Fichamento O Que É Direito
Fichamento O Que É Direito
Fichamento O Que É Direito
Por Sant Clair Pereira de Lima1 A obra O que Direito, de Roberto de Lyra Filho, tem por objetivo mostrar a concepo do que Direito. O estudo da obra em questo mostra-se essencial aos que iniciam o estudo da cincia do Direito. O autor, nascido no Rio de Janeiro, foi um jurista e escritor, com formao em Letras e Direito, tendo lecionado na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, Faculdade Brasileira de Cincias Jurdicas e na Universidade de Braslia onde se aposentou. Suas linhas de pensamento so o Humanismo Dialtico e a Filosofia e Sociologia Jurdica, sendo um dos importantes pensadores Jurdicos de Esquerda brasileiros. O que Direito dividido em cinco captulos, sendo os seus ttulos: Direito e lei, Ideologias Jurdicas, Principais modelos de ideologia jurdica, Sociologia e direito e A dialtica social do direito; conforme a ordem que se encontram dispostos no livro. O autor inicia o primeiro captulo, Direito e lei, falando acerca da dificuldade em retificar as distores que cercam a concepo do Direito. Apresenta a distino entre lei e direito, que em ingls so designados por law, mas que no se confundem, havendo o termo right para designar exclusivamente o Direito, independentemente de leis. Segundo Lyra Filho, a lei sempre emana do estado e est ligada classe dominante, detentora do controle do processo econmico. O autor alerta para o fato de que nem toda legislao Direito autntico, legtimo e indiscutvel, podendo haver o antidireito, sendo este a negao do Direito, entortado pelos interesses classsticos e caprichos continustas do poder estabelecido. Assim, a identificao entre lei e direito est no plano ideolgico do Estado que deseja convencer a sociedade de que o poder atende ao povo, no havendo o que ser questionado para alm das leis. O autor mostra o Direito como sendo padres de conduta impostos pelo Estado, estando a sociedade sujeita a sanes no caso de descumprimento das normas. Para Lyra Filho, o Direito no pode ser concebido, to somente, pela legislao. A lei parte do processo jurdico, que pode ou no traduzir as melhores conquistas, portanto, a concepo do Direito deve levar em conta os aspectos histricos, no podendo ser reduzido pura
legalidade, no sendo esttico, mas resultante de suas transformaes incessantes de contedo e forma de manifestao dentro do contexto histrico e social. No segundo captulo, Ideologias Jurdicas, o autor faz uma breve anlise dos tipos de ideologia jurdica e ressalva que apesar da variedade de sentidos empregados no termo ideologia, eles no se anulam, mas se integram traduzindo a postura do observador diante do fenmeno. Segundo o autor, Ideologia significou, primeiramente, o estudo da origem e funcionamento das ideias em relao aos seus signos que as representam e posteriormente passou a designar as prprias ideias, conjunto de ideias de pessoas ou grupos. A abordagem da ideologia dividida em trs modelos principais, quais sejam: Ideologia como crena, ideologia como falsa conscincia e ideologia como instituio. Na ideologia como crena, no sendo esta necessariamente relacionada religio, as opinies so pr-fabricadas, e so adquiridas atravs do contexto social do indivduo. Lyra atenta para o fato de que nem toda crena ideologia, ao passo que, toda ideologia manifesta-se como crena. A ideologia, como falsa crena, leva deformao inconsciente da realidade. a falsa conscincia, que se manifesta como condutor das atitudes e raciocnios. Aqui, o autor cita alguns exemplos, como o do racista que proclama sua superioridade, o do machista que denuncia a inferioridade da mulher. Neste cenrio, as classes dominantes, privilegiadas e detentoras do poder econmico impem sociedade seu discurso mais conveniente, suas ideologias, atravs dos rgos de comunicao, ensino, e as leis. A ideologia como instituio, mostra-se como algo que se desenvolve e manifesta-se na sociedade e no no indivduo isoladamente. Ela fato social antes de ser fato psicolgico. Segundo o autor, a formao ideolgica oriunda de contradies da estrutura socioeconmica, de onde o indivduo absorve as crenas e deforma seu raciocnio (conscincia falsa). Roberto Lyra fala que as ideologias jurdicas, tal qual ocorre com as outras, refletem o posicionamento de classe, e que as correntes de ideias aceitas variam de acordo com o estado de ascenso, estabilidade ou decadncia em que esteja a classe. As ideologias jurdicas traduzem elementos da realidade distorcidos. Apesar de no refletir exatamente a realidade, o Direito distorcido conserva caractersticas reconhecveis. A conscientizao da crise do
direito que est impregnado no discurso do poder, ensino, entre outros, pode partir a partir da ao do indivduo no contexto social. No terceiro captulo, Principais Modelos de Ideologia Jurdica, Lyra Filho traz as ideologias jurdicas fundamentadas no direito natural e no direito positivo, abordando as concepes jusnaturalista e juspositivista do Direito. O positivismo a corrente predominante, e representa o direito normatizado, a ordem estabelecida pelo Estado. Dentre as espcies do positivismo o autor destaca trs, sendo estas o positivismo legalista (voltado para a lei, d-lhe total superioridade, no sendo permitido agir contrrio a ela, por exemplo, o costume), positivismo historicista ou sociologista (oriundo do esprito do povo, atribui ao povo os costumes principais, contudo, esses costumes no prevalecem contra a lei expressa, mas agem supletivamente a elas) e positivismo psicologista (permite aos juizes criar normas alm e acima do que est nas leis). O jusnaturalismo a corrente mais antiga, e originria do direito natural. O direito natural buscado na natureza das coisas e se apresenta, fundamentalmente, de trs modos quais sejam o direito natural cosmolgico (universo fsico), direito natural teolgico (Deus) e o direito natural antropolgico (homem). Lyra Filho analisa a concepo da natureza das coisas, que utilizada para justificar uma determinada ordem social estabelecida ou revelar o choque de duas ordens sociais, como por exemplo, a escravido nas sociedades em que o escravagismo o modo de produo econmica. Para o autor, as ideologias nos fornecem uma imagem da realidade, e que a maneira para corrigir as distores das ideologias pensar o direito no que ele faz juridicamente. Lyra Filho conclui este captulo afirmando que a sociologia jurdica a nica base slida para a nova reflexo, a nova filosofia jurdica, estando desprendida de fantasmas ideolgicos. No quarto captulo, Sociologia e Direito, o autor defende a anlise da essncia do Direito na perspectiva cientfica, no contexto histrico. Segundo Lyra Filho, com a abordagem sociolgica do Direito possvel esquematizar os pontos de integrao do fenmeno jurdico na vida social. O autor traa o paralelo entre a Sociologia jurdica e Sociologia do Direito, alertando que so tomadas por sinnimas, mas que constituem abordagens diferentes. A Sociologia do Direito estuda a base social de um direito especfico, enquanto a Sociologia Jurdica o exame do Direito em geral, como elemento sociolgico, por exemplo,
o estudo do Direito aplicado como instrumento de controle e mudana sociais. A sociologia do Direito e a Sociologia Jurdica esto em permanente intercambio, porm no se confundem. A primeira captulo da Histria Social, enquanto a Sociologia Jurdica captulo da Sociologia Geral- diz respeito ao aspecto jurdico da vida em sociedade. O Autor aponta duas posies fundamentais na sociologia Geral- a da "estabilidade, harmonia e consenso" (relaes sociais estveis governadas por normas numa faixa crescente de intensidade usos, costumes e mores) e a da "mudana, conflito e coao" (relao de instabilidade entre os grupos sociais que questionam as normas impostas). A interseo entre as duas posies diz respeito tentativa de afastar a dialtica. O primeiro esconde a evidncia da espoliao e opresso e o segundo omite ou despreza a espoliao deixando evidente a opresso social. O autor finaliza o captulo defendendo que seja delineado um modelo sociolgico dialtico visando investigao da essncia do Direito. O ltimo captulo, A Dialtica Social do Direito, iniciado explicando que nenhuma sociedade vive completa e eternamente isolada, a exemplo da tecnologia dos sistemas de transportes e comunicao que permite que as impresses de uma nao se projetem para alm de suas fronteiras. O autor fala que cada sociedade nacional possui seu nico e prprio modo de produo, sua prpria infraestrutura. Juntas elas formam superestruturas peculiares, onde repercute a correlao de foras e ecoam a diviso dos mundos capitalista, socialista, no- alinhado, terceiro mundo). A infraestrutura internacional caracterizada pela coexistncia de modos de produo distintos, quer de forma pacfica ou violenta. Nas sociedades nacionais, as classes se dividem, e a luta de classes movimenta a dialtica social. Lyra apresenta as foras mantenedoras do sistema vigente (centrpeta), visam o controle das mudanas do sistema ao passo que as foras centrfugas abrange os dominados e visam mudanas expressas. O autor conclui que o Direito o resultado da dialtica social dentro do processo histrico. considerando todos os aspectos, nacionais e internacionais, resultante das mudanas sociais constantes. Assim a justia social surge como atualizadora dos princpios condutores nas lutas cosias objetivando o fim da explorao e opresso do homem pelo homem. O Direito se mostra como a positivao dessa liberdade conquistada nas lutas sociais, restringindo e ao mesmo tempo garantindo a liberdade da sociedade. Ao final do livro o autor traz indicaes para leitura dos que iniciam o estudo do direito.