Alfred Demersay Historia Geral Do Paraguay 1865
Alfred Demersay Historia Geral Do Paraguay 1865
Alfred Demersay Historia Geral Do Paraguay 1865
DO
mersay.
PELO
1865,
SCOBER'I'A AT DIAS
l
- 1
0{)
Du. J. M. L.
HISTORIA GERAL
TYPOGRkPHIA PERSEVER-J!"....1....
91- RU.\ ])0 IIJl PlelO....,
ARAGUAY
segu ida de ullla noticia geograJlhica do estado aclual do . y
PARTE PRJMEIR .
DOlninao I:espanhol<..
CAPITULO 1.
l'I\DlEll\A.' EXPEDIE .\0 RIO DA PIUTA.- OLI E GAllOTO-
DE COBERTA DO PARAG AY.
(1508-152'1)
A de coberln. do Paraguay, embora despida dn. fama
rudo a elas conqlstas do )Iexico e do Per, tem obre
(' ta a rara vantagem de no haver ido contaminada
pelas crueldades . excesso que tornro odioso o'
famosos nome' de Corlez e de Pizano. A honra do de'-
obrimento d'es a terra que devia permanecer he panhola
pertence a Portugal, a e sa nao rival, qe redobrando
uas fora por meio ele audacia e perseverante energia,
por tantas llUmilhaes t m feito passar a altivez ca-
telbana.
No comeo do secuIo XVI, Fernando o Catl!.olico,
de ejoso de proseguir a.' empresas' que havio grangeado
para o seu r e i n a d ~ uma gloria to inesperada quanto
pouco merecida, chamra ua crte os mais habeis
maritimos da Europa: Joo Dias de Sotis, Vicente Yaiiez
Pinzon, companheiro de viagem de Colombo, Joo de 1:1. ~
Cosa, seu piloto, e Amerigo Vespuci, celebre cosmo-
:apho de Florena. Depois de varias conferencias deci-
diose enviar uma expedill0 s costas do Brasil com
4 HESI'AIiHOJ.\.
re 'ommendao de eguil-a no rumo do ul; r. o rei
confiou o commando d'elJa n. Dias de 801i5, piloto mr
de Castelln. de de 25 de Maro de 1512.
E' dLwido n. a nacionalidade d'este malfadado nave-
gante. Os Hespanlles 'ustento, un' ter elle nascido em
Lebrija, pequena eidade da Andaluzia, outros em Oviedo
nas A turias (1). Dall1io cie Goes, em ua chroniea, o
faz piloto portuguez (2). Adoptalldo- e esta ultima sup-
posio, foroso admitlir qu o descobridor do Ri
da Prata pertencia a esse numero de navegantes intre-
pidos que a HeslJanlw, attTnhia. a. si, privando de Io
prestimosos filhos a. suas palrias surdas a ousada pro-
postas, e esquecidas de eu releyantes ervios. 80lj era
de Lep : veio com sua familia a lpbrija, donde lam-
bem podia cluar dos prepnrativos de ua viagem; e o
rei lhe dooLL a tera pnl'te dn tefl'ns que possuia n (\ora
no contornos da cidade (3). J ell1 1508 havia. eBe ex-
plorado il ua custn, com dois navios, a costa oriental
da Amcrica do 8ul desele o cabo de auto Agostinho at o
grilo 40 de latitude. Depois de visitada a bahia do Rio
de Janeiro, entriu-a no imOlenso estuario do Uio da
Prata, que ene denominou mal' doce, em razo de suas
vastas prop res e da doura de suas aguas, e regres-
<ira depre sa He 'panlJa nfiOl de obter do rei os sub-
sidio neces 'arios para a continuao de suas deseo-
bertas. Passados aIIDOS, foi assignaela uma con eno (4);
e olis pde emfim partir do porto ele Lepe 110 mez
(1) P. n'Al'iGHIEIIA, De ?'ebus Ocea?licis, Colonia, 1574,
in-S
o
, II, Liv. X., pg.201-
(2) Ch?'onica do senho?' Rei) Dom Emanuc/" Coim-
j)ra, 1i90, parle IV, cap, XX., t. II, pg. 437.
(3) Archivos da Jndias.-Sevilha.
(4) Asiento y capitulacion que se hi;:o con Jual1 Dia.: de Solis,
piloto mayol', para i?' a descllbl'i?' en los espaldas de Cas/il!a deI
oro en Tierra Fi?'1l1e (Archi'-os das Jndias). Esta conveno de
ele Novembro de 1514. l'iAVARllETE a traz em sua Coleccion
de los viages c deSC1!brimilmtos de los !,spal1o,zes, t. J;II., P,B' 134,
m lima Instl'ucctOn dada pelo rei ao piloto moI' de I,;astella.
IIESPA1\H.OLA.
de Outubro de 1515 '0111 tres eOlbarljacs, lUlla de no
tOIleiaclas e cada um,1 das outras de 30 toneladas, para
descobrir na direco uo O ste um caminho para os ricos
paizes do Oriente (1). Solis encontrou de novo o mal"
doce, era o l'ara.L1-Guaz Oll rio semelhante ao mal'.
Seguio a margem e qu rcht ; reconheceu Uffi,l ilha a que deu
o nome de Garcia" seu piloto (2); e tendo depois
desembarcado cm as pl'emmoes que a prudeucia mai..
vulgar aconsellJava, neontrou-se com um bando de indio'
Chanuas, que o a a sinilro barlJal'amenle com todos
seus companl18iros.
Este tragico acontecimento denotay:l. da parte do habi-
tantes crestas regies ignota' cli posies 110 tis, ljontra a'
quae a fraqueza numel'ica da' equ.ipag ns MlO permittia
lutar com vantagem. EU lj;lUSOU viva in:prc' 'o no animo
dos cOIllpanhei"l)s de . 'ali' que havio ficado a lJordo, e
uma l'esolu.'i.o foi logo tomada. Accelerro a partida e
voltl'o J:Iespanha onde esp,cJhl'O a infau ta noticia
da morte prematul'a e cruel de seu ebefe.
Uma tal cata trophe poz elll esqueci mento o rio de oli'
e o seu descobridor. Em vez de wna caudalosa corrente,
seu nome que hoje s designa um modesto regato, parece
protestar ljontra o ingrato olvido da posteridade (-J).
Entretanto Magalhes, t ndo partido de He panha depoi'
de haver "encido as tediosa delongas e sUl'da' intrigas
clue sempre estorvo a ex.ecuo dos grandes projecto ,
havia aJJerto ao Il1Ulldo uma e-trada mais curta para '
mares do SlU; e a noticia da descoberta das Pbil.ippina.. ,
trazida pelo navio Viciaria, proyocllra da parte de PJJ'-
tugal reclamaes, sobre clue o congresso ue BadaJoz nada
pOde decidir (15.24). Ento a corte ele Hespanlla resolveLl
mandar wna expecliu.o incumbida. de proseguir as con-
quistas pelo caminho to felizmente aberto pelo illu h'e
(1) ({ Buscar eL Levante paI" Poniente.
", (2) Lat. 34 13'. Long. O. 600 3[,.
(3) O no'o leatro de Montevido chama-se theatro de Salis.
f'
DOMINAO HESPAl\nOLA.
nauta, nos limes singularmente dilatados do tralado de
Tordesilla , que mod.i.ficla a seu favor a eslipulaul's
re lrictiva da famosa bulia de .\lexamlre VJ: o PU com-
mandl1 foi confLado a Sebaslio Gaboto ou CaJJolo, nave-
gante inglez de l1ri"em veneziana, qUl' muito e havia
distingLdo na dese berta da Terra l'oya e na explora-
e da co tas orientaes da America do Norte, e que,
por seu sangue frio e intrepidez, havia grangeado repu-
I'ao d maritimo consummado e mui versado nas scicll-
cia. aslTonomicas. Assim, tendo a Hespanha, para repellir
a reclamaes 1 vanLadas por Portugal cerca da propriedade
da Malucas, peludo a rei de Iuglalena Henrique VD
um dos seu co mographos mais hal)'i para corrigi.r a
eartas do lJi101l1 Andr .Horales, f{ue a approvao dI'
olis no livral:l lla cen ura de deixar duvido a a po-
sio da linha d d marcafLo enLre a po e e hespa-
nhola e portuguezas, foi elle qu 'Ill mereceu a scalha
d rei de Jngla t rra.
GaJJoto chegou Ue panlia CIII 13 de 'etembro d 1515,
poucos dia antes da partida do desyenturado Sol is , <I
quem dj3via suec der em ] 518 no po 1"0 de piloto-mr,
p cujas descobertas to fune lanwnl interrompidas 111'
eslava destinado a continuar. Tomou parle ell1 ]524 nas
conferencia de Badajoz reunidas para d cidir obre <I
propriedade da :.'IIol ucas, cujas illlmen as riqu za e admi-
rayel fertilidade conuecou pelas illformaes do. officiaes
que voltro no nao Tfictorict <:Iue ero membros do
llIe mo congre '0. GaJJolo propr. logo a Carla V uma.
rxpedir,o a e ta ilha celebres pelo estreito de Magalhes,
expedio que elle promettia levar at o Kl1al"ai (Chioa)
f' o Zipaogu (Japo), isto , al essas regies maravilhosas
rIa Asia, qlllJ as descripes enthII .ia tica de 1\farCo Polo
I) do inglez John Mandeville repre. entavo havia, dous
secu.los aos olhos dos martimo lfUal re 'omp nsa 1'e er-
,ada a tentativas mais aforlunada que as do iIlu
DomNAo HE PANHOLA.
'i
o poclcro'(I ril'al de Franci CD 1 aceitou as proposta de
GaboLo (1). que partio do porto de an-Lucar de Barrameda
ii 3 de Abril de 1-26 com quatro navios, do. quaes lUll per-
lt'ncia a um rico armador de Andaluzia.
hegadu fi-o ta. do Brasil, o almi.rante modificou eu
ilinerario..\. f a l l ~ de Yil-ere logo n comeo de to longa
1:'1mpanha, a perda do eu maior na\io e o de 'contentamento
de alguo- offi iae , o obrigro a aportar na ilha de Santa
Calbal'ina, onde enconh'ou, vi\'endo no meio do Lldio
pacificos da co ta, de edores de diITerente nal,les da El1l'opa
Inrrleze ,Portuguezes, algun marinheiros de Dieppe e Fe-
('amp, e dous tIe panbes que ha\io perlencido fi expedio
de olis. Gaboto recebeu d'elie noticias do interior do con-
tinente, que o de ,iro da explorao dos paizes fabulo os
de lhar is e de Ophir, e o induziro a penetrar nas regies
cenlraes da America Meridional pelo grande rio a que a
morl ele oli dra to lugl11Jl'e celebridade,
Depois el uma d mora de alguns mez' , durante o quaes
- I'.on,truio uma caravella e algumas pequenas embarcae
desLfnalla para a eXl)lora1io elo rios, GalJoto partio da ilha
d Santa CaLhariua, levando com igo algun dos desertores
de que a abamos d fal1ar, e quab'o illdios, filbos de ca-
r;llues, que deyio serrir, uns de inLerpreLes, OUITOS para
conciliar a amizade' elo Jndigena, entii numerosos do
rio de oli,
O almiranle, seguindo a co ta oriental do continente, do-
brou o cabo d anta Maria, que os geographo assigno por
limite septenll'ional elJ11Jocadura do Rio da Prat<r, reco-
nheceu a maJ:S '111 e querda do e tuario (Feyereiro de 1-21),
e fundeou cm LUl1a ilba j vi La por olis, a que deu o nOule
d . Gabriel. eguindo logo elepoi ua derrota, enu'ou no
Ul'Uguay, e foi ancorar na fz do pequeno rio de , Sah-ador,
anele con lruo um forte para e defender elos ataques do
Charruas, n a ~ o feroz, que hana n'aquella mesmas paragen
(1) Ccclula real de 4. de Maro cle 1525.
8 DOMINAO HESl'ANHOtA.
assassinado seu predecessor com todos o companheiros, ii
excepo de um s, chamado Francisco PU'3rto, que Gaboto
recolheu. Estes Jndio unidos com os Yaro acalJavo de
matar a Joo Alvarez Ramon, um dos capites da esquadra,
enviado em reconJlecimento ao Uruguay. o qual, tendo per-
dido seu navio, tentra por terra reun.ir-se expedio.
Tendo deixado, como em . Gabriel, alguns homcus
de guarnio no forte de alvador, Gaboto, dirigiu
do-se para o N., reconheceu as boccas do Paran, 1111
qual entrou pelo brao das Palmas, o mais au traI elos
sete, e seguio adiante at Carcarai'ialou Rio-Terceiro (1):
ahi levantou outro forte sob a invocao do Espirito-
Sanlo, procmando ao mesmo tempo viver em boa rela-
es com as numero. as trilJUs da nao Guarani, quI'
lhe fornecio viveres e lhe davo informae do iut !'ior
das terras que ia descol)rindo.
D'este ponto enviou o capito Cesar e quatro soldados
a exploraes, e mandou a cara,-elIa a S. Salvador para
trazer as munies e vitualhas que aJJi havia deixado (2).
Apenas as recebeu, partio com o bergantim, a cara-
vella e no soldados, deixanclo 60 no forte do Espirito-
Santo sob o commando do, capit1io Bl'acamonte (23 til'
Setembro de 152"1).
O almirante, continuando a subir o cur o elo Parau,
chegou ilha Apip (3), ouele demorou-se um mf'Z,
entretendo relaes amigaveis com os Indigenas, que se
achavo mui satisfeitos de trocar por bngatellas pequenas
laminas de ~ u r o c de prata, que dizio prm'ir de UI11
granele imperio si tunda a O., e cuja origem explicK'1. 30
(1) Lat. 32
0
21>' 12" (Azara) i - 32
0
50' (Thomas J. Page).
(2 Depois de muitos annos de peregrinaes nas planicies
do . e do Q., estes emissal'ios chel5ro emfim a CIIZCO,
cidade santa do Per, capital do relllo dos Incas. ~ \ . elle
deve-se a fabula d'essa cidade mysteriosa dos Ccsa'res, quc a
investigaes perseverantes de credulo. viajantes jmais pod
r
-
J'o encontrar. '
(3) Lat. 27
0
21>'. Long. O. 58
0
45'.
DO.ll1:>AO IlE'I'.\:-lIJOLA. 9
por narraes que confmna\lo os boatos que Gaboto
ouvira durante ua estada nas cosias do Brasil (1).
CAPlT LO II.
DO I'ARAG Ar (Conlinuat:i.o ).-.\LEIXO G.mcl.\
E GAIlOTO.
(1525-1530)
.\dlO opportuno expor aqlu s as r 'Iaes mara\'ilho a'
engrandecidas pela di tancia, que Imuto influiro certa-
menti) na resoluo que Gabolo tomou de renunciar a
sua Yiagem s e do pro f'gllir a descobertas de
Satis. Convm porm para i to tom3r de nlni< alio a
narrao das primeiras expedies alravz d Atlalltico.
O BI'asil, j entrevisto por Vicente Pinzon, apcna foi
descoberto por Ah'ares abral (1500), tornou-, a escala
indispen 'avel dos navios que io dos portos da Europa
s Jndias. Os Portugueze fl'o naturalmcnte os primt-
ros a e tabelecerem- 'e em eu littoral: os Hespanhe ao
uI, os HlJandezes ao Norte. c os Fr:tnceze no meio,
devio logo dopoi' clisputarlhes a po e d'este paiz. Foi
a ilha de S. Vicente, reconhecida a 22 de Janeiro de
1502, que elles escolhero para sMe d seu estabeleci
nlllllto, da qual dirigiro-se mais tarde para a bahia do
Rio de Janeiro. De Vicente parlio expedi encar-
regada' d explorar o continente e de traz 'r escravos.
,(1) E ta primeira parle da 'ampauha do illustre navegante
fOI relalnda por um dos da (,xpedio, chamado Luiz l\amircz,
om lima carla escl'ipt3 3 10 de Julho de 1528 do forte de .
Salvador. Este dOl't1llllJIlto, cujo original (em mo estado) se
con, 1'\'3 lia BiliOlheca alta du E.coria! (Cadice de .lliscella-
lIeas I;'/. J J5, Ij. Y. ",I, "em na collct'\'':'o l\luiioz (I. X.';:X:VI,
. n. o 4, 52 )),1;:). Foi rublir,lda p lo :"1'. Yarnhagen nu Rct.ista
rlrillll'lLsa! du IIl.titulo Jli.lu,'icu c Ccoflrapitico Bmsilciro, t. XV,
pp. 14 a .4J.
10 DO)11. -AO IIE I'A 'BOLA,
Enh'e esses homens de 'lemiuos que nenhum olJslaculo
detinha nas luta ontilllla' ron os Tndigena', achava-se
um avcmLureiro de anim aillLla mais audaz, chamado
_\leixo Gal' ia, lue, partindo m 1524 com muilos c.en-
tenares ue Imuus, peneLroll nas regies elese nhecida- 'do
interior, pa sou os grandes rio Lributarios do Paran,
atravessou ste nobre rio, o immcnso delta que elle en-
'erra, o rio Paraguay, e percorrendo as utlatadas plani-
cies do Grande Chaco chegou at s fraldas do Andes,
Jla fronteira do ,I mpel'io elos Incas. (1)
O intrepido POI'lugnez com sua comitiva viero ricos de
d spojos d'e a longincfna ('xclll'so (2), e de volta no Pa-
raguay, Olamlr3 logo participar de seus uccesso ao go-
vernador da colonia ele . Vicenle, pedindo-lhe r'foro
para levar \-anl(' suas exploraes.
(1) Como se vC\, n, admiltilllos amo facto hi tOl'ico a ex-
pedio exh'aordillaria dc Aleixo Gal'cia, i to a prioridade
da descoberta do PUl'nguaj' a f:\Vor de Portugal. Devemos
comtudo dizer quc, cmbol'a nenhum historiador a rejeite,
muitos 11a quc no a m Ilcioni10, E o inexplicav I silencio
de Azara a lal respeito haveria abalado nossa convi o,
seno no recordas 'cmo que o rli tincto cscriplor p I' vezes
tem- c collocado, para julgar uma naiio nval, no ponto
de vi ta sempre (''{clu 'jvo dos conqui tadorcs!le panhoes. Ruy
DIAZ DE GUSMAX, lJ/ol'ia .?'gelllilla, liv, I, cap, V, p. 17.
d detaUles to minu 'io os sobre Aleixo Gar-r'ia, quo dissi-
po toda a duvida. Como Hc.;pan!lol, devia mo Irar-se zeloso
da gloria de uma Jesc>:Iberta a que tomra partei havia
porm conhecido em A.sumpo o filho de Garcia, que em
razo de sua tcnl'a idade escapra 'orte funesta de seu pai,
e ouvira da sua boca os facto ainda recentes, que ello refere
em sell livro. A sim como faci! em prever, o testemunho d'e 'te
historiador, os dos PP. KICOL,\U TEcnO EGUEVARA, invocarlos
em pleno parlal11<:\nto brasileiro, por occasio da' discusses
relativas fixao do limites (lo imperio com a r publica do
Pal'aguay, fOl'llecrio .erios argumentos s reivindicacs for-
muladas por alguns oradores. V, o discurso do Sr. Pimonta Bueno
na sesso do SOllado de 26 do Junho de 1855; o JIistori.a
provi?1c'ire Pa?'aqua?',:re Soc'ie/aNs Jesus, in Leodli, 1613.
A obra d ICOLAU DEL TECIIO acha-se tambem traduzida na
Colleco de Chul'chW, VI, 3.
(2) lIuitos indios 500 marcos de prata laHad2-.
Ruy Duz DF. DlIm cil., caLJ. V, pago 20,
DomXAo HE PANHOLA. 11
o boato do feliz exilo de sua empreza. a vi ta dos
objecto em ouro e prata trazidos pelo men ageiro , inflam-
mal'o a imaginaes, e no e fallava entre s e homen
cobio os eno da riqueza das regies banhadas pelo,
ailluente do rio de S liso Conta a- e na verdade que o
chefe d'e sa exll'aordinaria empreza fora assassinado na
v01la por seu companheiros; de<lcjo'o de se apoderarem
da eon ideraycl poro de despojo que elle para si re-
el'Yra; ma e c fim desaslro o era impotente para arre-
r ceI' o ardor d outro de ,Vicente.
Toda, c tas nolicia recolhida por Gaboto na ua
pa sagem, (\ provayelmente a renunciar a sua
xpedio em bu ca das 'riqueza longinqua e fabulosa
elo extremo DIjente, mo 'lranelo- Lhe ouIras menos incerta
c mais propinqua. enel e-las noticias onfi1'L\lada pelo
rndio que na ilha Apip e nas margen da lagoa
Ibera, lIe em h itar decidia -eguil' vante sua viagem
por lUn rio que podia conduzil-o s mina do Pen e em
CUj;lS margens o pacificos Indigena Ih a egura, o que
acharia em ai wldanc.ia o pI' cioso metal de que elles lhe
havio dado muitas amo b'as cm troco de 01 jecto sem
"alor.
O pilolo-mr de Ca t lia voltou nto em bu ca da em-
])Qcadura do ParaO'uay, cnjo cur o eUe ubio em emba-
rao ate a Angosllll'a; mas um crio ob tacuIo o aguarda a
lsle passo cm que o leito do rio se e treita, difficultand
a navegariio (1)_
e a grande nao Guarani, a mais l1lunero a da Ame-
rica lcridional, havia acolhido paciflcamentr. o conquic'
tadores, ao menos em appar neia; outra porm decla,ril'
ro- e, de de o cOlDe , sua implacayeis inimigas. Have-
mo j referido como ali uccumbira aos golpe do'
ChalTua ; o i'io Paraguay foi tambem theatro de lutas en-
carniadas. Os Payagua ,dominadore ex lLl ivo das agltn
DomNAO UE PAKHOLA.
tornado parle m 1""28, como thesow'eiro, na infeliz
de Pan(ilo de -arvaez Florida cloude \'oHr:l
em 153'i prlo mal' do uI depois de atravessar uma
infinidade 111' I:ribu srh'acn , cuja amizade e beneyolencia
sou.h halJiltllcnte grang ar.
A 2 le NOl'elllbro de 1540, o no\"O chefe deu vela
do porlo de an Lucar de Ba1'l'ameda com uma esquaclm
de 01l1CO naYio , qu le\'avo, alm da 700
He panhes, enlre os quae alguns fidalgos, e 46 l'tvallos.
Co leando o JJra iI, lomou pos e do ' tabelecimento por-
lU
17
uez de a 29 de Maro (le 1541, arribou
ilha d 'anta Call1arina, tendo perdido duas embarcaes.
Este de,asl:l'{J c a Jnorle da melade dos cavallos embar-
cado o induziro a ii' por t rra capital do Pamguay.
I 'la mpreza, ainda em no.o dias onl:rariada por diili-
cuidados qua i in uperaveis, no era ellicaz para desaco-
l'aoar os homens de uma poca Io fecunda em tentativa.!'
e cl coberta: de in ri"l'el anojo.
D 'poi: de haver expedido por mar a Philippe de ea-
cere' com o resto da esquadra e lUlla parte das tropas,
levou comsigo 250 soldado e lodos os cavallo , subia LI
rio ] labucu at onde foi pos ivel a na egao i depois
au'ave ando a 'erra Geral e sua I'amificae, rio$
muita' yeze b'a bordado , planicies coberlas de immeu-
'a fiOl'esta ou po\-oadas de Iudios hostis, chegou s
lI1argen d mage loso Paran. Ab':wessou e te immenso
rio em pil'ga' forn cidas pelos Indigtnas, nas quaes em-
barcou o' el enl 5, a quem fez descer o rill ai a con"
iluencia com o rio Paraguay, para depois subir por e te
at As umpo, 'a sua viagem, recebeu a depulao d
tl'es capite, l(lle o general Martinez de Traia envira
ao seu encoulro para lhe beijarem a mo c prestarem
aclo ele submis 'o, Chegou emlim ao lo desejado terrnl'
da, sua viagem a 11 de Maro de 1542, depois de uma
11al'cha penosi sima de 400 leguu,s, executl!tla sem haver
perdido nem sequer um s de sens companheiros; e foi
J I
,2-1 DOMINAO UESPANllOLA.
recebido com demonstraes lle alegria. Um mez
dep'oi appareccJro as c.anoas trazendo ai; doentt' da
expedio.
D. A1\'aro _'u:iies nomeou Irala. seu mestre ue campo;
e conforme as instruces que recebra anl('s lle sua
partida, o mandou explorar, seguindo os ycsligios de
Ayolas, wn caminho que conduzisse ao Per, lrala
tendo ob 'ua ordens 90 He panhes e SOO Indio da
aldas recentemenle fundada, suLio o Paranit at
Pedras Partidas (lat. i2 34'), Chegado alu, de [aeou
os Tndios coln o cacique Aracar afim de acharem uma
passagem, e continuou rio acima. D'pois d
algl1n dias de manba, o cacique r ceiando 'er ata.cado
pela' trilms glLelTeiras do Grande Chaco, regressou pel
caminho que IHI.via seguido. Uma. nova tentaliva. nilo te\ .
111 Ihor exito, por falta de e de agua.
A 6 de Janeiro, diiL da Epiphania, 1rala, I ndo che-
gado a 17 57' de latitl1de, fundeou na lall'a Yaiba, a
que deu o nome de Porto do Reis. E dcsenibarcando
logo, marchou no 1'111110 do Oeste dW'ante qlLatro dias,
esforando-, e por ganhar a. afIeio dos Incligenas, que
enr.ontrava, obler delles informaes ilcerca. do sel1 paiz
e dos ohstacutos que encontraria. no caminho que
De voIla. ao partI) onde deixiLra o sel1s berganlius,
seguia. rio abaix para. dar parte ao gowrnador dos
resultados da ua. lllis o, quando recebel1 ordem formal
de mandar enforcar o caciqu Aracare, accu ado de deser-
.o. Deu cumprimento a e ta. sentena de morte
l
qnC',
todos os bistoriadores unanimemente censUl'o, e que teye
por consequencia. uma. revolta dos Indios das aJdas de
Ypau, Garambar e Atin, desejosos de vingar a morte do
cacique. l'oi preciso, para stibmeltel-os, uma hatalha
sanguinolenta em que morrero 11) Hespanhe e UIJl
numero consideravel de I ndios alliados.
O Adiantado, 1Jelas participaes do seu lugal'lc:nente,
DOJII?iAO HESPAXIlOLA. 25
quiz cm pe oa cmprebender uma expedio d LJJada a
abril' uma estraua para a minas do Per. Mim ue no
deixar alraz occasio a] uma de desordens, COnfLOU a'
A1onzo l3.iquelme, cu pril lO, 300 bomen, encarregan-
do-o le punir os Inclio, das marg n, do Yp'1nl:; e elle
pe oalmente marchou c01:ttra o Guaycw's e os Lenguas
do Grande Chaco, que h:wio por urpreza as as inado
a.!gun Be panboes c Guarani 1I1e mo junto s porla- da
cidade, Tomou grande nwuero de pri 'ioneJ'o', l' ceben
alguma, jovens Indias em refens, conccd LL a paz aos
\"l1cido .
Eulr lanto D, Ah-aro s ccupava- e seL'i<uuenle em
r formar o' abu o e organisar a. admini tl'ao da- finan-
I'a- _ J, na occa io da. ua. chegada, n permilLira,
como aillJ'l1Ia Azara (1), a PhilIppe d Caceres lomar pos e
de um lugar de regedor, a que fbm. nomeado pelo rei:
esle omcial, que algun hi toriadore repres 'nlo como
homem turbulento e ami" d novidade (2), devia tomar
uma vingana. completa d'este a.!ll1:0 de autoridade. Ko
foi sem grandes contrariedade e ob taculos que elle
anlllLlJou da me ma frma outras nomeaes regia entre
os empregados lia tbesouraria, accUluulando contra i
adios e I' > entimenlos que meaavo tuna terriwl expIo o.
Completados emlim seus pl'eparaL\'o , o governador partio
d Asswupo no dia 8 d c lembro de 1543, frente
de 4000 He panhe, de 12 (avalleil'os e de um nunlel'o
avu.Itado de auxiliares indigenas, que se em
40 bergantius, 16 barcas' e JUai de 200 balsa' e anas.
Uma parte cl'esta fora co teou o rio e no e elllbarcou
seno perto da Serl'a de o-Fl'rnando defronte elo Pcio de
ASSUCUI' (3). Depois de um ataque dos Indios Gua arapo ,
(1) Voyages dans L'Ameriquc meridiana/e, L II, p. 360.
("l) O deo FlInes diz mui, pois o urclIsu de . r um monstro
(armado de todos os vicias sem o apoio de vil'tllde a/gwna.-
Ensa,ya de la h'is/Ol'ia civiL deL Paragllay, t. I, [lo 1!l!).
(3) Lat. 21
0
11'; "egllndo Azara, 21
0
22'.
2H DO)lll\"AO HESPAl\"HOLA.
que ul'prendro o ultimo bergantilJl da c"quadnl e ma-
tiu'o sei homens, a expedio entrou no Parlo dos
Reis, onde recebeu demonstraes pacificas de nwnerosa"
lrllus, fraces da grande nao dos Guaranis, A 2
de 10VC1l1])1'0, D. AlI'aro NUlies separou-se dc sua 00-
tiUla,' e marchou na directo do Op te, iL frente dI) 300
Hespanbes pl'ovidos de viveres para 20 dias. E ta pro-
Yiso inslilliciente para uma viagem atravz de planicie,
em fun, de conhecida', privadas de todos os l'CCW' O'
e que principiavflo j a 'entir o: c[ ito das inun(la-
cs periodicas do rio, olJrigou o chefe :lVentureiro :1
regres ' ~ l . l ' . Uw bcrgantim qlte enviitra a procurar vivcrcs,
"oItou logo depois com garantias de paz da parte do'
Indios Xarayes c Orejones, que habiUn-o na: ilhas do
AlLo-Paraguay, e com grande quantidade de objectos de
sua indu h'ia, ma no trazia mantimentos. A expedio,
ohrigad a retrogradar, entl'Ou de no\'o em A 'umpo
a 8 li A.bril, dizimadot pelas fadiga', privae dOell-
as, porm :lugmenlada. com o Jndio' Orejones da illw
Comprida, que o general D. i'\uies tlzera prisioneiros.
\lgLUl actos arbitraria, sobre a authenticichdc dus
quaes os hi toriadores no e. 'to de acordo, augment-
ro o de contentamento dos officiaes e oldados, jiL rll-
demenle provado J)elos incommodos e pcrig0s de to
longinqua campanha, e a sedio fazia entTe elJes rapi-
dos progressos, fomentada lambem ])e1os empregados da
finanas demittidos e por Philippe de eaceres, de que
acima se tl'at01l, Na !loule de 25 para 26 ele A])l'il de
1544, duzentos Hespanhes apresentaro-se urmados em
casa do governador, que e acha'-a de cama por doente.
Jayme Re quen um dos conjLU'ados, enco tou-lhe ao
peito uma bsla armada, O Adiantudo no fez a menor
['esi tencia, enlregu a sua (' pada a Francisco de Men-
doza e foi pre o jwll.amentp. com Alonzo Rique1me, seu
varente, e diversos ofllc;iaes sens amigos. No dia seguinte,
os conjlu'ados se reuniro e depois de haver assentado
2,
C'1ll I' meltrl' 1ara :t Hespanh:t a D. Ah-ar unes.
01 aro por chefe o apiLo .\Jarlinez de lrala.
A im termiuou a adnl'h'ao de lLnI pCI"on:v'rIl1 di
I'ersamonte julgado pelo histol'iadol'C's, e sel'oramenl cen-
. urado pur aquc]]es qu, como ehmidel, fro
do crimes de qu o aceu:io (1). Po to que 'ej:t muit..
difliculto o, :t trc eClllos d' inlen alio, ajuizar
, natw'cza e opportunidade da' medidas I'Opl' \ ada. PQI'
cu contemporaneos, COII ludo permit.tido SUppOl' que fi
Adiantado LenLl'a de empenhar o cal'gu senlpl'l' peI'igos..
dc reformador, c refrear a cobi .. <\ insa ia\ol de hOIl1['ns quI'
qllerio a Lodo o cu to e ('III 1)rel i 'imo leulpu enl'iqul"
crI', Conduzido Hc:panha ele uma de UIII
anno, rmpregad em construir II navio cm que o emuar-
cl'o sua conducta denunciada <lU Con nlho ua Jndia
que 'e havio on lituidos carcereiros, foi repro ad<l
c ella condemnado a porc1er o seu C<ll'ao e a licar de 'L 1'-
rado m Or:m, na Africa, por eis almo , Porm D.
app Hou d'c I juizo; foi absoh'ido dep i d' longa ins
tancia, o reCel)Nl uma penso .2,000 dU(jndo com ;1
[ll'esidonci:t (primacict) (10 tribullal do coonnercio in Lituid..
m e,'ilha com o nome de Foi ne:ta cida 1"
r[ue cllo fallecou, no snb 1110S mn quc anno (2),
(1) Azara egu a opinio de chmidel, mas Barco CCllleoeza
RlIY Diaz de Guzmau, GlIcI'ara e o P. Baptisla (Sel'ie de lo.'
govel'nadorc;' de! Para.Ylla'Y, na de Allg li ) no teOl
para \le seno cxprc 'ses d cnc mios e admirao; e o lomo'
80 c 84 da olleco in dita de l\luiioz, qll faz parlc da Bi-
bliotheca da Academia de l-li'toria em contm doeu-
mento pl'opl'io a justilical-o. .
(2) Ha 1<10 dUlI' bras deste celebre aventurciro, Sob o tilulo
de Naufragios, Pel'egl'inaciollcs 'Y J1Hla.gl'os, conta eH a ua ex'
pediilo Florida; e ob o d Comll1cnlal'ios c erc\ u a his-
toria da sua admini trao no Rio da PI'ata.
DO.Ull\AO llE r.L\ fi OL.\.
C/\PJTULO V.
EGUNDO GOl'ERl\O DE )IARTli\'EZ DE IRALA.-S AS E:'EDlES
.\0 PERU.-Dl. E:"I E D[ A
O DO l'RIlIElIlO B1"1'0 DO l'Alli\GUAL
(154-1-1555).
Os inimigo' do go,ernador violenl:lIuente depost Jul-
gro prudente conduzil-o j noite fechada a J)ordo do
navio qu' devia lr:mspo1'tal-o a Europa. Quando o tirl'CI
da pri o, D..\I\a1'o l lu-'es fez UIII derrad iro aclo de
autoridaue c um ultimo protesto com gritar CIl1 alta ,oz
na praa publica qu nOIlleava a Joo li alazar seu
uccessor !lO governo. E te I' unio logo os . cus parli-
darios o do c procUJ'ou tomar po c do
cargo que acalJava, de lhe ser conferido cm virtude de lllll
poder (Ille os chefes tinho recebido do r i. Porm JL'ala
atalhou e'ta opposifLO extemporallea, fazendo embarcar
alazar em UIlla cana que devia COlldllZil-o ao na,io
que levava a D. Alvaro 'unes c o ::lmiges que ha,\'iflo
permanecido fieis ua causa.
No oJJstante, Irala no eonseglua allTahil' a i os de -
contentes c rest.ibelecer a ordem, O Payaguas, nao
indomavel e ::lstnciosa, c os Guaralls, aproveitaudo-
d'estas luta intestina, sulJlevro-se contra os 'eus do-
minadores deslUudos, c foro preci as algumas Yicloria'
para r duzil-os de novo oJJediencia (1546).
O novo ehefe tendo emill1, por sua fimeza e medidas
vigoro as, feito voltar ii. uhmisso os inimigo da ua
administrao, qllZ , imitando o exemplo do ,eu prede-
cessor, abrir um caminho para o PCl'lL Deixou o CGIl1-
mando da colOlua a FrancisL:o de Mendoza, c levando
,;omsigo 350 He panlies e grande munero de Tndios al[-
xiliarc, uhio o rio at o monte de S, Fernando. d'onde
fez voltar os seus navios, exeepto dous Cjll deixou n'este
ponto sol! :L guarda. de 50 homens. Ento, caminhando
DO)llX.\O HE ..\.
IUI direc do K., atrav s ou o Granu ClJar;o, a pro-
viu ia dos Chlquilos, e che<>ou a cu to d fadigas inau-
dita, depoi de haver upporta(lo todo os tormentos da
ome e da sede, ii IronteiJ-a do governo do Per. Fez
filHo ahi e enviou uma deputao a Lima para comprl-
mental' o vic '-rei Pedro de Lagasca e obter (l'elle a sua
coufirma,o no gov'rno do Pal'3guay. O vice-rei recebeu
com di tinco e'le" enviado, presenteou-os, ma , apezar
rle re ponder a hala em tetmos capazes d' lhe 'uggerir
as mais bena p ranas, onfcrio o governo da regie
L10 Prata a Diego Centeno, que morreu em Chuqui aca.
en" nenado, stlgundo dizem, poue.os dias antes de chegar-
- lhe a noticia da na nomeao.
Entretanto, r 'lido no confins de mil lJaiz que pas an
por extremamente ri o em mina dtl amo e prata, o.
oldados d' Il'ala e amotinro e o depozero do com
mando da expedio. A im Ih'l' de toda a di ciplil1a,
se debandro e vollro ao monte de . F rnando, ond
havio ficallo o dou lJcrg:lIltins, no fim do anno de 1549.
A au encia do general foi aproveitada por us ini-
migo, que e palhiu'o ter ]Ie morrido na ua al'l'iscada
rmpreza. Est s boato faro propagado pl'incipalmecte
pelo commandante da cidade Francisco de e"-
peran.oso de sueceder a quem o ha,ri;l in titllido s u lugar-
tenent . Comtlldo o re u.ltado da votao no lhe foi fa-
voravel, e Dirgo .\br'u sahio eleito governador. O seu
competidor no e d u por ba tido e procurou I' unir o.
do seu partido contestando a valida\e da eleio. Abreu
apr s ou-se em prcvcnir o resultado d'esta manobra; or-
denou a priso de Mondoza e o maudoll enforcar.
A noticia d'estes h'i 'tes acontecimentos chegou ao ou-
"Idos de :I'ala, que seus compa.nheiros havio de novo
rccOllhecido por chcf!", afim de com)Jater a faco que
laminava ento na cidade, para a qual elle a toda a
pro sa vollaYo. Etl'ectivamente, Abreu quando os ,io
'lppro:,.iu13l'em-se, julgou accrtado rctiral'- e com incoenla.
Ile seus partidario", eutre 0$ quaes achaYo-. l\ Orliz de
Vergara, Ruy Diaz i\felgarejo I: Alonzo RiquelUle,
romo j vimos, era parcnte de D. Alvaro lies.
Pouco depois chegro do Per a A umpo o' Cll-
\iados de Ira.la, Nuilo de Chaves, Miguel de Rutia, 'Pedro
de Onate e Rniz com outros aventllreiro , lJo-
Illens turlJuJentos, conlra qu 'm TraIa teve de mostral'- e
severo, por haycl' descoberto o seu projecto de desapo -
5al-o do poder (1). Enlo Xulo d Chave que elc, ia aJ-
I;UllS annos mai tarde, fUlldar o go,' mo di) Sanla-Cmz,
I;asou- () com a mha de i\iendoza, lflIe fora mOl'to por ordclll
,le Allrcu; e cl1e i!1 tou com o governador para \ ingar
a morte de seu sogro. Traia llnnclou ento p I'seguir a AlJreu
I' seus partidario ; ma:, de 'ejoso de apa ill'ual' Olho e d s-
"venas elue paralys:wo os progrcs os da colonisao do paiz,
procul'ava secretamente obter sua sllbmi o. Ortiz de
Vergara., :\.l0I1Z0 Ricluelmn e os principae d'scontentes
rendero-s - uas exhortaes; e para ga nhar a amizade
dos dous primeiros. lhe' deu U:lS duas fiUla . AlJreu quiz
I;olltiuuar a hlta; foi morto cm um recontro e Ievro o
'cu cadayer a :ASSUIl po. Ruy Diaz i\ielgarejo, que ten-
tou Yingar sua morte, foi IJrPso; porm TraIa, para n:1o
,;astigal-o, ministrou-lhe o meio, de escapar . para o
13rasil. . '
Um dos primeiros actos lIa adlllinistTao de TraIa foi,
,r'omo j dis ernos, passar para As umpo todos os He-
uanhes de Buenos-Ayres, ordenando a evacuao d'este
cstalJelecimellto, em qn' os cOllClU ladores ero molestados
no s pelos repetidos atacfUes dos Indgenas, como tam])em
pelos borrares da fome e elas doen.as. Alguns alluos depois
(1553), intentou r,rear ahi um noyo estabelecimento que
servIsse de porl de refugio, onde podessem refl'esc31' e fazer
(1) FOl'iio ellcs (rue introduziro no Paraguay as primeiras
cabras e ovelha. AZAR.\, Yoyages dans L'Ameriqlle meridia-
nale, lama IT, paI!. 3O.
DQ:.lI:\.I JI E'I'Ai\\i OLA.
3]
agul1da. os navios eh 'gado ao Rio da Prata. Conilou e lu
expedio a Joo Romero, que partia com 120 oldados
e,colbido , pal'a fundar u cidade cle . Joo Bapli la,
defl'onl de Bu no -AJ1"c , perlo da rz do rio de . Joo,
nas paragen lU qu' huyiu aporlado 8eIlastlo (Tahoto. E la
lentativa no teve :n lhor resultaelo que a de Pedro de
.\Iendoza; as depr daes e !lo tilldade dos Charrua bem
depres a obrigro aRam 1'(\ e s u c mpanh 'iros u S'
"llIbarcarem de novo para yoltar u A sumpo, apezar dos
qu o capito A10l1zo Riquelm lhes hayia le
\ndo.
te interim vil'o apre ntar-se ao goyp.l'l1ador muito.
ra ique d;l provincia d Gllayra, pedindo-lhe pl'oteco conh'a
"s Indio Tupi-. Clllpre atlim e empr hendedor, Iraht
l:cdeu fi' ua instaneias l' pz-sc logo '111 ma rcha onlra Os
seu illimigos. Aindu d e ta, yez o valor, a, laclica a upe-
rim'idade das arma 1IiUJl1pb.ro do numero; e em eguidn
I) Adianlado r,oncedeu u paz a,os Indios \;cllcido , e regI' ou
;l A lLU1po, l ndo p rdido apenas aIglill homens.
A mesmo tel1)llo admirado dos recur os e ricluezas na-
lurae d'e lu lJell,t provncia, c querendo lambem a gurar a
lib"rdade d llas ommunicaes com as co tas do ]31'a iI e
el11l a melropole, pouclo a n,a enle colonia ao abrigo da
invasj:s do POl'tugllezes, IraIa decidia funda.t, u tidad de
Onli\ 1'1'0 , juilld 11S margcn' do Paran. a tuna, le.gua, de elis- .
laneia. da ua grande caehoeira (Salto Grande). Foi enear-
regaelo cl'esta mi o o capilo Rodrigues de Verga.t'u com
se senta JIespanlJe , pda maior p:u'te partida.t'ios de Diego
ue Abreu. VII-se ahi a habilidade de Trala que aproveitou.
a occasio para aja lar da capital pessoas descontentes e
turbulenta; porm este fermentos de discordia, b'anspor-
taelos a regies remota, fra ela sua il1J1ueueiu, devio crescer
e fazer exploso depois ela partida de Rodrigues de Vergara..
li\"amente o novos colonos hem depressa se revolUu'o;
c uma fora ele incoenta alIados euyiada contra elles oh
commanelo de Pedro d Segw'u, no o pde submetter.
32 DQ)IIi'iAO IIESP.\XIIOL.\.
o governador recebeu indignado a noticia d'e 'Ie l'evz j
toda,ia, l)am ganhar tempo, dillerio a vingana.
Em quanto lrala exercia a sim a autoridade uprem,
com aUernalin' de prosperas succe os e de revezes, a
custo d infatigavcl e prodigiosa acti\ridade, o rei de
Hespanha, s tarde informado .da guerra civil que a so-
lava o seus novos rlominios, trata,a de .lhe dar um
succo SOl'.
Jayme Resque]), um dos omciap incumbidos de con-
duzir D. Alvaro unes a Hespanlia, conseguia obter o
cargo do l)risioneiro j o seu triumpho foi porm momen-
taneo. Nawgan j[t no alto mm', quando um temporal o
obrigou a regressar ao porto, o que permHlio a Joo de
Sanabria, fidalgo .influente (le Medelin, seu competidor,
activar as suas sollicitae e coral-as de pleno successo,
ofrer cendo ao the ouro maiores vantagens. Sanabria falIe-
ceu em Se\ilha, no meio dos preparativos da sua eXl)e-
dio (1549). Seu, filho, que U1e suecedeu no posto, os
completou, entregou o commando do. navios a Joo de
Salazar, e ,eio Crte, donde emflm partia para. ir 'xercer
o novo cargo; um erro dos pilotos o tran portou a Car-
thagena, e eUo no ,ia jmai o R.io da. Prata.
A obrigaes impostas ao Adiantado pelo acto de con-
ces o de 22 de Junho de 15'1'7, c!enotavo da parte do
governo hespanbl idas de colon.isao bem decididas.
Assim Sallabria oln'igou-se a levar para a America, alm
de duzentos soldados, cem fam.ilias. a fundar duas cidades,
a transportar sementes. officiaes dr, alicias mechanicas, e
roupa, (Lue se devia veneler por preos ta..xados pelo Con-
selho das Indias. Cuidou-se igualmente das almas: oito
religiosos Franciscanos devio acompanhar a expediij,o,
providos de vestimentas sacerdotae e de todo o outro
objectos necessarios ao culto di ino.
Joo de Salazar havia recebido, como acima dissemos,
a im-estic1m'a do commando supremo da bocca de D. Alvaro
Nunes, no momento do embarque (l'este; foi tambem
DomNAo BESl'.olNHOLA.
33
uma das vietimas do ambicioso lrah, que para livrar-se
d'eUe, o remettera Re panha no mesmo llavio. Como
o Adianbdo, lIe conseguio emHm ser pelo
Conselho das lndias, e voltava ao Paraguay na qllaliJade,
de thesoureiro-mr. alazar partio do porto de . 'an-Lq.car
em 1552 com tI'es navio equipados I)U.,ta. de C::ana.bria.
Tendo perdido um d'elles na cllsh do Bra iI pelo gro
26 de latitude, tomou a re olutLO de voltar para o N rte
at . Vicente, colonia portugueza, na qnal demorou-se
muito. Finalmente decidio ir por terra a Assumpo, onde
chegou em principios de 1555 em companhia de 'Melga-
rejo; que se havia refugiado no Brasil, alguns annos antes:
foro bem recebidos pelo .go ernador (1). Mas uem todos
os Hespanb6es da expedio consentiro em acompanhar
o chefe em SU3. viagem a . Vicente: uma parte d'elles,
pOlldo--e debaixo da ordens do piloto Remando de Trejo
(1553), fundro a colonia de . Francisco, perto da ilha
de Santa Cathal'ina. A fome e as doenas ameaavo
de trui.r este e tabelecimenlo , e seus fundadores tivero
de se retinI' para Assumpo, onde chegro quasi ao
mesmo tempo que Salazar e os que lhe haviiLO ficado
fieis, seguindo o mesmo caminho ani cado aberto por
D. Alvaro Nuues; porm: menos afortuuado que este
ousado capilo, Trejo perdeu na viagem trinla e dous
soldados, que e havio eparado de seus companheiros
para procurarem viyeres, e ao chegar, foi por ordem
de 1rala posto em priso por !aver abandonado a co-
lania de S. Francisco.
Logo que foi de cabH1'to o continente am(\ricano, os,
seus novos sellhores oecuprio-se de convertei' os hahi-
tinbls ao Christianismo e de civilisal-os, f er lalvez preciso
lembrar aqui as vivas recornmendaes da piedosa rainha.
(1) Joo de Salazar trazia comsigo sele vaccas e um touro,
que chegro felizmente a A sumpao, descendo o Paran,
f'!1tregues aos cuidados de um portuguez por nome Gaet.
3
34 DOMINAO HE PANElOLA.
Isabel a Christovo Colombo? Os soberanos, estimulados
pehs qneixa e repre enlaes do defensore zelusos sa-
hid s das fileiras do clero, nio ces al"o de' ecrelar leis
r'lra ploteger o Indigenas contra a avidez insaciavel do
conquisLadores. Carlos V , imitando o l'xC01plo ele srus
predece ores, occupou-.'e dos inLere Sl' ,'spirituaes de seu
ilJVOS sllbdilos, e ced s01l('iLou do papa Paul lU a
creao de um bispado n;ts prm inc.ias do Rio da Prata.
A salvao dos lndios foi a unica preorcllpao do
cminenle polilico; confiava ello muito naR exhorla s e
cxpmplos do clero para aplarar os adios p rlis'PllsP,
e fazer rcYiver enLTe a conqui l'ldares o e. piril) de s1lb-
rniss c mansido. Foi, p rt'tnb, crigido por bulia de
1.5-11 um bispado em 1\ H. Joo de Banios
y Tlec1 , nomead' p:ll'a esta alta. dignidHle, foi s1grad
a 10 de J:1nl'iro d ann seguinLe. Esle pr ladll, vene-
1',1\ el p1r sua' ,irtudes, morrCli ante- d partir panl a
a f'. merica, e D. I edro de 1:1 Tune lhe succpl1eu (l).
Na ve.p r:1 do domingo de Ralllos do ann 155, uous
n1\'io' comn11ndados pel clpil) :\fal'lim (Ir.- Ol'lte, rli n-
cl ilro JlO porlo ue A Slllllpo. Trazio a hordo o bi 'po,
u'n nllmero o clero, dou religio o' de . Franci co e
(hu pldres da 11erc. Tod s for n1l1ito bem acolhidos,
e Ji'.ll:l, que se achava aU'ente, aprr%ou-se a "ir unir
311'1 felicitae s e11 p YO, O prelalo trazia para elle
in;lruces e um uccrelo real rru lhe conferia o Utulo
de Arliantad', que cne Lanto amlllcion::tv3, com p ,d res
ex.traordinarios. A sitU vemos que elle ganllou o seu pleilo
perante o monareha, de gost s talvez do mo exito de
tauta de lhe dar um successor.
ll) Descripcion de! Obispado ele la ASllllcioll de! Paragua:J.
lll<lmoria UI) 35 pago escripla em LlIna cm 1772 pOI' COSME
Ju,,:'lO, Cusmogra(o-Mayol' de estas fleynos, cm um volume do ,.
,I.>;. inlitulado: Descripeion de algulIos provinc'ias de Amcrica,
li JI. da Academia da Historia em J\ladt'id).
35
CAPITULO Vi.
SEGU mo GOVERNO DE IRALA.- UA - EU REGULA-
m;; TOS RELHltOS AOS lNDIGENAS.
(1;)5';-155'1)
A de Irala no car"o lIe j
de de mn.it Lemp e' r ia. i:1. sllbrnini l'ar novos alimentos
sua inp'ln avel activid:ule. D' ra e'l1 diante nada rc-
cei ando da parte de cus inimigo "pc:) e;, sus(rnlado
por um lW'li 1 podl'l'Os, p,Limado do p V0. applic u
loda a na solliriludp na admini<;trar,) um; pu-
blicas. Creou ell1pregu 0lYi, abria (;st lleiros para cons-
II'UcO de naB, o cllificio da "aflCdr'll, e
o cup u-'e de novo em IL'l.r a c do . Indio, por
ordena s clue merecedl. a. appn\ al;o regia. _A mesmo.
tempo deu pro\idrn,:ia; para. a defesa da colonia. e fumlou
no\'os centros de cohni a\;. o nU:'7. de Sel.mbro
de 1555, tinIu. r-pedido a 'IIno do Chayes com lropas
pr vincia de Gllayl':l, com o lhlpl0 Hm de castigar o
Tupi r.l1nter O' Portugueze do Era iI em suas incur-
<;e . depois ue abir vencedo" de muitp C:111l
bates, voltou a A.ssnmpo e o g "ornador fez logo parlir
a Ruy Diaz .lel"arej c)m c m s lclados para rrdllzl' e
distriblr em cOl1ll1lenda os I ndio subjugados.
L'lll1dou tambem cidaLle (Cillclacl-Rcal) na margen
do ParaniL, na conflllCncia. do rio Pcquir e a 3 lcgua.
de OnliveL'os, que foi abandonada por sua p que
se achava mui reduzida (155'1). Procedeu-se depois ao
rec.ens :unenlo dos indios, Clur f r rcpartidos entre' os
oldados hc'panbe- a litulo o c mmenua (1). E tes
(1) Func' ele a a 40,000 o numero das ramilius indgenas
repartida; entre 60 soldados cOlllmelldeiro . Eslf' algul'ismo no
parece c'agcmdo, porm mo lemos outro mui: mndcl'a lo a
llprcsenlar. V. fll.,oyo de la hiJ:Jria civil dr/, Parllyuay. t. l,
pago 16:1.
36 DOMINAO HE PAI'I'HOLA.
estabelecimentos que ao principio prosparro no tar-
dro a decallir pelo exc.es ivo Lrabalho, exigido por
senhores avidos riqm'za) anLes
o paiz e regre sarem Europa a gozar dos fructos de
suas' violentas exaces e de na avareza.
Todas es a occupae no de viavo do Per a atien-
o de Il'a1a; de ejoso de abrir e manter commullicaes
segura com um paiz cuja riqueza ero objecto COJl-
tinuo da ardente cobia de todo', deLerminra flllldar uma
cidade no terriLorio dos Indio Xaraye. Confiou e la
mis o energia e habilidade de luilo de Chaves, o qual
se embarcou no mez de Abril de 155"1 com 220 lie pa-
nhes e mais de 1,50:> Jndios auxiliare, para ubir o
Paraguay. Voltaremos dentro em pouco a traLar d'esta
expedio, que foi o derradeiro acto da administrao de
JraJa. Elie mesmo ti nha in. peccionado os eus prepara-
tivos, e ;tpena eUa ahio do porto, dirigio- e eUe villa
de Y!<'l" para mandar cortar a madeira de tinada ereco
de uma capeJla. Cahio ahi doenle. devorado por umlt
febre ardenLe; e tt'ansportado a A sumpo, expirou ao
- cabo de ete ilias, com 70 allnos de idade, victima de
uma actividade que no delegava a ninguem os detalhes os
mais iIlsigniflcantes da administrao. Era natural da CI-
dade de Vergara na provincia de Guipuzcoa.
Os historiadores so summamente disc rdes no julgal'
este conqui tador, em quem todos forosamente reconhe-
cem raras qualidades. A par de uma ambio illimitada
vezes pouco escrupulosa na e colha dos meios de e
sati fazer, e de uma vida licenciosa, q
1
1e nem me mo
desculpavel pelas circUlmta.ncias excepcionaes no meio das
quaes viveu (1), [rala mostrava grandes talentos militares
(1) B.\RCO CEXTE:'ERA diz fallando d'elle
...aunque em en muchas cosas concertado,
En esto de ta carne desfrenado.
(Argentina, Canto IV, pag.44.)
,
DMlNAlo B.E PANlIOLA. 3'7
e uma energia a toda a prova. Prodigo de sua pes 030,
jll to, amado do seu, re peitada dos inimigos, seu genio
organi ador (qualidade a az rara n'a'[llella epocha), sua
vista penetrante abrangi3. todo os detalbes de uma admi
nistrao ento bem complicada. Pde- e dizer d'elle que
foi o verdadeiro fundador da domiu:.llfo hespanhola nas
l'egie do Prata.
Tem- e mtla veze faBado das medidas tomadas por
hala a re p ito dos Indigena!. uas ordenae, reve-
tidas da anc<'io real, embora muitas vezes l1'an gredidas
ou eludida p la aVal'eza e intere e pes oal do conquis-
ladore, fizero lei clllrante lon"os auuo. Por um tal
titulo mer cem ellas um serio exame, com o qual com
pletaremo o retralo do varo eml1lente que a dictou
e fez executal'.
Os rei de' Castella, depois de haver tomado uma
parte pouco acliva na descoberL't da America, conb'i-
buiro apena, ao m no clul'ante o primeiro secuJo, para
a. colOlli ao de seus novo e va tissimo dominios. Pro-
digus de exll0rtae a illCessante conquista, enviavo
poucos u1lsidio, e tando os seu recur 'os todos empe
nhado na guel'l'as que ustentavo na Europa, O amor
d., aUI'O atLrahia o aventul'eil'os para a
America do lIJ; e tal era a fama das riquezas do Per,
que temos visto os primeiros Adiantado, Pedro de )Ien
uoza. Alvaro une Cabeza de Vaca, emprender ua
custa di pendiasas expedies, que devio, depol d' in-
crivei fadigas e luta oncamiada com o Indios, dis
sipar-lhes a ultimas iUuses sobre a exi tencia dos metaes
L avid.1ll1Jnle cobiado. Assim a He panha
tleveu a conquista de seu estados americano a es es
anojos de auda 'ia da parte de simples particuJare, a
quem ella mo Lrava-se limeil em conceder a na auto-
risao, e cuja gloria invejava. 1\1a era emlim preciso
recompensar e tes homens, que, atravz mil perigo, io
l:onquisLar reinos fi fora de armas. a faHa de ouro,
-
38 DO:lll.NAO Im I'A noLA.
lhe foro dada" a lerras e seus habitantes; foi-lhes
dislribuido o leneno, no qual se fundr de '01
alguma e\idades, c foi-lhe dada a popula para
culLival-o_ Taes coul:es'e, feila por auloridade dos
Adiantado, denominavo se e se di linguio
em cDtUmendas ele Yanaconas e de JU i/ayos_ As pri-
meu-a se compunho do' Indio feilos prisioneiros na
guerra ou para cuja reduc fMa nece ario empregar a
fora. Rcparhelos enlre os conrllsladores, que loma,:"o o
titulo de commendadores ou cOlllmendciros. elies os er-
vio duranle t d o anno em qualidad de criado ou
antes de servos, sem que fo e perrnitliclo ao enhor ven-
dl-os ou maltralalo (1). Em obri fad pelo conlrario a
aliment l-o, a vestil-o , a lralal-os em sua velhice Oll
enfermidade, e a in tmil-os na religio calholica. Eslas
comOl ndas er mais produ'ltivas e porl:anlo mais pro-
curaJa do que as chamadas de JlfilO!!Jos (2), que com-
prehendio os rndio que logo n principio e havio ubmet-
tido, e havio procurado a alliana do Hespanhes. A
esse se as ignava por residencia um lerritorio, onde
con truio uma aldeia qlle era Jogo posl;\ debai:m da au-
toridade de alcaides e officiae munic.ipaes, como em TIes-
panba. A p pltlao di"idia-se em frace , e cada fraco
govel'll:Lclu. p r um caciqlle vinha a ser o apanagio de
ULfi colono. Ma o comll endador no linha direilo sel1
a dous meze' de tralJalho por anno. e e te ervio pes-
soal de ia ser prestado desd 18 at 50 annos de
idade. O caqlles, seu filhos primogenit0o/ os oulro
funccion:u'io da povoao e a mulheres /estavo d'elle
exemplo. Pa sacIo o dous meze , os Indio recolJJ':lVo
(1) Con ervo a liberdade de te Lar (Liberam (acultatem) .....
So como colonos inhereuLes s terra' (aclscl'ipti) ... Nenhllm
bomem de cr, mulato ou mistio, nenhum individuo iIlegitimo
pde po_suil' Iodio . SOLORZANO, De jm'c Indial'um. ill fal.,
MaLriti, 1639-1(;53, t. II, pags. 1
(2) De mi/ad, melade.
DOIDNAO DE PANDOLA, , 39
o livre emprego de eu tempo, e podio rommerciar e
adqlUrir da me ma frma que o CollJc.ada
sob a auloriuad direcla do governador, a commenda
esta, sujrit, a llma i n pec annu:.tl dumnte a ql1al os
delegado' ollVio as qneixa dos Indigena e fazio justia s
sua reclamae. _'o ob bote, bem Cr quenlemenle as obri-
gaiie imposta ao enhores no ero clllllprida : a
exiaencia, o trahalho forado a que submeltio o erva,
nahmllmenle propen. os ii, indolenria ou meilioc.remt'nte
dispo los a arro lar as fadi
l1
a e ri c,o ue expedie con-
tinuada. , o excitavo ii, r ',"olta; e d'outro lado, as
medida da aut ridarle cro uma cau a lJCrellne de de.-
conlentamento pira os colono lesado m seus inlere-
e .
D. 1\1\'aro I llnes no tir u lJons re ultados da re-
formas quo decrelra; hala foi mai afortunado ou mais
habil. Para obtemperar a' viva exhorla.es da crle.
que r cOlllmendava em es ar nova conqui tas, e1Je deli
maior de C1lvolvim nto ii r duc dos lnt.lio , permittindo
aos Hespanhe mpr 11 nder a sua propria custa xpe-
dies para. reduzir o lndos e fundar alda , cujos
habitant ero rppartido. entre lIes. e a trwu era
numero a, ajuntava- e UIIl corpo de tropa, ao voJunta-
rio , e origia- e uma cidade no territorio conqui lauo.
D'e ta arte procedeu- e na funda<"lo de Onti"ero , de
Ciuclad-Real, na provncia de Guayra, e para reduzir os
Indios Xarayes no Allo Paraguay.
Ao me mo tempo Irala limilou a durao ela po e das
commendas a dua geraes (para la. segunda i3to
que depoi de baver pertencido ao primeiro e e'
gW1Clo commendador, o Iudio recupl'ravo a liberdade
e adquirio a condio de ubditos be,panb , mediante
um moderado tributo pago ao. tbe ouro. O balJil admi-
nistrador havia julgado este tempo sufficiente, tanto para
os Judio a}Jrenderem um omcio ou arte e adquirirem
principios de clvilisa<10 que o podessem babilitar a viver
40 DOMINAO RESPANllOLA.
no gozo da liberdade, como para recompensar os colonos
pelos servios pre tados. -
J vimos mai acima que a Tgreja se declarra, de de
o principi , protectora ofliciosa e zelante da populao
mdi:;ena. victima das exaces elo commendadores; seria
superfino mencionar aqui a pl'Ote taes e medidas do ce
lebre bisp de Chia.pl. A cOJ'l'upo .do co lwues, desde
o chefe at o soldado, prestavo bastante materia li cl'i
tica. Todos vivio em concubinato com Tnclias, e TraIa,
em seu testamento, coniessa ter tido filhos de sele mu
Hlcl'es guarani quc ero irmas. E ta deva ido produzi(}
um augm'}nto rapido na populao, sendo os bastardos
COll iderados como Eespanb6e. A queixa elo clero por
no serem oh ervados os regulamento de TraIa achro
echo do outro lado do Oceano; e por ordem do rei a
A-udiencia de Charcas envioll cm 1611 ao Paraguay, em
qualidade de visi ado/', um auditor incumbicl0 de lhe
apresentar um relatorio sobre o estado das cou as, e de
tomar a medidas mai adequadas para destruir os abusos
que lhe ero frequentemente denllllciado .
Alfaro- -assim se chamava o integro magistrado -no
foi feliz n'essa misso delicada. Principiou ordenando it
abolio de todo o servio ps oa) da parte dos rndios,
mediante uma contriblllo anmlal em producto do paiz
paga aos commendadore". E las meclida provoc<'1ro vio-
lentls reclamaes da parte de uma oldade ca conscia
de quo nece' aria eHa era para a conservao e pro-
gre so da conquista do paiz. Tudo portanto ficou no mesmo
estado que ante ; ma, para de algum modo ati fazer a
crte, Alfal'o lhe assegurou que o servio pe soai acha
va-se abolido, e (lue a inslituio das commendas no
tardaria a de apparecer. Decorreu mais de um seculo e
o Con elho supremo das lndias tendo nolicia do estado
de servido a que estavo reduzidos o lndigena, orde-
. nou que todos fo sem postos em liberdade sem condies.
Azara aflirma que esta deciso soherana no teve exe
DOMl.illAO 1lE PANUOLA. 41
cuo, e que em eu lempo a cou a subsi lio ainda
no estado antigo. Acre cenlemo , para dar fim a e ta
importante que to, que uma parte da cOUlmendas foro,'
seno upprirnida, ao meno transformadas. Entregues
aos cuidado dos Franci cano e dos Jesuita , tornro-se
o ponto de partida d'esse famo o e , que,
sob o nome d mi ses, inthronizro um y tema de com-
munidade, bem depres a adoptado pelo mesmos seculares,
e cuja vantagen em eu lugar competente apuntaremos,
sem dissimular os eus inconvenientes.
CAPlTULO VlI.
UCCES ORES DE lRALA.-CACERE E JOo Df: GAIIAY.-FUNDAO
DE BUENO -AYUE
(1557-1575).
Ante de morrer, o Adiantado de ignou para. lhe uc-
ceder a Gonzalo de Mendoza, eu genro, que immediatamente
parti::ipoa a sua n mea o ao capito,) B.uy Diaz Melga-
rejo, occupado na fundao de Ciudad-Real no Gua 1'30,
e a u1l0 de Chaves, que, como j vimo, conduzia
ento uma expedio ao territorio do Xara e" no .orte
da provincia. A sua admini trao, que pouco durou,
no se assignalou com nenhulll aconl cimento nota el,
exepo de uma Yicloria alcanada obre o Jndios
Payaguas (tribu do Agaces) pejo capites Alonzo Riqnel-
me e Mosquera. Gonzalo de falleceu no dia 1
de Julho de lG5S: teve POt' ucce 01' Francisco Ortiz
de Vergara, ca ado eomo elle com uma da filhas de
1l1artinez de !rala, e que obteve o suil'ragio do povo,
recolhidos e pl'oclamados pelo bispo. A' noticia d'estes
. acontecimento , Cl1avc , que havia penetrado at no
42 DOll1NAO RE PANHOLA.
paiz dos Chiquitos e n latt -Gros o, depois de Ler
reconhecido a ilha Comprida e haver deixado a! ua
emb'lrc es na embocadura do rio Jaul'll, quiz se
subtrahir aut riehde do gmerno do Pal'aguay, eri-
gindo lima nova provincia n') meio das regie desconhe-
cidas que acabava de percorrer. Uma tal r oluo no
obtevr. a approvao de Lotlos o. eu soldado'; a maior
parte voltou para As umpo. Fic3rao com Chave mente
60 He"panhe , com os quaes eUe segui adiante at o
Guapey; e penetrand na plancies de Gu 19orig t, en-
controu-se com Anelr Manzo, que trazia tTOpaS do Per
com inten1io Lambem de fundar uma colonia no centro
da, me ma .egio. O' dous aventureiros di putro- fi a
posse o do tel'l'itorio, e ento Chave r olveu ir a Lima
para sustentar a liante uo vice-rei a prioridade dos eus
direitos. Este rC' onheceu logo a indepel1llenci<t d'esta con
qui ta, cujo govel'no deu a eu filho D. Garcia de 'Ien-
doza. Cha e tendo recebido gente e ubsidio , regressou
provin ia com o titul de teUtll1t do n vo govemador.
Foi ent que fundou a cdatle de 'anta Cruz de la ielTa
no paiz do ChiquHo. AJgu.n annos elepois (1515), e ta
posi f i abandonad;L, e a citladc reeclificada no lugar
qne actualmente occupa (1), a pouca distanci do primeiro
local. O u competidoI' havia sido assassinado pdo
Inclios CI irigLwnos nas planicies qne ainda hoje conservo
o eu. nome (L/allo.' de jJJ am::o).
Emquant davo- e taos aCOlllecimentos nas fronLeiras, o
centro me mo do Paraguay no gozava de. maior tranrruilli-
dade. Os Gual'anis, de contentes de ua nova c ndio e
anciosos d 'recobrar a perdida liberclade, se sl1.blevro em
todos os pontos; a revolta ia jll. c e tendendo at a provincia
de Guayra. Era de urgente nece sidade um grande golpe:
os conqllistadore levantro-se em 'ma 'sa, e o go l'nador
marchou. contra o l'ebelJes frente de 5 OHespanhe , de
(1) Lal. 17
0
49' 44". Long. O. 61' 43' 30".
,-
DO.\lINA.i.O HESI'ANIlOLA. 43
mais de 4,000 Indios que IUl\'i1i.o fLcado fLeis c de -100 Guay-
cunl . D'pois de muito enconh'os, um dcrrndeir e renhido
comlJ'l.te daJo na margens d s rio Yaguary c i\Jbuyapey
(3 de Maio d 1560), os obrigou a 'ubll1elLtlrelll- c. Na pro-
vincia de Guayra, Cindac1-Real havia iel a ommcLtida; e
a p dido d .\lclgart'j , Vel'ITara tinha enviado em seu auxilio
e enla oldado commandados por Alonzo Riquelme: a
fora- c mbinadas d'e te dou capile- dispeI"itl'o mfim o
rebl'lcle (1561).
Tud par 'ia apaziITuad , quando Nuno de Chave, acom-
panhado d alguns de seu' companheiros de aventura,
appareceu de impro\ i em Assumpo. Vinho procmal' a
uas familia para condllzil-a ua na 'ente colonia. Obi po
d Paragllay exercin grande influencia no animo de Orti7.
de Vergara, a quem facilmente IJersuadio (lne fo se a Charcas
(1), para obter do trilmnal uperior (Real Audiencia) ia ti-
tuid n'e- a cidade a inve tidura lia alta dignidade' a que
fOra. Plevad pelos sull'ragio deus concidado . Foi abra
ad esle conselho, e loao o goyernador e o bi-p acompa-
nhados de mai de 300 liespanhe- e de muiLo lndios, e
embarcro p:tra sllbir o rio PamrTuay. Nullo d' Chaves,
frenLe clos lndios ela sua c mmencla, tomllra o caminho de
tena, e seguia a expedio. clu nos ln" 1 ' aLrave ou o
terriLorio do Chiquil' e cbegou ell1.fim cidade de uanta-
Cruz. Logo que l) achou ele \' !La em seus dominio, , Chave
trahindo as leis da hospitalidade, fez 1)1' nd l' a Vergara
declal'ancloo c1C1nitliclo clo seu cargo. Foi mi ter vir uma
ordem da A.ucliencia Real para lhe er restiLuida a liberdade,
e poder egnu' al Cbarca ,aonde 'cbegou em 1565, para
(1) Esta cidade, fundada em 1529, chamava- e tambem Chu-
quisam'e La Plata; porm cada um d'este nomes tinha ua
accopo e'pecial. As'im dizia- o: o AI' obi po de la Plala; a
Audioncia de Cllarcas; o fallando e do um negociante, quo
elle eslava estabelecido em Chuqui aca. Rec beu tambem o nome
de Sucre, depoi da guerra da Tndcp ndencia, em bonra do
general Colombiano que commandava o exercito libertador na
oolebre batalha de Ayacucho (9 de Dezembro de 1.8'.!4.)
44 DOMINAO BESPANHOLA.
tratar do objecto que o havia feito emprcheuder esta mal.
fadada viagem. Apresentro-se porm outros pretendentes
d'entre os eu me mos companheiros de viaaem, e Vergara,
ar.cusado perante a suprema magistratura pelo pror.Ul',ldor
da provincia do Paraguay de ter abandonado em necessi-
dade a SJa provincia, deixando-a desarmada contra o ataques
incessautes dos Indgenas, perdeu o seu cargo e foi con
demnado a ser remeltido para Hespanha. O vice-rei de
Lima deu-lhe por successor Joo Ortiz de Zarate, que se
obrigava a empregar 80,000 dur.ado de seu patrirnonio em
beneficio da provincia, debaixo da que a ua no
meao seria approvada pelo rei. Desejoso de oLter esta.
sanco, Zarate partio immediatam 'nte para a Europa, tendo
delegado os seus poderes ao the ollI'eiro (conladol) Pllippe
de Caceres, cujo nome figurra com d tinco na pertur
baes que periodicamente agitro a provincia.
Munido dos subsidios que recebra do seu chefe, Cace-
res, sem pertla de tempo, poz- e logo m camin110 para
Assumpo, aonde chegou no principio do anno de 1569, em
.companhia do bispo Torres e dos Hespanhes que bavio
acompanhado a Vergara. Vo1tro pela mesma e trada, mas
atravez de mil perigos e ciladas.
Chave, menos afortunado, havi:l com toda
a escolta aos golpes dos Indios ltatines, que elle trou-
xera, usando de fora e artificio, das planicies do Pa
raguay para formarem uma alda (1568).
Entretanto a provincia ia de novo e achar entregue
mais horrivel desordem. CaL:ere fez em 15'70 uma viagem
ao Rio da Prata para saber noticias de Zarate. Ousado,
e viugativo, elle tinha- e de avindo com o bispo,
que lhe exprobrava a conducta que livera na destituio de
Ortiz de Vergara. Em breve a cidade achou-se dividida
em dous campos e o rompimenlo tomou pl'Opores de
um escandalo publico. Caceres "ingou- e lanando mo de
medidas oppostas dignidade cpi copal, e o prelado o man-
dou censurar puhlicamente por seu vigario geral Alonzo
<.
DomNAio BESPANHOLA. 45
de egovia, a cujo con elhos cpgamente obedecia: ao IDB"mO
tempo e commungou todos os eu partidarios.
o tardou a resposta do governador, que foi mai vio-
lenta do que o ataque. Mandou prender o vigario geral,
expuJ ou o dero da igreja, cuja entL'ada prohibio ao bi po,
que em breve vio-se obrigado a no sahir de ca a; e pas-
sado algum tempo, tornou a de ceI' o rio para ir ao en-
contro de Zarale, condllzindo em sua companhia o bispo
com inteno de e de embara.. ar d'eUe enviando-o g. ano
tiago_ Ma e te projecto maUogrou- e diante de obstac,uJos
in up ravei , e de volta capital, poz em liberdade o seu
prisioneiro.
Taes procedimentos para com um aHo dignitario da Igr 'ja,
fraco sim, mas m quem todos reconhecio doura e caridade,
aJienavo de Cacere o animos do eu mai ardente parti
dario , e engros avo ince antemente a fileiras de eu ini-
migo, A de tilui:io do eu lugar-tenente, o supplicio de um
oliciaI chamado Pedro Esqll.ibd, a numerosa guar la que
o rodeava, no pro meios adaptados para dis ipar a bor-
rasca que e ia formando sobre a sua cabea, e breve
mente clle succumbio victima de uma con pirao tramada
por um religioso da l\Ierc, de nome Francisco Ocampo.
No dcurso do anno 15'i2, entrando uma manh na ca
thedraI, no meio de sua e colta, uma turm,,! de. conjurados
capitaneados pelo bi po, pelo vigario egovia e por Frei
Ocampo, apoderro-se de sua pc oa e o prendero em
um calabouo cuja cbave ficou em podt'r do l)i po, E'
mister remontar o pen amento a essa epocha de barbarie
para no extL'anhar factos de t'io triste instruco.
Passou-se um a11110 para decidirem enviar o prisioneiro
Hespanha, e Iartin Suarez de Toledo, que se tinha
feito conferir pela municipalidacle a autoridade suprema,
o entL'egou ao cuidado do capito Diaz l\lelgarejo, um de
seus iuimigos, clue desde alguns annos governava da ma
neira a mais despotica a provncia de Guayra, o mo-
mento em que o barco ia dar vela (Abril de 1573),
41.>
DOMINAO UE. I'ANHOLA.
O bispo, sempre docil aos cOllselhos interessado d0S que
lhe fazio. crte; decidia parlir para ir pes oa1menle accu-
sal' a conducta do governador perante o tribunal da
Imlias, O navio devia ser escoltado por oilenta soldados
commmandados por J o rle Garay, q"e havia recebido
de l\larlins Sual'ez oll'dcm de levantar uma cidade nas
margens do Paran. Caray, tendo cl egad(l enll'ada das
sete Loca' do rio (de los regressou, e su-
bindo 'o PaI"an, lanou os fUJldamenlo' da r.iclad'e de
Santa F" de la Vera-Cruz, que foi lransferida em 1651
para o lugar g'le actualmente (1),
Quanto ao ll:lVio que frao portava Caccre Europa,
graves avaria' () brigaI'o a alTibar na iII a de S. Vi-
cente, aonde acabava de chegar Zal'ate, de caminho para
a provinci:t do Pill'aguay. cujo gll"erno lhe fura
mado por Philippe!l m I1Ill novo conLI'alo firl\l1do em
1569. O' !la1Jitantes soltaro o prisioll('iro, e foi pl'l'ciso
nada que a CXl' mmunho do bi -po p. ra os de-
cidir a enlr 'galo ao seus carcereirus ; mas o prelado no
gosou Ilnt' muito tempo do seu tl'iumpho, p')rqllallto
ve'io a morrer poucos dias depois ellI S. Vic'mle, aca-
brunhado pr'los annos e pelas facli)l'as da Yiagem. Ca.-
ceres chegou felizmenle a. Hespanha, onde flli absolviuo
pelo Conselh real das lndias, que Cel1'llrOU a. conducta.
do bisno. Quanto a d pai de IUlI'Cl' eoniiado
a outros a guarda elo pl'l Illlleil'o, rCllnio-s il expedi .. 'o
de Zaratc, que seguio para o Hio da Prat .
Cbegado ilha de . Gabriel, o Adiantado esereveu a
Joo de Garay para avisajo rla sua posio critica (Fe-
venro de 15'14). Tendo sa.hiclo do porto de
a 17 de Outuhro de 1572 com seis na' i)' demasiado
carregados, perdera 300 homens na sua longa. viagem e
depoi da sua chegada. ('ovembro de 1513) o Charruas
j lhe ha.vio morto 80 e emllal'aavo a sua marcha.
(1) LaL. 31
0
40' 29"; long, O. 63012' 30".
DOMINAO UE (',umoI,A. 47
Portanto, pedia soccorro. ao eu lugar-Ienente a quem
elle 'onfirmou no commando da nova cidade. Garay
a ltld1 a pre a expedi "ivere" pelo rio, e dada
a proYiJencia pam a defesa de anta-F, pl,- e em
caminh COI1\' O olJado. e 20 cayallo . SaJJendo ti pois
que Zarate COlO uma parte de 'uas foras se relirra
11:1 ilh'l de Garcia, em [na1110 I) resto d' lIa ubia
o Urugll1 para fundar UIll estabelecimento, srgnio as
margrn, d'este l'io, derroLou os Cllarl'l1a 1'11\ um combate
alluin "put'l, e chegad fi. rz do ri de S. Sal'mdor
onde enconll'Ou a grnl de Zarale, ahi lanou os fun-
damentos da eidade do mesmo nome, Os . en i<;os a -
d Caray lhe "alrio o lillllo oe lenente
grnel',11 do Adi1utado, que lin-e ela. emboscadas e do
temor d. Indigenas, pdr emrim SCfuir para a sdr do
II gwernn, pas ando pela cal nja de . f=all'adllr, FOi
rnln quI' e\lo deu i proyincia do Rio da Pl'al1 o nome
de .'ora 7J i.'ClI!JlI elll mrmoria dn seu pail, natal; mas
a hist()ria nflo ralificou uma p!'el nr,,:lo que a medior,ri-
dade de seus sel'l ias esLau belll long de justificar.
Apena tomoll pos e do go\'crno, o dl'spoLa Zal'ale
annullou a eleio de Martin ual'el, de Toledo, e se
pol, em lUl<l aherta com o InJllllgo de Cacere, que
s mpre em grande ntullern e poderosos lhe fizer ex-
perimentar a me ma sorte. lan'\ndo-o n'uma prI.o em
que m rreu em fin de 15'75, uniyer5almenlc deteshdo.
fi", ia lIe'igllado para sucrcder-Ihe o futuro lI1ari".o de sua
filha unica, em virtude tia clall 'ula lIa acta que lhe concedia
a propriedade do cargo ('om lIcce o (para la Fegll71da
Ao lllesmo tempo lhe d"ra por tutor a Joo de
Garay, e entL"gra ao seu obrinho DI8go Ol'lil, de Za-
rate y Mendiflta, joven de apena vinte annos, o commando
pl'oYisori da provincia.
D. Joanna, a rica herdeira, c.lava ento morando em Chu-
qui aea, para onde Garay partio afim de lhe participar as
ultimas vontades de seu pai; e favorecendo a" suas ecretas
o
DOMINAO HESPANHOLA.
intenes, apressava o seu casamento com Joo de Torres
de Vera y Aragou, ouvidor da Audiencia, quando recebeu
do Perti. ordem de suspeud l-o e dr. se apresentar ao vicerei
D, Francisco de Tokdo, que [llUbiclOnava a mo da filha de
Zarate para um de ous sobrinho. A unjo projectada
elfectuou- e apezar d'esta opposio; mas o ,rice-rei se vingou
mandando prender o mariclo, que s alguns annos depois
pde voUar a exercer o seu emprego, esperando a deciso da
crte sobre os seus direitos ao governo elo Paraguay.
Garay, escolhido pelo novo governador para ser seu
tenente, em vez de obedecer fi intimao de se aprr.sentar em
Lima, tomou prudentemente o caminho de sua provincia,
que elIe achou na mais complek'1. desordem. Os excessos
crimes de Melldieta tornavo preferivr.l a incapacidade e
a adminislno deploravel do seu tio. A cidade de So
Salvador, deixada sem foras para repellir os alaques
furiosos dos Charruas, linha sido e seus de-
fensores havio-se retirado para Assumpo (1576). Mas
este triste estado de cousas no devia durar, e militos
desaslres io ser reparados pela energia, actiTIdade e raros
talentos do tenente de Torres de Vera.
Aps uma serie de inforl1lOios e aventuras que longo seria
aqui relatar, de viagem para o Per, depois rc-
meltido Hespanha como prisioneiro. por ordem de Francisco
Sierra, governador de Santa F. e acolhido pelos Portuguezes
de So Vicente qull lhe fornecro meios de tomar de novo
posse do seu governo, abandonado com sete de seus campa
nheiros em uma praia deserta, fra assassinado pelos ln
digenas, que, a dar credito a Funes e a Guevara (1), se
serTIro d'elie para seus terriveis festins.
Um dos primeiros actos da administrao de 'Joo de
Garay foi decidir a fundao de uma nova cidade. Con.
formavase assim com as ,rivas recommendaes da crte,
que com muito acerto considerava a fundao de
(1) FUNES, t. T, p. 267; - GUEY.\nA, Iiv. II, p. 142.
nOml'iAo HE"I'ANIlOLA. 49
de poplllao como o m io mais efficaz para r.onsol1ar o
dominio hespanhoJ no meio de palze immenso, povoados
de nae illim.igas. O velho capil1o Ruy Diaz Melgarejo,
que reparra sua inju tia e ua desobediencia com 40
anno de bon en'io, parlio no fUll de 15'76 para edificar
ViIla-Rica do E. pirito-Sanl na provncia de Gua}'ra,
a dua leguas do Hio Paran,; ma a vizinhana do.
Porlugueze e o temor de eu alaques em breve obri-
gt'o o funuadores a pa ar o rio, e foi smente em
1680 que, d 'pois de Ilaver oecupado succes ivamente di-
versas posies, a ciuade foi lran ferida. defillti amente
para o lugar em que aclualmenle se acha (1). O ha-
bitante' da nova cidade, reunidos aos de Ciudad-Real
"pdllziro a eOJOm nua a. populalIO' da. provncia e a
I't'parliro (,lIll' si, completando d e la arle a obra prin-
('ipiada pOl' Chaves lh"ue 1555.
Logo qUl' Gara. expedio o v.lh omcial para esta
n \'a mi so, dirigio-s com 130 lIe panhe para. a.
m sma paragen. Fundou . ucces iY3m('nle a. villa de Pe-
l'ico-Guaz, .formada de 1ndio Nuara., a de Jejuy COIll
Guarani, e a de Talavera rue foi atacada e uestruida
polos Payaguas cm 1650.
De volta em A umpo, encarregou de 10\ a .'Ilrl-
gar jo, a quem deu 60 oMados e colhido, da funda
d uma nova cidade obre a mal'gen uo rio nlboletpy,
que se ue agua no rio Pararruay, pelos 1\1
0
20' d lali-
lude (15 O). Este centro de popularro, pouco depois
abandonado recebeu o nome do anliago de Jel'ez.
Enlretanto o tnnenl do governador ([ue o "icc-rei r -'
tinha sl'mpr elll Lima. rec nheceu a nec!.' idade de erear
um lugar de refugio aonde se podessem abrigar e re-
frescar o navio' he panhes que chegavo ao Rio da
PraIa. Foi afim de pr e. te projecto em execuo que
elle emprehendu a. ciuaae de Buenos-Ayres de-
(t) Lal. 250 48' i.>i". Long. O. 58
0
51' 59".
4
50 DOUINAO UE l'ANJlOLA.
haixo da denominao de Ciudad de !CL Tl'inidad, puel'/o
de Santa-A!cLl'ia de Buenos-AY1'es, no dia da Santssima
Trindade do anno de 1580 (1). Reduzio depois a com-
mendas e di tribuio entre os fundadores O" Guaranis das
ilhas inferiores do Paran, os quaes viro depois a po-
voar as villas de Santo-Isidro e das Conchas j e com os
[adios l\l'beguas formou a povoao deI Baradero.
Dadas eslas providencias, Garay e poz de caminho
para Assumpo; e subindo o Paran, chegra aos 32
11' de latitude, quando foi surprehendido em terra pelo
I ndios l\'linuanes, e morto em quanto dormia com 40 de
.'eus companheiro. Os outros eh gro felizmente a anta-
F, e mais tarde voH1:o para o Paraguay.
Tal foi o fim d'e te p rsonagem, cuja corageJn, intel-
ligente actividade e servios s s' pdem comparar com
os de Martinez de hala. Havia pOl'm n'elle, a par de
uma condueta exemplar e de um igual desinteresse, mais
deliCadeza e ma."unanimidade. Ambos, fora de pacien-
cia e de energia, datro os limites da dominao He -
Imnhla no Rio da Prata, e a consolidilro de uma m;t-
tIl'ira e laveI (2).
CAPITULO VIII.
f1EllNANDO DE .A.HEDI\A.- DIVISO DA PROl I:XCIA DO PAILlGUAY.
(1585-1620.)
A morte de Garay foi o signal de uma coaliso de todo'
(1) P. DE ,\NGELIS publicou .na eoUeco de documen-
tos, t. m, algumas actas relativas a fundao d'esta famosa
cidade, e repartio do ter ritorio e de seus habitantes en-
tro os conquistadores.
(2) A casa quo Garay para i existia ainda elll
1847, no canto de la Recoba VteJa, com porlco em cstylo
rnoresco daudo para a praa da Victoria cm Buenos-Ayl'cs;
e a sua posteridade era representada por uma mulher ido a
P. enferma que a habilava na mesma pocha. A. DE
l)lls'ideratiollS historiques et politiques Slt1' les lIepubLiques de
I.a Plata, 1850, ia 8., p. 20.
DOMlNAO fIE PAi'lHOLA. 51
o' ] nrligena da margem direita do Prata, que acommettl'o
furio os a colonia por ene de novo fundada. Mas Rodrigo
Ortiz de Z:nate, sahindo elo forte, travou com eTIes um
combate encarniado, em que foi morto o cacique Guaza-
laya, que o commandava. O furor e coragem de e perada
da h'ibus indgenas vlero de novo se quebrar diant da
disciplina e do angue frio do soldado europeo. A cidade,
a\gllnS :.umo depoi, p'receu to formidavel ao pirata
'l'homa Canrli 1"1, que no OllSOU a l a c ~ a (1;)87).
Alonzo de Vera y A.ragon, appellidado Cara de co (Gal'u
de peITo) em razo de ua fealdade, succedeu a Joo de
Gara na lmces de vice-govoJ'l1ador da provinci a do
Paraguay. 1Ierecedor por suas qualidades e r:.u'o valor da
'llto,idad 'nprema, quiz, a exemplo de eus predece sore ,
e arfa tado como ellos pelo amor dos descobrimento,
PStender o limite do seu governo. Foi na immensa pla-
nirie do Chaco qu eUe pz a mira, e em 1585 e em-
barcou no rio V rmelho frente de 135 oldados para U'
IlbJugar as povoa.e que vivio errante por e as olide,
~ i n d a em nossos rlias to pouco conhecidas. Depois de
dilferentes ictoria alcanada conb:a eUas, fundou nos
c,lmpo de Mataro uma cidade, a que deu o nome de
roncepcio71 deI BCl'mcjo (15 de AJJri\ de 1585).
JlIa dur:l.llte a longa ausencia do chefe, o Ilrincipio de
autoridade foi po lergado, e novas turbulencias se dro na
capilal da provincia. O bispo D. Joo AJonzo de Guerra,
I'eligio o da ordem dos Minimos, cujas vil,tudes o cele-
bradas por alguns hi toriadores, no podia as istir indiJIe-
rente a taes desordens. C n urou portanto publicamente e
com zelo talvez excessi o o e candalos do clero, a conducta
desregrada dos commendadores, sua avareza e exigencias
para com os Indios. Feridos em seus interesses, os de con-
tentes procurro livrar- e de criticas e admoestaes im-
portunas, Capitaneado pelo alcaide da cidade, se encami-
nhro para a casa do prelado, resolvidos a prendl-o.
A vingana do alcaide no COll ainda satisfeita; e pou (\
1 ,
52 DOMf.NAO IIESP'!"l'iHOLA.
Sl'U' [1'C ,'llcces'orc;; no ;tpr senla
111 no, D. rcmando dc Zarate, nlll
depoi conduzIo elie me mo o bi po a Bueno -Ayre par, o
enviar fi He panha.
Joo de TOlTe de Vera y Aragon, LLbh'allido emfilll por
mandado da ju lia ao ran 01' e ciumes do Yice-\' i, deixoll
o Pcr e tomou posse do govcrno do Paraguay cm 15 '7.
Seu primciro acto foi dar execuo a um projeclo j de de
muito tempo concebido de erigir urna cidade na coniluencia
do rios Paran Paraguay, Encarregou em 1588 seu fI-
brinho Alomo de Vera, cognominado o l'upi, da flllldaCJ
l'essa cidade, quc trocou ql.lasi imOlediatamente o nome dr
o Joo de Vera, impo to por eu fundador pelo de Cor-
rieute" qu sempr dcpois con cr\Ou. s h'iJm' das pla-
nicics circul1wizinhas foro recluzidas a commllndas c repar-
lida entre o 80 Hespanhes que acomlJanhro a 101U\1'
de Vera, c no mc mo anno povoiu'o a vil la d Las Gua-
'cu'a', Ytali e anta-Luzia, que muilo oycro dc olTrer do:
ataques do Payaguas c da tribus do Chaco.
Os cuidados dc uma admilli ll'a qUll a)Jraav<\ lao \'aslo:
tenitorio , ondp. ainda ludo slava p l' crcar, c onde ri!
preci 'o incessantemcnte com tun puuhado de bonll'ns conLI'
uma popular,o sempre indocil c iucp.eta, e reprimir 011-
linuas rcvolLa' da parte do Indig na " que])l'anl<'lro
fora do governador, quc havi pa sado por to
prova antes elc IJoder tomar po se do gOY 1'110, .\ssiJ1l,
:l1lcio o por l'm-cr os patrios la1'e. no l-:trdou a 1'c ign:u' li
"u c,argo (1-91). Teve- e dc procedcr ii eleio de uni
'ubstilulo; c p la primeira vez o yolo do POYO foro eOIl-
('cUido a um ftlbo do p:.z: Hemando Al'ia ue aavcclra fi
unani.memcnle leiLo, O novo governa.dor havia com cITcil"
na cido em A 'snmpo. Dcpoi de ter vencido os Imli.os cnl
l11llito cOllll):cs, se mo"lrou zlo o deI usor do,
dos mesmos, grangeandu arte rcputao dc Umllli!
hravura c gcnerosidade. Hcmand San" eira dimitlio-, d"
poder 111 1593.
A. administrar". d
facto algum digno d
no,\{) 'AO HE PANliOLA. 53
d'f'lle", que accumu1ava o governo do Paraguay ao d' Tu-
cuman, construio um forte para pr a cidade de-Bu no.
Ay:res ao a]lri"o dos ataque do piruta illgleze.
A morle de Diego VaIde de Banda, u ce ar de Zarate,
fez re tituir a Rernando de aavedra o alto cargo que elJe
l'xercra com tanta distil1co, e a corte de Madrid o con-
jirmou em 1601 na po' e do "O crno: elie tratou logo de
(llialar o dominio be panbol 'om nova' conqlli tas. "Mar-
I'hou p i :tl 200 legllas para o ui, na direco do e -
h'eito de :\fa"albes; ma e ta ou ada tentativa, mpre-
hendida com forca in lIlIici 'nle, ma1I0grou- e c:untra o
numero e pertin;z resi tenia do lndigena. A maior
paI'te do oldados succulllbiro, seu general foi feito
pri ioneiro 001 o que escapro il morte. Ma um tal
J" ez no era p1'0pl'io para abater o animo firme ' re-
solulo d aavedra. Tendo conseguido vadir- e, voltou
;[ Bueno -Ayre atravz de mil llerigos, rcmo alguma
Iropas, e partia frente d'elJa' a liberlar os seus com-
panbeiros de caliveiro.
DeI ais de tomar uma desforra competente ele sua d r
rota sobre os Indios elas Pampas, voltou uas arma con
tra os do GrandeChaco; e c.om o mn.:ilio do .eus te-
nentes tl'iumphou da numero a tribus do Gua cur ,
No e sabia com tanta felicidade de sua e x p e c l i ~ e
dirigida vasta provncia de Guayra, cujo hallitant
Stl tinbo rebollado para se liYl'arem das e'\.ac. e, e mo
tratamento dos commendadoro. Ento e morccido por
f'sta tentativas infruct:uosa que l1)e cu ll'o avultado
lIumero do soldado, Hernando Aria propoz a eu o
berano renunciar fora da' arma para submelter O'
Indio, e de tentar a sua eon er o por meio de m.i'.
iom,rios que lhes levas em a palavra do Evan"ellio.
Philippe III, por unla carta regia de 1608, acollieu a
proposta do seu lugar-tenente: ao padr s Je uita _imIlo
Mazeta e Jos Cataldino, Italianos, foi confiada a Pl'oVll-
'ia de GuaYl'a; e os PP. LOl'enzana e Fl'anci co de :Io-
5-t DOMINAO HESPANROLA.
larlinho foro habitar entre o Indios da margen do
Paran, a pedido do cacique Arapizand. Em breve e 1;1,
tribus, reunidas pela voz de zelosos e intrepidos apo-
tolo, dro origem a essa lIIisse que to imporlanlp
parte occupo na historia do Paragua .
Hemando Aria de Saavedra teve por succe SOl' a
Diego l\Iarlinez Negron (1609). Foi dill'anle a admini tra-
o c1'este ultimo que foi enviado por ordem do rei,
algulls allnos depois (1611), em qualidade de visitador,
D. FraDci CD de Alfaro, com plenos l)odere de refor-
mar a condio dos Indio' e de abolir a instituio da .
commenda, sul) tituindo ao el'l':io pessoal uma contri-
buio paga ao Lhe OUl'O. Temos j vi to que ob laculo.
impediro a execuo dos sallio regulamentos do vi la-
dor, e o'caminho obliquo que leve de eguir para no
excitar revolta o po suidores das commenda , e satis-
fazer ao mesmo tellpo aos desejo e enr.rgica recom
mendaes do gal)i net de l\Iath-id.
a morl:e do governador egl'on (1615), o general GOllo
zales de Santa-Cruz o ubstiluio provisoriam nte, e leve
pouco depoi por ucce Sal' a Hernando de Saavedra, cnjo
raro merito e longos ervios, apreciados em Hespanha,
foro pela lerceira vez premindo com a investidm3 do
supremo commando.
E te ultimo periodo da ida administrativa de Hemando
ria foi eons arada organi ao interior da provincia.
Como protector zelo. o dos Indigena, elle fez executar o ~
regulamentos 'de Aliaro, e'punio os eus tran3gressore (1).
A dl'scoberta do paiz, embora no a ua ul)lDisso,
, lava cruasl ultimada.: ern. pai chegado o momento op-
portuno de Ol'gauisal-o de explorar as ua immen as
riquezas naturae , em uma pala 1'a, de cuidar eriamenli'
da olonisao ele eus campos ferteis e va los como o
(i) . an cionados pelo' oberanos, c"les regulamenlo foro
ins 'ridos na Rccopilacion de las Leye' de Jndias, lei 6.', Ul. 11.
nOlllli\AO Iill l'A "UOLA.
Oceano. l'ara allingir um tal fim ainda remoto com pr ,-
habilidade de ucce so, (}ra mi ter lTal alhar na conver o
de tribu" emprl' hosli e emprehender activamente a sua
rivili ao; era mi Ler ao me mo tempo dar ao depo i-
tario da aut ridade real uma aco meno va La e por-
lanto mai direcLa sobre toos os ponto (1'e 'se
lerritorio, e uma vigilancia mai rc ITictiva e ao mesm
Lempo mai facil sobre todo o ramos do servio pn-
J)lico .
Apena" inve lido do poder, Hernanelo Aria' compre-
hendeu esta dupla nec sida le, e por varia ezes oili-
CitO(1 do rei a divi o da provincia em dou governo"'
(ldinctos. Um decreto rgio do} 1620 ordenou e "la epa-
I'a , O Paraguay foi entrefTue adminisLrao de dou'
governador iodepend nte 1.1m do ouLro, ma ambo,
submeLLido autoridade do viclJ-rei elo Per - jurisdin
da Aueliencia de Char a ,A idade de Bueno toro
n TI-se capiLal elo eguJ1(l goyerno scle ele um bi pado.
h'a chamada, como brevemenl0 veremos, a mui allos
cle tinos. Consummado e L- de membramento, Hernando
de pde afinal gozar do repou o devido a eus
. p,1'\'os; acabou eu dia em SanLa-F de la Vera- ruz.
n meio da e"Lima e ela con iderao publica,
Ao narrar a Li Loria da conquista do Rio da Prata.
fomo fora(lo a no d clarar seno o faelos gel'ae
11 omillir mais de um deLalhe inLera 'lnto. .r ulgamo::
comludo ler diLo bastanLe cerca do prim iros temp d<4
dominarlo he panhla, pam dar ao leitor uma ida da
nO!'agem, pel'"o crana o illdomavel energia d e se homen,
ele ferro, que o conl1eciOlehto d paiz no pde ha-
hilitar a apreciar no u jusLo valor. Grande exemplos
r imp rtanLe lio esto contidos n'e"a e -traordinal'ia,
empreza e fa.allha, qu , a tres seculos de di lancia ,
revestem toda as prop l'e de legendas fabulo a ,
Em nossos dia, diz mui judiciosamenLe um e,-
cripLol' cuja morL recenLe e premaLura d ploro a leUra,;
56 DOMINAO HESPANHOJ-A.
e a diplomacia, em nossos dias os governos hesito de
favorecer emigraes salulares e rec13maclas pelas circums-
tancias para esses paizes descbertos ha tres seculos, e
J meio civilizados. bjecto a di lancia, as (lifficuldade
e perigos da empreza, as complicaes internas e exter-
nas da politica europa, e no sei que mais? E esque-
cem que emigraes analogas 8e elfecluro nos lernj.)os
heroicos l1a (lominao hespanhla. E em que circum -
saneias! A arte da lJavegao ainda eslava no bero j o
vapor no tinha abreviado as distancias j as invenes
da indusb'ia a mais apurada no tinbo altenuado e abran-
dado os incommodos de viagens cheias d-c privaes e
de loda a sorte de miserias. Uma populao elvagem
occupava o tenilorio e oppunha aos Me panhes costumes
inteiramente differentes e barbaros e uma 'lingua clesco
nhec-ida. A ambio de Carlos Vede Francisco I di\ i-
dia e agitava a Europa j o principio de autoridade, de
que os reis havio sido a.t ento a expresso, vacillava
ao sopro destruidor de um monge allell1o, devorado do
espirito de rebellio. Ao comparar, no meio de agitaes
analogas, a nossa limidez e pu illanimidade, apezar da
lmmensidade de nossos recursos maleriaes, com a ener-
gia e actividal1e feeunda dos conquistadores Lln. Am rica,
no ob,tante a mesqLnl)ez de seus meios, somos invo-
luntariamente tentaclos a nos perguntar se por ventura
temos a lal ponto degenerado dos nossos ant'passados, e
. e o ElU'opo de hoje na verdade o deseendnntc. do Eu-
ropo l1e outr' ora (1).
(I) A. DE nRoss.\JlD, Cons'iderat'iol1s llistol'ques et }JoL-iMques SUl'
les ele la Plata. p. 20 - .'H. - Conv6m lembrar
que esias re1lt:xe, to acertadas foro escriplas cm 1850, logo
depoi de lima revoluo cujos elli itos augmenlavo ainda a
opportunidade e conveniencia das medidas acollselhads 1)010
aulor.
DOMINAO ElE PA.. I'IHOLA.
CAPITULO IX.
57
DESDE O DE. MEMDIlJUlENTO DA PIIOI'11';'CIA AT .IL AmllNl TIUO
DE ALO ZO AIIMJE. 'TO.
(1620-1659).
A diviso da provincia do Rio da Prata em dou,'
governo cli tinctos no produzio logo no prinr.ipio os
f'lfeito. que e devio e peral' de uma medida in pirada
pela experi ucia e pOl' uma politica previdente e abia.
a verdad a pocha do de cobrinleJ1tos era quasi passada;
,. posto qu' a lie panha ainda uo havia tomado po 'e,
mn todos o pontos, de seus immenso dominios, ao menos
havia j reconhecido e extTaordinariamente dilatado o.
limilt: d'elles. Os goyernadores do I araguay, d'ora em
diante mais permanentes na capital da pro llcia, io org .-
. nisar a da diO'erente parte d'esle grande
(lOrpO, sem se verem obrigados a andar ince antemente
de uma para outra" Ma as difficuldades e os obstaculos
e.Qm que tero de lutar, emllora concentrado em um
espao mai limitado, porm ainda ba tante vasto, nada
tero llerdido de sua gravidade. A guerra com o Indgenas
l'ontina, ainda que com caracter mudado. Rechaado na
parte mais profunda e intrincada do bosque, e na pla-
ocies em fim do Grande-Chaco, j no a commettem
seno rara vez abertament' o novos dominadores de seu
paiz. 'entindo- e mais fL'aco , reco1'l'"6I11 amiudo a cilada!.
e ardilezas, supprindo as im a fora que se lhes va.i faltando.
Ao Dlesmo tempo recebem em uas fileiras al
l1
110 de eJtores
da grande fam.ilia latiJla, qoe, persegldos pela justia em
razo de seus crimes, e con tiluem o instrumentos mai
formidavei do odio e vingana do lndios, a quem a tu-
r,iosamentc inculco os d feitos e "ir,ios da civiJi ao, em
Ibes apontar uma de sua. vantagen . Um grande pre -
ligia ar,ompanha e tes renegado, croe no taJ'do a se pr
58
HESPANHOLA.
testa d<i expedies conhecida pelo nome de maloca',
cujo fim saquear, de truir os e tabelecimentos europeo.
e extermmar os seus flmdadores.
o meio d'esle ataque imprevislos, que obrigo o
colonos :t permanecer sempre vigilante e alerta, a aulo-
ridade central no e mostra mais consolidada. Repetidas
vezes a Audiencia dH Charcas de um lado, o vice rei do
Pert do outro, u ando de prrogativas mal definida, no-
meio governadores, que ba eados em seus direitos, recruto
partidarios em todas as classes da populao, e vm a final
uma luta aberta com o fim de se apoderarem do poder.
Por vezes diversas a auloridade elo soherano, to absoluta
na Penin ula, parece naufragar e desapparecer debaixo
das vivas e tumultuosas dispula e competencias a que a
carla de 12 de Setembro de 1535 dera occa io.
O poder e'pirilual n mantm alhei d'es a lula
sanguinolenlas; e o cler0, de prozando a jJenas eccle-
ia ticas, usa de armas mai morlferas, que elle clirig
ra contra o eculare, ora c ntra os inimigo na cid s
em sell seio. D'csta arte, o Je uita , a quem Philippe HI
(',onlira a clJnverso dos Indiaena, exiliaclo pelo bi ]J(I
de As umpo, alli torno tTiumphantes em companhia do
governador, para de novo erem expulsos por um leyan-
tamento do povo. E ainda mai : o pl'oprio repre entante
do soberano, cilado peranle um triliunal upr'cmo, pag,j
com a vida a ua rebelli e talvez a inimizade do.
OUlTO .
Comtudo, a l'llel s pl'Ova' porque pa a a Companhia
de Jesus parecem fortalecer e mesn o augmentar o II
pod r. As Misses dos Jesuila l1rogl'idem de uma ma-
neu'a lo rapida e as ombro a, que, depois de excitar
o ciume do ffcSIJanhe c a susceptibilidade dos bispos,
desperto a de cOllfiana do governadores e a atten
uspeitosa da t:rte, onde seu habeis chefes canto
numeroso e in(1uenle .
Este e-la1elecimenl celebre' tivt:ro tambem sell
DOMl -A ,O HE'l'ANHOLA. 59
lutuo o . A alIado pelo Indios indomito , e a mais da.
vezes pelos Portuguezes de . Paulo, que prelendio reduzir
e cravido o pacilico habit<'l.ute para ir vend l-o no.
mercado do Bra il, as Mi e da provineia de Guayra
tivero de er abandonada a mesma sorte terio a-
do lto-Paraguay, st'no Io se o valor dos neophyto ,
di cipliuado e no manejo da arma.
Tres grand s acontecimento especialiso aipda a se-
gunda metade do secnlo XVnf, a saber: a conchlso dI'
convenes sem re ull:ado entre a He panha e Portugal
cerca da demar ao de sua colouias; a guerra chamada
(la Mis es, u lentada pelo' Indio contra as foras
combinada da" du, potencias, por occasio de e pr
em vigor o tratado de 1'150; finalmente a. e:pulso do
ovo Mundo do di cipulo d 19nacio de Loyola, a queDJ
a distancia 11o livra do ostraci mo pronunciado conlra
elle pela politica do gabinete europeo.
EmUm, depoi de mai de dou ceuIos de anarcrua.
a autoridade de novo commeLlida a homens ner"ico.
e a ordem se re tabeIece. O poder real pare e mai so-
lidamente firmado do rrue nilllca, no meio da e trema
pobreza occa ionada pelas reslrices commerciae , quand
a repercu o de facto melUoravei e lJCill conhecidos
chegou [l capital elo ice-r iuo do Prata e relllmbou logo
depoi na provincia central do ParagllaY.
la ahi, contrariamente ao que ia se pas ar na margens
do Rio da Prata, apparece wn homem qu logo confisca a
eu proveito a l'I:nroluo, a independencia loda a liber-
dade, para curvar o seu paiz ao jugo do mai capricho o
despoti mo, manll-o em uma via de arbitl'al'iedades epl
que no lhe h::wio de faltar imita(lores.
Tal o esboo rapido de um quadro do qual l'esta-mt\
apresentar com algnlls detalhe os trao mai alientes.
A Saavedra uccedeu D. Manuel de Frias, a quem e11e
ha\'ia incumbido de ir demonstrar perante o Conselho das
Jndia a urgente necessidade do de membrament da pro-
60 DOIUNAO UE PANIlOLA.
vincia, Frias sahio-se bem n'esla misso, e pOJ' sua habilidade
em encarecer os proprios servi\tos, obteve o governo da
provincia do Paraguay, do qual tomou posse em 1620.
De novo prorompeu a discordia entre os dous podel'e:
temporal e espiritual. O bi po D. Thomas de Torre',
rcsenlido de ver a ua intercesso rejeitada para apa-
guamento de uma querela pessoal ao governador, no lhe
poupou as ecn ma da Igreja, a que e te re pondeu peja
fora armada que um poder illimitado punha ua dis-
posio. A. aucliencia de Charcas, para acabar com es a
inimizade que dividio a cidade em dous partidos pro-
fundamente hostis, mandou comparecer p r ~ l I l t e ena a
D, Manuel de Fria. No meio de uas contendas com a
auLoridade epi capaI, o governador a egnrra a Lmnquil-
lidade da provincia castigando severamente o Indios Paya-
guas, perpetuas inimigos do eu socego. Mal elle parllO
para obedecer ao chamado do tribunal upremo, aGua -
f'UJ'lis invadiro a provincia, frouxamente defendida pelos
magislrados a quem ene confil'a a admini l:rao durante
'ua auseucia, Pelo cru os habitantes se apressro a. mandar
il Chal'ca uma relao do e lado precario do paiz, recla-
mando com ill tancia a reintegra;10 de seu primeiro ma-
gistrado nas funces de que se ha ia mostrado diguo em
mais de uma occasio critica (1626). O seu requerimenl(l
foi favoravelmenle acolhido, e j Manuel de Frias, com-
pletamente justificado de suas accusaes, tinba partido a
tomar de novo pos e de 'eu governo, quando, ao chegal'
em Salta, morreu de repente (1627).
D. Luiz de Ce:pedes Xeray, que lhe succedeu no anno
:eguinte, atLl':lllio conh'a i o adio de seu administrado'
por tolerar as incur ves dos Paulista, que, au.'liados pelos
Tupis, e quasi seguros da impunidade, atacro as misses
da provincia. de Guay:ra, Villa-Rica ~ Ciudad-Real, e redu-
ziro ,> cr:lVldo eus habitantes. Calculas que me parecem
exageraclo a.valio em 60,000 o numero dos Indios vendidos
nos mercados do 13razil cm dou anuas, de 1628 a. 1630.
omUKAo HESPANROLA. 61
Ce pedes era casado com uma Portuguez:t do Rio de Janeiro,
e esta alliana, ao dizer do historiadores, augmentava ainda
ua toler:mcia acerca das deprodaes de uma nao rival,
que foi sempre eMestada pelos fIespanJles. A irritao
do, colono ia. cre cendo, e ua queixa faro attendida.s
pela Aucliencia real, que condemnoll o colJarde governador
:1 uma mulLa de 1.2,000 patace, e privao durante
seis ann s de qualquer emprego publico.
U governo brevis imo de Martim Lopez de Balderramil.
nome, do p 10 Lribunill u,pl'emo con:F.irmado em sua
func .. es pelo conde de CIJinc!lon, vice-rei do Per, a.pe'-
na de 163i> a 1636, iniructuo as tentativas de
reduzir o lncl.i"cna ii ommendas, sem fazer ca.o elas
ordenae do vi 'ilador Alfilro, e :llJezal' das r presenta.-
oe energicas dos Je. 11ita, cujo zelo, oiIendCJldo os i11-
tere se dos coI nos, lhes suscik1sa num 1'0 os inimigo,
devia. inevitavelmente levai-o a uma luta declill'ada
com a autoridade ivil.
D. Pedro Lugo \ll'ilrr:t, que tomou as redea' do po-
r! r em 1636, n COIT 3pol1lleu plenamente espera11-
a que o gabi nete de l\iIadl'id ha.via ('undado -olm sua,
qualidade c eu merit . Abandonou em 'oceOlTO '11-
va es dos Paulista' e do I ndios Tupi3, seu
as Mi e elo Ul'uguay, eujos habilalltes, l' duzidos uni-
camente s Slla lJl'opria ('ora, pod1'o todavia repellil'
O' ataqlles d'estes implacaveis. i\(aV:ll'I',l morreu
ao voltar para a Europa, onelt) a moJ\eza de sua con-
dueta haveria sido sem dUl iela sevcramcnl PllJ1i da.
Ei -nos chegados it epocha a mais tempestuosa que ()
Pal'aguay, essa t('.1'l'a elas ica d[l anat'chin, n'ae[Uelles tem-o
pos remotos, t ye de alTaves [lI'. Gregoro ele Hinostl'o a.
natural elo Chile, ucceeleu em 164:l a Na..arra. Havia
elle combatido conlra os Inchos inelomaveis ela AraueTtnia.
de quem este c priion ir qllalol'7.l anno. A' Sl1a cill'-
gada em Assllll1pfto a nde o tinll5,. precedido UIl
grand ele ]Jl'avl1l'a c :1 notir.i:1 de sen lougos
"J
62 nOm"NAo IrE. PANTIOLA,
sel'vios, vio- e em presena de um bi po, cuja quali-
dades mais brilhantes que solidas, e cujo e pirito fogo o
inquieto io renovar as scenas e 'candalosa dos tempos
pa sados, tornando a pr em hlta a autoridade civil e o
poder ecc1esiastico. Este prelado chamava-se D. Bernar-
Jino de Cardenas. Ja eido em Chuquisaca, enll'ra muito
/I10O na ordem de . Franci CD, na qual em breve tem-
po adquirio grande reputao 01' ua eloquencia e peja
irreprehen ivel au teridade de-eu r, .umes.
bispo do Paraguay por bulla datada de 18 de Agosto
de 1640, e sagrado pelo bispo de Tucuman eru 14 de
Outubro de 1641, tomou logo posse ele sua S, e ,I,
occupou pacificamente at 164.4. N'esta epoch'a, foi elester-
mdo pelo governador, que apoiava o Je uitas, que ha-
io conlestado ao prelado o Jil'eito de vi itar a uas
Transportado a bordo de uma embarcao, des-
reu o rio e refugiou- e na cidade de COl'1'ientes. Ao mes-
1110 tempo os Ie uitas nomero um cOllego para. gover-
- fiar a Igreja do Paraguay em qualidade de pl'Ovi 01'.
Reintegrado em sua s episcopal em 1646 por ordem
ria Audiencia de Charcas e por uma. deciso do arce-
bispo do Rio da Prata, D, Bernardino de Cardenas foi
vez exilado, algun mezes depoi da ua volta.
Durante o desterro do prelado, o governador au.."tiliado
por 600 Indios Guarani, ca ligou rigorosamente os
Guaycurs, sempre promptos a se aproveitar das discor- .
rlia.s intestinas de seus dominadores. Esta victoria trouxe
aos habitantes da provi.ncia alguns dia de h'anquiLlidade
'lue pouco devia durar (l).
(1) Hiooslrosa e o bispo foro citado" a comparecer diaote
da Audieocia de Chal'cas em um praso de 4 mezes (Provi-
.'ion, etc., fecha em la Plata a 7 de Setiembre de 1645). Uma
seguoda proviso de 18 de etembro do aooo seguinte (1646),
que d'esta vez s dizia respeito ao bispo D. Cardeoas, ficou
resultado como a primeira. Vejo os Mss. reuoidos sob o
titulo: l-o!eccion de Mata Linares, l. LVI, 0.
6
14 e 15. Bibl.
da Academia da Historia em Madrid.
ME I'ANHOLA. 3
D. Diego E cobar de O orio . uccedeu em 1647 ao go-
,'ernador HinosLrosa, e o l)i po coo eguio de novo voltar
ii sua epi copal, !!raa ti: influencia da sua mulher a
quem soubera di pr a 'eu fav r., Toua\'ia, a boa intel-
[igencia s foi de curta durao, e tinho- e dado nova
dis enses, quando Escobar de Osorio morreu quasi re-
p ntinamente a 26 de Fe er iro de 1649. Jmmediatamente
() bi po, valendo-se da di po da elebre carta rgia
\le C3.rlo V, convocou o povo ex cO!r.icios, e (';l\e $
habilidade de se fazer conferir a uprema autoridade.
Ento deu livre cur o ao seu adio contra os Je uitas,
ru lfi11l11g0 , e no reCllOU. dianle de nenbmn meio
p:lra satisfazei-o. Amotinou conLra ene a populaa, a
'Iuem prometteu a pilhagem do ell collegio. As portas
do dificio faro al'l'OInJ)adas; pozero-Ihe fogo; e os re-
li"io o 'mbarcados iI Cora n canoas, faro abando-
nado sem provi e conente do rio ([). A audiencia
I' Charcas, l1formada de taes factos, de lituio o prelado
,Ie suas funce civis, c expedia a toda a pre a para
substituil-o a ebastio Leon y Zarate com ordem de
I'e tallelecet' o Jesuita no ':lU collel'fio e no gozo de eu
privilegias (1649).
Ua' o animoso prelado no se deu por vencido; de-
cidido a re istir pela fora tomada de posse de seu
. ucces ar, reunia os seu par tidario e o excitou a ir
;\0 encontro do governador Leon que marchava obre a
cidade frente de um pequeno exercito composto de He"-
pa.nhes e de 300 Judias das Misses.
O combate foi renhido e sanguinolento: 22 Be panh6es
p algun Indios do partido do bi po perecro; mas do
lado do governador, 385 Indio . Jlcro mortos no campo.
(1) FUNES, Historia, tit'. II. - Os motivos ju tificativos da
expulso dos Jesuitas so diJfu amante expostos em duas Me-
morias dirigidas, uma pelos olliciacs da cidade de Assumpo
"ii Audiencia de Charcas, a 26 de Maro de 1649; a outra
pr.lo bi po ao Rei, com data de 25 de Abril do mesmo anno.
64 DOMINAO
A cidade foi sac[ueada, seus magistrados preso", e o pre-
lado vencido foi excommungado e deposto em Hl d
Outubro por sentena (1"l Frei Pedro Nolano, provincial
da ordem da ,lIer , rrue os Jesuita hayi nomeado
jui:: conser1Jador (1). No fim de l49 tirou-se o ])ispo
da priso, e o levilro de e coita a Santa-F
i1:onde seguio para Charcas afim de justificar a sua eon-
ducta perante a Audiencia. Chegou a e ta cidade em l' I
d Maro de 1651, no se lemorando n'elle eno ponco
.tempo e pa SOll depois para Poto i e d'ahi a cidade de
la Paz, onde recebell, passados ba tantes anno (1662),:l
nova de sua reintegrao na ua S episeopal. EUe tinha
10"'0 'fi seguida da '!li!. deposio, xpedido a Hespanha,
aonde chegon em Agosto de 1652, a Frei Joo ViUalon,
religioso franci eano, com misso de defender Ill'rante u
Rei, o Conselho das Indias e a Mt de Roma. a na
conducta, que os Jesuita da sna parte accusavilo pOI' bor.a
do P. Pedraa (2). Acrescentemo que O' Jesuta for
restal)elecido na pos-e de seu collegio em 16-0 pelo go-
wruador Leon y Zaratc, a ([uem pouco depois sllccedeu
(1) m hrcve de Gregorio XlI[ concedia a lodas as ordens
religiosas o pri\Tilegi' de: nomear um jlli:; c01l.l'ervador apostolicu
para os casos em quc julga em seu intcresses E,'l'avemenle
compromettido'. A tomada da cidadc le\'e lugar no dia 1 d,)
Outubro, e a arla de cxcomnlUnholo de 28 de 'ctembl'o.
(2) Todos os papeis relativos a .,t longo proce o, Mc-
monas, Supplica , ele., traduzid s do lIespanhol para o franc z,
acho-sc reunidos cm um raro c curioso volumc intilulado:
de la persecuton dc delix Sainls EvtJqucs 1)ar le.,
.I csllites: l'lf1t D. Bemarclin c/e Carc/enas, eVlJqlle dlt ParaOllu!J,
1'olllre D. Philippe Pardo, archevtJqlle c/e l'Ea1ise de J1lanille,
nretropoli/uinc Isles Philippines. in-18 lIfDC\:CI (sem II
lugar em que fOI lnlpl'Cs o). Fazem tambem pade dos docu-
menlos numcrosos publicados pelo gOlfcmo bespanhol por oeca
io da supprB5 olo da Companhia de J sus, c fOI'mo 2 '"01 ,
in-4, Madrid, 1768, com o litulo: Coleccion general dc c/OCI'-
mentos I,ocuntes a la perseCtLcion que los Regularcs de la
C01Jt1)ania SUscitu1'on c/esde 1644 hasla 1660 cont1'a cl, llevlllo.
F. D. B. de Cardenas, 1)01' evitar que este 1)relado vi.itase su,'
Misiones dei Pal'01l, U1'ugllay e Itati.
UE PANllOLA. 65
Andres de Leon GaraLito, natural de Lima, jurisconsulto
consummado,
A admindra de Gambilo fui assignalada por ataques
Iormidweis uo Pauli tas e do Tupis contra as fi! i'ses
dos Je llilas do Urugllay, d Paran e da provincia de
Hali, ao J, d ParlgulY (1651 e 1652).
Chrisl vo de Gal'ay y \lvedra, natura! de Santa-F,
e rll'to d illustre fund.ld r d'e la cidacle, succedeu em
1653 a GaralJito, cuj viclori. lJavio emfim dado
provincia dia de prosperidacLc, que foi cruelmente mo-
Jeshda por llIn:l, que dizimou a populao no
deCUI"O dos anno 165-1 e 1655,
Vimo no principio d'e'te capitulo que as por
seu rapido uesellYolvill1ento e progresso, tinho-se lornado
suspeitas, no s s autoridade civis da provincia, mas
me mo ao gahinete de Circulavo sobre as riquezas
cada -anno d'e tes e'Llbelecimentos por seu habl'is
fundadores, e sobre a exi -tencia de minas de ouro e prata,
boatos c contos fabulosos que a cOrte quiz verificar, en-
viando ao me mo' lugares um vi 'it:tdor. Elia confiou esta
inr,umbencia a D. Joo ma quez de B.llvcrde,
ouvidor da lldiencia de Charcas, l)lagistrado illtegerrimo,
aulorisad a vi 'itat' todas as Rpdll(;es, incluidas as do Rio
da Prata, Bah'erde tomou pO' e do governo 01 165'7, e
traI ou logo de desempenhar a misso que recebera da
curte. ':lo achou mLtJe' preciosos; ma , em compen a..'lo,
certificouse da e: isLcncia de riquezas consicleraveis, obtidas
fnr.:t de U'aualLJo c pllla culllu'a de um sul0 fel'lil. Ovisi
tador conLentou-se portanlo de fazer .0 recenseamnt dn
populao, e de fixar o lribut annual (capilae'o) que
cada Indio dyia. \ (lJ'Ler nos cofres do rei.
5
66 DOMINAO
CAPITULO X.
DESDE A ADMINI TRAO DE ALONZO SARMIENTO n A MORTE
DE ANTEQUERA Y CASTRO.
(1659-1726).
Em 1659 AJonzo 'armiento y Figueroa foi nomeado
para succeder a Bla quez de Balverde. Por falta de energia
e firmeza para com os Indios de Caazapa e de Yuty,
que se havio opposto sua entrada n'llstas duas vi]jas,
Balverde deixra germinar no seio das povoaes (los In--
digenas idas de rebellio, que fizero exploso na viIJa
de Aracay.. A destituio do cacique Yaguariguay, cuja
conducta in pirava justas suspeitas, servio de signal ii re
volta, e o governador armiento, bloqueado em uma
capella com 42 Hespanhes, repellio pOI' cinco dias os ata
ques furiosos de 11ma multido de- barbaros irritados por
uma resistencia to heroica. A' fora de prodigios de
valor conseguiro emfim escapar s armas dos rebeldes
e ao sahindo vencedores d'essa luta desigual e
encarniada. Ento Sarmiento quiz dar uma lio exem-
pIar, e infundir por sua severidade um temor alutar.
Todos os l:hefes da conspirao Cl1m o eaeiflue na frente
pagro com a vida e ta sublevao. Os habitantes da
villa rebelde, arrancados de lares, foro transportados
para a Assumpo afim de expiar em duro captiveiro
uma falta de que nem todos ero culpados (1660). Esta
severa repre"so, assaz conforme s leis da guerra d'a-
quella epocha, no obteve a approvao da crte, que
afastada do thealro dos acontecimento , era por i so
mesmo disposta a julgar com mais indulgencia a conducta
de seus suhditos americanos. Portanto, no satisfeita de
dar em 1663 um successor a Sarmiento y Figueroa no
momento em que eHe se preparava para novas operaes
militares, encarregou a D. Pedro de ROlas y Luna, ou-
DOMINAO BESl'ANHOLA.
ti';
\ idor da Audiencia de Buenos-Ayres (1), de SP. apoderar
de sua pessoa e de instaurar o seu processo. Um exame
mais profundo da causa fez ceS"aI' a accusao da parte
do procurador fiscal.
Andino 'IUe governou a provncia de"de 1663 at 16'71
tom um desintere se que nem sempre foi inlitado, leve
ue reprimir os alaque inces ante do Guaycur e do
Payagua (2). Foi auxiliado n'estas expedies pelos Gua-
ranis das j J ses, que eUe tambem levou em defeza de
Buenos-Ayre, ameaada ao mesmo tempo por uma frota
europea e pelas tribus das Pampas.
D. Philippe Rege Corl'a1:.ln, qu'3 uccedeu a Andino,
no eon eguio fazer sql1ecer os beneficios da longa carreira
ac1ministrativa de seu predeces:or. Mal tomou pos e do go-
verno leye de repellir novas 110 lilidade dos Jndios indo-
Illitos que destruiro a yillu" de Arecay, Tobati e Atira, e
espalhro o lerror at na capital, ameaando junto s sua
porla o habitantes dos ferleis nUas de Arecutacu e de
Tacumb. De conlente de seus tenentes, cuja sciencia mi-
litar era in ufficiente at para contC'r as incur e- das horda
inimigas, Conalan se pz f.rente de uma numerosa expe-
(lio e no leve melhor fortuna. Levando com igo 31
[Jespanhes, 1,000 Iudios das ~ I i es Jesuitica , e -100 da
Mi se Franciscana de C a a ~ a p a e de Yuty, fez cm 1675
11m reconhecimento al 80 legua fra de A umpo, aonde
voltou depois de uma marcha de dous mezes e meio, mo-
1estado pela in. lancia' e depois pelas ameaas dos officiae
e dos oldados dimados peln.s duras fadigas d'e la longa
p infl'Uctuo a campanha. A e ta" tentativas inefficaze de
(1) Este tribunal, insliluido com o fim de remediar a len-
tido que ordinariamente acompanhava a appellaao das causa
para a Audicncia to remota de Charras, foi supprimido em
1672, p uco aUDOS depois de sua fundao, e de no o res-
tabelecido em 1776. \
(;) Carta ao Rei de 28 de De:xembro de 1665. Resposta li
uma cedula de 9 de Setembro de 1662, e pedido de soccorrOS.
(Archivo das Jndias).
68 DOMINAO BESPANHOLA.
repre so acrescero Ollll'O factos que pl'ovocro contra o
governador um'l. viva opp io da parle d,t Municipalidade.
Os Paulistas tinho de novo invadid a Misses, e VilIa-
Rica, um dos centros de p'lpuha m'tis ricos da pl'Ovincia;
cahio em p'lder d1s impl:u:avei J\lameluco, As queix.as da
l\'IunicipalidacTe, levadas a Cba"cas pelo capiL J o Leon
de Zarate, determinro n. A u d i ~ n c i a a envi:u' a A umpo
a Joo Arias de aavedra, que comm'md n-a na cidade de
Corriente , p:u'a se informal' d ucceJiu, E le, as altauo
pelas solicitaes e quei;cls d:>s habitanles, ultrapa 'ando
seus poderes, mandou prender o governador e o remettell
debaixo de escolta a Charcas.
O sapremo tribunal principioll sem dem'lra o pl'ocesso do
prisioneiro, e no achando motivos uffic;ienle para pro-
nunciaI' a sua de tiluio, o reinlpgrou n s u po lo, cen-
.urand com s \'eridade a c nduct1. dos l1l'tgistrad) mu-
nicipaes (alcaides c regedores) por sua reb 1Iio contra ()
repl'esenlanle do rei, e a incap tcid.lde com que havio
adhlllslmclo a provincia durante o inlerregno de que elles
er() autores,
Reintegrado em seu cargo, Corvalan esforou-se pOl' ap:J.ga r
a lemhl'al1a de sua conducla pas-ada, Punio com grande
rigor os Iudios cujas incessanles hoslilid.ldes tinbo poslo
em perigo a me ma capilal da pr vincia. 1\las e'te ardor
algum tanlo tardio o arraslou alm dos limites dl1 justas
represalias, e a hisloria no o poderia desculpaI' de haver
recorrido trahio para se ving;lr de inimigos a quem
o seu estado selvagem e o amor da. indcpenuHllcia auto-
rizavo al cert) ponlo a p.lI1p"egar armas improprias uos
ohlados civilizados da nou,'c Hespanha. Digam s portanlo
que no dia 20 de Jane!r de lG18 t!'ezelOS Guaycurs,
que tinho "inuo cidade allrabidos pelo prete to da
celebl'ao de esp()nsaes entre um dus chefes Hespanbes
e a 1ha de sell cacique, foro barbaramenle degolados
no meio da embriaguez, emquauto um corpo de tropas
tentava, porm sem resultallo, SUl'Jll' nder o restanle de
DOMINAO UE PANUOLA. 69
seus c.ompanheiros na margem direita do rio, que elle
felizmente no linho atravessado.
Corvlllan, que havia obtido a preo d'esta lrahio alo
guns lInllO de ll'anquillidade, foi sub lituido em 1681
por Joo Diaz de Andillo, investido pela segunda vez
da suprema auloridade. Andjno falleceu em 1684, e a
bre issima admini lrao de seu succ'e SOl' inlel'no An
tonio de Vera lujica, natural de anta-F, no apresenta
far.to algum nolave1. Devemo porm assignalar na admi
ni h'ao de Franci co 10nfort, que governou a pro-
vinr.ia de de 168:'> at 1691, um ataque contra o Pau
listas (lue se havio apossado de Jerez, e a viva impulso
dada . con truc.o da catbr-dmi (1).
eba lio Felix d' Mendiola teve a sorte de Rege Cor-
valan. Destitudo uo commando pelo habitantes indi-
gnado por seus actos arbitrario e pela brutalidade de
seu de poti mo, enviado a Bllenos-Ayre depois re ta
belecido no eu cargo pela Audiencia de Charca., soube
aproveitai' da severa lio que recebera, e portou-se pelo
tempo adiante com moderao. Joo Rodrigup.z Cota, que
lhe succedeu em 1696, con ervou o poder at 1;'02, e
pde reprimir novas bo [jlidades dos Guaycurs com o
auxilio do ludias disciplinados das Mi ses.
A' li ta j. assaz longa dos goverlladore deposto vio-
lentamente pelos Paraguayos sublevado , deve- e ainda
ajuntar o nome de Antonio Esr.obal' que 3uccedeu aRo
driguez Cota. E cobar, accusado de demenc.ia, foi subs
titllido por um de cu irmos; e e ta imputao, quer
seja verdadeira ou fal 'a, foi sanccionada pelo ,rice-rei do
Fer, que lhe deu um succes'or. Podel'-se-hia dizer com
(1) Come;ldo em 1688, o edificio ficou acabado em 23 de
Junho de llJ9t.-O receio de dar a este trabalho desenvolvimentos
improprias de lima llisloria Gerul me obriga a pa sal' para
lima tabel1a "Spl:: ial os nomes de tod, s Oti gov roadore do
Paraguay com a data de quando t o m ~ r a o posse. Esta li la
vem no m da primeira pocha, inlilulada Dominao Hespallltola.
'lO DOMINAO HESPANHOLA.
\'erdade que as desordens que periodicamente agitavo a
turbulenta provincia no se calmavo seno para tomar
novas foras, e outra. vez fazer expIo o. Cau"as diversa
alimenta,'o continuamente este fOco de incendio. Encra-
'vada em mn deserto, mui distante da Ellropa, sem COffi-
municae ou com o poder real residente em Madrid, ou
com o vicerei do Per, que era o seu repre entante, li
provincia ficava sem defeza contra a arbitrariedades e
actos tyrannicos de seus chefes. O povo, aborrecido j
da lentido incrivel ~ uma administrao mal organi-
sada e entregue a agentes que se pl'eoccupavo meno' do
deveres inilerentes ao eus cargos do que do cuidado de
augmentar as ua fortunas, o povo, irritado de tanto soITrel'
e obrigado a se fazer justia a si proprio, havi.a achado um
pretexto, e talvez uma justificao, para as sua' revoltas
na carta regia a signada em Valladolid por Carlos V, que
parecia ter delegado a sua prerogati\'a real ao povo, con-
ferindo-lhe o direito de eleger cm certo casos um novu
chefe. Por esta porta aberta pelo soberano se introdu-
ziro outro abusos; e a insllbordinao acabou por pas ar
dos soldados ao general, do povo quelle que recebra ii
misso de governal-o.
A Gregorio Bazan de Pedraza, sob cuja admlstrau
foro fundadas as dua cidades de Guaranapital1 e de
Curuguati (1714), de tinadas a impedir a" incmses devas-
tadof'as do l\famelllco, e que faJleceu em 1'11'7, succedeu
Diego de los Reyes Balmaceda, alcaide provincial de A -
swnpo. Este no recebeu directamente a illvestidw'a do
autoridade suprema; alcanou-a a dinl1en'o contante do
titular, que temia no poder com um peso que o e tado
critico do paiz llie afigurava como superior ua" fora'.
O alcaide, feito governador, teve naturalmente por ini-
migo os eus antigo collegas, invejo os de sua repentino
ele ao. Pz-se frente dos descontentes Jo de Ahalo"
homem astucioso, fecundo em recursos e intrigas. Re-
ceiando a na opposlo, e de ejoso de o attrailir a si,
DOIlUNAO HESPANBOLA. '11
Reye lhe olIereceu o posto de tenente do rei (1), recen-
temente creadn por um decreto de 15 de Maro de 1716:
pile o recusou.
Uma sanguinolenta expedio dirigida contra os Paya-
guas pelo governador em pe oa foi denunciada Audiencia
de Charca como tendo dado lugar a uma carnilicina inutil
de Jndios, na qual no se havia ddinguido o innOIl1mtes
dos culpados. A suprema magi tratura, importunada pela
vivacidade da quei.......as da Municipalidade, quiz verificar
'e ero exactas, e confiou a in truco da causa aos cui-
dados de um magi Lrado e colhido em eu seio. Jos de
Autequera Enriquez y Castro, natural de Lima, cavaUeiro
da ordem de Alcantara e protector geral do lndio, foi
incumbido d'e ta mis o delicada, que levantou na pro-
vincia amai horrivel desordem.
E' innegavel que o juiz informante (pesqui idol) a paixes
viva e ardentes, e a uma ambio dE'smarcada unia qua-
lidade brilhantes, uma alta intelligencia e conhecimentos
va tos. Chegou ao Paraguay trazendo um decreto (aulo)
do vice-rei, que lhe conferia o governo da provncia no
ca o da culpabilidade de Reye. Seria preci o, como muito
bem cliz o deo FW1es, um procligio de impa.rcialidade
para que triumphasse a causa do governador entregue a
mos inleres adas na ua perda.
Oproceg o, como facil era adivinhar, no e perdflu E'm
e subterfugios. Declarado culpado e immediala-
mente preso, Reyes Balmaceda conseguio escapar e no pde
levado perante a Audiencia de Charcas por aquelle que,
depois de ser seu juiz, se declarra seu successor em pre-
sena da municipalidade, qual fez leitura do officio que
lhe conferia o pleno poder desde 24 de Abril de 1721 pela
previdencia excessiva e demasiado confiada do vice-rei.
E te ultimo, por informao do tribunal inlere sado por
e pirito de corporac.o em sustentar at o fim um de seu
(1) Omcial encarregado podere- politico e militilr na au-
sencia do governador.
'72
membros, havia confirmado a nomp.ao de lltequera y
Castro ao cargo que acabava de cOllfiscar; mas pouco depois,
melhor informado, havia por um novo acto de slla omni-
potencia administrativa (I) reintegl'ado no governo da )lrO-
vincia a Heyes B'tlmaceda, refugiado em Buenos Ayrcs, o
qU'al d:t ua plrte fez log slbed ra d'esla ordem a muni-
cipalidade de ssnmpo, c se pz immcdiatamente em
marcha para novamente tonul' as redea elo poder. Depois
de se ter fl3ito rcconher.er c 01:> govermdJr em Cand !Iria,
a mais importante das mi ses do Paran, adiantrm-se at
a viUa de Tobaty, di tante \ iute leguas ela capibl do
Paraguay.
Anleqllel'a, sustentaelo peh Munir.ip'tlidade e pelos prin-
cip'tes habitantes da cidade, que !le tinha ligado sua causa,
indllzioos a a p r ~ . eul:lr Alulienr,la uma memoria HIl1 que
se e1:lgiava a sua condurb. cOln os term os m:l.i pJll1pOSOS
(2), e a qu.em facilmente per uaclio que o decreto em que
Reyes 13almar.eda apoiava as ua pl'etllnes era fingido.
Alltequera enviou ao eu encontro d us oflir.iaes com ordem
de prendeI-o; e em seguida, l'eeciand que seu compl'tidor
voltasse frente de um exerr.ito de Indios recruhdos nas
Mi SI1S. ava:1ou em pes oa al o rio Tebiquary com mil
soldados escolhidos, para eb ervar os cu movimentos.
Na volta d'esta expedio morreu de repente .Joo de Abalos,
um dos principae fautores de sua de o'den , elas qlJaes
Antequera encheu a medida, mandando preJl(Ier. no centro
me 'mo da cidade de Corrieutes, fra das raias do seu
governo, a Reyes, seu rival, a quem o direito das gentes
assegurava um asylo inviolavel.
Entretanto o vice-rei, j canado do IIbtcrfugios empre-
gados com o lim de illudlr as suas ordeu p lo c!lpirito
(1) 3 de Maro de 1723.
(2) Carla salis(actoria de la fiudod de la Asuncion, ell res
puesta a otra cal'umniosa qlle el01Jispo e Btletl1Js-A!lres cs.;rilJi
a (avor de D. Diego de los lIeye.s; aiio 1713. l'ia f"leceion de Maleol
Muritlo: Miscelanea historica, l. V, p. ~ O O \BibJ. da AUldcmill
da Hblol'ia cm Madrid).
.
.
DOMINAO lIESPANHOLA.
fecundo do rebelde que tinha certeza de ser apoiado pela
Andiencia de Charcas, resolveu fazer re ppitar a SUl auto-
j desde longo tempo po LPrgada. D'u I) commando
da provincia a Ballhazar Garcia Ros, tenenle d) rei em
Bueno, -Ayres (I), e e te ullimo e. creven de Corrientes a
Antequera e MUllicipl1idade, parti ipando-Ihe o I)bjecto
da ua mi o, e pouco depoi eUe adifllltou- e at o p'lSSO de
Tebiqu:lry. Ahi eUe teve de pal'al' como RI' es llalmaceda
por no ter foras sufficientes para arrostar as orden e
ameaas d Alltequcra sempre su lenlado peh\ doci! muni-
r,iJ)alidade de Assumpo: obrigado a retr ceder, t rnou
a Bueno -Ayres.
Teve de novo de partil' logo depoi . Ovier-rei, por um
ameio de 11 de Janeiro de l'i2.5, transmillira novas e ener-
inslruces ao governador d'esta cidade. D. iUauricio de
Zavab, que na impossibilidade de e ausentar da sede do
seu governo em razo das hostilidades dos Portuguezes con-
tra a praa nascente de 1\lonterido (2) confiou a
d'ellas a Garcia Ros. Havio begado ant s d'elle ao Pa-
raguay ordens, em virtude das quae elle rncolJlrou nas
margen do Tebiquary 2,000 Judias das com os
quaes atrave sou livremente e lI' rio. Acholl do outro lado
a Ramon de Los LJanas, um dos offi 'iaes mais fieis e
dedicado de Antequera, que com 200 Hespanhes obser-
vava o movimentos do seu pequeno exercito.
Emquanto estes dons adversarios permanecilio em pre-
sena um d.\ outro, eis o que '1' pa ava em As umpo.
A r 'lae que sempre xi tiro entre o ex-governa-
dor Reye e os Jesuitas, e a circum t:lllcia de que o seu
5nccessor Garcia Ros vinha tomar posse de seu cargo
frente de um exerc.ito recrutado enb'e oslndio Guaranis,
permitti\O aos delraclores da Companhia de Jesus r.onftr-
(1) 7 e 8 de Junho de 1124.
('}) Erigida em cidade por carta regia de 16 de Abril
de 1725
'14 DOMINAO HE PANHOr,A.
mar e fazer acreditar o lJoalo de que os Je uilas, autores
da guerra, projetavo devastar a provincia e apo sar- e
d'ella, aproveilando-se da desordens intestina. A Mu-
nicipalidade, cedendo s suggestes de Antequera, e fort
com o apoio do chefes mililare e do povo, inlimou ao
Jesuitas a ordem de se retirarem da cidade dentro do
curto prazo de tres horas. A e ta medida ajllntro outra
de uma extl'ema gravidade, dando a Antequera o com
mando da tropas e os poderes de capito-general ('1 de
Agosto ).
O governador rebelde sahio pois de A surnpo [). frenh'
de 3,000 homens e marchou ao enconlro de Gal'cia Ro ,
cujo exercito foi logo desbaratado, tanto por a tucias como
pela fora (25 de Ago lo). Todavia o vencedor no ou-
sou, apezar d'esta victoria, pr em ex.ecuo o projeclo
que se lhe attribuio de se apoderar das qualro mi ses
ribeirinha ~ o Paran; e rrceiando ao mesmo tempo uma
ublevao do Indios, entrou de ~ ' o 1 t a tl'iumphante na
ua capital.
EutTetanto chegavo ordens terminantes do Per ao go
vernador Zavab. O novo vice-rei D. Jos de Arrnendariz,
marquez de Castel-Fuerte, decidido a pr lermo anar-
chia que desde tanlos annos desolava a provincia, e dr
restabelecer com a tranqulllidade a autoridade do soberano,
lhe ordenava formalmente de e apodeI' r de Antequera
pondo em preo no caso de neces idade a ua ('.abea ,
de e-:lvial-o bem escoltado a Lima, de confiscar O" seu
bens e dar-lhe um successor. Uma ouh'a carta reeom-
mendava ao Provincial dos Jesultas qne fornecesse ao
governador de Buenos-Ayres a gente de que podesse ca-
recer par o desempenho d'esta misso. Zavala oeeu
p:lu-se sem detena nos preparativos da campanha. Fez
partir quatro navios de guerra e' seis pea' de artilberi&
com ordem cidade de Coneules de chamar s armas
200 homen . EUe em pessoa e pz cm marcha no prin-
('.ipiO de Dezembro de 1124 com 130 soldados e 25,"0-
:
DOMINAO ME PANBOLA. '15
luntarios. Em Sanla-F tTaVOU relaes com D. Martim
de Rarua; e apreciando as sua lhe offereceu
o governo do Paraguay.
A approximao d'eslas fora.s, a participao que
Zavala envira a As umpo da ordens peremplorias do
vice-rei, fizero abrir os olhos aos mai cego, e at
parliuarios mai dedicados e ardentes de Anlequera fal-
lavo em ubmis o. fi. Municipalidade escreveu a Zavala
protestando a fidelidade da cidade e da provincia ao rei,
e lhe supplicava que deixas e os eus soldados em Cor-
rientes e que se apresentas e em arma em uma cidade
prompta a reconhecer a ua autoridadf'. E tas di posie
pacificas no dei,'avo a Antequcra outro recurso seno
a fugida: e no dia 5 de 1\Iaro de 1'125 embarcou- e
om dou cl seu partidarios os mai compromettidos
Monteil me tre de campo e Joo de Mena alguazil-mr.
Zavala fez sua entrada em A sumpo 'em ob taculo algum
em 29 de Abril, e tomou logo em seguida todas as me-
dida adaptada a restallelecer a ordem e a tranquillidade
publica.
Entregou a aumini trao a D. Martim df\ Rarua, pr.
em liberdade o antigo governador Reyes, reintegrou em
seus empregos os funccionario. demi ttidos e abolio os
decretos de confi cao. Apenas po ta em exec.uo e
medida, Zavala regressou a Buenos-Ayre 110 decurso do
mesmo allllO 1'125. Quanto ao autor d'eslas longas l'
graves desorden , no tardou a expiar a sua crimino a
corrduda. Em Cordova, onde e refugira, Anlequera.
trahido p lo seu secretario Lopez Carvalho, privado. da
proteco da Audiencia de Charcas, foi pre o e remettido
para Lima. 'este inlerim o vice-rei recebeu da crte a
ordem de processaI-o: exprimia tambem o desejo que a
expiao e effeitua e no tI'leatra me mo de seu crimes.
A instruco da causa foi contiada a Mathias Angles,
juiz supremo da cidade de Cordova, que partio para o
Paraguay afim de de empenhar e ta cornmisso. Aps um
76 DOMINAO UE PANHOLA.
processo longo e minucioso e um juizo solemne, Antequera
e Joo de Mena, condemnado morte, foro execut<tdos
no meio de uma emoo genll, despertando n') povo
essa indulgt'ncia sympathica que elle nunca recu a aos
criminosos de E tado que cmprego sua raras qualidades
e immensos recursos e;-;-; satisfazer s:;a desmarcada am-
bio (l).
CAPITULO XI.
NOVAS TURBULEKClAS NO PARAGUAY.
ZAVALA PACIFICA A PROVINCIA: SUA MORTE.-CREAO DO
VICE-REINO DE nUENOS-AYRES.
(1726-17"16) .
Os fermentos de rliscol'dia no havio totalmente des-
apparecido da p:'ovincia com a administrao agitada de
Antequera, e a tranquillidade publica e restabelecia len-
tamente e a custe, porque aos eu parlidarios no faltavo
pretextos para manter a agitao nos e pirilos.
Vimos acima os Jesuitas faro expulsos do ParaguaYi
mas a Audiencia de. Cbarcas ordenou em breve o seu
restabe1eci:r.ento A noticia de uma lal med:da
citou uma viva opposiiLO da parte dos ofliciae da cidade
e dos memlJros da munieipalidade. Foi vir uma
ordem formal do "ice-rei para obrigar a pol-a em exe-
cuo ao governador Darua, que alJ 'rtamente o recusra.
(1) O P. BAUTIST,\ representa o vice-rei Armendal'lz como
bomem vingativo e sanguinario, e o acrusa de ter feito morrer
a ll'()s religiosos Franciscano e um pobre neg!o. victll"!1a de ua
dedirao para com um d'('stes reltglO os. vejo Serte de 10$
SC7iures Gubernadures de! Paragtlay, na Colecciun de dUNo
mm/us... publicada por Angelts, L. II.
nomNA.:\o HESPANHOLA. 77
"
.
Emfim, a 19 de Fevereiro de 1'72B, os discipulos de Ignacio
de Loyola foro com grande pompa reintegrados no seu
collegio e nos pri' ilegios que havio recf'bido do favor
real. O deo Funes, seu que sernj)re louva os
actos, n'este caso os censura, e com razo, de terem
voltado a ASSUOJp antes que estivessem calmad03 os
adias qne a sua conducta havia provocado contra elles.
Estes adias, como ver- e ba bre'Ce, no devio tardar
a fazer novo expio o.
Entretanto, a condlJcta vacilJante e ine olum do gover-
nador Blrua foi cnunciada ao vice-rei do Per, que
lhe substituio D. 19nacio Sarada, cujos servios elle havia
aprecindo em Czco. J:)e Santa-F, aonde eHe se dirigia
immedi':tlTlente, Soroeta deLl parte da sua nomeao
Municipalidade de A '_urnpo. A noticia dlt de
Barua fer. e tourar o nto publico que surda-
mente ere cia de de a queda de Antcquera. li no mez de
Dezembro de 17:30 o p VO Sll sublevou il voz de um novo
chefe por nom' MOlllpox. E' djfficil definir o caracter
d'este movimento revolucionario que alguns historiadores
considero como uma tent:1Liva (cf'rlamcnle bem informe
e vaga) de governo republicano; porque se os rebeldes
resistio ordf;'ns dos ag"nte darei, l'cconllecio com-
ludo elO tOdl a. sua plenitude o pod!'r sOllet'ano d'e le. Os
documentos offi,:iaes reprf;' ento esle moviment como di-
rigido pehs tropas "illda presidias a r,,1pilal da pro-
vinci't (1). Pde-so:! djzel' que n'c]]e havia uma mistura
confu:,a de poder absolllto e de tendeueias democratir,as,
de suhmisso cega e de desobeuieucia, n lI1cio da- qual
distingue-so slllenle Ulm sede ardente de empl'egos p'u-
lllicos e de honras 'Iue a eiosa mcll'opol no concedia
seno raras vezes e qU:lsi CO'1O peza.r aos lllhos do paiz.
A juntl pJZ SUl frcnte D. AI nzo R ye , amig in
(1) llelaco collcctiva do vicc-?'ci e da AucLiencia do Per de
30 de Outubro d) 1731 subrc lus alborotos OCCUI'-
ridus el Paraguau. Archivos das lndias.- Sevilha).
nOMINAO SE PAN90LA.
limo de Barua, que e tinha demittido de suas funces
no meio da anarchia e e havia retirado por prudencia
do negocios publicos; porm mais de mn testemunho o
representa como parte activa nas agitaes e turbulencias
das quaes elle esperava ser reintegrado no poder.
'este meio tempo, 50roeta, mal informado do estado
uas cousas e da disposio dos animos, marchava impru.
dentemente para a capital do eu govemo, na qual entrou
I'odeado de uma escolta numerosa de rebeldes, que, sob
o pretexto de lhe fazer as honra, liuho sahido ao eu
encontro (1'i31). Logo no dia eguinte ene reconheceu,
mas j tarde, o sen erro; no lhe con entiro que to-
masse as redeas do poder, e teve de deixar a provincia
rlepoi de pas ar por muitas humilhae'. Pelos con elho
de Jompox formou- e uma nova junta, que elegeu para
presidente o aI aide Ltz Barreiro, que no tardou a se.r
derribado por uma ublevao do povo por ler querido
fazer re pitar :1. autoridnde real j teve por successor a
Guaray.
No meio d'e ta confuso allarchica de todos os poderes,
os Jndios das Misse' Guarani ppgro em armas. Resol-
vidos a defender suas pessoa' e o bens da communidade
llontra os- de ignios dp inva o e partilha de que J desde
muito tempo o ameaavo, ieuuil'o e em n u m ~ r o de
~ , O O O nas margen do Tehiquary, e eu exercito e en-
grossava todos o dia. Esta reunio de foras inquietava
(JS rebelde, que reconhecendo n'esta sublevao a mo dos
Jesuilas, lhes alLribuiro a inteno de invadir a provin-
llia e de se vingar por meio das armas das a1frontas e
injuria que no se cauav.o de lhes fazer. A sua expul-
o foi novamente de iclida; e apezar das exhortaes e
censuras ecclesiastica do bispo Pals, 2,000 revollosos (GOm-
m/ooeros) a altro o con gio dos Jesuita , arrombro as
portas e expellil'o os mOI'adore : isto se passava no dia
19 de Fevereiro de 1732.
Entretanto a crte, informada d'e tas desordens, confiou
DOMINAlfO UE PANHOLA. 79
I) governo da provncia sUblevada a D. Marlim Agoslinho
tle Ruiloba, capito do porto de Callo; e da sua parte
l) ,'ice-rei do Per, que se ac.hava mais visinho do fco do
incendio, recomml ndava ao governador de Buenos-Ayres
Zavala e ao Provincial dos Jesultas a execuo prompta
e pontual das ordens recebidas de Hespanha.
Em 1733 Ruiloba, o novo governador, chegou aldeia
ele S. Ignacio, e logo depois appareceu nas margens do
l'io Tebicruary. Havia ordenado a todos o Inilios das Mis-
:es de pegar em armas, e em vl'lude dos temore in-
pirados por eslas medidas energicas, veio uma deputao
prestar-lhe a to de submi so em nome da Municipalidade
n da 'idade. A 21 de Julho do mesmo anno, e11e fez a sua
rntrada em Assumpo no meio das acc1aTJlaes do povo.
O deo Fanes (1) nccllsa Ruilo1.Ja de falt:l. de prudencia
n'esta occa io, por no ter sabido perdoar a falta do
passado para se assegurar o futuro. Censura-o de ter
entrado, por seus discursos iI'!' flectidos e por demisses
indiscretas, no caminho de uma l'eaeo que em breve foi
rebatida.
Elfecliva.rnente, passado POllCO tempo, a pala.vra Com-
III'wna, que 11e havia proscrito, resoou de novo e os de -
contentes, aproveitando-se da ausencia de alguns chefes mi-
litares, sahiro em multido da cidade, procurando suble-
var a gente do campo. O governador marchou contra elles
c o dous partidos se acharo em frente um do outro.
Ruiloba fez fogo sobre um dos chefes dos revoltosos cha-
mado Ramon Saavedra, e errou o tiro: foi ilnmediata-
mente del'l'ubado do cava110 e morto. Das duas partes houve
alguns morts (2), e a pequena tropa do governador se'
paz logo em fuga (15 de de Estes acon
tecimentos serviro de pretexto a outras_ desordens na ca-
pital. Saquero-se casas, succumbiro muitas victimas, e
(1) Obra citada, t. II, pago 323.
(2) Entre elIes figurava um oJIicial municipal ('lIeinticuMro)
de nome Joo Daez.
80
DomNAo HESPANIlOLA.
como sempre, mlis de uml plrticular acobertou-se
com o mauto. do intere e puulico.
TI pGis, pwa s d lr um sim lIlcro de autJrl.bde e cobrir
os seus exces o com apparenci'ls de legalidade, os re-
beldes decidiro eleger UIII governador, e a sua e c lha
calii sobre o bi po Arregui. Convm voltar ao passado
para dizer algum'lS p'thlTas ccrca d'este prelado.
D. Joo de Arregui, elClto de Buenos-Ayres,
havia pedido a D. Jo de Palas, bi po de Maurit:mia
in parliblls, mas que rccupan1. como coadjutor e na au
sencia do titular a s epi copal dr. As umpo, que o
vie se sagrar. Os revolLosos se oppozero pal'lida do
seu prelad , e AI'regui eoLc'1o re :Jlveu ir se sagrar no
Paragllay, Ma emqllanto um empmgava toda a sua in-
cm conciliar os animos e em reduzil-os sub-
mi;o, que o ontro, sem fazer causa cOlOlJlUm
com a revolh, havia. com muito ardor advogado a sua
causa perante o inf::-rtunado D. de Ruiloba, e -
oralld l-se p r obter conces oes que lhe parecero in
compa.til'eis com a autoridade e as prerogativas que rece
bra dl confiana geral. Entre as mos dos re-:oltosos,
e'Le prebdo, fraco, halIucinado, no foi seno Ulll in .
lrnmenb docil e snbmilso, encnrregad de snncci'Jow os
decret).; da junta e d'J sell pre;identp.. Tntentmse por
tanto o processo de Ruil ba imputando-se-Ihe crime- iml-
gill1rios; procedeu-se a novas de lituies; pllr 'eguir'l-se
os inimigos da l'evolu. O coadjutJl' Pa1>s, c'lolri tado
por l) tas dMOrdllTl , e temendo parecer com a ua pre-
sena que lhes dava um3. ao men'l t'tcita, re
correu ao unico meio qnc lhe re hva ue prote51ar c)nlra
elhs; fugia da pro,rinr.il (1). Da sua p3rle, o lli'Jl'l
Arregui no tardou a rel:onhecer qu:mto a sua p sifLO
(1) Em uma carla de 18 de Fcvereiro dc 1731 elle dirigio
ao I"<li, supplicava aceil"e ii dJmi:;sl) dJ cargo, e Ina
perm,lti"C retirar-,e para BJenos-Ayre, pam "h ilclb II' cm
plt o, seus dia;. Archivo elo, lndld.- ALbJ/"<J.o: <JL Rura
gllay.
DOlIlNAO HES1'A mOLA, 81
tinha de equivoco e a se arrep-enuer da condescendencia que
mo b'ra no exercicio do eu poder nominal. Teve a
tardia coragem de revogar os decreto arrancados sua
pu illanimidade, e tratou de depr o fardo demasiado
pesado que imprudentemente aceitra. Soube encobrir com
pretextos phu iveis a neces idade de sua volta a Buenos-
Ayres, e teve bastante habilidade para que a junta no
lhe pozes e o menor oh tacul0.
Enlretanto a noticin. dn. morte de Ruiloba, o conheci-
mento dos decretos revestidos da sanco do prelado-go-
vernador, que ordenavo a expul o dos Iis ionario do
Paraguay, os d>siguios altamente mn.nifestados de se apo-
derar dos et povos das l\Ii se do Paran, excitro
a indi<rnao do vice-rei, que, de acordo com a Audiencia
de Lima, tomou a' medida mais energicas para resla-
belecer a tranquillidade no Paraguay. Deu ordem de
capturar em Corrienles e em Santa-F as exportaes da
provincia; toda a communicao com eUa fOl inlerdita;
o lndio da Mi ses, chamados armas, a cercJ'o
de todos os lado ; e elle encarregou a D. Bruno de
Zabala, de de o mez de Abril de 1134, de tomar po e
do governo e de ir pessoalmente pela segunda vez re-
dUzi r os re1)eldes obediencia.
Em quanto fra de suas fronleira e execul<lvo pon-
lualmenle esla medidas repre Ivas, no interior conti-
nuava a reinar a mais completa anarchia. Tinha-se de
novo suscitado a discordin. entre os membJ'o que com-
punho a juntn. revolucionaria. Ao mesmo tempo que o
ciume, os adias particulares, o amOr do conunando, a
ede de homa e empregos publico , os armavo nn
CQnll'a OUlTOS, os Indios l\I'bayas assaltro a villa de
TolJaty . ,matl'o dez pe oas e se relirro carregados
ele despojos; e de seu lado os Portnguezes. inndindo
a provncia em differenles pontos, fazio numerosos pri-
sioneiros, que ero destinados s minas ou a serem ven-
didos como escravo nos mercados do Brasil.
6
2
DO:.1uVAO nE PANHOU.
No meio de uma tal coruu o, soube-se que o hi po
Arregui receMra ordem de comparecer em Lima para
justificar a ua imprudente conducta. Mas o prelado j
;wanado em annos, foi -ubLrahido pela morte s canse-
q u e n c i a ~ tl'esta citao.
Entretanto Zahala se preparava a executar as ordens
terminantes e rigorosas ({ue recebra. Deu conta ao rei
de suas disposies (1). E parlindo de nu nos-Ayres
frente de 4.0 soldados de infanleria e de 100 drages,
lomou o commando de um exercito de 6,000 Indios e
veio acamlJar a 4 legun do rio Tebiquary (25 de Janeil'lJ
de 173-). A. appl'oximao d'estas foras causou em As-
sumpo grand' comllloo: d cidi.fo defender- e. Imme-
diatamente os rebeldes (',orrem a arm.l, de pr go o
estandarte r'al e avano ar ulamcnte cum duas peas
de artilheria at Tohapy. Ap cSloro baldados para
que reconheces em a un. autoridaue e um appelio imltil
i!. conciliao, Zabala vio perfeilamente que era mister
recorrer n. meios mais energicos. Destacou 11m corpo de-
haixo do ommanclo de _'Iartim de Echmlrl'i contra os
reheldes, que ji!. se movio em retirada. Este omciaI
foi-lhes no encalo, tomou-Ibes a Landcil'a real e fez
numero consideravel de pri ioneiros. Cinco dos prmcipacs
"aheas da revolta, condemnados por um conselho de
guerra, foro pas a(los pelas armas. Em seguidn. Zahala
fez sun. entrada em A sumpo em principios de Junho.
Cassou provincia o pri' ilegio (fIle tinha, por uma carta
do imp rador Carlos V frequentemente cilada, de nomea.r
o seu govel'l1ador j restabeleceu os magistrados (rcgidorcs)
destitudos,. condemnou i!. morte os assassinos de Ruiloba,
e tomQu pela sC'gllllda vez todas as medidas ad quadas
para restabelecer a tranqlliUidade do paiz. Finalmente.
confiou a administra;10 da pro incia a Jos illartim
(1) Carta de 12 de Julho de 1734. -'Expediente sob/oe las
inquicllldes dcL Paragllay. Arrhivo ela' fndla5.
,
.
Dom:'<AO HE I'ANnOLA.
83
Echam-ri (1), que se moslrra cligno por sua conducta,
e regre"sou em 173- a Bueno -Ayres.
Julgamos ulil acre cenlar, ao concluir a narra.o d'e ta
poclJa lempe"luo a, que Zabala, reye tido j ueade algum
lempo do titulo de tenente-general, foi nomeado pela
r.rte, em recompen a de eu rele antes servi.os, i-
dente c capito-general do reino do Chile. Io havia
I:onsenlido 1:'111 se encarJ"egar egunda vez da penosa larefa
de apasignar a revolla seno pelas reiterada instancias
do vice-rei do Per. Vollava portanto a Buenos-Ayre
com a inleno de ir lomar po-se do eu no\'o cargo,
IInando, ao chegar a anta-F, foi acommettido de uma.
doena grave que o levou ao tumulo em pouco (lia (1'i33).
O' hi tOIjadores o unanimes em elogilll' no pacifi-
radar d Paraguay lLa ilrmcza exemphl de toda a eve-
ridade exce 'siva ou inutil, seu de interes,e e de _
das riquezas pouco habituaes nos altos funccionarios do
Novo-:;) [undo. Zabala cousen'ou o pJder desde 1117 at
1734. Poucos governadores gozro' por to longo e pao
de lempo da confiana do monarcba: bastaria e ta cir-
('um .tancia para fazer-lhe o
CAPITULO XlI.
DEsnE A MOUTE DE ZABALA AT A INDEPENDENClA. - EI\ECO
no \'ICE-REINADO DE DUENOS-AYRE
(1735-1811).
Outras provas ameaavo a provincia que a energia de
Zabala submeLlera ao dever, e aonde o bispo PaIos se
<\pre sou a Ir exercer novamente a funces de seu mi
(1) Ou Chauregui, segundo o P. Bautisla.
84 HE::>PANHOLA.
nisterio. Acorooados pela guerra civil, que havia tautos
annos assolava o paiz, os GuaycUl's, os l\lbocobis a
outras tribus do Chaco, o rio e leyro a de-
\'-slao at s portas da capital. Auxiliadas pelos Iudios
das Misses, as tropas regulares do governador EchaUl'ri
repelliro esta invaso.
D. Raphael de la Moueda, que lhe succcdeu em 1'740,
completou a obra da pacificao da pro iucia, estabele-
cendo postos fortificados ou presidias sobre as fronteiras,
e fundando na Cordilheira dos Altos (1) a villa da Em-
bnscada, que povoou de negros e mulatos, e que devia
cnntcr do lado do Norte os Indios l\I'hayas.
. Deve-se ainda energia e habilidade d'este governador
a submisso definitiva dos Payaguas, e sa uao indo-
mavel cUJo nome tem sido tantas vezes mencionado no
decurso d' esta historia (1'747).
Alguns rpezes antes de resignar o seu cargo nas mos
do coronel Marcos de Lafl"azabal (1747), O. Raphael de
la Moneda, que tornra cego de uma expedio empre-
hendida na fora do estio, havia escapado a uma con-
jurao tramada contra seus dias. Quatro dos conjurados
foro presos e condemnados morte; os outros esca-
pro fugindo da pena devida ao seu crime. Mas se
verdade que elIe deixava a provincia por um momento
pacificada, nem por isso a deixava mais rica. Pelo con-
trario, os mesmos meios de defeza que elle havia ima-
ginado e posto em pratica uma causa nova e activa
de miseri"a e de decadellcia. Obrigados a um servio mi-
litar continuado, no recebendo nem soldo, nem armas,
nem munies. no tendo o e timulo das c01l1mendas
que havia to poderosamente arrimado os seus antepas-
sados em suas emprezas audaciosas, os Paraguayos no
podio consagrar as h'abalhos da agricultura, seu unico
(1) Tome dado a uma parte da serra que se prolonga do rio
Paraguay Villa-Rica, ao N. do lago Ipacarahy.
DOMINAO JiE PANHOLA. 85
rec.ur O eno O momentos que lhe deixava livres a
imperia a necessidade da defeza commum. Ora, ua co-
lheitas muita vezes io ufficiente , supportavo o duro onus
da dizima, dos impo tos, dos direitos exorbitantes a que
e tavo ujeitos os arbgos de exportao (1). Tamhem a
Municipalidade no ces ava de levantar a voz, reclamando
do vIce-rei ub'idio, e, 'oltando queLxa (fue no achavt>
ecbo. Pai ao olhos da alta admini trao americana,
como aos da crte de Madnd, o Paraguay linha o irre-
paravel llefeito de no er um paiz de minas. A exi-
tencia dos metae preciosos s podia attrahir obre eUe
o olhare campa ivos e as liberalidade de um governo
cujo' mini tro e lavo bem longe de a agri-
cullul'a como a primeira e a mais nobre das industrias,
como a unica capaz de dar riqueza c estabilidade aos
E tados.
Dehaixo da longa admini lrao do coronel D. Jayme
anjust, que tomou posse do governo em 1749, ta si-
tuao prccaria e la limosa se aggravou. Novos embaraos
viero difficulLar a relaes commerciaes da provincia, e
o direito d alfandega foro augmeutados afim de fazer
face de pezas que reclamavo as forlifir.aes da cidade
na cente de lIfonlevido e a defeza de aula.-F, conti-
nuamente illve tidas pela b'ibu do Chaco. N'e te nterim,
um desasb'e'm prer.edente feria a alda remota de Curu-
guaty, alacaqa de improviso pelos Iudios ill'bayas que
matro 10'1 de sees habitantes. O selvagens foro re-
t:haados por um punbado de oldado que tomro uma
estrondosa vingana d'e ta inva o.
Por um momento julgou- e a cultura de uma planta
destinada a occupar o primeiro lugar na produco agri-
cola do paiz, ia melborar a sua po io qua i de esperada'
O gabinete de lIfachid, no eu de ejo de .fazer concur-
rencia ao tabac.o do Bra iI, que alimentava. exclu ivameote
(1) F NES, obra citada, t, II, pago 90, na nota.
86 DOMINAO IlESPANHOLA.
fabricas de Ue panha e em particular a de
onIenou em l'r1 ao governador L que emprchlm-
des e a cultura d'esta pt'PCiosa planln. Os ensaio., con-
fiados a colonos portugueze ade lrados em lal
c1ero opt.imos resultados, que exr.edro Lodas a espe-
rana ; e elll 1'153, Sanjust fez nma primeira remessa dp
H53 arroba de labaco qu.e foi julgado de qualidade to
hoa como o do Brasil. Uma ordem d rri mandou logo
em seguida dar loda a rxlrn o po 'si, el a uma cultura
que promettia lo magnillcos re ultados, m:l cuja dcca-
dencia fI i t:io rapida, quanlo ha, io sido brilhantes o.
seus principios.
No meio da preoccnpae, dos incommodos e sobre-
. alio qne cansava ao hahitanle a nece idnde de se de-
fpnder dos ataques do Indio., os Pcrtugueze- io Sl'
dn. fronteiras. O tralado de 13 de Janeu(,
de 1750. cuja nolicia ba, ia provocado o leynntamento dos
Guaranis contra a fora combinad s da dua polencia,
fra allnuUado pela conveno de 1761. O Porlllgnezes
lev3nlro cm 17G7 o forle de Jga.timy nas margens do
Paranil. Informado d'esla non usurpao de t 1'J'itorio peh
l
governador :\Iorph', o vice-rei lhe deu ordem l' tomaI'
o forte o que foi executado em 1717 por Ago tinho dI'
Pinedo, sell UCCPS 01'.
D. Carlos JVIorphy havia succedido em ",9 ele Selembro
de 11j66 a Fulgencio Tegros, natural elo Paraguay, IDcial
distincl.) por seu valor c us conlllJcimenlos militare.
uns cuja curta nelmini LJ'ar, excilou amal'gas I'ilcas e
quei'(as l'nergic:u; por causn do exce comn'll'ltielos pelo
tenenle da cielade de CUl'ugualy, TI. rlholome Lario'
Gall' , que eH nomeara lla.m e le emprego. Soh o go-
verno dp lJ. Carlos i\lorph deu- c exccuoo fl celebrr
cal'la rgia de 21 de i\I<:I'Oo do 1761, que olc1.enava :1
e. pul o dos Jesulas ele todos os dominios da cora dI'
TIe panha. O goveraador de Buenos-AYl'es, D. Francisco
Bucareli, incumbido de a executar no encontrou nenhum
nOMINAO fiE l'ANBOLA. 8'7
no: ob lacnlos qne a re istencia do Mi ional'io . o ti-
pulaes do lI'alado de 1'150 parecia presagiar. Bastro
apena' alguns mezes para ii autoridades tomarem pos P
do cus estabelecimentos; ma a ua. runa e tava con-
ummada .
.omludo, a mitigao dos rigore do regim) colonial,
o augmento cada dia maior do commer io, a difi'uso dr
noes mai acerca das prodigio a riquezas na
t.w-aes da regie do Rio da Prata, lunio estalJelecido
luna corrente conslante de immigrao, t'ldas e tas
causas de pro peridade lb'.! h:l.Yio dado maior impor-
tancia aos olho do Conselho da rndia _ O inconve-
niente que torn[lro nores aria cm ouh-a poca a. diYi o
rla irmuen,a provincia do ParalTuay em dou governos
distiocto e independente (1620), reapparccio ento maio
_eosl"ei. .\1 ii le.guas epara lio Bueno -AJTe" da cidad
ne Lima do \ice-rei, de quem Burno -Ayres
recebia as onlrns a ru'l d demoras que sobremaneira
r lon'avo o andamento do negor.ios. A diillruldadc d'estas
communicaOes tmzia Ollh-as con equencia. muit.o mais
grav('s, quando .e lmlava d lomar medida }Jara deter
a marcha progres iva dos Portugnezes do Brasil, que.
ora fi claras, ora furtivamenle e por obliquo,
se approximavo ada vez mais do Rio ela Prata com o
duplo fim de ahi crear um fco de contrabando e de
fazer d'elle a fronteira meridional da sua colonia ame-
ricana. e a to(lo e te motivos s accre cenlar que a
cidade de Bueno -Ayre, por sua po io ex t>pcioual,
privilegiac1:l (pois era o urtico porl aberto ao comnwrcio
das proYincias Argentina. com a. havia ndqai-
rido SUlUlna imporlanrja,' comprehender-se-ha facilmentp
a opporlunielade ela creao de um icereinado no Rio
da Praia. Um decreto dI' 8 ele Agosto de l'ii6 ordenou
a fW1(lao (l'este grande governo que almmgia o territorio
da Audil'neia de Charca, o Tueuman, a proyincia do
Alto-Per, e a de Cuyo, separada do Chile. U'c ta. frma
DOIDNAO HE PANIlOLA.
o Paraguay torn:wa-se dependente de uma colonia sahida
de seu seio, e que tomou obre a' demais provncia,
collocada dl?sde ento debaixo de sua juri dico, urna
que ella com o maior nffinco procurou con-
servar depois do rompimento dos vinculo que as unio
metropole. Ora, n'esta preponclerancia acha- e a expU-
ca\io e qua i direi a justificao do antagonismo e I'lva-
lidades que tank'ls yez s tm en anguentaeIo (nas regie
dignas de nwlhor sort', armando os filhos emancipado
da Ee. panha uns contra outros em guerras civis, que,
depoi de decorrido j meio secolo, no parecem t l' ainda
chegado ao seu termo.
A 13 de Novembl'o de l'no, D. PeeIr Zehallo., no-
meado pl"meiro vicc-rei do Rio dit Prata, padio de
Cadiz com uma frol:.'l composta de 11'1 navio tellLl) a
bordo 10,000 homen de tropas d desemba-rqu '. Nunca
expedio to considerave] tinha. ahido dos porto de
Hespanha. ,para o -ovo-i\llIndo. E. tas foras imponente-
se apoderro da ilha do Santa-Catharina (20 LIe Fe ereiro
de l'i'7'7) e pouco d pois da colonia. <lo acramento. Inti-
midada pOl' este actos de vigor, a crte de Lisboa. IJI'O-
CUl'OU quanto antes concluir o tratado preliminar de limite'
de 11 de Outubro de 1'i'1'1, cuja execuo foi conh'ariada
por oh laculos in uperaveis.
Apena inve tido das aHa prerogativas que n.o d via
conservar por muito tempo, D. Pedro Zeballo', esten-
dtmdo ua vista vigilante ohre todos o pontos do vasto
lenitorio ubmettido ua autoridad , ordeuou a D. Pedro
.\Iclo de Porluaal, que admnti trava a provincia do Pa-
l'aguay de de 1'1'18, de fundar em Remolinos uma eolollia
povoada de Ind10s Mbocobis, e os pl'esidios de Hurnait
e de ClU'upayti, afim de reprimir a inem es das tribus
tIo Grande-Chaeo.
Mas a creao do viee-reinado do Prata devia produzir
novas modificaes na legislao cconomica de 'uas pro-
vncias, e o Paraguay experimentou logo a repercusso
DOlllNAO UE l'ANHOLA. 89
da politica mai liberal de D. Jo de Gal,ez, marquez
de la onora. O embarao tlio prl'judiciaes ao de en-
volvimento do comm reio de apparecio pouco a pouco.
O direito ero ou diminuido' 011 abolidos; e a cidade
de anla-F plmlia o rendoso privilegio de servil' de em-
poria forado a todas as m 'rcaclorias 'xpmtadas ou rece-
bida p ,lo Paraguay. Por e t, me mo tempo, institu.io-se
uma aclmini3trao e pecial paTa o tabaco, cuja cultUl'a
recebeu um "Tande impu] o; e apezar do preo fLxado
pelo agente do fi co a esle novo produclo, a riqueza
pulJlica lomou um notavel de em olvimento. Cuidou- e
lambem da moralidade do l1abitanl', p la fundao de
um coUegio d educao (1'i8a), ao qual o governador
Lazaro de nibera, que succ deu em 1"796 a D. Joaquim
J., Alos ajuutou alguma e chola .
El1lTetanto o rumor dos aconlecimentos memoraveis que
agitro a Europa no fLm do ec:ulo XVlll no chegava
seno bem enfTaque ido ii margeu do nio da Prata, e
no encontrava cho na provin ia remota de que no
occupatilo .
Pouco lhe impOltava que a Hespanha, a.o principio
colgac1a com a Inglalerra contra a republica franceza
em virlude do tratado de 1"793, fiz!' se a paz com e ta
ultima para declarar a guerra em ]796 ua a]]jada da
vespera, da qual havia recehido erueis affrontas, que io
ser vingadas pelo heroi mo dos narurae Arg 'ntinos ;
assim nada mais teremos qlle assigualar na hi toria do
paiz at a pocha da sua emanciparo, depoi' de haver
regi b'ado a carla rgia de 1"7 de laio de 1803, que
modificava novamente a sua circum cripo territorial,
crcando uma provncia hamada da JlIi se., compo la
do 30 povos ou a i d ~ a s da Mi. e do Je uila do
Uruguay e do Paran, e independente da de Buenos-
Ayres e do Paraguay. O tenente coronel Bernardo de
Vel asc.o, nomerrdo governador d'e ta nova. provncia., a
accumulou, pa ados alguns rrnDOS (180fl), com a admi-
II ""
!,lO DOMINAO lIESPANHOLA.
ui u'ao do Paraguay. A coucnnb'ao na mesmas mos
d'cste duplicado governo at a revoluo no deve passar
Liesapef(;(>bida. porquanto veremos mai tarde o pre iuente
da repu11ica do Paraguay pre\ aleccr-se el' PIla como ele
um argumento irl'cfragavel na reivindica.o elos seus direitos
dll'sobcrania sobrc o lcrritorio elas antigas Misses siluadas
entre o !'amu e o Uruguay.
Com Vela. L:O finaliza portanto a erie d. governadorE's
da pocba culonial, qUl1 cl sele D. Pedro ele J\]eneloza
comprehende 63 nomes dispostos na orelem seguinte:
Pedro de i1l'endoza . ]535-1537
Domingos j\larli nez de hala. 1538-1541
Alvaro Nuiies Cabeza de Vaca. 154.1-154",
Domingos A1artil '!Z de Irala. 1542-1557
Joo Ortiz d Vergara. 1558-1564
Joo Orliz ele Zarate. 1564-1581
Joo de 1'OlTl'8 Vera y Al agon . 15 1-1586
AI,)J1S0 de Vera Aragon. ]580-1592
Joo Cilballel'o Bazan . 1592-155
Hel'Oand rias ele Saaveclra 1;)96-159'1
Joo Ramires de Velasco. 1591
Bernando Arias aI) Saavedra 1598-1509
Diego Rodl'iglLCz V:l!de7. de la Banda. 159U-1602
Garcia de lIIendoza. 1602-1605
IIernando Arias de Saavedra 1605-1611
Diego Martinez Negl'on. 1611-1619
Manuel do Fria 1619-162.5
Pedro ele Lugo y Navarra 1625
Luiz ele Cespeelcs Xaria 163]
l\.Iartim ele L desma. 1636
GrE'gol'io InostI'O a . 1641
Diego ele Enobre Osorio .1644
Frei 13crnarc1ino de Carclenas. 1645
Sebastio de Leon . 1645
AntonIO de Leoa Garavito 1650
Christovo c1 Garay . 1653
DOMINAO HESPANHOl,A. 91
Joo Blasquez de Vaiverde . 1656
,\lonso Sarmiento de Figueroa. 1659
Joo Diaz de ,\ndino. 1663
Philippe Reje Corvalan 1m1
Diego Thanez de Faria. 1676
Jo Dtaz de Andino. 1681
Antonio de Vera ]\fugica. 1684
Alon o Fernandez )Jarcial 1684
I."ranci co lonfort . 1685
Sebastio Ji'plix de lencliola 1692
Joo Rodrjguez CoLa. . 1696
Antonio de E cobar y Gutierrez. 1'102
ebasLio Felix de Mendiola. 1'105
Ba1thazar Garcia Ros . 1706
'Manuel de RoLles . 1707
Joo Gregol'io Bazan de Pedraza 1'113
Andrs Ortiz de Ocampo. 1'716
Diego de los Reyes Balmaceda. 1'717
Jos de AnLecIUera Enriquez y Caslro. 1'721
Bruno do Z a v a l ~ . 1'725
Martim de Dama . 1'125
Ruiloba. 1'733
Frei Joo de Arregui. ] "133
Christovo Dominguez. 1'734
Brlillo de Zavilla. 1'135
iarLim Jos de Chauregui 1'135
RaphaeJ de la Moneda. 1'741
Marcos de La1'l'azabal. 1'14'7
Jaime Saoju t. 1'150
Jos 1IfarLioez Fonte 1'761 .
(i'ulgencio Yedro 1764
Cados 1\forphi. 1'166 (1)
(1) Serie dc los Sef<Dl'cs Gobcl'1ladol'es dcl. Paraguay.... scgun
consta de los libros capitttlal'cs que se consel'van en el archivo
de la Ammpcion, na eoUeco de Angelis, t. ~ . Este c a ~
lOgo no comprehende lodos os go ernadores provlsorlO ou ID-
[erinos, nem aquelles que no tomaro posse de seu cargo.
92 HESPANHOLA.
A estes nomes deve-se ainda. acrescentar os seguintes:
Agostinho Fernndo de Pinedo. 1'172
Pedro Helo de Portugal. 1'i"18
Joaquim AIos. 1'18'1
Lazaro de Ribera . 1796
Bernardo de VeJasco. 1806
Sob o governo d'este ultimo teve fim a. dominao he -
panhola que havia durado trei seculos: vamos portanto
expr em poucas palavras a circumstancias que presi-
diro realizao d'este facto memora e1.
Revoluo e Dictadura.
CAPITULO XIII.
PROCLAUAO DA lNllEPENDENCIA EU BUENO -AYRE
EXPEDIO DE BELGRANO AO I'ARAGUAY: CON EQUENCIAS DA SU
DERI\OTA.- PRINClPlOS DO DOUTOR FRANCIA.
(1810-1 n.)
E' bem onhecida a hisloria da emancipao das c -
lonias hespano-americanas, e todas as phases da long:l
luta que lhes foi preciso sustentar para conquistar uma
independencia a que no parecio preparadas, e que pro-
lamro antes por in tinclo do que por reflexo. To-
mando inspiraes da legi lao franceza e da do Estados-
Unidos, o seus chefes esquecro que mais facil copiar
o texto d ~ uma lei do que inculcar a um povo o espirito
sem o qual eTIa. fica no estado de lettra morta. As cousas
porm no se passro do me 010 modo em todos o
pontos; e o Paraguay, ao passo que sacudia o jugo da
metropole, separou-se logo no principio das provincias do
vice-reino do Prata, que devio mais 1<1rde se reunir
ps as mais dolorosa provas, sob o titulo de Gon{e-
f.ederao A7ge7hlina. Uma vez rolos o vinculo que o
unio mi patria, o Praguay tinha o direito incon-
testavel de se constituil' em Estado independente, de s('
94 REVOLU E mCTADUR A
isolar e de se governar sua vontade. Assim a historia,
imparcial, no dar importancia aos sophismas empre-
gados pelos governadores de Bllenos-Ayres para, negar-lhe
um direito imprescriptivel, esforando-se diversas vezes
por trazer este rieo paiz ao seio de sua Confederao
imaginaria.
No nos propomos escrever a historia das causas, quer
geraes, quer immediatas ou proximas, da inclependencia
das colonias hispano-americanas; s tencionamos dar uma
1'ela.."10 dos factos que precedero ou acompanhro es te
grande acto da emancipao politica nas regies do Rio
da Prata. Essas causas e esses factos so hoje bem no-
lorios (1). S d'elles apresentaremos um breve resumo,
necessario intelligencia uo qne se segue.
O leitor pde ver (no capilulo ]JreceLlellle) no meio de
que circumstancias crilicas se abria para 1t Hespanha o
secuIo XIX. Insensivel aos revezes e desastres que havia
soITrido na sua luta com a Inglalerra, essa fiel alLiada
da Frana, cedendo s suggestes de Napoleo. havia
outra vez declarado a guerra quella potencia em 14 de
Dezembro de 1804.
Os Inglezes, proc1ll'ando o seu lado vulneravel, lanro
os olhos sobre as regies que elies sempre havio ohi-
ado, e das quaes tinho Jeito o Jco de um contrabando
desenfreado. A 15 ele Junho de 1806 desemharcI'o em
numero de 1,200, sob o commando de lord BeresJord, na
praia de los a 4leguas d13 Buenos Ayres, de que
se assenhorero. Porm o sell triumpho foi de curta
durao. Atacados pelas milicias Argentinas, commandadas
1) TORRENTE; Historia de la 1'evoLuC'ion Hispanw-Ameri-
cana, L. I; L. DOMlNGUEZ, Historia Argentina. Buenos-Ayres,
1861; - FUNES, Bosqujo de nuestm Revolucion hasta la aber-
tura dei nacionaL, t. III do Ensa!Jo de la historia
civil deL Pwragul1iY, pags. /,85-53"2.; - MAGARINOS CERVANTES,
Estudios h'istoricos sobre el Rio de la Plata, Paris, 1854; -
.olNGELIS, Co1eccion de documentos, t. UI, Actos desde
cL '1 1lasta cl 25 de Mayo de 1810.
I\ErOLuo E DICTADURA.
95
pelo contra-almirante antiaao Liniers y 13remont. Francez
ao servio de Hcspanha, fllr for.ados ii capillar e a
evacuar a praa.
lI[as o orgulho britannico meditava desCorrar-se d'e, ta
derrota e pouco depois um ref ro de 12,000 homen'
permiltio aos Ingleze:; lomar MaldonadJ e lonleviueo, e
a.tacar cgunda vez Bueno -Ayre , mas em feliz resul-
lad . De novo Liniers, a quem us granel's ervio
havio grangeado o vice-reinad em lug<lr do m'lrqllez de
obrem ule, con'ervou Uespanlw. a rica c pilai ue sua'
po cssc' Os Ingleze faro clizimado na'
ruas ua hCl'oica. cidaue, c o genel'al \Tllelock, pal'it.
salvar a vida lIas eu' oldados que haYio e'capado a.
rodos o meio ue de trui uggerido pelo palri(Jli mo,
vio- e obrigado a con ntir na 1'e tilui da praas ue
'lue os se ha\io apoderado no Rio da Pl'ata,
Em!Juanto os nalurae3 da Ameri ,abandonado u
proprias f ras lulavo om seu' unicos reeur os e sua
'oragem, a metropole via- e a braos com a in\'aso e -
trangeira, e a familia real, clividida pelas mais lri te'
paixe do corao llOman , havia cabido em poder do
l'onqui tadol' que enlo impunha uas vontades Europa
'ubmi.a ou vencida. O j}I'oce so d E curial, as cena
e candal a da renunciao de Aranjuez, a abdicao
arrancada violenlamente a Fernando VU em 13a ona ,
emfim a entrada, das u'opas francezas na Penin uln, todo
'stes acontecimenlos repercutiro de um modo de agra-
daveL na Amcrica, provollando a ex])l so de sentimento
l:OmffiUn , e dero origem qua i immediat.amenle a aspi-
l'ae oppo tas.
e o desejo geral de repeUir a dominao de um prin-
cipe estrangeiro, impo to pela fora, no havia permit-
tido que se recebe se no dia 13 de Agosto de 1 09 o
enviado do novo rei Jos Bonaparte, o acordo e confor-
midade porm cessavo de ser unanimes logo que se tra_
lava de medidas ulteriores. Alguns espiritos leltrados,
J
96 REVOLUO li DlCTADUllA.
imbuidos nas ida do seculo XVIII que a revoluo
franceza acabava de proclamar como dogmas, e seduzidos
pelo exemplo dos Estados-Unidos, ambiciosos pela mr
parte, anclOSOS de participar dos empregos publicos e das
ho"nras, dos quae a politica colonial havia commettido a
injustia, a seus olho, de haveI-os semjlre
afastado, j meditavo c entrevio a independencia da
pau'ia, e a substituio do govel'llo republicano ao poder
absoluto do soberano: e te partido porm, que de,ia ser
abraado por todas as classe da sociedade e crescer de
dia em dia, mal coutava no principio uma imperceptivel
minoria, porque a massa da populao conservava o res-
peito o mais profundo pela pessoa do rei e a maior
submisso sua alol'idade.
Entretanto, a gloria e os servios eminentes de 1iniers
no podero absolvl-Q da sua origem ao OUJOS da junta
de Sevilha, que lhe deu por successor D. Balthazar H-
dalgo de Cisneros y 1atorre, enu'e cujas mos a domi-
nao hespanhola nas regies do Prata ia snccumbir.
Cisneros, espirito fraco e irresoluto, vendo-se a braos
com difficuldades inextricaveis, sem esperana alguma d(1
soccorro da parte de He panha, cujos recursos estavo
inteiramente empenhados na luta gigantesca conu'a oS'
exercitos francezes; atemorizado outrosim pejas
cada vez mais patentes dos seus administrados para as
idas de independl'mcia e liberdade, Cisneros convocou a
municipalidade e as pessoas mais gradas da cidade eni
assembla geral (eabildo abie'l'lo), Era o dia 22 de lIIaio ..
de 1810. Depois de muitos debates, negociae, delibe_
raes confusas e tumultuosas, formou-se uma junta,
cuja frente foi posto o vice-rei em qualidade de presidente
(24 de Maio). Mas no foco das revolues as imaginaes
se inflammo e os acontecimentos se precipito. 1ogo no
dia seguinte, 25 de Maio, Ci neros demttio-se do seu
ca1'go; uma nova junta compo ta de oito membros ficou
formada debaixo da presidencia de COl'llelio de aavedra,
I\EVOL O E DICTADURA. 97
que tomou o titulo de Presidente vocal y Comwndane
general de arma.
Buenos-Ayre, onde o systema centralisador da me-
tropole contava agente, defensores e partidarios zelosos,
acabava de COllrpti tal' em poucos dias a indepeI)dencia e
liberdade. E ta revoluo tillha-se eITeituado pacifLCamente
em e derramar uma s gota de sangue. E devemos
acre centar que contrariamente ao que ia se dar em OUITO
pontos d ovo-Mundo, a lIe panha de novo governada
por Fernando VlI jmai tentou reconqui tal' pela fora
a domina do paizc. do Rio da Prata. _
Apena in talIada, a junta provisional gubernaliva de
la capilal, que no d ia experimental' as provas por
que passro as do Mexico (9 de Agosto de 1808) e da
Paz (15 de Junho de 1809), trabalhou com JUaior aflinco
e acltvidado na emancipar,1io das outra pro incias, e
decidio enviar tropas incumbidas da dupla misso de depor
o I' presentantes do governo colonial e do fazer reco-
nhecer a sua autoridade, que etia pretendia de de ento
substituir da metlopole.
O Pal'aguay recel)cu com indiITerena. a noticia do-
factos que temos referido: 111e foro notificados official-
mente por um enviado paraguayo, muito impopular em
seu paiz. Collocado sob a Metia de uma autoridade pa-
ternal, alheio por sua i ~ o J a o , ua pobreza e pelo estado
de ignorancia dos eus habitautes s a pirae que diri-
gio e dominavo os Portenos (1), no entia a necessi-
dade de mudar de condio, lanando-se no caminho
sempre arriscado de uma revoluo. Vamos vr de que
manei.ra se elIeituou a quda da dominao hespanhofa
mn um paiz que em breve devia sentir d'elia vivas
saudades. .
Foi no mez de Outubro de 1810 que a junta de Buenos-
Ayres resolveu depr o governador da provncia que per
(1) Assim so appellidados os naluraes lle Buenoi-Ayres.
7
98 REVOLUO E DICTADURA.
manecia fiel causa da monarcla e submettl-r, "ua
autoridade. Para este fim elia pz em campo uns mil
oldados, que debaixo do commando de Manuel Belgrano
atravessrl) o Paran e avanaro at a villa de Para-
guary, distante lG leguas de A umpo. O general ar-
gentino encon!l'ou abi um exercito muito mais numero o
que o seu, pois contava mais de seis nl bomen , porm
quasi todos recruta, incli ciplinados e mal armados, no
tendo a oppr ii artilharia iJmiga seno laos e bola.
O eombate se travou no dia 19 de Janeiro de 1811 ;
logo no primeiro choque o governador, cedendo aos con-
. elhos perfidos do que o rodeaYo, fU<Jio para o mJnte,
e o seu exercito foi desbaratado. Belgrano apoderou- e
Llo collegio ue Paraguary, e no cuidu em perseguir o
fugitivos. E tes reunidos por seus officiaes e u tentado
pelas dua ala do exercito que havio ficado intacta,
voltro ao combate, fizm'o muitos prisioneiros e o obri-
gro a l'elrar<e com o 'restante das sua' tropa a Ta-
quary, sobre as margens do Paran, onde se conservou
Im'ante um mez espera dos reforos que havia pedido
a Buenos-Ayres,
E tes reforos no apparecro, Esl.reitamente cercado
em suas po ies, o general argenlno vio- e obrigado a
capitular e a evacuar a provincia (12 de Maro de 1812).
Mas esta expeclio, bem que maUograda, devia produzir
seus fructos, pa ados alguns mezes, Nas conferencias que
precedro e eguiro a capitulao, Belgrano e seU3 offi-
ciaes, ellthusiasmado pela causa que defendio, dotado
de uma grande facilidade de elocuo assaz commUill no
povos do Rio da Prata, procw'ro desafl'eioar os Para-
fluayo de um governo de que eUes facilmente demonstrro
a organisao defeituosa e os abusos bem reae ,
Cou cguiro plenamente seus intento . Na noite de l
para 15 de _Vaio, diversfl officiae e dirigiro ao quartel
proximo ao palacio do governador, fallro ao pouco
- ldados que ahi e a c h a v ~ o , depoi de tomada algumas
E DlCTADUlU. 99
precau. es para asscgw'ar o pro pero successo da empreza,
a sentro em formar uma jllnta. Foro eleitas tres pes-
soa. entre a quaes figurava o Dr. Francia, que, reti-
rado ha ia wn anno em ua casa de campo no arredores
da cidade, ahi vivi.a na mais completa ignorancia dos
ucr,essos que se preparavo. Junto ao governador Velasco
a opiuies ero cli corde ; mas nem um se ergueu
para defender uma autoridade que havia perclido todo o
prestigio depoi da balalha de I'araguary, e j no era
seno o insh'umento (locil da' vonlades da Municipali-
dade. Vela co comtudo no ofl'reu nenhum in ulto, e a
intercesso do bispo lhe obteve em lodas a
"'a:raulia para a sua pes oa Ja parle dos conjurado, que
consenti:ro em dar-lhe um lugar no triumvirato. O ter-
ceiro membro se chama a Joo Zevallos.
A hi toria do Paragnay, depois de sua I;ll11ancipao,
no eno a historia do estranho per onagem que teve
a arte de conservar por 30 annos o seu paiz debaL'{o do
jugo do mais capricboso despotismo. Convm pois faUar
da origem e do caracter do homem que por sua politica
goi.sta e eruel contado entre os ilagellos da huma-
nidade.
O Dr. D. Jos Ga par Rodnguez de Francia na ceu
em 1757. eu pai, natural do Bra il, eio ao Paragnay
como colono, chamado pelo governador Jaime anjust
quando a crte de Madrid quiz fazer concurrencia a Por-
rugal, introduzindo em sua colonia a fabricao do tabaco .
Garcia Rodriguez Frana, ante de aceitar o convite da
autoridades hespanbola, teria por ventu:ra. emigrado de
Fran<'l. para. Portugal, e d'ahi passado para as colon.ias
u-ansat1a.nticas da ua nova pau'ia? eu nome paree au-
torisar al certo ponto esta supposio, 01're a qual e
apoiava em duvida o clictador para affirmar que o sangue
que lhe corria na veias era angue francez. Mas nada
ju tifica. e ta preleno pueril, que parecem a(lmilti:r o
DI'. Rengger e Longchamp, historiadore' impa:rciae II'
100 /l.EVOLU.iO E DICTADUHA.
uma admiui h'ao de que foro nctima (1). eja COl1l0
fr, de tinado de de a inIancia ao estado eccle iastico ,
ou condemnado, para me de sua proprias ex-
presse , a estudar a tbeologia, unica carreml. !Tlle n'a-
queHe tempo promeltia aos naturae da America alguma
co.nsiderao, o jovem Jos Gaspar, depois de recelJer
uma nstl'Ueo muito elementar na e colas de As.umpo.
partio para Cordova afim de cur ar as aulas da ua ia-
mo a univer idade, que de de a expllls dos Je uitas eril
dirigida pelos Franciscano. Aps solidos e tudos no coI -
legio de i\lon errate, elle obteve o gro de doutor em
direito canonico; e renunciando tomar as orden para as
guae' no sentia forte vocao, regres ou a As umpo,
onde lhe dero uma cadeira de theologia. Pouco
a deixou para seguir a advocacia, pois que ento no
havia advogados propriamente dito no Paragl.lay, ondE'
todos os processos decidio- e por transaces, em raz
dos ob laculos quasi insuperaveis e das demoras e des-
pezas a que um e devia sujeitar para levar a cau a,
perante um tribunal superior. Versado no estudo da
juri prudencia, dotado do dom da palavra e de um desiu-
tere se ITue jmais desmentio em nenhuma poca de sua
longa carreira, Francia no tardou a adquirir grande 1'.-
putao em um paiz em que os homeu de salJer eru
raro) e a merecer a estima e affeio de seus coneidado .
(1) RENGGER E Essai histol'iqtw SUl' la ?'evoH,tion
du ]'amguay et le gouvernement diclatol'iaZ du doctem' F?'ancia,
iu 8', Paris, 1827, E te livro, escrito com muito melhodo e
clareza, foi o primeiro que patenteou os my terios do sombrio
governo do terrivel doutor, e pouco deixa a dizer ao eu'
biograpbo . No Paraguay mesmo temos mais de uma vez ou-
vido eloO'i31' a moderao de seus juizo e sua incontestavel
veracidaC1e. ma obra cujos elemento, por falta de documentos
officiaes, ero to difficeis de reunir, devia apezar do merito
dos autore conter alguma inexactid . E tas porm 6 verso
obre d talhe sem importancia e foro rectificadas pelo Dr, 0-
mellera, um do autore da Revoluo, na edio hespnhola
publicada em i\Iontevido na BibLiotheca do jornal eL Comercio
deZ Plata, 1846, l. III, p. 207-223.
REVOLUO E DlCTADUlIA. 101
Ue um natural ardente e apai.'Conado, embora vivesse no
retiro, fazia marcl1ar em primeira linha o trahalho do
gabinete, os negocios e os prazeres, pois amava o jogo
e a mulheres. De 1803 a 1808 elie foi eleito succes i-
vamente membro da. Municipalidade (Cabildo) , procura-
..dor syndico e primeil'o alcaide da cidade. A im, quando
algun almo depoi o grito de independencia. retumbou
at, na provncia remot;}, elo Paraguay, e foi chegado o
momento de constituir um governo depois da.
de Velasco, o lugaT do doutor Francia foi de antemo
designado em eus conselhos. Este lugar, elle no teve
o trabalilo de procmar, viero Ih'o offerecer (1).
Acabemos a narrao d'este acontecimentos. O ex-
governador Velasco no fez pl)r muito tempo parte elo
triumvirato a que o havio chamado por deferencia paTa
l:om a autoridade de que eUe foi o ultimo representaute.
Tinha apenas decorrido um mez, quando Francia e Ze-
vanos se desembamro de l1m coUega. a quem seus pre-
(jedentes devio impr em todas as cousas opinies intei-
ramente oppostas s d'elJes. Foi lanado em uma pri o,
onde acabou seus dias uepois de longos annos de capti-
veiro. Mais livre ento em seus actos, o Lriumvirato
que desde o principio, imitao do que e tinha pas-
ado no Rio da Prata, havia govern:ldo em nome de
Fernando VI[, tratou de quanto antes proclamar a nde-
pendenr,ia do Paragnay e de convocar um con"re. so (2).
(1) Foi o douLor Somellera (BibLioteca deL Comercio deL Plata,
Lo Ill, p. 214), as c '501' do governador da provincia e um do
principaes conjurado', qu lrouxe avanle o nome de Francia
na occasio da formao da primeira junta. E ta proposta foi
ao principio mal acolhida pelos oJIiciaes que lhe expl'obravo
de no ser favuravel revoluo. Mas a lia opposio cedeu
diante da interveno do padre Caballero, religioso muito res-
peitado da ordem de S. Franci eo, c tio de Franeia. Tomo
obre minha cabea, dis e eUe ao assessor, are pon abilidade
da opinies de meu sobrinho Gaspar. II
(2) Julgamos do no o de er mencionar todo e tes factos,
para mo tmr os erros commettidos por certos hi toriadores,
Depoi de contar que o dictador comeou por estudar a juri -
102
REVOLUO E DlCTADURA.
CAPITULO xrv.
DE UMA JUNTA. - NEGOClAE E QUE TE COM
BUENOS-AYRES. - NOMEAO DE DOU CON ULES, -
F.l\A.NCIA FEITO DlCTAD01t,
(1811-1820).
JO mez de Junho de 1811 , reunio-se o congresso, e
depois de dar sua assim como co tume em
todos os paizes e tempos, ao actos do triumviralo, de-
Cl'etou a formao de uma junta governativa compo ta d
cinco membros, debaixo da presidencia de D. Fulgencio
Yegros, commandante da milicia de Quiquio. ' noticia
do occorrido, este rico personagem tinha vindo. da Mis o
de Impua, onde estava em ob ervao com 200 homens,
depois da retirada das tropas argentina , para guardar li
passagem do rio. Francia naturalmente tomou parlp, n'esta
admini trao (1). I
prudencia na universidade de antiago, que eUe ahi tomou
seu gro de doutor e advogou perante a Audiencia do Chile,
os irmos Robertson (autores de Fl'amC'a's reign o{ terror, 1 vol.,
e de Letters on Paraguay 2 vol.), fazem d'elle um general
que depe o governador e expede um exercito contra B Igrano
sob o commando de seu parente Yegros, lo lro depois o
general al'gentino vencido por este chefe, que por generosi
dade lhe permitte que se retire para Buenos-Ayres, Mas
nunca Francia vio o cume do' Ande, e, como lemos dilo,
elJe se conservou inteiramente estranho aos acontecimentos
militares que as ignalro a inva o das lI'opas argeuLinas. Re-
tirado em ua casa de Ibiray, no sahio d'ella seno na manh
do dia 15 de Maio, por motivo de urna carta do doutor
SomeUera, depois daqueda do poder real, e para participar
dos eus despojos.
(1) Ei os membros de que e compunha a junla: Fulgen-
cio Yegro , presidente; Joo Pedro Caballero, Francia, e um
ia tico de nome Bogarin, con elheiro"; Fernando !\fora,
ecrelario com voz deliberaliva (vocaL secretario). Recolhemo
esles nome em um despacho a ignado pnr todos os mem-
bro da junla e dirigido ao administrador da li so fran-
ciscana. de Caazapa. E ta ordem, que traz a data de 2 de
Ago lo de 1811, trata 'de um carro qu e devia enviar para
transporlar de Assumpo a bagagem do cura (doclri'Tlero) da
Reduco de Nepomuceno.
REVOLUO E DlCTAnURA. 103
Por sua capacidade e seus vastos conhecimentos, o dou-
tor Francia no tardou a obter grande ascendente sobre
collegas ineptos, sem instmco, que no vio no poder.
seno um meio de satisfazer a sua vaidade, seus capri-
chos e suas paixes. OEn,saio hislorico de Rengger pin-
ta fielmente os travos d'este governo, ao qual Francia,
que era como a alma d'e1le, se esforava em vo por dar
uma melhor dire(:o. Por diversas vezes elle protestou
contra a 'desordem, retirando-se ao campo, donde os seu
collegas, que ~ n o podio passar sem seus conselhos para a
boa expedio 'dos negocios, por mais simples que elle:,
fossem, no tardavo a chama1-0 com concess()s e pro-
messas de reforma que promptamente ero olvidadas.
N'esta epocha de auarchia deu-se um caso tragico, em
que o doutor Fl'ancia, ' ou por humanidade, ou antes por
vistas politicas, representou um. papel que lhe valeu a
approva'o da;s pessoas de bem. A 29 de Setembro de
1811, pela manh, rebentou uma tentativa de contra-re
voluo, .fomentada, como tem-se visto mais de uma vez
pelo partido contrario. Soldados e algun pri ioneiros a
quem elles tinho dado liberdade, capitaneados por om
ciaes argentinos, se reuniro, leva.ndo algumas peas de
artilharia, na praa do paJacio aos gritos de: Viva el-rei!
Viva o nosso governado?'! jJf orrclo os traidores! Al-
guns curiosos acuwro ao n1voroto e foro pre os pelos
mesmos autore d'esta sanguinolenta comedia, que fuzil
lro dous immediatamente e fizero pa sa.r os outros por
debaixo do patbulo em que estavo pendurados os cor-
pos das ,suas victimas. O doutor' Frnnci.a, ao saber d'es-
ta execues, deixou seu retiro para impedir maior efIuso
de sangue. A seu pedido os prisioneiros foro encarcera
dos por tempo indeterminado, ms podro recobrar a
liberdade pagando sommas, avultadas ao Estado e s falU
lias dos principaes funccionarios. Os inimigos do futuro
dictador julgro ver n'esta mallograda tentativa uma tra-
mn urdida por elle com o fim de nbater o partido hes-
104 !\EVOLUO E JHCTADUlU.
panhol O sali fazer o seu gosto de supplicios. E' mister
porm concordar em que esta accu ao no se funda
sobre provas assaz positivas para que se deva acrescentar
este crime a tantos outros. Francia tinha aprendido a
conhecer, no meio dos succes os da Revoluo, a fra-
queza do realistas. e tinha a habilidade neces aria para
no manifestar antes de tempo disposies que o terio
para sempre impossibilitado de chegar ao poder que elle
ambicionava.
Ma a hora em que' elie ia se revelar e approximava.
Um governo de elementos to heterogeneo no podia
durar. A mesma Junta comprehemleu a necessidade ur-
gente de pr termo anarchia em que elIa se debatia:
decretou portanto a convocao de um sgundo congresso.
AAs embla a)Jrio suas sesses n. o1. o de OutulJro de 1813;
esses de horrircl confuso, porque o deputado em
numero de mil, recrutados entre a pessoas mais igno-
rante do paiz, ero incapazes de formaJ' por si mesmos
uma opinio sobre a naturoza e as prerogativas do go-
verno que elies estavo incumbidos de fundar. Doceis po-
rm aos conselhos dos chefes de eabala, decidiJ.'o o esta-
belecimento de uma republica, e junta substituiro dous
consules investidos da autoridade absoluta, com trata-
mento de exceIJoncia o holll'as de brigatleiro: ero no-
meados por um anno. De novo a escolha do cOllgresso
cahio sobre Fulgencio Yegros e Francia. Havio preparado
para. os novos magistrados duas cadeiJ.'as aurue pomposa..
mente denominada, uma cadeira de Cesar, e a outra
cadeira de Pompo. Ao tomar posse dos novo cargos,
Francia occupou a primeira cadeira, dei..-xando a "egunda para
eu collega, que d'ah pde colligir que sorte lhe estava
reservada. Debaixo de um tal regmen, que em um paiz
como o Paraguay podia pa SaJ' por regular, os negocios
publico seguil'o uma marcha lDaiS conforme s leis e
tradies, ln tituio- e uma ecretaria de E tado; pro-
urou-se pr em ordem a finanas e dar melhor orga-
IIEYOLUO E DlCTADURA. 105
nisao ao exerr.ilo. A fim de arruinar a influem ia poli-
tica dos Hespanhes, um decreto o ferio de morte civil,
prohibindo-lhes casar C)lm mulhere brancas (l\Iaro
de 1814 ).
No temos querido interromper a narrao dos factos
que acompanhro a emancipa.:'io da provncia do Para-
guay; precIso agora voltar atraz dizer algumas pa-
lavras cerca das relaes da nova republica com a junta
uprema do Rio da Prata.
Temos vi to que e ta junta, apena formada, lhe trans-
mitlira officialmente a noticia dos acontecimentos de 25
d ~ Maio, e que o seu agente, (le origem pal'aguaya, im-
popular cm seu proprio paiz, havia e capado de ser
preso, do que foi preservado umcamente pela resistencla
do governador Velasco a v1 conselhos. Este procedimento
hustil, que dava a entender claramente uma desapprovao
formal da nova ordem de cousa, foi immecliatamente
seguida da infausta expedio de Belgrano. Ias se o Pa-
raguay, promptamente convertido fi idas que o general
argentino pretenclia illlllllr por meio da fora, tinJla de-
pois da retirada d'este, proclamado a sua lldependencia,
no era por certo com inteno de reconhecer a antiga
upremcia. da cidade- que se reputava herdeira dos direi-
tos abolidos do vice-reinado. O primeiL'o congresso havia
~ formulado esta declarao, que foi Iransmittida junta
de Bucnos-Ayres a 20 de Julho de 1811, e e ta. pareceu
aceitala na 'ua re posta de 28 de Agosto do me mo anno;
por quanto, renunciando empregar a. fora, enviou ao Pa-
raguay com uma mi o d'esta vez. toda pacifica o gene-
ral Manuel Belgrano e o doutor Vi conte Eche,erria. Ap
curtas negociaes. o pleuipotenciarios argentinos celebr-
ro com o Paraguay, a 12 de Outubro de '1811, um b'a-
tado em (IUO a illdependencia d'e ta provncia explici-
lamente reconhecida nos segLuntes terlllos":
( Arl. 5 e ultimo. Em vil'Iude do esla,do de indepen-
dencia em q11e fica a pl'ovincia do Pal'aguay a 'respeilo
106 REI'OLUO E DICTADUIU.
da de Btwnos-AY1'es, conforme as convenes contidas na
resposta oflicial de 28 de Agosto passado, a junta acima
nomeada no por obstacUlo ao cumprimento e execuo
das deWleraes tomadas pela junta geral do paiz em cou-
formidade com as declarae do pre ente lTatado (1)....
As boas relaes cimentadas por esta conveno no
devio durar. Porrugal temia para a sua colonia do Brasil
o contagio dos principias que acabavo de triumphar nas
margens do Prata, e havia maJiifestado a inteno de
reivindicar os direitos el'enluaes da princeza Carlota. Al-
gumas tropa se approximaro das fronteiras do Paraguay,
debaixo do commando do general Diogo de ouza, pre-
til a sustentar a cau a da realeza, em quanto outras
foras ameaavao o forle Olympo, que no tardro a
tomar (Junho 1812), obre altada por taes movimento
e pouco l'gUl'a da dispo ies ua populao que procu-
ravo agitar o ]lartidarios do antigo regimen, a junta di-
rigio- e ao governo de Buenos-Ayres, expondo-lhe sua
situao critica, e pedindo-lhe armas e munies, em vir-
tude da di po ies do art. 5 acima' citado (2'7 d'3 Oll-
tubro de Uni). E te olIlcio, ao principio bem acolhido,
no pde ser ali feito; e pouco depoi a mesma junta
Argentina sollicitava com instancia do Paraguay, um
aux.ilio de mil soldados para soccorrer a praa de Moute-
,'ido (2). Ento Pal'aguay por sua vez recusou, e o
governo de Bueno '-Ayre pareceu satisfeito com os mo-
ti o da recu a longamente ex-po to na resposta de 19
de )[arco de 1812. O tratado conchudo com o enviado
. . -
do principe-reaente de Portugal, D. Joo Rademacher;
em 9 de Julho, p ndo fim s ho tilidades, tirava todo
o intere se a esla qlleStO de soccorros; mas a leitura
(1) Este tratado importante frma por a im dizer, a base
do direito publico paraguayo em relao Confederao Ar-
gentina.
(2) Omcio de 7, 13 10 Janeiro, 5 de Maro e 13 de
rtlaio de 181'1.
REVOLU.:\O E DICTADURA. 107
attenta da corre pondencia trocada n'esta occa io entre
os dou paizes, e os acontecimentos que a acompanhro
no permittem duvidar do odio profundo e do resenti-
mento que esta politica de absteno e isolamento deixou
no espirito dos homens de Estado Ar"entinos. Francia
deelarou-se ardente promotor d'ella, porque servia admi-
ravelmente para seus planos. Reclamada pelas circum-
stancias do momento. eUa veio a ser mais tarde a expres-
o do egoismo profundo do despota e a regra invariavel
de sua conducta.
Entretanto a poeha da abertw'a do cougresso que de-
via prorogar os poderes consulare se approximava, e o
Doutor Francia no era homem para repartir a n.utoridade
uprema com ninguem, ainda menos com um collega que
na chegada dos commissarios dn. Confederao Argentina
exprimira o desejo de vr o Paraguay alliar-se com elia :
de ejo que foi uma das cau n.s principaes que o movero
n. mandaI-o fuzilar alguns annos depoi. Aberta a 3 d
Maio- de 1814, a assembla. por instigao do primeiro
consul, tomou a resoluo de confiar o destino do paiz
a um s magistrado; depois, lJUerendo imitar o que e
tinha feito na n.ntiga Roma, adoptou a ida de crear um
dictn.dor, como o unico meio de myar a republiea
ameaada por immigos externos. Francia teve ento a
astucia de fazer differir a eleio, e perando obter da im-
paciencia de pes oa pobres, desejosas de voUal' a s u.s
campos votos que dt:\ de o primeiro dia no lhe foro
favoraveis; ento tendo feito cereal' no momento deci-
sivo' por uma guarda de honra composta de 110mens que
lhe ero affeioado, a igreja em que os deputado deli-
berav , foi nmeado por uma grande maiorin. Dictador
por tre annos, com um ordenado de '9,000 pataces (18
contos de ris): elie no quiz aceitar eno a tera
parte.
Apenas investido de um titulo e de prerogativas dr
que o me mo que lh'o havio conferido e tavo belil
108 REVOLUO E DIC'fADlJRA.
longe de comprehender a significao e o alcance, o
doutor FraJlla se estabeleceu na antiga residencia dos go-
v:ernadore , que elie isolou, alargando as ruas ao redor.
Este edificio, construido pelos Jesuitas, um dos mai
Imnsideraveis da cidade; enb..a-se n'elle por uma galeria
coberta, elevada alguns degros acima de U)TIa grande
praa, donde se avisto as duas margens do rio e os
lla;nos (planicies) do Grande Chaco. Durante esta magis-
lratura temporaria, o doutor Francia, como habil politico,
oube se conter e no mo traI' o que eUe depois devia
ser, quando livre do receio dos caprichos do escrutnio.
Comeou por reformar sua vida pri ada; e renunciando
aos prazeres, soube gravar em seus costllines e maneira
uma austeridade cenobitica, que nllUca se desmentia:
m eguida,' convencido (rue a illdependencia do Estado
t:I a consolidao do proprio poder ex.igio a exi tencia
de uma fora militar imponente e atreioada iL sua pes-
'oa, cuidou seriamente na organisao do De-
mittio os oJIiciaes e commanantes de districtos crue lhe
parecro uspeitos ou p r pertencerem ,[ familias respei-
lavei, ou por exerct:rem sobre as tropas demasiada in-
fluencia, sub tituindo-lhes homens da mais baixa origem,
que, no lendo nada a e peral'. devio se unir a ene
como ao unico autor de sua ine perada fortuna. SUjeita
a uma disciplina austera nos actos da vida militar, fra
d'ahi e tas tl"Opas, que elle mesmo fazia manobrar, no
conhecio freio algum, e os habitantes upportavo da
parte d'elias mil vexae , sem poder se ao
dictador, que, tendo' muita necessidade de seus soldado ,
lolerava o eus excesso'.
Tratou tambem de augmentar suas mUllloes e eu ma-
terial de guerra. Embora no fos em c1<u'amente ho ti ,
uas relaes com as provincias vi inbas ero taes que
cne devia receiar a cada momento ser alaC<1.do; e no
ignorava que em lal caso a VIas de communcao por
onde podia se abastecer lhe 'erio fechadas: portanto
REVOLUlio E DICTADUHA. 109
no permitlia fazer arrogaes para a volta eno aos
qlle lhe levavo polvora e armas. Por mei
d'esro licenas obteve facilmente quanto lhe era necos-
.'Iria.
Ko meio d'estes cuidados elle no perdia de vista a
hora em que devio expirar seus poderes, e preparava a
sua reeleio. 'Havia enchido de seu parlidarios a admi-
nistrao e o juizos de paz, e o havia arrogado a
nomeao das municipalidades e dos alcaides, que de
defensore3 dos interesses das cidades passro a ser ins-
trumentos servis de seu despotismo. Todas estas alteraes
e mudanas no se tinIlo operado seno lentamente,
porque n'aquella pocha ainda o doutor Francia guardava
-certo recato na expres3o da sua vontade suprema e na
e' cu de sua ordem; porm, quando con egnio ser
Domeado Dic/ador perpetuo, ento tirou a mascara e sulJ-
met\eu o seu malfadado paiz ao jugo da mais odiosa
tyrannia. Foi no mez de Maio de 181'1 que uma nova
assembla. exclusivamente composta de seus partidarios,
o conIirmou no exercicio de seus poderes illimitados (1).
O doutor Fl'ancia no recebeu a investidura do poder ab-
soluto, que d'esta vez lhe foi conferida para toda a vida,
sem algumas timidas e silencio a prote taes que se
traduziro em caricaturas a.ffL'{ada durante a noite no.
cantos das ruas. Sempre juiz em sua causa, o dictadol'
mandou prender os autore d'esses insulto, que elIe no
era capaz de entregar ao desdem. eu caracter ombrio.
suspeitoso e vingativo'o impelJia pouco a pouco a novo
rigore, Posto que peI'seguisse de preferencia os qu
podio com elie hombrear ou por sua educao ou por
suas J1iquezas, todavia no perdia de vista a populaa e
procurava victimas em toda as classes da sociedade:
(i) ElIe se intitulava Dictadol' supremo e pe'rpetuo da repu-
blica do Paraguay, e no se dignava abrir senao as cartas em
que esse titulo era precedido do de exceUencia.
no
REVOLUO E DICTADURA.
umas ]ao engrossar O numero dos presos, e as outras elle
enviava a povoar a colouia de Tevego, lugar de deporta-
o por elle funclado na fl'onteira septentrional do Para-
guay afim de impedir as incurses dos Tndios selvagens.
Pouco depois o despota, identiiicando-se com o Estado,
ueclarou traidor patTia todo aquel1e que ousasse resis-
tir s suas ordens: ento a mais ligeira critiea do seu.
governo, uma palavra innocente, porm mal interpretada,
ero punidas com pena de morte po. ta immediatamente
'm 'xecuo. Um Hespanhol, escancl:J.1izado de vr um
vOllvento de li'ranci. canos convertido em quartel, ousou
dizer qu, como os li'ranciscanos hnMo particlo, as im
Laml1em chegaria m breve a vez do Dictador. Este dis-
r:urso tendo chegado aos ouvidos d'este, fez vil' sua pre-
'ena o culpado: Ignoro, lhe di se ento, quando terei
ue parti l' ; mas o que sei que lu partirs antes de mim.
No dia seguinte o mandou fuzillar ( ~ confiscou todos o
seus bens. Esta execuo, logo seguida de uma outra,
jnaugllrou o regimen de terror que foi prolongado at a
sua morte. Sem duvida eUe julgava a sua autoridade j
ba taDt consolidada para poder de todo se esquecer da
resposta que dera alguns annos antes aos que lhe acon-
selhavo que mandasse os seus inimigos ao cadafalso:
( Deos, lr,es respondera elle, deu-lhes a vida, s elle
lhes a pde tirar; quanto a mim , me contento ue im-
pedir crue obrem o mal.
Ce semos agora por um i n s t a n l i ~ de faUar da sua 110-
Jitica interna e passemos a consideraI-o em suas relaes
com o' paizes vizinhos.
Pal'tidario decidido da revoluo hispano-americana, o
no o here applicou-se desde o principio a separar a
causa de seu paiz da das ouh'as llrovincias do antigo
vice-rel1ado , porque, assim como temia a influencia da
meh'opole, da mesma orte temia a ambio e as intriga'
lio goyeruo de Blleno -Ayres, que tinha por differei
yeze procurado criar- e parlidarios no Paraguay, para
REVOLUO E DlCTADURA. 111
fazel-o entrar na liga cornmum, ou antes pal'a submeltel-o
sua dominao,
O doutor' Francia porm ha ia pL'esentido e tas tL'amas, e
a tempo tl'atou de fru l1al-as. No tempo da primeira
junta f) sob o consulado, quando eJle tinha oul1'o col-
legas no, poder, fez que e,te no aceitassem as propo ta
dos commi arios da Confederao Argenlina, e reCUSOll
constantemente fornecer soccorros aos exercitas que com-
batio pela causa da indepenuencia. Tornado mai tarde
enhor ab oluto, elle foi ainda mais I nge: e o go 'rnador'
de Buenos-Ayre tendo-o convidado cm 182-* a fazer
representar no congresso que devia decidir da reuruao
em um Estado federativo ele t da a provincias do Prat:L,
o dictador por uuica resposta mandou prender o por-
tador dos despachos. Qllanto ao mesmo enviado, que era
o doutor D, Joo Garcia de Co ia, informado das suas dis-
po ies, havia julgado prudenle ficar em Corri entes ,
. doude lhe communicra o objecto da ua mi so. Obrou
com acerto, porqne Francia dr.testava de todo o corao
c( os Afuenienses de Buenos-Ayres, revolucionari03 amavcis,
porm vos, inclisciplinados, leviano , inimigos de todo
o freio e sujeio, e qne levavo a revolta a todo o
pontos da America, sem erem capazes, de fundar nenhum
governo.
Como era natural, semelhante procedimento no era
proprio a tornar rnlto amigaveis a seu respeito a di-
posies das provincias, qne mais de uma vez se vingro
impondo contribuies e mesmo confiscando os navio
que lhe 'transportavo armas. Estas represalia o ex:lS-
peravo e eUe procurava logo responder,Ules. No dia 10
de Outubro de 1818, algumas canhoneiras apparecero
diante da cidade de Corrientes para incendiar os seu
navio e vingar-se das vexaes e depredae. qne di-
ver os negociautes paraguayos ahi tillbo soITrido. Este
ataqne mal dirigido no teve resultado, e tendo- e reti-
rado a flotilha., cessro a Hostilidades; mas. ao mesmo
112 I\EVOLUO E
tempo todas a l'elaes /lom os de fra foro interditas,
toda a exportao prohibida, e at o mez de Abril se-
guinte elie no deixou ahir ninguem da sua republica.
E' mister confessar (Iue o doutor Francia podia Dlai
de uma vez justifLcar essas medida arbi tmria , apoian-
do-se no eslado de anarchia que assolava os paizes visi-
nhos, e pondo em parailelo a tranqllillidade profunda de
que gozava sua patria, que servia ento de refugio a
grande numero de familias desterrada das suas pela guerra
cIvil. Ao menos aili no se conJlecia nem o assas inato
nem o rOl1.bo, o que era devido vigilancia dos ma-
"istrados e severa execuo das lei.. Este contraste se
lornou ainda mni palpavel, quando o general Artigas,
chefe de salteaclol'e da malS formidavel especie (por-
quanto servio-se da politica por mascara e pretexto de
eus latrocinios), depois de assolaI' a Banda-Oriental e de
atacar Buenos-Ayres, lanou suas hordas devastadora
pejas Misses de Entre-Rios e na provincia de Corrien-
te. O foco do incendio que eJle ateavo em sua pas-
agem j se ia ftpproxlmando do Paraguay e ameaava
as sua fronteiras. J suas tropas tinho tornado a pas-
sar o Paran, quando o ?nttilo CtUO Protector da Ame-
rica do S!tl, o Palrictrcha dos povos livres, vio-se
obrigado a mendigar tambem um asylo no Paraguay.
Havia rebentado a liscordia em seu campo; abandonado
da fortuna, batiuo e perseguido por Ramirez, seu te-
nente, o autor d'essas crueldades inauditas achou um re-
fugio no Paraguay ( eteffibro de 1820). Todavia, o dou-
tor Fmncia, julgando inc.ompativel com sua o
admittir sua presena um homem ro de tantos crimes
recu ou vl-o; querendo porm respeitar, como elle mes-
mo dizia, os direitos agrados da hospitalidade para com
um iuimigo, o internou na villa de Curuguaty, cujo com-
maudante recebeu ordem de lhe fornecer quando neces-
itas e, o que depois foi supprimido por motivo de eco-
nomia. Artigas passou DlUltOS annos n'este reli::o entre-
REYOLUO E D1CTADURA. 113
gue aos lralJalhos agricolas. Depois da morte do dictador,
foi-lhe permittido re idil' nos arredor s de Assumpo.
Foi ahi que n () encontramos, vivendo, como elle mes-
mo confessava, das e molas do presIdente Lopez, morando
em 1birayem uma de suas ca as, ainda direilo e vigoroso
apezar de sua idade ayanada. :J;:lIe falleccu n'esle lugai'
.'01 18.')0.
CAPITULO XV.
o DOUTOR FRANCLA (continuar..o).- CON J'IRAO CONTRA ELLE:
SUA JU TlA; EXECUES. - UA CONDUCU PARA
COM o li T1UNGEIRO
(1820 - 1830)
No meio de'. ua que les com Artiga, de quem e!lf'
temia com raso a implacavel audacia, outros i'eceios mai-
serios occupavo o espirito su peito o e inquieto do dou-
tor Francia. Tram u-se uma con prao contra e!le, cuja
execuo ficou adiada para sexla feira anta do anno de
18'.20. De io dar cabo do tyranno e dos seus principae
partidarios, apOSS:1r-se dos eus empregos, e submetler no
vamente o Paragnay dominao de Buenos- \yre . Tra-
hidos por um dos seus, o conjlu'ados, tendo sua frente
D. FllIgencio Yegros, o ex-con uI, f-oro preso. O dic-.
tador e contentou ele conli car-lhe o bens, di1l'erindo sua
Yingana.
1\1a uma cu'cum'tancia o veio determinar a apre aI-a,
e a elar um e emplo terrivel de sua ju-tia. Ramirez, ten-
do-se tornad senhor de Entre-Rios, quiz entabolar rela
com o Paraguay, e para e le fim cnvira oJJiciaes portadore
de prote 'to amigaye3. Francia acolheu e t ~ erilbaixada a
8
114 REVOLUO E DICTADUlU;
eu modo, mandando encarcerar os emissarios do vence-
dor de Artigas. Furioso ao receber esta noticia, Ramirez
resolveu atacaI-o, e para assegurar o bom exito da invaso
que meditava, procurou ter relaes com as principaes fa-
iUilias do puiz, descontentes de um governo que os afas-
tava dos negocias e escolhia empregado' enlre a gente
mais l)aixa do povo.
Uma carta diriuida secretamente a D. Fulgencio Yegros,
que elIe ignorava que estivesse preso, cahio por desleixo
do portador nas mos de Francia. 'EmlJora elle nunca a
tenha mostrado, parece, pelo que elle dizia e pelo eITeito
que elIa produzio em seu espirita, que a dita carta continha
propostas de sublevao. Vendo- e portanto em vespera de
er atacado por inimigos de fra, resolveu, para previnir
denh'o qualquer movimento re\'oluc.ionario, condemnar
morte os conjurados que elle conservava sempre cm ferros.
Comeou poi' mandar fu illar o portador da carta e interro-
gar o presos; depoi, como no pudesse obter d' clle:> re-
velao alguma, os mandou pr a tormento. arte
e descobrl'o novos complice., que igualmente denun-
iro outros.... A inquirio porque pa STo os presos teve
lugar da m:1I1cira seguinte. O di 'tador d:ml cada dia. uma
serie de qut'stes ou pergwllas escriptas ao fiel de feitos.
E le ia dirigil-as ao ro cm presena de um oJlirial e de um
scrivo, e levava em seguida as l'e'postas ao dictador, o
qual, se no as achava alisfactorias, mandava transrel'l' o ae-
cu ado ao quarlo da l:crdadc, assim se denominava o lugar
em que e applicava a. tortura. Ahi lhe davo cem a ihlzen-
tas vergalhadas nas costas; em seguida comeav:l de novo o
interrogatorio. Esta operao t'l'a repetida algumas yezes de
llous em dou dias sobre o mesmo indiYiduo, at que as rs-
po tas satisfizessem ao dictadol'; ento ellas ero as, ignada.
pelo preso. AlgW)' d'csles infelize recebero as im em dir-
ferentes yczes at quinhento aoute'; no obstante tem ha-
vido algtUl de quem no se pde obter cOllfi 'o alguma,
entre outr03 um criado a quem qu rio arrancar uma denun-
REVOLUO E DlCTADUHA. 115
da contra os seus amos, succumbio a este tormento em pro-
ferir palavra, Apenas acabada a inquiri.'io, procedia- e
execuo, e os condemnados ero fusillados em numero de
quatro ou oit cada vez. Bem abalidos e acabrunhados
pelos tormentos ofTrido, morrro lodo com a maior cora-
gem, e alguns gritando Vivct a jJct!l'ia! Vio-se mesmo um
j ovem, de nome J\ onliel, que no tinha sido ferido mor-
talmente, levantar-se para commandar uma nova descarga,
um d'entre elles, D. Joo Pedro Cabal1ero, tomou a
resoluo de se sllblrahir tort1l1'a e ao ultimo suppli-
do suicidandose. Achro-se cm uma da paredes de seu
ealabouo palavras escriptas com carvo: Ett sei
que o suicdio contrario I lei de Deos e c dos ho-
mens, mas no em meu que e lia de cevar o
tymnno da minha pall'ia / Terminada a execuo, os
l.:orpos jazio estendidos na posio em que a morte os
deixra, diante da residencia do dictador. Smente uoite
era. permittido aos parentes e ses cadawres, cuja
putrefaco enul.o comeava pelo exce ivo calor do clima,
voracidade do abutres que soLre elles havio revoado
todo o ...
'e tas exe('.Ues, como em todas as que se seguil'o,
o dictador em pessoa entreg, va o cartuchos necessarios ;
desconfiana chegava a ponto de no di lribuir tropa
seno o que llxigia a guarda dos postos mais importantes
como as pri e e o deposito da poh ora. Era ao mesmo
tempo to a\aro de munies, (rUe no queria mai
de tres soldado para c:ida execuo; de sorte que
de uma ez teve-se de acabar de matar as iclim::tS a'
baionetadas. E e11e ra testemunlla d'essas scenas d
horror, pois as e ecues erao sempre feita debaixo d
suas janellas e frequentemente em sua presena. Repe-
tiro-se estas cena quasi todos os dois mezes at o
lUfJiado do anno de 1822, em que umas (Iuaren ta vit:lima'
perecro d'este modo. E' VPl'uade que o dictador fez
merc da ,ida a alguns inilinduo que livro noticia ela.
116 REVOLUO E DTGl'ADUllA.
cQnjqxao sem n'e1la tomar parte a 'tiva; mas O deixou
consumir-se nas prises de E lado, o quo eCluivalia a fa-
zeI-os morrer cliariamente. da me ma sorte a
mulher do um dos conjuracIo, qu"e depois da priso de
seu marido decidira b.'amar no,a conspirao. Bem
descoberta e carregad de ferros, repetia continuamente:
e e1t l'ives!! mil vidas (t perder, as a?Tisca)'ia toda.'
pa,)'(t desl1'uir esle mon Iro (1).
Apezar do cuidado quo tove o doutor Francia d attriJmir
aos COIl piradore designio proprios a fazer a mais viva
impre o em seus satellitos, que agradecero sua vigi-
Jancia o haveI-os preservado de tamanho IJorigo, ima-
ginou paJliar por uma estranha compensao a e 'piao
terrivel inlligida aos mbos do paiz, ferindo ao mesmo
tempo o partido hespanhol. Assim promulgou o seguinte
decreto: cc Visto quo o torna cada dia mais 'mgente pre-
o effoitos da influencia 'perniciosa, da opposio
PI ensata e das inju tas suggesto dos' Bespaub6es da
Europa; afim d'\ consolidar a lJof. onlem, a tranquiUidade
egurana publica, ordeno que os dito He panll6e.
que habilo o interior da cidade se reuno na praa da
R voluo no prazo de duas horas depois tIa promul-
gao d'e te decreto. O prazo or de seis hora para O'
iIJ.te estiverem uma legua afastados da cidade: do con
trario, sero immediatamente pas ados pelas armas.
Apenas reunido na praa, estes infelizes foro agar-
rado e agrupado em numero SUperIOl' a h'ezentos em
e treita prises, mais formidaveis quo a do CbCl1llbo
de Veneza, das quiLe no sahiro seno passados 18 meze
e pagando 150,00.0 pe os-duros. Este resgate lhes foi im-
posto sob pretexto de concorrer para as despezas de uma
expedio destinada a. proteger o commercio e a nave-
gao do Paran. A h'anquillidade. porm achava-se resta
belecida na provincias rilieirinhas, e o porlo de As
(1) RENGGER E Essai histol'ique, pp. 62, 92 e gtlg.
REVOLUO E DJCTADURA. 11'1
umpr,o permane ia fechado como antes. O dictador
havia procurado um meio de acabar com uma classe
. eno rica, ao menos mais accommodada qlle as outrAs,
e portanto mais perigQ a a seus olho . E ta l'dem sa
(bando) apparcceo no mez de Junho de 1821;
e eis o que deu occa io: l1D1' pobre mestre pedreiro, ao
servio do E tado, linha desviado um arroio de uma rua
hal)itada quasi e lusivamebte por Hespanl1es. Quanto ao
culpado, clle pagou a sua. falta: foi fusillado.
O descobrimento da con pirao h'amada conh'a a sua
pess0!1 in pirou ao :(ero7; (liclador o receio de ser
sinado nas rua estreitas e planbda de arvore de sua
capilal, e lbe suggerio a ida de reedificai a sobre um
plano mais regular. Pz immedialamente mo ol)ra, e
procedeu, como sempre, da maneira a mais de potica.
Ajudado de um mestre pl'd1'eu'o, (.file ene fez seu enge-
nheiro, e Sl'm plano decidido, sem estudo anteriores das
ondulae do terreno, ene h'aava linhas que e corta o
em angulos rectos, mandava marcar com eslaca o que
havia traado, e intimava aos proprietarios das casa
condemnadas a ordem de demolil-a immedialamente e de
reconstrwla,s no alinhamento que elle adoplra. Mas rara
veze o prlDeiro trao era definitivo; e aps muito expe
rimentos aeontecia. que os pobres hallitante tinbo de
reconstruir o que bavio demolido ou demoli' suas novas
construces. Em uma palavra, diz o doutor Renrrger, o
entulho da demolies era tanto, que, me mo quah'o
anuo. depoi, a capital do Paragua apre entava o aspecto
de uma cidade que tive. e soffrido. um bombardeamento
de alguns m.ezes. Quanto a indemnisao, i to era. as-
umpto de que rarisslDa vez se tratava.
. Bem que occupado na execuo de planos lo mal con-
eebido e cheios de e(IwvOCOS que ene fazia pagar to
caro, o doutor Francia no perdia de visla eu inimigo.
Todos o dias, revelaes obtidas por meio da tortura lhe
no a victimas., ua imagmao perturbada
-'"
118 REVOLUO E DlCTAD 1\A.
inces anlemente lhe repr entava como assassinos o que
ou avo e lhe approximar. O seu acce o cada vez se
tornava mai dillicil, e para er admitlido sua pre-
ena, era mi ter ujeitar- e a um ceremollial qu aHa-
llWl1te demon trava l'>ua profll11da de confiana e seus con-
tinuo tenores. Mal elle apparecia. na ruas deserlas da
cidade, precedielo de batedores, fecba\o-se logo a portas
e janella das , e infeliz d'aqueUe que, por no ter
tempo de fugir ou de se occu1tar, era encontrado na sua
passagem! EI'a talhado a cutiladas mi ericol'dia ou
ia definhar em uma ma morra. .
Uma autoridade to de confiada devia tambem alterar
o caracter dos' desgraado que ella opprimia. Se a tor-
tw'a, arrancou algumas re,elae , muito mais faro a.
veze em que ella provocou injusta accu aes: fora
das dre acontecia que os membros de wna mesma fa-
milia c denuncias em mutuamente. A e piollagem e a de.-
nuncia organi ada em vasta escala, en, I io os babitantes
e o perseguio at no in,terior elo lar domestico. Desde
enlo Ioda a confiana foi destruida; todas a relaes
ce rl); caaa qual procurou viver i olado, receiando qul:'
uma palana inn cente, porm mal interpretacla pelo adio.
vie e armar contra. i um brao sempre pron pto a ferir.
cc A sim uma. mulhel' que tinha. ciume de etl amante o
accu ou de haver proferido palavra oITen i a contra o
dictador. em outra prova , o condemnou a cem
ba tonacla : mas o aceusado, indignado do nltrage que o
aruardava p dia er ante fllzillado j o que foi e ecutado
immediatamellte. (E ai historique, paa. 104.)
Quando algueOl era lanado em um d'es e horriveis
carcere , que o limite cl'esla bi toria no permittem
d crever, rara vez cbegava a conl1ecer o motivo de ua
pri o, e o outro abi:io a tal respeito lanto_ como elle.
Quanto durao da pena, era empre illimitada: ou o
morria no ferro, ou depois de longo annos de
cruei sofIrimenlo era condeuUlado morte, para dar
REVOLUO E DICTADURA.
119
lugar a outros presos. N'aquelle tempo a familia da vi-
ctima era como fulminada de analhema i ficava abandonada
e isolada; todos a e itavo l)ara no incorrer nas su -
peilas ou na calera do ructador. O mesmo terror pro-
fundo l'lJinava nos campos, onde os seu agente com-
mettio os maiores execssos e se vingavo por odiosas
vexaes da proprias humilba.es e baixezas por que
elIe os fazia pas ar. O doutor Francia de tudo era sabedor
e tolerava esses actos arbitrarias que ero como o penhor
da fidelidade d'ene .
Em quanlo o paizes limitropbes do Paraguay estavo
entt'egues anarchia e guerra civil, o dictadol' procu-
rra, ~ . o m o temos visto, justificar a sua sequestrao pela
necessidade de preserval-o dos males bem reaes que ellas
comsigo trazem i chegou porm um tcmpo em qlIe, ou
por prostrao e esfalfamento, ou p r um desejo momen-
taneo da conc.iliao, o partidos dero tregua s suas
qlIerella , e se suLmettro a governos que se podio
chamar regulares. EnUio receiou, restabelecendo as com
Illunicae , dar !lIgar a uma comp:u'ao entre a. ordem
lal qual elle a. entenaia p:u'a o seu paiz e a crue reinava
nos oulros pfllzes vizinho". Via-se portanto obrigado a
reCOfl'er a outl'os pretextos para demon trar a incommu-
nicahilidade que elIe havia erigido cm syslema,
Desde muilo tempo elle se applicava a dar aos Para-
guayos uma opinio ridiculamente exagerada da fertilidade
de suas lerra e da importancia do seu pequeno paiz,
que oUe lhes representava em todas as occasies como
o objecto da ardente cobia de Buenos-Ayres e da Europa.
A chegada de estrangeiros que tentro penetrar no Pa-
raguay com um fim commercial ou scienLifico, embora
em pecIueno llllmero, yeio confirmar as ilJuses que elle
havia in pirado no povo e que elle tinh3J inleresse em
propagar. Para a ma sa da populao o mundo acabava
nos confin lia republica; cita no via nada lnais al!J1,
Da me ma arte, destillndo as pl\ssoa inslnda d ~
J20 TII'VOLUO :E D1CTillURA.
toda. a posio influente, e confiando os empregos ]lUblico'"
a iudividuos da ela se mais humilde, eUe satisfazia e e
in tiucto de vaiclade oil'endida da populaa coulTa as rIa ses
superiores j e d'esta arle ella e ligo.u intimamente a um
poder que favorecia seus sentimentos e escolhia o seus
agentes no meio d' ella.
A todo e tes motivos, e se acresr.enta c[Ue a dou
trina da obedienci.a ab oluta praticada durante Ire seculo'
no Paraguay no teve tempo de naufragar na rapida
passagem do regimen colonial a e te eshanbo. e no-
nnal governo republicano; 'e c con-dem o terror lJu
produzio execues Io repelidas, feitas nas sombras do
O1y terio e empre sem prvio juizo; se se admilte emfim
que o dictador in pirava uma e pecie do venerao' su-
persticiosa pela au teridade de seus co tumes, ,implici-
dade de suas m eira e seu desintcressQ pessoal, por
uma. reputn.o de grantle saber e ::Il!rU.ll' conbecimentoq
astronomico, cuja n.pplicao havia propagado a crena
de que elle lia nos a. h'os c era aJgum tanlo
facilmente entelldol'-se-ha porque o povo, em vez de lh,
alh'ibuir ao causa de ua miseria, devida i do
paiz c l'llna elo commercio, no acusava seno as
revolues ince sante das provin ias vizinhas e as intl'jgas
elos gO"el'llos estrangeiros. Cada vez que os jornaes do
Rio da. Prata referio novos motill e levantamentos.
nunca dei...-x:ava de dalo a ler a eu confldenle com
recommendao de e palhar e sas ms noticias. Ento,
em vez de amaldioaI-o, o povo rendia graas ao Pai
da pall'ia, que sabia pr erval-n. de lantas desorden !
Talvez de retor plle as im pre 1. tI) b :t populao do paiz.
e poderia. suppor que a eutrada do Paragua,y era vedada
assim como a ahida: porm no, ella era livre, porque
os recem-chegado , logo po tos debaixo da. acLiva vigi-
lancia. dr. uma p licia desconfiada, vinho a ser, sernudo
a occasio, enh'e uas mo um meio de e labelecer re-
laes com as potene.ias e trangeiras, ou refens em
REVOL lo E DICTADUllA. 121
ue ho lilidade", Eutl'e 02 yiajanles que Cilhiro as im em
seu poder e que foro relidos no Paraguay por um e -
pao de tempo mais ou menos longo, alguns me mo at
a morte, os primeiL'os foro altrahidos pelo immensos
beneficios que pr duzio enlo no Paraguay opaes
'Jommerciaes; mas outros se deixro levar por um WJ'-
rente e timulo, pelo amor da sciencia e lJelo de ejo de
explorar uma regio remotn, quasi de conl1ecida dos natu-
l'alistas, apezar do importantes trabalhos de Azara: taes
foro os doutore: Rengg r e Longchamp, primeiros
que dcro a conhecer em sua obra inlitlllada Essai /tis-
loriq'Up. 'UI' la Reliolntion d!b l'nraguay as
i,ntercs antes do. gra,es aconlecimentos que e dero no
Paraguay durante os ei
o
annos da sua e5tada forada
f: te paiz, de de 1819 al 1825,
Diremo,' ainda algumas palan'as ccrca dil nn a priso
que abalou todo o muuo 'ientifico, pL'i o que nauaju:,-
tillcava e em que o dictador se mostL'ou, corno sempre,
sem alteno para com o mel'ilo e de uma violencia inau-
(lita. Quero falIaI' da pL'i o do \', Amado Bonpland.
companbeiro de viagem do grande llumLoldt. afor-
tunado que os dou" medicos nissos, o antigo inlendente
da imperatriz .lo ephina pa ou dez annos de .na. nda
em uma eque lra.o (rue os empenhos d aHa inlluen-
'ias foro inelficazes para fazer cc. ar,
Na queda do impeL'io fL'ancez, Donpland tom ra a paL'-
til' para o Novo-.\lunuo. Depois de muito tempo de resi-
dencia em Bueno'-Ayres, havia decidido pmprebl'nder uma
segunda ,ingem :i regies cenLraes da Americ<1. do aJ.
"'ubindo ento o Paran, linha chegado s antigas llis es,
e se achava em um territorio conte tado pelo Paraguay
Confederao Ar
17
tmtina. O abio botani'o bem o 'abia,
e em vi. ta d'i to e cl'evl'a ao rlontol' Francia, informan-
do-o da sua presena n':lc[llrlle lugar, c dando-lhe as eX"
plicaes mai' ati factoria' sobre a ua intenI10 de fa]Jl'i-
cal' o mate com o auxilio dos que contracl.ra pam
122 REYOLUO E DICTADURA.
eu ervio. ~ I a esLe, furio o e irritado de que quizes-
sem fazer-lhe concurrencia no commercio eujo rico mono-
polio elle pretenilia a todo o custo re"er\'ar para si, en-
viou immedialamcnte 400 homens que pas ro de noite
o rio e matro uma parto dos criado surpl'ehcndidos e
desarmados de Bonpland, o qual tambem recebeu no meio
d'esta aggres o barbara uma cutilada na cabea. Deu-se
e ta borrivel scena a 3 de Dezembro de 18.21. Dous dias
depois, Bonpland era arrastado, com grilhes no ps,
para o paiz inhospito de li nado a lb serl'u' de priso,
lnternado na antiga ~ I : i o de anta-l\laria, o am.igo de
HumboldL ahi vivcu longos annos cIos unicos recursos que
eUe sabia e procurar por ua industriosa perseverana,
estimado e venerado do habitantes a quem ajudava com
seus con elhos como medico e como agronomo. Final-
mente, no dia 2 de Fevereiro de 1831, elle recebeu a
participao de que Sua Exc, a O SV]Jl'e-mO lhe concedia
licena de abir do Paraguay: as im terminou para
nonpland um cativeiro inju to, que havia interrompido sua
carreu-a e arruinado a sua fortuna,
Mas nem I do o prisiolleil'o do lel'1'il'el dictador sup-
portro c.om a mesllla resignao os incommodos oeno-
jos de eu c.1ti, eu'o, Algun uCc.Llmbiro no lalgia ou
ao SlUCldio; outros procurilro cvaclir- e de um paiz mal-
dito, em que o abatimento dos e-pinto', um silencio de
morle e obre altos continuado tornavo a cri tencia in-
supprtavel. Ma estas tenLativas se mallogrro quasi to-
das, e os pobre fugitivos a. pagro com a vida. Na
verdade a me ma c nligLU'ao do Paraguay facilita extra-
ordinariamente a ap! licao do exclusi,ismo sy tematico
imaginado pelo doutor Francia. Limitado a E., a e ao O.
por dous immensos (\ profundos rios, a especie de deHa
que eUe repl'e enta confina ao 1. com o lmperio do Bra-
sil. ao qual no se pMe chegar eno atraye sando im-
men a mata virgen ; do lado do O.,' o rio que o se-
para do Grande Chaco era gllardado por uma linha de
REVOLUO E DlCTADURA. 123
presidios, donde partio pirogas armadas que cl'Uzavr)
dia e noite para prevenir as correrias dos selvagens e
impedir qualquer tentativa de evaso. A estes obstaculo
quasi iusuperaveis preciso ajuntar a activa vigilaneia
exercida pelos Payaguas, tTibu de Jndios nomadas que
vivem nas margens do rio Paraguay, e que o dictador
havia sabido ath'al1ir ao servico da sua politica.
No interior, as communicaes no ero nem mais
autorisada nem ma,i faceis: para viaj:.u' de um districto
para outro, era mister se sujeitar a formalidade minu-
ciosas, que at cliflicultavo e impedio essas relaes quo-
tidianas enLTe os habitautes de um mesmo paiz, sem as
quaes toda a civilisao definha e morre.
A existeucia destes obstaculos' naturaes a qualquer ag-
gresso vinda de fra, ainda augmentados por precau-
es minucio as; :1: alta opinio que tinha de si e uma
confiana' excessiva nas foras de que dispunha, o asse-
guravo da impunidade de qualquer acto hostil e confir-
mavo a sua segurana; por isso ene se considerava como
dispensado de tratar convelllentemeute os agentes consu-
lares ou diplomaticos com quem o acaso e as circums-
tancias o pUllho em relaes de quando em quando.
~ o s primeiros mezes de 1825, o Sr. Woodbine Parish.
cOllsul de S. .1. Bl'ilaullica em Buenos-Ayres, lhe deu
parte do tTatado de commercio concluido entre a Tngla-
tena e a Confederao Arg ntina a 2 de Fevereiro do
mesmo anilo; tratado que era a recompen a da benevo-
leneia parcial d'esLa potencia para com a antIgas colo
nias hespanhla. Sensivel II. ommunicao de um acto
que acarretava como consequen 'ia o reconhecimento das
oulTas republicas Sul-americanas, no nu::r.ero da quaes
se contava o singular Estado que ene havia fundado, o
dictador respondeu carta, e permittio que sabissem do
Paraguay os Inglezes que ahi eslavo detidos. Passado
algum tempo, animado pelo feliz resultado d'essa primeira
tentativa, o mesmo agente quiz repetil-a, c 'lhe escreveu
124 REVOLUO E DlCTADUIU.
'oliicitando a liberdade de Bonplalld. D'e ta yez o doutor
Francia conlentou-se (le mudar a capa da carla, e a re-
enviou com este sobrescripto laconico e pouco cm'tez:
1< A Pari h, con uI inglez em Buenos-Ayres (1).
l\lostrou- e menos attellcioso para com o representante
de Portugal. ElJe linha, com o fim de dar uma sahida
aos productos do paiz, eutabolado relaes commerciaes
com esta ultima potencia, cuja poEtica a respeito das
provincias hi pano-americanas era, n'aquella epocha. to
hostil quanto a sua. O gabinete do 'Rio de Janeiro para
corre"ponder a estas mostras de ympathia, enviou ao
Paraguay como consul, em 1825, a Antonio Manuel Cor
I'a da Camara, que ahi s se demorou quatro a cinco
mezes, dlu'ante os quae .teve ele otIrer bastante affron-
(2). Tendo voltado em 182'7 com o tilulo de minis
tro, trazendo preselltes, com o quae e p ra a obler
d'e ta vez do fproz dietador um melhcr acolhimento, no
file foi permittido, dizem, continuar ua viagem at A -
umpo; e os seus presente oIl'erecido p r intermeeliu do
ubdelegado das 1\1 i ses, Orlellado, foro regei tado .
Obrigado a ficar em ltapua na fronteira, abi pa ou qua-
tro mezes encerrado em um quarto hermelicamenlc fechado,
alumiado com luze, e em recpber nillguem. eu sp-cretario
esteve a ponto de succumbir com e ta ingular, regimen,
l a ua abida do Paraguay, 'uas mala foro revi tadas
nas margens do rio da mauirlt a mais humilhante (3).
(1) E Obra cilada cap. XVI, p. 163.
(2) Foi obrigado a restituir 700 pc os duros que havia re-
cebido para 'ua de pcza - d "iagem; o dictador li. confis-
cou e puniu o imprudente negociante que lu'os havia forne-
cido com lima multa de 2 000 p" os duros (4:000nOOO).
(3) O Sr, Correa da Camara, Bra ileiro, tendo partido para
Europa, eutl'ara na e'cbola de )letz e bavia ervido a Fran-
a ob o Imperio. De volta ao Bra iI, fra nomeado consu!
e depois ministro junlo ao governo Paragua o. Eu o encontrei
PortlrAlegl'c, cncarrel!;ado de fazer a e talistica da provin
cm do RIO Grande do uI pelo Conde de Caxia, que lhe
perdora o baver servido no exercito do rebelde.
M\'OLUO E DICTADURA:
CAPiTULO XVI.
125
o DOUTOR FRAKCIA EUS ULTIMO Afilia ; SUA
-SEU REmATO. -CONSEQUENCIAS no SEU
srSTmlA l'OLIT1CO.
(1830-1 :10),
Era menos movido pelo interes e dos seu admini
trados do que pelo eu proprio, quero dizer pelo do
Estado, que o doulor Francia prbcurra os meios de dar
uma ahida aos producto do paiz. ElIe comprava paI'
vil preo do simples particulares mate, tabaco, madeira
de construco, e vendia milito caro todo estes artigo
s provincias vi inhas, ou os tTocava por objecto ma-
nufacturado da Europa com condies onero as para o.
nego iantes esh'angeiro .
Tendo-se tornado o principal e talvez o unico com-
merciaute do Paraguay, o dictador esmerou-se em obter
importanles beneficias para o Eslado, cujo palrimonio
elJe administrava como bom pai de famlia. E le patri-
mania em suas mos tinba tomado e panto 'as propor .
Juiz em tod-os o processos, arbitro de todas as fortu,na ,
impondo ao menor pretexto multas enorme que era pre
ci o p3.gar in-conlinenli, sob pena de morte, confi cando
os bens do clero e da communidades religiosa , apos-
sando-se das riquezas laborio"amente accumuJada pelo
Ie uita em suas ?IIi e , fez cm breve que o Estado
fos e proErietario de terrenos illlIln os e muito adequado
. criao do gado. Concebeu ento o projecto de crear
estanGias, em que o gado vac.um e cavallar, multipli-
cando- e exlraordinariamente, constituio um novo manancial
de riquflza para o Estado. Alm do couros, artigo
importante de elle achava n'esles estal)eleci-
mentos um meio econom:o de su tentar: o ex.ercito. EUe
tinha-se tornado, corno dissemo , o fomecedor privil,e-
126 REVOLUO E OICTADURA.
giado do mercado da. capital, e no tolerava concurrencia
alguma da parte dos outros proprietarios, a quem s
permittia vender o gado depois do seu proprio. Emllm,
abrio successivamente dous grandes armazens, dirigido
por um alguazil.'mr, no quae fazia vender por preo
excessivos as mercadoria da Em'opa de um uso cOl1lmum.
Teria podido d'esta frma. reunir ~ o d a a moeda I1lctallica.
em circulao, porque a falla. de objectos. de primeira
nece sidade cra s veze tal, que o povo se agglomerava
junto s porlas de eus armazen e era preciso mandar
tropa para o conter. O didador tomava alm d'isto cui-
dado de se informar dos preos da praa e dava ordem
de no e vender a cada individuo seno at uma quan-
tidade determinada de um ar ligo , afim de impedir que
o ouh'os negociantes da cidade compra. sem a totalidade
para tornaI-a a vender mais caro. As im, por exemplo.
nunca se vendeu mais de dous reaes de papel a uma
pes 030. Comeava-se a distribuio pelos estudante, vinha
depoi a 'Vez do militares, e lm'minava polos simples
particulare .
Cioso de qllalquer inJ1uencia, inimigo nato de toda a
autoridade que no dependia. directamente da ua, o
homem estranho cuja vida aqui traamos, no podia 1'e -
peitar a. influ nrja. J l ~ m reconhecer a. autoridade do clero;
por is o applicou-se bem cedo a. guerrealo. V- e desde
o principio de sua dictadlua elle probibir as ceremonia
nocturnas como fomentando a couspirae, e supprimir
um grande numero de dias feriados por favorecer a pre-
:,raia; mais tarde, elle secula1'isa os conventos. e confisca
'eus bens. O decreto de suppresso revelava o profundo
desprezo que tinha aos religiosos, que 8ro obrigados em
seu requerimento de secularisa de se accusal' de todo
.) vi cios e falta que ellll lhes cen urava. No se limi-
lou a i,to: o ti po hana empre moslt'ado senimento
hosti Revolur,o, que no podro er modificado
nem pela xhortae' nem pelas orden' do dictador .
DO PARAGUAY. 201
livos demarcao das fronteiras do Paraguay ln as
estipulaes do tralado de 1'750. Hoje sabe-se com ceI'
teza que o rio Corrientes o que actualmente se deno-
mina rio Apa. Mas quanlo ao rio 19urey no se tem
ainda podido determinar de uma maneira satisfacloria.
qual elie seja, querendo os commissarios hespanhes e
depois o governo Paraguayo que elIe seja o lvinheima
( e tal a opinio de Azara ), que desemboca no rio
Paran em 22 40' de latitude, emquanlo que os com
missarios porluguezes suslentavo no ser elIe outro
seno o rio Igarey, que desagua no Paran ao Sul da
ilha do Salto Grande na latitude de 25 30'.
Os commissarios portuguezes e hespanhes incumbidos
da demarcao dos linlltes no podendo descobrir e achar
no terreno os rios Igarey e Corrientes, de que se fazia
meno no tratado de S. lldefonso, concordro em subs
tiluil'-lhes os rios Igatimi e Ipan-guaz, e n'este sentido
(1) Articulo VlII.- Quedando ya senaladas las pertenencias
de ambas Caronas hasta la entrada dei Pequiri Pepiri-guaz
en el Uruguay, se han convenido los Altos Contrayentes en
que la linea divisaria seguira aguas arriba dei dicho Pepiri
hasta su origen principal, y deSde este por lo mas alto dei
terreno, bajo las regias dadas en el articulo VI; continuara a
encontrar las corrientes dei rio San Antonio, que demboca en
el Grande de Curitiba, q;ue por otro nome lJaman 19uaz;
siguiendo este, aguas abaJo, hasta su entrada en el Paran
por su ribera oriental, y continuando entonces, aguas arriba
dei -mismo Parana, hasta donde se le junta el rio igurey por
su ribera occideI}tal.
Articulo IX.- Desde la boca entrada d.el 19urey, seguira
la raya, aguas arriba d este,' hasta su origen principal; y
desde l se tirara una linea recta por lo mas alto dei ter-
reno, con arreglo a lo pactado en el citado articulo VI, basta
baIlar la cabecera vertiente principal deI rio mas vecino a
dicba linea, que desag'le en el Paraguay por su ribera ar en
tal, que talvez sera el que llaman Corrientes. Y entonces
bajar la raya por las aguas de este rio basta su entrada en
el mismo Paraguay, desde cuya boca subira por el canal
principal que deja este rio en tiempo seco, y seguir por sus
aguas hasta encontrar los pantanos que forma el rio, llama
dos la Laguna de los Xarayes, y atravesara esta laguna hasta
la boca dei Jaur.
Ir C\
202
NOTICiA GJ;;0GHAPR1CA
faro mandadas il1sh'uces pela crte de Madrid em 1778 (1),
o que daria ao Brasil II d.ireito de exigir mais do que
reclama,., pois que do rio Ipan-guaz ao rio Apa inter-
medeia uma extenso de tel'1'eno igualou maior do que
entre este e o rio Branco.
Pouco depois porm o governo hespanhl por uma ordem
real de 6 de Fevereiro de 1793 annullou _as instruce
de 1778, deidindo que a fronteira, em vez de passar
pelos rios Igalimi e Ipan-guaz, devia seguir o rio 19uare
ou Ivinheima e o rio Corrientes. O governo portuguez
da sua parte no observou o tratado de S. lldefonso, pois
o governador da provincia de 1\1ato-Grosso occupra parte
da margem ilireita do Paraguay, fundando Albuquerque
(hoje Corrnnb) e o forte de Coimbra. Enlo o governo
hespanhl para impedir ulteriores usurpaes dos Portl1-
guezes mandou levanL.'l.r o forte Bourbon (hoje Olympo)
na margem direita do Paraguay pela lati}ude de 21
0
e
um pouco ao Sul da embocadura do rio Branco.
Sobre a posi.'io d'este forte que se liaseo princi-
palmente as pretenes do governo do Pa.ragl1a.y. como
e elle, achando-se na margem direita do rio Paragua.y,
implicasse a po sesso dos territorios situados na. margem
esquerda do me mo rio, o que evidentemente inconse-
quente e fal o.
De tudo quanto acabamos de dizer deve- e concluir qu
o governo brasileiro reclamando por limites a linha do,
Apa e do Igatimi, d mosh'as de raro desinteresse e de
summa moderao, pois pelas instruces do gallinete de
Madrid de 1778, o Brasil teria tambem direito ;).0 terri-
ritorio situado enh'e o rio Apa e o rio Ipan-guaz.
Seja porm como fr, em 1844 foi assignado pelos
plenipotenciarios do Brasil e do Paraguay um tratado es-
tabelecendo que o limite entre os dous paizes serio tra-
ado conforme a di posies do tratado de S. Ddefonso;
(1) Instnlco real de 6 de Julho de 1778.
DO PARAGUAY. 203
mas no obteve a ratificao do governo impenal, porque
uma vez admittido o tratado de 1711, o Brasil devia
abandonar toda a margem direita do rio Paraguay at a
embocadura do rio Jaur, na qual margem possue ha
quasi um seculo o forte de Coimbra e a cidade de Albu'
querque ou Corumb. As im rejeitado o tratado de S.
Ildefonso, como base da demarcao de limites, no re _
tava outro ponto fix;o de partida. Enlo o governo do
Paraguay propz ao governo imperial que se considerassem
como mulos os tratados concluidos a e te respeito pela
crtes de Lisboa e Madrid, e que e escolhesse uma outra
oluo, que no fosse prejudicial a nellhum dos dous
Estados, e acabou por propr a neutrali a o do territorio
ituad entre o Apa e o rio Branco. A estas propostas
o governo brsileiro respondeu que concol'dava Ilm con
sidel'a!' cmo no existentes quanto dp.Jllarcao ele li
mites com o os tratado assignado' pelos go-
vernos de e Portugal, e que admitiia a ba e
do ttli po sidetis, mal'caudo por linha de fronteira os rio
Igatimi e Apa. Ao que no quiz acceder o governo de
A umpo, e para prova mandou desaloja!' em 1850 um
de tacamellto bra ileiro que se havia e tabelecido no Po
de Assu,car. Tal o estado actual da que to de Hmite
entre o Brasil e o Passemos a tratar da que to
de limites entre este paiz e a Republica Argentina.
Pesta questo trata-se de dou ponto diJferentes: do
GrandeChaco, ao lorte do rio Vermelho, e do tenitorio
da antigas Mis es da margem esquerda do rio Paran,
que frma uma parte do departamento de Candelaria.
Os limites entre a Confederao Argentina e a Republica
do Paraguay havio sido fixados pelo tratado de 15 de
Julho de 1852, a signado em por D. Santiago
Derqui, depois pre idente da Confederao Argentina. E t
tratado que no foi approvado pelo Congresso Argentino.
fixava por limite, do lado de Coniente, o rio Paran,
adjudicando definitivamente Confederao Argentina o
fi
204 NOTICIA GEOGRAPHICA
territorio de Candelaria, e declarava implIcitamente terri-
torio paraguayo o Grande Chaco ao orte do rio Vermelho.
O tratado de 1856, que substitua o de 1852 deixou
. pendente a questo de limites, e o governo do Paraguay
ficou de posse do departamento de Candelaria e conti.:
nuou a occupar a margem direita do rio Para-guay ao
arte do rio Vermelho.
Os direitos sobre que se fundo as pretenes do Pa
l'aguay, so expostos com muita clareza pelo Sr. Alfredo
Du Graty, cujas palavras aqui citamos:
O Paraguay funda suas pretenes concernentes tanto
parte do Chaco que fica ao Norte do rio Vermelho,
como a uma parte das antigas Misses da margem esquerda
do Paran, sobre d i r e i ~ s adquiridos durante a dominao
hespanhola, aos quaes elle nunca renunciou.
( O territorio do Grande Chaco, comprebendido entre
os rios Paraguay e Vermelho, foi occupado desde a con-
quista pelo governo do Paraguay, que n'elle estabeleceu
fortes e posl;os avanados para proteger a margem esquerda
do Paraguay das incurses dos Iudios Guaycurs. No s
o governo do Paraguay, sob a dominao hespanhola,
mandou diversas expedies a esta parte do Chaco para
submetter os Indios, mas tambem fundou em 1585, na
margem direita do rio Vermelho, a cidade da Conceio,
que foi em 1631 destruida pelos Indios.
l( Quando em 1620 foi creado o governo de Buenos-
Ayres pelo desmembramento do do Paraguay, este con-
. ervou todos os rerritorios que no faro adjudicados a
Buenos-Ayres, e nenhuma meno se fez da parte do
Chaco que O, Para.guay havia' conquistado e occupdo,
continuando ella a ficar debaixo da jurisdir.o do seu go-
verno.
l( Baseado no direito de conquista sobre os selvagens,
e em uma occupao no interrompida por mais de tres se-
culos, o governo' do Paraguay sustenta os seus direitos
obre e ta parte do Grande-Chaco, cuja posse, assim como
DO PARAGUAY. 205
a das Misses da margem e qtlerda do Paran, lhe foi
garantida pelas Provincias-Unidas do Rio da Prata no
tratado de 1811, em virtude do reconhecimento que estas
fizero da independencia da provincia do Paraguay com-
prehendendo os territorios que possua ou sobre que o
seu governo tinha jurisdico n'ar{uelia epocha. (1).
Assim parece fra de toda duvida que o Paraguay tem
direito a uma parte do Grande-Chaco ao Norte- do rio
Vermelho, ao menos quelia que por eUe foi occupada
durante a dominao hespanhla, isto , a uma estreita
faxa de terreno ao longo da margem direita do rio Pa-
raguay. Da mesma opinio o SI:. Alfredo Demersay,
que na sua historia do Paraguay, vaI. I, pago 8, assim
se exprime: O Paraguay possue direitos incontestaveis
sobre o Chaco; ~ o os que elie herdou da metropole, e
que hoje trata-se de repai-tir com a Bolivia e com a Con-
federao Argentina.
Quanto aos direitos que o Paraguay tem sobre uma parte
das Misses da margem esquerda do Paran, escutemo
o que a respeito nos diz o mesmo Sr. Graty;
Em 1820, quando Buenos-Ayres foi erigida em pro-
vincia independente da do Paragu:j.y, faro-lhe assiguadas
dezesete das trmta Misses dos Jesutas. Tendo depois
surgido discusses entre a administrao civil e a religiosa
das duas provncias cerca d competencia de jurisdico
e de limites, o rei de Hespanha, por decreto de 11 de
fevereiro de 1724, ordenou que os bispos das duas dioceses
se puzessem de accordo para terminar essas divergencias.
Estes portanto nomero arbitras, promettendo sujeitar-se
sua deciso.
Estes arbitras, tendo-se reunido em Candelaria, uma
das povoaes das Misses da margem esquerda do Pa-
ran, declarro:
Que a jurisdico do bispo do ParaguaAJ tinha-se
(1) ALFREDO Du GlIATY, La RepubLique dt4"Paraguay, 2' edio,
pags. 106-108.
206
NOTICIA GEOGRAPHICA
sempre e lendido, da mesma sorte que no ci'vel, sem op-
posio dos governadores de at as ver-
tenles do q'io inclusivcLmente, e a do bispado ,de
Buenos-Ayres at as do q'io Uruguay, qtLe so o li71tite
dos dOllS bispados, e que as povoaes de Calfldelaria,
So:Gosme e Sa1tla-J11flta, objectos de liligio, se acho no
lerrilor'io do Paraguay, embora estejo na margem es-
q1wrda do rio Pamn, da mesma malfl,eim que a-s po-
voaes de Nossa Senhora de Lqrelo, Santo-lgnacio,
,lfi ses e Corpus.
Os bispos e a autoridades civis (lceitro esta sen-
tena arbitra!, que determina a juri dico correspondente
a cada uma das dua proYincias e a cousas -e coa ervro
as im at 1803. Ento o rei, por decreto de 17 de Maio
do mesmo anilO, assignado em Aranjuez, erigio todo o
territorio das antigas Misses em governo separado, com
lotai tdependencia dos governos do Pa-raguay e de
Buenos-Ayres debaixo dos q1Laes se acho act't/cL1I7nente
dil;ididas,
Esta re oluo portanto pz fim jurisdico de
J3ueno -Ayres e do Paraguay s bre o terrilorios das
lILisse, e D, Bernardo de Velasco tomou posse do go-
verno da nova provincia, l\'Ias por decreto rgio Velasco
foi nomeado em 1806 governadol' do Paraguay conser-
vando empre o governo das Misses.
Na revoluo de 1811 as cousas achavo-se n'este
estado, i to que o governador Velasco exercia auto.ri-
dade e jurisdico tanto sobre o Paraguay como obre
todas as Misses, autoridade e jurisdico que pas 'ro
para as mo de uma junta governativa criada depois da
revoluo e com a qual Buenos-Ayres assignou o tra,
tado de 12 de Outubro de 1811, que reconhec-c a imle-
pendencia do Paraguay com o limites, cOlllprehendendo
os territorio sobre os quaes o ultimo governador hes-
panhl do Paraguay exercia JUJ'i dico, como o prova o
paragrapho final do art. IV 'd'este tratado, que diz que
no PARAGUAY. 207
o Praguay conservar s seus limites actl:Iaes e q1te p07'
conseguinte o seu. .governo fica enwrregado do departa_
mento de Candela1'ia.
Buenos-Ayres reconbeceu portanto ao Paraguay a le-
gitima pos e de todo o departamento de Candelaria, ma o
Paraguay limitou o exercicio da sua jm:i dico parte
d'este departamento que po suia antes de 1803 e lal qual
vinha indicada na sentena arbitral de 1724, ria mesma
forma que hoje se limita a ustentar o seus direito.
sobre esta parte snlente.
Taes so os e os factos sobre que o go-
verno do Paraguay funda os qreitos que tem abs terri-
torjos 'que lhe so conte tadQs pela Confederao Argen-
tin, porm de esperar que um arranjo amigavel enlre
..os dous governos dar a e t.'1. questo uma soluo sa-
tisfactoria e conveniente para ambos os' paize (1).
CAPITULO n.
rrUAo, LIMITE, EXTEN O. - MONTANHA
mos, LAGOAS.
lTUAO, LllilTE , EXTENSO.- republica do Paraguay
estende-se, na margem esquerda do rio do mesmo nome,
entre 27 e 21 5'7' de latilude Sul; e egundo as
pretenes do seu governo, sua extenso na margem di-
reita do me me rio chega ao S. a uma latitude qua i
igual e ao N. at '20, territorio de que est de posse
bem como' do "das Iis es da margem esquerda do Paran,
que se estende at o cuIDe da corCilbeira das que
separa as vertentes dos rios Paran e Ul'uguay.
Os limites do Jlaraguay o portanto:
(i) ALFREDO nu GRA.TY, La Repubbique du Paraguay,
edio, pags. 109-113.
208 NOTICIA GEOGRAPHICA
1.na margem esquerda do rio Paraguay: ao S. e ao
E., o rio Paran desde a sua confiuencia com o rio Pa-
raguay at as Misses da margem esquerda do Paran,
seguindo depois uma linha que. termina na extremidade
da cordilheira das Misses, o cume d'esta cordilheira, o
rio Santo-Antonio-Mini, o rio Cllritiha ou Iguass at a
sua embocadura no Paran, e o rio Paran at a con-
fiuencia do rio Igatimi; - ao N. o curso do rio Igatimi,
o cume da serra Amaubahy at a nascente do rio' Apa,
e o curso d'este rio.
2.na margem direita do rio Paraguay: ao N. o rio
ou bahia Negra; a O. uma linha a traar de accordo com
a Bolivia e a Confederao Argentina; ao S. o rio Ver-
melho. .
A extenso da republica do Paraguay, segundo as exa
geradas pretenes do seu governo, incluido o territorio
entre o rio Apa e o rio Branco (territorio que o .Brasil
reclama como seu), de 29,4'7'0 leguas maritimas quadra-
dras, repartidas da seguinte maneira:
Paiz entre os rios Paran e Paraguay .... 11,113
Paiz na margem direita do Paraguay.... 16,537
Misses da margem esquerda do Paran.. 1,820
Total....... 29,470
D'estas 29,4'7'0 leguas apenas 3,000 so habitadas, culti
tivadas ou destinadas criao do gado.
MONTANHAS. - A republica do Paraguay atravessada.
no centro por uma grande serra ou cordilheira, que se
estende do N. ao Sul entre 20 e 24 de latitude, e que
se denomina C07'dilheim de Amwnbahy ou Mwracay'; esta
na altura de 24 de latitude se dirige para lste, atravessa
o rio Paran, formando a cachoeira Guayra ou das Sete
Quedas. As suas ramificaes se estendem para o O. at o
rio Branco, formando, no terrilorio do Brasil, o Po de
Assucar, e no territorio do Paraguay, os morros Itapuc-
no PARAGUAY. 20
guaz, Itapur.llmi e Cerros Morados. Para o . e ta cor
dilheira penetra na provincia llrasileira de Malta-Grosso,
e a E. as suas ramificaes separo a vert nte do rio
Ivinheima e Amallbahy, ambos no territorio do Brasil.
Ao S. a Cordilheira de Amanbahy une-se de
que e prolonga at as Nlisses e frma a Oeste as mon-
tanhas de Los Alias.
RIOs. - Os rios princlpaes que llanho a republica do
Paraguay so o PCLmn e o Pamguay. - O principae
affiuentes do Paran, do laclo do territorio da Republica
so: o J'lfinheima, que o governo do Paraguay pretende
ser o limite entre esta Republica e o Brasil; o Amanbahy,
no tenitorio conte tado; o JgaLil1ty, que o Bra iI reclama
nr limi te com a republica do Paraguay; o Acal'ay e o
MondClilJ. - Os affiueutes mais consideravei do rio Para
guay so, na margem esquerJa: o rio Branco, que o go-
verno do Paraguay quer que sirva de limite eutre esta
repulllica e o Brasil; o Apa, que o limite exigido pelo
govel'l1o Imperial entre os dous Estados;
! pan, Jej1lAJ, 11! Salada e Tebiquari .. na mar-
gem direita: o rio Negro, Verde, Con(1LSo, Pilcomayo
e Vermelho.
O rio Paran forma- e no Brasil da confluencia do
Rio Grande, que nasr;e na provnr.ia de Minas, e do l"a-
mnahiba na provl1lcia de Goyaz; corre para o uI at
o territorio das Misses, toma ento a direco do
at a r.oll[]uencia do Paraguay, e d'este ponto at o rio
da Prata. corre constantemente para o ui. E' um dos
maiores rios do mundo (servimo no das proprias pala-
vras de Dll Graty), muito largo, e sua corrente muito
rapida. Perto de Candelaria. tem mais de 600 metro de
largura, e defronte da cidade de Corrientes uns 2,500
metl'O . Frma muitas ilbas, e at a colllluencia do rio
Paraguay as mais importantes so as do Salto de Gnayra,
de Yaciretci e de Apip. O Paran de"de a ua con-
14
210
NOTICIA GEOGRAPUICA
fluencia com O Paraguay navegavel sem interrupo
at a cachoeira e ilha de Apip por espao de 35 leguas,
e ambas as margens 3o povoadas. Apip um ponto
importante por partirem d'abi as estradas para S. Thom
e S. Borja, povoaes siluadas nas margens do rio Uru-
guay. A cachoeira de Apip s ofrerece obstaculo
navegao nas grandes vasante do rio. Vinte e oito
legua, acima acha-se na margem direita a cidade da
Incal'llao ou Itapua e a oitenla legllas mais acima a
em.bocadura cIo rio [guasS1b ou Ctwiliba, que atravessa de
E. a O. a provincia brasileira do Pal'anil. Da emboca-
dura do rio CuriUba at a cachoeira do alto d Guayra
ou da ete Qudas (240" 4' 27" de lat. S.) ha 331egua , a
n':sle lugar o rio apresenla uma serie de quedas, recifrs
e estreitos canaes que impedem a lla\ega. E ta ca-
choeira uma das mai beIlas que ,e conhecem. O rio
Pm'an apresenta acima d'ella uma largura de mais de 1,200
metro e tem muita profundidade; mas, e treitando-se,
corre por um canal de 50 melTos, formado por penha cos
muito elevados, e despenha- e de uma allura de 52 p.
obre rochedo, ujo declive geral d, 50 gros. _\ agua
repre ada no estreito canal de 50 metros precipita- e com
uma impetuosidade e um eslrondo impos ivais de de cra-
ver-se, produzindo vapores, que condensados e desfazem
em uma chuva cru . rega constanlmenlc os arredores.
O e trondo produzido peln. queda da agua om-e-se a qua. i
ei legua de distancia. O' Pa.ran, acima do Salto de
Gua,yra, ofIcrece navegao franca por uma extenso de
mai de cem legua , islo , at o Salto de Ui'llburupronga,
J no territorio do Era iI. A margens du Paran so
mui ferIeis e a montanhas visinha contm minas de
ferro e ue cobre. (1).
O rio Pctl'agllay na ce na erra Parecis na pr vincia
de :'tratto-Gro o, ab'a.ve sa as tena alagadas de Xarayes,
(i) ALFREDO nu GRATY, La repuMique d l ~ Pa1'aguay, 2' edio,
pago 128--130.
no PARAGUAY.
211
separa o sul da dita provncia da parte da repw)]jca do
Paraguay situada na margem direita do rio Paraguay, e
entrando n'esta republica, banha Assumpo e a grande
fortaleza de Humait, e e reune com o Paran poucas
leguas abaLxo d'este ponto. O Sr. Alfredo du Graty faz
uma exceUente descripo d'este rio, da qual daremo
aqui um resumo. ( A conflueneia (los rios Paran e Pa-
l'aguay esl. situada a 7 leguas acima da (dade de Cor-
ri entes, e entre estes dons pontos o Paran, cujas margens
. n mtuto bai..'{as, est cheio de ilhas. O rio Paraguay.
embora mais e tfeito que o Paran, arrefece nayegao
.UIlI canal mais bem deterrninado e mais desimpedido; suas
cobertas de matas so geralmente baixa l1o
excedendo os ba.rrancos mais altos at Assumpo a alt1ll'a
de 7 metl'os. A quatro legllas acima do campo enh'in-
cheirado de Humait, aclla-se do lado do Chaco a emboca-
dura do rio Vermelho, assim chamado, porque suas agua'
no tempo das enchentes so barrenta de cr vermelha. Vem
depois a cidade do Pilar, antigamente chamada Nembucli,
lia margem oriental. Dez leguas acima o rio recebe as
aguas do Tebiqli uri, rio largo e profundo, quo na5ce nas
montanhas perto da Villa Rica, atrave sa campos ferteis
e muito povoados, e navegavel at a altura de Villa
Hica. Quatro legllas acima e l a villa Olhoa, no meio
de UJi1lt planicie eoberta de matas que abundo em ex-
c'l1entes -madeiras de constl'ueo. Vinte cinco legua.
acima acha-se a Villeta ullima cidade antos de chegar a
Assumpo, cercada de jardins o imruenso laranjaes.
Mais adiante e t a montanha Lambar, de formao
basaHic3, em cuja ba e o rio frma uma hahia, que na
vasante da agua deixa em secco uma praia onde se
formo emore cencias d sal marinho de oplima cIUali-
dade. Defronte de Lambar ilca a embocadura do rio
GU-l'twy, considerado como um elo. braos do Pilco1lb(JjlJo,
cujo outro brao faz sua com o Paraguay na
altw'a de Assump.'io. O Pilcomayo, que nasce ao N. O.
212 NOTICIA GEOGRAPRlCA
de Potosi na Bolivia, no cede em irhportancia ao rio
Vermelho, mas at agora ainda ncnhwna explorao tem
subministrado notiCias exactas sobre a sua navegao.
Pouco mais de ulUa legua aClllla de Lambal' acha-se a
cidade de A sumpo, que,apresenta um he))o panorama
por estar edilicada na encosta das altllras da margem
esquerda do rio, que neste lugar tem de 20 a 60 ps
de profundidade e m:1s de 500 metro de largura. Sei
a sete leguas acima de Assumpo desemboca do lado
do Chaco o rio Confuso ao p de um monte perten-
cente cordilheira de Los Altos. Acima da foz do rio
Confuso, cujas aguas so salobras, ar.ha-se situada a
Villa Occideutal, fundada em 1855 sob o nome de Nova
Bordos com colonos franceze', que pouco depois se dis-
. persaro. Submdo pelo rio, antes de cbegar emboca
dW'a (lo rio Salada, ha no meio do seu leito um penhasco
que me mo nas maiores enchente conhecida, llUllca foi co-
berto pela aguas, e que se eleva de 5 a 6 metros acima
do Dlvel das enchentes ordinarias; est unido margem
oriental por um hanco de rochedos. A embocadura do
Salado est quasi a um quarto de legua d'e te penhasco,
e este rio navegavel por pequenas embarcaes. Um
pouco adiante desagua no Paraguay na margem esquerda
o rio Pel'ibebui, que hanha a villa da Emboscada. Adiante
encontra-se a ilha de Payagualupo, onde ha um posto
militar. Depois da fz do rio Mand'uviT, a margem
esquerda do Paraguay baixa at o barranco da Merc,
aCIma do qual o rio faz a volta chamada de Caapii-
pobo, formando a ilha do mesmo nome. Encontro-se
depois o barranco de Caapiipl)bo, a ilha Joivi, e os
rios allluente Ipil-iIfichi, Ipil-Guaz e Cual'epot;
perto da embocadura d'este ultimo ha um posto militar,
e a uma legua no interior, na margem esquerda ~ c h a - s e
a cidade do Rosario. O rio Paraguay recebe depoi,
na margem esquerda as aguas do Jelili e as do Jejuy,
que desemboca quasi 800 metros abaixo de um posto
DO PARAGUAY. 213
militar. Encontro-se depois os postos militare de Porolo
e Polrero POfa, as ilhas do Desaguadouro, o barranco
de Per'ipucl, a ponta do Pedernal, a ponta de Ibapo-
bomi. onde o rio se estreita. a ponto de no ter seno
80 a 90 metro de largura. Uml legua e meia antes de chegar
cidade da Conceio, desemboca na margem esquerda
o rio Este importante 'affiuente do Para-
guay corre sobre rochedos que offerecem inconvenientes
navegao; porm no tempo das aguas pde ser nave-
gado at 60 leguas da sua foz por embarcaes de 12 a
15 toneladas. A cidade da Conceio est situada na
mesma margem do rio Paraguay, defronte de uma grande
ilha. Continuando a subir o rio, encontro-se successi-
vamente a embocadura do Riacho da Palria, a do AqlLi-
daban, rio importante e na\Tegavel durante alguns mezes
do anno; a uidade do Di ino Salvad:::r, que fica a 20
leguas acima de Conceio e possue um bom porto; e os-
altos penhascos de rocha calcaria de Itapucn-lIli. Depois
d'este ponto as dllas mal'gens so baixas e sujeitas a
inundaes at a illla de Caray, em cUJa altura a margem
oriental apl'esenta as montanha chamada Pedras Pa'r-
lidas. Mais aclianle encontro-se a ilha Peiia Herl1wsa.
os Cerros Jli orados, na margem esquerda, o tres picos
o.;hamados Gal'van, do lado do Chaco, emfun a embocadura
do rio Apa.. E te 1':0, limite entre o Brasil e o Paraguay.
nasce na cordilheira de Amanbay e e lana no rIO
Paraguay 31 leguas acima do Divino alvador. Acima da
foz do Apa, ambas as marges do Paraguay so muito
baixas; os unicos pontos ao ah;'igo das ifillfidaes so
as montanhas que e elevo de distancia em distancia
sobre as duas margen, mas que fico s vezes bem
afastadas do rio. Estas montanha o. a Sele Pontas,
no Chaco, e o Po de issucar, na margem esquerda, a
13 leguas acima da Sete Pontas, defronte de uma ilha
e do Cerro Occidenlal ou Fechos dos lIlorros, entre os
CJUMS corre o canal principal do rio. Depoi do Po de
214 NOTICIA GEOGRAPlllCA
Assucar as margens do rio continuo a ser muito baixas
e cobertas de matas. Adiante o rio faz a volta chamada
de Camwndup, e ao chegar altura do Riacho das
Alqmb, avista-se na margem direita um grupo de mon-
tanhas sobre uma das quaes eleva-se o forle Olympo.
Uma legua. acima de O1ympo deseinhoca na margem
esquerda o rio Branco, que o governo do Paraguay pre-
tende er o limite da republica com o Brasil. Depoi d
volta do Periquito, o rio se espraia em ambas as margens,
formando grandes lagoas, que na vasante do rio se secco
e se cobrem de abundantes effiorescencias de sal, pelo
que deu-se ao lugar o nome de Salinas. As margens rio
fio continuo muito baixas at a conluencia do rio Ne-
gro, a 42 leguas do forte Olympo, em cujo ponto o rio
Paraguay se entranha pela provncia de MaLto-Grosso, per-
tencendo ambas as margens, ao Brasil. (I)
LAGOAS. - As principaes lagoas so as de Ipoa, de Ipa-
caray, de Aguaracaly e de 1\ embuc!,. Todas ellas so pouco
profundas, porm muito exten as. - A lagoa [poa, perto
da mal'gem do rio Paraguay e acima do rio Tebiquari,
recebe as aguas das vertenles da .montanha compreben-
elida entre Ibitimi, Acaye Paraguary e as lana no Tebi-
quari. -.\. lagoa lpacara.y est situada no valie fQrJnado
pelo monle Los Altos, recebe as agoas das vertentes
d'e le , e d oriaem ao rio Salado que desagua no P'!ra-
guay. - A lagoa Aguaracaly occupa uma vasta superficie,
e tendendo-se obre a maior parte dos terrenos cO!Dprehen-
dido entre o rio i\Iauduvir e Cuarepoti. Communica com
o rio Paraguay por muito de cu affiuentes,taes como o
Ipi\.-i\Iini, o Ipil-Guaz, Caapilpobo, etc.-A lagoa em-
buc!, e tende- e de de a ,illa do Pilar n.t a ilha Apip no
rio Paran, eu principaes desaguadouros so. no rio Pa-
ran, o Piraguaz e o Yahebiri: no rio Paraguay, o NemI uc
H o Burrico-Can.
(1) _\LFREOO OU GRATY, obr'a cilada, pags. 130-142.
DQ PARAGUY.
CAPITULO lU.
DIVISO TERRITORIAL. POPULAO.
215
398,628
41,31'l
26,'709
110,80'1
31,859
109,'176
80,90
10,205
12,401
180,304
9,376
601
,20
10,'704
160,411
12,5-10
14,105
22,'16
6,700
18,912
24,119
31,562
1,32'2,917
O territorio da Republica do Paraguay divide-se em
25 departamentos. dos quaes 23 achose situados entre
os rios Paran e Paraguay, o vigesimo quarto no Chaco
e o vigesimo quinto na margem esquerda do Paran.
Estes departamentos e sua respectiva, segundo
o recenseamento feito em 185'7, so:
Nomes dos depal'tamento3. Populao.
1. Departamento do centro: capital e 16 districto
de milicias.
2. Acay '.
3. Cordillerita
4. Cordillera.
5. Caapuc .
6. Villa-Rica.
7.
8. Yuti
9. Bobi - .
10. l\Iisses
11. Villa da Incarnao
12. So Thomaz .
13. Villa de Oliva
14. Villa-Franca .
15. Villa do Pilar
16. Santo E tanislo.
17. So Joaquim.
18. Santo Isidoro de ClU'uguaty .
19. Villa de Ygalimi. .
20. ViLla do Rosario
21. Villa de uo Pedro.
22. Villa da Conceio .
216
NOTICIA GEOGRAPHICA
Transporte.
23. Yilla do Divino Salvador.
24. VilJa Occidenlal e Pilcomayo.
25. Candelaria
1,322,917
10,127
4,125
270
Populao total. 1,337,439
E te algat'ismo de 1,331,439 evidentemenle exage-
rado, e .no merece absolutamenle credito por se oppr
inteiramente aos principias da estatistica, que nas cir-
cumstancias mais favoraveis fazem duplicar de 25 em 25
anno a populao de um paiz. Ora, em 1795 a popu-
lao lotal do Paraguay, incluida uma parte da i\1isses
do Paran, se elevava, seg
l
ll1do um recenseamanto offi-
cial, a 97,480 habitantes. A memoria manuscripta de F.
Agllirre, datada de 24 de Dezembro de 1788 d por po-
pulao approxim:iva do Paraguay 96,000 bal)jtal1l
Pde-se porlanto admittir em numero redondo o algari mo
de 100,000 habitantes como repre entando a populao
d'este paiz no principio d'este 3eculo. E suppondo mesmo
que a populao elo Paraguay tenlla duplicado de 25 em
25 annos, teriamos para 1825 200,000 babitantes, para
]850 400,000 halJilantes, e para 1875800,000 habitantes.
D'onde segue-se que a populao do Paraguay, em 1851
no podia exceder a 500,000 habitantes. Tal a opinio
do Sr. Alfredo Demersay na sua excellente historia do
Paragoay. Ouamol-o, pois elle accla1'a hem e a meu ver
1'e olve satisfactoriamente esla dillicil questo.
A populao total do Paragoay, no fim do seculo
pas ado, elevava-se egunelo um recenseamento aliciaI a
91,480 habitantes. A memoria manuscL'ipta ele F. Aguirre,
datada de 24 de Dezembro de 178 , d por total o' al-
garismo approximati o de 9 6 , 0 0 0 ~ PMe- e adottir em
numero redondo o algarismo de 100,000 alma como po-
pulao d'esta provincia, que ento comprehendia, convm
bem notaI-o, uma parte das Misse do Paran.
Desde essa epocha, uma multido de circum [ancia
no PAI\AGUAY. 217
mui favoraveis e em que insistiremos, tem contribuido ao
rapido augmento d'esta populao que hoje 'In'lI.i provavel-
mente se eleva ao algarismo, J mUlto superior ao pre-
cedente, de seiscentas mil almas.
Este algarismo, dizemos sem rehuo, no nos sub-
ministrado por documenlo algnm official, e no o julgamos
proprio a satisfazer s preteues do governo paraguayo.
Resulla de indagaes que ns pes oalmente lemos feito
no propl'io paiz Gom o maior cuidado, e ao mesmo tempo
com toda a discrio e reserva que reclamava e te ne-
gocio extremamente delicado em um s e m e l b a n b ~ paiz.....
Devemo Ilm primeiro lugar r.erLilical' a tendeucia do dito
governo e dos seus age.nte a exagerar o algarismo da po-
pulao, por vi tas e motivos politicos, cujo alcance nos
parece superfino indicar. A im em uma nota publicada
pc! consulado geral do Paraguay, na occasio da Ex
posio Universal de 1855, acha-e no meio de informa
es que se di bnguem por um espirito censUl'avel de exage
rao, esta a sero contraria aos principio de estali lica:
A populao que apenas cheg(lJl;a em 1840 a 500 ou 600,000
habitante, excede acl'ua/mente o algari mo de 1,200,000.
O Sr. Benjmin POUGcl na sua obra La France el l'Ame-
"ique d11 Sttd adopta a populao de 1,100,000 habitantes.
Agora, em confronlao dos te temunhos que vem em
apoio da- pretenes do governo paraguayo, convm citar
os que e approxmo dos dado por ns admittido .
Oautor da brochUl'a Le Paragttay, son Pa<ls, S011 P1'esenl.
et son Avenir, publicada 'no Rio de Janeiro em 1848
sob os auspicios da legao pal'aguaya, apresenta o alga-
risJnP de 600 a 700,000 habitantes, como se appl'oximando
muito da verdade. E te numero tambem o que figura
em uma importante publicao periodica do gverno fI ao-
cez, conforme as nIormaes Il'ansmittidas sem duvida
pelo agente que o representa em ssumpo (1).
(1) Anna/es du commerce exterieur, folheto de overnbro de
218
NOTICIA GEOGHAPHICA
Isto posto, e o algarismo de 600,000 habitantes ad-
mittido como sendo ao nosso entender antes superior do
que inferior verdade, passamos a expor a colleco
de circumstancia multiplice que podem e -plicar e se-
crescimento excepcional relativamente regras da estatis-
tica europa (1).
O Sr. Martim de Mou sy ainda avana mais e preten-
de provar na sua grande obra Descriplion geographiqtle
el stalislique de la Con{ederalion Argenline, (3 vaI.,
Pari., 1860-1864, vaI. 2., pag, 214) que a populao
do l)araguay inferior a 300,006 habitantes. Eis sua
pl'oprias palavras:
C( Ounico recen eamento oflicial que temos podido en-
contrar o que d Azara feito no anno 1795, e que
sol)e a 9'7,480 habilantes, incluidos 10,919 Indios perten-
centes s 11 !\Ii e do Paraguay. E' pois, em numero
redondo, uma p pulao total de 100,000 habitantes !'!O
principio d'este seculo.
(C Ora acabamos de ver que, no periodo decorrido (desde
1780 at a epocha actual, nenhuma p o p u l ~ o do interior
tem dobrado no e pao de 3J anno. Na falIa de todo
o recenseamenlo oflieial ulterior, e admittind o que de
nenhum modo se prova, que a cIo Paraguay tenha feito
1857. As fuuces de consal do Frana em A sumpo est)
confiadas ba muitos anilo ao meu amigo o Sr. conde Alfredo
de llrossard, que, em uma publicao notavel tanto pela sub -
lancia como pela frma, havia adoptado j uma opinio que
parece ter ido conUl'mada por indagaes feitas nos prollrio
lugare. Veja Considerations historiques et poLitiql<es SUl' les
Republiques de 1'0, Plata, Paris, 1850, in 8., p. 12.
Para prova da ob aridade que envolve esta dificil questo,
diremo que o Al11lanach de Gotlla d em 1855 por popula-
o do I al'aguay apena 260,000 babitante-, em 1858 a eleva
a 1,200,000, c em 1859 a reduz metade d'este Ilumero. L-se
no JOI<mal o[ the american geographical and statistical So-
ciety, Janeil'o 1859, p. 13: cc AlILboritics dil'fer in csLimaLing
the amollnt 01' populaLion in the cOllntry. Some ay 300,000 ;
oLber 1,000,000; and Hopkins make- iL even 1,200,000 souls.
(1) D EMER AY, Histoire lJhysiqt<e, ecolwmique et poLitique du
aragt<a!/, Pari, 1860, 1.
0
vol, pag. 377-380.
DO PARAGUAY. 219