Geodinamica Externa
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23 01 2004 1 O que um reglito e como se forma? 2 Os laterites so vermelhos. Explique porqu. 3 Diferencie os 2 tipos de alterao ( Qumica e mecnica). 4 H 3 tipos principais de solo, caracterize-os e diga em que condies se formam. 5 Caracterize a paisagem crcica. 6 Caracterize as paisagens glaciares e periglaciares. 7 Quais os factores importantes que interagem na alterao. 8 Explique os processos de drenagem que uma rocha oferece. 9 O transporte do vento e da gua diferente. Explique as diferenas. (relacione as respostas com o que vimos nas visitas)
. Morfognese Fluvial. Cursos de gua (sistemas fluviais e bacias de drenagem). Os meandros. Tipos de transporte em funo da inclinao, da gua e vegetao existentes. Formas de relevo fluviais de eroso e de acumulao. A evoluo do sistema fluvial (ciclo de eroso) e a peneplancie. Terraos fluviais de eroso e acumulao. O problema das inundaes. A morfognese fluvial em Portugal. Os rios constituem os agentes mais importantes no transporte dos materiais alterados das reas elevadas para as reas mais baixas e dos continentes para o mar. Os rios podem ser considerados como reunindo trs troos principais: o troo ou curso superior, onde predomina o trabalho de eroso, o troo ou curso mdio, onde o transporte o principal agente actuante, e o troo ou curso inferior, caracterizado pelo predomnio da sedimentao bem patente nos depsitos aluviais ou aluvies. Ainda, semelhana das torrentes, continuam a ser utilizveis e com o mesmo significado as noes de eroso regressiva, nvel de base e perfil de equilbrio embora, evidentemente, convertidas respectiva escala. Os seguintes termos dizem respeito classificao dos rios: - Rios consequentes, so rios cujo curso foi determinado pelo declive da superfcie terrestre, e que coincidem geralmente com a direco da inclinao principal das camadas. Originam normalmente drenagens paralelas; - Rios subsequentes, so rios cuja direco de fluxo controlada pela estrutura rochosa, acompanham sempre zonas de fraqueza, tais como a folhas juntas ou ento camadas de rochas delgadas ou facilmente alterveis. Nos terrenos sedimentares, correm perpendicularmente inclinao principal das camadas; - Rios antecedentes, so rios que correm ao longo de rochas que foram aplanadas ao seu percurso. Os rios antecedentes ocupam normalmente a garganta que cruza a dobra estrutural; - Rios superimpostos, so rios que cortam as camadas at que o seu canal corte rochas de diferentes litologias ou estruturas. O seu percurso inicial no foi determinado pela natureza litolgica das rochas atravs das quais ele corre actualmente. Estes rios fluem na mesma direco dos rios consequentes. Geralmente originam-se no reverso de escarpas e fluem at desembocar num rio subsequente; - Rios insequentes, so rios que se estabelecem sem nenhuma razo aparente ou orientao geral prestabelecida, isto , na disposio espacial da drenagem no vsivel nenhum controlo da estrutura geolgica. Os rios correm em direces variadas, de acordo com as particularidades da morfologia. So comuns em reas de topografia plana e homogeneidade litolgica, como as granticas. As redes de drenagem dizem respeito ao modo como as linhas de gua se encontram distribudas. Os factores da distribuio relacionam-se com a estrutura, a litologia e atectnica e as mais importantes so: - Dendrtica, quando duas linhas principais tm a mesma direco; - Paralela, quando imposta por falhas/ tectnica; - Radial, quando imposta pelo relevo;
- Em cuvette, quando apenas se formam linhas de gua com o degelo; Os vales fluviais so formas de relevo esculpidas como depresses longitudinais, de dimenso e aspecto variados, ocupadas pelos cursos de gua. Por exemplo nos calcrios dispostos em camadas horizontais escavam-se vales de paredes quase verticais vales em canho Um grande rio aberto ao mar tem no nvel mdio das guas ocenicas o seu nvel de base, isto , o nvel em funo do qual ele regulariza o seu perfil. Pelo facto de este nvel condicionar toda a rede fluvial exorreica dos continentes chama-se-lhe nvel de base geral. Um ponto de confluncia de dois cursos de gua funciona, para o curso subordinado, como um nvel de base local. Aps evoluo mais ou menos prolongada, um dado curso de gua (inicialmente percorrendo um vale cujo perfil longitudinal do seu talvegue pode ter sido bastante irregular, com variaes mais ou menos bruscas de declive) acabar por regularizar o perfil se o seu nvel de base se mantiver fixo o tempo necessrio a que se atinja perfil de equilbrio. Este equilbrio, no demais insistir, estabe-lece-se em especial entre dois factores principais, o clima e a natureza geolgica dos terrenos, os quais condicionam outros factores seus dependentes, tais como, o regime fluvial, o tipo de intensidade da cobertura vegetal, a natureza das rochas, o tipo, a densidade e a amplitude de acidentes tectnicos, etc.. A regularizao do perfil faz-se de jusante para montante; as irregularidades vo-se esbatendo, os rpidos recuando, o mesmo sucedendo s cabeceiras que vo penetrando na montanha. Esta progresso da eroso iniciada na foz e avanando para a nascente funciona como uma vaga de eroso de sentido contrrio ao do rio e, por isso, dita regressiva. Muitas vezes, em consequncia do recuo das cabeceiras, um curso de gua intersecta outros, capturando-lhes as guas, adicionando, assim, ao seu traado todo o troo montante do curso intersectado. Diz-se, ento que houve captura. O troo jusante do rio capturado permanece marcado por um vale abandonado. Tambm o perfil transversal dos rios atesta o seu estdio de evoluo. Com efeito, no trabalho de regularizao do leito a gua corrente e os materiais que transporta escavam e aprofundam constantemente o leito, ao mesmo tempo que a escorrncia e as torrentes laterais do vale vo desgastando as vertentes. Nesta fase o vale profundo e estreito. medida que o rio se vai aproximando do perfil de equilbrio o seu trabalho de eroso vertical (escavamento do leito) vai diminuindo at dar lugar sedimentao. As vertentes continuam a recuar e a degradar-se alargando continuamente o vale. Consoante o estdio evolutivo verificado nos rios, ou em partes do seu traado, assim se podero considerar fases de juventude, de maturidade e senil. Na fase da juventude h predomnio da eroso; o perfil longitudinal irregular e o declive acentuado e irregular (rpidos); A fase de maturidade tem grande capacidade de transporte; nesta fase o declive menor e os vales so profundos e geralmente apertados; o perfil longitudinal est
mais regularizado; A fase senil caracteriza-se por vales amplos, de vertentes muito afastadas, e degradadas. Predomina a sedimentao dando origem a extensas superfcies muito planas resultantes da agradao, isto , assoreamento pelos depsitos fluviais. So as plancies aluviais de que so bons exemplos os campos do Mondego e as lezrias do Tejo e do Sado. O leito de um rio o espao que pode ser ocupado pelas suas guas. Distinguem-se habitualmente leito maior, leito aparente e leito menor. O primeiro, tambm chamado leito ou plancie de inundao, corresponde a todo o espao do vale inundvel nos perodos de cheia. O leito aparente definido pelo sulco rasgado na plancie de inundao e onde, habitualmente, circulam as guas e os materiais arrastados. O leito menor ou canal de estiagem corresponde estreita faixa, geralmente sinuosa e mutvel, que persiste no interior do leito aparente e representa a menor drenagem do rio, o que, para as nossas regies, ocorre no Vero. O leito menor, em cursos de pouca importncia, pode definir-se apenas por um estreito sulco, sinuoso e seco, aqui e acol ocupado por pequeno charco ou pego. Existem canais rectos, ramificados e mendricos. Designam-se por meandros as sinuosidades maiores ou menores e mais ou menos profundas existentes em certos troos dos rios. Os meandros no so meros caprichos da natureza, mas sim o resultado de como o rio executa o seu trabalho pela lei do menor esforo. Representam um estado de equilbrio entre todas as variveis hidrolgicas, a carga detrtica e a litologia por onde corre o curso de gua. O meandro consttui o canal mais provvel de encontrar, uma vez que ele minimiza o declive, o cisalhamento e a frico.Os meandros tm tendncia a acentuarem-se, do que resulta geralmente o seu abandono. A corrente mais forte na margem cncava, erodindo-a, do que na margem convexa, onde se deposita a sua carga slida. Podem ser encaixados (vale) ou divagantes (quando percorrem as plancies de inundao). medida que a rede hidrogrfica se estende e se hierarquiza, cada vez maior a eroso nas zonas montanhosas e cada vez mais vastas e planas se tornam as regies vestibulares. Assim, no difcil de conceber, para um nvel de base geral, estvel durante um intervalo de tempo suficientemente longo, que os rios atinjam o seu perfil de equilbrio, que alarguem os respectivos vales, por recuo. Segundo DAVIS, quando esta aplanao se generaliza a vasta rea, o que acontece ao cabo de muitos milhes de anos, atinge-se uma situao de relevo arrasado, de interflvios suaves e mais ou menos uniformes, recortado por cursos de gua na fase senil. Esta quase aplanao foi designada por peneplancie e com ela completa-se o que se chama um ciclo de eroso. Imagine-se uma regio aplanada, com uma rede senil, bruscamente elevada em relao ao seu nvel de base geral, ou porque o continente se elevou ou porque o nvel do mar baixou. Toda a actividade fluvial rejuvenesce; os rios encaixam-se primeiro junto foz, aumentam o declive e a vaga de eroso recuar at atingir toda a rede, procurando restabelecer o perfil de equilbrio anteriormente atingido. As vertentes voltaro a recuar e aparecero novas plancies aluviais. Em suma repetiu-
se o ciclo de eroso. Podem ver-se a dado momento ainda as formas do novo ciclo embutidas nas do anterior, quer pelo carcter plano dos interflvios, agora na situao de planaltos, onde os vales se encaixam de novo, quer no perfil longitudinal dos rios, onde em certa poro do troo montante persiste parte do perfil de equilbrio anterior, interrompido para jusante, pelo novo perfil. Esta interrupo marcada por uma ruptura de declive produzida pela vaga de eroso regressiva. Os sedimentos so transportados pelos rios atravs de trs tipos distintos de transporte: soluo, suspenso e saltao. A carga transportada pelos rios divide-se em carga slida representada pela carga do leito do rio e pela carga em suspenso e carga dissolvida. A carga dissolvida constituda pelos provenientes, da alterao das rochas, transportados em soluo qumica. A composio qumica das guas dos rios depende de vrios factores tais como clima, litologia, topografia, vegetao e durao temporal gasta para o escoamento (superfcial ou subterrneo) atingir o canal. A carga dissolvida transportada mesma velocidade do fluxo da gua at onde ele chegar; a deposio do material s se processa quando houver a saturao (por evaporao; por exemplo). A carga de sedimentos em suspenso constituda pelas partculas de granulometria reduzida (silte e argila, transportadas mesma velocidade da gua, durante o intervalo de tempo que a turbulncia for suficiente para mant-la em suspenso. Quando a turbulncia atinge o limite crtico, as partculas precipitam normalmente em trechos de gua muito calmos ou em lagos. A carga do leito do rio constituda pelas partculas de granulometria mais grosseira (areias e cascalhos), que rolam, deslizam e saltam ao longo do rio. A sua velocidade mais reduzida do que a do fluxo da gua, uma vez que os gros se deslocam de modo intermitente. As marmitas de gigante so um fenmeno de eroso provocado pela aco abrasiva dos seixos sob o efeito da corrente. A capacidade de um rio dada pela quantidade maior de material detrtico dum determinado tamanho, que o rio pode deslocar como carga do leito. A granulometria dos sedimentos fluviais vai diminuindo na direco jusante, o que representa uma diminuio da competncia do rio. A deposio da carga detrtica transportada pelo rio ocorre quando h diminuio da competncia ou da capacidade do fluxo, at l, as partculas permanecem no interior do fluxo, havendo uma seleco granulomtrica ao longo do curso do rio, resultando no fim na deposio no delta ou esturio. A eroso fluvial engloba todos os processos que conduzem retirada de material do fundo e das margens do leito para o integrar na carga sedimentar. Actuando na totalidade do curso de gua, a eroso um fenmeno muito importante, sobretudo a nvel do fundo dos canais localizados em regies montanhosas. - Formas de acumulao: Plancies de inundao. As formas topogrficas do leito constituem categoria ampla, abrangendo toda e qualquer irregularidade produzida no leito de um canal aluvial pela interaco entre o fluxo de gua e a movimentao de sedimentos Leques aluviais. Os leques aluviais representam exemplos de deposio fluvial
originados pela diminuio rpida da competncia do curso de gua. A acumulao do material detritco na parte jusante do canal de escoamento da torrente origina o cone. Terraos fluviais. Os leitos fluviais correspondem aos espaos que podem ser ocupados pelo escoamento das guas e, relativamente ao perfil transversal nas plancies de inundao, podem distinguir-se os seguintes tipos
. Morfognese Crsica. O carste. A circulao das guas em regies carbonatadas. Formas de relevo crsico (canhes (rios algenos), poljes, dolinas, uvalas, ponors, hums, avens, vales secos, em canho e cegos, conchas, sotchs, grutas, lapis e arcos). Tipos de paisagens crsicas em funo do clima. A morfognese crsica em Portugal. A dissoluo das rochas carbonatadas (calcrios e dolomias) pela aco das guas metericas est na origem de um modelo particular de relevo, dos quais apenas uma parte visvel superfcie: o carste. Em termos gerais, chama-se morfologia crsica ao modelado prrio das regies cujas rochas so susceptveis de sofrer eroso por dissoluo, porm este modelado apenas tem expresso em macios calcrios que, de facto representam extenses e espessuras com significado nas paisagens regionais. O termo carste usado para descrever terrenos carbonatados caracterizados por uma ausncia ou raridade duma rede hidrogrfica superficial organizada em virtude do seu sistema de fendas, fracturas e diaclases, reduzida cobertura de solo, abundantes depresses fechadas, e um sistema de circulao de guas subterrneas bem desenvolvida. Como consequncia deste processo particular de eroso um dos primeiros aspectos a considerar o carcter pobre da vegetao, dado que practicamente toda a gua se infiltra em profundidade. A rochas est quase sempre a n e a superfcie intensamente retalhada por uma rede mais ou menos densa e profunda de sulcos (alargamento das fendas por dissoluo. No fundo destes sulcos existe habitualmente um depsito argiloso, vermelho terra rossa resultante da acumulao de certos componentes (argila, areia fina e xidos de ferro) geralmente existentes no seio dos calcrios e que ficam, como resduo, aps a dissoluo destes. Estas formas so designadas por lapis e podem apresentar estdios de evoluo avanados em que as fendas iniciais deram origem a corredores de um labirinto escavado na rocha. Os campos de lapis da Pedra Furada, Negrais e Maceira, na regio de Pero Pinheiro (Sintra) so exemplo disto. As dolinas correspondem a pequenas depresses mais ou menos circulares de dimenses habitualmente compreendidas entre a dezena e a centena de metros de dimetro. De paredes rochosas e geralmente abruptas, estas depresses tm o fundo plano e atapetado de terra rossa mais ou menos pedregosa (estas pedras vo sendo dissolvidas e acabam por desaparecer). A 1 classificao considera as dolinas divididas em : dolinas de colapso e dolinas aluviais. No segundo podem distinguir-se
3 tipos: - dolinas em concha - dolinas em ulha - dolinas dissimtricas Quando duas ou mais dolinas prximas, ao alarga-rem-se, acabam por coalescer, constitui-se uma uvala. Nas regies carsificadas, os fundos de terra rossa das dolinas e uvalas constituem praticamente os nicos locais que os habitantes da regio utilizam para instalar algumas culturas. Nos macios calcrios, so frequentes poos naturais, os algares (avens) s vezes muito grandes e profundos (mais de uma centena de metros) que pem a superfcie em contacto com toda uma complexa rede de galerias, grutas, grandes espaos abobados, e outros poos, caractersticos do interior cavernoso dos macios resultante da dissoluo crsica. Os vales secos so formas originadas pela alterao normal a qual de junta que se infiltra nos calcrios. Nos vales com exsurgncias intermitentes a sua evoluo flvio-crsica, nos desttuidos delas, mas de grande declive, a gua que escorre parcialmente a uma infiltrao imediata, trabalha-os mecanicamente, devido elevada inclinao. No tm continuidade, no organizados em rede e frequentemente interrompidos. A gua que episodicamente a circula em superfcie, perde-se em profundidade, ou por um sumidouro nico ou por uma srie complexa de fendas em comunicao como interior do macio. Os vales em canho apresentam vertentes abruptas e o fundo em forma de clice aplanado. Resultam da aco da dissoluo nas vertentes e da eroso fluvial no fundo, j o arco liga o bloco principal ao canho. Os cones crsicos so protuberncias cnicas, arrendodadas localizadas nas linhas divisrias das depresses (dolinas). A altitude destas formas e volume pode variar de alguns metros a vrias centenas. Estas elevaes residuais tm forma de pinculo cortante. Os poljes so extensas plancies crsicas fechadas, rebaixadas no interior dos macios calcrios, de origem complexa, em que, muitas vezes, a tectnica joga um papel importante. Estas depresses de fundo plano geralmente cultivvel, podem atingir alguns quilmetros de extenso e so limitadas por vertentes abruptas. No interior do polje, so frequentes pequenos relevos abruptos isolados e dispersos os hums. Quando na estao pluviosa o nvel das guas subterrneas no macio sobe acima da superfcie do polje este transforma-se num lago temporrio, alimentado lateralmente, ou pelo fundo, atravs de fendas e orifcios vrios, os sumidouros ou ponors. Na estao seca, quando o nvel das guas baixa o polje esvazia-se, pelo menos sumidouros que o haviam alimentado. Assim, nestas regies a maior parte da drenagem interior e atravs da rede de poos e galerias onde se instalam autnticos rios subterrneos, temporrios ou permanentes. Quando estes cursos de gua atingem a periferia do macio calcrio
constituem grandiosas nascentes que so designadas por exsurgncias. O termo ressurgncia emprega-se para referir o reaparecimento de um curso de gua, quea dada altura penetra no macio, onde percorre um certo trajecto subterrneo, at que ressurge. As cavernas podem ser definidas como leito natural e vazio, que se estende vertical e horizontalmente a apresenta um ou mais nveis. A sua formao est ligada com o movimento da gua que dissolve o calcrio. Em oposio ao carcter predominantemente erosivo das guas, tanto superfcie como em profundidade, esto patentes alguns aspectos construtivos representados por depsitos de precipitao qumica ou por acumulaes detrticas. Sempre que as condies fsico-qumicas (por exemplo variaes de presso e de temperatura) proporcionam a precipitao dos carbonatos, assiste-se deposio de capas de calcrio forrando as paredes interiores das galerias e outras cavernas, e edificao de estruturas colunares, s vezes, de grande beleza as estalactites, suspensas do tecto, e as estalagmites, crescendo a partir do solo. No fundo das galerias circulam e acumulam-se depsitos detrticos constitudos, no geral, por terra rossa e por outros materiais resultantes de desmoronamentos interiores, formando escombreiras. As guas saidas das exsurgncias e ressurgncias, ricas de bicarbonato de clcio, podem originar, por precipitao, extensos depsitos calcrios subareos, nomeadamente tufos calcrios e travertinos, bastante desenvolvidos na regio de Condeixa. Em Portugal, nas orlas mesocenozica ocidental (nomeadamente na Estremadura e Beira Litoral) e meridional (no Algarve) abundam os aspectos deste tipo particular de morfologia. O macio calcrio estremenho prdigo em exemplos dos vrios aspectos apresentados. A conhecida Cova da Iria, em Ftima, uma vasta dolina entre muitas existentes na regio. A vasta depresso de Mira-Minde com o seu lago temporrio, um bom exemplo de polje. No faltam as grutas, em quantidade e bem conhecidas dos espelelogos, algumas das quais, como o caso das grutas de Sto. Antnio, so visitveis pelo pblico em geral. Nestas grutas esto patentes, praticamente, todos os aspectos da morfologia subterrnea. Os rios Alviela e Almonda, afluentes da margem direita do Tejo, brotam do mesmo macio em bem demonstrativos exemplos de exsurgncias. Um bom exemplo de ressurgncia -nos dado pela Ribeira dos Amiais, perto da nascente do Alviela. No Algarve calcrio, isto , na regio natural referida por barrocal, existem acidentes de morfologia crsica dignos de referncia. O seu conhecimento no tem sido, contudo, divulgado pela simples razo de que esta zona do Pais no foi alvo de estudos geomorfolgicos especializados. Assim, a par de numerosas grutas e algares, existem outras formas carac-teristicas como campos de lapis, com alguns exemplos espectaculares (Cerro da Cabea, Moncarapacho), sumidouros, dolinas, exsurgncias, muitas delas temporrias, e um
pequeno polje a Nave do Baro cuja abeceira ocupada temporariamente por uma pequena lagoa. . Importncia dos deslizamentos e do processo morfogentico pluvial (escorrncia difusa elementar, rill wash) na evoluo das vertentes. As vertentes constituem o elemento bsico dos relevos de superfcie. uma forma 3D, representando uma superfcie inclinada, no horizontal, modelada pelos processos de denudao actuantes no passado e/ou no presente, que representa a conexo dinmica entre o interflvio e o fundo do vale. Os deslizamentos e o processo morfogentico pluvial so dos processos mais generalizados e importantes na esculturao das vertentes. Os deslizamentos so movimentos bruscos de material slido executados ao longo duma superfcie de ruptura bem definida e geralmente saturada de gua. As rupturas podem ter caractersticas diversas, mas correspondem sempre a nveis de deslizamento ou ruptura impermeveis, constitudos por uma rocha s ou por um horizonte do reglito que possua maior quantidade de elementos finos, siltes ou argilas. Os deslizamentos podem ser rotacionais quando o plano de corte concavo para a parte superior, translacionais quando predominam superfcies de corte planas e laminares. No processo morfogentico pluvial distinguem-se a aco mecnica das gotas de gua e o escoamento pluvial. Devido aco mecnica das gotas de chuva, d-se o arranque e deslocamento das partculas dos solos, sendo depois transportadas num processo de transporte designado de escoamento pluvial, que surge no momento em que a quantidade de gua precipitada maior do que a velocidade de infiltrao. A aco deste processo vai criar condies favorveis para a ocorrncia de deslizamentos. O primeiro impacto erosivo das partculas dos solos devido aco mecnica das gotas de chuva, que levam ao seu arranque e deslocamento. Esta aco exercida pela energia cintica das gotas. O poder erosivo das gotas de chuva depende tambm da natureza e do estado fsico dos materiais que afloram nas vertentes, nomeadamente solos e/ou depsitos superficiais. As caractersticas da cobertura vegetal constituem outro importante factor que condiciona este tipo de eroso. O principal efeito das gotas de chuva consiste na degradao geral dos solos e dos depsitos que revestem as vertentes. Com efeito, o impacto causado pelas gotas de chuva na superfcie (splash), tem como primeira consequncia a destruio dos agregados das formaes superficiais, ou seja, a preparao do material para o transporte a efectuar pelas guas de escorrncia. No escoamento pluvial h que distinguir dois tipos: o escoamento pluvial difuso e o concentrado ou de enxurradas. No difuso as guas escorrem sem hierarquia e fixao dos seus leitos, dispersando-se em mltiplos fios de gua instveis e anastomosados que no inscrevem formas vigorosas e durveis nos terrenos. No segundo tipo as guas concentram-se, fixam o seu leito e adquirem maior
competncia erosiva. Deixando sulcos sensveis na superfcie topogrfica, conhecidos como ravinas. A aco do rill-wash traduz-se no ravinamento das vertentes e consiste na abertura de pequenos entalhes sensivelmente paralelos s linhas de maior declive. Na regio de Lisboa as ranhuras tm profundidades mximas de 30cm e a sua largura raramente excede 10cm. O escoamento concentrado est representado nos barrancos e valeiros actuais de fundo em V, afluentes dos principais cursos de gua, com grande actividade ocasional, na regio de Lisboa (rio Tranco, rio de Lous e ribeiras de Fanhes, Casainhos e de Pinheiro de Loures). O transporte efectuado pelo escoamento pluvial afecta as partculas deslocadas pelo impacto directo das gotas da chuva e as erodidas directamente pelo escoamento, atravs do solapamento das suas margens. A velocidade das guas e a rugosidade da superfcie ocasionam o turbilhonamento, colocando em suspenso as partculas mais finas. Esta categoria de partculas transportada at aos riachos, ou at cessar o escoamento do filete de gua. As partculas mais grosseiras so arrastadas pela corrente, quando o movimento ascencional do turbilhonamento atingir valor elevado. Esse movimento intermitente e o deslocamento dos gros feito por saltao, atravs de saltos constantes que os transportam sempre na direco jusante. O escoamento concentrado caracterstico das vertentes desprovidas de vegetao. Na presena de cobertura vegetal, sobretudo sob a cobertura florestal, o escoamento difuso domina, e as possibilidades de ravinamento so diminutas. . Hidrologia e dinmica das vertentes. A dinmica das vertentes pode ser estudada como um sistema aberto, recebendo e perdendo tanto matria como energia. No conceito do balano morfogentico, alterao e a pedognese correspondem a componentes verticais na vertente e da sua aco combinada resulta um aumento da espessura do reglito. Os restantes processos morfogenticos (movimento do reglito, escoamento, aco elica e outros) correspondem a componentes paralelas, cujo efeito conduz remoo dos materiais detritcos da vertente, diminuio da espessura do reglito e o rebaixamento do modelo. Estes promovem o fluxo de matria e de energia atravs do sistema, at ser transferido para o sistema fluvial. As vertentes apresentam um equilbrio dinmico, que pode atingir o estado de estabilidade, no qual a forma da vertente permanecer imutvel com o decorrer do tempo, embora haja desgaste ou diminuio altimtrica do seu relevo. As vertentes so partes integrantes das bacias hidrogrficas, no podendo a sua descrio ser feita sem que sejam feitas consideraes acerca das suas relaes com a rede hidrogrfica. As vertentes e os rios so entidades pertencentes a um sistema aberto, a bacia de drenagem, e como tal esto contnuamente em interaco. A forma e o ngulo das vertentes devero estar ajustadas para fornecer a quantidade de material detritco que o curso de gua pode transportar. Inversamente, os parmetros hidrulicos dos cursos de gua devero ajustar-se para transportar a quantidade de
material detritco que lhe fornecida pelas vertentes. Quando o sistema vertentecurso de gua estiver em equilbrio, ento toda a bacia hidrogrfica pode ser considerada como em estado de ajustamento. . Morfognese Glaciar. A gnese dos glaciares, os seus movimentos e as suas mudanas de dimenso. Tipos de glaciares. Processos de eroso glaciar. Formas de acumulao e de eroso glaciares (moreias, tills, terraos de obturao glaciria, terraos proglacirios, planaltos glacirios, circos glacirios ( ferrolho glacirio e covo), vales glacirios, blocos errticos, estrias, grooves, artes, horns, drumlins). Caractersticas e localizao do modelo glaciar. A morfognese glaciar em Portugal. O sistema de eroso glaciria refer-se ao conjunto de regies afectadas nos seus aspectos morfolgicos e biolgicos pelos efeitos de um tipo particular de clima, no qual a presena de importantes coberturas de gelo caracterstica fundamental. O gelo ser, portanto, o principal agente de eroso, transporte e sedimentao do meio glaciar, se bem que nas extremidades das massas de gelo, onde se inicia sua ablao, tenham papel importante as guas resultantes da fuso. Estes meios caracterizam-se por se localizarem em regies de latitudes altas ou de elevadas altitudes. A alterao predominante a mecnica, o que faz que os seus sedimentos apresentem uma elevada imaturidade mineralgica. Por outro lado, dadas as caractersticas do transporte, so depsitos de maturidade textural muito baixa. As regies afectadas so as regies polares.Nestas regies existem as maiores extenses permanentemente glaciadas (inlandsis). Na periferia destes continentes e onde o relevo permite, formam-se importantes lnguas de gelo, ou glaciares de vale. Algumas destas lnguas atingem o mar e vo-se fragmentando em massas de gelo, por vezes de grandes dimenses os icebergs. No Quaternrio, o rigor do clima permitiu a formao de glaciares a latitudes menores, hoje desaparecidas, como o caso da Serra da Estrela. A maioria das formas formas de relevo glaciares formou-se abaixo das lnguas de gelo e dos glaciares, pelo que estas formas s foram conhecidas quando as massas de gelo recuaram. Este facto deve-se por um lado, de se localizarem em zonas com determinada inclinao e, por outro, o gelo em contacto com o substrato funde-se, favorecendo o seu deslocamento. A superfcie da lngua glaciria mostra alinhamentos de pedras e outros detritos as moreias , que so designadas segundo a posio que ocupam no glaciar. Junto aos bordos alonga-se a moreia lateral. Quando duas lnguas confluem a lngua resultante passa a ter tambm uma moreia mediana, alinhada a meio do seu alongamento e que resulta da unio de duas moreias laterais, uma de cada margem dos troos montantes. Chama-se moreia interna carga de detritos, geralmente pouco importantes, transportados no seio da massa de gelo, moreia de fundo ao conjunto de blocos e de materiais triturados sob a massa de
glaciar e em contacto com o fundo rochoso do vale e moreia frontal ou moreia terminal aos materiais transportados na frente da lngua glaciria. Os glaciares de crculo, esto localizados nas montanhas cujos cumes ultrapassam um pouco a linha das neves permanentes. Estes glaciares alojam-se muitas vezes nos circulos (partes mais baixas das montanhas rticas ou subrticas, montanhas temperadas e tropicais). O glaciar de circulo possui dimenses reduzidas e caracterizado por apresentar paredes rochosas quase verticais de onde descem as avalanches que o alimentam. Entre a parede rochosa e o gelo que se desloca, o espao chamado de "rimaye". Uma moreia formada por depsitos dos materiais transportados localiza-se na parte da frente do glaciar. Os glaciares de piedmont, formam-se quando vrios glaciares de vale so suficientemente bem alimentados para chegar at base da montanha, onde edificam lobos de piedmont que podem coalescer. Estes glaciares chegam a zonas que podem estar constantemente temperados e da a importncia que tm os fenmenos de fuso que no originam moreias propriamente ditas, mas acumulaes de aluvies em toalhas. dificil generalizar acerca da distribuio dos diferentes tipos de glaciares uma vez que, parte das calotes de gelo, a maioria ocorre sobre uma extensa variedade de latitudes. A ocorrncia dos glaciares determinada no apenas pelo clima mas tambm pela topografia, na medida em que deve existir uma adequada superfcie na qual o gelo se possa acumular. Os glaciares apenas se podem formar em regies onde a neve persiste ano aps ano. A taxa de neve acumulada funo da soma total da precipitao cada sob a forma de neve, e a taxa de fuso, fundamentalmente controlada pela temperatura. A aco erosiva do glaciar e a sua capacidade de transporte dependem do fluxo de gelo, da sua espessura e da natureza litolgica do leito. O glaciar desgasta o leito rochoso pela aco abrasiva, em especial, da moreia de fundo, cujos materiais se vo fragmentando, estriando (estrias e fissuras)e pulverizando (farinha glaciria) medida que vo desgastando, polindo e estriando as rochas do leito (ablao). As salincias rochosas ficam arredondadas (rochas aborregadas) ou so arran-cadas em blocos que passam a constituir material das moreias. Tambm os drumlins so formas erosivas, pequenas colinas em forma de dorso de baleia, pouco erodidas, que podem apresentar algumas variantes. Representa o resultado dum excedente local de carga que o glaciar deposita, enquanto o deslocamento do gelo modela o depsito. Os drumlins no so seno espessamentos locais da moreia de fundo que o glaciar modelou segundo as formas devido sua prpria dinmica. O gelo tambm pode transportar blocos ou fragmentos de rocha que quando se depositam assumem a denominao de blocos errrticos. Sempre que o glaciar desce a altitudes onde a elevao da temperatura conduz sua fuso, a massa de gelo alimenta um curso fluvial que continua a transportar os materiais mais pequenos para os quais tem competncia. Tm, assim, origem os chamados depsitos fluvio-glacirios. O perfil transversal tpico dos vales glacirios em forma de U, o qual comparado
com o perfil em V dos vales fluviais mostra quo diferentes so os dois processos erosivos. Geralmente um glaciar de vale aproveitou uma antiga torrente ou vale fluvial, transformando-lhe a cabeceira em circo glacirio e modificando-lhe o perfil transversal. O perfil longitudinal irregular e geralmente formado por socalcos largos, de fundo deprimido, que se sucedem atravs de troos apertados e de acentuado declive. Aps a fuso do gelo estes vaies do lugar a sucessivos lagos escalonados que comunicam uns com os outros atravs de cascatas ou rpidos. Esta topografia resulta da dinmica prpria da massa de gelo que tende a acentuar os desnveis, aprofundando os troos deprimidos. Quando se d a fuso do gelo, ou porque os vales de montanha atinjam zonas baixas, ou porque houve uma modificao do clima e consequente retraco da calote glaciria, estes recuam para altitudes ou latitudes mais elevadas e deixam como vestgio as moreias, que no so mais do que sedimentos de origem glaciria. O Till representa o conjunto de depsitos efectuados pelo gelo e moreias as formas de relevo por eles produzidas. Enquanto que o nome tilito se usa para os endurecidos. As moreias, tambm designadas por tilitos caracterizam-se pelo carcter heteromtrico e estriado dos detritos, muitas vezes envolvidos por um material de aspecto argiloso (farinha glaciria), que corresponde geralmente pulverizao das rochas sujeitas abraso glaciria e que pouco ou nada tem a ver com os minerais argilosos, no obstante ser frequentemente designado como argila dos tilitos. Na Serra de Estreia so ainda evidentes os traos da morfologia glaciria quaternria (Wurm). Os circos so ntidos, muitos deles postos em evidncia pela toponmia local Coves, Covo Grande, Covo do Urso. Tambm os vales com perfil transversal em U, as rochas polidas, estriadas e aborregadas e, ainda, as pores conservadas das respectivas moreias, pem em evidncia os efeitos das lnguas glacirias que os modelaram. Entre eles merecem destaque o magnfico Vale do Zzere.
GEODINMICA EXTERNA 1 Chamada 18/01/03 1. Qual a importncia do solo na morfognese? 2. Qual a importncia da tectnica na morfognese? 3. Descreva a morfognese litoral. A morfognese litoral em Portugal. (9 VALORES) 4. Qual a importncia da vegetao e do clima na morfognese? 5. Qual o impacto do Homem na morfognese?
2 Chamada 28/01/03 1. Qual a importncia da alterao e eroso nas rochas (gneas, metamrficas e sedimentares)? (3 valores) 2. Morfognese elica. Formas de eroso Morfognese elica em Portugal. (8 valores) 3. Morfognese fluvial. Formas caractersticas). (6 valores) de eroso e acumulao elicas.
depsitos
(tipos
Outros Exames: o Carste. (Formas de relevo, relao com nvel vadoso, variaes eustticas) o Vertentes (Formao, acumulao, deslizamentos, morfognese fluvial, dissimetria, rill wash, hidrologia, dinmica) o Definir consequente, antecedente, subsequente e superimposto o Factores q influenciam a drenagem o Definir Inselberg e Piedmont (exemplos, origem e condies de formao) o Recuo e recesso de uma arriba o Mesas, buttes, picos, cristas, gargantas, falsia o Fazer esquema com micromorfologia das praias o Comente: as plancies de inundao no so influenciadas pelas mudanas climticas.
GEODINMICA EXTERNA
PROGRAMA TERICO Ano Lectivo 2000/2001
I - INTRODUO II - PROCESSOS ENDGENOS 1. - Formas de relevo associadas com a actividade tectnica 2. - Formas de relevo associadas com a actividade gnea 2.1 - Actividade gnea intrusiva e extrusiva 2.2 - Vulcanismo III - PROCESSOS EXGENOS 1. - Alterao, Tipos de Alterao 1.1 - Processos de alterao qumica 1.1.1 - Produtos da alterao qumica 1.1.2 - Factores de controlo da alterao qumica 1.2 - Processos de alterao fsica 1.3. - Litologia e formas de alterao 2 - Vertentes, Processos e Formas 2.1 - Processos morfogenticos 2.1.1 - Alterao 2.1.2 - Movimento de massas 2.1.3 - Aco da gua fluvial 2.1.4 - Aco biolgica 2.2 - Forma das vertentes 2.3 - Anlise da evoluo das vertentes 2.4 - Dinmica e hidrologia das vertentes 2.5 - Importncia do estudo das vertentes 3 - Processos Fluviais 3.1. - Hidrologia da bacia de drenagem
3.2 - Transporte e deposio fluviais 3.3 - Eroso fluvial 4 - Formas de Relevo Fluviais 4.1 - Sistema fluvial 4.2 - Bacia de drenagem 4.2.1 - Tipos de canais fluviais 4.2.2 - Tipos de drenagens 4.2.3 - Tipos de Bacias 4.3 - Formas de relevo deposicionais fluviais 5 - Processos e Formas de Relevo Elicas 5.1 - Actividade elica 5.1.1 - Formas de relevo, sua distribuio global 5.1.2 - Transporte e sedimentao elicas 5.2 - Eroso elica 5.2.1 - Deflao e abraso 5.2.2 - Formas de relevo erosionais 5.3 - Formas de relevo deposicionais 6. - Processos e Formas de Relevo Glaciares 6.1 - Caractersticas glaciares 6.1.1 - Tipos e localizao dos glaciares 6.2 - Processos de eroso glaciar 6.2.1 - Formas de relevo erosionais 6.3 - Formas de relevo deposicionais glaciares 6.3.1 - Formas de relevo deposicionais fluvio/glaciares 7. - Processos e Formas de Relevo Periglaciares 7.1 - O ambiente periglaciar 7.2 - Processos periglaciares 7.3 - Formas de relevo periglaciares 7.3.1 - Formas de relevo relacionadas com movimento de massas 8. - Processos e Formas de Relevo Litorais 8.1 - Nomenclatura do ambiente litoral
8.2 - Factores responsveis pela morfognese litoral 8.3 - Formas de relevo litorais destrutivas 8.4 - Formas de relevo litorais construtivas 9. - Clima, Mudanas Climticas e Desenvolvimento de Formas de Relevo 9.1 - Paleoclimas , mtodos de datao 9.2 - Quaternrio 9.3 - Variaes Eustticas (Eustasia) 10. - Interaco entre Processos Endognicos e Processos Exognicos 10.1 - Taxas de "uplift" 10.1.1 - Mtodos de medida e estimao de "uplift" 10.1.2 - Variaes espaciais e temporais 10.2 - Taxas de denudao fluvial actual 10.3 - Taxas de denudao glaciar 11. - Tectnica e Drenagem 11.1 - Controlo tectnico passivo 11.2 - Captura 11.3 - Tectnica global e Drenagem
I - INTRODUO (Processos Exgenos/Endgenos) As formas da superfcie terrestre, continentais e ocenicas, representam num instante determinado o efeito da interaco, dos processos endgenos e exgenos sobre a superfcie terrestre. Os processos endgenos pertencem ao mbito da geodinmica interna e os exgenos ao mbito da geodinmica externa. Os processos endgenos ou endogenticos originam-se no interior da terra e so geralmente construtivos, na medida em que normalmente conduzem a um incremento da elevao e do relevo. So fundamentalmente trs os processos envolvidos: 1) actividade gnea que consiste no movimento do magma atravs ou at superfcie da terra; 2) orognese (orogenia) que consiste na formao de montanhas, as quais em planta tm formas tipicamente arqueadas ou lineares; 3) e epirognese que consiste geralmente no levantamento de reas enormes da superfcie da terra sem fracturao ou dobramentos significantes. As estruturas extensas e os processos de fracturao e deformao da crosta terrestre, que originam a sua elevao, so descritos no mbito da tectnica. Morfotectnica significa a interaco entre tectnica e a gnese das formas de relevo. Neotectnica refere-se aos processos e aos efeitos da actividade tectnica recente, normalmente do cenozico superior. Os processos exgenos (exogenticos) tendem a reduzir a paisagem terrestre a determinado nvel de base, normalmente o nvel do mar. Aos processos acumulativos de nivelamento das paisagens d-se o nome de degradao. Agradao envolve o rebaixamento de algumas reas, atravs do processo de degradao e o entulhamento de outras mediante agradao. Os processos exgenos incluem a aco da gua, gelo e vento e envolvem fundamentalmente a denudao. A denudao consiste na remoo do material e conduz geralmente a uma reduo da elevao e do relevo. O termo relevo refere-se a uma diferena na altura, distinguindo-se dos termos elevao e altitude que se referem s altitudes medidas acima de um ponto determinado, normalmente o nvel do mar. A nica excepo ao processo da denudao so as deposies de materiais pontuais, efectuadas durante perodos curtos de tempo, que originam dunas de areia, as quais representam acrscimos de relevo. Denudao pode envolver conjuntamente remoo de partculas slidas e material dissolvido. Normalmente a primeira conhecida como eroso ou denudao mecnica e a segunda como denudao qumica. As duas fontes de energia dos processos exgenos, que moldam e originam formas de relevo na superfcie terrestre, so: a radiao solar e a energia potencial que provm da atraco gravitacional da terra, a qual, na ausncia de foras
5 suficientemente resistentes, casa origina, auxiliada pela gua, movimentos de desmoronamento de vertentes que podem ser de gelo, partculas de rocha e solo. Mediante a actuao de diferentes formas, a radiao solar providncia a energia necessria actividade biolgica, evaporao da gua e funcionamento da circulao atmosfrica da terra. A energia para os processos endgenos vem fundamentalmente do calor geotermal, e de pequenas contribuies da energia das mars, geradas pela atraco gravitacional da Lua e Sol e da energia rotacional derivada do movimento de rotao da Terra (fig. 1.13, pg. 23).
II - PROCESSOS ENDGENOS 2. - Formas de relevo associadas com a actividade gnea 2.1 - Actividade gnea intrusiva e extrusiva As rochas magmticas so formadas em profundidade a uma determinada presso e forte temperatura a partir dum magma. Estas rochas so formadas por cristais que podem ser regulares ou irregulares e de dimenses pequenas e mdias. As rochas magmticas diferem entre elas pela presena de um ou de outro mineral de composio caracterstica. O granito contm cerca de 75% de slica um rocha cida, o gabro apenas cerca de 45%, uma rocha bsica; as rochas intermdias apresentam percentagens de slica entre 52% e 66% e as rochas ultrabsicas tm valores de slica abaixo de 45% (fig. 5.1). Quando os magmas atingem a superfcie originam os vulces. Como as rochas intrusivas so muito mais resistentes eroso do que as rochas que as envolvem originam frequentemente superfcie formas de relevo proeminentes. 2.2 - Vulcanismo As rochas vulcnicas originadas pela actividade vulcnica so rochas parcialmente cristalizadas, uma vez que, o arrefecimento em profundidade com formao de cristais interrompido com a sua chegada a camadas mais frias da crosta. So rochas que apresentam dois tempos de cristalizao: um em profundidade e outro superfcie. So constitudas por uma massa de cristais microscpicos em forma de baguete (micrlitos), resultantes de arrefecimento brusco a qual raras vezes se juntam cristais visveis a olho nu (fenocristais). Algumas rochas vulcnicas so apenas "vidros" como as escrias projectadas pelos vulces e as obsidianas que formam escoadas. A composio qumica das rochas vulcnicas semelhante, das rochas magmticas apenas o aspecto difere. Assim um gabro e um basalto tm a mesma composio, mas os relevos que originam so distintos. De um modo geral, a cada composio qumica das rochas vulcnicas corresponde um relevo particular, originado como consequncia dum tipo de erupo particular. Quanto mais cida for a composio do magma mais explosivo e de cores mais claras ser o vulco. Da a analogia feita entre rochas claras e vulcanismo explosivo e entre rochas escuras e vulcanismo calmo (escoadas). As erupes vulcnicas podem ser de trs tipos: exhalative (gs), efusiva (lava) e explosiva (tephra). No entanto todas as erupes
7 vulcnicas envolvem a expulso de algum gs. As formas de relevo maior, esto associadas apenas s erupes da lava ou tephra. Actualmente existem apenas cerca de 600 vulces activos a nvel dos continentes ou expostos no fundo do mar como ilhas. Mas foram individualizados atravs da sua forma, estrutura ou tipo de rochas, vrios milhares de vulces j extintos nos continentes. A nvel submarino o nmero de vulces conhecidos nas bacias do mundo inteiro abafa completamente os vrios milhares de vulces continentais. S no fundo do Oceano Pacfico foram identificados mais de 50 000 vulces. A maior parte da actividade vulcnica actual do planeta submarina e relaciona-se com linhas de placas. A nvel do eixo das dorsais ocenicas as lavas baslticas constroem os fundos dos oceanos. Nas zonas de subduco vulcanismo do tipo andestico. Este vulcanismo representa apenas uma pequena parte do vulcanismo a nvel global, contudo o mais mortfero para o homem. Com efeito, os vulces da cintura de fogo do Pacfico esto emersos, explosivos e por isso perigosos. Na actualidade a concentrao mais elevada de vulces verifica-se no sistema island arc e nas margens continentais orognicas que circundam o Oceano Pacfico. Com efeito cerca de 60% dos vulces activos conhecidos localizam-se ao longo da margem do Oceano Pacfico (1/3 desta concentrao na Indonsia). Fora dos limites de placas, o vulcanismo est associado a pontos quentes e mais raro. As ilhas Reunio ou Hawai so atribudas a vulces, associados a pontos quentes (hot spots) localizados no interior de placas. Estes vulces tm tendncia para ocorrer em grupos ou em linha (fig. 5.3). As erupes vulcnicas envolvem a libertao de enormes quantidades de energia, entre 1012 e 105J (bomba de hidrognio liberta 106J). Erupes excepcionais envolvem contudo maiores quantidades de energia (em 1980 a erupo no Monte Sta Helena libertou o equivalente a 30 bombas de hidrognio). 2.2.1 - Produtos da actividade vulcnica As erupes podem envolver a emisso de fluxos de lava sob a forma lquida ou a emisso violenta no ar de material sob a forma slida, os piroclastos. Tephra designa o conjunto de todo o material vulcnico expelido pelo vulco que ca a partir do ar. 1. Tephra (piroclsticos) so depsitos constitudos por fragmentos de rochas expelidos pelo vulco. Dividem-se em vrios tipos de acordo com a sua dimenso (fig. 3.8): - cinza (ash), de dimenso <2mm e recentemente depositados; - tufo vulcnico, so cinzas compactadas; - lapilli, de dimenso entre 2-64mm;
8 - bomba vulcnica, de dimenso >64mm, mostrando usualmente um certo grau de arredondamento; 2. Ignimbritos so depsitos mal calibrados, gerados por fluxos piroclsticos (blocos, lapilli, cinzas e gases quentes) de grande mobilidade, que cobrem normalmente reas grandes. Os ignimbrites da regio do Lago Toba na Sumatra cobrem uma superfcie de cerca de 25000 km2. 3. Escrias (scoria) so depsitos de lava com aspecto de esponja devido s numerosas cavidades originadas pela sada do gs. Formam-se em relao com as erupes magmticas muito ricas em gs. Este ao libertar-se origina as numerosas vesculas ou cavidades conferindo lava um aspecto de esponja. 4. Pedra pomes (pomice), tipo particular de escoria na qual as cavidades ou vesculas so muito abundantes. 5. Escoadas das lavas so constitudas por lava lquida que, a partir dum ponto de emisso, desce ao longo das encostas pela aco da gravidade. Ao arrefecer, a lava diminui a sua velocidade para apenas alguns metros/hora, aumenta a sua largura para centenas de metros, terminando por se imobilizar. Existem vrios tipos morfolgicos de escoadas de lava segundo a sua composio, viscosidade e contedo em gs. Pahoehoe (ilhas Hawaii) tipo de escoada formada por lavas inicialmente de viscosidade baixa, mas que ao iniciarem o seu deslocamento comeam a perder gs transformando-se em lavas muito mais viscosas. A superfcie superior destas escoadas de lava tem um aspecto rugoso originado pela solidificao da lava que ao deslocar-se sobre uma epiderme fina e ainda elstica, se enruga. O aspecto final semelhante ao da pele de um elefante. L'as constitudo por um caos de lava escoriada, semelhante a um campo de escrias, cuja superfcie superior apresenta irregularidades que podem ser de apenas alguns decmetros a muitas vezes alguns metros de altura. Normalmente estas escoadas encontram-se separadas, as escoadas ligadas so raras; e na maioria dos casos representam o resultado da eroso sobre as irregularidades primitivas da superfcie. 6. Produtos vulcnicos associados com a gua so representados pelos geysers e lahar. Os geysers so erupes de gua superaquecida. Formam-se como consequncia da gua que os magmas contm, cerca de 4% por peso, sendo este tipo de actividade hidrotermal caracterstica de estdios tardios do vulcanismo. As solues hidrotermais, podem conter
9 elevadas concentraes de material dissolvido, especialmente slica e carbonato de clcio, que com o arrefecimento originam um precipitado conhecido como sinter. Lahar, so depsitos constitudos por restos vulcnicos misturados com gua, originados por fluxos de mud muito rpidos.
2.2.2 - Formas de relevo vulcnicas 1. Cone vulcnico simples constitudo pela acumulao de materiais expelidos a curta distncia pela chamin vulcnica. Os materiais expelidos pela cratera so geralmente projectados at ao seu limite exterior, descendo por gravidade ao longo dos seus flancos. A inclinao destes correspondendo por isso inclinao de um talude de equilbrio de gravidade (35%). No topo dos cones existe uma cratera, originada devido ao sopro da projeco. O tipo de vertentes comuns dos cones vulcnicos so os taludes de gravidade, as vertentes de paredes verticais menos comuns. Existem cones de cinzas e cones piroclsticos. Os cones vulcnicos resultam duma erupo curta, apenas alguns dias ou quanto muito alguns meses, como vimos no exemplo do vulco Paricutin que surgiu em 1943. 2. Domas, so relevos em forma de doma, constitudos por conglomerados de diversos tipos originados por vulces explosivos nas suas vertentes. 3. Escrias, depsitos que originam relevos de menor importncia do que os originados pelos cones. Estes relevos traduzem-se em pequenas salincias localizadas na superfcie de relevos pr-existentes. 4. Caldeiras, so depresses de forma mais ou menos circular e de vrios quilmetros de dimetro. Formam-se quando aps a erupo se d o colapso parcial da cmara magmtica. 2.3 - Formas de relevo associadas com a actividade gnea (fig. 5.15, 5.16, 5.17 e 5.19) 1. Filo, molde interno duma rocha de espessura reduzida que se elevou a partir de uma certa profundidade e se introduziu entre outras rochas. 2. Batlitos, so intruses discordantes, cuja dimenso aumenta em profundidade mas que no afloram superfcie com valores inferiores a 100km2. Alguns batlitos excedem 1000km de comprimento e 250km de largura (Coast Range Batholith of British Columbia). Se
10 aflorarem com valores inferiores a 100km2 denominam-se por stocks. A sua exposio superfcie consequncia da eroso de mais de mil metros de espessuras de rochas que originalmente os cobriam. 3. Laclitos, so intruses concordantes de forma lenticular, que ao introduzirem-se nos estratos, deformam-nos originando formas em anticlinal. 4. Loplitos, so intruses tabulares concordantes e deprimidas no centro, o que lhe confere um aspecto de colher. Normalmente as rochas que os constituem diferenciaram-se em capas alternantes de minerais claros e escuros, conferindo-lhes um aspecto em bandas semelhante ao aspecto das rochas sedimentares. 5. Diques, so intruses tabulares discordantes cujo comprimento pode alcanar vrios quilmetros (6-8km). So originados pela penetrao do magma atravs de fracturas que cortam as rochas encaixantes. Sua espessura varia entre centmetros e metros (1-20m). Quando a cmara magmtica apresenta uma srie concentrada de diques dispostos de forma radial e curva para o topo, denomina-se cone sheets. 6. Sill, so intruses tabulares concordantes de rochas cuja espessura oscila entre menos de 1cm at vrios metros. Segundo a posio estrutural das camadas onde se introduziram, podem estar inclinados, horizontais ou verticais.
2.4 - Formas de relevo vulcnicas erosivas Uma vez originadas as formas de relevo vulcnicas , a eroso inicia o seu trabalho para as destruir. Aproveitando as diferenas de resistncia entre os diferentes tipos de materiais, lavas so duras, as cinzas, as escrias e as rochas vulcnicas e no vulcnicas que as acompanham relativamente mais fracas, a eroso faz o seu trabalho diferencial. As cinzas so as mais sensveis eroso. Em presena da gua das chuvas saturam-se rapidamente e como se tornam impermeveis, so rapidamente levadas pelos fluxos. As escrias, apesar de resistirem um pouco mais, como so mveis ficam sujeitas ao arraste; deste modo os declives das encostas dos cones vulcnicos constitudas por escrias, diminuem rapidamente passando de valores de 35% para 25%. Durante o Quaternrio, que durou cerca de 2 milhes de anos, estes relevos foram quase completamente destrudos. A lava e a rocha vulcnica como so mais resistentes alteram-se menos e como a sua estrutura apresenta um diaclasamento prismtico a eroso decompem-a com a forma de
11 tubos de orgos. As escoadas vm desaparecer primeiro as irregularidades da sua superfcie por estilhamento, uso e posterior formao dum solo. As escoadas mais rugosas com o decorrer do tempo, acabam por se unir e se o clima o permitir tornam-se cultivveis. No inicio as lavas so sempre permeveis mas com o preenchimento das fissuras por restos, tornam-se bastante impermeveis. No final a eroso acaba por originar a inverso do relevo vulcnico (fig. 43). Inicialmente a escoada como liquida segue a linha de maior inclinao obedecendo s leis da gravidade. Como tende a ocupar os fundos dos vales, pode levar ao enchimento dos vales afluentes do vale onde se instalou originando lagos de barragem vulcnica. Em pouco tempo as escoadas lvicas estaro em relevo, uma vez que couraaram o terreno sobre o qual se depositaram. A eroso trabalhar mais facilmente as rochas no vulcnicas do que as escoadas de lavas. Assim, a escoada que ocupava os pontos baixos, torna-se a parte alta da regio. Encontra-se fragmentada em planaltos isolados denominadas por mesas.
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Ciclo Hidrolgico A aco da gua fundamentalmente no mbito dos processos exgenos, motivo pelo qual o seu ciclo deve ser bem conhecido. O ciclo da gua familiar: chuva, escorrimento, infiltrao, cursos de gua, acumulao em lagos e mares, evaporao e nova precipitao. O ciclo hidrolgico pode ser concebido como um sistema de armazns entre os quais, a gua transferida. Adicionalmente s transferncias de gua entre os principais armazns, existem os movimentos no seu interior (isto , transferncias entre subarmazns). Os oceanos e mares representam sem margem para dvida o maior armazm (cerca de 97% da gua do globo salgada), as calotes (particularmente a Antrctida) e os glaciares polares constituem o segundo armazm representando um valioso contributo em gua doce (cerca de 1.81%), finalmente as guas continentais representam o terceiro grande armazm. O vapor de gua atmosfrico corresponde apenas a algumas partes por milho da hidrosfera, no entanto constitu a fonte de toda a vida continental e o motor do ciclo da gua (fig. 1.14). Estima-se que aproximadamente 517x103 Km3 de gua seja anualmente evaporada e completamente reprecipitada sobre o globo. Grosso modo, seria o equivalente a uma camada de gua de 1m de espessura, que cobrisse inteiramente a superfcie da terra. A gua transferida para a atmosfera como vapor atravs da evaporao dos oceanos e a partir dos continentes mediante a combinao da evaporao e transpirao (evapotranspirao). Retoma superfcie no estado lquido ou slido atravs das diferentes formas de precipitao. A maior parte da precipitao infiltra-se no solo e nos aquferos antes de retornar aos oceanos. Parte da gua que se infiltrou nos solos evapora-se. Os horizontes superficiais no esto geralmente saturados em gua, uma vez que as razes dos vegetais no toleram estar encharcadas. Neste horizonte, dito no saturado, ou vadoso ou de aereao a gua permanece ligada s partculas do solo com uma energia muito grande, sendo necessrio exercer uma presso enorme para extrair algumas gotas de gua. Num solo fino com cerca de 5 a 10% de gua a presso necessria ser de cerca de 10 atmosferas. Abaixo deste horizonte, cuja importncia fundamentalmente para a gesto agronmica, atinge-se geralmente uma zona denominada encharcada ou saturada ou fretica, onde a gua preenche todos os espaos. A superfcie desta zona conhecida como piezomtrica est presso atmosfrica nas reas de infiltrao. A presena de ar e de vapor de gua nos poros do solo induz a um fenmeno particular de reteno de gua volta das partculas do
13 solo. Cada um pode observar que a abertura duma vala ou de um poo permite atravessar uma zona onde nenhum escoamento ou exsudao so visveis. O estudo das guas engloba a estimativa global do clculo das suas reservas potenciais e a medida dos dbitos dos principais cursos de gua, em particular no momento das cheias. A preciso do clculo das reservas potenciais de gua depende da preciso das medidas dos clculos das precipitaes e a representatividade das mdias calculadas depender da extenso das sries de medidas. Posteriormente as mdias serviro de base ao estabelecimento das normas de gesto e possibilidades de utilizao da gua. Estima-se normalmente que, num clima temperado, uma srie de registos contnuos de 25 anos, dar uma boa apreciao da mdia secular. O desenvolvimento e a gesto das redes pluviomtricas constituem uma das operaes primordiais elaborao de todos os planos directores de desenvolvimento de uma regio. Os valores dos dbitos dos principais cursos de gua so referenciados unidade de superfcie da bacia da encosta, cujos limites so as linhas de partilha das guas. Deste modo podem calcular-se as lminas de gua escoadas (E) por unidade de tempo, directamente comparveis alturas de precipitao (P) cadas durante o mesmo perodo. A diferena, P-E, representa o dfice de escoamento. Este corresponde quantidade de gua que restituda atmosfera por evaporao a partir das superfcies de gua livre ou por evapotranspirao apartir de um tapete vegetal. A gua que se infiltra nos aquferos vai aumentar o caudal das guas subterrneas que representam 99% do total das guas continentais. Rios, ribeiros e lagos teriam uma existncia efmera se as guas subterrneas no viessem alimentar os seus dbitos e nveis, fora dos perodos das chuvas. As guas representam pois um capital extremamente precioso que importa conhecer bem para poder gerir melhor. Entre as toalhas de gua subterrnea, distinguem-se as toalhas livres cuja superfcie permanece presso atmosfrica e as toalhas cativas que so de certa forma condutas hidrulicas foradas, entre terrenos impermeveis. As toalhas cativas podem, aps serem perfuradas, originar poos artesianos. A gua de poos deste gnero pode frequentemente "jorrar" a mais de 30 ou 40 metros abaixo do solo em determinados sectores da frica do Norte, por exemplo. Os clculos efectuados a nvel das guas subterrneas mostram que a sua velocidade reduzida: de apenas alguns decmetros por ano nas toalhas cativas profundas. Nas regies de fortes inclinaes atingem-se valores mximos de velocidade de alguns metros por dia. Estes parmetros provem da execuo de ensaios de bombagem, feitos em furos. Nestes ensaios so medidas as velocidades de descida e subida do nvel da toalha.
14 Actualmente o estudo das guas subterrneas conduzido em trs direces fundamentais: 1) estudo das suas caractersticas hidrulicas; 2) modelizao dos seus aquferos e 3) identificao qumica e isotpica. As caractersticas hidrulicas dizem respeito ao aqufero (gua + matriz porosa) so consttuidos pela permeabilidade e porosidade. A permeabilidade, a aptido do terreno para se deixar atravessar pela gua sob o efeito da sua prpria presso. A porosidade eficaz, consttuida pela parte do espao entre os gros onde a gua pode circular e calcula-se a partir de amostras recolhidas no terreno. A modelizao do aqufero pratica-se comparando o comportamento da gua ao de uma corrente elctrica atravs de resistncias e capacidades ou matematicamente simulando situaes diferentes at que as combinaes dos parmetros adoptados produzam os resultados das medies (na prtica as variaes da superfcie piezomtrica). A identificao qumica e isotpica das guas subterrneas permitem ligar a sua histria e a sua origem aos seus contedos em determinados ies e em istopos. O aumento da relao dos ies magnsio/clcio considerado na maioria dos casos directamente ligado ao comprimento do percurso subterrneo seguido pela gua. Do mesmo modo, as guas com maior percurso nas regies de componente argilosa perdem clcio e enriquecem em potssio. Os istopos procurados nas guas subterrneas so em primeiro lugar os que entram na sua composio, isto , os istopos raros de oxignio (18O) e de hidrognio (2H, 3H). O oxignio (18O) e o deutrium (hidrognio pesado) (2H) so istopos estveis. Eles permitem conhecer a origem das guas, reflectindo em particular as condies climticas (trmicas) no momento da sua infiltrao. Por outro lado o Tritium (3H), istopo radiactivo de hidrognio de perodo vizinho de 12,4 anos, permite estimar os tempos de permanncia das guas subterrneas recentes e em particular daquelas que se infiltraram aps o nicio dos ensaios termonucleares na atmosfera (1952). Estes ensaios produziram um enriquecimento considervel das precipitaes em Tritium a nvel de toda a superfcie terrestre (durante um mesmo intervalo de tempo=perodo). O carbono 14(14C) um istopo radiactivo do carbono originado na atmosfera pela irradiao csmica, tambm utilizado na identificao isotpica da gua. Passa para as guas subterrneas atravs das plantas verdes que o absorvem a partir da atmosfera. Posteriormente as guas libertam uma parte nos solos e outra nas guas. Com um perodo radiactivo de 5 730 anos, o carbono 14 adapta-se bem ao estudo de ciclos subterrneos longos e individualizao de guas seculares e milenares. Actualmente Institutos e Organismos especializados na pesquisa de gua tendem cada vez mais para estudar as guas subterrneas atravs do maior nmero possvel de mtodos independentes, a fim de precisar as suas condies de circulao e renovao. Com efeito, numa poca onde as guas de superfcie se tornam por vezes vulnerveis a uma multitude de agresses poluentes, o recurso s guas subterrneas constitu uma garantia
15 de qualidade suplementar por um tratamento minmo. Frequentemente a utilizao da gua subterrnea como complemento da gua potvel, representa um critrio de desenvolvimento. Nas regies ridas, onde as guas de superfcie so quer efmeras quer salgadas, as guas subterrneas representam o nico suporte possvel de vida.
1. - Alterao, Tipos de Alterao O material transportado pelos rios, glaciares e vento para o mar, experimenta alguns graus de alterao qumica ou fsica antes de comear a ser denudado ou erodido. A alterao representa o processo mais apropriado para observar o inicio da actuao e os efeitos dos processos exognicos geomrficos sobre a superfcie terrestre. Os geomorfologistas interessam-se pelos graus de intensidade diferentes com que os vrios processos de alterao operam em funo das condies ambientais e tambm pela natureza do material alterado por eles produzido. Uma ateno muito especial vai para a forma como a alterao origina formas de relevo especficas. Em contrapartida o interesse dos pedologistas na alterao reside na forma como a alterao origina solos com diferentes caractersticas, no abandono e no movimento dos nutrientes. TIPOS DE ALTERAO A alterao divide-se em alterao qumica, quando os seus processos envolvem reaces qumicas e formao de novos minerais, e em alterao fsica quando os seus processos envolvem apenas mudanas fsicas. A alterao pode definir-se como um reajuste das propriedades qumicas, mineralgicas e fsicas das rochas como resposta s condies ambientais presentes superfcie terrestre. Para algumas rochas gneas e metamrficas, formadas a grandes profundidades e elevadas temperaturas e presses, o reajuste pode involver a transformao completa dos seus constituintes mineralgicos. A alterao manifesta-se atravs de complexas interaces entre a litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera originando produtos alterados, produtos em soluo e novos compostos minerais. A alterao fsica leva fragmentao das rochas originais em partculas de menores dimenses. A maior parte do material produzido pela alterao transportado pelos rios para o oceano, no entanto algum material dissolvido pode, posteriormente, ser reprecipitado ou reincorporado noutros minerais. A gua representa um papel fundamental em todos os mecanismos de alterao qumica e tambm em menor percentagem na alterao fsica. A sua importncia deve-se ao facto de ser um solvente polar e ao seu estado ionizado. Uma parte das molculas de gua sempre
16 decomposta em ies de hidrognio (H+) e ies de hidroxilum (OH-) (estado conhecido como dissociao). A concentrao de ies de H+ conhecida e expressa como pH. O pH defenido como um logartmo negativo de base 10 da concentrao em gramas por litro de H+. temperatura normal de 25C, existem 10-7g/l de H+ na gua pura, originando valores neutros de pH iguais a 7. Baixos valores de pH indicam acidez (elevada concentrao de ies H+) e elevados valores representam alcalinidade (baixas concentraes de ies H+). Este facto importante ser considerado, na medida em que uma mudana de uma unidade no pH, representa uma mudana dcupla na concentrao dos ies de hidrognio. A gua pode entrar no solo e na rocha atravs dos poros interconectados existentes entre as partculas, simplesmente sob a aco da fora da gravidade. Mas a gravidade no representa o nico factor de controlo da distribuio e do movimento da gua nas rochas e solo. Com efeito o mecanismo mais importante no controlo dos movimentos de mistura horizontais e verticais da gua na direco da superfcie, a suco capilar. Esta afecta as pelculas de gua aderentes s partculas do solo e das rochas. A suco capilar e a fora da gravidade influenciam, em conjunto, o movimento e a distribuio da gua no solo e nas rochas e da interaco destes dois factores resultam quatro zonas de mistura (fig. 6.1). Abaixo do nvel fretico, os poros das rochas e do solo esto saturados, o movimento controlado pela gravidade, estando a zona submetida presso hidrostctica (presso exercida pelo peso da gua que est por cima). Acima desta zona, a suco capilar desempenha um controlo adicional. Uma zona de saturao capilar imediatamente acima do nvel de base e outra de mistura contnua de pelculas de gua formando um sistema interconectado de pelculas capilares. Estas duas zonas caracterizadas por misturas de pelculas contnuas so normalmente referidas colectivamente como franja capilar, dependendo a sua profundidade da dimenso dos poros. Em materiais constitudos por partculas da dimenso granulomtrica das areias esta profundidade apenas de poucos milmetros, mas em materiais de dimenso granulomtrica das argilas, nos quais os poros so de 1m ou menos, pode ser de dez metros. 1.1 - Processos de alterao qumica A - Soluo (ou dissoluo), um processo simples de alterao qumica mediante o qual, sob a aco da gua como solvente, os minerais podem ser decompostos (dissolvidos). A dissoluo do quartzo (forma cristalina da slica) um exemplo:
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Hidratao a capacidade que alguns minerais tm para absorver a gua na sua estrutura cristalina atravs de uma reaco reversvel. Esta reaco pode ser ilustrada pela hidratao do xido de ferro: 2Fe2O3 + 3H2O 2Fe2O3 . 3H2O
A hidratao uma reaco importante a nvel da alterao qumica, uma vez que, mediante a introduo de molculas de gua em profundidade nas estruturas cristalinas, ajuda a outros processos qumicos. Hidrlise representa a reaco directa da gua com outros compostos minerais. Este processo envolve a substituio, numa soluo mineral, de caties metlicos (os mais comuns K+, Na+, Ca2+ e Mg2+), por ies H+, e a combinao dos caties substitudos com os ies hidroxilum (OH-). O efeito deste processo pode ser ilustrado pela coliso dos diferentes minerais na gua pura. A reaco qumica, na qual os ies H+ ou OH- da gua substituem os ies do mineral, denominada de hidrlise. A reaco bsica da hidrlise pode ser ilustrada pela alterao da albite (feldspato plagioclasico rico em sdio) em caolinite: 4Na AlSi3O8 + 6H2O albite gua Al4Si4O10(OH)8 + 8SiO2 + 4Na+ + 4OHcaolinite slica ies dissolvidos de sodio e hidroxilum
Notar que alguns Si so retidos na caolinite e que sdio removido em soluo. B - Carbonao. O io bicarbonato (HCo3-) encontra-se quase sempre presente nas solues provenientes da alterao e representa na maioria das superfcies de gua o anio mais abundante. Forma-se a partir da dissoluo e dissociao do dixido de carbono na gua, mediante uma reaco reversvel: H2O + CO2 H2Co3 H+ + HCo3cido io bicarbonato carbnico O dixido de carbono fixado a partir da atmosfera pela fotossntese das plantas entrando no sistema de alterao atravs das razes das plantas e da decomposio dos seus restos pelas bactrias. O dixido de carbono consequentemente abundante na atmosfera e
18 nos solos, especialmente naqueles que so caracterizados por elevadas percentagens de actividade orgnica. Neste tipo de solos a sua percentagem atinge os 10%, contrastando com os 0.035% da atmosfera livre. A dissoluo do dixido de carbono dos precipitados origina uma fonte adicional de ies bicarbonato. A Carbonatao tem um papel importante sobretudo na alterao das rochas carbonatadas, uma vez que elas contm normalmente percentagens elevadas de carbonato de clcio. Este tipo de alterao qumica envolve reaces complexas e reversveis do dixido de carbono do solo ou da atmosfera com o cido carbnico das guas naturais (fig. 6.6). Na alterao da calcite, metade do bicarbonato deriva da prpria calcite: CaCo3 + H2O Ca2+ + 2HCo3-
Os factores que controlam a eficcia da soluo carbonatada so complexos mas a temperatura desempenha um papel importante (fig. 6.7). Enquanto a intensidade da reaco qumica entre o cido carbnico e a calcite aumenta, com a temperatura, tal como era de esperar, o equilibrio de solubilidade do dixido de carbono diminui (a 20C apenas metade do que 0C). Isto leva a que possam ser atingidas elevadas concentraes de cido carbnico em regies quentes, mesmo que a percentagem de produo de dixido de carbono pela actividade orgnica em tais ambientes seja relativamente baixa. A mistura de guas saturadas com diferentes equilbrios de solubilidade pode tambm originar alguma decomposio da calcite (Fig. 6.8). A concentrao dos CaCo3 dissolvidos nas superfcies de gua varia consideravelmente. As guas tropicais encontram-se frequentemente supersaturadas em relao aos nveis de pH predominantes e s concentraes de equilbrio do dixido de carbono dissolvido. Isto sugere que a soluo do carbonato em tais regies pode ser controlada por outros componentes para alm do cido carbnico, desempenhando os cidos orgnicos um papel fundamental. C - Oxidao e Reduo. O Ferro normalmente o principal constituinte da maioria das rochas mais comuns - quer formando minerais, quer includo na rede cristalina de outros (biotite, augite e horneblenda). Mas para alm do ferro, o titnio, mangans e o sulfureto podem tambm ser oxidados, originando xidos e hidrxidos (4Fe2+ + 3O2 2Fe2O3) . A tendncia para a oxidao ou reduo indicada pelo potencial redox (Eh) do ambiente, este, medido em unidades de millivolts (mv); valores positivos registam um potencial de oxidao e valores negativos um potencial de reduo. Na maioria das superfcies de gua o oxignio encontra-se dissolvido em abundncia e portanto o Eh predominantemente positivo nos ambientes de alterao. A oxidao ocorre espontaneamente, ainda que no
19 necessariamente rpida. O Eh varia tambm com o pH (fig. 6.9). Quando um qualquer destes minerais qumicamente alterado, o ferro liberatdo sendo rapidamente oxidado passando de Fe2+ a Fe3+, se o oxignio estiver presente. Tipicamente o resultado o crescimento dum mineral amarelado a goetite, atravs da combinao da oxidao e hidratao ( incorporao da gua na estrutura cristalina). Posteriormente a goetite pode ser desidratada (significa perder gua) para dar hematite, um mineral vermelho. A intensidade destas cores nas rochas alteradas e nos solos, fornece indces ao conhecimento da durao, intensidade e incios de alterao. 1.2 - Produtos da alterao qumica A - Reglito Os processos de alterao qumica em conjunto com a alterao mecnica, produzem um manto de alterao ou reglito, o qual se diferencia em horizontes identificveis, constiuindo um perfil de alterao. A espessura do manto de alterao, num ponto determinado, representa o balano entre a percentagem da rocha alterada e a percentagem de material alterado removido pelos agentes de desnudao (fig. 6.10). As profundidades de alterao podem exceder 100m e atingir, excepcionalmente 300m ou mais. Os mantos de alterao espessos formam-se apenas em regies onde o relevo local minmo e onde as percentagens de eroso foram durante perodos longos reduzidas. Elevadas percentagens de alterao s constituem pr-requisitos para a formao de perfis de alterao espessos quando a percentagem de remoo do material alterado for suficientemente baixa. Esta observao suportada pelo exemplo da plataforma russa. A ausncia generalizada de mantos de alterao profundos em muitas regies de relevo baixo e de latitudes mdias de hemisfrio norte pode provavelmente ser atribuda aos efeitos de desgaste produzidos pelos avanos repetidos dos glaciares do Pleistocnico. Nos trpicos hmidos, com temperaturas elevadas e precipitao abundante, o potencial de alterao qumica grande sendo por isso de esperar perfis de alterao espessos. Contudo, como o manto de alterao se desenvolveu a profundidades de muitos metros, a velocidade do movimento da gua diminui na frente de alterao levando a que o grau de alterao qumica seja mnimo nesta rea. Este efeito claramente evidente nas concentraes baixissmas e tpicas dos solutos dos fluxos drenados por lixiviao a profundidades elevadas nos perfis de alterao, de regies tropicais de humidade reduzida. O caso dos taludes das montanhas de regies tropicais hmidas, contudo substancialmente diferente aqui elevadas taxas de eroso conduzem a uma rpida remoo do material alterado, levando a que mantos de alterao profundos possam no chegar a desenvolver-se. Com efeito, se o actual grau de alterao elevado resultar da proximidade da
20 frente de alterao (interface entre o material alterado e a rocha no alterada) superfcie e do movimento rpido do solo associado com gua atravs do talude, o manto de alterao profundo no se origina. necessrio distinguir com cuidado entre taxas de alterao ligadas a parmetros climticos, e taxas de alterao actuais ligadas s condies das frentes de alterao. B - Formao de minerais secundrios Os tipos e as percentagens dos vrios minerais nos perfis de alterao so usualmente diferentes dos das rochas que os originaram. Alguns minerais parecem sobreviver mais ou menos inalterados, mesmo depois de terem sido objecto de alterao prolongada, enquanto que outros se decompem rapidamente. Um estudo clssico de S. S. Goldich (1938) mostra uma variao consistente na estabilidade dos ambientes de alterao, dos minerais silicatados mais comuns que ocorrem nas rochas metamrficas e gneas (fig. 6.12). A mineralogia do reglito, para alm do quartzo que pode ser o ltimo mineral a sobreviver aps prolongada alterao na maioria dos ambientes, inclu a presena duma lista de minerais secundrios (quadro 6.3). Estes formam-se pela decomposio dos minerais primrios e pela incorporao de constituintes dissolvidos em novas formas minerais, dos quais os mais importantes so os minerais argilosos (quadro 6.3). Outros minerais secundrios formados durante a alterao so os compostos de xidos e hidrxidos de ferro e alumnio e menos significantes o xido de titnio, bem como amorfos ou slica cristalina. Os minerais argilosos originados durante a alterao dependem da composio da gua de circulao dos poros (especialmente da concentrao de slica dissolvida e da tpica concentrao de caties), mineralogia da rocha, intensidade da lixiviao e das condies iniciais Eh-pH. A caolinite origina-se em ambientes caracterizados por intensa lixiviao. Condies extremas de lixiviao podem mesmo conduzir a uma remoo significante do ferro e da slica e ao aparecimento de um resduo rico em alumnio para formar o mineral de gibbsite. Nas reas onde a lixiviao apenas de intensidade moderada, os caties libertados durante a alterao podem mover-se atravs do manto de alterao originando minerais argilosos como a illite e a esmectite. 1.3 - Factores de controlo da alterao qumica Existem fundamentalmente cinco factores que controlam o tipo e desenvolvimento da alterao do solo: clima, material inicial, topografia, actividade orgnica e tempo. Os factores que controlam a alterao qumica e evidentemente a alterao no seu todo podem ser encarados da mesma maneira. A Fig. 6.16 ilustra de que maneira os quatro factores ambientais influenciam as reaces termodinmicas e dinmicas da alterao, indicando as
21 condies requeridas para obteno de mximos de alterao. Estes factores operam nitidamente a diferentes escalas. Aparte dos ambientes "montane", onde os gradientes climatricos so tipicamente "rgidos", o efeito das diferenas climatricas na alterao tende a ser mais aparente a nvel continental e escala global. Vrias tentativas tm sido feitas para produzir mapas mundiais indicando a distribuio dos diferentes produtos de alterao (fig. 6.17). Existem boas correlaes entre as principais regies climticas e as zonas fundamentais de alterao, a correspondncia comea a piorar nas reas montanhosas onde os factores topogrficos comeam a ser predominantes, especialmente quando a profundidade de alterao considerada; ainda que a fairly relao sistemtica com o clima e a vegetao evidente como uma consequncia da variao da precipitao e temperatura (fig. 6.18); isto aplica-se apenas na ausncia de um relevo importante. A temperatura representa um factor importante nas taxas de alterao qumica, com um efeito directo na velocidade das reaces qumicas e indirecto atravs da influncia nas taxas da actividade orgnica por isso a produo de dixido de carbono no solo e de cidos orgnicos, ambos componentes crticos da alterao qumica. Quando as temperaturas so elevadas e a precipitao abundante as taxas de alterao esperadas so potencialmente elevadas. A intensidade da lixiviao e mesmo a mineralogia dos depsitos alterados, largamente funo da temperatura, precipitao e drenagem. Como a mineralogia dos reglitos influenciada pela mineralogia da rocha, os efeitos das variaes de precipitao so mais evidentes na presena de abundante caolinite, gibbsite, ferro e hidrxidos de alumnio, como mostra a correlao positiva com a precipitao anual fundamental (fig. 6.19). A vegetao influncia a alterao atravs da relao dos cidos orgnicos e do suplemento de dixido de carbono fornecido pelas guas dos solos. importante considerar a presena conjunta destes factores na produo do litter. Existe uma variao enorme no apenas entre ecosistemas de desertos e florestas mas tambm entre ecosistemas de florestas temperadas, que apresentam uma distribuio tpica de 0.1-0.3 x 106Kg Km-2 a-1 e de florestas com chuvas tropicais as quais produzem 0.4-1.3 x 106Kg Km-2 a-1. A actividade orgnica est estreitamente relacionada com o controlo climtico, mas o tipo de vegetao varia tambm escala local com os factores topogrficos e propriedades do solo. A topografia tambm influncia a alterao na medida em que influncia o movimento da gua atravs do reglito. As taxas de alterao e a intensidade da lixiviao dependem criticamente do total de gua (throughput) e este comparavelmente mais elevado nos escarpados, (taludes) bem drenados do que nos terrenos planos com fraca drenagem. Se a drenagem no reglito for eficiente e se processar durante muito tempo, pouca gua permanecer e como consequncia as suas taxas de alterao sero reduzidas.
22 Finalmente o factor tempo importante devido ao facto da maioria das reaces qumicas verificadas superfcie da terra se processarem a velocidades reduzidas. Existe sempre um lapso de tempo significativo entre o estabelecimento dum conjunto particular de condies nos ambientes de alterao e o ajuste das propriedades mineralgicas e fsicas do reglito a essas condies. Consequentemente, os perfis de alterao raramente esto em total equilibrio com as condies ambientais, na maioria dos casos o ajuste dos mantos de alterao to long-term average conditions rather than to conditions at a specific-time. 1.2 - Alterao Fsica A alterao fsica est associada a dois tipos de processos: os que envolvem algum tipo de mudanas de volume da rocha propriamente dita e os que se relacionam com mudanas de volume a nvel dos materiais introduzidos nos poros e fissuras da rocha. A - Mudanas de volume a nvel das rochas As rochas intrusivas como o granito, formadas a profundidades ou localizadas abaixo de espessuras considerveis de material experimentam um stress interno considervel devido s enormes presses do peso do material. Quando os estratos que as cobrem so gradualmente removidos mais de mil metros de espessura, pela eroso, as rochas atingem a superfcie. Como consequncia a presso diminui e as rochas sofrem uma expanso ou dilatao (pressure release) a qual promove o aparecimento de juntas. Juntas so fracturas na rocha ao longo das quais no se observam ocorrncia de movimentos. Geralmente as juntas desaparecem abaixo de profundidades de cerca de 50m, quando a espessura e a presso das rochas de cobertura se torna elevada para que as elas se formem. As juntas raramente ocorrem isoladas, o normal que ocorram formando um campo de juntas paralelas. A intercesso das juntas desempenha papel fundamental no modo como a rocha parte. Uma vez formadas, as juntas, representam as passagens pelas quais a gua da chuva se infiltra na rocha, promovendo tanto a alterao fsica como a qumica. As juntas so fracturas pouco espassadas, desenvolvendo-se de um modo que do a aparncia rocha de um baralho de cartas. Micro-fissuras, de escala menor, e juntas em conjunto com o sistema cristalino dos constituintes mineralgicos da rocha, representam as linhas de fraqueza ao longo das quais a exfoliao (the spalling off of thin sheets of rock) e desintegrao granular (desagregao de cristais individuais ou partculas) podem ocorrer. Nalgumas rochas, tal como o granito, o aparecimento de degraus ou faces no lado do vale, com uma expanso lateral e uma dilatao muito importantes, pode originar a formao de domas de exfoliao.
23 Termoclastia um processo importante de alterao fsica, que consiste na fragmentao das rochas como resultado das mudanas de volume por elas experimentadas devido s expanses e contraces trmicas entre o dia e a noite. Hidratao processo de alterao fsica que consiste na absoro de gua por parte de alguns minerais. particularmente importante na presena de minerais argilosos, fundamentalmente do grupo da esmectite, que so capazes de absorver quantidades enormes de gua nas suas estruturas cristalinas. Crioclastia, o processo que ocorre apenas em regies com gelo. Consiste na absoro de gua por material de granulometria fina, tal como as argilas e que sob temperaturas da ordem dos 0C so capazes de a manter sobre a forma de gelo. A estas temperaturas as molculas dipolares da gua gelada ordenam-se no sentido que uma fora repulsiva dirigida para a parte superior dos poros. Na presena de poros largos esta fora insignificante, mas na presena de poros de pequenas dimenses, de material de granulometria fina, ela pode ser suficientemente forte para fracturar a rocha. provvel que a alterao qumica se associe a este processo, que apenas foi investigado a nvel do material argiloso, e que parece restrito a tais litologias. B - Variaes de volume nos poros e fissuras das rochas No mbito das variaes de volume a nvel dos poros e fissuras dois parmetros fundamentais devem ser considerados: o efeito do crescimento e expanso dos cristais de gelo e sal e o stress induzido pela actividade biolgica (conjunto da fauna e da flora). Os vermes ingerindo e excretando enormes volumes de solo exercem uma aco de mistura ou bioturbao que, nas partes hmidas dos continentes pode atingir mais de 5mm de profundidade anualmente. Nos climas tropicais e subtropicais a aco das termitas considervel, levando ao movimento de enormes quantidades de solo. O crescimento e a penetrao das razes das plantas leva ao alargamento das fracturas incipientes das rochas, contribuindo significativamente para as fragmentar. As rochas podem tambm experimentar um enfraquecimento, relativamente reduzido, atravs da alterao qumica. Algumas razes podem penetrar nas rochas a profundidades de vrios metros estando normalmente este processo associado a outros mecanismos, particularmente crescimento de cristais de gelo. Alterao pela geada (Frost) A superfcie superior dos solos, nos ambientes rticos e alpinos apresenta muitas vezes um pavimento constitudo por fragmentos angulares de rochas conhecido por "felsenmeer" e
24 atribudo alterao pela geada. Este processo, referenciado tambm como "frost shattering"e "frost wedging", consiste na fragmentao da rocha ou de outros materiais slidos, como resultado do stress induzido pelo congelamento da gua. Sob condies ideais foi estimado que a formao do gelo podia exercer presses mximas volta de 200 MPa (at which point the freezing temperature is - 22C), contudo notvel que este mximo de presso terico possa nunca ser atingido debaixo de condies naturais, not the least because it far exceeded the tensile strengh of most rocks (cerca de 25 MPa). Haloclastia A haloclastia envolve dois processos fundamentais: precipitao do sal nos poros, expanso dos critais de sal atravs da sua hidratao ou aquecimento (heating). Este processo importante em ambientes ridos onde as taxas de evaporao so relativamente altas em relao s taxas de precipitaes, levando a que as guas da superfcie e dos solos fiquem saturadas em relao a uma variedade de sais. Embora frequentemente associado com climas quentes desrticos, os efeitos da haloclastia podem tambm ser observados em regies ridas de elevadas latitudes tais como a Antrctida. Alm disso, as elevadas salinidades registadas na gua salgada, tornam o sal num importante agente de alterao nos ambientes costeiros. A eficcia da aco de alterao produzida pelos sais varia com a natureza dos sais em presena. Investigaes laboratoriais indicaram o sulfato de sdio como o mais eficaz, devido possivelmente s suas variadas propriedades fsicas. Em primeiro lugar, quando hidratado sofre um aumento de volume grande (de Na2So4 a Na2So4.10H2O). Em segundo lugar tem um elevado equilbrio de solubilidade, levando a que largas quantidades possam precipitar originando oa aumento do volume da soluo. Em terceiro lugar, o equilbrio de solubilidade, particularmente sensvel temperatura, atinge o mximo a 32.3C. Este valor est englobado nas mudanas de temperatura diurna da maioria dos desertos quentes e as precipitaes ocorrerem geralmente quando as temperaturas aumentam ou diminuem para um lado ou outro deste valor. Finalmente como a cristalizao ocorre preferencialmente ao longo do eixo dum cristal simples, pode originar presses elevadas no interior das fracturas das rochas. 1.3 - Litologia e formas de alterao A variao das propriedades fsicas e mineralgicas das rochas podem influenciar a mineralogia dos produtos originados pela alterao, levando a que diferentes litologias originem formas de alterao distintas. Nas rochas carbonatadas onde uma enorme quantidade de produtos alterados posta em soluo, as formas de relevo originadas so bastante
25 variadas. No entanto no devemos esquecer, que formas de relevo semelhantes se podem desenvolver em litologias diferentes das litologias carbonatadas.
A - Formas de relevo crsicas A dissoluo das rochas carbonatadas (calcrios e dolomias) pela aco das guas metericas est na origem dum modelo particular de relevos, dos quais apenas uma parte visivel superfcie: o carste. Foi numa regio da Yougoslavia, o Krasc, onde estes modelos estavam bem caracterizados que carste foi definido. O termo carste usado para descrever terrenos carbonatados caracterizados pela ausncia ou raridade duma rede hidrogrfica superficial organizada em virtude do seu sistema de fendas, fracturas e diaclases, reduzida cobertura de solo, abundantes depresses fechadas, e um sistema de circulao de gua subterrnea bem desenvolvido. Calcrio definido como uma rocha que contm 50% ou mais de CaCo3, que ocorre, geralmente sob a forma de calcite. Os outros minerais carbonatados so a aragonite (forma rara de carbonato de clcio) e a dolomite (CaMg(Co3)2). As rochas nas quais o carbonato duplo de clcio e Magnsio ocorre em percentagens iguais ou superiores a 50% so denominadas dolomias. Carsificao o termo que se utiliza para referir o processo que origina as formas de relevo crsicas. Pseudo carste utiliza-se apenas em formas de relevo morfologicamente semelhantes s dos terrenos calcrios, mas encontradas em rochas no carbonatadas (nalgumas rochas siliciosas puras, sujeitas a uma alterao prolongada, a lenta dissoluo do quartzo origina formas semelhantes s formas crsicas). Tambm existem outros casos, nos quais processos substancialmente diferentes podem originar topografias superficiais semelhantes aos verdadeiros carstes. O desenvolvimento duma drenagem interna, atravs da formao de tunis, em terrenos vulcnicos consttui um bom exemplo. O desenvolvimento mximo das formas crsicas apenas atingido quando os calcrios so relativamente puros (mais de 80% de Co3Ca), muito espessos, mecnicamente fortes e macios. Na Yogoslvia os calcrios so puros, as espessuras atingem mais de 4000m e a sua localizao situa-se a mais de 2000 metros acima do nvel do mar. A.1 - Formas de pequena dimenso Lapies (=Karren) Termo que designa sulcos ou estrias mais ou menos profundos (at 1 metro) e estreitos com perfil em V ou em U, desenvolvidos nos calcrios atravs da sua alterao qumica.
26 Muitos factores influenciam a sua formao, mas provavelmente o mais importante seja a quase ausncia de cobertura vegetal e de solo durante a sua formao. A litologia representa o segundo factor, uma vez que os lapies conhecem um enorme desenvolvimento quando em presena de calcrios macios e uniformes, mecanicamente fortes e impermeveis nos quais exista um contacto rgido entre o solo e a rocha. O clima constitui o terceiro factor, em climas ridos por exemplo a quantidade de gua superficial insuficiente. Finalmente o tempo representa o ltimo factor com importncia no desenvolvimento das lapies. Em alguns locais, como no Planalto de S. Mamede e no de Sto. Antnio os lapies esto preenchidos por terrarossa, que no entanto no impede que os calcrios evoluam, uma vez que a gua continua a circular neles. A.2 - Formas de maiores dimenses Dolina So depresses fechadas de forma mais ou menos circulares, podendo ser tambm elipticas ou nitidamente alongadas, com contornos sinuosos mas no angulosos cuja dimenso varia em mais de 100m de profundidade e 1000m de largura. O fundo pode estar coberto por uma camada argilosa de descalcificao, de cr avermelhada, que recebe o nome de terra rossa. As dolinas so normalmente consideradas como a forma fundamental do relevo crsico e so de dimenso e morfologia variada. De acordo com a sua origem existem duas classificaes. A primeira classificao considera as dolinas divididas em: dolinas de colapso, soluo subsidncia, carste subjacente a dolinas de colapso e dolinas aluviais. Na segunda podem distinguir-se trs tipos: 1- dolinas em concha: circulares, pouco profundas, com vertentes pouco inclinadas e atapetadas de terra-rossa (ex: calcrios margosos do lusitaniano e Dogger); 2- dolinas em celha: geralmente circulares, por vezes elipticas, paredes rochosas abruptas e fundo com terra-rossa (ex: calcrios duros do Bajociano e Batoniano); 3- dolinas dissimtricas: quando uma vertentes do tipo celha e outra do tipo concha (calcrios do Dogger e lusitaniano). Nos climas temperados, as vertentes das dolinas normalmente atiingem declives da ordem de 20 a 30, e a relao entre a profundidade e a largura pode ser considerada na proporo de 1.3. Uvala Depresses com contornos sinuosos, de maior amplitude que as dolinas. O desenvolvimento das dolinas, especialmente o das dolinas de soluo, pode levar ao estreitamento das divises entre elas, promovendo a coalescncia de vrias delas e originando a uvala.
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Vales secos So formas originadas pela alterao normal a qual se junta a gua que se infiltra nos calcrios. Nos vales com exsurgncias intermitentes a sua evoluo fluvio-crsica, nos destitudos delas, mas de grande declive, a gua, que escarpa parcialmente a uma infiltrao imediata, trabalha-os mecanicamente, merc da elevada inclinao. Vales em canho Este tipo de vales apresenta as vertentes abruptas e o fundo, em forma de caleira, aplanado. Resultam da aco da dissoluo nas vertentes e da eroso fluvial no fundo. Cones crsicos So protuberncias cnicas, arredondadas localizadas nas linhas divisrias das depresses (dolinas). A altitude destas formas pode variar de alguns metros a centenas e o volume dos mesmos oscila entre limites muito amplos. Os exemplos mais caracteristicos encontram-se no Sul da China e no Vietname. Nalgumas regies de climas tropicais hmidos estas elevaes residuais, tm uma forma de pinculo cortante/afiada caracterstica. So denominadas neste caso por pinculos crsicos (exemplo a Norte de Belo Horizonte no Brasil). Polj Enormes depresses planas cuja dimenso ultrapassa os 200 Km2. Os fundos dos poljs originam bacias niveladas, cobertas por aluvies e terra rossa de cr vermelha ou amarela rica em silica mvel e capaz de guardar humidade. Muitas vezes os fundos so percorridos por ribeiras. Um ou mais lados da depresso pode apresentar inclinaes superiores a 30. Normalmente o polj atravessado por um curso de gua que no desemboca numa garganta subarea, mas em uma caverna. A fenda ou ruptura que faz a ligao entre o curso de gua do polj e o interior do macio calcrio denomina-se ponor. Quando o nvel fretico se encontra a grandes propundidades, o rio pode desaparecer antes de atingir o ponor, mormente na estao seca; ao contrrio, se o lenol fretico atinge a superfcie, o ponor pode inclusiv funcionar inversamente, como uma fonte e o polj apresentar partes inundadas. A funo dos ponors ento de regulador de gua. Muitos dos lagos observados nestas amplas superfcies crsicas tm essa origem. O fundo dos polj pode tambm apresentar ilhotas rochosas conhecidas por hum e no se encontrar totalmente coberto por terra-rossa, oferecendo um relevo de lapiaz e dolinas. A origem da formao dos poljs foi durante muito tempo encarada como resultante final do desenvolvimento do alargamento de depresses inicialmente relacionadas com dolinas. Actualmente a sua
28 formao vista com uma maior incidncia em processos de controlo estrutural em virtude de muitos poljs se encontrarem alinhados com direces estruturais representadas por eixos de dobras, falhas, juno entre calcrios e rochas no carbonatadas e entre calcrios com camadas impermeveis. Cavernas As cavernas podem ser definidas como um leito natural subterrneo e vazio, que se estende vertical e horizontalmente e apresenta um ou mais nveis. Actualmente podem estar ou no ocupadas por rios. A sua formao est ligada com o movimento da gua, com quantidades enormes de dixido de carbono, atravs das fracturas e depresses do calcrio. A rocha vai-se dissolvendo, sendo o movimento da gua nos calcrios controlado pelas variaes litolgicas e pelas linhas de falhas e de fractura. No que respeita circulao da gua subterrnea distinguem-se trs zonas de circulao no interior do relevo crsico: - a zona vadosa, superior, onde a gua de infiltrao transita rapidamente e verticalmente na direco das toalhas profundas. uma zona onde a gua circula livremente e que jamais se encontra inundada; - zona epifretica, intermdia, na qual se efectua uma circulao sub-horizontal rpida, por parte das ribeiras subterrneas, que transportam tudo o que a toalha profunda no pode absorver; - zona fretica, inferior, onde a gua circula sob presso hidrosttica, lentamente, servindo-se de uma rede difusa de fissuras estreitas e profundas, permanentemente inundadas. Nesta zona, a durao do trajecto das guas pode atingir 15.000 anos nas grandes redes, onde a zona inundada espessa. Neste conjunto, grutas e avens no representam seno uma pequena parte das condutas de que a gua se serve e que na maioria dos casos so muito pequenas e inacessveis ao espelogo. Nas cavernas de menores dimenses ocorrem ao longo de linhas de maior fraqueza, sendo o desenho ou lineamento apresentado por estas formas pelas diaclases e planos de estratificao. Algares (avens) Poos ou abismos naturais mais ou menos profundos que representam nveis de base locais. Por vezes as dolinas e os algares tm relao estreita: a dissoluo superficial facilitada pela existncia de cavidades subterrneas que permitem, a infiltrao da gua, o seu afluxo e refluxo. Carste
29 Planaltos calcrios com lapiaz, dolinas e grutas, sem circulao de gua superficial, mas conservando os seus antigos talvegues. A zona ocidental de Cascais representa um exemplo dum carste cretcico pouco profundo e o Macio de Porto de Ms um exemplo dum carste profundo. No carste de Cascais a dessecao das redes hidrogrficas da parte ocidental estende-se para oriente. Os nveis aquferos assentam em camadas margosas e so retidos pelas guas do mar, alcanadas pelos poos alimentando ressurgncias em alguns vales ao longo do litoral. Causse Planalto semelhante ao carste, mas cortado por vales profundos. Apresenta lapiaz, dolinas e mesmo polj. A circulao da gua superfcial e mais ou menos regular. B - Outras formas de alterao Muitos ambientes apresentam exposies de rochas lisas e usadas que so interpretadas como resultantes da alterao diferencial do substrato e da remoo dos restos de material alterado pelos processos que actuam a nvel dos taludes. Tors So constitudos por todas as rochas expostas a superfcie que circundam a totalidade dos taludes. So particularmente comuns em rochas cristalinas, mas tambm ocorrem em outras litologias resistentes, tais como os quartzitos e alguns arenitos. Alguns investigadores observaram que profundidade de alterao constitu um pr-requesito para o desenvolvimento dos tors com uma fase de alterao qumica preferencialmente centrada ao longo das juntas. Regatos (Rill), puratos (pits) e cavernas Todas as rochas expostas superfcie apresentam superfcies superiores irregulares, as quais parecem relacionar-se com efeitos da alterao. Encontram-se praticamente em todos os tipos de rochas e de climas, mas em virtude da extenso das rochas alteradas, so mais visveis em climas ridos e semi-ridos. O mecanismo responsvel pela sua formao mal conhecido, no entanto parece que inclu uma haloclastia, hidratao despedaante, termoclastia e uma gelifraco. Favo de mel (Honeycomb) Os favos de mel consistem em numerosos e pequenos buracos, de poucos milimetros ou centrmetros de largura e profundidade, localizados na superfcie superior das rochas. A forma de favo de mel originada pela coalescncia dos buracos.
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Tafori So traos enormes, com dimenses de muitos metros, dispostos em degraus com faces lisas.
1.4 - Duricrusts Os Duricrusts so constitudos por nveis duros formados na zona de alterao, ou perto, sendo a sua superfcie consequncia da acumulao total ou parcial de determinados componentes atravs de substituio ou cimentao de rochas pr-existentes, solo, materiais alterados ou depsitos inconsolidados. Os componentes mais importantes na formao das crostas so os xidos e hidrxidos de ferro, o alumnio, slica, e carbonato de clcio e gesso. A espessura das crostas pode atingir mais de 50m, mas a espessura mais comum a de 1 a 10m. As crostas ferruginosas, carbonatadas e especialmente as siliciosas podem apresentar durezas extremamente elevadas, especialmente quando se situam acima de materiais menos resistentes. As crostas de ferro, alumnio, calcrio e silicio so denominadas respectivamente por: ferricrete, alcrete, calcrete e silcrete. As crostas siliciosas so normalmente constitudas por mais de 95% SiO2, encontram normalmente em climas hmidos e tropicais ridos. So particularmente relevantes na parte central da Austrlia e no SE e NE de frica. Em alguns casos ocorrem, em perfis de alterao, associadas com ferricretes, s quais em regies mais ridas se podem juntar as calcretas. As calcretas tm normalmente cerca de 80% de CaCo3, e localizam-se em reas com precipitao anual de 200 a 600mm. Revestem uma parte importante da superfcie das zonas semiridas, estimando-se que 13% da rea do globo as apresente. As crostas de gesso, gypcretes, apresentam distribuio mais limitada, parecendo estar confinadas a regies muito ridas com precipitaes abaixo de 250mm/ano. O contedo em gesso (CaSo4.2H2O) destas crostas bastante varivel, mas pode excepcionalmente atingir 95%. A espessura das gypcretas pode atingir 5m, no entanto fica francamente abaixo da espessura dos outros tipos de crostas. O termo laterito utilizado para descrever depsitos de alterao ricos em ferro e alumnio. O termo bauxito refere-se a depsitos de alterao contendo concentraes explorveis economicamente de alumnio. Muitos lateritos e bauxitos, so, contudo, materiais relativamente frgeis.
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2. - Vertentes: processos e formas As vertentes constituem o elemento bsico dos relevos de superfcie e, por isso, no de estranhar que tenham desde muito constitudo um ponto importante a nvel do estudo das formas de relevo. Em sentido amplo, e sem qualquer conotao gentica ou locacional vertente significa superfcie inclinada, no horizontal. Numa definio mais precisa vertente uma forma tridimensional, modelada pelos processos de denudao, actuantes no passado e/ou no presente, que representa a conexo dinmica entre o interflvio e o fundo do vale. Quanto sua localizao as vertentes podem ser subareas ou submarinas, podendo resultar da influncia de qualquer dos processos que actuam superfcie. Neste sentido amplo, as vertentes abrangem todos os elementos que compem a superfcie terrestre, sendo formadas por uma ampla variedade de condies internas e externas. Quanto sua origem as vertentes podem ser: vertentes endogenticas quando formadas pelos processos originados no interior da terra (orogenia, epirogenese e vulcanismo). Cada um destes processos modifica a posio altimtrica e a orientao das vertentes preexistentes, pode igualmente originar vertentes inteiramente novas. vertentes exogenticas quando resultam da aco dos processos que tm origem na superfcie terrestre, ou prximo dela, sendo controlados pelos factores externos. Os processos exgenticos (alterao, eroso, ablao, transporte e deposio) tendem a reduzir a paisagem terrestre a um determinado nvel de base (o principal o nvel do mar). Os processos acumulativos do nivelamento das paisagens so denominados de gradao, envolvem o rebaixamento de reas pela degradao e o entulhamento de outras por agradao. Da interaco dos processos endogenticos e exogenticos resultam as formas da superfcie terrestre, continentais e ocenicas. O estudo das vertentes engloba a anlise da aco dos vrios processos, responsveis pela formao e pela remoo do material detritco, e pelas formas produzidas. Dois tipos fundamentais de materiais podem ser distinguidos: rocha e solo. No mbito deste estudo, como apenas as propriedades mecnicas so relevantes para o comportamento dos materiais da vertente, rocha e solo sero definidos neste contexto especfico. Rocha dura, coerente e compreende partculas ou cristais individuais. discontnua uma vez que se encontra fragmentada em extenses menores ou maiores, de acordo com as diaclases, juntas e fracturas, Contudo este carcter discontinuo no representa nenhum enfraquecimento significativo quando a rocha se encontra saturada com gua.
32 Solo (ou reglito) fraco, incoerente e constitudo por materiais inconsolidados que formam uma massa contnua, na qual as fissuras e juntas esto ausentes, mas que quando saturado de gua se encontra adicionalmente enfraquecido. Talude um tipo particular de vertentes nos quais os materiais inconsolidados, maioritariamente constitudos por fragmentos de rochas foram transportados ao longo delas e so depositados no seu interior. 2.1 - Processos morfogenticos Os processos morfogenticos so os responsveis pela esculturao das formas de relevo, representando a aco da dinmica externa sobre as vertentes. Os processos no agem em separado, mas em conjunto, com um desenvolvimento e eficcia variadas, de acordo com o meio no qual agem. Razo pela qual possvel distinguir vrios sistemas morfogenticos e regies morfogenticas. Considerando os processos morfogenticos isoladamente, distinguem-se quatro categorias com importncia a nvel da morfogenese do modelado terrestre: alterao, transporte, a aco da chuva e a aco biolgica. A - Alterao ou Intemperismo Fase que representa os pr-requisitos necessrios produo dos materiais a serem erodidos ao londo das vertentes. Pode ser qumica e fsica (captulo anterior). B - Modalidades de transporte de massas (reglito) ao longo das vertentes O transporte ao longo das vertentes engloba todos os movimentos gravitacionais que promovem o movimento de partculas ou partes do reglito ao longo da encosta. Implicitamente considera-se que a gravidade a nica fora importante e que nenhum outro processo estar envolvido, como o vento, gua em movimento, gelo e lava em fuso. A realidade mostra que muitos factores para alm da gravidade, actuam a nvel das vertentes (quadro 7.4, pg. 168). A presena da gua, por exemplo, reduzindo o coeficiente de frico entre as partculas e aumentando o peso da massa intemporizada pelo preenchimento dos entre os poros, exerce uma funo importante no movimento do reglito. O gelo pode tambm lubrificar e aumentar o peso dos fragmentos rochosos, acelerando o movimento do reglito. Existem algumas tentativas para classificar os diferentes tipos de movimentos de massas, nove so aceites universalmente. Aqui identificaremos apenas seis tipos fundamentais de movimentos: arraste (rastejo, reptao, creep), fluxo (solifluxo, flow), deslizamento (slide),
33 elevao (heave), queda (fall) e subsidncia. Cada um deles divide-se em formas mais especficas de movimentos de massas (quadro 7.5, pg. 16a). B.1 - Arraste Corresponde a um movimento lento e imperceptvel dos vrios horizontes do solo. Trata-se duma deformao plstica e lenta da rocha ou solo originada como resposta ao stress criado pelo peso da sobrecarga e iniciada quando o campo do stress do material da vertente for excedido. Nas rochas este campo de stress pode localizar-se a centenas de metros abaixo da superfcie. A velocidade do arraste lenta, normalmente de 1mm a 10m ano, no entanto torna-se especialmente activa quando materiais fragis, tais como as argilas, esto cobertas por camadas mais competentes. A velocidade maior superfcie, diminuindo gradualmente com a profundidade at desaparecer; o movimento torna-se incapaz de desgastar ou causar abraso nas rochas soterradas quando a velocidade nula. B.2 - Fluxos So movimentos do reglito muito semelhantes solifluxo. A diferena que so mais rpidos e atingem reas maiores. Distinguem-se do arraste pelos seus limites discretos ou pelas suas zonas perifricas sujeitas a corte serem estreitas. O corte mximo na base do fluxo sendo os fluxos de terra os mais comuns. Originam-se normalmente quando uma camada de argila se encontra coberta por areia e existe no meio abundante gua. A argila, apesar de saturada estvel, a no ser que seja perturbada por choques explosivos, tais como terramotos ou carga artificial excessiva. Nestes casos as ligaes tnues entre as partculas argilosas e a gua so quebradas, liquefazendo-se a massa espontaneamente. Existem vrias categorias de fluxos: avalanches, debris flows e arthflows ou mudflows, dependendo da natureza e dimenso do material: neve e gelo, fragmento de rochas, materail de granulometria das areias ou das argilas (fig. 7.6, pg. 171). As avalanches so fluxos de massas mais rpidos que se conhecem, movimentando enormes volumes de materiais. As avalanches podem ser constitudas inteiramente por gelo e neve at s formadas predominantemente por fragmentos rochosos. A avalanche, de um modo geral, comea com a queda livre de uma massa rochosa ou de gelo, pulverizada no impacto, deslocando-se a grandes velocidades, em virtude da fluidez adquirida pela presso do ar aquecido e da gua retida no interior da sua massa. Duas avalanches catastrficas, ambas provocadas por tremores de terra, tiveram lugar a partir do pico da montanha de Huascaran nos Andes peruanos em 1962 e 1970. Em 1962 a avalanche movimentou 3 milhes de toneladas de gelo e 9 milhes de toneladas de rocha a uma distncia de 20km e da qual
34 resultou, segundo as estimativas oficiais, a morte de 3.500 pessoas. A segunda avalanche, em 1970, com um percurso inicial igual ao da avalanche de 1962, durante 16km, e com uma velocidade de cerca de 300km/hora , a partir duma altura de 300 metros, lanou num movimento turbulento fragmentos de rochas e de gelo sobre a cidade de Yungay que ficou completamente soterrada. Nesta ocasio as estimativas oficiais apontavam para a morte de 40.000 pessoas. Felizmente as avalanches espectaculares no esto muito difundidas, elas esto largamente confinadas a terrenos com relevo local elevado, vertentes em degraus e cinturas orognicas activas. Os deslizamentos (slides) (fig. 7.10 e 7.9, pg. 172) so movimentos bruscos de material slido executados ao longo duma superfcie de ruptura bem definida e geralmente saturada de gua. As rupturas podem ter caractersticas diversas, mas correspondem sempre a nveis de deslizamento ou ruptura impermeveis, constitudos por uma rocha s ou por um horizonte do reglito que possua maior quantidade de elementos finos, siltes ou argilas, facilitando que o limite de plasticidade e de fluidez sejam mais rapidamente excedidos (limites de Atterberg) em virtude da infiltrao da gua nas formaes permeveis sobrejacentes, alvo de deslizamentos. Os deslizamentos podem ser rotacionais quando o plano de corte concavo para a parte superior, translacionais quando predominam superfcies de corte planas e laminares (sheet-slides). Os deslizamentos rotacionais so mais comuns em materiais espessos e homogneos, tal como as argilas. Estes tipo de deslizamento no comum na regio de Lisboa, apenas foi identificado na vertente oriental do rio Tranco, junto abertura cataclinal da costeira Lousa-Bucelas (J. L. Zezere, 1988). Os deslizamentos rotacionais ou slumps apresentam um plano de ruptura curvo e envolvem uma rotao que origina declives fortes, compreendidos entre 15 e 30. A massa deslizada encontra-se, geralmente, inclinada contra a vertente. Os slumps ocorrem, normalmente, em formaes homogneas e isotrpicas (vertente da margem esquerda do vale do rio Tranco). Os deslizamentos translacionais so movimentos de massas que fectam o substrato rochoso. Ocorrem quando h alternncia de camadas com permeabilidade distinta, correspondendo o plano de deslizamento ao contacto entre os nveis de rochas permeveis que afloram a superfcie e os nveis de rochas impermeveis subjacentes. Os deslizamentos translacionais apenas ocorrem quando existe concordncia entre o declive das vertentes e o sentido de inclinao dos afloramentos rochosos. Normalmente, o valor da inclinao das camadas corresponde ao declive mximo a que a vertente se encontra permanentemente estvel. Os declives das vertentes onde ocorre este tipo de deslizamento podem ser moderados a fortes (5 a 25). Os deslizamentos translacionais representam os movimentos de massas de
35 maior importncia ocorridos na regio a Norte de Lisboa (vale do rio Tranco, vertente oriental do vale da Ribeira de Fanhes,...) Os deslizamentos laminares so movimentos de massas superficiais que afectam exclusivamente os depsitos de revestimentos das vertentes. A espessura do material envolvido geralmente reduzida, nunca superior a 2-3 metros, no entanto, este tipo de deslizamentos pode afectar extensas reas a nvel das vertentes. Normalmente as vertentes onde estes movimentos atingem um maior desenvolvimento apresentam declives moderados a fortes (>15), so regularizadas por escombreiras e depsitos de solifluxo que fossilizam um substrato rochoso relativamente impermevel. A superfcie de ruptura ou plano de deslizamento localiza-se sempre no contacto entre os depsitos de cobertura e o substrato rochoso impermevel. Os deslizamentos laminares esto bem representados na rea a Norte de Lisboa (vertente do Vale do rio Tranco...). Dois factores parecem influenciar os deslizamentos: estao chuvosa prolongada e declives acentuados nas vertentes. Por vezes os deslizamentos podem assumir aspectos catastrficos. Provavelmente o deslizamento mais extenso da terra o de saidmarreh no SW do Iro. Neste deslizamento uma massa de calcrios de cerca de 15km de comprimento, por 5km de largura e 300 metros de espessura deslizou sobre uma alternncia de margas e calcrios que apresentavam ngulos de declive da ordem dos 20. A componente inicial do movimento tinha apenas cerca de 1000 metros, mas o deslizamento atravessou uma distncia de mais de 18km, executando na estrada uma prega de 800 metros de altura. Os depsitos encontram-se grosseiramente estratificados, indicando que o movimento no foi predominantemente um movimento turbulento de avalanche. B.3 - Elevaes (heave) No movimento tipo elevao os materiais do talude so submetidos a ciclos de expanses e contraces. De acordo com a dimenso das partculas envolvidas, dois tipos de movimento podem ser individualizados: arraste de solo e arraste de talude. No arraste de talude o material grosseiro e as contraces e expanses so causadas pela hidratao e evaporao pelo gelo e degelo, mudanas de temperatura e actividade orgnica (vermes,...). B.4 - Quedas (fig. 7.11, pg. 173) So deslocamentos rpidos de rochas slidas, blocos isolados ou mais raramente de solos a partir de cornijas. As rochas comeam a ser fragmentadas atravs da alterao fsica, sendo os fragmentos originados, rapidamente removidos sob a aco da gravidade. Os blocos movimentam-se a grandes velocidades e em queda livre. A maior distncia percorrida pelos
36 blocos ao longo das vertentes, depois os blocos deslocam-se mais lentamente, quer rolando sobre si prprios quer deslizando sobre uma das suas faces mais amplas. Todas as vertentes afectadas por este processo de desabamento apresentam uma cornija quer no topo (LousBucelas, Alto das Toracas, Alto da Pea e topo de Fanhes) quer numa posio intermdia onde assume a forma duma importante ruptura de declive a meia-vertente (vale oriental do rio Tranco e margem esquerda da ribeira de Oliveiras). As cornijas de rocha dura representam a fonte de alimentao dos desabamentos. As vertentes afectadas por desabamentos apresentam declives acentuados, quase sempre superiores a 20 e nalguns casos excedem mesmo os 30 (sectores do vale do rio Tranco). As quedas de blocos so um fenmeno comum em terrenos caracterizados por grandes altitudes, vertentes e elevaes. As falsias do litoral, as margens fluviais, muitos cortes de estradas e caminhos de ferro constituem bons exemplos. B.5 - Subsidncia A subsidncia pode ocorrer como um colapso mais ou menos instantneo de material no interior de uma caverna ou no interior dum tipo qualquer de cavidade, ou ento como um abaixamento progressivo da superfcie subterrnea (settlement). As cavidades de colapso esto largamente confinadas aos terrenos carbonatados onde ocasionalmente os tectos das cavidades subterraneas podem colapsar. As cavidades de colapso podem tambm acorrer como consequncia da actividade humana, como no caso das minas, e mais raramente na presena de galerias no interior terrenos vulcnicos. Finalmente os assentamentos podem ocorrer em materiais insuficientemente compactados, onde a diminuio do seu volume se faa pela adio de gua (hidrocompactao) ou por vibraes tais como as geradas por sismos. C - Processo morfogentico pluvial (fig. 7.14, pg. 176) Este processo dos mais generalizados e importantes na esculturao das vertentes e nele se distinguem a aco mecnica das gotas de gua e o escoamento pluvial. O primeiro impacto erosivo das partculas dos solos devido aco mecnica das gotas de chuva, que levam ao seu arranque e deslocamento. Esta aco exercida pela energia cintica das gotas, varivel de acordo com a dimenso e a velocidade das mesmas. Geralmente, as gotas atingem a velocidade terminal, independentemente do seu dimetro, quando a distncia percorrida ultrapassa oito metros (T. 2.1, 30). Os dados referidos no quadro dizem respeito a gotas de chuva particulares. Para se calcular a energia cintica duma
37 chuva necessrio conhecer o formato das suas gotas e respectiva quantidade e a quantidade de gua precipitada. O poder erosivo das gotas de chuva depende tambm da natureza e do estado fsico dos materiais que afloram nas vertentes, nomeadamente solos e/ou depsitos superficiais. As caractersticas da cobertura vegetal constituem outro importante factor que condiciona este tipo de eroso. O principal efeito das gotas de chuva consiste na degradao geral dos solos e dos depsitos que revestem as vertentes. Com efeito, o impacto causado pelas gotas de chuva na superfcie (splash), tem como primeira consequncia a destruio dos agregados das formaes superficiais, ou seja, a preparao do material para o transporte a efectuar pelas guas de escorrncia. A queda das gotas de chuva origina tambm a redisposio das partculas finas, por intermdio de processos de saltao e arraste e de fora igual em todas as direces em que salte. No processo de saltao as partculas tanto podem ser atiradas a jusante como a montante, de acordo a posio frente ao impacto da gota que as atinge. Neste movimento inconstante no existe adio imediata dos efeitos de montante para jusante, embora o saldo, no conjunto, seja positivo na direco jusante. As areias finas so mais susceptiveis de serem transportadas pela saltitao, podendo alcanar 150 metros de distncia, enquanto que as partculas de 2mm apenas atingem 40cm e de 4mm apenas 20cm de distncia. Se individualmente a aco mecnica promove o transporte das partculas a pequenas distncias, no conjunto, este processo torna-se responsvel pelo remanuseamento de grande quantidade de solo da superfcie. Nas vertentes inclinadas, as partculas dirigidas a jusante atingem uma distncia maior do que a das partculas dirigidas para montante e, sendo constantemente retomadas, sofrem deslocamentos do topo para o sop das vertentes. Embora seja difcil precisar a quantidade de material levado das vertentes pela saltitao, h elementos relativos ao volume do material movimentado pelas gotas. W.D. Ellison calcula que uma precipitao de 100mm pode movimentar mais de 300 toneladas de solo por hectare e G.R. Free observou que uma precipitao de 25mm provocou o deslocamento de 15t/ha. Atravs dos mecanismos de saltao e arraste os pequenos elementos mobilizados preenchem os espaos vazios existentes entre as partculas de maiores dimenses, reduzindo a infiltrao da gua em profundidade (impermeabilizao das formaes superficiais) e contribuindo para o aumento da escorrncia superficial. O impacto da chuva constitu a primeira fase da morfognese pluvial, no entanto a sua influncia directa relativamente efmera. O processo de transporte mais importante executado pelo escoamento pluvial, que surge no momento em que a quantidade de gua precipitada maior do que a velociadade de infiltrao. No escomento pluvial h que distinguir dois tipos: o escoamento pluvial difuso e o concentrado ou de enxurradas. No difuso as guas escorrem sem hierarquia e fixao
38 dos seus leitos, dispersando-se em mltiplos fios de gua instveis e anastomosados que no inscrevem formas vigorosas e durveis nos terrenos. No segundo tipo as guas concentram-se, fixam o seu leito e adquirem maior competncia erosiva. Deixando sulcos sensveis na superfcie topogrfica, conhecidos como ravinas. Nas reas argilosas de algumas regies secas, como no oeste dos Estados Unidos, as ravinas assumem densidades muito elevadas, caracterizando um tipo de relevo conhecido por badlands. O escoamento difuso actua quer em campos cultivados, quer em parcelas incultas e, em condies particulares, pode assegurar uma ablao de grande eficcia nas vertentes. As reas atingidas pela escorrncia difusa caracterizam-se, todas elas, pela existncia de um coberto vegetal esparso, descontnuo, constitudo essencialmente por plantas rasteiras. A escorrncia difusa comporta-se como um agente selectivo, transportando, preferencialmente, elementos finos at dimenso das areias. Os materiais transportados acumulam-se, quer na base das vertentes, quer a montante de rupturas de declive, levando ao rebaixamento da superfcie topogrfica, observvel pelo desenraizamento das plantas e descaimento dos arbustos. A aco do rillwash traduz-se no ravinamento das vertentes e consiste na abertura de pequenos entalhes sensivelmente paralelos s linhas de maior declive. Na regio de Lisboa as ranhuras tm profundidades mximas de 30cm e a sua largura raramente excede 10cm. O escoamento concentrado est representado nos barrancos e valeiros actuais de fundo em V, afluentes dos principais cursos de gua, com grande actividade ocasional, na regio de Lisboa (rio Tranco, rio de Lous e ribeiras de Fanhes, Casainhos e de Pinheiro de Loures). O transporte efectuado pelo escoamento pluvial afecta as partculas deslocadas pelo impacto directo das gotas da chuva e as erodidas directamente pelo escoamento, atravs do solapamento das suas margens. A velocidade das guas e a rugosidade da superfcie ocasionam o turbilhonamento, colocando em suspenso as partculas mais finas. Esta categoria de partculas transportada at aos riachos, ou at cessar o escoamento do filete de gua. As partculas mais grosseiras so arrastadas pela corrente, quando o movimento ascencional do turbilhonamento atingir valor elevado. Esse movimento intermitente e o deslocamento dos gros feito por saltao, atravs de saltos constantes que os transportam sempre na direco jusante. O escoamento concentrado caracterstico das vertentes desprovidas de vegetao. Na presena de cobertura vegetal, sobretudo sob a cobertura florestal, o escoamento difuso domina, e as possibilidades de ravinamento so diminutas. D - A aco biolgica A aco morfogentica dos seres vivos tambm est presente na modelao das vertentes.
39 As plantas possuem dupla aco. Atravs das razes provocam o deslocamento de partculas, aumentam a permeabilidade do solo, intensificam as aces bioqumicas e retiram nutrientes, conduzindo funo de desagregao e empobrecimento. Por outro lado, funcionam como camada interceptadora frente aco mecnica das chuvas, como obstculo ao escoamento pluvial e aos ventos,e, atravs do fornecimento de humus, desempenham uma aco de agregao dos solos. Quando se verifica a queda de rvores, de modo natural, ocorre movimentao constata-se a existncia de movimentos de terra na superfcie da encosta. A aco dos animais efectua-se atravs dos vermes, fuadores, formigas e termitas. Os vermes (minhocas) existentes nas camadas superfciais do solo, digerem a terra, promovendo a diminuio granulomtrica das suas partculas. Os fuadores, escavam tocas, que originam o deslocamento das partculas para jusante. As formigas, com presena generalizada, escavam galerias no solo, que facilitam a permeabilidade e infiltrao da gua, e removem partculas profundas para a superfcie. As termitas constroem os seus formigueiros no solo, com materiais trazidos da profundidade. O material desagregado facilmente carregado pela gua. A influncia morfogentica dos animais mais activa do que a das plantas que passiva. 2.2 - Forma das vertentes A descrio das vertentes pode fazer-se a partir de perfis ou de plantas, fornecendo esta descrio das informaes bsicas necessrias caracterizao de uma determinada rea. A terminologia utilizada para descrever as diferentes partes que constituem as vertentes assunto abordado por numerosos autores, sendo os principais termos utilizados os seguintes: unidade de vertente, consiste num segmento ou num elemento; segmento, parte do perfil da vertente no qual os ngulos permanecem aproximadamente constantes, conferindo-lhe um carcter rectilneo; elemento, poro da vertente na qual a curvatura permanece aproximadamente constante. Existe o elemento convexo, com curvatura positiva e com valores de ngulos progressivamente maiores em direco jusante, e o elemento cncavo, com curvatura negativa e os com valores de ngulos diminuindo progressivamente para jusante; convexidade; consiste no conjunto de todas as partes de um perfil de vertente, no qual no h diminuio dos ngulos em direco a jusante; concavidade, consiste no conjunto de todas as partes de um perfil de vertente no qual no h aumento dos ngulos em direco a jusante;
40 sequncia de vertente, uma poro do perfil que consiste sucessivamente de uma convexidade, de um segmento com declividade maior do que o das unidades superior e inferior, e de uma concavidade. ruptura de declive, consiste no ponto de passagem de uma unidade outra. Max Derruan (1965) considera que o perfil tpico de uma vertente apresenta uma convexidade no topo e uma concavidade na parte inferior, separadas por um simples ponto de inflexo ou por um segmento. Quando estas vertentes se encontram revestidas por um manto de detritos, com superfcie lisa e sem ravinamentos, Derruan denomina-as de regulares ou normais. A inclinao varia muito de uma vertente para outra, mas nas vertentes normais ela sempre inferior inclinao dos taludes de gravidade dos materiais. Um tipo especial de vertente, consagrado na literatura geomorfolgica, o tipo representado pela vertente de Richter, que corresponde a uma vertente lisa, sem ravinamento, mas com um segmento muito longo e com um declive muito elevado (~ a 25). Nem todas as vertentes rectilneas podem receber tal designao, uma vez que ela no se aplica s vertentes com inclinao suave ou desigual. O modelo descritivo de Lester C. King (1953) totalmente diferente do acima apresentado. Para ele, a vertente tpica apresenta quatro partes: convexidade no topo, face livre ou escarpa, parte recta com detritos da poro superior da vertente e parte suavemente cncava. O autor considera este perfil virtualmente universal, no entanto, este perfil corresponde apenas ao perfil encontrado em regies onde as rochas se encontrem estratificadas e escarpas esto relacionadas com a actividade erosiva. Vertentes elaboradas em rochas cristalinas e em rochas no estratificadas no se assemelham ao modelo descrito. Dalrymple, Blong e Conacher (1968) baseados em estudos feitos em reas temperadas e hmidas, propuseram outra classificao para as vertentes, na qual distinguiram nove unidades hipotticas. Os autores consideraram a vertente como um sistema complexo tridimensional que compreende a rea desde o interflvio ao centro do leito fluvial e a superfcie do solo at ao limite superior da rocha no alterada. Cada uma das nove unidades em que a vertente se divide definida em funo da forma e dos processos morfogenticos dominantes que normalmente actuam sobre ela (fig. 7.19). muito pouco provvel encontrar as nove unidades num nico perfil de vertente e tambm que elas se distribuam na ordem indicada pelo modelo. O normal verificar a existncia de algumas unidades em cada vertente, e a mesma unidade pode ser recorrente ao longo do perfil. O modelo apresentado pelos autores representa apenas um padro ideal para ser aplicado na descrio das vertentes no tendo nenhuma implicao no que dis respeito ao tipo de formas que as vertentes podem desenvolver.
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Unidade da Vertente 1 - Interflvio (0-1) 2 - Declive com infiltrao (2-4) 3 - Declive convexo com arraste 4 - Escarpa (ngulo mnimo de 45) 5 - Declive intermedirio de transporte
Processo Geomorfolgico dominante Processos pedogenticos associados com movimento vertical da gua da superfcie Eluviao mecnica e qumica atravs do movimento lateral da gua subsuperficial Arraste e formao de terracetes Desmoronamentos, deslizamentos, alterao fsica e qumica Transporte de material atravs de movimentos colectivos do solo, formao de terracetes; aco superficial e subsuperficial da gua Reposio do material pelos movimentos colectivos e escoamento superficial; formao de cones de dejeco; arraste; aco subsupeficial da gua Deposio aluvial; processos provenientes do movimento subsuperficial da gua Corraso, deslizamento, desmoronamento Transporte de material para jusante pela aco da gua superficial; gradao peridica e corraso
Arthur N. Strahler (1950) dividiu as vertentes erosivas em trs tipos bsicos, consoante o ngulo de repouso dos materiais terrestres no coesivos. Vertentes em repouso quando se encontram nos seus ngulos de repouso; vertentes de alta coeso quando apresentam inclinaes muito fortes, geralmente elaboradas em material rochoso resistentes ou em argila compacta e seca; vertentes reduzidas pelo escoamento e arraste, quando apresentam inclinaes suaves. Frederick R. Troeh (1965) considerou o estudo das vertentes numa perspectiva espacial ou planar, a partir do emprego de equaes matemticas. Considerou que o cone aluvial representava um bom exemplo duma forma de relevo, cuja configurao superficial regular e na qual o perfil longitudinal tende a ser cncavo a montante e a curvatura das linhas de contorno ou isoipsas tende a ser convexa a jusante. Considerou tambm que cada elemento da encosta da vertente podia ser matematicamente representado por uma equao quadrtica, porque cada superfcie gerada pela rotao de um segmento de parbola em torno de um
42 eixo vertical. Assim o autor apresentou uma equao do segundo grau para descrever cada parcela componente da vertente: Z= P + SR + LR2 Z= altura de qualquer ponto da superfcie R= distncia radial horizontal do ponto Z ao pice da superfcie (ponto de origem) P= altitude do pice da superfcie S= gradiente do declive ao longo do raio inicial L= taxa de variao do declive Para obter o declive da vertente G em qualquer ponto, o autor apresenta a seguinte equao: G= S + 2LR Nos mapas topogrficos, so vrias as curvas de nvel que podem ser utilizadas, no entanto devem considerar-se os segmentos das isoipsas que mais se aproximem de uma sucesso de arcos conctricos. No caso de apresentarem muitas variaes, deve-se subdividilas antes de se lhe aplicar o mtodo de Troeh. Escolhem-se segmentos de isoipsas diferentes (em nmero de trs, por exemplo, pontos A, B e C da Fig. 2.9, pg. 42). Para cada um deles traa-se uma tangente, a partir dos pontos de tangncia traam-se perpendiculares que devero cruzar-se em interseco (Ponto P). Este ponto considerado como o ponto de origem ou pice. Desta forma conhecem-se os valores dos pontos A, B e C e dos comprimentos dos raios (linhas perpendiculares) que ligam o pice P aos pontos tangenciais (Ra, Rb e Rc). Com estes elementos e com o auxilio de formlas para o clculo dos valores de S, L, P e G, obtm-se os resultados desejados. As frmulas mencionadas so: S= (A - C) (Rb2 - Rc2) - (B - C) (Ra2 - Rc2) (Ra - Rc) (Rb2 - Rc2) - (Rb - Rc) (Ra2 - Rc2) L= A - C - S (Ra - Rc) ; (Ra2 - Rc2) P= A - SRa - LRa2 G= S + 2LR No exemplo da Fig. 2.9 temos: ;
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Substituindo tais valores nas equaes acima enumeradas, encontram-se os seguintes resultados: S= 0.089 L= 0.00003 P= 914 G= 0.014 (para o eixo de A) Considerando os parmetros do gradiente do declive (G) e o declive lateral das curvas de nvel (L), Troeh descreveu as linhas de contorno e as de perfil. Quando o valor de G positivo, significa que a altitude aumenta com a distncia radial, isto , que as linhas de contorno so cncavas para fora. Quando o valor de G negativo, significa que a altitude diminui enquanto a distncia radial aumenta, mostrando as curvas de nvel de tais superfcies convexas. O perfil das curvas de nvel indicado pelo sinal da taxa de variao do declive, que igual a 2L. Se L tem valor positivo, o declive torna-se menos negativo ou mais positivo, na proporo em que a distncia radial aumenta. Se L tem valor negativo, o declive torna-se menos positivo ou mais negativo, na proporo em que a distncia radial aumenta. As combinaes possveis da concavidade e convexidade permitiram a Troeh e A. J. Parsons (1988) distinguir vrios tipos de vertentes (fig. 7.20).
2.3 - Anlise da evoluo das vertentes Os mtodos para analisar a evoluo da forma das vertentes so numerosos desde aqueles que o fazem em funo de levantamentos de perfis reais, aos que procuram estudar a evoluo da forma das vertentes atravs de perfis desenvolvidos matematicamente. Vrios modelos foram apresentados para a anlise de vertentes a partir de clculos matemticos. O primeiro modelo apresentado (O. Lehmann,1933) relaciona-se com o recuo paralelo das escarpas (fig. 2.11, pg. 47). FS escarpas h altura ngulo de declive
44 SR FR' plano horizontal superior plano subhorizontal inferior ngulo de declive dos fragmentos rochosos
Este modelo considera que: 1) a escarpa est submetida apenas aos agentes de alterao que actuam uniformemente; 2) os fragmentos angulosos depositam-se no sop formando uma camada com um ngulo de inclinao e 3) que o material homogneo. Algum material, todavia, pode ser perdido durante o transporte, ou o prprio volume pode aumentar porque a densidade dos detritos menor do que a do material da escarpa. Pouco a pouco o aumento da deposio dos materiais vai protegendo a parte inferior da vertente, permitindo a elaborao dum perfil convexo no ncleo rochoso (perfil FABCR). Posteriormente, J. P. Balker e J. W. Le Heux (1946-1952), deram vrias contribuies ao estudo da regresso das escarpas, mediante o uso de modelos matemticos. Recentemente Adrian E. Scheidegger (1961, 1970) apresentou, a partir de vrias apresentou quatro modelos principais para a evoluo das vertentes (fig. 2.13, pg. 48), dando uma contribuio importante sobre o problema. A elaborao dos modelos matemticos dedutivos forneceu caminho pesquisa de modelos mais prximos da realidade, uma vez que so baseados nos estudos dos perfis e dos processos que actuam nas vertentes. A. Young (1963) apresentou vrios modelos dedutivos baseados no seguinte parmetro: o material alterado pode ser removido directamente das vertentes, atravs da dissoluo, queda de fragmentos e transporte ao longo das vertentes. Neste processo de transporte o declive e a distncia do interflvio so fundamentais. Os modelos foram desenvolvidos a partir de duas pressuposies bsicas: 1) A regresso da vertente rectilnea quando no h entalhamento da linha de gua na base, sendo atravs do rio ou de outro agente todo o material transportado, de forma contnua, para o sop. 2) A regresso da vertente faz-se de forma contnua ou com intervalos quando h entalhamento fluvial na base. No primeiro modelo (fig. 2.14, pg. 49) no existe remoo directa do material detrtico do sop da vertente, a intensidade do transporte varia de acordo com o seno do ngulo da vertente e a denudao da vertente causada pelo transporte do material para a base. A evoluo inicia-se pela suavizao da ruptura do declive, e a convexidade estende-se progressivamente na direco da base, para posteriormente se expandir at ao limite superior
45 mximo da vertente. Como consequncia os ngulos da parte mais baixa da vertente diminuem, sem contudo haver formao de concavidades. Neste modelo a vertente resulta dum declnio constante e sem aparecimento de concavidades. A curvatura da convexidade, que no final longa e suave, vai diminuindo com o decorrer do tempo. No segundo modelo (B) o desenvolvimento da vertente pressupe que a intensidade do transporte seja proporcional ao seno do ngulo de declive e ao aumento da distncia a partir do interflvio. As fases iniciais desta evoluo assinalam regresso paralela da parte rectilnea, combinada com o desenvolvimento de convexidade e concavidade. Estes elementos estendem-se e acabam por dominar inteiramente o perfil. No terceiro modelo (C) a remoo do material feita directamente e a intensidade do transporte est relacionada com o seno do ngulo de declive. A regresso paralela da vertente o trao dominante embora haja o desenvolvimento de concavidade e convexidade. A Fig. D representa a combinao dos trs modelos, pertencendo o perfil de cada um a estdios de desenvolvimento comparveis. Nos modelos que evoluiram atravs do transporte de material ao longo da vertente para o sop (modelos A e B), a diminuio do declive considervel, eles apenas diferem no facto de no modelo A o topo do sop apresentar convexidade, enquanto que o modelo B apresenta concavidade. O modelo C mostra ligeira diminuio do declive em relao vertente inicial, sendo a concavidade da parte superior do sop muito melhor desenvolvida do que no modelo B. A. Young apresentou vrios outros modelos, considerando a possibilidade de haver deposio de materail detritco no sop da vertente e do entalhamento fluvial actuar e promover a remoo da carga detritca oriunda das vertentes. Da anlise destes modelos o autor conclu que: a - a diminuio do declive parece estar ligada aos processos que envolvem o transporte de material ao longo das vertentes; b - a regresso paralela das vertentes parece estar ligada aos processos que envolvem a remoo directa do material das vertentes; c - h equivalncia entre os casos de remoo directa do material e os casos em que a intensidade da alterao o factor que limita a regresso das vertentes. Consequentemente, ocorrer regresso paralela nos casos em que a alterao controla a evoluo da vertente, e ocorrer diminuio dos ngulos de declive nos casos em que o trasnporte de material for o factor limitante;
46 d - a presena de uma convexidade longa e suave est ligada actuao dos processos de transporte do material para o sop das vertentes, fundamentalmente nos casos em que a intensidade do transporte est apenas relacionada com o declive; e - na maioria dos casos com entalhamento fluvial, a parte inferior da vertente ingreme at que seja alcanado o declive que favorea a ocorrncia de movimentos rpidos de massas. Uma excepo possvel a esta regra o caso no qual se verifica um aumento da intensidade do transporte proporcional distncia a partir do interflvio. Neste caso o declive da base da vertente relaciona-se com as intensidades relativas do entalhamento fluvial e do transporte de material pela vertente; f - no caso da vertente ter sido afectada por dois perodos de entalhamento fluvial, em que a durao do segundo entalhamento tenha sido menor que a metade da durao do primeiro as evidncias relativas ao primeiro perodo apenas sero distinguidas na forma do perfil; g - nas vertentes com relevo superior a 100m, os processos de remoo directa do material detritco so relativamente mais eficientes em originar a regresso paralela das vertentes, do que os processos de transporte do material para jusante.
2.4 - Funcionamento e hidrologia das vertentes A vertente apresenta uma complexidade muito elevada no seu funcionamento. Para a abordar o seu estudo dois conceitos so fundamentais: o do balano morfogentico e o da dinmica das vertentes. No conceito do balano morfogentico, enunciado por Alfred Jahn (1954), alterao e a pedognese correspondem a componentes verticais na vertente e da sua aco combinada resulta um aumento da espessura do reglito. Os restantes processos morfogenticos (movimento do reglito, escoamento, aco elica e outros) correspondem a componentes paralelas, cujo efeito conduz remoo dos materiais detritcos da vertente, diminuio da espessura do reglito e o rebaixamento do modelo. O balano morfogentico da combinao das componentes verticais e paralelas resulta e calcula-se para cada ponto da vertente. Se no ponto A (fig. 2.17, pg. 59) a aco da alterao e da pedognese for superior retirada do material, o balano ser positivo, caso contrrio, o balano ser negativo. Se houver equilbrio entre as componentes o balano permanecer estvel e a espessura do reglito no ser alterada. Nos pontos B e C o balano
47 morfogentico s ser positivo se a soma da componente vertical com a quantidade de material detritco que lhes fornecido, a partir da parte montante, for superior quantidade do material que lhes retirado, caso contrrio o balano ser negativo. Esquematicamente a vertente corresponde rea localizada entre o interflvio e o canal fluvial, tem como limite superior a superfcie topogrfica e como limite inferior a superfcie rochosa inalterada. Deste modo, a dinmica das vertentes pode ser estudada como um sistema aberto, recebendo e perdendo tanta matria como energia (fig. 7.14). As fontes primrias de matria do sistema so a precipitao, rocha subjacente e vegetao e de energia so a gravidade e a radiao solar. Os diferentes processos que se fazem sentir a nvel das vertentes (escoamento, alterao, movimentos do reglito, infiltrao, eluviao e outros) promovem o fluxo de matria e de energia atravs do sistema, at ser transferido para o sistema fluvial. As vertentes apresentam um equilbrio dinmico, que pode atingir o estado de estabilidade (steady state), no qual a forma da vertente permanecer imutvel com o decorrer do tempo, embora haja desgaste ou diminuio altimtrica do seu relevo. As vertentes so partes integrantes das bacias hidrogrficas, no podendo a sua descrio ser feita sem que sejam feitas consideraes acerca das suas relaes com a rede hidrogrfica. As vertentes e os rios so entidades pertencentes a um sistema aberto, a bacia de drenagem, e como tal esto contnuamente em interaco. A forma e o ngulo das vertentes devero estar ajustadas para fornecer a quantidade de material detritco que o curso de gua pode transportar. Inversamente, os parmetros hidrulicos dos cursos de gua devero ajustar-se para transportar a quantidade de material detritco que lhe fornecida pelas vertentes. Quando o sistema vertente-curso de gua estiver em equilbrio, ento toda a bacia hidrogrfica pode ser considerada como em estado de ajustamento. 2.5 - Importncia do estudo das vertentes O estudo das vertentes importante do ponto de vista geolgico por dois motivos fundamentais. O primeiro relaciona-se com o facto dos conhecimentos e compreenso dos processos actuais poderem levar interpretao dos ambientes antigos e ao estudo da paleogeografia. No entanto subsiste o problema de extrapolar pura e simplesmente os processos actuais e as suas consequncias para as pocas passadas. O segundo aspecto relaciona-se com os fenmenos que actuam sobre as vertentes e que regulam o tipo de material a ser fornecido aos rios e aos demais meios de transporte do material detritco. Consoante o tipo de material originado na fonte (vertente) assim ser o tipo de material que ocorre no ambiente de sedimentao.
48 A teoria bio-resistsica de Henri Erhart, baseia-se nesta inter-relao entre os processos pedogenticos e as variaes da cobertura vegetal dos continentes. A aco geoqumica exercida pelas florestas, constitu o fundamento da teoria. Sob cobertura florestal densa e no decorrer da sua evoluo pedogentica, as rochas perdem as suas bases alcalinas e alcalinoterrosas e a maior parte da slica. Apenas o ferro, o alumnio e a argila residual permanecem no local. Estabelece-se assim uma distino muito ntida entre os materiais da fase migradora (bicarbonatos de Na, K, Ca, Mg e lentes de slica hidratada) e os da fase residual (hidrxidos de ferro, alumnio, argila do tipo caolinite). Esta separao s possvel porque nas florestas a alterao mecnica praticamente nula, e a alterao qumica todos os elementos qumicos solveis do reglito de muito intensa. Durante um perodo longo de tempo geolgico, a separao entre as duas fases ser total. Na vida e sedimentao dos oceanos a repercusso da fase migradora traduz-se no facto de durante todo o perodo florestal a sedimentao ser apenas qumica. A sedimentao detrtica s poder ser retomada quando a floresta desaparecer e libertar para a alterao os elementos da fase residual da pedognese. Nesta perspectiva, compreende-se que algumas rochas calcrias, margosas e dolomticas bem como algumas rochas com slica hidratada, alm de serem contemporneas, so testemunhos da extensa cobertura florestal reinante nas reas continentais. A acumulao destes materiais pedogenticos em estado quase puro pode fazer-se durante milhes de anos, enquanto os continentes permanecerem isentos de movimentos tectnicos ou vulcnicos e sem modificaes climticas importantes capazes de provocar o desaparecimento da floresta. Este tipo de sedimentao indica uma estabilidade muito grande da crosta terrestre e caracteriza um perodo de equilbrio no decorrer do qual os seres organizados puderam atingir o seu "climax" e desenvolvimento mximo, isto o perodo da biostasia. O perodo de resistasia corresponde fase de desequilbrio durante a qual os elementos residuais pedogenticos (argilas, areias, produtos ferruginosos e alumnicos), acumulados no decurso dos perodos biostsicos, sero exportados dos continentes, aps o desaparecimento da floresta originado pela ruptura do equilbrio climtico e biolgico. A teoria bio-resistsica pode tambm servir como critrio geocronolgico, dando uma ideia aproximada da amplitude das oscilaes climticas ocorridas em determinadas pocas geolgicas. At certo ponto, essas oscilaes podem ser simplesmente deduzidas das espessuras respectivas dos sedimentos bioqumicos e dos sedimentos residuais. A pedognese florestal um fenmeno muito lento, consequentemente a sedimentao com ela relacionada estende-se por um perodo muito longo; ao contrrio, a eroso dos perodos resistsicos um fenmeno brutal que pode ocorrer em apenas alguns anos ou em algumas centenas de anos, levando ao remanuseamento de todo o manto residual. Percebe-se, pois, que a durao dos
49 perodos de deposio do material detritco sejam mais curtos do que os perodos em que ocorreu a sedimentao bioqumica. 3. - Processos e formas de relevo fluviais Os rios constituem os agentes mais importantes no transporte dos materiais alterados das reas elevadas para as reas mais baixas e dos continentes para o mar. O rio um fluxo de escoamento canalizado com uma determinada grandeza dificil de precisar. Para cursos de gua abaixo dessa grandeza, existem as designaes de ribeiro, ribeira, riacho e outros. De acordo com as caractersticas do canal de escoamento os rios dividem-se em rios efmeros, intermitentes e perenes. Rios efmeros so rios cujos canais de escoamento se encontram secos durante a maior parte do ano, apenas tm gua durante e imediatamente aps as chuvas. Os rios intermitentes funcionam apenas durante uma parte do ano, na outra esto secos. Rios perenes tm os seus canais de escoamento permanentemente com gua durante todo o ano.
3.1 - Hidrologia da bacia de drenagem Os rios funcionam como canais de escoamento e a sua alimentao processa-se atravs das guas superfciais e subterrneas. O escoamento fluvial compreende a quantidade total de gua que atinge os cursos de gua, inclu o escoamento pluvial, que imediato, e a parcela das guas precipitadas que s posteriormente, e de modo lento, se vo juntar aos cursos de gua atravs da infiltrao. Deste modo, da precipitao total, apenas a quantidade de gua movimentada pela evapotranspirao no chega a participar no escoamento fluvial. Precipitao = escoamento + evapotranspirao A proporo com que as guas subterrneas e superfciais participam na alimentao de um curso de gua, varia muito com o clima, tipo do solo, rocha, declive, cobertura vegetal e outros factores (fig. 8.2). Estima-se que 1/8 da drenagem anual do ciclo hidrolgico escoe directamente para o mar, a partir da superfcie da terra e que 7/8 da gua se infiltre, pelo menos momentneamente. Nas regies hmidas, como os rios recebem uma contribuio permanente da gua do subsolo so denominados por rios efluentes; nas regies secas, como a gua se infiltra no subsolo so designados por rios influentes.
50 O regime fluvial corresponde variao do nvel das guas pluviais no decurso do ano. O volume de gua escoado, para um determinado canal, varia no canal de escoamento no decurso do tempo em funo de variadssimos factores, tais como precipitao, condies de infiltrao, drenagem subterrnea e outros. O dbito, vazo ou mdulo fluvial corresponde ao volume de gua medido em metros cbicos por segundo. O fluxo da gua pode ser laminar ou turbulento (fig. 8.6). No fluxo laminar a gua flu em camadas paralelas umas sobre as outras a reduzidas velocidades ao longo de um canal recto e suave. A camada na qual a velocidade mxima localiza-se imediatamente abaixo da superfcie da gua, contudo este fluxo no pode manter partculas slidas em suspenso e no se encontra nos cursos naturais de gua. O fluxo turbulento caracterizado por uma variedade de movimentos caticos, heterogneos, com muitas correntes secundrias contrrias ao fluxo principal para jusante. Os factores que afectam a velocidade crtica e que permitem que o fluxo laminar se transforme em turbulento, so a viscosidade e densidade do fludo, a profundidade da gua e a rugosidade da superfcie do canal. Existem duas categorias de fluxo turbulento, o fluxo turbulento baixo que ocorre geralmente nos cursos fluviais e o elevado que ocorre nos troos de velocidades mais elevadas, e que implica aumento da intensidade da eroso. Para se calcular o tipo de fluxo utiliza-se o nmero de Froude.
V = velocidade mdia g = fora de gravidade D = profundidade da gua F < 1 fluxo turbulento baixo, tranquilo F > 1 fluxo turbulento elevado Nmero de Reynolds (Re) ~ 500 fluxo laminar Nmero de Reynolds (Re) ~ 2000 fluxo turbulento (fig. 8.9) A velocidade das guas de um rio varia para um determinado ponto de um lugar para outro ao longo do mesmo perfil transversal. Geralmente a velocidade mais elevada localizase abaixo da superfcie, e as velocidades menores situam-se junto s paredes laterais e ao fundo do canal.
51 As velocidades variam, tambm com a forma e a sinuosidade dos canais, nos canais simtricos a velocidade mxima da gua localiza-se abaixo da superfcie centralizada. A distribuio da turbulncia nos cursos de gua tambm no uniforme. Nos canais assimtricos, a velocidade mxima desloca-se do centro para a parte lateral onde as guas so mais profundas. Nos canais assimtricos os valores mais elevados encontram-se no lado menos profundo e os valores menos elevados da turbulncia encontramse no lado menos profundo e os valores menos elevados localizam-se no lado do canal mais profundo. Isto explica, com facilidade, o deslocamento lateral verificado na distribuio das velocidades nos canais meandriformes. Nos canais simtricos a partir do centro onde a velocidade mxima, dispem-se lateralmente sectores de velocidades moderadas onde a turbulncia elevada, junto ao fundo e nas paredes a turbulncia reduzida. A turbulncia e a velocidade esto intimamente relacionadas com o trabalho que o rio executa e, para que este se efectue, necessria a existncia de energia. A energia de um rio pode ser potencial e cintica. A energia cintica apresenta a energia que a gua possui em virtude da sua velocidade. A Energia potencial a energia que a gua possui em funo da sua posio. A energia cintica igual metede da massa de gua, multiplicada pelo quadrado da velocidade qual ela se move. A energia potencial igual ao peso da gua multiplicado pela diferena altimtrica entre dois pontos do trecho em que a energia est a ser calculada. O fluxo converte a energia potencial em energia cintica que, por sua vez largamente dissipada em calor e frico. Calcula-se que a maior parte da energia de um rio consumida em calor (cerca de 95%), a restante, excluda a gasta na frico, empregue no trabalho dos rios. A energia disponvel pode ser aumentada se a frico for diminuindo atravs da suavizao, rectilinizao ou reduo do permetro hmido. A energia total, cintica e potencial influenciada principalmente pela velocidade, sendo esta relao expressa atravs das seguintes frmulas: Ep= W.h; W= peso da gua h= diferena altimtrica entre dois pontos
Ek=
M 2
2 ; M= massa de gua V= velocidade Et= Ep + Ek
52
A velocidade dos rios depende por sua vez do declive, volume de gua, viscosidade da gua, largura, profundidade e forma do canal e rugosidade do leito. A velocidade pode ser quantificada utilizando a frmula de Chezy, que define a velocidade em funo do raio hidrulico e declive V= C
RS
V= velocidade mdia R= raio hidrulico S= declive C= constante emprica que depende da gravidade e de outros factores que contribuem para a fora de frico. A fora de frico, por sua vez, depende da rugosidade e rectilinidade do canal e da forma e tamanho do perfil transversal.
A importncia das margens plenas dos canais decorre da permissa de que a forma e o padro dos canais fluviais esto ajustados ao dbito, sedimentos fornecidos pela bacia de drenagem e material rochoso componente das margens. Tendo em conta a variabilidade dos fluxos, verifica-se que a forma do canal controlada por acontecimentos de magnitude moderada e de ocorrncia relativamente frequente. Os dbitos de margens plenas (dbito que preenche, na medida justa, o canal fluvial, e acima do qual ocorrer transbordo para a plancie de inundao) surgem como os dbitos com maior poder efectivo para esculturar o modelado do canal. Neste caso as ondas de fluxo tm uma aco morfogentica activa sobre as margens e fundo do leito, posuindo competncia suficiente para movimentar o material detritco. Num canal fluvial podem distinguir-se vrios elementos com caractersticas distintas. O fluxo e o material sedimentar so os dois elementos fundamentais na estruturao do sistema de geometria hidrulica, em cursos aluviais. Cada um desses elementos pode ser caracterizado por diversas variveis ou atributos, cuja medida realizada nas seces transversais doa leitos (fig. 8.7). As variveis consideradas so as seguintes:
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A - Elemento fluxo 1. Largura do canal (L), largura da superfcie da camada de gua que
recobre
canal;
2. Profundidade do canal (h), espessura de fluxo medida entre a
superfcie do leito e
a superfcie da gua;
3. Velocidade do fluxo, comprimento da coluna de gua que passa, em
determinado
limitante
permetro hmido (R= A/P). Nos rios com larguras grandes, o raio aproximado igual ao valor da profundidade mdia;
hidrulico
unidade
de
54
2. Rugosidade do leito, representa a variabilidade topogrfica verificada na superfcie do
leito, pela disposiao e ajustamento do material detrtico e pelas formas topogrficas do leito.
Os sedimentos so transportados pelos rios atravs de trs tipos distintos de transporte: soluo, suspenso e saltao (fig. 8.12). A carga transportada pelos rios divide-se em carga slida representada pela carga do leito do rio e pela carga em suspenso e carga dissolvida. A carga dissolvida (solute load or dissolved load) constituda pelos provenientes, da alterao das rochas, transportados em soluo qumica. A quantidade de matria em soluo na gua depende, em grande parte, da contribuio relativa da gua subterrnea e do escoamento superfcial para o dbito do rio. A composio qumica das guas dos rios depende de vrios factores tais como clima, litologia, topografia, vegetao e durao temporal gasta para o escoamento (superfcial ou subterrneo) atingir o canal. A carga dissolvida transportada mesma velocidade do fluxo da gua at onde ele chegar; a deposio do material s se processa quando houver a saturao (por evaporao; por exemplo). A carga de sedimentos em suspenso (suspended load) constituda pelas partculas de granulometria reduzida (silte e argila (wash load), transportadas mesma velocidade da gua, durante o intervalo de tempo que a turbulncia for suficiente para mant-la em suspenso. Quando a turbulncia atinge o limite crtico, as partculas precipitam normalmente em trechos de gua muito calmos ou em lagos. A carga do leito do rio (bed load or traction load) constituda pelas partculas de granulometria mais grosseira (areias e cascalhos), que rolam, deslizam e saltam ao longo do rio. A sua velocidade mais reduzida do que a do fluxo da gua, uma vez que os gros se deslocam de modo intermitente. A capacidade (stream power) de um rio dada pela quantidade maior de material detrtico dum determinado tamanho, que o rio pode deslocar como carga do leito. A competncia do fluxo medida pelo maior dimetro da partcula que pode ser transportada a uma velocidade especfica do fluxo. Estima-se que a carga do leito seja aproximadamente de 10% da carga em suspenso, mas em rios anastomosados pode exceder 50% da carga total. A carga dos sedimentos em suspenso e a carga do leito, relacionam-se com a vazo e devem ser considerados na geometria hidrulica. Considerando que a carga dissolvida no afecta as propriedades fsicas da gua, L. B. Leopold e T. Maddock propuseram a seguinte equao, relacionar a carga dos sedimentos em suspenso com o dbito:
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j L= pQ
Os valores do expoente j distribuem-se no intervalo de 2.0 e 3.0, indicando que a quantidade de carga aumenta numa proporo muito superior de qualquer outro elemento da geometria hidrulica relacionado com a vazo. A razo principal para este facto a de que a carga detrtica no provm apenas da aco abrasiva do rio sobre o fundo e margens, mas principalmente da lavagem efectuada pelo escoamento superfcial sobre as vertentes e que a maior parte da carga detrtica transportada durante as fases de cheia e enchentes, quando os dbitos so mais elevados. A granulometria dos sedimentos fluviais vai diminuindo na direco jusante, o que representa uma diminuio da competncia do rio. A reduo da competncia ao longo de um curso de gua devida diminuio do cisalhamento (esforo dum corpo no qual a resultante das foras exteriores que actuam sobre si est situada no plano da seco recta e tende a fazlo deslizar nesse plano). O cisalhamento, no leito do rio, proporcional ao produto do declive vezes o raio hidrulico. A capacidade de transporte mxima para fluxos de descargas, declives e raios hidrulicos elevados. A capacidade pode traduzir-se no poder do fluxo por unidade de comprimento. w s = P gQ = capacidade do fluxo por unidade de comprimento, medido em watts(w) ou joules -1 por segundo(js ). w P = densidade da gua g= acelerao da gravidade Q= descargas s= declive do canal
A deposio da carga detrtica transportada pelo rio ocorre quando h diminuio da competncia ou da capacidade do fluxo, at l, as partculas permanecem no interior do fluxo. As partculas depositadas no leito do rio, exercem sobre as partculas subjacentes uma fora vertical igual ao seu peso imerso sobre. Como os canais naturais apresentam declives, o peso imerso resulta da interaco entre a componente normal superfcie do leito e a componente tangencial ao leito, dirigida para jusante.
56 Para movimentar uma determinada partcula, h necessidade de uma fora suficiente para superar a exercida pela componente normal do peso imerso. Esta fora edenominada por fora tractiva crtica (ou fora de cisalhamento) e a velocidade na qual ela actua por velocidade de eroso. Quanto maior for o dimetro da partcula, maior ser a fora necessria para a movimentar. Observaes mostram que a fora de cisalhamento (produto da profundidade pelo declive) decisiva para iniciar o movimento de partculas pequenas, mas que para partculas maiores a velocidade do fluxo mais importante. Bagnold (1953) ps em evidncia a relao entre velocidade critca e o dimetro das partculas. Para partculas menores do que determinado valor critico, os valores da velocidade necessrios para as colocar em movimento aumentam medida que o seu dimetro diminui. Para partculas de dimtero inferior a 0.3mm existe uma relao inversa entre o valor do seu dimetro e a velocidade crtica necessria para as colocar em movimento. Esta relao explicada pelo facto de que para partculas mais finas a rugosidade do leito reduz-se levando a uma diminuio da turbulncia das partculas localizadas na da subcamada laminar. Para que haja incluso das partculas no fluxo turbulento existe um tamanho crtico necessrio aproximadamente 0.7mm. Para partculas de dimetro superiores a 0.7mm, a fora necessria para as movimentar, fora de soerguimento, mais elevada uma vez que elas se encontram submersas na subcamada laminar. A fora de soerguimento diminui rapidamente, desaparecendo quase por completo a uma distncia de 2.5cm do leito. Hjulstrom (1935) mostrou a relao entre eroso e deposio das partculas, em funo do seu dimetro e velocidade crtica. As linhas divisrias da eroso e sedimentao devem ser entendidas como faixas, uma vez que as velocidades variam consoante as caractersticas da gua e das partculas. Partculas de tamanhos iguais, mas com densidades diferentes, requerem velocidades e foras diferentes para se movimentarem ou depositarem. Do grfico ressaltam dois aspectos importantes: a) as areias so mais facilmente erodidas, os siltes, argilas e cascalhos resistem mais. A resistncia das partculas finas deve-se s foras coesivas e rugosidade reduzida do leito. Os cascalhos so difceis de serem transportados em virtude do seu tamanho e peso.
b) uma vez em movimento, os siltes e as argilas podem ser transportados a
velocidades muito mais baixas. Por exemplo, partculas de 0.01mm de dimetro necessitam, para serem movimentadas, de velocidades crticas de aproximadamente 60cm/s, mas para se conservarem em movimento apenas de velocidades inferiores a 0.1cm/s.
57 A velocidade de deposio depende principalmente do dimetro e da densidade da partcula, porque os restantes factores (gravidade, viscosidade e densidade da gua) so constantes num tempo determinado e lugar do canal. De um modo geral, a velocidade aumenta regularmente de acordo com o dimetro at s partculas de dimetro igual a 0.1mm, quando h uma ruptura na curva de distribuio. Para partculas de dimetro superior a 0.1mm, a velocidade aumenta com menos intensidade. A curva assinala, tambm, que a velocidade, necessria para conservar as partculas arenosas em movimento se altera no ponto representado pelo dimetro de 0.1mm. As partculas de dimetro inferior a 0.1mm depositam-se com velocidades que variam consoante o quadrado do dimetro da partculas; as de dimetro superior a 0.1mm depositam-se com velocidades que variam proporcionalmente consoante a raz quadrada do dimetro da partcula.
A eroso fluvial engloba todos os processos que conduzem retirada de material do fundo e das margens do leito para o integrar na carga sedimentar. Actuando na totalidade do curso de gua, a eroso um fenmeno muito importante, sobretudo a nvel do fundo dos canais localizados em regies montanhosas. A eroso fluvial realiza-se atravs dos processos de corroso, corraso e cavitao. A corroso consiste na alterao qumica dos minerais que esto em contacto com a gua e na remoo dos produtos solveis dowstream. Abrange tambm as reaces qumicas que ocorrem entre a gua e a carga detrtica do leito ou em suspenso. No sentido mais lacto a corroso significa corroer, desgastar e oxidar. Os factores que controlam a corroso so a mineralogia das rochas do fundo do canal, a concentrao do soluto presente na corrente de gua, a descarga da corrente, a velocidade do fluxo e a temperatura. Em canais localizados em terrenos carbonatados montanhosos e hmidos de regies temperadas e quentes a corroso um processo importante a nvel do substracto. As marcas e as formas topogrficas produzidas pela corroso so mais visveis e perenes em trechos de leitos fluviais rochosos, nos restantes leitos so facilmente obliterados pela sedimentao posterior ou pela intensa movimentao detrtica. A corraso ou abraso consiste no desgaste ou separao das rochas do fundo pelas partculas em movimento carregadas pelo fluxo de gua. Nos trechos fluviais rochosos a abraso assinalada pelo polimento suave das rochas aflorantes no canal. O material abrasivo depende do material que lhe fornecido pelas margens e pelas vertentes e tambm pelo leito.
58 A principal fonte de material detrtico so as vertentes. Nas bacias onde a alterao mecnica predomina, as vertentes fornecem fragmentos grosseiros, nas vertentes onde predomina a alterao qumica, as vertentes contribuem apenas com elementos de granulometria fina. As cargas em suspenso e soluo no tm poder abrasivo, razo pela qual os rios intertropicais, que transportam sedimentos finos (areias e argilas), no conseguem entalhar rupturas de declive (cachoeiras e corredeiras). A eficcia da abraso depende da concentrao, dureza e energia cintica do impacto das partculas e da resistncia da superfcie do fundo rochoso. Como a energia cintica proporcional ao quadrado da velocidade, as taxas de abraso aumentam rapidamente com o aumento das velocidades do fluxo. Dois tipos de corraso podem ser identificados, corraso vertical e a corraso lateral. A corraso vertical consiste no entalhamento dos leitos fluviais devido ao movimento da carga do seu leito: nas reas continentais localizadas acima do seu nvel de base de degradao, a corraso manifesta-se pelo aprofundamento do seu canal, nas reas continentais localizadas proximidade do seu nvel de base, e com climas secos a corraso manifesta-se pelo alargamento do seu canal. A corraso lateral ou regresso das margens fluviais pode levar ao alargamento das plancies de inundao e, aos aplanamentos de plancies rochosas, principalmente das plancies de regies ridas e semiridas. A cativao consiste na fragmentao das rochas da parede do canal quando a velocidade do fluxo elevada. Nestas condies as variaes de presso sobre as paredes do canal facilitam a fragmentao. Quando o canal fluvial diminui de dimenso, a velocidade do fluxo aumenta uma vez que a gua no compressvel, levando este aumento ao aumento do nvel de energia cintica. Como o peso especfico, densidade, altura da gua e a energia total do curso de gua permanecem constantes, a presso exercida pela gua diminui. Se a diminuio da presso atingir o valor da presso do vapor de gua, formar-se-o bolhas. Se o canal voltar a alargar, o valor da presso aumentar medida que a velocidade e a componente da energia cintica forem diminuindo. As bolhas desaparecero e as margens e o leito sero atingidos por ondas de choque de fora surpreendente e com velocidades elevadas -1 da ordem dos 130m/s . As velocidades destas ondas podem originar stresses (tenses) suficientes sobre as paredes do canal para fracturar rochas slidas. Nos canais de superfcies muito lisas, o escoamento e a exploso das bolhas faz-se com dificuldade, tornando-se o processo mais activo medida que a superfcie do leito e das margens se tornem rugosas. Obviamente a cativao ser mais activa nas partes do canal onde ocorram, talvez por razes estruturais, variaes na sua largura do canal e na presena de sectores com velocidades elevadas (rpidos, quedas de gua ...).
59
A bacia de drenagem fluvial constituda pelo conjunto dos canais de escoamento interrelacionados numa rea definida, drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial. A quantidade de gua que atinge os cursos fluviais depende do tamanho da rea ocupada pela bacia, da precipitao total e do seu regime e das perdas devidas evapotranspirao e infiltrao. As bacias de drenagem, de acordo com o escoamento global, podem classificar-se em:
a) Bacias exorreicas, so as bacias que desembocam directamente no mar ou oceano. O
exemplo nas reas desrticas onde a precipitao negligencivel e a actividade dunria intensa, levando a que as linhas e os padres de drenagem no permaneam visveis;
d) Bacias criptorreicas, so bacias subterrneas, tpicas das reas crsicas. A drenagem
subterrnea acaba por surgir sob a forma de fontes ou integrar-se em rios suberos. Alm das bacias, os rios individualmente, tambm foram objecto de classificao:
a) Rios consequentes (consequent stream), so rios cujo curso foi determinado pelo declive
da superfcie terrestre, e que coincidem geralmente com a direco da inclinao principal das camadas. Originam normalmente drenagens paralelas;
b) Rios subsequentes (subsequent stream), so rios cuja direco de fluxo controlada pela
estrutura rochosa, acompanham sempre zonas de fraqueza, tais como a folhas juntas ou ento
60 camadas de rochas delgadas ou facilmente alterveis. Nos terrenos sedimentares, correm perpendicularmente inclinao principal das camadas;
c) Rios antecedentes (antecedent stream), so rios que correm ao longo de rochas que foram
aplanadas ao seu percurso. Os rios antecedentes ocupam normalmente a garganta que cruza a dobra estrutural;
d) Rios superimpostos (superposed stream), so rios que cortam as camadas at que o seu
canal corte rochas de diferentes litologias ou estruturas. O seu percurso inicial no foi determinado pela natureza litolgica das rochas atravs das quais ele corre actualmente. Estes rios fluem na mesma direco dos rios consequentes. Geralmente originam-se no reverso de escarpas e fluem at desembocar num rio subsequente;
e) Rios insequentes, so rios que se estabelecem sem nenhuma razo aparente ou orientao
geral prestabelecida, isto , na disposio espacial da drenagem no vsivel nenhum controlo da estrutura geolgica. Os rios correm em direces variadas, de acordo com as particularidades da morfologia. So comuns em reas de topografia plana e homogeneidade litolgica, como as granticas. Os Padres de Drenagem, assunto amplamente debatido na literatura, referem-se ao
arranjo espacial dos cursos de gua. Este arranjo controlado pela natureza e disposio das camadas rochosas, pela resistncia litolgica varivel, pelas diferenas de declive e pela evoluo geomorfolgica da regio. Utilizando apenas o critrio geomtrico, da disposio fluvial sem nenhum sentido
tributrios e por correntes de categoria menor. As correntes tributrias distribuem-se sobre a superfcie do terreno em todas as direces, unem-se em ngulos agudos de valores distintos, sem nunca chegar ao ngulo recto (a presena de ngulos rectos constitu uma anomalia, atribuvel a fenmenos tectnicos). Este padro de drenagem desenvolve-se em rochas de resitncia uniforme ou em estruturas sedimentares horizontais.
b) Drenagem em trelia, composta por rios principais consequentes, correm paralelamente
e por afluentes subsequentes que fluem em direco transversal aos primeiros. Os subsequentes, por sua vez, recebem rios antecedentes e resequentes. Geralmente, as confluncias formam ngulos rectos. Este tipo de drenagem apresenta um controlo estrutural
61 importante e muito acentuado, em virtude das diferenas de resistncia entre as camadas. As camadas mais resitentes afloram em faixas estreitas e paralelas cristas paralelas e as camadas de rochas mais fragis promovem o entalhe dos tributrios subsequentes. Este tipo de drenagem encontra-se em estruturas sedimentares homoclinais, estruturas falhadas e cristas anticlinais. Pode tambm desenvolver-se em reas de glaciao.
c) Drenagem rectangular, caracterizada por um aspecto ortogonal originado pelas
alteraes bruscas e rectangulares dos cursos das correntes principais e tributrias. Esta configurao consequncia da influncia exercida por falhas ou por sistemas de juntas ou de diaclases. Nalguns casos este tipo de padro relaciona-se com camadas horizontais ou homoclinais de composio diferente.
d) Drenagem paralela, constituido por cursos de gua que, numa rea considervel ou em
numerosos exemplos sucessivos, escoam quase paralelamente uns aos outros. tambm conhecida por drenagem em cauda equina ou rabo de cavalo. Este tipo de drenagem localizase em reas onde existem vertentes com declives acentuados e controlo estrutural. Estes factores motivam a ocorrncia de espaamentos regulares quase paralelos das correntes fluviais. comum na presena de falhas paralelas ou em regies com lineamentos topogrficos paralelos, tais como nos drumlins e moreias.
e) Drenagem radial, composta por correntes fluviais dispostas como os raios de uma roda,
em relao a um ponto central. Desenvolve-se sobre os mais variados substractos e estruturas. Neste tipo de drenagem duas configuraes podem ser consideradas: 1) centrfuga, quando as correntes so do tipo consequente, divergindo a partir dum ponto ou rea que se encontra em posio elevada (domos, cones vulcnicos, morros isolados, etc.); 2) centrpeta, quando os rios convergem para um ponto ou rea central, localizada em posio mais baixa (bacias sedimentares periclinais, crateras vulcnicas e depresses topogrficas).
f) Drenagem anelar, nessta drenagem os rios seguem linhas circulares ou concntricas,
assemelha-se a anis em reas dmicas profundamente entalhadas, ou em reas com estruturas constitudas por camadas duras e fragis. A drenagem acomoda-se nos afloramentos das rochas mais resistentes, originando cursos de gua subsequentes e tributrios antecedentes e ressequentes.
g) Drenagens desarranjadas ou irregulares, so drenagens onde os cursos de gua no
apresentam nenhum controlo litolgico nem estrutural onde a distribuio dos cursos de gua no mostra evidncia nem de controlo litolgico e nem estrutural. So drenagens
62 desorganizadas por bloqueios, eroso (glaciao sobre uma rea ampla), por levantamento ou entulhamento de reas recentes, nas quais a drenagem no conseguiu ainda organizar-se (entulhamentos de lagos e de reas do litoral).
4.2 - Tipos de canais fluviais (fig. 9.9, 9.10, 9.11)
Os canais correspondem ao modo como o arranjo espacial do leito do rio se apresenta ao longo do superpercurso. Os canais podem ser de 7 tipos, meandrantes, anastomosados, rectos, ramificados, recticulados e irregulares. Os canais anastomosados, este tipo de canais forma-se quando o rio, sem ter competncia suficiente para o fazer, transporta material grosseiro em grandes quantidades. O material depositado no prprio leito originando obstculos que, em virtude da sua rugosidade e salincia, conduzem ao aparecimento de ramificaes do rio em mltiplos canais pequenos, rasos e desordenados em virtude das constantes migraes entre as ilhotas. Os trechos anastomosados localizam-se sempre ao longo do curso fluvial, e nunca no inico e fim onde h apenas um canal. Os canais rectos, so os canais nos quais o rio percorre um trajecto rectilneo, sem se desviar significativamente da sua trajectria normal, at foz. Os canais deste tipo so raros na natureza, existem apenas quando o rio est controlado tectonicamente (linhas de falha) ou quando o seu substracto for rochoso e homogneo. Caso contrrio o rio desviar-se- fatalmente da sua trajectria. Os canais ramificados, surgem quando um brao do rio volta ao leito principal, formando uma ilha. Esta juno pode verificar-se a dezenas de quilmetros a jusante. O caso mundial mais expectacular o do rio Araguaia cuja ramificao origina a maior ilha fluvial do mundo, a ilha do Bananal. Os canais mendricos, so canais nos quais os rios descrevem curvas sinuosas, largas, harmoniosas semelhantes entre si, mediante um trabalho contnuo de escavao na margem cncava (ponto de maior velocidade da corrente) e de deposio na margem convexa (ponto de menor velocidade). A origem do termo meandro est ligada ao rio Maiandros (actualmente Menderes) na Turquia. Este tipo de forma mendrica no se restringe aos cursos de gua, sendo observado em vales fluviais, glaciares, correntes marinhas e na trajectria dos ventos em altitude (jet-streams). O indce de sinuosidade o indicie dos canais fluviais que serve para distinguir os canais mendricos e dos restantes tipos de canais. Este indice traduz a relao entre o comprimento do canal e o comprimento do eixo do seu vale. Considera-se canal mendrico quando o indce for igual ou superior a 1.5.
63 Os meandros no so meros caprichos da natureza, mas sim o resultado de como o rio executa o seu trabalho pela lei do menor esforo. Representam um estado de equilbrio entre todas as variveis hidrolgicas, a carga detrtica e a litologia por onde corre o curso de gua. O meandro consttui o canal mais provvel de encontrar, uma vez que ele minimiza o declive, o cisalhamento e a frico. Desde que se estabeleca num curso de gua, a nvel duma regio, apenas um distrbio muito intenso o pode alterar. ampla a nomeclatura descritiva aplicada aos meandros, sendo os termos citados com maior frequncia os seguintes: a) Meandros abandonados, so os que no possuem ligao directa com o curso de gua actual, quando isolados formam lagoas ou pntanos, sendo numerosos nas plancies aluviais;
b) Diques semicirculares ou barras de meandro, correspondem aos bancos que se
desenvolvem no lado interno da curva do meandro. O seu desenvolvimento implica o preenchimento da curva do meandro que posteriormente originar os meandros abandonados.
c) Faixas de meandros, poro da plancie aluvial ocupada pelos meandros; d) Bancos de abaixamento, correspondem margem cncava e abrupta do rio onde a eroso,
Sofrendo aco erosiva nas duas frentes, a sua tendncia ser cortado ou estrangulado.
f) Point-bars, so reas baixas arenosas ou de cascalhos, constitudas pelo rio atravs da
deposio, no lado interno das curvas, dos materiais arrancados aos bancos situados a montante. Na nomenclatura dos meandros os aspectos geomtricos tidos em conta, so: a) Largura do canal (w), distncia perpendicular compreendida entre as duas margens do canal fluvial. A largura pode ser medida nos pontos de inflexo, isto , no sector localizado no trecho mdio do canal, onde o fluxo simtrico, entre dois arcos mendricos sucessivos. Neste ponto a velocidade distribui-se de forma uniforme;
b) Comprimento de onda ( ), distncia entre os pontos de inflexo de dois arcos mendricos
consecutivos, ou entre o eixo de duas curvas mendricas consecutivas localizadas no mesmo lado;
64
c) Comprimento do canal (L), distncia que acompanha o lineamento da margem do canal,
passam pelas unies dos eixos das curvas e das linhas mdias de dois arcos mendricos consecutivos;
e) Raio de curvatura, valor do raio da circunferncia localizada na curva do meandro da linha
mdia do canal. Esta medida corresponde ao valor do raio mdio de curvatura. O canal mendrico assimtrico, as depresses (pools) de maior dimenso ocorrem nas proximidades das margens cncavas, nos trechos entre as curvas, o perfil transversal mais simtrico e mais plano devido ao aparecimento de baixios (riffles) (fig. 9.16). A inter-relao existente entre a dimenso do canal, o tamanho do meandro e a descarga, leva a que a explicao da origem dos meandros no esteja relacionada aos obstculos. Pelo contrrio, a presena dos obstculos bem como a dos afloramentos de rochas, na rea dos meandros, originam variaes e distores na padronagem mendrica. Para a gnese dos meandros no existe uma teoria satisfatria. De acordo com o tipo de vale, os meandros podem ser: meandros divagantes e encaixados (incised). Os meandros divagantes (livres ou de plancie aluvial) originam-se quando as sinuosidades dos rios so de menor escala e independentes do traado do seu vale. Pelo facto de se localizarem na plancie de inundao (aberta e livre), este tipo de meandros desloca-se lateralmente de forma contnua chegando a atingir toda a extenso da plancie. O tamanho dos meandros o reflexo do dbito fluvial e do ajustamento entre as variveis hidrulicas. Schumm (1967) mostrou que a forma e sinuosidade dos canais fluviais depende, em primeiro lugar, do tipo de carga detrtica e, em segundo da descarga fluvial. Nestes canais mendricos a percentagem de silte e argila, elevada, justificando, provavelmente, a sinuosidade intensa destes canais. Verificou-se tambm que a sinuosidade diminui de acordo com o aumento da granulometria e da quantidade de carga detrtica. A reduo do declive originada pela sinuosidade provoca a diminuio do cisalhamento e da competncia. Os meandros encaixados (ou vales) surgem quando o rio e o seu vale so do tipo meandrico e na mesma escala. Em virtude do soerguimento ou abaixamento, os meandros vo-se entalhando nas camadas subjacentes, passando o vale a ter a mesma configurao do rio mendrico antecedente. Segundo Thornbory existem dois tipos de meandros encaixados: meandros entalhados verticalmente (intrenched), vertentes quase idnticas para ambos os lados do vale, e meandros que sofreram deslocamento (ingrown), com vertentes mais
65 ngremes nas concavidades e vertentes mais suaves nas convexidades do vale mendrico. provvel que o aumento da sinuosidade ocorra durante o entalhamento (fig. 9.19). Este tipo de meandros encaixados assimtricos encontra-se particularmente bem desenvolvido em estratos horizontais. Os vales so esculpidos pela aco morfogentica fluvial. Rios inadaptados (underfit) so rios que no esto proporcionalmente equacionados ao tamanho dos vales que percorrem. O aumento do dbito do rio acompanhado do poder erosivo e do ajustamento rpido da grandeza do seu vale ao seu tamanho. Se o volume superior ao tamanho do seu vale, o rio inadaptado para mais (overfit). No caso dos meandros fluviais serem muito reduzidos em relao dimenso do seu vale, ento os rios so desproporcionados para menos (underfit). Geralmente so rios que tiveram um volume maior, esculpindo o vale de acordo coma sua potncia. e que sofreram uma reduo acentuada da sua carga. Podem permanecer indefinidamente nesta condio. Existem numerosos exemplos deste tipo de rios inadaptados underfit.
Perfil longitudinal dos rios
O perfil longitudinal constitudo pela representao visual da relao entre a altimetria e o comprimento de determinado curso de gua, com o seu declive ou gradiente. O perfil tpico cncavo para cima, com os declives maiores na direco nascente e com valores cada vez mais suaves na direco do nvel de base. Os rios que apresentem este tipo de perfil so considerados equilibrados, razo pela qual o perfil longitudinal normalmente designado por perfil de equilbrio longitudinal. O perfil longitudinal resulta do trabalho do rio em toda a sua extenso para manter o equilbrio entre a capacidade e a competncia, de um lado, e a quantidade e o calibre da carga detrtica, do outro. Se a capacidade e competncia forem maiores do que as requeridas para transportar a carga que lhe fornecida, o rio dever baix-las atravs de modificaes na morfologia e declive do canal. Inversamente, se a capacidade e competncia do rio forem menor, o rio dever aument-la atravs de modificaes na morfologia e declive do seu canal. Em resumo, verifica-se que no canal fluvial haver aumento, de montante para jusante, do dbito, largura e profundidade do canal, da velocidade mdia das guas e do raio hidrulico. Haver diminuio do tamanho dos sedimentos, da competncia do rio, da resistncia ao fluxo e do declive. Em consequncia do comportamento e do ajuste destas variveis, o perfil longitudinal surge como a resposta ao controlo, exercido por estes factores, e no como um factor controlante e independente.
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O equilbrio fluvial
A ideia da existncia de um perfil de equilbrio foi inicialmente proposta no sculo XVII, quando Guglielmi verificou que um rio modificava o seu canal, erodindo ou depositando, at alcanar um equilbrio entre a energia e a resistncia. Observou tambm que tais perfis de equilbrio eram cncavos e que os seus declives variavam com a velocidade do fluxo, carga e tamanho do material do leito. Grove K. Gilbert, em 1887, foi quem primeiro empregou o termo rio equilibrado (graded stream) para designar o ajuste entre os sectores de um rio e os elementos da sua rede de drenagem. Em 1968 M. Morisawa considerou que um rio equilibrado era o rio que tinha atingido o seu estado de estabilidade, aps um determinado perodo de tempo, de tal modo que a gua e a carga detrtica que entravam no sistema eram compensadas pelas que dele saiam. O estado de estabilidade atingido e mantido pela interaco mtua das caractersticas do canal, tais como declive, forma do perfil transversal, rugosidade e padro do canal. um sistema auto-regulador, qualquer alterao nos factores controlantes causar um deslocamento em determinada direco que tender a absorver o efeito da mudana.
4.3 - Formas de relevo deposicionais fluviais
A deposio da carga levada pelos rios ocorre quando h diminuio da competncia ou capacidade fluvial. Esta diminuio pode ser causada pela reduo do declive, e pelo aumento ou diminuio do calibre e volume da carga detrtica. Entre as vrias formas originadas pela sedimentao fluvial destacam-se os depsitos do canal, os depsitos da margem do canal acumulados ao longo ou no seu interior, overbank deposits e os depsitos das margens dos vales, acumulados na base das vertentes dos vales.
4.3.1 - Plancies de inundao As formas topogrficas do leito constituem categoria ampla, abrangendo toda e qualquer irregularidade produzida no leito de um canal aluvial pela interaco entre o fluxo de gua e a movimentao de sedimentos. Nos canais fluviais, a rugosidade do
material detrtico componente do leito e das margens e a configurao topogrfica do leito oferecem resistncia ao fluxo. A dinmica do fluxo, os mecanismos de transporte e os processos morfogenticos que actuam no curso de gua s agem quando possuem foras suficientes para ultrapassar essa resistncia. Devido inconsistncia do material detrtico, h facilidade para a movimentao dos sedimentos e para a esculturao de formas topogrficas.
67 Nesta perspectiva, a topografia do leito surge como de natureza deformvel e de rpida mutabilidade. Em virtude das diversas variveis envolvidas, torna-se difcil apresentar um critrio plenamente satisfatrio para classificar as formas topogrficas do leito. Usando o critrio da intensidade crescente do fluxo, Simons e Richardson demonstraram a seguinte sequncia de formas: a) leito plano sem movimentao de sedimentos; b) ondulaes de pequena escala (ripples); c) ondulaes de grande escala (ondas de areia ou dunas), com superimposio de ondulaes pequenas; d) dunas; e) formas de transio entre ondulaes grandes e leitos planos; f) leitos planos com movimentao de sedimentos, e h) antidunas em movimento. Nas experincias realizadas, a sequncia entre leito plano sem movimentao de sedimentos e as formas de transio, ocorreu em condies de fluxo turbulento tranquilo, enquanto as demais ocorrem sob condies de fluxo turbulento rpido. Se aplicarmos o critrio morfolgico, tais formas representariam os seguintes tipos: a) leitos planos, b) ondulaes ou marcas ondulares, e c) dunas e antidunas. Estas categorias representam as formas cuja disposio transversal ao fluxo principal e foram as mais estudadas. Entretanto, no leito fluvial tambm existem categorias de formas alinhadas paralelamente direco do fluxo, com disposio longitudinal, produzidas por movimentos secundrios, helicoidais, originados pela instabilidade do fluxo. Embora apresentem semelhana nos processos responsveis pela sua formao, os elementos longitudinais variam muito em tamanho, morfologia e na densidade de distribuio no leito do canal.
A plancie de inundao a faixa do vale fluvial, periodicamente inundada pelas guas de transbordamento provenientes do rio, composta por sedimentos aluviais. Embora esta definio seja razovel, a plancie de inundao pode ser definida e delimitada
por critrios diversos, conforme a perspectiva e os objectivos dos investigadores. Para o gelogo, a rea do vale fluvial recoberta com materiais depositados pelas cheias; para o hidrlogo, a rea do vale fluvial perodicamente inundada por cheias de determinadas magnitudes e frequncias (nvel das cheias com intervalo de recorrncia de 10 anos, por exemplo); para o lesgilador, a rea delimitada e definida pelo estatuto do uso da terra; para o geomorflogo, a plancie de inundao apresenta uma configurao topogrfica especfica, com formas de relevo e depsitos sedimentares relacionados com as guas fluviais, na fase do canal e na de transbordamento. Nos trechos de canais anastomosados, a plancie de inundao no muito caracterstica nem contnua, porque existem muitas ilhas e bancos detrticos a dividir o fluxo e porque os elementos topogrficos se modificam rpida e contnuamente.
As plancies de inundao so formadas por aluvies e por materiais variados, depositados no canal fluvial ou fora dele. Na vazante, o escoamento erestringe-se ao canal
fluvial,com o progressivo abaixamento do nvel das guas onde, o rio deposita parte da carga
68 detrtica. Ao contrrio, no perodo de cheias, a elevao do nvel das guas conduz, muitas vezes, inundao das margens e das reas marginais mais baixas. O perodo durante o qual as margens esto inundadas assinala a descontinuidade entre o sistema do canal fluvial e o sistema da plancie de inundao. At atingir o perodo de margens inundadas, o escoamento das guas processa-se no interior do canal e origina diversas formas topogrficas. Ultrapassado este perodo, considerado como igual ao dbito de 1.58 anos de intervalo de recorrncia, as guas espraiam-se e h relacionamento diferente entre as variveis da geometria hidrulica. Embora englobando o canal fluvial, como um subsistema, a plancie de inundao no deve ser confudida nem caracterizada pelos processos e formas de relevo desenvolvidas no canal fluvial.
As plancies de inundao desenvolvidas em trechos de canais mendricos apresentam topografia altamente diversificada e so consideradas as mais importantes. O canal mendrico, em geral, situa-se numa faixa aluvial que, altimetricamente, se encontra a
decmetros ou metros acima das reas marginais baixas adjacentes, conhecidas como bacias de inundao. A migrao das curvas mendricas leva a que muitos aspectos topogrficos relacionados com a eroso e sedimentao nos canais tais como cordes marginais convexos e meandros abandonados, integrem a configurao topogrfica da plancie de inundao. Para alm destas formas de relevo, existem outras formas de relevo desenvolvidas por processos de sedimentao que ocorrem fora do canal, na superfcie da plancie de inundao, os diques marginais, sulcos, depsitos de recobrimento e bacias de inundao constituindo e que constituem tambm elementos caractersticos de sua composio. A figura 3.4 ilustra a distribuio dos diversos elementos topogrficos. Os diques marginais so salincias alongadas compostas por sedimentos, depositados nas marens dos canais fluviais quando o fluxo os ultrapassa. A corrente fluvial, ao transpor as margens, freada e abandona parte de sua carga permitindo a edificao do dique marginal. Os diques mais ntidos so os diques constitudos pela deposio de areias finas e mdias em suspenso, bruscamente abandonadas devido rpida diminuio da velocidade na corrente quando transborda a margem. Nos casos em que as guas dos canais so menos rpidas, s as argilas e os colides saem do leito menor, permanecendo a areia nas camadas inferiores da gua, sob a cota de transbordamento. A sua deposio progressiva e o dique marginal, menos ntido, inclina suavemente para o exterior na direco da bacia de inundao. Os detritos mais grosseiros, no esquema geral, depositam-se na proximidade do canal enquanto os mais finos so carregados para locais mais distantes. A taxa de deposio diminui com a distncia de afastamento do canal, originando na direco da bacia inclinaes suaves. A elevao mxima do dique localiza-se nas proximidades do canal, onde forma margens altas e ngremes externamente na direco das bacias de inundao a inclinao suave. A largura do dique oscila entre valores que variam entre metade e quatro vezes mais do que a largura do
69 canal, e em altura a amplitude varia entre poucos decmetros a mais de 8 metros, dependendo do tamanho do rio e do calibre do seu material. A altura mxima do dique indica o nvel mais alto alcanado pelas guas durante as enchentes. Durante as cheias, grande quantidade de gua e de sedimentos dirigida para as bacias de inundao, a maior parte do transbordamento ocorre nas margens cncavas, e o excesso de gua segue por caneluras e sulcos escavados nos diques marginais. Estes sulcos transversais possuem padro e sistemas de drenagem prprios. Desde que iniciado o sulco, as guas das cheias aprofundam o novo canal e desenvolvem um sistema de canais distributivos sobre a superfcie da face externa do dique e sobre a da bacia de inundao. Por vezes, esse sistema pode apresentar grandeza de diversas centenas de metros, mas geralmente corresponde a alguns metros at poucas dezenas. Os sedimentos erodidos no dique e os transportados pelas cheias depositam-se em forma de leque, com espessura reduzida, de alguns decmetros a poucos metros, estendendo-se como depsitos de recobrimento desde o dique em direco bacia de inundao, atravs de padro composto por caneluras anastomosadas ou radiais.
As bacias de inundao so as partes mais baixas da plancie. So reas pouco drenadas, planas, sem movimentao topogrfica, localizadas nas adjacncias das faixas aluviais dos canais mendricos activos ou abandonados. As bacias de inundao actuam como reas de decantao, nas quais os sedimentos finos levados em suspenso, durante as fases de inundao se depositam, depois dos detritos mais grosseiros se terem depositado nos diques e nos depsitos de recobrimento. Os depsitos das bacias de
decantao representam acumulaes contnuas e de longa durao, dos sedimentos finos que originam camadas siltico-argilosas de 1 ou 2cm de espessura. A taxa de sedimentao das bacias de decantao geralmente muito lenta. Os cordes marginais convexos constituem elementos geomorfolgicos muito difundidos nas paisagens aluviais, e resultam da sedimentao que ocorre nos canais fluviais mendricos. A expanso da topografia relacionada com os cordes marginais convexos est relacionada com o movimento migratrio das curvas mendricas. O cordo marginal convexo representa a deposio do material do leito que ocorre na margem convexa da curva mendrica, duranre a cheia ou em srie de cheias. A forma e o tamanho dos cordes marginais variam conforme a grandeza do rio. Em cursos de gua pequenos, os cordes so simples elementos deposicionais inclinando-se suavemente em direco do canal. Nos grandes rios, a sua espessura pode ser semelhante profundidade da gua. No rio Mississipi, mediram-se espessuras de 20 a 25cm, no delta do Niger, de 10 a 15m, no rio Brazos, de 15 a 20m. Nos pequenos rios, a espessura geralmente de 1 a 3 metros.
4.3.1 - Leques aluviais
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Os leques aluviais representam exemplos de deposio fluvial originados pela diminuio rpida da competncia do curso de gua. A acumulao do material detritco na parte jusante do canal de escoamento da torrente origina o cone. A torrente
um curso de gua efmero localizado em reas de diferena altimtrica muito acentuada, como nas reas montanhosas e escarpas de serras e planaltos. O escoamento rpido e ocorre com as chuvas. possvel distinguir trs unidades no perfil longitudinal das torrentes: a
bacia de recepo, em forma de anfiteatro constituda por uma pequena depresso onde se concentram as guas do escoamento superfcial, atravs do qual as guas, por efeito da gravidade, comeam a descer. por uma calha de seco transversal pequena e profunda. O cone de dejeco constitudo pela totalidade dos detritos carregada pela gua e acumulada na base do canal de escoamento. Essa sedimentao ocorre porque as guas se espraiam em rea de menor declividade e maior largura, o que diminui a competncia fluvial e modifica as condies de equilbrio. O engenheiro E. Surell, em
1841, ao estudar a escolha de local para a instalao de uma barragem para o aproveitamento de energia hidroelctrica nos Alpes, foi quem primeiro chamou a ateno dos pesquisadores para o estudo das torrentes, propondo algumas leis de seu dinamismo. Procedimento semelhante acontece na pedimentao, onde mecanismo essencialmente fluvial. Os pedimentos correspondem a superfcies rochosas suavemente inclinadas, talhadas em rochas homogneas ou de natureza diversa, localizadas no sop de uma escarpa. A escarpa pode representar uma frente montanhosa ou vertentes ngremes de serras ou relevos residuais, com declives elevados, superior a 25, que contrastam com os declives mais suaves da superfcie aplanada. A passagem brusca entre a escarpa e o pedimento denominado de ngulo de piemonte ou Knick. O perfil longitudinal dos pedimentos tem sido reconhecido como semelhante a segmentos do perfil dos cursos fluviais, onde os declives aumentam em direco a montante. A rectilinidade a componente principal, embora na parte superior possa ocorrer concavidade e na parte externa apaream convexidades. O declive do pedimento varia de 1a 7 na parte superior diminuindo gradualmente para jusante, at atingir valores inferiores a meio grau. A forma do perfil transversal muito variada, principalmente na parte superior, sendo que as comumente encontradas podem ser classificadas em a) aplanada; b) inclinada numa determinada direco do perfil; c) convexa, como cones aluviais e d) concva em forma de concha. Sobre o pedimento pode existir uma cobertura detrtica colvio-aluvial, de espessura variada, oscilando de zero a alguns metros, conforme as descries. Esses sedimentos so mal selecionados, no-estratificados, e em geral apresentam o carcter de depsitos torrenciais. Tais caractersticas denunciam que o sedimento est sendo transportado, o que faz com que o
71 pedimento seja considerado como superfcie de transporte. A ocorrncia mais comum a de que a cobertura sedimentar ou est ausente, ou delgada e descontnua a montante, para jusante espessa-se, aplana-se e passa a formar uma cobertura contnua. Este ambiente de sedimentao designado por playa, bahada ou peripedimento. Tambm considerado como pedimento detrtico. Os pedimentos so formas topogrficas relacionadas com o regime torrencial de rios efmeros de regies de clima seco (ridas e semiridas) e de estaes pluviais contrastadas. Os pedimentos foram primeiramente descritos nas reas desrticas do Sudoeste dos Estados Unidos, mas a sua presena tem sido verificada em muitas partes da superfcie terrestre, tais como na zona mediterrnica, continente africano (mormente na regio saheliana), no continente asitico e no Nordeste brasileiro. Michel Archambault considera que tais formas podem ser encontradas em ambos os hemisfrios entre as latitudes de 10a 45. Para se explicar a origem e formao do aplanamento pedimentar, existam duas hipteses baseadas em dois tipos de escoamento diferentes:
a) escoamento areo em lenol de gua (sheetflood). Foi descrito por W. J. McGee
como uma onda de gua muito carregada de detrtos, que inicialmente se desloca a velocidade elevada como um cavalo a galope e, que posteriormente vai, perdendo velocidade. A largura pode atingir vrios quilmetros e a espessura a montante oscila, em mdia, de 20 a 25cm, desaparecendo rapidamente para jusante. Em virtude da sua potncia, transporta enormes quantidades de material que no seleciona. O fenmeno do sheetflood muito raro, mas pela grandeza do material transportado, considerado como um dos processos mais eficientes. Ocorre em reas de montanha com aguaceiros localizados.
b) aplanamento lateral. Neste processo as guas dispersas provenientes da montanha
concentram-se em canais (streamflood) na superfcie do pedimento, ao longo dos quais escoam. O carcter detrtico grosseiro do pedimento favorece o escoamento em canais do tipo anastemosado. A corrente fluvial alarga e ampla-se lateralmente passando a erodir. Desse modo, origina-se uma superfcie aplanada lateralmente pouco extensa e no uniforme. Em qualquer dos tipos de escoamento, o dbito diminui para jusante at desaparecer nas baixadas (plancies entre montanhas). Desta forma, as playas e bahadas representam a sedimentao final do escoamento, ou a deposio efectuada nos lagos temporrios formados nessas reas, devido ao represamento natural das guas fluviais.
4.3.3 - Terraos fluviais
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Os leitos fluviais correspondem aos espaos que podem ser ocupados pelo escoamento das guas e, relativamente ao perfil transversal nas plancies de inundao, podem distinguir-se os seguintes tipos (fig. 3.7): a) Leito de vazante, este leito est includo no leito menor e utilizado para escoar as
guas baixas. Serpenteia constantemente entre as margens do leito menor, acompanhando o talvegue (linha de maior profundidade ao longo do leito); b) Leito menor, um tipo de leito bem delimitado, encaixado entre margens geralmente bem definidas. O escoamento das guas no leito menor tem a frequncia suficiente para impedir o crescimento da vegetao. Ao longo do leito menor existem irregularidades, com trechos mais profundos, as depresses (mouille ou pools), seguidas de partes menos profundas, mais rectilneas e oblquas em relao ao eixo aparente do leito, designadas de umbrais (seuils ou riffles); c) Leito maior peridico ou sazonal o leito ocupado regularmente pelas cheias, pelo menos uma vez cada ano; d) Leito maior excepcional e o leito de escoamento das cheias mais elevadas, as enchentes. submerso em intervalos irregulares, mas, por definio, nem todos os anos. A relao entre os leitos vazante, menor, maior peridico e excepcional variam de curso para curso e inclusive de um sector a outro no mesmo rio. As delimitaes so difceis de fazer, apenas a existente entre o leito menor e o leito maior bem visvel.
Os terraos fluviais representam antigas plancies de inundao abandonadas. Morfologicamente, representam patamares aplanados, de largura variada, limitados por uma escarpa na direco do curso de gua. Quando os terraos so constitudos por materiais relacionados com a antiga plancie de inundao, podem ser designados de terraos aluviais. Estes terraos situam-se a uma altura determinada acima do curso de gua actual,
que, nem mesmo na poca das cheias consegue recobri-los. Quando os terraos foram esculpidos, atravs da morfognese fluvial, sobre as rochas componentes das encostas dos vales, so designados como terraos rochosos (strath terrace). til no confudir estes terraos com os terraos estruturais, que representam patamares localizados ao longo das
vertentes e mantidos pela existncia de camadas de rochas resistentes. Existem vrias hipteses para explicar o abandono das plancies de inundao,
considerada como o preenchimento dum vale previamente entalhado pelo curso de gua. Quando uma oscilao climtica provoca diminuio no dbito, pode ocorrer a formao de nova plancie de inundao, num nvel mais baixo, embutida na anterior. Nesse caso, no h entalhe no embasamento rochoso do fundo do vale, e tanto o terrao como a plancie de inundao localizam-se sobre o mesmo patamar rochoso. Se a oscilao climtica provocar
73 uma sobrecarga detrtica maior ou originar nveis mais altos de cheias, que levem agradao do fundo do canal, a plancie de inundao primitiva pode ser recoberta ou inundada por novos recobrimentos aluviais. A mesma situao pode resultar dum movimento positivo do nvel de base, geral ou local (fig. 3.8c). Tambm possvel que grande parte da plancie de inundao anterior, ou sua totalidade, possa ser removida antes ou durante a formao da nova plancie, principalmente nos vales estreitos onde no h grande potencial para o desenvolvimento lateral. A outra alternativa reflecte a possibilidade da plancie de inundao se formar num nvel mais baixo, sendo a sua formao acompanhada duma nova fase erosiva sobre o embasamento rochoso do fundo do vale. Esse entalhamento pode resultar de movimentos tectnicos, do abaixamento do nvel de base ou de modificaes no potencial hidrulico do rio, originando a formao dos denominados terraos encaixados. Deve-se considerar que os terraos s aparecem nas figs. 3.8b e 3.8d, formando os embutidos e os encaixados. Na fig. 3.8c, a deposio fluvial forma uma plancie de inundao em nvel mais elevado que a anterior e no h condies morfolgicas para a caracterizao dos terraos. Quando os terraos se dispem dum modo semelhante ao longo das vertentes opostas do vale, so denominados por terraos parelhados, no caso contrrio, so considerados como terraos isolados. O primeiro tipo reflecte uma longa aplanao lateral seguida do entalhe rpido no sentido vertical do rio, enquanto o segundo reflecte o deslocamento do entalhe na direco duma das margens, como no caso dos meandros (fig. 3.9). Vrias hipteses foram propostas para explicar a formao de terraos. A primeira proposta por William Morris Davis, em 1902 relaciona-se com a tendncia contnua do entalhamento fluvial at atingir o perfil de equilbrio. A segunda apresentada por Henri Baulig (1935) no seu famoso trabalho The changing sea level, considera os terraos resultantes da influncia regressiva dos epiciclos erosivos relacionados com os movimentos eustticos. As oscilaes do nvel do mar, por causa das glaciaes, promovem modificaes na posio do nvel de base geral dos rios e ocasionam fases erosivas (epiciclos, quando das regresses marinhas) e fases deposicionais (quando das transgresses marinhas). A terceira hiptese est ligada s oscilaes climticas. Nessa perspectiva, nas regies intertropicais, durante as fases de clima hmido haveria entalhamento dos rios, e durante as fases secas, em virtude da maior quantidade de detritos oriundos das vertentes, aplanamento lateral. Esse modelo interpretativo foi posteriormente completado por Joo Jos Bigarella, e tem servido de base a inmeros trabalhos de pesquisa de campo. A quarta hiptese interpretativa de John Hack (1960) procura relacionar os terraos com o equilbrio dinmico dos cursos de gua. A cartografia dos depsitos superficiais no vale do rio Shenandoah, revelou que os terraos so mais comuns nas reas de rochas brandas, ao longo de rios provenientes das reas de rochas duras. Essa distribuio sugere que
74 os terraos so preservados porque eles contm material detrtico mais resistente que a rocha subjacente, visto que os elementos depositados so arrancados e transportados desde as reas de rochas resistentes. A deposio ocorre porque o rio, quando carrega e transporta os detritos mais grosseiros das rochas resistentes, apresenta declives e competncia elevada mas ao chegar rea de rochas tenras, o seu declive e competncia diminuem originando um desiquilibrio que leva deposio de parte da carga transportada. Por este motivo os terraos no so comuns nas reas de rochas homogneas, qualquer que seja a sua litologia uma vez que no existe contraste entre resistncia do materail que constitu a carga do rio e a rocha atravs do qual ele se desloca. Vrios critrios devem ser empregues no estudo dos terraos a fim de melhorar a sua correlao e precisar a sua sucesso. Entre os mais importantes citam-se a sedimentologia (natureza, granulometria, estratigrafia, etc.), a evoluo pedogentica, a correlao altimtrica e as dataes geocronolgicas absolutas.
4.3.4 - Tipos de vales fluviais
O estudo dos vales fluviais complexo, uma vez que envolve a aco dos cursos de gua e os processos morfogenticos que actuam nas vertentes. Das vrias definies existentes para os vales, a mais abrangente a definio que considera os vales como formas
de relevo esculpidas como depresses longitudinais, de dimenso e aspecto variados, ocupadas pelos cursos de gua. Os vales podem classificar-se em funo da sua gnese, controlo estrutural e forma do
perfil transversal. A classificao gentica, que expressa a localizao do curso de gua em relao com a inclinao e direco da topografia inicial, considera os vales divididos em consequentes, subsequentes, antecedentes e obsequentes. Vales Consequentes, so vales controlados pela inclinao original da topografia. Encontram-se em plancies aluviais, cones de dejeco e plancies costeiras levantadas. Na maioria dos casos este tipo de vales muito difcil individualizar. Vales Subsequentes, so vales que se deesnvolvem ao longo de camadas de rochas fragis e em estruturas monoclinais ou periclinais, de acordo com a inclinao normal das camadas. Este tipo de vales adopta-se bem estrutura. Vales Insequentes, so vales cujo desenvolvimento no revela ser controlado nem pela estrutura nem pela inclinao topogrfica inicial, faz-se de modo aleatrio. So comuns nas reas de rochas magmticas ou sedimentares homogneas, como por exemplo as reas de "bad-lands".
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Vales Obsequentes,so vales que apresentam direco contrria do vale consequente
original. A classificao gentica pouco utilizada uma vez que conduz facilmente a erros em virtude de interpretaes que no podem ser demonstradas. A classificao dos vales baseada no controlo estrutural considera os vales em funo dos tipos de estruturas geolgicas que controlaram a sua evoluo. Vales Homoclinais, so vales que seguem, no flanco das dobras ou nas estruturas monoclinais, as camadas de rochas brandas. Geralmente coincidem com os vales subsequentes da classificao gentica. Vales Anticlinais, so vales que seguem os eixos dos anticlinais que foram entalhados. Vales Sinclinais, so vales que seguem os eixos dos sinclinais. Vales de Falha, so vales que seguem as depresses originadas como consequncia directa das falhas. No entanto os vales de linha de falha so os vales que resultam da eroso que segue as linhas de falha. Os vales de diaclases so vales pertencentes a cursos de gua, ou apenas a trechos, controlados por sistemas de diaclases. De acordo com o perfil transversal, os vales classificam-se em um nmero quase infinito de tipos, em virtude das mudanas que surgem. No entanto os tipos fundamentais so apenas seis. Vales em Garganta (canho), so vales estreitos e muito profundos, com vertentes quase verticais. Encontram-se em reas de rochas resistentes, onde, quando a amplitude altimtrica elevada, podem apresentar centenas de metros de profundidade. Dois sub tipos se podem individualizar. O primeiro ocorre em regies com rochas brandas onde os rios de elevado declive e potencial erosivo se podem entalhar rapidamente no sentido vertical, sem que se verifique alargamento no sentido horizontal. Neste tipo de vales, por vezes, as vertentes apresentam salincias, como marquises, que tornam a largura do vale na parte superior menor do que a largura do vale observada no fundo. O segundo subtipo ocorre nas regies com rochas sedimentares horizontais e de diferentes graus de resistncia. Os cursos de gua ao atravessarem rochas com durezas distintas, originam vrios patamares estruturais, que a nvel das camadas mais resistentes formam degraus. O exemplo mais expectacular o do perfil transversal do rio Colorado do Grand Canyon. Vales em forma de V, so vales com perfil transversal em forma de V e de vertentes simtricas, esculpidos, geralmente, em material homogneo. Indicam uma relao equilibrada entre o entalhamento eo alargamento e representam o tipo de vales mais comum. Vales em Calha (magedoura), so vales que apresentam um alargamento progressivo do seu fundo. Quando o entalhamento fluvial diminui, aproximando-se do zero, d-se o alargamento do fundo do vale atravs da expanso da plancie de inundao, cujos limites
76 com as vertentes se traduzem em linhas ntidas, indicadoras das rupturas de declive. O perfil transversal destes vales varia de acordo com a inclinao das suas vertentes. Quando a plancie de inundao muito extensa e as vertentes muito inclinadas (rebaixadas), o perfil transversal do vale muito suave com a linha de ruptura, entre a plancie e as vertentes, quase imperceptvel. Vales com Terraos Fluviais, so vales constitudos por uma sucesso de vrios degraus com sedimentos resultantes duma sucesso de fases de acumulao e de entalhamento. Estes degraus no se relacionam com a possvel sucesso de camadas de resistncia diferente que possam existir. Vales Assimtricos, so vales cujo perfil transversal apresenta vertentes muito diferentes, uma suave e outra escarpada. Originam-se nas res com estruturas monoclinais e dobradas, em materiais com resistncias distintas. Ocorrem tambm nos canais mendricos encaixados, quando se verifica o deslocamento e a ampliao das curvas dos meandros surgindo uma esculturao dissimtrica do seu vale. Este tipo de vales corresponde aos tipos homoclinais ou subsequentes das classificaes anteriores. Vales com perfil em U, so vales de fundo, geralmente, amplo e plano de vertentes ngremes, quase verticais e rectilneas, possuindo bacias fechadas, degraus e rochas aborregadas. Estes vales so originados por uma sucesso de fases fluviais e glacirias, fundamentalmente em rochas resistentes. Ao longo do vale principal os vales subsidirios desembocam a nveis diferentes, com uma diferena altimtrica ntida, constituindo os Vales Suspensos. Actualmente, o curso de gua que prolonga o vale nitidamente desproporcional em relao ao tamanho do vale que ocupa. Os vales de perfil transversal em forma de U no se restringem apenas s reas que sofreram glaciaes, sendo a sua presena verificada noutras regies, inclusive nas regies de relevo crsico. Vales Mendricos, so vales que apresentam sinuosidades regulares, originados pelo encaixe de meandros. Os meandros, em virtude duma elevao regional ou dum abaixamento do nvel de base, vo-se entalhando nas camadas subjacentes, passando o vale e o rio mendrico antecedente mesma configurao. Existem dois tipos de vales mendricos: os vales mendricos entalhados verticalmente e com vertentes quase idnticas para ambos os lados e os vales mendricos que sofreram um deslocamento que originou vertentes mais ngremes nas concavidades e vertentes mais suaves nas convexidades dos mendros. Vales de Rios Inadaptados, so vales que correspondem a cursos de gua que no esto proporcionalmente adaptados ao tamanho dos vales que percorrem. Existem dois tipos bsicos de vales de rios inadaptados. O primeiro tipo corresponde a rios cujo volume superior e desproporcional ao tamanho do vale (overfit). dificil encontrar exemplos deste tipo, uma vez que o aumento do
77 dbito acompanhado do aumento do poder erosivo e do ajustamento rpido da grandeza do vale dimenso do rio. O segundo tipo de vale de rio inadaptado corresponde aos cursos de gua cujo volume inferior ou desproporcional para menos, em relao ao tamanho dos vales onde esto instalados (underfit). Geralmente estes vales correspondem a rios que inicialmente tiveram maior volume e que esculpiram o vale de acordo com a sua energia, e que posteriormente sofreram acentuada reduo do seu volume. Dentro do subtipo underfit reconhece-se actualmente o tipo Osaga (osage river). Neste tipo de vale o canal apresenta uma sequncia de depresses e soleiras espaadas de acordo com as caractersticas hidrulicas, mas cujas distncias ficam muito aqum das permitidas pelo tamanho do vale. As depresses ocorrem em nmero superior ao permitido pelo tamanho das curvas do canal. Vales Epignicos so vales originados por um processo de epigenia. A epigenia consta do processo de entalhamento dos cursos de gua, indistintamente, atravs de rochas brandas e duras, a partir duma superfcie ou cobertura sedimentar superior ou anterior. A epigenia ocorre por superimposio e por antecedncia. Na epigenia por superimposio o rio estabelece-se sobre uma estrutura determinada e, aps o entalhamento devido a um erguimento continental ou abaixamento do nvel marinho, encontra estruturas diferentes, que corta, indistintamente o rio, todavia, mantm o seu curso por superimposio e mantm a mesma direco de escoamento. O rio estava adaptado s estruturas iniciais, mas no se adapta s profundas, por elas serem diferente. A superimposio conduz inadaptao a nvel das rochas duras, que se manifesta em gargantas, que no eram visiveis no inicio da dissecao. Na epigenia por antecedncia a rea sobre a qual os cursos de gua se estabelecem afectada por movimentos tectnicos. A intensidade tectnica no foi acentuada, uma vez que permitiu que o rio conservasse o seu percurso original e entalha-se a rea medida que ele se elevava. Exemplos deste tipo ocorrem quando blocos falhados se elevam, conseguindo os rios atravess-los ao mesmo tempo que estes se elevam. Vales Secos, so vales presentes nas reas crsicas, originados pela eroso normal e pela interveno das guas quando se infiltram no calcrio. Nos vales com exsurgncias intermitentes a sua evoluo segue o ritmo fluvio-crsico. Nos vales destitudos de exsurgncias, mas de grande inclinao, as guas provenientes da escorrncia, que escaparam parcialmente imediata infiltrao, executam um trabalho mecnico.
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5.1 - Actividade elica
Os ambientes elicos caracterizam-se pela presena do vento como agente principal de transporte, sedimentao e geomorfolgico. A maior parte da sedimentao elica ocorre nos desertos, costas arenosas, plancie aluviais e reas circundantes de lnguas glaciares ou de gelo. Nestes ambientes os processos elicos desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das formas de relevo e das reas de acumulaes macias de areia no interior de desertos. A condio indispensvel para que o vento possa actuar a ausncia de cobertura vegetal ou de solo. Do ponto de vista climtico os meios elicos podem encontram-se tanto em regies com climas ridos como hmidos. Os desertos e as plancies aluviais adjacentes a topos glaciares correspondem a meios elicos de regies com climas ridos, as costas arenosas pertencem tanto a regies ridas como hmidas.
5.1.1 - Formas de relevo, sua distribuio global
A maioria das formas de relevo originadas pelo vento encontram-se localizadas no interior dos desertos quentes, nos ambientes glaciaires e litorais so em menor nmero. As formas de relevo mais expectaculares so as dunas, constitudas pela acumulao de areias, algum silte e em raras ocasies argila, transportados e depositados pelo vento. As dunas podem apresentar formas muito variadas. As areias que servem para formar as dunas no se espalham pelas regies desrticas, mas antes se concentram em mares de areias ou ergs. Foi estimado que 85% desta areia est contida nos ergs activos que se desenvolvem numa rea de cerca de 32.000 km2. Os ergs activos esto mais ou menos confinados a reas com de precipitaes anuais da ordem de 150mm enquanto que os ergs fixos ou relquia (estabilizados pelos efeitos da vegetao) se encontram em franjas subhmidas de regies ridas (fig. 10.1). Alguns ergs activos so enormes, destes o maior Rub Al Khali da Arbia Saudita com uma rea de 560.000 km2.
Os desertos constituem na actualidade o ambiente elico de maior extenso superficial e de maior variedade de sedimentos. Os desertos localizam-se em reas com precipitaes inferiores a 250ml, e taxas de evaporao e temperaturas elevadas. Os desertos tropicais, localizados em latitudes mdias ou baixas (10 a 30), ocupam 20% da superfcie da terra. A alterao predominante nestes ambientes a alterao mecnica devido escassez de gua.
79 As variaes de temperatura entre o dia e a noite, que podem alcanar 50C. de diferena, provocam a fragmentao das rochas segundo superfcies de descontinuidade, tais como planos de estratificao, diaclase, etc. O material resultante deste tipo de alterao, que abrange uma extensa gama de tamanhos, transportado por correntes efmeras, formadas em pocas de chuvas, at parte de relevo mais baixa. Quando a aco de transporte da gua cessa o material de maiores dimenses, deposita-se e o material de menores dimenses (areias e limos) passa a ser transportado pelo vento. O transporte efectuado pelo vento recebe o nome de deflao e, mediante ele as partculas podem ser levadas at regies peridesrticas. Foi estimado que entre 130 a 800 Mt de material deflaccionado anualmente dos continentes e que s o Sahara representa cerca de 60 a 200 Mt desse total. A alterao qumica nos desertos reduz-se ao um enfraquecimento das rochas, como consequncia das reaces produzidas pelo depsito de roco, durante a noite, sobre a superfcie. O transporte dos sedimentos pelo vento, similar ao da gua, faz-se de trs modos diferentes: suspenso, saltao e deslizamento superficial (creep) (fig. 12.2, 12.3 e 12.5). Em suspenso so transportados os materiais da fraco limo, as areias mediante uma combinao de saltao e deslizamento superficiais e deslizando sobre a superfcie, aps serem golpeados pelos gros que vo em saltao, os tamanhos grosseiros. Esta forma de transporte confere aos gros uma forma arredondada e uma superfcie picotada, em virtude dos sucessivos impactos que recebem dos outros gros. Se o gro sofre um transporte muito longo, caso das areias desrticas, o picotado alarga-se a toda a superfcie, conferindo-lhe um aspecto mate ou esmerilado, se, ao contrrio, as distncias percorridas forem pequenas, como sucede nalgumas dunas costeiras, o picotado superficial incompleto. Contudo preciso ter ateno, pois em determinadas sries antigas podem encontrar-se areias cujos gros de quartzo apresentam um aspecto semelhante, originado pela dissoluo da slica. O tipo de sedimentos presentes no deserto depende do estado de desenvolvimento do mesmo. Durante o processo de "desertificao" trs fases se diferenciam: fase juvenil, caracterizada por um relevo montanhoso, com escassas mas fortes precipitaes; estas erosionam as zonas elevadas, sendo o material resultante transportado para as zonas baixas, por correntes temporais que as chuvas originam. Estas correntes, de crcter muito espordico, circulam durante perodos de tempo muito breve, depositando o material no prprio canal e na zona inferior deste. Nas pocas secas o vento pode remobilizar parte deste material e preencher tambm os canais com as partculas que transporta. Deste modo, as correntes seguintes tero que originar novas escavaes. Como resultado formam-se depsitos anlogos, de certo modo, aos dos leques fluviais cinestemosados. medida que o relevo se vai degradando, as correntes formadas nas pocas de chuvas vo sendo progressivamente mais fracas. Ao mesmo tempo, como consequncia dos
80 sedimentos acumulados, apenas correm sobre a superfcie. Devido a tudo isto produz-se um incremento na importncia da aco elica; fase de maturidade, o papel da gua tem menos importncia do que o do vento; no obstante, continua havendo eroso nas zonas de relevo, com o consequente depsito de materiais grosseiros. Os sedimentos arenosos comeam a adquirir um notvel desenvolvimento; fase senil, as precipitaes sofrem uma diminuio muito importante devido ao arrasamento do relevo, o clima torna-se mais rido. O trabalho da gua quase nulo, permanecendo o vento como agente energtico do meio.
5.2 - Eroso elica 5.2.1 - Deflao e abraso ou corraso A deflao o transporte dos restos movis e finos, tais como os solos formados fora dos perodos hmidos predesrticos, ou os restos provenientes da alterao actual das rochas pelo vento. Como resultado, deste processo de transporte, obtm-se a triagem dos materiais, no local permanecem apenas os mais grosseiros, uma vez que os mais finos so levados. Este material grosseiro, calhaus, origina verdadeiros pavimentos que protegem os elementos finos que recobrem. Esta paisagem conhecida como pavimentos desrticos ou pavimentos de pedras. No caso da rocha ser pouco coerente pode resultar esburacada. A corraso o ataque da rocha, mesmo dura, pelos materiais transportados pelo vento, nomeadamente os gros de quartzo. A sua aco comparvel dos jactos de areia
utilizados como decapantes na indstria. Esta aco resulta sobretudo ao nvel do solo, uma vez que a carga transportada pelo vento diminu acima duma altura da ordem de 1 a 2 metros. No entanto no evidente que a corraso seja a nica aco responsvel pelas formas cogumelo encontradas nos desertos. O mesmo no se passa com a fragmentao da rocha, mais forte junto do solo onde as variaes trmicas so mais pronunciadas, e o processo de formao dos "Taffoni" onde a aco de corraso concerteza mais importante.
5.2.2 - Formas de relevo erosionais Pavimentos de pedras. Um nmero grande de desertos esta coberto no por areias,
mas por depsitos de revestimento que contm partculas da dimenso dos calhaus ou seixos.
81 Estes depsitos normalmente de espessura reduzida revestem superfcies constitudas por finos leitos cobrindo material mais fino. Quando estes revestimentos de calhaus tm carcter contnuo as superfcies que revestem so denominadas pavimentos desrticos (desert pavements ou stone pavements). Inicialmente esta forma de relevo erosional foi atribuda
aco de deflao do vento em depsitos aluviais. Actualmente, contudo, argumenta-se que a distribuio dos materiais, finos e grosseiros, observada a nvel dos pavimentos explica-se muito melhor com o processo de infiltrao progressiva das areias elicas e do silte, proveniente de reas de acreo, nos seixos e calhaus aluviais. Ventifactos (ventifacts). So calhaus, blocos e seixos dos desertos com faces, e
polidas originadas pela aco abrasiva do vento com areias. As facetas so produzidas com ngulos entre 30 e 60, sendo uma delas perpendicularmente direco do vento dominante, e as outras oblquas a essa direco. Dreikanter. So calhaus com forma de pirmide com trs arestas, originadas pela deflao sem o calhau ter de bascular no solo. Yardang. So cristas e depresses de formas e dimenses variadas alinhadas de acordo com a direco predominante do vento. As yardangs desenvolvem-se fundamentalmente em litologias pouco coerentes tais como os sedimentos lacustres onde atingem 10 metros de altura e mais de 100 metros de comprimento. O maior nmero destas formas de relevo encontra-se ligado a ambientes lacustres contudo podem ocorrer em rochas extremamente resistentes como o granito e quartzito tal como acontece na parte oeste do Egipto. Cavidades de deflao (deflation hollows). So formas de relevo constitudas por depresses pouco profundas semelhantes, em escala, s yardangs, encontradas ao longo de muitos desertos de regies de relevo reduzido. As suas dimenses vo desde formas com mais ou menos 1 metro de profundidade por, apenas, poucos metros de comprimento a formas com dimenses que entram no domnio de macrobacias. Pans. So cristas localizadas nas bacias de grandes dimenses que se encontram encerradas nos desertos. Estas bacias so conhecidas desde a primeira explorao destas regies, mas a extenso e regularidades destas cristas de dimenses que excedem 100 metros de um lado ao outro lado, apenas foi inteiramente apreciada com o advento da imagem de satlite. Estas formas erosionais so muito abundantes no SE de frica onde atingem mais de 100 metros de profundidade e mais de 100km de um lado ao outro. Algumas esto orientadas ao longo das linhas de drenagem, outras localizam-se nas selhas entre as dunas, mas as de menor escala representam a aco dum processo de deflao localizado. Em todas as situaes os seus longos eixos esto alinhados com a direco predominante do vento. A maior concentrao de grandes bacias parece localizar-se no Egipto onde cobrem mais de 70.000km2, com profundidades mximas de 250 metros. A depresso do Quatar atinge uma
82 profundidade de 134 metros abaixo do nvel do mar e tem um volume de 3200km3. Em imagem de satlite foi possvel observar no SE das margens do Planalto do Tibesti no Norte de frica as maiores cristas atribudas a uma aco elica. Estas formas de relevo cobrem uma rea de 90.000km2.
5.3 - Formas de relevo deposicionais 5.3.1 - Ripples
As ripples de areia localizadas nos desertos apresentam grande extenso lateral, com cristas direitas ou ligeiramente sinuosas, dispostas transversalmente direco do vento. O seu ndice vertical de ripple est compreendido entre 30-35, se bem que possam aparecer ripples aplanadas, com ndices que atingem 50-60 (GLENNIE, 1970). Tal como as cristas, tambm as ripples apresentam o material grosseiro na parte mais alta. Em corte, pode observar-se o seu carcter assimtrico, com o flanco mais suave virado para a direco donde o vento procede. A sua gnese parece dever-se instabilidade duma superfcie plana sobre a qual a areia se desloca. As dimenses das ripples aumentam com a dimenso da partcula, a sua altura que depende de vrios factores, entre os quais se encontra o tamanho das partculas situa-se entre 1 a 500mm e o seu comprimento entre 0.01 a 5 metros.
5.3.2 - Dunas
As dunas so, como j dissemos, as acumulaes mais importantes e mais espectaculares de areias. As formas mais frequentes de dunas so as longitudinais (seifs), transversais e equidimensionais. As dunas transversais so caracterizadas por possuirem a sua maior dimenso perpendicular direco do vento dominante, assim como por ter e terem, em geral, cristas praticamente direitas. Num corte paralelo direco do vento dominante numa duna pode observar-se, no tero inferior, uma estratificao cruzada em foreset, de grande escala, com cruzamentos da ordem de 30-40; a parte superior formada por sets com cruzamentos de muito suaves, horizontais e tambm com ngulos de 11-15. As Barkhanes so um tipo especial de dunas transversais, que em planta apresentam forma de meia lua com as suas extremidades dispostas a favor do vento. Comuns na sia Central e tambm no Sahara a sua altura varia de 4.5 a 40m e a distncia entre as extremidades oscila entre 5 e 400m. As formas mais perfeitas localizam-se sobre substractos rochosos, onde a quantidade de areia transportada reduzida, a quantidade de areia aumentase a altura das cristas diminui produzindo a sua unio. As dunas complexas podem originar-se desta forma. As extremidades das barkhanes de pases temperados, rapidamente fixadas pela
83 vegetao, no avanam mais do que o seu centro, mas com a sua parte central mais alta, o vento pode a escavar em turbilho uma cavidade. As dunas longitudinais mais conhecidas so as denominadas de seif. Para uns estas dunas formam-se como consequncia da aco de ventos que sopram com direces de 90 umas em relao s outras e dispem-se paralelamente direco do vento resultante destas direces. Outros (MCKEE, 1966) afirmam que a sua origem relaciona-se com fluxos helicoidais de vento que ao aquecer originam turbilhes em forma de rolo, localizados nas depresses situadas entre duas dunas com eixos horizontais e paralelos direco do vento. O movimento no interior dos rolos faz-se no sentido contrrio para as dunas localizadas nas proximidades do solo, afastando-se delas para a parte superior. Como consequncia a areia removida das depresses e acumulada nas zonas de convergncia dos ramos ascendentes. Finalmente para Folk (1971) a formao das dunas longitudinais requer: a) grande extenso e potncia de material solto (geralmente corresponde a plancies de inundao); b) nvel fretico profundo e vegetao escassa; c) grandes extenses de plancies destrudas, desvastadas e d) movimento de ar forte na direco predominante. As dunas equidimensionais ou dunas em estrada desenvolvem-se em regies com ventos efectivos com diferentes direces. A sua altura oscila entre 10 e 30m, sendo o dimetro de poucas centenas de metros (algumas podem chegar a 250m de altura e 1 a 2km de dimetro). Todas as costas expostas a ventos fortes, que sopram predominantemente do oceano para terra, podem apresentar acumulaes em forma de duna, sempre que exista uma fonte de areia. So geralmente dunas do tipo barkane ou transversais, que sero semelhantes s desrticas se o clima for seco, nas regies hmidas as formas so mais complexas como consequncia da influncia da vegetao. Estas em virtude da humidade a que esto submetidas, mais ou menos periodicamente, podem apresentar estruturas que no se encontram nas desrticas ou nas das costas de climas ridos. As estruturas mais correntes so segundo MCKEE & BIGARELLA (1972):
a) falhas normais e brechas, formadas por avalanches em areias hmidas localizadas em
crostas dessecadas;
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d) alargamento das lminas produzido pelas razes das plantas.
As dunas costeiras mais frequentes so as constitudas por clastos calcrios, denominadas de eolianitas. Estas acumulaes foram estudadas por diversos autores em diferentes localidades (SOARES, 1963; MACKENZIE, 1969). As eolianitas do Pleistocnico das Bermudas so constitudas por clastos de pelecpodes, gasterpodes, foraminferos e outros fossis, de tamanho semelhantes a fraco arenosa. So dunas de tipo transverso, originadas pela unio de massas arenosas de forma lobulada. Apresentam estratificao cruzada em foreset, na zona do sotavento, com cruzamentos da ordem de 30 a 35, enquanto na zona de barlavento as camadas tm inclinaes da ordem de 5 a 10, no sentido contrrio das anteriores. As camadas do barlavento so muito irregulares apresentando uma srie de estruturas, tais como superfcies em festo, scour-and-fill e blow-out (acunhamentos). Na generalidade, as superfcies de estratificao cruzada so convexas para a parte superior.
5.3.3 - Loess
Siltes e especialmente argilas podem ser transportados a distncias considerveis pelo vento. Loess, so depsitos bem calibrados, de granulometria fina (silte), que revestem largas reas, particularmente de regies de latitudes mdias, localizadas nas margens de lnguas de gelo Pelistocnicas e em menor extenso em reas de latitudes baixas e franjas nos desertos quentes. O Loess cobre reas enormes na Europa central, SE da Rssia, China e USA (fig. 10.32). Normalmente o dimetro de 80-90% das partculas est compreendido entre 0.005 e 0.5mm. O loess constitudo por gros de quartzo e algum carbonato de clcio depositado durante os perodos frios, que pode atingir percentagens elevadas. Estima-se de forma global que cerca de 10% da rea total da terra se encontra coberta por loess com 1 a 100m de espessura. Estes depsitos aparecem com ter sido originados largamente nas extensas plancies deposicionais formadas nas margens das lnguas glaciares Pleistocnicas.
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6. - CARACTERSTICAS GLACIARES 6.1 - Processos e formas de relevo glaciares Estes meios caracterizam-se por se localizarem em regies de latitudes altas ou de elevadas altitudes. A alterao predominante a mecnica, o que faz que os seus sedimentos apresentem uma elevada imaturidade mineralgica. Por outro lado, dadas as caractersticas do transporte, so depsitos de maturidade textural muito baixa. As regies com glaciares apresentam temperaturas mdias anuais abaixo de 0C, com
precipitao sob a forma de neve. A acumulao do gelo o resultado duma temperatura baixa combinada com valores de precipitao baixos e evaporao igualmente baixa. O gelo
ser, portanto, o principal agente de eroso, transporte e sedimentao do meio glaciar, se bem que nas extremidades das massas de gelo, onde se inicia sua ablao, tenham papel importante as guas resultantes da fuso. Actualmente, apenas 10% do total da superfcie dos continentes est coberto por gelo ( 15 milhes km2, ou seja, uma vez e meia igual da Europa); os meios glaciares tm, por
isso, relativamente pouca importncia, mas noutras ocasies da histria da Terra, como, por exemplo, no Plistocnico, ocuparam uma superfcie muito maior. A maioria das formas de relevo glaciares formaram-se abaixo das lnguas de gelo e dos glaciares, e foi apenas quando essas massas de gelo recuaram, que muitos tipos de relevo foram conhecidos. Esta situao pe problemas ao nvel do conhecimento dos processos atravs dos quais os glaciares produziram aquelas formas, j que o mecanismo de trabalho raramente pode ser observado directamente. Os glaciares so constitudos por gelo e por pequenas quantidades de ar, gua e restos de rochas. Existem massas glaciares cujo movimento praticamente nulo, excepto nas suas lnguas perifricas (glaciares polares), enquanto que outras apresentam uma capacidade grande para se deslocarem (glaciares de vale). Este facto deve-se por um lado ao facto de se localizarem em zonas com determinada inclinao e por outro ao facto do gelo em contacto com o substrato se fundir, favorecendo o seu deslocamento. Em determinadas alturas os glaciares podem chegar at ao mar, prolongando-se ento como uma plataforma flutuante cuja extremidade mais distante se vai fracturando, originando os icebergs. Tanto os glaciares como os icebergs contm sedimentos includos, que aps a fuso do gelo, se depositam no fundo do mar.
6.1.1 - Tipos e localizao dos glaciares
86 Actualmente o gelo cobre cerca de 14.9 milhes km2 da superfcie dos continentes. A maior parte do gelo est acumulada em dois corpos de grandes dimenses, Antrtica e Greenland, os restantes 4% esto representados pelas calotes (ice caps) e glaciares, localizados principalmente a altitudes elevadas e em todas as latitudes (quadro 11.1). Os glaciares podem ser classificados morfologicamente tendo em conta a sua relao com a topografia do substratum rochoso que revestem (quadro 11.2, fig. 11.1 e 11.2). Distinguem-se dois tipos de glaciares: Calotes (ice sheet and ice cap), so constitudos por massas de gelo que revestem montanhas e podem originar lnguas divergentes na sua periferia. No so controladas pela topografia caso do sistema glaciar do Monte Rainier a Oeste dos Estados Unidos, rplica actual do que teria sido nos perodos frios no macio de Cantal (macio central francs). As calotes podem subdividir-se em calotes doma e lnguas glaciares. Plataformas de gelo, massas enormes de gelo controladas pela topografia. Dividemse em: a) campos de gelo (ice field/inlandsis) quando se trata de imensas extenses de gelo (13 milhes de km2 para a antrtica e 1.650.000 km2 - 3 vezes a Frana - para a Gronelndia). A sua espessura mdia de pelo menos 2.000 metros. Esta enorme acumulao de gelo explica-se mais pela lentido da fuso nestes climas frios do que pela abundncia de alimentao, porque o clima nestas regies bastante seco. A velocidade do gelo muito lenta. Sobre o gelo destes campos, a gua de fuso forma cada Vero correntes que escavam canhes encaixados de alguns metros, as "bdires", antes de desaparecer nos poos. Algumas lnguas destas plataformas de gelo atingem o mar, onde a fora das mars as fragmenta em icebergs;
b) glaciares de crculo, esto localizados nas montanhas cujos cumes ultrapassam um
pouco a linha das neves permanentes. Estes glaciares alojam-se muitas vezes nos circulos (partes mais baixas das montanhas rticas ou subrticas, montanhas temperadas e tropicais). O glaciar de circulo possui dimenses reduzidas e caracterizado por apresentar paredes rochosas quase verticais de onde descem as avalanches que o alimentam. Entre a parede rochosa e o gelo que se desloca, o espao chamado de "rimaye". Uma moreia formada por depsitos dos materiais transportados localiza-se na parte da frente do glaciar;
c) glaciares de vale, so glaciares muito abundantes nas montanhas alpinas,
apresentando-se fundamentalmente como lnguas que recebem na sua parte a montante os glaciares afluentes. A lngua glaciar apresenta uma tipografia convexa, porque a
87 fuso mais forte nos bordos. A superfcie de gelo encontra-se mais ou menos recoberta de depsitos (moreias).
d) glaciares de piedmont, formam-se quando vrios glaciares de vale so
suficientemente bem alimentados para chegar at base da montanha, onde edificam lobos de piedmont que podem coalescer. o caso dos glaciares alpinos durante pocas frias. Actualmente encontram-se alguns exemplos no Alaska (glaciar Malaspina). Estes glaciares chegam a zonas que podem estar constantemente temperados e da a importncia que tm os fenmenos de fuso que no originam moreias propriamente ditas, mas acumulaes de aluvies em toalhas. dificil generalizar acerca da distribuio dos diferentes tipos de glaciares uma vez que, parte das calotes de gelo, a maioria ocorre sobre uma extensa variedade de latitudes. A
ocorrncia dos glaciares determinada no apenas pelo clima mas tambm pela topografia, na medida em que deve existir uma adequada superfcie na qual o gelo se possa acumular. Os glaciares apenas se podem formar em regies onde a neve persiste ano aps ano. A taxa de neve acumulada funo da soma total da precipitao cada sob a
forma de neve, e a taxa de fuso, fundamentalmente controlada pela temperatura (fig. 11.3).
6.2 - Processos de eroso glaciar
O gelo provm duma transformao da neve. A camada de neve, imediatamente aps a queda, contm muito ar a a sua densidade fraca (0.1 em mdia). Sobre a influncia da compresso, fuses e reglos sucessivos, elas tornam-se em massas de neve (que esto na origem da geleira cuja densidade cerca de 0.6 e, aps numerosos anos, em gelo propriamente dito (densidade terica 0.9, na realidade 0.8 uma vez que permanecem bolhas de ar no seu interior). O gelo no permanece imvel, desloca-se de montante para jusante. Foram medidas velocidades superficias do gelo, as quais so mais fortes no centro que na periferia. Esta velocidade varivel. Lenta para os campos de gelo (inlandsis), torna-se muito forte nas suas lnguas de periferia e nas grandes lnguas alpinas. Varia de acordo com a inclinao e as estaes. O movimento do gelo coloca problemas complicados de fsica dos fludos, que no abordaremos. Sabe-se, em todo o caso, que a plasticidade do gelo no perfeita; o gelo desliga-se por vezes do fundo do seu leito, tornando-se quebradio e fendendo-se. Para apreciar de forma global o trabalho do gelo, os glaciolagos dividem-se. Para uns o gelo trabalha muito, para outros trabalha muito pouco, havendo quem opte por posies
88 intermdias. bem provvel que a intensidade da aco glaciar seja diferente segundo os lugares, e que ela dependa nomeadamente da velocidade do gelo, espessura e natureza das rochas do leito glaciar.
O gelo origina sobre as rochas encaixantes estrias, de alguns milmetros de profundidade a algumas dezenas de centmetros de comprimento. O gelo exerce tambm uma aco de polimento sobre as rochas. 6.2.1 - Formas de relevo erosionais Drumlins (whale-baks), so pequenas colinas em forma de dorso de baleia, pouco
erodidas, que podem apresentar algumas variantes. As suas dimenses so diversas de algumas dezenas a centenas de metros de comprimento, largura em mdia 3 vezes mais pequena do que o comprimento e altura de 5 a 40 metros. Os drumlins agrupam-se em geral, em campos onde depresses alagadias separam as colinas ovoides. O eixo maior dos drumlins grosseiramente paralelo, dirigido segundo o antigo deslocamento do gelo. O Drumlin pode ter ou no um ncleo rochoso consituido em todo o caso por materiais trazidos pelo galciar, no necessariamente rolados e muitas vezes mal estratificados. O drumlin desempenha, no dominio da acumulao fluvial, o papel do banco de areia, o mesmo dizer que ele representa o resultado dum excedente local de carga que o glaciar deposita, enquanto o deslocamento do gelo modela o depsito. Os drumlins no so seno espessamentos locais da moreia de fundo que o glaciar modelou segundo as formas devidas a sua prpria dinmica. Rochas frisadas (encarneiradas, aborregadas, roche moutonne), so as rochas provenientes do polimento dos glaciares. O glaciar acaba por arredondar as salincias das rochas encaixantes transformando-as em rochas aborregadas. As regies onde estas rochas dominam, apresentam-se como conjuntos em relevo, salientes. As salincias sobre as quais aflora a rocha a nu, estriada, polida pelo gelo, ou fragmentada em blocos, emergem acima de pequenas depresses ocupadas por lagos, resultado de acumulao postglaciar nos baixos fundos escavados. Flyggberg significa a largura das rochas frisadas. Blocos errticos (erratic), so blocos ou fragmentos de rochas de litologia diferentes da litologia das rochas sobre as quais se encontram, depositados a partir do gelo. Alguns pesam muitas toneladas e foram encontrados a centenas de quilmetros das suas origens.
6.3 - Formas de relevo deposicionais glaciares
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Till representa o conjunto de depsitos efectuados pelo gelo e moreias as formas de
relevo por eles produzidas. Enquanto que o nome tilito se usa para os endurecidos. HARLAND & al. (1966) consideram vrios tipos de tills e tillitos segundo a sua formao: orto-tills originados por descarga directa dos materiais a partir do gelo que os transporta; para-tills acumulao formada a partir duma massa de gelo flutuante, que sedimenta num meio marinho ou lacustre; estes depsitos podem s apresentar material glaciar ou tambm uma mistura deste com o sedimento prprio do meio onde se acumularam. Geralmente os sedimentos dos tills e tillitos podem chegar dimenso dos blocos, includos numa massa de gro mais fino, na qual pode predominar a fraco areia ou argila. Alguns autores referem que esta matriz formada apenas por partculas do tamanho de areia e limo, de quartzo e feldspato, sendo nula a fraco argilosa. No obstante, a maioria dos sedimentos glaciares contm fraco argilosa, sendo a illite a argila mais predominante. Os cantos e blocos encontram-se geralmente dispersos na matriz, no estando por isso em contacto. A dimenso dos blocos, pode ser, no caso do orto-tills, de vrios metros, enquanto que nos para-tillitos no chega quase nunca a um metro (quadro 11.5). Os cantos e os gravas destes depsitos podem encontrar-se pouco desgastados, especialmente os que foram transportados no interior da massa de gelo, sem sofrerem desgate com as rochas do substractum e das vertentes. Algumas vezes apresentam estrias, particularmente os que foram transportados no fundo; se o nmero de estrias for elevado e estas forem muito finas o aspecto do canto pode ser polido. Outra caracterstica, segundo TWENHOFEL (1950) so as marcas de percusso, especialmente em cantos de tamanhos compreendidos entre 10 e 30cm; a existncia destas marcas em 10 a 20% do material confirmaria a origem glaciar. Geralmente os depsitos de orto-tills e orto-tillitos no apresentam estratificao, excepto no caso de terem sofrido posteriormente um retoque por correntes de gua. Ao contrrio, os paratills e para-tillitos podem apresentar estratificao, por vezes bem desenvolvida. Em determinadas ocasies, pode, observar-se uma orientao dos clastos, dispondo-se os seus eixos maiores numa direco paralela do deslocamento do glaciar. Os tills e tillitos depositados numa zona continental recebem diferentes adjectivos de acordo com a sua localizao em relao massa de gelo lateral frontal, mediana, fundo, lateral e central (fig. 251). Moreias laterais so formadas por materiais tombados sobre o glaciar ou arrancados por ele s paredes do vale; quando duas correntes de gelo confluem, forma-se uma moreia mediana por justaposio de duas moreias laterais. Moreia interna quando o glaciar transporta pedras no seu interior, que em todo o caso parecem ter pouca importncia. Moreias de fundo quando constitudas por blocos e materiais triturados no fundo representando um volume aprecivel. Moreia frontal, terminal ou vale moreico constituda pelos materiais transportados pelo glaciar e depositados na sua frente. Os tills ou moreias de
90 fundo podem, segundo ALLEN (1970), atingir vrias dezenas de metros, enquanto que as medianas e laterais so mais reduzidas. As moreias laterais contm fundamentalmente material do interior do glaciar ou transportado superfcie.
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6.3.1 - Formas de relevo deposicionais fluvio/glaciares (fig. 11.26 e table 11.8) Eskers (nome irlands) designa formas de relevo deposiconais originadas por uma
aco fluvio/glaciar. Estas acumulaes apresentam-se como uma espcie de terraplanagem anloga do caminho de ferro, mas com a parte superior mais irregular, com os engrossamentos, por vezes pontas. Em comprimento, os eskers podem alongar-se em bandas sinuosas sobre dezenas de kilmetros, os materiais encontram-se sempre estratificados e bem rolados o que sugere uma origem fluvial. Aparecem tambm estratificaes cruzadas, laminaes, granoseleco moderada, climbing ripples e scours marks. Trata-se fundamentalmente de colinas constitudas por areias, silte e argilas. O comprimento destas colinas pode chegar aos 200km, enquanto que a sua largura no ultrapassa os 500-600 metros e a sua altura os 50 metros. A longa colina, sobe e desce segundo os caprichos da topografia, sobre o qual ela se edifica, por vezes com uma total indiferena e as suas vertentes mais inclinadas (contre-pentes) parecem incompatveis com a hiptese dum depsito fluvial subareo. Parece que os eskers so formas origanadas pelo recuo glaciar, devidas s guas de fuso, que circularo quer em tneis sob-glaciares, quer entre os intervalos de massas de gelo mortas. Kames, so montculos de sedimentos, de topo planado formados pela deposio inicial do material no interior duma cavidade no gelo, seguida pelo slumping desse material. So constitudos por material de granulometria grosseira, geralmente sem estratificao. Desenvolvem-se em reas de abraso onde o fluxo de gua se tornou confinado. Podem encontrar-se associados a argilas varvares. Argilas laminadas = varvas (varv, camada, sudois) so outro tipo de depsitos que se encontram em relao com alguns glaciares e que foram depositados em lagos de origem glaciar. Trata-se de argilas dispostas em lminas ou de areias finas, cujas caractersticas e espessura esto de acordo com as estaes do ano que afectaram o glaciar e as guas de escorrimento. As camadas do vero so espessas e claras as do inverno so finas e escuras (mais ricas em matria orgnica). O termo varve pode ser utilizado noutros depsitos que no os glaciares, neste caso significa depsito laminado e sazonal. Os depsitos glaciares marinhos podem ocupar grandes extenses e podem ser formados exclusivamente por material morreico ou estar associado a sedimentos marinhos quase sempre salobros. READING & WALKER (1966) descrevem dois modelos de sedimentao glaciar marinha (fig. 16.12), onde aparecem tambm os correspondentes sedimentos da zona continental. O modelo A aplica-se aos glaciares cuja base tem temperaturas abaixo s da fuso do gelo, enquanto que o modelo B se utiliza para os glaciares cuja base tem temperaturas acima das de fuso e portanto gua.
92 Em determinadas ocasies os depsitos glaciares podem estar associados a sedimentos que apresentam caractersticas de turbiditos, com carbonato e tambm com outro tipo de depsito marinho.
6.3.2 - Tipos e caractersticas dos depsitos glaciares O gelo dos agentes de transporte que operam superfcie terrestre, o de menor poder selectivo; por outro lado os sedimentos glaciares caracterizam-se por grande variedade de tamanhos, que vo desde blocos fraco argilosa. A percentagem de cada
classe granulomtrica, no depsito final, varivel, dependendo de vrios factores, entre os quais se encontram os seguintes (KUKAL, 1971):
a) tipo de rocha que constitui o substracto sobre o qual o glaciar se desloca. Esta influncia
mais ntida na composio textural das moreias de fundo. Se o glaciar se desloca sobre materiais sedimentares os despsitos resultantes so mais ricos, geralmente, em partculas das fraces limo e argila; b) tipo e morfologia do glaciar. A influncia deste factor manifesta-se na maior espessura das partculas presentes nos depsitos de glaciares de montanha; c) posio do material em relao ao glaciar. Nalguns depsitos de moreias aparecem vrios horizontes que apresentam uma diminuio de tamanho desde os mais inferiores aos superiores. Isto parece ser o resultar dos nveis basais apresentarem a parte do depsito que est influenciado pelas rochas subjacentes, enquanto as situadas para o tecto contm material retrabalhado. A composio mineralgica dos despsitos glaciares , tambm, muito varivel; devido a meteorizao qumica ser praticamente nula, encontram-se nestes sedimentos grande quantidade de materiais instveis. No obstante, parte dos fragmentos instveis desintegra-se durante o transporte, produzindo partculas de pequeno tamanho, as quais vo formar parte da harina da rocha (tamanho, areia e limo); esta constitui frequentemente a massa principal do depsito morreico. Os materiais transportados pelos glaciares so originados quer pelos relevos prximos quer pelas rochas sobre as quais o gelo se estende. Os materiais provenientes dos relevos prximos tm um papel mais importante nas moreias laterais, enquanto que os outros tm maior influncia nas de fundo.
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7.1 - O ambiente periglaciar
esta cobertura os movimentos do solo ao mesmo tempo que protege a rocha subjacente; b) regies desrticas de gelivao que ao contrrio tm um vero muito frio (menos de 6) ou muito curto para dar lugar ao aparecimento de vegetao. A rocha encontra-se muitas vezes descoberta originando uma paisagem de blocos estilhaados pelo gelo (quadro 12.1). Uma outra classificao pode ser considerada para as regies periglaciares, a que considera as regies com o subsolo sempre gelado e as regies cujo subsolo degela inteiramente no vero. As primeiras correspondem a uma temperatura mdia anual nitidamente inferior a zero (mais, nalguns pontos, o subsolo gelado fossil, herdado do perodo wurniano, reabsorvendo-se cada vez mais). Sobre a camada superfcial que est gelada no inverno mas degelada no vero, existe uma formao sempre gelada que se denomina de tjle (nome da Lapnia sueca) onde significa simplesmente subsolo gelado) ou merzlota (nome russo), ou permafrost ou perglisol. esta formao desempenha um papel considervel, no apenas nas exploraes mineiras (ela dispensa a guarnio das galerias), mas tambm na morfologia. Contudo a sua importncia foi um pouco exagerada, uma vez que no necessria a existncia do permafrost para a elaborao de maioria das formas devidas ao sistema periglaciar. Acima do permafrost, o solo degelado empregnado de gua, denomina-se de mollisol. No ultrapassa 0.60m, e apresenta uma certa elasticidade quando pisado, antes do enterramento. O permafrost cobre actualmente uma rea bastante vasta, fundamentalmente na Rssia, Canad e Alaska (fig. 12.2, quadro 12.3). Actualmente a rea submetida ao sistema periglaciar compreende dois domnios distintos: o das altitudes elevadas e o das latitudes altas. Mais, ao sul desta zona de latitudes altas, uma larga banda conheceu durante os perodos frios do Quaternrio um clima tal que o sistema de eroso periglaciar dominava. A maior parte da Europa Ocidental estava includa nesta banda. Muitas destas formas podem por isso ter sido modeladas pelos agentes que estudamos.
7.2 - Processos periglaciares O mecanismo essencial neste domnio e, o da aco sucessiva do gelo e degelo. Esta aco efectua-se com uma intensidade muito mais fraca a seco do que em ambientes hmidos. A seco, trata-se quase exclusivamente de um caso particular de
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contraces e dilataes devidas s diferenas de temperatura. Em meio hmido, a gua fixa-se nas rochas ou no solo e, lquida acima de zero graus, ela gela abaixo deste valor. Ao gelar, ela aumenta de volume, fazendo partir as rochas e inchando os solos. Ao momento do degelo, os fragmentos de rocha, cujos intersticios deixam de estar soldados pelo gelo, separam-se. O solo pode fender-se. Esta aco de gelo e degelo substancialmente diferente ao nvel das rochas e dos solos. Nas rochas conduz sua fragmentao em blocos, calhaus ou seixos e algumas partculas finas. Quando os blocos so grandes, como no caso das escoadas de basalto, diz-
se que a rocha macrofendida (macroglive), quando se trata duma espcie de vasa envolta em seixos, caso da cr, fala-se de rochas microfendidas (microglive). Sobre os solos a aco do gelo-degelo varia em funo da sua granulometria e estrutura. Os solos que mais se incham pelo gelo e portanto se deformam, so aqueles
cujos gros tm dimenses do limo (2 microns a 20 microns) porque os espaos livres entre os gros so bastante grandes para admitir uma quantidade enorme da gua, mas pequenos de mais para que o espao vazio seja considervel. Ao contrrio, os solos argilosos so os menos afectados pelo gelo e os solos arenosos ou de calhaus ainda menos. Quanto a importncia do tempo de durao destes mecanismos, ela controversa.
Existem exemplos onde os mecanismos mais activos so aqueles do gelo intenso mas rpido, mas tambm se conhecem casos de gelo moderado mas de longa durao e mesmo de repeties do processo gelo-degelo. Uma rocha macrofendida como o basalto particularmente sensvel a um mecanismo de gelo de longa durao uma vez que as diaclases so ntidas e espaadas. A gua condensa-se, a nvel das diaclases, soba forma de gelo j formado, constituindo-se no seio das diaclases um gelo que se engrossa. Uma rocha microfendida como a cr sobretudo sensvel a uma multitude de mecanismos gelo-degelo, por muito curtos que sejam, porque para esta rocha chega-lhe pouco gelo para que ela se ponha em pasta. A fuso das neves contitui outro mecanismo mas de menor importncia a nvel destes dominios periglaciares. Com efeito a gua proveniente da fuso das neves embebe o solo, facilitando a solifluxo. Contudo sabe-se que o mecanismo do degelo suficiente para embeber os solos fazendo-os perder a sua estrutura. A importncia dada fuso das neves para humedecer os solos periglaciares na primavera foi bastante exagerada. O fluxo erosivo produzido pelas chuvas ou pela fuso das neves tem tambm alguma importncia, sobretudo se o subsolo se encontrar gelado, impedindo que a infiltrao da gua se faa ou faa mal. Quanto aco do vento, que no se faz sentir nos solos cobertos de neve mas que desde que a terra no esteja gelada, traduz-se em levantar e transportar as partculas de areia,
95 varrer as camadas superficiais, no deixando l seno calhaus, e originar verdadeiras dunas. Com a areia, o vento pode tambm atacar blocos e rochas modelando-os.
7.3 - Formas de relevo periglaciares
As formas e o modelado so muito diferentes consoante se trate de reas planas ou inclinadas, de rochas ou formaes finas, superfcies nuas ou zonas cobertas de vegatao. Cunhas de gelo (ice wedges), so originadas em climas frios que originam nos solos fendas verticais devidas a uma contraco rpida. Posteriormente um perodo de gelo mais moderado e hmido pode explodir estas fendas inserindo nelas cunhas de gelo que aumentam para baixo e alargam o espao. As cunhas de gelo mais expectaculares formam-se no permafrost (fig. 12.9). Forma-se assim uma rede regular de fendas denominadas, por rede poligonal (ice-wedge polygons). Pingos so montculos de gelo, largos e perenes de forma grosseiramente circular a elptica em planta cujas dimenses so 3 a 70 metros em altura e 30 a 600 metros de dimetro (fig. 12.10). Palsas so montculos ou mais propriamente formas alongadas que ocorrem em pntanos e contm lentes de gelo perenes. Diferem dos pingos porque contm turfa como constituinte principal e um conjunto de lminas sobrepostas de gelo em vez duma massa nica de gelo como pingos. Termocarste (thermokarst), termo usado para designar um conjunto variado de depresses formadas pelo degelo de terrenos com gelo. Solos poligonais constituem um dos aspectos mais tipicos de reas planas dos pases rticos, conhecem-se tambm nas montanhas da zona temperada e da zona intertropical. So sucesses de polgonos (pentagonos mais ou menos regulares). As dimenses variam de vrios centmetros a vrios metros (mais de 20 metros para as formas gigantes). Podem encontrar-se polgonos com o centro constitudo por limos e os lados formados por pedras (circulo de pedras) ou ento o centro formado por um grosso bloco ao qual se colam calhaus mais pequenos e os lados por material mais fino (rosas de pedra). Existem tambm polgonos de material homogneo, sem triagem e bastante fino (polgonos de terra) que quando so gigantes (plancies da Sibria rtica e Alaska), so denominados de polgonos de tundra. Foram invocados para a sua formao correntes de conveco, produzidas como consequncia da diferena de temperatura da gua e, portanto, da sua densidade, assim como a formao de grueas de dissecao.
7.3.1 - Formas relacionadas com movimento de massas
96 Os afloramentos rochosos das vertentes fornecem atravs da fragmentao pedras (blocos, calhaus), as formaes mais finas produzem acumulaes de vasas que descem por solifluxo e nas quais as pedras se encontram embaladas. As avalanches assim formadas listram as paredes inclinadas dos corredores pelos quais descem a neve no inverno, a gua no momento da fuso do degelo.
O resultado da gelivao sobre as escarpas rochosas a formao de cristas alpinas e abruptas. Estas cristas so modeladas em forma de dentes de peixe serra e pinculos, o rochedo fica decomposto em micro arestas e micro faces que oferecem aos
alpinistas os degraus para a subida. Entre estes pinculos instalam-se vales de gelivao. Os materiais desmonorados (boulis) so particularmente frequentes constituindo a sua acumulao tipos diversos consoante a sua disposio a seco segundo apenas as leis da gravidade ou tenham sido deslocados numa matriz removida. Os desmoronamentos simples produzidos pela gravidade formam um talude inclinado e em equilibrio. Em corte este talude apresenta uma sucesso de leitos finos e leitos grosseiros de 10 a 20cm de espessura. As escoadas de blocos produzem-se nas vertentes cuja inclinao fraca 5 a 6.
A geomorfologia do litoral tem como objectivo o estudo das paisagens, resultantes da morfognese marinha, na zona de contacto entre o continente e o mar. No pormenor, a morfologia litornea torna-se muito complexa em virtude da interferncia dos processos marinhos e subareos sobre estruturas e litologias muito variadas. Qualquer que seja o perodo geolgico, a aco dos processos litorneos afecta sempre uma rea de largura reduzida, mas onde possvel distinguir, devido s flutuaes do nvel marinho, formas subareas actualmente submersas nas guas ocenicas e formas e terraos escalonados, esculpidos pela morfognese marinha principalmente no decorrer do Plioceno e Quaternrio, localizados a vrias altitudes acima do nvel do mar. Por estes motivos, o estudo da geomorfologia litornea no se restringe parcela do territrio actualmente sob a influncia da morfognese marinha, mas inclu tambm toda a zona afectada anteriormente por ela, em virtude dos movimentos relativos do nvel do continente e do mar no decurso do passado geolgico recente.
Nomenclatura descritiva do perfil do litoral
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A nomenclatura para a descrio do perfil litorneo foi estabelecida pelos pesquisadores de lngua inglesa em virtude dum desenvolvimento maior dos seus estudos sobre morfologia do litoral (fig. 13.1). A zona intertidal (shore) compreende a rea entre o
nvel normal da mar baixa e o da efectiva aco das ondas nas mars altas. Subdividida em zona intertidal menor (foreshore) e zona intertidal maior (backshore). O foreshore compreende a rea exposta durante a mar baixa e submersa no decurso da mar alta. Inundando-se durante as mars altas excepcionais ou pelas grandes ondas das tempestades. O backshore compreende a rea acima do nvel normal da mar alta. A linha do litoral (shoreline) corresponde linha que limita o contacto entre as guas e o continente, variando, de acordo com os movimentos das mars, entre os limites da zona intertidal. A zona sublitornea interna (nearshore), compreende a rea que se estende entre a linha do litoral e o local no qual ocorre a rebentao das ondas, a zona sublitornea externa (offshore), compreende a rea entre a linha de rebentao das ondas e um ponto limite arbitrrio na direco das guas mais profundas. As
designaes de ps-praia, estirncio e ante-praia tambm so utilizadas, de modo que a correspondncia seria: zona intertidal maior = ps-prai = backshore zona intertidal menor = estirncio = foreshore zona sublitornea externa = ante-praia = offshore A largura e a extenso ocupada por tais elementos varia, em funo da oscilao das mars e das caractersticas locais das costas. A costa constituda por um conjunto de
formas que definem a paisagem da rea que estabelece o contacto, entre o continente e a rea na qual se fazem sentir as influncias marinhas (inclu a zona intertidal). A sua
largura e limite interno variam de acordo com a penetrao do mar, deste modo a costa pode ser representada pela acrista de uma escarpa, pela cabeceira de um esturio influenciado pelas mars, ou pela parte contiental localizada atrs das dunas costeiras, lagoas e pntanos. A linha de costa (coastline) corresponde geralmente com o limite continental da zona intertidal maior, e independente da oscilao das mars. As costas podem tambm ser classificadas de acordo com a sua localizao tectnica (fig. 13.2). Costas de margens convergentes, quando alinhadas ao longo da fronteira de placa convergente, e costa oeste da Amrica do Sul costas de margens passivas quando localizadas ao longo de margens continentais passivas. Muitas outras variedades de costas de margens passivas podem ser identificadas.
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8.2 - Factores responsveis pela morfognese litoral As ondas, mars e correntes constituem as principais foras que actuam na morfognese litornea. As ondas resultam da aco dos ventos, representando a transferncia directa da energia cintica da atmosfera para a superfcie ocenica. A fig. 5.2 assinala os elementos
geomtricos relativos s ondas, como a crista, depresso, altura e comprimento da onda. Quanto maior for a velocidade, durao e a extenso da rea sob a influncia do vento, maiores sero as ondas. Calcula-se que as maiores dimenses so atingidas quando a extenso do fetch (extenso da superfcie sob a aco do vento) se aproxima das 100 milhas nuticas. Como o movimento para cada molcula da gua, quase circular, o seu deslocamento na direco do movimento da onda pequeno, o que implica uma reduzida transferncia de massa. As ondas transmitem energia e executam a maior parte do trabalho de esculturao das paisagens costeiras. A altura da onda determina a energia potencial, enquanto o movimento das partculas individuais de gua, quando a onda passa, representa a medida da energia cintica da onda.
Quando as ondas profundidade do alto mar se aproximam da zona litornea, sofrem alteraes. medida que diminui a profundidade da gua, o movimento orbital altera-se de circular para elptico e, posteriormente, para um movimento linear de vaivm. Os sedimentos do fundo do mar movem-se para a frente e para trs absorvendo a
energia da gua em movimento. A velocidade das ondas decresce pelo atrito no fundo, a altura, ao contrrio, aumenta com a diminuio do comprimento. O comprimento da onda torna-se, tambm, menor. As ondas do alto mar continuam a mover-se a grande velocidade. As rbitas das partculas de gua da onda mudam de quase circulares para elipses muito achatadas. medida que as cristas das ondas se aproximam, a gua move-se rapidamente para a frente e para cima. Finalmente, o movimento para a frente, da massa de gua superficial, iguala o movimento decrescente da frente de onda para diante. A onda adquire, ento, uma face ngreme e sua crista desaba sobre a depresso situada adiante, formando a linha de rebentao das ondas, limite da zona sublitornea interna (nearshore). O fluxo da gua arremessada praia aps a rebentao constitui a saca. Quando uma saca atinge a escarpa de uma falsia ou penhasco, milhares de toneladas de gua so jogadas contra a estrutura. As maiores presses so exercidas pelas ondas de rebentao, que se enrolam nas cristas, aprisionando ar entre a face da onda e a parede aqutica ngreme, comprimindo o ar. J foram registradas presses de choque de 6,4 quilos por centmetro quadrado contra as paredes das escarpas. A aco das ondas pode intensificar-se pelo facto de arremessar fragmentos rochosos, que ela carrega, contra as escarpas, provocando a abraso.
99 A refraco das ondas sobre um fundo raso, irregular, constitu uma importante aco morfogentica. Suponhamos que num determinado trecho da costa existe um esporo avanando na direco do mar e que este se torna submarino, continuando pelo mar adentro (fig. 5.3). As linhas paralelas do sistema de ondas em movimento, ao encontrarem o esporo submarino, retardam os seus movimentos em virtude do atrito do fundo. A crista de onda, nas guas mais fundas de ambos os lados do esporo, continua a mover-se para a frente com a mesma velocidade, originando uma onda com a frente cncava para a terra e com a energia da onda convergindo para a ponta rochosa emersa. A refraco da onda sobre um baixio submarino concentra a energia contra as escarpas do esporo. Inversamente, quando um sistema de ondas se aproxima da costa sobre uma depresso ou vale submarino (fig. 5.3), a frente de onda continua a mover-se para diante, sem alterar a sua velocidade na depresso, mas nos lados a velocidade retardada. A frente de onda torna-se convexa na direco do continente a crista esticada ou atenuada e a sua energia diverge do eixo do vale submarino. Com base na refraco das ondas, pode-se fazer duas generalizaes a propsito do desenvolvimento evolutivo das costas. Em primeiro lugar, constatou-se que as salincias iniciais da costa na direco do mar tendem a erodir-se mais rapidamente do que as enseadas adjacentes, isto , a refraco de ondas tende simplicar, as costas inicialmente irregulares, pela remoo das protuberncias. Em segundo lugar, a refraco das ondas promove a formao de correntes, que fluem ao longo das costas, a partir das salincias, onde a concentrao das ondas eleva o nvel da gua, para os eixos das enseadas adjacentes, onde o nvel de gua mais baixo. As correntes longitudinais, so responsveis pelo transporte dos materiais provenientes da abraso das pontas rochosas.
As mars , relacionam-se com as variaes do nvel do mar e tm uma influncia indirecta na esculturao litornea. Como a aco das ondas pode actuar com uma amplitude vertical muito ampla a sua influncia mais acentuada onde as mars so maiores. Alm da funo de elevar e baixar o nvel de ataque das ondas, as mars podem tambm gerar correntes, atravs da diferena de nvel entre dois pontos. Nos canais
estreitos que unem bacias com perodos diferentes de mars, estas correntes tornam-se velozes (chegando at quase 10km por hora). O exemplo clssico o do Hell Gate, no rio East da cidade de New York, onde as correntes alternam, consoante as mars, entre o estreito de Long Island e o porto de New York.
As correntes de deriva litornea, surgem quando as ondas atingem o litoral com determinado ngulo e no perpendicularmente. A incidncia da onda faz-se de acordo com o referido ngulo, mas a retirada das guas processa-se em sentido perpendicular, propiciando a que o movimento dos materiais se faa numa trajectria em ziguezague, de que resulta um transporte paralelo costa. As correntes de deriva litornea
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constituem, com as correntes longitudinais e de mars, os factores mais importantes da morfognese do litoral. Tempestades so produzidas pelo efeito combinado de presses atmosfricas baixas e de velocidades muito elevadas dos ventos. No centro das tempestades tropicais a presso atmosfrica pode atingir valores de 100mb abaixo do normal. As tempestades mais espectaculares surgem quando a presena de ventos fortissmos sobre as costas coincide com a mar alta. Tsunami so ondulaes originadas pelo deslocamento do fundo ocenico, ligado a erupes vulcnicas, movimentos catastrficos de massas submarinas, ou a sismos causa mais importante. O deslocamento de largas massas de gua ocenica, muitas vezes a
grandes profundidades, gera ondulaes de pequena amplitude (geralmente menores do que 1 metro), considervel comprimento (200km ou mais) e velocidade muito elevada.
Dos processos morfogenticos do litoral fazem parte, para alm das ondas, correntes e mars, outros factores tais como o geolgico, climtico, bitico e oceanogrfico. Geolgico, bvio que nas costas escarpadas, os seus aspectos relacionam-se com a estrutura e litogia. As costas com a presena de estruturas com ngulos em relao ao litoral, tendem a ser recortadas, as costas onde existe paralelismo entre o litoral e as estruturas tendem a ser rectas. Os movimentos tectnicos, como falhas, vulcanismo e dobramentos, tm uma influncia sensvel no modelado costeiro, nas estruturas menores como das diaclases podem tambm ter importncia quando em presena de rochas com resistncias distintas. Assim, as falsias talhadas em quartzito compacto, com poucas
diaclases ou juntas, oferecem elevada resistncia ao ataque da alterao e das ondas, mas as falsias de rocha dura com muitas diaclases e linhas de fraqueza, so facilmente atacados. As ondas, atravs da aco hidrulica, exploram qualquer linha de menor resistncia, originando a elaborao de formas menores como cavernas, arcos e entalhes de solapamento. As formas
deposicionais das costas baixas so influenciadas pelo factor geolgico relativamente origem dos sedimentos reas de bacias de drenagem e ao fundo dos mares. O factor climtico importante porque controla a alterao fsica, qumica e biolgica dos afloramentos rochosos subareos ou prximos do mar. De acordo com os processos de alterao, as rochas so fragmentadas ou decompostas, repercutindo-se na qualidade e granulometria dos materiais a serem fornecidos ao remanejamento marinho. As variaes regionais do clima manifestam-se de formas distintas nos processos
de evoluo. Nos trpicos hmidos, a rpida alterao qumica traduz-se na decomposio profunda de quase todas as formaes rochosas, e como consequncia na presena macia de sedimentos de granulometria fina e na escassez de fragmentos grosseiros, quer no ataque directo das falsias quer na carga detrtica transportada pelos rios. Nas regies frias, ao
101 contrrio, a activa gelivaco favorece a presena dominante de fragmentos grosseiros, nas formas oriundas da acumulao. Nas costas desrticas, dominam tambm os fragmentos grosseiros. Estas costas caracterizam-se pela presena de pequenas quantidades de material detrtico e de grandes quantidades de sedimentos biognicos (derivados de conchas marinhas e detritos de corais) transportados pelo escoamento e depositados nas formas de acumulao.
O vento, elemento climtico, tem importncia na morfognese litornea porque edifica dunas costeiras e porque gera as ondas e correntes que, em conjunto com as mars, estabelecem o padro de circulao das guas marinhas nas zonas litorneas e sublitorneas. O factor bitico fortemente influenciado pelas condies climticas, que estabelecem os limites responsveis pela presena ou ausncia de determinados organismos. Os corais e os organismos que lhe esto associados na construo de recifes
esto confinados s zonas intertropicais; da mesma forma, os manguezais ocupam pntanos e esturios de regies baixas das latitudes tropicais que estejam sujeitas influncia das mars.
Os organismos podem desempenhar uma aco erosiva escavando e promovendo a desagregao dos minerais das rochas, ou protectora e construtiva, facilitando a reteno dos sedimentos e a acumulao dos seus detritos. O factor oceanogrfico relaciona-se com a natureza qumica da gua do mar. Esta pode apresentar variaes de salinidade que oscilam entre os teores baixos, como no Mar Bltico, e teores muito elevados, como no Mar Vermelho e nas reas ocenicas de zonas ridas. O sal da gua do mar tem um poder corrosivo, e compressivo, quando da cristalizao, actuando como processo de alterao no ataque dos afloramentos rochosos; por outro lado, condiciona ambientes ecolgicos distintos, possuidores de fauna e flora especficas as quais, por sua vez, influenciam nos processos de alterao, transporte e deposio dos sedimentos ao longo da faixa litornea. 8.3 - Formas de relevo litorais destrutivas
As formas de relevo litorneas podem resultar tanto das aces erosiva como de acumulao, que caracterizam as costas escarpadas e as costas baixas ou planas. Os elementos topogrficos bsicos das costas escarpadas esto representados na fig. 13.14 e 5.4. Quando, em virtude de modificao do nvel do mar ou da terra, o mar entra em contacto com uma escarpa ngreme emersa, estabelecem-se condies para a esculturao de uma srie de formas. O ataque das ondas, na zona intertidal, promove um entalhe de escavao na base da escarpa, que provoca o desmoronamento da sua parte superior e elaborao da falsia.
102 A falsia (cliff) um ressalto no coberto pela vegetao, com inclinaes muito acentuadas e alturas variadas, localizada na linha de contacto entre a terra e o mar. medida que a falsia vai recuando para o continente, amplia-se a superfcie erodida pelas ondas que chamada de terrao de abraso ou rampa de abraso (abrasion ramp). Os sedimentos erodidos nas falsias, e depositados em guas mais profundas, constituem os terraos de construo marinha, que formam, em conjunto com o terrao de abraso um plano suavemente inclinado. Esse plano a zona de aco das sacas (movimento de avano das ondas sobre a praia) e da deriva litornea.
8.4 - Formas de relevo litorais construtivas
granulometria dos sedimentos dominantes a da areia, contudo existem tambm praias formadas por cascalhos, seixos e por elementos mais finos do que as areias. Nos trpicos predominam as praias constitudas por uma variedade grande de partculas carbonatadas orgnicas e inorgnicas Em Portugal predominam as praias arenosas. Entretanto, em Torpes, por causa da sedimentao dos detritos em suspenso e em soluo transportados pelo rio, as praias so compostas por sedimentos argilosos. Nas reas de climas temperados, frios ou ridos, as praias so constitudas por sedimentos mais grosseiros, seixos e cascalhos, como nas famosas praias da Riviera Francesa. Em determinadas condies os sedimentos das praias podem encontrar-se litificados por carbonato de clcio, originando os "beach-rock". Estas formas de acumulao so frequentes nos trpicos onde as guas contm carbonato de ccio em excesso. Em virtude do movimento rpido e constante dos seus sedimentos ao longo
da costa, as praias representam formas perfeitamente ajustadas ao equilibrio do sistema litorneo relativamente ao fluxo de energia. Em determinadas alturas ondas de tempestade podem destruir as praias sobre as quais se abatem que, posteriormente, sero refeitas pela aco constante e normal das ondas. A forma do perfil das praias
depende da dimenso, forma e composio material porque so constitudas e tambm da amplitude das mars e caractersticas da ondulao que nelas se fazem sentir. Na maioria das praias possvel individualizar uma berma (berm), uma crista da berma (berm crest) e a fase da praia (beach face). A berma normalmente horizontal ou pouco inclinada, encontrando-se ausente nas praias constitudas por seixos e blocos. A face da praia apresenta inclinaes quando constituda por areias finas e de 20 quando constitudas por seixos e blocos.
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Barreiras (barrier island, offshore bar, barrier beach, barrier bar), so formas de acumulao constitudas por faixas arenosas depositadas paralelamente praia, e alongadas. Estas barreiras litorais tm como pontos de apoio os cabos e as salincias do litoral. Localizam-se acima do nvel normal da mar alta e, medida que se alongam, vo separando da costa atravs de parcelas de gua que se transformam em lagoas litorneas. So inmeros os exemplos de lagoas litorneas originadas por esse processo (a
lagoa dos Patos, a de Araruama e muitas outras). Barreiras litorais sucessivas e paralelas podem, quando incorporadas rea continental, originar plancies. A rea deltaica do rio Paraba do Sul, no estado fluminense, um excelente exemplo, para alm da formao de plancies o crescimento das barreiras pode originar o fecho da desembocadura dos rios barrando-lhe a sada. Como consequncia os rios deslocam-se no mesmo sentido do seu crescimento. Ao dificultarem o livre acesso dos rios ao mar o desenvolvimento das barreiras, obrigam os cursos fluviais a deslocarem-se longitudinalmente sua linha. Os rios que se situam entre a foz do rio Doce e a do So Mateus, no Estado do Esprito Santo, so exemplos tpicos, especialmente o caso do Mariricus. As barreiras litorais fazem parte da maior das faixas costeiras do mundo. Para a sua origem, existem duas teorias. Uma teoria relaciona a origem das barreiras com o
transporte de areia efectuado pelas ondas que se dirigem para a costa, em guas pouco profundas. Esta teoria admite que as sacas revolvem o fundo arenoso e que a areia obtida depositada pelas correntes de deriva e rebentao das ondas nos cordes arenosos. A segunda teoria considera que as barreiras se formam atravs da deposio de areias transportadas por correntes longitudinais e originadas pelo ataque erosivo nas salincias do litoral. Nesta teoria as ondas no so capazes de mover sedimentos, para cima de uma plano inclinado submarino no sentido da costa. As investigaes efectuadas, principalmente as desenvolvidas no decorrer da Segunda Guerra Mundial, revelam a existncia de exemplos relacionados com as duas teorias invocadas ocorrem em casos especficos, no entanto o maior nmero de casos relaciona-se com a deriva longitudinal. Espores (tidal inlets) so prolongamentos arenosos encurvados na direco da lagoa e localizados ao longo das barreiras litorais. Desenvolvem-se em locais onde se manifestem fluxos originados por ondas vindas de direces distintas (fig. 5.6). Por outro lado, a refraco destas ondas nas ilhas origina uma acumulao de sedimentos na parte posterior do ponto de encontro de dois conjuntos de ondas refratadas. Esta acumulao de sedimentos termina por construir um cordo arenoso que liga a ilha ao continente denominado de tombolo. Este pode ser simples, duplo ou triplo, de acordo com o nmero de linhas arenosas porque constitudo. Os casos mais complexos so
aqueles em que os tombolos renem vrias ilhas em rosrio, como o clssico exemplo da
104 Praia de Nantasket, no litoral atlntico dos Estados Unidos, estudado por Douglas Johnson em 1910. So comuns os casos de tombolos no litoral brasileiro, servindo de exemplo o da Ilha Porchat, em Santos.
Deltas, quando um rio escoa para o mar ou para um lago, depositando uma carga detrtica maior do que a carregada pela eroso, ocorre a formao de protuberncias denominadas por deltas. A maneira como os sedimentos se distribuem, depende do carcter e quantidade da carga, das ondas e das correntes marinhas ou lacustres e da densidade da gua dos rios e do mar. Vrias so as formas espaciais assumidas pelos deltas
(fig. 3.5). Considerando o perfil longitudinal dum delta, verifica-se que a superfcie plana, com aspecto de plancie subarea ou subaquosa. O recobrimento superior formado por um conjunto de camadas quase horizontais, denominadas de camadas de topo (topset beds), geralmente constitudas por areias finas, siltes e argilas. Abaixo destas camadas situam-se as camadas externas (foreset beds), que apresentam textura mais grosseira e inclinaes maiores e que assinalam a progresso do delta. As camadas de fundo (bottomset beds) que permanecem no fundo submarino ou sublacustre so geralmente constitudas por material muito fino e como se localizam na frente de progresso do delta, so recobertas pelas camadas do foreset e, posteriormente, pelas camadas do topset. Torna-se necessrio lembrar que essa descrio corresponde a um corte ideal, e que cada delta pode apresentar um imbricamento de camadas, caracterstico, em funo das condies climatricas reinantes no local durante a sedimentao. A morfologia deposicional da plancie deltaica caracteriza-se pelo desenvolvimento de diques naturais bordejando os canais fluviais. Estes diques resultam do transbordo e sedimentao, relacionadas com as cheias, que inundam as depresses da plancie. A velocidade de fluxo maior ao longo dos canais diminuindo na direco das guas mais calmas localizadas nas margens laterais. No decurso da cheia, grandes quantidades de material, relativamente grosseiro, so depositadas em reas adjacentes ao canal fluvial, enquanto que os materiais mais finos so levados para reas mais distantes. As acumulaes de material grosseiro originam a formao de diques naturais ao longo do curso de gua, com declives suaves na direco das depresses perifricas. Com o progressivo aumento da acumulao vertical dos sedimentos com a sedimentao nos leitos fluviais os diques tornamse cada vez mais altos faz com que tambm se elevem, podendo atingir cotas superiores s das depresses circunvizinhas, que permanecem como reas mal drenadas e pantanosas. A deposio fluvial que ocorre a nvel da foz dos rios tende a prolongar os diques naturais e os lbulos na direco do mar e a promover o avano da frente superficial.
Os deltas actuais apresentam enorme variedade em tamanho, forma, estrutura, composio e gnese. Essas diferenas existem porque os mesmos conjuntos de acontecimentos ocorrem sob condies ambientais diferentes. Os principais factores que
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influenciam as caractersticas deltaicas so: a) o factor geolgico e as origens dos sedimentos da bacia de drenagem; b) as condies climatricas, tanto da bacia de drenagem como da rea deposicional; c) a estabilidade tectnica da bacia; d) a inclinao do rio e do regime fluvial; e) os tipos de processos deposicionais e erosivos e respectivas intensidades, dentro da rea deltaica, e f) a amplitude das mars, eustasia e as condies marinhas sublitorneas. Das numerosas combinaes entre estes factores e da sua durao temporal resulta um complexo dinamicamente mutvel de ambientes, dentro do delta. Esta complexidade resulta da interaco das foras construtivas e destrutivas que participam na edificao dos deltas. A relao entre os efeitos dos mecanismos de deposio e de remoo depende das intensidades dos processos fsicos, biolgicos e qumicos que actuam na rea deltaica. O principal fenmeno na evoluo deltaica o desvio dos cursos fluviais em distributrios sucessivos. Como os deltas progridem sempre na direco do mar, a inclinao e a capacidade de carregar sedimentos vai diminuindo gradualmente, originando o aparecimento de percursos mais curtos para o mar em reas adjacentes. Geralmente, o ponto de desvio ocorre em locais interiores, distantes do delta activo, e a sua posio pode ser acidental ou resultar do desenvolvimento de uma brecha. A partir do ponto de desvio a topografia da bacia determina o novo curso fluvial, que deslocar a rea de sedimentao deltaica activa. O delta abandonado ou inactivo resulta deste processo, seno for alimentado por sedimentos fluviais ser rapidamente atacado pelo mar; o balano entre foras marinhas e fluviais pende a favor do ataque marinho. O novo delta, entretanto, progride rapidamente na direco do mar, registando os
vrios estgios de desenvolvimento porque passou, at ser abandonado e originar uma nova rea de sedimentao activa. Na plancie deltaica do rio Mississipi, foram construdos nos ltimos 5 000 anos sete lbulos deltaicos. Noutros sistemas deltaicos, como no Nilo, GangesBramaputra, Orenoco e Niger, parece no existir uma distino muito ntida entre os lbulos construdos e os lbulos abandonados. O que se verifica que determinados distributrios foram edificados e posteriormente abandonados a favor de outros localizados no interior do mesmo delta. Por exemplo, o Rio Nilo atinge actualmente o mar atravs de dois tributrios pricipais., o Rosetta e o Damietta, mas a cartografia revelou que no passado existiam vrios distributrios actualmente abandonados. O delta do rio Paraba, estudado por Alberto R. Lamego, apresenta semelhanas com vrios tipos deltaicos (fig. 3.6). Os deltas podem tambm formar-se na foz doutros cursos fluviais. Os deltas do rio Branco no rio Negro e o do Madeira no Amazonas constituem bons exemplos.
Plancies de mar so formas deposicionais construtivas desenvolvem-se em determinadas reas mais ou menos planas de costas macro e mesotidais, entre os limites da mar alta e mar baixa. So constitudas por sedimentos tipo muddy desenvolvendo-
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se maioritariamente em lagoas e esturios tidais. Estas plancies so sulcadas por um srie
de canais mais ou menos perpendiculares costa encontrando-se geralmente protegidas por cordes litorais, ilhas barreira ou barras de areia. Podendo tambm corresponder a reas fechadas.
Cones de dejeco, so formas de acumulao construtiva, constituda pela deposio de material detritco na parte jusante do canal de escoamento duma torrente, em virtude da diminuio rpida da competncia do curso de gua. As torrentes so cursos de gua efmeros, localizados em regies com altitudes elevadas, tais como as reas montanhosas, escarpas de Serras e planaltos. O perfil
longitudinal duma torrente constitudo por uma pequena depresso ou bacia de recepo, onde as guas superficiais se concentram, por um canal de escoamento, de seco transversal pequena e profunda por onde as guas, sob o efeito da gravidade, descem e por um cone de dejeco onde a maioria do material, transportado pelas guas, se acumula.
Recifes, so formas construtivas de grande importncia na morfologia litornea. Os recifes podem ser constitudos por corais ou por arenitos. Inicialmente, o termo "recife", utiliza-se para designar qualquer proeminncia rochosa, localizada perto da superfcie do oceano, que interceptava as ondas e constitua um obstculo perigoso para a navegao. Actualmente o termo recife designa um complexo organognico de carbonato de clcio (primariamente de corais) que forma uma salincia rochosa no mar e que cresce geralmente at ao limite das mars. Como os recifes oferecem resistncia s ondas, os seus espaos internos so preenchidos por fragmentos de material do prprio recife, e por algas coralgenas e fragmentos orgnicos. A literatura sobre os recifes muito ampla, mas a contribuio de Charles Darwin, em
1842, tornou-se no trabalho clssico. Nessa obra, o autor fala de recifes de coral (coral reef), como se todas as edificaes fossem constitudas apenas por corais. Com base nesta afirmao, o termo generalizou-se e passou a ser aplicado a todos os tipos de edifcios que representassem obstculos navegao nos mares tropicais. Os recifes de corais desenvolvem-se em guas de mares onde a temperatura nunca inferior a 18C, e que em mdia se matm a alguns graus acima deste nmero. A temperatura mais favorvel situa-se entre os 25C e 30C. Uma iluminao boa e forte das guas fundamental uma vez que a funo dos organismos depende dela. Por essa razo, o maior desenvolvimento dos recifes faz-se entre o nvel das mars baixas e o de 25m de profundidade. Com o aumento da profundidade, a luz diminui levando a que os corais construtores se rarefassem, aparecendo em seu lugar outras espcies que vivem de modo diferente e quase nada constroem. O coral tambm no pode viver acima das mars baixas, porque no suporta emerses prolongadas e as temperaturas superiores a 36C so- lhe fatais. Por outro lado, as guas devem ser agitadas e constantemente renovadas, a fim de que sejam
107 as mais oxigenadas e as mais ricas em matrias nutritivas. Todavia, a intensidade de quebramento das ondas no deve ser muito forte, porque seno acaba destruindo os corais. A salinidade das guas deve estar compreendida entre 27 e 40, situando-se o seu valor ptimo entre 33 e 37. Enfim, a turvabilidade da gua deve ser considerada como elemento negativo. A rocha de um recife de coral material muito poroso, com grande variedade de componentes clsticos, principalmente organognicos, com materiais de cimentao inorgnicos. Tanto a periferia exterior do recife como a lagoa interna apresentam detritos clsticos em quantidade, por causa da fragmentao provocada pelas ondas. Os detritos so conhecidos como areias bioclsticas ou de coral, quando no consolidados, ou como calcarenito, quando cimentados. Um tipo especial de recife formado sobre as praias. Sob as condies ensolaradas do clima tropical, as concentraes repetidas de gua marinha nos interstcios do sedimento, levam cimentao das areias durante os perodos de baixa mar. O endurecimento leva formao do arenito de praia (beach sandstone) ou beachrock. Ao longo do litoral brasileiro, so comuns os recifes de arenito, principalmente na costa nordestina; eles estendem-se entre as latitudes de 4 43' e 16 30'S. Tais arenitos aparecem formando longas faixas paralelas costa, ou como pequenas ilhas isoladas, ou ainda sof formaes distanciadas da costa. Nessa ltima categoria, o recife anular das Rocas e os Abrolhos servem de exemplos. Embora tenha sido verificada a existncia de corais nos recifes brasileiros, ainda no foi provada a existncia de recifes coralgenos nas guas brasileiras (Mabesoone, 1966). No caso das Rocas e dos Abrolhos, as edificaes recifais so formadas por construes orgnicas, compostas por algas e outros organismos.
Vrias so as formas apresentadas pelos recifes de corais. As mais importantes so os atis, os recifes em barreiras e os em franjas. a) Os atis so anis de corais, recortados por passagens, cercando uma lagoa cuja profundidade geralmente ultrapassa 30m, mas que s em casos excepcionais atinge a 100m. O dimetro muito varivel, podendo at ultrapassar 60km. A parte do atol que
emerge pouco elevada e a inclinaes interior mergulha suavemente em direco laguna. Em direco ao mar circundante, ao contrrio, a inclinao submerge muito bruscamente para as profundidades ocenicas, atingindo, e em geral ultrapassando, 45 durante vrias centenas de metros (fig. 5.7). Os atis mais tpicos e mais estudados localizam-se nos oceanos Indico e Pacfico e nos mares da Indonsia. A explicao fornecida por Darwin para a origem do atol pode ser aplicada a muitos casos. De acordo com esse autor, os atis se desenvolver-se-iam sobre ilhas vulcnicas em via de submerso. Os corais formariam em princpio um recife franja, de seguida um recife barreira e, finalmente, um atol quando a ilha vulcnica submergisse totalmente (fig. 5.8). A sntese elaborada por Davis, em 1928, aps a sua longa viagem pelo Pacfico, postula a favor
108 da subsidncia. Uma teoria mais recente, proposta incialmente por Daly, considera que a maior parte das caractersticas dos recifes originada pelas oscilaes glacio-eustticas quaternrias. Esta hiptese apoia-se sobre a profundidade relativamente uniforme (cerca de 60m) de grande nmero de fundos de lagoas. Estes fundos considerados como plataformas no coralinas, teriam sido aplainados durante a descida do nvel do mar. A diminuio da temperatura ento verificada impediu o crescimento dos corais sendo o fundo destas lagoas recoberto por uma delgada camada de detrtos e de algas calcrias. Posteriormente o aquecimento ps-glacirio, levou a que fossem criadas condies para a construo do edificio coralino, que crescia acompanhando a elevao do nvel do mar. Os corais colonizaram as regies marginais a partir dos mares mais quentes, onde nunca deixaram de existir. Daly lembra, como facto comprovante, que a largura dos atis e dos recifes barreiras maior nas regies centrais que nas marginais, sendo que nessas ltimas os recifes seriam mais recentes. As oscilaes eustticas, entretanto, no conseguem abranger todos os problemas levantados pelos recifes, principalmente quando as perfuraes denunciaram espessuras muito grandes de formaes coralinas submersas, que em casos excepcionais atingiram o embasamento rochoso a 1401m e a 1267m, no atol de Eniwetok, nas ilhas Marshall (Guilcher, 1954). Os movimentos subsidentes tambm devem ser considerados. Por essa razo, as explicaes actuais como na teoria proposta por Kuenen e Stearns, procuram abranger tanto a subsidncia como o eustatismo.
b) Os recifes em franja representam a forma bsica do recife de coral, desenvolvendo-se pelo crescimento das colnias de corais ao longo das bordas de uma terra emersa no coralina. O recife em franja pode atingir extenses muito amplas, sendo atravessado por alguns canais, podendo assumir forma rectlinea ou curva. Duas variedades se podem distinguir: os recifes franja no protegidos por barreiras com uma zonao anloga s barreiras e atis, uma vez que ficam directamente expostos s ondas do mar aberto; os recifes franja protegidos e abrigados por barreiras contra as ondas muito fortes que constituem os casos muito comuns. No apresentam crista acentuada, embora o bordo externo seja abrupto. Em geral, o aspecto assemelha-se aos bancos de atol, irregulares e formando lagoas internas nas depresses quando das mars baixas. c) Os recifes barreiras podem apresentar em seu interior uma ou mais ilhas no coralgenas. A sua morofologia de detalhe e a sua zonao so semelhantes s dos atis. O seu perfil dessimtrico, sendo que no lado ocenico as inclinaes so ngremes atingindo rapidamente 1000-5000m de profundidade. Para o interior, a inclinao suave e as profundidades das lagunas situam-se entre 80-100m.
109 A mais clebre barreira do mundo a de Queensland, que possui cerca de 2000km desde o Golfo de Papua at o Trpico de Capricrnio. Na parte oriental da Nova Guin h outro belo complexo de recifes em barreiras, em volta das ilhas do grupo Louisiade. Exemplos tambm so observados nas ilhas da Nova Calednia, Fiji, Borneo e em outras ilhas do Pacfico.
9. - CLIMA, MUDANAS CLIMTICAS E FORMAS DE RELEVO 9.1 - Introduo
O estudo dos climas importante porque permite compreender e conhecer as originalidades da morfologia de cada zona uma vez que cada zona conheceu, no passado, sucessivos e diversos climas, que deixaram os seus traos. O clima actual apenas faz sentir o seu efeito do ponto de vista geolgico, a nvel da Europa Ocidental e Amrica do Norte, pouco tempo, cerca de dez milhes de anos e durante estes anos as formas no puderam remodelar-se completamente. As condies actuais da Europa Ocidental aps a poca neoltica, isto , 5000 anos (tempo no qual a agricultura substitui no sistema econmico a caa, a pesca e a colheita) so denominadas pelo papel desempenhado pela eroso a nvel do solo, uma vez que este se encontrava anteriormente coberto por um manto de vegetao.
O sistema de eroso que se desenvolve actualmente debaixo dos nossos olhos foi originado pelo homem, conhecido como sistema antrpico e artificial. A cada clima corresponde uma cobertura vegetal que influncia os processos morfogenticos. Nas regies com floresta a eroso, diminui consideravelmente porque as folhas diminuem o efeito da chuva, no deixando cair sobre o solo seno um nmero restrito de gotas, e com um certo atraso. Os processos que podem acelerar a eroso (arranque de terra pelas razes duma rvore que cai) s intervm raramente. As regies com estepe, e sobretudo as desrticas, deixam aparecer o solo a n facilitando consideravelmente a alterao e eroso. As coberturas vegetais encontra-se quer em climas quentes e ridos, quer em climas frios. Alguns agentes, como o vento, tambm exercem a sua aco, em climas to diferentes como os do Sahara e Islndia, em combinao com os processos de alterao trmica bem distintos nos dois ambientes. A Crise climtica uma noo muito importante em geomorfologia. Consiste nas mudanas originadas aps uma variao climtica. Muitas plantas no so capazes de se
adaptar s novas condies criadas pela variao climtica levando a que o tapete vegetal seja, nas maioria dos casos totalmente destrudo. A cobertura vegetal s se desenvolver quando as sementes germinarem. Durante o tempo de germinao das sementes encontramo-
110 nos momentneamente na presena duma taxa de eroso muito elevada: os solos, preparados pela alterao no perodo precedente, podem sofrer um transporte muito intenso.
9.1 - Paleoclimas, mtodos de datao
Os paleoclimas com um papel importante na histria morfolgica das formas actuais so os seguintes:
a) primeira parte do Tercirio, com clima tropical nas regies actualmente temperadas; b) segunda parte do Tercirio (Miocnico e Pliocnico) o clima da Europa Ocidental era do tipo quente no tropical; c) entre o Pliocnico e o Quartenrio (vilafranquiano), surgem as primeiras oscilaes entre clima quente e clima frio. Os paleoclimas podem ser reconhecidos atravs da utilizao de diferentes mtodos: a) pr-histria; b) acumulao de turfas nos pntanos indicam-nos toda sucesso completa da base para o topo. Cada camada de turfa recebeu polens de espcies vegetais vizinhas do pntano. A anlise polinica indica o tipo de vegetao e o clima que reinava na poca. A presena de evaporitos, arenitos elicos, e tilitos constituem tambm bons indicadores. c) dataes absolutas radioactivas. O estudo da radioactividade de certos minerais permite fazer o clculo do nmero de anos. O carbono 14 (C14) permite calcular idades inferiores a 50000 anos, sendo por isso vlido para o ltimo perodo glaciar e o perodo postglaciar. Dois isotopos de urnio permitem atingir 250000 e 400000 anos, mas a sua utilizao delicada. Para l desta idade at s centenas de milhes de anos (do Quaternrio mdio ao primrio) o potssio e o argon (K-Ar) permitem conhecer a idade das rochas que se formaram a quente, como as lavas ou o granito. Actualmente emprega-se com xito a tcnica de anlise dos istopos estveis de oxignio (16O/18O) para conhecer idades absolutas em sedimentos carbonatados (foraminferos plantnicos e bentnicos).
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9.2 - Quartenrio
A poca quaternria ficou marcada pelo aparecimento do homem e dos restos das suas indstrias e pela presena e desenvolvimento de grandes glaciares que cobriram boa parte da Europa e Amrica do Norte. O desenvolvimento dos glaciares no pode ser atribudo a causas extrictamente locais, uma vez que se produziu simultanemente na Europa e na Amrica e duma forma mais geral sobre todo o globo. A sua apario apenas pode ser explicada por um arrefecimento generalizado e simultneo nos dois hemisfrios, que levou descida, por toda a parte, do "limite das neves eternas". O arrefecimento geral do globo, aceite por todos, tem sido atribudo a fenmenos extraplanetrios. A origem dos glaciares est ligada s cadeias montanhosas de altitudes muito elevadas. O Quaternrio foi submetido a vrios perodos glaciares frios, separados por perodos interglaciares com clima temperado e quente, anlogo ou ligeiramente mais quente do que o clima actual. Estas variaes levaram a migraes importantes de populaes animais e vegetais. Nos Alpes foram reconhecidas quatro glaciaes denominadas de acordo com os nomes de ribeiras bavaroises: Gunz, Mindel, Riss e Wurm. Na Amrica do Norte, foram individualizados, igualmente, quatro glaciaes (Nebraska, Kansas, Illinois e Wisconsin) durante as quais grandes calotes cobriram toda uma parte do continente. Na plancie da Alemanha do Norte, distinguiram-se apenas trs glaciaes foram individualizadas: Elster, Saale e Vistule. O paralelismo entre as vrias glaciaes deve ser feito entre Mindel e Elster, Riss e Saale e Wrm e Vistule uma vez que a glaciao Gnz no foi individualizada fora da regio dos Alpes. A durao das glaciaes e dos perodos interglaciares bastante varivel. Actualmente a tendncia de alongar os perodos temperados interglaciares e se diminuir os perodos glaciares, de tal maneira que parecem ter existido uma quinzena de perodos frios. Nos desertos, nunca houve glaciaes, mas durante as glaciaes que cobriam os Alpes, Europa do Norte e grande parte da Amrica do Norte, eles conheceram perodos mais hmidos (perodos chuvosos) do que actualmente. Em Marrocos foram individualizadas vrias pocas de chuvas. A latitudes baixas, a situao no se conhece muito bem. possvel que o clima tenha sido mais seco durante as glaciaes que se sentiam nas latitudes elevadas. Em todo o caso, parece que o clima dos perodos post-glaciares foi inicialmente mais hmido do que actualmente nas latitudes elevadas, uma vez que o nvel dos lagos da frica Oriental e o lago Tchad teria sido um nvel superior ao actual.
112 Aps o final da ltima glaciao, o clima tornou-se semelhante ao clima actual. No entanto, a glaciao no terminou de golpe. Houve primeiro um reaquecimento entre 12 000 e 11 000 anos (Allerd) antes de ns; depois um retorno do frio entre 11 000 e 10 000 anos, aps o qual as mudanas apenas apresentaram pequenas nuances (fig. 14.7, pg. 352 e fig. 14.8).
FORMAS DE RELEVO QUARTENRIAS Durante o Quaternrio os diferentes agentes morfogenticos originaram vrias formas de relevo que, na maioria dos casos, permaneceram frescos e inalterados. O seu
estudo representa um meio precioso para reconstituir os fenmenos que as originaram e estabelecer a sua cronologia. A - Superfcies de acumulao fluviais: plancie aluvial e terraos. As plancies
aluviais so superfcies planas, quase horizontais, com uma inclinao ligeira no sentido jusante. So originadas no decurso das divagaes sucessivas dos rios, que os obrigaram a
correr sucessivamente na totalidade dos pontos da sua plancie aluvial. Deste modo, quando observamos uma plancie aluvial muito larga, necessrio no deduzir de imediato que o rio foi outrora to largo como a sua plancie. Se for por algum motivo (elevao do solo, abaixamento do nvel de base no qual o rio termina, modificao do seu regime, etc.) o rio deixar de entalhar num determinado ponto do seu curso, ento passar a escavar o seu leito e a entalhar-se nos aluvies anteriormente depositados. A superfcie destes aluvies passa agora a dominar o curso de gua a uma determinada altura, por exemplo 35m, constitundo o terrao 35 metros. B - Superfcies de acumulao glaciares e fluvio-glaciares. Estas superfcies
foram originadas pelos antigos glaciares e apresentam topografia muito irregular, denominada por topografia moreica. Estas superfcies de acumulao apresentam linhas de cristas ou vallums, mais ou menos contnuas durante grandes distncias. Representam antigas moreias superfcies, frontais ou laterais, de acordo com a posio em relao aos contornos da antiga frente glaciar, que elas permitem rescontituir em todas as pocas. As moreias de fundo apresentam geralmente uma topografia extremamente catica, no
entanto possvel, muitas vezes, reconhecer acumulaes moreicas alongadas, em forma de rodilha, paralelas ao sentido do deslocamento do gelo, so os drumlins. Drumlins deste tipo so comuns nas plancies da Alemanha do Norte, foram edificados a partir das moreias de fundo da ltima extenso dos antigos glaciares escandinavos. C - Superfcies de acumulao ao longo de antigas plancies costeiras. As
plancies costeiras edificaram-se ao longo de costas no abruptas e representam os
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testemunhos de margens marinhas antigas. Ao longo duma costa de inclinao suave tende
a surgir uma superfcie de inclinao suave na direco do largo, constituda, na parte emersa, por cordes litorais, preenchimentos lagunares, aluvies de rios ou torrentes costeiras. Na parte submersa, por praias de areias trazidas pelas correntes e vagas. A esta superfcie
constituda pelo conjunto destes sedimentos, semi-marinhos e semi-continentais que se designa por plancie costeira. Se o nvel do mar sobe, as plancies costeiras antigas so destrudas ou englobadas nas mais recentes. Se ao contrrio o nvel baixa, a plancie costeira antiga subsiste sob a forma de terrao marinho dominando as novas margens.
CARACTERSTICAS LITOLGICAS DAS FORMAES QUATERNRIAS 1- Moreias e aluvies Moreias so depsitos glaciares no estratificados, constitudos por blocos angulosos e calhaus e seixos estriados. Aluvies so depsitos estrtificados constitudos por calhaus e
seixos rolados.
2- Blocos residuais Quando os constituintes das moreias e os aluvies, que contm blocos de grande
volume, so completamente separados durante os perodos de eroso, pode acontecer que durante este perodo as correntes no tenham sido nunca bastante violentas para transportar os enormes blocos. Permanecendo no lugar como blocos residuais, so embalados na base da nova srie aluvial.
3- Varvas Nos climas rticos ou glaciares existe uma diferena enorme entre a sedimentao de
Vero e de Inverno, as guas superficiais permanecem geladas e os transportes aluviais cessam completamente. Os lagos e mares que circundam as calotes glaciares (ex: Mar Bltico com o glaciar Escandinavo) recobriam-se duma banquisa sobre a qual, nas guas tranquilas, apenas chegavam e decantavam as partculas finas de minerais de argila. Durante o Vero, pelo contrrio, as vagas e correntes dispersavam ao longe as areias trazidas pelas torrentes de fuso. Deste modo os depsitos marinhos e lacustres apresentam uma sucesso ntida de camadas de Inverno, finamente argilosas, de cr escura, separadas por camadas de Vero mais ou menos arenosas, de cr mais clara. Estes depsitos folhosos sucessivos ou varvas foram individualizados do Bltico por um gelogo sueco.
4- Loess e os antigos solos
114 Imensas regies da Europa, em particular no Norte de Frana, nas margens Oeste e Norte dos Alpes, nas plancies da Alemanha e Europa Oriental, o solo formado por uma rocha muito especial, o loess. O loess um tipo de poeira calcria, de cr amarelo clara, muito permevel, nada argilosa nem plstica, mas frivel nos dedos, e todavia coerente em afloramentos formando por vezes paredes verticais de vrios metros ou dezenas de metros de altura: os caminhos concvos muito encaixados constituem um dos traos caractersticos dos pases com loess.
O facto de debaixo das condies climticas actuais na Europa, o loess no ser estvel, (transforma-se por oxidao e hidratao dos sais de ferro, perda do seu calcrio por dissoluo e por desenvolvimento de minerais argilosos coloidais), revela que esta rocha to especial deve ter-se formado debaixo de condies climticas ridas.
As acumulaes mais espessas de loess conhecidas (vrias centenas de metros) so as das estepes da sia Central, onde o loess ocupa uma larga faixa que vai do Cspio regio de Pequim; e l, debaixo daqueles climas, o loess contnua ainda a acumular-se.
9.3 - Eustasia A eustasia compreende as oscilaes que afectaram o volume de gua e o tamanho da bacia ocenica. Tais movimentos do nvel do mar so designados de eustticos, podendo ser positivos ou negativos. As variaes do nvel do mar podem ser curta durao, como as sazonais, ou de longa durao. Nesse caso, as variaes eustticas implicam consequncias escala geolgica. Quanto s variaes sazonais, J. G. Patullo (1963) fez o mapeamento dos meses de
Maro, Junho, Setembro e Dezembro certificando que durante o ms de Maro, o nvel eusttico do mar foi inferior ao nvel mdio do hemisfrio Norte e mais elevado do que o do hemisfrio Sul. No hemisfrio Norte, as excepes so fornecidas pelo Mar Arbico, Golfo de Sio e pela faixa entre 40 e 60N. No hemisfrio Sul, os nicos valores negativos ocorrem nas costas meridionais da Austrlia. Os desvios mais acentuados em relao ao nvel mdio foram registados na Baa de Bengala, com valores de -40cm. Os valores de -19cm foram observados no Mxico, Amrica Central e nordeste da Sibria. Um valor positivo de 16cm ocorre no nordeste da Austrlia. O Oceano rtico apresenta valores negativos em Maro e positivos durante Setembro. Em setembro, os valores so semelhantes aos verificados em maro, mas em sentido contrrio. A Baa de Bengala apresenta valor positivo de 54cm, enquanto as cifras positivas de 13 e 27cm so observadas no Mxico e no nordeste da Sibria. O sudeste dos Estados Unidos e da Islndia oferecem valores positivos, enquanto o sul da Austrlia possui desvios negativos em ambas as estaes. O referido autor no distinguiu
115 padres regulares para os meses de Junho e Dezembro. Em Junho, as partes centrais dos oceanos tendem a apresentar desvios negativos, enquanto que valores positivos ocorrem na parte setentrional do Oceano Indico, e ocidental do Oceano Pacfico. Os maiores desvios negativos assinalados em Junho so os de - 18cm no Golfo Sio, e de - 13cm da Noruega, e valores positivos so os de 30cm na Baia de Bengala e de 14cm no sul da Austrlia. O Oceano rtico, em Dezembro, com excepo da costa norte do Alasca e nordeste da Sibria, apresenta valores positivos, enquanto em Junho os valores negativos so observados ao longo da costa setentrional da Gronelndia, Europa e sia. As variaes sazonais so explicadas pelas influncias exercidas por quatro factores principais: a) diminuio da presso atmosfrica local; b) aumento da quantidade de
calor contida nos oceanos; c) diminuio da salinidade; e d) aumento na componente dos ventos dirigidos para as terras e das correntes litorneas. As variaes do nvel do mar de maior durao temporal constituem objecto de ampla
bibliografia, podendo ser ocasionadas pelos movimentos eustticos e pelos movimentos isostticos. Nesse ltimo caso, as variaes dependem dos movimentos ocorridos nas terras emersas em funo de um nvel ocenico esttico. Em geral, as variaes do nvel do mar resultam da actuao combinada de ambos os processos. Foram vrias as explicaes avanadas para explicar a origem dos movimentos eustticos. Fairbridge (1961) resumiu com propriedade os tipos possveis de oscilaes eustticas. Em princpio, no sculo XIX, a teoria eusttica foi proposta para explicar as transgresses e as regresses marinhas no decorrer da histria geolgica. A primeira proposio mostrava que o nvel do mar variava em funo dos movimentos tectnicos (eustasia tectnica), pois quando ocorria um dobramento importante, resultando na formao de cadeias montanhosas ou guirlandas insulares, restringia-se o espao ocupado pelos mares; ao contrrio, quando havia afundamentos, o referido espao aumentava. Os processos tectnicos podem ser de escala local, regional ou da extenso geral dos oceanos, mas alteram sempre a capacidade das bacias ocenicas. Os movimentos verificados no final do Tercirio parecem ter provocado o abaixamento de parcelas do fundo submarino, ocasionando diminuio do nvel marinho durante esse perodo. Outra linha explicativa assinala que o nvel do mar podia flutuar em funo da transferncia gradual dos detritos continentais para os oceanos, originando um ciclo de sedimentao grande, que influria no espao ocupado pelas guas marinhas (eustasia sedimentar). Esta diminuio da capacidade das bacias pode ser a responsvel pelas transgresses lentas e generalizadas, que caracterizam determinadas pocas geolgicas. Na actualidade, sua importncia praticamente nula. Estas hipteses, que estavam na origem da teoria eusttica, tm repercusses a longo prazo e foram consideradas como improvveis para alterar de modo significante o nvel do mar. Por outro lado, as
116 modificaes ligadas ao sial pertencem ao mbito da isostasia e, se nada mais houvesse, a teoria eusttica teria desaparecido. O reconhecimento de fases glacirias no Quaternrio deu origem teoria glacioeusttica. Maclaren, em 1842, introduziu a teoria do controle glacial e foi o primeiro a reconhecer um nvel do mar flutuante no decorrer do Plistocnico. Essa concepo, desenvolvida em maior intensidade no sculo XX, aps a difuso promovida por Henri Baulig (1935), significa que as oscilaes do nvel marinho so devidas s modificaes
climticas. Aceita-se o facto de que mudanas na temperatura alteram o estado de equilbrio entre a gua contida nas bacias ocenicas, a da unidade atmosfrica e a gua que precipitada sobre as terras e acaba voltando aos oceanos atravs do escoamento fluvial. Ento, se um clima interglaciar quente for substitudo por um clima glaciar frio, a precipitao das grandes reas altera-se de chuva para neve. Caindo em forma slida, e assim permanecendo, a gua no volta aos oceanos mas integra-se na formao das massas de gelo. Esse mecanismo, denominado de controle glaciar, resulta na acumulao de gua nos continentes e na diminuio do nvel do mar, tendo a sua actuao sido muito importante durante o Pleistoceno. Durante algumas dezenas de milnios houve estocagem das guas ocenicas nos
continentes, formando inlandsis de 2000 e 3000m de espessura, em mdia. Deste modo, cada fase de glaciao desencadeou uma regresso marinha e cada fase de fuso glaciria (interglaciar) provocou uma transgresso. Dada a mobilidade da gua, os fenmenos teriam sido simultneos em todas as bacias marinhas. Durante o Quaternrio foram individualizadas quatro fases pricipais glaciares, separadas por fases interglaciares. Fairbridge (1961) fornece dados sobre as oscilaes do nvel do mar
10 - INTERACO ENTRE PROCESSOS ENDOGENTICOS E EXOGENTICOS
Antes de discutirmos taxas de elevao e desnudao h que introduzir e definir alguns conceitos.
As taxas de desnudao so frequentemente estimadas como a massa de sedimentos transportada pelos rios, glaciares ou vento. Uplift, refere-se ao movimento para cima da superfcie da terra em relao a um datum especfico, normalmente o nvel do mar. Na maioria dos casos o movimento de uplift est associado com a actividade tectnica, mas o elevao da crista pode ocorrer simplesmente como uma resposta isosttica inevitvel desnudao. Para que as rochas aflorem superfcie necessrio que sofram um processo de deformao e elevao (tectognese e orognese). Durante a tectognese as rochas
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formadas no interior da crosta terrestre so deformadas pelo efeito de presses tangenciais ou foras de compresso. A origem destas foras de compresso situa-se na
dinmica cortical, responsvel por todos os tipos de deformao e evoluo da parte superficial da crosta. O efeito destas deformaes traduz-se no aparecimento de estruturas tectnicas, pregas, falhas, etc.
Durante a orognese as rochas sofrem uma elevao vindo superfcie da crosta. As causas desta elevao devem-se a factores tais como a densidade, as rochas de menor densidade tendem a subir, e ao equilbrio isosttico, nome do equilbrio que se obtm no posicionamento dos corpos rochosos da crosta em funo da sua massa e densidade. Este processo afecta todas as rochas ou massas rochosas que ascendem a parte superficial da crosta, quer sejam sedimentares, metamrficas ou magmticas. Dele resulta o levantamento de cordilheiras que no so mais do que um conjunto de rochas dobradas por esforos tectnicos.
10.1 - Origem do relevo continental O relevo dos continentes, como o do fundo dos mares, pode ser devido acumulao de materiais, aco tectnica ou ao eustatismo, mas a eroso desempenha um papel infinitamente mais importante nos continentes do que no fundo dos mares, para dar ao relevo continental o seu aspecto real. 1. Relevos de acumulao. So constitudos por materiais slidos em quantidades suficientes
para dar ao relevo o seu aspecto caracterstico. Estes materiais tem origens muito diversas: aco da gravidade (cones e leques edificados na base das encostas ngremes), transportados pela gua liquda (aluvies fluviais, lacustres ou delta), pelo gelo (moreias), pelo vento (dunas e loess) ou pela interveno de causas profundas (cones vulcnicos e depsitos de fontes termais). Estas acumulaes so de amplitude varivel de acordo com a sua localizao e natureza do agente morfogentico; no mar que a sedimentao adquir a sua maior importncia, nos continentes, ele contribui localmente ao aspecto morfolgico da paisagem.
2. Relevos tectnicos. Tm a sua origem no deslocamento relativo de massas, isto , s
deformaes da crosta terrestre (ondulaes, dobramentos ou fracturas) conduzindo elevao ou descida dum macio em relao ao nvel de referncia.
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3. Relevos eustticos. So originados pelo eustatismo, que consiste nas variaes do nvel dos
mares, estando a litosfera perfeitamente rigida. Se o movimento possvel o mar envade o continente, e o relevo absoluto diminui, se ele negativo, o continente alarga pela juno duma banda mais ou menos larga cujo relevo pode ter outro aspecto diferente daquele que tinha na parte continental antes do deslocamento das guas.
4. Relevos mistos. So originados por duas ou vrias causas que se sucedem numa regio do
globo. So conhecidos numerosos exemplos de cones vulcnicos recentes (relevo de acumulao) sobrepostos a um planalto, a uma depresso, etc. (relevo de origem tectnica). As ilhas vulcnicas e coralinas, a plataforma continental nos oceanos so relevos de acumulao podendo se sobrepor a relevos anteriores de origem tectnica.
5. Relevos de eroso. Os relevos acumulao de materiais, aces tectnicas ou ao
eustatismo no passam de realidades tericas. No devemos perder de vista, com efeito, que a forma original do relevo continental foi sempre modificada, numa certa medida, pela eroso subarea. O aspecto real de um determinado relevo, resulta da interaco entre dois
factores: um, construtivo (tectnico, eusttico ou acumulao), que tendem a elevar; o outro, destrutivo (eroso), que tendem a baixar; mnima diminuio de um destes factores, permite ao outro de se tornar preponderante. A aco dos agentes atmosfricos
permanente, a causa de acumulao, seja ela qual for, passageira ou intermitente. O relevo de eroso por isso forosamente o relevo mais normal que pode existir superfcie dos continentes.
O relevo continental pode apresentar diversos aspectos, distinguindo-se habitualmente, plancies, planaltos e montanhas. As plancies, so regies de altitude relativamente pequena, sem irregularidades marcadas. So percorridas por linhas de gua de percurso lento. So denominadas por regies mais elevadas, de onde os cursos de gua trazem massas considerveis de aluvies que se depositam nas regies baixas. Existem trs tipos de plancies: marinha, continental e aluvial. Duma maneira geral, o aspecto das plancies resulta sobretudo duma aco de
edificao, uma vez que elas correspondem acumulao de aluvies ou de sedimentos marinhos segundo uma superfcie sensivelmente horizontal (plancies aluviais, de fundo de lagos ...). No entanto a zona aplanada em forma de larga ondulao sinclinal e o graben entre falhas radiais, resultam tambm de aces tectnicas.
119 O planalto, constitudo por uma parte levantada da crosta terrestre, qualquer
que seja a altitude, de superfcie sensivelmente horizontal, sem irregularidades bem marcadas. Os cursos de gua correm lentamente, descrevendo meandros na sua plancie aluvial. Por este carcter, e pelo seu aspecto geral, o planalto assemelhaa plancie. Mas ele no necessariamente dominado pelas altitudes; pelo contrrio, ele est sempre levantado, e a zona de transio entre o planalto e as regies baixas vizinhas tem uma inclinao mais ou menos ngreme. O planalto pode corresponder a uma extensa regio
levantada, formada por camadas horizontais ou pouco inclinadas. Trata-se dum planalto tpico, onde o comportamento original dos terrenos sedimentares foi conservado (507). Os planaltos no tm necessariamente uma disposio simtrica, podem, dum lado, dominar a plancie por um rebordo abrupto e descer em inclinao suave no outro (508). A peniplancie
uma superfcie inteiramente nivelada pela eroso, que no seu aspecto exterior lembra a plancie, mas distingue-se pela natureza do seu solo. Cadeias de montanhas, so partes da crosta terrestre de altitude relativamente grande, de topografia irregular, onde dominam habitualmente vales profundos separados por cristas abruptas. Os rios tm aqui cursos rpido ou torrenciais. A eroso domina aqui de forma absoluta. A origem duma regio montanhosa diversa: distinguem-se principalmente montanhas de acumulao, resultantes da actividade do vento, aco dos glaciares ou da acumulao de cinzas e lavas nos cones vulcnicos, e as montanhas de origem tectnica. Estas ltimas so as mais tpicas, e as grandes cadeias de
aprofundamento de vales profundos, surgem picos isolados, e colinas que permanecem na frente das cadeias de montanhas. So denominadas de relevos residuais (bottes-tmoins). O planalto, ou em geral a zona de relevo, extendiam-se, originalmente pelo menos, at os relevos residuais mais afastados.
10.3 - Influncia da litologia no relevo A influncia das rochas no modelado tem que ver com a sua permeabilidade, fissurao, alterabilidade face aos agentes atmosfricos, natureza do seu cimento se
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trata de rochas lapidificveis, cristabilidade e natureza mineralgica dos seus constituintes se tratarem de rochas metamrficas ou eruptivas. Parece que cada rocha
submetida eroso deveria originar um modelo especial, sempre o mesmo, mas na realidade assim no . Uma mesma rocha pode apresentar aspectos muito diferentes de acordo com as condies climticas, altitude, relevo e profundidade dos vales e tambm segundo o seu grau mais ou menos perfeito de homogeidade. Areias so rochas mveis, com ligeira coerncia desde que hmidas, ao ponto de poderem manter-se verticais. A presena dum pouco de argila aumenta a sua coerncia. Por outro lado, a sua grande permeabilidade diminui consideravelmente a aco da gua, mantendo-se a toalha de gua bastante baixa desde que os vales pricipais sejam pouco profundos. As ravinas secundrias com paredes relativamente ngremes so habituais quando as areias esto secas. A areia pode pois originar um relevo marcado; contudo a inclinao das vertentes diminui rapidamente em perodo seco, porque, ento, os gros deslizam facilmente uns sobre os outros, as paredes abatem-se e o alargamento rpido dos vales tem lugar. Deste facto resulta que o relevo sempre mais ou menos disfarado, e tanto mais quanto a regio mais seca, porque, neste caso, as areias so constantemente levadas e transpotadas pelo vento. Limos e loess so rochas de gro fino, um pouco argilosas e calcrias, e muito permeveis. A percolao da gua fraca e os vales raros. Nos pases secos estes depsitos originam facilmente paredes verticais custa da aderncia resultante da granulometria muito fina dos seus constituintes e da presena do carbonato de clcio; o loess apresenta-se assim em verdadeiras escarpas. Nas regies hmidas, os limos so facilmente levados pelas guas de circulao, e o relevo adquir formas mais doces. Argilas so rochas mveis de granulometria muito fina, relativamente homogneas e desfazendo-se facilmente na gua. O ? aqui considervel em virtude da sua impermeabilizao. Daqui resulta que nos pases com precipitao fluviais frequentes os terrenos argilosos so facilmente erodidos, formando depresses em relao s areias e aos limos. A inclinao das vertentes , por consequncia, sempre muito fraca, porque a superfcie impregnada de gua forma uma pasta que desliza sobre as vertentes inferiores a 15. Os valores alargam-se rapidamente e o estado de maturidade e de senilidade mais rapidamente atingido do que nas areias. Seixos e calhaus os seixos e os calhaus, muito permeveis, comportam-se de forma anloga das areias grosseiras. Por outro lado, logo que os seixos so englobados, numa terra argilosa, como o caso dos aluvies ou por muitos depsitos de moreias, os calhaus resistem ao transporte pela gua e protegem a parte do material de gro fino subjacente, enquanto que dum lado e de outro ele lavado. O resultado, sobre as vertentes, uma disposio como a que a figura 648 mostra. Pirmides de terra, demoiselles, chamins de fadas, etc. denominam este tipo de relevo, mas desde que o calhau protector caia, a terra rapidamente levada pelas
121 guas. Estas pirmides alinham-se normalmente segundo cristas compreendidas entre rigoles onde a aco da gua mais intensa. Grs e quartzitos o grs uma rocha resistente eroso sobretudo quando com cimento silicioso. Quando o cimento argiloso e sobretudo calcrio que solvel em gua das chuvas com anidrido carbnico. O quartzito em virtude da sua cristalinidade, apresenta maior resistncia do que o grs. Os quartzitos e os grs so relativamente permeveis em grande. Por estas razes as rochas ? e quartziticas correspondem-lhe habitualmente zonas de relevo. Grs fracamente cimentado, desagregam-se facilmente em areia, e o terreno adquir, sobre os planaltos, o aspecto de regies arenosas. Conglomerados os conglomerados so igualmente rochas muito resistentes tanto mais quanto os calhaus forem duros e o cimento silicioso. Estas rochas cortadas por diaclases bastante espaadas, adquirem aspectos de muralhas ou o aspecto de ruinas. Xisto os xistos propriamente ditos so fragis e impermeveis, e o fluxo de gua intenso superfcie. A rocha parte-se em baguettes antes de se transformar em argila, ela facilmente levada pelo fluxo de gua. Nas regies hmidas, as bandas xistosas formam depresses em relao s outras rochas se o seu grau de evoluao for comparvel. As ? apresentam grande resistncia eroso, porque so mais evoluidas do que os xistos e porque no apresentam xistosidade. Calcrios os calcrios e a cr so facilmente alterveis e mais do que as rochas siliciosas, logo, os calcrios desaparecem mais rapidamente formando depresses em relao s rochas siliciosas coerentes. Por outro lado, os terrenos calcrios, mais permeveis, mantm-se melhor do que as rochas argilosas, porque o fluxo minimo a sua superfcie. Um calcrio coerente forma relevo em relao ao xisto normal e depresso em relao ao grs. O cr, pelo contrrio, apesar de ter um certo grau de coerncia, so menos permeveis, por causa da granulometria fina dos seus gros e a sua friabilidade relativa opem-se a que as arestas permaneam vivas, resulta portanto um relevo dum tipo particular, de formas arredondadas, "les downs" de Inglaterra so um bom exemplo. Rochas vulcnicas de entre as rochas vulcnicas superficiais, as escoadas de lava apresentam geralmente uma grande resistncia alterao em virtude da sua textura ? ou microlitica, dureza dos seus elementos e pela presena de juntas que permitem a penetrao em relevo em releo s restantes rochas os tufos e os amas de cinzas que acompanham geralmente as escoadas so mais facis em relao desagregao. Rochas plutnicas as rochas do tipo granitide (granito, granulitos, dioritos e sienitos) so compactas, mas elas apresentam juntas e diaclases que permitem a penetrao das guas e por conseguinte a decomposio dos feldspatos, com a formao duma areia granitica movl. Nas regies hmidas esta alterao faz-se rapidamente, se o relevo pouco marcado e, por conseguinte, o transporte dos restos dificil, o solo composto por esta areia tem
122 uma grande espessura; nas regies quentes e hmidas encontram-se areias granticas com mais de 50 metros de espessura. A alterao comea ao longo das juntas, a parte central atingida em ltimo e assim que, numa areia grantica, se observam blocos por vezes enormes, de forma arredondada, de rocha intacta ou pouco alterada. Esta decomposio em bolas caracterstica das rochas granticas e de muitas rochas plutnicas homogneas. Sob a aco do fluxo, a areia grantica facilmente levada e os blocos emergem, dando assim ? as caticas. Nas regies relativamente secas, as alternncias de quente e frio, ajudadas por uma certa humidade do ar provocam tambm exfoliao dos granitos, dando aos rochedos formas de doma. Nas regies montanhosas, a insolao das superfcies muito forte e o arrefecimento nocturno vai at ao gelo, produzem-se fendas e a gua infiltra-se e por congelao faz estalar a pedra. A decomposio qumica mnima e as pedras cadas no sop das vertentes so constitudas por rochas s. Em virtude da forte inclinao, os fragmentos estalados so facilmente levados, e a rocha s posta a n, e os macios granticos tm assim um aspecto diferente do aspecto do das regies com menos relevo; as paredes verticais, as rochas escarpadas, as muralhas, as agulhas com formas vivas substituem as formas arredondadas dos blocos de granito que originaram a areia. Rochas cristoflicas os gnaisses assemelham-se ao granitico relativamente sua composio, mas devido diviso em lminas, no apresentam alterao em bolas. So rochas muito resistentes como os quartzitos. Os micaxistos e em geral, todas as rochas muito folhetadas, tm uma resistncia maior.
11 - TECTNICA E DRENAGEM O controlo tectnico pode exercer-se no desenvolvimento de sistemas de drenagem de duas maneiras (table 6.1): 1) controlo tectnico activo involve a resposta do sistema fluvial ao avano da
actividade tectnica. A rede hidrogrfica j se encontrava parcial ou totalmente constituda sendo modificada por deslocaes posteriores. Este tipo de controlo mais evidente em ambientes tectonicamente activos, mas mesmo em regies aparentemente calmas do ponto de vista tectnico os sistemas de drenagem podem ser significamente afectados pelo controlo duma tectnica activa. Este tipo de controlo inclui falhas, blocos e deformao dos terrenos superficais. 2) controlo tectnico passivo (= structural controls) opera atravs da influncia exercida pela actividade tectnica anterior sobre desenvolvimento subsequente da drenagem. O tipo de controlo tectnico passivo opera mais facilmente sobre os materiais resultantes do
123 efeito da actuao da tectnica activa. Com efeito a tectnica activa produz uma organizao estrutural (disposio e arranjo) das litologias com variados graus de resistncia. Alguns dos exemplos mais espectaculares de formas de relevo a nvel mundial esto em terrenos dobrados os quais foram parcialmente erodidos pelos sistemas de drenagem. Neste tipo de controlo passivo a estrutura do terreno foi adquirida anteriormente em virtude da deformao da crosta (tectnica activa) anterior origem do sistema de drenagem. Nalguns casos os dois tipos de controlo tectnico operam em conjunto influenciando ambos o desenvolvimento do sistema de drenagem.
11.1 - Controlo tectnico passivo TIPOS DE DRENAGEM
J vimos anteriormente que os tipos de drenagem se referem ao arranjo espacial dos cursos fluviais, sendo este arranjo controlado por vrios factores: climtico, geolgico, litolgico e estrutural. Os cursos de gua so os agentes mais eficazes de transporte de materiais provenientes da desagregao das rochas. Esta aco conduz ao aprofundamento constante da depresso por onde a linha de gua se desloca, isto , o seu vale. medida que o rio encaixa no vale vai encontrar rochas que podem ser muito diferentes, pela sua natureza e disposio, das rochas sobre as quais o rio se comeou a desenvolver. Preso num silo j escavado, o rio prossegue o seu trabalho de eroso impondo-se s rochas que o teriam talvez orientado de outro modo se ele se tivesse estabelecido directamente sua superfcie. o caso mais geral nas sries sedimentares discordantes, sendo conhecido por sobreimposio ou epigenia. Posteriormente os sedimentos recentes podem ser retirados pela eroso, apresentando o sistema de drenagem sinais e aparente anormal em relao natureza das rochas do substratum. O seu curso no se encontra ajustado, ele foi herdado dum antigo traado estabelecido superfcie da cobertura sedimentar discordante sobre o substratum e actualente retirada pela eroso.
11.1.1 - Irregularidades e dissemetria das vertentes Quando a natureza das rochas a mesma ao longo do vale, as paredes tm uma inclinao regular e o vale tem um perfil transversal simtrico. Mas se, no seu desenvolvimento vertical, a ribeira corta camadas de resistncia diferente eroso, os flancos do vale mostram mudanas de inclinao. Nas rochas duras e nas rochas muito permeveis, a inclinao abrupta; nos terrenos menos resistentes e nas rochas
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impermeveis, a inclinao fraca; se a estratificao for horizontal, as camadas duras, fragmentadas pelas diaclases verticais, originam paredes verticais por quedas sucessivas de restos segundo o diaclasamento (593). No caso das camadas serem horizontais e com continuidade nos dois lados da ribeira, o vale apresenta um perfil simtrico em terraos (593), denominado tabular. Se as camadas apresentarem ligeira inclinao e se a ribeira correr paralelamente sua direco, o perfil dissimtrico (594). Os vales monoclinais podem tambm resultar de casos onde como consequncia da inclinao das camadas, uma das vertentes e paralela estratificao e outra s diaclases que facilitam os desmoronamentos e tendem a originar paredes aprumadas. A dissemetria resulta tambm da presena de rochas diferentes nos dois lados da ribeira; a presena duma rocha eruptiva numa vertente origina uma parede abrupta que contrasta com a outra vertente elaborada em rochas mais facis a desagregao (596). Nos pases com fortes e frequentes precipitaes e ventos dominantes, a dissemetria do perfil pode resultar doutra causa. A vertente constantemente batida pela chuva e vento desembaraada dos produtos de alterao medida que eles se vo formando; os afloramentos rochosos so numerosos e a inclinao so solo relativamente ngreme. Sobre a vertente oposta, pelo contrrio, a gua desloca-se lentamente, formando-se um depsito eluvial de limos (597).
J foi dito anteriormente que o aspecto da paisagem resulta das aces de acumulao e dos fenmenos de eroso dos agentes morfogenticos. Convm que ambos sejam abordados em conjunto, considerando os efeitos sucessivos destas duas aces, uma vez que no possvel separ-los numa anlise das formas de relevo. De qualquer modo a morfologia escultural (eroso) vem sobrepr-se morfologia estrutural (deposio) e ela que d, na maioria dos casos, as caractersticas mais relevantes da paisagem.. Algumas particularidades morfolgicas esto directamente relacionadas com as condies climticas, por exemplo as dunas, moreias, plancies aluviais. Outras formas de relevo so independentes do clima, como as acumulaes de materiais de origem vulcnica, que se fazem em todos os tipos de climas e os desnivelamentos produzidos pelas intervenes tectnicas, longos abaulamentos (convexidades) que originam zonas de sobreelevao, ou falhas que conduzem a diferenas de nvel marcadas por escarpados na paisagem.
125 Os tipos de drenagem so de tal maneira na maioria dos casos afectados pelo controlo tectnico passivo que so utilizados, atravs do estudo de fotografias areas e imagens de satlite, para individualizar estruturas geolgicas.
Os tipos fundamentais de drenagem associados com o controlo tectnico so representados por: dendritca (dendritic), paralela (parallel), radial, trelia (trellis), rectngular, anelar e centrpeta (fig. 16.1 e table 16.2). A - Drenagem dendritca consiste num sistema irregular, uma corrente principal e tributrios
formando uma espcie de rvore. A juno dos tributrios, corrente principal e correntes de menor categoria faz-se com uma variedade grande de ngulos, contudo o valor semelhante a 90 o mais encontrado. Este tipo de drenagem desenvolve-se em reas onde no existem diferenas litolgicas marcadas e controlo estrutural afectando a drenagem. Frequentemente encontra-se associada a estratos sedimentares horizontais ou subhorizontais ou a rochas gneas macias. Podem tambm ser encontradas em terrenos dobrados, ou em rochas metamrficas dobradas onde as variaes litolgicas (em termos de resistncia alterao e eroso) so insuficientes para modificar o arranjo dendritco. B - Drenagem trelia, desenvolve-se sob um controlo tectnico muito acentuado. Quando as rochas sedimentares se encontram em blocos pode haver uma sucesso de estratos exposta que sejam relativamente resistentes e relativamente brandos. A inciso do canal fluvial tender a ser mais activa nos estratos mais brandos, originando o desenvolvimento de um vale flanqueado por vertentes inclinadas (dip slope) e no interior por uma escarpa (fig. 16.2). Este tipo de drenagem constituido por rios principais consequentes que fluem paralelamente e afluentes subsequentes que afluem em direco transversal aos primeiros. Geralmente as confluncias realizam-se em ngulos rectos. Este tipo de drenagem encontra-se em estruturas sedimentares homoclinais, estruturas falhadas e cristas anticlinais. A eroso fluvial nas camadas de estratos horizontais ou subhorizontais resistentes leva ao desenvolvimento de estruturas simples, destas as mais importantes so as mesas, buttes e cuesta (fig. 16.4). Mesas so planaltos cujos rebordos apresentam bancadas regulares. Resultam do encaixe dos rios em camadas alternadamente resistentes e brandas, levemente inclinadas ou horizontais. Numa fase de envelhecimento das linhas de gua, o perfil deixa de apresentar uma srie de ressaltos, correspondentes ao encaixe nas camadas duras e uma srie de canais calmos correspondentes s camadas brandas, para passar a apresentar as irregularidades atenuadas. O perfil ento constitudo por uma sucesso de escarpas (estratos duros) e vertentes de inclinao suave (estratos brandos). Cada superfcie dos planaltos o dorso duma camada dura individualizada pela eroso da camada subjacente.
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Bottes so mesas de menores dimenses, que resultam do avano progressivo da
eroso sobre o planalto das mesas. Cuesta se as camadas sedimentares alternadamente resistentes e brandas, tiverem sido ligeiramente inclinadas (45) pela tectnica, origina-se uma estrutura assimtrica, monoclinal. Este relevo dissimtrico constitudo por uma camada resistente moderadamente inclinada e interrompida pela eroso, recebe o nome de cuesta. A salincia (ridge) simtrica originada no topo do estrato resistente conhecida por hogback (fig. 16.3). Exceptuando os casos de dobramentos recentes, a eroso fluvial sobre os estratos dobrados origina uma sucesso de cuestas e hogbacks segundo o eixo das dobras. Nas regies onde as dobras tm dimenses grandes e pequena amplitude cuestas extensas e vales estreitos desenvolvem-se (Bacia de Paris e NE e SE de Inglaterra, Weald). C - Drenagem rectangular representa um tipo de drenagem controlada por falhas (ex. NE Frana) ou por um sistema de juntas ou de diaclases. Este tipo de drenagem mais evidente em rochas graniticas que possuem um sistema ortogonal de juntas. A drenagem rectngular resulta da modificao da drenagem trlica. Caracterizando-se pelo aspecto ortogonal das suas linhas de gua que o resultado das alteraes bruscas dos cursos dos rios principais e tributrios impostos pela presena de falhas, diaclases ou juntas. As confluncias entre as linhas de gua fazem-se com ngulos prximos dos 90.
11.2 - Captura
A captura um processo importante no desenvolvimento da drenagem sujeita a um controlo estrutural; mas convm dizer que o processo de captura pode actuar na ausnsia dum controlo estrutural na drenagem. A captura corresponde ao desvio das guas duma bacia fluvial para outra,
promovendo a expanso duma drenagem em detrimento da drenagem vizinha. O arranjo e a disposio espacial dos cursos de gua, constituem o principal critrio para se inferir da existncia ou no de capturas fluviais. Geralmente as capturas fluviais so classificadas tendo em conta parmetros como: absoro, aplanamento lateral, transbordar, desvio subterrneo e recuo de cabeceiras. 1. Captura por absoro realiza-se quando as guas so captadas por determinados
rios em detrimento dos adjacentes, devido competio que se estabelece ao longo duma vertente ou superfcie. Alguns rios encaixam-se mais rapidamente do que outros, alargando-se e englobando cursos de gua laterais. Este processo explica a razo pela qual inmeros cursos de gua se renem em cursos de gua principais, tornando-se responsveis pela hierarquizao incial das bacias de drenagem.
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2. Captura por aplanamento resulta duma eroso lateral, isto , o rio principal corta
o interflvio (espao entre dois talwegs) que o separa do tributrio e, atravs do ponto de encaixe no esporo do interfluvial, desvia a parte montante do referido curso, deixando praticamente seco o vale localizado na parte juzante do curso decapitado. 3. Captura por transbordo realiza-se quando um curso de gua recebe uma carga muito elevada de sedimentos vinda de montante que lhe entulha o seu leito, como consequncia o leito eleva-se at um nvel superior ao dos colos mais baixos que separam o seu vale dos adjacentes dos outros cursos de gua. O curso de gua vai oscilando sobre a plancie de inundao, como uma torrente sobre o seu cone de dejeco, casualmente pode atravessar um dos colos e inflectir para o vale vizinho. Uma vez efectuando o transbordo, o maior declive existente no trecho ocupado pelo novo traado, tornar a eroso muito mais intensa e o encaixe resultar na consolidao do novo percurso fluvial (fig. 19, pg. 23) (ex. Haute-Moselle/Toul). 4. Captura subterrnea efectua-se a nvel das rochas calcrias ou em reas de rochas soluvis. A velocidade enorme de dissoluao das rochas e o nvel fretico em que o curso de gua subterrneo escoa so os factores fundamentais para explicar este tipo de captura. 5. Captura por recuo de cabeceiras realiza-se quando dois rios adjacentes esto localizados em altitudes diferentes e os tributrios do curso mais baixo erodem regressivamente e mais rapidamente as suas cabeceiras, sobretudo se o entalhe dos vales se faz em rochas mais brandas. Atravs do recuo das cabeceiras, o rio expande-se, atravessa a divisria e captura o curso de gua localizado num nvel mal elevado. Outro factor evocado para explicar este tipo de captura e a diferena de declive entre os dois cursos de gua concorrentes, sendo que o de maior declive se torna o beneficiado. O maior nmero de casos, descritos na literatura geomorfolgica sobre tipos de captura, enquadra-se no tipo de captura por recuo de cabeceiras. Regio dos Apalaches, parte oriental dos Estados Unidos, fornece exemplos excelentes.
11.3 - Drenagem e tectnica global
A importncia geomorfolgica dos maiores rios mundiais ilustrada pelo facto de que, excluindo as reas cobertas por gelo da greenland e Antrtica, cerca de 47% da rea total dos continentes drenada por apenas 50 bacias hidrogrficas. As cinco maiores so a do Amazonas, Zaire (Congo), Mississipi, Nilo e Yenisei. Estas cinco bacias representam 10% nos 47% e que s a bacia do Amazonas representa s por si 5%. Ao examinar as bacias de drenagem destas dimenses resulta imediatamente evidente que a tectnica exerce um controlo forte no seu desenvolvimento e da sua morfologia atravs do tempo.
128 Numa escala global possvel identificar-se cinco tipos de sistemas de drenagem em relao com a sua localizao em reas tectnicas especficas (table 16.5 e fig. 16.17).
A - O Vulcanismo
No inicio do Tercirio, a regio a Norte de Lisboa foi cenrio de grandiosas manifestaes vulcnicas que originaram o Complexo Vulcnico de Lisboa com mais de 400 metros de espessura. Numerosos vulces emitiram ento, abundante material piroclstico e escoadas lvicas. O vulcanismo parece ter actuado de uma forma descontnua, atravs de aparelhos de tipo central. Sucederam-se mo tempo pelo menos seis fases de actividade explosiva, seguidas por outras tantas fases de emisso essencialmente efusiva. Entre as diferentes fases houve perodos de calma durante os quais as emisses efectuadas eram alteradas e erosionadas originando paleos soloo, por vezes fossilferos. Os materiais mais abundantes no complexo vulcnico so os basaltos que aflorando numa extenso de cerca de 200km2. Alguns encontram-se totalmente alterados outros ao contrrio perfeitamente sos e compactos. Os afloramentos baslticos terminam a Norte de Ponte de Lous, pondo a descoberto os calcrios cenomanianos e turonianos. Os materiais piroclsticos segundo tipo mais abundante, so constitudos por brechas, aglomerados, tufos, cineritos e cinzas, atingindo os seus nveis, por vezes, grandes espessuras. A seguir ao Miocnico sofreram deformaes responsveis pela sua inclinao actual para S e SE. As escoadas lvidas cada vez mais antigas medida que se segue para Norte, so cortadas por vales profundos percorridos por cursos de gua torrenciais. Os relevos mais importantes do complexo basltico so, constitudos por antigas chamins vulcnicas, de forma cnica ou tronco-cnica que nalguns casos apresentam dijuno colunar espectacular (Cabeo de Montachique com 408 metros e da Torre).
B- A actividade intrusiva
As intruses traquticas da rea de Montemor e os diferentes files (rilitos, doleritos, telaritos, traquitos e baslticos) existentes na regio, so considerados como pertencentes ao Complexo Vulcnico de Lisboa (C. Matos Alves & al., 1986).
129 As intruses traquticas representam apenas cerca de 1% da rea ocupada pela totalidade do complexo vulcnico, no entanto o relevo de Montemor-Caneas por elas originado, apresenta uma dimenso de cerca de 6km2 e um estado de conservao bom. Os files localizam-se nas rochas jurssicas e cretcicas apresentando-se, quase sempre, muito alterados. A sua direco principal NW-SE, no entanto surgem muitas vezes paralelamente ou no seguimento de falhas com a mesma orientao. Este facto prova que a reactivao das linhas de fraqueza NW-SE se iniciou, pelo menos, na passagem CretcicoTercirio.
C - Alterao
A alternncia de rochas com resistncia, permebilidade e plasticidade muito diversas (calcrios, basaltos e conglomerados por um lado e margas, argilas e arenitos pouco consolidados por outro), associados estrutura monoclinal levaram a uma alterao diferencial que originou relevos tipo costeira. As estruturas vulcnicas esto bastante alteradas levando quase total obliterao da morfologia original. Assim os vulces resumem-se s chamins e escoadas retalhadas (C. Matos Alves & al., 1980).
22 Fevereiro 2001 Recurso 1. Caracterize uma paisagem vulcnica, tendo como exemplos a regio de Lx e os Aores (3) 2. Os solos originados em climas mediterrnicos desenvolvem-se em condies oxidantes e cidas, so pobres em nutrientes e esto associados a florestas de conferas e floresta alpina. Comente (1) 3. As cavidades crsicas subterrneas esto intimamente ligadas com o nvel vadoso. Comente (1) 4. Importncia dos deslizamentos e do processo morfogentico pluvial na evoluo das vertentes (2) 5. Tipos e caractersticas das formas de acumulao de sedimentos da faixa costeira (3) 6. Descreva o sistema que conduz ao recuo e recesso de uma arriba (2) 7. Caracterize os principais tipos de relevo continental. Faa referncia importncia que a litologia e a tctonica desempenham no relevo actual (4) 8. Defina Inselberg e Piedmont e d exemplos destas formas em Portugal. Descreva as condies propcias ao desenvolvimento dos processos que originam estas formas (4) 2 chamada 2001 1. Solos: conceito; importncia da hidrlise a nvel dos solos e perfil tpico do solo de uma regio temperada (3) 2. Existe alguma relao entre carst e fcies caliche(?) e entre carst e variaes eustticas do nvel do mar? (1) 3. Importncia da escorrncia difusa elementar, rill wash e dos deslizamentos na evoluo das vertentes (4) 4. Caracterize os seguintes termos: superimposio, antecedente, consequente, subsequente e insequente (2) 5. Os tipos de drenagem so controlados por diferentes factores, dos quais a tectnica no faz parte. Comente (2)
6. De que depende a dessimetria das vertentes? (1) 7. Faa um esquema com a terminologia da micromorfologia das praias, com indicao das zonas da dinmica das guas (1) 8. Formas de relevo quaternrias: tipos e caractersticas e importncia do seu estudo. importncia das variaes eustticas na sua gnese. D exemplos portugueses dos diferentes tipos (3) 1 Chamada 2003 Responder dando exemplos observados na prtica. 1. 2. 3. 4. 5. Importncia dos solos na paisagem A importncia da tectnica na paisagem Elementos da paisagem litoral e morfognese litoral em Portugal Importncia das variaes climticas e da vegetao na morfognese Aco do Homem na paisagem
Outras 1. 2. 3. 4. 5. Formas de relevo associadas com a actividade gnea. Formas de relvo crsicas Formao de vertentes e movimento de massas Influncia de crostas de Al, Fe e Ca na topografia As plancies de inundao no so influenciadas pelas mudanas climticas. Comente 6. Gnese de relevos: mesas, picos, cristas, gargantas, costeiras. Exemplos da sada de campo