Crise Dos Mísseis em Cuba
Crise Dos Mísseis em Cuba
Crise Dos Mísseis em Cuba
Um dos momentos mais quentes da Guerra Fria quase levou o mundo a um longo inverno
nuclear. Durante treze dias em outubro de 1962 a humanidade assistiu a uma disputa
entre Estados Unidos, União Soviética e Cuba que por muito pouco não acabou em
ataques com bombas atômicas e na extinção da espécie humana (e de quase todas as
outras) da face da Terra. O motivo desse cenário de horror e holocausto era a intenção de
Cuba e União Soviética de instalar bases de lançamentos de mísseis com armas
nucleares em território cubano, isto é, a menos de duas centenas de quilômetros da costa
norte-americana.
A crise dos mísseis em Cuba foi um arriscado epílogo de uma série de capítulos que
começou três anos antes. A revolução cubana que levou Fidel Castro ao poder em 1959, a
recusa dos Estados Unidos em aceitar o novo governo cubano e a consequente
aproximação política, econômica e militar da ilha
caribenha da comunista União Soviética, as
tentativas norte-americanas de derrubar Castro
do poder, como na desastrada invasão da baía
dos Porcos em 1961, e, no mesmo ano, a
instalação de mísseis nucleares americanos na
Turquia, que podiam atingir Moscou em menos
de vinte minutos, construíram um roteiro de
confrontos entre as duas então superpotências
que poderia ter um fim apocalíptico.
Na manhã do dia 16 de outubro, após uma análise minuciosa das imagens e identificação
dos armamentos, o assessor especial de Kennedy, McGeorge Bundy, mostrou para o
presidente as evidências de que os soviéticos estavam montando bases de lançamentos
de mísseis nucleares em Cuba. Imediatamente, Kennedy convocou o Comitê Executivo do
Conselho de Segurança Nacional (ExComm). Participavam dele os mais importantes
integrantes do alto escalão do governo americano, como o Secretário de Defesa Robert
McNamara e o Secretário de Justiça Robbert Kennedy, irmão do presidente, além dos
chefes militares.
Quem começou?
A justificativa para instalar um sistema de mísseis nucleares
soviéticos em Cuba era que a ilha caribenha precisava se defender
da ameaça constante dos Estados Unidos de invasão para depor o
regime comandado por Fidel Castro. Em 1961, financiado e
treinado pela Agência Central de Inteligência (CIA, em inglês) e
com suporte aéreo, um grupo de 1.500 cubanos desembarcou na
baía dos Porcos para colocar em ação tal plano. Mas a tentativa
de golpe contra Castro, autorizada por John Kennedy apesar de
ter sido engendrada no governo anterior, fracassou em menos de
cinco dias. A CIA, no entanto, não desistiu e começou a tramar
formas de assassinar o líder cubano. Além da questão cubana, os
americanos tinham também instalados mísseis com ogivas
nucleares na Turquia, país vizinho da então União Soviética, com
capacidade de atingir Moscou em menos de vinte minutos. Esses
fatos foram usados por Cuba e a URSS como pretextos para
instalar os mísseis soviéticos na ilha caribenha.
O surpreendente Khrushchev
A ascensão ao poder na União Soviética de Nikita Khrushchev em
1953 fez o mundo descobrir as atrocidades que seu antecessor, o
ditador Joseph Stálin, cometera durante três décadas. O reformista
Khrushchev surpreendeu a todos ao denunciar os "crimes de
Stálin", e a crise dos mísseis em Cuba foi mais um episódio em
que ele se revelou um político surpreendente. Toda a
movimentação militar soviética em relação à instalação dos
mísseis nucleares na ilha caribenha foi provavelmente mais uma
estratégia política do líder soviético para fortalecer seu poder
interna e externamente do que um real desejo de confronto com os
Estados Unidos. Mas os riscos políticos que Khrushchev assumiu
foram bem altos e por muito pouco ele não perdeu a aposta, o que
significaria uma guerra nuclear e a destruição do planeta. Em carta
que escreveu de próprio punho e enviou a Kennedy no momento
mais crítico da crise, ele revelou um inesperado tom emocional,
incomum aos líderes soviéticos. No texto Khrushchev ressaltou
que os soviéticos não queriam destruir os Estados Unidos, mas
sim, apesar das diferenças ideológicas, competir pacificamente.
Ele enfatizou que "somente um louco é capaz de acreditar que as
armas são os principais meios de vida de uma sociedade. Se as
pessoas não mostrarem sabedoria, elas entrarão em confronto, e a
exterminação recíproca começará". No fim, apesar de ter de
recuar e retirar todos os mísseis soviéticos de Cuba, ele sairia com
dois trunfos: a promessa pública do governo dos Estados Unidos
de não atacar a ilha caribenha e o compromisso secreto dos norte-
americanos de retirarem os mísseis que tinham instalado na
Turquia. O resultado da crise, no entanto, deixou Khrushchev
enfraquecido e ele perderia o poder dois anos depois.
Fontes:
BLIGHT, James G. e outros. Cuba on the brink: Castro, the Missile Crisis, and the Soviet
collapse. Maryland: Rowman & Littlefield Publishers Inc., 2002.
CORDEIRO, Tiago. A Crise dos Mísseis: à beira do abismo in Aventuras na História,
edição 18, julho de 2007.
DIVINE, Robert A. The Cuban missile crisis. Nova York: Markus Weiner Publishing, 1988.
GARTHOFF, Raymond L. Reflections on the Cuban missile crisis. Washington: The
Brookings Institution, 1989.
http://pessoas.hsw.uol.com.br/crise-misseis-cuba.htm