Despertar Sexualidade
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O despertar da sexualidade
Desde o nascimento, a criana explora o prazer, os contatos
afetivos e as relaes de gnero. Saiba como responder s dvidas
infantis sobre o tema
Thais Gurgel
"A gente t de mos dadas, passeando com o cachorro. Eu e o Lus." Ana Beatriz, 4 anos
Apreciar a textura de um sorvete, relaxar numa massagem, desfrutar o beijo da pessoa amada:
tudo o que se relaciona ao prazer com o corpo est ligado sexualidade. Embora pelo senso
comum ela se confunda com o erotismo, a genitalidade e as relaes sexuais, o fato que esse
campo do desenvolvimento humano pode ser entendido num sentido mais amplo e deve incluir
a conscientizao sobre o prprio corpo e a forma de se relacionar amorosamente.
Ainda que esse processo se estenda pelo resto da vida, ele se inicia na infncia, desde o
nascimento. "As crianas sentem prazer em explorar o corpo, em serem tocadas, acariciadas.
Elas experimentam a si prprias e ao entorno, vivenciam limites e possibilidades", diz Cludia
Ribeiro, professora da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais.
De modo geral, possvel falar em trs "frentes de descobrimento", que ocorrem
paralelamente: a da dinmica das relaes afetivas, a do prazer com o corpo e a da
identificao com o gnero. Tudo se inicia com a primeira percepo de prazer: o ato de
mamar, uma ao que d alvio ao desconforto da fome e que intensifica o vnculo afetivo,
baseado na sensao de cuidado e acolhimento. "A ligao entre me e beb um embrio
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relacional que, mais adiante, ser desafiado com a percepo de que a figura materna desvia sua
ateno para outras pessoas, como o pai ou um irmo", explica Ada Morgenstern, psicanalista e
professora do Instituto Sedes Sapientiae, em So Paulo.
Ao constatar que no o centro das atenes, a criana sente certo abalo em seu "reinado", mas
tambm percebe que a sensao boa de se relacionar pode ser estendida para alm da figura da
me. Inicialmente, ela se volta para outros membros do contexto familiar e, em seguida, depois
do primeiro ano de vida, para fora dele. "Essas relaes do uma referncia criana sobre sua
prpria identidade. Interagindo com amigos, ela percebe a si mesma", diz Maria Helena Vilela,
educadora sexual e diretora do Instituto Kaplan, em So Paulo.
Para compreender as relaes entre casais, os pequenos criam representaes com faz de
conta e imitao.
O prazer do vnculo afetivo e das interaes sociais se d em paralelo com a percepo das
relaes amorosas entre casais. Para compreender essa realidade do mundo, a criana se
utiliza de recursos prprios da fase que vive: o faz de conta e a imitao. Falas como a de Ana
Beatriz (primeira imagem), que representa no desenho um passeio de mos dadas com um
colega - ou seja, uma situao tpica de namoro -, demonstram o interesse sobre os
relacionamentos.
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tambm durante a Educao Infantil que os pequenos comeam a se colocar questes sobre a
origem dos bebs. Os caminhos para resolver esse "mistrio" costumam ser perguntar a um
adulto ou elaborar teorias prprias com as informaes que coletam das mais variadas fontes conversas, filmes e livros, por exemplo. A fala de Lus Antnio, que parece se contentar com a
ideia de que os bebs vm do hospital, um exemplo disso (veja o dilogo abaixo).
"A minha me t perguntando para o meu pai se ela pode me dar um irmozinho. Se ele deixar, vai
nascer." Lus Antnio, 4 anos
"E de onde ele vai vir?" reprter
"Do (hospital) Samaritano." Lus Antnio
"Nessa hora, o importante responder exatamente o que a criana est perguntando, sem
antecipar dvidas", diz Marcos Ribeiro, sexlogo e coordenador geral da ONG Centro de
Educao Sexual, no Rio de Janeiro. Se uma criana indaga como os bebs nascem, dizer que
eles saem do hospital, embora no seja errado, no resolve a dvida, pois poderia indicar que
eles so comprados ou pegos no local. Uma possibilidade dizer que eles vm da barriga da
me, sem dizer como ele entra ou sai dela (a menos que o pequeno pergunte). "Assim,
possvel garantir que eles tenham acesso informao medida que as questes faam sentido
para eles ou os inquietem", diz Ribeiro.
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privado
" preciso ter ateno rigidez dessa diferenciao e criao de esteretipos que no
contemplem a diversidade entre as pessoas", alerta Ribeiro. Nesse aspecto, a escola tem um
papel importante. A maneira como a instituio lida com as diferenas fsicas e a igualdade de
oportunidades so maneiras de ensinar o respeito diversidade e de no reafirmar clichs
questionveis - como o fato de a menina ser passiva, e o menino, destemido ou mesmo
autoritrio.
Da mesma forma, a equipe docente tem responsabilidade em explicitar as regras da cultura em
que os pequenos esto inseridos. preciso ter ateno, sobretudo, distino do que cabe no
espao pblico e no privado. A masturbao, por exemplo, requer um espao privado para ser
realizada, assim como urinar e defecar. "O professor deve intervir ao ver um menino
manipulando a genitlia em local pblico, mas o foco no deve ser a ao em si. A questo o
local apropriado", diz Maria Helena. "O adulto no deve repreender a criana apenas porque ele
mesmo est incomodado. Se ela estiver se tocando em local privado, como a cabine de um
banheiro, no adequado pedir para parar."
Construda no incio da vida, a identificao com o gnero se vincula cultura em que cada
criana se insere.
O desafio para o professor enorme: ao mesmo tempo em que deve preservar a intimidade das
crianas e no culpabiliz-las por manifestaes de sexualidade, ele responsvel por um
processo educativo que aborde valores, diferenas individuais e grupais, de costumes e de
crenas. Isso fundamental tan-to na infncia como na adolescncia, quando a questo
ressurge a todo vapor. O mesmo te-ma voltar a ser abordado na srie Desenvolvimento
Infantil e Juvenil - que, a partir do ms que vem, direciona o olhar para o comportamento dos
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jovens.
* Os desenhos e os dilogos publicados nesta reportagem so de crianas de 3 a 5 anos da Creche
Central da Universidade de So Paulo (USP)
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