Plinio Marcos
Plinio Marcos
Plinio Marcos
-PLiriT; : BAR..03 -
JARROS - Plnio Marcos de Barros P-2640
P-1422 - Inf.39 de 10-3-80 - DOPS/SANTOS
Inf .39/80 - Proferiu, palestra durante o trote unificado
dos Calouros da Saixada Santista, que se realizou de 3 a
7 do corrente no fiinsio do SESC.
BARR03 Plnio Marcos de Barros P,26/10
P.722-RR.157 de 2 9.
P. 26ZiO--RR,l67 de 27/5/69.
P_2640-^- Rec.Jornal 1 Tribuna de 28-9-75
P_2640-*'- P3 nt 080/75-E2 de 9_10-75-AD/2
P.2640 --Inf.365/75-E2 de 20.10.75 - AD/2.
P-5364 - Rec,Jornal k Tribuna de 18-10-61
p2640 - Informe 076/2-123 de 10-4-78 do GTk/l-G
T-26A0 - Rec.jorn.A Tribunn de 13/B/78
P-3680 - Inf.36 de 5-3-80-DOPS/SANTOS
B-2640 - Livreto "Intil C^nto e Intil Pranto pelos
Anjos Caxdos"
\
RR.138/69- Dever ser apresentada em Santos a pea de
sua autoria "Dois perdidos numa noite suja", alegando
os vendedores dos ingressos que parte da renda ser
destinada a U lIE;
RR.I67/69- Aps a apresentao da pea "Dois Perdidos
Numa Noite Suja", o nominado foi detido pela polcia
federal.No pronturio informe sobre os acontecineDtosl
enviados no ofcio(infoiwe 06 da Polcia Federal.
18-10-61- Seu nome consta como membro da Comisso ~
trocin da Coleta de 4ssiiu p/ registro do
Inf.36/8O- Ao encerramento do trote unificado das facul
dades mantidas pelo Instituto Superior de Educao San-
ta Ceclia, verificou-se no dia 29/2/80, a palestra do
teatrologo em apreo, que falou sobre assunto relaciona]
dos com o momento atual no pds, em especial, nos seto-
res de educao e cultura e, como de hbito, manifestoul
se em criticas ao governo e a sua estrutura ministerial
OS - 1 rcos
Vide Plinio Marcos de Barros (P,Z6!;0)
-o-
f. e^io
jll/vwd-
maju^rt
)^7
Departamento de Polcia Judiciria de So Paulo Interior
DE IN T E R o - SAN T OS
Av. So Francisco, 136 - 2
C
. Andar
C E KT R O - SAN fT OS - C E P: 11013- 920
T el.: 234- 5838 / 233- 3108 / FAX : 233- 3491
C .G.C .: 46.377.800/0002- 08
Santos,, 27de ianeiro de 2000
dirio oficial de
SANTOS
R
niversario da C idade
Inaugurado sala Plnio Marcos na Cadeia Velha
Foi reaberta ontem a C adeia Ve-
lha, onde funcionam as Oficinas
C ulturais Pagu, aps uma refor-
ma efetuada pelo Governo do E s-
tado e inaugurada a sala de espe-
tculos Plnio Marcos, pelo gover-
nador Mrio C ovas. O prefeito Beto
Mansur e a primeira- dama Ylidia
Mansur compuseram a mesa no
palco da nova sala, onde tambm
estavam, alm do governador e
Lila C ovas, o secretrio estadual de
C ultura, Marcos Mendona; o de-
putado estadual E dmur Mesquita;
a deputada estadual Maringela
Duarte e a coordenadora das ofi-
cinas, Slvia R ubano.
Mendona saudou a viva de
Plnio Marcos, Vera Artaxo e lembrou
que tanto Patrcia Galvo (Pagu)
como o dramaturgo homenagea-
do eram lutadores do povo, extre-
mamente fiis aos seus ideais. E m
seguida foi assinado o decreto que
d nome saia e o ator C ludio
Mamberti subiu ao palco para dizer
um trecho da pea de Plnio, Bar-
rela. Porm, como explicou, foi
pego de surpresa e no tinha o tex-
to, ento brincou dizendo que
numa homenagem a Plnio Marcos
e Pagu no podia ser diferente, j
que foram dois grandes irreverentes.
O governador Mrio
Covos inaugurou a
sala Plnio Marcos e fez
elogios trajetria de
um dos mais
importantes
dramaturgos brasileiros
Mamberti leu em
seguida umexto es-
crito por ele contan-
do um pouco de sua
convivncia com o
dramaturgo conside-
rado maldito, dando
nfase grande
compaixo que
Plnio tinha pelos mi-
serveis. Vera Artaxo
disse que o marido
dizia ser Santos uma
terra de lutadores e
ela acredita que "vai
alm da morte, pois
a luta continua em
muitos aqui presen-
tes". Mansur preferiu
falar na condio de
5 cidado, que se recorda ter 13
o anos em 64, quando comeou a
ditadura militar em nosso Pas, ten-
5 do lhe marcado muito a violncia
| de que foram vtimas pessoas
como Plnio Marcos, que defendem
o que pensam e acreditam, desde
a poca das esquinas do Macuco,
onde Plnio iniciou sua atuao
poltica.
Agradeceu ao governador
Mrio C ovas pelo investimento em
preservao histrica da nossa C i-
dade, inclusive de pessoas como
Plnio Marcos, tendo uma sala com
seu nome. C ovas disse que Pagu
e Plnio devem estar juntos no cu
e por isso o texto de Barrela no
apareceu. "s vezes me pergunto
se ele era um dramaturgo que se
transformou em personalidade ou
vice- versa", contou. "Depois de
ver Navalha na Carne mudei mi-
nha forma de entender o teatro.
Plnio fazia uma leitura dos acon-
tecimentos". E prosseguiu dizendo
que dar seu nome a uma sala de
espetculos muito pouco para
o tamanho da integridade que ti-
nha o homenageado. "Agradeo
por ter convivido com duas figu-
ras to significativas como Plnio e
Pagu", encerrou.
I NI O M AR C OS
I N TI L C ANTO
E I N TI L P R ANTO
P E L OS ANJ OS C AI OOS
SO PAULO
I N TI L C ANTO
E I N TI L P R ANTO
P E L OS ANJ OS C AI OOS
P L NI O M AR C OS
I NOTI L C ANTO
E I N TI L P R ANTO
P E L OS ANJ OS C A D OS
Impresso nas o/icinas da
EDITORA PARMA LTDA.
Telefone: 826-4973
Rua da Vrzea, 394 So Paulo
Para o AUTOR
SO PAULO
PREFCIO
Eu estava aturdido com as coisas da vida. Ai
o Plnio, nas noites de domingo em que a gente
se encontra na Cantina do Giovanni entre dentes
de alho e acordes de um violo mais chegado a
um bandolim, ai o Plnio, nesas noies de molhos
de tomate ensopando a revolta dos inconformados,
ai o Plinio me atingia com seus ganchos morais
na zona miasmtica situada entre o fgado e a
alma. Nestas operaes o Plnio se porta como
um trator enfurecido e se o fgado se restabelece
do ataque do "maraschino" que vem depois do
caf, a alma leva dias para se recuperar de ar-
gumentos que pesam como murros. O Plnio faz
questo de usar um linguajar de ponta-esquerda,
mas no isso que pesa. Ocorre que o Pnio o
mais lcido ponta-esquerda que conheci na minha
vida. Debaixo do verbo do Plinio, o meu aturdi-
mento virou luxo. Pois , ele me encheu de pan-
cadas morais, e no fim sorrimos.
Engraado: aquilo que eu sentira como chuva
preta nos apanhara a ambos. Mas o Plnio dizia
"que chuva, que nada". No queria permitir-se
lamrias e achava que os meus queixumes eram
ouro entregue de graa aos bandidos. E vinha,
spero no olhar, martelante na fala, esmerilhan-
do com ironia o raciocnio exato a ironia de
quem sabe que vai morrer e ainda assim sorri
porque este o melhor jeito de dizer, para os ou-
tros e para si mesmo, "estou vivo". Acachapado,
eu deitava parmeso sobre a minha vermelha ma-
carronada. Muito parmeso. E o Plnio me dizia
que, afinal, no passvamos de personagens m-
nimos de uma tragdia do tamanho de algumas
geraes: nela covardia e traies fervilhavam
como germes no microscpio. Nela as violncias
maiores se cometem no plural, jamais no singu-
lar. Por que teria eu, um remoto comia, de me
achar vtima? Pecado de orgulho. E, de repente,
as suas palavras foram xarope embebendo pano
de l. E sorrimos. De mais a mais, no h como
chorar quando se est com um garfo na mo.
Mas o Plnio no tinha sido duro comigo ape-
nas, com ele prprio tambm. Com ele prprio,
especialmente. E algum tempo depois me falou
da necessidade que tinha de parar com as coisas
que estava escrevendo. Ele se achava como quem
esgotou uma srie de frmulas, como quem se es-
conde atrs de frases feitas e, repetindo-as para
esconder sentimentos, j no mostra sequer um'
caroo de sentimento. Ele no admitia que as
coisas da sua vida inquieta fossem desculpa. Ja-
mais se perdoaria um instante de indolncia num
canto de mesa onde fosse rendoso cobrir de par-
meso a glria da perseguio. Que glria, que
nada. Assim, nesta corrida angustiada, s vezes
raivosa, at desesperada, atrs da expresso io-
tal, usando o precrio instrumento das palavras
ai, que tarefa dolorosa o Plnio escreveu
estes contos, um deles, cronologicamente o primei-
ro, aquele sobre os presos de Osasco, para mim.
Repito o meu ai de bolero. Pois o Plnio preten-
de ser uma coisa s, ntegro no significado mais
completo, para que no haja a diferena mais t-
nue entre o homem, o escritor e o ponta-esquerda.
Mas se a tarefa sofrida no deixa de ser ex-
traordinariamente grande. Gosto muito do Plnio.
Aparentemente somos pessoas muito distintas. As
vezes receio que ele enxergue em mim um refi-
nado senhor que veste um robe de veludo sobre
o pijama quando de noite acorda com vontade de
fazer pipi. A impresso, felizmente, dura pouco.
8
Mutsstmas coisas nos unem para sempre. Algo,
porm, o torna realmente dspar da maioria, ni-
co numa multido, um dos poucos de contorno de-
finido. Uma silhueta ntida na paisagem empas-
tada. O Plnio tem a incrvel fora dos smbolos,
queiram ou no seus amigos ou inimigos, ou ele
prprio. Sim, isto pode ser muito doloroso, um ai
de bolero nem deveria bastar. Mas a gente bota
a um pouco de ironia, para que o pessoal no
pense que somos da retrica.
Mino Carta
I N TI L C ANTO
E I ND TI L P R ANTO
P E L OS ANJ OS C A D OS
10
em Osasco
E ram vinte e cinco homens empilhados, espre-
midos, esmagados de corpo e alma, num cubculo
onde mal caberiam oito pessoas. Eram vinte e
cinco homens. Eram vinte e cinco homens, entre
uma porta de ferro, e midas e frias paredes.
Eram vinte e cinco homens espremidos, empilha-
dos, esmagados de corpo e alma, num cubculo
onde mal caberiam oito pessoas. Eram vinte e
cinco homens espremidos, empilhados, esmaga-
dos de corpo e alma, mais o desespero, o tdio,
a desesperana e o tenebroso cio, numa imunda
cela onde mal caberiam oito pessoas. Eram vin-
te e cinco homens colocados no imundo cubculo
para morrer. Para morrer aos poucos. Para
morrer de forma que parecesse natural. Para
morrer. Para morrer sem feder. Para morrer
sem estremecer as relaes internacionais dos ei--
dados contribuintes. Para morrer simplesmen-
te. Para morrer sem ser a carnia largada nos
13
estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do ro-
ado do bom Deus pelos sicrios dos esquadres
da morte dos cidados contribuintes. Eram vinte
e cinco homens. Vinte e cinco homens empilha-
dos, espremidos, esmagados de corpo e alma, en-
tre grades de ferro, e midas e frias paredes.
Eram vinte e cinco homens, mais seus desespe-
ros, seus tdios, suas desesperanas e o tenebroso
cio, colocados num imundo cubculo onde mal
caberiam oito pessoas, para esperarem a morte.
Eram vinte e cinco homens colocados no cubculo
pelos cidados contribuintes.
Eram vinte e cinco homens. Vinte e cinco ho-
mens empilhados, espremidos, esmagados de cor-
po e alma entre grades de ferro e paredes mi-
das e frias. Vinte e cinco homens, num cubculo
onde mal caberiam oito pessoas. Vinte e cinco
homens e seus desesperos, seus tdios, suas de-
sesperanas e o tenebroso cio. Vinte e cinco ho-
mens que nunca foram os mais bonitos, nem os
mais fortes, nem os mais sabidos, nem os mais
furiosos. Eram vinte e cinco homens que ocupa-
ram espaos que no lhes pertenciam, que come-
ram o po que no lhes pertencia. E nada lhes
pertencia diante das leis dos cidados contribuin-
tes. Vinte e cinco homens que nunca receberam
po para as suas muitas fomes. Eram vinte e
cinco homens. Todos, entre os vinte e cinco, eram
homens. Homens. Homens. Homens. Homens
violentados nos seus mais ternos sentimentos.
Homens sem direitos. Homens com muitos deve-
res ditados pelas leis dos cidados contribuintes.
Homens que nunca tiveram as alegrias do esp-
rito. Mas, ainda assim, eram homens. Eram vin-
te e cinco homens empilhados, espremidos, esma-
gados de corpo e alma entre grades de ferro, e
midas e frias paredes. Eram vinte e cinco ho-
mens, seus desesperos, seus tdios, suas desespe-
ranas e o tenebroso cio, num cubculo onde mal
caberiam oito pessoas. Eram vinte e cinco ho-
mens de alma estuprada. Vinte e cinco homens
de vidas estupradas. Vinte e cinco homens, com
seus desesperos, com seus dentes podres, com suas
carnes flcidas, com seus pelos ralos, com suas
peles empestiadas. Mas, eram vinte e cinco ho-
mens espremidos, empilhados, esmagados de cor-
po e alma, num srdido cubculo onde mal cabe-
riam oito pessoas. Todos, entre os vinte e cinco,
eram homens. Nenhum, entre os vinte e cinco, era
a besta-fera. Eram vinte e cinco homens. Ne-
nhum era a besta-fera. E assaltaram, e mata-
ram, e fizeram e aconteceram, pequenas coisas
contra os cidados contribuintes. E perturbaram
os donos da comida, da religio, da cincia, da
14 15
filosofia, das artes e das leis. Mas seus berros,
suas violncias, seus desesperos no chamaram a
ateno de seus iguais: homens, mulheres, velhos,
crianas que j nasceram velhas, cansadas, mal-
ditas, empestiadas, vergadas pelas mil e uma fo-
mes, feridas em suas humanidades. So milhares
e milhares, os anjos cados, diante da avareza e
da cupidez e de tudo o que existe de ruim na
alma porca dos cidados contribuintes.
M as eu canto vinte e cinco anjos cados que se
rebelaram. Cada um, cada um, mas todos rebe-
lados. E por ser cada um, cada um, fizeram
pouco tumulto e foram confinados. As metrancas
unidas podem mais que uma fome berrando sozi-
nha. E os vinte e cinco homens foram empilha-
dos, espremidos, esmagados de corpo e alma num
imundo cubculo, onde mal caberiam oito pessoas.
Foram empilhados para esperar a morte. Empi-
lhados sem espao para dormir, sem espao para
se cocar. E como eles precisavam se cocar! Eles
precisavam se cocar. Estavam no cubculo para
esperar a morte, mas as pragas que se nutrem
das carnes apodrecidas pela morte no esperam
nada alm da podrido para botar seus ovos. E
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as pragas encarnaram nos vinte e cinco homens
espremidos, empilhados, esmagados de corpo e al-
ma entre grades de ferro e paredes midas e
frias. E ali, esmagados de corpo e alma, os vinte
e cinco homens receberam a visita das pestes.
Primeiro, foram as moscas, que lamberam seus
excrementos e cuspiram em suas feridas. Depois,
foi a sarna. A sarna e a coceira da sarna. E a
muquirana e a coceira da muquirana. E a san-
guessuga e a coceira da sanguessuga. E os per-
cevejos e as pulgas e os enormes bichos verme-
lhos, que caminhavam seus nojentos corpos pelos
montes de excrementos que transbordavam da la-
trina. E as pragas vieram. Em qual deles, em
que canto fedorento daquele maldito cubculo as
pragas botaram seus ovos pela primeira vez, nin-
gum jamais poder saber. Mas, cegados pelas
aflies, os homens, alucinados pelos seus muitos
desesperos e pelas muitas coceiras, se acusavam
uns aos outros de ter plantado as pragas no cub-
culo. Eram vinte e cinco homens espremidos, em-
pilhados, esmagados de corpo e alma, num cub-
culo onde mal caberiam oito pessoas. Vinte e cin-
co homens e seus desesperos e seus cios. Vinte
e cinco homens e seus desesperos e seus cios e
as malditas pragas. E, entre eles, as barbarida-
des. Os homens se brutalizavam, se espancavam.
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usavam os mais fracos como fmeas, disputavam,
como feras, os pedaos menos azedos da comida
nojenta que lhes era servida em horrios incer-
tos, e disputavam os imundos colches, e tinham
medo de dormir e de ser esganados pelos outros,
e no tinham espao para deitar, e disputavam
a gua suja que de vez em vez escorria de um
cano enferrujado embutido na parede imunda, e
queriam impedir uns aos outros de usar a latrina.
E vieram os cancros. As doenas venreas. Os
vinte e cinco homens comearam a ser roidos pe-
las doenas venreas. Seus pelos caram, seus
olhos purgavam, e urinar era um suplcio a mais
para os vinte e cinco homens espremidos, empi-
lhados, esmagados de corpo e alma naquele mal-
dito cubculo onde mal caberiam oito pessoas.
No. MU vezes no. Aquele cubculo nojento no
era lugar para homens. Pelos santos de qualquer
f, malditos sejam os cidados contribuintes e
seus crceres imundos, e todos os seus descen-
dentes. Maldita seja a sociedade que confina ho-
mens num lugar onde seria crime aprisionar at
a besta-fera.
Mas, l estavam, no cubculo imundo, vinte e
cinco homens empilhados, espremidos, esmagados
de corpo e alma, esperando o julgamento dos ci-
dados contribuintes. Todos os vinte e cinco ho-
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mens confessaram faltas e crimes hediondos.
Confessaram debaixo de pancada. Debaixo de
pancada, confessaram crimes contra a sociedade
dos cidados contribuintes. Crimes contra a so-
ciedade que sempre os amesquinhou. Crimes que
no seriam crimes diante dos santos de qualquer
f. Mas, eles confessaram roubos, assaltos, agres-
ses, assassinatos, contra os cidados contribuin-
tes. Confessaram crimes que no sabiam crimes.
No sabiam crimes os crimes que confessaram.
Quem se alimentou anos a fio do desamor no
tem conscincia do bem e do mal. O mal no
existe para os anjos cados. Para os anjos ca-
dos, existe o desespero. O desespero o que exis-
te. Existe a afho. Essa que existe. O mal,
a maldade toda est com os cidados contribuin-
tes. No corao imundo do cidado contribuinte
que existe o mal. Deles a fria alucinada de
acumular, de garantir privilgio para si e para
seus porcos descendentes, at o fim dos tempos.
Os cidados contribuintes abrigam o mal. Os an-
jos cados so anjos.
Anjos sem conscincia do bem e do mal, da so-
lidariedade, da compaixo. E no sabem dos cri-
19
mes. Sabem da angstia, da aflio, do desespe-
ro. -E querem escapar, escapar, escapar. Esca-
par da angstia, da aflio, do desespero. Mas
no escapam. Os anjos cados no sabem da so-
lidariedade. Eles so cada um, cada um. Soli-
trios no desespero, na angstia, na aflio dos
mil e um fantasmas da fome. Os anjos cados no
pensam, no percebem. Eles so solitrios que
no percebem que a solido ser sozinho. No
percebem que as suas fomes juntas seriam maio-
res que as bocas venenosas das metrancas dos
cidados contribuintes. E por serem maiores que
as bocas venenosas das metrancas, realizariam o
milagre dos pes distribudos. No sabem nada
os anjos cados. Nem deixam saber, os cidados
contribuintes. E cada um, cada um dos anjos ca-
dos se rebela na medida do seu desespero. Ma-
tando, roubando, fazendo e acontecendo, coisas
poucas para assombrar os cidados contribuintes.
E vo os anjos cados se agoniando, se desespe-
rando, mordendo, arranhando, esperneando, cada
um, cada um, na medida do seu desespero. E
vo sendo agarrados, cada um dos tristes anjos
cados. E vo sendo empilhados, espremidos, es-
magados de corpo e alma, entre grades de ferro
e paredes midas e frias, onde escrevem as fra-
ses sem nexo ditadas pelo desespero, com a for-
20
a da impacincia dos que esperam com suas de-
sesperanas. E confessam crimes, que no sa-
bem crimes. Confessam debaixo de pancada. A
pancada di. Di. Di muito. Di at na besta-
fera. E di no homem. E di muito. E o car-
rasco no tem pressa. Tem pacincia. especia-
lista. Tem hora de almoo, fim de expediente,
repouso remunerado, previdncia social. E tem
auxiliares, tem aprendizes. E tem todo o tempo
para bater e perguntar. Tem a vida toda para
dar pancada e esperar resposta.
\J anjo cado faz sua parte no jogo. Apanha,
apanha, apanha, nega, chora, geme, implora pelo
amor dos santos de todas as fs. Pelo amor de
qualquer f, amor que desconhecem, que nunca
viram, nunca inturam. Mas em vo imploram
pelo amor, pelo precrio amor dos cidados con-
tribuintes, pelo amor dos santos da precria f
dos cidados contribuintes. E choram, gemem,
esperneiam, rogam todas as pragas e apanham
todas as dores. Apanham, apanham. E a panca-
da di. Di. Di muito, at na besta-fera. Quan-
to mais no homem, que, mesmo sendo o anjo ca-
do, imagem e semelhana do esprito. Que, por
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ser
o anjo cado, o esprito, a sensibiUdade.
o amor. a esperana, a nsia de luz. e a
poesia sem forma de expresso, o espirito, e a
sensibiUdade, o amor. a esperana, a nsia
de luz, tudo sem possibiUdade de entendimento.
a angstia, o desespero, a aflio de carregar
o pesado fardo numa jornada sem meta. E o
anjo cado apanha, apanha, apanha. E acaba
aceitando todas as culpas. Aceitando tudo o que
quiserem que aceite. Pelos santos de qualquer
f o anjo cado jura que culpado e responsvel
por todas as misrias. E a ento espremido,
esmagado, empilhado na cela. Nas celas-cubicu^
los nas celas onde mal caberiam oito. mas onde
so espremidos vinte e cinco homens. Vinte e
cinco homens. Vinte e cinco homens e mais seus
fedores."suas misrias, seus cios. seus desespe-
ros, seus vcios, suas ansiedades. Vinte e c.nco
homens e seus desesperos espremidos num cub-
culo onde mal caberiam oito. Ninho perfeito pa-
ra as pragas botarem seus ovos. Ento, num
cubculo onde mal caberiam oito homens, s
a
o es-
premidos os vinte e cinco homens e seus desespe-
ros enormes e mais as pragas. A sarna. a sifilis^
a lepra, a tuberculose e todas as pragas que roem
s homens devagar, devagarzinho. Vinte e cinco
homens e seus desesperos e as pragas que os con-
somem, espera da emperrada, hipcrita, medo-
cre justia burocrtica dos cidados contribuin-
tes. Justia medocre, hipcrita, burocrtica,
exercida por medocres, hipcritas e burocrticos
cidados contribuintes, lacaios de um salrio mi-
servel e de um staus que lhes garanta mesqui-
nhos privilgios. Os sonolentos doutores das leis
dos cidados contribuintes so cidados contri-
buintes de viso zarolha, que no vem atrs das
grades de ferro. So cidados contribuintes de
imaginao curta, que no vai atrs das grades
de ferro. So cidados contribuintes preguiosos
de esprito, que no penetra atrs das grades de
ferro. So cidados contribuintes que tm mui-
tos privilgios, que so mais seguros quando os
anjos cados esto atrs das grades de ferro. E
no importa que atrs das grades de ferro este-
jam vinte e cinco homens esprem dos, empilha-
dos, esmagados de corpo e alma, num cubculo
onde mal caberiam oito homens. No importa
que as pragas roam a dignidade humana, que a
misria roa a dignidade humana, no importa a
dignidade humana, se os valores dos cidados
contribuintes forem preservados. Atrs de cada
legislador h, numa parede fria, um Cristo cruci-
ficado. E atrs das grades de ferro, vinte e cin-
co homens, num imundo cubculo onde mal cabe-
2 3
riam oito, e mais seus desesperos e as pragas que
os consomem. Consomem neste calvrio a digni-
dade humana dos tristes cristos dos cidados con-
tribuintes. Consomem a dignidade humana, mas
no a esgotam, porque a dignidade humana pro-
vm do amor inesgotvel, provm da virilidade
espiritual que anima os santos de qualquer f a
caminharem em direo da luz, em busca da sn-
tese do amor. E assim . Tirem tudo dos anjos
cados: a crena, a esperana, a liberdade, o ho-
rizonte. Confinem os anjos cados, despidos de
amor, de solidariedade, de compaixo, num cub-
culo imundo, para que as pragas os roam deva-
gar. Empilhem vinte e cinco anjos cados num
cubculo nojento onde mal caberiam oito. E l,
esmagados de corpo e alma, eles se suphciaro
entre si. Se violentaro entre si de corpo e alma,
se roero entre si mais que as pragas os roem,
no se vero como semelhantes, disputaro na
fora bruta cada palmo de cho, cada migalha
de po, e no se daro sossego um nvnuto se-
quer. Inconscientes do bem e do mal, inconscien-
tes da solidariedade, no divisaro, na tenebrosa
noite que os engole a todos, os verdadeiros inimi-
gos. Se voltaro uns contra os outros, at o li-
mite da degenerao. Mas, aos poucos, pela dor
e no pelo entendimento, vo se juntando num
nico desejo, num desejo solidrio de preserva-
rem a vida, a vida, a vida. E sem necessidade
da palavra, da boa palavra que no possuem, en-
tre eles se far um entendimento, porque nas suas
entranhas se manifestar o Verbo Divino, o sen-
tido do dever de preservarem as prprias vidas.
A vida, o dever primeiro do homem, desejo lcido
do esprito.
t no foi diferente para os vinte e cinco ho-
mens da prspera cidade industrial, que foram
espremidos, empilhados, esmagados de corpo e
alma num imundo cubculo onde mal caberiam
oito pessoas. Espremidos, empilhados e esmaga-
dos de corpo e alma pelos cidados contribuintes,
donos das leis que determinam os privilgios e
que os garantem com as metralhas e as grades
de ferro.
Vinte e cinco homens espremidos, empilhados,
esmagados de corpo e alma num cubculo onde
mal caberiam oito pessoas. E o desespero do con-
finamento somado ao desespero de suas vidas in-
teiras resultou nas violentaes mais brbaras.
Os vinte e cinco homens se violentaram de corpo
2 5
e alma a cada minuto de um ms e meio. Se fe-
riram fsica e espiritualmente. Mas seus deses-
peros eram controlados pela sabedoria dos cida-
dos contribuintes. Comida para os vinte e cinco
homens. Muita comida. No tinha importncia
que fosse azeda, fedida, nojenta lavagem. O que
importava era que fosse muita, muita, para que
os mais fortes comessem o suficiente sem preci-
sar tirar o quinho dos mais fracos. Muita, para
que a fome no gerasse alucinados. Muita, para
o desespero no chegar a ponto de romper as gra-
des de ferro. E a maconha tambm no podia
faltar. Tinha que entrar. Regulada. No muita,
para no provocar uma alucinao capaz de rom-
per as grades de ferro, mas no podia faltar a
ponto de provocar uma ansiedade capaz de rom-
per as grades de ferro. E tambm violncias se-
xuais que os presos praticavam entre si. Nenhu-
ma interferncia. Enquanto um estupra o outro,
no estupram as grades de ferro. E nisso consis-
tia a sabedoria dos cidados contribuintes, para
manter passivamente vinte e cinco anjos cados
no imundo chiqueiro onde mal caberiam oito pes-
soas. Essa a cincia dos cidados contribuin-
tes. Eles sabem que as fomes so ms conselhei-
ras, que os apetites da carne geram a revolta.
2 6
E les sabem. No dividem o po racionalmen-
te porque confiam nas metralhas e nas algemas
e nas grades de ferro. Acumulam o po para te-
rem sempre fartura, sem se preocuparem com a
misria que semeiam e que germina o desespero
As metralhas e as algemas e as grades de ferro
contem o desespero. Mas os anjos cados atrs
das grades de ferro no podem sentir as angs-
tias da carne, porque seno o desespero rompe
as grades de ferro. Ento, necessrio calar seus
apetites. E era assim para os vinte e cinco ho-
mens empilhados, espremidos, esmagados de cor-
po e alma no imundo chiqueiro onde no cabe-
riam oito pessoas. Uma vez por semana, os vinte
e cinco homens tinham direito a receber visitas
de parentes, amantes, pederastas e traficantes,
que lhes davam dinheiro ou maconha. E o dinhei-
ro subornava o carcereiro a toda hora e com-
prava o lcool e comprava a maconha tambm e
comprava a escora para os dias sem sol e para
as noites sem sono e para o sono sem sonho e
dava pacincia para suportar o tempo de espera
de um julgamento que demorava cada vez mais,
medida que o tempo se tornava mais lento e di-
fcil de passar. Um tempo lento, tenso, massa-
crante, que deixava todos tensos, perdidos nas
suas soldes e nos seus tdios. Mas, ainda o tem-
2 7
po no era massacrante o suficiente para jogar
cada um para dentro de si mesmo. O tempo ain-
da no era contundente o bastante para fazer ca-
da um ir procurar se esconder nas prprias en-
tranhas. E havia ainda, para os vinte e cinco
anjos caidos, o privilgio de uma vez por dia irem,
de cinco em cinco, andar dez minutos ao sol. No
sol podre de um ptio cercado de altos muros
guarnecidos pelas bocas negras das metrancas.
Havia o sol, que, mesmo podre, generoso,
consolador para quem est esmagado de corpo e
alma num cubculo imundo. Mas, tambm o sol
acabou. Choveu. Choveu por uma semana. Por
uma semana inteira. Os homens no saberiam
dizer que gostariam imensamente de tomar dez
minutos de banho de chuva. A chuva, para vinte
e cinco homens que esto empilhados de corpo e
alma, seria um blsamo, lavaria as feridas do
corpo e da alma. Mas, como dizer? Como se ex-
plicar? Como falar para um carcereiro, uma per-
sonagem to inferior na hierarquia dos cidados
contribuintes, que era capaz de burlar todas as
leis dos cidados contribuintes, menos a regra que
rezava que os presos bem-comportados podiam to-
mar banho de sol? A regra no falava em banho
de chuva. E choveu por uma semana. E o tem-
po pesou mais ainda sobre os vinte e cinco ho-
2 8
mens empilhados, espremidos, esmagados de cor-
po e alma no cubculo imundo onde mal caberiam
oito. Pesou mais o tempo e pesaram mais ainda
as grades de ferro. A porta de ferro comeou a
pesar, a pesar, a pesar. Parecia que seu ferro-
lho se enferrujara com a chuva e que ela nunca
mais se abriria, e que eles, os vinte e cinco ho-
mens, ficariam encarcerados no cubculo para
sempre. E a o tempo pesou. E os anjos cados
sentiram o desespero mais desesperado. Perce-
beram os pelos carem, sentiram dores atrozes ao
urinar e comearam a se cocar de uma coceira
alucinante, sentiram o rombo no peito, percebe-
ram que escarravam sangue e que seus corpos
estavam cheios de feridas e que as feridas cada
vez se alastravam mais. Os homens viram com
horror os prprios corpos. E sentiram que fediam
mais que a latrina, onde o excremento transbor-
dava e as moscas varejeiras procriavam. E a
porta de ferro, como se tivesse seu ferrolho en-
ferrujado para sempre, no se abria. A comida,
a imunda comida, a azeda lavagem era enfiada
pela vigia. A porta de ferro no se abria. No
se abria. No se abria. E pesava, e pesava, e
pesava sobre os vinte e cinco anjos cados, espre-
midos, empilhados, esmagados de corpo e alma
por tantos desesperos e agora ainda mais pela
porta de ferro, pelo tempo parado nos sentidos
dos vinte e cinco homens, e pela chuva, e pelo
fedor, e pela febre, e pelas pestes todas, e pela
maldita coceira, e pelo fedor deles mesmos, e por
tudo, e pela grade de ferro, e pela porta de ferro
que no se abria, no se abria, no se abria. E
todos sentiram nojo. Nojo. Muito nojo. Nojo do
prprio corpo, nojo da comida, nojenta lavagem,
nojo da porta de ferro, nojo da palavra. Sobre-
tudo nojo da palavra.
Ningum falava mais, ningum se impunha so-
bre os outros, ningum era o mais forte. Cada
um se fechou em si mesmo. Cada um se acomo-
dou no seu lugar. E o silncio tambm pesou so-
bre os anjos cados. Vinte e cinco homens espre-
midos, empilhados, esmagados de corpo e alma
num imundo cubbulo onde mal caberiam oito pes-
soas. Vinte e cinco homens em silncio, com os
olhos raiados de sangue, e ardidos, e fixos na
maldita porta de ferro. O tempo, cada vez mais
lento, mais tenso, mais massacrante, ia passan-
do, se escoando. E cada vez mais os homens se
calavam, com nojo das palavras que j no sig-
nificavam nada. Mas no se precisou de pala-
3 0
vras na hora em que a porta de ferro se abriu.
Era dia de visita. A porta de ferro se abriu. E
os vinte e cinco anjos cados se atiraram todos
juntos, sem faltar um, todos, contra o carcereiro.
Todos, com fria, com dio, com muito dio, com
toda a violncia, o espancaram. Socos, pontaps,
dio. E o carcereiro gritou, gritou, gritou. E vie-
ram as metrancas e os chanfralhos dos cidados
contribuintes, e veio o dio dos cidados contri-
buintes, que espancou, empurrou, empilhou, es-
premeu, esmagou o corpo e a alma dos vinte e
cinco anjos cados no imundo cubculo onde mal
caberiam oito pessoas. E outra vez a porta de
ferro se fechou, e outra vez o ferrolho correu. E
acabaram as visitas, acabou o dinheiro, acabou
a maconha, acabou o passeio ao sol. Mas a ago-
nia aumentou. A sarna, a sfilis, as perebas to-
das se alastraram mais. O tempo ficou mais len-
to, os pesadelos mais tenebrosos, o sono mais di-
fcil, a comida mais nojenta, os corpos mais fe-
didos, a palavra mais intil, os olhos mais raia-
dos de sangue, mais ardidos, mais fixos na porta
de ferro. E lentamente se passaram trs sema-
nas. At que os anjos cados, sentindo-se apodre-
cer, sentiram medo de apodrecer e resolveram
lutar pela vida, qual parecia que tinham abdi-
cado. Sem dizer palavra, um se levantou e co-
31
meou a bater na porta de ferro. Bateu forte e
todos os outros tambm comearam a bater, a
bater na porta de ferro, e o barulho os desper-
tou, e eles comearam a gritar, a gritar, a gritar,
a gritar. Para eles mesmos, anjos cados, era
como se renascessem. Para os cidados contri-
buintes, era como se os anjos caldos houvessem
enlouquecido de vez. Mas os anjos renascidos
queriam viver, escapar da morte, das pragas,
do fedor, do nojo. Queriam abrir a porta de fer-
ro que os separava da vida, da esperana, da fe,
do horizonte, do sol, da chuva. E sem palavra,
um deles empilhou no meio do imundo chiqueiro
o resto de nojentos colches. Os anjos cados so
inocentes, so ingnuos, no tm noo do bem e
do mal. jamais compreendem o dio dos cida-
dos contribuintes.
Os anjos cados so anjos sem conscincia do
bem e do mal. So anjos e sero sempre anjos.
Eles no sabiam que foram colocados no cubculo
para morrer lentamente, de forma que parecesse
natural. Eles no sabiam que foram empilhados,
espremidos, esmagados de corpo e alma no mal-
dito cubculo, por no terem serventia para os
3 2
cidados contribuintes, e que os cidados contri-
buintes s cuidam do que lhes convm. No, os
anjos cados no sabiam nada disso. Os anjos
cados so anjos mesmo. E atearam fogo nos
imundos colches. E pela vigia, berravam para
que os cidados contribuintes abrissem a porta de
ferro. E as labaredas cresciam e lambiam os
vinte e cinco homens, e os gritos e os gemidos e
os pedidos de socorro se perdiam nas imundas
paredes, frias e midas, onde eles escreveram
blasfmias ditadas pela impacincia e pelo deses-
pero. E o fogo crescia e a fumaa sufocava, e o
fogo queimava, e o desespero desesperava, e os
homens se debatiam, um querendo usar o corpo
do outro como escudo contra as chamas, e dispu-
tavam com fria e toda violncia o direito de
enfiar a cara no excremento da latrina, para es-
caparem do sufoco da fumaa. E o fogo queima-
va, a fumaa sufocava, a carne ardia, assava,
e o fedor fedia, e a fumaa sufocava e os pulmes
che
;
os de cavernas se rompiam, e a tosse, e a
tosse, e a tosse. E o cheiro de carne assada era
o cheiro da carne humana assada, um cheiro do-
ce, doce. enjoativo, doce de dar nuseas, doce
carne humana, a doce carne humana, que s
doce quando arde de amor. ardia de desespero,
e o odor era doce, terrivelmente doce, nauseante.
3 3
E o chaveiro da porta de ferro esperava chega-
rem metrancas e algemas suficientes para subju-
gar os anjos cados de forma incontestvel, espe-
rava muitas metrancas, muitas algemas, e espe-
rou, esperou, esperou. E elas chegaram, mas j
no eram necessrias. No precisavam despejar
seus venenos nos corpos carbonizados de vinte e
cinco anjos cados, cados para sempre, ou cados
at o dia em que, animados pela viridade espi-
ritual transformadora, se ergam todos os anjos
cados. Se ergam das cinzas onde se sufocam,
das chamas onde ardem, das fomes onde se de-
sesperam, dos cubculos onde se empilham, se
espremem e se esmagam de corpo e alma, dos
srdidos recantos onde se degeneram, e venham
cobrar dos cidados contribuintes as ofensas to-
das que, em nome de seus tesouros, seus privi-
lgios, seus confortos, fizeram dignidade hu-
mana.
3 4
I N TI L C ANTO
E I N TI L P R ANTO
P E L OS ANJ OS C A D OS
que perderam os fundamentos
\J seco olhar do velho ndio, seco como o olhar
de um corpo sem alma, correu pelo cho seco da
triste aldeia e parou na gente seca de sua outrora
to gloriosa tribo. Gente seca que, com as mos
secas de almas sem esperana, teciam, a duras
penas, vergados sob o peso da indolncia, seus
ofcios aviltantes, nesses tempos secos, tempos
dos tempos da raa. E o ofcio ali exercido por
gente seca, de mos secas, de almas sem espe-
rana, lhes foi generosamente legado por seus
bravos antepassados, por seus venerados ante-
passados, que foram bravos e foram venerados
justamente porque exerceram esses ofcios orgu-
lhosamente em seus tempos, que foram muitos
tempos, tempos bastantes para os fundamentos
da tribo serem plantados, tempos bastantes para
a vida da tribo ser honrada por vrias geraes.
E o seco olhar do velho ndio, seco como o
olhar de um corpo sem alma, j turvo por tantos
3 7
1
tempos de sua existncia seca, comeava a bem
ver, ver de ver, ver de perceber, ver de pene-
trar nas entranhas das coisas, ver de enxergar o
essencial. E o seco olhar do velho ndio, seco
como o olhar de um corpo sem alma, via, via pela
primeira vez que o arco, a flecha, o tacape e os
cocares de penas multicoloridas, que as mos se-
cas de almas sem esperana dos lamentveis n-
dios sem cor, sem brilho, sem cantos arremata-
vam, vergados ao peso da indolncia, jamais se-
riam as armas de valor provado em tantas bata-
lhas, como aquelas que, em outros tempos, empu-
nhadas por bravos guerreiros, foram guard
;
s da
honra da tribo, da liberdade da tribo, do respeito
da tribo por si mesma. E o seco olhar do velho
ndio, seco como o olhar de um corpo sem alma,
via, via pela primeira vez que o barro, amassado
sem nenhum encantamento pelas secas ndias, de
mamas secas, de ventre apodrecido, parideras
de uma prole sem cor, sem brilho, sem cantos,
prole que no encarnava o bravo esprito dos bra-
vos guerreiros de outrora, jamais seria a cuia das
doces bebidas que os deuses ensinaram os bravos
ndios a beber para terem sempre seus nimos
renovados para os duros combates da preserva-
o. E o olhar seco do velho ndio, seco como o
olhar de um corpo sem alma, via, via, via, pela
primeira vez, que a mandioca batida pelas secas
mos de almas sem esperana jamais seria a fa-
rinha da nutrio da gente seca de sua outrora
gloriosa tribo. O seco olhar do velho ndio, seco
como o olhar de um corpo sem alma, via, via,
via que jamais, jamais, jamais o trabalho feito,
pelas mos secas de almas sem esperana seria o
nobre trabalho que dignifica o homem. Que o
arco, a flecha, o tacape, o cocar de penas multi-
coloridas, o barro, a farinha jamais seriam dis-
tendidos, moldados, consumidos pela liberdade,
pela honra, pelo auto-respeito da tribo, gente se-
ca, de mos secas sem esperana.
O arco, a flecha, o tacape, o cocar de penas
multicoloridas, o barro, a farinha, feitos pela ge-
rao enferma da outrora gloriosa tribo seriam
levados pelos tristes ndios sem cor, sem brilho,
sem canto, com passos trpegos, ao posto comer-
cial dos brancos cidados contribuintes e seriam
trocados pela branca aguardente dos brancos ci-
dados contribuintes. E a branca aguardente dos
brancos cidados contribuintes envenenaria o san-
gue, a energia, o trabalho, a f, a esperana do
ndio. Envenenaria o ndio, e o arco do ndio, e
a flecha do ndio, e o cocar de penas multicolori-
das, e o barro do ndio, e a farinha do ndio, e a
cor, e o brilho, e o canto do ndio, e a honra, e
3 8 3 9
a liberdade, e o respeito do ndio por si mesmo,
e todos os fundamentos da tribo do ndio, e o ven-
tre apodrecido das mulheres da tribo, que gera-
ria cada vez mais a mais miservel das descen-
dncias do ndio.
E o arco, a flecha, o tacape, e o cocar de
penas multicoloridas, e a cuia iriam enfeitar as
brancas paredes das brancas moradas dos bran-
cos cidados contribuintes. E o olhar seco do
velho ndio, seco como o olhar de um corpo sem
alma, via, via, via, pela primeira vez, que esse
comrcio j h tanto tempo praticado por sua
gente, por ele mesmo e por seus antepassados,
com os brancos cidados contribuintes, lhes enve-
nenava o sangue, os fundamentos receb
:
dos por
herana, os gritos de guerra de toda uma raa,
o sonho, a energia, o trabalho, a nsia de liber-
dade. E o seco olhar do velho ndio, seco como
o olhar de um corpo sem alma, via, via, via que
era o tempo dos tempos de sua raa. Via, via,
via, o olhar seco do velho ndio, seco como o olhar
de um corpo sem alma, que era a grande hora de
dor da sua tribo. E sentia que era chegado o seu
momento-limite de cacique, o momento de tomar
a deciso mais corajosa de todos os tempos da
tribo. Era o momento doloroso da escolha.
1
:
Era a hora do crepsculo. Era a hora do cre-
psculo da tribo e tambm era o crepsculo de
mais um dia de triste trabalho da outrora glorio-
sa tribo. O sol se punha por trs das montanhas
e a primeira estrela brilhava no infinito. E o seco
olhar do velho ndio, seco como o olhar de um
corpo sem alma, se fixou nessa estrela. E seu
pensamento se elevou at os grandes espritos e
se fez a magia. E o velho ndio, com a viso ime-
morial, viu com coragem todos os tempos da sua
tribo. Correu pelas matas com a alma virgem
dos bravos ndios que plantaram os fundamentos
da tribo, quando as matas eram virgens das pa-
tas dos brancos cidados contribuintes. E depois
viu chegarem as brancas caravelas, de brancas
velas, com a tripulao branca de cidados con-
tribuintes, que tinham brancas armas que mata-
vam distncia. E o velho ndio viu e reviu que
seus antepassados se deslumbravam diante da
branca feitiaria dos brancos cidados contribuin-
tes, mas no se deixavam subjugar. E os brancos
cidados contribuntes em vo tentaram subjugar
os bravos ndios, com suas brancas armas. No
se subjuga um bravo.
Nem o ferro, nem o fogo, nem a chibata sub-
juga um bravo que sonha o sonho mais lcido do
esprito, que a liberdade. Liberdade para ser
40
41
caminheiro em busca de luz, da sntese do amor
e do tempo. E, esgotados os recursos das armas,
os brancos cidados contribuintes vieram com os
brancos truques da branca tecnocracia. E o ve-
lho ndio, com sua viso imemorial, viu chega-
rem no meio de sua gente os falsos filhos dos
deuses, os falsos homens do fogo, os falsos filhos
do trovo, reles lacaios brancos dos brancos ci-
dados contribuintes que assombraram os ndios
com seus brancos truques tecnocratas. Assom-
bravam os ndios os brancos truques da branca
tecnocracia dos brancos cidados contribuintes,
mas no os subjugavam. Os bravos ndios, assim
como todos os bravos, com todo o vigor das almas
puras, ingnuos no fervor de suas crenas, po-
dem ser acabados pelo furor das armas, podem
ser enganados, mas no se subjugam suas almas
livres, nem com o ferro, nem com o fogo, nem
com a chibata. No se prende o esprito, nem o
esprito se apaga, quando ele retm, mesmo que
inconsciente, a chama geradora da virilidade. E
os ingnuos, no fervor de suas crenas, sempre
retm a sagrada chama. E o ndio no podia ser
escravo pelo peso das armas, ele que j era es-
cravo dos fundamentos da sua tribo, por quern-
cia, por respeito a si mesmo, por honra, pelo de-
sejo lcido do esprito de ser livre. No se es-
42
craviza quem se escravizou espontaneamente no
fervor de uma f. E o ndio de alma pura no
se submeteu nem ao ferro, nem ao fogo, nem
chibata, nem aos assombrosos truques tecnocra-
tas dos brancos cidados contribuintes escravo-
cratas, mesquinhos escravos da prpria ganncia.
E a viso imemorial do velho ndio viu, viu, viu
bem o peito de seus bravos antepassados ser
rasgado pelo fogo e pelo trovo dos brancos ci-
dados contribuintes. Viu, viu, viu, com a viso
imemorial, o sangue generoso dos seus bravos an-
tepassados regar o solo de terra firme, consagra-
da por toda uma raa que se nutria de honra e
se multiplicava em bravos. E o velho ndio viu,
viu, viu, com a viso imemorial, que no se ga-
nha nas armas a alma de um bravo, ingnuo no
fervor de sua crena. Mas, o velho ndio, plido
de espanto, viu, viu, viu que um bravo, mesmo
ingnuo no fervor de sua crena, mesmo forte no
fervor de sua crena, pode ser seduzido com a
hipcrita palavra, com o hipcrita paternalismo,
com hipcritas palavras. Com a lbia.
O velho ndio, com sua viso imemorial, viu,
viu, viu, plido de espanto, descerem das brancas
caravelas dos brancos cidados contribuintes
brancos sacerdotes que, viajando sem bandeira,
em nome do grande Deus branco dos brancos ci-
43
dados contribuintes, foram pacientemente, com
agrados, ensinando a lngua estrangeira, os cos-
tumes estrangeiros, a religio estrangeira, a cul-
tura estrangeira ao ndio. E foram desarmando
o ndio dos seus fundamentos, dos fundamentos
da sua tribo, foram descaracterizando o ndio e
entregando o ndio, desarmado dos seus funda-
mentos e de suas crenas, aos brancos cidados
contribuintes. O homem, sem os seus fundamen-
tos de origem, se corrompe, se vicia. E os bran-
cos sacerdotes dos brancos cidados contribuin-
tes, com a pose de pais magnnimos, corrompe-
ram o esprito do ndio nos seus fundamentos. E
os brancos cidados contribuintes viciaram a car-
ne do ndio, gerao aps gerao. E foi fcil
para os brancos cidados contribuintes, com suas
brancas armas tecnocratas, matarem os poucos
ndios que no se degeneraram, que no se des-
vincularam dos fundamentos da tribo, que no se
descaracterizaram. E a chamaram os ndios de-
sarmados dos seus fundamentos, adoecidos de cor-
po e alma, para o comrcio. Comrcio feito sem-
pre na lngua branca dos brancos cidados con-
tribuintes, com pesos e medidas dos brancos c-
- dados contribuintes, peritos em trocar suas quin-
quilharias suprfluas pelos gneros vitais dos n-
dios. E os brancos cidados contribuintes chama-
44
ram o ndio, desarmado dos seus fundamentos,
desarmado do fervor de sua crena, doente de
corpo e alma, empobrecido por um comrcio sr-
dido, para fazer acordos territoriais. E os acor-
dos foram feitos na branca lngua dos brancos
cidados contribuintes, com os pesos e as medi-
das dos brancos cidados contribuintes. E foram
limitados os espaos do ndio, e foram limitados
os sonhos do ndio, e foram apagados os funda-
mentos da tribo do ndio. E o ndio, ao ser des-
ligado dos seus fundamentos, como qualquer povo
que se desliga dos seus fundamentos, perdeu o
fervor ingnuo em sua crena, se tornou enfermo
de corpo e alma, adquiriu os brancos vcios dos
brancos cidados contribuintes, ficou desfibrado,
indolente, sem coragem para se rebelar. E o ve-
lho ndio viu, com a viso imemorial, anos e anos
a fio, sua tribo, sua raa inteira se degenerar no
contato social, religioso, cultural, comercial, com
os brancos cidados contribuintes. E viu o velho
ndio, viu, viu, viu, quantas vezes quis ou teve
coragem. Viu tudo com viso imemorial. E en-
tendeu o velho ndio que a sua outrora gloriosa
tribo comeou a morrer quando aprendeu a fala
branca dos brancos cidados contribuintes. Que
comeou a morrer quando aceitou o grande Deus
branco do branco cidado contribuinte. Que os
45
brancos cidados contribuintes, em nome da re-
ligio, da filosofia, da cultura, da tecnocracia,
mataram a religio, a filosofia, a cultura e todos
os fundamentos da tribo e da raa.
E o velho ndio voltou para si mesmo. Era a
hora grande, hora de todos os espritos, de uma
noite de Lua cheia. A aldeia estava em silncio.
Os ndios dormiam o sono sem repouso das almas
secas de sonhos. Era a hora grande, hora de to-
dos os espritos, de uma noite de Lua cheia, mas
era tambm a grande hora de uma tribo inteira.
E o seco olhar do velho ndio, seco como o olhar
de um corpo sem alma, correu pelo seco cho da
triste aldeia dos lamentveis ndios sem cor, sem
brilho, sem canto e encontrou o sagrado tambor
de guerra, h muito tempo mudo por no poder
ser tocado por mos secas de almas sem esperan-
a. E o velho ndio de seco olhar, como seco o
olhar de um corpo sem alma, tocou o tambor, to-
cou o tambor, tocou o tambor. Tocou o toque
guerreiro de toda a sua tribo, tocou o toque de
auto-respeito, o toque sublime dos sublimes an-
seios de liberdade de um povo. Dentro da noite
soou forte o toque de guerra da tribo do velho
ndio, o toque dos fundamentos da tribo do velho
ndio, o toque dos anseios de liberdade de toda a
raa do velho ndio. Mas, os lamentveis ndios,
46
sem cor, sem brilho, sem canto, estavam arrea-
dos pela indolncia num sono sem repouso das al-
mas secas de sonho. Nenhum respondeu aos ape-
los do toque do tambor guerreiro batido pelo ve-
lho ndio. Nenhum escutou o toque dos funda-
mentos da tribo e da raa, batidos no tambor
guerreiro pelo velho ndio.
E o seco olhar do velho ndio, seco como o
olhar de um corpo sem alma, se encheu de l-
grimas. Ele via, via, via tudo com clareza. Mas
era tarde. Ele no tinha mais a cor, o brilho, o
canto para convocar pra labuta da vida uma gen-
te que se amesquinhou no aviltante trabalho de
mos secas, de almas sem esperana. J no ti-
nha, o velho ndio, a cor, o brilho, o canto. A
sua pele encardida, o seu sangue apodrecido, seu
esprito vacilante j no tinham a cor, o brilho
o canto para convocar sua gente de pele encar
dida, de sangue apodrecido, de esprito vacilante
para a labuta da vida que dignifica a existncia
E j no tinha a cor, o brilho, o canto para con
vocar sua gente sem cor, sem brilho, sem canto
para a morte honrosa que dign
:
fica a existncia
E o velho ndio compreendeu que toda sua raa
estava surda aos prprios fundamentos da raa.
E compreendeu que, quando um povo j no pode
ser convocado para a labuta da vida, que o
47
que dignifica a existncia, quando um povo j no
pode ser convocado para a morte honrosa, que
o que dignifica a existncia, o tempo final desse
povo, o tempo dos tempos desse povo. E, com-
preendendo tudo isso, o velho ndio chamou a sua
tribo para o centro da triste aldeia. E vieram
todos, sonados, arrastando seus corpos cansados
de almas sem esperana, e pararam diante do
velho ndio.
O velho ndio de olhar seco, como seco o
olhar de um corpo sem alma, olhou os lament-
veis ndios sem cor, sem brilho, sem canto, de
uma tribo em degenerao total e, com a voz fir-
me, ordenou serenamente que se matassem todas
as mulheres da tribo nascidas daquela lua em
diante. Ordenou serenamente, com a voz firme
de um grande cacique, ordenou com ternura, or-
denou certo de ser obedecido, e se afastou. Foi
sentar-se num tronco seco de uma outrora fron-
dosa rvore e, com os olhos secos, como so se-
cos os olhos de um corpo sem alma, ficou espian-
do o nada, o vazio, esperando o fim de toda sua
raa.
48
I ND TI L C ANTO
E I ND TI L P R ANTO
P E L OS ANJ OS C AI OOS
nas voltas da bola e da boleta
(trilogia)
A PENEIRA
Sessenta, setenta, oitenta, noventa. Ele era um.
Apenas um. Sozinho, tenso, nervoso, acanhado.
Apenas um menino. Apenas um menino no meio de
sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos, encur-
ralados tyim frio e escuro vestirio, encurralados
pela vida num beco, onde a nica sada era a bola.
Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos, seus
nervos tensos, seus acanhamentos, seus sonhos
lindos, suas chuteiras debaixo do brao. Todos
os sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos
iguais, com suas magras caras de espanto, seus
espantados olhos famintos, com seus tensos ner-
vos doloridos espera de comearem a disputar
um lugar no jogo da bola, da bola da vida ou da
morte. Todos iguais e to sozinhos, iguais no es-
panto, na fome, no fsico franzino, na verminose,
na plida esperana de arrumarem um lugar no
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jogo da bola, da bola da vida ou da morte. To-
dos to iguais e to sozinhos, vindos de to lon-
gnquos recantos, recantos trridos, recantos de-
sencantados, mal amanhecidos por um Sol podre
que no germina sementes, nem na terra, nem
nas almas. Todos meninos vindos de to longn-
quos recantos, nas precrias condues movidas
por parcas esperanas de escaparem da sina de
conterrneos, lavradores de almas ridas pela ca-
pina na terra mal adubada pelo sono sem o re-
pouso do sonho. Todos meninos to iguais e to
sozinhos, solitrios viajores da v proposio de
escaparem, escaparem, escaparem sozinhos, so-
zinhos, o que os deixa sozinhos, cada vez mais
sozinhos.
Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos,
escapando por caminhos sem paisagem, em trens
leiteiros, nos caminhes da safra, nos nibus da
Uuso, em porcas companhias, guiados pela bri-
lhante estrela dos seus dons naturais, mas em-
baada por suas poucas sabedorias. E todos por
fim estacionados no frio, escuro, bolorento vesti-
rio do grande clube, encurralados no frio, escuro,
bolorento vestirio, todos iguais e to sozinhos,
iguais com suas magras caras de espanto, com
seus espantados olhos famintos, com tensos ner-
vos doloridos, com seus medos, dvidas e chutei-
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ras debaixo do brao e com a certeza de que, se
falharem no jogo da bola, da bola, da bola da
vida ou da morte, sero vidas condenadas sono-
lenta espera da morte nas aldeias do desconsolo
mal amanhecidas por um Sol podre.
Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos,
encurralados no frio, escuro e bolorento vestirio
do grande clube, aguardando a hora da peneira,
da escolha, hora da peneira, hora da verificao
de quem tem ou no aptido pro jogo da bola, da
bola da vida ou da morte, da grande bola, da
grande bola dos craques, da bola dos grandes es-
tdios. Todos to iguais e to sozinhos, aguar-
dando a hora da peneira do grande clube, onde
tcnicos frios, tcnicos impessoais, tcnicos que
se nutrem de jogos ganhos, de jogos jogados a
cada dia, jogados em cada jogada, tcnicos en-
durecidos pelos giros da bola que rola, que rola,
que rola, que rola, que leva, que enleva, que es-
maga, a bola que rola, que rola, que rola num
giro curto no futebol, no um esporte, no no fu-
tebol esporte, o futebol escape, escape, escape
para vidas mal traadas, nascidas nos ermos das
aldeias da desolao, vidas que atravs da bola,
da bola, da bola querem escapar, escapar, esca-
par, atravs da bola, da bola escape das fomes
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jogadas a cada dia, a cada instante na mesa sem
po e sem livro.
Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos. E
ele era um. Apenas um menino. Um no meio de
sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos, me-
ninos, meninos peladeiros, espera da peneira do
grande clube, espera da opinio de tcnicos
frios, impessoais, nutridos por jogos ganhos e que
decidiro quem, entre os sessenta, setenta, oiten-
ta, noventa meninos iguais nas magras caras de
espanto, nos espantados olhos famintos, tem apti-
do para o jogo da grande bola, da bola dos gran-
des craques, da bola dos grandes estdios.
E todos os sessenta, setenta, oitenta, noventa
meninos to iguais e to sozinhos esperam na pe-
numbra do frio e bolorento vestirio, esperam
com suas chuteiras debaixo do brao e suas afli-
es. E ele ali. Um. Apenas um. Entre sessen-
ta, setenta, oitenta, noventa meninos peladeiros.
A trave, a trave, a meta, a meta, ficava no fim
do campinho, um longo campinho de terra verme-
lha, vermelha terra de um solo duro, ressequido,
poeirento, que um Sol podre endurecia, ressequia,
empoeirava cada vez mais, deixando a meta, a
meta, cada vez mais longe do alcance de dez, do-
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ze, quinze meninos que jogavam uma pelada de-
sequilibrada por falta de jogadores. A trave, a
trave, a meta, a meta, de bambu podre, atrs da
meta de bambu podre uma cerca de pau podre
e atrs da cerca de pau podre uma vala de guas
podres, onde as pragas botam seus ovos.
E os dez, doze, quinze meninos peladeiros cor-
rendo atrs da bola, de uma bola muda, quadra-
da, quente, arrebitada por tortos chutes de pe-
quenos ps j gastos por corridas inteis. E ele
ali. Ele ali no meio dos outros meninos peladei-
ros, igual aos outros na magra cara de espanto,
nos espantados olhos famintos, na mesma nsia
de fazer a bola rolada esmo ganhar o rumo
certo da trave, da trave, da meta, da meta. Mas
ele era o nico, entre os dez, doze, quinze meni-
nos peladeiros, o nico, entre os meninos, tristes
meninos peladeiros da aldeia do desconsolo, ca-
paz de amaciar, arredondar, esfriar, soltar a bola
com destino certo. Ele ali no meio de dez, doze,
quinze meninos, todos iguais na magra cara de
espanto, nos espantados olhos famintos, ele, ele
era o nico, o nico, entre os tristes meninos pe-
ladeiros da aldeia do desconsolo que rolavam seus
corpos nas voltas curtas da bola mida, a poder
sonhar o sonho da bola grande, da grande bola
dos craques, da bola dos grandes estdios.
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Encostado na cerca de pau podre, na beira
da vala de guas podres, o repelente abutre ima-
ginador de repelncias, com seu enorme nariz
comprido, indiferente ao cheiro podre das guas
da vala e de todos os podres do mundo, o repelen-
te abutre imaginador de repelncias, de olhos sem
luz e sem brilho afundados nas amarelecidas e
macilentas carnes da sua cara inexpressiva, o
repelente abutre imaginador de repelncias, de
boca rasgada da qual nunca afloram sorrisos, o
abutre de boca sem riso, sem riso, sem riso, via
com seus olhos sem luz e sem brilho o menino pe-
ladeiro, ele, o nico menino peladeiro da aldeia
do desconsolo, o nico entre dez, doze, quinze me-
ninos peladeiros daquele campinho de beira de
vala, de alto de pirambeira, que tinha direito de
sonhar o sonho com a grande bola, com a bola
dos grandes craques, com a bola dos grandes es-
tdios. O repelente abutre imaginador de repe-
lncias via, via o menino e via o sonho do menino.
E ele, o menino, no campinho de terra dura,
ressequida, empoeirada, rolava seu sonho, rolava
seu sonho atrs da bola mida jogada esmo por
tristes meninos peladeiros da aldeia do desconsolo
e rolava seu corpo e sonhava seu sonho com a
grande bola, com a bola dos grandes craques,
com a bola dos grandes estdios, e rolava seu
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corpo atrs da bola mida, rolava seu corpo atrs
da bola mida e aprendia o ofcio, o duro ofcio
dos boleiros, nico ofcio que poderia aprender na
aldeia do desconsolo e que o levaria pra longe da
maldita aldeia do desconsolo.
Os olhos sem luz e sem brilho encravados nas
amarelecidas e macilentas carnes da cara do re-
pelente abutre imaginador de repelncias seguiam
os movimentos do menino, dele, os movimentos
dele, o nico menino entre todos os meninos da
aldeia do desconsolo a poder sonhar seu sonho
com a grande bola, a bola dos grandes craques,
a bola dos grandes estdios. Via, o repelente abu-
tre imaginador de repelncias, os pequenos ps
mgicos fazerem a bola mida crescer, crescer,
ficar grande como a bola dos grandes Craques, e
os olhos do abutre subiam pelas pernas duras do
menino, pelas coxas duras do menino e se deti-
nham por um tempo nos trapos que serviam de
calo pro menino e subiam pelo corpo nu do me-
nino e iam se fixar na magra cara de espanto,
nos espantados olhos famintos, magra cara es-
pantada e faminta, mas bonita cara iluminada
pelo fogo de quem acalenta um sonho e tem m-
ritos para acalentar o sonho. E o repelente abu-
tre via o menino, via ele, o menino, e imaginava
todas suas repelncias.
57
Na aldeia do desconsolo mal amanhecida por
um trrido Sol podre que no faz germinar nem
as sementes dos pes repartidos, nem o repouso
do sonho no desconsolado sono dos que lavram a
terra, os que lavram a terra na aldeia do descon-
solo, mansamente, sem falas, sem cantos, sem f,
sem queixas, tristemente sem queixas, sem quei-
xas, como reses, vo sendo embarcados por feito-
res frios, impessoais, endurecidos e aborrecidos
pela rotina, em caminhes que os levaro para a
grande seara de um s dono, um s dono, gordo,
balofo, guloso, guloso, guloso, que se nutre do san-
gue ralo e dos nervos flcidos de mil, dois mil,
trs mil, cinco mil lavradores e do sangue ralo
e dos nervos flcidos da prole dos lavradores, da
j nascida e da por nascer.
Na aldeia do desconsolo mal amanhecida por
um Sol podre vo os lavradores que capinam, la-
vram, semeiam, colhem o desconsolado trigo que
nunca ser po repartido, com seus alforges de
pouca e fria comida, embarcando em caminhes
e levados pelos estreitos, escamosos e esquisitos
caminhos at a seara, a grande seara de um s
dono, dono poderoso, gordo, balofo, guloso, gulo-
so, guloso, que se nutre do sangue ralo, dos ner-
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vos flcidos, do suor dos que lavram a terra e
da prole dos que lavram a terra, a nascida e a
por nascer.
E vo os homens gastos, as mulheres gastas,
as crianas gastas da aldeia do desconsolo se des-
gastarem ainda mais na capina da seara de um
s dono, vo embrulhados na desesperana e em
encardidos trapos que lhes servem de manta, vo
embrulhados em encardidos trapos e carregando
um alforge de pouca e fria comida, vo deixando
a aldeia do desconsolo, rumo aos campos descon-
solados do nico emprego para as mos carentes
de sabedoria em toda a regio da aldeia do des-
consolo.
A prole do dono, do nico e poderoso dono da
aldeia do desconsolo, do gordo, balofo e guloso,
guloso, guloso, a prole dele e a prole dos seus
imediatos h muito tempo deixaram a aldeia do
desconsolo, foi a bem nutrida prole do dono todo-
poderoso da seara, prole nutrida pelo sangue ralo,
pelos nervos flcidos, pelo suor, pelo esprito ti-
tubeante dos que lavram a terra, foi em busca
da cincia e da tcnica que sbios e doutores en-
sinam nas malditas escolas, nas malditas escolas,
uma cincia e uma tcnica, toda uma sabedoria
que resulta em jugo para os tristes lavradores da
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aldeia do desconsolo, sem falas, sem canto, sem
f, sem queixas, tristemente sem queixas.
0 poderoso dono, o nico dono de toda a sea-
ra da regio da aldeia do desconsolo, o dono, gor-
do, balofo, guloso, guloso, guloso, anda longe da
aldeia do desconsolo, anda bem longe da aldeia
do desconsolo, negociando a safra colhida em to-
da a seara da regio da aldeia do desconsolo, que
fica mais desconsolada.-
Na aldeia do desconsolo, mal amanhecida por
um Sol podre, fica a sonolenta gente que no teve
o repouso do sonho no desconsolado sono, gente
desconsolada que vai se arrastar cansada nas con-
denaes do servio burocrtico. Ficam na al-
deia do desconsolo os burocratas, pequenas auto-
ridades, pequenos funcionrios, pequenos sacer-
dotes, pequenos comerciantes de mal abastecido
comrcio de pequena freguesia e ficam, triste-
mente ficam, meninas e meninos, prole, triste pro-
le de pequenos funcionrios embrutecidos pela ro-
tina e por salrios miserveis. Fica essa prole
que, apesar de tudo, no foi nascida pra ser con-
sumida na capina da seara de um dono s, do
dono todo-poderoso, gordo, balofo, guloso, guloso,
guloso. Fica essa prole que, apesar de tudo, no
nutrida para ir em busca da cincia e da tc-
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nica de sbios e doutores que sempre ensinam os
ensinamentos longe da aldeia do desconsolo.
As meninas que ficam na aldeia do desconsolo
ficam desconsoladamente, ficam costurando, co-
sendo e bordando o desconsolo, e esperando um
amante que venha para lev-las da aldeia do des-
consolo, como esposas ou como prostitutas, mas
pra longe da aldeia do desconsolo, e cosendo e
bordando esperam, numa espera que pode durar
um baile, uma noite, a vida inteira.
E os meninos, os meninos, os apavorados me-
ninos da aldeia do desconsolo, apavorados com os
exemplos de vida, de srdida e desconsolada vida,
que lhes batem na cara a cada instante do ocioso
dia-a-dia da aldeia do desconsolo, sonham, so-
nham, sonham em sair da aldeia do desconsolo
nas asas de algum talento artstico ou nas voltas
da bola, da bola, que todos pensam que sabem,
da bola que rolando os leve pra longe da aldeia
do desconsolo, e sonham, sonham, com a grande
bola, a bola dos grandes craques, a bola dos gran-
des estdios.
IMa desconsolada praa, da desconsolada igreja
de um desconsolado, sonolento, obeso sacerdote
alimentado pela desconsolada gente que ele, ele
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desconsolado, sonolento e obeso, ajuda a manter
sem fala, sem canto, sem f, sem queixa, sob um
trrido Sol podre que no acalenta esperanas, o
repelente abutre imaginador de repelncias pa-
cientemente, como quem no tem nada a ganhar,
pacientemente, como quem no tem nada a per-
der, fala, fala, fala ao menino, fala ao menino,
a ele, o nico menino da aldeia do desconsolo a
poder sonhar o sonho da grande bola, o repelente
abutre imag
:
nador de repelncias fala ao menino,
a ele, o nico menino da aldeia do desconsolo en-
tre dez, doze, quinze meninos, tristes meninos pe-
ladeiros da aldeia do desconsolo a poder sonhar
o sonho da bola grande, da bola dos grandes cra-
ques, da bola dos grandes estdios. O repelente
abutre imaginador de repelncias, falante, hipno-
tizador, monocrdico, fala pro menmo peladeiro.
fala, fala, fala, sem pressa, fala pacientemente,
como quem no tem nada a perder, pacientemen-
te, como quem no tem nada a ganhar.
So muitos os meninos. Muitos os meninos
peladeiros que eu vi, eu vi, ningum me contou,
eu vi, vi com esses meus olhos que a terra h de
comer um dia, eu vi os meninos antes de todos,
vi nos campinhos da beira da vala ou nos altos
da pirambeira. Vi com esses meus olhos que a
terra h de comer um dia, porque eu fui v-los e
62
vi que sabiam da bola e estavam perdendo a bola
que sabiam, correndo inteis corridas, suando
suores inteis, atrs de uma bola mida mal ro-
lada por tristes meninos peladeiros, sem nenhum
d'reito de sonharem com a grande bola, a bola
dos grandes craques, a bola dos grandes estdios.
Ah, quantos e quantos meninos que sabiam da
bola eu peguei pelas mos magras e levei para
a grande bola. Cem, cento e vinte, duzentos, tal-
vez mais, nesses meus cinqenta, sessenta, seten-
ta anos, peguei nos endurecidos, ressequidos, poei-
rentos campinhos da aldeia do desconsolo e os le-
vei para a grande bola, para a bola dos grandes
craques, a bola dos grandes estdios.
Corre, corre o trem com seus montonos sons
hipnticos, corre, corre o trem fugindo da aldeia
do desconsolo, deixando a desconsolada gente es-
gotada pela faina intil na seara de um s dono,
perdida no seu sono que no tem o repouso do
sonho. Corre, corre o trem com seus montonos
sons hipnticos levando ele, o menino, o nico me-
nino peladeiro da aldeia do desconsolo que tem
direito de sonhar o sonho da grande bola, da bola
dos grandes craques, a bola dos grandes estdios.
63
Corre, corre o trem com seus montonos sons hip-
nticos levando o repelente abutre imaginador de
repelncias, falador monocrdico que fala, fala,
fala para o menino, fala pra ele, o menino pela-
deiro da aldeia do desconsolo, o nico peladeiro
entre dez, doze, quinze meninos peladeiros, tristes
meninos peladeiros da aldeia do desconsolo a po-
der sonhar o sonho da grande bola, da bola dos
grandes craques, da bola dos grandes estdios.
Corre, corre o trem com seus montonos sons hip-
nticos, fala, fala o repelente abutre imaginador
de repelncias, fala, fala, pacientemente, como
quem no tem nada a ganhar, pacientemente, co-
mo quem no tem nada a perder.
Eu levo os meninos peladeiros dos campi-
nhos da bola mida rodada esmo para a gran-
de bola. Eu os pego pelas mos magras e os levo.
Eu os levo para os grandes clubes, para os gran-
des estdios. Eu os coloco nos grandes clubes,
consigo bons contratos pra eles, coloco seus no-
mes nas manchetes dos jornais, eu os levo para
a Seleo. So muitos os meninos peladeiros que
eu fantasiei de boleiros, so muitos os meninos
peladeiros que eu coloquei para correrem suas
corridas nas voltas da grande bola. So muitos.
Oitenta, noventa, cem. Sei l quantos so os me-
ninos que peguei pelas mos magras nos campi-
64
nhos da beira da vala, do alto da pirambeira, e
levei para os grandes estdios. Peguei-os na bola
mida e os levei para a grande bola. Me compa-
deo pelos pobres e tristes meninos peladeiros e
os levo para os grandes clubes, para as manche-
tes dos jornais. Mas eles depois se transtornam
nas voltas da grande bola, se transtornam por
seus nomes gritados por patticas multides nos
grandes estdios, se transtornam, os pobres e tris-
tes meninos peladeiros, com seus nomes nos jor-
nais, com seus grandes contratos, com a Seleo.
E os meninos pelade
;
ros que eu vi, que eu vi an-
tes de todos jogando uma bola mida nos cam-
pinhos endurecidos, ressequidos, poeirentos, de-
baixo de um trrido Sol podre, os meninos que eu
vi, eu os vi antes de todos correndo corridas in-
teis, suando inteis suores atrs da bola mida,
rolada esmo, eu os peguei pelas mos magras
e os levei para a grande bola, mas os meninos que
eu vi me esquecem... me esquecem...
Corre, corre o trem com seus montonos sons
hipnticos, fugindo da aldeia do desconsolo, fala,
fala, fala, o repelente abutre imaginador de repe-
lncias, fala, fala, fala, o falador monocrdico,
sem nenhuma luz, sem nenhum brilho nos olhos
encravados nas amarelecidas e macilentas car-
nes do seu rosto inexpressivo, sem nenhum riso.
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sem nenhum ricto a lhe aflorar na boca rasgada,
fala, fala, fala, o falador monocrdico, paciente-
mente, como quem no tem nada a ganhar, pa-
cientemente, como quem no tem nada a perder.
Os meninos peladeiros se transtornam, nos
giros da grande bola, se transtornam com as mul-
ticoloridas camisas dos grandes clubes, com as
vermelhas, as vermelhas, as vermelhas, as azuis,
as verdes e vermelhas, as vermelhas e brancas,
as brancas e pretas e verdes, e azuis, e amare-
las, e amarelas e vermelhas, vermelhas, verme-
lhas. E os meninos peladeiros se sentem grandes
boleiros e se envolvem nas multicoloridas cami-
sas vermelhas, vermelhas, vermelhas, verdes,
azuis, amarelas, vermelhas e esquecem que a
bola, at a grande bola, a bola dos grandes cra-
ques, a bola dos grandes estdios tem as voltas
curtas, muito curtas, e vo eles nas voltas cur-
tas, vo em todas as voltas da grande bola es-'
quecidos de quem deles se compadeceu quando
eram tristes meninos peladeiros na aldeia do des-
consolo. Eu me resigno. Eu volto para as minhas
andanas pelos campinhos endurecidos, ressequi-
dos, poeirentos, debaixo de um Sol podre, pro-
cura de outros meninos, meninos peladeiros que
sonham seus sonhos com a grande bola e tm bola
pra sonharem o sonho com a grande bola.
66
Corre, corre o trem com seus montonos sons
hipnticos, fugindo da aldeia do desconsolo, le-
vando o menino peladeiro da aldeia do descon-
solo e o repelente abutre imaginador de repeln-
cias, falador monocrdico que fala, fala, fala, pa-
cientemente, como quem no tem nada a ganhar,
pacientemente, como quem no tem nada a per-
der. Corre, corre o trem, fala, fala o abutre e
suas mos frias vo apalpando, apalpando as co-
xas do menino, rompendo a roupa do menino,
rompendo o menino, apalpando, apalpando o me-
nino, o menino plido de espanto que prende seu
espirito no sonho da grande bola, da bola dos
grandes craques, da bola dos grandes estdios e
abandona seu corpo nas mos frias do frio e re-
pelente abutre imaginador de repelncias.
Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos. Ele
era um. Apenas um. Sozinho, com seus nervos
tensos, acanhado. Apenas um menino no meio de
sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos, todos
to iguais e to sozinhos, com suas magras caras
de espanto e com seus espantados olhos famintos,
com seus nervos tensos, com seu acanhamento.
Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos divi-
67
didos em grupos de onze e encaminhados para o
campo, para o campo da bola grande, do grande
estdio, para serem avaliados por tcnicos impes-
soais, tcnicos frios, tcnicos que se nutrem de
jogos ganhos, de jogos jogados a cada dia, de jo-
gos jogados a cada jogada, tcnicos endurecidos
pelas voltas curtas da grande bola. Sessenta, se-
tenta, oitenta, noventa meninos divididos em gru-
pos de onze e encaminhados para a peneira, divi-
didos em grupos de onze, mas sozinhos, muito so-
zinhos, cada um pra si na disputa de um lugar
no jogo da bola, na grande bola, na bola dos
grandes craques, na bola dos grandes estdios.
Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos vin-
dos das aldeias do desconsolo em busca de um
lugar nas voltas da grande bola. Sessenta, seten-
ta, oitenta, noventa meninos, e ele ali, no meio,
e ele no meio de outros meninos peladeiros, divi-
didos em grupos de onze, sem poderem escolher
suas posies, sem direito boa palavra, sem te-
rem o incentivo de um sorriso. Sessenta, setenta,
oitenta, noventa meninos tirados dos campinhos
da beira da vala, do alto das pirambeiras das al-
deias do desconsolo e colocados no meio do gran-
de estdio, do grande estdio vazio, do apavo-
rante grande estdio vazio, onde os meninos pe-
ladeiros das aldeias do desconsolo tero dez, quin-
68
ze, vinte minutos pra mostrarem tudo o que sa-
bem da bola e toda a bola que sabem rolar.
Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos,
meninos vindos das aldeias do desconsolo, trans-
formados em pequenas feras para se engolirem nas
voltas da bola, da bola, da bola que rola, que
enrola, que enleva e que esmaga, na bola da vida
e da morte, que vai rolar, rolar, rolar, rolar para
os sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos em
dez, quinze, vinte minutos de peneira.
Rola, rola, rola a bola, rola, rola, rola a bola
e atrs dela ferozes meninos rolam desesperados,
rolam suas esperanas, rolam, rolam, rolara to-
dos aflitos, desesperados atrs da bola, em cada
canto do campo atrs da bola, todos rolando de-
sesperados suas esperanas, sem poderem mos-
trar o que sabem da bola que rola, que rola, que
rola, e rola a bola; e giram os ponteiros dos re-
lgios dos tcnicos impessoais, tcnicos frios, tc-
nicos endurecidos pelas curtas voltas da bola, e
giram os ponteiros dos relgios, giram, giram e
rola a bola, e param os ponteiros dos relgios, e
pra a bola, e vinte e dois meninos plidos de es-
panto, vinte e dois de cada vez, param de rolar
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seus corpos atrs da bola e param de ter espe-
rana, param de ter esperana de poderem mos-
trar o que sabem da bola. naquela bola rolada
to desesperadamente contra os ponteiros dos re-
lgos dos tcnicos impessoais, tcnicos frios, tc-
nicos endurecidos pelas curtas voltas da bola, da
agoniante bola da vida e da morte.
Sessenta, setenta, oitenta, oitenta e oito me-
ninos dispensados da bola do grande clube. Ses-
senta, setenta, oitenta, oitenta e oito meninos dis-
pensados, e ele, ele ora um. Apenas um menino.
Apenas um menino peladeiro vindo da Jdeia do
desconsolo para tentar, entre sessenta, setenta,
oitenta, noventa meninos vindos das aldeias da
desolao, um lugar no jogo da bola, da grande
bola. da bola dos grandes craques, da bola dos
grandes estdios. Ele era um. Apenas um dis-
pensado, entre sessenta, setenta, oitenta, oitenta
e oito meninos, meninos iguais a ele, iguais na
magra cara de espanto, nos espantados olhos fa-
mintos e no desencanto.
IN a saida do grande estdio, o repelente abutre
imaginador de repelncias, com seus olhos sem
luz e sem brilho encravados nas amarelecidas e
70
macilentas carnes de sua cara inexpressiva, com
sua boca rasgada onde nunca aflora um sorriso,
espera o menino, espera o menino, espera pra que
ele no seja um peladeiro da aldeia do descon-
solo. Espera. O menino da aldeia do desconsolo
ser um boleiro, existem clubes, clubes pequenos,
mas clubes, sempre clubes para pequenos boleiros.
71
O SUBORNO
Zero a zero, zero a zero, zero a zero, aos trinta,
aos trinta e cinco, aos quarenta, aos quarenta da
fase final, zero a zero aos quarenta minutos da
fase final de um jogo deciso de ttulo, deciso
de ttulo da segunda diviso, da maldita segunda
diviso, zero a zero, zero a zero, zero a zero aos
quarenta minutos, cinco pra acabar, e a bola ro-
lando, rolando, rolando e atrs dela msculos,
nervos, sangue de vinte e dois homens, de vinte
e dois homens desesperados, jogando o jogo da
vida ou da morte, vinte e dois homens desespe-
rados, jogando o jogo da vida ou da morte, vinte
e dois homens rolando suas vidas atrs da bola,
da bola mida da segunda diviso, da segunda
diviso do futebol do absurdo, vinte e dois absur-
dos profissionais danam uma estranha dana que
milhares de olhos seguem atentamente a cada
lance, a cada lance, a cada lance.
73
Mas, s vem o que aparece, o lance. Os so-
cos, os pontaps, as cotoveladas, as escarradas,
as escarradas, as escarradas, que se do uns na
cara dos outros, e os socos e os pontaps e as
cotoveladas, que se do uns nos outros, ningum
v, ou finge no ver. A bola, a bola, a bola mi-
da dos tristes boleiros da maldita segunda divi-
so rola, rola, rola, e os vinte e dois tm que
faz-la rolar, rolar, rolar, e eles vo atrs dela,
com fria, uns no comeo da carreira desespera-
dos pra escaparem da maldita segunda diviso
do maldito futebol do absurdo, e os outros deses-
perados, j com as pernas pesadas, injetadas de
estimulantes, lutando agoniadamente pra no aca-
barem, no acabarem de vez na maldita segunda
diviso do maldito futebol do absurdo. E todos
os vinte e dois, vinte e dois jogadores, jogando a
vida e a morte, rolando seus desesperos e espe-
ranas atrs da bola mida, da mida bola da se-
gunda d^iso, da deciso do titulo da maldita se-
gunda diviso. Zero a zero, zero a zero, zero a
zero. Trinta, trinta e cinco, quarenta minutos.
Quarenta minutos da fase final, faltando apenas
cinco minutos para o jogo acabar. Apenas cinco.
E o juiz apita, apita, apita. Um jogador fica ca-
do na rea do adversrio. O juz apita, apita,
apita pnalti. Zero a zero aos quarenta minutos
74
da fase final do jogo decisivo do campeonato da
segunda diviso, da maldita segunda diviso do
futebol do absurdo. O juiz apita, apita, apita.
Pnalti.
Pnalti, pnalti, pnalti. Tiro livre direto de
pequena distncia, penalidade mxima. Pnalti,
pnalti, pnalti. O juiz apitou, apitou, apitou e
correu pra rea apontando a marca do pnalti.
Pnalti aos quarenta minutos da fase final de uma
partida decisiva. Pnalti. Pnalti. Pnalti. As
torcidas berram aflitas, os jogadores correm pra
cima do juiz, se empurram, se xingam, se xingam,
se escarram nas caras uns dos outros, se xingam,
se xingam, se xingam. Pnalti. Pnalti. Pnalti.
Aos quarenta minutos da fase final de um jogo
de deciso do ttulo, do titulo, do ttulo da mald ta
segunda diviso do futebol do absurdo. E ele, ele,
o veterano em fim de carreira, ele que teve tan-
tas glrias, ele que tem muita experincia, ele
que tem que cobrar o pnalti. Um pnalti, um
maldito pnalti, apitado por um juiz que ele sabe,
ele que veterano, ele que teve tantas glrias,
ele que tem muita experncia sabe, sabe bem,
sabe muito bem que o juiz apitou aquele maldito
pnalti, apitou aos quarenta minutos finais de um
jogo de deciso de ttulo, apitou pnalti, pnalti,
faltando cinco minutos para o fim do jogo, por-
75
que estava pago, pago pra influir no resultado.
Pago, muito bem pago pra apitar o pnalti, s
pago, muito bem pago, o juiz apitou, apitou, api-
tou o pnalti. Pnalti aos quarenta minutos da
fase final de uma deciso de ttulo. De ttulo da
segunda diviso, da maldita segunda diviso do
futebol do absurdo, mas sempre uma deciso. E
ele, logo ele, o veterano, o craque que teve tan-
tas glrias, o craque que foi de seleo, que jo-
gou na grande bola, que jogou nos grandes est-
dios, ele, o mais experiente do time, que ia ter
que chutar. Logo ele que ia ter que chutar o
pnalti aos quarenta minutos finais de um jogo
de deciso de ttulo, a cinco minutos do final do
jogo deciso de ttulo da segunda diviso, da mal-
dita segunda diviso do futebol do absurdo, p-
nalti. E ele tinha que chutar. Ele, o veterano, o
craque que teve tantas glrias, ele, o mais ex-
periente do time.
Logo ele, que no conseguiu dormir na noite
da vspera do jogo deciso, logo ele, que rolou
na cama como um principiante assustado, logo
ele, que perdeu a fome, logo ele, que pensou em
se fingir de machucado pra no jogar, logo ele,
logo ele, o veterano, o craque que teve tantas
glrias, o mais experiente do time, que ia ter
que chutar o pnalti, o pnalti, o maldito pnalti
76
apitado aos quarenta minutos finais de um jogo
de deciso de ttulo, apitado por um maldito juiz
vendido, sujo como um porco, um bebedor de
suor, chupador de sangue. E ele que tinha que
chutar o pnalti. O maldito pnalti. Ele, ele, nin-
gum alm dele poderia naquele time bater aque-
le pnalti, ele o veterano, ele o craque que teve
tantas glrias, ele o mais experente. Ele, que
por ser j um veterano, ele, justamente ele, que
por ser o mais experiente, recebeu dinheiro, mui-
to dinheiro, dinheiro pra no marcar nem aquele
gol, nem nenhum outro gol naquele jogo, naquele
maldito jogo da deciso de ttulo da maldita se-
gunda diviso do maldito futebol do absurdo.
Quando o repelente abutre imaginador de re-
pelncias o procurou com o dinheiro, com o di-
nheiro, com o maldito dinheiro para suborn-lo,
ele teve dio, muito dio, um dio terrvel do re-
pelente abutre imaginador de repelncias. Sen-
tiu vontade de esganar aquele maldito suborna-
dor, sentiu vontade de lhe arrancar a lngua, sen-
tiu vontade de fazer o repelente abutre imagina-
dor de repelncias engolir cada uma das malditas
notas do dinheiro do maldito suborno. Mas, va-
cilou, pensou, pensou, pensou, se devia escutar o
repelente abutre expor a repelncia, pegar o di-
nheiro e entregar para seu clube. E enquanto ele
77
pensava, pensava, pensava, continha o dio, con-
tinha, e o repelente abutre falava, falava, falava,
mansamente, como quem n( quer ganhar, pa-
cientemente, como quem no quer perder.
Seu nome, seu grande nome, seu retrato no
jornal, sua bola, a sua grande bola, acabou, voc
acabou, acabou, acabou, todos que rolam nas vol-
tas da bola, mesmo nas voltas da grande bola, na
grande bola dos grandes craques, voc acabou,
acabou, acabou nessa triste bola mida de se-
gunda diviso, voc usou as multicoloridas ca-
misas vermelhas, vermelhas, vermelhas, as azuis,
as verdes, as vermelhas, as amarelas, as verdes,
as pretas, as brancas, as vermelhas, as verme-
lhas, usou todas elas, as multicoloridas camisas
dos grandes clubes, mas onde esto elas? Desco-
raram e resta essa bola mida da segunda divi-
so. Seu nome, seu grande nome, seu retrato no
jornal, sua bola grande, tudo, tudo, tudo, redu-
zido a essa bola mida da segunda diviso. E as
pernas, suas pernas, as. suas pernas? Como esto
suas pernas? Comidas pela bola, com os ossos,
os nervos, os msculos estilhaados, assim esto
suas pernas. E s resta para essas suas pernas
esgotadas essa bola mida da segunda diviso.
E at quando resta? At quando? E o que voc
tem de seu? Est rico? Pode parar de correr
78
atrs da bola mida? Eu te dou dinheiro. Di-
nheiro. Dinheiro. Dinheiro.
Zero a zero, zero a zero, zero a zero, aos trin-
ta, trinta e cinco, quarenta minutos da fase final
de um jogj de deciso de ttulo, do maldito ttulo,
do maldito campeonato, da maldita segunda divi-
so, do maldito futebol do absurdo, aos quarenta
minutos da fase final, e o maldito juiz, um juiz
sujo como um porco, um bebedor de suor, um chu-
pador de sangue, um juiz pago pelo repelente
abutre imaginador de repelncias, apita, apita,
apita um pnalti, pnalti, pnalti que ele tem que
cobrar, ele, justo ele, ele o veterano, ele que teve
tantas glrias, ele o mais experiente, ele, justo
ele, que pegou dinheiro pra no fazer nem aquele,
nem nenhum gol naquele jogo. Maldito pnalti,
maldito juiz, maldito jogo. At ali, tinha sido f-
cil, fcil de enganar tcnico, diretores, compa-
nheiros, torcida. At os quarenta minutos finais
daquele jogo, ele, ele enganou, no precisou de
muito pra enganar, na verdade ele enganava tam-
bm o repelente abutre imaginador de repeln-
cias. Enganava a todos, a todos, a todos. Correr,
h muito tempo no corria, lanar certo h muito
no lanava, enervar os meninos h muito ele j
fazia, reclamando de todos pra esconder seus
erros, nas divididas j h muito no ia. E era
79
isso que o repelente abutre imaginador de repe-
lncias queria que ele fizesse, pagava pra ele
fazer e era o que ele h muito vinha fazendo.
Mas o pnalti, o pnalti, o maldito pnalti, o mal-
dito pnalti apitado pelo maldito juiz aos quaren-
ta minutos da fase final do jogo decisivo do t-
tulo, do maldito campeonato da segunda diviso,
da maldita segunda diviso, do maldito futebol
do absurdo, o pnalti, o pnalti, o pnalti, era ele,
ele o veterano, ele o craque de tantas glrias, ele
o mais experiente do time, ele que tinha que
chutar.
Zero a zero, zero a zero, zero a zero. Aos
quarenta minutos da fase final do jogo decisivo do
campeonato da segunda diviso do futebol do ab-
surdo, o juiz, o maldito juiz, sujo como um porco,
bebedor de suor, chupador de sangue, coloca a
bola, a bola, a bola na marca do pnalti, da pe-
nalidade mxima, e ele, ele o veterano, o craque
de tantas glrias, o mais experiente do time, se
coloca pra chutar. Ele que recebeu dinheiro, di-
nheiro, dinheiro pra no marcar nem aquele, nem
nenhum gol. Ele olha a bola, a bola mida da
segunda diviso, a bola que para ele j foi a
grande bola de craque, a bola dos grandes est-
dios, a bola dos grandes contratos, a bola da se-
leo, e agora est ali mida, miudinha, rolando
80
quadrada, quente, a esmo, e ele olha a bola, a
bola, a bola e a trave, a trave, a trave, a meta,
a meta, e embaixo da trave o goleiro, o goleiro
plido de espanto, atrs do goleiro o alambrado,
a torcida plida de espanto, e entre a torcida o
repelente abutre imagnador de repelncias com
seu enorme nariz comprido, com seus olhos sem
luz e sem brilho encravados nas amareladas e
macilentas carnes de sua cara inexpressiva, com
sua boca rasgada onde nunca aflora um sorriso.
E ele v, v, v tudo e espera a hora de chutar.
O silncio desce pesadamente sobre o campinho
de segunda diviso, as aflies se sufocam na gar-
ganta. Ele ganhou dinheiro pra no marcar aque-
le gol. Ele, ele, ele... ele pensa... V e rev
toda sua vida... Toda sua vida... vida rolada
atrs da bola... rolada atrs de ttulos... Ele...
ele... ele... atrs dele os adversrios xingando,
rogando praga, tentando enerv-lo, os companhei-
ros sem querer olhar, ao seu lado o juiz, sujo
como um porco, na sua frente a bola, o goleiro,
a trave, o alambrado, a torcida e o repelente abu-
tre imaginador de repelncias. E ele decide. Vai
marcar, vai marcar, vai marcar, acaba a carrei-
ra com um ttulo, um ttulo de segunda diviso,
mas um ttulo.
81
Zero a zero, zero a zero, zero a zero, aos qua-
renta minutos finais, pnalti. O juiz apita, ele
vai para a bola, bate nela com toda fora, fecha
os olhos, ouve o berreiro, o berreiro, o berreiro
da torcida, vaias, vaias, vaias, ele abre os olhos.
Os adversrios se abraam, ele errou. Seus com-
panheiros choram, ele errou. Chora o tcnico,
choram os diretores, ele errou. Mas no queria
errar. No queria. Ele chora. Chora. Chora.
Chora.
Zero a zero, zero a zero, zero a zero, acabou
o jogo da deciso do ttulo da maldita segunda
diviso do maldito futebol do absurdo. No frio,
escuro, bolorento vestirio, ele, ele o veterano,
o craque que j teve tantas glrias, o mais expe-
riente do time, chora, e ningum o consola, nin-
gum. Mas, o repelente abutre imaginador de re-
pelncias se aproxima e fala, fala, fala, mansa-
mente como quem no tem nada a ganhar, pa-
cientemente como quem no tem nada a perder.
Voc chora, chora, chora como um artista.
Te vendo chorar assim at eu, at eu, chego a
pensar que voc errou sem querer.
82
O FIM
1 rinta e sete, trinta e oito, trinta e nove ou qua-
renta, nem ele mesmo sabia mais sua idade, men-
tiu tanto, tantos e tantos anos fazendo trinta e
dois anos, s trinta e dois, nunca mais de trinta
e dois, e mesmo com trinta e dois, com mil e um
papis provando os trinta e dois anos de idade,
papis falsificados, mas que pareciam de verda-
de, e mesmo assim, mesmo com trinta e dois, foi
cada vez mais difcil arrumar um clube, assinar
contrato, ganhar o salrio miservel no ofcio de
jogar bola, a bola, a bola que rolou por toda sua
vida, e ele rolou atrs da bola, rolou pro alto, nos
grandes clubes, depois rolou pra baixo, sempre
mais pra baixo, cada vez mais pra baixo, sempre
com trinta e dois anos, sempre com a iluso de
voltar, no pra seleo, no pras manchetes dos
jornais, no prs braos das mulheres, no ser
83
dolo, mas voltar, pra diviso especial, talvez pelo
menos pra primeira diviso, no na segunda di-
viso, no clube pobre, no clube miservel, que
no treina, que no concentra, que no come, que
no paga, no no cio, na solido de uma praa
miservel, pobre, no nunca mais na solido, na
pobreza, nunca mais na bola mida, pequena, jo-
gada por cabeas de bagre, sem passado, sem
presente, sem futuro, sem esperana, sem retrato
no jornal, com emprego, emprego pblico, no ban-
co, na coletoria, e a bola pobre no domingo, mi-
da, miservel, uma bola que rola quadrada, qua-
drada, rola quadrada, como se fosse a bola de
um esporte, a bola de um esporte qualquer, no
a bola da vida e da morte, a bola que rola pra
cima, pra baixo, a bola que d e tira, a bola que
leva o craque, a bola que rola o craque, a bola
que enrola o craque.
Trinta e sete, trinta e oito, trinta e nove, qua-
renta. Ningum sabe. Trinta e dois nos papis.
Papis arrumados nas mos porcas de um intru-
jo, de um intrujo que decide a idade do bolei-
ro, arruma o time pro boleiro, trata o preo do
boleiro, divide as luvas do boleiro com o tcnico
do clube que contrata o boleiro e jura pela alma
do boleiro que ele s tem trinta e dois anos, trin-
ta e dois, sempre trinta e dois, nunca mais do
que trinta e dois. Um, dois, trs, oito, dez anos
com trinta e dois, e pras pernas, pobres pernas,
rotas, estilhaadas, estiradas, modas, picadas pe-
las injees, manchadas pelos mercrios, embru-
tecidas pelas infiltraes de lquidos calcificantes
nos ossos esmagados, pras pobres pernas rotas e
tristes no parecerem mais tristes com trinta e
sete, trinta e oito, trinta e nove, quarenta, a bo-
leta, a boleta, a maldita boleta, sempre a partir
dos trinta e oito anos, a boleta, as varizes no
atrapalham, as pancadas no doem, as desiluses,
a solido, a maldita solido no pesa nas pobres
pernas rotas e tristes, e o corao e o pulmo, o
estmago, o fgado, os intestinos, tudo tem trinta
e dois anos, e crescem e se dilatam com a fora
de trinta e dois anos. Trinta e dois anos, nunca
um a mais, sempre os trinta e dois anos. Amea-
ado, triste, solitrio, ocioso, dias e dias espera
de mais um domingo nesses longos trinta e dois
anos. Trinta e dois anos que comearam quando
a perna no foi onde a cabea mandou, quando
a perna se estilhaou, sozinha, sem pancada, sem
bola, se moeu andando, se torceu de boba no piso
duro do campo. Malditos trinta e dois anos. Mal-
dita bola que rola, que leva o craque, que engole
o craque, que rola pra cima e pra baixo, que
to mansa no seu rolar antes dos malditos trinta
84
e dois anos, quando a cabea pensa e a bola rola
mais ligeira, e a perna j no estica toda, j no
alcana a bola, o p no afaga a bola que rola,
rola, rola, rola e no volta pra buscar o craque,
que sempre fez dela o que quis, que ainda me-
nino escapou com ela da misria, da pestilncia,
da fome, do anonimato e de tudo o que uma
vida de condenao dos que so os lesados da so-
ciedade. Mas a bola que deu a glria, as taas,
os retratos nos jornais, as viagens maravilhosas
nos trens de luxo, no volta pra quem chegou aos
trinta e dois anos sem perceber. Pra quem se
v obrigado a estacionar nos trinta e dois anos.
Parar nos trinta e dois anos, mesmo que o patro
das horas do seu tempo seja um maldito intrujo
que nunca foi amante carinhoso da bola e que vive
das ligeiras voltas que a bola, maldita bola, co-
mea a dar na idade em que a perna do craque
no vai onde a cabea ordena.
Ento a boleta, a boleta, a maldita boleta que
vem na mo do tcnico, que tem responsabida-
des, que pediu a contratao, que precisa daque-
las velhas pernas modas correndo com trinta e
dois anos, que jurou para os dirigentes que as ex-
perincias daquelas pernas de trinta e dois anos
seriam de valia e que ainda serviam, mesmo mo-
das, rotas, trituradas, estilhaadas, embrutecidas
86
e manchadas por trinta e dois anos. Sempre trin-
ta e dois, enquanto o pulmo estufar com a boleta.
Uma, duas, trs, mil, quantas o corao frio de
brio e de esperana agentar as boletas, que vm
na limonada, no caf, na gua, na mo do tc-
nico. Na segunda diviso, ningum examina o
craque, ningum se admira do craque de trinta
e dois anos correr como se fosse menino, tem me-
nino correndo como se tivesse j trinta e dois
anos. O que conta quem chega primeiro nas
divididas, quem decide todas, quem d sem d
nos adversrios, como se eles fossem inimigos.
Aos trinta e dois anos, j se sabe onde a pancada
di mais, onde o pontap fere mais fundo, onde
os msculos se estilhaam, e ento, aos trinta e
dois anos, s se bate no lugar certo de arreben-
tar, de parar, de sufocar, de sufocar pra equili-
brar. E todos batem, batem sem d, batem nos
meninos pra que eles logo fiquem com as pernas
modas, estilhaadas, rotas, embrutecidas, tristes
pernas de trinta e dois anos. Tristes pernas, mo-
vidas a infiltraes calcificantes, a boletas, mal-
ditas boletas, que do nojo de bebida, nusea,
nojo, indiferena por mulher, mas que fazem as
pernas rotas, tristes, modas, estilhaadas e esti-
radas correrem como se tivessem os trinta e dois
anos.
87
Trinta e sete, trinta e oito, trinta e nove, ou
quarenta, nem ele mesmo sabe mais sua idade,
mentiu tanto, tantos e tantos anos fazendo trinta
e dois anos, nunca mais de trinta e dois anos, e
mesmo com trinta e dois anos, com mil e um pa-
pis, falsificados, mas que pareciam de verdade,
provando seus trinta e dois anos, foi difcil arran-
jar clube, e agora no dava mais pra recuar, re-
cusar, protestar. Tinha que fazer as pernas ro-
tas, estilhaadas, picadas e embrutec
:
das pelas
infiltraes calcificantes, manchadas pelo merc-
rio-cromo, tinha que fazer as pernas correrem
como se tivessem trinta e dois anos mesmo. E
ele mais uma vez aceitou a boleta que corria
roda na mo do tcnico. Corria escancarada,
sem limonada, sem caf, sem gua. Corria a bo-
leta sem cerimnia. Era um clube de segunda
diviso. Maldita segunda diviso. Pra ser o fim
s faltava o craque ter que comprar a prpria
chuteira e as boletas. E ele pegou a boleta. Pe-
gou uma, outra e mais outra. Naquele domingo,
as pernas dele estavam com trinta e dois anos
demais, com muitos trinta e dois anos. E ele to-
mou uma, duas, trs, quatro boletas. E caminhou
com as pernas pesadas, corao apertado, pul-
mes secos, vistas turvas. Caminhou na penum-
bra do tnel que levava do vestirio ao campo.
caminhou sozinho, caminhou na penumbra da sua
prpria vida. Parou embaixo da escada pra es-
perar o resto do time, abriu bem os olhos e l no
alto da escada a grama do campo, a luz, a luz de
um sol forte de calor de quarenta graus, e os
raios do sol vieram, vieram, vieram vindo contra
os olhos dele, como se fossem ardidas agulhas
multicoloridas, e foram ferindo os olhos dele, a
alma dele, apertando o corao, sugando o ar dos
pulmes, apertando o peito, o saco, pesando nas
pernas como se de repente elas, rotas, estilhaa-
das e picadas e embrutecidas pelas infiltraes
calcificantes, j no suportassem mais aqueles
tantos trinta e dois anos, e a luz vinha cada vez
em raios mais pontudos, multicoloridos, arder seus
olhos, e vinha o estridente som do apito do juiz
chamando os times pro campo. E o apito cres-
cia, incomodava, doa nos tmpanos, na falta de
vontade, na angstia de ter que subir a escada,
aquela maldita escada, escada do calabouo pra
arena. E o apito, apitado, apitado, apitado, ecoa-
va estridente na sua alma rota, estilhaada, pi-
cada, triste, e um a um os companheiros ligeiros
e indiferentes passavam por ele, subiam os de-
graus do tnel pro campo de trs em trs, e com
fria de vencedores saudavam a torcida, e os ro-
jes, os vivas, as palmas explodiam e martela-
89
vam a cabea dele, sozinho, parado, encostado na
parede, suando frio, plido, roto de corpo e alma.
A mo do tcnico lhe ofereceu outra boleta. E
ele foi. No tinha como recusar. As pernas can-
sadas no podiam parar. Se as pernas, rotas, es-
tilhaadas, picadas e embrutecidas -por tantas in-
filtraes calcificantes parassem, ele ficaria na in-
digncia, era preciso continuar tendo trinta e dois
anos.
Trinta e dois anos, como atestavam os pa-
pis, falsificados, mas que pareciam verdadeiros.
E ele tomou mais uma, mais uma, mais uma das
malditas boletas e arreou a meia, puxou a cami-
sa pra fora do calo, e o apito continuava a ser
apitado, chamando os times para o meio do cam-
po, e ele foi subindo os degraus da maldita es-
cada, e os raios multicoloridos do sol foram Se
embaralhando, e as cores das camisas dos times
onde ele jogou baavam em sua frente, como mil
e uma bandejras agitadas por furiosas torcidas.
Branco, verde, vermelho e branco, azul, azul e
branco, vermelho, vermelho, vermelho, vermelho
e azul, azul e vermelho, amarelo e vermelho, ver-
melho, vermelho, vermelho e branco, branco,
branco, azul. vermelho, vermelho, vernielho, e a
escada, ele nunca tinha reparado que aquela es-
cada tinha tantos degraus e que ele tinha jogado
90
em tantos times, usado tantas camisas, vestido
tantas camisas vermelhas, vermelhas, luminosas,
ardidas como o som do apito, doidas como a vaia,
brancas e quentes, amarelas e quentes como o ca-
lor do sol, speras como a grama, frias como o
suor, brandas como os olhos fechados, girando
como a bola, como a bola, como a bola, girando
como o estdio, como o estdio, como as pessoas
e como a bola, como a bola. E de repente, ele
caiu. As pernas rotas, estilhaadas, picadas e em-
brutecidas por tantas infiltraes calcificantes
no suportaram mais o peso do corpo que se
arreou pra sempre.
91
NDICE
Intil Canto e Intil Pranto
Pelos Anjos Cados...
...em Osasco 11
.. .que perderam os fundamentos 35
... nas voltas da bola e da boleta (trilogia)
A Peneira 51
O Suborno 73
O Fim 83
P L NI O M AR C OS, o poeta do submundo
o D ramaturgo maldito ou simplesmente, o
reprter de um tempo mau, aparece com
um novo estilo em I N TI L C ANTO E
I N TI L P R ANTO P E L OS ANJ OS
C A D OS. M as, sempre com a mesma ira
diante das injustias sociais e a mesma fu-
riosa vontade de incomodar os cidados
contribuintes.
SO PAULO
Departamento de Policia Judiciria de So Paulo Interior
DE IKT E R 6 - SAN T OS
Av. So Francisco, 136 - 2
C
. Andar
C E N T R O - SAN T OS - C E P i Dl 3- ^20
T e!.: 234- 5838 / 233- 3108 ."AX : 33- 3491
C .G.C .: 46.377.800/0002- 08
J: [email protected]
ANIVERSRIO ^ solenidade foi comandada pelo governador e teve a presena de Vera, viva de Plnio Marcos e Rudha, filho de Patrcia Galvo
Cadeia Velha reaberta em clima de festa
FOT OS WALT E R ME LLO
ELCIRA NUNEZ Y NUNEZ
Da Reportagem
A inaugurao da Sala de
Espetculo Plnio Mar-
cos foi o ponto alto on-
tem, durante a reabertura da
Cadeia Velha de Santos. A sole-
nidade contou com a presena
do governador Mrio Covas,
que descerrou a placa indicati-
va da entrega do prdio refor-
mado; da primeira-dama Lila
Covas, do secretrio de Estado
da Cultura Marcos Mendona,
do prefeito Beto Mansur e da
primeira-dama Y lidia Mansur,
da coordenadora das Oficinas
Culturais Pagu, Slvia Rubano;
dos deputados estaduais Edmur
Mesquita e Maringela Duarte,
dos atores Raul Gazzola, Esther
Ges, Hlio Ccero e Cludio
Mamberti, familiares de Plnio
Marcos; Rudha Andrade, filho
de Pagu e Oswald de Andrade,
autoridades e diversas pessoas
ligadas cultura e artes.
Aps assinar decreto que d o
nome de Plnio Marcos ao audi-
trio. Covas disse que as home-
nagens a Plnio e a Pagu so
muito pobres em relao ao que
eles foram. "Dar o nome de Pl-
nio a esse pequeno auditrio
muito pouco. Ele muito maior
do que isso. Tinha integridade, e
ser ntegro no s ser honesto
ser fiel a si prprio, quilo em
que se acredita".
Segundo o governador, "os
dois, como seres humanos, l
em cima, devem estar com os
egos massageados. Embora a
homenagem seja pobre em re-
lao ao que fizeram, com cer-
teza eles diriam que nada me-
lhor do que seus nomes esta-
rem vinculados Cadeia Ve-
lha de Santos. Utilizar esse
espao com as oficinas cultu-
rais Pagu e um auditrio com
nome de Plnio Marcos ajuda
Santos a ficar no lugar a que
tem direito".
O governador, que recebeu o
. trfeu Pagu das mos de Tbni-
;nho Dantas, presidente da Fe-
derao Santista de Teatro
; Amador, destacou que bem mais
importante que a entrega do
prdio reformado a homena-
Igem prestada a duas figuras
Marcos Mendona ressaltou a importncia doptvdio histrico
Covas descerrou afita com Vera, Mrcia Parisi, Ester Ges, Ilydia Mansur e dona Lila
Vera Artaxo: "Plnio gostava das homenagens de Santos"
inesquecveis. "Santos tem que
cultivar isso. Arte no a ex-
presso do que aconteceu, mas
sim a expresso travestida da
personadade de quem a cons-
truiu. E Pagu e Plnio represen-
tam a capacidade de lutar, pro-
testar e se indignar, mesmo que
estejam em jogo as maiores
riquezas".
Em segundo plano, para o go-
vernador, est a reposio dos
equipamentos culturais que vo
servir a milhares de pessoas em
setores diferenciados.
Dimenso maior Tambm o
secretrio de Estado da Cultu-
ra ressaltou a importncia pa-
ra todo o Pas da recuperao
de um patrimnio santista e da
unio de dois nomes marcantes
da cultura nacional no mesmo
local. "Com isso as atividades
vo ganhar uma dimenso
maior nessa rea".
Dentro das homenagens a
Plnio, a mais emocionada foi a
prestada pelo ator Cludio
Mamberti. Na programao es-
tava a leitura de um trecho de
Barrela, mas ele preferiu ler
um texto seu sobre o drama-
turgo. Lembrou o relaciona-
mento dos dois, sua trajetria,
suas peas de primeira linha,
entre elas Dois Perdidos Numa
Noite Suja e Navalha na Car-
ne. "Ele brigava, provocava
com seu humor cido. Estava
sempre envolvido em lutas em
favor dos de baixo. Era um pe-
regrino libertrio".
Representando a famlia com-
pareceram Vera Artaxo, viva
de Plnio, e Mrcia Parisi, sua
irm. Feliz com a homenagem,
Vera disse que todo mundo pen-
sa que Plnio no gostava de ho-
menagens, o que era mentira. "-
Ele ligava sim, principalmente
das que vinham de Santos. Ele
tinha amigos aqui e eles conti-
nuaram. Vejo que no estou so-
zinha. Alm de mim tem muita
gente disposta a honrar os com-
promissos assumidos nas esqui-
nas do Macuco".
Dar o nome de Plnio sala
de espetculos, para ela, tem
muito significado, j que l ficou
preso quando era moleque. "A
priso se transformou agora em
um lugar para instigar".
Pagu e Plnio
representam a
capacidade de lutar,
protestar e se indignar
Mrio Covas J
A reinaugurao da Cadeia
Velha, para Tbninho Dantas,
de valor inestimvel. Alm do
valor histrico, o local onde
so feitos cenrios, criados tex-
tos, onde cresce a qualificao
de pessoas que trabalham com
arte. "Aqui se projeta um futuro
melhor". Mas destacou que a os
atores amadores continuam lu-
tando para que tambm um tea-
tro municipal o Brs Cubas
ou o Coliseu leve o nome de
Plnio Marcos.
Agradecimento especial Du-
rante breve discurso, o prefeito
Beto Mansur fez um agradeci-
mento especial a Mrio Covas.
"Alm de preservar monumen-
tos, est dando a eles nomes de
figuras de destaque, como Plnio
Marcos e Pagu".
A solenidade, que teve msica
do quarteto de Jos Simonian,
marcou tambm a inaugurao
de exposies com xilogravuras
de Lasar Segall e de trabalhos
de artistas da regio. Para en-
cerrar, bailarinos do corpo est-
vel da Prefeitura de Santos
apresentaram coreografia.
Cludio Mamberti leu texto pessoal sobre Plnio Marcos Prefeito Beto Mansuragradeceu aogovernadorpelos santista
"
Santos, 15 de dezembro de 1999
dirio oficial de
SAN T OS
R evitalizao Urbana
Prefeito inaugura hoje monumento
'O Peixe' na Via Anchieta
A entrada da cidade de San-
tos passar a mostrar, a par-
tir das 19 horas, de hoje, um
novo referencial com a inaugu-
rao do monumento O Peixe,
instalado no trevo da Alemoa
junto ao km 64 da Via Anchieta.
A solenidade contar com a
presena do prefeito Beto Man-
sur, e do secretrio de Desenvol-
vimento Urbano e Ambiental,
Antnio C arlos Silva Gonalves,
entre outras autoridades e con-
vidados.
Segunda- feira de manh,
funcionrios de uma empreiteira
gerenciada pela Sedurbam, re-
alizaram os ltimos preparativos
para a urbanizao no entorno
da obra, com a colocao de
placas de grama, pedriscos (pe-
quenas pedras) e a instalao
de um conjunto de refletores,
com lmpadas especiais de 70
watts.
Segundo o assessor da Sedur-
bam, Maurcio Uehara, os servi-
os de urbanizao deveriam
ser concludos ontem, mas a
chuva de final de semana retar-
dou um pouco os trabalhos. O
monumento foi idealizado pelo
escultor e cartunista, R icardo
C ampos Mota (R ica), que fez o
design. " uma obra de grande
porte, com 25 metros de altura,
pesando 35 toneladas e fixada
numa base de concreto de 20
metros, e que com a iluminao
dar um belo efeito visual", ex-
plicou Uehara.
A estrutura metlica feita
com ao caj- or- ccv- desenvolvi-
do por engenheiros da C osipa,
e que, por reao qumica, pro-
voca uma pelcula protetora de
patina, na superfcie do metal,
dando uma colorao ligeira-
mente amarronzada, protegen-
do- a contra a ferrugem.
A obra tem duas hastes me-
tlicas que observadas distn-
cia formam a figura de um pei-
xe, numa aluso cidade mar-
tima. O monumento conta com
o apoio financeiro do Governo
do E stado, Prefeitura de Santos,
alm de parceiros como
C osipa, A T ribuna, SC AC ,
Assecob, Brastubo, E covias, C l-
culos E struturais, Associao dos
E ngenheiros e Arquitetos de San-
tos, T ecntextil e Astec- N T .
'Troca Treco'
volta ao Caminho
da Unio
0 Troca Treco. programa de-
senvolvido pela diretoria de
Meio Ambiente (Dimam), da
Sedurbam, volta hoje ao C aminho
da Unio, no Jardim So Manoel.
A partir das 9 horas, o pessoal da
Dimam j estar com seu posto ar-
mado para atender os moradores
do bairro.
Desde I
o
de outubro, mais de
cem cestas bsicas foram entregues
em troca das quase 35 toneladas de
lixo reciclvel (nesta primeira fase,
somente material plstico) recolhi-
das pela populao participante.
Amanh a vez do Jardim R -
dio C lube. Quem tiver material acu-
mulado deve se encaminhar at a
Avenida Brigadeiro Faria Lima, 495.
At s 13 horas, os funcionrios da
Prefeitura estaro recebendo ob-
jetos plsticos e entregando cestas
bsicas queles que alcanarem
o peso de troca (150 quilos).
Moradores da Ponta da Praia elogiam pavimentao
oradores da
Ponta da
Praia das
ruas que esto
sendo pavimen-
tadas como par-
te do projeto de
revitalizao ur-
bana da Prefeitu-
ra no escondem
a alegria de ver
um antigo sonho
realizado. Uma rei-
vindicao da po-
pulao da re-
gio est sendo
concretizada
com a pavimen-
tao, at o final
da semana, das
ruas Francisco Hayden, Afonso C elso
de Paula Lima, entorno da Praa
Dante Allighieri, C arlos de C ampos, Im-
peratriz Lepoldina, Isidoro Jos R ibeiro
de C ampos e Inglaterra.
C om a repavimentao, os
moradores acreditam que antigos
problemas como o de alagamen-
to e de buracos devem terminar.
Um dos mais entusiasmados com a
chegada da pavimentao asfl-
Luiz Francisco da Silva Mrcia Cruz
tico da Ponta da Praia Luiz Fran-
cisco da Silva, que elogiou o proje-
to do prefeito Beto Mansur: "Final-
mente vamos ter uma rua em con-
dies de trfego para veculos",
comentou, lembrando que o
maior problema enfrentado pelos
moradores da Isidoro Jos R ibeiro
de C ampos era o desnvel dos pa-
raleleppedos e as poas de gua
junto sarjeta.
Reginaldo Domingos dos Sanfos
FIM DOS ALAGAMENTOS
A mesma opinio comparti-
lhada por quem mora na R ua In-
glaterra, que comea hoje a ser
pavimentada. Segundo R eginaldo
Domingos dos Santos, vrios pedi-
dos foram feitos a vrios prefeitos
solicitando melhorias em todo o tre-
cho da rua, principalmente no sen-
tido de terminar com os paralele-
5 ppedos. "Quando chovia era um
| perigo e sempre aconteciam aci-
I dentes com os veculos", observou,
S destacando que finalmente o so-
5 nho dos moradores foi realizado. A
comerciante Mrcia C ruz, do Bazar
E voluo, tambm elogiou a obra,
garantindo que com a pavimenta-
o a rua passar a ter um movi-
mento maior at mesmo de pedes-
tres que antes evitavam o local
devido aos alagamentos e o peri-
go de quedas.
C om o trmino da pavimenta-
o nesse trecho, as obras prosse-
guem em toda orta da praia e segun-
do o diretor de Operaes da Secre-
taria de Desenvolvimento Urbano e
Ambiental (Sedurbam), Luiz Antnio
R osas N eto, devero estar concludas
at o prximo dia 23. "T odo o projeto
de revitalizao da orla deveria es-
tar concludo no inicio do ms, mas
as chuvas prejudicaram o andamen-
to do servio", afirmou, ressaltando
que aps a concluso das melhorias
nas avenidas da praia at o C anal 1,
tero incio a repavimentao das
avenidas Washington Luiz, Francisco
Glicrio, Pinheiro Machado e R ua
Brs C ubas.
dirio oficial de
SANTOS Santos, 15 de dezembro de 1999 I
supermercados.
N
9
219/99 Institui o Programa de Doa-
o de Seringas Descartveis de aplicao
nica com insulina a portadores de diabe-
tes melitus (diabetes tipo 1), nas policlni-
cas do municpio.
N
0
220/99 Autoriza o E xecutivo a con-
ceder bolsa de estudos para professores e
tcnicos como especifica.
N
9
221/99 Institui a Semana de Preven-
o de doenas infecto- contagiosas.
N " 222/99 Dispe sobre a gratuidade
de locomoo no sistema de transporte de
passageiros por nibus, na forma que men-
ciona, s mulheres grvidas que realizem
acompanhamento de pr- natal.
N
9
223/99 Autoriza o Poder E xecutivo,
no mbito de sua competncia, a efetuar
termos de convnio para oferecer estgio
junto ao sistema de sade municipal para
estudantes de cursos profissionalizantes
em grau mdio na rea da sade e d ou-
tras providncias.
N
9
224/99 Perpetua a sepultura onde
jazem os despejos de E merson de Almeida
C oimbra e d outras providncias.
N
9
225/99 Autoriza a Prefeitura Munici-
pal de Santos a estabelecer limite para
gratuidade, s pessoas com mais de 60
anos (sessenta) e d outras providncias.
N
9
226/99 Autoriza o Poder E xecutivo
a conceder subveno a Associao E sp-
rita Beneficente Anjo da Guarda e d ou-
tras providncias.
N
9
227/99 Institui no C alendrio Oficial
do Municpio de Santos o "Dia Soroptimista
da C idade de Santos" e d outras provi-
dncias.
N
9
228/99 Autoriza o Poder E xecutivo
a conceder subveno mensal a entidade
que menciona e d outras providncias.
N
9
229/99 Obriga a publicao do n-
mero do R egistro de E mpresas no C adas-
tro Geral de C ontribuintes e d outras pro-
vidncias.
N
9
230/99 Autoriza o Poder E xecutivo
a instituir o casamento comunitrio no Mu-
nicpio de Santos e d outras providnci-
as.
N
9
231/99 Autoriza a conservao a t-
tulo precrio de construes irregulares e
de atividades que especifica e d outras
providncias.
PR OJE T O DE LE I C OMPLE ME N T AR
N
9
072/99 C ria a gratificao de parti-
cipao efetiva na arrecadao de tributos
para servidores do Departamento da R e-
ceita da Secretaria Municipal de E conomia
e Finanas e d outras providncias.
N
9
076/99 Altera dispositivos da Lei
C omplementar n
9
229, de 13 de agosto de
1996, e d outras providncias.
N
9
077/99 Disciplina o ordenamento do
uso e da ocupao do solo na rea conti-
nental do Municpio e altera a Lei C omple-
mentar n
9
54, de 09 de junho de 1992, que
institui a rea de proteo ambiental - APA,
e d outras providncias.
N
9
078/99 Dispe sobre a atualizao
do valor venal dos imveis para fins do lan-
amento e cobrana do Imposto Predial e
T erritorial Urbano no exerccio de 2000 e
adota providncias correlatas.
N
9
079/99 Altera a redao do artigo 1 ^
inciso I, da Lei C omplementar n
9
158, de
18 de janeiro de 1995, que dispe sobre
os cargos de provimento efetivo da Prefei-
tura Municipal de Santos, e d outras pro-
vidncias.
N
9
080/99 Dispe sobre a nomeao
de cnjuge convivente e parente consan-
gneo ou afim para os cargos em comis-
so ou funes de confiana e empregos
nos poderes executivo e legislativo e d
outras providncias.
N
9
081/99 Altera dispositivos da Lei n
9
3750, de 20 de dezembro de 1971 (C digo
T ributrio do Municpio de Santos) e d
outras providncias, da Lei n
9
634, de 28
de dezembro de 1989 (Dispe sobre o im-
posto incidente na transmisso onerosa,
entre vivos, de bens imveis ou de direitos
a eles relativos- IT BI), da Lei C omplemen-
tar n
9
225 de 20 de julho de 1996 (Dispe
sobre o parcelamento dos dbitos fiscais
relativos ao Imposto Sobre Servios de
Qualquer N atureza e adota providncias
correlatas) e d outras providncias.
N
9
082/99 Dispe sobre a
complementao das aposentadorias dos
servidores pblicos estaduais
municipalizados.
N
9
083/99 Isenta do pagamento da taxa
de remoo de lixo domiciliar os imveis
da C aixa de Peclios e Penses dos Ser-
vidores Municipais de Santos (C APE P) e
d outras providncias.
N
9
084/99 Dispe sobre a reduo do
recolhimento do Imposto sobre a proprie-
dade predial urbana dos imveis que es-
pecifica e d outras providncias.
N
9
085/99 Autoriza gratificao especi-
al de administrao financeira do munic-
pio para os funcionrios pblicos da Se-
cretaria Municipal de E conomia e Finanas.
N
9
086/99 Altera dispositivos da Lei n
9
3.750, de 20 de dezembro de 1971 (C di-
go T ributrio do Municpio) e d outras pro-
vidncias.
PR OJE T O DE DE C R E T O LE GISLAT IVO
N
9
048/99 C onfere a Medalha de Hon-
ra ao Mrito Brs C ubas ao Sr. Joo Sal-
gado Arcanjo e d outras providncias.
PR OJE T OS DE R E SOLUO
N
9
020/99 C ria o C onselho de C ida-
dos de Santos e d outras providncias.
N
9
021 /99 D nova redao aos artigos
82 e 83 do R egimento Interno da C mara
Municipal de Santos.
prodesan
prograno t
dMtnvotvImtnto d*
lAntoi i a.
C OMUN IC ADO
R E F.: T OMADA DE PR E OS - E DIT AL
N " 007/99 - LOC ApO DE E QUIPAME N T OS
PAR A IMPR E SSO E AC ABAME N T O.
Aps anlise das propostas apresentadas
na licitao em referncia foi obtida a seguin-
te classificao:
X erox C omrcio e Indstria Ltda. - 1
a
clas-
sificada nos Itens 01, 02, 03 e 05 respectiva-
mente, impressoras a laser de 17, 32 e 65
ppm e serrilhadora;
Mecanogrtica e Laser Ltda. - 1' classifi-
cada no item 04 - envelopadora.
C omunicamos que encontra- se aberto o
prazo recursal, nos termos do que dispe o
artigo 109 da Lei Federal 8.666/93 com pos-
teriores alteraes.
Santos, 14 de dezembro de 1999.
C OMISSO DE R E GIST R O C ADAST R AL
E LIC IT AE S
C ST C
C ompanhia Santista de
T ransportes C oletivos
E X T R AT O DE ADIT AME N T O
ADIT AME N T O N
fi
: 007/99. C ON -
T R AT O N
9
: 043/96. PR OC E SSO N
9
:
003/96. MODALIDADE : Inexigibilidade.
C ON T R AT AN T E : C ompanhia Santista
de T ransportes C oletivos- C ST C . C ON -
T R AT ADA: Flvio Mendes R odrigues
Guerra- ME . ASSIN AT UR A: 10/12/1999.
OBJE T O: Prorrogao do prazo de vi-
gncia do contrato n
9
043/96- servios
profissionais de informaes forenses.
VALOR : R S 3.000,00. VIGN C IA: 12
(doze) meses.
Santos, 13 de dezembro de 1999.
FE R N AN DO LOBAT O BOZZA
Diretor- Presidente
E X T R AT O DE C ON T R AT O
C ON T R AT AN T E : C ompanhia
Santista de T ransportes C oletivos- C ST C .
C ON T R AT ADA: Alcatel T elecomunica-
es S/A. PR OC E SSO N
8
: 004/95. C ON -
T R AT O N
9
: 005/99. ASSIN AT UR A: 08/
11/1999. OBJE T O: Prestao de servi-
os de assistncia tcnica e manuten-
o preventiva e corretiva na central te-
lefnica instalada na sede da C ST C .
MODALIDADE : Inexigibilidade. VALOR :
R $ 2.390,68. VIGN C IA: 03 (trs) me-
ses.
Santos, 13 de dezembro de 1999.
FE R N AN DO LOBAT O B02ZA
Diretor- Presidente
SOC I E D AD E D E
M E L HOR AM E NTOS
D O J AR D I M BOM R E TI R O
E DIT AL DE C ON VOC AO
ASSE MBLIA GE R AL OR DIN R IA
Fica convocada uma Assemblia
Geral Ordinria, a realizar- se dia 19 de
dezembro de 1999, s 8: 00h em pri-
meira chamada e s 9: 00h com qualquer
nmero, em sua sede social, R ua E zio
T estini, 299 - Jardim Bom R etiro, para
apreciar a seguinte Ordem do Dia, de
acordo com os artigos 27,28,29,31,34
e 35 dos E statutos Sociais.
a) Leitura da Ata da Assemblia an-
terior;
b) Apreciao e votao do balano
relativo ao ano de 1998.
c) E leio dos membros da Diretoria
e do C onselho Fiscal para o binio 2000/
2001.
d) Assuntos gerais.
LUZIA T AVAR E S FALC O
GON ALVE S
Secretria Geral
C ONSE L HO M UNI C I P AL D OS
D I R E I TOS D A C R I ANA E D O
AD OL E SC E NTE D E SANTOS
CONVOCAO
O C onselho Municipal dos Direitos da
C riana e do Adolescente de Santos convo-
ca os seus representantes, e convida a soci-
edade, para a Assemblia Geral E xtraordi-
nria a ser realizada no dia 17 de dezembro
de 1999, na sede da Associao dos C onta-
bilistas de Santos Av. C onselheiro N bias
592. A Assemblia ser iniciada pontual-
mente s 08: 30 horas.
Pauta:
1. Apreciao e aprovao dos
Balancetes do Fundo Municipal dos Direitos
da C riana e do Adolescente.
2. Assuntos gerais.
Santos, 07 de dezembro de 1999.
JIME N A C R IST IN A GOME S AR AN DA
Presidente do C MDC A de Santos
E statuto da C riana e do Adolescente de
Santos
Da Famlia Substituta
Art. 31 - A colaborao em famlia subs-
tituta estrangeira constitui medida excepcio-
nal, somente admissvel na modalidade de
adoo.
CONVOCAO
O C onselho Municipal dos Direitos da
C riana e do Adolescente de Santos convo-
ca os seus representantes, e convida a soci-
edade, para a Assemblia Geral E xtraordi-
nria a ser realizada no dia 17 de dezembro
de 1999, na sede da Associao dos C onta-
bilistas de Santos Av. C onselheiro N bias
592. A Assemblia ser iniciada pontual-
mente s 09: 30 horas.
Pauta:
1. Discusso sobre a freqncia dos con-
selheiros municipais titulares e suplentes nas
plenrias e comisses de trabalho do
C MDC A.
2. Assuntos gerais.
Santos, 07 de dezembro de 1999.
JIME N A C R IST IN A GOME S AR AN DA
Presidente do C MDC A de Santos
E statuto da C riana e do Adolescente de
Santos
Da Guarda
Art. 33 A Guarda obriga prestao de
assistncia material, moral e educacional
criana ou adolescente conferindo a seu de-
tentor o direito de opor- se a terceiros, inclusi-
ve aos pais.
MUT UA ASSIST N C IA DO
PR ON T O- SOC OR R O MUN IC IPAL
DE SAN T OS
C OMUN IC ADO
C omunicamos aos senhores muturios
que no dia 10 do corrente, foi efetuado o pa-
gamento de peclio a Sr* OR C E LIN A DA SIL-
VA GIGLIO, beneliciria do Sr. JOS GIGLIO,
falecido no dia 27 de novembro p. passado,
tendo sido paga a Importncia de R $ 6.356,74
(seis mil, trezentos e clncoenta e seis reais e
setenta e quatro centavos).
WALDE MAR R IAS GOUVA
Diretor T esoureiro
dirio oficial de
SANTOS
Santos, 15 de dezembro de 1999
P roc. 3 71 4/9 9 P L 0 0 84/9 9
Apres: 2 2 /1 1 /9 9
ASSUNTO: Dispe sobre a reduo do re-
colhimento do imposto sobre a proprieda-
de predial urbana nos imveis que especi-
fica e dop.
C J R : 26/11/99
P roc. 3 71 5/9 9 P L C 0 0 85/9 9
Apres: 2 2 /1 1 /9 9
ASSUNTO: Autorizo gratificao especial
de administrao financeira do municpio
para os funcionrios pblicos da Secreta-
ria Municipal de E conomia e Finanas.
C J R : 30/11/99
P roc. 3 746/9 9 P L 0 2 2 5/9 9
Apres: 2 5/1 1 /9 9
ASSUNTO: Autoriza a PMS a estabelecer
limite para a gratuidade, as pessoas com
mais de 60 (sessenta) anos e dop.
C J R : 30/11/99
Dados atualizados at 30 de novembro
de 1999.
C AR L OS M ANTOVANI C AL E J ON
P residente
Diretoria Legislativa da C mara Muni-
cipal
Santos, em 30 de novembro de 1999.
M AR I L ZA SAL GAD O M OUR A
D iretora L egislativa
R E L ATR I O M E NSAL D AS
C OM I SSE S E SP E C I AI S D E
VE R E AD OR E S
NOVE M BR O/1 9 9 9
R equerimento n" 1 2 8/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Acompanhar todas as iniciativas
da Secretaria Municipal de Finanas, refe-
rentes aos ambulantes e feiras- livres.
R equerimento n" 1 3 3 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Acompanhar os estudos e de-
mais providncias, visando o aproveita-
mento do Aqurio e Orquidrio, objetivando
a implantao de complexo turstico junto
iniciativa privada.
R equerimento n
9
1 2 9 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Promover estudos e anlise da
viabilidade da implantao de infra- estru-
tura para o desenvolvimento da rea C on-
tinental.
R equerimento n
9
1 2 5/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Promover estudos junto s au-
toridades competentes, visando a cesso
em comodato de reas localizadas junto
aos leitos das vias frreas do municpio.
R equerimento n
9
42 7/9 9
Apres. em 1 8/0 3 /9 9
Assunto: Acompanhar a implantao de
polticas de atendimento 3
a
Idade, junto
ao C onselho Municipal do Idoso.
R equerimento n
9
56/9 9
Apres. em 0 1 /0 2 /9 9
Assunto:T ratar da questo das bancas de
jornais.
R equerimento n
9
3 569 /9 9
Apres. em 1 3 /0 9 /9 9
Assunto: Fiscalizar o cumprimento da Lei
Pele que viabiliza a abertura de bingos com
o escopo de ajudar o esporte amador.
R equerimento n
9
480 /9 9
Apres. em 2 2 /0 3 /9 9
Assunto: E studar assuntos relativos
C aixa de Peclios e Penses dos Servido-
res Municipais de Santos- C APE P.
R equerimento n
9
3 .1 3 0 /9 9
Apres. em 1 9 /0 8/9 9
Assunto: T ratar junto ao Sindicato dos
T ransportadores R odovirios Autnomos e
C ooperativa dos T ransportadores Autno-
mos, o cumprimento das Leis n
9
s 407/88 e
741 /9 1 .
R equerimento n
9
69 1 /9 9
Apres. em 2 2 /0 3 /9 9
Assunto: T ratar junto C odesp, Polcia
Federal e proprietrios particulares, da
viabilizao de campos para a prtica de
futebol e demais atividades esportivas.
R equerimento n
9
1 2 6/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Acompanhar os trmites referen-
tes extino da C arteira de Previdncia
dos Vereadores.
R equerimento n
9
1 3 8/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: T ratar da instalao de ciclovias
na cidade de Santos.
R equerimento n
9
2 79 /9 9
Apres. em 1 7/0 2 /9 9
Assunto: Propor polticas de envolvimento
da comunidade no combate dengue.
R equerimento n
9
1 40 /9 9
Apres. em 0 8/0 4/9 9
Assunto: T omar, a nvel municipal, as me-
didas necessrias para que sejam devida-
mente comemorados os 500 anos de des-
cobrimento e desenvolvimento do Brasil.
R equerimento n
9
3 0 2 /9 9
Apres. em 1 8/0 2 /9 9
Assunto: Acompanhar junto Prefeitura
de Santos, todo o planejamento com rela-
o ao concurso pblico que ser efetua-
do durante este ano de 1999, de conformi-
dade com a Lei 650/90.
R equerimento n
9
2 76/9 9
Apres. em 1 7/0 2 /9 9
Assunto: E studar propostas para a polti-
ca cultural da cidade e reativar o C onselho
Municipal de C ultura.
R equerimento n
9
2 2 2 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: T ratar da contaminao
ambiental, com prejuzos do solo, ar, de
lenis freticos e do esturio.
R equerimento n
9
1 3 0 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Ampliar a anlise da situao
econmica e financeira da C .S.T C .
R equerimento n
9
2 72 /9 9
Apres. em 1 7/0 2 /9 9
Assunto: T ratar da defesa da cidadania e
dos direitos humanos em nosso municpio.
R equerimento n
9
3 0 0 /9 9
Apres. em 1 8/0 2 /9 9
Assunto: T ratar com urgncia da implan-
tao de uma Delegacia E specializada da
Mulher, na Zona N oroeste.
R equerimento n
9
2 .0 76/9 9
Apres. em 0 3 /0 5/9 9
Assunto: T ratar do assunto referente a
"Depsito de Lixo e E ntulho" em vrios
pontos da cidade.
R equerimento n
9
3 66/9 9
Apres. em 2 2 /0 3 /9 9
Assunto: Promover discusso com a co-
munidade santista, objetivando o retorno
dos desfiles pr- carnavalescos, do Banho
da Dorotia, bem como os desfiles carna-
valescos das bandas e E scolas de Samba
no ano 2000.
R equerimento n
9
455/9 9
Apres. em 2 2 /0 3 /9 9
Assunto: E fetuar estudos junto SE AC ,
para tratar de assuntos referentes a dro-
gas, bem como reativar o C onselho Muni-
cipal Anti- Drogas.
R equerimento n
9
2 1 /9 9
Apres. em 0 1 /0 2 /9 9
Assunto: T ratar do E ngenho dos E rasmos.
R equerimento n
9
42 8/9 9
Apres. em 1 8/0 3 /9 9
Assunto: Acompanhar a implantao do
E nsino R eligioso nas escolas da rede mu-
nicipal, de acordo com a Lei Federal n
9
9.475, de 22.07.97.
R equerimento n
9
3 .0 1 7/9 9
Apres. em 0 5/0 8/9 9
Assunto: E xaminar e procurar solues
para todos os assuntos ligados ao
E ntreposto de Pesca que enfrenta
gravssima crise que culminou inclusive
com o corte da energia eltrica.
R equerimento n
9
2 9 0 /9 9
Apres. em 1 8/0 2 /9 9
Assunto: T ratar da devoluo do Imvel
da E scola Japonesa aos seus antigos pro-
prietrios.
R equerimento n
9
73 1 /9 9
Apres. em 0 5/0 4/9 9
Assunto: Apurar as condies de manu-
teno, limpeza e segurana das escolas
e creches da rede municipal, bem como
adotar providncias para a soluo dos
problemas verificados.
R equerimento n
9
2 74/9 9
Apres. em 1 7/0 2 /9 9
Assunto: Lutar contra a desativao da
E E SG E scolstica R osa, bem como de
outras escolas estaduais e garantir a ma-
nuteno de cursos tcnicos e de supln-
cia em nossa cidade.
R equerimento n
9
2 75/9 9
Apres. em 1 7/0 2 /9 9
Assunto: Discutir a ampliao do horrio
de atendimento ao pblico dos estabeleci-
mentos bancrios de Santos.
R equerimento n
9
70 0 /9 9
Apres. em 2 2 /0 3 /9 9
Assunto: T ratar de estacionamento de
caminhes, que dever ser instalado em
rea da R ede Ferroviria Federal.
R equerimento n
9
2 89 /9 9
Apres. em 1 8/0 2 /9 9
Assunto: E fetuar estudos sobre a possibi-
lidade de criao do E stado da Baixada
Santista.
R equerimento n
9
2 3 7/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Acompanhar a reviso do E sta-
tuto do Magistrio Pblico Municipal.
R equerimento n
9
3 9 9 9 /9 9
Apres. em 0 6/1 0 /9 9
Assunto: T ratar dos assuntos ferrovirios.
R equerimento n- 59 6/9 9
Apres. em 0 8/0 4/9 9
Assunto: E studos para a realizao do
Festival de C inema de Santos, tendo em
vista a divulgao do cinema e o incremen-
to do turismo na cidade.
R equerimento n
9
2 .81 8/9 9
Apres. em 2 1 /0 6/9 9
Assunto:Apurar possveis irregularidades
na fiscalizao de obras por parte da Pre-
feitura Municipal de Santos.
R equerimento n
9
2 78/9 9
Apres. em 1 7/0 2 /9 9
Assunto: T ratar da poltica salarial e ad-
ministrativa do funcionalismo municipal.
R equerimento n
9
2 .81 9 /9 9
Apres. em 2 1 /0 6/9 9
Assunto: Propor medidas para a
revitalizao da Fundao Pr- E sporte e
Programa Adote um Atleta, objetivando a
retomada de polticas voltadas ao incenti-
vo prtica de esportes.
R equerimento n
9
2 3 8/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: E xaminar junto ao E xecutivo, o
que se pretende com relao a criao do
chamado Fundo de Previdncia dos Servi-
dores.
R equerimento n
9
2 77/9 9
Apres. em 1 7/0 2 /9 9
Assunto: Avaliar e estudar os nveis de
desemprego na cidade e propor polticas
pblicas alternativas para gerao de em-
prego e renda.
R equerimento n
9
2 1 1 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto:Acompanhar questes disciplina-
res e inquritos referentes Guarda Muni-
cipal de Santos.
R equerimento n
9
3 1 3 9 /9 9
Apres. em 1 6/0 9 /9 9
Assunto:Analisar o servio de hemodilise
no municpio.
R equerimento n
9
57/9 9
Apres. em 0 1 /0 2 /9 9
Assunto: Viabilizar recursos e demais ne-
cessidades dos hospitais pblicos e priva-
dos da regio.
R equerimento n
9
0 2 /9 9
I Santos, 15 de dezembro de 1999
dirio oficial de
SANTOS
Apres. em 0 1 /0 2 /9 9
Assunto: Juntamente com o Instituto
Gestor dos Hospital Internacional dos
E stivadores, reativar o referido hospital,
transformando- o em comunitrio.
R equerimento n
a
45/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: C onhecer a verdadeira situao
do antigo Hospital Psiquitrico C asa de
Sade Anchieta, transformando- o em N -
cleo de Apoio T xicos- Dependentes.
R equerimento n
9
1 .868/9 9
Apres. em 2 9 /0 4/9 9
Assunto: C om a finalidade de se verificar
as condies administrativas, ambientais e
de manuteno das empresas localizadas
na Ilha Barnab.
R equerimento n
9
1 41 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Apurar a real situao dos im-
veis da Prefeitura Municipal de Santos.
R equerimento n
9
1 61 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: E studar junto ao Prefeito Muni-
cipal, a contemplao de iseno e dimi-
nuio das taxas do IPT U. para uma faixa
de aposentados.
R equerimento n
9
76/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Buscar solues para extino
da cobrana da taxa de Laudmio. Foro e
Ocupao.
R equerimento n
9
43 /9 9
Apres. em 0 8/0 4/9 9
Assunto: Ampliar o nmero de leitos hos-
pitalares no Hospital Dr. Arthur Domingues
Pinto localizado na Zona N oroeste.
R equerimento n
9
1 9 9 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Discutir a disposio final do lixo
de nossa cidade, inclusive a operao do
Lixo da Alemoa.
R equerimento n
9
2 2 0 -A/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: R ealizar avaliao da tributao
do lixo sptico.
R equerimento n
9
1 3 2 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Promover estudos visando a
construo de Marinas na Ponta da Praia.
em parceria com a iniciativa privada.
R equerimento n
9
1 57/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: T ratar da escolha dos premiados
com a Medalha Giusfredo Santini.
R equerimento n
9
1 69 1 /9 9
Apres. em 0 6/1 0 /9 9
Assunto: T ratar dos assuntos ligados ao
Mercado Municipal.
R equerimento n
9
79 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Manter contato com Prefeitos.
Vereadores e representantes de segmen-
tos sociais e econmicos das nove cida-
des da [
cesso d
R equerimento n
9
1 9 /9 9
Apres. em 0 1 /0 2 /9 9
Assunto: T ratar da implantao do
monotrilho.
R equerimento n
9
2 .40 1 /9 9
Apres. em 2 7/0 5/9 9
Assunto: Acompanhar as investigaes
desenvolvidas pelas autoridades de sa-
de para diagnosticar as sete mortes fulmi-
nantes ocorridas nos ltimos meses, cujas
causas so desconhecidas, mas que apre-
sentam as mesmas caractersticas de he-
morragia interna com falncia mltipla dos
rgos.
R equerimento n
9
2 73 /9 9
Apres. em 1 7/0 2 /9 9
Assunto: T raar poltica pblica para a
conquista da cidadania por parte das pes-
soas portadoras de deficincia.
R equerimento n
9
2 1 0 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Acompanhar a execuo da po-
ltica habitacional do municpio e dos pro-
jetos habitacionais em andamento.
R equerimento n
9
2 88/9 9
Apres. em 1 8/0 2 /9 9
Assunto: T ratar dos problemas relativos
poluio sonora.
R equerimento n
9
44/9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto:Acompanhar todos os problemas
decorrentes das pessoas que moram nas
ruas do municpio de Santos.
R equerimento n
9
2 0 1 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Acompanhar as mudanas no
Porto de Santos.
R equerimento n
9
3 1 40 /9 9
Apres. em 1 6/0 9 /9 9
Assunto:Apurar possveis irregularidades
na construo do prdio comercial locali-
zado na Av. C onselheiro N bias com a Av.
Francisco Glicrio.
R equerimento n
9
1 3 1 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: Analisar e acompanhar todos os
projetos em execuo e a serem executa-
dos pela Prodesan S/A., em parceria com
a iniciativa privada.
R equerimento n
9
2 2 0 /9 9
Apres. em 0 8/0 2 /9 9
Assunto: T ratar das condies de traba-
lho dos profissionais da rea de sade.
R equerimento n
9
55/9 9
Apres. em 0 1 /0 2 /9 9
Assunto: Viabilizar a 3
a
fase do Projeto
Habitacional Athi Jorge C oury.
R equerimento n
9
42 6/9 9
Apres. em 1 8/0 3 /9 9
Assunto: Acompanhar e propor estudos
que visem a reestruturao habitacional e
urbanstica no C entro da cidade.
R equerimento n
9
40 60 /9 9
Apres. em 0 7/1 0 /9 9
aixqda C ontista, includas no pro- Assunto:Junto s autoridades competeq-
^fbbli^b: ''
c
' -
!
'
f
'
M
3
T
*
2
. . ^
-
_
5 - ANEX O: ** *
0I3
<P)
"
M?
6 REFERNCIA:
I
1* 0 ter PLNIO BUBCOS proferia paloetim, a 30ICAI78
na Mia da aula B 6 da ?aculdeda d moaofla, Clnolaa a Letraa
da 3antoa
t
abordando a aituao do taatro no Braail a ontroa aaaun
toa, prlnclpalBenta polltlooa.
2. A palaatra foi pronorlda paio Diretrio Acadnloo -
-Frei Onapar*, a
t
tendo ea vlnta que teve que eer reallaada aa
uzaa aala da aula por no terea conae/uldo autorizao para uao do
anfiteatro, foi aaslatlda por oaroa da 150 aatudantaa, ooaprlaldoa
na ala a attf aentadoa ea tomo do ator.
3. FLXBIO MBCCS, uaando voonhulrlo prdprlo de unlraral
trloa a pornogrfico (palavra da baixo calo), agradou oa eat^
dantaa a, entre outrae oolaaa, dlane o aegulntet
a. a aituao do teatro, do olnesa a do artlnta nado
nala 4 a pior poanTel, e a oulpa 4 da censura a da falta de apoio
da drgoa goremanentala que davlaa Incranantar aa atlvldadaa art^d
tlcaa;
t. a tal "Regulamentao da Proflaac do Artlata" nao
paaaa de aala oa golpe do governo, que em troca da nlgalhao exigiu
BUito do artlata, Incluolv atando-o a ua regttlaaentof
o. o gorerno 4 aanobrado palaa aapraaaa anltlnaolonala
a pro laao nio tea Intareaaa pelo teatro, preferindo dar apoio a
outroa drgoa eu atlvldadaa que atlnjaa grandea aaaaaa da conau^.
dore, cone 4 o oaao do futebol, qaa, alrfa de toda a propaganda da
lapranaa (at# da -Hora do Braoll"), foi apoiado pela conotruo da
grandea eatttdloa, coao o Maracaai, laeaaaba a MoruaM (para oonetrsj
ao daata dltlao foraa ooupadoa Wrloa eaapoa varaaanoa), a agora
mU oa oarapoa da Wraaa aato* aendo alugadoa aa So laulei
d* abordou oa aorlaantoa naclonaia atual*, coao o 00%
^
w
^i
r
A m >niti>. finlata a da Igreja^
QUALQUER PESSOA QUE TOMAR CONHECIMENTO DESTE
ASSUNTO FICA RESPONSVEL PELO SEU SIGILO. Art. 62
do Regulamento para a Salvaguarda de Assuntos Sigilosos
(Dec. Fed. n? 60.417/67).
1
C ON FIDE N C IAL
CONTINUAO
morna
, .GO^lBEWei AL
i-li
o.
I
citou trabalho te Igv)* no* aorro, ! !
ftltelas tnign* te pl, itcndo oontato airto om o poro
m problM| loiloa D, mRI"TO IMS D.D4TH) PICXO, qaallfl
oao-o te os -llmanado" ao momnto, dlaondo qo pcnawi m i
sftr algo pela haoanldatej
f conclaaou 00 ostatentos a aglrea te a*soa foraa
saindo a raaa procurando c pera, deixando a "pricc" te \JafT
cidade c ates aoTlmentoa ieoladea te pcuoc catendiacnto c eftlto
na populao, poia c trabalhador jaoaia ac aliar ao cetudaate te
foma cose cata ca agindo} para conquiat-lo, o aatudaatc deve 0051
Tirar oca eeua pretolenac e aua culturat
g. diaae que a cultura braailaira em aendo extinta
violantaBcate pclae altinacicnaia, citadc coao exeaplo a ritdria
da Kaoola te Sa
a
fea Beija-Plor, campe do camaTal carioca oca ter
ellior saaMata, o aalhor oompeaitor, o melhor meatre sala e a
melhor hateria, anoendo pela fora
M
eeBSigMlora
N
doe trajee e alj.
oriaa e pela contratao de figures e "aalheres boaa- do cenrio
ar tia tico nacional; oom ieac, cegando ele est deaa parecendo aais
wa cultura 00 o negro senO sMa-ginalisado dentro daquilo que
ele prdprio criou 1 que no Rio de Janeiro ieeo em criando um new
problema nacional, poie o fato foi aproveitado palas aultlnaoiamaia
introduaindo o blaok-oamha
,,
t
impingindo o uao de deteroinado tra
jes, corte de cabelo, etc, e iniciando m preconceito raiial oeag,
lhante ao exietenta nos Estados ttaidos, sendo exemplo as tabelas
de preo noe bailee do "blaek-aaaba" que disamt-Negro - O rt 10,001
Branco - Cf$ SO.OO"! e que daqui a algum tempo, quando a aituao
se agravar, eer tratada como meTlmeatc aubwrsi^o", introdusido
paios ocmaniatast
h* coaoloou oa estudantes a no deaiatirem te luta
pela TOE - Unio Ilaoional dos Estudantes, unindo-ae a entidadee -
qua lutam por aelhoraa diaa, citando como forte aliada a Igreja,
maa que oa prdprioa oetcdantee 4 que dewm liderar es movimentos,
porque a Igreja mutet alm te ser tambm noa ultinacicoal, oaa
simples trooa te papa pode mudar a situao, bastando recordar -
1964, quando a Igreja. <! W
1
*
0
P
0
^
ni
ott
* ""i*^*
da famlla
,,
a fU^cr da Resoluo que hoje ai eeti que apeaar te
falar muito em liberdadee democrticao, nunca ecube de um "papa-
hdatia* que tivoase otade para eleger o Papai
i. enalteceu o moviainte te reeiatnoia ecolgica, -
que recebe um falac apoio do governo citeu Caucaia do Alto, iadte
QUALQUER PESSOA QUE TOMAR CONHECIMENTO DESTE
ASSUNTO FICA RESPONSVEL PELO SEU SIGILO. Art. 62
Regulamento para a Salvaguarda de Assuntos Sigilosos
Dec. Fed. n' 60.417/67.
CONTINUAO
n-
f0WR B&MC IAL
*ri 03^
f
f:
3- .
C O
d
o
Aidiitrl d eeloloae ao Klo J&rana^UMOA, uaicaa nucl&r e 1]^
xe atomloo;
J. ao flaal, apa raaperidar pergunta doa aRtud^nt,
fXO KA2CC; dlaea aoparar hartr Inquietado oa iaraantaa
v
agrade
oaodo a praaena, oolooando & Tonda al^uno da aaua liTroe.
4* '-.atra oa atadantea prtnentca aatava^t VARC^LC AIBS^
10 FAGCICU, .rraidenta do CA. Arai Saapar, ^ALD^XAR DIBIAI, 71
oa-Praaidaata do S.A., ASTS. JALL8
V
OIL
T
v
GUILH-.EI. [Al a outros
QUALQUER PESSOA QUE TOMAR CONHECIMENTO DESTE I
ASSUNTO FICA RESPONSVEL PELO SEU SIGILO. Art. 62 I
Regulomento cara a Salvaguarda de Assuntos Sigilosos'
Dec. Fed. n' 60.417/67.
C ON FIDE N C IAL
MIN IST R IO DO E X R C IT O
11 E X R C IT O 2.a D. E .
C OMAN DO DA AR T ILHAR IA OIVISION flR IA/2
2.a Seo
Santos, SP..../). de OUtttbCQ de 19,75,
I NF OR M AO N .
0
365/75-
E
2
1-ASSUNTO: PLIHIO FARCOS
2-ORIGEM: AD/2
3-DIFUSO: DOPS
4-DIFUSO ANTERIOR:
5-REFERNCIA: Info n 41l/75-IX )PS
f
Dt 15/10/75.
6-ANEXO:
P- 5338/3
Solicito que essa AI acompanhe a reunio do epigrafado ,
prevista para o dia 25 do corrente ms e, nos envie um relatrio
da mesma.
Al)/2-
^ ^
S.G . -S.S.P. -Mod. 7
SECRETARIA DA SEG U RANA PBLICA
DOPS/DELREPOI/SANTOS
(DEPKNDNCIA)
Sats, 24/10/1975.
I1E Sr,
Paul de Paula Phirbert
< /.
S-, ds Imrestigadtres da DOPS
Nesta.
Segue, ea amexe, recerte d*
j*rmal
, ,
A TRIBUNA", datade de 24 de eutubre de
1975, refereate a PLNIO MARCOS, que real
debate aberdaade Taries teas, fate pele g^ /
deterai a S.Sa# que p^ ceda\
n
ebse^vaQ5*s
, ,
de
referide
H
debate".
Atendo!
O Delpe: iTi-
da D0PS/SANT03
Bel JesjBAurelie Cardese.
..JZ fc-t 'U^etaU^p^.
Plnio Marcos
vem debater
Cultura Popular
?r
O aniquilamento das
manifestaes espontneas
do povo, podadas pela
importao da cultura era
todos os meios de comuni-
cao; a restrio do mer-
cado de trabalho que atin-
ge o artista brasileiro, e a
acomodao dos jovens so
alguns dos ternas que PU
nio Marcos abordar ama
nh, no Sindicato dos
Metalrgicos, quando vir
- pela ltima vez neste ano
- repetir o debate que j
realizou em setembro.
Temas desse ltimo
encontro e novos assuntos
sero abordados pelo dra-
maturgo santista, que ir
noite ao Sesc, para apre-
sentar seu show Humor
Grosso e Maldito das
Quebradas do Mundaru.
Os ingressos para o debate,
que tem inicio marcado
para as 15 horas, podem
ser encontrados no Sindi-
cato dos Metalrgicos, na
Av. Ana Costa, 55. e cus-
Plinio Marcos:
debate informal
tam Cr$ 5,00 (do direito a
duas pessoas).
O show ser mostrado
no Sesc - Av. Conselheiro
Nbias, 313. O baile tem
incio marcado para as 23
horas, e o ingresso custa
Cr$ 10,00. No ser permi-
tida a entrada de menores
de 18 anos.
PimO MRC03:-
Chamou o governo de corrupto pois d subveno s ms peas teatrais.
Disse que est processando o Ministro da Justia , pop este ter censurado
sua pea Abatjour IPS", O ! caso acontecido.
Disse ser contra o J 477 e contra o governo," aas a favor da Ptria,
Chamou o Motral de Mentira,
Suas naiores crticas versaram sobre a CENSU RA- que s deia passar as
n
porno-chanchadas"
f
" e veta as peas que mostram a realidade brasileira,
que mostram a misria
y
a fome e a corrupo
Quanto ao Show no Sese, s foram apresentadas piadas ( de baixo calo)
sendo que no seriam competncia desta DOPS,
DLBOACXA DE ORDSM PO.ITICA b OCl/VLmaAL
RLJtATOaiO
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Assunt- Cferonela debato d Pllnl Marc
9
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Segotnd determinaes de VS
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estlvoaes ne Sln
dlcate des Metalrgicas de Sentes, dia 25 de corrente, quande-
ende e artista PLNIO MARCOS se apresentaria debatonSe caa a
plata*
Cerca de (70) em sua totalidade jevems ceapareoc-
aa para euvlr e aplaudir e artista, eraa alunos das faculdades
1 hgenharla-Artes Plasticaii-CiDAN-CaounlcaIes Fllesefla.
0 debota fel um fracasse, se lovarmas em centa
< eapareclsente*
Mas essa platia diminuta deixou-se eorelgar pele
rader, que tem duvlla alguma "dentre de seu estile s
a
be agradar*
Plnio Marcos, atacou frontaloente e Governo, dlaen
de ol
a
r
6
Mente,''que estava serria criada no peve,atrave
5
de inten
ta prepagandatUmaRientalldade e que estamos sendo vendido ao
poder estrangeira
Incitou es presentes, especialmente aos Jovens a
uma luta especifica, dentre de seu campe de trabclhe e de estu-
des, a favor da 1 berdade de expressas*
Presente ao debate, notamos a presena de GERALDO
FHRRONS, que em determinado taomente pediu a palavra "enalteceu
a figura de Plnio Marcos
Tambm notamos a presena de deputado Feferal*!
RTO MARCELO G/.TTO, nae fes nenhum pramnalmente, fel ae
o, llmltsnde-se a abraar e cochichou "algo* ae euvlde de
sta.
0 empresaria de PUnle Marcas, mais conhecido per
"mNTAIQlA'*, fol^claro quando disse a um grupo de jevems "Que
estes debates sae para Inquietar o Governe'
1
e a receptividade
no grupe que ouviu tal. fel grande.
Devemos frisar que a maioria ne auditrio era cans
tltuld per moas, estudantes, bastante empolgadas com o que
auvi n.
, Bi dado moaento houve um principie de agitao,
quande dois elementos, que se Intitulando "RBraBSTAllT8 00
P0V0% comearam argulr o conferencl:Jta sobre salrios, e Pllnle
fuglti a esse tipo de debate, nae respondendo*Os dois per varias
vezed empregaram as palavras "PHOTELARIADO C BlJRG^JEiIA
,,
.
Nae fel passvel Identificar nele neae.nenhum dos
dois, mas posteriormente ficamos Sabendo que sae de Vicente de
Carvalho
Quiseram contratar o artista, para levar e "debate'*
ate quola localidadenae chegando entretanto a um acordo cem e
: - rio,
1
c quem itl cJiiliccll .::.
Bi um momento des debates foi citado o nome de d
vogada IBERS BANDEIRA DE MELLO,que ne Supremo Trlbiuisl,defende
Plinlo.,para a liberao da pea *0 ADAT-J0U1 LILS".
Pomos tambm Infernados de que e empgarlo de PU
nle anda meio apavorado com es Qrgaes de
deixado transparecer tal.
Sendo o que tnhamos a Info
3 ^'
f;i
ipol tem
""
SE C R E T AR IA DA SE GUR AN A PBLIC A DO E ST ADO DE SO PAULO
DE LE GAC IA DE OR DE M POL T IC A E SOC IAL - DE R AL
SE O DE IN FOR MAE S
Santos,. ..^.^epututro de 1975.
1. Assunto: PL NIO MABCOS
2. Origem: AD/2
3. Classificao:
4. Difuso: AD/2
5. Referncia: Inf.ni 365 da 20-10-75 do AD/2
6. Anexo: Helatorio sobre conferncia realizada pelo epigraf-ido
IN FOR M ao N .
0
430,
Atendendo solicitao contida na Informa-
o nt 365 de 20 do corrente, anexamos presente, Relatrio obre a
Conferncia realizada por PL NIO MARCOS no Sindicato dos Metalrgicos
de Santos, dia 25 p.p.
-. 62 - Dec.
? no de
-V
SE C R E T AR IA DA SE GUR AN A PBLIC A DO E ST ADO DE SAO PAULO
D E L E GAC I A D E OR D E M P OL TI C A E SOC I AL - D E R AL
SE O DE IN FOR MAE S
Santos. ^^..P^^rp.^ 1975,
1. Assunto: PL NIO MARCOS
2. Origem: AD/
2
3. Classificao:
4. Difuso: AD/2
5. Referncia: Pedido de Busca nt 080/75-E2 de 9-10-75
6. Anexo: Cartaz de propaganda para a apresentao de Plnio Marcos
R E S i J l V ^ i 0
INFORM ao N.
0
411/75
Em resposta ao Pedido de Busca n
8
080/75-
E2 de 9-10-75, comunicamos que o Servio de Censura da Polcia Fede-
ral poder fornecer maiores infonnaoes sobre a conferncia que PL -
NIO MARCOS realizou dia 25 de Setembro p.p. e que esta DOPS somente
possui o recorte de jornal referenciado no PB em questo. No entanto,
consta que, durante a palestra, PL NIO MARCOS teria tecido crticas
ao governo federal.
Outrossim, infomamos que o mesmo voltara
a apresentar-se no SESC (Av. Consi Nebias, 313)i no prximo dia 25,
s 23 horas^ conforme cartaz em anexo.
0 r
P E L A ;
DS.
n."
Sah
R E SPON SVE L
; de
T
C ON FIDE N C IAL
MIN IST R IO DO E X R C IT O
II E X E R C IT O 2.o D. E .
COMANDO Dfl IIIILHIHIIDIVISIOIRU II
2,a Seo
Santos, SP JLe WWbff de 19.J.5...
PEDIDO DE BUSCA N.o. _.. 080/ 75-221)F
1-ASSU NTO: PL RIO MARCOS
2-ORIG EM- AD/2 (PB n 482/75-LS-II Er, Dt 06/Out/75) P, 1257/7
3-DIFU SO: DOPS - DPF
4-DIFUSO ANTERIOR:
5-REFERNCIA:
6 - ANEXO:
JK^
DADOS CONHECIDOS!
O epigrafado realizou uma Conferncia dia 25 Set 75 em
Santos/SP
f
no G insio do SESC, para um grupo de 200 jo%ens.
Alguns trechos da palestra de PL NIO MARCOS foram putli
oados no Jornal "A Trituna" de 28 Set 75 (domingo), pgina 18, /
onde se verifica algumas declaraes de contestao.
DADOS SOLICIIADOSi
- Se Essa conferncia foi acompanhada por essa AI.
- Se foi solicitada autorizao para realizao da mesma
e quem a forneceu*
- Relatrio sucinto do que realmente ocorreu durante a
palestra e dehates.
.AD/2.
>^ "^
C ON FIDE N C IAL
Pc- 18
m
i ^v
{Plnio na defesa
Domingo, 28 de setembro de 1975 A TRIBUNA
da cultura popular
Oaniquilamento das manilestaoes espontneas do
povo. podadas pela importaro de cultura em
todos os meios de comunicao, especialmente na
TV. O amesquinhamento do mercado de trabalho
para o artista nacional, sujeito a toda ordem de
lies vis para exercer suas Junes. O
: ;IS A acomodao dos jovens. A
de sentido na montagem de peas de autores estrangei
\ ro quando didinaturgos brasileiros so violentamente cer
I ceados pela rigidez da censura. A aplicao de vultosas ver
j bas Rovernatnemais na contratao de grupos teatrais de
| fora que exibem experincias desvinculadas da nossa reali
i dade. A condiro atual do escritor que ousa combater o sis
( tem<i e \mr : sso perde o direito sobrevivncia ( a qual
qui: i [uadrado no 59
imargura, ainda a capacidade de lazer
bunior dos vistos no meio artstico. F. no
Einal i sofrida, mas corajosa, de quem conse
guiu l nundialmente conhecido, mas mesmo assim
;i(loiiar o Pais: "Podem tomar tudo da
r jiol
i na Vou manter acesa a promessa
is do quarteiro: vou ser um tuero
m. K por isso no aceito ser bom pela meta
de;.
o o dramaturgo santista Plnio M
fiilim r,,i quinta [eira noite, no ginsio do Sesc, pai
18 -' pOUqOl!
...
ii."ontrou i inuar mantendo sua ramilia:
npregado. Fui despedido do jornal, minhas,
esto proibidas - todas - e no tenho acesso televi
so. porque contesto a forma mesquinha como eles vm ani
.,i cultura Por isso sou obrigado a cobrar
com expresso triste depois de bombardeg
ira e meia com o relato "do reprter de um
tempo mau".
Qual foi a repercusso?", perguntava Plnio Marcos,
ia!, a pequeno grupo que o acompanhou a uma sala do
Sesc, resposta de que "todos tinham gostado", ele comcn
A inteno no foi agradar. Eu quero sim, incomo-
Nossos heris: "cowboys do westem"
"Quando eu digo que americano morto trabalha na TV
mais que ator vivo brasileiro, no estou brincando, a pura
verdade. Nossas crianas cultuam como heris os soldados
americanos, Mas no sabem nada do Exrcito brasileiro,
No conhecem os heris que integraram a Fora Expedicio-
nria Brasileira,
"O americano diz que o Brasil no teve participao na
guerra, e nossos filhos acreditam. Mas houve poca em que
o Exrcito brasileiro combateu o nazismo. Porque nossa tra-
dio sempre foi a de combate ao nazismo. Mas nossos
filhos no sabem disso A televiso s mostra os heris
americanos. F iiitinuo a combater a importa
opresso. Por
heris da minha rua que
pertenoTam FEB. como o Z Batateira, e tantos outros
que eram nossos amigos como se a rua fosse uma grande
famlia naquela poca, a gente do Macuco agia como uma
grande famlia. Trocava caf no muro, falava mal um do
outro. Hoje. as pessoas preferem discutir as senhorius da
TV).
: de s divulgar cultura importada, a televi
a artista nacional para amesquinh Io.
Contrato de trabalho na novela assinado junto com uma
clusula Se o artista no der Ibope, eles matam o persona
gcm e o ator est desempregado. E quando esto trabalhan
s artistas so obrigados a passar por todo tipo de humi-
5o.
eu no estdio da Tupi,
num dia de muito calor, La luzia 40 graus sombra.
ria tomar parte um co So Bernardo. Pois
bem. o dono iio cachorro quando sentiu a temperatura do
r impediu que o animal entrasse em cena. Ento, a dire
o da emissora providenciou um ventilador para o cachor-
ro. Mas s para o cai borro"
icrm prefere no denunciar esses
mpreguinho na TV sujeita se
is humilhaes. Um dia. uma atriz tentou fazer dife-
rente. Ela vinha do Rio. com condies de trabalho melho-
res na Globo, e descobriu que a emissora de So Paulo Ia
Tupi) no oferecia nem banheiro para o elenco da novela".
Plnio Marcos relata, com palavras francas, as dificul-
dades passadas por lona Magalhes, que exigiu a instalao
de uma privada particular. "S que. como ela no deu Ibo-
pe. teve o contrato rescindido. E junto com ela foi embora a
privada".
TEATRO: 460 PEAS PROIBIDAS
Depois de analisar a fragilidade do cinema nacional
" um absurdo haver nmero de dias para o cinema brasi-
leiro. Aqui. 365 dias deveriam ser abertos para o cinema do
nosso povo" e narrar os obstculos criados para a realiza-
o de filmes de arte. Plnio aborda a importao de cultura
no teatro.
" um dos campos de criao mais podados atualmen-
te", lamenta-se o escritor, citando a violncia atual da cen-1
sura, mantendo retidas nas prateleiras cerca de 450 peas.
"E no so s peas de minha autoria, bvio. H dezenas
de autores proibidos, s que eles preferem ficar calados.
Sujeitam se a cortes, e na prxima pea escrevem dentro
dos moldes exigidos, Mas eu no permito isso. Nem mudan-
a de vrgula. Porque um corte pode alterar todo o sentido
de um texto. Se mudarem algum trecho de Shakespeare. ele
pode tomar-se um autor fascista. E isso eu no vou permi-
tir, Quero ser bom por inteiro. No pela metade.
"Eles censuram minhas peas dizendo que elas aten-
tam contra a moral e o bom costume, Porque uso palavro e
a linguagem do povo, Mas, na verdade, o que eles no acei
tam a denncia de problemas sociais. Quando falo de
violncia, no significa que seja a favor da violncia. Rela-
tar a prostituio no ser a favor dela. Como reprter que
sou, apenas relato. No ofendo a moral, e tambm no pre-
tendo moralizar os costumes.
"Agora, eu descobri que a lei permite que se recorra
das decises. E eu estou no Supremo, lutando para a libera-
o de Abajur Lils, uma pea que retrata a vida de um
prostbulo, onde um homem comanda tudo. Ele o todo-
poderoso do lugar, c dal eu concluo que todo o poder
corrompe,,,"
Cnucando os grupos de teatro que aceitam verbas
governamentais, Plnio afirma que o artista, por sua funo
de contestador do sistema, jamais poderia aceitar subven
es Ento o que se v so grupos montantl' ran
geiros que nada sij tem
muito diretorqui
paulada no governo brasileiro uni .
mis que ningum entende nada, Se o '
deixa passar, podem crer. o povo tambm no vai eniim
der".
Quando um estudante pergunta a Plnio porque ele no
utiliza mais sutileza em suas peas, ele responde que no
acredita nesse disfarce. "A minha sutileza a de um arro
to",
IA palestra, seguida de debates, teve muitas outras coi-1
sas nada sutis). ^t~
m
Ft&V'
- IJ
Q
toa, 27 de alo de 1.969
(feteoi por volte c 7.
f
oo ir e Oolyseuj
nesta cidr.de, houve a encenao da pea -.'UHAIfollB
^J-", de autoria de L. . gundo relatrio j^e
cervedo onteplor (l n 157) parte da renda da reforila pea Iria
pura v 2: ,
Foram notados pr stlglando o eaijot^culo, ala de
vtsnderam Ingres 03 no Faculdade o; ~ " i
f
/
vJe do ;inc8ka)
y
bem
como outros elocentos nSo idsatiric. de .
final do espetculo, o ator e autor MAB-
Ct ^ foi ot^ o palM e dls^e -roo n^erla acr^decer as auta
rl:,don que pemltirora o espetculo,
fr, sendo iogo a at idos por /
elsoentos da *'olc. ^eral e cendusido no d de lioje para So /
Io, sendo que o iolegado de Polida Federal rc ir.
^lat r de anto . a ab do in^iucrlto /
I l por ato obceno (art
#
233 do nosco c5dijo PMD
A prisSo do v .tom e ator, foi bastante co -
montada nesta cidade, sondo que todos atribulam a prisfb ao fato
da 10 MiU. fitando pwaaov , dlzelo pa-
rSos am pb ico, depois de liav comprcmtldo com a rjifdia
Federal Ae seguir ricorosamcaite o texto censu:
-0
uwitruM
1 - AS JUHTO
2 - ORIGOI
3 - O LkZSlYlGktO
4 - zTtvaXo
MIN IST R IO DA JUST IA
AR T AME N T O DE POLIC IA FE DE R AL
SUBDE LE GAC IA R E GION AL DE SAN T OS
t> y^frlQ SL^BOo : )E BAR30G {Antnr Ai
trai)
1-1-1
t- OO/WS? ~ C10AA4 2 2i HM - VO TS/Bmt
Foloie rorturi**
L......'.: B MOflMM llM
1 -
1.1 Ho dia 23 do correto, foi solioltoda Turma do CMra /
do DlTra5 i^blloa/SDr/sntoo
t
a apwagSo do ppofraaao
da Poa Toatral "HOIS PEEl^IDOS WBU KCITE 3WA.% d utoria
a participao do 1^' 0. 02 BARia.
1.2 - Tal aprowjao foi concedida, para OBomSo no Clno Tatro
Coliieu, d3ta Cldado. ao dia 26 do corrente, coo apraaonta-
So nica s 21,00 borao, tendo on Tieta tor ido apresenta-
da a docuaentaoao exlida para tal fia, ou eo^at Cartifioado
do Aprovao da Caasnra ^ficrel n 95/68, expedido em 26 do
no^emoro 'io 1968 o ea pleno rigrf Comprovante do Arreoadop-/
Zo do rireitoo do Autor Teatral n 185.5051 Texto devidaa^
te oanaurao e aprov&do oom ulgimB oortes o roqoortaento oo-
liaitando tal KpvovaSo*
1.3 - Ho dia da ajnraaontaSo (26), foi ooMnlcado eata Outodoll
cia, otrava Haiocrwa do iam r oon Doloado Bogioaal/SP,
do terminando o impedimento de tal aproamatao.
1.4 - Sabedor do tal ire<5iJni>to, o r lnio larcoa, neaaa mao-
mo dia, pleiteou junto quela utoridado a liberao da aua/
paa, uotaxminou ento o otmo sr ologado Regional, que eo-
ta Chefia proliminonaonte entr*iao em oitato com o 2xno 3r/
General Co^ndanto da Gosmio Mi3 itar/Soatoa, o^aolicitoa-
aa o arbitramento daquele Comando abra a liberao ou nSo /
do ooiietoulo*
1.5 - Tal contato ooorrou o entSo aqmile Comando a^iioooeu ea /
paxmltir a aproaantaio, dotarainando oatrotanto, que o Se-/
abor Plnio Marooo foa^ advertido, antea do aepet&mlo, po^
ra onaprtr ri^orooaaento o texto apronrado.
CMrlOt^
1
- 2 -
1 .6 - Isto foi feito pelo Sr Chefe da Policia de Segoranpa den-
ta Subdelegacia, diretamente ao ator Plnio Marooa antee /
da apresentao teatral*
! ? - A pea foi enoenada
9
tendo entretanto o Sr Plnio Karooe/
o outro figurante, alterado en Trios pontos o texto apr
rado. Ora acresoentavan tnue poxnogrifiooe no contidos /
no texto, ora deslocavam de um ponto para outro do "eoript",
termos nele constantes, mas no existentes na frase dita. /
Qa dos cortes nlo foi obedecido.
1.8 - Findo o eepetoulo, e aple oeesarem os aplausos, o Sr nl
nio Uarcos retomou ribalta solicitando a ateno de todos
e expressoC-se em eeguida, da seguinte fonaat
"ftm^l n Tff
A, , ,
?f Q0 CORRERAM MA crDAia. ma*. C2 A wask/
V2Ck FORA RQTBpA, QOH^Kr.n^ryMALIZZ-LA E isaO DEVO AQ r.i> -
IKHAL SILVIO CQRRSA DE AJPRADE E AO CAPirXO SICILIARO, O G f-
RICRAL SlLYIQ L fi qg "CARA LEG AB E 3IMPfl li IMC3TIVQD. /
ISTO TUDO g FRUTO D
w
ALCAG LTAG ai
w
, yL\Z KU XJ&Q QB Isi ES/
"PPTOS ALCAG DETAS" TODOS 5^ PODAM" E QUE Vgp TOMAR KQ Ctf .
teto tudo. Juntando &s palavras, cs gestos correspondente.
1.9 - ai seguida retirou-se para os bastidores onde foi envolvi-
do pela massa jovem, na sua maioria estudantes, sendo muito/
solicitado para oonoeeso de autgrafoo.
1.10 - 0 Sr Chefe da Polcia de Segurana desta SDR, DR Orestee /
Magdalsna, que se achava presunto e em servio, acompanhado/
do outros policiais, deteve o Sr anio barcos, conduzindo-o
par esta Subdelegaoia, eneamlnhsndo-o em seguida para o Pi^
sdio de sentes, onde permaneceu disposio da Policia Pede
ral at< o dia eeguinto (27).
1.11 - Nisso dia (27), aps entendimentos havidos entre esta Chs-/
fia, o Comando Militar/Santos e o DOPS/Smtoo, ficou delibera
do que o artista seria encaminhado para a Delegacia Regional/
do So Paulo, para as providncias cabveis, o que foi feito/
por volta das 17, 00 horas.
1.12 - Como o fato ocorrido trata-se de crime capitulado no cdigo
Penal e m competncia de ajurao por parte da Polcia Est*
dual, foi oficiado ao Sr Dr Delegado da 7 Diviso Policial /
em Santos, solicitando-lhe a abertura do competente Ihqulrito
Policial.
-i-t-t
t-i-i-t-i-t-t-i-i-t-i-t-t-i-i-i-i-i-.t-i-f
OWflOE W
RELATRIO RESERVADO N^.
Em data de oiite
m
26/5/69, foi apresentada, no teatro Coliseu,
a pea de Plnio Marcos " Dois Perdidos numa Noite Suja". Consta que
uma parte da renda auferida com a venda de ingresso reverteria ao P,
Comunista. Assim sendo, o autor da pea, ao incio, entrou em cena
para informar que havia corrido o boato de que pea fora suspenda,
mas que era "onda". Que ele conseguira a permisso do G al.
s
ilvio C, de
Andrade, pessoa muito compreensiva, para lev-la a efeito.
Em seguida comeou a apresentao da pea
1
?
A maior parte dos assistentes se constitua de-estudantes, entre os
isqiais Joo Jos Sadi, Hugo Luiz de Moura
L
eal, Irineu de Tal, o diretor
de teatro da Fac. de Direitode Santos, Joo Russo, Caje, ^o-
nia Maria Rocha Corra, um estudante de apelido "Teco", da Fac. de Direi-
to tambm,e vrios outros.
Ao final da pea o autor dis,se estar muito satisfeito por ter podi-
do levala em sua cidade natal, apesar dos"alcaguetas", que tentaram impedi-
lo. Ofendeu-os em seguida, sendo muito aplaudido.
Era o que tinha a informar.
Santos, 27 de maio de 1969.
SECRETARIA DA SEGURANA PBLICA
DEPENDNCI A DELSG AG IA-DEORDM POL TICA E SOOIAL
Senhor Delegado,
Em cumprimento a sua ordem, estivemos hontem no
Cine Teatro Coliseu, onde foi levado a scena a pea de Plinio
Marques,"DOIS PERDIDOS NU MA NOITE SU JA"
A pea apresentada, feita pelo que ouvimos nos
moldes de "RODA VIVA" foi quasi de principio ao fim cheia de
termos pornogrficos e gestos imorais,
No decorrer da tarde correu a noticia, de que a
pea nao seria apresentada, pois queera proibida, motivo pelo
qual os dirigentes daquela Casa de Espetculos, resolverainao
mais ceder o Teatro,
Entretanto a interveno do suplente de deputado
Corte Real, conseguiu dissuadir o gerente do coliseu,e fazer
que reconsiderasse, 0 que somente conseguiu em face da apresenta]
o ou melhor da liberao co^nedida pela Policia Federal,
Ao final do espetculo o autor e ator,Plinio
Marques disse aos presentes que o espetculo fora realisado com
a autorizao do G al,Silvio Corra de Andrade e do Capito Sici
liano, pois que "U MS PU TOS ESTIMM DIFICU LTAND02 e que embora -
fosse a ultima vez que apareceria em palco,representando suas
peas, queria que os alcaguetas que ali estavam "SE FDDESSEM"
E QU E FOSSEM TOMAR NO C"(isto acompanhado dos gestos indicativo
de tais atos. Aps se ter retirado,o capito Siciliano e mais
outros Federais que se achavam presentes, detiveram o ator e o
levaram para a Policia Federal, sob a acusao de que havia fu
gido ao texto,no cumprindo com o prcmetido,
A platia estava lotada, bem como I maioria das frisas,Caleulamo
em aproximadamente umas 550 pessoas.
Santos,. 2? de maio de 1:969
/
S. G . - Mod. 27
Senhor Delegad,
CttMprid detemUiao d V.S., dirigi-os a Ci
Tatr Clysaa ead* deveria ser levada a paa "DOIS PERDIDOS NUMA
NOITE SUJA", de auteria de Pliaie Maroes, e padeats ebservar e 3e
gttiate:
A pea decerrea, cea aa palavreade cheie de peraegrafia
qae peasaaes, seja de prprie scripte, aas aa teraia de espetacale
e aatr Pliaie Marces, preseate a palae, disse seguiate: "a pea
fei realisada cea^aatarisa de Geaeral XIIOCX* Silvi Cerra de
Aadrade, e ^e Capitae Siciliaae, peis cea frisea, aas "pates" esta-
raa dificultalde, aas qae eabera ^sse a ltiaa vez que aparecia
aa palce, apreseataie peas de sua aut*ia, ele queria que es
alcaguetas qae ali estavaa, se "fedessea", e fez e geste caracteris-
tice, significaade a palavra eapregada, e que HXSXSMSXJ fessea teaar
ae "c", peis para ele aada iapertava, e retiru-se de palce seade
auite aplaudida pelas presemtes,
Aa espetacule achavaa-se presentes aai? auaeaas 500
pesseas, e teve iaieia a s 21 heras e teraiaaa as Z3,^5 heras.
e que aes cuapre iafaraar.
Saatas, 26 de aaie de 19^9
Aaexa aa falhete.
A ltima oportunidade para voc assistir
,, . P lnio M arcos
EM
D OI S
P E R D I D OS
mmN0 |TE
^^
com AD E M I R R OC HA
D I A 2 6 (Amanh )
Teatro Coliseu
D I A 2 6 (Amanh )
2 1 horas
Os ingressos podero ser encontrados na bilheteria do T eatro, o partir
das 8,00 heras da manh.
HOM M Cerimnia ser em dezembro
Cinzas de Plnio Marcos
sero lanadas ao mar
Da Reportagem
As cinzas do dramatur-
go santista Plnio
Marcos, morto na lti-
ma sexta-feira, sero trazi-
das para Santos no dia 2 de
dezembro, e lanadas ao mar,
entre o Canal 6 e a Ponta da
Praia. Ontem, a viva. Vera
Artaxo, disse que essa deci-
so foi quase automtica, em
razo do grande amor que
seu marido sempre demons-
trou pela Cidade.
"Plnio nunca falou sobre
coisas relativas morte. Mas
acho natural, e todos acharam
tambm, que ao final ele volte
para Santos, um lugar que ele
tanto amava e onde vivem pes-
soas que lhe eram carssimas".
A Cidade tambm dever
prestar homenagens ao artis-
ta. Num carro do Corpo de
Bombeiros, suas cinzas passa-
ro por alguns dos lugares
mais significativos de sua vi-
da, como o cais do Porto, o
campo do Jabaquara e o
Teatro Coliseu. Ficaro du-
rante algum tempo no Centro
de Cultura e depois sero le-
vadas ao mar.
Em propositura apresentada
na Cmara na noite de segun-
da-feira, o vereador Jos
Antnio Marques de Almeida
(PSDB) solicitou que o Teatro
Municipal Brs Cubas passe a
se chamar Plnio Marcos.
Segundo o presidente da
Federao Santista de Teatro
Amador Festa , Toninho
Dantas, um documento apoian-
do essa propositura j tem
quase 200 adeses, que vo
desde a esposa do dramaturgo
e seu filho Leo, at o governa-
dor Mrio Covas.
Contatos para adeses ao
abaixo-assinado e s homena-
gens podem ser feitos pelo tele-
fone do Festa, 219-8237.
196 Fl. i
SECRETARIA DA SEG U RANA PBLICA
DELEGaClIl
- 1=]-
0 Escr
I NQUR I TO P OL I C I AL
AUTUAO
ko* dias do ms de
do ano de mil novecentos e sessenta e . nista cMae de
. na Delegacia de Polcia, qi meu
cartrio, autuo
>
que adiante se seyue, do que para constar, lavro este termo.
, escrivo, o escrevi.
S. G. - 9-63 - S.A.C. - S.S.P. - Hod. 15-Int. - 60.000