Gil Vicente
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1. Biografia
Os dados que encontramos na documentação da época no que se refere a
Gil Vicente são muito poucos, e também confusos:
1) Citam-se dois Gil Vicente, um ourives (desenha a custódia de Belém) e um
dramaturgo, os dois famosos e ligados à Corte. A crítica actual defende que
são a mesma pessoa.
2) A primeira notícia que temos do Gil Vicente dramaturgo data de 1502,
quando representa uma peça teatral na câmara da rainha para celebrar o
nascimento dum infante. Esta peça é o Monólogo do Vaqueiro, representada
em castelhano pela primeira vez. Não há documentos que façam referência ao
seu nascimento, mas si algumas hipóteses baseadas nas personagens das suas
obras.
3) Desconhece-se também a sua formação académica, mas da sua obra
podemos deduzir:
a) que tinha um bom conhecimento do português e o castelhano, e também
alguns conhecimentos de latim;
b) que conhecia o mundo greco – latino, como evidenciam as suas
personagens mitológicas;
c) que conhecia a Bíblia e as obras da Patrística (Jerónimo, Tomé de Aquino,
Agostinho), como se evidencia nas suas obras de carácter religioso.
2. Antecedentes
O teatro de Gil Vicente tem os seus antecedentes em representações de
cenas para – teatrais que se realizam na Idade Média, e que podem ser:
1) Religiosas:
a) Mistérios ou dramas litúrgicos:
■ Temática: Natal, Paixão, Ressurreição...
■ Espaço de representação ligado à Igreja (dentro das igrejas ou nos
adros), mas dependia das leis papais já que foram proibidas por
considerarem-se um elemento lúdico.
b) Laudes:
■ Cânticos de louvor, frequentemente dialogados, que tratam temas do
Evangelho.
■ São cantadas pelos frades e pelo povo no exterior, em ocasiões mesmo
em palcos, coma acompanhamento musical e com uma leve
caracterização das personagens (foram-se dramatizando).
c) Milagres: representação sobre a vida ou milagres dum santo.
d) Moralidades: peças com intenção didáctica que usam frequentemente
personagens alegóricas (Guerra, Humanidade, Luxúria, Tempo, Igreja,
Sabedoria, Comércio, Esperança...). Gil Vicente também vai usar este tipo
de personagens.
2) Profanas:
a) Sotias (do fr. sot, “parvo”): breves representações feitas por bobos ou
cómicos que frequentemente tinham uma finalidade satírica, em especial
de carácter político.
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(das origens à Renascença)
2007/2008
USC
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3. Obra
A produção teatral de Gil Vicente é muito extensa já que consta de
arredor de cinquenta obras.
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As peças deste autor são conhecidas porque nelas as personagens exprimem-se em saiaugués, a fala
de Sáyago (na actual província de Zamora).
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A) Argumento: obra na que Constança (nome irónico) deseja que o seu marido
parta para a Índia para assim poder manter relações com os seus amantes.
Quando o seu marido parte, comete adultério com dois pretendentes: o
castelhano (que é ridiculizado mediante uma linguagem muito ornamentada) e
o rufião (personagem que mantém relações com mulheres por interesse). Há
momentos cómicos, como quando se juntam os dois amantes. Quando o
marido chega pergunta-lhe se volveu rico, mas este diz que não, que os altos
cargos das naus quedaram com o dinheiro.
B) Crítica:
■ Ao adultério, que parece a intenção central, já que o primeiro título da
peça, posto pelo autor, deveu ser Auto da mulher adúltera.
■ Às descobertas. É uma obra pioneira em mostrar os aspectos negativos das
descobertas, das que se critica que supõem um risco para os portugueses e
para os conquistados e, ademais, acarretam injustiças como o facto de que
sejam só uns poucos os que fiquem com as riquezas. Esta temática está
muito presente na literatura renascentista, mesmo em Os Lusíadas.
Também se considera negativas por estarem ligadas ao adultério.
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A Farsa de Inês Pereira surge a partir dum reto que o público lhe lança a
Gil Vicente por não acreditar que fosse quem de escrever ele mesmo tantas obras em
tão pouco tempo. Assim, pedem-lhe que escreva uma obra que obedeça ao rifão antes
quero asno que me leve do que cavalo que me derrube.
A) Argumento: apresenta-se-nos Inês Pereira como uma moça casadoira, bonita,
presunçosa e arrogante que se nega a casar com Pero Marques, um camponês
abastado mas que não conhece as normas da cortesia e que não é apresentado
como um homem de bom siso. Porém, decide casar com Bras da Mata, um
homem refinado e de agradável aparência, embora seja pobre. Mas Bras da
Mata revela-se ciumento e déspota, de modo que Inês Pereira só fica libertada
quando ele morre durante uma guerra na África. Mas o primeiro marido de
Inês Pereira morre como um cobarde, já que morre do susto ao ver um pastor
mouro. Depois disto Inês Pereira casa com Pero Marques, a quem consegue
enganar facilmente. Assim, a obra termina com Inês Pereira às costas de Pero
Marques cruzando um rio para ir ver a um antigo namorado da moça que era
ermitão.
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