Resenha o Ensino de Historia e A Criação Do Fato

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Resenha: O ENSINO DE HISTRIA E A CRIAO DO FATO INTRODUO Temos uma inconfidncia, uma intentona, uma proclamao, vrias revolues,

algumas expulses e outros nomes, todos eles prejulgando o que se pretende estudar. Quem define essas categorias? Qual a importncia delas? Pesquisadores e professores evitam fugir das velhas concepes e da velha histria cronolgica, no realizando cortes criativos, como salienta Jaime Pinsky e saindo da zona de conforto, optariam por uma pesquisa e um ensino de Histria socialmente mais relevante, no combate as desigualdades e preconceitos da sociedade brasileira, sendo, com isso, importantes agentes de transformao.

1- NAO E ENSINO DE HISTRIA DO BRASIL JAIME PINSKY

Para Pinsky, a identidade brasileira nasce na obra de Varnhagen. A partir de uma viso tendo como base a raa branca europeia, ele traou a identidade bsica da nao, miscigenada, mas dominada por um esprito cristo e que teria seu embrio na expulso dos holandeses, comandada pelos portugueses, que seria a sntese do devir da nao brasileira. Categorizando o passado, enaltecendo o papel de domnio do homem branco e criando heris da nacionalidade, ele lana conceitos onde muitos pensadores da nacionalidade se inspiraram anos depois. A partir de sua influencia no IHGB, que por sua vez era o local de formao dos docentes do Colgio Pedro II e que dava as coordenadas do ensino no pas, claramente a cincia histrica colaborou na reafirmao dos preceitos de Varnhagen na historiografia nacional. Nas ltimas auroras do sculo XIX, no crepsculo da monarquia, a imagem do negro, enquanto escravo, era mostrada como um empecilho civilizao chegar a essas terras tropicais; enquanto que o ndio, idealizado pelo Romantismo, era visto como um bom selvagem, forte e guerreiro, a partir dessa viso idealizada, poderia ser um dos smbolos do pas, visto que inofensivo, em um passado distante, enquanto que o negro era a escria do presente, que maculava a jovem nao. Como um pas, que tinha na escravido uma das suas mais importantes bases, poderia se inserir na modernidade liberal? De qual maneira lidar com essa herana africana, presente nos rostos e pele da maioria da populao, devido ao alto grau de miscigenao? Talvez, segundo Pinsky, Gilberto Freyre, tenha dado a soluo aparente para esse problema. Para o socilogo de Apipucos, a escravido, diferente daquela dos pases anglo-saxes, foi benfica, pois teria extirpado

o lado brbaro dos escravos, docilizados pelo domnio lusitano, sinal inequvoco dessa bondade portuguesa foi a miscigenao, que, segundo ele, no visto no mesmo nvel nas colnias inglesas e francesas. Essa viso ainda muito reforada na escola. Pinsky questiona, como o aluno negro e pobre pode lidar com essa viso histrica e mudar os preconceitos, que no Brasil, so ardilosamente disfarados? A Histria, que deveria ser crtica e libertadora, acaba por castrar o mpeto de mudana, na medida em que ajuda a cristalizar velhas vises a partir da casa-grande. essa a viso que predominava, quando o ensino bsico no pas se massificou, a partir da Era Vargas. A partir dos anos 50, como o advento do aumento da pesquisa em Histria e do fortalecimento do marxismo, outras mudanas comeam a soprar as velas da historiografia nacional. Nas escolas de ensino bsico uma histria de vis positivista ganha cada vez mais espao, entre nomes de faras e reis, generais e batalhas picas da nacionalidade, o estudante pouco ou em nada se reconhecia no que estudava. Enquanto que na academia certa modalidade de marxismo, prpronto, exportado da Europa, impunha uma anlise pr-moldada do passado, a partir de um economicismo pueril e monoltico. Essas geraes se deram o dever de guiar o pas para uma revoluo social, que mudaria as bases da nao pobre e dominada por elites preconceituosas. Com o advento do regime militar, a contra-revoluo, esses intelectuais foram, aos poucos, se acomodando, parte deles resolve lutar, com armas ou palavras e outra parte assume o establishment, indo trabalhar na industria cultura ou exercendo tambm atividades acadmicas, porm com preocupao em manter o status quo. Mesmo que, parte da elite intelectual tenha lutado contra a ditadura, aps a redemocratizao o mpeto de mudana arrefece e, no caso da Histria, o marxismo cede lugar, segundo o autor, aos modismos franceses que, segundo ele, tiraram a face questionadora e revolucionria da Histria. Mesmo com boas mudanas, como o rigor terico e metodolgico, que se contrape aos esquematismos de um marxismo rasteiro, para o autor necessrio rever a postura do profissional de Histria em um pas to desigual e necessitado de um norte crtico, como o Brasil. E seria nessa luta diria, contante, que o papel de um novo profissional e uma nova identidade nacional poderia vir a luz.

2- O ENSINO DE HISTRIA E A PEDAGOGIA DO CIDADO ELZA NADAI

Para Nadai, a Histria enquanto disciplina e discurso cientfico vlido, nasce sob o signo de ser a pedagogia do cidado, dando-lhe uma identidade definida, eis a seus laos com a poltica e a ideologia de Estado. Os currculos de Histria, j analisados por alguns estudos que se debruaram sobre eles, deixam ver quem so os agentes sociais privilegiados representados neles, mostrando as desigualdades presentes no ensino de Histria, que, com isso, ao invs de ser agente de mudana, na realidade, colabora para a consolidao das disparidades. O ensino assim, influenciado pela hegemonia das classes dominantes, ajuda a formar o consenso social em torno de ideias, como a de nao, consolidando mitos e emblemas de um determinado grupo, para a manuteno dele no poder. Nessse momento inicial do texto, ela retoma o que Pinsky coloca no primeiro artigo da coletnea, a Histria ao privilegiar os brancos, em detrimento dos negros e ndios, colocando os primeiros como os responsveis pelo cadinho cultural da nao, d margens a pouca mudana e cristalizao de ideias preconceituosas, atravs dos esteretipos culturais. A Histria se apresenta, assim, como uma das disciplinas fundamentais no processo de formao de uma identidade comum o cidado nacional destinado a continuar a obra de organizao da nao brasileira.1 Dentro das mudanas que ocorreram na sociedade brasileira nas ltimas dcadas, dentro de uma mirade de realidades politico-administrativas diferentes entre si, com a chegada de milhoes de estudantes, advindos das classes menos favorecidas, o ensino de Histria se v numa encruzilhada. Endossar as diferenas ou colaborar para as mudanas? O professor duplamente um agente ideolgico do Estado e da classe dirigente, tendo em vista ser o portador da legitimidade para ensinar a Histria que est nos currculos. Histria essa marcada pela desigualdade social e pelo predomnio dos vencedores. Os docentes se veem presos a uma realidade complexa e catica. Observamos que, apesar da massificao o ensino s piorou, as condies de trabalho fazem, dia aps dia, o trabalho do professor mais difcil. Tendo que mediar um conhecimento que pouco ou em nada ser instrumentalizado e usado pelos alunos nos seus cotidianos se, o professor, numa operao de resistncia, os modificar, a partir de estratgias, dentro do sistema. Esse o desafio que enfrentamos.

3- POR OUTRAS HISTRIAS DO BRASIL PAULO MICELI

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