Literatura Infantil - Alves Redol
Literatura Infantil - Alves Redol
Literatura Infantil - Alves Redol
Literatura Infantil Existem vrias definies para literatura infantil. Segundo Marc Soriano:
A literatura para a juventude uma comunicao histrica (quer dizer, localizada no tempo e no espao) entre um locutor ou um escritor adulto (emissor) e um destinatrio criana (receptor) que, por definio, de algum modo, no decurso do perodo considerado, no dispe seno de forma parcial da experincia do real e das estruturas lingusticas, intelectuais, afectivas e outros que caracterizam a idade adulta. Marc Soriano (1975, p.185)
A literatura infantil muito recente tendo surgido no sculo XIX, quando o contar de histrias e contos da tradio oral passaram escrita. Esta evoluo aconteceu paralelamente ao lugar que a criana passa a ter na sociedade (esta comea a ser vista como ser que , comeam a surgir produtos especficos para crianas). tambm no sculo XIX que surgem as primeiras preocupaes relativas educao e pedagogia. Por esse motivo, surgiu a necessidade de uma crescente alfabetizao das crianas e consequentemente a implementao da escolaridade obrigatria, ora, da resulta a necessidade de haver uma seleco de textos que se pudessem adequar aos novos leitores e suas necessidades.
Biografia: Antnio Alves Redol nasceu a 29 de Dezembro de 1911, em Vila Franca de Xira. Nasceu no seio de uma famlia de classe mdia, o seu pai era comerciante. Estudou em Lisboa, no colgio Arriaga onde fez o curso de comrcio. Aos 16 anos, com o intuito de ajudar a famlia que passava por um perodo de algumas dificuldades econmicas, Redol decide partir para Angola, onde permaneceu durante 4 anos, mas por ter ficado doente regressou em 1931. Regressado de Angola, em 1932, comea a colaborar com assiduidade na imprensa de Vila Franca e de Lisboa, embora tivesse j iniciado em 1927. Comea a trabalhar como empregado de
Bibliografia Romances 1939 Gaibus 1941 Mars 1942 Avieiros 1943 Fanga 1945 Anncio 1946 Porto Manso 1949 Horizonte Cerrado 1951 (?) Os Homens e as Sombras 1953 (?) Vindima de Sangue 1954 Olhos de gua 1958 A Barca dos Sete Lemes 1959 Uma Fenda na Muralha 1960 Cavalo Espantado 1961 Barranco de Cegos
Alves Redol e o Neo-Realismo Para falarmos de Alves Redol, torna-se obrigatrio falar do NeoRealismo pois esta corrente artstica coincide com a publicao do seu romance Gaibus, em 1939. Segundo Antnio Jos Barreiros:
O Neo-Realismo uma escola que elege para tema
fundamental da obra literria assuntos relacionados com o condicionalismo scio-econmico dos povos e analisa a luta das classes que ele implica, visando, na linha ideolgica do marxismo, contribuir para o desaparecimento da explorao do homem. (Barreiros, s.d, p.507)
O Neo-Realismo em Portugal, sofreu tendncias literrias praticadas no resto da Europa e na Amrica. O trabalho dos escritores neorealistas apresentava experincias que traduziam a concepo militante da criao literria, sob influncia das consequncias da crise econmica dos anos 30, do autoritarismo do regime poltico em vigor e da consequente represso cultural que este exercia. Para os escritores desta corrente, torna-se necessrio denunciar a situao da explorao dos trabalhadores portugueses. Os novos escritores aproveitam para passar uma mensagem ideolgica atravs da sua obra. Alves Redol ao longo da sua obra vai denunciar os problemas econmicos e sociais vividos pelos trabalhadores portugueses e esta
Alves Redol e a sua obra Antes de abordar a obra de Alves Redol para a Infncia importante referir alguns dos aspectos sobre a sua obra. Ora ao longo das suas histrias e como j referi anteriormente, Redol escolhe sempre um heri colectivo o povo trabalhador como o operrio, o ceifeiro, o pescador, o barqueiro, a criada de servir, etc. Utiliza tambm outros elementos que dizem respeito vida social da poca. Manifesta de forma clara a sua viso da sociedade, as suas crenas sociais e polticas. Em Glria, uma aldeia do Ribatejo, Redol explora um local, as suas tradies, costumes, as gentes e as suas condies de trabalho. Para alm disso, Redol faz como que um trabalho etnogrfico, onde estuda a forma de falar daquelas gentes, o folclore e as danas, jogos infantis. Em Gaibus, um romance em que o heri colectivo, Redol evidencia os sentimentos dos que participam, das suas angstias, esperanas e sentimentos e da sua luta pela dignidade humana.
Em Port-Wine, retrata a vida dos vinicultores da regio do Douro, dando nfase desgraa que persegue aqueles trabalhadores. Uma vez mais Redol denuncia a explorao dos trabalhadores. Como refere Joaquim de Oliveira no Jornal das Letras e Artes (N. 220, Dezembro de 1965):
No Conjunto Port-Wine () aplica uma viso mais coerente na interpretao sociolgica da realidade e a sua esttica melhor se ajusta s concepes literrias do neo-realismo. () Aqui se conserva uma concepo mais rigorosa do romance moderno neo-realista () O que nos trabalhos anteriores resultaria ainda truncado ou difcil consegue () melhor justeza temtica no plano do concreto histrico. (Oliveira, 1965)
citadino e rural, fluvial e martimo () correspondendo a uma fauna humana variadssima de camponeses e pescadores, gentes de borda-dgua e campinos de lezria, maranos e comerciantes, estrangeiros (). Dessa gama de tipos de pluralidade de caracteres, dessa variedade de climas e consequentes implicaes histricas ou sociais, possvel deduzir distintas etapas novelsticas () sucessivos graus de amadurecimentos artstico, quando pela renovao de mtodos, processos e temas em que o escritor tende a superar-se (). (Vasconcelos, 1962) grandes senhores rurais e refugiados
Alves Redol e a Literatura Infantil a Vida Mgica da Sementinha Em 1956, j sendo reconhecido como escritor, Alves Redol publica A Vida Mgica da Sementinha Uma breve histria do trigo. Esta uma obra que apesar de ter j alguns anos continua muito actual, fazendo parte do Plano Nacional de Leitura. Nesta obra, alis como em toda a sua obra infantil, Alves Redol apresenta de forma to bem descrita a referncia a costumes e vivncias bem desconhecidos do pblico actual, principalmente do pblico urbano. No entanto, este facto deveras enriquecedor pois
A Vida Mgica da Sementinha, tal como os outros temas abordados na obra de Alves Redol apresenta uma constante preocupao com a vida dos trabalhadores, embora nesta obra seja feita de uma forma mais camuflada. Esta histria apresentada atravs de dilogos muito animados e divertidos que cativam o pblico leitor e alem disso apresentam uma mensagem didctica tal como afirma Antnio Garcia Barreto () mistura dados histricos com fico para oferecer uma obra que se ergue entre um certo didactismo e uma bela narrativa para crianas. O estilo sbrio, suportado por bastantes dilogos entre aves, gros de trigo e outras personagens, com a Sementinha a impulsionar todo o enredo. (Barreto, 2002, p.528). No que diz respeito linguagem utilizada o tema () tratado numa linguagem adequada idade infantil; a intriga e demais categorias narrativas respondem s capacidades cognitivas das crianas () (Magalhes, 2009, p.143). Alm disso, usa frequentemente diminutivos que por vezes adquirem um valor conotativo, outros estabelecem relaes de paralelismo pequerrucha, passarico, petisquinho, vozita mimalha. Redol recorre muitas das vezes dupla adjectivao sendo que podemos encontrar diversos exemplos como: faminto e desastrado, terra riscadinha e negra, cerrada e spera, rstica e opulenta.O uso das personificaes uma constante ao longo desta histria: os
Sementinha -nos apresentada como uma criana nas idades dos porqus que tudo quer saber.
Num apelo constante ao imaginrio, a personagem mantm o exerccio dos sentidos, como fonte de prazer, pois durante o seu crescimento continua a sentir: como o corpo enrugado se
Como podemos verificar, a Sementinha tratada como uma criana que mergulha no seu mundo de fantasia. Ao longo de toda a narrativa, este tipo de questes levantadas pela Sementinha e das respostas que a terra lhe ia dando so complementadas com informaes importantes e reais acerca da germinao como o caso: enquanto aquela cauda crescia para baixo uma outra se desenvolvia tambm para cima e Isto a raiz por onde recebes o comer que te dou. Nesta obra de Redol, a imaginao e a originalidade so constantes e isso notrio nos dilogos entre a Sementinha e a Terra em que todo processo de germinao associado mesmo com as metforas e comparaes utilizadas como o caso: cada um destes plos um mineiro que vai pela terra dentro. A utilizao dos elementos da Natureza que so imprescindveis no processo de germinao tambm so sempre referidas ao longo da histria o Sol se apagara () nuvens negras carregavam o cu () os troves ameaadores ralhavam de longe () a chuva desabou, cerrada e spera. Alm de abordar a histria do trigo, Redol, aborda de uma forma simples e directa o tema da herana gentica que dado atravs dos filhos da Sementinha: haviam herdado certas virtudes da me, do
importante realar a coerncia temtica de Alves Redol na sua obra tanto para os mais novos como para os adultos que tem a ver com a representao da realidade vivida num determinado lugar e num determinado tempo. A Vida Mgica da Sementinha uma histria que delicia os leitores, sejam eles jovens ou adultos.
Edio. Braga: Editora Pax. BARRETO, Garcia (2002). Dicionrio de Literatura Infantil Campo das Letras. FIGUEIREDO, Anabela O. (2005). A Obra de Alves Redol para Crianas. Coimbra: Universidade Aberta. MAGALHES, Violante F. (2009). Sobressalto e Espanto Narrativas Literrias sobre e para a Infncia, no Neo-Realismo Portugus. Comunicao. OLIVEIRA, Joaquim (1965). Alves Redol (ensaio) . Jornal das Letras n. 220, Dezembro. REDOL, Antnio Alves (2009). A Vida Mgica da Sementinha. 8 Alfragide: Caminho. ROCHA, Natrcia (1984). Breve Histria da Literatura para Crianas em Lisboa: Ministrio da Educao. SORIANO, Marc (1975). Dfinition du livre denfants. In guide de la littrature pour la jeunesse. Paris: Flammariion; pp. 178-191. REBELLO, Luiz F. (1948). Critica a Forja, de Alves Redol. Vrtice n. Dezembro. 64, Portugal. Edio. e Artes Lisboa: Campo da Portuguesa. Porto:
Webgrafia
http://alvesredol.com/vida.htm (acedido em 03/07/2011) http://www.eselx.ipl.pt/curso_bibliotecas/infanto_juvenil/tema1.htm (acedido em 03/07/2011)