Iniciao Cientca CESUMAR Jul./Dez. 2009, v. 11, n. 2, p.

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MITOS, SMBOLOS E O ARQUTIPO DO HERI

Vincius Romagnolli Rodrigues Gomes* Solange Ramos de Andrade**

RESUMO: A partir da articulao entre Histria e Psicologia, sintetizada pelos estudos acerca do mito e da religio, objetivamos analisar a representao simblica e arquetpica do Heri. Para realizar tal estudo, optamos pela pesquisa bibliogrca a partir das leituras de autores como Carl Gustav Jung, Mircea Eliade e Joseph Campbell. Nas obras de tais autores encontramos um tema em comum: os mitos e os smbolos. Aos poucos, tais temticas centralizaram nossa ateno e se tornaram foco das nossas leituras e consequentemente de nossa pesquisa. PALAVRAS-CHAVE: Mitos; Arqutipos; Heri. MYTHS, SYMBOLS AND THE HERO ARCHETYPE ABSTRACT: From the relationship between history and psychology, synthesized by studies on myth and religion, we aimed to examine the symbolic and archetypal Hero. To complete this study, we chose to search from the readings of authors such as Carl Gustav Jung, Mircea Eliade and Joseph Campbell. In such authors works it was found a common theme: the myths and symbols. Gradually, these themes have centered our attention and became the focus of our readings and therefore of our research. KEYWORDS: Myths, Archetypes, Hero.

INTRODUO Durante sculos os seres humanos usaram mitos, contos de fadas e o folclore para explicar os mistrios da vida e torn-los suportveis. Os mitos tm a misteriosa capacidade de conter e transmitir paradoxos, permitindo-nos enxergar o verdadeiro cerne da questo. Cada parte concentra-se numa rea particular da vida e nos conitos e alegrias caractersticas com os quais lidamos. As histrias e imagens mticas podem aliviar os conitos internos e ajudar-nos a descobrir uma profundidade e riqueza e sentido maiores na vida. Uma das grandes funes curativas do mito est no fato de ele nos mostrar que no estamos sozinhos em nossos sentimentos, temores, conitos e aspiraes.

* Discente do curso de Psicologia no Centro Universitrio de Maring CESUMAR; Discente do curso de Histria na Universidade Estadual de Maring UEM. E-mail: [email protected] ** Doutora na rea de Histria das Religies pela; Docente no Departamento de Histria no Centro de Cincias Humanas Letras e Artes da Universidade Estadual de Maring UEM. E-mail: [email protected]

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1.1 A IMPORTNCIA DO SIMBOLISMO A importncia dos smbolos e dos mitos ressaltada pelo historiador romeno Mircea Eliade (1907-1986), o qual considera, em sua obra Imagens e Smbolos, o pensamento simblico como consubstancial ao ser humano, precedendo at mesmo a linguagem e a razo discursiva. Eliade (1991, p. 8) diz que o smbolo revela certos aspectos da realidade os mais profundos que desaa qualquer outro meio de conhecimento; e vai alm, atribuindo s imagens, smbolos e mitos a capacidade de responder a uma necessidade e de revelar as modalidades mais secretas do ser. Assim sendo, temos que cada ser histrico traz consigo uma parte da humanidade anterior Histria, logo a parte - a histrica de todo ser humano no se perde, mas traz a marca da lembrana de uma existncia mais rica e completa. Os smbolos jamais desaparecem da atualidade psquica, podendo mudar de aspecto, mas com a funo permanecendo a mesma. Mesmo diante da dessacralizao do homem moderno (que alterou o contedo de sua vida espiritual), ele no se rompeu com as matrizes da sua imaginao e com as questes mitolgicas. Assim sendo, o interesse pelas imagens e smbolos no diminuram, pois esses nos oferecem um possvel ponto de partida para a renovao espiritual do homem moderno. A partir disso Eliade (1991) fala da redescoberta do simbolismo, citando a psicanlise, a superao do cienticismo da losoa, o renascimento do interesse religioso ps-1 guerra e as mltiplas experincias poticas, como fatores que contriburam para tal retorno da ateno do pblico sobre o smbolo como um modo autnomo de conhecimento. Eliade (1991) ressalta, entretanto, que essa retomada dos diversos simbolismos no uma descoberta indita do mundo moderno, tendo em vista que o smbolo, enquanto instrumento de conhecimento, era uma orientao presente na Europa at o sculo XVIII, alm de se fazer presente em culturas extra-europias, mesmo naquelas consideradas arcaicas e primitivas. O autor destaca que a invaso do simbolismo na Europa Ocidental coincidiu com o despertar do interesse pela sia na Histria e considera este fato uma feliz conjuno temporal na medida em que a Europa redescobre os smbolos em um momento no qual ela no a nica a fazer histria e a cultura europia passa a contar com outros valores e vias de conhecimento que no apenas as suas. Assim sendo, as descobertas relacionadas ao irracional, ao inconsciente e ao simbolismo serviram indiretamente ao Ocidente; preparando-o para uma compreenso mais profunda e para um dilogo com povos no-europeus (ELIADE, 1991). Eliade (1991) cita em sua obra o psiclogo Carl G. Jung, o qual apontava para os dramas do mundo moderno, os quais

teriam derivados de um desequilbrio da psique tanto individual como coletiva, provocado em grande parte pela esterilizao crescente da imaginao. Assim sendo, ter imaginao seria ver o mundo em sua totalidade e isso explicaria para Eliade (1991) a desgraa e runa do homem a quem falta tal imaginao; ele cortado da realidade profunda da vida e de sua alma. Por m, vemos que o smbolo, o mito, a imagem podem ser camuados, degradados, porm jamais extirpados, tendo sobrevivido at os dias de hoje. E para que um estudo dos simbolismos possa ser til, deve ser feito em cooperao de vrias reas do conhecimento, dentre as quais: Literatura, Psicologia, Antropologia losca, Histria das religies, Etnologia, entre outros (ELIADE, 1991). 1.2 OS ARQUTIPOS NA PSICOLOGIA JUNGUIANA Diante de tais consideraes de Eliade (1991), podemos compreender melhor a importncia desta pesquisa, bem como compreender os motivos pelos quais os estudos e pesquisas no campo da mitologia e religio tm se multiplicado, atraindo o interesse de antroplogos, historiadores, psiclogos e socilogos. A busca por uma compreenso de tais mitos e smbolos parece ser inerente ao homem, movendo-o em direo a uma busca por respostas. E a partir dessa busca de compreenso de seu mundo interno, que o psiquiatra suo Carl Gustav Jung (1875-1961) procurou resgatar o universo simblico humano e formulou seu sistema interpretativo. Jung percebeu que a compreenso dos smbolos era crucial para o entendimento da natureza humana. Ento explorou as correspondncias entre os smbolos que surgem nas lutas da vida dos indivduos e as imagens simblicas religiosas subjacentes, sistemas mitolgicos e mgicos de muitas culturas e eras. A partir de tais estudos, sugeriu a existncia de duas camadas da psique inconsciente: a pessoal e a coletiva. O inconsciente pessoal seria aquele que inclui contedos mentais adquiridos durante a vida do indivduo e que foram esquecidos ou reprimidos, enquanto que o inconsciente coletivo seria uma estrutura herdada comum a toda a humanidade composta dos arqutipos. Uma elaborao derivada destes arqutipos povoa todos os grandes sistemas mitolgicos e religiosos do mundo. O conceito de inconsciente coletivo permitiu que Jung tentasse resolver duas questes que considerava relevantes: explicar a semelhana entre contedos simblicos individuais e temas msticos recorrentes ao longo da histria da humanidade, pois, indubitavelmente, todo o simbolismo arcaico usualmente encontrado nas fantasias e sonhos representa fatores coletivos e integrar

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a Histria como um elemento formador da psique individual. O inconsciente, na perspectiva junguiana , portanto, uma entidade viva, independente de nossa percepo dele, acima das noes dualistas de bem e mal. a outra parte de nossa psique que o ego desconhece e que est sempre atuando e fazendo com que os sonhos, em sua linguagem simblica, sejam as representaes is da psique. Mircea Eliade (1991) considera que, se por um lado Freud teve o mrito de descobrir o inconsciente pessoal, Jung descobriu o inconsciente coletivo e suas estruturas, os arqutipos. E com isso lanou uma nova luz na interpretao dos mitos, das vises e dos sonhos. Jung no reduziu a vida espiritual e a cultura a fenmenos de complexos sexuais da infncia, mas levou em conta a Histria, olhando a psique como naturalista e como historiador. Suas descobertas mudaram completamente o universo mental do homem moderno, traando um caminho para que tal homem saia de sua crise espiritual, pois, para Jung, o mundo moderno est em crise, e essa crise provocada por um conito ainda no resolvido nas profundidades da psique. Diante de tais concepes, Jung faz uma interpretao dos mitos acrescentando dimenses mais profundas com relao aos especialistas modernos, considerando os mitos como fenmenos psquicos que revelam a prpria natureza da psique. Para Jung os mitos condensam experincias vividas repetidamente durante milnios; experincias tpicas pelas quais passaram e ainda passam os seres humanos. E a partir desses materiais que os poetas e sacerdotes elaboram os mitos, dando-lhes roupagens diferentes, de acordo com a poca e as culturas. O termo mito , para a psicologia junguiana, uma narrativa tradicional com carter explicativo e/ou simblico relacionado a uma cultura e/ou religio. O mito procura explicar os principais acontecimentos da vida: fenmenos naturais, origens do homem e do mundo atravs de deuses, semideuses e heris. A partir disso vemos que todas as culturas tm os seus mitos, muitos dos quais so expresses particulares de arqutipos comuns a toda humanidade. Assim sendo, os mitos so formas de expresso dos arqutipos, falando daquilo que comum aos homens de todas as pocas. Os mitos se referem ainda s realidades arquetpicas, isto , a situaes com que todo ser humano se depara ao longo da sua vida, e vo alm ao explicar, auxiliar e promover as transformaes psquicas, tanto no nvel individual como no coletivo de certa cultura. Toda mitologia se torna, assim, uma forma de tomada de conscincia, um elemento para nos identicar. Existem mitos universais e os de cada cultura, mitos iguais para todas as pocas com novas roupagens, porque o que arquetpico o tema

e a partir deste tema podem surgir novas formas de colocao. A partir disso, podemos estabelecer uma relao com a frase de Campbell (2007) em O Heri de Mil Faces: A verdade uma s, mas os sbios falam dela de vrias formas. Por m vemos que a funo dos mitos e arqutipos seria assim: ensinar-nos sobre a condio humana e sobre nosso processo de vida. 2 MTODO Aps ressaltar a importncia dos mitos, smbolos e arqutipos, nossa preocupao passa a ser de ordem metodolgica: em como analisar nossas fontes. Partindo do pressuposto de que a pesquisa terica consiste em um levantamento da bibliograa fundamental na rea escolhida, a partir de um problema identicado e de um questionamento com a nalidade de construir explicaes tericas para o problema colocado, acreditamos que o mtodo descritivo nos permite analisar nosso objeto de uma forma ampla e adequada. A partir de tal mtodo, podemos realizar uma discusso bibliogrca dos documentos selecionados acerca do tema, bem como fazer uma posterior anlise dessas fontes documentais e uma discusso dos contedos pesquisados, estabelecendo um dilogo crtico com os autores consultados, a m de atingir os objetivos propostos nesta pesquisa. Buscaremos articular as teorias dos autores selecionados sobre o tema, bem como fazer uma anlise da epopia de Gilgamsh em seu sentido arquetpico. E, para cumprir tal objetivo, fundamentaremos a discusso nas obras do historiador Mircea Eliade, do psiclogo Carl G. Jung e de sua discpula Rivkah Kluger, assim como na teoria de Joseph Campbell sobre o monomito ou A Jornada do Heri. Nas obras de tais autores encontramos um tema em comum; os mitos e os smbolos. Essas temticas eram discutidas em um grupo intelectual do qual todos os autores mencionados faziam parte: o Crculo de Eranos. A inteno de Eranos consistia em considerar o simbolismo a partir de todos os ngulos possveis: psicologia, histria das religies, teologia, matemtica e inclusive biologia. 3 O LUGAR SOCIAL Toda pesquisa historiogrca se articula com um lugar de produo scio-econmico, poltico e cultural. Implica um meio de elaborao que circunscrito por determinaes prprias. Ela est, pois, submetida a imposies, ligada a privilgios, enraizada em uma particularidade. em funo deste lugar que se instauram os mtodos, que se delineia uma topograa de interesses, que os documentos e as questes, que lhes sero propostas, se organizam.

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Toda interpretao histrica depende de um sistema de referncia e este sistema permanece como uma losoa implcita particular que, inltrando-se no trabalho de anlise, organizando-o sua revelia, remete subjetividade do autor. Os fatos histricos j so constitudos pela introduo de um sentido na objetividade. Eles enunciam, na linguagem da anlise, escolhas que lhes so anteriores, que no resultam, pois, da observao e que no so nem mesmo vericveis, mas apenas falsicveis, graas a um exame crtico. A relatividade histrica compe assim um quadro onde, sobre o fundo de uma totalidade da histria, destaca-se uma multiplicidade de losoas individuais, as dos pensadores que se vestem de historiadores. A instituio no d apenas uma estabilidade social a uma doutrina. Ela a torna possvel e, sub-repticiamente, a determina. No que uma seja a causa da outra. No seria suciente contentar-se com a inverso dos termos (a infra-estrutura tornando-se a causa das ideias), supondo entre elas o tipo de relao que estabeleceu o pensamento liberal quando encarregou as doutrinas de conduzirem a histria pela mo. um mesmo movimento que organiza a sociedade e as ideias que nela circulam. Ele se distribui em regimes de manifestaes (econmica, social, cientca, etc.) que constituem, entre eles, funes imbricadas, porm, diferenciadas, dentre as quais nenhuma a realidade ou a causa das outras. O discurso cientco que no fala de sua relao com o corpo social , precisamente, o objeto da histria. Um texto histrico (quer dizer, uma nova interpretao, o exerccio de mtodos novos, a elaborao de outras pertinncias, um deslocamento da denio e do uso do documento, um modo de organizao caracterstico, etc.) enuncia uma operao que se situa num conjunto de prticas. Este aspecto essencial numa pesquisa cientca. O estudo histrico est muito mais ligado ao complexo de uma fabricao especca e coletiva do que ao estatuto de efeito de uma losoa pessoal ou ressurreio de uma realidade passada. o produto de um lugar. Uma situao social muda ao mesmo tempo o modo de trabalhar e o tipo de discurso. Da reunio dos documentos redao do livro, a prtica histrica inteiramente relativa estrutura da sociedade. Antes de saber o que a histria diz de uma sociedade, necessrio saber como funciona dentro dela. Esta instituio se inscreve num complexo que lhe permite apenas um tipo de produo e lhe probe outros. Tal a dupla funo do lugar. Ele torna possveis certas pesquisas em funo de conjunturas e problemticas comuns. Mas torna outras impossveis; exclui do discurso aquilo que sua condio num momento dado; representa o papel de uma censura com relao aos postulados presentes (sociais, econmicos, polticos) na analise. Sem dvida, esta combinao

entre permisso e interdio o ponto cego da pesquisa histrica e a razo pela qual ela no compatvel com qualquer coisa. A histria se dene inteira por uma relao da linguagem com o corpo (social) e, portanto, tambm pela sua relao com os limites que o corpo impe, seja maneira do lugar particular de onde se fala, seja maneira do objeto outro (passado, morto) do qual se fala. De parte a parte, a histria permanece congurada pelo sistema no qual se elabora. Hoje como ontem, determinada por uma fabricao localizada em tal ou qual ponto deste sistema. Tambm a considerao deste lugar, no qual se produz, a nica que permite ao saber historiogrco escapar da inconscincia de uma classe que se desconheceria a si prpria, como classe, nas relaes de produo e que, por isso, desconheceria a sociedade onde est inserida. A articulao da histria com um lugar a condio de uma anlise da sociedade. 2.1 O ESTUDO DA REPRESENTAO Roger Chartier (2002), um dos expoentes da Nova Histria Cultural, considera que o principal objetivo dessa corrente historiogrca a identicao do modo como, em diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade social construda, pensada e dada a ler. So estes esquemas intelectuais incorporados que criam as guras graas s quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligvel e o espao ser decifrado. Dessa forma, as representaes do mundo social so sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Portanto, para cada caso, torna-se necessrio relacionar os discursos proferidos com a posio de quem os utiliza. Se a noo de representao considerada por Chartier (2002) a pedra angular da nova histria cultural, o conceito de apropriao o centro de sua abordagem. Chartier (2002) arma que a apropriao tal como entendemos tem por objetivo uma histria social das interpretaes, remetida s suas determinaes fundamentais, que so sociais, institucionais, culturais e inscritas nas prticas especcas que as produzem. Ao pensar em prticas culturais convm, antes de tudo, ter em vista que esta noo deve ser pensada, no apenas em relao s instncias ociais de produo cultural, mas tambm aos usos e costumes que caracterizam a sociedade examinada pelo historiador. Logo, para Chartier (2002) so prticas culturais, no apenas a produo de um livro, uma tcnica artstica ou uma modalidade de ensino, mas tambm os modos como, em uma determinada sociedade, os homens falam e se calam, como e bebem, sentam e andam, conversam ou discutem, morrem ou adoecem, solidarizam-se ou hostilizam-se, entre outros.

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Roger Chartier (2002, p. 183) considera as representaes coletivas como as matrizes de prticas construtoras do prprio mundo social tornando a noo de representao imprescindvel na histria cultural, na medida em que centra a ateno sobre as estratgias simblicas que determinam posies e relaes e que constroem, para cada classe, grupo ou meio, um ser percebido construtivo da sua identidade (CHARTIER, 2002, p. 184). A categoria do espao, pela sua universalidade e anterioridade histrica, prov o fundamento bsico da prpria sociedade. Nesse caso, a concepo de espao resulta da representao que dene os parmetros de classicao conforme a ideia que a sociedade faz de si mesma. 3 DESENVOLVIMENTO 3.1 CAMPBELL E A TRAJETRIA DO HERI Em sua obra O Heri de mil faces, Joseph Campbell (2007) tem como objetivo analisar a relao entre os smbolos intemporais e os smbolos detectados nos sonhos pela moderna Psicologia Profunda. Paralelamente s teorias de Carl Jung sobre os arqutipos e o inconsciente coletivo, Campbell trabalha com a noo de que as histrias esto ligadas por um o condutor comum. Assim, desde os mitos antigos, passando pelas fbulas e os contos de fadas, at os mais recentes sucessos de bilheteria do cinema americano, a humanidade vem contando e recontando sempre as mesmas histrias. Esta histria oculta dentro de outras histrias chamada por Campbell de A Jornada do Heri Mitolgico, ou de Monomito, e tem servido de base e orientao para prossionais que estudam e se dedicam s diversas formas do contar histrias, desde psiclogos, escritores e contadores de histrias, dramaturgos, roteiristas e crticos de cinema. Campbell busca, em sua obra, revelar verdades que nos so apresentadas sob o disfarce de guras religiosas e mitolgicas e, para tal objetivo, faz-se necessrio aprender a gramtica dos smbolos, que o autor faz atravs da Psicanlise: o sistema interpretativo oferecido por Sigmund Freud (1856-1939). O autor faz uso de uma ampla gama de mitos e contos folclricos de todo o mundo, traando paralelos com as verdades bsicas que servem de parmetro para o homem. Alm do mais, Campbell (2007) trabalha com as semelhanas e no com as diferenas entre as religies e mitologias da humanidade. A nossa aventura da vida no mpar, imprevisvel e perigosa, mas , antes de tudo, a srie de metamorfoses padronizadas pelas quais os homens tm passado, em todas as partes do mundo, em todos os sculos e sob todas as aparncias assumi-

das pelas civilizaes. Assim sendo, se pudermos recuperar algo esquecido por ns mesmos, ou por uma gerao ou por toda civilizao a que pertencemos, poderemos ser portadores da boa nova, heris culturais do nosso tempo (CAMPBELL, 2007). Com isso, Campbell (2007, p. 32) nos fala:
Alm disso, nem sequer teremos que correr os riscos da aventura sozinhos; pois os heris de todos os tempos nos precederam; o labirinto totalmente conhecido. Temos apenas que seguir o o da trilha do heri. E ali onde pensvamos encontrar uma abominao, encontraremos uma divindade; [...] e onde pensvamos estar sozinhos, estaremos com o mundo inteiro.

O percurso padro estabelecido por Campbell (2007) para a aventura mitolgica representado nos rituais de passagem: separao, iniciao e retorno. Um heri, vindo do mundo cotidiano, se aventura numa regio de prodgios sobrenaturais, onde encontra foras e obtm uma vitria decisiva; o heri volta de sua aventura com o poder de trazer benefcios aos seus semelhantes. O heri composto do monomito uma personagem dotada de dons excepcionais, frequentemente honrado pela sociedade de que faz parte; costuma tambm no receber reconhecimento ou ser objeto de desdm. Ele e/ou o mundo em que se encontram sofrem de uma decincia simblica (CAMPBELL, 2007). A partir do estudo da teoria elaborada por Joseph Campbell (2007) sobre o mito do heri em O Heri de Mil Faces, podemos notar as vrias etapas da trajetria mtica do heri, trajetria que marcada por complicaes, provaes e lies que o heri deve empreender para que possa atingir seu desenvolvimento interior (a individuao de Jung). Campbell (2007) nos d um relato repleto de simbologia e nos orienta a interpret-la. Este estudo pode ser complementado pela obra de C. G. Jung (1998) no que diz respeito ao estudo do smbolo e do arqutipo. Campbell no s analisa a importncia do estudo do mito para o entendimento do pensamento e da condio humana, mas tambm fala sobre como re-aprender a lidar com a linguagem simblica dos mitos. Ao ser questionado sobre por que seu livro havia sido intitulado O Heri de Mil Faces, Campbell (2007, p. 11) responde:
Porque existe uma certa sequncia de aes hericas, tpica, que pode ser detectada em histrias provenientes de todas as partes do mundo, de vrios perodos da histria. Na essncia, pode-se at armar que no existe seno um heri mtico, arquetpico, cuja vida se multiplicou em rplicas, em muitas terras, por muitos, muitos povos. Um heri lendrio normalmente o fundador de algo, o fundador de uma nova era, de uma nova religio, uma nova ci-

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dade, uma nova modalidade de vida. Para fundar algo novo, ele deve abandonar o velho e partir em busca da idia-semente, a idia germinal que tenha a potencialidade de fazer aorar aquele algo novo.

teoria dos mitos e os estudos psicolgicos. Tal relao de extrema valia para Campbell (2007, p. 16), ao arma que
Os ousados e verdadeiramente marcantes escritos da psicanlise so indispensveis ao estudioso da mitologia. Isso ocorre porque, como quer que encaremos as interpretaes detalhadas, e por vezes contraditrias, de casos e problemas especcos, Freud, Jung e seus seguidores demonstraram irrefutavelmente que a lgica, os heris e os feitos do mito mantiveram-se vivos at a poca moderna. Na ausncia de uma efetiva mitologia geral, cada um de ns tem seu prprio panteo do sonho privado, no reconhecido, rudimentar e, no obstante, secretamente vigoroso.

Para Campbell (2007, p. 15), a denio do conceito de mito est pautada no fato de que,
Em todo o mundo habitado, em todas as pocas e sob todas as circunstncias, os mitos humanos tm orescido; da mesma forma, esses mitos tm sido a viva inspirao de todos os demais produtos possveis das atividades do corpo e da mente humanos. No seria demais considerar o mito a abertura secreta atravs da qual, as inexaurveis energias do cosmos penetram nas manifestaes culturais humanas. As religies, losoas, artes, formas sociais do homem primitivo, descobertas fundamentais da cincia e da tecnologia e os prprios sonhos que nos povoam o sono surgem do crculo bsico e mgico do mito.

Para Campbell (2007, p. 135), o ato de herosmo tem um objetivo moral que
O de salvar um povo, ou uma pessoa, ou defender uma idia. O heri se sacrica por algo, a est a moralidade da coisa. Mas, de outro ponto de vista, claro, [pode-se] dizer que a idia pela qual ele se sacricou no merecia tal gesto. um julgamento baseado numa outra posio, mas que no anula o herosmo intrnseco da proeza praticada.

Alm disso, Campbell nos mostra que a funo primria da mitologia e dos ritos sempre foi a de fornecer os smbolos que levam o esprito humano a avanar, opondo-se quelas outras fantasias humanas constantes que tendem a lev-lo para trs (CAMPBELL, 2007, p. 181). Para que a representao simblica seja explorada e para que possamos embasar a anlise do mito do heri apresentada por Campbell neste sentido, empregaremos os conceitos de smbolo e de arqutipo desenvolvidos por C. G. Jung (1998, p. 22). Consideremos sua denio do conceito de smbolo:
O que chamamos por smbolo um termo um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diria, embora possua conotaes especiais alm do seu signicado evidente convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para ns. [...] Assim uma palavra ou uma imagem simblica quando implica alguma coisa alm do seu signicado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto inconsciente mais amplo, que nunca precisamente denido ou de todo explicado (JUNG, 1998, p. 22).

Alm da teorizao sobre o mito do heri e suas faanhas durante a trajetria mtica to arduamente vivenciada, em sua obra Campbell (2007) tambm nos fala sobre a universalidade da mitologia, sobre os contedos simblicos que se repetem nas mais diversas culturas e das diferentes cincias, tais como: arqueologia, etnologia, orientalismo e da psicologia do folclore, que, atualmente, contribuem para desvendar os ensinamentos e o aspecto intemporal da mitologia.
A riqueza de contedos que a mitologia abarca pode ser explicada, principalmente pelo fato de que os smbolos da mitologia no so fabricados; no podem ser ordenados, inventados ou permanentemente suprimidos. Esses smbolos so produes espontneas da psique e cada um deles traz em si, intacto, o poder criador de sua fonte (CAMPBELL, 2007, p. 179).

Segundo Campbell (1990, p. 54-55), arqutipos

so idias elementares, que poderiam ser chamadas idias de base. Jung falou dessas idias como arqutipos do inconsciente. Arqutipo um termo mais adequado, pois idia elementar sugere trabalho mental. Arqutipo do inconsciente signica que vem de baixo. A diferena entre os arqutipos junguianos do inconsciente e os complexos de Freud que aqueles so manifestaes dos rgos do corpo e seus poderes. Os arqutipos tm base biolgica, enquanto o inconsciente freudiano uma acumulao de experincias traumticas reprimidas no curso de uma vida individual. O inconsciente freudiano um inconsciente pessoal, biogrco. Os arqutipos do inconsciente de Jung so biolgicos.

Esta atribuio psicolgica que dada aos smbolos reitera a importncia da relao entre a anlise literria por meio da

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O aspecto biogrco secundrio, no caso. Em todo o mundo e em diferentes pocas da histria humana, esses arqutipos, ou idias elementares, aparecem sob diferentes roupagens. As diferenas nas roupagens decorrem do ambiente e das condies histricas. So essas diferenas que o antroplogo se esfora por identicar e comparar.

J para Jung (2002, p. 352),

O conceito de arqutipo [...] deriva da observao reiterada de que os mitos e os contos da literatura universal encerram temas bem denidos que reaparecem sempre e por toda parte. Encontramos esses mesmos temas nas fantasias, nos sonhos, nas idias delirantes e iluses dos indivduos que vivem atualmente. A essas imagens e correspondncias tpicas, denomino representaes arquetpicas. Quanto mais ntidas, mais so acompanhadas de tonalidades afetivas vvidas [...] Elas nos impressionam, nos inuenciam, nos fascinam. Tm sua origem no arqutipo que, em si mesmo, escapa representao, forma preexistente e inconsciente que parece fazer parte da estrutura psquica herdada e pode, portanto, manifestar-se espontaneamente sempre e por toda parte (JUNG, 2002, p. 352).

Campbell (2007) v na gura arquetpica do heri aquele que conseguiu vencer suas limitaes histricas, pessoais e locais e alcanar formas vlidas e humanas. Essas pessoas tm vises e inspiraes vindas das fontes primrias da vida e do pensamento humano; os heris falam da fonte inesgotvel por meio da qual a sociedade renasce e no da sociedade e psique atuais, as quais se encontram em estado de desintegrao. Assim sendo, o heri morreu como homem moderno, mas renasceu como homem eterno, aperfeioado e universal. A partir disso, Campbell (2007) estabelece estgios da jornada do heri, cuja primeira tarefa retirar-se da cena mundana e iniciar uma jornada pelas regies causais da psique (onde residem as diculdades) a m de tornarem claras e erradicar as diculdades. A segunda tarefa , por conseguinte, retornar ao nosso meio, transgurado e ensinar a lio de vida renovada que apreendeu. A aventura do heri , antes de qualquer coisa, uma tarefa de autodescoberta e de autodesenvolvimento. 3.2 O PROCESSO DE INDIVIDUAO Podemos notar que a aventura do heri nada mais do que o processo de individuao, conceito central da teoria junguiana e que representa a prpria nalidade da vida; um processo de profundo autoconhecimento, no qual nos confrontamos com velhos medos e contedos que desconhecemos de ns prprios. Ao nos entregarmos a esse caminho nada racional, Jung considera que a vida parecer ser conduzida por uma sabedoria maior a qual denominou Self (Si - mesmo), o centro de cada um de ns. Individuar-se signica fazer o ego (a conscincia da superfcie) ir ao encontro desse centro. Representa separar-se da massa; do turbilho inconsciente e adquirir autonomia; tornando-se, assim, uma totalidade psicolgica, sem divises internas, atingindo a personalidade total e a realizao pessoal. Nessa perspectiva, o processo de individuao se mostra como a base da nossa existncia. Em algum momento a psique chama o ego a voltar-se para si (o chamado para aventura do qual Campbell nos fala), a conhecer-se, a vasculhar no interior as verdades at ento buscadas no exterior. A partir da novos horizontes se abrem para a realizao pessoal; entretanto, se o ego se recusa a tal autoconscientizao (recusa o chamado para aventura), a vida tende a se encaminhar a um conito insustentvel, podendo derivar-se da certas doenas, fracassos e at mesmo a morte (que tambm pode ser uma morte simblica). Sentimos o Si-mesmo chamando-nos para fora da identicao inconsciente com as convenes sociais (persona), forando-nos a reconhecer at aquelas partes de ns mesmos

Assim sendo, o termo arqutipo utilizado por Jung para designar a forma imaterial qual os fenmenos psquicos tendem a se moldar; seriam as tendncias estruturais invisveis do smbolo que criam imagens ou vises que correspondem a alguns aspectos da situao consciente. Para Jung essas imagens primordiais se originam de uma repetio constante de uma mesma experincia durante geraes e tendem a produzir a repetio e elaborao dessas mesmas experincias em cada gerao (JUNG, 1998). A partir desse conceito, podemos estudar o heri enquanto uma gura arquetpica, a qual rene os atributos necessrios para superar de forma excepcional um problema de dimenso pica. Essa gura varia consoante a poca e marcado por uma projeo ambgua, representando, por um lado, a condio humana na sua complexidade psicolgica, social e tica, e, por outro lado, transcende essa condio, representando facetas e virtudes (como f, coragem e determinao) que o homem no consegue, mas que gostaria de atingir. O herosmo um fato profundamente arraigado no imaginrio e na moralidade popular; feitos de coragem e superao inspiram modelos e exemplos em diversos povos e culturas constituindo assim guras arquetpicas. Situaes de guerra, conito e competio so ideais para a realizao de feitos histricos; a inspirao herica surge muitas vezes da problemtica imposta pelo ambiente ou por uma situao adversa, cuja soluo exige um esforo extraordinrio.

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Mitos, Smbolos e o Arqutipo do Heri

que preferamos negar, partes que nos confrontam com o mal. Assim sendo, transformarmo-nos em ns mesmos signica integrar o que oposto a ns, reivindicar como parte de ns um ponto de partida diferente de nossa identidade consciente, o qual aparece em smbolos, sonhos ou guras do sexo oposto (anima e animus). O chamado para experimentar e integrar em um todo vibrante todas as partes de ns amplia muito nossa identidade consciente e nos torna mais vividamente os indivduos singulares que somos (YOUNG-EISENDRAT; DAWSON, 2002). O Si-mesmo traz consigo o centro maior que excede nossas necessidades e objetivos limitados; logo impossvel se individualizar sem estar em contato com outros seres humanos. Alm disso, o reconhecimento do Si-mesmo muda nosso foco do privado para o comum, para a mescla do pblico no privado, do coletivo no individual, do universal no idiossincrtico. A tarefa da individuao nos faz apreciar o mundo nossa volta com interesse e gratido renovados, pois vemos que nos so oferecidos objetos para descobrir e libertar nossa personalidade; passamos a entender que somos objetos com os quais os outros podem criar e desenvolver suas vidas (YOUNG-EISENDRAT; DAWSON, 2002). Se tivermos nossa prpria individuao, vemos o processo ocorrendo no outro tambm e adquirimos uma nova noo de vida em comum; reconhecemos o quanto precisamos uns dos outros para realizar as tarefas de enfrentar nossas sombras como nossas; de encontrar a estranheza no sexo oposto, de reunir a coragem de responder o chamado do Si-mesmo. Assim sendo, ligamo-nos uns aos outros em nova profundidade (YOUNG-EISENDRAT; DAWSON, 2002). Acessar o inconsciente nos faz ver que os conitos da humanidade acontecem primeiro dentro de cada um de ns, sutilmente, para depois se exteriorizar. Para Jung, entendermo-nos com aquilo que no conhecemos de ns mesmos, integrando aspectos inconscientes a aspectos conscientes o grande passo que falta ao homem. S assim deixaremos de ver o inimigo no outro e o reconheceremos onde sempre esteve: dentro de ns mesmos. a partir desse autoconhecimento de cada indivduo, dessa volta do ser humano s suas origens, ao seu prprio ser e sua verdade individual e social, que podemos ter o incio da cura da cegueira que domina o mundo de hoje. 4 CONSIDERAES FINAIS Por m, a partir da discusso bibliogrca dos autores; Joseph Campbell em sua obra O Heri de Mil Faces (2007), Mircea Eliade em Imagens e Smbolos (1991) e Carl G. Jung em Os Arqutipos e o Inconsciente Coletivo (1998), podemos notar a

grande importncia dos smbolos, mitos e arqutipos na nossa existncia, tendo em vista que, mesmo com suas mil faces e as novas roupagens que recebem de acordo com o momento histrico, eles permanecem presentes na atualidade psquica de cada indivduo ou grupo social. Vemos, ainda, a partir destes trs autores, que os mitos so expresses espontneas do inconsciente e que esto relacionados ao estado coletivo da conscincia de determinada era da Histria; assim sendo, os mitos so como reexes de certas situaes culturais da humanidade. As imagens arquetpicas conguram-se, portanto, como possibilidades de simbolizao das situaes e condies fundamentais da existncia; alm disso, esses arqutipos e smbolos constituem aberturas a um mundo trans-histrico. A partir da entra em ao o papel do historiador das religies, o qual lida com fatos histricos, que revelam um comportamento que vai alm dos comportamentos histricos do ser humano, ou seja, o homem integral que conhece outras situaes alm da sua condio histrica (como o sonho, por exemplo). Logo, o papel do historiador das religies no deve se limitar ao mero registro de manifestaes histricas de um comportamento humano, mas deve buscar a compreenso mais profunda de suas signicaes e articulaes. Cabe ao historiador das religies responder por que um determinado mito ou smbolo transmitido e o que eles revelam, pois eles sempre revelam uma situaolimite do homem e no apenas uma situao histrica. nesse sentido que as obras de Campbell, Eliade e Jung se aproximam; ao buscar revelar a existncia de uma lgica do smbolo, ou seja, que certos grupos de smbolos se mostram coerentes e encadeados logicamente entre si e que, assim, seriam passveis de serem formulados sistematicamente e traduzidos em termos racionais. Assim sendo, podemos notar a importncia fundamental de tais autores, no s para este projeto em especico, mas para um resgate ou uma redescoberta do simbolismo, bem como para ampliar o interesse pela Histria das Religies. REFERNCIAS CAMPBELL, Joseph. O Heri de Mil Faces. So Paulo, SP: Cultrix/Pensamento, 2007. CAMPBELL, Joseph. O poder do mito com Bill Moyer. Traduo de Carlos Felipe Moiss. So Paulo, SP: Palas Athena, 1990. CHARTIER, Roger. beira da falsia: A histria entre incertezas e inquietudes. Porto Alegre, RS: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.

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GOMES, V. R. R.; ANDRADE, S. R.

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ELIADE, Mircea. Imagens e Smbolos. So Paulo, SP: Martins Fontes, 1991. JUNG, Carl G. Memrias, Sonhos, Reexes. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2002. JUNG, Carl G. O Homem e seus Smbolos. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1998.

YOUNG-EISENDRATH, Polly; DAWSON, Terence. Manual de Cambridge para Estudos Jungianos. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002. Recebido em: 30 Junho 2009 Aceito em: 09 Novembro 2008

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