ra c ia . com o
s e c o u b e s s e a o s a g e n te s financeiros a s e g u in te fra s e p a ra a outra parte

Des. Cristianc Graef Jnior, in RJTJRGS, vol. 77, p. 143.


RT 730/334; TJ/SC - HC 12,689 - 1 C, - Rei, Des, Orli Rodrigues - j, 22 fev, 1996,

167

168

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

litigante (o m u tu rio ) e p a ra o prprio rg o julgador; E n q u a n to v o c s


brin c a m d e p ro cesso, e u resoivo d a m in ha m a n e ira , e pon to final.'

A ssim , ig n o ra d a a n o r m a c o n stitu c io n a l q u e a s se g u ra o p rin c p io d o c o n


tra d it rio m e s m o e m p ro c e sso a d m in istra tiv o .

2.14.12 Horrio de atendimento


o C o n se lh o M o n e t rio N a c io n a l d e te rm in o u , r e la tiv a m e n te aos b an co s, q u e
"o h o r rio m n im o d e e x p e d ie n te p a ra o p b lic o ser d e 5 (cinco) h o r a s d i ria s
in in te rru p ta s , c o m a te n d im e n to o b rig a t rio n o p e r o d o d e 12:00 s 15:00 ho ras,
h o r rio d e B raslia" {Resoluo n 2 .301/96, d o Banco C e n tra l, art. 1, I).
p o c a d o " a p a g o " , o C o n s e lh o m u d o u o h o r rio d e a te n d im e n to , q u e
p a s s o u a se r o seg u in te : "I - n a s p ra a s o n d e o a te n d im e n to a o p b lic o for de
seis h o ra s o u m ais; d a s 9:00 s 15:00 h o ras, h o r rio local; II - n a s p ra a s o n d e o
a te n d im e n to a o p b lic o for in fe rio r a seis horas: d a s 9:00 s 14:00 h o ra s , h o r rio
local" {Resoluo n 2 .83 9 /0 1 , d o Banco C en tral, art. 2).
T o d a v ia , m e s m o n o E s ta d o d o P a ra n , o n d e n o h o u v e " a p a g o " , fo ra m
a d o ta d o s os e x p e d ie n te s p re v is to s n e sta ltim a reso lu o , in d ic a n d o q u e estav a m e m jo g o o u tro s in te re sse s q u e n o a m e ra e c o n o m ia d e e n e rg ia eltrica.
C o m o o com rcio e a in d s tr ia so a lta m e n te d e p e n d e n te s d o s ba n c o s, estes
n o d e v e ria m te r u m h o r rio to restrito d e a te n d im e n to , e m q u e o c id a d o
v e r d a d e ir a m e n te h u m i lh a d o co m a e sp era. Fica p a te n te q u e o o bjetivo a r e d u
o d o n m e r o d e e m p r e g a d o s d o s b an cos, o u a m a n u te n o d o r e d u z id o n
m e ro deles, p a r a a u m e n ta r o lucro, j e x tre m a m e n te e le v a d o , c u sta d a a tiv i
d a d e p r o d u tiv a .

2.14.13 Tributao benfica aos bancos


A trib u ta o d e v e -se p a u ta r pelo p rin c p io d a so lid a rie d a d e social, u m a vez
q u e , a rr e c a d a d o s os trib u to s, d e v e m ser d is trib u d o s e n tre o s c id a d o s , m e d i
a n te p re sta o d e servio s pblicos.

D a d o s oficiais d o g o vern o d a trin d a d e F H C , M a la n & C ia ., in fo rm a m q ue,


GOTLIB, Ronaldo. 0 Decreto-Lei 70/1966 e a Constituio.

In Informativo ADCOAS. ano V, n- 34, p. 5.

Art. 5, LV: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so
assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

e n tre 1 9 9 6 e 2 0 0 1 , a co le ta d e im postos c re s c e u 4 2 % p a ra as p e s s o as
norm ais. P a r a os b an qu e iro s , o a u m e n to foi d e a p e n a s 11 % . 0 lucro dos
b a n c o s n e s s e s oito, ta lv e z seis ano s , d ob ro u. M a s e s s e s m e s m o s b a n
q ue iro s e s t o p a g a n d o 5 0 % m e n o s d e im posto d e re n da . S e con tin u ar
as s im , e m 2 0 1 0 s o m e n te a s p e s s o as fsicas p a g a r o im posto d e renda.
O s b a n c o s e s ta r o isentos, m e s m o c o m lucros g ig a n te s c o s .'

O s b a n c o s o b t m o s m a is e le v a d o s lu c ro s d o Brasil, q u e colhe os p reju zo s


sociais; e m p r e s a s " q u e b r a d a s " , d e se m p re g o ... E a in d a s o b e n e fic ia d o s p e la re
d u z id a trib u ta o , c o m o se in te g ra s s e m a a d m in is tra o d ire ta d o Estado!

2.14.14 Quebra dos bancos


O g o v e rn o fe d e ra l c a n a liz o u v u lto sa s q u a n tia s e m fa v o r d e b a n c o s " q u e b r a
d o s " o u e m via d e " q u e b r a r " . P o d e -se d iz e r q u e esses b a n c o s fo ra m filhos p r
d ig o s, q u e o p a i - o g o v e rn o federal - aco lh e u , fa z e n d o " b a n q u e te " c o m o d i
n h e iro d o p o v o .
P in a m -se a lg u m a s notcias:

E c o n m ic o , N a c io n a l, B a m e rin d u s e outros b a n c o s socorridos c o m re


c urs os d o P ro g ra m a d e E stim ulo R e e s tru tu ra o e a o F o rta le c im e n to
d o S is t e m a F in a n c e iro N a c io n a l (P ro e r) s o re s p o n s v e is por u m dos
m a io re s c a lo te s d o sculo no Brasil. D e ix a ra m d e h o n ra r e m p r s tim o s
s u p e rio re s a R $ 10 bilhes, feitos pelo B a n c o C e n tra l, a o a m p a ro do Proer.
E s s e v a lo r p rxim o do p reo m n im o e s tip u la d o p elo g o v e rn o p a ra a
a q u is i o d e todo o S is te m a Tele b r s , q u e s e r p riv a tiza d o n e s ta s e m a
na. S o m e n te o B a n c o N a c io n a l d eu um ca lo te d e R $ 4 , 9 8 bilhes, d e ix a n
d o d e p a g a r u m e m p r s tim o vencid o e m 1 3 d e n o v e m b ro d e 1 9 9 6 . No
B a n c o E c o n m ic o , o p rim e iro m a m u t e p riv a d o d o s is te m a b a n c rio a
q u e b ra r, o c a lo te a tin g e R $ 2 , 9 b ilh es. O B a m e rin d u s , ltim o g ra n d e
b an c o a s e r socorrido c o m o Proer, d e v e outros R $ 3 b ilh e s .'

'58 P e q u e n a s in fo rm a e s co tid ia n a s q u e a fe ta m sua vida. In "0 Estado do Paran, 24 de maro de


2002, p. 9BRASILIENSE, Ronaldo. A c o n ta o Proer. In Isto ", 29 de julho de 1998. Disponvel em; <http://
www.terra.com.br/istoe> Acesso em: 17 de maro de 2003.

D IR C E U GA.UOINO C A R D IN

O P r o e r e s t le v a n d o um calote. E m julho d e 1 9 9 8 , a s p a rc e la s a tr a s a
d a s s o m a v a m R $ 1 0 bilhes, A g o ra, d iz a C P I, p a s s a m d o s R $ 15 bi
lhes. N a v e rd a d e , a s d vid as d o p ro g ra m a n o p a s s a m d e u m jo g o de
c o m a d re s . O s se is b a n c o s q u e p e g a ra m d inheiro d o B C e s t o h o je sob
liqu idao, adm in is tra d o s p elo prprio B C . N e s s e a c ordo , os p ra z o s v e n
cidos p ou co im p o rta m p a ra o g o v e rn o . T u d o - d v id a s e g a ra n tia s - s e r
e m p u rra d o p a ra o c a ld e ir o d a m a s s a falida e com isso s e te n ta r reduzir
o ro m b o d a U T I financeira, A e s tra t g ia e s tic a r o p ro c e s s o p a ra e n g o r
d a r 0 re n d im e n to d a s g ara ntia s, q ue, por lei, re c e b e m c o rre o m a is alta
d o q u e a s d v id a s. N e s s a conta, q u e m a m a r g a o p re ju z o o Tesouro,
q u e t a m b m te r d e cobrir o q u e faltar n e s s e e nc o ntro d e c o n tas . S o m a n
do tod os os m ic o s , os s e n a d o re s c o n c lu e m q u e e s te ro m b o p o d e r p a s
s a r d e R $ 2 8 bilhes. P a ra fra s e a n d o o prprio A rm n io F ra g a , e s s a c on ta
v ai m e s m o s o b ra r p a ra o m eu , o se u, o nosso b olso , a ta c a B a rb a lh o .'

R e g u la m e n ta d o p elo g o vern o fe d e ra l no d ia 3 d e n o v e m b ro d e 1 9 9 5 , o
P ro e r e m p re s to u d e s d e e n t o R $ 2 0 ,8 bilhes a oito b a n c o s c o m dificul
d a d e s - R $ 1 3 ,2 bilhes a p e n a s a o E co n m ic o e a o N a c io n a l. A t ago ra ,
p o rm , o g ov e rn o s recu perou R $ 1,2 bilho, e q u iv a le n te a 5 , 7 1 % d e
tu d o q u e foi e m p re s ta d o . A fatia c o r re s p o n d e , b a s ic a m e n te , a o q u e o
B a n c o C e n tral c o n segu iu c o m a v e n d a de a e s d o N a c io n a l, q u e passou
s m o s d o U n ib a n c o . 0 p ro g ram a a in d a te m R $ 9 , 7 bilhes a receber,
dos q ua is R $ 6 ,6 bilhes re fe re m -s e a o principal d a d v id a e os outros R $
3,1 bilhes a o p a g a m e n to dos juros. C o m o o P ro e r a c e ita ttulo p od re,
n atural q u e os p a g a m e n to s e m d inheiro s e ja m m in o ria , a c u s a o d e p u ta
d o fe d e ra l E n io B acci ( P D T -R S ). A b e n e v o l n c ia d o P r o e r c o m os b a n c o s
falidos c o n tra s ta com a falta d e recursos d o g o v e rn o p a ra a s r e a s soc i
a is , a c re s c e n ta .'

D i z J. W . B a u t i s t a V i d a l :

ABDALA, Isabela; FILGUEIRAS, Snia. Nova vtima do Proer. In "Isto ", 1- de d e z e m b ro de 1999,
Disponvel e m : littD ://w w w .te rra .c o m .b r/is to e . a c e s s a d o e m 17 d e maro d e 2003.
Difcil retorno (Proer s recupera R$1,2 bilho). In Isto , 29 de julho de 1998. Disponvel em: http:/
/www.terra.com.br/istoe. acessado em 17 de maro de 2003.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

A d b c le f in a n c e ir a d e ja n e ir o d e 1 9 9 9 t r a n s fe riu p a r a g ru p o s d e
e s p e c u la d o r e s in te rn acion ais a q ua n tia d e 4 0 b ilh es d e d la re s . A lm
disto fo ra m tra n s fe rid o s p a ra 's a n e a r' b a n c o s falidos, d e p o is e n tre g u e s a
g ru p o s in te rn a c io n a is , outro s 4 0 b ilh e s d e d la re s , A s a n g ria arterial
m o n e t ria n o te m limites! T ra ta -s e d e o rg ia d e s c o n tro la d a ! possvel
s o b re v iv e r n e s s a s sistemticas?"'^

O s p r p r io s b a n c o s d e v e ria m ser re sp o n s v e is p o r tais q u e b ra s , c ria n d o u m


f u n d o p a r a so c o rre r a q u e le s q u e estiv e sse m e m d ific u ld a d e . M a s o E sta d o q u e
te m a s s u m id o o m o n ta n te d a s d v id a s, a fim d e q u e os c lien tes q u e o p e r a v a m
c om o b a n c o q u e s o fre u a q u e b ra n o te n h a m p re ju z o . P riv a tiz a -se o lu cro e
s ocializam -se os prejuzos...
E xpe c o m p re c is o Suely C aldas:

O s b a n c o s e s ta d u a is s o um c aptulo longo d a difcil e o n e ro s a b a g u n a


fiscal do E s ta d o brasileiro. C ria d o s n a d c a d a d e 7 0 , te m p o s d e ufan ism o
e s ta ta l do re g im e militar, e m q u e os g e n e ra is p r e g a v a m a idia d e Brasil
g r a n d e , e s s e s b an c o s s e rv ira m a g o v e rn a d o re s , s e u s a m ig o s , su a s c a m
p a n h a s e le ito ra is e d e a lia d o s , fin a n c ia ra m fra u d e s , e m p r e s a s f a n t a s
m a s , n eg c io s ruinosos e d e ix a ra m ro m b o s bilionrios. S n o serviram
p o p u la o , a s e u s m ilhes d e acion istas a n n im o s , q u e os b a n c a ra m s e ja c o m d ep s itos , se ja c o m d inheiro d e im p ostos - e d e le s n o e x tra
ram p ro g res s o e c o n m ico...
P a r a cob rir o rom bo do B a n e s ta d o , o B a n c o C e n tra l g as tou R $ 5.1 bi
lhes. E, c a s o n o o b te n h a gio com a v e n d a , vai re c u p e ra r a p e n a s R $
4 3 4 .8 m ilh es, o p reo m n im o fixado p a ra o leilo q u e d e v e a c o n te c e r
e m 1 7 d e outub ro prxim o. claro, se n o v a s a e s judiciais n o a tr a p a
lh a r e m ...
E s ta n c a r a s a n g ria , c o n g e la r ro m b o s d e s s e s b a n c o s , p riv a tiz -lo s ou
liquid-los s o a e s q u e n o t m q u e v e r c o m ide o log ia , m a s c o m jus ti
a p a ra c o m a p o p u la o , q u e a c a b a p a g a n d o a c o n ta dos d e s a tin o s dos
p olticos.
E m d e f e s a d e u m a id e o log ia e s ta tiz a n te s a v e s s a s , e m q u e o E stado

VIDAL, Jos Walter Bautista. Brasil - C iviliza o suicida. Brasilia: Star Print, 2000, p. 53.

1 7 2 #

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

n o a s o c ie d a d e , m a s u m club e fe c h a d o d o g o v e rn a d o r, p o ltico s e
a m ig o s , a o p o s i o c o n d e n a a p riv a tiza o d e s s e s b a n c o s . P re fe re q u e
c o n tin u em to m a n d o dinheiro do pblico e g as ta n d o e m c a m p a n h a s e le i
torais e crd ito s s e m re c u p e ra o .
Pois o P ro e s - P ro g ra m a d e So corro a o s B a n c o s E s ta d u a is - custou p a ra
a p o p u la o brasileira o d obro do Proer. E x a ta m e n te R $ 5 6 bilhes (o
P r o e r e s tim a d o e m R $ 3 0 b ilh es), dos quais R $ 3 6 b ilh e s s e re te re m
a dois b a n c o s d e S o Paulo. R $ 5,1 bilhes d e P a r a n e R $ 4 , 7 bilhes
d e M in a s G e ra is .

A leg islao p ro te c io n is ta d a s in stitu i e s fin a n c e ira s r e p r e s e n ta a g re ss o


aos cid a d o s.

2,14.15 Imunidade financeira


Est h a v e n d o a d e s m o ra liz a o d o c h e q u e p o r falta d e re s p o n s a b ilid a d e d o s
b anco s. P o r ex em p lo : o b a n c o n o se re sp o n sa b iliz a p e lo s c h e q u e s se m fu n d o s
d e se u s clientes. T o d a v ia , ele d e v e ria te r r e s p o n s a b ilid a d e so lid ria , p o r c u lp a
in eligendo. Tal a titu d e co n trib u iria c o m a m o ra liz a o d o c h e q u e p o r q u e , e m b o

ra seja u m ttu lo d e c r d ito re p re se n ta tiv o d a m o e d a , n u n c a se sa b e se ele se


c o n v e rte r e m m o e d a c o rre n te , e x a ta m e n te p o r q u e o b a n c o n o a s s u m e n e n h u
m a re s p o n s a b ilid a d e . Em c o n se q n c ia disso, o s c h e q u e s se m f u n d o s a u m e n
ta m a s su s ta d o ra m e n te .
D essa fo rm a , os b a n c o s d e s f r u ta m d e u m a im u n id a d e financeira, a in d a q u e
n o ju rid ic iz a d a , in d ita n o siste m a jurdico; n o r e s p o n d e m p e la s e g u ra n a e
g a ra n tia d o s ch e q u e s. Isso p ro v o c a u m efeito p r tic o im e d ia to : o c h e q u e d e s
m o ra liz a d o , q u a n d o ele u m a espcie d e m o e d a . H algo p a ra d o x a l: o p r p rio
b a n c o d e b ilita e a n iq u ila a m o e d a (cheque) q u e ele em ite...
C ite-se o s e g u in te fato: d e te r m in a d o s b a n c o s e x ig em q u e o c lien te receb a, n o
m n im o , q u a tr o talo n rio s, o q u e significa o ite n ta folhas d e c h e q u e s, q u e e s ta
r o d is p o n v e is n a re sid n c ia d o cliente. A lg u m p o d e fu rta r folhas, u m la d r o
p o d e e n tr a r e f u r ta r o s talo n rio s, enfim , s e m p re h u m risco. O u tr o s b a n c o s
fo rn e c e m tal es d e c h e q u e s se m a m n im a d iligncia. H o u v e u m a b u sc a e ap reCALDAS, Suely. A quem serviram o$ bancos estaduais. In "0 Estado de S. Paulo", 10 de agosto de
2000. Disponvel em; http://www.estado.estadao.com.br/iorfial/00/10/08/news248.html. acessado em
17 de maro de 2003.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

e n s o p e la Polcia C ivil d e M a rin g n u m a e m p r e s a arara^^^ e o re p re s e n ta n te da


tal e m p r e s a p o r ta v a 39 (trin ta e n o ve) ta lo n rio s e m se u n o m e c o m relao a
q u a tr o b a n c o s. D e u m b a n c o tin h a 14, d e o u tr o 11, d e o u tr o 9 e d e m ais o u tro 5.
Frise-se; a e m p r e s a n o tin h a v in te d ia s d e fu n cio nam ento !...
C o m o p o d e u m b a n c o fo rn e c e r ta n to s ta l e s d e c h e q u e s a s s im p a r a u m
c o rre n tista , s e m a m n im a g a ra n tia , c o m o se tiv e sse u m a m q u in a d e e m itir
m o e d a s falsas?
R esulta d is so u m efeito nefasto; o c id a d o se to rn a v tim a d e a b o rre c im e n
tos, v e x a m e s, h u m ilh a e s , p o r q u e as e m p re s a s c o s tu m a m re c e b e r a p e n a s ch e
q u e s d a p raa.
N o a sp e c to ju rd ic o , o b a n c o , a o fo rn ecer ta lo n rio s d e c h e q u e s s e m e x a m i
n a r d e tid a m e n te o p a tr im n io e a situ ao financeira d o c o rre n tista , est a g in d o
com c u lp a in eligendo, p o r q u e n o to m a as d e v id a s cau telas. In frin ge, a in d a , o
d e v e r d e d ilig n cia p a ra verificar se a q u e le c o rre n tista , e m itin d o c h e q u e s sem
f u n d o s, ter c o n d i e s d e solv-los. A ssim , o p r p r io b a n c o a c a u s a d a d e s m o
raliz a o d o c h e q u e , e q u e m acaba s e n d o v tim a o c id a d o p ro b o .
P o r essa r a z o e n te n d e m o s q u e o b a n c o d e v a se r so lid a ria m e n te re sp o n s v e l
p o r c h e q u e s se m f u n d o s , c o m o fo rm a d e m o ra liz a o d e s s e d o c u m e n to e com o
m e io d e p r o te g e r o cid a d o .
P o d e r-se -ia a rg u m e n ta r: c o m o o b a n c o se re s p o n sa b iliz a r p e lo s c h e q u e s sem
fu n d o s? O b a n c o q u e se p ro te ja m e d ia n te g a ra n tia s reais o u p e s s o a is d o p r p rio
c o rre n tista o u d e terceiro, e d e p o is exera o d ire ito re g re ssiv o , o u im p o n h a li
m ites d e c rd ito . A n te a q u e le q u e receb eu c h e q u e se m fu n d o s , o b a n c o d e v e r
s e m p r e se r re s p o n s a b iliz a d o so lid a ria m e n te , m e s m o p o r q u e a ele se aplica a
teoria ubi em o h im e n tiim , ibi nus: os n u s so s u p o r ta d o s p o r q u e m a u fe re os
lucros; a r e s p o n s a b ilid a d e s u p o r ta d a p o r q u e m d e s fru ta d o s benefcios. Tal
teoria d o risco p ro fissio n a l foi s u b s titu d a p e la teo ria ob jetiva c o n s u b s ta n c ia d a
n o art. 14 d o C d ig o d o C o n s u m id o r, q u e a tin g e o b a n c o . o m n im o q u e se
p o d e e s p e r a r a fim d e q u e se m o ra liz e o c h e q u e , e o c id a d o n o fiq u e c o m u m
p a p e l - e m itid o p o r u m b a n c o - m a s q u e n o v a le a b s o lu ta m e n te n a d a , se o
c o rre n tista n o tiv e r p a trim n io . O n o m e d o b a n c o d e ix o u h m u ito te m p o d e
se r sin n im o d e c o nfian a e d e g ara n tia .

A pessoa abre uma empresa, obtm os talonrios com os bancos, faz um grande volume de compras
a prazo, e, antes do vencimento dos cheques, desaparece com as mercadorias.

1 7 3

1 7 4

D IR C U G A L D IN O C A R D tN

2.14.16 Os bancos e o Superior Tribunal de Justia


C o nsign e-se, at c o m o u m a fo rm a d c ser ju sto p a r a co m o P o d e r Ju d icirio , a
a tu a o d o S u p e rio r T rib u n a l d e Justia e m p ro l d o c id a d o . G ra a s a este T ri
b u n a l ficou p a c ific a d o que:
a) n o s c o n tra to s com in stitu i es financeiras h a plicao d o C d ig o d e D efesa
d o C o n s u m id o r ;^^
b) a c o m isso d e p e rm a n n c ia e co rreo m o n e t ria so in a c u m u l v e is (S m u
la 30/ST J), b e m com ju ro s re m u n e ra t rio s ;^
c) os ju ro s re m u n e ra t rio s, n o c u m u l v e is c o m a c o m iss o d e p e rm a n n c ia ,
so d e v id o s n o p e r o d o d e in a d im p l n c ia taxa m d ia d e m e r c a d o e stip u la
d a p e lo Banco C e n tra l d o Brasil, lim ita d a ao p e rc e n tu a l c o n tr a ta d o (S m ula

n" 296);'^^
d) a c o m isso d e p e r m a n n c ia n o in c id e n a s c d u la s d e c r d ito ru ra l, co m e rc i
al e in d u s tr ia l^^ e n o caso d e m o ra d o d e v e d o r, os ju ro s sero elev v eis e m
a p e n a s 1% ao ano'^^ e n esses m e s m o s c o n tra to s, a in d a q u e e x p re s sa m e n te
a c o rd a d a , v e d a d a a c a p italizao m e n sa l d o s juro s, s o m e n te a d m itid a n os
casos p re v is to s e m lei;^
e) n u la a c l u su la c o n tra tu a l q u e sujeita o d e v e d o r a taxa d e ju ro s d iv u lg a d a

pela AN B ID /C ETIP (Sm ula 176);


f) n o p o d e h a v e r ca p ita liz a o d e ju ro s in ferior m e n sa l, e m c o n tra to d e fi
n a n c ia m e n to c o m a lien ao fid u ciria;^
g) a e m iss o d e h'tulo v i s a n d o n o v a o d e d v id a s q u e n o p o s s u e m tal n a t u
reza co n stitu i d e s v io d e fin a lid a d e ;^

Smula n- 297: " 0 C d ig o d e D efesa d o C o n s u m id o r a p lic ve l s in stitu i e s fin a n c e ira ^'. (Prece
dentes; REsp n 106,888-PR,

Seo, DJ de 05/08/02; REsp

298.369-RS, 3" Turma, DJ de 25/

08/03, e REsp n 57.974-RS, 4 Turma, DJ de 29/05/95). AGRESP 536932/RS: Resp 369069/RS;


AGA 432251/RS; AGA 43225; Resp 423680/PR.
AGREsp 537783/RS
Precedentes; REsp n- 139.343-RS, DJ de 10/06/02, e 402,483'RS, DJ de 05/05/03, ambos da 2
Seo.
REsp 189692/RS.
REsp 189692/RS; REsp 171533/GO, AGA 374659/SP
REsp 492907/RS: AGResp 537783/RS,
AGREsp 536932/RS.
AGREsp 536529/SC.

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA #

h ) n o to c a n te ca p ita liz a o d o s ju ro s p e rm a n e c e e m v ig o r a v e d a o contida


n a Lei d e U su ra , exceto n o s casos e x c e p c io n a d o s e m lei, o q u e n o ocorre
c o m o m tu o b a n c rio c o m u m , relativ o a o c o n tra to d e a b e r tu r a d e c rdito
e m co n ta c o rre n te ;^^
i) a n o v a o n o im p e d e o e x a m e d a ile g a lid a d e d e c lcu lo d e ju ro s c a p ita liz a
d o s a c a d a re n o v a o d a dv id a.''^
Se o STJ n o tivesse r e p e lid o os arvseios d o s b a n c o s , e ste s te r ia m d e v o ra d o
s e u s clientes tal c o m o C ro n o s d e v o ro u se u s filhos. F e liz m e n te o S u p e rio r T rib u
n al d e Justia a g iu c o m o Z eus: c o n se g u iu e sc a p a r d a influ n c ia deles, e os d e r
r o to u e m in m e r a s decises, p r o te g e n d o o cid a d o . Q u e m sa b e seja o prin c p io
d a e sp e ra n a a s a lv a r u m a nao...

3 ESTRUTURAO DA CIDADANIA
3.1 A TRAGDIA NA ADOO
N o Brasil, h g r a n d e s d ific u ld a d e s p a r a a a d o o d e filhos. Isso d e c o rre da
legislao e d a a titu d e d e p ro m o to re s e ju izes, inc lu siv e d e v id o a ce rta x e no fo
b ia, e n o d o s p r e te n d e n te s adoo.
R e la tiv a m e n te xenofobia, ela n o d e v e ria existir, p o is s o c o n h e c id o s in
m e r o s caso s d e s u c e ss o n a a d o o p o r e stra n g e iro s. E stes, in c lu siv e , a d o ta m
c rian as q u e os b ra sile iro s e v ita m a d o ta r; p o r ex e m p lo , p o r p r o b le m a d e sa d e
o u d e cor.
Sejam e s tra n g e iro s o u b rasileiro s os q u e p r e te n d e m a d o ta r , c ria m -se in m e
ros o b stcu lo s, o b v ia m e n te n o in teresse d a s crianas, m a s os ex a g e ro s a c a b a m
fa z e n d o c o m q u e elas p e r m a n e a m p o r te m p o excessivo e m rg o s d e a m p a ro
ao m e n o r q u e n o lhes d o o a m o r e a a te n o d e q u e n ec e ssita m . O s p ro cessos
ju d ic ia is re la tiv o s m a t ria se to rn a m v e rd a d e ira s g u e r r a s d e in c id e n te s, e o
p re ju d ic a d o s e m p r e o a d o ta n d o . C ite m o s a p e n a s u m caso.
U m casal - o m a r id o , a d v o g a d o ; a m u lh e r, d o la r - re s o lv e u a d o ta r u m a
criana. H a b ilita ra m -s e e ficaram a g u a r d a n d o . M ais d e u m a n o d e p o is, s o u b e
r a m q u e n u m a co m a rc a d is ta n te h a v ia u m m e n in o q u e p o d e r ia se r a d o ta d o .
C o n v e r s a r a m co m o ju iz s u b s titu to d a q u e la co m a rc a , e este p e d i u o p ro c e sso de

Resp 166444/RS.
Resp 250111/SP,

1 7 5

17 6

O IR C E U G A L O IN O C A R D IN

h abilitao, q u e h a v ia s id o p ro c e ss a d o n a com arca e m q u e re sid ia o casal. P ro


v id e n c ia d o tal p ro c e sso , o M in istrio P blico d e u p a re c e r fa v o r v e l g u a r d a
p ro v is ria , s e n d o q u e su b s e q e n te m e n te seria in te n ta d o o p ro c e sso d e adoo.
C o m o p a re c e r fa v o r v e l d o M P, o ju iz d e fe riu a g u a r d a d o m e n o r ao casal,
d e te r m in a n d o a e la b o ra o d o te rm o d e g u a r d a e re sp o n s a b ilid a d e .
E stava o casal c o m o b e b h a v ia 30 (trinta) d ia s, q u a n d o c h e g o u a o escritrio
d o m a r id o u m oficial d e ju sti a c o m m a n d a d o d e b u sca: a ju z a titu la r, q u e
r e to r n a r a d a s frias, r e v o g a ra a deciso d o su b stitu to , a le g a n d o q u e n o h av ia
s id o o b s e rv a d a a o r d e m d o s p re te n d e n te s a d o o (art. 50 d o E sta tu to d a C ri
a n a e d o A d ole sc e n te ), q u e diz:

"Art. 5 0 . A a u to rid a d e judiciria m a n te r , e m c a d a c o m a rc a ou foro reg i


o na l, u m registro d e c ria n a s e a d o le s c e n te s e m c o n d i e s d e s e re m
a d o ta d o s e outro d e p e s s o a s in te re s s a d a s n a a d o o .

A ssim , a ju z a d e te r m in a v a q u e o b e b fosse e n c a m in h a d o a u m a creche,


p a r a p r o v v e l a d o o p e lo p r e te n d e n te m ais a n tig o d a lista.
A o te r cincia d o a to revo cat rio, e se m q u e a lim in a r d e b u sc a e a p re e n s o
tivesse sid o e fe tiv a d a , o s p a is a d o ta n te s in te rp u s e ra m p e d id o d e re c o n sid e ra o ,
o q u a l foi d e n e g a d o .
D ia n te d a r e n h id a p o si o a d o ta d a p e la ju z a , o casal in te r p s a g r a v o de
in s tru m e n to c o n tra o d e s p a c h o q u e re v o g o u a g u a r d a d o m e n o r, re q u e re n d o ,
e m face d a p re m n c ia d a situ a o , q u e fosse c o n c e d id o efeito s u s p e n s iv o ao
ag ra v o .
O d e s e m b a r g a d o r , so p e s a n d o a situ a o q u e se lh e a p r e s e n to u , c o n c e d e u
efeito s u s p e n s iv o a o a g ra v o , e a situ a o d a criana n o se a lte ro u . P o ste rio r
m e n te , com o ju lg a m e n to e m d e finitiv o d o a g ra v o , a d e c is o lim in a r foi c o n fir
m a d a p o r u n a n im id a d e , n o s se g u in te s term os:

E m a te n o a o s s u p erio res inte re s s e s d a c ria n a , a s e s o b re p o re m a


q u a lq u e r outro, re c o m e n d v e l se m o stra a m a n u te n o d a s u a g u a rd a
provisria e m fa v o r d a q u e le s e m cujo lar se e n c o n tre in te g ra d a d e s d e os
p rim eiros d ia s d e vida e c o m os quais se a c h e a fe tiv a m e n te v in c u la d a . ^

^5 TJ/PR, AI-ECA ri: 121229-7, rei. Teimo Cherem.

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A * 1 7 7

T a m b m e x p re ssiv a foi a se g u in te deciso d o T rib u n a l d e Justia d e Santa


C a ta rin a :

N o s e d e v e a rra n c a r a crian a dos b raos d e q u e m , n o o b s ta n te sem


v n c u lo s biolgicos, a a c o lh e d e s d e o n as c im e n to , m uito m e n o s a p re te x
to d e in o b s e rv n c ia ca da s tra l, a n o s e r q u e s e c o m p ro v e d e p la n o a
in a b ilitao m o ral e social p a ra a p a te rn id a d e por a d o o .
R e tira r o re c m -n a s c id o , dep ois d e d uas s e m a n a s d e a c o lh im e n to e m lar
substituto digno, p a ra c o lo c -la e m a m b ie n te s e m o c a lo r h u m a n o d e q u e
d e s fru ta v a - um abrigo m unicipal - s o b re p o r a b u ro c ra c ia s e n sib ilid a
d e q u e d e v e presidir a instruo d e tais p ro cessos...
L a s tim a v e lm e n te , o fetichism o burocrtico sob re p u jo u o b o m s e n s o , e m
d e trim e n to do b e m e s ta r d a c ria n a .

V-se, e n t o , q u e m u ita s crianas q u e p o d e r ia m te r u m lar, s e n d o alvo d e


a te n o e a m o r, c o m ra z o v e l c o n fo rto e b o a s p e rs p e c tiv a s q u a n to a o fu tu ro ,
a c a b a m s e n d o v tim a s d e qu e sti n c u la s.
A a d o o a n ic a fo rm a d e salv ao d e in m e r a s crianas. T o d a v ia , m u ito s
p re fe re m v -la s tu te la d a s p o r e n tid a d e s a ssiste n c ia is o u p re te n s a m e n te
e d u c a tiv a s, o q u e u m a trag d ia.
Saliente-se: o art. 50 d o ECA, acim a citado, n o u m a n o r m a im p e ra tiv a ,
vista d a q u a l se d e v a ob edecer rigo ro sam ente o r d e m d e inscrio. n o rm a de
ca m p o a berto , q u e fixa d ire triz geral, d e v e n d o p re v a le c e r o interesse d a criana.
A d o o n o ato m e r a m e n te b u ro c r tic o ; e n v o lv e s e n tim e n to , e e m larga
escala.
H o u tr o a sp e c to ta m b m im p o rta n te n a ado o : a m e n a tu r a l e n c a m in h a a
criana p a ra ad o o , e a criana d a d a e m g u a r d a p ro v is ria a u m casal ad o ta n te ,
p a ra p o s te rio r ratificao, q u e feita p ela m e e m juzo. A ssim , se a m e o u o
pai biolgico, d e p o is d e inic ia d o o p ro cesso, a r r e p e n d e r -s e d e h a v e r e n tre g u e a
criana e q u is e r lev -la d e v o lta , c o m o p ro c e d e r? N o caso d e c ria n a c a d a s tr a
d a , isso q u a s e im p ro v v e l, visto q u e os p a is b io l g ico s j d e v e m te r sid o o u v i
d o s em a u d i n c ia , n a q u a l ratific a ra m o desejo d e e n tre g -la p a r a ado o . N a s
a d o e s in ter persona - n o caso d e p e s so a c o n h e c id a e n tr e g a r a c ria n a p a ra

TJ/SC, AR no MS

97.0072249-0,

17 8

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

a d o o - isso p o d e o c orrer, an te s o u d u r a n te a a u d in cia. Se o c o rrer, ser n e c e s


srio q u e os a d o ta n te s a d ite m a inicial, re q u e r e n d o a d e s titu i o d e p trio p o
d e r d a fam lia n a tu ra l, a le g a n d o e p r o v a n d o os m o tiv o s p e lo s q u a is ser m e lh o r
p a r a a criana a s u a adoo.
E se e m ju zo a m e n a tu r a l n o c o n c o rd a r c o m a adoo?! C o m o ficaro os
a d o ta n te s, q u e j c o n s id e ra m a criana co m o in te g ra n te d a fam lia?
Se a m e c o n c o rd o u com a do a o , c o n s u m o u -s e o a to ju rd ico . C ria n a no
b o la d e p in g u e - p o n g u e , p a r a ficar s e n d o jo g a d a d e u m la d o p a r a o o u tro , n e m
m e rc a d o ria , q u e a fam lia a d o ta n te p o s s a d e v o lv e r a le g a n d o a lg u m defeito.
A v o n ta d e d a s p a rte s d e v e c e d e r p e r a n te os in te re sse s d o m e n o r, q u e tm
p rio rid a d e . H a v e n d o a ad o o , n o p o d e m a is h a v e r a rr e p e n d im e n to , d e c o r
r e n d o efeitos ju rd ic o s ta n to p a r a q u e m d o a c o m o p a r a q u e m ad o ta.

3.2 GRAVIDEZ INDESEJADA


H m u ita s m u lh e re s, p rin c ip a lm e n te jo v en s, q u e ficam g r v id a s e lo g o p e n
s a m e m a b o rta r, p o r q u e n o tm n e m te r o co n dies fin a n c e ira s p a r a m a n te r a
criana. T o d a v ia , h m u ito s casais q u e est o p r o c u r a d e u m a c ria n a p a ra
a d o ta r. C a so se faa u m le v a n ta m e n to estatstico, c e rta m e n te se verificar q u e o
n m e r o d e casais q u e p r o c u r a m re c m -n a sc id o s p a r a a d o o b e m m a io r q u e o
d e re c m -n a sc id o s e m co n d i e s d e se re m a d o ta d o s.
P o d er-se-ia a d o ta r esta soluo: a m u lh e r g r v id a q u e n o tiv e sse co n dies
d e ficar com o filho p ro c u ra ria o ju iz e lhe e x p o ria s u a situ ao . Ele, a tra v s d e
aux iliares q u a lific a d o s, esco lh eria u m casal q u e d e sejasse a d o ta r a criana, e a
p a r tir d e e n t o esse casal p a g a ria as d e s p e s a s d a fu tu ra m e re la c io n a d a s c o m a
g ra v id e z , c o m o a c o m p a n h a m e n to m d ico , re m d io s, alim e n ta o , v e stu rio e
p a rto , c o m o se os a d o ta n te s fossem os v e rd a d e iro s p ais. P o d e r-se -ia a t fixar
u m a p e n s o p a r a a m e , d u r a n te c e rto p e r o d o (a n te s e a p s o p a r to , c o m o
o co rre n o D ireito d o T ra b a lh o p a r a a lic e n a -m a te rn id a d e), cujo p a g a m e n to se
ria feito p e lo s a d o ta n te s.
P elo siste m a ju rd ic o a tu a l, a a d o o s p o ssv e l a p s o n a s c im e n to d a
criana. A m e re n u n c ia a o p trio p o d e r, e m a u d i n c ia p b lic a , p e r a n te o juiz,
o u a b a n d o n a a criana e n o m e a d o p a r a esta u m c u ra d o r, o q u e to rn a o p ro c e s
so d e a d o o m u ito d e m o ra d o .
T o d a v ia , c o m o o n a sc itu ro te m d ireito s, ele p o d e r ia se r a d o ta d o n o v e n tre : a
m e re n u n c ia ria c riana an te s d o n a sc im e n to , p e r a n te o ju iz (ju risdio v o lu n

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A !

tria), em c a r te r irre v o g v e l, e teria a assistncia (m ate ria l e psicolgica) d o


casal q u e q u ise sse fazer a adoo.
Essas m e d id a s c o n trib u iria m p a ra d im in u ir o n m e r o d e a b o rto s, b e m com o
d e re c m -n a sc id o s a b a n d o n a d o s .

3.3 SINDICALISMO
A m e n ta lid a d e sin d ic a l precisa ev olu ir. O s re p r e s e n ta n te s d o c ap ital e d o
tra b a lh o n o p o d e m ficar c o m a c o rd a e stic a d a , c o m o n a h ist ria d o s a sn o s
a m a r r a d o s u m a o o u tro : u m q u e r e n d o c o m e r o m o n te d e c a p im d a d ire ita , o
o u tr o o d a e s q u e r d a , e a m b o s p a s s a n d o fome. O s sin d ic a to s p re c is a m p r em
p r tic a o fecho d a fbula: d e p o is d e d e s p e n d e r e m m u ito esforo in til, os asn os
fiz e ra m u m a co rdo : a m b o s c o m e ria m p rim e iro o m o n te d ire ita , e d e p o is o d a
e s q u e rd a ; a ssim fizeram , e a m b o s lu craram .
S o m e n te a tra v s d o d i lo g o o s sin d ic a to s d o s tra b a lh a d o r e s e os d o s e m p r e
g a d o re s p o d e r o c o lh e r os b o n s fru to s d o c a p ital e d o trab alh o .
U m c a m in h o fo rm al p a r a isso s e ria m os N c le o s In te rsin d ic a is d e C oncilia
o T ra b a lh is ta '^ ', e m q u e sin d ic a to s d e p a tr e s e d e e m p r e g a d o s d e t m ig u a l
d a d e d e condies. Tais n cleo s, ta n to d e fo rm a p r e v e n tiv a q u a n to re m e d ia d o ra ,
p r o c u r a m , a tra v s d o d i lo g o , so lu c io n a r o s p ro b le m a s q u e afe te m a m b a s as
categ o rias. T ra b a lh a m c o m esse ideal.
O s m a n d a to s d o s d ire to re s so exercid os p o r d e te r m in a d o s p e ro d o s , a lte r
n a n d o -s e a re p re se n ta o . A ssim , se, p o r e x e m p lo , o d ir e to r re p re s e n ta n te d o
S ind icato d o s T ra b a lh a d o re s , n o m a n d a to se g u in te ele d e v e r se r re p re s e n ta n te
d o S in d icato Patron al.
A p r p r ia lei q u e crio u as C o m iss es d e C o nciliao p re s tig io u os N c le o s
Intersin d icais: d e u -lh e s s u p o r te legal e os re c o n h e c e u c o m o fo rm a legtim a de
c o m p o si o n o -e s ta ta l d o s conflitos ao m a n d a r a p lic a r as s u a s d isp o si e s aos
"N c le o s In te rsin d ic a is d e C onciliao T rab a lh ista e m f u n c io n a m e n to o u que
v ie re m a se r c ria d o s " (art. 625-H d a Lei n" 9.958, d e 1 2 /0 1 /2 0 0 0 ).
A ssim , as C o m iss e s d e C onciliao so se m e n te s p a r a a c riao d o s N c le
o s In te rsin d ic a is. C o n tu d o , as v a n ta g e n s d o s N c le o s I n te rs in d ic a is so b re as
C o m iss e s d e C o nciliao s o m anifestas, ta n to e m e x te n s o q u a n to e m p r o f u n
d id a d e : e m extenso, p o r q u e se in se re m e m su a c o m p e t n c ia m a te ria l n o s os
Cf. VASCONCELOS. Antnio Gomes de & GALDINO, Dirceu. N cle o s In te rsin d ica is de C on cilia o
Trabalhista. So Paulo: LTr, 1999.

179

1 8 0

D IR C E U Q A L D IN O C A R D IN

d issd io s in d iv id u a is , m a s ta m b m os coletivos; e m p r o f u n d id a d e , p o r q u e eles


a tu a m n o s p a r a a so lu o d e e v e n tu a is litgios, m a s ta m b m p a r a a s u a p r e
v en o , in c lu siv e e m m a t ria n o e s trita m e n te tra b a lh is ta , p o d e n d o o rie n ta r
tr a b a lh a d o re s e e m p r e g a d o r e s q u a n to ao m eio a m b ie n te , a o d ire ito d o c o n s u
m id o r, a o d ire ito d e fam lia etc.
N o s N c le o s, p r o c u ra -s e a d o ta r u m a v is o h o lstica, p o r q u e os d ire ito s e
d e v e re s d o e m p r e g a d o e d o e m p r e g a d o r n o se lim ita m a q u e s t e s trabalh istas.
A ssim , ne le s p o d e se r p r o p ic ia d a u m a v iso global d o s p ro b le m a s d o s e m p r e
srios e d o s tra b a lh a d o re s . P o r isso q u e ele p o d e to rn a r-se u m a g r a n d e fora
p oltica, pois, q u a n d o v ie r a se p o sic io n a r n a c o m u n id a d e , e sta r fa la n d o em
n o m e d a s d u a s categorias.
Se os N c le o s j existissem h b a sta n te te m p o n o Brasil, eles c e rta m e n te j
te ria m feito a a n lise holstica d a s e m p re sa s , e a carg a trib u t ria q u e a s e sm a g a
e q u e a cab a p o r e s m a g a r os e m p r e g a d o s j teria sid o re v ista p o r u m a ju sta re
form a trib u t ria . E x a ta m e n te p o r falta d e v iso h o lstica q u e e m p r e g a d o r e s e
e m p r e g a d o s sofrem . Is o la d a m e n te , eles n o c o n s e g u e m a n a lisa r as c a u sa s e,
p o r c o n se q n c ia , c o m b a te r o s efeitos, p o is t u d o o lh a m c o m o se tiv e sse m a p e
n a s u m olho.
P o r o u tr o la d o , p e r a n te a C o m iss o d e C onciliao d a e m p re s a , o tra b a lh a
d o r p o d e ficar te m e ro s o e in s e g u ro , o m e s m o o c o r r e n d o c o m o e m p r e g a d o r
p e ra n te a C o m iss o d e C onciliao d o sin dicato, a in d a q u e a m b o s te n h a m r e
p re s e n ta n te e m tais com isses.
N o s N c le o s In te rsin d ic a is isso n o ocorre, p o r q u e eles so "a casa d o e m
p r e g a d o e d o e m p r e g a d o r " . A lm disso, co m o s u c e d e n o N c le o d e Maring'^,
h a d v o g a d o q u e d assistn cia ao N c le o e q u e c o m p a re c e s a u d i n c ia s d e
conciliao, p a r a d ir im ir d v id a s.
O s c o n c ilia d o re s d o s N c le o s n o re p re s e n ta m d ir e ta m e n te o s e m p r e g a d o s
n e m o s e m p r e g a d o r e s , m a s sim o s re sp ectiv o s sind icatos, c o m o q u e a s u a re s
p o n s a b ilid a d e at m a io r, d e v e n d o se r p e s so a s e x p e rie n te s e q u a lific a d a s p a ra
tal m ister. P a ra g a r a n tir a e x p erin cia e a qualificao, o N c le o d e M a rin g
a d o to u a siste m tic a d o d ire ito d e v eto, d e tal form a q u e o p r e s id e n te d e u m
sin d ic a to p o d e v e ta r in d ic a o feita p e lo p re s id e n te d e o utro.
0

primeiro Ncleo Intersindical do Brasil foi criado em Patrocnio (MG), pelo juiz Antnio Gomes de

Vasconcelos, mas vinculado Justia do Trabalho: o segundo, do qual fomos mentor, foi criado em
Maring, com base naquele, mas desvinculado da Justia do Trabalho.

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

181

O s c o n c ilia d o re s s o v in c u la d o s aos N c le o s, e n o s e m p re s a s, p o is eles


p a rtic ip a m d o s N c le o s co m o re p re se n ta n te s d o s sin d ic a to s. A lg u n s concilia
d o re s s o e m p r e g a d o s d o s N cleo s, e o u tro s d o s sin d ic a to s, q u e os r e m u n e r a m
e os co locam d isp o si o d e sse s rgos. A ssim , os co n c ilia d o re s t m lib e rd a d e
e in d e p e n d n c ia p a r a conciliar.
P o r o u tr o la d o , os N c le o s r e d u z e m os c u sto s financeiro s d a s e m p resas,
D e fato, u m a e m p re s a q u e co n stitu i C o m iss o d e C o nciliao te m trplice
mis-.
- a ss e g u ra a e s ta b ilid a d e d o s e m p r e g a d o s con ciliad ores;
- re m u n e r a - o s e n q u a n to e stiv e re m d e s e m p e n h a n d o e ssa tarefa;
- c o n tra ta e m p r e g a d o s p a r a s u b stitu ir os co n ciliad o res, se for necessrio.
E sses n u s n o se v erificam e m relao a o s N c le o s, p o r q u e os c o n ciliad ores
d e t m m a n d a to , m a s n o e sta b ilid a d e , p o is, co n fo rm e visto, n o e st o v in c u la
d o s d ir e ta m e n te s e m p re s a s , m a s aos sindicatos.
A ssim , re la tiv a m e n te aos N cleo s, o cu sto p a r a as e m p r e s a s m n im o ; elas
a rc a r o a p e n a s c o m o p e rc e n tu a l so b re o v a lo r d a s conciliaes q u e os N cleo s
re a liz a re m , p e r c e n tu a l esse q u e eles p re v e m p a r a a s u a su b sistn cia.
E x p u s e m o s a lhu res:

"A m a io r v a n ta g e m do N cle o , c o m o j se sa lien tou , a tu a r p re v e n tiv a


m e n te n o m b ito coletivo e e m p e n h a r-s e n a s o lu o g lobal dos conflitos
d a s re s p e ctiv a s cate g o rias .
E x e m p lifiq u e -s e c o m u m c a s o ocorrido e m Ita m b ( P R ) . Q u a s e q u in h e n
tos c o rta d o re s d e c a n a -d e -a c a r d efla g ra ra m u m a 'g re v e . O s c o n cilia
d o res do N c le o fo ra m p ara a q u e la loc a lid ad e e c o n s ta ta ra m d e s c o n te n
ta m e n to d o s safristas e dos proprietrios. O s safristas e s ta v a m d e s c o n
te n te s p o rq u e a lg u n s p roprietrios p a g a v a m , ju n t a m e n t e c o m a diria,
f ria s e 1 3 - p ro po rcion ais, p o rm n o p a g a v a m d ia s d e c h u v a , outros
p a g a v a m c o rre ta m e n te e s s e s direitos, p o rm a p e n a s no final d a safra,
fica n d o lo g ic a m e n te inferior o v a lo r d a diria; outros p a g a v a m por p ro d u
o, m a s n o os dias d e c h u v a , e outros n o p a g a v a m o d e s c a n s o s e m a
nal r e m u n e ra d o s o b re a pro du o . C o m o os v a lo re s d a s dirias n o e ra m
u niform es, os safristas fica v a m ro d an do d e p ro p rie d a d e e m p ro p rie d a d e ,
p e r m a n e c e n d o m a is te m p o n a q u e la s cuja d i ria e r a m aior, p o rq u e ju lg a
v a m q u e n e s ta s q u e o p a g a m e n to e ra feito c o rre ta m e n te . Isso p ro vo c a -

1 82

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

v a 0 d e s c o n te n ta m e n to t a m b m dos proprietrios, q u e e m b o r a p a g a s
s e m c o rre ta m e n te os direitos dos safristas, d e ix a v a m p a ra p a g a r s o m e n
te a o trm in o d a s a fra a s fria s e o 13 proporcionais. E o d e s c o n te n ta
m e n to d e le s d ec o rria do fato d e os safristas os d e ix a re m s e m m o -d e o bra, pois iam tra b a lh a r n as f a z e n d a s e m q u e o v a lo r d a d i ria inclusse
a q u e le s d ire ito s ( d i ria c h e ia '). A p s c o n s ta ta re m a in s a tis fa o dos
safristas e dos e m p re g a d o re s , os c o n c iliad ores re a liz a ra m a con ciliao ,
o b te n d o p ro c e d im e n to u niform e p a ra tod a s as f a z e n d a s d a regio, tanto
p a ra a s a fra q u e fin d av a q uanto p a ra as futuras. A p e n a s u m e m p re g a d o r,
q u e tinha uns q u a re n ta trab a lh a d o re s , n o quis f a z e r o p a g a m e n to p a c tu
a d o , d iz e n d o q ue, s e se u s safristas ing re s s a s s em c o m re c la m a o tra b a
lhista, s e ria m pou co s, e e le faria acordo. D a a a lg u m te m p o , c o m o os
safristas s a b ia m d e se us direitos, todos ele s in g re s s a ra m c o m re c la m a
o . S e n o h o u v e s s e o N cle o , p ra tic a m e n te c e n te n a s d e re c la m a e s
explo d iriam nas Jun tas e, m e s m o q u e h o u v e s s e a c ordo , n o s e re s o lv e
ria o conflito social s u b jacen te.
A ps e s s e fato ficou e v id e n cia d o q u e v a le u a p e n a t e r con stitud o o N
cleo Intersindical d e C o nc ilia o T ra b a lh ista d e M a rin g . A s s im , os p ro
b le m a s dos proprietrios e dos tra b a lh a d o re s n o e s ta v a m s e n d o resolvi
dos a p e n a s p a ra u m a sa fra , m a s ta m b m p a ra a s p os teriore s. C o m a q u e le
a c o rd o , re s o lv e u -s e p ro b le m a dos p roprietrios, q u e p a s s a v a m a te r a
m o -d e -o b ra suficiente, e dos safristas, q u e p a s s a ra m a r e c e b e r integral
m e n te s e u s direitos.
E s s e a p e n a s um e x e m p lo d e p ro b le m a q u e te v e s o lu o satisfat ria
p a ra a s d u a s cate g o rias . A n tes, ja m a is h av ia sido pos s v el s e q u e r o d i
logo e n tre as p artes...
Assim , 0 N c le o Intersindical m o s tra -s e c o m o m o d e lo e fic a z, promissor,
dig n o d e s e r im p lantado e m outros locais, porqu e u m a n o v a id ia de
sindicalism o, q u e s e volta na a n lise dos p ro blem as d a s d u a s categorias.
O utro e xem p lo : u m a destilaria dem itia os cortadores d e c a n a -d e -a c a r ao
trm ino d a safra, porque havia tu rm a e s p e c ia liza d a no plantio. Este era
procedido c o n com itan tem en te com a colheita. C o m o os tra b a lh a d o re s q u e
riam p e rm a n e c e r c o m o vnculo em p reg atcio m u d o u -s e o procedim ento.
D e s lo c o u -s e p a ra a entressafra o plantio e todos os tra b a lh a d o re s p a s s a
ram a plantar e a colher. Assim p u d era m p e rm a n e c e r n a safra e e n tre s s a fra .

D E S A F IO S D A C I D A D A N I A *

A l m d a s v a n ta g e n s q u e ele propicia c o m a s u a S e o ntersindical de


C o n c ilia o (cu ja ativ id a de eq iv a le d a C o m is s o d e C o n c ilia o P r
v ia ). o utras p o d e m s e r a p o ntadas:
a - te m c a r te r consultivo e preventivo d e conflitos laborais;
b - s u a c o m p e t n c ia m aterial a b ra n g e n o s conflitos individuais, m as
t a m b m coletivos, existe n te s entre e m p re g a d o e e m p re g a d o r, p o d en d o
e le a in d a a p r e c ia r q u e s t e s d ec o rre n te s d a p re s ta o d e tra b a lh o d e c o n
te d o n o -e m p re g a tc io (trabalho e v e n tu a l, p e q u e n a e m p re ita d a etc.):
c - m a n t m a tradicional re p re s e n ta o paritria, p o rm c o m total ind e
p e n d n c ia :
d - p re s e rv a a s e rie d a d e d a h o m o lo g a o d a s res c is e s con tra tu a is p e
los sindicatos, porqu e o tra b a lh a d o r p re e n c h e u m q uestio nrio, o n d e fi
c a m e s p e c ific a d a s tod as as v e rb a s trabalh istas re c e b id a s e os servios
re a lm e n te p re stad os, perm itindo a o conciliador, d e p lano, d e te c ta r e v e n
tuais p e n d n c ia s p o r p arte do e m p re g a d o r; a d e m a is , q u a n d o d e re c la m a
o tra b a lh is ta , o referido questionrio p o d e s e r e n c a m in h a d o p elo N
c leo a o juiz, ou s e r requisitado p o r este, q u e c o n h e c e r a v e rd a d e , re v e la
d a logo a p s a resciso d o contrato de trabalho;
e - p ro m o v e a in te g ra o do tra b a lh a d o r e do e m p re g a d o r c o m os seus
re s p e ctiv o s sindicatos, o q u e n e m s e m p re o co rre c o m a C o m is s o de
C o n c ilia o d a e m p re s a ; d e fato. c o m a e x is t n c ia do N cle o , o e m p r e
g a d o e o e m p re g a d o r p ro cu ra m o s e u re s p e ctiv o s in d icato p a ra o b te r
o rie n ta o q u a n to a o s se us p ro blem as, a fim d e p o d e r s o lu cion -lo s ju n
to q u e le ;
f - p ro m o ve o e x e rc c io d a d e m o c ra c ia , a tra v s do dilo go e n tre a s p a r
tes. p erm itin d o q u e e s ta s fa a m u m a a n lis e crtica d a re a lid ad e , p a ra
q u e a m b a s p o s s a m p rogredir (hoje im p e ra u m a d e m o c ra c ia m e ra m e n te
fo rm a l):
g - pro picia o a m a d u re c im e n to d a s p a rte s p a ra a n e g o c ia o coletiva e
p a ra a soluo dos p roblem as q u e p o d e m eclodir n a fluncia do contrato
d e trabalho (atu alm e n te os sindicatos se re n e m a p e n a s u m a v e z por ano,
p a ra a m e s a redonda, e o primeiro d es te m p e ro verbal motivo p a ra evitar
q u a lq u e r discusso sob re pretenses coletivas); com e s s e a m a d u re c im e n
to e com 0 con hecim en to mtuo d as partes (possibilitado pelo dilogo d i
rio), e v ita m -s e p re te n s e s inescru p ulo sas e p ro p o sta s cnicas;

183

1 8 4 *

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

h - f a z d a n e g o c ia o coletiva instrum ento a u t n o m o d e re g u la m e n ta o


cole tiv a d a s re ia e s individuais d e trabalh o, b e m c o m o d e a d e q u a o
d a leg is la o re a lid ad e local; d e s s a form a, a s s im q u e s u rg e m p ro b le
m a s q u e a fe te m a m b a s a s c a te g o ria s , ele s s o a n a lis a d o s n o N cle o ,
q u e p ro c u r a s o lu o p a ra eles, b e m c o m o traa dire trize s p a r a q u e eles
n o s e re p ita m ou p a ra q u e s e ja m m in orado s s e u s e fe ito s (p o r e x e m p lo ,
d e s e m p re g o ): o n d e n o h N cle o , a solu o d e tais p ro b le m a s fica nor
m a lm e n te p o s te rg a d a p a ra a d a ta -b a s e d a c o n v e n o (o n d e n e m s e m p re
e la e n c o n tra d a );
i - fo rta le c e os sindicatos, pois p ro vo c a m u d a n a d e m e n ta lid a d e , im p o n
d o m a io r a tu a o e d in am ism o.
C u m p re s a lie n ta r q u e os term o s d e c o n ciliao e fe tu a d o s p e ra n te o n
cle o t a m b m p o s s u e m n a tu re z a d e ttulo e x e cu tiv o extrajudicial, por for
a d o disposto no art. 6 2 5 - E , p a r g ra fo nico, c/c art. 6 2 5 - H , a m b o s in s e
ridos n a C L T p o r fo r a d a Lei n - 9 .9 5 8 , d e 1 2 / 0 1 /2 0 0 0 .
E m p re g a d o e e m p re g a d o r d e v e m a p re n d e r a trilhar o c a m in h o d a c o n s c ie n
tiza o . p a ra p o d e re m , d e fo rm a a u t n o m a , b u s c a r a so lu o d e se u s
conflitos, p ropiciando assim , c o n fo rm e term o d e A n t nio lv a re s d a Silva'^, a d e s ju ris d ic io n a liza o dos conflitos laborais.
P o r o ra , e s p e r a -s e q u e tais c o m is s e s a lc a n c e m tra d i o e c re d ibilidad e
s o c ia l, e q u e p o s s a m f a z e r g e r m in a r a in a d i v e l e m a n c ip a o d o s
interlocutores sociais e m s e d e d e conflitos laborais.
S a lie n te -s e , p orm ; os q u e p re te n d e re m a p e n a s f a z e r u so d a fa c u ld a d e
legislativa, s e m a s p ira r a u m a p ro fu nd a e s ria m u d a n a dos ru m o s d as
in te r-re la e s d e e m p re g a d o s e e m p re g a d o re s , o p ta r o p e la im p la n ta o
d a s C o m is s e s d e C o nciliao .
M a s os q u e p re te n d e re m a p ro v e ita r o m o m e n to histrico p a ra p ro m o v e r
a re n o v a o n as re la e s laborais, e a tra n s fo rm a o cultural d o s in d ic a
lism o, b e m c o m o investir n a c o n c re tiz a o d a d e m o c r a c ia e c o n m ic a ,
e s s e s o p ta r o p e la im p la n ta o dos N cle o s , p rin c ip a lm e n te p a ra q u e o
direito do tra b a lh o s e ja h u m an is ta e fraterno, e n o g u e rra e n tre a a rtim a
n h a e o artifcio.

SILVA, Antnio lvares da. Soluo dos conflitos do trabalho. In Curso de Direito do Trabalho: Estudos
em memria de Clio Goyat. 2- edio - So Paulo: LTr, 1994. vol. II, p, 706.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

S e m n e n h u m a a p o lo g ia ao n eo liberalism o q u e h m uito im p e ra c on tra os


d ir e ito s e l e m e n t a r e s d o s e m p r e g a d o s , e s e m a p la u d i r o e x c e s s iv o
in te rv e n cio n is m o e s tatal, h q u e s e b u s c a r o n e c e s s rio equilbrio, que
s o m e n te o c o rre r c o m o p e r m a n e n te d i lo g o e n tre a s partes.'
S o m e n te um dilo go franco, h onesto e tra n s p a re n te p erm itir q u e a s p a r
te s p ro g rid a m , p o rq u e o m o n lo g o e s tio la o r e la c io n a m e n to . C o m o j
d is s e m o s , a s d u a s p e rn a s (trabalho e c a pital) n o s e dirigiro c a d a um a
p a ra u m lado, o c apital p a ra a direita, o tra b a lh o p a ra a e s q u e rd a , com o
a t a g o ra te m acon te c id o , porm c a m in h a r o n u m a s d ire o .'

3.4 CRTICAS GENERALIZADAS


H u m fato n a s o c ie d a d e b rasile ira so b re o q u a l p re c isa m o s refletir m u ito
b em : a crtica, m u ita s v e z e s lev iana e in c o n se q e n te , d e fo rm a g e n e ra liz a d a , a
u m a classe. E x e m p lo s c o rriq u eiro s: os fu n c io n rio s p b lic o s s o v a g a b u n d o s ,
os p ro fe s s o re s s o in c o m p e te n te s , os a d v o g a d o s s o d e s o n e s to s , os po lticos
so c o r r u p to s , o s p a s to re s e os p a d r e s so d in h e irista s... E a lista v ai longe.
A g e n e ra liz a o d e s u m a n a , cruel. T ra n sfo rm a -s e a exceo e m reg ra. E
m u ita s v e z e s os p r o t tip o s falsos g a n h a m foros d e le g itim id a d e . A ssim , a h o n ra
d e u m a classe m a c u la d a p o r c a u sa d e e rro s d e a lg u n s.
A s o c ie d a d e p re c isa re a g ir a isso. Q u a n d o for feita u m a crtica, p re c iso
ex ig ir q u e se a p o n te o criticado. O crtico n o d e v e se r c o v a rd e , n o d e v e a g a r
ra r-se a g e n e ra liz a es, d e v e n d o sujeitar-se a p r o v a r a q u ilo q u e disser.
D e v e m o s a g ir re s p o n sa v e lm e n te , p a r a n o c o n s p u r c a r a h o n r a alheia.

3.5 FUNDOS PRIVADOS DE INVESTIMENTO


A s id ia s q u e p e r m e ia m os fu n d o s d e in v e s tim e n to s s o tim a s, m a s n a p r
tica a m a io ria d e le s tem sid o u m de sa stre . T em -se m e s m o a im p r e s s o d e q u e
m u ito s j s o c ria d o s c o m a fin a lid a d e d e s e re m s a q u e a d o s p o r se u s d irig e n te s,
d e tal fo rm a q u e , q u a n d o cheg a o m o m e n to d e d e s f r u ta r e m d o in v e stim e n to
feito c o m ta n to sacrifcio, os b en e fic i rio s v e m q u e fo ra m ir r e p a r a v e lm e n te
lesad os.

GALDINO, Dirceu. Vantagens das Comisses de Conciliao Prvia e dos Ncleos Intersindicais, In

R e vista LTr L e g is la o d o Trabalho. So Paulo; LTr, 2000, ano 36,


'=' VASCONCELOS & GALDINO, op. c/f., p. 393.

145, p. 707.

186

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

Isso ta m b m o c o rre c o m m u ito s consrcios.


U m c id a d o q u a n d o vai a u m a e n tid a d e fin an ceira fa z e r u m e m p r s tim o
g e ra lm e n te j d eix a c o m p r o m e tid o c o m ela q u a s e a to ta lid a d e d e se u s bens.
C o n tu d o , p a ra p r o te g e r o c id a d o , n o so d a d a s g a ra n tia s , q u e d e v e r ia m ser
p ro p o rc io n a is ao in v e s tim e n to feito.
P o d e r-se -ia a le g a r q u e a lei e sta b e le c e r e s p o n s a b ilid a d e so lid r ia e n tr e a
e m p r e s a q u e a d m in is tr a o fu n d o e a su a d ire to ria . T o d a v ia , isso insuficiente,
p o is o s m e m b ro s d a d ire to ria p o d e m a posteriori r e tira r b e n s d o s e u n o m e , e
assim , q u a n d o h o u v e r execu o in te n ta d a p o r a lg u m p re ju d ic a d o , este ter v i
tria d e Pirro: g a n h a r , m a s n o levar.
D everia h a v e r n o r m a s se v e ra s q u a n to s a u d ito ria s d o s f u n d o s , p o is m u ita s
v e z e s elas fu n c io n a m a p e n a s n o a sp e c to form al. T a m b m p a r a os a u d ito r e s h
n e c e s s id a d e d e c l u s u la d e s o lid a r ie d a d e re la tiv a s c o n ta s q u e p o r eles fos
s e m a u d ita d a s . E s e ria m im p re s c in d v e is sa n e s p e n a is q u e r e p r im is s e m q u a l
q u e r te n ta tiv a d e fr a u d e p e lo s d ire to re s o u d e a c o b e rta m e n to d e fr a u d e pelas
a u d ito ria s.
A rig o r, os d ire to re s d e fu n d o s d e v e ria m se r d e p o s it rio s fiis d o s v a lo re s
receb id o s, p a r a q u e d e im e d ia to p u d e s s e se r d e c re ta d a a s u a p ris o n o caso d e
g e re n c ia m e n to fra u d u le n to .
O q u e n o se p o d e p e rm itir q u e " p ira ta s " fiq u em lu d ib r ia n d o i m p u n e m e n
te o s c id a d o s , estes q u a s e s e m p re indefesos.
D iz Fabrcio A zeved o :

N o s E s ta d o s U nidos, o patrim nio dos fun do s c h e g a a U S $ 6 trilhes, e


n a H o la n d a e S u a os fundos t m capital m a io r d o q u e os respectivos
P IB s. E m a lg u n s p a s e s , c o m o C in g a p u ra , h is e n o d e im postos para
c o la b o ra r c o m a fo rm a o dos fundos. E m v ria s e c o n o m ia s d e s e n v o lv i
d a s , a p re v id n cia p riv a d a p ra tic a m e n te substituiu a oficial.

N o Brasil, o g o v e rn o fed eral p r e te n d e trib u ta r os fu n d o s. T o d a v ia , a iseno,


p rin c ip a lm e n te p a r a o s fu n d o s d e a p o se n ta d o ria , visa e s tim u la r a fo rm a o d e
p o u p a n a d e lo n g o p ra z o , o q u e tra z re s u lta d o s p o sitiv o s p a r a a e c o n o m ia n aci
onal. A lis, h u m a incoerncia poltico-financeira e m tr ib u ta r os f u n d o s , p o r"

AZEVEDO, Fabrcio. Tributao dos fundos: quem paga a conta? In Ao - Jornal da ANABB Associao Nacional dos Funcionrios do Banco do Brasil, ano XIV, n - 137, nov./dez. 2000, p. 5.

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

q u e o fo m e n to d a p o u p a n a q u e eles criam e m m b ito n a c io n a l tra z m a io re s


benefcios d o q u e s o fre n d o a trib u tao .

3.6 DOMINGO
A p a la v r a d o m in g o v e m d o latim dojnenicus, d a e x p re s s o dies om enicus,
q u e significa " d ia d o S e n h o r", te n d o o ad je tiv o in c o r p o r a d o o sig n ific a d o d e
to d a a e x p re ss o . A ssim , o d o m in g o u m d ia d e ele v a o e sp iritu a l.
A p a r d o a sp e c to religioso, h o u tro - e f u n d a m e n ta l - a s e r c o n sid e ra d o : ele
ta m b m o d ia d o r e p o u s o se m a n a l, e m q u e r e c u p e r a m o s as e n erg ias. U m a
p e s so a q u e tra b a lh a s se to d o s os dias, se m d e sc a n s o se m a n a l, teria excesso de
fad iga, e a c a b a ria c o n tra in d o d o e n a s e p r o v o c a n d o a c id e n te s, c o m srio s p r e
ju z o s p a r a si, p a r a su a fam lia e p a r a a e m p re s a e m q u e trab a lh a .
A p r e te n s o d e tra b a lh o a o s d o m in g o s rev e la v o r a c id a d e financeira; to d a
v ia, p a r a a p r p r ia so c ie d a d e isso n o s a u d v e l: p r o v o c a u m a n e u r a s te n ia
coletiva. A s p e s s o a s e n tr a m facilm en te e m fadiga. N e rv o s ism o . A g re ssiv id a d e .
O c o rre isso p o r q u e o c o rp o e a m e n te e sto c a n sa d o s. A d e m a is , o q u e tiv e r q u e
se r v e n d id o d u r a n t e a s e m a n a o ser in d e p e n d e n te m e n te d e se r d o m in g o . A
rig o r, se a s o c ie d a d e q u e r m e lh o r q u a lid a d e d e v id a , o c o rre to seria q u e h o u
v esse d e sc a n so n o s b a d o e n o d o m in go .
N o e n ta n to , m u ito s co m ercian tes (s u p e rm e rc a d o s, h ip e rm e rc a d o s , sh o p p in g s)
q u e r e m tr a n s f o r m a r o d o m in g o n u m dia n o rm a l d e tra b a lh o , a fim d e a u m e n ta
re m se u lucro, q u a n d o o tra b a lh o n esse d ia s d e v e o c o rre r se ele for essencial,
in a d i v e l, o u q u a n d o se tra ta r d e p e ro d o especial.

3.7 SANITRIOS E BANHEIROS PBLICOS


H injustificvel c o n fo rm ism o d a s o c ie d a d e q u a n to h ig ie n e d o s san itrio s
e b a n h e iro s p b lic o s, q u e so, e m regra, s im p le s m e n te no jen tos. S ejam eles p a r
ticu lares o u p b lic o s, a S a d e Pblica d e v ia in te r d ita r o s q u e n o oferecessem
c o n d i e s d e u s o e m u lta r os p ro p rie t rio s. A m a r g e m d e r o d o v ia s, e m te rm i
n a is r o d o v i rio s e e m b a re s, eles a p r e s e n ta m e s ta d o d e p lo r v e l, s e n d o v e r d a
d e iro s focos d e p ro life ra o d e doenas. Veja-se, p o r ex e m p lo , ao la d o d a a d m i
rv el a r q u ite tu r a d a igreja d e So Sebastio n o Rio d e Janeiro, u m s a n it rio q u e
a de p re c ia .
A S a d e P blica d e v e ria fazer c o n tn u a fiscalizao e p r o m o v e r re p e tid a s
c a m p a n h a s d e esc la re c im e n to , a fim de, pelo m e n o s, m in im iz a r a situ a o a t u

1 8 7

1 88

D IR C E U G A L O IN O C A R D IN

al. E as escolas d e v e r ia m d a r su a colaborao, o r ie n ta n d o o s a lu n o s, inclusive


p o r q u e ta m b m n e la s o p r o b le m a grave.

3.8 TURISMO
O Brasil u m p a s lin d o , m a s ..." - o q u e d iz o tu rista e stra n g e iro .
N o h in fra -e stru tu ra , o a te n d im e n to ru im , a v io ln cia a ss u s ta , e s e m p re
q u e r e m lu d ib r ia r o v isitan te. N o se p r o c u r a co n q u ist-lo , p a r a q u e v o lte e tr a
g a am igo s. E n g a n a m -n o , ju lg a n d o q u e ele n u n c a m a is voltar...
L u iz G o n z a g a G o d o i T rig o , d i r e t o r d a F a c u l d a d e S e n a c d e T u r i s m o e
H o te la ria , sin tetiza: "... in fra -e s tru tu ra in a d e q u a d a , m o -d e -o b ra r u im e p a s
p e r ig o s o " .^
O Rio d e J a n e iro a c id a d e b ra sile ira m a is c o n h e c id a n o e x terior. Ela a
p o rta d e e n tr a d a p a r a o tu ris m o brasileiro. C o n tu d o , s u a s p r a ia s est o e x tre m a
m e n te p o lu d a s... E o q u e d iz e r d a m a la n d r a g e m d e ta n to s d e lin q e n te s e m
relao a o tu rista? D a v iolncia q u e d o m in a a q u e la c id a d e ? Q u a l o e s tra n g e iro
q u e e m s c o n scin cia ir q u e r e r v iajar p a r a u m a c id a d e e m q u e n o ter o
m n im o d e se g u ra n a ? O s E sta d o s d o M a to G ro sso e d o M a to G ro sso d o Sul so
ricos e m locais tursticos, c o n tu d o so p ss im a s as e s tr a d a s q u e le v a m a eles...
N o d e v e m o s e sq u e c e r q u e , e m m a t ria d e tu rism o , e s ta m o s p e r d e n d o p a ra
o U ru g u a i. C aio L u iz d e C a rv a lh o , e x -p re sid e n te d a E m b r a tu r , reconhece: "O
tu ris m o a in d s tr ia d o fu tu ro n o Brasil".
O p ro fe ss o r G rassi M e n d e s acrescenta:

T u ris m o - e s te setor, indiscutivelm ente, a in d a n o foi d es c o b e rto no B ra


sil. H is to ric a m e n te , o n m e ro d e turistas brasileiros no e x te rio r b e m
m a io r q u e o n m e ro d e turistas e s tra n g e iro s no Brasil, o q u e g e r a um
dficit n a n o s s a b a la n a d e servios d e m a is d e U S $ 2 b ilh es s o m e n te
d ev id o a o turism o. P a ra d a r u m e x e m p lo d e s ta d e s p ro p o r o , a E s p a n h a ,
q u e n o te m 4 0 m ilhes d e h ab ita n te s , re c e b e u no a n o p a s s a d o m a is de
4 7 m ilh es d e turistas. b o m le m b ra r q u e turism o significa re n d a e e m
p re g o . Alis, s o m e n te n a agricultura, n a s e x p o rta e s e no turism o, o

TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. R e a lid a d e : n o s a b e m o s tra ta r turistas, /n 0 Estado de S, Paulo", 11


mar. 2001. p. B-8.
''' CARVALHO, Caio Luiz de. 0 B ra s il m oda. In "Isto , 19 dez, 2001, p. 13.

D E S A F I O S DA C I D A D A N I A 1 8 9

Brasil p o d e ria re s o lve r todos os se u s p ro b le m a s d e p o b re z a e d e g e ra o


d e e m p r e g o .^

Q u e m j v ia jo u a o e x te rio r fica se p e r g u n t a n d o p o r q u e n o B rasil n o h


a u t n tic o tu ris m o , p o is e m n o sso pas h p a is a g e n s e x tr a o r d in a r ia m e n te belas.
E n q u a n to n o Brasil v ig e r a id ia d e se e x p lo ra r o tu ris ta , e n o o tu ris m o , n s
e sta re m o s p e r d e n d o n o s fin a n c e ira m e n te , m a s ta m b m e m te rm o s d e r e p u
tao in tern acio n al.

3.9 PARQUES DE DIVERSO


O b ra s ile iro est f a d a d o d e p re ss o , p e lo excesso d e tra b a lh o e p o u q u s s im o
lazer, e n tre o u tro s fatores.
A p e s so a v a i p a r a o tra b a lh o , g e ra lm e n te e n fre n ta u m tr n s ito n e u r o tiz a n te e
te m q u e se d e d ic a r p a r a p r o d u z ir o m xim o . M u ita s v e z e s, ela c h e g a a te r u m
s e g u n d o e m p re g o . Q u a n d o ch e g a e m casa, est e m fra n g a lh o s. Q u e r ficar so zi
n h a , d e sc a n sa r. N o te m e n erg ia p a ra b rin c a r com os filhos. Liga a telev iso e
n o q u e r q u e a in c o m o d e m . E d o r m e com a p re o c u p a o d e le v a n ta r c e d o no
d ia se g u in te , c o m receio d e p e r d e r o horrio... N o te m n im o p a r a v isita r p a
re n te s n e m a m ig o s, n e m p a r a c o n v e rsa r c o m o s fam iliares. S u a v id a q u a s e se
re strin g e a o tra b a lh o . N o s fins d e se m a n a , est t o e x a u sta , q u e s o m e n te q u e r
d o rm ir. A c o rd a ta rd e . A lm o a tarde, Tira a sesta. O d o m in g o p a s s a r p id o , e
ela v o lta a trabalh ar...
Tal siste m a d e v id a fbrica d e d e p re ss o . E a te n d n c ia a u m e n ta r c a d a
v e z m ais o n m e r o d e v tim a s d e ssa d oe n a , q u e a c a b a r s e n d o a d o e n a d o
sculo.
O s g re g o s j d iz ia m q u e o m e lh o r lazer est n o c a m p o . E J u n g alerta;

N a tu ra lm e n te , a s p e s s o a s q u e n a d a s a b e m d a n a tu re z a s o neurticas,
pois n o e s t o a d a p ta d a s re a lid ad e . S o ain da d e m a s ia d o ingnuas,
c o m o c ria n a s , e t m n e c e s s id a d e d e q u e s e lhes e n s in e q u e s o h u m a
n as c o m o tod a s a s outras. E sse c o n h e c im en to n o b as ta p a ra c u ra r as
neuroses; s reco braro a s a d e se c on s e gu ire m s air d a la m a cotidiana".
MENDES, Grassi. R a z e s p a ra n o c o m e m o ra r os 5 0 0 anos. In Gazeta Mercantil", 20 de abril de
2000, p. 2.
Carl Gustav JUNG, op. c it, p. 155.

190

O l H C e U G A L D IN O C A R O N

n e c e ss rio o re to rn o n a tu re z a , p e lo m e n o s e m fins d e se m a n a .
O id e a l seria q u e as p e ss o a s fo ssem m ais p a r a o c a m p o , p a r a a p r a ia , p a r a as
m a ta s, p a r a se re v ig o ra re m fsica e m e n ta lm e n te c o m a e n e rg ia p r o v i n d a d a
n a tu re z a . C o m o isso n e m s e m p r e possvel, o p o d e r p b lic o d e v e ria criar p a r
q u e s n a tu ra is, m e d ia n te d e s a p ro p ria o , a p ro v e ita n d o re a s florestais, e p r o p i
ciar tra n sp o rte , a p re o re d u z id o , p a ra esses locais.
Q u e m n o te m la z e r se to rn a n e u rastnico .

3.10 CENTRAL TELEFNICA


H u m g r a n d e n m e r o d e telefones d e u tilid a d e p b lica, o q u e re p re se n ta
sria d ific u ld a d e , p rin c ip a lm e n te p a ra os c id a d o s m a is sim p le s e e m situaes
q u e r e q u e r e m a lg u m a m e d id a u rg e n te . E esse p ro b le m a se ria m e n te a g ra v a d o
q u a n d o se liga p a r a u m d esses n m e r o s e v e m m e n s a g e m a u to m tic a : se voc
deseja isso, d is q u e tal n m e r o , se voc deseja a q u ilo , d is q u e este o u tro ... E i
v e m u m a srie e n o r m e d e n o v o s n m e ro s. N o ra ro a lg u m e s p e r a r a in d ic a
o d e to d o s os n m e r o s d isp o n v e is, p a r a fazer a o p o co rreta, e d e p o is e s
q u e c e r a q u e le p a r a o q u a l d e v e ria ligar, o b rig a n d o -s e a c o m e a r tu d o d e novo...
E m resp eito ao cid a d o , d ev eria h a v e r a p e n a s u m n m e r o p a ra tais telefones
d e u tilid a d e p blica, e m u m a central telefnica. Essa cen tral se in fo rm aria sobre o
p ro b le m a e e n c a m in h a ria im e d ia ta m e n te a ligao j p a r a o local a d e q u a d o .
Ser q u e os n o s so s servios p b lic o s so to ru in s, q u e os r e s p o n s v e is fa
z e m q u e s t o d e d ific u lta r a o m x im o o acesso a eles?!
P a ra ilu s tra r o d e sc a so p a ra com o c id a d o , n a r r a r e m o s u m fato q u e o c o rre u
conosco.
P re se n c ia m o s u m g ra v e a c id e n te d e trn sito, e m q u e u m a p e s s o a ficou feri
d a , talv ez c o m g r a v id a d e , e s te n d id a so b re o asfalto. N o d e ix a m o s q u e n e n h u m
m o to rista a c o n d u z is s e ao p ro n to -so c o rro , p a r a e v ita r a g r a v a r se u e sta d o , c o n
fo rm e o rie n ta o q u e v e m s e n d o d a d a a tra v s d e c a m p a n h a s d e e s c la re c im e n
to. Im e d ia ta m e n te , a tra v s d e celular, telefon am o s p a r a a e m p r e s a telefnica e
p e d im o s q u e a a te n d e n te n o s fornecesse o n m e r o d o telefon e d o SIATE (Siste
m a I n te g ra d o d e A te n d im e n to a T ra u m a s e E m ergncias). D a a p o u c o o u v im o s
u m a gravao;
-

O n m e r o d a FIA T ...

In d ig n a d o , v o lta m o s a telefonar p a ra a m e sm a e m p re s a , e d e s ta v e z fom o s


a te n d id o s p o r u m ra p a z , a q u e m re p e tim o s o p e d id o :

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

A g ra v a o foi liberad a;
- T elefo n e n" 192.
N o v a in d ig n a o : e sse n m e r o o d e p ro n to -so c o rro . S e n tim o s v o n ta d e de
lig a r m ais u m a v e z e d iz e r q u e eles e r a m irre sp o n s v e is , q u e m e re c ia m ir p a ra
a c a d eia. M a s n o s c o n tiv e m o s p o r q u e o u v im o s u m d o s c irc u n sta n te s, c o m o
ce lu la r n a m o , gritar;
- O C o rp o d e B om beiros j est vindo...
D ep o is d e sc o b rim o s q u e o n m e r o p a r a co n ta c to c o m o SIATE o 193.

3.11 PONTUALIDADE
O b ra sile iro n o e d u c a d o p a ra a p o n tu a lid a d e . A re g ra c h e g a r a trasad o .
p re c iso e d u c a r as p e sso a s p a ra o re sp e ito a o p r x im o , e esse re sp e ito inclui
a o b se rv n c ia d e h o r r io c o m b in a d o o u fixado. Se u m a p e ss o a vai c h e g a r a tr a
s a d a a u m c o m p ro m is s o p o r q u e q u e r o u p re c isa re s o lv e r a n te s u m p ro b le m a ,
ela p re c isa s a b e r q u e q u e m est e s p e r a n d o p o d e te r d e ix a d o d e re so lv e r p r o b le
m a s v e z e s a t m a is g ra v e a fim d e n o se a tra s a r a o m e s m o c o m p ro m iss o . Por
c e rto , h im p r e v is to s q u e d e fato im p o s s ib ilita m a p o n tu a li d a d e , m a s g e ra l
m e n te o q u e se v s o m e ro s p re te x to s p a r a a falta d e co n sid erao .
A s v e z e s h p e s s o a s q u e se s e rv e m d a im p o n tu a lid a d e p o r ra z e s prticas.
P o r ex e m p lo , a lg u n s poltico s u s a m a ttica d e c h e g a r a tr a s a d o s a certo s e v e n
tos p a r a q u e o m e stre -d e -c e rim n ia o s in te r r o m p a p a r a a n u n ci-lo s. C o m isso,
e s p e r a m c h a m a r a a te n o so b re si e colher fru to s m a is tard e.
N e s se caso, o p ro c e d im e n to co rre to seria, n a m e d id a d o p o ssv e l, n o in te r
r o m p e r o s e v e n to s p a r a an u nci-los, q u a n d o m u ito c ita n d o -o s n o e n c e rra m e n
to, q u a n d o se a g ra d e c e a o s p re se n te s. Se esse p r o c e d im e n to fosse a d o ta d o , p o r
certo a im p o n tu a lid a d e d im in u iria significativ am en te.

3.12 PROGRAMA EDUCATIVO


H n e c e s sid a d e d e u m p r o g r a m a e d u c a tiv o n a telev iso, e m h o r rio n o b re,
q u e in te n s ifiq u e a s p e q u e n a s p r o p a g a n d a s , d e p o u c o s s e g u n d o s , q u e o g o v e rn o
in se re ao lo n g o d a p ro g ra m a o .
E p re c is o u r g e n te m e n te e d u c a r o p o v o e m to d o s os sen tid o s: sa d e , d ireitos
fu n d a m e n ta is , e d u c a o n o tr n sito , m e io a m b ie n te , at m e s m o b o a s m an e ira s.
E x em p los c o rriq u e iro s d e p ro c e d im e n to s incorretos: p e s s o a s q u e jo g a m g a r r a
fas o u la tin h a s v a z ia s n a s ru a s , o u q u e a lim e n ta m in d e v id a m e n te a n im a is d e

191

1 9 2

D IR C E U G A L D IM O C A B D IN

zoolgicos; q u e , n o d o d e sc a rg a s e m b a n h e iro s p blico s; u r in a m fora d o s v a


sos san itrio s; q u e , e m filas o u n ib u s, n o c e d e m lu g a r a g e sta n te s, a p esso as
id osas o u c o m c rian a n o colo; q u e n o d o ao p e d e s tr e p re fe r n c ia n o trnsito;
q u e , c o m s e u s vecu los, " c o s tu ra m " n o trn sito , in c lu siv e e m alta velocid ade;
q u e b u z in a m p e r to d e h o sp ital; q u e n o o b e d e c e m lei d o silncio; q u e ficam
c o n v e rs a n d o d u r a n t e d isc u rs o s e palestras... O c id a d o p re c isa a p r e n d e r a re s
p e ita r, p a r a se r re sp e ita d o .
N o s ltim o s m in u to s s e ria m tra n s m itid a s im a g e n s d a fa u n a o u d a flora b ra
sileira, c o m o u m p ss a ro , u m peixe, u m a b o rb o leta, u m a r v o r e o u u m a flor,
fa la n d o so b re s u a s caractersticas, p a ra q u e a s p e s s o a s p u d e s s e m a p r e n d e r u m
p o u c o m a is so b re a n a tu re z a . J v im o s r e p o rta g e n s e m q u e o g u a tu r a m o era
c h a m a d o d e tiet, o ta n g a r d e sara, a b a n d e irin h a d e sa n h a o , o siriri d e b em te-vi e a s a ra c u ra d e gara...
T a m b m c o n v iria q u e im e d ia ta m e n te a p s o e n c e rra m e n to , n o s can ais d e
TV, d o s n o tic i rio s d e h o r rio n o b re , fosse o b rig a t ria a a p re s e n ta o d e u m
q u a d r o q u e se p o d e r ia d e n o m in a r " u m m in u to d e m e io a m b ie n te " , e m q u e a p a
receria n a tela u m a b ela cena d a n a tu r e z a , com o u m p r-d o -so l o u o v o d e u m
beija-flor.
C o n v m d a r n fase a in d a ao c u id a d o q u e o p o v o d e v e te r c o m a su a cid ade.
H m u ita s c id a d e s e m q u e n o h p re o c u p a o com a esttica, q u a n d o ela re v e
la a c u ltu ra d e u m povo.
P e sso a s civ iliz a d a s se p r e o c u p a m com a su a c id a d e c o m o se ela fosse sua
p r p r ia casa: n o jo g a m p a p e l n a calada, n o q u e b r a m g a rra a s n a ru a , d e p o s i
ta m o lixo e m lu g a r a d e q u a d o , re c o lh e m os d ejeto s d e s e u s ces...
O s p r p r io s p re fe ito s, to d a v ia , d e sc u ra m d o a sp e c to d a s v ias e lu g a re s p
blicos. o q u e se verifica e m c id a d e s d e m d io e g r a n d e p o rte , e m q u e eles
p r o v id e n c ia m p a r a q u e a a v e n id a o u ru a q u e v ai d o a e ro p o rto p a r a o c en tro
a p re s e n te c a n te iro s m a g n ific a m e n te floridos, m a s d e ix a m as a v e n id a s o u ru a s
p a ra le la s e m to tal ab a n d o n o ...
h o ra d e h a v e r m a io r p re o c u p a o d a s a u to r id a d e s e d a s o c ie d a d e q u a n to
a o p r is m a esttico d o local e m q u e vivem .

3.13 LEGISLAO TRABALHISTA


A s relaes e n tre e m p r e g a d o e e m p r e g a d o r n o d e v e m se r a n a lis a d a s a p e
n a s v ista d o s d ire ito s e d e v e re s d e a m b o s lu z d a leg islao tra b a lh ista . D e

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

ver-se-ia fazer u m a a n lise p oltica d o s efeitos d e ssa leg islao q u a n to s d iv e r


sas q u e s t e s d e in te re sse social, c o m o a p r o d u tiv id a d e e a q u a lid a d e d e v id a do
em pregado.
A legislao tra b a lh is ta p r o d u z d iv e rs o s efeitos s o c ia lm e n te n o -re c o m e n d v eis, p o is trata os tra b a lh a d o re s co m o se eles fo sse m p e ss o a s in c a p a z e s. A
v o n ta d e de le s n o le v a d a e m co n ta, p re v a le c e n d o a n o r m a p b lica. M u itas
vezes, o e m p r e g a d o r g o sta ria d e a g ir d e fo rm a b en fica a o e m p r e g a d o , m a s n o
p o d e faz-lo, p o r q u e v e d a d o p ela lei o u isso lh e p o d e tra z e r c o n se q n c ia s
d e sa stro sa s. A ssim , c o m o ele co rreria o risco de, p o s te rio rm e n te , so fre r recla
m a o tra b a lh is ta , e n t o g e ra lm e n te deixa d e a te n d e r a solicitaes d o s e m p r e
g a d o s , a te n d o -se e s trita m e n te aos d e v e re s legais.
Q u a n to a o s salrio s, o m e lh o r sistem a, ta n to p a r a o e m p r e g a d o q u a n to p a ra
o e m p r e g a d o r , e ta m b m p a r a a p r p r ia na o , a q u e le q u e to m a p o r b a se a
p ro d u o : q u a n to m a is o tra b a lh a d o r p ro d u z is s e , m a io r seria a su a r e m u n e r a
o. T o d a v ia , esse o siste m a m ais c o m p le x o e q u e p ro v o c a m a io re s d iscu ss es
n o m b ito tra b a lh ista , s e n d o c o n sta n te fo n te d e a trito s e, p o r ta n to , o m e n o s
re c o m e n d v e l so b a v e rte n te jurdica.
A p ro p s ito , d iz A m a u r i M ascaro N ascim en to:

S a l rio por p ro d u o ou por u n id ad e d e o b ra a q u e le p a g o c o m b a s e


nos re s u lta d os d a ativ id a de do trabalhador.
T e m sido a lvo d e crticas p orqu e o brig a a um d e s g a s te d e e n e r g ia s maior,
tra z p ro b le m a s jurdicos e m virtude d a s s u s p e n s e s ou in te rru p e s do
con tra to d e tra b a lh o e d e m a is clculos, n e m s e m p re s o fixad os d e m odo
a a s s e g u r a r o justo salrio e n o d e ix a m d e re p re s e n ta r u m a d iviso dos
riscos do neg cio c o m o e m p re g a d o ".^

P o r isso q u e p r e d o m in a no Brasil o salrio m e n sa l, q u e o m e n o s in te re s


san te so b a tica d a p r o d u tiv id a d e , p o r q u e o m a is su jeito a o c o m o d ism o : p o r
q u e p r o d u z i r m a is se o salrio est g a ra n tid o ?
O e m p r e g a d o q u e se esfora v, m u ita s vezes, s u a d e d ic a o se r in til, p o r
q u e n o te m reflexo financeiro; o e m p r e g a d o r receia m o d ific a r a fo rm a d e p a g a -

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. C om p nd io d e D ire ito d o Trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 1976, p.
548.

1 93

1 9 4

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

m e n to , d e v id o a p o ssv e is reclam a es trab alhistas, e a n a o d eix a d e ter m a i


o r p ro d u o .
n ecessrio r e fo rm u la r c o m p le ta m e n te a legislao tra b a lh ista , p a r a in cen
tiv a r a a d o o d o siste m a d e re m u n e ra o p o r p r o d u tiv id a d e .
C o n v m o b s e r v a r q u e G e t lio V a rg a s foi b u s c a r n a C arta d ei Lavoro o
arc a b o u o p a r a a CLT. E ta m b m se a b e b e ro u n a legislao tra b a lh ista e sp a rsa
v ig e n te n a Itlia p o c a d e M u sso lin i, ta n to a ssim q u e o a rtig o 458 d a CLT
p r o m a n a d o D e c re to -L e i n" L 8 2 5 , d e 1 3 / 1 1 / 2 4 , cu jo s ig n a t r i o foi B en ito
M ussolini. E statu i esse decreto;

S e o e m p re g a d o re m u n e ra d o no todo ou e m p a rte c o m pro vis es, p r


m ios d e p ro d u o ou particip a es, e s ta s s e r o m e d id a s p e la m d ia do
ltimo trinio e se o e m p re g a d o n o tive r c o m p le ta d o tr s a n o s d e s ervi
o sob re a m d ia dos a n o s por e le p a s s a d o s no servio,
- P a r a efeitos d o p re s e n te artigo s o e q u ip a ra d o s a salrio e d e v e r o
ig u a lm e n te c o m p u ta r-s e todos os v a lo re s c o n tin u ad o s e d e m o n ta n te s
d e te rm in a d o s , a s p ro vis es e p rm ios d e p ro du o e ta m b m a s partici
p a e s nos b e n e fc io s .

O s salrio s in natura e as u tilid a d e s in se re m -se n a s pro v is es.


V erifica-se, e n t o , q u e os efeitos n efastos d o fascism o a in d a e sto p re s e n te s
e m m u ita s n o r m a s legais. D e fo rm a geral, p o d e -se d iz e r q u e e ssas n o rm a s, em
v e z d e fo m e n ta re m a fra te rn id a d e , o c o m p a d rio e in te g ra o e n tre e m p r e g a d o
e e m p r e g a d o r , p ro v o c a m d isc rd ia s e n tre e m p r e g a d o s e e m p r e g a d o r e s , d a n d o
o rig e m a in m e r a s reclam a es n a Justia d o T rabalho.
N a re a lid a d e , m u ito d o q u e o e m p r e g a d o r faz p a r a a m e lh o ria d a s co nd i es
d o tr a b a lh a d o r v o lta -se c o n tra ele, fa z e n d o com q u e seja p u n i d o p o r fazer o
b e m . D e fato, m u ito d o q u e fo rn ecid o g r a tu ita m e n te a o tr a b a lh a d o r (com o
m o ra d ia e alim e n to s) in te g ra d o ao salrio, p o is, c o n fo rm e o a rtig o 458 d a CLT,
c o m p re e n d e m -s e n este, p a r a to d o s os efeitos legais, a a lim e n ta o , a h ab itao ,
o v e s tu rio o u o u tr a s p re sta e s in natura q u e a e m p re s a , p o r fora d o c o n tra to
o u d o c o stu m e , fo rn ecer h a b itu a lm e n te .

Traduo extrada da obra de Giuseppe La Loggia, P rn cipii D e l D iritto L avoro, Editora Fratelli Rocea
Editor), Milo, 1940, p. 205.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

In te g ra d a s tais lib e ra lid a d e s aos salrio s, h a v e r reflexo s n a s frias, n o 13


salrio, no FGTS, e so b re o m o n ta n te d e c o rre n te d e sse s d ire ito s h a v e r in c id n
cia d a c o n trib u i o p re v id e n c i ria . A ssim , elas se v o lta m c o n tra o e m p re g a d o r,
q u e m u ita s v e z e s os c o nced e, e at co m o rg u lh o . Q u a n d o o e m p r e g a d o r to m a
conscincia d e q u e o e m p r e g a d o p o d e p e d ir a in te g ra o d e la s ao salrio, deixa
d e co nced-las. A esse p ro p sito , d e sa b a fa M rio A m a to , e m e n tre v is ta co nce
d id a a M n ica W eing erb :

A c h o q u e e m re la e s d e tra ba lh o c a b e a gra da r, p ap aricar, d a r p resente.

q u e a tr a p a lh a hoje e m p re s rio s c o m o e u e s s a le g is la o trabalhista.

T u d o 0 q u e v o c d h oje a um tra b a lh a d o r p o r b e n e v o l n c ia te m um
c a r te r fo rm a l. A n te s v o c p re s e n te a v a um e m p re g a d o c o m um carro e
e le fica v a a g ra d e c id o . A tu a lm e n te e le diz: o p atr o m e d e u p o rq u e eu
p re c is a v a p a ra o trabalh o, e n t o isso t a m b m p a rte d e m e u o rd en a d o '.
Q u a n d o vai e m b o r a d a e m p re s a , a c a b a te p ro c e s s a n d o , e o sa lrio pro
p orcional q u e le c a rro e n tra na conta. S e m p r e vou p a ra a Justia e p ago
tudo, p o rq u e sei q u e n o a d ia n ta discutir. Dei u m c a rro a o m e u c h o fe r e
sei q u e no d ia e m q u e e le nos d e ix a r vai f a z e r s u a s re ivin dicaes. E ssa
le g is la o limita a b o n d a d e, o h u m a n is m o .

A ssim , a n o r m a q u e possibilita a in te g ra o d o salrio in natura o u d o salrio -u tilid a d e in ju sta, n o a tin g in d o fim social. E n to , o e m p r e g a d o r c o b ra d o
e m p r e g a d o a a lim e n ta o q u e lhe forn ece e o a lu g u e l d a re s id n c ia q u e lhe
coloca d isp o si o , p a r a q u e n o haja in te g ra o d e sse s v a lo re s ao salrio, m as
isso re p re s e n ta d e s v a n ta g e m p a ra o e m p re g a d o .
A legislao d e v e ria e s tim u la r o e m p r e g a d o r a m e lh o r a r a q u a lid a d e d e v id a
d o e m p r e g a d o , c o m o se su b stitu sse o E stad o , n u m tra b a lh o social d ire to . U m a
v e z p a g o o salrio p a c tu a d o , tu d o o m a is q u e o e m p r e g a d o r fizesse e m b e n e f
cio d o e m p r e g a d o n o in te g ra ria o salrio.
H a lg u n s e m p r e g a d o r e s q ue, p a ra a ju d a r os e m p r e g a d o s , c o b ra m v alo res
sim blicos, seja d o s p r o d u to s alim entcios, seja d a s u tilid a d e s (e nergia eltrica
etc.). H d ecis es q u e n u lific a m o v a lo r sim blico, p a r a q u e a q u e le s benefcios

WEINGERB, Mnica. 0 s e n h o r p o l m ic a . Texto disponvel na in te rn e t, atravs do s/e http://


www2,uol,com.br/veia/210802/entrevista.html, acessado em 25 de abril de 2004,

1 96

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

p o s s a m in te g ra r o salrio. Tais decises re v e la m p r o f u n d a in s e n sib ilid a d e p a r a


c o m os p ro b le m a s sociais, p o is le v a m o e m p r e g a d o r a c o b ra r v a lo re s m a is ele
v a d o s ou , at m e sm o , a d e ix a r d e a ju d a r o e m p re g a d o .
A d e m a is, e m b o ra a deciso judicial beneficie d e te r m in a d o tr a b a lh a d o r , ela
p re ju d ic a a to d o s o s d e m a is d a categ o ria, p o is o e m p r e g a d o r , e v id e n te m e n te ,
p a s sa a c o b ra r p re o p o u c o in ferior a o d e m e rc a d o d o s tr a b a lh a d o re s q u e p e r
m a n e c e m n a e m p re sa .
O ra , p re c is o le v a r e m co n ta os ben efcio s q u e o e m p r e g a d o r c o n c e d e
c ateg oria p ro fissio n a l, e n o a u m in te g ra n te dela, c o m o fa z e m a q u e la s d eci
ses, a fim d e q u e o b e m c o m u m p re v a le a s o b re o p a r tic u la r. A ssim , o p rin c
p io d a m e lh o ria d a c o n d i o social d o tra b a lh a d o r (CF, art. 7) te m sid o re le g a
d o a u m s e g u n d o p la n o , e e m se u lu g a r apIica-se a n o r m a in fra c o n stitu c io n a l,
e sq u e c e n d o -se q u e ferir u m p rin c p io m u ito p io r d o q u e ferir u m a n o r m a , p o is
se fere o p r p r io siste m a o u u m fu n d a m e n to deste.
O e m p r e g a d o q u e tra b a lh a p o r com isso, se faz h o ra s extras, ben eficiad o
n a sen ten a so m e n te p e lo a d ic io n a l d e h o ra s ex tras, e m face d o c o n tid o n o E n u n
c ia d o 340 d o T S T /^
P o r m a jo r n a d a itin e ra n te , o u seja, o te m p o e m q u e o e m p r e g a d o d e m o ra
n o trajeto d e casa ao tra b a lh o , o u vice-versa, o e m p r e g a d o te m e sse te m p o c o n
te m p la d o c o m o h o ra e x tra (v alo r d a h o ra n o rm a l m a is adicional).
O ra , isso incoerncia. O e m p r e g a d o r tra n s p o rta o e m p r e g a d o , a r c a n d o com
to d a s as d e s p e s a s , e a in d a te m q u e lhe p a g a r c o m o e x tra s as h o r a s d e lo c o m o
o, e n q u a n to o e m p r e g a d o q u e a u fe re p o r c o m isso est e fe tiv a m e n te tra b a
lh a n d o e s te m d ire ito ao a d ic io n a l d e h o ra s extras.
E sse fato d e m o n s tr a q u e , q u a n d o o in t rp re te n o c o m p r e e n d e u m siste m a
jurdico, ele a cab a s e n d o in c o e re n te e m su a aplicao. N o caso, p e la fin a lid a d e
p oltico-social d a r e m u n e ra o p o r p r o d u tiv id a d e (o tr a b a lh a d o r e s tim u la d o
a p r o d u z ir m a is p a r a se r m e lh o r re m u n e ra d o ), o tr a b a lh a d o r o ju iz d e seu
p r p r io tra b a lh o , n o d e v e n d o h a v e r incidn cia n e m d a s h o ra s e x tras n e m , c o n
s e q e n t e m e n t e , d o a d i c i o n a l d e s ta s ; ta n to a s s im q u e a L ei n 6 0 5 /4 9 , ao
n o r m a tiz a r o r e p o u s o se m a n a l r e m u n e ra d o , e x clu iu o re fe rid o d e sc a n s o p a r a
0 empregado, sujeito a controle de horrio, remunerado base de comisses, tem direito ao adicional
de, no mnimo, 50% (cinqenta por cento) pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valorhora das comisses recebidas no ms, considerando-se como divisor o nmero de horas efetivamen
te trabalhadas.

DE S A FIO S DA C I D A D A N I A ! 1 9 7

q u e m tra b a lh a ss e e m re g im e d e p a rc e ria o u m e a o , o u e m fo rm a se m e lh a n te
d e p a rtic ip a o n a p r o d u o .
A tu a lm e n te , e m face d o e n te n d im e n to d iv e rg e n te d a ju ris p r u d n c ia , o tra
b a lh a d o r q u e r e m u n e r a d o p o r p r o d u tiv id a d e m u ita s v e z e s p ro ib id o d e tra
b a lh a r a l m d e d e te r m in a d o h o r rio , p a r a q u e a e m p r e s a n o c o rra o risco d e
se r c o n d e n a d a a p a g a r h o ra s e x tra o rd in ria s, d e ix a n d o d e p r o d u z ir m ais e d e
a u fe rir m a io re s re n d im e n to s . N o m b ito ru ra l, o siste m a d e r e m u n e r a o p o r
p r o d u ti v id a d e seria e sp e c ia lm e n te v an tajo so e m p o c a d e p la n tio o u d e colhei
ta; se os e m p r e g a d o s n o tr a b a lh a re m aos d o m in g o s e sta s a tiv id a d e s ficam c o m
p r o m e tid a s , m a s o e m p r e g a d o r o p ta p o r p a g a r salrio fixo, p a r a e v ita r p ro b le
m a s ju rd ic o s, a in d a q u e v e n h a a ter prejuzos.
R e to m a n d o a a n lis e d o sa l rio -u tilid a d e , d e se o b s e r v a r q u e s o b re ele
in c id e a c o n trib u i o p re v id e n c i ria (art. 201, 4", d a CF, c / c art. 11, p a r g ra fo
nico, alnea c, d a Lei n" 8.212/91). A ssim , h e n c a rg o s p re v id e n c i rio s so b re
e n c a rg o s tra b a lh ista s. A in d a re c e n te m e n te , o e g r g io S u p e rio r T rib u n a l d e Ju s
tia e n te n d e u q u e in c id e a co n trib u i o p re v id e n c i ria s o b re o v a lo r d o a lu g u e l
e d o IPTU p a g o s re g u la r m e n te p e lo e m p r e g a d o r re la tiv a m e n te a im v e l o c u p a
d o p e lo e m p r e g a d o .^^
p o r isso q u e o s e m p re s rio s e lim in a m os salrio s in d ire to s, c o m e v id e n te
p re ju z o p a r a o s e m p re g a d o s .
A firm a m o s e m o u tr a obra:

P o r o utro lado, s e a d o ta d o o s is te m a d a in te g ra o salarial, p o d e r-s e -ia


to rn -la flexvel: s e o e m p re g a d o re c e b e u e m p rodutos a d o ta r -s e -ia a in
te g ra o t a m b m e m produtos e n o e m dinheiro, c o m o o co rre hoje. E x e m p lific a tiv a m e n te , s e o e m p re g a d o re c e b e u o sa lrio m n im o e m d inheiro e
te v e u m a m d ia anu a l d e p ro du o d e vinte s a c a s d e a rro z , e s ta sen/ir
d e b a s e d e clcu los p a ra efeitos d e fria s a c re s c id a s d o tero constituci
o nal e d e 1 3 s a lrio, cujo resu ltad o s e r 5 0 (c in q e n ta ) s a c a s , q u e o
e m p re g a d o r p a g a r e m produtos a o e m p re g a d o . O u , s e o e m p re g a d o r
n o tive r c o n d i e s d e p a g a r com o m e s m o produto colh ido p elo tra b a Art. 2 - Entre os empregados a que se refere esta lei, incluem-se os trabalhadores rurais, salvo os que
operem em qualquer regime de parceria, meao, ou forma semelhante de participao na produ
o".
^ STJ - REsp 440916 - N e w s le tte r S n te se n - 663, 08 abr. 2003.

1 9 8

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

lhador, p o d e ria p a g a r c o m outros produtos d is p on veis, d e s d e q u e o valor


fic a s s e e q u iv a le n te , u m a v e z q u e o pro du to te m o m e s m o p re o, se ja
p a ra o trabaih ado r, se ja p a ra o produtor.
O u tra p re te n s a justificativa p ara o e x c es s o d e p ro te o a o e m p re g a d o
q u e a in te g ra o o co rre p a r a q u e , a o s e aposer\tar. e le n o t e n h a s e u
sa irio red uzid o. m e lh o r q u e o e m p re g a d o re c e b a b e n e s s e s d o e m p r e
g a d o r d u ra n te o p e ro d o d e ativ id a d e , e m b o r a as p e rc a a o s e a p o sentar,
do q u e p riv a r-s e d eia s inclusive d u ran te a q u e le perod o.
A le g is la o a s fixia o e m p re g a d o r, e e s te a c a b a d e ix a n d o d e a ju d a r o
tra b a lh a d o r, p o r c a u s a d e e x c e s s iv a s in te g ra e s . S e r ia m a is s e n s a to
propiciar a o e m p re g a d o m e lh o r q u a lid a d e d e vida d u ra n te o vncu lo e m pre ga tc io. A ssim sen d o , os b en e fc io s indiretos d e v e r ia m s e r inc e n tiv a
dos sob a s v e rte n te s tributria e trabalh ista. P o r e x e m p lo , n o d e v e ria
incidir con tribu io p re v iden ciria sob re o fo rn e c im e n to d e c a s a , luz, gu a ,
v e c u lo , tra n s p o rte , a s s is t n c ia o d o n to l g ic a , hospitalar, fa r m a c u tic a ,
social, e d u c a c io n a l, inclusive a o s d e p e n d e n te s . T a m b m n o d e v e ria h a
v e r incid ncia s o b re p articip ao d e resultados, e m b o r a h a ja legislao
exclu ind o , e la e x tr e m a m e n te form al, q u a n d o d e v e ria o co rre r a e x c lu s o
d e in te g ra o e m q u a lq u e r c a s o e m q u e e la o co rre s se . A s s im , q u a n to s
n e c e s s id a d e s b s icas do trabalhador, n o h a v e ria inc id n c ia p re v id e n ci
ria n e m e n c a rg o s trabalhistas,
P a ra a q u e le s q u e a p r e g o a m q u e e s s e s b e n e fc io s Indiretos p ro vo c a ria m
d e f a s a g e m n o v a lo r d a a p o s e n ta d o ria do e m p re g a d o , c o n v m le m b ra r
q u e tal h ip te s e n o e n c o n tra resp ald o num ju z o d e re a lid a d e . O e m p r e
g a d o q u e te m tais b en e fc io s d ire ta m e n te do e m p re g a d o r te r c o n di es
d e te r u m p e q u e n o patrim nio q u e lhe tra r reforo q u a n d o d a a p o s e n t a
doria. 0 pior o q u e oco rre hoje: a a p o s e n ta d o ria m n im a , e e le n o
possui n e n h u m patrim nio, a l m d e e s ta r inseguro q u a n to a p o s e n ta d o
ria no futuro, p o rq u e h s e m p re m o d ific a e s d ific u lta n d o o a c e s s o a
m e lh o re s v a lo re s p elo s tra b a lh a d o re s

U m a e v id n c ia irrefu tv el: n o Brasil o tra b a lh a d o r p o s s u i u m a in fin id a d e


d e d ire ito s (frias, 13" salrios, FGTS, d e sc a n so se m a n a l r e m u n e r a d o , h o ra s ex-

GALDINO, Dirceu. R e p e n sa n d o o D ire ito d o Trabalho Rural. 2. ed. Maring: Albatroz, 1996. p. 69 e 76.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

tra s etc.) p a ra fa z e r u m a b o la d e n e v e p a r a q u e a u fira m e lh o r re m u n e ra o . N o s


E sta d o s U n id o s e e m m u ito s o u tro s pases, eles p o s s u e m p o u c o s d ireito s, p o
r m m e lh o r r e m u n e r a o e q u a lid a d e d e v id a. O q u e m e lh o r?
A d e m a is, os d ire ito s b sico s d o e m p r e g a d o e sta ria m s e n d o a s s e g u r a d o s in
te g ra lm e n te , m e s m o c o m a in fin id a d e d e benefcios in d ire to s, e o p lu s seria in
c e n tiv o p a r a m a io r p ro d u o , com benefcios p a r a a m b a s a s p a r te s e ta m b m
p a r a a nao.
O u tr o a sp e c to q u e a legislao d e v e ria c o n s id e ra r a r e d u o salarial no
in te re sse d o e m p r e g a d o . C o m o isso v e d a d o , a n o se r e m caso s esp eciais (CF,
art. 7", VI), m u ita s v e z e s o e m p r e g a d o r se v o b rig a d o a d em iti-lo , q u a n d o no
g o sta ria d e faz-lo.
V ejam os a lg u n s e x e m p lo s e m q u e o e m p r e g a d o r d e m ite o e m p r e g a d o , m e
d ia n te o siste m a vigente;
a) a em presa extingue d e term inad a funo, m a s o tra b alhad or q u e a exercia
antigo n a em presa. Para ele continuar trabalhando nesta, precisaria exercer funo
p a ra a q ual exigida m e n o r qualificao e, portanto, m e d ia n te m e n o r rem unerao;
b) o e m p r e g a d o exerce fu n o executiva h v rio s a n o s e se a c o m o d a , d e i
x a n d o d e exerc-la c o m eficincia e c ria tiv id a d e . P a ra n o se r d e m itid o , ele p r e
cisaria p a s s a r a e x ercer fu n o m e n o s relevan te;
c) o tr a b a lh a d o r v e n d e d o r d e u m n ic o p r o d u to , q u e so fre q u e d a d e v e n
d a s, e a e m p r e s a se v o b rig a d a a re d u z ir o p e rc e n tu a l d e su a c o m isso , caso
c o n tr rio n o c o n s e g u ir m a n t -lo e m se u s q u a d ro s;
d) o e m p r e g a d o se a p o s e n ta , p o r m o v a lo r d a a p o s e n ta d o r ia b a s ta n te in
ferio r a o d e se u s ltim o s a n o s d e tra b a lh o n a e m p re sa . Ele g o s ta ria de, m e s m o
a p o s e n ta d o , c o n tin u a r tr a b a lh a n d o nela, e m b o ra receb esse m e n o s d o q u e rece
bia a n te s d e a p o s e n ta r-se , v isto q u e o se u salrio a p e n a s c o m p le m e n ta r ia a a p o
s e n ta d o r ia , e d ific ilm e n te o u tr a e m p r e s a c o n tr a ta r ia u m a p o s e n ta d o . P a ra a
e m p r e s a m a n t -lo e m s e u s q u a d ro s, teria d e p a g a r-lh e m e n o s , p o r q u e ele j n o
a p r e s e n ta a eficincia d e o u tro ra .
E m to d o s esses casos, a e m p re s a c o m p e lid a a d e m itir o u a n o re c o n tra ta r
o e m p r e g a d o , p o r q u e n o p o d e h a v e r re d u o salarial, m e s m o q u e o e m p r e g a
d o aceite.
A le g i s l a o t r a b a l h i s t a , q u e d e v e r i a p r i m a r p e l o h u m a n i s m o e p e la
fra te rn id a d e , in cita a o ran co r, a o e g osm o , g u e r r a in te rn a n a e m p re s a . A d e
m ais, ela an ti tic a , p e lo s se g u in te s m o tiv o s, d e n tr e o u tro s: a) m u ita s vezes.

2 0 0

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

leva o e m p r e g a d o o u o e m p r e g a d o r a s u s te n ta r su a s p r e te n s e s ju d ic ia is com
s u p o rte n a m e n tira ; b) a d m ite q u e o e m p r e g a d o te n h a c o m p o r ta m e n to c o n tra
dit rio : faz a c o rd o c o m o p a tr o e a lg u m te m p o d e p o is p r o c u r a d esfa z -lo p e
r a n te o juiz, a fr o n ta n d o p rin c p io m o ra l e tico: venire contra fa c tiim proprium ; c)
in d u z a q u e o e m p r e g a d o r d eix e d e c o n c e d e r certas v a n ta g e n s ao e m p re g a d o ;
d) n o lev a e m c o n s id e ra o o q u e o e m p r e g a d o p a c tu a c o m o e m p r e g a d o r ; e)
''p u n e " c o m e n c a rg o s tra b a lh ista s e p re v id e n c i rio s o b e m q u e o e m p r e g a d o r
faz a o e m p r e g a d o ; f) faz co m q u e o e m p re g a d o , m u ita s vezes, u tiliz e a re c la m a
o tra b a lh ista c o m o v in g a n a o u c h a n ta g e m e p e r m ite q u e o e m p r e g a d o r d e
se n c a d e ie ao p e n a l c o n tra o e m p r e g a d o c o m o retorso .
A lg u n s e x e m p lo s c o m u n s d e c o n d u ta antitica n a rea tra b a lh ista so:
- q u a n d o d a c o n tra ta o , o e m p r e g a d o r colhe a ss in a tu ra e m b ra n c o d o e m
p r e g a d o , p a r a p o s te r io r m e n te p re e n c h e r o d o c u m e n to o u a fo lh a c o m d a d o s
q u e re s trin ja m d ire ito s d este;
- o e m p r e g a d o r p a g a a tra v s d o "caixa 2", p a r a fu g ir d o s e n c a rg o s sociais;
- e m p r e g a d o s d e m itid o s q u e e s p o ra d ic a m e n te fa z ia m h o ra s e x tra s
c o m p a c tu a m e n tre si e a le g a m q u e as fa z ia m h a b itu a lm e n te ;
- e m p r e g a d a g r v id a com ea a tra b a lh a r s e m q u e o e m p r e g a d o r sa ib a d a
g r a v id e z e d e p o is p ro v o c a a s u a d e m iss o , c o m faltas leves, p o r m co n stan tes;
p o ste rio rm e n te , aleg a esta b ilid a d e ;
- tr a b a lh a d o r e s s o c o n tr a ta d o s c o m o a u t n o m o s , p o r m d e p o is d a resciso
d o c o n tra to a le g a m q u e e r a m e m p re g a d o s .
A ssim , n a re a tra b a lh ista , d is s e m in a m a titu d e s an titicas, q u e fra g iliz a m a
confiana n o se r h u m a n o .
"O Brasil re c o rd ista m u n d ia l d e p ro c e sso s tra b a lh ista s. So a ju iz a d a s m ais
d e 2,2 m ilh e s d e aes p o r a n o , c o n tra 75.000 p ro c e sso s a n u a is n o s E sta d o s
U n id o s e n a Frana"''^"'. N o Brasil, fica a m a io r p ro d u o e d ito ria l n a re a ju r d i
ca tra b a lh ista , e m v ir t u d e d e ta n to s conflitos. A CLT n o c o r r e s p o n d e ao s a n s e i
o s d o s tra b a lh a d o r e s e e m p r e g a d o r e s e re a lid a d e a tu a l, a l m d e s e r e x tre m a
m e n te d e ta lh ista : " A legislao tra b a lh ista m u ito c o m plexa. s vezes, p o r m ais
o r g a n iz a d o q u e seja u m d e p a r ta m e n to p e sso a l d e u m a e m p r e s a , ele c o m e te e r
ros d e v id o m in u c io s id a d e d a le i".^^
Disponvel em: htto://veia-abril.com.br/010502/radar.html. acessado em 05 de maio de 2003.
CARMO, Valrio Augusto do.
de maio de 2003, p. B-3.

Justia do Trabalho s atende desempregado. In Folha de S. Paulo", 05

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

n e c e ss rio m u d a r u r g e n te m e n te a legislao tra b a lh is ta , ta n to a u rb a n a


q u a n to a rural.
A b ra-se u m p a r n te se s: a legislao tra b a lh ista p ro v o c a o u tr o efeito n e g a ti
vo: q u e b r a q u a lq u e r p la n e ja m e n to financeiro. N o h u m a e m p r e s a q u e p o ssa
d iz e r c o r r e ta m e n te q u a n to a o se u p a ssiv o tra b a lh is ta . T u d o fica e m critrios
su b je tiv o s e h ip te se s . D ife re n te m e n te o c o rre e m o u tr o s p a s e s o n d e o s v alo res
so a p u r a d o s c rite rio sa m e n te .
U m a so lu o seria fazer com q u e a n o r m a tiz a o tra b a lh ista m a is re le v a n te
seja o c o n tra to cole tiv o d e tra b a lh o e m m b ito n a c io n a l p a r a c a d a categ o ria,
d e rr o g a n d o - s e a CLT, p o r q u e o q u e s e m p r e p re v a le c e ria se ria m a a u t o n o m i a e
a v o n ta d e d a s c ateg orias. E xem plo: a C o n fe d e ra o N a c io n a l d o s T r a b a lh a d o
res A g rcolas c eleb raria c o m a C o n fe d e ra o N a c io n a l d a A g ric u ltu ra u m c o n
tra to coletivo, q u e faria lei e n tr e as p a rte s. P ara casos o m iss o s n o c o n tra to , aplicar-se-ia s u p le tiv a m e n te a legislao trab alhista.
O u tr a so lu o seria fixar o s d ire ito s p o r in te r m d io d a c o n v e n o coletiva,
u m a v e z q u e a s d u a s c a te g o ria s - a d o e m p r e g a d o e a d o e m p r e g a d o r - se ria m
o s p r p r io s le g isla d o re s, n o r m a tiz a n d o o v n c u lo la b o ra i d e a c o rd o c o m a reali
d a d e re g io n a l e d a s re sp e c tiv a s catego rias. o s iste m a a d o ta d o p e la m aio ria
d o s p a se s civ ilizad o s. A c o n v e n o coletiva se situ a ria n o to p o d a h ie ra rq u ia
d a s n o rm a s . P e n s a m o s q u e esse a in d a o m e lh o r sistem a.''"'
A ssim , n o h a v e ria o e n g e s s a m e n to d a relao e m p re g a tc ia , e o c o n tra to
e sp e lh a ria a r e a lid a d e d a s categ o rias e n v o lv id a s. A s n o r m a s b r o ta r ia m d e sta s e
p a r a elas se ria m v o lta d a s, te n d o -se s e m p r e e m v ista o p rin c p io d a p r im a z ia da
re a lid a d e , a fim d e a te n d e r d a m e lh o r fo rm a p o ss v e l s e x p e c ta tiv a s d e a m b a s
as categ o rias.
O u tr a a lte rn a tiv a seria a CLT ser ap lic v e l a p e n a s p a r a o tr a b a lh a d o r h ipo ssuficiente, talv ez a d o ta n d o - s e c o m o critrio o bjetivo o tra b a lh o b ra a l com re
m u n e r a o in fe rio r a d e te r m in a d o valor.
P a ra a q u e le s q u e p o s s u a m qualificao tcnica e c u ltu ra l o u q u e p erc e b a m ,
p o r ex e m p lo , m a is d e cinco salrio s m n im o s, h a v e r ia leg islao p r p r ia , m ais
liberal, m a s c o m g a ra n tia d e a lg u n s direitos.
O u tr a a n lise q u e se im p e o fato d e a leg islao tra b a lh is ta se r a m e sm a
Com a implantao do sistema da conveno coletiva h a vantagem para o Governo da desvincula
o do salrio minimo, porque o salrio passa a ser o da categoria e o Governo poder estabelecer o
do servidor pblico.

201

2 0 2

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

p a r a a A u to la tin a e p a r a o d o n o d e u m a q u ita n d a , d e u m a p a d a r ia o u d e u m
p e q u e n o b a r. A s g r a n d e s e m p re s a s p o s s u e m e s tr u tu r a e c o n m ic o -a d m in istra tiva, m a s e o p e q u e n o p ro p rie t rio , q u e s v e z e s to p o b r e q u a n to o e m p r e g a
d o ? O u , se a p r e s e n ta u m a a sc e n s o p o u c o e le v a d a , n o sig n ifica q u e te r c o n d i
es o rg a n iz a c io n a is d e c u m p r im e n to n a n te g ra d a legislao trab alh ista. Por
isso p e r tin e n te a su g e s t o n o s e n tid o d e q u e ta m b m h o u v e s s e , e m a n alo g ia
ao siste m a trib u t rio q u e crio u o ''sim p le s", com o p re c o n iz a a A C P - A ssociao
C o m ercial d o P a ra n , a tra v s d o ilu stre a d v o g a d o Joo C a rlo s Rgis, " p a r a as
e m p re sa s c o m a t 20 e m p r e g a d o s , a d o o d o sim p le s tra b a lh is ta " '^^, r e d u z in d o
e x ig n c ia s ta is c o m o o P C M S O - P r o g r a m a d e C o n t r o le M d ic o , S o cial e
O c u p a c io n a l; P P R A - P ro g r a m a d e P re v e n o d e Riscos A m b ie n ta is, reg istros,
co n tro les, e to d o s o s d e m a is c u m p rim e n to s d e q u e st e s b u ro c r tic a s e d e ro ti
n a s trab alhistas.
Q u a lq u e r u m a d a s a lte rn a tiv a s a q u i e sb o a d a s tra r v a n ta g e n s ao e m p r e g a
d o e a o e m p r e g a d o r , e ta m b m nao. O q u e n o p o d e o c o rre r a p e r m a n n
cia d e u m a legislao q u e d is se m in a u m a g u e rra silenciosa n o a m b ie n te d e tr a
balho . S im p le s m e n te e x p u r g a n d o d a CLT os a rtig o s u ltr a p a s s a d o s e te n ta n d o
a d e q u -la p o c a c o n te m p o r n e a n o se elim in a r a id e o lo g ia fascista d e q u e
ela est im p r e g n a d a . Seis m eses d e p o is d a q u e d a d e M u sso lin i, foi re v o g a d a a
legislao tra b a lh ista q u e ele h a v ia im p o s to n a Itlia e im p la n ta d o o siste m a d a
co n v e n o coletiva. N o Brasil, ela e n ra iz o u e c o n tin u a p r o d u z in d o efeitos n e
fastos a o h u m a n is m o .

3.14 MEIO AMBIENTE


N o h n o Brasil u m C d ig o d o M eio A m b ien te. H legislao e s p a rs a e u m
C d ig o Florestal, q u e o n o sso p rin c ip a l in s tru m e n to d e d efesa d o m e io am biOBS.: 0 simples trabalhista poder vir a ser institudo sob a concepo vertida pela Lei n- 9.601, de
21.01.1998 instituidora do regime especial de trabalho por prazo determinado ou utilizando-se o
sistema associalivo e cooperativo de traballio. com os efeitos do pargrafo nico, do art. 442 da CLT;
e, ainda, o sistema de trabalho avulso (Dec. 1.886/96). A idia, pois, seria a criao de um regime
especial de trabalho para diminuir o custo da contratao do trabalhador pela empresa, fomentando a
oporlonidade de traball^o regular para o grande contingente de trabalhadores que esto na informali
dade. Para tanto, o pinamento do que de melhor possa vir a ser aproveitado nos regimes especiais
da Lei n - 9.601/98 (maxime as redues de encargos de que tratam os arts. 2-, 3- e 4; e o sistema de
compensao - banco de horas - do art, 6^); do sistema cooperativo e do sistema de trabalho avulso,
poder subsidiar criatividade suficiente para a idealizao e implementao do regime simples
trabalhista,consoan\e a proposio daquele colega.

D E S A P tO S DA C I D A D A N I A ! 2 0 3

e n te, p o r m e n fo c a n d o a p e n a s p a rc ia lm e n te a m a t ria . Isso im p e d e u m a a tu a


o m a is efetiv a d o c id a d o n a defesa d o m eio a m b ie n te , ta n to q u e te m ficado
a d strita a o s ecologistas.
A s o c ie d a d e a m a d u r e c e u m u ito em re la o ao m e io a m b ie n te , m a s n o se
p o d e d e ix a r d e o b s e rv a r os p a ra d o x o s d a legislao. P a ra exem plificar: u m h o
m e m foi p re s o p o r q u e re tiro u casca d e u m a rv o re , e a c a b o u s e n d o v is ita d o na
c a d eia p e lo ex -m in istro Jos S a rn e y Filho, e n q u a n to os s a q u e s A m a z n ia c o n
tin u a m , sem n e n h u m a p ris o , e os pro jetos d e m a n e jo s u ste n t v e l, p re c o n iz a
d o s p ela C F / 8 8 le v a m a n o s p a r a s e re m im p la n ta d o s ; a lg u n s h o m e n s q u e p e g a
v a m m in h o c a s p a r a v e n d e r fo ra m p re s o s e tiv e ra m q u e r e s p o n d e r a processo,
te n d o sid o ju lg a d o s at pelo S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l, e n q u a n to re a s d e p r e
se rv a o p e r m a n e n te v o s e n d o d e s tr u d a s o u d e ix a m d e se r re g e n e r a d a s sem
n e n h u m a p ris o e se m n e n h u m a v isita d e m inistro...
A s escolas d e v e m se r ex e m p lo e a ra u to s e m d efesa d o m e io a m b ie n te , pois
a tra v s d a e d u c a o as c rian as e os jov ens m u d a r o o m u n d o . M as, p a r a q u e
isso o co rra m a is r p id o , n ecessrio q u e o p o d e r p b lic o te n h a u m a a tu a o
m a is incisiva.
P o r o u tr o la d o , h d is to r e s n a d e fe sa d o m e io a m b ie n te , p o is m u ita s v e
z es o h o m e m p r e te r id o e m d e fe sa dele. E n t o , a d e fe s a d o m e io a m b ie n te ,
q u e d e v ia s e r m e io p a r a p r o p ic ia r b e m - e s ta r ao h o m e m , to rn a -s e u m fim e m si
m esm a.
A p ro p s ito , d iz D a m sio E. d e Jesus:
S e u m c a a d o r profissional destruir um ninho c o m o vo s d e e s p c im e s
d a fa u n a silvestre, a p e n a m n im a d e d e te n o , d e u m a n o e se is m e s e s
(art. 2 9 , 1-, II, e 5 -, d a Lei n- 9 .6 0 5 /9 6 ) . S e a m e s m a p e s s o a p ro vo c a r
d o lo s a m e n te um abo rto consentido, a p e n a m n im a d e um a n o (C d ig o
P e n a i, art. 1 2 6 ). N a Lei d e P ro te o A m b ie n ta l, o art. 3 7 , IV, re za : N o
c rim e o a b a te d e a n im a l q u a n d o re a liza d o p o r s e r nocivo o a n im a l, d e s d e
q u e a s s im c a ra c te riz a d o p elo rg o c o m p e te n te . O u s e ja , s e o c id a d o
s e d e fro n ta c o m u m a n im a l nocivo e h n e c e s s id a d e d e a b a t -lo , n o
p o d e fa z -lo s e m a n te s solicitar um p a r e c e r tc n ic o d o rg o c o m p e te n te
( IB A M A ) .9

95 JESUS, Damsio E, de. Os erros e o formalismo da justia criminal brasileira, In Revista Sntese, ano
4, n- 43, setembro de 2000, p. 3.

2 0 4

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

O ra , p re c iso in ib ir as a titu d e s p re d a d o r a s , m a s s e m asfixiar o h u m a n is m o


q u e d e v e p e r m e a r q u a lq u e r legislao.
A s o c ie d a d e p re c isa ter p le n a conscincia d o s se u s d e v e re s p a r a c o m o m eio
a m b ie n te e q u e c a d a p e sso a policie a si p r p ria .
N e sse s e n tid o p re se n c ia m o s u m b e lo ex e m p lo e m B u e n o s A ires: u m a m o a
c a m in h a v a a p r e s s a d a m e n te e la n ou u m a e m b a la g e m d e c h o co late n u m a lixei
ra; u m p o u c o a d ia n te , o lh o u p a r a tr s e v iu q u e ela h a v ia c a d o n o cho; v o lto u
im e d ia ta m e n te , colocou-a n a lixeira e r e to m o u a in d a m a is a p r e s s a d a o se u ca
m in h o .
T o d a v ia , n o Brasil, s o d e s re s p e ita d o s p rin c p io s e le m e n ta re s re la tiv o s ao
m eio a m b ie n te , c o m p ich a es, q u e b ra s d e g a rra fa s, p a p is jo g a d o s p e la c id a
de. A d e m a is, n o se c o m p a tib iliz a o esttico c o m o cientfico. P o r ex e m p lo , nas
c id a d e s, p la n ta -s e e m d e te r m in a d o tre c h o d e u m a a v e n id a d iv e rs o s tip o s d e
rv o re s, se m n e n h u m a h a rm o n ia ; ao lo n g o d a s e s tr a d a s p la n ta m - s e e u c a lip to s,
q u e ficam b o n ito s , m a s d e sfo lh a m -se m u ito e as fo lh a s secas p o d e m facilitar
in c n d io s, p o r q u e p e s so a s in c ivilizadas jo g a m tocos d e c ig a rro acesos p e la s ja
n e la s d o s v e c u lo s . A o l o n g o d a s r o d o v i a s d e v e m s e r p l a n t a d a s r v o r e s
p eren if lias, q u e n o p e rc a m fa c ilm en te as folhas e q u e n o a tin ja m g r a n d e al
tu ra , p o r q u e ela s n o facilitaro in c n d io s e, se to m b a r e m , n o a lc a n a r o a
p ista d e ro la m e n to , e n q u a n to as s e m id e c d u a s o u d e c d u a s facilitaro o s in cn
d io s m a rg e m d a ro d o v ia.
p re c iso in c re m e n ta r o p la n tio d e rv o re s fru tfe ra s n a tiv a s, seja n a s p ra a s
e b o sq u e s d a s c id a d e s, seja n o c a m p o , p a r a re te r os p s s a ro s fru g v o ro s (com o
sa n h a o s, sa ra s e sabis), e d e se n v o lv e r u m tra b a lh o d e co n sc ie n tiz a o n o c a m
p o, p o is h m u ito s a g ric u lto re s q u e m a ta m p s s a ro s p a r a c o m e r o u m e s m o p o r
lazer. Tais rv o re s d e v e m se r p la n ta d a s inclusiv e b e ira d e r io s e ria c h o s, p a r a
q u e se u s fru to s s ir v a m d e a lim e n to ta m b m aos peixes. N a s c id a d e s, elas d e v e
ria m se r p la n ta d a s p rin c ip a lm e n te e m q u in ta is, f u n d o s d e v ales e p raas.
M u ita s p e s s o a s a in d a n o p e rc e b e ra m o risco q u e c o rre m o s re la tiv a m e n te a
c atstrofes a m b ie n ta is e e p id e m ia s q u e p o d e r ia m se r e v ita d a s. D e fato, o c o n
ceito d e m e io a m b ie n te n o d e v e re d u z ir-s e aos e le m e n to s d a n a tu r e z a (fogo,
ar, g u a e terra), e sim se r a m p lia d o , p a r a c o m p r e e n d e r to d o s os a n im a is, p r i n
c ip a lm e n te o h o m e m .
A firm a C ristia n e D e ra n i, lo u v a n d o -s e e m M ayer-T asch:

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

"As n o rm a s a m b ie n ta is s o e s s e n c ia lm e n te v o lta d a s a u m a re la o soci


al e n o a u m a a s s is t n c ia n a tu re z a . O direito a m b ie n ta l um direito
p a ra o h o m e m . u m direito q u e d e v e v e r o h o m e m e m to d a s as d im e n
s e s d e s u a h u m a n id a d e . P o r isso, q u a lq u e r e s tu d o q u e p re te n d a a n a li
s a r a re la o e n tre p ro ce s s o s e c o n m ic o s , a m b ie n ta is e jurdico s n o
p o d e v a le r-s e d e teo ria s a b s tra ta s e d e s c o m p ro m is s a d a s . O v a lo r real da
te o ria e s t e m s u a re a liza o , a partir do s e u c o n ta to c o m a rea lid ad e .
P o r isso, d e v e d e s e n v o lv e r-s e d en tro d e d im e n s e s re a is (sociais) fo r
m a n d o -s e n u m todo d e te m p o e espao"

A s b aleias, p o r e x e m p lo , p a re c e m g o z a r d e m a io r p ro te o d o q u e os m e n o
re s a b a n d o n a d o s p e la s ruas.
N o Brasil, se a ecologia se p re o c u p a s s e m ais c o m o h o m e m , m u ita s p esso as
te ria m m e lh o re s co n d i e s d e v id a . P o r ex em p lo , j foi e x p o sto p e la m d ia q u e
h excesso d e jacars ta n to n o P a n ta n a l q u a n to e m reg ies d o A m a z o n a s; c o n tu
do , n o se u tiliza a caa d e c o ntro le, c o m o a p r o v e ita m e n to d o s a n im a is a b a ti
d o s p a r a a b a ste c im e n to d e m e r e n d a escolar. A d e m a is , h p ir a n h a s e m excesso
n o P a n ta n a l, e ela s ta m b m p o d e r ia m ser a p ro v e ita d a s e m tal m e r e n d a , pois
so ricas e m clcio e p ro te n a s. A o liberar-se a pesca, p o d e r-se -ia ex igir q u e o
p e sc a d o r, q u a n d o d a fiscalizao e p e s a g e m d o s p e ix e s p e s c a d o s , e n tre g a sse
aos fisc a liz a d o re s certa q u a n tid a d e d e q u ilo s d e p ira n h a . E ssas d u a s m e d id a s ,
e n tre o u tra s, c o n trib u iria m p a r a o eq u ilb rio ecolgico, p o r q u e n o P a n ta n a l o
excesso d e jacars e p ir a n h a s te m p r o v o c a d o a e xtino d e p e ix e s n o b re s (p in ta
d os, cach aras, s u r u b in s e outros).
D a m e s m a fo rm a , d ev er-se-ia e s tim u la r os p e s c a d o re s d o litoral b ra sile iro a
d o a r e m p a r a in stitu i e s d e c a rid a d e o u p a r a a m e r e n d a esc o la r o s p eix es p e
q u e n o s, q u e n o r m a lm e n te eles jo g a m fora. D e fato, m u ita s v e z e s, d e p o is d a s
p escarias, ao se c a m in h a r p ela p ra ia , e n c o n tra -se u m a in f in id a d e d e p e q u e n o s
p eix es ao lo n g o dela.
P a rn teses: p io r a in d a a n o -e x p lo ra o d a s r iq u e z a s n a tu r a is d o Brasil,
e n q u a n to m u ita s p e s s o a s p a s s a m fome. u m p a r a d o x o in s u s te n t v e l. E x em p lo
visvel: o Brasil u m p a s riq u ssim o e m b acias h id ro g r fic a s. C o n tu d o , n o h
in c re m e n to n e m e x p lo ra o d a pisc ic u ltu ra . E m q u a n to s rio s n o se p o d e ria m

DERANI, Cristiane. D ire ito A m b ie n ta l E conm ico. So Paulo: Max Limonad, 1997, p. 75-76,

2 0 6

D tR C E U G A L D IN O C A R D IN

criar p eix es e m gaiolas, trat-lo s com rao, p a r a q u e ficassem m a is sab oro sos,
e d e p o is co m erci-los e in clu sive e x po rt-lo s, a u m e n ta n d o a s divisas. T a m b m
seria v ivel p r o m o v e r a e x p lo ra o d a p isc ic u ltu ra p o r in stitu i e s assistenciais
a fim d e a u x ilia r a s p e s s o a s m a is carentes. M u ita s p e s s o a s id o sa s, q u e e sto
" m o f a n d o " e m asilos, com certeza e n c o n tra ria m u m se n tid o d e v id a i n d o tra ta r
d o s peixes... Se e ssa ex p lo ra o fosse feita a p e n a s n o s E s ta d o s d o P a r a n e d o
M ato G ro sso j d a ria p a r a s u s te n ta r as p e ss o a s p o b re s d o Brasil c o m o m e lh o r
a lim en to...
H p r o f u n d o d e s a le n to q u a n d o se v e m os e sg o to s b o m b a r d e a n d o d e trito s
n o m a r e c o n ta m in a n d o os b a n h ista s, e o p o d e r p b lic o fica inerte. A g resso
n tid a a q u e o co rre n o Rio d e Janeiro: a p o g e u d e b e leza n a tu r a l, c o m b a a s to
p o lu d a s.
T a m b m o co rre a c o n ta m in a o d e rios e riachos, b e m c o m o d a s g u a s s u b
te rr n e a s, co m c h u m b o , m e rc rio , io d o e o u tro s p r o d u to s , p ro v o c a d a p o r p o s
tos d e g aso lin a, e m p r e s a s q u e r e s ta u r a m b a te ria s e o u tra s. A s p e sso a s, se m sa
b e re m d a p o lu i o , b e b e m g u a im p u ra , c o m o se ela fosse vida...
O s e sg o to s a in d a s o a rtig o s d e luxo: n o d o v o to s a o pre fe ito , p o is o q u e
feito fica e n te rra d o , n o aparece.

"... c o m o m o s tra a p e s q u is a N a c io n a l d e S a n e a m e n t o B sico ( P N S B ),


q u e o IB G E a c a b a d e divuigar. O d o c u m e n to re v e la um Brasil m e rg u lh a
d o na sujeira: 4 7 , 8 % dos m unicpios n o t m servio d e e s g o to sanitrio,
6 8 . 5 % dos re s d u o s d a s g ra n d e s c id a d e s s o jo g a d o s e m lixes e a la g a
dos, e s 451 c id a d e s f a z e m c o le ta seletiv a d e detritos.
O s brasileiros p ro d u z e m todos os d ia s 1 2 5 .2 8 1 to n e la d a s d e lixo, a l m
dos 1 4 ,5 m ilties d e m etros cbicos d e esgo to . A d e s tin a o in a d e q u a d a
d e s s e m a te ria l a ju d a a e x plicar porqu e a in d a e s ta m o s s voltas c o m m a le s
d o s c u lo X IX , c o m o a fe b re a m a re la , a hepatite, a d ia rr ia e m e s m o a
d e n g u e . O u tra c o n s e q n c ia d a sujeira a falta d e d r e n a g e m , q u e p ro vo
c a tra g d ia s s e m p re q u e cho ve, c o m o se v e m S o P a u lo c o m o transb o rd a m e n lo dos rios T ie t , Pinheiros e A rican du va. A s v a la s n e g ra s t a m
b m s e re p ro d u z e m pelo Pa s , c o m o a c o n te c e , por e x e m p lo , e m p raias
d e F o rta le za . P o r isso, o tra ba lh o do IB G E v a lio s o .

ALVES FILHO, Francisco. P a is sujo. In Isto , 03 de abril de 2002, p. 74.

DE S A FIO S DA C I D A D A N IA * 2 0 7

Issa C. J a b u r e A irto n D elfino d e A n d ra d e , p ro fe ss o re s d a U n iv e rs id a d e Es


ta d u a l d e M a rin g , fiz e ra m e x a m e s d o s asp e c to s geo l g ico e fsico-qum ico do
so lo d e M a rin g e d a q u a lid a d e d a g u a , c o n s ta ta n d o g r a n d e c o n ta m in a o
"p e la s v ias p lu v ia is p o r e sc o rrim e n to su perficial e via lenol fretico, se n d o este
o m a is p ro v v e l, e m v ir tu d e d e d a d o s j o b tid o s q u a n to c o n ta m in a o d o (...)
P a rq u e d o In g " .
Isso a c o n te c e u e m M a rin g , q u e u m a c id a d e n o v a , c o m p o u c o m a is d e 50
anos. E as m a is antigas?
E m casos c o m o esse, aco nselh a-se q u e sejam co lo c a d o s e m p r tic a d o is p r i n
cpios: o d a p re v e n o e o d a correo. O d a p re v e n o v isa e lim in a r a causa; o
d a correo , n e u tr a liz a r os efeitos.
v ista d e s e u p o d e r d e polcia, o p o d e r p b lic o , m e d ia n te p la n e ja m e n to
tcnico, d e v e lim ita r a im p la n ta o d e e m p re s a s p o lu e n te s . A ssim , ele d e v e li
m ita r o n m e r o d e p o s to s d e co m b u stv e is, d e ix a n d o e m a tiv id a d e a q u e le s que
j fo ra m in s ta la d o s e q u e n o estejam c a u s a n d o p o lu i o , p o r m n o p e r m itin
d o q u e o u tro s v e n h a m a se r in sta la d o s p o r d e te r m in a d o p e ro d o . A d e m a is, d e
v e m se r feitas fre q e n te s a n lises tcnicas p a r a v e rificar se o s p o s to s e m fu n ci
o n a m e n to est o p r o v o c a n d o p o lu i o e q u a l o e sta d o d o s len is freticos. De
a c o rd o c o m o r e s u lta d o d e ssa s anlises, o p o d e r p b lic o p o d e r a p lic a r m u ltas,
ex igir p ro v id n c ia s, fechar p o sto s o u a u to riz a r a a b e r tu r a d e o u tro s m a is d is
tantes.
O u tr o p r o b le m a e x tre m a m e n te g ra v e d iz re sp e ito ao u s o d e ag ro t x ic o s n a
a g r ic u ltu r a , in c lu s iv e n a s p la n ta e s d e v e r d u r a s e le g u m e s . P ro fe s so re s d a
U n iv e r s id a d e d e C a m p in a s fiz e ra m e x a m e d o leite d e u m g r u p o d e m u lh e re s , e
n a m a io ria d o s caso s h a v ia v estgios d e agrotxicos. Q u a l se r o f u tu r o d e cri
anas q u e se a lim e n ta m d e sse leite?
C a rlo s A r a p o n g a d e n u n c ia :
A a g r ic u ltu ra fe ita c o m o u so m a c i o d e fe r tiliz a n te s q u m ic o s , de
pestic id a s e agrot xico s q u e c o n ta m in a m n o s os a lim e n to s , c o m o o a r
e a g u a u tilizada p e la p op ula o. E a p e c u ria t a m b m a lvo d a ind s
tria p etro q u m ic a , c o m o uso d e insu m o s artificiais c a d a v e z m a is sofisti-

JABUR, Issa C.; ANDRADE, Airton Delfino de. E stu d o s p a ra a v a lia o d o s n ve is d e p o lu i o das
g u a s d e s u p e rfc ie e d e s u b so lo p ro vo ca d a p o r a g e n te s co n a m in a n te s. Maring; Instituto de Tecno
logia e Cincia Am biental, 1999, p. 21.

208

D IR C E U G A L D I N O C A R O IN

ca d o s . E m a m b o s os casos, o g an h o n a pro du tividad e - o u tra d e id a d e


e c o n m ic a - justifica o e s g o ta m e n to do solo a m d io e longo p ra zo: e a
u tilizao d e tc n ic as antinaturais p a ra a u m e n ta r, c o m m a io r v e lo c id a d e ,
a c o n v e rs o d e p ro te n a vegeta! e m a n im a l. Inclusive c o m o u so intensivo
d e a n a b o liz a n te s n a p ro d u o p e c u ria ,

Jorge d e O liv e ira V a rg a s afirm a:

"N o p o d e m o s d e ix a r p a ra a m a n h o q u e j d e v e ria te r sido feito ontem .


E m re c e n te curso q u e fiz sob re direito a m b ie n ta l e m G u a r a tu b a , m in istra
d o p o r p ro fe s s o re s d a U n iv e rs id a d e d a Fl rid a, ouvi d e um a g r n o m o
b rasileiro q u e o e n v e n e n a m e n to do s a n g u e d o brasileiro, e m r a z o do
a b u s o no u s o d o s a grot xic o s p a r a a p ro d u o d e a lim e n to s , e s t 4 0
v e z e s a c im a do tole r v e l. In m e ra s r e a s q u e in ic ialm en te e ra m e x tr e
m a m e n te p ro d u tiv a s h oje tra n s fo rm a m -s e e m d e s e rto s . A m o n o c u ltu ra
d a s o ja e s t e m p o b re c e n d o a p as s o s largos o n osso solo. O pinheiro,
e s ta m a ra v ilh a q u e s aqui (sul d e S o Pa u lo, P a r a n e S a n ta C a ta rin a )
e n c o n tra c o n d i e s d e s e d es en vo lver, e s t p ra tic a m e n te e m extin o .
A s g u a s dos rios es t o , q u a s e todas, poludas; n o p o s s v e l b eb -la s .
N o ten d o g u a p otvel p a ra b eber, n e m a lim e n to s sa d io s p a ra com e r, a
c o n s e q n c ia se r , se a q u e s t o n o for u rg e n te m e n te tra ta d a , nos tra n s
fo rm a rm o s n u m povo doente".^

H u m efeito n e fa sto d o s agrotxicos, q u e p o u c o s p e rc e b e m : a e lim in a o de


p ss a ro s e d e aves. V rias esp cies j fo ra m ex tin ta s d e m u ito s e sta d o s. A lg u
m a s esp cies fo ra m salvas, c o m o o cu ri e o b ic u d o , p o r q u e o s o rn it lo g o s co
m e a ra m a p ro c ria r e m cativeiro. C aso c o n tr rio , j e s ta ria m ex tin tas. A lis, h
u m e rro d e p o ltica a m b ie n ta l n a a titu d e d o Ib a m a q u a n to q u e le s q u e p o s s u e m
p s sa ro s silv e stre s e m c ativ eiro, n o p e r m itin d o q u e sejam re g istra d o s. O Ib a m a
d e v e ria a u to r iz a r o reg istro , m a s o b rig a r q u e h o u v e s s e criao. E m p o u c o te m
p o s e ria m re c u p e r a d a s m u ita s espcies, p o r q u e a s p e ss o a s q u e a p re c ia m o canARAPONGA, Carlos. Crescimento econmico e proteo do meio ambiente, In Revista dos Mestrandos
em Direito Econmico da UFBA. vol. 5. Salvador: UFBA, dezembro de 1996 a janeiro de 1997, p. 147,
VARGAS, Jorge de Oliveira. 0 Direito Tributrio a servio do meio ambier)te. In Bonijuris, So Paulo,
n- 350, p, 43 4 9,2 0 de setembro de 98,

D E S A F I O S DA C ID A D A N IA

to d o s p ss a ro s , os tr a ta m c o m zelo e am o r. N o p e r m itin d o o reg istro , q u e m


g o sta , o u s a caar. A ssim acaba e lim in a n d o o p o u c o q u e a in d a so b ra, p o r q u e os
ag ro t x ico s j e x te r m in a r a m co m a m a io r p a rte .
Essa p oltica d e criao e m cativeiro d e v e ria s e r im p le m e n ta d a c o m u r g n
cia, m e s m o p o r q u e a h is t ria o d e m o n stra ; o s c a n rio s -d o -re in o , os c u ri s e
b ic u d o s a in d a ex iste m e m g r a n d e q u a n tid a d e g raas aos c ria d o re s. Exem plo:
n o P a ra n h a v ia u m a in fin id a d e d e p ssa ro s-p re to s. Eles se a lim e n ta m d e arro z
e m casca e d e se m e n te s. C o m os agrot xico s e s p a lh a n d o a m o rte , tais p ssa ro s
d e s a p a re c e ra m . Se h o u v e s s e p e rm is s o p a r a q u e fo ssem c ria d o s, se ria m tra z i
d o s d e o u tro s e sta d o s , e c o m o te m p o v o lta ria m a se r o u v id o s o s s e u s trin a d o s.
E m se g u id a , p o d e r-se -ia at fazer u m tra b a lh o d e r e to r n o n a tu r e z a , a d a p ta n
d o os filho tes le n ta m e n te .
N a a g ric u ltu ra , o id e a l p r o d u z i r o m x im o c o m o m n im o d e p r o d u to s
q u m ico s. C o m o d iz R icard o A b ram o v ay ;

A s itu a o brasileira c h a m a a a te n o , n e s s e sentido , n o s p elo im


p re s s io n a n te a u m e n to no c o n s u m o d e agrot xico s nos ltimos a n o s , m as
sob re tud o p e la fal n c ia d o s is te m a pblico d e con tro le posto e m e x e c u
o a partir do final dos a n o s 8 0 . o q u e m o stra a d is s e rta o d e m e s tra d o
d o e n g e n h e iro a g r n o m o Jos P ra d o A lves Filho, d e fe n d id a re c e n te m e n
te no P r o g ra m a d e P s -G r a d u a o e m C i n c ia A m b ie n ta l d a U n iv e rs id a
d e d e S o P a u lo ( U S P ) . P o r trs d a s o b rie d a d e do ttu lo ('R e c e itu rio
A g ro n m ic o : a c o n s tru o d e um in s tru m e n to d e a p o io g e s t o dos
a grot xic o s e s u a c o n tro v rs ia ) e s c o n d e -s e u m a d e n n c ia d a m a io r g ra
v id a d e . O in s tru m e n to d e co n tro le do u so d e a g ro t x ic o s no P a s -

re c eiturio a g ro n m ic o - e s t c o m p le ta m e n te falido, o q u e contribui p a ra


q u e hoje o Brasil te n h a se h ab itu ado a c e le b ra r a n u a lm e n te o a u m e n to
n a s v e n d a s d e p esticidas c o m o sinal d e p ro gres s o e c o n d i o ind ispen
s v el p a ra o a u m e n to d as safras. 0 q u e e s t e m jo g o a - m uito m a is que
a c o n tra p a rtid a a o a u m e n to d a p ro du o a g ro p e c u ria - um s is te m a de
cu ja a g e n d a d e s a p a r e c e u inte ira m en te a m e ta d e re d u z ir a a s s o c ia o
c o rre n te e n tre c o m id a e v e n e n o .

c o n c e ito d e receiturio agro n m ic o n a s c e a partir d a s a e s do m o v i

m e n to a m b ie n ta lis ta a o final dos a n o s 7 0 e re c e b e e n t o a m a is v e e m e n


te o p o s i o d a indstria. D a m e s m a fo rm a q u e o a c e s s o a o re m d io d e

2 1 0 "

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

ve ria s e r m e d ia d o p elo diagnstico e p ela re c o m e n d a o m d ic a , o uso


dos v e n e n o s d e p e n d e ria d a opin io d e um e n g e n h e iro a g r n o m o q u e s e
ria u m a e s p c ie d e m d ic o d a terra. A o p re c o n iza r o e m p re g o d e p ro d u
tos txicos, e le teria e m m e n te u m a e s tra t g ia d e re c u p e ra o d a s e n e r
gia s d o solo e d a s a d e d a s p la n ta s q u e a c a b a s s e p o r re d u zir ou a t
elim in ar o e m p re g o do agrotxico.
O q u e o co rre u, na v e rd a d e , foi a b u ro c ra tiza o do in stru m en to e a for
m a o d e um p acto d e silncio e m torno d e s u a c o n v e n ie n te inocuidade:
os C o n s e lh o s R e g io n a is d e E n g e n h a ria e A rqu ite tura ( C R E A s ) re c e b e m
u m a ta x a p o r c a d a re c e ita ; s q u e q u a lq u e r um p o d e c o m p ra r a grotxico
{at p e la In te rn e ft), e e m muitos e s ta b e le c im e n to s c om e rc ia is os blocos
j fica m prontos e a s s in a d o s e s p e ra d o com prado r. N o toa q u e a
indstria d eixou d e m a n ife s ta r q u a lq u e r crtica e x is t n c ia d o receiturio. A p e n a s m e ta d e dos 3 mil agricultores entre v is tad o s e m p e s q u is a re
c e n te no E s ta d o d e S o P a u lo d ec la ro u u s a r a g rot xico p o r re c o m e n d a
o d e um e n g e n h e iro a grn om o, U m quarto d e le s s e g u ia a re c o m e n d a
o d o s r e v e n d e d o r e s d o s p ro d u to s . P a r a a b a n a l i z a o d e u so d e
a grot xic o s contribui a prpria legis la o, q u e p e rm ite a p ro p a g a n d a dos
p rodutos v o lta d a d ire ta m e n te a o s agricultores e n o a o s ag r n o m o s .
A t a x a a n u a l d e c re s c im e n to d o c o n s u m o d e a grot xic o s e n tre 1 9 9 3 e
1 9 9 8 foi d e 4 % na A m ric a do N orte, d e 4 , 6 % n a E u ro p a O c id e n ta l e d e
5 , 4 % n a A m ric a L atina. N o Brasil, c h e g o u a im p re s s io n a n te s 6 . 7 % na
ltim a d c a d a . O q u e m ais p re o c u p a q u e a u s n c ia d e con tro le pbli
c o s o b re o t e m a c o rre s p o n d e u m a e s c a s s e z im p re s s io n a n te d e in fo rm a
e s s o b re o g rau d e c o n ta m in a o dos solos e d a s g u a s .
a p r pria n o o d e efic i n cia d a agricultura q u e d e v e s e r c o lo c a d a e m
q u e s t o d ia n te d e s s e s d a d o s .2

F elizm en te, c o m os c u rso s m in istra d o s p e lo SE N A R a o s h o m e n s d o c a m p o ,


estes est o to m a n d o conscincia d o s efeitos d o s a g rot xico s e p r o c u r a n d o a lter
nativ a s, c o m o os tran sg n ico s, q u e r e d u z e m o uso. M a s isso a in d a p o u c o ,
v ista d a q u a n t id a d e d e a g ro t x ic o s q u e a in d a u tiliz a d a , c o m risc o s p a r a a

A.BRAMOVAY, Ricardo. A a g ricu ltu ra brasieira na contramo, /n G azeta M ercantil", 10 de janeiro de


2001. p. A-3.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

s a d e e a g re ss o fa u n a , o q u e se verifica p rin c ip a lm e n te c o m a m o r ta n d a d e
d e p ssaro s,
p re c iso r e s ta u r a r o re sp e ito p ela n a tu re z a , fa z e n d o co m q u e a p re o c u p a o
c o m a ecologia se tr a d u z a e m p re o c u p a o c o m o se r h u m a n o .

3.15 CONTRATOS AGRRIOS


As n o r m a s re la tiv a s aos c o n tra to s d e p a rc e ria e d e a r r e n d a m e n to r u ra l d e
v e ria m se r a lte ra d a s , p o is elas n o esto c o r r e s p o n d e n d o s n e c e ss id a d e s a t u
ais. T a n to isso v e r d a d e , q u e m u ito s ju izes d o tra b a lh o (q u e n o c o n h e c e m a
re a lid a d e ru ra l) ju lg a m q u e to d o s os c o n tra to s d e p a rc e ria so, n a re a lid a d e ,
c o n tra to s d e e m p r e g o .
P o r o u tr o la d o , a d o u tr in a c o n s e rv a d o ra d o D ireito A g r rio e n te n d e q u e no
m b ito r u ra l s o m e n te p o d e h a v e r c o n tra to d e p a rc e ria e d e a r r e n d a m e n to . M u i
tos d o u tr in a d o r e s se e s q u e c e m at m e sm o d a ex istn cia d o c o n tra to in o m in a d o ,
e x p re ss a m e n te p re v is to n o E s ta tu to d a T erra (in fe liz m e n te c o m n o r m a s rgidas,
q u e o to rn a m q u a s e in c o m p a tv e l com a re a lid a d e ru ra l). A ssim , n o s o con
te m p la d o s p ela legislao d iv e rso s c o n tra to s e x isten tes n o m b ito ru ra l; d e lo
cao d e p a s ta g e m , d e p a sto re io , c o n tra to s ag r rio s atp ic o s e in o m in a d o s (com o
o fica" e o " a v ia d o " , to u s a d o s n o M a to G ro sso e n o A m a z o n a s , re sp e c tiv a
m ente).
E nfim , se n o h o u v e r n o v a re g u la m e n ta o d o s c o n tra to s ru ra is , p o d e r o
a g ra v a r-s e os conflitos n o cam po.
O N o rte d o P a ra n , g raas c u ltu ra d o caf, d e se n v o lv e u -se p o r m e io do
c o n tra to d e p arc e ria , A c u ltu ra b ran ca n o r m a lm e n te e ra d e s tin a d a m a n u te n
o d a fam lia. A ssim , q u a n d o era feita a colheita, a p a rtilh a e n tr e os parceiro s
o u to r g a n te e o u to r g a d o p e rm itia q u e o p a rc e iro o u to r g a d o a d q u iris s e p a r a si
p e q u e n a rea, q u a l, m u ita s vezes, ao lo n g o d o te m p o , e r a m a n e x a d a s reas
co n tg u a s q u e ia m s e n d o ta m b m a d q u irid a s .
P a re c e -n o s q u e , n o N o r te e n o N o rd e s te d o p a s, p re c isa ria h a v e r u m a p o l
tica ag rcola m a is a g re ssiv a , com a u tiliz a o d e sse tip o d e c o n tra to , o u c o m a
u tiliz a o d o d ire ito d e su p erfcie p re v isto n o n o v o C d ig o C ivil Brasileiro (art.
1.369 e seg u in tes).
N o N o r d e s te p o d e m -s e e x p lo ra r, al m d e le g u m e s e v e r d u r a s , ta m b m f ru
tas, tais c o m o abacaxi, g o iab a, abacate, m a n g a , u v a e caju, p o r q u e essas so as
m e lh o re s d o pas: n o Sul h o in c o n v e n ie n te d e c h o v e r n o p e r o d o d e m a tu ra o .

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

e n q u a n to l o clim a p e rm a n e c e seco, du lc fic a n d o as fru tas. Tais p r o d u to s se ri


a m v e n d id o s ta n to n o m e rc a d o nacional q u a n to n o in te rn a c io n a l. A lis, n e ste
s o ra ra s as fru ta s q u e se n iv e la m s brasileiras, v isto q u e as d e o u tr o s p a se s
p o d e m a t ter m a io r ta m a n h o e b e le z a , m a s o sa b o r fica m u ito a desejar. Elas
so fontes d e riq u e z a q u e n o e sta m o s s a b e n d o a p ro v e ita r, e n q u a n to s o b ra m od e -o b ra p a r a tal escopo.
N o se p o d e e sq u e c e r q u e o N o rd e s te b rasileiro te m m u ita s e m e lh a n a de
clim a com o e s ta d o d a C alif rn ia, n o s EUA, o e sta d o m a is rico d a q u e le pas,
com o

v ria s v ezes s u p e rio r ao d o Brasil:

N o a n o p a s s a d o , o P IB brasileiro foi p ou co sup e rio r a R $ 1 trilho. C o m


0 d la r a R $ 2 ,4 2 , a s o m a d as riq u e za s do p as foi d e c e rc a d e U S $ 4 1 0
bilhes, m e n o s d e um tero do P IB californiano.
A riq u e za p e r ca p ita a in d a m a is im p re s s ion a nte . A C a lif rn ia, p elo c e n
so d o a n o p a s s a d o , tem 3 3 , 9 m ilhes d e h ab ita n te s , c o n tra 59 ,1 m ilh es
d a F ra n a . A ssim , a ren da anu a l por m o ra d o r d o e s ta d o d e a p ro x im a
d a m e n te U S $ 3 9 ,2 mil, a n te U S $ 2 1 ,7 mil dos fra n c e s e s .
A p o p u la o d o e s ta d o m a is rico dos E U A e q iv a le do e s ta d o d e S o
P a u lo. M e s m o assim , a C alif rn ia produz, e m te rm o s n om in a is , o triplo
d o Brasil inteiro, o n d e v iv em 1 7 0 m ilhes d e p e s s o a s .

D e v e ra m o s m u d a r a v is o - c o m o fez ta m b m Israel a o e n f r e n ta r o d e se rto


- e v e r a seca c o m o u m a o p o r t u n id a d e , e n o c o m o u m p r o b le m a , b a s ta n d o o
m a n e jo a d e q u a d o d o lenol fretico d o N o r d e s te , q u e rico, p o r m n o te m
s id o a p r o v e ita d o . E s t o f a lta n d o in ic ia tiv a s a r r o ja d a s e f in a n c ia m e n to a d e
quados.
P a ra e sse tip o d e p ro d u o (frutas, le g u m e s etc.) o c o n tra to d e p a rc e ria p o
d e ria se r u m a a lte rn a tiv a ju rd ica, p o r q u e ele u n e o ca p ita l d o p r o p r ie t r io com
0

tra b a lh o d o p arceiro .
P a ra le la m e n te , d e v e -se p ro c u r a r d e se n v o lv e r n o N o r d e s te o p la n tio d e r

v ores, p rin c ip a lm e n te d e e u c a lip to s tra n sg n ic o s d e s e n v o lv id o s p e la E m b rap a,


c o m fin a lid a d e d e o b te r m a d e ira , a in d a so b o re g im e c o n tr a tu a l d e p a rc e ria

0 PIB a soma de bens e servios produzidos em um ano.

In "Folha de S. Paulo", 15 de junho de 2001, p. B-3.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

florestal. O e u c a lip to foi tr a z id o d a A u strlia, m a s ele se a d a p to u m u ito b e m em


n o sso pas. L h m u ita s espcies q u e e n fre n ta m lo n g o s p e r o d o s d e secas, com o
a c a m a ld u le n se . Essa rv o re p ro p ic ia b o a re n ta b ilid a d e financeira. C o m o j foi
n o tic ia d o p e la E m b ra p a , faltar m a d e ira p a ra c o n s u m o n o Brasil, e o p re o ser
c o m p e n s a d o r, al m d e e v ita rm o s a im p o rtao . A d e m a is , o e u c a lip to elev a o
lenol fretico e o ram ifica, c o m o j c o m p r o v a r a m a lg u m a s e x p erin cias, p o r
q u e s u a s ra z e s p iv o ta n te s so p r o f u n d a s , p u x a n d o o s v eios d ' g u a . Ele n o
d e v e se r p la n ta d o p e rto d e n ascen tes, m a s seria id e a l p a r a o re flo re s ta m e n to d o
N o rd e s te , p rin c ip a lm e n te n a s reas m ais rid as.
u to p ia d e m u ito s a m b ie n ta lista s q u e r e r d e ix a r a c ria o d e flo restas no
N o r d e s te p o r co n ta d a a rb o riz a o n a tiv a , e isso p o r tr s m o tiv o s bsicos: a) o
p ro p rie t rio d a te rra q u e r r e n d im e n to , e l as rv o re s s o m irra d a s , n o p o s s i
b ilita n d o a e x p lo ra o d a m a d e ira ; b) a re g e n e ra o d e m o r a r ia u n s cem anos,
q u a n d o o e u c a lip to j p o d e ser e x p lo ra d o c o m e rc ia lm e n te n o m x im o sete anos
a p s o p lan tio ; c) c o m o p la n tio d e eu calip to s, q u e t m g r a n d e p o rte , m e lh o ra r
a te m p e r a tu r a d a reg io , p r o v o c a n d o e v a p o ra o e c h u v a s re g u la te s .
O c o n tra to d e p a rc e ria po ssib ilita ao tra b a lh a d o r e s u a fam lia m a io r r e n d i
m e n to d o q u e o e m p re g o : p ela CLT, o e m p r e g a d o fica re c e b e n d o m in g u a d o
salrio , n o se p r e o c u p a n d o m u ito c o m a p r o d u tiv id a d e ; p e la p a rc e ria , com o a
p r o d u o d e p e n d e d o tra b a lh a d o r, este se esfora ao m x im o p a r a c o n q u is ta r
m a is c e d o a lib e rd a d e econm ica.
T o d a v ia , p re c iso a d e q u a r esse tipo d e c o n tra to re a lid a d e social. A g r a n d e
m a io ria d o s ju iz e s tra b a lh ista s e n te n d e h a v e r v n c u lo e m p re g a tc io , u m a v ez
q u e o p a rc e iro tr a b a lh a d o r n o p o s su i co n di es fin a n c e ira s p a r a c u id a r d a rea
q u e o bjeto d o c o n tra to . E sse e n te n d im e n to e m in e n te m e n te tu te la r d o e m p r e
g a d o , p o r q u e , n a essncia, a p a rc e ria a u n i o d o c a p ita l d o p ro p rie t rio da
te rra c o m o tra b a lh o d o se u p a rc e iro , e isso d e s d e a p o c a d o d ire ito ro m a n o .
O q u e c a ra c te riz a a p a rc e ria a a u to n o m ia d o p a rc e iro tr a b a lh a d o r , q u e
ju iz d o se u tra b a lh o , d o s a n d o -o d e a c o rd o c o m as n e c e s s id a d e s e c o m a conveQuando o eucalipto plantado em terras ridas, ele precisa ser aguado diariamente nos primeiros
sessenta dias. Vejamos uma forma de aguar. Pega-se uma garrafa de plstico de dois litros, vazia,
mas com tampa; recorta-se o fundo da garrafa; com este voltado para cima, amarra-se a garrafa, com
arame, a uma estaca: finca-se a estaca ao lado da muda de eucalipto recm-plantada; enche-se a
garrafa com gua; desaperta-se um pouco a tampa. A gua fica pingando praticamente o dia todo.
Todos os dias, volta-se a encher a garrafa, at se verificar que a planta enraizou e firmou. A gua
pode ser transportada em pequenos veculos ou em lombo de animal.

2 1 4

D I R C E U G A L D I N O C A R D IN

nincia. P a ra a caracterizao , n o se analisa o a sp e c to fin anceiro , ta n to assim


q u e o p e rc e n tu a l d e p a rtic ip a o d o p ro p rie t rio v a ria c o n fo rm e a e s tr u tu r a e
os re c u rso s fo rn ecid o s p o r ele, co n fo rm e d is p e o art. 96, VI, d o E sta tu to da

Terra/"*

3.16 O DIREITO DE SUPERFCIE E A REFORMA AGRRIA


O u tro tipo d e c o n tra to q u e p o d e se r a d o ta d o c o m a s f in a lid a d e s an terio res,
p o r e s ta r m a is a d e q u a d o socia lm e n te n o ssa po ca, o c o n tra to d e co ncesso
d e superfcie. Esse tip o d e c o ntrato p o d e a te n d e r tan to a interesses in d iv id u a is
q u a n to coletivos, p o d e n d o co n trib u ir p a ra a reform a agrria, sem q u e o E stado
ten h a q u e d e se m b o lsa r o va lo r d a ind en izao d a rea d e terra e d a s benfeitorias.
Joel D ias F igu eira Jr. afirm a:
0

novo instituto jurdico, inserto c o m o direito real, v e m t a m b m solu cio

n a r e p re v e n ir in m e ro s conflitos, p o rqu an to o vetu sto C d ig o , a t en t o ,


n o o fe re c ia q u a lq u e r re g u la m e n ta o a d e q u a d a ou m e s m o o s is te m a
positivo brasileiro, fican do as p arte s lim itadas a o a rr e n d a m e n to , lo c a
o ou p r tic a d is s im u la d a (inform al) daq uilo q u e p o d e r a m o s d e n o m i Art. 96. Na parceria agrcola, pecuria, agroindstria! e extrativa, observar-se-o os seguintes princ
pios: (...) VI - na participao dos frutos da parceria, a quota do proprietrio no poder ser superior
a: a) dez por cento, quando concorrer apenas com a terra nua; b) vinte por cento, quando concorrer
com a terra preparada e moradia; c) trinta por cento, caso concorra com o conjunto bsico de benfei
torias, constitudo especialmente de casa de moradia, galpes, banheiro para gado, cercas, valas ou
currais, conforme o caso; d) cinqenta por cento, caso concorra com a terra preparada e o conjunto
bsico de benfeitorias enumeradas na alnea c e mais o fornecimento de mquinas e implementos
agrcolas, para atender aos tratos culturais, bem como as sementes e animais de trao e, no caso
de parceria pecuria, com animais de cria em proporo superior a cinqenta por cento do nmero
total de cabeas objeto de parceria: e) setenta e cinco por cento, nas zonas de pecuria ultra-extensiva em que forem os animais de cria em proporo superior a vinte e cinco por cento do rebanho e
onde se adotem a meao de leite e a comisso mnima de cinco por cento por animal vendido; f) o
proprietrio poder sempre cobrar do parceiro, pelo seu preo de custo, o valor de fertilizantes e
inseticidas fornecidos no percentual que corresponder participao deste, em qualquer das moda
lidades previstas nas alneas anteriores; g) nos casos no previstos nas alneas anteriores, a quota
adicional do proprietrio ser fixada com base em percentagem mxima de dez por cento do valor
das benfeitorias ou dos bens postos disposio do parceiro (...).
A parceria um contrato que deve ser estimulado, porque permite a libertao econmica do parceiro
e do conjunto familiar, como ficou provado com a expanso do caf no norte do Paran; diferente
mente, dos celetistas, que sempre ficaro auferindo salrios. Lamentavelmente, muitos juizes, no af
de proteger o trabalhador, desencadearam mais problemas sociais, alm de reduzir a contratao de
parceiros.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA # 2 1 5

n a r d e p s e u d o direito d e s u p e rfc ie , d o n d e s e te r m in a v a por re a liz a r atos


e q u ip a ra d o s c o n c e s s o , c o m resultados via d e re g ra insolveis, que
a c a b a v a m , q u a n d o m uito, e m p e rd a s e d a n o s

O d ire ito d e su p e rfc ie q u e b ra d o is p o s tu la d o s se c u la re s d a p r o p r ie d a d e : a)


acessorium sequitiir principale (o acessrio s e g u e o p rin c ip a l); superfcies solo cedit

(a p r o p r ie d a d e d o solo c o m p re e n d e a d a superfcie). A ssim , o u tro ra , to d o b e m


o u coisa q u e a d e ris se a o solo in teg rava-o , e sp e c ia lm e n te as acess es p o r s e m e n
teira, p la n ta o e c o n stru o {satis, plantntio, inaedificatio). A g o ra , c o m o C d ig o
Civil d e 2002, p o d e -s e ter u m d o m n io (do p ro p rie t rio ) c o m a s u p e rp o s i o d e
o u tr o d o m n io (d o su perficirio ). O re fe rid o c o n tra to d e v e se r c e le b ra d o p o r
e sc ritu ra p b lic a , re g is tra d a e m cart rio d e R egistro d e Im v e is, p o r tra ta r de
d ire ito real.
A c on cesso d a su p erfcie ser g ra tu ita ou o n e ro sa . Se o n e ro sa , o p a g a m e n to
p o d e r s e r feito d e u m a s vez, o u p a rc e la d a m e n te . O p r a z o d e co n cesso p o d e
r se r d e te r m in a d o o u in d e te rm in a d o . O d ire ito d e su p e rfc ie p o d e se r tra n sfe
r id o a terceiro s e, p o r m o r te d o su perficirio , aos se u s h e rd e iro s. E m caso d e
alie n a o d o im vel, o s u p e rfic i rio ter d ire ito d e pre fe r n c ia; d a m e sm a fo r
m a , se h o u v e r a lie n a o d o d ire ito d e sup erfcie, o p r o p r ie t r io ter p refern cia.
Se as p a rte s n o h o u v e r e m e s tip u la d o o con tr rio , ex tin ta a c o n cesso d e s u p e r
fcie, o p r o p r ie t r io p a s s a r a te r a p r o p r ie d a d e p le n a so b re o te rre n o , c o n s tru
o o u p la n ta o , in d e p e n d e n te m e n te d e in d e n iz a o .
N a p r tic a , e sse tip o d e c o n tra to p erm ite : a) q u e o p r o p r ie t r io c o n tin u e a
se r p r o p r ie t r io d a terra; b) q u e o su p e rfic i rio te n h a o d o m n io d a p lan tao ,
d a s c o n s tru e s e d o s s e m o v e n te s q u e se e n c o n tre m n a p r o p r ie d a d e ; c) q u e o
su p e rfic i rio o b te n h a d ir e ta m e n te fin a n c ia m e n to s, in d e p e n d e n te m e n te d o p r o
p rie t rio , b e m c o m o q u e d e m g a ra n tia a p la n ta o ; d) q u e o p r o p r ie t r io rece
b a c o m o p a g a m e n to p a r te d a p ro d u o (o E s ta tu to d a T erra p ro b e tal s iste m
tica^", c o n tr a r ia n d o o c o s tu m e ru ral; p e lo d ire ito d e su p erfcie, e ssa d iv e r g n
cia fica a fa sta d a ); e) q u e o p a g a m e n to fique a c ritrio ex clu siv o d a s p a rte s , afa s
ta n d o -se a d e te r m in a o d o E sta tu to d a T erra d e q u e o m x im o q u e o p r o p r ie
trio p o d e c o b ra r 15% so b re o v a lo r c a d a stra l d a te r r a (art. 95, XII).
^ N o v o C d ig o C iv il C om e n ta d o . So Paulo: Saraiva, 2003, p. 1207-1208,
Decreto n- 59.566/66, art. 16, pafgrato nico: vedado ajustar como preo de arrendamento quan
tidade fixa de frutos ou produtos, ou seu equivalente em dinheiro.

[ 1 6 b D IR C E U G A I D I N O C A R D IN

O d ire ito d e su p e rfc ie p e rm itir g r a n d e a v a n o social; q u e m te m a terra


m a s n o te m q u e m d e la c u id e p o d e fazer a co n cesso d o d ire ito d e su p erfcie a
u m su p erficirio , q u e p o d e r ex plo r-la e e fe tu a r o p a g a m e n to c o m a p r p ria
p ro d u o .
D isse O liv e r W e n d e l H o lm e s, juiz d a S u p re m a C o rte d o s E s ta d o s U nidos:
" s v e z e s m a is im p o r ta n te d iz e r o b v io d o q u e ela b o ra r s o b re o a b s tru so ".
b v io q u e o p r o d u t o te m o m e sm o v a lo r d e m e rc a d o , in d e p e n d e n te m e n te d a s
m o s e m q u e se e n c o n tre , isto , q u e r se e n c o n tre e m p o d e r d o a r r e n d a t r io ou
d o p ro p rie t rio d a terra.
A d e m a is, e sse e s ta tu to n o r m a tiz o u c o n tra o c o stu m e ru ra l, p o is h m u ito s
sculos se u tiliz a m p r o d u to s p a r a o p a g a m e n to , ta n to a ssim q u e at e m c o m p ra
e v e n d a d e im v e is r u r a is o co rre o c o m p ro m iss o d e p a g a m e n to d e p re sta e s
e m sacas d e soja, d e a lg o d o o u d e caf, o u e m a rro b a s d e boi. E n t o , tal e s ta tu
to foi incoeren te: ele teria p o r objetivo a m p a r a r a p a r te c o n tr a tu a lm e n te m ais
fraca, m a s n o caso e m foco b en eficio u o p ro p rie t rio ao v e d a r q u e o v a lo r d o
a r r e n d a m e n to fosse a ju s ta d o e m q u a n tid a d e fixa d e p r o d u to s , p o is q u e m p r o
cede a o p a g a m e n to o a rre n d a t rio . O s p r o d u to s tm o m e s m o v a lo r ta n to p a ra
o p ro p rie t rio q u a n to p a r a o a rre n d a t rio . H oje c o m u m p a g a r-s e u m a d e te r
m in a d a q u a n tia d e sacas d e soja p o r alq u e ire , o u m e s m o e m to n e la d a s d e canad e-acar. Isso n o significa q u e esteja h a v e n d o p re ju z o a o a rre n d a t rio . O q u e
se d e v e m a n te r a p e n a s a o p o d o a r r e n d a t r io n a p re fe r n c ia d e p a g a m e n to
e n tre p r o d u t o s o u m o e d a c o rre n te d o pas, caso o p ro p rie t rio "exija q u e a e q u i
valncia seja ca lc u la d a com b a se em p re o s in fe rio re s a o s v ig e n te s n a reg io ,
p o c a d o p a g a m e n to , o u fique c o m p r o v a d a q u a lq u e r o u tr a m o d a lid a d e d e si
m u la o o u fr a u d e p o r p a r te d o a r r e n d a d o r " (artig o 92, 7, d o E sta tu to d a
Terra, e ta m b m o D ecreto n" 59.566/66, art. 19).
Enfim , h v ria s o p e s ju rd ic a s p a r a a co n tra ta o d e re a s d e te rra s p a ra
cultivo. E m b o ra os c o n tra to s d e a r r e n d a m e n to e d e p a rc e ria d e v a m se r re fo r
m u la d o s , j s e p o d e fa z e r uso d o d ire ito d e superfcie, p r o p ic ia n d o - s e s e g u r a n
a ju rd ic a a o p r o p r ie t r io d a terra e ao superficirio.

3.16.1 Empreendimentos viabilizados pelo direito de


superfcie
N e s te tpico, a b o r d a r e m o s su c in ta m e n te a lg u n s e m p r e e n d im e n to s v iab ili
z a d o s p e lo d ire ito d e superfcie: a) c o o p e ra ti v ism o ru ra l; b) c o o p e ra tiv is m o r u

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

ral in te g r a d o in d u stria liz a o ; c) e m p re e n d im e n to s p a rtic u la re s; d) e m p r e e n


d im e n to s p a rtic u la re s re a liz a d o s e m co n ju n to c o m o p o d e r pblico.

3.16.2 Cooperativismo rural


P o d e-se fo m e n ta r o c o o p e ra tiv ism o r u ra l r e u n in d o - s e d iv e rso s su p erficirios,
q u e se r o os c o o p e ra d o s . A ssim , h a v e r a u tiliz a o d e im p le m e n to s agrcolas
d a c o o p e ra tiv a p o r todos.
p re c iso d e fin ir b e m a r e s p o n s a b ilid a d e p e lo u so e p e la m a n u te n o d a s
m q u in a s e im p le m e n to s agrcolas, p o rq u e , caso se d eix e p o r c o n ta d e to d o s, a
d u r a b ilid a d e se to rn a m n im a . J diz ia A ristteles: " A q u ilo q u e d e to d o s n o
d e n in g u m " .
C o m as c o o p e ra tiv a s, h a v e r re d u o d e cu sto n a p r o d u o e m a io r lu cro n a
venda.

3.16.3 Cooperativismo rural Integrado industrializao


C o nfo rm e visto n o subtpico anterior, po d e m -se constituir co o perativ as rurais
v oltadas p a ra a pro d u o . m e d id a q u e as coop erativ as v o se fortalecendo,
possvel obter b o n s financiam entos e im plem en tar a industrializao d e seus p ro
d u to s, o b v ia m e n te a p s e stu d o s tcnicos d e avaliao econm ica. A s in d strias
d os c o o p e ra d o s a d q u ire m os p ro d u to s, p a ra a industrializao, e os coo p erad o s
p a s s a m a ter participao tam b m nelas, en carregando-se d o seu abastecim ento.

3.16.4 Empreendimentos particulares


P o d e -se c o n s titu ir c o o p e ra tiv a s ru ra is q u e se e n c a r r e g u e m d a p r o d u o de
m a t ria -p rim a e in d s tr ia s q u e a d q u ir a m se u s p r o d u to s , p a r a a in d u s tr ia liz a
o. N e ss e caso, a s in d s tr ia s p o d e m celeb rar c o m as c o o p e ra tiv a s c o n tra to s de
p re fe r n c ia p a r a a a q u isi o d o s p ro d u to s . A ssim , os c o o p e r a d o s te r o certeza
d e q u e v e n d e r o a q u ilo q u e p r o d u z ir e m , e a in d s tr ia a certe z a d e d is p o r d e
m a t ria -p rim a p a r a in d u s tria liz a r. H u m a c o n v e rg n c ia d e in te re sse s. A in
d s tr ia p o d e , p o r ta n to , at d a r o im p u ls o n e c e ss rio c o n s titu i o d a c o o p e ra
tiva agrcola.

3.16.5 Empreendimentos particulares realizados em conjunto


com o poder pblico
P ara a e x p lo ra o d a te rra , p o d e -se in te g ra r trs a g e n te s, o u seja, o p r o p r i

21 7

21 8

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

e t r io , o s u p e r f i c i r i o e o p o d e r p b l ic o , f a z e n d o - s e v e r d a d e i r a r e f o r m a
a g r r ia .
O p r o p r ie t r io p a rtic ip a c o m a terra e a u fe re lu cro p o c a d a colheita; a d e
m ais, a te rra p a ssa a te r m a io r valor, p o r q u e se to rn a p r o d u tiv a . O su p erficirio
a u fe re lu c ro g raas a o se u tra b a lh o d e ex p lo ra o d a terra. O p o d e r p b lic o d
s u p o r te tcnico e o rie n ta os su perficirio s, p ro p ic ia n d o m a io r p r o d u tiv id a d e e
re n ta b ilid a d e . P ra tic a m e n te e m to d o s os e s ta d o s h in s titu to s v in c u la d o s ao
p o d e r p b lic o q u e c o n ta m c o m tcnicos ag rco las a lta m e n te e sp e cializad o s.
O a tu a l siste m a d e re fo rm a a g r ria te m a p r e s e n ta d o trs in c o n v e n ie n te s b
sicos: a) m u ito s d o s "se m -te rra " v e n d e m su a c o ta -p a rte , e d e v id o a isso m u ito s
a d q u ir e n te s es t o se to r n a n d o g ra n d e s p ro p rie t rio s ; b) e m m u ito s a s s e n ta m e n
tos n o h im p le m e n to s ag rco las n e m o rie n ta o tcnica, o q u e dific u lta a so
b re v iv n c ia d o s n o v o s p ro p rie t rio s ; c) a id eo lo g ia p o ltica d o m in o u a re fo rm a
a g r ria , ta n to a ss im q u e a lg u n s id e lo g o s d o M o v im e n to d o s S em -T erra p r e
te n d e m at c ria r u m e s ta d o -m e m b ro : " C o ro a n d o e ssa n o v a fase d e c u n h o fas
cista, o M ST la n o u a o p a s o m a io r d esafio d e su a h ist ria , ao a n u n c ia r a p r e
te n s o d e e stab elecer u m a c a m p a m e n to g ig a n te n o P o n ta l d o P a ra n a p a n e m a ,
co m 5.000 fam lias d is p o s ta s a resistir at c o n se g u ire m se r a s s e n t a d a s . ... A rea
esc o lh id a p a r a a s s e d ia r o 'n o v o C a n u d o s ' c o rro b o ra u m a o rie n ta o e stratg ica
s e g u id a p e lo M ST d e s d e 1966, q u a n d o R a in h a a n u n c io u a in te n o d e cria r u m a
esp cie d e 're p b lic a in d e p e n d e n te ' n o P o n ta l d o P a r a n a p a n e m a , u m c e n tro d e
co n c e n tra o d e in fra -e s tru tu ra vital, a tra v e s sa d o p o r lin h a s d e tra n sm is s o d e
en erg ia e h id r o v ia T iet-P aran "^ ; d) a d e sa p ro p ria o te m p o r fin a lid a d e to r
n a r a te rra p r o d u tiv a , m a s e m m u ito s casos h o u v e a p e n a s s u b stitu i o d e titu la
rid a d e , q u e p a s s o u p a r a u m g r u p o d e s e m -te rra , p o r q u e a im p r o d u ti v i d a d e
c o n tin u o u c o m ele.
C o m o p o d e r ia se r feita a re fo rm a a g r ria v in c u la d a ao d ire ito d e superfcie?
O p r o p r ie t r io p o s s u i u m a g r a n d e rea d e terras, e n o a e x p lo ra a d e q u a d a
m en te. E n t o , c o n c e d e o d ire ito d e su p erfcie a d iv e rs o s s u p e rfic i rio s, q u e ,
p o c a d a c o lh eita, c o m o r e s u lta d o d a p r o d u o , p a g a r o o e q u iv a le n te a u m
a lu g u e l. O p o d e r p b lic o a rtic u la a n e g o c ia o e c o n tr ib u i p a r a o incio d a s
a t i v i d a d e s p r o d u t i v a s , f i n a n c ia n d o s e m e n te s e i m p l e m e n t o s a g r c o la s . O s
s u p e rfic i rio s p a g a r o e m m d ic a s presta es. M as d e v e r o s e m p r e re ssa rc ir o
In Solidariedade Ibero-americana, 1quinzena de agosto de 2003, p. 6. Publicado pelo M S IA -M o v i
m e n to d e S o lid a rie d a d e Ib e ro-a m e rica n a , Rio de Janeiro.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

p o d e r p b lic o e m relao q u ilo q u e re c e b e ram , p o r q u e , se h o u v e r g ra tu id a d e ,


n o v a lo riz a r o o a p o io recebid o. M e sm o p a g a n d o v a lo re s p a rc o s, m u ita s v e
z es ta m b m n o a tr ib u e m o d e v id o valor.
L e m b ro -m e d e q u e , h m u ito s a n o s, v iv e n c ia m o s u m a s itu a o reflexiva.
Jos Pach eco, c o m e sp rito d e fra te rn id a d e e v o cao socialista, e s tim u la v a a
q u e to d o s os tr a b a lh a d o re s se to rn a s se m a cio n istas d a s e m p r e s a s I m a m e Im a p sa
(em M arin g ). E m te rm o s p rtico s, eles g a n h a v a m u m salrio e d e s te m e n s a l
m e n te d e s ta c a v a m u m a q u a n tia p a r a a q u isio d e aes. D o m in g o s P au lucci e
F e liz a rd o M e n e g u e tti, q u e lid e ra v a m as negociaes, e n t o re s o lv e ra m a d o ta r o
m e s m o siste m a , c o m a fu s o d e d u a s em p re sa s: a B ro m a n e a I n d s tr ia s R e u n i
d a s, c ria n d o -se a terceira, R eim idas S /A , m ed ian te u m a estratgia inteligente. Efe
tivaram -se as rescises d os contratos de trabalho dos e m p re g a d o s d a s d u a s e m p re
sas, p o r m o saldo d o FGTS d e cada u m deles foi d e stin a d o aquisio d a s aes
d a R eu n id as S /A . O s trab alh ad ores estav am contentes com o fato d e serem acionis
tas d a n o v a e m p re s a . Era, p a r a a p oca (1972/73) u m g r a n d e a v a n o social.
P a ss a d o , p o r m , a lg u m te m p o , eles c o m e a ra m a v e n d e r as a es a o u tra s
p esso as. U m d e le s c h e g o u a v e n d -la s p a ra c o m p r a r u m a la m b re ta . D e n tro de
m im s e m p r e ficou o q u e s tio n a m e n to : esse tr a b a lh a d o r v e n d e u as aes to fa
c ilm en te, p o r q u e n o as v a lo riz a ra , p o r q u e n o p e rc e b e ra o real sig n ificad o d e
las? O u ser q u e a la m b re ta e ra n e c e ssid a d e b sica, d e p o is d e tra b a lh a r n a e m
p re s a p o r m a is d e sete a n o s u tiliz a n d o s e m p r e o tr a n s p o r te coletivo?
O p o d e r p b lic o e o s su p e rfic i rio s p o d e r o a rtic u la r-s e c o m e m p r e e n d e d o
res q u e te n h a m in te re sse n a a q u isi o d o s p r o d u to s . D essa fo rm a , o p o d e r p
blico n o d e s p e n d e r v a lo re s in d e n iz a t rio s p a r a d e s a p r o p r ia o , c o m o tem
o c o rrid o , e p o d e r a b rir linlias d e crdito, fin a n c ia n d o im p le m e n to s agrcolas
q u e o su p e rfic i rio p o s sa p a g a r e m c m o d a s p re sta e s. M e d ia n te tal sistem a,
q u e m n o tiv e r in te re sse e m p r o d u z ir , a u to m a tic a m e n te ficar alijado. D eve-se
d a r te rra a q u e m e fe tiv a m e n te q u e ira faz-la p r o d u z ir , p a r a q u e fique c u m p r i
d a a s u a fu n o social.

3.17 O PROTESTO
O p ro te sto , a tu a lm e n te , u m a fo rm a d e a b a la r d r a s tic a m e n te o c r d ito do
d e v e d o r, e, c o m o j a p o n ta r a m a d o u tr in a e a ju r is p r u d n c ia , so c o m u n s os
p ro te s to s a b u siv o s. O p r a z o p a r a o p a g a m e n to - d e trs dias, c o n ta d o s a p a rtir
d a d a ta d a e x p e d i o d a notificao p e lo C a rt rio d e P ro te sto , c o n s o a n te o arti-

520

D IR C E U G A L D I N O C A R D IN

g o 12 d a Lei n" 9 .4 9 2 /9 7 - ch e g a a t m e s m o a ferir os p rin c p io s co n stitu c io n a is


d a a m p la d efesa e d o c o n tra d it rio (art. 5", LV, d a CF): q u a n d o o d e v e d o r rece
b e a notificao, f r e q e n te m e n te j o dia d e e fe tu a r o p a g a m e n to . A ssim , esse
p r a z o m u ito ex g u o , e m u ita s v e z e s p ro v o c a a q u e b ra d e e m p r e s a s q u e , se
tiv e sse m p r a z o u m p o u c o m a io r, p o d e r ia m so lv e r o dbito.
A lei d e v e ria c o n c e d e r o p ra z o de, n o m n im o , d e z d ia s teis, e a p a r tir d o
r e c e b im e n to d a notificao, e n o d e trs d ias, e a p a r tir d a sim p le s e x p e d i o
d esta. So d u a s as p rin c ip a is ra z e s p a r a o p ra z o o ra su g e rid o : a) p o ssib ilita r d e
fato a o d e v e d o r o a d im p le m e n to d a o b rig ao, e v ita n d o q u e o e x g u o p r a z o de
trs d ia s o s u r p r e e n d a e ele n o te n h a co n dies d e c o n s e g u ir n u m e r r io p a ra
so lv e r a d v id a ; b) r e d u z ir o n m e r o d e p e d id o s d e su sta o d e p ro te s to , ocasi
o n a d o s p o r essa p re m n c ia d e tem po.
N o in te re ssa so c ie d a d e a q u e b ra d a s em p re sa s, n e m a su a c o n stitu i o e m
m o ra ; o q u e in te re ssa q u e elas so lv a m se u s c o m p ro m is s o s. n e c e ss rio , pois,
q u e lh es seja c o n c e d id o p r a z o b e m m a io r d o q u e o atual.

3.18 SUSPENSO DA EXIGIBILIDADE DO CRDITO


TRIBUTRIO
O a rtig o 151 d o C d ig o T rib u t rio N a c io n a l p r e v caso s d e s u s p e n s o d e
e x ig ib ilid a d e d o c r d ito trib u t rio . Esses casos d e v e ria m s e r in te r p r e ta d o s co m o
m e r a m e n te e x e m p lificativ o s, m a s a d o u tr in a se p o sic io n a n o s e n tid o d e q ue,
tra ta n d o -s e d e s u s p e n s o d e e x ig ib ilid ad e, n o v o s casos s o m e n te p o d e m se r cri
a d o s p o r lei.
P o r isso, d e v e r ia m s e r acre sc id a s q u e la s h ip te se s as se g u in te s:
a) q u a n d o o c o rre in v a s o d e te rra n o m b ito ru ra l, p a r a s u s ta r o ITR, o u
q u a n d o o c o rre in v a s o d e im v el u rb a n o , p a ra s u s ta r o IPTU;
b) d u r a n te o p e r o d o q u e m e d e ia a inscrio d o d b ito e m d v id a ativ a e o
a ju iz a m e n to d a e x ecu o fiscal.
Q u a n to letra " a " , veja-se a se g u in te hip tese: os se m -te rra in v a d e m u m a
fa z e n d a , e n e la p e rm a n e c e m d u r a n te b a sta n te te m p o , e n q u a n to a s itu a o n o
se d efine. D u r a n te e sse te m p o , o p ro p rie t rio , q u e p e r d e u a p o s s e d o im vel,
c o n tin u a te n d o q u e p a g a r o ITR, q u a n d o n o h r a z o p a r a isso. s v e z e s ele
p e r d e a te rra e o ITR q u e p a g o u ... O p o n to d e e q u ilb rio seria s u s ta r a exigibili
d a d e d e s s e trib u to at q u e se re so lv e sse a situ ao ; a p e n a s se o p r o p r ie t r io
re to m a ss e o im v e l ele p a g a ria .

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

Q u a n to letra "b " , o co rre situ a o a in d a m a is to rm e n to s a p a r a o c o n trib u in


te. O la n a m e n to trib u t rio e n c a m in h a d o p a r a in scrio e m d v id a ativa. A
re p a rti o c o m p e te n te leva a lg u m te m p o (s v e z e s v rio s m eses) p a r a fo rm a li
z a r a inscrio. D e p o is, a in scrio e n c a m in h a d a P r o c u r a d o r ia , p a r a esta
a ju iz a r a o d e e x ecu o fiscal. Esses p ro c e d im e n to s in te rn o s d e m o r a m a p ro x i
m a d a m e n te 6 (seis) m eses. N e sse n terim , o c o n trib u in te fre q e n te m e n te n eces
sita d e c e rtid o n e g a tiv a d e trib u to s p a ra , p o r e x e m p lo , o p e ra c io n a liz a r fin a n c ia
m e n to s b a n c rio s o u p a rtic ip a r d e licitaes. A legislao exige c e rtid o n e g a ti
va p a r a m u ita s o p e ra e s, at m e sm o p a ra e fe tu a r v e n d a s a e m p re s a s pblicas.
C o n tu d o , o " d b ito " q u e est se n d o inscrito n e m s e m p r e legal. P o d e tratar-se
d e u m trib u to in co n stitu cio nal. A ssim , o c o n trib u in te se to rn a v tim a d e o m is
s o leg isla tiv a , p o is n o c o n se g u e o b te r c e rtid o n e g a tiv a . C o s tu m a -s e c h a m a r
d e " b u ra c o n e g r o " esse p e r o d o q u e vai d e s d e a c o n stitu i o d e fin itiv a d o la n
a m e n to , p a s s a n d o p e la inscrio e m d v id a ativ a , at o a ju iz a m e n to d a ao d e
execuo fiscal.
A ju r is p r u d n c ia e n te n d e q u e , e m tal caso, p a r a o b te r c e rtid o n e g a tiv a (ou
c e r tid o p o s itiv a c o m e feito n e g a tiv o ), o c o n t r ib u in t e d e v e a ju iz a r m e d id a
c a u te la r, n e la o fe re c e n d o c auo (com o q u e ele se a n te c ip a p e n h o r a q u e oco r
re ria n a e x ecu o fiscal), e d e p o is in g re s sa r c o m a ao p rin c ip a l. A ssim , o c o n
trib u in te te m g r a n d e s d e s p e s a s e p e rm a n e c e e m e s ta d o d e in s e g u ra n a , e m u m
calvrio q u e n o in te re ssa socied ad e.
A ssim se n d o , e n te n d e m o s q u e o C d ig o T rib u t rio N a c io n a l d e v e ria p re v e r
m a is u m a h ip te se d e su s p e n s o d a e x ig ib ilid a d e d o c r d ito trib u t rio : o c r d i
to trib u t rio ter s id o d e fin itiv a m e n te c o n stitu d o , p o r m a in d a n o te r sid o aju i
z a d a a execuo fiscal. C o m isso, o c o n trib u in te n o teria n e c e s sid a d e d e im p e tra r
m a n d a d o d e s e g u r a n a o u aju izar m e d id a c a u te la r in o m in a d a s im p le s m e n te
p a r a o b te r u m a c e rtid o n e g a tiv a . A d e m a is, a m q u in a ju d ic i ria n o p recisaria
se r ac io n a d a v ista d e u m fato t o sim p le s c o m o o e x p o sto , m a s q u e in fe rn iz a a
v id a d o c o n trib u in te , p r in c ip a lm e n te se ele p r e te n d e p a r tic ip a r d e licitao o u
o b te r fin a n c ia m e n to .
O m e s m o falo o c o rre com d b ito q u e n o foi in sc rito e m d v id a ativ a e est
" s u b ju d ic e ". T a m b m d e v e ria existir n o rm a p e r m itin d o a c a u o a d m in is tra ti
v a p e lo c o n trib u in te ; caso haja execuo fiscal p e la F a z e n d a P b lic a p o d e r ia ser
feita a c o n v e rs o e m p e n h o ra .
O u tr o fato re le v a n te re la c io n a d o com a s c e rtid e s n e g a tiv a s (o u certid es

221

?22

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

p o sitiv a s c o m efeito d e neg a tiv a s) d iz re s p e ito s c u sta s d o s m a n d a d o s d e s e g u


ran a q u e v is a m e x p e d i o d e tais certides. Q u a n d o o c o n trib u in te im p e tra o
m a n d a d o d e s e g u ra n a , os ju iz e s tm ex igid o q u e as c u sta s sejam re c o lh id a s
co m b a se n o v a lo r d a d v id a trib u t ria o u d o benefcio q u e o c o n trib u in te p o d e
r o b te r se a c e rtid o for e x p e d id a . T ecnicam ente, e n te n d e m o s q u e h e rro ju r
dico, p o r q u e o m a n d a d o d e se g u ra n a teleo lo g ic a m e n te m a n d a m e n ta l, u m a
v e z q u e o ju iz im p e u m a o r d e m d e fazer a u to r id a d e co ato ra, n o s e n tid o de
ela e x p e d ir a c e rtid o . A p r e te n s o n o v isa r e p a r a o p e c u n i r ia , m e sm o
p o r q u e o m a n d a d o d e se g u ra n a ^'^ , n o p o d e se r u s a d o p a r a tal fin a lid a d e .
L o g o , p a r a e x p e d i o d e c e r tid o n e g a tiv a , fa lta c o e r n c ia l g ic a te r p o r
p a r m e tr o a q u e le s v alores, q u a n d o a o r d e m m a n d a m e n ta l ser p a r a a e x p e d i
o. M as, a in d a q u e a ssim n o fosse, o v a lo r d o d b ito c o n s ta n te d a certid o
p o sitiv a a p re s e n ta d o p ela F a z e n d a Pblica tra n sfo rm a -se e m m a is u m m e io p a ra
a u m e n ta r a a r r e c a d a o e statal, p o r q u e s e rv ir d e p a r m e tr o p a r a as custas.
A ssim , h a v e r a u m e n to d o v a lo r d a s cu sta s, p o r q u e se o v a lo r d a c a u sa fosse
a p e n a s sim blico, p o r se tr a ta r d a ob te n o d a certid o , o v a lo r a re c o lh e r seria
m n im o . E a c e rtid o n e g a tiv a , q u e era m eio p a r a o c o n trib u in te o b te r finan cia
m e n to o u p a r tic ip a r d e licitao, tra n sfo rm o u -se e m fim: a a rre c a d a o fiscal.
A d e m a is, d e se p e rq u irir: q u a l o v a lo r d e u m d ire ito , c o n s id e r a n d o q u e o
c id a d o te m d ire ito certid o , c o n so a n te o a rtig o 5", XXXIV, b, d a C o n stitu i o
F ederal? N e ss e caso, n o d e v e ria m s e q u e r se r re c o lh id a s cu sta s, p o r q u e q u e m
d e u o rig e m ao foi o p o d e r p b lico , p o r o m isso.
O c o n trib u in te acab a re c o lh e n d o e le v a d a s cu sta s, a fim d e n o p o le m iz a r,
e v ita n d o r e ta r d a m e n to d a d e c is o d e q u e necessita c o m u rg n cia. A ssim , a F a
z e n d a P b lic a d c a u sa a u m a m e d id a judicial, e q u e m a cab a a r c a n d o c o m os
p re ju z o s o c o n trib u in te . E m casos co m o esse, a rig o r, d e p o is d e o b tid a a s e n
tena c o n cessiv a d o m a n d a d o d e se g u ra n a , ele p o d e a ju iz a r ao c o n tra o p o
d e r p b lic o , p a ra se re ssa rc ir d a s d e sp e s a s q u e teve. C o n tu d o , isso n u n c a o c o r
re, p r in c ip a lm e n te d e v id o m o r o s id a d e d a justia.
U m ltim o fato q u e e x p o re m o s re la tiv a m e n te s c e rtid e s n e g a tiv a s d e d
b ito d iz re s p e ito fo rte p re d isp o si o d o s ju iz e s p a r a d e n e g a r p e d id o s d e q u e
seja d e te r m in a d a a s u a e x p e d i o p ela a u to r id a d e c o m p e te n te . R a ro s s o os
ju izes q u e se in c lin a m n o s e n tid o d e d e te r m in a r a e x p e d i o , p o r q u e a le g a m

" ''A rt. 15 da Lei 1.533/51.

D E S A P IO S D A C I D A D A N I A ! 2 2 3

a d o ta r p o r id e o lo g ia a p r o te o d o p o d e r p b lic o . A ssim , s e m p r e p r o c u r a m
u m a ra z o p a r a n o a c o lh e r o p e d id o d o c o n trib u in te .
A s lim in a re s p a r a tal in te n to est o se to r n a n d o in c u a s , p rin c ip a lm e n te p o r
que, e m caso d e d v id a , a forte te n d n c ia o in d e fe rim e n to d o p e d id o . T o d a
via, d e v e ria o c o rre r e x a ta m e n te o contrrio: n a d v id a , co n c e d e r. P o r q u ? P o r
q u e , g ra a s c e rtid o n e g a tiv a , h a v e r c o n tin u id a d e d a s a tiv id a d e s sociais da
e m p re sa , h a v e r riq u e z a e m m o v im e n to . E o p o d e r p b lic o n o p e rd e ; se ele
tiver d ire ito , o re c e b im e n to d o trib u to a p e n a s se r p o s te r g a d o . P o r o u tr o la d o , o
c o n trib u in te q u e n o o b tiv e r a ce rtid o n e g a tiv a e q u e , p o r isso, for im p e d id o
d e p a r tic ip a r d e u m a licitao o u d e ix a r d e o b te r u m fin a n c ia m e n to sofrer
d a n o irre p a r v e l. A c id a d a n ia m alferid a.

3.19 SOCIALIZAO DOS PREJUZOS


A teoria objetiv a foi im p la n ta d a n o art. 37, 6" d a C F /8 8 . O e s ta d o p a s s o u a
se r re s p o n s a b iliz a d o p e lo s a to s d o s se u s a g e n te s, e m b o ra p o ss a e x ercer o d ire i
to re g re ss iv o c o n tra q u e m p ra tic o u o ato n o caso d e d o lo o u c ulp a.
P o d e -se d iz e r, c o m o o b se rv a S an to s d e A rag o : "... d e fato, a re sp o n s a b ili
d a d e d o E sta d o n o D ireito b ra sile iro u m a d a s q u e m a is c o n fe re d ire ito s aos
a d m in is tr a d o s q u e so fre m d a n o s p a trim o n ia is o u m o ra is, e n c o n tr a n d o p a ra le lo
e m p o u c o s o u tr o s pases.
P ara a lg u n s , esta su p e rp ro te o p o d e se r v ista c o m o u m a v a n o d o D ireito
b ra sile iro e m re la o ao d e o u tro s p a se s, m a s o u tr o s p o d e m v-la com o , na
v e r d a d e , u m n v e l d e p re o c u p a o n o m u ito e le v a d o c o m o E rrio d a coletivi
d a d e , c o m o u m a e m a n a o d a co n scin cia b ra sile ira d e v e r o E s ta d o m e n o s
c o m o u m a res publica e m a is c o m o u m a res nullius"}'^^

3.19.1 Prejuzos causados por alguns membros do Ministrio


Pblico
A M e d id a P ro v is ria n" 2.088-35/2000 e sta b e le c e u a r e s p o n s a b ilid a d e p e s
soal d o r e p r e s e n ta n te d o M in istrio P blico q u e in s ta u r a r te m e ra ria m e n te in
q u rito p olicial o u p r o c e d im e n to a d m in is tra tiv o o u p r o p u s e r ao d e n a tu re z a
civil, c rim in a l o u d e im p r o b id a d e , a tr ib u in d o a o u tr e m fato d e q u e o sab e ino-

ARAGO, Alexandre Santos de. Os Fundamentos da Responsabilidade Civil do Estado. R evista de

D ire ito A d m in istra tivo , Rio de Janeiro, 236: 263-273, abr./jun. 2004, p. 264.

2 2 4

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

cente. E fix o u m u lta n o s u p e r io r a R$ 151.000,00 (cento e c in q e n ta e u m miJ


reais), a se r p a g a p e lo a g e n te p b lic o ao a c u sa d o , n o caso d e a im p u ta o ser
m a n ife s ta m e n te im p ro c e d e n te .
T o d a v ia , a p re ss o poltica, sob o falso a r g u m e n to d e q u e isso in ib iria a a tu
ao d o M in ist rio P blico, fez com q u e o e n t o p r e s id e n te d a R e p b lic a re c u
asse e exclusse a q u e la m u lta.
U m fato n o s te m p r e o c u p a d o : p erceb e-se q u e m u ita s aes in g re s s a d a s p o r
a lg u n s d o s m e m b ro s d o M P fo ra m p re c ip ita d a s. N o h o u v e d e tid a a n lise d o s
fatos. N o h o u v e p o n d e r a o ju rd ica. N o h o u v e a n lise q u a n to s leses p a
trim o n iais. M u ita s d a s aes so forcejadas, e e m a lg u m a s d e la s os m e m b r o s do
M in istrio P b lico se to rn a m in s tru m e n to s d e h b e is polticos.
Q u a n to te m p o d e s p e n d e u o M P c o m tais aes?) Q u e m p a g o u p o r esse te m
p o d e s p e n d id o in fru tife ra m e n te o u at m e s m o s e m necessid ade?! O b v ia m e n te ,
o cidad o ! Q u e m p a g a r p o r aes d e s tin a d a s a re ssa rc im e n to p o r d a n o s m o
rais, q u e p o s te r io r m e n te o a c u s a d o m o v e r c o n tra o E stado?! T a m b m , o b v ia
m e n te , o cid ado !
D ev e o re p re s e n ta n te d o M inistrio Pb lico r e s p o n d e r p o r a o p e n a l se fi
z e r u m a d e n u n c ia o c a lu n io sa? D ev e ig u a lm e n te r e s p o n d e r p e s s o a lm e n te p e
los d a n o s m o ra is q u e c a u sa r a o in o c e n te a ju iz a n d o p re c ip ita d a a o civil p b li
ca o u ao d e im p ro b id a d e ?
in d isc u tv e l q u e sim , p o r q u e o m e m b ro d o M in ist rio P b lico , a p re te x to
d e d e f e n d e r o p a tr im n io p b lic o , n o p o d e d e n e g rir a h o n r a alheia. A lis, ele
q u e m m a is d e v e r e s p o n d e r p o r s e u s atos, p e lo g r a u d e s u a re s p o n sa b ilid a d e .
D eve se r e x e m p lo d e in te g r id a d e m o ra l e d e eq u ilb rio , e n o u m exibicionista,
q u e p r o c u r a a p a ssa re la d a im p re n s a p a r a a c u sa r le v ia n a m e n te in m e r a s p e s
soas, at c o n se g u ir a c o n d e n a o d e u m a e p a s s a r a c o n sid e ra r-se h e r i ...
A g r a n d e m a io ria d o s m e m b ro s d o M inistrio P blico a p r e s e n ta as m a is ele
v a d a s v ir tu d e s h u m a n a s , m a s h a q u e le s q u e a b u s a m d o p o d e r e c o m e te m a r b i
tra rie d a d e s q u e a c a b a m d e n e g r in d o a im a g e m d e ssa n o b re in stitu i o , c o m p r o
m e te n d o o tra b a lh o silencioso m a s eficaz daq ueles.
Se eles n o fo re m p e s so a lm e n te re sp o n s v e is p o r su a s a titu d e s te m e r ria s, a
v tim a d e s u a d e n u n c ia o c a lu n io sa n a ao p e n a l, n a ao civil p b lic a o u de
im p r o b id a d e p o d e aju iz a r ao d e in d e n iz a o p o r d a n o s m o ra is c o n tra o p o
d e r p b lic o , e to d a a s o c ie d a d e p a g a r p e la im p r u d n c ia d e a lg u n s. c erto q u e
o p o d e r p b lic o p o d e aju iz a r ao re g re ssiv a c o n tra o M P, c o n fo rm e p re v is to

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

n o artig o 37, 6", d a C o n s titu i o Federal, m a s isso r a r a m e n te o corre, p o r q u e se


aleg a q u e ele e s ta v a a g in d o d e n tr o d e su a s atrib u i e s. A irre s p o n s a b ilid a d e
p a ssa a te r foro d e le g itim id ad e.
S a b e d o r d e q u e p o d e r e s p o n d e r p o r ao d e in d e n iz a o e d e q u e , e m d e c o r
rncia d ela, p o d e p e r d e r o s e u p a trim n io o u p a r te dele, o r e p r e s e n ta n te d o M P
c e r ta m e n te r e tir a r d e se u n o m e os b e n s q u e p o d e v ir a p e r d e r . A ssim , o
p o d e r p b lic o q u e m a cab a a rc a n d o com o s p re ju z o s, p o is o s a l rio n o p o d e
so fre r re te n o , v isto se r fonte d e su ste n to . A caba h a v e n d o a socializao d o
p re ju z o , p o is, a rig o r, q u e m p a g a o cid a d o .
P arece q u e o raciocnio q u e im p e ra o seg u in te : " O M P n a d a te m a p e r d e r , e
sim o a c u s a d o . E nto, v a m o s a ju iz a r a ao e v er o q u e aco n tece..." E acaba-se
b r in c a n d o c o m a h o n r a alheia. A lis, e m m u ito s e sta d o s , s o r e s p e ita d o s e d ig
n o s d e a d m ir a o os m e m b ro s d o M in istrio P blico q u e m a is in g re s s a m co m
ao (no im p o r ta q u e sejam te m errias) e n o a q u e le s q u e t m m a is xito nas
aes.
O M P te m o d ire ito (e ta m b m o d e v e r, c o n fo rm e o caso) d e a c u sa r, m a s ele
n o p o d e d e t u r p a r os fatos. C o n tu d o , a lg u n s d e se u s m e m b r o s a s sim p ro c e
d e m , fa lta n d o c o m a le a ld a d e p ro cessu al. E a p e n a s m u ito s a n o s d e p o is d e o
c id a d o so fre r a d e s o n ra q u e o ju iz in d e fe re a p re te n s o d o M P, c o m o q u e fica
p a rc ia lm e n te r e s ta u r a d o o b o m n o m e d o a c u s a d o (e d iz -se p a rc ia lm e n te p o r q u e
n e m to d o s o s q u e to m a r a m c o n h e c im e n to d a a c u sa o - g e ra lm e n te b a sta n te
d iv u lg a d a p e la im p re n s a - to m a m c o n h e c im e n to d a s e n te n a

p o is ela n o

to a m p la m e n te d iv u lg a d a , v isto q u e " n o d IBO PE" o u " n o v e n d e jo rn a is", e


m u ito s d o s q u e to m a m c o n h e c im e n to a c h a m q u e h o u v e a lg u m a " m a n o b r a " in
te lig en te d o a d v o g a d o d o acusad o).
A d e m a is, o co rre q u e n e m s e m p re o ju iz ju sto . In fe liz m e n te , h m u ito s q u e
-

at m e s m o p o r c o m o d is m o - con fiam e x a g e ra d a m e n te n o M P e a c o lh e m sem

a nlise m a is a p r o f u n d a d a to d o s os p e d id o s o u p a re c e re s d e le a d v in d o s.
s v e z e s o s r e p r e s e n ta n te s d o M P re v e la m falta d e c o n h e c im e n to jurdico,
e x tra in d o d o s fatos co n c lu s e s q u e a fro n ta m o o r d e n a m e n to , o q u e leva a in d a
g aes com o: e sses re p re s e n ta n te s a g ira m c o m in c o m p e t n c ia (p o rq u e d e sc o
n h e c e m o d ireito ) o u c o m m -f (fazen d o im p u ta o in d e v id a )?
E a s o c ie d a d e c o n tin u a p a g a n d o a re m u n e ra o d o a g e n te m in iste ria l q u e
ag e com a b u s o d e p o d e r , q u e p e r p e tr a ile g a lid a d e s, u s u r p a n d o c o m petn cias,
c a u s a n d o p re ju z o s ta n to s p a rte s q u a n to a terceiros.

2 2 5

2 6

D I R C E U G A L D IN O C A R D IN

O u tr o p r o b le m a q u e e n v o lv e a lg u n s d o s m e m b ro s d o M P d iz re s p e ito s
re a s d e re s e rv a florestal legal. O s a g ric u lto re s t m v e r d a d e ir a a v e rs o p o r tais
reas, p o r q u e a q u e le s a g e n te s m in isteriais, n a p r tic a , e x ig e m q u e eles as d e
m a r q u e m e as d e ix e m e m re g e n e ra o , in to c a d a s, o q u e im p e d e o s e u m an ejo
s u ste n t v e l. O ra , isso re s trin g e ex c e ssiv a m e n te a p r o d u o d o agric u lto r. Se for
a d e q u a d a m e n te o rie n ta d o p e lo M P , ele p o d e , n a q u e la s reas, o b te r re n d im e n to
c o m m a d e ira . N o se c o n fu n d a reserva florestal legal com re a d e p re se rv a o
p e r m a n e n te (ex em plo , m a ta ciliar), cuja fu n o ecolgica b e m c o m p re e n d id a
p e lo a g ric u lto r, q u e d ela c u ida. O q u e ele n o c o m p re e n d e p o r q u e o b rig a d o
a fazer a q u e la re s e rv a e m terra agricultvel.
A lg u n s m e m b ro s d o M P c o n fu n d in d o rea d e p re s e rv a o p e r m a n e n te (que
in te g ra a p o ltica am b ie n ta l) c o m re a d e re se rv a florestal legal (qu e poltica
agrcola), n o le v a m e m co n ta q u e esta p o s s u i fin a lid a d e s ilv ic u ltu ra l e q u e dela,
a tra v s d e p ro je to d e m a n e jo flo restal s u s te n t v e l, o a g ric u lto r p o d e e x tra ir
m a d e ira .
E m v e z d e a p o n ta r essa a lte rn a tiv a d e re n ta b ilid a d e fin an ceira, a lg u n s a g e n
tes m in iste ria is tr a ta m as re a s d e re se rv a florestal legal c o m o se fo sse m reas
d e p re s e rv a o a m b ie n ta l. C o n seq n cia: p e lo d e s m a ta m e n to q u e se verifica e
p e la falta d e o rie n ta o tcnica d esses agen tes, q u e n o in te r p r e ta m a d e q u a d a
m e n te o o r d e n a m e n to ju rd ic o , e m b re v e fa lta r m a d e ira . Q u e m r e s p o n d e r
p o r esses e rro s d e in te rp re ta o e p ela aplicao e rr n e a d a lei?
N in g u m n e g a q u e o M inistrio Pblico d e v e te r o s p o d e r e s q u e a C o n s titu i
o lh e o u to rg o u , a g in d o d e n tr o d a s a trib u i es " q u e a lei lh e c o nfere, se m ile
g a lid a d e , d e s v io o u a b u s o d e p o d e r o u d e finalidade"^*' . O q u e n o se p o d e
a d m itir q u e a lg u n s d e se u s m e m b ro s aja m com o se fo ssem u m " s u p r a p o d e r " ,
acim a d e q u a lq u e r a u to r id a d e , acim a d a lei, e c o m im u n id a d e q u a n to s su a s
ir r e s p o n s a b ilid a d e s fun cion ais, c o m o a in d a se v o c o rre r n o Brasil.
O u tro ra , m u ito s po lticos m a lv e rs a v a m os re c u rso s p b lic o s, in c lu siv e ap ro p r ia n d o -s e d e v a lo re s e x p re ssiv o s, e a s o c ie d a d e d e u to tal a p o io ao M P p a ra
c o m b at-lo s, p o r q u e a c o rru p o e ra a s su sta d o ra . A g ora, a lg u n s m e m b ro s do
M P q u e a g e m irre s p o n sa v e lm e n te , e m d e trim e n to d a p r p r ia in stitu io , p o r
q u e a d e n ig re m .
A s o c ie d a d e d e v e ficar passiva?!

MAZZILLI, Hugo Nigro, 0 in q u rito civil. So Paulo: Saraiva, 1999, p. 341

D E S A F I O S D A C ID A D A N IA

3.19.2 Prejuzos causados por pessoas jurdicas de direito


pblico e equiparadas
So e x p re ssiv o s o s v a lo re s d e v id o s pela U n io , pe lo s e s ta d o s e p e lo s m u n ic
p io s e m d e c o rr n c ia d e d a n o s ao m eio a m b ie n te c a u s a d o s p o r p e ss o a s jurdicas
d e d ire ito p b lic o o u p o r p e ss o a s ju rd ic a s d e d ire ito p r iv a d o p r e s ta d o r a s de
servios p b lico s.
H , n esse a sp e c to , u m e rro jurdico, c a u s a d o e m p a r te p o r a lg u n s d o u trin a d o res. S u ste n ta -se q u e , p e la teoria objetiva, h s e m p re r e s p o n s a b ilid a d e d o p o
d e r p b lic o n o D ireito A m b ie n ta l, a p lic a n d o -se o a rtig o 37, 6, d a C o n stitu i o
Federal;

As p e s s o a s ju rdicas d e direito pblico e as d e direito p riv a do p re s ta d o


ras d e s e rvios pblicos re s p o n d e r o p elo s d a n o s q u e s e u s a g e n te s , n e s
sa q u a lid a d e , c a u s a re m a terceiros, as s e g u ra d o o direito d e regresso contra
0 re s p o n s v e l nos c a s o s d e dolo ou culpa".

T o d a v ia , h u m e rro d e h e rm e n u tic a ; aplica-se a n o r m a g e ra l e ign o ra -se a


especfica. D e fato, os d a n o s ao m eio a m b ie n te t m re g u la m e n ta o p r p r ia no
a rtig o 225, 3", d a CF:

As c o n d u ta s e a tiv id a d e s lesivas a o m eio a m b ie n te s u je ita r o os infrato


res, p e s s o a s fsicas ou jurdicas, a s a n e s p e n a is e adm in is tra tiva s , in
d e p e n d e n te m e n te d a o b rig a o d e re p a ra r os d a n o s c a u s a d o s .

E sse d is p o s it iv o e sta b e le c e o p r in c p io d o p o l u i d o r - p a g a d o r ( q u e m p o
lu i u d e v e a r c a r c o m o n u s p e la p o lu i o ), e e le q u e d e v e s e r a p lic a d o ,
a f a s t a n d o a a p lic a o d o a rtig o 37, 6, q u e e s t n o c a p tu lo d a a d m i n i s t r a
o p b lic a . A li s, r e g r a e le m e n ta r d e h e r m e n u ti c a q u e a n o r m a e s p e c fi
ca a fa s ta a g e ra l.
A b s u r d a m e n te - e to d a in te rp re ta o d e v e e v ita r o a b s u r d o {Interpretntio illa
sum endn cst q m e vifeteiir absurduin) - , e m v e z d e se r c o n d e n a d o o p o lu id o r , q u e m

est s e n d o c o n d e n a d o o p o d e r p b lico , q u e a cab a r e s p o n d e n d o p e lo s d a n o s,


p o r o m isso . U m a v e z m ais, p riv a tiz a m -se os lu c ro s e soc ia liz a m -se os p re ju
zos... M irnbilc dictul

O IR C E U G A L D I N O C A R D IN

3.19.3 Prejuzos causados por bancos


o g o v e rn o - a rig o r, o p o v o - a c a b o u g a s ta n d o v a lo re s e le v a d s sim o s p a r a a
re c u p e ra o d e d iv e rs o s b an cos, c o m v istas s u a p riv a tiz a o . A firm a -se q u e o
PROES - P ro g ra m a d e S ocorro aos B ancos E sta d u a is - c u s to u p a r a a p o p u la o
brasile ira cerca d e R$ 56 b ilh es, e n q u a n to o PRO ER - P ro g ra m a d e S ocorro aos
Bancos P riv a d o s - c u s to u cerca d e R$ 30 bilhes^^. O g o v e rn o a g iu c o m o o pai
q u e a s s u m e r e s p o n s a b ilid a d e p e la p r o d ig a lid a d e d o filho.
A fin a lid a d e d e tais p r o g r a m a s foi e v ita r a q u e b ra d e b a n c o s , p ro te g e n d o os
se u s clientes. E to d o p o v o b rasileiro a rc o u c o m os n u s , n u m a cnica socializa
o d o prejuzo.
D o ra v a n te (p o is p o u c o o u n a d a p o d e ser feito re la tiv a m e n te a o p a s s a d o ),
d ev e-se exig ir q u e os p r p r io s b an co s a r q u e m c o m o s p re ju z o s. P a ra isso, p o d e se u tiliz a r o m e s m o siste m a d a s bolsas d e valores: u m f u n d o d e g a ra n tia , q u e
re c o lh id o n a s ap lica es, p a r a g a r a n tir e v e n tu a l evico n a v e n d a d a s aes.
A ssim , criar-se-ia u m f u n d o d e g a ra n tia , e m q u e os b a n c o s d e p o s ita r ia m d e te r
m in a d o s p e rc e n tu a is d a s aplicaes. Q u a n d o h o u v e s s e q u e b r a d e a lg u m a in sti
tuio financeira, esse fu n d o g a ra n tiria os d ire ito s d e se u s clientes. Se ele n o
fosse suficiente, as d e m a is instituies finan ceiras, s o lid a ria m e n te , a r c a ria m com
os p re ju z o s re m a n e sc e n te s, n a p ro p o r o d o s se u s c a p ita is sociais.
O q u e n o p o d e a co n tecer o p o v o p a g a r p e la m -g e st o d e b a n q u e iro s.

3.20 DEFESA DA HONRA


A firm a a C o n s titu i o F ed eral, n o artig o 5, X, q u e so in v io l v e is a in tim i
d a d e , a v id a p r iv a d a , a h o n r a e a im a g e m d a s p e s so a s , a s s e g u r a d o o d ire ito
in d e n iz a o p e lo d a n o m a te ria l o u m o ra l d e c o rre n te d e s u a violao.
A p e s a r d e sse d isp o sitiv o , tm -se v isto v e r d a d e ir o s lin c h a m e n to s m o ra is d e
s e n c a d e a d o s p o r a es p e n a is e p o r aes civis p b lic a s o u d e im p r o b id a d e ,
q u e im e d ia ta m e n te so d iv u lg a d a s p e la m dia.
A s acu sa e s - a in d a q u e in f u n d a d a s o u m e sm o te m e r ria s - to rn a m -se v e r
d a d e s a b so lu ta s p a r a u m g r a n d e n m e r o d e p e sso a s, q u e n o t m c o n h e c im e n
to p r o f u n d o d o s fatos n e m fo rm ao ju rd ica. M u ita s v e z e s, p e la re p e rc u ss o
d o caso, a m d ia a c o m p a n h a p o r b a s ta n te te m p o o a n d a m e n t o d o p ro c e sso ,
o u v in d o r e p e tid a s v e z e s o r e p re s e n ta n te d o M in ist rio P blico. A ssim , a m b o s
ROCHA, Delza Curvello, A q u e m se rvira m o s b a n co s e staduais. In " 0 Estado de S. Paulo", 08 de
novembro de 2000. Disponvel em: <www.estado-com.br/editoriais> Acesso em; 03 de maio de 2003.

D E S A F IO S D A C I D A D A N I A * 2 2 9

ac u sa m , a m b o s ju lg a m , a m b o s c o n d e n a m . E o p rin c p io d a p r e s u n o d e in o
cncia a r r e m e s s a d o a o espao.
F r e q e n te m e n te , m u ito te m p o d e p o is, o P o d e r Ju d ic i rio in o c e n ta o a c u s a
do. M a s p u b lic a m e n te este j e s ta v a c o n d e n a d o . E o c o rre u m a a g ra v a n te : o juiz,
e m b o r a te n h a a p lic a d o a d e q u a d a m e n te a lei, ta m b m a cab a fic a n d o m a c u la d o ,
p o r q u e m u ito s a c h a m q u e o ju lg a m e n to n o foi ju sto , im parcial... P o rta n to , o
a c u s a d o c o n tin u a c o n d e n a d o e o ju iz p a s s a a s-lo, v is to q u e a v e r s o a p r e s e n ta
d a p e lo M P, p o r in te rm d io d a m d ia , h a v ia c ria d o ra z e s n a m e n te d a s pessoas.
P ara to rn a r efetivo o m e n c io n a d o artigo 5", X, d a C o n stitu i o Federal, in d is
p e n s v e l q u e o a c u s a d o ten h a o direito a m p la defesa ta m b m n o p ro c e d im e n to
in v estig at rio e n o p rocesso a d m in istra tiv o civil o u p e n a l q u e c o n tra ele seja ins
ta u ra d o . A l m disso, jam ais se p o d e ria ajuizar u m a ao civil p b lica o u d e im
p r o b id a d e sem q u e a via a d m in istra tiv a tivesse sid o e x a u rid a , e n e m o p ro c e d i
m e n to in v e stig a t rio n e m o p ro c e sso a d m in is tra tiv o p o d e r ia m se r d iv u lg a d o s.
A lg u n s m e m b r o s d o M in istrio P blico, n a n sia d e s e n sa c io n a lism o , assim
q u e c o m e a m a in v e stig a o j le v a m o fa to a o c o n h e c im e n to d a im p r e n s a ,
d e s e n c a d e a n d o o lin c h a m e n to m o ra l d o acu sa d o .
N o se p o d e e sq u e c e r o q u e d iz a Lei d e E xecuo Penal:

Art. 4 1 . C o n s titu e m direitos d o preso...


(...)

V III - p ro te o c o n tra q u a lq u e r fo rm a d e s e n s a c io n a lis m o .

O ra , se at m e s m o a o p re s o a s s e g u ra d o e sse d ire ito , v is ta d o re s p e ito


d ig n id a d e p r e c o n iz a d o p e la CF, m u ito m a is ele d e v e s e r a s s e g u r a d o a q u e m
s e q u e r foi ju lg a d o , s v e z e s n e m s e q u e r teve o p o r t u n id a d e p a r a a p r e s e n ta r sua
d efesa... C o n v m le m b r a r q u e , p o r e x e m p lo , n o s E sta d o s U n id o s p r o ib id o
fo to g ra fa r o preso.
C o m a h o n r a n o se brinca: d a deciso d a a u to r id a d e q u e in s ta u r o u o p ro c e
d im e n to in v e s tig a t rio o u o p ro c e sso a d m in is tra tiv o d e v e ria c a b e r re c u rso ao
C o n se lh o S u p e rio r d o M in istrio Pblico. S o m e n te d e p o is d iss o q u e se p o d e
ria b u s c a r a tu te la ju risdicio n al.
m u ito m e lh o r c o n c e d e r a m ilh a re s d e c o r r u p to s a a m p la d efesa ora p r o
p o s ta d o q u e n e g -la a u m n ic o inocente, v isto se r im p re s c in d v e l total p r o te
o h o n ra .

2 3 0

D iR C E U G A L D IN O C A R D IN

in a d m iss v e l q u e , a p re te x to d e d e fe n d e r a so c ie d a d e , m u ito s r e p r e s e n ta n
tes d o M P c o m e ta m ta n to s a b u so s, to rn a n d o -s e a lg o z e s d e p e s s o a s h o n ra d a s .
T a n to isso v e r d a d e , q u e a S u b p ro c u ra d o ra d a R e p blica, D elza C u rv e llo R o
cha, c o rro b ora: " O Ju d ic i rio p e r d e u su a funo. H oje, a a c u sa o se faz p o r
m e io d a m d ia , s e m p ro v as".^^
A lei con fe riu atrib u i e s a o s m e m b ro s d o M in ist rio P blico, m a s n o os
im p e d e efic a z m e n te d e c o m e te r a b u so s, ta n to q u e m u ito s d eles ficam a lim e n
ta n d o a m d ia c o m notcias, a in d a q u e n o sejam v e rd a d e ira s . p re c iso corrigir
u r g e n te m e n te tal situao.
A m d ia d e v e c u m p r ir co m eq u ilbrio e re s p o n s a b ilid a d e s e u re le v a n te p a p e l
d e d e n u n c ia r, criticar e a p r e s e n ta r su g e st e s poltico-sociais, p a r a q u e h aja a p r i
m o r a m e n to d o re g im e d e m o c r tic o . M ais q u e isso: p re s e r v a r os v a lo re s h u m a
n o s e d e fe n d e r a lib e rd a d e ten a z m e n te .

3.21 LIBERDADE DE EXPRESSO E O PRINCPIO


DA INOCNCIA
A fim d e re s p e ita r o p rin c p io d a inocncia, os m e io s d e c o m u n ic a o d e v e
ria m a d o ta r o s s e g u in te s p ro c e d im e n to s:
a)

U tilizar s e m p re o a n im u s narrandi, e v ita n d o o a n im u s difamandi, injuriandi

o u caluniandi, a fim d e q u e tan to o re p r te r q u a n to o re d a to r, ju n ta m e n te c o m o


d ire to r-re d a to r, n o v e n h a m a so fre r ao p o r d a n o s m o ra is o u m e s m o ao
p en al. A p ro p s ito , a sse v e ra D arcy A r r u d a M iran da:

direito d a im p re n s a d e n u n c ia r os fatos c rim inosos a n te s m e s m o que


e le s s e ja m c o n h e c id o s d a polcia, u m a v e z q u e e la e x e rc e , indiscutivel
m e n te , 0 p ap e l d e e s c u lc a d a coletivid ade, e do seu m ira n te p o d e a p re c i
a r p a n o r a m a s a in d a ino b servad os p e la polcia, d a n d o e n s e jo a e s ta de
a p u ra r a re a lid a d e dos fatos.
O q u e e la n o p o d e e n o d e v e fa z e r a c u s a e s le v ia n a s ou insidiosas,
a tira n d o la m a s o b re a hon ra d e a lg u m cujos a to s e s t o s e n d o a p r e c ia
dos p e la justia.2^

2' G uerra n a P ro cura d o ria . In Veja, 16 de agosto de 2000. Disponvel em: http://veia.abril.com.br/
16Q80G/P Q42.html. acessado em 20 de maio de 2003.
MIRANDA, Darcy Arruda. C o m e n t rio s L e i d e Im prensa. 3. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais,
1995, p. 508-509.

D E S A F IO S DA C I D A D A N I A 2 3 1

b) Q u a n d o se tra ta r d e en tre v ista , to m a r a c a u te la d e o b te r a u to riz a o p a ra


g ra v a o e p u b lic a o , p o r q u e a ssim a re s p o n s a b ilid a d e d o e n tre v is ta d o , e
n o d o e n tre v is ta d o r.
c) P r o c u r a r c o m p a tib iliz a r o in teresse p b lic o {art. 27, VIII, d a Lei d a Im
p re n s a ) c o m o p rin c p io d a inocncia (art. 5, LVII, d a CF), d e tal fo rm a que,
q u a n d o h o u v e r notcia d e s a iro sa c o n tra a lg u m a p e ss o a , seja p r o p ic ia d a a ela
o p o r tu n id a d e d e se m a n ife sta r na m e s m a notcia; se ela n o for e n c o n tr a d a o u
p re fe rir n o se m a n ife sta r, d e ix a r isso claro n o texto; inclu sive, se for o caso,
d iz e r q u a n ta s v e z e s ela foi p r o c u r a d a e n o foi e n c o n tr a d a . E re c o m e n d v e l
a d ia r a p u b lic a o d e no tcia q u e c o m p ro m e ta a h o n o r a b ilid a d e d e u m c id a d o
se ele n o p u d e r a p r e s e n ta r n ela su a m anife sta o , a fim d e e v ita r q u e ele sofra
a b a lo m o ra l irre p a r v e l. o p o r tu n o le m b ra r as p o n d e r a e s d e V ieira so b re a
fig u eira seca;

O m e s m o E v a n g e lis ta S. M a rc o s d iz q u e e s ta s e n te n a d e Cristo foi


re s p o s ta q u e o S e n h o r d eu rvore: E, fa la n d o -lh e , disse: N u n c a mais
c o m e a lg u m fruto d e ti p a ra s e m p re . S e a s e n te n a d e Cristo foi re s p o s
ta q u e d e u rv o re , sinal q u e a ouviu prim eiro, e e la a le g o u d e sua
justia. R e p a r e m aqu i os ju ize s , ou c o n d e n a d o re s , q u e n e m a u m tronco
irracional e in s e n s v e l c o n d e n a D e u s s e m o ouvir.^^

M o n te s q u ie u , re s p a ld a n d o - s e e m A rist teles, d e m o n s tr a q u e m e s m o os p o
v o s a n tig o s s e m p r e p r o c u r a r a m p re s e rv a r o p rin c p io d a inocncia:

N o p e ro d o dos prim eiros reis dos franco s, C lo trio f e z u m a lei p e la qual


um a c u s a d o n o p od eria s e r c o n d e n a d o s e m s e r o uvido , o q u e p ro va
u m a p r tic a con trria e m a lgu m ca s o p articular ou e n tre a lg u m povo b r
b aro. C h a ro n d a s foi q u e m introduziu os ju lg a m e n to s c on tra os falsos t e s
te m u n h o s , Q u a n d o a ino cncia dos c id a d o s n o g a ra n tid a , a lib e rd a
d e t a m b m n o o .^'

d) Q u a n d o a n o tc ia e x tra d a d e p ro c e sso ju d ic ia l, c o n v m , p o r cau tela.

VIEIRA, Padre Antnio. Textos escolhidos. Lisboa: Verbo, 1971, p. 160.


Charles Louis de Secondat MONTESQUIEU, op. c it , p. 177.

232

O IR C E U G A L D IN O C A R D IN

s e m p r e m e n c io n a r o n m e r o d o s a u to s e a V a ra o n d e tra m ita o p ro c e sso , p o r


q u a n to fica m e lh o r d e m o n s tr a d o o a n im u s narrandi.
H o u tra o b se rv a o : a m d ia te m c ria d o falsos h e r is, te n d o isso ficado
n tid o , p o r ex e m p lo , n o caso F e rn a n d in h o Beira M ar. M u ito s p re so s, p o r c a u sa
d a c o n o ta o q u e lh es d o os m e io s d e c o m u n icao , to rn a m -s e ld e re s p e ra n te
os d e m a is , a c e n tu a n d o u m a d e lin q n c ia im p lcita, q u e v ir e c lo d ir f u tu r a m e n
te. O p r o c e d im e n to c o rre to seria d iz e r d o fato se m n o m in a r a p e sso a . A n iq u ila
ria q u a lq u e r o r g u lh o d e litu o so .
A ssim , p re c iso q u e os p rin c p io s d o c o n tra d it rio e d a a m p la d efesa, que
so c o n s titu c io n a lm e n te a s s e g u ra d o s n o s p ro c e sso s ju d ic ia is e a d m in istra tiv o s ,
ta m b m p o s s a m s e r o b s e rv a d o s p e lo s rg o s d e c o m u n ic a o , j q u e , in m e ra s
v ezes, p e s s o a s h o n e s ta s t m su a im a g e m d e n e g r id a e m d e c o rr n c ia d e notcias
d iv u lg a d a s p e la m dia.
Sob re a lib e r d a d e d e in fo rm a r, a firm a o d e s e m b a r g a d o r E liseu Torres:

A m ag istral d ou trina d e A u gu sto N u n e s d e v e ria s e r lida, a c a d a m a n h ,


d e c a d a d ia , e m c a d a a n o . e m to d a s a s re d a e s d e tod os os jornais, e m
c a d a es t d io d e to d a s a s rdios, e m c a d a re d a o d e tod os os jornais de
T V d e to d o 0 P a s , c o m o farol s in a liz a d o r d o s ru m o s tic o s a n o rte a r
d e s d e o m a is in e x p e rie n te fo c a a o m a is atilad o e v e te r a n o jorna lis ta b ra
sileiro. N o m a is d a s v e z e s , ferir a tionra a lh e ia , p ro p a la n d o , s e m re m d io ,
n otcia inv e rdic a ou a v e rd a d e a d u lte ra d a , a lg o m uito pior, m uito m ais
n e fa n d o do q u e m atar. A hon ra atributo e s s e n c ia l v id a e q u e m d ela
a b ju ra j m o rreu, m e s m o e s ta n d o vivo. D e S h a k e s p e a re , in R ic a rd o, ato
I, recolho o im o rre do uro brado; M in h a h o n ra m in h a vida; m e u futuro de
a m b a s d e p e n d e . S e re i h o m e m morto, se m e p riv a re m d a h o n ra . A liber
d a d e d e in fo rm ar s te m c o m o fronteira, c o m o limite, a h o n ra e a d ig n id a
d e a lh e ia s . P o rq u e m in h a h o n ra m in h a v id a e, a s s im c o m o n o s e pode,
n u m a to irrefletido, s a c a r a vida d e a lg u m , t a m b m n o s e p od e, s e m as
c a u te la s ticas, atingir a h o n ra d e q u e m q u e r q u e s e ja .^^

O p r in c p io d a in o c n c ia d e v e se r ir r e s tr ita m e n te o b s e r v a d o , a fim d e se
efetiv ar o re sp e ito d ig n id a d e d o cid ad o .
Apelao Cvel n- 594.155,061. In A D V , B o le tim S e m a n a l n 15, fechamento em 11 de abril de 2001,
p. 234.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

3.22 FRIAS FORENSES


C a d a Justia a d o ta u m tipo d e frias forenses: a d o T ra b a lh o v ai d e 20 de
d e z e m b r o at 06 d e jan eiro , e n o s T rib u n a is R eg ion ais d o T ra b a lh o as frias so
g o z a d a s in d iv id u a lm e n te p e lo s juizes p o r u m p e r o d o d e 60 d ia s, n o h a v e n d o
frias coletivas. N a Justia C o m u m , d e 02 at 31 d e ja n e iro e d e 02 a 31 d e julho.
N a Ju stia F e d e ra l n o h frias coletivas, g o z a n d o os ju iz e s d e frias in d iv id u
ais p o r 60 d ia s, g o z a d a s d e u m a s vez, o b e d e c id a a escala o r g a n iz a d a p e lo
C o n se lh o d a Ju stia F e d e ra l, c o n sid e ra n d o -se recesso o p e r o d o d e 20 d e d e
z e m b r o a 06 d e ja n e iro , inclusive, N o s T rib u n a is F e d e ra is, ST] e STF, as frias
v o d e 20 d e d e z e m b r o at 1" d e fevereiro.
D esse m o d o , se u m a d v o g a d o m ilita n a s trs Justias - e isso c o m u m e n te
o co rre

ele p r a tic a m e n te n o d e s fru ta r d e frias. M as n o s o a d v o g a d o

q u e a g re d id o : a so cied ad e. A s frias fo re n se s d e v e r ia m se r u n ific a d a s d e tal


fo rm a q u e o c id a d o s o u b e s se que, ta n to n u m a Justia q u a n to e m o u tra , n a q u e
le p e r o d o as a tiv id a d e s e sta ria m p a ra lisa d a s. A lis, isso o q u e o c o rre n a g ra n
d e m a io ria d o s p a se s d e se n v o lv id o s.
A p e n a s fu n c io n a ria o p la n t o jud icirio, p o r q u a n to este se to rn a im p re s c in
d v el p a r a d a r o d e v id o a te n d im e n to s o c ie d a d e e m fatos q u e v e n h a m a eclodir
n a q u e le p e r o d o , c m face d o p rin c p io d a c o n tin u id a d e d o s serv io s pblicos.
O P o d e r Ju d ic i rio u n o ; d e ssa fo rm a, as d iv e rs a s Ju sti a s n o d e v e m , cada
q u a l n o s e u in te re sse , fixar se u s p e ro d o s d e frias. A n te s, d e v e r ia m ater-se aos
in te r e s s e s d a s o c ie d a d e , q u e d e v e m p r e v a le c e r , n o s e n ti d o d e h a v e r frias
u n ific a d a s.

3.23 PREFERNCIA NO TRNSITO


J c o n s a g ro u a ju r is p r u d n c ia b rasileira q u e , e m a c id e n te d e tr n sito , p re su m e -se a c u lp a d o m o to ris ta q u a n d o o fato o c o rre r e m p e r m e tr o u r b a n o e d o
p e d e s tr e q u a n d o o c o rre r e m rodovia."^'
A r a z o d isso fazer o m o to rista se r m a is c u id a d o s o a o c o n d u z ir o veculo

Acidente de trnsito. Rodovia. Culpa da vitima, O b lig a tio a d d ilig e n tia m exclusiva do pedestre. Em
se tratando de atropelamento em rodovia de trnsito rpido, com velocidade mxima de 80km/h,
ainda que o evento pudesse ter sido evitado se o condutor guiasse seu carro em menor velocidade,
no pode ele ser responsabilizado, pois a oW/ga/o a d d itig e n tiam se transere para o pedestre, a
quem cabe tomar todas as cautelas para a travessia das pistas, (Ap. Cvel 29,461, 1- Cm. do
Tribunal de Alada de Minas Gerais, de 11.10.1985, n RT 614/194),

2 3 4

D IH C E U G A L D IN O C A R D IN

e m p e r m e tr o u r b a n o . C o n tu d o , p a r a d o x a lm e n te , n e s s e m e s m o p e r m e tr o o
p e d e s tr e n o te m a prefe r n c ia q u e d e v e ria ter. P o r exem p lo; o n d e n o h s e m
foro, m a s faixas b ra n c a s , se o p e d e s tre c o m e a r a a tra v e ss a r a ru a , o m o to rista
d e v e p a r a r o vecu lo , p a r a q u e ele te rm in e a travessia. Essa n o r m a rig o ro sa
m e n te o b s e r v a d a e m m u ito s p a s e s d o exterior. N o Brasil, e m tal situ a o , o
p e d e s tr e m u ita s v e z e s a tro p e la d o .
Q u a n d o ser q u e , n a s c id a d e s, o p e d e s tre re a lm e n te ter p re fe r n c ia sobre
os c o n d u to r e s d e veculos?

3.24 VELOCIDADE
N a s c id a d e s g r a n d e s os v eculo s so a rm a s v elozes, e o s m o to ris ta s so sol
d a d o s q u e v iv e m e m c o n tn u a g u e rra . S o m e n te n o sa b e m p a r a o b e m d e q u e
esto g u e rre a n d o ...
C o m m u ita p r o p r ie d a d e , afirm a S a n d ra C avalcanti:
N o s s o motorista, e m geral, e s t s e m p re e m g u e rra . S e o outro piscar a
luz, p ed in d o p a ra entrar, e le n o d eixa. S e o outro s (!) e s t a 8 0 k m e m
p le n a c id a d e , e le cola e m s u a traseira, a c e n d e n d o os faris ou b u z in a n
do, exigin do q u e e le d e s a p a r e a ... S e o outro p ra por a lg u n s instantes,
p a ra d e ix a r e n tra r ou sair u m a p e s s o a idosa, c o m dificuld ades, e le fica
por trs, a z u c rin a n d o . E, s e for possvel, u ltrap a s sa p e la direita, contra
to d a s a s n o rm a s d e s e g u ra n a .

outro, n as ruas ou n as e s tra d a s , s e m p re u m inim igo a s e r v e n cid o,

e s m a g a d o , h um ilhado. A m a io r p arte dos d e s a s tre s a c o n te c e e m c o n s e


q n c ia d e s ta disp uta irracional.
P ortanto, no b a la n o trgico d e s ta p a s s a g e m d e m ilnio, c h e g o con c lu
s o d e q u e n o b a s ta m s a s leis, os sinais, os g u a rd a s , os p ard a ls , as
p e n a lid a d e s e a t a s prises. F alta a c o n scin cia d e q u e e x iste o p r xi
m o. F alta 0 hbito d e um c o m p o rta m e n to cordial, civilizado, u rb an o, n a s
cido d a p ro fu nd a n o o d e q u e a q u e le p rxim o q u e d e v e m o s a m ar.
A nic a fo rm a d e o trnsito d a r certo o m otorista d es c o b rir a ex ist n c ia
d e s s e p r xim o e p a s s a r a p e n s a r n ele c o m a m o r e respeito. S e m isso,
n o h cdigo ou a u to rid a d e q u e d jeito n es te terrvel m a s s a c re q u e nos
e n v e rg o n h a e h u m ilh a d ia n te do m u n d o civilizado.
CAVALCANTI, Sandra. U m m a s sa c re q ue n os enve rg o nh a . 0 Estado de S. Paulo", 10 jan, 2001, p.
A-2.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

e s p a n to s o o nd ic e d e a c id e n te s q u e o c o rre m n o s fins d e a n o n a s rod o vias.


A s ca u sa s so m u ita s , tais c o m o m o to rista s q u e n o e s t o h a b itu a d o s a d irig ir
e m e stra d a , m o to ris ta s jo ven s, q u e se e m p o lg a m c o m as g r a n d e s v e lo c id a d e s, e
p e s s o a s q u e d irig e m alc o o liz a d a s o u d ro g a d a s . E m to d o s os caso s est p re se n te
u m fator; a pressa.
D iz Frei Betto:
A d ific u ld a d e q ue, no reino do d e u s m e rc a d o , a c u m u la r g a n h o s fin a n
ceiros im p o rta m a is do q u e p re s e rv a r vidas. N o fo s s e a s s im , tod os os
v e cu lo s te ria m re d u zid o o seu potencial d e v e lo c id a d e e b e b id a s a lco li
c a s n o s e ria m v e n d id a s n a s ro dovias. A m e u ver, a p re s s a n o s
inim iga d a p e rfe i o . ta m b m um sin to m a d e in fe lic id a d e .

Q u a n d o a rra ig a d a , a c id a d a n ia inibe a velocidad e.


S o n h a m o s c o m o d ia e m q u e c a d a p e sso a po licie a si m e s m a , n o h a v e n d o
n e c e s s id a d e d e q u e u m a s p olic ie m as o utras.

3.25 PEDGIO
" O p e d g io ro u b o !" - d iz o c id a d o . O p e d g io a so lu o !" - d iz o
g o v e rn a n te .
"O p ed gio , c o m o re m u n e ra o pelo uso d e rodovia, n o peculiaridade
brasileira, n em e xperin cia de nossos dias. D o latim
pe 0 p, p re n d e -s e a o italiano

pedaticum , ond e se

pedaggio, q u e dagio [rectius: aggio] ch e si

paga p e r p a ssa re qualche luogo, e a o francs pag e, direito d e pr o p,


direito d e p a s s a g e m . A C o nc o rd ata d 'E I-R e i D o m Diniz j fa z ia referncia a
p ed gio , com o o valor q u e se p a g a por p a s s a g e m d e ponte, c a l a d a ou
outro q u a lq u e r lugar. P a r e c e q u e sua o rigem v e m d e R o m a , existiu na Id a
d e M d ia e a m p la m e n te usado na Inglaterra, at o sculo X V III, ten d o res
surgido e m nosso, tem po , nos Estados Unidos, c o m o fonte d e recursos
p a ra construo e c o n s e rv a o d e vias e x p re ss a s q ue, construdas s e gu n
do os m e lh o re s processos d a tcnica m o d ern a , p ro v o c a v a m u m d ispndio
d e recursos q u e s a v e rb a dos im postos n o p o d ia cobrir.
BETTO, Frei. R o d o cd io . l n 0 Estado de S. Paulo, 10 de janeiro de 2001, p. A-2,
ALVES, Keila Camargo Pinheiro. Pedgio - N a tu re za ju rd ic a . RDP, n- 64, outubro a dezembro de
1982, p. 247.

2 3 5

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

So in d isc u tv e is o s benefcios d e c o rre n te s d o p e d g io , m a s p e lo m e n o s al


g u n s fato res d e v e ria m se r o b s e rv a d o s p a r a q u e ele p u d e s s e s e r exigido: a) exis
tncia d e o u tr a ro d o v ia , se m p e d g io , p a r a o m e s m o p e rc u rs o , p o s sib ilita n d o
escolha a o c id a d o ; b) im p o s s ib ilid a d e d e tra n s fo rm a o d e ro d o v ia s p b lic a s
e m r o d o v ia s " p e d a g ia d a s " , a tra v s d e co n c e ss e s a e m p r e s a s privadas^^^; c)
p a d r o m n im o d e q u a lid a d e , h a v e n d o , p o r e x e m p lo , d u a s pistas^^^, d) locais
p a r a e sta c io n a m e n to ; e) a p a re lh o s telefnicos a o lo n g o d a ro d o v ia ; f) vecu lo s
d a s c o n c e ssio n ria s p a r a a p re s ta o d e socorro; g) re c a n to s d e d e sc a n so ; h)
fixao d e d ist n c ia m n im a e n tre u m p e d g io e outro^^^; i) a ssistncia tcnica e
co n tn u a p re s ta o d e socorro.
P o r o u tr o la d o , n o ta -s e q u e e m m u ito s e s ta d o s o g o v e rn o a b a n d o n o u c o m
p le ta m e n te as e s tr a d a s " n o - p e d a g ia d a s " , fa z e n d o a c r e d ita r q u e ele a s sim ag iu
p a r a q u e a s p e s so a s p u d e s s e m c o m p a r -la s com a s " p e d a g ia d a s " e re iv in d ic a r
q u e ta m b m a q u e la s fo ssem objeto d e c o n cesso p a r a e m p r e s a s p riv a d a s .
Q u a s e to d o s o s u s u r io s c o n s id e ra m e x c e ssiv a m e n te a lto s o s p re o s d o s p e
d gio s. E nto , o p o d e r p b lic o d e v e d e te r m in a r a u d ito r ia s p e ri d ic a s, p a r a ex er
c er o p o d e r d e in te r v e n to r , q u e lhe im a n e n te , e x ig in d o q u e eles se to rn e m
c o m p a tv e is c o m a r e a lid a d e social.
O p e d g io m a is u m triste e x e m p lo d e q u e u m a b o a id ia , se n o for b e m
a d m in is tr a d a , p o d e tra n s fo rm a r-se e m v e n e n o social.

3.26 FILAS
A fila u m a fo rm a d e o rd e n a o social e m q u e , e m locais d e g r a n d e a flu n
cia, se a s se g u ra a q u e m c h e g o u a n te s o d ire ito d e re c e b e r a n te s u m servio. Ela
e v ita priv il g io s, e p o r isso os "fu ra-filas" so visto s c o m a n tip a tia , at m e sm o
c o m in d ig n a o .
A ssim s e n d o , q u a lq u e r estab e le c im e n to te m o d ire ito d e u tiliz a r a fila p a r a o
a te n d im e n to d e s e u s clientes. T o d a v ia , ele n o p o d e a b u s a r d e s s e d ire ito , com
225 No Paran, as estradas oficiais simplesmente passaram a ser exploradas por empresas concession
rias, que passaram a cobrar pedgio mesmo sem grandes investimentos. 0 que deveria ter sido feito
era a construo de estradas alternativas pelas concessionrias. As estradas oficiais continuariam
sendo utilizadas pelo cidado que no quisesse utilizar as pedagiadas. Concluso: o pedgio, que
deveria ser optativo, tornou-se compulsrio, devido inexistncia de estradas alternativas.
" H pedgios em nica pista, contudo o cidado paga o mesmo preo que nos pedgios de duas pistas.
No Paran h pedgios com distncia de apenas aproximadamente 25 quilmetros entre um e outro,
quando, no minimo, deveria ser de 100 quilmetros.

D E S A F IO S D A C I D A D A N I A ! 2 3 7

lo n g a s e m o ro s a s filas, q u e aflig em p r o f u n d a m e n te o s q u e n e la s se e n c o n tra m , e


isso p o r q u e o direito cessa onde comea o abuso.
F r e q e n te m e n te , a s filas, p o r su a ex te n s o e m o r o s id a d e , s o u m g ra v e d e s
re s p e ito a o c id a d o . E m a lg u n s casos, p a re c e m fo rm a d e castigo: p a r a os a p o
s e n ta d o s, p o r eles n o m a is tra b a lh a re m ; p a r a o s c lien tes d e b a n c o s , p o r eles
n o fa z e re m u s o d o a u to -a te n d im e n to ...
O

C d ig o d e Defesa d o C o n s u m id o r p re c e itu a c o m o u m d o s d ire ito s bsicos

d o c o n s u m id o r a adequada e eficaz prestao dos servios piblicos em geral (art. 6, X).


C ontrario sensii, u m a lo n g a e sp e ra e m fila a g rid e tal n o rm a .

D iz a Lei n" 10.048/2000:


Art. 1 - A s p e s s o a s p o rta d o ras d e d efic i n c ia fsica, os idosos c o m idade
igual ou s up e rio r a s e s s e n ta e cinco a n o s , a s g e s ta n te s , as la c ta n te s e as
p e s s o a s a c o m p a n h a d a s por c ria n a s d e c olo te r o a te n d im e n to prioritrio,
nos te rm o s d e s ta lei".

N o se p o d e e s q u e c e r q u e a p r p r ia C o n stitu i o F e d e ra l se p r e o c u p o u com
a cidada?iia (art. 1", II) e a dignidade da pessoa h u m a n a (art. 1, III).
A s lo n g a s filas, q u e im p lic a m d e m o ra n o a te n d im e n to , v io le n ta m tais p r e
ceitos con stitu cio n ais.

3.27 DIMENSO DAS CIDADES


N o Brasil, m u ita s c id a d e s est o se to r n a n d o m e g a lo p o lis. E stas s o d in o s
s a u ro s d e c o n c re to q u e e n g o le m e d ig e re m as p e sso a s, q u e ficam in s e g u ra s e
n e u ra s t n ic a s, a p o n to d e p e q u e n o s a c id en tes d e tr n s ito p r o v o c a r e m h o m ric a s
d isc u ss e s e at m e s m o h o m icd io s. P o r isso, m u ito s d o s q u e n e la s m o r a m vi
v e m e n c la u s u r a d o s e s o n h a m e m m o r a r n o in terior. M u ita s p e s s o a s ju lg a m q u e
as c id a d e s d e v e m crescer, a u m e n ta r , e e s q u e c e m q u e a s c id a d e s fo ra m c ria d a s
p a r a as p e s s o a s e n o a s p e sso a s p a r a as c id a d e s. O q u e d e v e m o s v a lo riz a r a
q u a lid a d e d e v id a , e n o a e x p a n s o da cid ad e.
N o s p a se s m a is d e s e n v o lv id o s, p rin c ip a lm e n te d a E u ro p a , v ista d esses
p ro b le m a s , foi in c e n tiv a d a a instalao d e in d s tria s ao lo n g o d a s g ra n d e s r o
d o v ia s, p a ra q u e p a s s a s s e m a re sid ir n a s im e d ia e s o s q u e tr a b a lh a s s e m em
tais in d s tr ia s o u com elas tiv e sse m a lg u m tip o d e re la c io n a m e n to com ercial.
C o m isso r e d u z ir a m - s e os p ro b le m a s d a s g r a n d e s c id a d e s , fa c ilita n d o a su a
a d m in is tra o .

38

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

O s g o v e r n a n te s d e v e m in c e n tiv a r o s u r g im e n to d e d is tr ito s o u p e q u e n a s
c id a d e s a certa d ist n c ia d a s g ra n d e s c id a d e s (p o r e x e m p lo , n u m raio d e 30 a
100 q u il m e tro s), c r ia n d o p lo s in d u stria is. C id a d e s id e a is s o a q u e la s q u e te

n h a m n o m x im o 400 m il h a b ita n te s. U ltra p a s s a d o e sse n m e r o , s u r g e m p r o


b le m a s sociais g ra v ssim o s, c o m o a violncia e o tr n sito catico.
P o r isso, o s g o v e rn a n te s d e v e ria m e m p e n h a r-s e p a r a e v ita r o su r g im e n to de
n o v a s m e g alo p o lis.

3.28 INDSTRIA AUTOMOBILSTICA


O s g o v e rn a d o re s e sta d u a is p ro c u ra m in cu tir n o p o v o a idia d e q u e a instala
o, no e stad o , d e fbricas e strang eiras d e veculos re p re se n ta u m g r a n d e ben ef
cio p a ra se u s h a b ita n te s e p a ra o pas. E a m aioria d a s p esso as cai n o eng o do .
O ra, e ssa s e m p r e s a s u tiliz a r o m o -d e -o b ra b ra sile ira (b a sta n te b a ra ta ), ex
p o r ta r o b o a p a r te d e su a p ro d u o e p ra tic a m e n te n o p a g a r o trib u to s.
P o der-se- a firm a r q u e esta ltim a a sse rtiv a e x a g e ra d a . V ejam os, e n t o , o
q u e d iz a C o n s titu i o Federal:
a) so b re o ICMS: n o in cid ir so b re o p e ra e s q u e d e s tin e m ao ex te rio r p r o
d u to s in d u s tr ia liz a d o s (art. 155, 2, X, a);
b) so b re o IPI: n o in cid ir so b re p r o d u to s in d u s tr ia liz a d o s d e s tin a d o s ao
e x te rio r (art. 153, T , III).
H o u tr a s n o r m a s q u e p re v e m excluso trib u tria: a) d a C O F IN S (art. 7" d a
Lei C o m p le m e n ta r n" 70/91^^^ e art. 6" d a Lei n*^ 10.833, d e 29 d e d e z e m b r o d e
2003); b) d o PIS (art. 5" d a Lei n" 10.637/2002).'^"
Essas e m p re s a s t m d ire ito a c r d ito d e ICM S re la tiv o aos in s u m o s e m p r e
g a d o s n a in d u stria liz a o , e, c o m o so b re o q u e elas v e n d e m h ise n o d e sse
im p o sto , ficam c o m c r d ito s e x p re ssiv o s ju n to a o E stad o, p rin c ip a lm e n te rela ti
v o s a o ICM S. O m e s m o se d c o m a C O FIN S a p s a Lei 10.833/2003.
E g e ra lm e n te o m u n ic p io ta m b m d a s u a c o n trib u i o , is e n ta n d o essas
e m p re s a s d o p a g a m e n to d e IPT U p o r v rio s a n o s (m u ita s v e z e s m a is d e 10).
Elas a p e n a s p a g a m os e n c a rg o s sociais d a P re v id n c ia Social e d o FGTS, e m
de c o rr n c ia d o v n c u lo e m p re g a tc io , b e m c o m o im p o s to d e r e n d a . A in d a asArt. 7 ainda isenta da contribuio a venda de mercadorias ou servios, destinados ao exterior, nas
condies estabelecidas pelo Poder Executivo.
Art. 5- A contribuio para o PIS/PASEP no incidir sobre as receitas decorrentes de operaes de:
I - exportao de mercadorias para o exterior; (...).

D E S A F IO S O A ,C ID A D A N IA

sim , e m relao a este ltim o h m aq u ila e s c o ntb eis, q u e d o ensejo r e d u


o d o tributo.
E ssas e m p r e s a s tr a z e m d o exterio r os s e u s p rin c ip a is tcnicos e a p ro v e ita m
ao m x im o a m o -d e -o b ra brasileira (a p e n a s p a r a o s servio s d e s e g u n d a e te r
ceira c atego ria), c o m o q u e o Brasil se to m a a p e n a s u m p a r q u e in d u s tr ia l delas,
q u e , in c lu siv e , v e n d e m n o ex te rio r os vecu lo s a p re o s b e m in ferio res q ueles
p ra tic a d o s n o Brasil. Basta c o m p a r a r os p re o s d o s v e c u lo s n o e x te rio r e no
Brasil p a r a se v erificar a e n o r m e diferena. A l m d isso , e m p a s e s c o m o o s Esta
d o s U n id o s, a s p e sso a s, a in d a q u e sejam d e classes m a is b a ix a s, tm acesso
a q u isi o d e v e c u lo s d e b o a q u a lid a d e e r e la tiv a m e n te n o v o s , e n q u a n to n o
Brasil p e s so a s d a m e s m a classe social n o d e s fru ta m d e ssa v a n ta g e m .
D id a tic a m e n te : u m v eculo q u e no s EU A cu sta 15 m il d la re s p o d e se r a d
q u ir id o p o r u m a e m p r e g a d a d o m stic a o u u m tr a b a lh a d o r b ra a l, e n q u a n to n o
Brasil a p e n a s tr a b a lh a d o re s q u e re c e b e m salrio s b e m m a is a ltos p o d e r o a d
quiri-lo. E o p io r: o ca rro a se r e x p o rta d o in d u s tr ia liz a d o d e n tr o d o s p a d r e s
in te rn a c io n a is d e seg u ra n a . E xem plo; n o s v eculo s tip o e x p o rta o h u m a b a rra
d e se g u ra n a lo n g itu d in a lm e n te p a ra p ro te o d o m o to rista e d o s p assag eiro s,
em caso d e coliso fro n tal su a p o rta , e n q u a n to os m o d e lo s fa b ric a d o s p a ra os
b ra sile iro s n e m s e g u e m p a d r e s... P o r isso q u e n o s a c id e n te s d e v e c u lo s b r a
sileiros h u m n m e r o e x p re ssiv o d e m ortes: n o h resistncia ao im p a c to , e
n o sso s vec u lo s p a re c e m d e latas... O u tra ob servao : o v ecu lo tip o ex p o rta o
a u to m tic o (h id ra m tic o ), o s n o sso s a in d a v m c o m os c m b io s m ecnicos...
Ser q u e o c id a d o b ra sile iro est re a lm e n te te n d o v a n ta g e n s c o m essa poltica?
P o r o casio d o e n c e rra m e n to d a s a tiv id a d e s d a C h ry s le r n o P a ra n , o s e n a
d o r O s m a r D ias fez a n lise poltico-social q u e enseja p r o f u n d a reflexo:

N o h a v ia d e m a n d a q u e justificasse a c o n c e n tra o d e m o n ta d o ra s , e
a in d a m a is , re c e b e n d o e n o rm e s subsdios. O s p rotocolos firm a d o s com
e s ta s fb ricas c o n tin u am s e n d o u m a c a ixa p re ta , p o rq u e o g o v e rn o s e m
pre se recusou a d ivu lgar opinio pblica o m o n ta n te dos recursos p
b licos investidos. C o m o fe c h a m e n to d a C h ry s le r t a m b m os fo rn e c e d o
res d e p e a s , os c o m p ra d o re s de ve cu los e os fun cio n rios s e r o le s a
dos. Q u e m vai p a g a r os m ais d e R $ 1 0 0 m ilhes q u e o g o v e rn o p a ra n a e n s e
d o o u C h ry s le r p a ra q u e e la se in s ta la ss e e m C a m p o Largo?"^^
Essa notcia foi publicada pelo gabinete do senador Osmar Dias, intitulada: O sm ar Dias d iz que

2 3 9

240

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

S e g u n d o esse s e n a d o r, n u n c a h o u v e p o r p a r te d a s m o n ta d o r a s c o m p r o m is
so c o m a p o p u la o p a ra n a e n se :

D e s ta m e s m a trib un a d en un ciei q u e o g ov e rn o p a r a n a e n s e e s ta v a a tra


indo m o n ta d o ra s d e a u to m ve is , a tra v s d a c o n c e s s o d e m ilh es e m
sub sdio s. N a p o c a , o g o vern o anu ncio u a g e r a o d e 6 0 0 mil e m p r e
gos. N a v e rd a d e , e s ta s m o n ta d o ra s n o c h e g a ra m a g e r a r 5 mil e m p r e
gos diretos. N o h a v ia q u a lq u e r c o m p ro m is so d e s s a s fb ric a s , q u e o povo
d o P a r a n financiou s e m juros e s e m c o rre o m o n e t ria . Foi um p re s e n
te q u e o g o v e rn a d o r d e u a e s s as m o n ta d o ras , q u e h oje s e d o a o luxo d e
a n u n c ia r q u e e s t o fe c h a n d o e d e s e m p re g a n d o " .

P a ra o s e n a d o r, to d o s os c o n tra to s c o m as m o n ta d o r a s d e a u to m v e is d e v e
ria m s e r revistos:

O g o v e rn o c o m e te u um g ra n d e e q u v o c o a o c o n c e n tra r in v e stim ento s


n a s m o s d e gru po s e s tra n g e iro s , q u e n o t m n e n h u m c o m p ro m is s o
c o m a g e r a o d e e m p re g o no P a ra n . A o m e s m o te m p o , no a n o p a s s a
d o, s e g u n d o d a d o s d a J u n ta C o m e rc ia l. 5 . 5 0 0 n eg cio s d e p a r a n a e n s e s
fe c h a r a m a s p ortas por falta d e ap o io . O p ovo d o P a r a n e s t s e n d o
le s a d o e te m o s a o b rig a o d e re v e r tod os e s te s co n tra to s .^^^

N o s o m o s c o n tra o in c e n tiv o c o n stitu cio n al, q u e d a d o e x p o rta o d e


p r o d u to s in d u s tria liz a d o s a fim d e e v ita r a e x p o rta o d e trib u to s e in c e n tiv a r a
e n tr a d a d e d la re s n o pas. T o d a v ia , n o p o d e m o s c o n c o rd a r e m q u e o Brasil se
to rn e m e ro p a r q u e in d u s tr ia l d e e m p r e s a s a u to m o b ils tic a s e s tra n g e ira s . N o
m n im o , d e v e ria se r e x ig id o q u e u m d e te r m in a d o q u a n tu m d e p r o d u o d e s ti
n a d a e x c lu siv a m e n te s v e n d a s in te rn a s e e lim in a d o o d ire ito aos cr d ito s de
ICMS re la tiv o s aos in s u m o s. N o p a g a r trib u to s, at se c o m p r e e n d e , p a r a ter
e v e n tu a l in cen tiv o , m a s a in d a ter a receb er o c m u lo d e privilgio.
fe c h a m e n to d a C h ry s le r p re ju d ic a fornece d o res, co n s u m id o re s e a p o p u la o p a ra n a e n se . Dispon
vel em; http://www.senado.QOv.br/web/senadQr/odias/trabalho/Noticias- Acesso em 10 de janeiro de
2003.

Idem.
Idem.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

3.29 HIPERMERCADOS
N a Itlia, a Lei Bersani re strin g e a instalao d e h ip e rm e rc a d o s. N o tem os
conlnecim ento d e lei se m e lh a n te n o Brasil. P o d e se r q u e a lg u m m u n ic p io te n h a
d e s p e r ta d o p a r a o te m a e e fe tu a d o a n o rm a tiz a o .
A in sta la o d e u m h ip e r m e r c a d o te m efeitos p o sitiv o s e n e g a tiv o s p a r a o
m u n ic p io e m q u e ele se localiza.
D e n tre o s p o sitiv o s, p o d e m ser citados: a tra o d e c o n s u m id o r e s d e c id a d e s
v iz in h a s , a rre c a d a o d e im p o sto s e m benefcio d a c id a d e , p re o s m ais a tra e n
tes p a ra os c o n s u m id o r e s e m a io r c o m o d id a d e p a ra estes.
D e n tre o s n e g a tiv o s, p o d e m se r cita d o s p rin c ip a lm e n te o e n c e rra m e n to das
a tiv id a d e s d e e m p r e s a s d e p e q u e n o p o rte e a c o n s e q e n te r e d u o d e v a g a s de
e m p re g o .
A s g r a n d e s r e d e s so d e s ig n a d a s p o r espec ia lista s e m varejo c o m o category
killers: " m a ta m " d e te r m in a d a s categ o rias d e com rcio, q u e n o c o n s e g u e m c o n

c o rre r c o m elas n e m e m p re o n e m e m v a r ie d a d e d e ofertas.


O e s m a g a m e n to d a s p e q u e n a s e m p re s a s o co rre e m d u a s v io le n ta s o n d a s: a
p rim e ira e lim in a , p o r ex e m p lo , s u p e r m e r c a d o s d e b a irro , m e rc e a ria s , q u ita n
d a s e a o u g u e s , p o is c a d a v e z m a is c id a d o s a d q u ir e m c o n d u o p r p r ia , o que
p ossib ilita acesso a h ip e rm e rc a d o , m e s m o q u e ele n o esteja t o p r x im o d a sua
re sid n c ia ; a s e g u n d a e lim in a lojas d e confeces, d e c a l a d o s, d e u tilid a d e s
d o m stic a s, d e e le tro d o m stic o s e o u tr a s q u e tra b a lh a m c o m p r o d u to s ofereci
d o s p o r h ip e rm e rc a d o .
Este a d q u ir e g r a n d e s q u a n tid a d e s d e p r o d u to s , c o n s e g u in d o , ob v ia m e n te ,
co n d i e s d e p re o e d e p a g a m e n to m u ito m e lh o re s d o q u e as o b tid a s p o r p e
q u e n o varejista. N o c o m b ate, e n o rm e o d e se q u ilb rio d e foras...
T o m e m o s o e x e m p lo d e So Jos d o s C a m p o s (SP).
Essa c id a d e p a s s o u p o r u m boom d e d e s e n v o lv im e n to eco n m ic o e tecno l
gico n o s a n o s 1960-70, d e v id o su a localizao s m a r g e n s d a via D u tra. G r a n
d e s in d s tria s , c o m o a G e n e ra l M o to rs, a Joh n so n, a K o d a k , a A v ibrs, a Ericsson
e a E m b ra e r se in s ta la ra m n essa cidad e. A r e n d a per capita d a p o p u la o era
u m a d a s m a is alta s d o pas.
N o incio d a d c a d a d e 1990, c o m a crise d a in d s tr ia blica e p ra tic a m e n te
falncia d a E m b ra e r, So Jos d o s C a m p o s a tr a v e s s o u a p io r crise d e s u a h ist
ria. D e m iss e s e m m a s sa fo ra m feitas. S o m e n te a E m b r a e r c h e g o u a d e m itir
q u a s e 7 m il fu n cion rio s: 7 m il fam lias d e ix a ra m d e c o n su m ir.

2 41

42

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

Isso aco n te c e u a n te s d a e x p a n s o d a s g ra n d e s re d e s varejistas. N e s sa poca,


a c id a d e c o m e o u a p r o c u r a r u m n o v o p e rfil eco n m ic o , q u e a lib e rta sse da
d e p e n d n c i a e c o n m ic a d a s g r a n d e s i n d s tr ia s . P o r e s s a r a z o , q u a n d o o
C a rre fo u r e o W a l-M a rt n ela se in sta la ra m , o com rcio, q u e h a v ia p a s s a d o p o r
u m a p r o f u n d a a d a p ta o n o v a re a lid a d e , n o c o n se g u iu a fa s ta r o im p a c to d a
instalao d e sse s h ip e rm e rc a d o s.
D e s d e a c h e g a d a d o C a rre fo u r, o s e to r d e v e s tu r io a p r e s e n ta suc e ssiv a s
q u e d a s n o fa tu ra m e n to , p o r q u e o c o n s u m o d e ro u p a s , p rin c ip a lm e n te d o c o n
s u m id o r m a is p o p u la r , m ig ra p e r m a n e n te m e n te d a s lojinhas p a r a os h ip e r m e r
cados.
A te n d n c ia d o co m rcio d a s lojas d a q u e la c id a d e - e essa u m a re a lid a d e
m u n d ia l - so as c o m p ra s p o r im p u ls o o u as e fe tu a d a s e m e sta b e le c im e n to s
a lta m e n te esp e c ia liz a d o s, o u seja: so b re v iv e m as "lojas d e 1,99", d e b u g ig a n g a s,
d e ro u p a s d e c a rre g a o , o u a q u e la s q u e se esp ec ia liz a m e m v e n d e r d e te r m in a
d o p r o d u to , o fe re c e n d o u m g r a n d e n m e r o d e m a rc a s e d e m o d e lo s, N e sta s
ltim a s o cliente c o m p ra p o r q u e sab e q u e te m m u ita s op es, e n o se im p o rta
e m p a g a r p re o m a is alto.
E m b o ra So Jos d o s C a m p o s te n h a to m a d o a lg u m a s in iciativ as p a r a te n ta r
g a ra n tir a so b re v iv n c ia d o co m rcio d e ru a , c o m p ro je to s d e re v italizao d o
c e n tro c o m ercial, m a io r se g u ra n a , lim p e z a e e sta c io n a m e n to , c o n s ta to u q u e
u m h ip e r m e r c a d o afeta to d o s os setores.
D e m a n e ira geral, p a r a c a d a e m p re g o n o v o g e ra d o p o r u m h ip e rm e rc a d o ,
p e rd e m -s e trs d e u m a m icro e m p re sa .
E n t o , c o n v e n ie n te re strin g ir a in stalao d e h ip e r m e r c a d o s e m c id a d e s
q u e te n h a m a t 4 0 0 m il h a b ita n te s, o u m e sm o 300 mil. O p o d e r p b lic o p o d e , n o
interesse d a co le tiv id a d e , estab elecer lim ita es a d m in istra tiv a s.

3.30 TRANSPORTES
E m a lg u n s p a s e s d a E u ro p a e d a A m rica h o s tren s-b ala, e n a C h in a se
im p la n to u o s iste m a fe rro virio d e lev itao m a g n tic a (M aglev), q u e a in d a
m a is a v a n a d o . E n s a in d a c o n v iv e m o s c o m tre n s a n tiq u a d o s , v e r d a d e ir a s
su catas.
O Brasil p re c isa u r g e n te m e n te d e s p e r ta r p a r a d o is m e io s d e tra n s p o rte ; o
fe rro v i rio e o fluvial. E n o a p e n a s c o m o fonte d e d e s e n v o lv im e n to , m a s ta m
b m c o m o fo rm a d e alocar m o -d e-o b ra.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

O s p re o s d o s fretes s o ele v a d o s, e n c a re c e n d o os p r o d u to s a o c o n su m id o r.
C o m a q u e le s m e io s d e tra n s p o rte , h a v e r m a io r circ u la o d e riq u e z a s, com
m e n o r cu sto e m a io r r a p id e z , p rin c ip a lm e n te q u a n d o a d ist n c ia for c o n s id e r
vel. Basta im a g in a r o te m p o q u e ga sta u m c a m in h o p a r a ir d o Rio G r a n d e d o
Sul at o Rio G r a n d e d o N o rte , c o m p a ra d o a o q u e g a s ta ria u m trem -bala...
P o r o u tr o la d o , o Brasil, q u e u m d o s p a se s m a is ricos e m rios, n o tra n s
fo rm a os p rin c ip a is e m n a v e g v e is, s e q u e r fa z e n d o a in te rlig a o d e g ra n d e s
rios.
E m d e c o rr n c ia d isso , ficam os na d e p e n d n c ia d e m u ltin a c io n a is p a r a a a q u i
sio d e d iv e rso s p r o d u to s , in clusive veculos, a l m d e d e p e n d e r d o p e tr leo
im p o rta d o .
A po ca d o colo n ia lism o ingls, e ra m e n v ia d a s a o s p a se s d o m in a d o s p e s s o
a s e n c a r r e g a d a s d e e v ita r q u e eles progredissem^--*. A tu a lm e n te , a l m d o s "q u in ta s-c o lu n a s", h a u tiliz a o d a m dia p a r a m a n ip u la r in fo rm a e s e d iv u lg las d e a c o rd o c o m a co nv e n i n c ia d e in teresses alieng en as.
P erceb e-se isso n o Brasil: p ro je to s q u e p r o p ic ia r ia m d e s e n v o lv im e n to so
e n fo c a d o s p ela m d ia sob asp ecto s n e g a tiv o s e fo rte m e n te criticados, at m e s
m o so b p re te x to d e d efesa d o m eio am bien te. Foi o q u e o c o rre u c o m as h id ro v ia s
A ra g u a ia -T o c a n tin s e P a ra n -P aragu ai.^^
T a m b m foi d ito a o p o v o b ra sile iro q u e a floresta a m a z n ic a e sta v a se n d o
d e s tr u d a e q u e era p re c is o fixar em 80% a re s e rv a florestal legal n a q u e la re
gio. C o n tu d o , o n d e h re se rv a legal d eve-se fazer o m a n e jo s u s te n t v e l, p a r a
q u e a floresta s e m p r e se re n o v e , p o is floresta e n v e lh e c id a ta m b m re p re se n ta
a g re ss o ao m e io a m b iente.

3.31 TROTE
O tro te d e v e ria se r u m a m a n ife sta o d e ale g ria , d e p o is d e ta n to esforo
pela a p ro v a o n o v estib u lar.
T o d a v ia , e m g r a n d e n m e r o d e in stituies o b se rv a m -se e xag eros, inclusive
m a n ife sta e s d e s a d ism o , d e q u e ch e g a m a re s u lta r at m e s m o m o rte s, c o m o j
n o tic io u a m d ia.
Veja-se, por exemplo, o romance 0 a m e rica n o tranqilo, de Graham Greene.
^ Ver a denncia Mfia verde; 0 ambienfalismo a s e rv i o do g o v e rn o m u n d ia l Rio de Janeiro: E)R,
2001, escrito por uma equipe de investigadores da revista EXECUTIVE INTELLIGENCE REVIEW
(EIR).

2 4 3

!4 4

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

Seria c o n v e n ie n te co n ciliar a aleg ria in d iv id u a l p e la a p ro v a o co m a lg u m a


a tiv id a d e q u e im p lic a sse s o lid a r ie d a d e p a r a c o m o s d e s a f o r tu n a d o s . M u ito s
c a lo u ro s p o d e ria m , n e ssa ocasio, to m a r conscincia d e q u e p o d e m se r b a s ta n
te teis socied ade.
Se to d a s as instituies d e en sin o e stim u lassem os tro tes solidrios (com o le
v a r colches o u c o b erto res p a r a p o b re s, c o m p ra r m a te ria l escolar p a r a a lu n o s
carentes, la n c h a r c o m crianas e m o rfan ato s e o rg a n iz a r festas p a ra id o so s de
asilos e de la s p articip ar), h a v e ria m a io r integrao d o s jo ven s com a coletividade.
N e s sa s ocasies, m u ito s u n iv e rsit rio s se ju lg a m n o d ire ito d e se r v n d a lo s,
q u a n d o a so c ie d a d e e sp e ra q u e sejam c id a d o s ex em plares.

3.32 PRO-LCOOL
U m d o s m e lh o re s p ro je to s b rasileiro s foi o P ro- lcool (P ro g ra m a N ac io n a l
d o lcool).
O e stm u lo fabricao e ao u so d e vecu lo m o v id o e x c lu siv a m e n te a lcool
d e v e ria ter sid o m a n tid o , d e v id o s v a n ta g e n s p a r a o m e io a m b ie n te , projeo
d a in d s tr ia a u to m o b ilstic a b rasile ira n o c en rio in te rn a c io n a l, d u r a b ilid a d e
d o m o to r e a o p re o p a r a o c o n su m id o r.
D ife re n te m e n te d o lcool, a gaso lin a e o leo diesel so a lta m e n te p re ju d ic i
ais ao m e io a m b ie n te . P o r esse m o tiv o , o e m p r e g o d a q u e le c o m b u stv e l g e ro u
ex p e c ta tiv a s o tim ista s n o exterior.
D e p o is d e forte im p u ls o d o g o v e rn o e d e g r a n d e aceitao p e lo s u su rio s , o
p r o g r a m a foi a b a n d o n a d o . M ais u m a vez interesses a lie n g e n a s p re v a le c e ram .
a lta m e n te re le v a n te re a v iv a r tal p r o g r a m a , n o s n o in te re s se d o s c o n s u
m id o re s e d o p as, m a s ta m b m d a p r p r ia " s a d e " d o p la n e ta .

3.33 PRIVATIZAO
A g lo b alizao d a ec o n o m ia est im p o n d o a p riv a tiz a o d a s e m p re s a s p
blicas.
P ara q u e a p riv a tiz a o n o o corra in d is c rim in a d a m e n te , p reciso sa b e r qu ais
s o as a tiv id a d e s e m q u e p re v a le c e o in te re sse p b lic o e q u a is so a q u e la s e m
q u e p re v a le c e o p riv a d o .
Essa a lin h a d e m a rc a n te , q u e d e v e se r o b s e rv a d a p a r a se s a b e r q u a is as
e m p re s a s q u e d e v e m s e r p r iv a tiz a d a s o u no.
N o d e v e m se r p riv a tiz a d a s as e m p re s a s cujas a tiv id a d e s v is a m ao b e m co~

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

m u m , c o m o a q u e la s q u e se d e d ic a m ge ra o d e e n e rg ia eltrica. Se isso o co r
rer, in d ir e ta m e n te se e sta r p r iv a tiz a n d o u m b e m d e m a io r in te re sse p b lico
q u e a e n e rg ia eltrica: a g ua.
O s ro m a n o s tin h a m ra z o q u a n d o d iz ia m ; In medio v irtu s (N o m eio est a
v irtu d e ). D e fato, n o se d e v e p riv a tiz a r to d a s as e m p r e s a s p b lic a s, m a s ta m
b m n o se d e v e tra n s fo rm a r e m p b lic a s to d a s as e m p re s a s cujas a tiv id a d e s
a te n d a m d e a lg u m a fo rm a aos in te re sse s d a so cied ad e.
O q u e se im p e certa sa b e d o ria e m estab elecer o d iv is o r d e g u a s , p a r a q u e
o E s ta d o n o p e rc a to ta lm e n te se u p o d e r d e a u to g o v e r n a n a , n e m fiq u e c o m
p le ta m e n te e s v a z ia d o d e a tiv id a d e s essenciais a o b e m c o m u m . Se os interesses
p r iv a d o s p re v a le c e re m , e sm a e c e r a p r p r ia fin a lid a d e d o E sta d o - o b e m -e sta r
d a c o letiv id ad e.
N o se d e v e im p e d ir q u e e m p re s a s p a rtic u la re s se d e d iq u e m , p o r ex em p lo ,
p r o d u o d e e n e rg ia eltrica, ao fo rn e c im e n to d e g u a tr a ta d a e s te le c o m u
nicaes. A lis, a t m e s m o in te re ssa n te q u e isso oco rra, p o r q u e a c o n c o rr n
cia ev ita o a c o m o d a m e n to d a s e m p re sa s estatais, p ro p ic ia n d o m e lh o re s se rv i
os e m e n o re s preos.
N o s E sta d o s U n id o s a d o ta -s e o operating contract, n o q u a l o g o v e rn o c e d e a
u m a e m p r e s a p r iv a d a a g esto d e u m a d e te r m in a d a u n id a d e o p e ra tiv a , m e d i
a n te r e m u n e r a o e re e m b o ls o prefix ad o s.
N a F ra n a , foi a d o ta d o com su cesso o siste m a d a co-gesto: o p a tr im n io
p b lic o , m a s o s a d m in is tr a d o r e s so p ro fis sio n a is in d e p e n d e n te s , a lta m e n te
q ualificad os. O E s ta d o estabelece m e ta s, p ra z o s, c o m p ro m is so s, objetivo s soci
ais o u econ m ico s, e a e m p re s a g e rid a c o m total a u to n o m ia . C a so n o se c u m
p r a m as c o n d i e s c o n tra tu a is, re v o g a -se o c o n tra to e celeb ra-se u m o u tro , com
n o v o s a d m in is tr a d o r e s . A EDF (lectricit d e F rance), p o r e x e m p lo , g e rid a
p o r c o n tra to d e g e st o e u m a d a s m e lh o re s c o rp o ra e s m u n d ia is d o setor
eltrico.
N o p o d e m o s n o s e s q u e c e r d o q u e o c o rre u n a C alif rnia. E m 1994, a C o m is
so d e U tilid a d e s P b licas d e sse e sta d o a m e ric a n o e n te n d e u q u e os c o n s u m i
d o re s p o d e r i a m e sc o lh e r se u s fo rn e c e d o re s d e e n e rg ia , e c o m isso os p re o s
b a ix a ria m , d e v id o com petio.
O s r e s u lta d o s fo ra m d esastro so s:

"C o n s u m id o re s p artic u la re s e e m p re s a ria is s o ire ra m 3 8 d ia s d e 'a p a g es '

2 4 5

246

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

e interrup es dos servios e m 2 0 0 0 e 2 0 0 1 , e n q u a n to os p re os d is p a


ra v a m . U m e s tu d o do Instituto d e Polticas P blicas d a C a lif rn ia e s tim a
q u e a crise e n e rg tic a te n h a cu s ta d o a o e s ta d o c e rc a d e 4 5 b ilh es de
d la re s e m custos m a is altos, n eg cio s perdid os e c re s c im e n to e c o n m i
co m a is v a g a ro s o .
(...)
O s n veis d e tra b a lh a d o re s foram re d uzid os e m m d ia e m 3 5 % , c o n fo r
m e a s g e r a d o ra s e ra m fo r a d a s a v e n d e r a c a p a c id a d e g e r a d o ra p a ra
c o n g lo m e ra d o s d e fo ra do e s ta d o , inte re s s a d o s s e m f a z e r d in h eiro, n o
n a inte grida d e d o s is te m a eltrico. A c im a disso, a f c e g a no m e rc a d o
causou u m a d eg ra d a o n a confiabilidade do sistem a, a nte s inexistente.

Isso se d e v e u e m p a r te d ra m tic a r e d u o d a m a n u te n o , o q u e a u m e n
to u as falh as n a s u sin as.
O q u e n o se p o d e a fa sta r to ta lm e n te o E sta d o d a g e r n c ia d o in teresse
p b lic o e d o b e m c o m u m .

3.34 INDIGNAO
U m d o s m a is e x p re s s iv o s e x e m p lo s d e in d ig n a o foi a re a o d e C risto
d e c o rre n te d a p ro fa n a o d o tem p lo. Rui B arbosa, n o d isc u rs o Orao aos M o
os, le m b ra o q u e re ssa lto u Pe. M a n o e l B ernardes:

B e m p o d e h a v e r ira, s e m h a v e r p ec a d o : Irascim ini, e t n o lite p e c c a re . E


s v z e s p o d e r h a v e r p ec a d o , s e n o h o u v e r ira; p o rq u an to a p ac i n cia ,
e silncio, fo m e n ta a n eg lig n c ia dos m au s , e te n ta a p e r s e v e r a n a dos
bons. O u i c u m cau sa n o n irascitur, p e c c a t (diz u m p a d re ); p a te n tia enim

irra tio n a b ilis vitia sem in a t, n e g lig e n tia m nutrit, e t n o n s o lu m m a ios, s e d


e tia m b o n o s in v ita t a d m alum . N e m o ira r-s e n e s te s te rm o s c o n tra a
m a n s id o ; p o rq u e e s a virtude c o m p re e n d e dois atos: u m re p rim ir a ira,
q u a n d o d es o rd e n a d a : outro ex c it -la , q u a n d o c o n v m . A ira s e c o m p a
ra a o c o, q u e a o la dro ladra, a o s e n h o r fes te ja , a o h s p e d e n e m fe s t e

ja, n e m ladra; e s e m p re fa z o s e u ofcio. E a s s im q u e m s e a g a s ta n as


o c a s i es e c o n tra a s p es s o as , q u e c o n v m a fa s ta r-s e , b e m p od e, c o m

FREEM AN, Marsha. Califrnia reverte desregulamentao eltrica. In B o le tim p u b lic a d o p e la S o lid a
rie d a d e Ib e ro-A m e rican a , 1* quinzena de fevereiro de 2003, p. 14.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

tu d o isso, s e r v e rd a d e ira m e n te m an so. Q u i t g t t u r ( \s s e o filsofo} a d q u a e


o p o r t e t , e t q u ib u s o p o r t e t . ir a s c it u r , la u d a t u r , e s s e q u e s m a n s u e t u s

p o te s t.^^^

M u ita s p e s s o a s p a re c e m e sta r se d a d a s: a c e ita m p a s s iv a m e n te as injustias,


c o m o se d e n a d a a d ia n ta s s e reagir.
E n t r e t a n t o , se n o tiv e s s e m o c o r r id o c e r ta s in d i g n a e s , m u i t a s v e z e s
tr a d u z id a s e m re v o lu e s o u g u e rra s , n o teria ta m b m h a v id o e v o lu o social.
Se n o s E s ta d o s U n id o s n o tiv esse h a v id o a G u e rra d a S ecesso, e sse p a s teria
c o n tin u a d o e sc ra v a g ista p o r m u ito te m p o , o q u e lh e c o m p ro m e te ria o p r p rio
d e s e n v o lv im e n to .
Q u a n d o o h o m e m deixa d e se in d ig n a r, j se to r n o u escravo. Se q u ise rm o s
u m a a u t n tic a d e m o c ra c ia , c o m c id a d a n ia , d e v e m o s n o s in d ig n a r c o m as a titu
d e s q u e a a g r id e m e ter a c o ra g e m d e reagir, in c lu siv e n o in te re sse d e nossos
c o n c id a d o s.
C o m o o b ra sile iro u m p o v o q u e a m a a p a z , a v e sso vio lncia, ele u tiliza
com g r a n d e fre q n c ia d o is recu rso s q u e fu n c io n a m c o m o fo rm a d e c a ta rse e
d e e x p re ss a r in d ig n a o : as p ia d a s e as charges.
P o r tr s d e u m a b r in c a d e ir a e s p ir itu o s a q u a s e s e m p r e h u m a v e r d a d e
irre fu t v e l.

3.35 EXRCITO
O E xrcito p o d e r d a r u m g r a n d e c o n trib u to ao m o v im e n to e m d efesa da
c id a d a n ia e a c e le ra r a s u a e stru tu ra o e im p la n ta o p a u la tin a s.
C o m o o Brasil n o se e n v o lv e d ire ta m e n te e m con flitos a r m a d o s in te rn a c io
nais, o E xrcito p o d e r ia se r m a is b e m a p ro v e ita d o , a u x ilia n d o , d e ssa fo rm a, na
c o n stru o d e u m a s o c ie d a d e e m q u e haja re sp e ito c id a d a n ia .
O s m e m b ro s d o E xrcito p o s s u e m c iv ism o s u p e rio r ao d o hom o mediiis. T o
d a v ia , s u a c a p a c id a d e n o est se n d o a p r o v e ita d a p e la s o c ie d a d e . Eles p o d e m
fazer m u ito p o r ela, p e la d is p o n ib ilid a d e d e te m p o e p e lo se n s o p a tri tic o e
cvico. P o s s u e m p le n a s co ndies; ba sta h a v e r u m a c o n v e rg n c ia d e a tu a o
n u m d ire c io n a m e n to s o c ie d a d e , co m o u m to d o , p o r m n o e st o s e n d o d e v i
d a m e n te a p r o v e ita d o s , c o m o se v iv e s s e m n u m a n a o p a r te . im p e ra tiv o
BERNARDES, Manuel. Luz e calor. /4pud BARBOSA, Rui. D iscu rso s, o ra e s e confe r n cias. 4. ed.
So Paulo: Edigraf S.A., 1972, p, 411.

148

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

categrico a p r o v e ita r o p o te n c ia l q u e p o s s u e m e ca n a liz a r essa fora e m p r o l d a


p ro m o o h u m a n a , com in te g ra o d ire ta e n tre eles e a so cied ade.
H u m g r a n d e n m e r o d e a tiv id a d e s q u e os m ilita re s p o d e r ia m executar,
tais c o m o o c o m b a te inc e ssa n te ao trfico d e d ro g a s, a c o n stru o o u re c u p e r a
o d e estradas^^^, assistncia a e n tid a d e s filantr picas o u a c rian as c a re n te s e
execuo d e p ro je to s e m relao ao m eio a m b ien te.
E nfim , p r e s ta r ia m serv io s d e a c o rd o c o m as n e c e ss id a d e s d a re g i o e m q u e
e stiv e sse m se d ia d o s , e q u e estiv e sse m v o lta d o s cid a d a n ia .
E m te rm o s d e f u tu r o p r x im o , a so c ie d a d e d e v e q u e s tio n a r se re a lm e n te
deseja a existncia d o E xrcito, m a n ife sta n d o -se a tra v s d e plebiscito.
N u m a v is o h u m a n is ta , a ssim c o m o as p e s so a s d e v e m v iv e r to ta lm e n te d e
s a r m a d a s , ta m b m a p t r i a n o d e v e te r E xrcito. E sse e n f o q u e o fa z e m o s
a n te v e n d o u m a m u d a n a n o c en rio in te rn a c io n a l p a r a q u e o s p o v o s p a s s e m a
v iv e r a civ ilid a d e e e v o lu a m d o estg io d a em o o ao n v e l d a ra z o . C iv ilid a d e
p r e s s u p e o c re sc im e n to d o s p o v o s n u m a m b ie n te d e paz. O m u n d o ca n so u -se
d e g u e rra s , e m b o r a se o b se rv e q u e a in d s tria blica c o n tin u a a lim e n ta n d o c o n
flitos p a r a q u e p o s s a v e n d e r se u s a rm a m e n to s.
O s jo v e n s c o n tin u a r o a p a rtic ip a r d o Exrcito, m a s e s te m u d a r s u a a tu a
o: v o lta r-se - p a r a a u x ilia r a so c ie d a d e n o c o m b a te a o s p r o b le m a s sociais,
a m b ie n ta is etc. O jo v e m d e v e ter u m m n im o d e civism o, a fim d e p e rc e b e r q u e
os p ro b le m a s d a p tr ia s o ta m b m p ro b le m a s d e le e n o a p e n a s d o g o v ern o.
S o m e n te c o m a in te g ra o d e to d a s as clulas sociais q u e re a lm e n te se p o d e r
re a liz a r u m a a u t n tic a c id ad an ia.
P o d e r-se -ia in c lu siv e facu ltar ao jo vem , inc lu siv e d o sexo fem in in o , a p o s s i
b ilid a d e d e p r e s ta r servio social e d a r-lh e u m a a ju d a d e custo . Tal servio p o
d e ria se r p r e s ta d o e n tr e 16 a 25 anos. N a A le m a n h a tal a ju d a n o p a g a q u a n d o
a p re s ta o d e serv io social p r e s ta d a n o exterior. N o r m a lm e n te as O N G s ou
e n tid a d e s religio sas a u x ilia m os jovens.

3.36 EDUCAO
O g o v e rn o b ra sile iro p re c isa , u rg e n te m e n te , p r e o c u p a r-s e m a is c o m a e d u A Estrada de Ferro Paran Oeste S.A. (FERROESTE), no trecho de Guarapuava (PR) a Dourados
(MS), com ramificao para Foz do Iguau (PR), divisa com Paraguai e Argentina, foi executada em
parceria com o Exrcito. Ver maiores informaes sobre obras que tiveram a participao do Exrcito
no s ite <hittp;//vmw.exercito.gov.br/060Ms/Diretori/doc/destaque.htm>.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

c ao e a c u ltu r a d o p o v o ; caso c o n tr rio , se r s e m p r e a p e r e n e esc ra v id o .


P re o c u p a r-se , p o r m , c o m a e d u c a o d a p e sso a , e n o c o m a d e m a ssa , com o
tem o c o rrid o , n a q u a l a q u a lid a d e d o e n sin o re le g a d a , a t m e s m o n o s cu rso s
d e D ireito , c o m o tm re v e la d o os nd ices d e a p ro v a o n o s e x a m e s d a O rd e m
d o s A d v o g a d o s d o Brasil, Seo d o P aran : 23,6% (ag osto d e 2003); 26,25% (no
v e m b ro d e 2003) e 24% (m aro d e 2004)^^. C h eg a-se a u m p a ra d o x o : in stitu i
es d e e n sin o , e m v e z d e fo rm a r p e sso a s, as d e fo rm a m .
R o b e rto C r e m m a , lo u v a n d o - s e n a s ltim a s d e c la ra e s d a U n e sc o so b re
tr a n s d ic ip lin a rid a d e , s o b r e tu d o a q u e la d e r iv a d a d o C o n g re ss o d e L o carn o , q u e
in te g ra o d o c u m e n to d e Ja c q u e s D ellors, in siste " n o s q u a tr o f u n d a m e n to s de
u m a n o v a e d u c a o tra n sd ic ip lin a r: e d u c a r p a r a co n h e c e r, e d u c a r p a r a fazer,
e d u c a r p a r a c o n v iv e r e e d u c a r p a ra ser.
A e d u c a o c o n v e n c io n a l, re fle tin d o u m p a r a d ig m a m a te ria lis ta do
ra c io n a lism o p o sitiv ista , d e d ic a -se a p e n a s, d e fo rm a fr a g m e n ta d a , a o s d o is p r i
m e iro s p ilares: e d u c a r p a ra c o n h e c e r e e d u c a r p a r a fazer. E d u c a r p a r a co n v iv e r
e e d u c a r p a r a se r r e p r e s e n ta m to d o u m u n iv e rs o a se r d e s v e la d o e c o n q u ista d o
c o m o u s a d ia e p re m n c ia , p o r se r u m a la c u n a n o c e rn e d a crise c o n te m p o r
nea".^^'
U m a g r a n d e in d s tr ia , o b s e rv a n d o q u e m u ito s d e s e u s e m p r e g a d o s e ra m
a n a lfa b e to s, m in is tro u -lh e s c u rso s d e a lfab etizao . D e p o is d e a lg u m te m p o ,
u m d e le s foi at a d ire to ria e disse: " T ra b a lh o n e s ta e m p r e s a h 25 a n o s, e o
m e lh o r p r e s e n te q u e v o cs m e d e r a m foi m e e n s in a r a ler e a escrev er".
C o m o , n u m a p o c a e m q u e se elim in a a d ist n c ia p e la s telecom u n ica es,
p r in c ip a lm e n te p e la h ite rn e t, a in d a h p e sso a s q u e n o s a b e m ler? E p esso as
q u e a p r e n d e r a m a ler, m a s a in d a n o tiv e ra m o s o lh o s a b e rto s p a r a a in e sg o t
v el riq u e z a d a leitu ra?
A e d u c a o d e v e d e s e n v o lv e r a c ria tiv id a d e e a in te lig n c ia . C o n tu d o , as
escolas lim ita m a in telign cia. A essncia d a e d u c a o fa z e r a p e ss o a tra n s c e n
d e r, e n o a p e n a s d e s c o b rir q u e capaz.
P re c isa m o s in v e stir n o p a tr im n io d a inteligncia. Q u a n to m a is in v e stirm o s
nele, m a is c e d o n o s lib e rta re m o s c o m o n ao. A g r a n d e z a d o s E sta d o s U n id o s
d e c o rre , e m g r a n d e p a rte , d o fato d e cien tista s e s tra n g e iro s te re m p a s s a d o a
re sid ir e a tra b a lh a r n a q u e le pas.
Of. n 246/04-GP-CIRC, de 06 de maio de 2004, do presidente Manoel Antonio de Oliveira Franco.
'39 Op. C /l, p. 173.

2 4 9

2 5 0

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

n ecessrio u m m u tir o n a c io n a l p a r a e rra d ic a r o a n a lfa b e tism o .


C o m relao s crianas, o E sta tu to d a C ria n a e d o A d o le sc e n te p r e v s a n
o p e n a l e m caso d e a b a n d o n o m aterial, m o ra l o u in telectu al. N a A le m a n h a ,
q u a n d o o a lu n o te m trs faltas su cessivas a u la, a d ire to ra d a escola in fo rm a a
polcia, e esta vai casa d e le p a r a sa b e r o m otiv o. Se n o h o u v e r ju stificativa
p la u sv e l e p e rs is tire m as faltas, os p a is r e s p o n d e m ao p e n a l. A r a z o disso
clara; c o m o o E sta d o oferece e d u c a o g ra tu ita , e isso lhe c u sta caro, ele te m o
d ire ito e o d e v e r d e exig ir q u e seja e n c a ra d a c o m re sp o n sa b ilid a d e .
N o Brasil, m u ito s a in d a n o c o m p r e e n d e m o v a lo r d a e d u c a o , e as c ria n
as ficam a b a n d o n a d a s . N o r m a s legais a re sp e ito tem o s, b o a s e suficientes. Fal
ta a p e n a s aplic-las. P o r e x e m p lo , o artig o 246 d o C d ig o P e n a l clarssim o:
"D eix ar, se m ju sta cau sa, d e p r o v e r in stru o p r im r ia d e filho e m id a d e esco
lar: P e n a - d e te n o , d e q u in z e d ia s a u m m s, o u m u lta ".
C o m p a r a n d o o tr a b a lh a d o r b rasileiro c o m o e u r o p e u , u m a p e r g u n ta q u e se
faz : c o m o o b ra sile iro p o d e c o m p e tir com o e stra n g e iro , se este faz se u s e s tu
d o s b sicos e m p e r o d o in te g ra l (8 h o ra s d irias) e o b ra sile iro e m cerca d e 4
h o ra s?
E m a lg u n s p a se s se exige fo rm ao p ro fissio n al especfica a t p a r a o exerc
cio d e p ro fiss e s q u e n o Brasil n o so v a lo riz a d a s , co m o a d e p a d e iro , p e d r e ir o
etc. E m o u tr a s p a la v ra s , n o h a m a d o rism o . A q u i, p re v a le c e a im p ro v isa o ,
p o r a u s n c ia d e c u rso s tcnicos, e n o o p ro fissio n alism o . C o lh e m o s o re s u lta d o
d a q u ilo q u e n o p la n ta m o s , c o m o d e m o n s tra F ranco Sobrinho:

N u m a n a o t o c a re n te d e p ro fission alizao in te rm d ia , tudo fizem o s


p a ra a c a b a r c o m a s e s c o la s t c n ic a s p ro fission ais, e s v a z ia n d o u m m e r
c a d o d e tra b a lh o q u e e x ig e e s p e c ia liz a o , p re p a ro n a s ta r e fa s d e o f
cio, d a n d o o p o rtu n id a d e a u m a p r e n d iz a d o q u e n o cria tra b a lh o q u a li
ficado".^""

A escola est d isso c ia d a d a re a lid a d e : e stu d a -s e p a r a te r d ip lo m a , e n o p a ra


a vida.
n e c e ss rio o ferecer a u la s d e filosofia, p a r a q u e o a lu n o a p r e n d a a racioci
nar. E e n sin -lo a d iscip lin ar-se, e d u c a n d o a v o n ta d e , p o is, se m isso, ele fica
" Op. cit. Tudo certo mas nada em ordem, p, 163.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

in telectual e c u ltu ra lm e n te estril. M u ito s p ro fesso res q u a n d o p r o c u r a r a m e d u clo p o r m e io d a d isc ip lin a so c e n s u ra d o s p ela D ireto ria. O a n a r q u is m o im pera.
O caos instala.
A filosofia, q u e ex e rc e u influncia m a rc a n te n o p e n s a m e n to h u m a n o , d e v e
v o lta r a se r e s tu d a d a , p a ra q u e n o haja a d ita d u r a d a tecnologia:

E n t o , fa z -s e p re m e n te a p e rg u n ta q u e d e s d e o p rin c p io n o s p re o c u p a ;
h , n o m u n d o d e h o je . u m lu g a r p a ra filo s o fia ? e s e h , q u e filo s o fia ,
q u a l s u a ta r e fa ? ^*

A filosofia, cujo objetivo a b u sc a d a v e r d a d e , a ju d a a e v ita r a e sc ra v id o


m en ta l. T a m b m , seria im p o rta n te , v is a n d o ao d e se n v o lv im e n to d a s p o te n c ia
lid a d e s d o se r h u m a n o , q u e h o u v e ss e e s tu d o d a p a ra p sic o lo g ia . H u m a fa n t s
tica s u p e rs ti o g r a s s a n d o p e la so cied ad e, e m u ita ig n o r n c ia n e ssa rea, q u a n
d o se trata d e f e n m e n o s p a ra n o rm a is , q u a n d o o c id a d o p o d e r d e se n v o lv e r
p le n a m e n te a p a n to m n s ia , xenoglossia, p s i-G a m m a , p re c o g n i o , telepatia e
c la riv id n c ia , d e n tr e outras^^^. O ser h u m a n o p re c isa e v o lu ir n e ssa d im e n s o ,
p a ra q u e ta m b m p o ss a h a v e r u m a ev o lu o d a h u m a n id a d e . N s a in d a estam os,
n o re la c io n a m e n to h u m a n o e m e n ta l, c o m o p ig m e u s.
Seria re c o m e n d v e l ta m b m q u e as u n iv e rs id a d e s e o u tr a s in stitu i e s de
e n s in o s u p e r io r tiv e sse m salas p a ra d e ix a re m d is p o n v e is a cien tista s e p ro fe s
so re s q u e f o ra m ju b ila d o s, m a s a p re c ia m a in d a e n s in a r os jovens.
A id a d e q u e s t o m e n ta l, n o fsica. J c o n v e rse i c o m p e s so a s d e c in q e n
ta a n o s, q u e tin h a m cem; con v ersei com p e ss o a s c o m c em a n o s q u e tin h a m v in
te. M u ita s p e ss o a s u ltr a p a s s a m os se te n ta a n o s l c id a s e d in m ic a s e p o s s u e m
p r a z e r e m e n s in a r, d ia lo g a r, p a s s a r su a s ex p e ri n c ia s aos m a is no v o s. E nfim , h
p e s so a s q u e n a s c e ra m p a r a e n s in a r, m e sm o s e m re m u n e ra o . V em a a p o s e n ta
d o ria c o m p u ls ria , e q u e b ra as asas d a s g u ias. O s a u d o s o p ro fe s so r M an o el d e
O liv eira Franco^'*^, m e s m o d e p o is d e a p o s e n ta d o , c o m a id a d e d e s e te n ta anos,
2' OLIVEIRA, Manfredo Arajo de. A filosofia na crise d a m o d e rn id a d e . So Paulo: Loyola, 1989, p. 149.
Cf- QUEVEDO, Oscar G. A fa ce o culta da m e nte. 16, ed. So Paulo: Edies Loyola, 1968; e A s

fo r a s fsica s d a m e nte. 8. ed., tomos I e II, So Paulo: Edies Loyola, 1988.


^ Professor da Faculdade de Direito do Paran, deputado federal, juiz federai para o Estado do Paran,
representante do Brasil para compor a 5- Comisso de Oramento durante a XVI Assemblia Geral
das Naes Unidas, realizada em Nova Iorque; presidente do Instituto Brasileiro de Direito Adminis
trativo.

252

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

c o n tin u a v a a ir a o c u rso d e D ireito d a U n iv e rs id a d e F e d e ra l d o E sta d o d o P a ra n


at a p r o x im a d a m e n te a o s o ite n ta a n o s, p e lo p r a z e r d e tra n s m itir se u s co n h e c i
m e n to s e e x p e ri n c ia s a o s m a is jovens. P o r q u e n o se a d o ta r tal e x e m p lo p a ra
c a d a rea d e e s tu d o s ? Im a g in e m -s e fsicos r e n o m a d o s , q u m ic o s ex p e rie n te s,
m in is tro s id e alistas, a p s e s ta re m ju b ila d o s, fre q e n ta n d o u m a sala p a r a a te n
d e r os a lu n o s, o q u a n to e ste s n o iria m se e n riq u ecer. E q u a n to a q u e le s n o se
se n tiria m te is socialm ente. O q u e n s fazem o s aos n o sso s ancio s, a in d a q u e
p e s so a s d e n o t v e l v alo r, algo p io r d o q u e o h o lo cau sto : n s os q u e im a m o s
vivos. E d e s p e rd i a m o s su a s e n e rg ia s e se u s co n hecim entos...
N a s escolas, d e v e ria h a v e r u m a disciplina d e n o m in a d a C id a d a n ia , e m q u e
se m in istra ss e m lies so b re re la c io n a m e n to h u m a n o ^ ^ \ m e io a m b ie n te , e d u c a
o n o tr n s ito e, p rin c ip a lm e n te , se o rie n ta sse o a lu n o so b re c o m o e n fre n ta r os
p ro b le m a s d a v id a . M u ito s jo v e n s n o s a b e m c o n v iv e r c o m s u a s fru stra e s, e
isso o s im p u ls io n a p a r a as d ro g a s. A s m u lh e re s p r e o c u p a m - s e e m se re a liz a r
q u a n to ao a sp e c to afetivo e n o profissional; d e v e ria m d a r p r io r id a d e a este, e o
o u tro viria c o m o co nseq n cia. C oisas sim p le s se ria m e n s in a d a s c o m o c u id a r
d a v o z , f a z e n d o a im p o s ta o c o rre ta e r e s p ir a n d o a d e q u a d a m e n t e ; a n lise
c o m p o r ta m e n ta l, p a r a s a lv a r c ria n a s c o m e sq u iz o f r e n ia o u o u t r a s d o e n a s
m e n ta is; a p r o v e ita m e n to d o te m p o , d isc ip lin a , d o m n io d a v o n ta d e , c o n trole
d a em o o , p ro te o c o n tra e stelio n atrio s, enfim , to d a s a s lies q u e fo ssem
n e c essrias p a r a v iv e r m elho r.
d e se o b se rv a r q u e o s m e n o re s est o se n d o v tim a s d a legislao: o m e n o r
d e 16 a n o s n o c o n tr a ta d o p a r a tra b a lh a r d e v id o p o s sib ilid a d e d e lo g o se r
v ir o E xrcito e a e m p r e s a ter q u e c o n tin u a r p a g a n d o o FGTS; a q u e le com m ais
d e 14 a n o s p re c isa se r c o n tra ta d o c o m o a p re n d iz . N o h m u ita v a r ie d a d e d e
c u rso s p ro fis s io n a liz a n te s p a r a to d a s as vocaes. A ssim , o E s ta d o oferece o
m n im o a o s a d o le sc e n te s, in clu sive e m te rm o s d e in v e s tim e n to social e d e es
portes. P ou cas so as cid a d e s o n d e h canchas d e espo rtes n o s bairro s, p a r a q u e o
adolescente, sa in d o d a escola, e m v ez d e ficar ocioso, su jeitand o -se a se r a tra d o
0 relacionamento aparentemente fcil, mas, na prtica, complexo, tanto que muitos casais aca
bam se separando, no porque lhes falte amor, mas porque no percebem que os conflitos decorrem
da forma como discutem, se criticam, ou se fazem de vtimas ou ainda mantm constante tnica
pessimista. Confesso que quando fiz o curso de doze semanas de Relaes Humanas e Comunica
o Eficaz no Dalle Carnegie fiquei envergonhado de tantos erros cometidos!!! Tal curso ou equiva
lente deveria ser obrigatrio para todas as pessoas que mantm relacionamento com o pblico, a
comear por professores, juizes, membros do Ministrio Pblico, profissionais liberais etc.

D E S A F IO S DA C I D A D A N I A ! 2 5 3

p e la s d ro g as, p o s sa p ra tic a r a lg u m esporte. fcil e n tre g a r-se s d ro g a s, p o rq ue,


co m o in im p u t v e l, to rn a-se u m inocente til n a s m o s d o s traficantes.
N a m d ia , a p r e s e n ta d o a o s a d o le sc e n te s u m m u n d o irreal; c a rro s n o v o s e
re q u in ta d o s , m u lh e r e s belas, m anses... E eles n o c o n s e g u e m te r s e q u e r u m
ca rro u s a d o , b e m sim p les. A c rescen tem -se a isso d e c e p e s a m o ro s a s, conflitos
fam iliares, in satisfao c o m o e m p re g o , e est a b e rto o c a m in h o p a r a as drogas.
J o a q u im N a b u c o observav a:

A m e lh o r e d u c a o a q u e la que c o n s e g u e transm itir d e u m a g e ra o a


o u tra m a io r s o m a d e e x p e ri n c ia e d e s a b e d o ria . A a rte d e viv er , afinal,
a q u e m a is im p orta aprend er. O s e le m e n to s principais d e u m a e d u c a o
n ac io nal s o os q u e t e n d e m a m a n te r o c a r te r d a ra a , a s tra d i e s e os
c o s tu m e s d a terra. Tal e ra a n tig a m e n te o objetivo d a e d u c a o . H o je e la
e n s in a c ria n a tudo, m e n o s viver.

N a d isc ip lin a C id a d a n ia n ecessrio m in is tra r lies d e tica, ta n to tericas


q u a n to p r tic a s, p a r a q u e as c rianas e os jo v e n s a p r e n d a m a a v a lia r e re sp e ita r
o s v a lo re s ticos e m o rais.
D isse rta e s d e m e s tr a d o e teses d e d o u to r a d o d e v e r ia m vo lta r-se , p re fe
re n c ia lm e n te , p a r a o s a ss u n to s p e c u lia re s re g i o o u d e in te re s se nacional.
D iz C o n treiras:

"As g ra n d e s u n iv e rs id a d e s a m e ric a n a s t m m a is d e 8 0 % d o o r a m e n to
c ob erto p elo Tesouro, Afinal, a n a o g e s ta d a d en tro d a u n iv ersidad e.
S o b re v iv e e s e a p e rfe i o a e m g ra n d e p arte a tra v s d a s univ e rs ida d e s .
U m a b o a u n iv e rs id a d e custa caro, m a s g a ra n te re s u lta d o s c o n cretos. Por
e x e m p lo : a te c n o lo g ia d e o f f s h o r e , q u e d e u a lid e r a n a m u n d ia l
P e tro b ra s , surgiu na C o o rd e n a o d e P ro g ra m a s d e P s -G r a d u a o e m
E n g e n h a r ia (C o p p e ), d a U F R J . 0 s is te m a d e s e n s o re a m e n to d e leo,
m o d e la r no m u n do , tam bm ",

E n q u a n to ficam o s f la n a n d o n a s n u v e n s , o s e m p r e s r io s e stra n g e iro s, com

Apud RNAI, Paulo. D ic io n rio u r)iversal d e cita e s. So Paulo; Circulo do Livro, 1985, p, 289,
* * CONTREIRAS, Hlio. Q u a se u na n im id a de . In Isto ", 27 de maro de 2002, p. 12.

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

esp rito p r tic o e co m p e titiv o , b u s c a m n a s u n iv e r s id a d e s as p e s q u is a s d e seu


in teresse. N o Brasil, m u ito s p s - g r a d u a n d o s e la b o ra m tra b a lh o s q u e in te re s
sem a p e n a s a eles m e s m o s e a o s o rientado res... Isso c e rta m e n te o c o rre p o rq u e ,
d ife re n te m e n te d o q u e o co rre n o s p a se s d e se n v o lv id o s, n o Brasil o se to r p b li
co est se m re c u rso s p a r a p esq u isa s, e as e m p re sa s, p rin c ip a lm e n te as m u ltin a
cionais, d e s e n v o lv e m s u a s p e sq u isa s e se u s p ro je to s sem e n v o lv e r as u n iv e rsi
d a d e s, C o m isso, h u m efeito social p erv e rso : a cincia, q u e d e v e ria se r c an ali
z a d a p a r a o b e m c o m u m , a caba s e r v in d o a p o u c o s; e m v e z d e ficar c e n tr a d a n a
U n iv e r s id a d e , d e b a n d a p a r a as m u ltin a c io n a is . A ss im , o c o n h e c im e n to e m
v e z d e se r p a r tilh a d o p e la c o m u n id a d e , p a s s a a s e r d e s f r u t a d o p o r e m p re s a s
p r iv a d a s .
E x e m p lo d is so o q u e est o c o rre n d o com as se m e n te s tra n sg n ic a s d e soja.
Q u a n d o u m a m u ltin a c io n a l as la n o u no m e rc a d o , h o u v e r e p d io im e d ia to aos
tra n sg n ic o s, n o se le v a n d o e m co n ta os se u s benefcios, p o is eles to m a m cer
tos p r o d u to s alim entcios im u n e s a ag ro t x ic o s (to p r e s e n te s n a a g r ic u ltu r a
b ra sile ira ). C o n tu d o , o a g ric u lto r ficar re f m d a q u e la m u ltin a c io n a l. Se tais
s e m e n te s tiv e s s e m s id o d e s e n v o lv id a s p e la E m b r a p a , iss o n o a c o n te c e ria ,
p o r q u e o s c o n h e c im e n to s re la tiv o s a elas se ria m p a r ti lh a d o s e n tr e to d o s os
b ra sile iro s.
E at re c o m e n d v e l q u e a s u n iv e rs id a d e s p b lic a s tra b a lh e m e m p a rc e ria
com e m p re s a s p a rtic u la re s e m pro je to s d e d e s e n v o lv im e n to tecnolgico, p o r
q u e a ssim se concilia o in te re sse p b lic o c o m o p a rtic u la r: a e m p r e s a fin an cia os
p ro jeto s e a u n iv e r s id a d e os d esen v o lv e. M as esta q u e d ir se os pro je to s so
ticos e a te n d e m ao b e m c o m u m ; caso co n tr rio , d e v e r recus-los.
A p ro p s ito d o a s s u n to , o pro fe sso r R oberto R o m a n o a d v e rte criteriosam ente:

"(...) m ister q u e as u n iv ersidad es e institutos d e p e s q u is a e n tre m , c o m


o s p o d e re s polticos e c o m os m a is a m p io s s e to re s sociais, n u m a lgica
n o v a do n exo e n tre sbios e povo ignorante, N o m a is possvei a c e ita r
0 eiitism o a c a d m ic o q u e m a n t m os c a m p i en q u a n to e s p a o d e p u re za
e rigor cientficos, c o m o se a ta re fa d e e d u c a r os p ov os n o fos s e ta re fa
im e d ia ta d o E s ta d o n as sua s trs fac e s , e c o m o se a m e d ia o universi
tria n o fos s e urg en te. P o r outro lado, n o m a is p ossvel, d a d a a crise
do Executivo, crise p ro je ta d a s ob re o poltico e m g eral e s o b re o Estado,
d e m o d o indevido, q u e a c o m u n id a d e cientfica p ersista e m m a n te r re la

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

e s q u a s e u nilaterais c o m e s te poder, ig n o ra n d o os dois outros e a soci


e d a d e e n v o lv e n te .

C o n v iria q u e n o Brasil fossem c o n c e d id a s b o lsa s d e e s tu d o s p a ra os a lu n o s


s u p e r d o ta d o s d e s p r o v id o s d e re c u rs o s fin an ceiro s. A ss im , d a r-s e -ia m a eles
co n d i e s p a r a e s tu d a r e a ju d a r o d e se n v o lv im e n to cientfico d o pas. Po d er-seia c e le b ra r c o m eles c o n tra to s p a ra que, d e p o is d e fo rm a d o s , p o r d e te r m in a d o
te m p o p e rm a n e c e s s e m n o Brasil o u ficassem v in c u la d o s s e m p re s a s q u e neles
in v e stira m .
P re te n d ia - s e a d e m o c ra tiz a o d o e n s in o s u p e r io r , a b r in d o as p o r ta s d a s
u n iv e r s id a d e s e fa c u ld a d e s p b lic a s s classes sociais m e n o s fa v o re c id a s, e n
q u a n to as p a r tic u la re s a te n d e ria m s m a is fav orecid as. T o d a v ia , fru s tro u -s e essa
expectativ a: d e v id o deficincia n o e n sin o p b lic o p r -u n iv e rs it rio , os e s tu
d a n te s com b o a situ a o financeira, q u e p o d e m e s tu d a r e m m e lh o re s esta b e le
c im e n to s e fa z e r b o n s c u rso s p r -v e stib u la re s, p a s s a r a m a o c u p a r c a d a v e z m ais
v a g a s d a s in stitu i e s p b lic a s d e e n s in o s u p e rio r. O p re ju z o social sensvel:

T a m b m a d e m o c ra c ia poltica -

u m a d e m o c ra c ia c o m p a tv e l c o m um

p o d e r e x e cu tiv o e fic a z - te m q u e s e r p ro m o vid a , q u e r dizer, o rg a n iz a d a


s o c ia lm e n te . E isso m e d ia n te o fom en to , a o m e s m o te m p o terico e p r
tico, d e u m a a u t n tic a e d u c a o poltica, e m e d ia n te a s o c ia liza o , s e m
e s ta tific a o c e n tra liz a d o ra , do ensino e dos m e io s d e c o m u n ic a o de
m a s s a . A U n iv e rs id a d e , o rdio, a tele v is o etc ., t m q u e s e r convertidos,
n o poltica, m a s a d m in is tra tiva m e n te , e m s e r v i o p b lic o (a fu n o do
direito adm in is tra tivo na re g u la m e n ta o social do futuro p r xim o s e r
g ra n d e m e n te im p ortan te), ju s ta m e n te p a ra q u e tod os os c id a d o s e to
dos os g ru po s t e n h a m a c e s s o a e le s , e m v e z d e c o n tin u a r s e n d o m o n o
p oliza d o s por alg u n s d e le s privilegiada e c a p ita lis tic a m e n te .^*

O s m a is p o b r e s n o c o n s e g u e m acesso s u n iv e r s id a d e s p b lic a s p o r q u e
Z'" ROMANO, Roberto. 0 caldeiro de Medeia: 0 problema da soberania popular, da soberania estatal e
das cincias, fioje. Texto disponvel na internet, a t r a v s do site h ttp : / / w w w . D a e . s p - Q o v . b r /
c e n t r0 d e e s tu d 0 s /re v is ta s p Q e /re v is la 2 /a rtiQ 0 l 1 .h im , acessado em 2 5 de abril de 2 0 0 4 ,

w ARANGUREN, Jos Lus L. tica e poltica. Traduo de Wanda Figueiredo. So Paulo: Duas Cida
des, 1979, p, 207-208.

2 5 6

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

p ra tic a m e n te n o t m te m p o p a ra e s tu d a r, p re c is a n d o tra b a lh a r p a r a so b re v i
ver, e n o p o d e m e s tu d a r n a s p a rtic u la re s, p o r q u e n o p o s s u e m co n d i e s fi
n a n c e ira s p a r a p a g -la s. O u e n t o e n c a m in h a m -s e s p a rtic u la re s p o r q u e nas
fa c u ld a d e s fe d e ra is p b lic a s , in g re s s a m o s u n iv e rs it rio s o r iu n d o s d e m e lh o r
n v el fin an ceiro e in telectual, u m a v e z q u e o nivel d o s p ro fe s so re s c m a is e le v a
do. E v id e n te m e n te q u e os p a is q u e r e m d a r o m e lh o r n v e l e d u c a c io n a l aos fi
lhos, e e n t o o e n s in o q u e d e v e ria se r c o b ra d o d a classe alta g ra tu ito , e o q u e
d e v e ria se r g ra tu ito p a r a a classe baixa p a g o . E sta m o s a g in d o n a c o n tra m o
d a h istria.
O h is to ria d o r n o rte -a m e ric a n o T h o m a s S k id m o re incisivo: " O p a s recorre
a f rm u la s e stra n g e ira s n e m s e m p re boas. O siste m a poltico n o Brasil d istrib u i
d in h e iro p a r a cim a, p a r a as classes m d ia e alta. A s u n iv e r s id a d e s p b lic a s so
u m su b s d io d o s p a g a d o r e s d e im p o sto s p a r a r i c o s " . ^
E n q u a n to se c o m e te m tais ag ress es a o b o m sen so , o s p o b re s e a s m in o ria s
raciais m e n o s fav o recid as, q u e d e v e ria m te r livre acesso s u n iv e r s id a d e s , fi
c am c a d a v e z m a is a b a n d o n a d o s .
In fring e-se fro n ta lm e n te o p rin c p io d e ig u a ld a d e c u n h a d o p o r Aristteles^^*
e le m b ra d o p o r R ui Barbosa:

A reg ra d a ig u a ld a d e n o consiste s e n o e m a q u in h o a r d e s ig u a lm e n te
a o s d es ig u a is , na m e d id a e m q u e s e d e s ig u a la m . N e s ta d e s ig u a ld a d e
social, p ro p o rc io n a d a d e s ig u a ld a d e natural, q u e s e a c h a a v e rd a d e ira
lei d a igualdade".^'

3.37 CIVISMO
R e sp e ita r o s sm b o lo s n a c io n a is n o d e v e r ex clu siv o d o s m e m b r o s d a F o r
as A rm a d a s , m a s d e to d o cidado .

SKIDMORE, Thomas. Chega de receitas. In Veja", 19 de abril de 2000, p. 14.


" E justia aquilo em virtude do qual se diz que o homem justo pratica, por escolha prpria, o que
justo, e que distribui, seja entre si mesmo e um outro, seja entre dois outros, no de maneira a dar
mais do que convm a si mesmo e menos ao seu prximo (e inversamente no relativo ao que no
convm), mas de maneira a dar o que igual de acordo com a proporo; e da mesma forma quando
se trata de distribuir entre duas outras pessoas" (ARISTTELES. tica a Nicmaco, Coleo Os
Pensadores, vol. IV. So Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 329).
BARBOSA, Rui. Discursos, oraes e confernc/as, tomo II, p. 418,

D E S A F IO S D A C I D A D A N I A * 2 5 7

N o p o r q u e tiv e m o s u m lo n g o p e ro d o d e g o v e rn o m ilita r q u e os sm bolos


n a c io n a is s o "co isas d a d ita d u r a " , co m o se os m ilita re s fo sse m u m p o v o d ife
re n te d e n tr o d a nao.
A c id a d a n ia s o m e n te p o d e ser edificada sobre os p ilares d o civism o. E na
dem o cracia q u e d e v e m ser re a v iv a d o s e p re se rv a d o s os valores tradicionais, p o r
que, co m o se c o stu m a dizer, " p o v o q u e n o cu ltu a o p a s s a d o n o ter futuro".
As a titu d e s cvicas d e v e m c o m e a r n a s escolas, c a n ta n d o -se , p e lo m e n o s u m a
v e z p o r s e m a n a , o H in o N acio nal. U m a v e z fin do , c o n v m q u e seja a p la u d id o ,
d a n d o - s e v a z o a o s s e n tim e n to s, a p e n a s n o p o d e h a v e r a p la u s o e n q u a n to est
s e n d o e x e c u ta d o . E a b a n d e ir a n acio nal d e v e se r re v e re n c ia d a , p o r q u e d e sre s
p e ito a ela d e sre s p e ito a o p r p r io pas.
Q u e m n o v iv e u u m a forte em o o v ista d a b a n d e ir a nacio nal?
E st v a m o s v ia ja n d o p ela regio sul d o C hile, q u a n d o v im o s u m ciclista s u
b in d o u m m o rro , e m d ire o aos v u lc es e a o s lago s, c o m a b a n d e ir a b rasileira
tr e m u la n d o n a g a r u p a d a bicicleta.
A q u ilo p o d e r ia p a re c e r u m a a titu d e c o m u m , m a s n o era. A q u e le jo v e m no s
e n sin a v a m u ito . T iv e ra o so n h o d e re a liz a r u m a v ia g e m d e bicicleta p o r u m p as
e stra n g e iro , e re v e la v a a c o ra g e m d e e n f r e n ta r in m e r o s o b s t c u lo s p a r a a re a
lizao d e s s e s o n h o , p e d a la n d o c o m g a rra , p o is tin h a certe z a d e q u e ch eg aria
ao d e stin o . O jo v e m re v e la v a m a is ainda: o o r g u lh o d e se r b rasileiro . Ele p e d a
lava so z in h o , m a s c e rta m e n te sen tia q u e con sigo e sta v a to d a a n a o brasileira.
Ser q u e o Brasil n o p re c isa ser, n o c e n rio in te rn a c io n a l, esse jo v e m a p e
d a la r?
O s p o v o s c o m e le v a d o e sp rito cvico p r o g r id e m m ais.
R o b e rt P u tn a m inform a:

Eu e m e u s c o la b o ra d o re s e s tu d a m o s por m a is d e vinte a n o s govern os


locais 6 regionais n a Itlia. Todos e s s e s g o v e rn o s t m o m e s m o p o d e r
p otencial. E le s s e p a r e c e m no p ap e l. M a s alg u n s s o m uito e fic ie n te s e
inovativos, e a lta m e n te produtivos, e outros n o . E n t o te n ta m o s c o m
p re e n d e r p orqu e e e x p lo ra m o s d iv ersas p ossibilidades. A c o rre la o com
riq u e z a por e x e m p lo -

p e n s a m o s q u e re g i e s m a is ricas s e ria m m a is

b e m g o v e rn a d a s d o q u e as pobres. E x a m in a m o s a c o rre la o c o m a e d u
c a o . E m e s m o c o m a te m p e ra tu ra a o m e io -d ia , p a ra v e r s e h av ia re la
o e n tre efic i n cia dos g o v e rn o s e lu g a re s m a is o u m e n o s q u e n te s . C h e

2 5 8

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

g a m o s c o n c lu s o d e q u e o m e lh o r indicador s o a s s o c ie d a d e s corais 0 g rau d e capital social, d e e n g a ja m e n to cvico. Eu digo s o c ie d a d e s c o


rais c o m o u m sm b o lo - p o d e ria d iz e r clu b e s d e futebo l. O n d e h m a is
e n g a ja m e n to cvico, o g o vern o m ais re s p o n s v e l, d e m o c r tic o e efici
ente.
(...)

A s re g i e s italianas c o m m aio r grau de e n g a ja m e n to cvico horizontal na


Id a d e M d ia s o, a in d a hoje, regies d e b o m govern o. (...)
(...)

A c o rre la o fu n c io n a ig u a lm e n te por e x e m p lo n a nd ia e n a C o r ia . R e
c e n te m e n te um c o le g a m e u fe z um e s tu do c o m p a ra n d o pro jetos d e irri
g a o n a C o r ia e na ndia. E le descobriu q u e n a s re a s c o m m a is c a p i
tal social, m a is a s s o c ia e s locais, m a is e n g a ja m e n to c vico , os s is te
m a s d e irrigao fu n c io n a m m elhor. E les s o m a n tid o s m a is e fic ie n te
m e n te pelos c a m p o n e s e s , e a agricultura m a is produtiva. A o contrrio,
e m re a s d a C o r ia e d a ndia o n d e a estrutura social m a is vertical, a
p ro du tiv ida d e m enor. O n d e a estrutura vertical, a coisa pblica n o
d e m in h a resp on s ab ilid a d e , d e le s - d a q u e le s q u e e s t o e m c im a . P o r
tan to, n o d e v o im p o rtar-m e c o m a irrigao, A p e rc e p o d a coisa pbli
c a c o m o as s u n to d e m tua resp on s ab ilida d e o q u e d istingue u m a r e a
d e alto e n g a ja m e n to cvico d e u m a d e estrutura v e rtical.^^^

V erifica-se, e n t o , q u e o c iv ism o d e v e se r c u ltiv a d o in c lu siv e p a r a fins d e


d e s e n v o lv im e n to d e u m p o v o , e le v a n d o -se s u a q u a lid a d e d e v id a.

3.38 GLOBALIZAO
P la t o d isse q u e era c id a d o d e A ten as, vista d o q u e Scrates afirm o u : Eii
sou cidado do m u n d o . T o d a v ia , a g lo b a liz a o a n i q u i l o u o s e n t i m e n t o d e

c o sm o p o litism o . O h o m e m , q u e d e v e se r c id a d o d o m u n d o , te r s u a d ig n id a d e
r e s p e ita d a e m q u a lq u e r na o , tra n s fo rm o u -s e e m u m se r m e rc a n tiliz a d o . E o
pior: h a e sc ra v iz a o d e to d a s a s naes a u m p o d e r central. F icam o s escrav o s
d e m o d e r n o s faras.
S e m p re h o u v e p o r p a r te d o s in telectu ais o s o n h o d e q u e o m u n d o fosse o lar

"

PUTNAM, Robert D.

A era do egosmo. In "Veja, 18 de maio de 1994, p. 8-9.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

d e to d o s ns. E sse s o n h o a d v m d o cristian ism o , q u e a p r e g o a a c o m u n h o fra


te rn a e n tre os h o m e n s . T h o m a s Pain e revela esse ideal: " I n d e p e n d n c ia m in h a
felicid ad e e vejo as coisas c o m o elas so, se m c o n s id e ra o a lu g a r o u pessoa.
M e u p a s o m u n d o e m in h a religio fazer o bem".^^-^
A g lob alizao , q u e d e v e ria favorecer a realizao d e s s e so n h o , te m re v e la
d o faces a m a rg a s: p a r a os pa se s g lob a liz a n te s ela e x tre m a m e n te in teressan te,
u m a v ez q u e tais p a se s s u g a m as riq u e z a s d o s dem a is. P ara o s p a se s g lo b a liz a
d o s, u m a tra g d ia . O lim ia r d a globalizao re v e lo u q u e , fin a n c e ira m e n te , foi
u m t o r n a d o a r r e b e n ta n d o c o m e m p re s a s , naes, a n iq u ila n d o p o v o s. Ela foi
p rfid a e p e rv e rs a . Essa d e v a s ta o d e s e n c a d e a r u m a re a o a n ta g n ic a , p r o
v o c a n d o a d e sg lo b a liz a o financeira. T alvez p o s s a c o n te r a v o r a c id a d e d a q u e
la. E ele v a r o h o m e m ao n v el racional: n o era a q u e la g lob alizao so n h a d a .
M a s q u e m sa b e o s g ra n d e s ld eres p o ss a m d isc e rn ir q u e a a tiv id a d e co m ercial
a p e n a s m e io p a r a a c o n d u o d e u m a g lo b alizao h u m a n is ta .
A s e m p re sa s , p re c is a n d o e n x u g a r c u sto s p a r a e n fre n ta r a c o m p e titiv id a d e
n o m e rc a d o in te rn a c io n a l, d e m ite m g r a n d e n m e r o d e tra b a lh a d o re s, N o s p a
ses q u e im p o r ta m se u s p r o d u to s ta m b m h d e m iss o d e tr a b a lh a d o re s , p o r
q u e o s im p o r ta d o s m u ita s vezes so m a is c o m p e titiv o s q u e os locais, c o m o que
a p r o d u o d e ste s so fre re d u o . Isso se m d iz e r q u e se e x p e m d u a s vertentes;
a) e m relao ao c a p ita lism o , p r e d o m in a m as g r a n d e s e m p re s a s, q u e c o n tro la m
o m e rc a d o ; b) e m relao aos p a se s c o m u n ista s, fortalece-se o c a p ita l e statal e
a u m e n ta a e s c ra v id o d o p o v o , c o m reflexos n o re b a ix a m e n to d a q u a lid a d e de
v id a d e o u tro s p o v o s. T a n to u m fato q u a n to o u tr o ficaram e v id e n te s q u a n d o da
a b e rtu ra d o Brasil a o m e rc a d o externo: os p r o d u to s v in d o s d o ex te rio r d e v a s ta
r a m a s in d s tr ia s b rasile ira s, q u e tiv e ra m q u e se a d e q u a r , o q u e tro u x e o fato
p o sitiv o d e d e s p e rt -la s p a r a a c o m p e ti o n o m e r c a d o in te rn a c io n a l. P r o d u
tos, p o r ex e m p lo , v in d o s d a C h in a, p a s s a r a m a se r c o n s u m id o s aq u i e m g ra n d e
escala, p r o v o c a n d o o d e s e m p r e g o d e g r a n d e p a r te d o s tr a b a lh a d o r e s b rasilei
ros, p e la q u e b r a d e e m p r e s a s n a c io n a is o u p e la recesso. M a s a lim e n ta m o s ta m
b m a e s c ra v id o d o s tr a b a lh a d o re s chineses. S u rg e , in fe liz m e n te , a auto fa g ia
e sc ra v o c ra ta .
O s tr a b a lh a d o re s j n o lu ta m p o r salrios, m a s p e lo e m p re g o . E a q u e le s q u e
m a n t m o e m p r e g o so fre m as co nseq n cias, p o is h re b a ix a m e n to d e su a qu aCf. Paine, Thomas, 0 $ D ire ito s d o H om em . Traduo de Jaime A, Clasen. Petrpolis, Vozes, 1989,
p, 194.

2 5 9

2 6 0

D iR C E U G A L D IN O C A R D IN

lid a d e d e v id a , c o m n iv e la m e n to p o r baixo. P a u lo B o n a v id e s e x te rio riz a s u a


in d ign ao;

A fig u ra -s e -n o s to d a via q u e a g lo b a liza o fe z d u a s g aiolas: u m a , d e luxo,


to d a e s p e c ia l espao

m a is u m viveiro a b e rto , d o ta d o d e a m p lo e a re ja d o

re s e rv a d a a o s povos do Prim eiro M un do ; o utra, p e q u e n a , e s

treita, fe c h a d a , suja e o b s c u ra , d e s tin a d a a o s p a s s a rin h o s d o Terceiro


M u n d o . F ic a m e s te s c o n fin ado s n ela p a ra s e m p re . Q u e m ali e n tra h de
e n tra r c o m o a s a lm a s no inferno d e D a n te - ou s e ja, e n tra m p a ra v ia g e m
s e m retorno

M a s ta m b m n a E u ro p a oco rre q u e d a d o n vel eco n m ic o d o p o v o , a u m e n


ta n d o as d e s ig u a ld a d e s sociais. D iz o ex-chanceler a le m o H e lm u t Schm idt:

"... 0 pon to m a is im p ortan te q u e o alto nvel s a larial e o e le v a d o p a d r o


social dos p a s e s e u ro p e u s im plicam n a tu ra lm e n te alts s im o s cu s to s de
p ro d u o d ia n te dos p a s e s d e b aix a re n d a e c o m b aix o p a d r o d e vida.
S e os produtos q u e fa z e m o s p o d e m s e r co n fec c io n a d o s e m q u a lq u e r outro
lug ar d o m u n d o c o m a q u a lid a d e do m a d e in G e r m a n y e a u m preo
b e m m a is baixo, e n t o s o b ra m aos e u ro p e u s a p e n a s d u a s alte rn a tiva s . A
p rim eira s e c o n fo rm a r e m a c h a ta r se us salrios e, no futuro, re b a ixa r
seu p a d r o social. A s e g u n d a , a in d a m a is d ecisiva, s e c a p a c ita r p a ra
fab ric a r c o is a s q u e n o p o s s a m s e r p ro d u zid a s e m n e n h u m outro lugar".^^^

Boa o u m , a g lo b alizao existe, e s n o s re sta c o n v iv e r c o m ela, d a m e lh o r


m a n e ira possvel.
O h o m e m ch e g a a o a b s u r d o d e p r o m o v e r g u e rra s s im p le s m e n te p a r a v e n
d e r a rm a s sofisticadas. O so n h o d e M id as, d e tr a n s fo rm a r t u d o e m o u r o , a in d a
est vivo. As g r a n d e s o re lh a s d e b u r r o fo ra m esqu ecidas... M a s elas ta m b m
a p a re c e m . E e s t o m a io re s d o q u e se pensa!
T e n d o e m v ista q u e essa v e rte n te econ m ica a v a s sa la d o ra , c o m o a h ist ria
BONAVIDES, Paulo. Teoria c o n s titu c io n a l d a d em o cra cia p articip ativa . So Paulo: Malheiros, 2001,
p. 30.
"

D p a ra co ntrola r. Entrevista de Helmut Schmidt a Jos Galini Filho. In Veja", 21 de fevereiro de


2001, p. 15.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

tem d e m o n s tra d o , u m im p e ra tiv o so co rrer-se d a g lo b a liz a o poltica. Esta


precisa a te n u a r os efeitos d e v a s ta d o re s d a q u e la . Se q u a n to a o s in te re sse s fin an
ceiros n o h so lid a rie d a d e , e sta precisa p re v a le c e r n a p o ltic a in tern acio n al.
N o se p o d e m c o n s tr u ir im p rio s s o te rra n d o naes, n e m s u g a n d o a s riq u e z a s
d o s p o v o s. O b e m -e s ta r social d e v e se r g lob alizan te. C a d a c ria tu ra te m a o b ri
ga o d e ser re sp o n s v e l p ela ou tra.
N e n h u m a id e o lo g ia se justifica p a ra e sc ra v iz a r p e sso a s, a in d a q u e a escra v i
d o seja sutil. A d v e rte T h o m a s Pain e, e m O s d ire ito s d o h o m e m " : "T o d o c id a
d o u m m e m b ro d a so b era n ia e com o tal n o p o d e a d m itir sujeio p essoal,
s u a o b e d i n c ia e x istin d o a p e n a s e m relao s leis".^-^^
A ssim , a m e lh o r fo rm a d e c o n v iv e r co m a g lo b a liz a o n o ig n o r -la e
p re p a r a r- s e p a r a e n fren t-la. E o Brasil d e v e en fre n t -la c o m d e te rm in a o , co
m e a n d o p o r a s s u m ir a lid era n a d a A m rica L atina.
H co nflitos in te r n o s e n tre tra b a lh a d o re s e e m p r e g a d o r e s . E n q u a n to eles
d ig la d ia m , os e stra n g e iro s rein am .
O s s in d ic a to s d o s tra b a lh a d o re s e os d o s e m p r e g a d o re s re n e m -s e a p e n a s
u m a v e z p o r an o , co n fo rm e d e te rm in a a legislao tra b a lh ista , e a in d a assim em
p d e g u e rra . N o e sta b e lec e m d ilog os; n o p r o c u r a m s u p e r a r obstculos...
M u ita s v e ze s, h d e s e m p re g o d e c o rre n te d a falta d e d i lo g o d o s p r p rio s
sin d ica to s, cujos d irig e n te s p a re c e m n o ter m a tu r id a d e p a r a e n fre n ta r o p r o
b le m a e e s tu d a r e m c o n ju n to a lte rn a tiv a s d e soluo.
A b rim o s n o sso m e rc a d o p a r a p a ses c o m u n ista s, p rin c ip a lm e n te p a r a a C h i
na, q u e e x p o rta s e u s p r o d u to s a p re o s a lta m e n te c o m p e titiv o s g ra a s esc ra
v id o b ra n c a . D e fe n d e m o s a rd o ro s a m e n te o s d ire ito s h u m a n o s , m a s p e rm iti
m o s a im p o rta o d e sse s p r o d u to s , e s tim u la n d o a e x p lo ra o d a m o -d e -o b ra
n a q u e le s p a se s e le v a n d o m u ita s e m p re s a s b rasileira s falncia, c o m a u m e n to
d o d e se m p re g o .
E sta m o s d e s p r e z a n d o n o sso s cientistas. M u ito s j d e b a n d a r a m p a ra o u tro s
pa se s, o u tr o s p e n s a m e m p a rtir, e a q u e le s q u e ficam n e m s e m p r e so v a lo riz a
d o s e b e m -a p ro v e ita d o s . A s u n iv e rs id a d e s d e v e r ia m e s tim u la r p ro je to s d e e x
te n so , in te r a g in d o in te n s a m e n te com a classe e m p re sa ria l. A m b o s g a n h a ria m ,
p o r q u e a u n iv e r s id a d e tem g ra n d e p o ten cial, q u e d e sc o n h e c id o p o r m u ito s
e m p re s rio s, e as e m p r e s a s tm u m g ra n d e n m e r o d e a tiv id a d e s q u e a u n iv er Cf. Paine, Thomas. O s D ire ito s d o H om em . Traduo de Jaime A. Ciasen, Petrpoiis, Vozes, 1989,
p. 159.

262

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

s id a d e ig n o ra e p o d e r o se r a p rim o ra d a s. Ento, in d isp e n s v e l a m p lo d i lo g o


e n tre a u n iv e rs id a d e e as e m p re sa s, e a a d e q u a o d e in te re sse s, o q u e p ro p ic i
aria e x ce le n tes re s u lta d o s . T o d a v ia , o b se rv a F ra n c o S o b rin h o : a u n iv e r s id a
d e b ra sile ira n o te m o rg a n iz a o a d e q u a d a a o s s e u s fin s, e st c a r e n te d e e s
t r u tu r a s ra c io n a is d o c e n te s e a d m in is tr a tiv a s , d e s p r e p a r a d a p a r a a s u a m is
so d e c u ltu ra , s e m c o n d i e s p r p r ia s q u e le v e m a b e m s e r v ir a n a o e a
ju v e n tu d e " .
N a c r n ica U M A U N IV E R SID A D E C O M O D EV E SER acrescenta;

U m a u niv e rs id a d e n o e s t a s o m e n te p a ra d ip lo m a r profissionais.
T a m b m n o um o rg an is m o o n d e o p esso al d o c e n te p a g o te n h a a p e
n as o b rig a o d e c o m p a r e c e r s aulas, re p e tin d o v e lh o s tex to s surrad os,
p re e n c h e n d o form ulrios ou a s s in a n d o livro-ponto. U n iv e rs id a d e p ro
d u o c ientfica, intelectual, livro, p e s q u is a e con tribu io c o n s ta n te no
p ro ce s s o d e d es e n v o lv im e n to , convvio a m p lo d e esfo ro s individuais e m
b en e fc io d a cultura e d a coletividade, a q u e p erte n c e .
R e s s a lt a , a s s im , d e im p o r t n c ia , o n d e e s t lo c a liz a d a , a in flu n c ia
g e o e c o n m ic a q u e re c e b e e os resultados d e s s a influncia. E x e m p lo re
petido: u m a u niv e rs id a d e no A m a z o n a s n o d e v e p re s ta r os m e s m o s s e r
vios q u e u m a u niversidad e e m S o Paulo.
E v id e n te q u e e x is te m p on to s c o m u n s b s ic o s, s e m , p o r m , q u e e s te s
pontos a fe te m a n a tu re z a dos estu do s e d a s p e s q u is a s d e c a r te r local,
n acional ou universal, d e s ta c a n d o o h o m e m d o c e n te na e s p e c ia liz a o e
c a p a c ita o .
F o c a n d o o f e n m e n o d a cultura, no to c a n te tc n ic a ou ci nc ia , s se
tra n s m ite o q u e s e possui d e concreto. N o c a m p o d a p e s q u is a te m de
h a v e r c o n tin u id a d e e p ro cu ra d e s o lu es n o v a s . N a s c i n c ia s a p lic a d a s
im p o rtan te o registro m aterial dos es tu d o s re a liza d o s , a tra v s d e e n s a i
os, te s e s ou m o n og ra fia s , fixa n d o -s e um m o m e n to d o a v a n o intelectual.
A u n iv e rs id a d e d e hoje p re p a ra a u niversidad e d o a m a n h , s im p le s m e n te
tra b a lh a p a ra o futuro.
A o con trrio d a u niversidad e brasileira d e a g o ra , transitria nos p ropsi
tos e m al instru m e n ta d a , u m a u niv e rs id a d e t o e te rn a c o m o p o s s a ser
SOBRINHO, Manoel de Oliveira Franco. Op. cit., Universidades Carentes de Racionais Estruturas (II),
p. 47.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

u m a N a o , t o e s t v e l ou p e rm a n e n te c o m o d e v a s e r a h u m a n id a d e .
E la povo p o rq u e s e rv e o povo, m a s n o fica povo p o rq u e cria v a lo re s de
lid e ra n a . Q u a n d o u m a u niversidad e n o p articip a ou n o te m con di es
d e p articip ao , a s crises internas s e a m p lia m tra n s fo rm a d a s e m outras
crises m uito m a is p erig o s a s p a ra a s o c ie d a d e p o ltica.

H ta m b m falta d e d i lo g o e n tre o g o v e rn o e a classe e m p re s a ria l, o q u e


m a is g ra v e n a s p o c a s d e crises d ec o rre n te s d a poltica e c o n m ic a in te rn a c io
nal. N e ss a s ocasies, os e m p re s rio s e s p e ra m q u e o g o v e rn o re so lv a o p ro b le
m a, e o g o v e rn o e sp e ra q u e a so lu o seja e n c o n tra d a p e lo s e m p re s rio s. in
d isp e n s v e l a u n i o d e esforos, e p a r a isso o C o n se lh o d e D e se n v o lv im e n to e o
C o n se lh o d a C id a d a n ia p o d e m p re s ta r valiosa con trib uio .
C o m a glo b alizao , o co rre v e rd a d e ira p ira ta ria fin a n ce ira e m m b ito m u n
dial, c o m o ficou re v e la d o p elo ab alo d a s bolsas d e v a lo re s d e v rio s pases.
q u e s t o d e lgica: se u m g r u p o e x p ressiv o d e in v e stid o re s re s g a ta r e m c u rto
p e ro d o su a s ap lica es e m d e te r m in a d a b olsa, ela so fre r forte a b alo , co m sri
os p ro b le m a s p a r a o p a s e m q u e se localiza. O ra , p a ra q u e tal re sg a te ocorra,
b v io q u e h a rticu la o d e g ru p o s financeiros.
H e lm u t S c h m id t o bserv a: " O q u e a b so lu ta m e n te n o v o o p o d e r d o s n ovo s
a to res financeiros. U m p o d e r n a d a tra n sp a re n te , p o r sinal".
N e m m e s m o o FM I, q u e u m a in stitu i o d e s tin a d a a a ju d a r os p a se s a
s a n a r os p ro b le m a s d e su a e co n o m ia, atin g iu essa fin a lid a d e , c o m o d e m o n s tra a
an lise h ist rica feita p o r P a u l Blustein, e m "V exam e": "M a s n o s a n o s 90, m e r
c ad o s d e d im e n s e s , d in a m is m o e p r o p e n s o p a r a tu rb u l n c ia s e m la rg a escala
m u ito su p e rio re s a o s re c u rso s e h a b ilid a d e s d e q u e o FM I p o d e la n a r m o se
to r n a r a m m e n o s confiantes. O s esforos d o F u n d o p a ra lid a r c o m as crises fazi
a m p e n s a r n u m g r u p o d e c iru rg i es o rto p d ic o s c o n v o c a d o s p a r a a ju d a r u m
g r u p o d e p a c ie n te s afligidos d e in s ta b ilid a d e e m ocional. O re s u lta d o q u e o
F u n d o sa iu d a ex p e ri n c ia com a c re d ib ilid a d e a b a la d a ".
O m e n c io n a d o a u to r, q u e fez u m a an lise d o FM I n a crise q u e a b a lo u o siste
m a fin an ceiro m u n d ia l, adverte:

Op, c il, p. 62.

Ibidem , p. 14.
"

BLUSTEIN, Paul. l/exame. Rio de Janeiro: Record, 2002, p, 25-6.

2 6 4

D IR C E U G A L D tN O C A R D IN

A a n lis e d e s s a s situ a e s s e rv e p a ra m o strar a q u e pon to a e c o n o m ia


global ficou voltil n e s s a e ra d e fluxos m a cios d e capital intern acion al. A
n o s e r q u e s e ja m to m a d a s m e d id a s p a ra to rn a r o s is te m a m a is seguro,
a s p r xim a s crises s e r o m a is d e s a s tro s a s ainda".

O b se rv a -se q u e essa a d m o e sta o te m sid o d e sp re z a d a .


C o m o o m e rc a d o in te rn a c io n a l p a s s o u a te r alta re lev n cia, o s e m p re s rio s
d e v e m e s ta r p r e p a r a d o s p a r a e n frent-lo, com p e sso a s c o m b a tiv a s e qu alifica
d a s p a ra r e iv in d ic a r q u e sejam e sta b ele c id as n o v a s re g ra s d e c o n d u ta e m d iv e r
sos seto res, c o m o s u p e rv is io n a m e n to d e o p era e s fin anceiras, in c lu siv e s e g u
ros, m e c a n ism o s d e co n tro le b a n c rio e q u e b ra d e cartis.
R e la tiv a m e n te a estes, a a g ric u ltu ra brasileira c o n sta n te v itim a. D iz P au lo
R o b erto d e A lm eid a:
"O Brasil com petitivo n a r e a a g rc o la , a s s im c o m o os a m e r ic a n o s o
s o e m te c n o lo g ia e p ro p rie d a d e intelectual. Q u e r e m o s q u e e s s a s re a s
s e ja m n e g o c ia d a s d a m e s m a form a. A a b e rtu ra p re c isa s e r re c p ro ca. 0
p ap e l dos p a s e s ricos no co m rc io m undial te m d e s o fre r u m a m u d a n a
radical. In te rn a m e n te , e le s p re c isa m a c e ita r m a is c o m p e ti o . M a s o d an o
m a io r q u e c a u s a m p ela m a n e ira ilegal c o m o m a s s a c ra m os produtos
originrios d e p a s e s p ob res nos m e rc a d o s n o -e u ro p e u s . A o subsidiar
s e u s produ to res rurais, os e u ro p e u s e s t o a rru in a n d o o s p ro du to re s a g r
c olas dos p a s e s p obres. E s s a s itu ao n o p o d e con tin u ar .

T o d a v ia , in fe liz m en te , o Brasil at v isto d e fo rm a p e jo ra tiv a n o exterior,


c o n fo rm e se p o d e o b s e rv a r p e la s s e g u in te s declaraes:
S e r q u e o m u n d o todo s e tra n s fo rm a r num im e n s o Brasil, e m p as e s
c h e io s d e d e s ig u a ld a d e s e c o m g ue tos p a ra as elites ricas? C o m e s ta
p e rg u n ta a g a r ra -s e o touro pelos chifres. E v e rd a d e , a R s s ia e s t se
tra n s fo rm a n d o no Brasil (M ikhail G o rb a c h e v, no F airm o n t H o tel, e m S a n
Fra nc is c o, 1995).^^

Ibidem , p. 26.
"

ALMEIDA, Paulo Roberto. R ico s e a rrog a n te s. In "Veja", 24 nov. 2001, p. 14.

" MARTIN, Hans-Petter & SCHUMANN, Harald. A a rm a d ilh a da g lo b a liza o . 6. ed. So Paulo: Globo,
1999, p. 229.

D E S A F IO S D A C I D A D A N I A ! 2 6 5

A tra i o d a s elites: o Brasil c o m o m o d e lo p a ra o m u n d o .^^

O Brasil p re c isa a g iliz a r se u p ro g re s s o e d e ix a r d e s e r m a n ip u la d o p elas


e m p re s a s e s tra n g e ira s , e s p e c ia lm e n te as n o rte -a m e ric a n a s . A ss e v e ra A b ra m
Szajm an;

C o m o resultado, n o e s ta m o s e n tra n d o n a g lo b a liz a o d e m a n e ira s o


b e r a n a e p ec u liar n o s s a cultura, m a s e s ta m o s sim s e n d o g lo b aliza d o s
a o s a b o r d e in te re s s e s q u e n o s o n e c e s s a ria m e n te os n ossos. N o B ra
sil a g lo b a liza o te n d e a c o n v e rte r-se , s a lvo u m a u rg en te re v e rs o da
poltica (ou falta d e ) e m curso, e m n eo colo nialism o , q u e j e s t nos c u s
ta n d o o c o m a n d o sob re o s eto r b an crio , industrial e a t m e s m o c o m e r
ciai, nos q ua is a v a n a a passo s largos o con tro le do capital e s tra ng e iro.
O q u e nos falta ? S e g u r a m e n te dois fato re s b sico s in e re n te s a q u a lq u e r
projeto nacional; u m a poltica e d u c a c io n a l q u e nos p e rm ita a c e s s o e d o
m n io d a s in o v a e s tec n ol gicas e u m a poltica e c o n m ic a q u e e s tim ule
os inv e s tim e n to s produtivos, d ire c ion an d o o capital e s tra n g e iro p a ra os
s e to re s e m q u e e le fa z falta, e n o nos q ua is a tu a d e m a n e ira e s p e c u la tiv a
ou p redatria".

N s n o lu ta m o s p a ra d e s tru ir, co m o fa z e m a lg u n s p o v o s , m a s d e v e m o s
c o m b a te r p a r a n o s salv ar. C o m isso, e sta re m o s re s p e ita n d o o s d ire ito s alheios,
m a s ta m b m e s ta m o s fa z e n d o c o m q u e re sp e ite m os nossos.
P ara o c o m b a te , in d isp e n s v e l a u n i o . D e v e m o s, e n t o , n o s le m b ra r d a s
grevfleas, q u e, q u a n d o p la n ta d a s e m fileiras e p r x im a s u m a s d a s o u tra s, se r
v e m d e p ro te o a d iv e rso s tip o s d e la v o u ra s, f u n c io n a n d o c o m o q u e b ra -v e n tos. E n tre ta n to , iso lad a s, elas n o re siste m s in te m p rie s. Secam.
P re cisam o s c ria r u m a s o c ie d a d e sa d ia em te rm o s glo b ais, c o m o p re c o n iz a v a
E rich F rom m :

A n te s d e m a is n a d a , u m a s o c ie d a d e n a qual n e n h u m h o m e m s e ja um

Ibidem , p. 239,
SZAJMAN, Abram, A reboque da globalizao, In B a lc o d e N o tcia s F C C E S P . de 22/5/2000 - News
Letter, n 175.

266

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

m eio p a ra a c o n s e c u o dos fins d e o utre m , m a s s e m p re e s e m e x c e o


u m im e m si m e s m o ; portan to , n a q ual n in g u m u s a d o ou fa z u s o d e si
prprio p a ra fins q u e n o s e ja m o d es e n vo lv im e n to d e s e u s prprios p o
d e re s h um an o s : n a q ual o h o m e m o centro, e n a q ual to d a s a s a tiv id a
d e s e c o n m ic a s e polticas s e ja m s ub ordin a da s a o objetivo d o seu c re s
c im en to . U m a s o c ie d a d e s a d ia a q u e la e m q u e as q u a lid a d e s c o m o a v a
re z a , a e x p lo ra o , p os s e e narcisism o n o t m o p o rtu n id a d e d e s e r u s a
d a s e m m a io re s g a n h o s m ateriais ou n a p ro m o o d o p restg io p ess o al.
a q u e la e m q u e a a o e m c o n c o rd n c ia c o m a c o n s c i n c ia c o n s id e
ra d a u m a q u a lid a d e fu n d a m e n ta l e n e c e s s ria e n a q ual o o po rtu n is m o e
a falta d e princpios s e ja m con s ide rad os anti-sociais; na q ual o indivduo
s e in te re s s a p o r q u e s t e s sociais d e fo rm a q u e e s ta s s e to rn a m q u e s t e s
pesso ais: na qual s u a re la o c o m se u s s e m e lh a n te s n o s e p a r a d a de
s u a s re la e s na e s fe ra privada. U m a s o c ie d a d e s a d ia , a in d a , a q u e la
q u e perm ite a o h o m e m o p e ra r dentro d e d im e n s e s dirigveis e o bservveis
e s e r um p artic ip a nte ativo e res p on s v e l d a vida e d a s o c ie d a d e , b e m
c o m o 0 s e n h o r d e s u a prpria vida. u m a s o c ie d a d e q u e p ro m o v e a
s o lid a rie d a d e h u m a n a , e n o a p e n a s p erm ite q u e s e u s m e m b ro s se re la
c io n e m uns a o s outros c o m am or, m a s e s tim ula e s s a prtica; u m a s o c ie
d a d e s a d ia p ro m o ve a a tiv id a d e produtiva d e tod os e m seu tra b a lh o , e s
tim u la o d e s v e n d a m e n to d a ra z o e p e rm ite a o h o m e m d a r e x p r e s s o a
s ua s n e c e s s id a d e s interiores n a arte e rituais coletivos'.^

E m te rm o s d e n a o , p re c isa m o s n os u n ir p rin c ip a lm e n te s n a e s latinas,


c o m b a se e m p rin c p io s c o m u n s , s e m n o s s u b m e te rm o s a im p rio s. P o r q u e
te rem o s q u e n o s s u b m e te r p oltica a m eric an a o u e u ro p ia ? Q u a lq u e r u m a d as
d u a s n o s en g o lir. P a ra e v ita r q u e tal ocorra, os p a se s s u l-a m e ric a n o s d e v e m se
u n ir e ta m b m fo rm a r u m fo rte bloco d e defesa d e seu s in teresses; caso c o n tr
rio, c a d a n a o la tin a se r e n g o lid a p o r o u tro s blo cos (E u ro p a , EU A , C hin a,
Ja p o etc.). E sse p ro c e sso j d e v e ria te r o c o rrid o h m u ito te m p o , p o is a ca d a
an o q u e p a ssa os p re ju z o s so m aiores. A u n i o se faz n ec e ssria - n o a p e n a s
p e la s o rig e n s s a n g n e a s e h istricas - m a s p o r q u e st e s d e libertao.

FROMM, Erich, A re vo lu o d a e spe ra n a: p o r u m a te cn o lo g ia h um a n iza d a . Traduo de Edmond


Jorge, Rio de Janeiro: Zahar, 1969. p. 265-266,

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

N o p o d e m o s n o s e s q u e c e r d o s p ro b le m a s q u e n o s a n g u s tia m , co m o analisa
F ran co Sobrinho;

O b s e r v a n d o a A m ric a Latina, p o u ca s n a e s e s t o a s a lvo d a d e s o r


d e m poltica e d as im p lica es e c o n m ic a s , tais s o a s d e s ig u a ld a d e s
sociais q u e e n fra q u e c e m as instituies pblicas. O c a o s u m a c o n s ta n
te, q u e se c o m p le ta a t nos g o v e rn o s legtim o s. Q u e r e m o s e n o p o d e
m os. A v a n a m o s e cultu ra lm e n te n o p rogredim os.
D e p o is d a v o n ta d e d e Bolivar, e s s a a n o s s a histria, pois n un ca o lh a
m o s p a ra d en tro d e ns m e s m o s , n a s c e m o s d a c o n q u is ta e v iv e m o s p a ra
s e r con q u is ta d o s . S v e n d e m o s riq uezas c o m o o p etr le o d a V e n e z u e la ,
o trigo d a A rg e n tin a ou o c a f do Brasil. P o r s c u lo s im itam o s a E u ro p a e
por s c u lo s e s ta m o s im itando os E s ta do s U nidos.
O p o rq u , s um e x a m e a te n to d a histria p o d e explic a r. O o uro q u e
P o rtu gal levou diz muito d as nossas fra q u e z a s c om e rc ia is . N o s e m p r s
tim os feito s In g la te rra j c o m e a m o s e n tre g a r a n a o a o s b an q u e iro s
in te rn a c io n ais , p a s s a n d o d ep o is s c o n c e s s e s n o r te -a m e ric a n a s , q u e
e x p lo ra ra m nossas p ossibilidades e c o n m ic a s .
D e s d e q u e fo rm a m o s u m a n a o s e m povo, c o m o a s o utras ta n ta s n a
e s s u l-a m e ric a n a s , a s o b e ra n ia poltica e s te v e n a d e p e n d n c ia d a s o
b e r a n ia e c o n m ic a , inclusive m e rito ria m e n te q u a n d o e s tra n g e iro s para
aqui v ie ra m tra b a lh a r a terra e f a z e r c o m rcio. S o b re g im e e s c ra v o c ra ta
nos c o n s o lid a m o s p a ra dep ois nos e n tre g a rm o s .
D a V e n e z u e la n o se podia e s p e ra r polticas t o in v e ro s s m e is e d e g ru
pos ligados a o estra n g e iro d istante. D a s o b e rb a A rg e n tin a , a c o n tin u id a
d e d e u m a cultura ing lesa lhe tirando m eio s prprios d e e m a n c ip a o . Do
im e n s o Brasil continental, q u e a p o b re z a social nos fiz e s s e p e n d u la r num
e n tre g u is m o d e m e ta s d uvidosas.
D e v e m o s c o m p re e n d e r, hoje, c o m o e s ta m o s , n o s a b e n d o q ual s e r o
nosso m u n d o futuro. S e v iv ere m o s no c a o s ou d e le s a ire m o s fortalecidos
e re s p e ita d o s . M a n te n d o viva a u n id ad e e a fe d e ra o . Evita n d o con fro n
tos e outro s c o m p ro m is s o s aleat rio s, F a z e n d o v in g a r u m a c ultura de
ln g u a n o s s a n as ra z e s d a n os s a g ra n d e h e r a n a .^^

Op. d t A m ric a Latina, o c a o s e o m u n d o q ue vir, p, 90.

268

D IR C E U G A L O IN O C A R D IN

E n a crnica E C O N O M IA E PO LTICA o m e sm o d o u tr in a d o r a n a lisa com


a g u d a percepo :

"B asta v e r p a ra verificar: na A m ric a Latina, a poltica q u e c a u s a distr


bios na e c o n o m ia : a e c o n o m ia q u e e s t n a b a s e d a poltica: j p ela
in e x is tn c ia d e recu rso s, p o b re z a , corru p o , h a b ita o , fo m e , inflao,
d o m in a o d e g rupos, in c o m p e t n c ia , e x p lo ra o irracional d e b e n s n a
turais. N o s E s ta d o s U n id o s ou E u ro p a , tan to a O rie n te c o m o no O c id e n
te, a poltica c o n d u z a e c o n o m ia ; tra z a e c o n o m ia sob controle: re a liza
planos: e fe tiv a servios: p ro m o ve o b e m -e s ta r social: d e te rm in a objetivos
fina nc e iros e im p e , a tra v s d e n orm a s , a p lic a e s m o n e t ria s re a lm e n
te legisladas.
N o Brasil, n o s u p osio p o rm re a lid ad e : p e rd id a a b a ta lh a e c o n m i
ca, e s ta r p e rd id a q u a lq u e r g u e rra poltica. S q u e n o s a b e m o s , na d e s
g ra a d a s c o is a s im previstas, o n d e e s t o os v e n c e d o re s ; a q u e m c a b e o
esp lio n eg a tiv o d a n a o ; a q u e m c o m p e te a ju s ta r a poltica s n ec e s s i
d a d e s e c o n m ic a s .
... E n tre ns, na A m ric a Latina, n o fala n d o d e bon s ou m a u s g overn os,
o n d e n o h o u v e r equilbrio ec on m ic o, n o h a v e r re g im e poltico e s t
vel, n e m p a z poltica, n e m p a z social. D ia n te d e fato s e c o n m ic o s , d e
n a d a v a le m a to s polticos. N o firm a n do a s s in a tu ra e m p a p is q u e s o
luc io na m os p ro b le m a s d e vida.
S e m d v id a , e n q u a n to a poltica viv e d e idias, a e c o n o m ia viv e d e re ali
d a d e s . E m poltica, u m a crise pod e s e r resolvida d e u m d ia p a ra outro.
E m e c o n o m ia , as crises s e n d o org n ic a s, d o corpo social, p re c is a m de
te m p o p a ra s e re m sup e ra d as ; c o m p ro g ram a o p a ra s e re m e q u a c io n a d a s
na p ro je o dos efeitos. P o r isso, a s n a e s sofridas e c o n o m ic a m e n te ,
c o m o o c a s o do Brasil, n o p o d e m q u e re r sair d a s d ific u ld a d e s e c o n
m ic a s . a tr a v s , a p e n a s , d e s o lu e s polticas. A q u i, a p o ltic a p re c is a
c o m p r e e n d e r a e c o n o m ia , porqu e a e c o n o m ia q u a n d o d e s v a ira d a , n o
e n te n d e d e pro po stas polticas sub jetivas n as inten es.
O q u e a p a v o ra , nos m o m e n to s a g u d o s d e crise e c o n m ic a , o e n d iv id a
m e n to e x te rn o ou interno, o d eseq uilbrio e n tre re c e ita e d e s p e s a , ou o
d e s c u m p rim e n to d a s o brig a e s adm inistrativas, e n fra q u e c e n d o o regi
m e poltico: infringindo n o rm a s constitucionais; c o lo c a n d o a n a o e m

D E S A F IO S OA C ID A D A N IA

riscos c o m o c io n a is . R e s ta , p o r m , a ns b ra s ileiro s , u m a e s p e r a n a ,
e m b o r a d is tante. N o a d e a d m inistrar o c a o s , m a s a d e a d m in is tra r a
e c o n o m ia . A s n a e s sub d e s e n vo lv id a s , p a ra n o t o m b a re m e m con v u l
s e s sociais, p o s s u e m dois cam inhos: um d e c o n s c i n c ia d a s possibili
d a d e s , o utro d e c o n scin cia d a s re s p on s ab ilida d e s.
C o m o v e m o s , o p rim eiro ec on m ic o. O s e g u n d o poltico. S e e n c o n
tra m o s a e n c ru z ilh a d a , tudo b e m . S e c o rre rm o s p a ra le lo s , tu d o certo.
M a s s e fa lh a rm o s no enc o n tro , a s p e rs p e c tiv a s fic a m s o m b ria s . T udo
p o rq u e , p elo m e n o s n e s te m o m e n to , a n a o d e p e n d e m a is d e solues
e c o n m ic a s q u e d e solues polticas.^

O s chefes d a s n a es p re c isa m c o m p re e n d e r q u e o s p o v o s d e to d o o m u n d o
d e v e m c o n stitu ir u m a g ra n d e fam lia, n o d e v e n d o h a v e r im p rio s, m a s esfo r
os c o m u n s, c o o p e ra o e n tre todos.
A h ist ria n o s m o stra u m a lio: to d a s a s n a es q u e se ju lg a v a m su p e rio re s
co m e a ra m a r u ir n o m o m e n to e m q u e p r o c u r a r a m d e m o n s tr a r su a p re te n s a
su p e r io r id a d e .

4 MOVIMENTO EM DEFESA DA CIDADANIA POSTO


EM PRTICA
N e n h u m a teo ria, p o r m a is ca tiv a n te q u e seja, a tin g e s e u s objetivos se os so
n h o s n o fo re m s o n h a d o s juntos.
P ara re a liz a r g r a n d e s so n h o s in d isp e n s v e l a u n i o . O s q u e p r o c u r a m re a
liz a r se u s s o n h o s s o c o m o p e d r a s que, a tira d a s n o m e io d a lag o a, d e s e n c a d e i
a m p e q u e n a s o n d a s q u e c h e g a m at as m arg ens.
Essas p e s s o a s p re c isa m m o b iliz ar o s c id a d o s n a lu ta p e la tica e p e la c o n se
cu o d o b e m c o m u m .
A se g u ir, su g e rire m o s a lg u m a s id ias q u e p o d e r o se r im p le m e n ta d a s p a ra
tal fim.

4.1 Formao de grupos de trabalho


O s g r u p o s d e tra b a lh o d e v e m se r in te g r a d o s p o r p e s s o a s q u e se id e n tifi
q u e m c o m as a tiv id a d e s a se rem d e se n v o lv id a s, tais co m o d efesa d o s direito s
Op. d l , p. 108,

2 6 9

2 7 0

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

h u m a n o s o u d a c id a d a n ia , assistncia social a crianas, a a d o le sc e n te s o u a id o


sos e d e fe sa d o m e io am b ien te.
im p o r ta n te q u e os p re s id e n te s d o s g ru p o s te n h a m c a p a c id a d e d e lid e ra n
a e q u e a jam s e m p re d e fo rm a d em o cr tic a , p a r a q u e haja c o n v v io h a rm n ic o
e o g r u p o e n c o n tre a m e lh o r a lte rn a tiv a p a r a a so lu o d o s p ro b le m a s e xpostos.
C a d a g r u p o d e v e conc e n trar-se no se u te m a , sem , to d a v ia , d e ix a r d e fazer
su g e st es aos o u tro s g ru p o s. P o r isso, im p o rta n te q u e, a l m d a s re u n i e s ro ti
n e ira s d o s g r u p o s especficos, sejam re a liz a d a s p e rio d ic a m e n te re u n i e s gerais.

4.2 Racionalizao
R ealiza-se u m le v a n ta m e n to d e to d a s as in stitu i es assistenciais. Verificase q u a is so aq u e la s q u e se d e d ic a m m esm a ativ id ad e, e p ro c u ra -se red irec io n a r
o se u tra b a lh o , a fim d e a te n d e r a seto res carentes. A lg u m a s fam lias recebem
m a is d e u m a cesta bsica, p o r q u e h d ifere n te s e n tid a d e s q u e p re s ta m tal assis
tncia, e n q u a n to o u tr a s n o re ce b e m n e n h u m a .
O a ssisten c ia lism o d e v e se r se m p re e n fo c a d o c o m o situ a o tran sit ria. A
rigor, o q u e in d is p e n s v e l p ro p ic ia r s p e sso a s co n d i e s d e e las p r p ria s
re so lv e re m os s e u s p ro b le m a s, re sta u ra n d o -lh e s a d ig n id a d e .
U m p o v o q u e c u ltu a o assisten cialism o est fa d a d o a e n tro n iz a r s e u p r p rio
fracasso, p o r q u e est s e p u lta n d o no p re se n te a g ra n d e z a d e u m fu tu ro . A lm
disso, far co m q u e a s p e sso a s n u n c a te n h a m su a p r p r ia d ig n id a d e , m a s fi
q u e m m erc d a s m ig a lh a s d o E stado. A p e n a s tira n o s u s a m d e ssa fo rm a s r d i
d a d e g o v e rn a r, p o r q u e se p e re n iz a m no p o d e r p elo q u e oferecem m a ssa ignara.
O c id a d o d e v e d e p e n d e r d o E stado, a p e n a s no q u e fo r e s trita m e n te n e c es
srio. O E sta d o e m q u e h m a io r p ro g re sso e d e se n v o lv im e n to e x a ta m e n te
n a q u e le e m q u e o p o v o m e n o s p re c isa e d e p e n d e dele. Este o E sta d o v e rd a d e i
ra m e n te rico.

4.3 Perseverana na execuo de projetos


D eve-se c o n c e n tra r n o p ro jeto a se r re a liz a d o e n o p u lv e riz a r a s a tiv id a d e s.
M as a p e rs e v e ra n a o se g re d o p a ra o sucesso d e q u a lq u e r projeto. G e ra lm e n
te, as p e sso a s se e n tu s ia s m a m n o incio, m a s ao s p o u c o s a m a io ria v a i e sm o re
cendo. Se to d o s c o n tin u a sse m p a rtic ip a n d o com e n tu sia s m o , n o se s o b re c a rre
g aria a u n s p o u c o s, e a execuo seria m a is r p id a e m elh o r. P o r isso, in d is
p e n s v e l c o n s ta n te m o tiv a o e conc en tra o d e esforos d o s e n v o lv id o s.

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

preciso e stab elec e r m e ta s e, u m a v ez q u e elas e stejam c u m p r id a s , e sta b ele


cer o u tra s. N o se p o d e d e sfo ca r o projeto. O q u e p o d e s u c e d e r na execuo de
u m p ro jeto s u a a m p lia o , m as se u p rin c ip a l objetivo n o p o d e se r esquecido.

4.4 Diviso de tarefas


U m g r u p o d e tra b a lh o p o d e te r d iv erso s objetivos. E n t o , p re c iso a diviso
racional d a s tarefas.
Q u a n d o to d o s os tra b a lh o s so e x e c u ta d o s p o r to d o s os m e m b ro s d o g ru p o ,
estes se p e rd e m . E nto, preciso criar s u b g ru p o s , p a ra q u e c a d a u m execute
u m tra b a lh o q u e p ro p ic ie realizao p e sso a l p a r a o s s e u s in te g ra n te s.
P e rio d ic a m e n te d e v e m se r feitas re u n i e s p a ra a v a lia r o s av a n o s e as d ifi
c u ld a d e s, p r o c u ra n d o -s e so lu o p a ra estas.
c onveniente q u e sejam lavrad as atas, p a ra q ue, to m ad a u m a deciso p elo g ru
p o , m e sm o aqueles q u e com ela n o concordem e n v id e m esforos p a ra cum pri-la.
N o se d e v e e sq u e c e r q u e o se g re d o d e to d o tra b a lh o a m otivao.
O ld e r d e v e e s ta r s e m p re m o tiv a n d o o g ru p o . N o d e v e d e ix a r m o rre r a
c h a m a d o e n tu sia sm o . E d e v e s e m p re e sta r p ro c u r a d e id ia s q u e im p u ls io
n e m as p e s so a s a re a liz ar tra b a lh o s d e in tere sse social.
N o a d ia n ta q u e re r m o tiv a r a p e n a s co m p alav ra s; in d isp e n s v e l o e x em
plo. Este d iz m a is d o q u e q u a lq u e r p alav ra.

4.5 Confraternizao e invocao a Deus


im p o r ta n te q u e as v it rias sejam c o m e m o ra d a s, p o is a c o n fra te rn iz a o
aju d a a u n ir as p esso as. E ta m b m q u e se faa u m a g ra d e c im e n to e c u m n ic o a
D eu s p elas b n o s receb id as, p o r e x e m p lo com u m a o ra o q u e , c o m o in fo rm a
M e la n ie K lein, v e m d o incio d o c ristianism o: "P elo q u e e s ta m o s p re ste s a rece
b er, q u e o S e n h o r n o s faa v e rd a d e ira m e n te a g ra d e c id o s ".
C o m essa s p lic a to sim p les, e sta m o s a g r a d e c e n d o p e lo q u e j recebem os,
p elo q u e e s ta m o s re c e b e n d o e p e lo q u e receb erem o s.
im p o r ta n te q u e, a ca d a incio d e re u n i o , u m d ife re n te m e m b ro d o g ru p o
faa a p rece, d e tal form a q u e to d o s te n h a m p a rtic ip a o d ireta. C o m isso, cada
u m c o m p r e e n d e r q u e p re c isa re s p e ita r a c re n a d o s o u tro s , e m v e r d a d e iro
e c u m e n ism o .

"

KLEIN, M elanie. Op. c/f., p. 14.

2 7 1

2 7 2

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

O u tra su g e st o d e prece: "S en h o r, d a i-n o s inteligncia p a ra fa la rm o s o que


d e v e m o s d iz e r, sa b e d o ria p a r a sa b e rm o s a g ir e d isc e rn im e n to p a r a e sc o lh e r
m o s o m e lh o r c am in h o ".
A o ra o in d isp e n s v e l, p o r q u e os m o v im e n to s p e la c id a d a n ia so so p ro s
d e D e u s n o co ra o d o h o m e m , p a r a q u e este se faa re a lm e n te se m e lh a n te a
Ele, n o alcance d a perfeio. Sem a p ro te o d e D eu s p o u c o se far.
Q u e m d e fe n d e a c id a d a n ia o faz p o r q u e sab e q u e to d a p e sso a c ria tu ra de
D eus, q u e a o rig e m d e tu d o e d e q u e m p r o m a n a m os d o n s d a sa b e d o ria , d a
inteligncia, d o d isc e rn im e n to , d a cincia.

4.6 Possveis atuaes


D a re m o s a lg u n s e x e m p lo s d o q u e p o d e ser feito p a r a o d e s p e r ta r d a co nsci
ncia d e c id a d a n ia , o b je tiv a n d o o c u id a r d e si, d o o u tro , d a so c ie d a d e e d a
p tria.
A - V o ltad as p a ra a p ro m o o h u m a n a :
- in c e n tiv a r p rin c ip a lm e n te as crianas e os jov ens a ler, o r ie n ta n d o p a ra as
b o a s leituras;
- d e te r o v ecu lo n o sinal v e rm e lh o (p re fe re n te m en te n o p r p r io am arelo);
- ser p o n tu a l e m to d o s os co m p ro m isso s, in c lu siv e sociais;
- n o jo g a r p a p e l o u q u a lq u e r o u tro m a te rial n a rua;
- fazer m e d ita o diria;
- te r m o m e n to s d i rio s d e co n tem p lao ;
- tr a ta r a to d o s c o m u r b a n id a d e e respeito;
- p a rtic ip a r d e a lg u m g r u p o q u e realize tra b a lh o social o u religioso;
- p ro m o v e r p a le s tra s v o lta d a s p a ra o in tere sse d e ca te g o rias p ro fissio n a is e
d e m o ra d o r e s d e b a irro , p o r exem plo: tra b a lh o d a m u lh e r, d ire ito s tra b a
lhistas, d ire ito s d o c o n su m id o r; d ire ito s p re v id e n c irio s; p re c a u e s n a v e n
d a e n a a q u isi o d e im veis, m v e is e o u tro s b en s; tra b a lh o d o m e n o r; re s
p o n s a b ilid a d e civil e p e n a l d a fam lia e d o E sta d o e m relao ao m e n o r e ao
id o so a b a n d o n a d o s ; conscientizao so b re o voto; v ioln cia fam iliar; c o n tro
le d a n a ta lid a d e ; n u tri o e alim entao ; d o e n a s se x u a lm e n te tra n sm issv eis
(DST); c a m p a n h a s c o n tra o c o n s u m o d e b e b id a alcolica, d e d ro g a s e d e
cigarro; h ig ie n e m e n ta l e lazer;
- p ro m o v e r p a le stra s p a ra e stim u la r o jo v e m a p e rs e v e ra r n o e s tu d o (o jo
v e m b a s ta n te instvel, e m u ita s v e ze s p e r d e o go sto p e lo e s tu d o ; p reciso

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

q u e ele se c o n sc ie n tize d e q u e a c o m p e ti o p o r e m p r e g o m u ito g ra n d e ,


m e sm o p a r a a q u e le s q u e te n h a m b o a fo rm a o p ro fissio n a l; p esso as b em s u c e d id a s p ro fis sio n a lm e n te , m a s q u e tiv e ra m g ra n d e d ific u ld a d e p a r a es
tu d a r, d e v e m d a r te s te m u n h o d e su a luta);
- d e s e n v o lv e r c a m p a n h a s d e esc larecim en to a tra v s d e to d o s os se g m e n to s
d a so c ie d a d e (p o r ex e m p lo , os s u p e rm e rc a d o s p o d e m im p r im ir n u m a das
faces d a s sacolas e m q u e a co n d ic io n a m as c o m p ra s frases c u rta s m a s e x p re s
sivas, c o m o " C id a d a n ia , o p o n o sso d e c a d a d ia " e "S o lid a rie d a d e hoje e
se m p re "; n o a n v e rso , a su a p ro p a g a n d a ; ta m b m p o d e m fazer m arketing so
cial, p r o m o v e n d o d esco n to s e m p r o d u to s d a cesta b sic a e in v o c a n d o p a ra

isso a p a la v ra c id ad an ia; p a ra o cliente lev ar as c o m p ra s , eles p o d e r ia m ofe


recer sacolas d e p a n o , feitas p o r p e sso a s d a reg i o , o q u e re d u z ir ia o d e s e m
p re g o e beneficia ria o m eio am bien te;
- v e rific ar o s focos d e co nflitos n a c o m u n id a d e e d is tr ib u ir c a rtilh a s com
o rie n ta es p r tic a s so b re o a ssu n to (exem plo: d ire ito s fu n d a m e n ta is , d ire i
tos e d e v e re s d a s e m p re g a d a s d o m sticas, p re se rv a o d o m e io a m b ie n te e
tp icos p rin c ip a is d o e sta tu to d a s crianas; crian as p o d e m fazer ilu stra es
p a r a e ssa s c a rtilh a s, e a lg u m p o e ta p o d e a p r e s e n ta r a m a t ria a tra v s d e
v e rso s p o p u la r e s , p rin c ip a lm e n te trovas);
- criar "c e n trais d a c id a d a n ia " , o n d e o c id a d o p o ssa o b te r to d o s o s d o c u
m e n to s n e c e ss rio s v id a p ro fissio n al (com o ttu lo d e eleitor, c a rte ira d e
id e n tid a d e e c arte ira d e trab alh o , p a r a e v ita r q u e ele te n h a q u e se deslocar
p a r a v rio s p o n to s d a cidade);
- in se rir e m jo g o s e b r in q u e d o s d a d o s c u ltu ra is, d e tal fo rm a q u e as crianas
a d q u ir a m c u ltu r a b rin c a n d o (p o r ex em p lo , e m videogames in se rir d a d o s so
b re a m ito lo g ia g re g a, p la n ta s ou pssaros);
- in tro d u z ir a d isc ip lin a C id a d a n ia e m to d o s o s g ra u s escolares;
- criar clim a cvico n a s escolas e re a liz ar c a m p a n h a s p a r a o re sp e ito b a n d e i
ra nacio n al, in c lu siv e e s tim u la n d o su a e x p o si o c o n s ta n te p e la s cidad es;
- colocar n o s v e c u lo s d e tra n sp o rte coletivo frases c u rta s c o m m e n sa g e n s
c o n stru tiv a s (as frases, re n o v v e is p e rio d ic a m e n te , p o d e m ser e x tra d a s de
o b ra s liter ria s o u escritas p o r a lu n o s, s e n d o se le c io n a d a s a tra v s d e co n
c u rso s; n e s te ltim o caso, so b elas con staria o n o m e d o a lu n o e d a escola);
- d e m a rc a r, e m v ia s p b lic a s estratgicas, faixa e x c lu siv a p a r a os ciclistas;
- c riar cen tro s d e z o o n o se, p a r a a tu a r p re v e n tiv a m e n te ju n to p o p u la o .

2 7 3

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

e v ita n d o d o e n a s q u e j p o d e ria m ter sid o e lim in a d a s, tais c o m o a d o e n a


d e c h ag a s, a b ru celo se, a leishm aniose, a le p to sp iro se , a raiv a, a ten iase, a
to x o p la sm o se e a clam id ase;
- o ferecer o rie n ta o ju rd ic a e psicolgica g ra tu ita s (p ara isso, p ro c u r a r a
co lab o rao d e acad m ic o s d o s ltim o s a n o s d o s c u rso s d e D ireito e d e P si
cologia, sob a o rie n ta o d e p ro fe sso re s o u d e o u tro s p ro fissio n a is j fo rm a
d o s n a rea);
- p ro c u r a r re tira r d a s r u a s crian as d e s a m p a ra d a s , o fe re c e n d o -lh es atra tiv o s
c u ltu ra is e d e sp o rtiv o s em d iv erso s bairros;
- p ro m o v e r a alfab etizao d e ad u lto s;
- p ro m o v e r c a m p a n h a s d e d o a o d e livros, rev istas, re m d io s, ro u p a s , sa
p a to s, b r in q u e d o s etc.;
- v isita r d o e n te s, le v a n d o -lh e s co nforto e s p iritu a l e, se n ecessrio , m aterial;
- v isita r asilos e o rfa n a to s e, se po ssv el, le v a r os v e lh o s e as crian as que
n eles e st o in te rn a d o s p a ra p a s se a r e m b o sq u e s, p a r q u e s o u c h c a ras d e re
creio;
- g e stio n a r ju n to a m d ic o s e d e n tista s p a r a q u e a te n d a m g ra tu ita m e n te a
crianas carentes;
- p r o c e d e r le itu ra d e liv ro s e p e ri d ic o s p a ra os cegos;
- rea liz a r m u tir e s p a ra a ju d a r p esso as c a ren tes a c o n stru ir casas;
- p le ite a r ju n to ao p o d e r p b lic o m e lh o re s co n d i e s d e v id a p a r a os defici
en te s fsicos, a tra v s, p o r ex em p lo , d a c o n stru o d e r a m p a s e d o re b a ix a
m e n to d e telefo nes pblicos;
- p ro m o v e r c a m p a n h a s d e s tin a d a s a e v ita r d isc rim in a o social;
- d e n u n c ia r O A B q u a lq u e r d e sre sp e ito a c id ado;
- e n v id a r esforos p a ra q u e a justia d e p e q u e n a s c a u sa s seja itin e ra n te , a fim
d e e v ita r o a g ra v a m e n to d e litgios;
B - V o lta d a s p a r a o m eio am biente:
- p r o m o v e r p a le s tra s d e stin a d a s p re se rv a o d o m eio a m b ie n te n a s escolas
d e 1*^ e 2" g ra u s, p o is c o n sc ie n tiz a n d o as crian as e a d o le sc e n te s q u e se
o b te r o o s m e lh o re s resu ltad o s;
- re a liz ar m u tir e s q u e e n v o lv a m crianas e a d o lesc e n tes, a fim d e q u e eles
a ju d e m n a lim p e z a d e p a rq u e s , lag os o u rios;
- e n v o lv e r u n iv e rs it rio s d e to d o s o s c u rs o s e m g r u p o s d e e s tu d o s e e lab o ra r
com eles p ro je to s ecolgicos, fo c an d o a g u a , o ar, a fa u n a e a flora (esses

D E S A F IO S D A C ID A D A N IA

p ro je to s p o d e m d e stin a r-se ao e m b e le z a m e n to d a c id a d e - c o m o criao de


ja rd in s p b lic o s o u p la n tio d e flores e m a v e n id a s e r u a s - o u a a u m e n ta r o
n m e r o d e p s s a ro s n a c id a d e - p la n tio d e rv o re s n a tiv a s fru tferas p rin c i
p a lm e n te c m lu g a re s p blicos);
- g e s tio n a r c o m os p o s to s d e c o m b u stv e l p a r a q u e d is tr ib u a m fla n ela s e
sa q u in h o s d e lixo, p re fe re n c ia lm en te d e p a n o (os d e p l stic o le v a m cerca de
40 a n o s p a r a d e g ra d a r-se ), com m e n s a g e n s e m d efesa d o m e io a m b ie n te (por
exem plo; "V a m o s d e ix a r n o ssa c id a d e lim p a " e " N o ssa c id a d e n o c saco de
lixo");
- fo rm a o d e v iv e iro s p a r a o fo rn e cim en to d e m u d a s d e p la n ta s, p rin c ip a l
m e n te d e rv o re s n a tiv a s d a regio, e v ita n d o a su a extino;
- p la n tio d e rv o re s fru tferas n a tiv a s s m a r g e n s d o s rios, n o s f u n d o s de
v ale e n as g r a n d e s p ra a s, p a r a c o n su m o d a s a v e s e p s s a ro s d a regio;
- in c e n tiv a r a fo rm a o d e a g en te s e a n im a d o re s c u ltu ra is c o m u n itrio s;
- p le ite a r rec u rso s ju n to a rg o s p blico s, fu n d a e s e e m p re sa s, in stitu i
es, p a r a o d e s e n v o lv im e n to d e a tiv id a d e s cu lturais;
- m a p e a m e n to c u ltu ra l, in c lu in d o to d o s os a rtista s e esc rito res d a c o m u n id a
de, p a ra a p re s e rv a o d e su a m e m ria e d a s tra d i e s locais.
- p r o m o v e r o d ia d o "b o ta fora", c o n v id a n d o a c o m u n id a d e in te ira a fazer
u m a lim p e z a criterio sa n a casa o u no a p a rta m e n to , p o r ex em p lo , n o d ia 31
d e d e z e m b ro d e c ad a ano. T u d o aq u ilo q u e j esteja e n v e lh e c id o o u q u e n o
sirv a ser s e p a ra d o e d e s tin a d o a p esso a s c aren tes. O q u e lixo p a r a un s,
p o d e s e r lu x o p a ra o utros. O id eal seria q u e tais c o isa s f o s s e m re c o lh id a s
p e la S ecretaria d a S o lid a rie d a d e e a tra v s d ela fosse d a d a a d e stin a o m ais
adequada;
- n a S e m a n a d a P tria , in s titu ir e m to d a s a s c id a d e s o p ro je to exem plo de
cidado. S eriam p a le stra s, n as escolas, d e p e s s o a s q u e n o p a s s a d o fo ra m p o

b re s e n o tiv e ra m co n d i es d e e stu d a r, o u d e o u tra s q u e e s tu d a r a m co m a


m a io r d ific u ld a d e , p o r m c o n s e g u ira m vencer. E las n a r r a r ia m s u a s e x p e ri
ncias d e v id a e as v irtu d e s com as q u a is c o n s e g u ira m s u p e r a r os ob stculos
e vencer. T ais te ste m u n h o s viv o s se ria m os m e lh o re s e x e m p lo s a o s jo vens
q u e e stiv e sse m c a ren te s d e e sp eran a.
Seria a fo rm a d e c o n s tru ir u m a p tria c o m e x e m p lo s fo rjad o s d e carter,
p e r s o n a lid a d e e d eterm in a o .

2 7 5

2 7 6

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

5 EPLOGO
A m aio ria d a s p e sso a s te m a v e rs o aos m orceg os. C o n tu d o , q u a n d o eles so
fru g v o ro s, fa z e m a p o lin iz a o d u r a n te a no ite. O a d e n s a m e n to d a floresta
a m a z n ic a se d ev e, e m g ra n d e p a rte , a esse trab alh o .
Eles t m u m c o m p o rta m e n to interessante: os m e m b ro s d o b a n d o c o lh e m os
frutos, le v a m a u m lu g a r coletivo e os colo cam n o solo, c o m o se fosse s o b re u m a
m esa, e se a lim e n ta m ju n to s, com o n u m b a n q u e te .
A ssim c o m o e m relao a tais m orcegos, p re c isa m o s s u p e r a r n o sso s p re c o n
ceitos c o n tra n o sso s irm o s, e com eles a p r e n d e r a p a rtilh a r; e m n o sso caso,
p a rtilh a r o p o d a d e m o c ra cia c o m a u t n tic a c id a d a n ia .
A d e m o c ra c ia - e isso visvel - est se a u to d e s tr u in d o . N o est s e n d o
c o n d u z id a p o r p rin c p io s e v alo res, m a s p o r in teresses m o m e n t n e o s o u d e g r u
po s, sem p ro jeto s e sem v is o d e fu tu ro . C o m a n d a -s e c o n so a n te a v o n ta d e de
q u e m e st n o p o d e r e n o d e a c o rd o c o m o in te resse p b lic o . D ecide-se p a ra
a te n d e r a g r u p o s m in o rit rio s e n o p a r a satisfazer a o b e m c o m u m . As decises
so to m a d a s te n d o p o r b sso la os in teresses d o g o v e rn o e n o o s d a nao.
O g o v e rn o to rn a -se te m p e ra m e n ta l e m su a s a titu d e s , fa lta n d o -lh e m e ta s e
p ro jeto s su b stan ciais, Ele d e v e ria ser a e x te n s o d o q u e deseja a nao ; c o n tu d o ,
fica-se a p e n a s n o c o n tin u s m o d e u m n a v io e m alto -m a r ao s a b o r d a s o n d a s , o u,
q u a n d o o u tro p a r tid o a s s u m e o p o d e r, d e stro e m -se b o n s p ro je to s o u so a r q u i
vados: m u d a m - s e os m sic o s, m a s a m e lo d ia p e rm a n e c e . s v ez e s, a lg u m a s
n o ta s co m u m p o u c o m a is d e colorido. E m d e c o rr n c ia d isso , o p o v o e sq u e c i
d o e m s u a s n e c e ssid a d e s bsicas, no s seus d ire ito s n a tu ra is e f u n d a m e n ta is , a
d em o cra c ia tra n s fo rm a d a e m g o v e rn o d a m in o ria , e a R e p b lica (res publica:
coisa p b lica ) p a ssa a se r p a trim n io d e p o u c o s. Ao p o v o , e m se u ro sto fica o
panes et circus, m a s, s costas, cam ufla-se o letal salve-se q uem puder.

O g o v e rn o , p a ra s u s te n ta r su a "d in o s s u ric a " e s tr u tu ra a d m in is tra tiv a , em


v e z d e r e d u z i - l a e d i m i n u i r c u s t o s a d m i n i s t r a t i v o s , to r n a a d e m o c r a c ia
autofgica. R epete a q u ilo q u e j e m 9 d e fevereiro d e 1792, e m L o n d re s, T h o m as
P a in e o b se rv a v a : q u e a C o n stitu i o tem sid o a m ais p ro d u tiva m quina de criao
de im postos q u e jam ais fo i inventada^^'^. A ssim transfere s u a ineficincia a d m in is

tra tiv a p a r a o s o m b ro s d a so cied ad e. M a s n o p o d e m o s e sq u e c e r, n u n c a , as


a d v e rt n c ia s d o cien tista p oltico R a y m o n d A ron: "A s in stitu i es d em o cr ti-

Op. ct. p. 168.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

cas s o in trin se c a m e n te frgeis. lcito p e r g u n ta r se p o d e r o resistir p re sso


d a s m a ssa s e d o s g r u p o s o rg a n iz a d o s, s ex igncias tcnicas d a a d m in istra o ,
c ad a v e z m a is c o m p lex a s. Se h o u v e r u m esforo p a r a d eb ilit -la s a in d a m ais,
a trib u in d o -lh e s in te n e s escusas, d e s tr u in d o os laos tra d ic io n a is d e fid e lid a
d e , p re cip ita r-se - s e u d e s a p a re c im e n to , com a d e c a d n c ia d a p r p ria c o m u n i
d a d e o u u m a rea o excessiva ao m e sm o te m p o d e o b e d i n c ia e ad o ra o ",
N a a tu a l fo rm a d e r e p r e s e n ta tiv id a d e , q u e m u ita s v e z e s g a n h a a re s d e
te a tra lid a d e , ta lv e z os p r p rio s polticos, e m b o ra n o d ig a m , ria m d a form a
re p re s e n ta tiv a e c o n s ta te m essa fra g ilid a d e . O c o rre q u e , se a s o c ie d a d e n o
m a n tiv e r c o n s ta n te vigilncia, e n o a ssu m ir o c o m a n d o d a na o n a form a de
d e m o c r a c ia p a r t i c i p a t i v a , a p r p r ia d e m o c r a c ia , a o lo n g o d o te m p o , se r
d e s tru d a . A d e sc re n a n o re g im e d e m o cr tic o s u rg ir p e la d e sm o ra liz a o de
seu s p r p r io s v alo res. P a ra o n d e irem os?
R e g re d ire m o s, d e s p r e z a n d o a lu ta r e n h id a d e n o sso s a n c estrais em c o m b a
tes n o s q u a is m u ito s m o rre ra m : ficarem os s a lta n d o d a s castas d a aristocracia
p a ra a m in o ria h e re d it ria d a m o n a rq u ia o u se re m o s to s q u e a d o s p o r d ita d u ra s.
N o ssa c ria tiv id a d e e a lib e rd a d e d e p e n s a r se ro s e p u lta d a s , q u a lq u e r q u e seja
o re tro c e sso a q u e este ja m o s fadados.
A o b se rv a o h ist ric a n o s c o n d u z a a v a n a r n a n sia d e c o n tn u o a p r im o r a
m e n to d e m o c r tic o . S o c ied ad e ap tica e o m issa sin n im o d e d e rro c a d a p o lti
ca e econ m ica.
A d efesa q u e fazem o s d a c id a d a n ia n o te rm in a n e sta p g in a : p ro c e d e m o s
c o m o u m p in to r q u e p in c e la a p e n a s u m a faceta d a n a tu r e z a n a tela, q u a n d o a
n a tu re z a in fin d a se lhe descortina.
D e u s p e rfe ito e ta m b m q u e r o a p e rfe i o a m en to d o h o m e m e d a s p r p ria s
in stitu i es q u e e ste cria. P o r isso, o ser h u m a n o p r o g r id e n o c a m in h o d a p e rfei
o, a in d a q u e c o m d e sliz es e retro cesso s te m p o r rio s. H n o se r h u m a n o , com
reflexo n a so c ie d a d e , u m im p u ls o in te rio r q u e o leva a p r o c u r a r p ro g re d ir, em
b u sc a d a perfeio. N e sse p rocesso , a so c ie d a d e p re c isa se r c o m o a teia d e a ra
n h a , q u e , e m b o ra c o m p o s ta d e fios finssim os, de safia te m p e s ta d e s , p o r q u e as
telas d a s teias e st o p r x im a s. A s p esso as, in d iv id u a lm e n te , so a p a re n te m e n te
frgeis c o m o os fios d a teia d e a ra n h a , m a s, lig a d a s p o r s e n tim e n to s, id ia s e
a sp ira es, to rn a m -se c a p a z e s d e e n fre n ta r e v e n c e r te m p e s ta d e s p olticas q u e
re ca iam so b re a c o m u n id a d e .
Op. c it, p. 117.

2 7 7

278

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

O c ristia n ism o n o s le g o u este exem plo: as a titu d e s d o s c risto s m o d ific a ra m


0

m u n d o . E tal e x e m p lo n o se v in c u lo u a n e n h u m p a r tid o p o ltic o p a r a se

efetivar. D a m e s m a fo rm a, o m o v im e n to e m defesa d a c id a d a n ia n o se d e v e
v in c u la r a p a r tid o s , p o r q u e to d o s eles n a tu r a lm e n te te r o e ssa converg ncia.
C o m certeza, to d o s q u e re m o a p rim o ra m e n to d a d em o cra c ia e o b e m -e s ta r d o
p o v o , sem d e m a g o g ia .
Q u e m e stiv e r ctico q u a n to p o ss ib ilid a d e d e c o n s tru o d a d e m o c ra c ia
co m a u t n tic a c id a d a n ia d e v e lem b ra r-se d e q u e qiiem quer fa z , quem no quer cria
obstculos, o u co m o d isse m o s n a p o e sia "P rism a":

No so apenas os passos
que nos levam ao caminho,
no apenas o caininho
que nos co nduz ao cimo:
0

segredo est

na fo rm a de caminhar.

6 REFERNCIAS
A Bblia de Jerusalm. So P aulo: P au lin as, 1981.

ABDA LA, Isabela; FILGUEIRAS, Snia. N o v a v tim a d o Proer. In "Isto ", 1


d ez. 1999. D isp o n v el em : <h ttp : / / w w w .t e r r a .c o m .b r / i s t o e > A cesso em : 17 m ar.
2003.
A B R A M O V AY, R icardo. A a g ric u ltu ra b ra sile ira n a c o n tra m o . "G a z e ta M e r
c an til", 10 jan. 2001.
A LM EID A , P a u lo R oberto. Ricos e arro g a n tes. "V eja", 24 n ov. 2001.
ALVES FIL H O , Francisco. Pas sujo, "Isto ", 03 abr. 2002.
ALVES, Keila C a m a rg o P inheiro. P e d g io - N a tu reza jurdica. R D P n" 64, o u t . /
d ez. 1982.
A R A G O , A le x a n d re S an to s de. O s F u n d a m e n to s d a R e sp o n sa b ilid a d e Civil
d o E stado. R evista de D ireito A d m in istra tiv o , Rio d e Jan eiro , 236: 263-273, a b r ./
jun. 2004.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

A R A N G U R E N , Jos L us L. ticn e poltica. T ra d u o d e W a n d a F ig u eired o . So


P aulo: D u a s C id a d e s , 1979.
A R A P O N G A , C arlos. C re scim en to econm ico e p ro te o d o m e io a m b ie n te . In
R evista dos M estran d os em Direito Econmico da U F B A . E dio Especial: D ireito

A m b ie n ta l. S a lv a d o r, v. 5, jan. 1 9 9 6 /d e z . 1997.
A R E N D T , H a n n a h . A condio hum ana. T ra d u o d e R o b e rto R aposo. 4. ed. Rio
d e Janeiro: F o ren se U n iv ersit ria , 1989.
A R O N , R a y m o n d . E studo Poltico. P ensam ento Poltico. T ra d u o d e Srgio Bath,
2. ed. E d ito ra U n iv e rs id a d e d e Braslia. Braslia, 1985.
A R Z U A , H e ro n . A s co n trib u i e s sociais n a C o n stitu i o d e 1988. So Paulo:
R evista dos T ribunais, 1989.

A ZEV ED O , Fabrcio. T rib u ta o d o s fundos: quem paga a conta? In A o - Jornal


d a ANABB, n" 137, a n o XIV, n o v ./d e z ., 2000.
A R D W EG , G e ra rd J. M. v a n d e n . Autopiedade neurtica c terapia antiqueixa. So
Paulo: C o rte z & M o ra e s, 1978.
BA LZAC, H o n o r de. Eugnia Grnndet. So P aulo: A b ril C u ltu ra l, 1971.
BARBOSA, R ui. D iscursos, oraes e conferncias, to m o IL
BASTOS, C elso R ibeiro; M A RTIN S, Ives G a n d ra d a Silva. Com entrios C onsti
tuio do Brasil. So P au lo : S araiva, 1988.

BERNARDES, M a n u e l. L u z e calor. A p u d BARBOSA, R ui. D iscursos, oraes e


conferncias. 4. ed. So P aulo: E d ig ra f S. A., 1972.

BETTING, Joelm ir. Reforma emperrada. D isp onv el cm: h t t p ://w w w 2 .u o l.c o m .b r /
I C / 1 99 9/2 403/job24 03.h;m , ac essa d o e m 27 d e m a r o d e 2003.
BETTO, Frei. R odocidio. Iii O E sta d o d e S. P a u lo " , 10 d e ja n e iro d e 2001.
BLUSTEIN, Paul. Vexa?ne. Rio d e Janeiro: R ecord, 2002.
BO N A V ID ES, P au lo . Teoria constitucional da democracia participativa. So Paulo:
M a lh e iro s, 2001.
BRASILIENSE, R onaldo. A co n ta d o Proer. "Isto ", 29 d e ju lh o d e 1998. D isp o
nvel em; <h t t p : / / w w w .t e r r a .c o m . b r / i s t o e >, ac essa d o e m 17 d e m a r o 2003.

2 8 0

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

CA LDA S, Suely. A q u e m se rv ira m os b ancos esta d u ais. In " O E sta d o d e S. P a u


lo", 10 d e a g o sto d e 2000. D isp o n v e l em : < h t t p ; / / w w w .e s ta d o .e s ta d a o .c o m .b r /
jo r n a l/0 0 /1 0 /0 8 /n e w s 2 4 8 .h tm l> A cesso em: 17 m a r. 2003.
C A N O T IL H O , Jos J o a q u im G om es. D ireito C onstitucional e teoria da C o n stitu i
o. 3. ed. C oim bra: A lm e d in a , 1998.

C A R M O , V alrio A u g u s to d o. Justia d o T rab alh o s a te n d e d e s e m p r e g a d o . In


"F olha d e So P a u lo " , 05 d e m aio d e 2003, p. B-3.
C A R V A L H O , C aio L u iz d e . O Brasil m o d a . In "Isto ", 19 d e z . 2001, p . 13.
C A V A L C A N T I, S a n d ra. U m m a ssa c re q u e n o s e n v e rg o n h a . " O E sta d o d e S.
P a u lo ", 10 jan. 2001.
CEZA RI, M arcos. Leo afia as g arra s, e b rasileiro p a g a m a is 126% d e trib u to em
seis a n o s. "F o lh a d e S. P a u lo " , 25 m a r. 2001.
C O E L H O , S acha C a lm o n N a v a rro . O n o v o sistem a trib u trio . R evista de Direito
Tributrio, n" 36. So P aulo; R evista d o s T rib u n a is, 1986.

C O N Y , C a rlo s H eito r. O v iru s e a infeco. In "F olha d e S. P a u lo " , 5" feira, 5 d e


ju n h o d e 2003.
CO NTREIRA S, H lio. Q u a s e u n a n im id a d e . In "Isto ", 27 m a r. 2002.
CO STA E SILVA, Jo rg e A lberto. P siq u iatria S. A. In "V eja", 27 ju n . 2001.
C O STA , Joo R ica rd o d o s Santos. A te n ta d o c o n tra o E sta d o D e m o cr tic o d e
D ireito. "O E sta d o d o P a ra n " , 1 abr. 2001, caderno D ireito e Justia.
D E R A N I, C ristian e . D ireito A m b ien ta l Econmico. So Paulo: M a x L im o n a d , 1997.
DIAS, Jos C arlos. A ca ix a -p re ta d a Justia. "F olha d e S. P a u lo " , 18 m a io 2003.
D O M IN G O S , Joo. M e d id a a u to riz a ju ros so b re juros. "G a z e ta M erc an til", 9 ,1 0
e 11 ju n . 2000.
DOTTI, R en Ariel; Elias M a tta r A ssa d (C o o rd e n a d o res). Prerrogativas Profissi
onais dos A dvogados. A n a is do E ncontro Brasileiro alusivo aos 10 anos do E sta tu to da
A dvocacia e da O A B . OA B Paran .

D U PA S, G ilberto. A rm a d ilh a s d a insero global. " O E sta d o d e S. P a u lo " , 05


m aio 2001.

D E S A F IO S D A C I D A D A N I A ! 2 8 1

D YSO N, F ree m an . G ente e mquinas. Sao P aulo: N o v a C u ltu ra l, 1988.


EID J N IO R , W illiam ; G A LLO , Fbio. Cooperativas de crdito. D isp o n v e l em:
<h ttp ://u ltim o s e g u n d o .ig .c o m .b r > A cesso e m 31 m a r. 2003.
EY, H e n ri. Tratado de psiquiatria. Barcelona: T o ra y M a sso n , 1969.
F R A N A , R. L im o n g i (C o o rd e n a o ). Enciclopdia Saraiva do Direito, v o lu m e
17. So Paulo: S ara iv a , 1977.
F R A N C O , H e rc u la n o M artin s. A ln g u a e a lei. "O D irio d o N o rte d o P a ra n " ,
19 dez. 2000.
FR EE M A N , M a rsh a . C alif rn ia rev erte d e s re g u la m e n ta o eltrica. P u b lic a d o
e m Solidariedade Ibero-Americana, 1" q u in z e n a d e fe v ere iro d e 2003, p. 14.
FR O M M , Erich. A revoluo da esperana: por um a tecnologia h um anizada. T rad, de
E d m o n d Jorge. Rio d e Janeiro; Z a h a r, 1969.
G A L D IN O , D irceu . C o n d i e s d e re aju ste d o 'le a s in g " . R evista dos Tribunais n
639. So P aulo; R evista d o s T rib u n ais, 1989.
________________ . Repensando o Direito do Trabalho Rural. 2. ed. M aring: A lbatroz,
1996.
_________________. V a n ta g e n s d a s C o m iss es d e C on ciliao P r v ia e d o s N c le
os In tersin d ic a is. In R evista L T r Legislao do Trabalho. So P aulo: LTr, a n o 36, n
345, 2000.
G A L D IN O , D irceu; A R Z U A , H eron. A C o n trib u i o ao IN C R A e a C o n stitu i
o d e 1988. In R evista Dialtica de Direito Tributrio, n'' 16. So P aulo: Dialtica,
1997.
_________________. A fo rm a o a n tid e m o c r tic a d o s C o n se lh o s d e C o n tr ib u in
tes. In R evista Dialtica de D ireito Tributrio, n" 34. So P aulo: D ialtica, ju lh o de
1998.
G A N D R A , Ives, n o v o lu m e 4", t. II, d e Com entrios C onstituio do Brasil, ao
tra ta r d o a s s u n to refe re n te ao T rib u n al d e C o n ta s, d e fe n d e a p o ss ib ilid a d e do
T rib u n a l d e C o n ta s se d isso c ia r d o P o d e r L e g isla tiv o e se in te g r a r ao P o d e r
Ju d icirio , r e a liz a n d o -se p o r c o n c u rso o acesso a se u s cargos.
G A RCIA , M an u el Alonso. Curso de Derecho dei Trabajo. 8. ed. Barcelona; Ariel, 1982.

2 8 2

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

G IU SEPPE La L oggia. T ra d u o ex tra d a d a o b ra d e P rincipii D el D iritto Lavoro.


M ilo: F ratelli R ocea E d ito ri, 1940.
GLEISER, M arcelo. A dana do Universo. 2. ed. (11 re im p re ss o ). So Paulo; C o m
p a n h ia d a s L etras, 2002.
G O M ES, L u iz Flvio. F ria legislativa. In " O E stad o d o P a ra n " , Caderno Direito
e Justia, 21 d e a b ril d e 2002.

GOTLIB, R onaldo. O D ecreto-Lei 7 0 /19 66 e a C on stituio. Inform ativo A D C O A S ,


a n o V, n 34.
G U N T EN SPER G ER , T h o m a s M. U m su o e m M arin g . R evista da Associao
Comercial e In d ustria l de M aring, r f 360.

G U TEN BERG , Alex. Bancos e b a n q u e iro s esfo lam e d e s g ra a m o p o v o . ''O Es


ta d o d o P a ra n " , 25 n ov. 2001.
________________ . Polticos q u e re m fazer d in h e iro na c a m p a n h a . V encer eleio
u m a h ist ria se c u n d ria . " O E sta d o d o P a ra n " , 24 m a r. 2002.
H ESSEN, Jo h a n n e s. Filosofia dos Valores. T ra d u o d e L. C a b ra l d e M o n cad a.
C oim bra: A rm n io A m a d o , 1967.
H O R T A , R aul M a c h a d o . I m p ro b id a d e e C o rru p o . R evista de D ireito A d m in is
trativo, Rio d e Jan eiro , 236:121-128, a b r ./ju n . 2004.

IN G E N IE R O S, Jos. O H o m e m Mediocre. C u ritiba: L iv raria d o C h a in , s / d a t a .


JABUR, Issa C.; A N D R A D E , A irto n D elfino de. Estudos para avaliao dos nveis
de poluio das guas de superfcie e de subsolo provocada por agentes contam inantes.

M aring: In s titu to d e T ecnologia e C incia A m b ie n tal, 1999.


JESUS, D a m sio E. de. O s e rro s e o fo rm a lism o d a justia c rim in a l brasileira.
R evista Sntese, a n o 4, n" 43, set. 2000.

JO RG E, E d u a rd o . E sse g r u p o a g e to ta lm e n te fora d a lei. In " O E sta d o d e S.


P a u lo ", d o m in g o , 04 d e ab ril d e 2004.
KLEIN , M elaine. O se n tim en to de solido. 1. ed. Rio d e Janeiro: Im a g o , 1975.
LEM GRUBER, Julita. Q u e m p a g a a p ena. "V eja", 16 jul. 1997.
LINS E SILVA, E v a n d ro . Crim e de herm enutica e s m u la vin c u la n te D isp o n v el
em: <w w w .im b .o r g .b r> A cesso em; 19 ju n . 2002.

D E S A F IO S OA C ID A D A N IA

LO PES FIL H O , O sris. S istem a trib u t rio b rasileiro . R ev ista Jurdica Consulex,
a n o V, n" 117. Braslia: C onsulex, 2001.
M A C H A D O , Srgio A p p ro b a te . Reforma Tributria. D isp o n v e l n o site: h t t p : / /
w w w .c o n ta b il.c o m .b r /a p f i re f o rm a trib u ta ria .h tm . A cesso e m 0 3 /0 9 /2 0 0 3 .
M A C H A D O , R u b e n s A p p ro b a te . A OAB e o TCU. In '"Folha d e S. P a u lo ", 5"
feira, 11 d e d e z e m b ro d e 2003, Caderno Tendncias e Debates.
_________________ , H o m e n s & idias - Pequenas h om enagens, g ra n d e s esperanas.
Braslia: C o n se lh o F e d era l d a OAB, 2001.
M A Q U IA V E L , N ico lau . Escritos polticos. So P aulo: A bril C u ltu ra l, 1973,
M A IN A R D l, D iogo, A p ra g a brasileira. In "V eja", a n o 36, n" 48. So P aulo: Abril,
3 d e d e z e m b r o d e 2003.
M A R IZ, C ristian o . Saiu a V refo rm a; o a u m ento dos deputados. In '"Veja'", 12 de
m a r o d e 2003. D isp o n v e l em ; <h tt p : / / v e j a .a b r i l .c o m .b r > A c esso e m 18 d e
m a ro d e 2003.
M A R T IN , H a n s -P e tte r; S C H U M A N N , H a ra ld . A arm adilha dn globalizao. 6.
ed. So P aulo: G lo bo, 1999.
M A R TIN S, Ives G a n d r a d a Silva. n ecessrio q u e o p o v o saiba. " O p in i o " , 04
nov . 2001.
M A ZZILL, H u g o N igro. O in q u rito civil". So P au lo : S araiva, 1999.
M ELO , Jos E d u a rd o . O Im posto sobre Produtos Industrializados na C onstituio de
1988 (IPI). So Paulo: RT, 1991.

M ELLO, M a rco A u r lio M e n d e s d e Farias. Ju d ic irio - u m a v iso realista. In


Inform ativo Adcoas n' 31, n ov. 2000.

M E N D ES, G rassi. R azes p a ra n o c o m e m o ra r os 500 anos. "G a z e ta M e rc a n


til", 20 abr. 2000.
M E N N IN G E R , Kar! A u g u stu s . A m ente hum ana. So P aulo: Ib ra sa , 1971.
M E N N IN G E R , Karl. O pecado de nossa poca. T ra d u o d e C larice Lispector. Rio
d e Janeiro: Jos O lm p io , 1975.
M IR A N D A , D a rc y A rru d a . Comentrios Lei de Im prensa. 3. ed. So Paulo; Re
vista d o s T rib u n a is, 1995.

284

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

M O N T E IR O , Sam uel. Recurso especial e extraordinrio. So Paulo; H e m u s , 1992.


M O N T E SQ U IE U , C h a rles L ouis d e Secondat. D o espirito das leis. In tro d u o e
n o ta s d e G o n z a g u e T rue. T ra d u o d e F e rn a n d o H e n r iq u e C a r d o s o e L encio
M a rtin s R o d rig u e s. 2. ed. So Paulo; A bril C u ltu ra l, 1979.
________________ . Consideraes sobre as causas da grandeza dos rom anos e da sua
decadncia. In tro d u o , tra d u o e n o ta s d e P e d ro V ieira M ota. So Paulo; S a ra i

va, 1997.
________________ . Do esprito das leis. So Paulo: A bril C u ltu ra l, 1973.
N A S C IM E N T O , A m a u ri M ascaro. Com pndio de D ireito do Trabalho. 2. ed. So
Paulo: LTr, 1976.
N B R EG A , M ail so n d a. In v o lu o trib u tria. " O E sta d o d e S. P a u lo ", 10 dez.
2000 .
OLIVEIRA, M a n fre d o A ra jo de. A filosofia na crise da modernidade. So Paulo:
Loyola, 1989.
OLIVEIRA , M arcos. Poltica trib u t ria q u e d is trib u i injustia. n "G a z e ta M e r
cantil", 08 d e ju n h o d e 2000.
PA IN E , T h o m a s. Os D ireitos do H om em . T ra d u o d e Jaim e A. C lasen. P etrpolis.
V ozes, 1989.
PEDREIRA, F e rn a n d o . Q u e m v e m p a ra o jan ta r? " O E sta d o d e S. P a u lo " , 1 abr.
2001, p . A-2.
PEREIRA, D aniel, S etor p b lico lid era lista d o s m a io re s litig a n te s n o TST. "G a
z e ta M erc an til", 1 4 ,1 5 e 16 m a r. 2003.
PEREIRA, O s n y D u a rte . D ireito Florestal brasileiro. Rio d e Janeiro: Borsoi, 1950.
PINSKEY, Jaim e. H istria da cidadania. So Paulo: C o n tex to , 2003.
PL A T O . O banquete. C oleo "B iblioteca C lssica". 3. ed . S o P au lo : A tena,
1956.

V.

XXXVI.

P O N T E S D E M IR A N D A . Comettrios Constituio de 1967. So P aulo: R evista


d o s T rib u n a is, 1970, t. III, p. 244.
P O U N D , Ezra. Os cantos. Rio d e Janeiro: N o v a F ro n te ira , 1972.

D E S A F IO S DA C ID A D A N IA

PR A D O , Srgio. Ju d ic i rio a m p lia a tu a o poltica e m 2002. "'G azeta M e rc a n


til", 31 d ez. 2001, V e 02 jan. 2002.
P U T N A M , R o b e rt D. A e ra d o egosm o. "V eja", 18 m a io 1994.
Q U A D R O S , M rcia, S e m e s tra lid a d e d o PIS ser ju lg a d a . "G a z e ta M ercantil",
19 m a r. 2001.
Q U EV ED O , O sc a r G. A fa ce oculta da m ente, 16. ed. So P a u lo . E dies Loyola,
1968.
________________ . A s foras fsica s da mente. 8. ed., to m o s I e II, So P au lo : E di
es Loyola, 1988.
R A M OS, Saulo. A n o v a o rd e m co n stitucion al: aspectos polmicos. Rio d e Janeiro:
F orense, 1990.
R IZZO , G iaco m o ; A ZE V ED O , A n d e rs o n de; P IPO L O , H e n r iq u e A fonso. A inc o n stitu c io n a lid a d e d o a rtig o 5" d a M P 1.963-17, q u e a d m ite a c ap ita liz a o dos
ju ro s c o m p e rio d ic id a d e in fe rio r a u m ano. In Repertrio de Jurisprudncia, V
q u in z e n a d e m a io d e 2001, c a d e rn o 3.
R N A I, P au lo . Dicionrio universal de citaes. So P aulo : C rcu lo d o Livro, 1985.
SA N TO S, A n to n io O liveira. T erro rism o trib u t rio . R evista Coiirobusiness r f 19,
a n o IV, n o v ./ d e z . 2001. D isp o n v e l em : <h ttp ://w w w .c o u r o b u s in e s s .c o m .b r /
p v is ta d e z 2001.h t m > A cesso em: 21 jun. 2002.
S A P O Z N IK , Ralf. O s ju ro s e a in te rp re ta o q u e c o n v m . "G a z e ta M ercantil",
2, 3 e 4 ju n . 2000.
SC H M IT T, M aurlio. S istem a trib u t rio , p rin c p io s e v alo res: O I C M S c o m o efe
tivo in s tr u m e n to d e poltica trib u t ria e fiscal n o E sta d o d o P a ra n . In A nlise
C o n ju n tu ra l - I P A R D E S , v. 25, n 3-4, m a r o /a b r il 2003.

________________ . C u s to Brasil - M o d e lo d e T rib u tao . In Jornal do Economista


(In fo rm ativ o O ficial d o C o re co n - PR), n" 60, ja n e iro a m a r o d e 2001.
SECCO, A lex a n d re ; PA TURY, Felipe. Fera fam inta. "V eja", 14 n ov . 2001.
S H E E N , J. F u lton . O problema da liberdade. 7. ed. T rad, d e A u g u s to d e M elo Sa
raiva. Rio d e Janeiro: A gir, 1962.

286

D IR C E U G A L D IN O C A R D IN

SILVA, A n t n io lv are s da. Soluo d o s conflitos d o tra b a lh o . In C urso de D irei


to do Trabalho - E studos em memria de Clio Goyat. 2. ed. So P aulo: LTr, 1994,

vol. II.
SK ID M ORE, T h o m as. C h e g a d e receitas. "V eja", 19 abr. 2000.
S O B R IN H O , M a n o el d e O liv eira Franco. O cidado M a n o el de O liveira Franco
Sobrinho: crnicas. E d ito ra o eletrnica. C u ritib a, 2004.

SOU SA, R u b e n s G o m es d e et alli. Interpretao no D ireito Tributrio. So Paulo:


S araiva, 1975.
SO U Z A , P a u lo H e n riq u e . C o n g e la m e n to d a tab ela d e IR castig a q u e m g a n h a
m e n o s. "F o lh a d e S. P a u lo ", 16 abr. 2001.
SZ A JM A N , A b ram . A re b o q u e d a globalizao. In Balco de N otcias F C C E SP , 22
m a io 2000 - N e w s L e tte r n" 175.
TORRES, R ic ard o Lobo. O IPI e o p rin c p io d a sele tiv id a d e. In R evista Dialtica
de Direito Tributrio, n" 18. So Paulo; D ialtica, 1997.

TRIGO , L uiz G o n z a g a G odoi. R ealid ade: n o sab em o s tra ta r tu ristas. " O E sta
d o d e S. P a u lo ", 11 m ar. 2001.
VARGAS, Jo rg e d e O liveira, O D ireito T rib u t rio a servio d o m e io am b ien te.
Bonijwris Boletim Informatiiio, So P au lo , n" 350, p. 4349, 20 set. 98.
V A SC O N C ELO S, A n t n io G om es; G A L D IN O , D irceu. N cleos Intersindicais de
Conciliao Trabalhista. So Paulo: LTr, 1999.

VID A L, Jos W a lter Bautista. Brasil - Civilizao suicida. Braslia: S tar P rin t, 2000.
VIEIRA, P a d re A n t n io . Textos escolhidos. Lisboa: V erbo, 1971.
W EING ERB, M nica. O se n h o r p olm ica. "V eja", 21 ago. 2002. D isp o n v e l em:
<h ttp ://w w w 2 .u o l.c o m .b r /v e ja /2 1 0 8 0 2 /e n tr e v is ta .h tm l> A cesso em : 26 nov.
2002 .

Este livro uma espcie de bula da cidadania. Indica aes


concretas em sua defesa. Diagnostica fragilidades e absurdos
da vida pblica brasileira, das relaes do contribuinte com as
instituies do Estado. Para uma entidade como a Ordem dos

I Advogados do Brasil, que tem sido, desde sua fundao, h 75


" anos, uma tribuna da cidadania brasileira, este trabalho h de

servir como preciosa e constante fonte de consulta. Desde j o


recomendo a todos os que tm a responsabilidade profissional !

de servir o pblico, independentemente de ideologia ou partido

a poltico. Este livro no apenas mostra o que cidadania: ele


I mesmo um produto do espirito cidado de seu autor, a quem ir
I

parabenizo pelo empreendimento.

ROBERTO BUSATO
Presidente do Conselho Federal da OAB

Você também pode gostar