Principios Editoriais Das Organizacoes Globo

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PRINCPIOS EDITORIAIS DAS ORGANIZAES GLOBO

Desde 1925, quando O Globo foi fundado por Irineu Marinho, as empresas jornalsticas das Organizaes Globo, comandadas por quase oito dcadas por Roberto Marinho, agem de acordo com princpios que as conduziram a posies de grande sucesso: o xito decorrncia direta do bom jornalismo que praticam. Certamente houve erros, mas a posio de sucesso em que se encontram hoje mostra que os acertos foram em maior nmero. Tais princpios foram praticados por geraes e geraes de maneira intuitiva, sem que estivessem formalizados ordenadamente num cdigo. Cada uma de nossas redaes sempre esteve imbuda deles, e todas puderam, at aqui, se pautar por eles. Por que, ento, formaliz-los neste documento? Com a consolidao da Era Digital, em que o indivduo isolado tem facilmente acesso a uma audincia potencialmente ampla para divulgar o que quer que seja, nota-se certa confuso entre o que ou no jornalismo, quem ou no jornalista, como se deve ou no proceder quando se tem em mente produzir informao de qualidade. A Era Digital absolutamente bem-vinda, e, mais ainda, essa multido de indivduos (isolados ou mesmo em grupo) que utiliza a internet para se comunicar e se expressar livremente. Ao mesmo tempo, porm, ela obriga a que todas as empresas que se dedicam a fazer jornalismo expressem de maneira formal os princpios que seguem cotidianamente. O objetivo no somente diferenciar-se, mas facilitar o julgamento do pblico sobre o trabalho dos veculos, permitindo, de forma transparente, que qualquer um verifique se a prtica condizente com a crena. As Organizaes Globo, diante dessa necessidade, oferecem ao pblico o documento Princpios Editoriais das Organizaes Globo. possvel que, para a maioria, ele no traga novidades. Se isso acontecer, ser algo positivo: um sinal de que a maior parte das pessoas

reconhece uma informao de qualidade, mesmo neste mundo em que basta ter um computador conectado internet para se comunicar. Desde logo, preciso esclarecer que no se tratou de elaborar um manual de redao. O que se pretendeu foi explicitar o que imprescindvel ao exerccio, com integridade, da prtica jornalstica, para que, a partir dessa base, os veculos das Organizaes Globo possam atualizar ou construir os seus manuais, consideradas as especificidades de cada um. O trabalho tem o prembulo Breve definio de jornalismo e trs sees: a) Os atributos da informao de qualidade; b) Como o jornalista deve proceder diante das fontes, do pblico, dos colegas e do veculo para o qual trabalha; c) Os valores cuja defesa um imperativo ao jornalismo. O documento resultou de muita reflexo, e sua matria-prima foi a nossa experincia cotidiana de quase nove dcadas. Levou em conta os nossos acertos, para que sejam reiterados, mas tambm os nossos erros, para que seja possvel evit-los. O que nele est escrito um compromisso com o pblico, que agora assinamos em nosso nome e de nossos filhos e netos.

Rio de Janeiro, 6 de agosto de 2011

Roberto Irineu Marinho

Joo Roberto Marinho

Jos Roberto Marinho

BREVE DEFINIO DE JORNALISMO

De todas as definies possveis de jornalismo, a que as Organizaes Globo adotam esta: jornalismo o conjunto de atividades que, seguindo certas regras e princpios, produz um primeiro conhecimento sobre fatos e pessoas. Qualquer fato e qualquer pessoa: uma crise poltica grave, decises governamentais com grande impacto na sociedade, uma guerra, uma descoberta cientfica, um desastre ambiental, mas tambm a narrativa de um atropelamento numa esquina movimentada, o surgimento de um buraco na rua, a descrio de um assalto loja da esquina, um casamento real na Europa, as novas regras para a declarao do Imposto de Renda ou mesmo a biografia das celebridades instantneas. O jornalismo aquela atividade que permite um primeiro conhecimento de todos esses fenmenos, os complexos e os simples, com um grau aceitvel de fidedignidade e correo, levando-se em conta o momento e as circunstncias em que ocorrem. , portanto, uma forma de apreenso da realidade. Antes, costumava-se dizer que o jornalismo era a busca pela verdade dos fatos. Com a popularizao confusa de uma discusso que remonta ao surgimento da filosofia (existe uma verdade e, se existe, possvel alcan-la?), essa definio clssica passou a ser vtima de toda sorte de mal-entendidos. A simplificao chegou a tal ponto que, hoje, no raro ouvir que, no existindo nem verdade nem objetividade, o jornalismo como busca da verdade no passa de uma utopia. um entendimento equivocado. No se trata aqui de enveredar por uma discusso sem fim, mas a tradio filosfica mais densa dir que a verdade pode ser inesgotvel, inalcanvel em sua plenitude, mas existe; e que, se a objetividade total certamente no possvel, h tcnicas que permitem ao homem, na busca pelo conhecimento, minimizar a graus aceitveis o subjetivismo.

para contornar essa simplificao em torno da verdade que se opta aqui por definir o jornalismo como uma atividade que produz conhecimento. Um conhecimento que ser constantemente aprofundado, primeiro pelo prprio jornalismo, em reportagens analticas de maior flego, e, depois, pelas cincias sociais, em especial pela Histria. Quando uma crise poltica eclode, por exemplo, o entendimento que se tem dela superficial, mas ele vai se adensando ao longo do tempo, com fatos que vo sendo descobertos, investigaes que vo sendo feitas, personagens que resolvem falar. A crise s ser mais bem entendida, porm, e jamais totalmente, anos depois, quando trabalhada por historiadores, com o estudo de documentos inacessveis no momento em que ela surgiu. Dizer, portanto, que o jornalismo produz conhecimento, um primeiro conhecimento, o mesmo que dizer que busca a verdade dos fatos, mas traduz com mais humildade o carter da atividade. E evita confuses. Dito isso, fica mais fcil dar um passo adiante. Pratica jornalismo todo veculo cujo propsito central seja conhecer, produzir conhecimento, informar. O veculo cujo objetivo central seja convencer, atrair adeptos, defender uma causa, faz propaganda. Um est na rbita do conhecimento; o outro, da luta poltico-ideolgica. Um jornal de um partido poltico, por exemplo, no deixa de ser um jornal, mas no pratica jornalismo, no como aqui definido: noticia os fatos, analisa-os, opina, mas sempre por um prisma, sempre com um vis, o vis do partido. E sempre com um propsito: o de conquistar seguidores. Faz propaganda. Algo bem diverso de um jornal generalista de informao: este noticia os fatos, analisa-os, opina, mas com a inteno consciente de no ter um vis, de tentar traduzir a realidade, no limite das possibilidades, livre de prismas. Produz conhecimento. As Organizaes Globo tero sempre e apenas veculos cujo propsito seja conhecer, produzir conhecimento, informar. claro que um jornal impresso, uma revista, um telejornal, um noticirio de rdio e um site noticioso na internet podem ter diversas

sees e abrigam muitos gneros: o noticirio propriamente dito, os editoriais com a opinio do veculo, anlises de especialistas, artigos opinativos de colaboradores, cronistas, crticos. E igualmente evidente que a opinio do veculo v a realidade sob o prisma das crenas e valores do prprio veculo. Da mesma forma, um cronista comentar a realidade impregnado de seu subjetivismo, assim como os articulistas convidados a fazer as anlises. Livre de prismas e de vieses, pelo menos em inteno, restar apenas o noticirio. Mas, se de fato o objetivo do veculo for conhecer, informar, haver um esforo consciente para que a sua opinio seja contradita por outras e para que haja cronistas, articulistas e analistas de vrias tendncias. Em resumo, portanto, jornalismo uma atividade cujo propsito central produzir um primeiro conhecimento sobre fatos e pessoas.

SEO I OS ATRIBUTOS DA INFORMAO DE QUALIDADE

Para que o jornalismo produza conhecimento, que princpios deve seguir? O trabalho jornalstico tem de ser feito buscando-se iseno, correo e agilidade. Porque s tem valor a informao jornalstica que seja isenta, correta e prestada com rapidez, os seus trs atributos de qualidade. 1) A iseno: Iseno a palavra-chave em jornalismo. E to problemtica quanto verdade. Sem iseno, a informao fica enviesada, viciada, perde qualidade. Diante, porm, da pergunta eterna possvel ter 100% de iseno? a resposta um simples no. Assim como a verdade inexaurvel, impossvel que algum

possa se despir totalmente do seu subjetivismo. Isso no quer dizer, contudo, que seja impossvel atingir um grau bastante elevado de iseno. possvel, desde que haja um esforo consciente do veculo e de seus profissionais para que isso acontea. E que certos princpios sejam seguidos. So eles: a) Os veculos jornalsticos das Organizaes Globo devem ter a iseno como um objetivo consciente e formalmente declarado. Todos os seus nveis hierrquicos, nos vrios departamentos, devem levar em conta este objetivo em todas as decises; b) Na apurao, edio e publicao de uma reportagem, seja ela factual ou analtica, os diversos ngulos que cercam os acontecimentos que ela busca retratar ou analisar devem ser abordados. O contraditrio deve ser sempre acolhido, o que implica dizer que todos os diretamente envolvidos no assunto tm direito sua verso sobre os fatos, expresso de seus pontos de vista ou a dar as explicaes que considerar convenientes; c) Isso no quer dizer que o relato e/ou anlise de fatos sero sempre uma justaposio de verses. Ao contrrio, o jornalista deve se esforar para deixar claro o que realmente aconteceu, quando isso for possvel. Se uma apurao, durante a qual se ouvem vrias fontes, estabelecer como fato que certa autoridade disse isso ou aquilo durante uma reunio fechada, o relato deve ser assertivo, sem o uso do condicional. Ser dito que a autoridade disse isso e aquilo, em vez de a autoridade teria dito isso e aquilo. Se a autoridade negar a afirmao publicamente, deve-se registrar a atitude, no para invalidar a apurao, mas porque a negativa passa a ser ela prpria uma informao para o julgamento do pblico. O condicional s ser usado quando a

apurao no for suficiente para que o jornalista consolide uma convico; d) No pode haver assuntos tabus. Tudo aquilo que for de interesse pblico, tudo aquilo que for notcia, deve ser publicado, analisado, discutido; e) Ningum pode ser perseguido por se recusar a participar de uma reportagem; da mesma forma, ningum pode ser favorecido por faz-lo; f) Todos os jornalistas envolvidos na apurao, edio e publicao de uma reportagem, em qualquer nvel hierrquico, devem se esforar ao mximo para deixar de lado suas idiossincrasias e gostos pessoais. Gostar ou no de um assunto ou personagem no critrio para que algo seja ou no publicado. O critrio ser notcia; g) A hierarquia, numa redao, fundamental para que o trabalho jornalstico possa ser feito a tempo e hora. E a deciso final caber sempre quele que estiver no comando. Ocupantes de cargos de chefia e direo devem, contudo, ter ouvidos abertos a crticas e argumentaes contrrias. O trabalho jornalstico essencialmente coletivo, e erraro menos aqueles que ouvirem mais. Porque aquilo que pode parecer certo, acima de dvidas, confrontado com outros argumentos, pode se revelar apenas fruto de gosto pessoal, idiossincrasia ou preconceito; h) imperativo que no haja filtros na composio das redaes. Quanto mais diversa for uma redao em termos de gostos, crenas, tendncias polticas, orientao sexual, origens social e geogrfica mais isenta ser a escolha dos assuntos a serem cobertos, discutidos e analisados, e mais abrangente a acolhida dos pontos de vista em torno deles.

Esse objetivo no se alcana estabelecendo-se cotas, mas simplesmente evitando-se filtros. Os jornalistas devem ser escolhidos entre os mais capazes em suas reas e funes, entre aqueles que tm a democracia e a liberdade de expresso como valores absolutos e universais; i) As Organizaes Globo so apartidrias, e os seus veculos devem se esforar para assim ser percebidos; j) As Organizaes Globo so laicas, e os seus veculos devem se esforar para assim ser percebidos; k) As Organizaes Globo repudiam todas as formas de preconceito, e seus veculos devem se esforar para assim ser percebidos; l) As Organizaes Globo so independentes de governos, e os seus veculos devem se esforar para assim ser percebidos; m) As Organizaes Globo so independentes de grupos econmicos, e os seus veculos devem se esforar para assim ser percebidos. Por esse motivo, as decises editoriais sobre reportagens envolvendo anunciantes sero tomadas a partir dos mesmos critrios usados em relao aos que no sejam anunciantes; n) As Organizaes Globo so entusiastas do Brasil, de sua diversidade, de sua cultura e de seu povo, tema principal de seus veculos. Isso em nenhuma hiptese abrir espao para a xenofobia ou desdm em relao a outros povos e culturas; o) Os jornalistas das Organizaes Globo devem evitar situaes que possam provocar dvidas sobre o seu compromisso com a iseno. Por exemplo, pode acontecer que atividades sociais ou econmicas de parentes tenham impacto no trabalho

cotidiano ou eventual dos jornalistas. possvel tambm que haja relao de amizade entre jornalistas e personalidades pblicas ou personagens que estejam em destaque no noticirio ou que venham a estar. Em casos dessa natureza ou assemelhados, os jornalistas nessa situao devem comunicar o fato a seus superiores, que devero encontrar meios de superar o conflito. Jornalistas em cargo de chefia ou que lidem diretamente com assuntos econmicos no podem fazer investimentos diretos em empresas ou em suas aes na Bolsa de Valores para que no venham a ser acusados de publicar reportagens positivas ou negativas sobre elas em benefcio prprio (o investimento em fundos permitido). De maneira geral, todo jornalista, na administrao de seus investimentos, deve evitar negcios com empresas ou instituies cujas atividades cubra cotidianamente. Em caso de dvida, a direo deve ser consultada; p) inadmissvel que jornalistas das Organizaes Globo faam reportagens em benefcio prprio ou que deixem de fazer aquelas que prejudiquem seus interesses; q) Os jornalistas das Organizaes Globo no podem se engajar em campanhas polticas, de forma alguma: nelas trabalhando, anunciando publicamente apoio a candidatos ou usando adereos que os vinculem a partidos. Em seus manuais de redao, os veculos devem criar normas de quarentena para receber de volta jornalistas que tenham pedido demisso a fim de trabalhar para partidos, candidatos ou governos; r) Os veculos das Organizaes Globo devem ser transparentes em suas aes e em seus propsitos. Isso significa que o pblico ser sempre informado sobre as condies em que forem feitas reportagens que fujam ao padro. Assim, para citar um exemplo, se for imperativo aceitar carona num avio

governamental em determinada cobertura, isso ser dito ao pblico claramente e, sempre que possvel, o governo ser ressarcido das despesas. Da mesma forma, quando uma deciso editorial provocar questionamentos relevantes, abrangentes e legtimos, os motivos que levaram a tal deciso devem ser esclarecidos; s) Os veculos das Organizaes Globo estabelecero normas, em seus manuais de redao, sobre como devem proceder seus jornalistas diante de convites e presentes. A regra geral que nada de valor deve ser aceito; t) Todo esforo deve ser feito para que o pblico possa diferenciar o que publicado como comentrio, como opinio, do que publicado como notcia, como informao. Fora do noticirio propriamente dito, os veculos das Organizaes Globo buscaro ter um corpo de comentaristas, cronistas e colaboradores, fixos ou eventuais, que seja plural, representando o arco mais amplo de tendncias legtimas em uma sociedade democrtica. Articulistas, cronistas e colaboradores fixos tm de zelar para que os dados objetivos usados para sustentar suas opinies estejam corretos. O mesmo deve acontecer com convidados, embora, neste caso, a responsabilidade pelo que dito seja deles e no do veculo; u) Os jornalistas das Organizaes Globo agiro sempre dentro da lei, procurando adaptar seus mtodos de apurao ao arcabouo jurdico do pas. Como o interesse pblico deve vir sempre em primeiro lugar, buscaro o auxlio de especialistas para que no sejam vtimas de interpretaes superficiais da legislao;

v) Uma pessoa poder ser apresentada como suspeita de crime ou irregularidade quando investigaes jornalsticas, feitas segundo os preceitos deste documento, assim permitirem. A reportagem ter de trazer a verso da pessoa acusada, de forma ampla, se ela se dispuser a falar; w) Denncia annima no notcia; pauta, mesmo se a fonte for uma autoridade pblica: a denncia deve ser investigada exausto antes de ser publicada (ver seo II item 4-e); x) Denncias e acusaes, feitas em entrevistas por pessoas devidamente identificadas, que desfrutem de credibilidade, seja pelo cargo que ocupam, seja pela histria de vida, podem ser publicadas, sem investigao prpria, mas, necessariamente, acompanhadas pela verso dos acusados, de preferncia no mesmo dia, quando estes se dispuserem a falar. Denncias feitas em entrevistas por pessoas sem credibilidade, como criminosos, por exemplo, mesmo se identificadas, devem ser exaustivamente investigadas, antes de serem publicadas;

y) Uma reportagem pode legitimamente apresentar uma pessoa como suspeita de crime ou irregularidade quando a suspeio partir oficialmente de alguma autoridade pblica e estiver registrada em documento ou entrevista. O anncio oficial de que algum suspeito de crime ou irregularidade um fato, que pode ser registrado dependendo de sua relevncia para a sociedade. Ao jornalista, cabe informar sobre o estgio em que se encontram as investigaes, devendo sempre cobrar os indcios que levaram a autoridade a sustentar suas suposies, publicando-os, acompanhados da verso da pessoa acusada, se ela se dispuser a falar. Se a

autoridade errar e culpar um inocente, o fato deve ser publicado com o mesmo destaque, e a polcia deve ser cobrada por seus erros;

z) Os veculos jornalsticos das Organizaes Globo devem priorizar sempre suas prprias investigaes e publicar o que resultar delas apenas se houver convico formada de que a reportagem legtima. Dessa forma, no automtica a publicao de repercusses sobre reportagens de outros veculos. Isso s deve ocorrer se o exame da reportagem produzir, de imediato, a convico de que nela h elementos de verdade. Do contrrio, imperioso que haja investigao prpria e, somente depois, se for o caso, repercutir a reportagem. H ocasies em que a mera publicao de uma reportagem produz efeitos instantneos. Quando for assim, publicam-se os efeitos, descreve-se a reportagem, mas ressaltando-se a sua origem e, de modo algum, acolhendo-a como verdadeira. Tudo depender do caso, do assunto, do momento e dos efeitos que ela produzir. Mas pode-se dizer, de modo geral e a ttulo de exemplo, que um ministro emitir uma nota respondendo a uma reportagem no motivo suficiente para que um veculo das Organizaes Globo a repercuta, antes de investigao prpria; a queda do ministro, porm, sim, justifica a publicao.

2) A correo: Correo aquilo que d credibilidade ao trabalho jornalstico: nada mais danoso para a reputao de um veculo do que uma reportagem errada ou uma anlise feita a partir de dados equivocados. O compromisso com o acerto deve ser, portanto,

inabalvel em todos os veculos das Organizaes Globo. evidente que, depois de tudo o que aqui j foi dito sobre o conceito de verdade, no demais dizer que estar correto procurar descrever e analisar os fatos da maneira mais acurada, dadas as circunstncias do momento. Nesse sentido, a correo um processo, uma construo que vai se dando dia aps dia. O jornalista investiga os fatos, pouco a pouco, e vai montando um quebra-cabea. O retrato final estar ainda incompleto, espera da Histria, mas ter de ser j, necessariamente, uma silhueta com contornos visveis. No h frmula, e nem jamais haver, que torne o jornalismo imune a erros, porm. Quando eles acontecem, obrigao do veculo corrigi-los de maneira transparente, sem subterfgios, num movimento que ele prprio essencial busca da informao correta. Um dos mecanismos que mais contribuem no controle de qualidade posterior publicao das informaes a reao do pblico. essencial, portanto, que todos os veculos das Organizaes Globo tenham, cada um sua maneira, estruturas que recebam amplamente as observaes do pblico, crticas ou elogiosas, para process-las, entend-las e dar seguimento a elas. Na busca pela correo, necessrio seguir os seguintes princpios: a) Informaes, para serem publicadas, devem ser confirmadas pelo maior nmero de fontes possvel. Exceo feita s informaes oficiais, de entidades pblicas ou privadas; b) Informaes e imagens enviadas pelo pblico pela internet s devem ser publicadas depois de averiguao quanto sua veracidade. Na cobertura de eventos em que o trabalho de jornalistas esteja cerceado, haver casos em que ser necessria a publicao de informaes e imagens assim obtidas, sem averiguao, mas o pblico dever ser avisado de que no h como confirmar se so verdadeiras;

c) O rigor com mincias no exagero, mas obrigao. Todos os dados de uma reportagem nomes, datas, locais, horrios, idades, endereos, referncias histricas, descries de processos, definies cientficas, termos de um contrato, explicaes sobre formas de governo, enfim, tudo o que de objetivo houver numa reportagem devem ser exatos, corretos, sem erros; d) Todo reprter responsvel pela exatido daquilo que apura, mas, como em jornalismo quase tudo se faz coletivamente, todos os envolvidos na edio de uma reportagem devem estar atentos para perceber inexatides. Expressar dvidas sobre dados de uma reportagem antes de sua publicao a melhor maneira de torn-la mais exata; e) A reviso no uma forma de controle ou censura. parte integrante e fundamental do processo jornalstico, e sua principal funo evitar erros. Se o processo jornalstico prescindiu da figura clssica do revisor, foi apenas porque todos os envolvidos numa reportagem se tornaram revisores. Nesse sentido, nenhuma reportagem deve ser publicada apenas com o exame do autor: indispensvel que outros envolvidos no processo participem desse exame; f) Ferramentas tecnolgicas hoje permitem o acesso rpido a bancos de dados confiveis. Todas as redaes das Organizaes Globo devem viabilizar tal acesso, e seus jornalistas devem se impor como obrigao consultar tais arquivos; g) Em reportagens que requeiram conhecimento tcnico, a consulta a especialistas deve ser obrigatria. Nenhum jornalista precisa ser mdico, qumico, bilogo ou historiador. Mas, por isso mesmo, para no errar em assuntos tcnicos,

todo jornalista precisa se socorrer de assessoria especializada, ouvindo sempre mais de um tcnico toda vez que o assunto for controverso; h) Quanto mais diversificado for o interesse dos jornalistas por disciplinas que no fazem parte de sua formao universitria bsica, mais equipada estar uma redao para tratar dos mltiplos assuntos com que lida diariamente. Ilustrar-se continuamente dever intransfervel de todo jornalista: num mundo em constante evoluo, nenhum jornalista deixa de estar em aprendizado contnuo. Os veculos das Organizaes Globo, no entanto, devem montar programas e estruturas de treinamento para auxiliar seus jornalistas, subsidiariamente, nessa tarefa; i) Com esse mesmo objetivo, embora as Organizaes Globo devam manter a prtica de recrutar majoritariamente seus profissionais nas faculdades de Comunicao, seus veculos devem estar sempre abertos a acolher profissionais de outros campos que decidam se dedicar ao jornalismo, desde que demonstrem aptido para tal; j) A anlise crtica das edies passadas um imperativo. a verificao cotidiana de pontos negativos e positivos das reportagens que permite o aperfeioamento contnuo delas e a adeso a estes princpios editoriais. Todos os veculos das Organizaes Globo devem ter as suas estruturas de anlise, escolhendo aquelas que melhor se adaptam ao seu perfil; k) Os veculos das Organizaes Globo devem ter estruturas para receber e processar as observaes, positivas e negativas, vindas do pblico de uma maneira geral: os consumidores de suas informaes, as fontes, os especialistas e os personagens de suas reportagens. No se trata aqui de publicar ou deixar de publicar uma informao porque esta

agrada a amplas camadas ou porque lhes desagrada: o dever de informar vem sempre em primeiro lugar. Conhecer a reao do pblico fundamental porque contribui para a melhoria da qualidade da informao de muitas formas. Ajuda a conhecer possveis erros, facilita o recebimento de novas informaes sobre alguma cobertura e pode revelar o que um fato em si mesmo: a prpria reao do pblico. Essas estruturas devem ser capazes de discernir o que manifestao espontnea e o que, em tempos de internet, orquestrao. No h um modelo nico: cada veculo deve encontrar aquele mais condizente com o seu perfil; l) Os erros devem ser corrigidos, sem subterfgios e com destaque. No h erro maior do que deixar os que ocorrem sem a devida correo; m) Os veculos das Organizaes Globo usaro a norma culta da Lngua Portuguesa, levando sempre em conta a sua evoluo e as mltiplas possibilidades que ela acolhe. Grias e neologismos sero evitados, sendo aceitos em declarao de entrevistados ou em reportagens mais leves, acompanhados, quando necessrio, da explicao sobre seu significado. Cada veculo estabelecer, em seu manual de redao, a padronizao que considerar a mais apropriada. Mas editores evitaro que suas idiossincrasias em relao lngua se tornem norma; n) Os veculos das Organizaes Globo tm obrigao de se fazer entender. Uma notcia tem de ser publicada de forma clara, para que o pblico a compreenda sem dificuldades. Nesse sentido, na edio de reportagens, recursos explicativos que facilitem o entendimento so uma obrigao.

3) A agilidade: A agilidade da produo jornalstica o que compensa, em larga medida, as suas imperfeies, se a compararmos a outras formas de conhecer a realidade. Em outras palavras, h um duplo sentido na afirmao de que o jornalismo produz uma primeira imagem dos fatos: a imagem primeira, porque dela ainda no se tm os contornos definitivos; mas, tambm, primeira porque traada logo aps o ocorrido. A informao tem de ser prestada no menor espao de tempo da melhor maneira possvel, eis a equao diante da qual os jornalistas se veem todos os dias. Portanto, atributo fundamental da qualidade da informao jornalstica ser produzida com rapidez. Se a Histria pode dispor de anos de trabalho para fazer aflorar a realidade, o jornalismo dispe de algumas horas (no mximo, de alguns dias, se a publicao for semanal ou mensal). a celeridade com que traa o primeiro retrato dos fatos que ao mesmo tempo d utilidade produo jornalstica e justifica as suas lacunas. A notcia tem pressa. E por essa razo que os seguintes princpios devem ser perseguidos: a) Os veculos das Organizaes Globo tero sempre como prioridade investir em tecnologia capaz de dar celeridade ao trabalho jornalstico e sua difuso. Devero estar atualizados com o que de melhor houver em maquinaria, equipamentos, softwares e meios de transporte; b) A burocracia que envolve o lado administrativo das empresas jornalsticas deve levar sempre em conta a necessidade de dar celeridade ao trabalho jornalstico. Os veculos devem desenvolver processos que controlem oramentos e despesas

sem que estes se transformem em entraves agilidade que o jornalismo requer; c) A rapidez necessria ao trabalho jornalstico no se confunde com precipitao: nenhuma reportagem ser publicada sem que esteja apurada dentro de parmetros seguros de qualidade; d) Deve-se perseguir o furo jornalstico, a informao exclusiva, em primeira mo, mas jamais se descuidar dos outros atributos da informao de qualidade: a iseno com que produzida, ouvindo-se todos os lados nela envolvidos, e a correo dos dados nela apresentados. Notcia errada ou enviesada no furo; um golpe na credibilidade do veculo; e) Como princpio geral, no se deve guardar notcia. Em geral, informao confirmada informao publicada. Os veculos, no entanto, devem julgar quando uma reportagem deve ser publicada de imediato, quando pode esperar a prxima edio ordinria ou, se houver convico de sua exclusividade, quando pode esperar por uma edio especial. O critrio a certeza de que a reportagem continuar a ser dada em primeira mo, e que a demora em public-la no acarretar prejuzos sociedade. Quanto mais postergada for uma reportagem, mais completa e mais trabalhada ela deve ser; f) Deve-se ter humildade diante de furos de veculos concorrentes. Diante de casos assim, no se deve negar a realidade, mas entrar no assunto o mais rapidamente possvel, tentando fazer mais e melhor, dando o crdito a quem de direito; g) Essa postura em nada se confunde com a adeso acrtica a reportagens veiculadas por concorrentes. Antes de serem

publicadas em veculos das Organizaes Globo, todas tm de ser confirmadas por verificaes prprias. Isso especialmente verdadeiro quando se trata de denncias, de acordo com os procedimentos descritos no item 1-z desta seo.

SEO II COMO O JORNALISTA DEVE PROCEDER DIANTE DAS FONTES, DO PBLICO, DOS COLEGAS E DO VECULO PARA O QUAL TRABALHA

1) Diante das fontes: a) Fazer e manter boas fontes um dever de todo jornalista. Como a iseno deve ser um objetivo permanente, altamente recomendvel que a relao com a fonte, por mais prxima que seja, no se transforme em relao de amizade. A lealdade do jornalista com a notcia; b) Se a relao de amizade com uma fonte for anterior vida profissional do jornalista, este deve manter a direo do veculo informada, para que os conflitos possam ser evitados. O mesmo deve acontecer caso a relao fonte-jornalista, apesar dos esforos em sentido contrrio, torne-se uma amizade ou algo maior; c) O respeito e a transparncia devem marcar a relao dos jornalistas com suas fontes. Quando indagado por elas sobre o destino da informao que acaba de lhe dar, o jornalista deve responder com a exatido possvel;

d) Deve-se sempre respeitar compromisso assumido com as fontes, principalmente aqueles relativos preservao da identidade delas. Por esse motivo, esse tipo de compromisso deve ser apenas firmado com fontes de cuja credibilidade no se possa desconfiar (ver item 4-e, desta seo); e) Concedida uma entrevista exclusiva, uma fonte pode pedir alteraes, acrscimos ou supresses, mas o jornalista julgar se o pedido se justifica. Haver vezes em que o jornalista no concordar com a mudana, sendo, nestes casos, necessrio registrar que a mudana foi solicitada, mas no aceita. 2) Diante do pblico: a) O pblico ser sempre tratado com respeito, considerao e cortesia, em todas as formas de interao com os jornalistas e seus veculos: seja como consumidor da informao publicada, seja como fonte dela; b) Cada veculo tem um pblico-alvo e deve agir de acordo com as caractersticas dele, adaptando a elas pauta, linguagem e formato. Mas, para as Organizaes Globo, todo pblico tem um alto poder de discernimento e entendimento: o menos culto dos homens capaz de decidir o que melhor para si, escolhe visando qualidade e entende tudo o que lhe relatado de forma competente. Essa convico deve ser levada em conta especialmente pelos veculos de massa que produzem informao para pessoas de todos os nveis de instruo. Nesse caso, a linguagem e o formato no devem ser rebuscados a ponto de afastar os menos letrados nem simplrios a ponto de afastar os mais instrudos. Se informarem em linguagem clara sobre assuntos de interesse de todos, sero sempre bem entendidos;

c) Nenhum veculo das Organizaes Globo far uso de sensacionalismo, a deformao da realidade de modo a causar escndalo e explorar sentimentos e emoes com o objetivo de atrair uma audincia maior. O bom jornalismo incompatvel com tal prtica. Algo distinto, e legtimo, um jornalismo popular, mais coloquial, s vezes com um toque de humor, mas sem abrir mo de informar corretamente; d) A sensibilidade do pblico ser levada em conta. Cenas chocantes recebero o tratamento devido de acordo com as caractersticas do pblico-alvo. Quanto mais indistinto o pblico, mais cuidados so necessrios. Nesses casos, o pblico deve ter sempre a confiana de que no ser surpreendido por cenas que afrontem os valores mdios presumidos da sociedade. A ttulo de exemplo, talvez seja necessrio mostrar o vdeo ou a foto de um homem-bomba se explodindo, mas a cena pode ser congelada segundos antes do dilaceramento. Em resumo, a deciso de publicar ou no cenas potencialmente chocantes e de como trat-las deve sempre levar em conta a sua relevncia para o entendimento da questo abordada. A melhor sada submeter a deciso opinio do maior nmero de jornalistas de uma redao. De um grupo, sempre emerge mais facilmente o bom senso; e) Todo veculo jornalstico tem uma responsabilidade social. Se verdade que nenhum jornalista tem o condo de, certeiramente, escolher que informaes so boas ou ms, legtima a preocupao com os efeitos malficos que uma informao possa causar sociedade. Esse um tema complexo, e sempre dependente da anlise do momento. A regra de ouro divulgar tudo, na suposio de que a sociedade adulta e tem o direito de ser informada. A crena de que os veculos jornalsticos, ao

no fazerem restries a temas, estimulam comportamentos desviantes apenas isso: uma crena; f) O jornalismo, contudo, no insensvel a riscos evidentes, mas estes so evitveis quando se respeita outra regra de ouro: s se divulga informao relevante. Para citar um exemplo, um vdeo divulgado por um assassino em srie pode e deve ser divulgado naquilo que importante, mas no faz sentido deixar o criminoso ensinar como se articula um plano de assassinato em massa. Da mesma forma, no se publicam informaes teis para grupos criminosos, como o local aonde a polcia ir cata de um sequestrador. E respeitam-se pedidos de pessoas que se considerem em risco com a publicao de informaes que lhe digam respeito, como um policial que matou em ao um traficante perigoso e pode ser vtima de represlia de seus comparsas;

g) Notcias sobre sequestros sero sempre publicadas. Estudos de experincias internacionais levaram as Organizaes Globo convico de que a publicao de que uma pessoa foi sequestrada no pe a vtima em risco, mas a protege. A notcia ser publicada com todas as ressalvas, de modo a no revelar ao bandido o planejamento da polcia e da famlia, nem dar informaes que mostrem a situao econmica da vtima. Isso obriga o veculo a um acompanhamento do sequestro mais sbrio, sem necessariamente a publicao diria de reportagens a respeito. O registro de solidariedade pblica, quando relevante, ou de fatos que ajudem a famlia ou a polcia deve ser feito;

h) A privacidade das pessoas ser respeitada, especialmente em seu lar e lugar de trabalho. A menos que esteja agindo contra a lei, ningum ser obrigado a participar de reportagens; i) Pessoas pblicas celebridades, artistas, polticos, autoridades religiosas, servidores pblicos em cargos de direo, atletas e lderes empresariais, entre outros por definio, abdicam em larga medida de seu direito privacidade. Alm disso, aspectos de suas vidas privadas podem ser relevantes para o julgamento de suas vidas pblicas e para a definio de suas personalidades e estilos de vida e, por isso, merecem ateno. Cada caso um caso, e a deciso a respeito, como sempre, deve ser tomada aps reflexo, de preferncia que envolva o maior nmero possvel de pessoas; j) O uso de microcmeras e gravadores escondidos, visando publicao de reportagens, legtimo se este for o nico mtodo capaz de registrar condutas ilcitas, criminosas ou contrrias ao interesse pblico. Deve ser feito com parcimnia, e em casos de gravidade. Seu uso deve ser precedido da anlise, pelas chefias imediatas, dos riscos que correro os jornalistas caso venham a ser descobertos. A imagem e/ou o udio de pessoas que no estejam envolvidas diretamente no que estiver sendo denunciado devem ser protegidos. Em seus manuais de redao, os veculos devem estabelecer suas normas de uso.

3) Diante dos colegas: a) De jornalistas de um mesmo veculo das Organizaes Globo, espera-se esprito de colaborao. Todos numa redao tm de cooperar entre si, para que o trabalho seja o melhor possvel;

b) Os envolvidos numa mesma reportagem da apurao edio so responsveis por sua qualidade. Devem agir como revisores uns dos outros, para bem do trabalho; c) Os jornalistas no devem nunca se furtar de opinar sobre reportagens que estejam sendo feitas por colegas, criticando, sugerindo, ajudando a encontrar caminhos. A deciso de publicar ou no uma reportagem, e de como trat-la, do editor responsvel por ela, mas ele errar se menosprezar a opinio de colegas de qualquer nvel hierrquico. Errar ainda mais quando se conduzir de tal modo que iniba os jornalistas a opinar ou ponderar a respeito do que est sendo feito. Vale sempre repetir: jornalismo uma obra coletiva, e ter tanto mais xito quanto mais pessoas participarem do processo; d) As redaes dos veculos das Organizaes Globo so absolutamente independentes umas das outras e competem entre si pelo furo, pela reportagem exclusiva. Esta uma tradio que vem desde a origem do grupo e que tem se mostrado profcua: evita a pasteurizao do noticirio e estimula o pluralismo de abordagens. Isso no quer dizer que, levando-se em conta a convergncia de mdias, no seja possvel a construo de sinergias em torno do chamado noticirio bsico aquelas notcias obrigatrias a que todos os veculos tm acesso. Em outras palavras, faz sentido a disputa por assuntos exclusivos, faz sentido dar mais nfase a determinados temas e no a outros, mas no h mal algum na troca de informaes sobre a dimenso de um temporal ou a ocorrncia de um assalto, por exemplo. 4) Diante do veculo: a) As redaes so independentes na busca por notcias, mas h uma unio de princpios sobre como obt-las, sendo estes

princpios editoriais sua maior expresso. Nenhum jornalista das Organizaes Globo justificar falhas, alegando desconhecer este cdigo. Desconhec-lo ser considerado um erro ainda maior; b) Os veculos das Organizaes Globo expressam, em seus editoriais, uma opinio comum sobre os temas em voga. Os textos podem e devem divergir no estilo, no enfoque, na nfase nesse ou naquele argumento, mas a essncia a mesma. Essa opinio deve refletir a viso do seu conselho editorial, composto por membros da famlia Marinho e jornalistas que dirigem as redaes. Nenhum outro jornalista do grupo precisa, porm, concordar com tais opinies, que, em nenhuma hiptese, influenciaro as coberturas dos fatos. Estas, como exposto aqui extensivamente, devem se pautar por critrios de iseno; c) Os jornalistas tm um dever de lealdade com os veculos para os quais trabalham. As informaes a que tm acesso se destinam ao veculo e com ele devem ser divididas. Ningum, somente o veculo, deve decidir o que fazer com elas, sendo certo que o seu destino ser a publicao, se estiverem de acordo com os princpios explicitados neste documento. Da mesma forma, os veculos tm um dever de lealdade com seus jornalistas, e tudo devem fazer para proteg-los em sua atividade, fornecer-lhes meios adequados de trabalho e ampar-los em disputas provocadas por reportagens que publicam; d) A participao de jornalistas das Organizaes Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta trs pressupostos: notcias por eles apuradas devem ser divulgadas

exclusivamente pelos veculos para os quais trabalham ou por estes autorizados; procedimentos internos, projetos, ideias, planos para o futuro ou quaisquer outras informaes relativas ao dia a dia das redaes no devem ser divulgados, sob pena de tornar vulnervel o veculo em que trabalham em relao a seus concorrentes; os jornalistas so em grande medida responsveis pela imagem dos veculos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades pblicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepo de que exercem a profisso com iseno e correo. Com base nestas premissas, cada veculo deve ter polticas prprias para presena de seus profissionais na internet, e que todos os jornalistas se obrigam a cumprir; e) O sigilo sobre as fontes inviolvel, e os veculos das Organizaes Globo protegero seus jornalistas na tarefa de mant-lo em todas as instncias, sob qualquer circunstncia. O jornalista, porm, pode e deve dividi-lo com a direo do veculo, sempre que isso for fundamental para a tomada de deciso sobre publicar ou no uma informao. Isso no quebra de sigilo, pois a direo se obriga a guard-lo em todos os casos. Fontes que deliberadamente mintam para o jornalista, levando-o propositadamente a erro, podem ter seu nome revelado, no como represlia, mas se essa medida for fundamental para a correo que o veculo ter de publicar na edio seguinte.

SEO III OS VALORES CUJA DEFESA UM IMPERATIVO DO JORNALISMO

As Organizaes Globo sero sempre independentes, apartidrias, laicas e praticaro um jornalismo que busque a iseno, a correo e a agilidade, como estabelecido aqui de forma minuciosa. No sero, portanto, nem a favor nem contra governos, igrejas, clubes, grupos econmicos, partidos. Mas defendero intransigentemente o respeito a valores sem os quais uma sociedade no pode se desenvolver plenamente: a democracia, as liberdades individuais, a livre iniciativa, os direitos humanos, a repblica, o avano da cincia e a preservao da natureza. Para os propsitos deste documento, no cabe defender a importncia de cada um desses valores; ela evidente por si s. O que se quer frisar que todas as aes que possam amea-los devem merecer ateno especial, devem ter uma cobertura capaz de jogar luz sobre elas. No haver, contudo, apriorismos. Essas aes devem ser retratadas com esprito isento e pluralista, acolhendo-se amplamente o contraditrio, de acordo com os princpios aqui descritos, de modo a que o pblico possa concluir se h ou no riscos e como se posicionar diante deles. A afirmao destes valores tambm uma forma de garantir a prpria atividade jornalstica. Sem a democracia, a livre iniciativa e a liberdade de expresso, impossvel praticar o modelo de jornalismo de que trata este documento, e imperioso defend-lo de qualquer tentativa de controle estatal ou paraestatal. Os limites do jornalista e das empresas de comunicao so as leis do pas, e a liberdade de informar nunca pode ser considerada excessiva. Esta postura vigilante gera incmodo, e muitas vezes acusaes de partidarismos. Deve-se entender o incmodo, mas passar ao largo das

acusaes, porque o jornalismo no pode abdicar desse seu papel: no se trata de partidarismos, mas de esmiuar toda e qualquer ao, de qualquer grupo, em especial de governos, capaz de ameaar aqueles valores. Este um imperativo do jornalismo do qual no se pode abrir mo. Isso no se confunde com a crena, partilhada por muitos, de que o jornalismo deva ser sempre do contra, deva sempre ter uma postura agressiva, de crtica permanente. No isso. No se trata de ser contra sempre (nem a favor), mas de cobrir tudo aquilo que possa pr em perigo os valores sem os quais o homem, em sntese, fica tolhido na sua busca por felicidade. Essa postura est absolutamente em linha com o que rege as aes das Organizaes Globo. No documento Viso, Princpios e Valores, de 1997, est dito logo na abertura: Queremos ser o ambiente onde todos se encontram. Entendemos mdia como instrumento de uma organizao social que viabilize a felicidade. O jornalismo que praticamos seguir sempre este postulado.

Em caso de dvida sobre este documento, envie e-mail para [email protected]

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