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O EVANGELHO DE MAHARISHI
Tradutor: Domingos Vieira*
Revisor: Pedro Livio Vieira Sri Ramanasramam Tiruvannamalai *([email protected]) PUBLICADO PRIMEIRAMMENTE NA OCASIO DO 60 ANIVERSRIO DE
Bhagavan Sri Ramana Maharshi 27 de dezembro de 1939
PREFCIO DO TRADUTOR Bhagavan Ramana Maharshi considerado um dos maiores sbios de todos os tempos. Profundidade, naturalidade e simplicidade so traos de sua presena, que o leitor encontra tambm nas respostas por ele dadas s perguntas feitas pelos discpulos. Ramana Maharshi viveu em corpo fsico do final do sculo 19 a meados do sculo vinte. Nesse perodo, ocorreram as duas grandes guerras mundiais e se deu a libertao da ndia do jugo ingls. Os ideais iluministas de uma sociedade ordeira e em constante progresso, baseada na cincia e na razo, soobravam, e a humanidade atravessava mais uma grande crise. A angstia existencial resultante de um dos principais objetivos da modernidade, o de banir a transcendncia do horizonte humano, j havia encontrado, anteriormente e de diferentes formas, muitas vozes para manifestar-se, como, por exemplo, em Dostoievsky, Schopenhauer, Van Gogh e Marx, e continuava a faz-lo, como em Kafka, Freud, Cioran e inmeros outros indivduos por todo o mundo. Ramana Maharshi, com a idade de dezesseis anos, aps uma experincia relacionada ao fenmeno da morte, deixou a famlia e se dirigiu para a sagrada montanha Arunachala, onde viveu os prximos 54 anos, os vinte e cinco primeiros morando em cavernas, e os demais em uma comunidade que se formou em torno dele, at abandonar o corpo, em 1950. Pessoas de toda a ndia e de vrias partes do mundo se dirigiram a Arunachala, para estarem em sua presena, em busca de paz e sabedoria. Tornou-se conhecido no Ocidente, e mais amplamente na prpria ndia, aps a publicao do livro A Search in Secret India, traduzido no Brasil como A ndia Secreta, de Paul Brunton, um dos pseudnimos do jornalista e escritor ingls Raphael Hurst. O escritor Somerset Maugham o retratou como Sri Ganesha no livro O Fio da Navalha, em que o personagem Larry, em contraste com a banalidade cotidiana e rejeitando a vida convencional, encontrando-se traumatizado com as experincias que viveu na primeira grande guerra, viaja para a ndia em busca do verdadeiro significado da vida. O sbio instrui os buscadores, fundamentalmente, a realizarem uma investigao, por si mesmos e em si mesmos, com a finalidade de despertarem para a sua verdadeira natureza, que infinita, e que se encontra, por assim dizer, encoberta por um vu de imagens, conceitos e representaes acerca de si prprios e do mundo. Suas palavras apontam a forma de realizar essa investigao e so admiravelmente esclarecedoras para aqueles que se aventuram nessa jornada. Seus ensinamentos tm, desde as primeiras palavras, o sabor da liberdade. Vivemos, na modernidade tardia, em um estado de banalizao da vida. Cincia e razo se mostraram insuficientes para dar conta dos tremendos desafios da existncia e para lidar com as poderosas foras que regem a vida humana. Como diz a Vedanta, essas foras devem ser trazidas tona e expostas no apenas mente consciente, ao ego, que limitado e no tem condies de lidar com elas, ele mesmo formado por essas foras; as poderosas foras que regem a vida humana devem ser expostas dimenso infinita do indivduo. Na modernidade tardia, as grandes narrativas, que sempre foram incompletas e precrias, perderam a fora, e j no servem como sistema de orientao. No havendo mais transcendncia e tendo soobrado as promessas de criao de uma boa sociedade com base na cincia e na razo, resta apenas aos indivduos a banalidade cotidiana. Corre-se em busca de um nada sempre apresentado com diferentes ornamentos. O sujeito fragmentado reconfigurvel e molda-se ao sabor das aceleradas demandas mercadolgicas, e das transformaes sociais que as acompanham, no terreno em que o nico horizonte a superfcie. Em relao aos precrios sistemas e estruturas que desmoronaram, desreferencializada a realidade e dessubstancializado o sujeito, o desamparo do indivduo atinge nveis gigantescos, que tm de ser dissimulados tambm com uma gigantesca mquina de entretenimentos e de outras formas de fuga. Nessa situao, como disse o filsofo Nikolai Berdyaev, a montanha desaparece do horizonte para sempre, deixando apenas uma platitude infinita. Com os ensinamentos de Ramana Maharshi, a montanha, alm de metaforicamente, retorna literalmente ao horizonte. Trata-se da sagrada Montanha Arunachala, de onde vem essa mensagem, que se aplica a todas as pocas e circunstncias, pois se refere ao que completo e estvel, nossa verdadeira natureza. Nesta traduo, mantive os termos snscritos que se encontram no texto original em ingls, adicionando uma breve explicao na primeira ocorrncia de cada um deles, mantendo, tambm, o glossrio da edio original. til, por fim, que se advirta de que palavras e expresses como Self, verdadeira natureza do indivduo, Si Mesmo, verdadeiro eu, Deus, Corao, Atman, Brahman e Ser so sinnimos e se referem essncia de todos os seres e de todas as coisas. Especial agradecimento a Pedro Livio, por sua inestimvel colobarao. BRASIL, 2014
PREFCIO Em ateno ao desejo sincero de um grande nmero de devotos de Bhagavan Sri Ramana, as respostas a algumas das perguntas que lhe foram colocadas ao longo do tempo esto impressas em forma de livro, sob o ttulo EVANGELHO DE MAHARSHI, para o benefcio do mundo em geral. Essas questes ocorrem sempre a muitos de ns, e lutamos internamente para resolv-las. As respostas dadas pelo Maharshi so a quintessncia da Sabedoria Divina, baseadas, como so, em seus conhecimento e experincia diretos. Suas respostas so de inestimvel valor para o buscador da Verdade. A profunda verdade da Advaita, de que a singular e nica realidade o absoluto Si Mesmo, ou Brahman, em lugar algum foi mais lucidamente exposta que nestas pginas. Porque, por um lado, na base da mais alta experincia, que sua, que Bhagavan Ramana fala; e, por outro, a partir do ponto de vista do entendimento comum do leigo que o aspirante pergunta e busca conhecer a Verdade. A verdade a mesma para todos, e Sri Bhagavan dirige o sincero aspirante a investigar e analisar criticamente sua prpria experincia ntima e buscar por si mesmo o mago do seu ser, o Corao, que eternamente idntico Indivisvel Realidade ltima, da qual tudo o mais visto ou conhecido apenas uma manifestao fenomenal. Toda palavra que sai da boca do Sbio a essncia da sabedoria dos Upanishads, da qual ele prprio a encarnao suprema. O leitor devoto vai encontrar nestas pginas conselhos prticos, e vai adquirir a convico de que sua natureza essencial divina. CONTEDO LIVRO I Captulo I Trabalho e Renncia II Silncio e Solido III Contrle da Mente IV Bhakti and Jnana V Si Mesmo e Individualidade VI Autorrealizao VII O Guru sua Graa VIII Paz e Felicidade LIVRO II I Autoinvestigao II Sadhana e Graa III OJnani e oMundo IV O Corao e Self V O Local do Corao VI Aham and Aham-Vritti Apndice Glossrio I - TRABALHO E RENNCIA Discpulo: Qual a mais alta meta da experincia espiritual para o homem? Maharshi: A autorrealizao. D: Pode um homem casado realizar o Ser? M: Certamente. Casado ou solteiro, um homem pode realizar o Si Mesmo, porque Isso est aqui e agora. Se no fosse assim, mas atingvel por algum esforo em algum tempo, e se fosse uma coisa nova e tivesse de ser adquirida, no valeria a pena persegui-la. Porque o que no natural tambm no permanente. Mas o que eu digo que o Ser est aqui e agora, e s h ele. D: Um boneco de sal que seja lanado ao mar no estar protegido por um revestimento impermevel. Este mundo em que temos de labutar diariamente como o oceano. M: Sim, a mente a capa impermevel. D: Pode, ento, o indivduo estar envolvido no trabalho e, livre do desejo, manter sua solido? Mas os deveres da vida nos deixam pouco tempo para sentarmo-nos em meditao ou mesmo rezar. M: Sim. O trabalho realizado com apego agrilhoa, enquanto o trabalho realizado com desprendimento no afeta o agente. Ele se encontra, mesmo enquanto trabalha, em solido. Engajar-se em seus afazeres o verdadeiro namaskar (reverncia ao Ser)... e permanecer emDeus a nica verdadeira asana (postura de prticas espirituais). D: Eu no devo renunciar ao lar? M: Se fosse esse o seu destino, a questo no surgiria. D: Por que ento voc deixou a sua casa na juventude? M: Nada acontece seno pelo ordenamento divino. A linha de conduta nesta vida determinada pelo prarabdha (karma maduro) do indivduo. D: bom dedicar todo o meu tempo busca da minha verdadeira natureza? Se isso for impossvel, devo simplesmente manter-me quieto? M: Se voc conseguir manter-se quieto, sem se envolver em qualquer outra busca, isso muito bom. Se tal no puder ser feito, qual a utilidade de ficar quieto no que diz respeito realizao? Enquanto a pessoa obrigada a estar ativa, que ela no desista de suas tentativas para realizar o Self. D: As aes de um indivduo no o afetam em nascimentos posteriores? M: Voc agora se encontra nascido? Por que voc pensa sobre outros nascimentos? O fato que no existe nem nascimento nem morte. Deixe aquele que nasce pensar na morte e emseus correspondentes paliativos! D: Voc pode nos mostrar os mortos? M: Voc sabia a respeito dos seus parentes antes do nascimento deles, de tal sorte que deve procurar saber sobre eles aps morrerem? D: Como que um chefe de famlia se encaixa no esquema da libertao? Ele no tem necessariamente de se tornar um mendicante para alcanar a liberao? M: Por que voc acha que voc um chefe de famlia? Pensamentos correspondentes de que voc um renunciante iro obcec-lo, mesmo se voc renunciar. Quer voc continue na famlia ou renuncie e v para a floresta, sua mente ir persegui-lo. O ego a fonte do pensamento. Ele cria o corpo e o mundo, e faz voc pensar ser um chefe de famlia. Se voc renunciar, ele s ir substituir o pensamento chefe de famlia pelo de renunciante e o ambiente de casa pelo da floresta. Mas os obstculos mentais estaro sempre l com voc. Eles at mesmo aumentam nos novos ambientes. Mudar de ambiente no ajuda. O nico obstculo a mente, que deve ser superada, seja em casa ou na floresta. Se voc pode faz-lo na floresta, por que no em casa? Portanto, por que mudar de ambiente? Voc pode se empenhar agora mesmo, qualquer que seja o ambiente. D: possvel desfrutar de samadhi (estado de absoro no Ser) estando ocupado em atividades mundanas? M: O sentimento eu trabalho" o obstculo. Pergunte a si mesmo "quem trabalha?" Lembre-se de quem voc . Assim, o trabalho no ir acorrent-lo; ele seguir automaticamente. No faa esforo, seja para trabalhar, seja para renunciar; o seu esforo o cativeiro. O que est destinado a acontecer acontecer. Se estiver destinado a no trabalhar, voc no encontrar trabalho, mesmo se o procurar; se estiver destinado a trabalhar, voc no ser capaz de evit-lo; ser forado a envolver-se nele. Dessa forma, deixe a questo para o poder superior; voc no pode renunciar ou reter sua escolha. D: Bhagavan disse ontem que, enquanto se est engajado na busca de Deus "dentro", o trabalho "exterior" segue automaticamente. Na vida de Sri Chaitanya dito que, durante suas palestras para os alunos, ele estava realmente buscando Krishna (Self) interiormente esquecia-se de tudo sobre seu corpo e continuava a falar apenas de Krishna. Isso levanta uma dvida sobre se o trabalho pode seguramente ser deixado de lado para seguir por si mesmo. Deve-se manter uma ateno parcial no trabalho fsico? M: O Self tudo. Voc est fora do Si Mesmo? Ou, pode o trabalho continuar sem o Self? O Ser universal: por isso, todas as aes tero continuidade, quer voc se esforce para estar envolvido com elas ou no. O trabalho vai continuar por si s. Por isso, Krishna disse a Arjuna que ele no precisava se preocupar por matar os Kauravas, pois eles j estavammortos - j haviam sido imolados por Deus. No cabia a ele decidir-se a agir e preocupar se com isso, mas permitir sua prpria natureza realizar a vontade do poder superior. D: Mas o trabalho pode ser prejudicado se eu no prestar ateno a ele. M: Prestar ateno a Si Mesmo significa prestar ateno ao trabalho. Porque se identifica com o corpo, voc pensa que o trabalho feito por voc. Mas, o corpo e suas atividades, incluindo o trabalho, no existem fora do Self. O que importa se voc prestar ou no ateno ao trabalho? Suponha que voc ande de um lugar a outro: voc no presta ateno aos passos que d. No entanto, aps algum tempo, voc se encontra no lugar almejado. Voc perbebe como a atividade de caminhar se processa sem que voc preste ateno a ela. Assim, tambm, com outros tipos de atividades. D: , ento, como andar dormindo. M: Como o sonambulismo? Isso mesmo. Quando uma criana adormece sem haver comido, sua me o alimenta. A criana ingere o alimento to bem como quando est completamente desperta. Na prxima manh, porm, ela diz para a me: "Me, eu no comi noite passada". A me e os outros sabemque ela se alimentou, mas a criana diz que no; ela no estava consciente. Ainda assim, a ao ocorreu. Um viajante em uma charrete cai no sono. Os touros se movem, ficamparados ou so desatrelados durante a viagem. Ele no se d conta desses eventos, mas se v em um lugar diferente ao acordar. Permaneceu ditosamente ignorante das ocorrncias no caminho, mas a viagem foi concluda. O mesmo acontece como Ser de uma pessoa. O Ser sempre desperto se compara ao viajante dormindo na charrete. O estado de viglia o movimento dos touros; o samadhi corresponde a quando os touros esto parados (porque samadhi significa jagrat-sushupti*, ou seja, a pessoa est desperta, mas no envolvida com a ao; os touros esto jungidos, mas no se movem); o sono profundo corresponde ao desatrelamento dos touros, pois h completa interrupo da atividade, que corresponde a livrar os touros do jugo. * Situao semelhante ao sono profundo, porm no estado de viglia. Ou, considere a alegoria do cinema. As cenas so projetadas na tela durante a exibio cinematogrfica. Mas, as imagens em movimento no afetam ou alteram a tela. O indivduo na platia presta ateno s cenas, mas no tela. As cenas no podem existir sem a tela; contudo, a tela ignorada. Assim, tambm, O Self a tela em que as imagens, atividades, etc, so vistas acontecendo. O indivduo est consciente destas, mas no daquela, que essencial. De qualquer forma, o mundo de imagens no existe fora do Self. Quer se esteja consciente ou no da tela, as aes iro continuar. D: Mas h um operador no cinema! M: A exibio cinematogrfica feita de materiais insensveis. A lmpada, as imagens, a tela etc, so todos insensveis e, por isso, requerem um operador, o agente senciente. Por outro lado, o Self conscincia absoluta e, portanto, autossuficiente. No pode haver um operador fora do Self. D: Eu no estou confundindo o corpo com o operador; refiro-me, isso sim, s palavras de Krishna no verso 61, captulo XVIII do Gita: 1 "O Senhor, Arjuna, habita no corao de cada ser, e Ele, por Seu poder de criar iluses, faz girarem volta todos os seres criados, como se em uma mquina M: As funes do corpo, que envolvem a necessidade de um operador, tm o suporte da mente; uma vez que o corpo jada ou no senciente, um operador necessrio. Porque as pessoas pensam que so jivas (seres individuais), Krishna disse que Deus reside no corao como o operador dos seres individuais. Na verdade, no h jivas nem operador, por assim dizer, fora deles. O Self engloba tudo. Ele a tela, as imagens, o espectador, os atores, o operador, a luz, o recinto, e tudo mais. Confundir a sua verdadeira natureza com o corpo, e imaginar que voc que atua, o mesmo que um espectador fazer uma idia de si mesmo de que ele um ator desempenhando um papel no filme. Imagine o ator perguntando se ele pode participar de uma cena no filme sem que haja a tela! Tal o caso do indivduo que pensa que suas aes podem ocorrer separadas do Self. D: Devemos, portanto, aprender o sonambulismo! M: Aes e estados esto em concordncia com seu ponto de vista. Um corvo, um elefante, uma cobra, cada um faz o uso de um membro para duas finalidades alternativas. Com cada uma das vistas, o corvo olha para o lado correspondente; para o elefante, a tromba tem a finalidade tanto de mo quanto de nariz, e a serpente v e ouve com os olhos. Quer voc diga que o corvo temuma viso ou mais de uma, ou se refira tromba do elefante como "mo" ou "nariz" ou chame os olhos da serpente de ouvidos, isso significa a mesma coisa. Da mesma forma, no caso do jnani (sbio), sono desperto, estado de viglia como no sono profundo, sono com sonhos, ou viglia com sonhos, so, todos, a mesma coisa. D: Mas ns temos de lidar com um corpo fsico em ummundo fsico desperto! Se dormirmos enquanto o trabalho estiver em andamento, ou tentarmos trabalhar durante o sono, o trabalho vai sair errado. M: O sono profundo no ignorncia, o estado puro do indivduo; a viglia no conhecimento, ignorncia. H plena conscincia no sono profundo e total ignorncia na viglia. Sua verdadeira natureza abrange ambos e se estende alm. O Ser est alm do conhecimento e da ignorncia. Os estados de sono profundo, sonho e viglia so apenas modulaes que passam diante do Self: eles se sucedem, quer voc esteja ciente deles ou no. No estar ciente o estado do jnani, em quem se passam os estados de samadhi, viglia, sonho e sono profundo, como os touros em movimento, imveis, ou desatrelados, enquanto o passageiro est dormindo. Estas respostas se ajustam ao ponto de vista do ajnani (ignorante), caso contrrio no iriamsurgir tais questes. D: Claro, elas no podem surgir para o Self. Quem estaria l para perguntar? Mas, infelizmente, eu ainda no realizei o Self! M: Esse justamente o obstculo em seu caminho. Voc deve se livrar da idia de que voc um ajnani e que ainda tem de realizar o Self. Voc o Self. J houve ummomento em que voc no esteve ciente do Self? D: Ento, devemos viver as experincias no sono desperto... ou sonhando acordado? M: (Risos). D: Eu afirmo que o corpo fsico do homem imerso em samadhi, como resultado da ininterrupta contemplao do Self, pode tornar-se imvel por esse motivo. Pode estar ativo ou inativo. A mente estabelecida em tal 'contemplao' no vai ser afetada pelos movimentos do corpo ou dos sentidos; nem a perturbao da mente precursora de atividade fsica. Enquanto outra pessoa afirma que a atividade fsica certamente impede o samadhi ou ininterrupta contemplao. Qual a opinio de Bhagavan? Voc a prova viva de minha afirmao. M: Vocs dois esto certos: Voc se refere a sahaja nirvikalpasamadhi (estado natural de absoro no Ser) e a outra refere-se a kevala nirvikalpasamadhi (estado temporrio de absoro no Ser). Neste ltimo caso, a mente fica imersa na luz do Si (ao passo que a mente no o Ser - est na escurido da ignorncia em sono profundo); e o sujeito faz uma distino entre samadhi e atividade depois de sair do samadhi. Alm disso, a atividade do corpo, da viso, das foras vitais e da mente e o conhecimento de objetos, todos esses so obstculos para quem procura realizar kevala nirvikalpa samadhi. A palavra contemplao frequentemente usada livremente como se referindo a um processo mental forado, enquanto samadhi situa-se alm do esforo. Contudo, na linguagem mstica crista, contemplao o sinnimo invariavelmente usado para samadhi, e nesse sentido que a palavra est sendo usada acima. No sahaja samadhi, contudo, a mente se dissolve no Self e se perde. As diferenas e obstrues acima mencionadas no existem, portanto, aqui. As atividades de tal ser so iguais alimentao do sonolento menino, perceptveis para um observador de fora, mas no para o prprio sujeito. O viajante que est dormindo profundamente na charrete no est cnscio do movimento, porque sua mente est imersa na escurido. Ao passo que o sahaja jnani permanece inconsciente de suas atividades fsicas porque sua mente est morta, tendo sido dissolvida no xtase de chidananda (bem- aventurana do Self). Nota: A distino entre os estados de sono profundo, kevala nirvikalpa samadhi e sahaja nirvikalpa samadhi pode ser claramente posta em forma de uma tabela feita por Sri Bhagavan: Sono Profundo Kevala Nirvikalpa Samadhi Sahaja Nirvikalpa Samadhi 1) Mente viva 2) Mergulhada no esquecimento 1) Mente viva 2) Mergulhada na Luz 3) Como um balde atado a uma corda e deixado sob a gua em um poo. 4) A ser puxado pela outra extremidade da corda. 1) Mente morta 2) Dissolvida no Self 3) Como um rio que desaguou no oceano e perdeu a sua identidade. 4) O rio no pode ser direcionado de volta a partir do oceano. A mente do sbio que realizou o Self totalmente destruda. Est morta. Mas, para o observador externo, pode parecer que o sbio possui uma mente igual do leigo. Da que o 'eu' no Sbio tem apenas uma aparente "realidade objetiva". Na verdade, no entanto, no tem nem existncia subjetiva nem uma realidade objetiva II - SILNCIO E SOLIDO D: Um voto de silncio til? M: O silncio interior autoentrega. E isso viver sem o sentido do ego. D: A solido necessria para um sannyasin (renunciante)? M: A solido est na mente do homem. Umindivduo pode estar na parte mais agitada do mundo e ainda assim manter perfeita serenidade de esprito; essa pessoa est sempre em solido. Outro pode estar na floresta, mas ainda assim ser incapaz de controlar a sua mente. No se pode dizer que est em solido. A solido uma atitude da mente; um homem apegado s coisas da vida no pode experimentar a solido, independentemente de onde esteja. Um indivduo desapegado est sempre na solido. D: O que o Mauna (silncio)? M: O estado que transcende a fala e o pensamento Mauna; meditao sem atividade mental. Subjugao da mente meditao; meditao profunda o discurso eterno. O silncio a fala ininterrupta, o fluxo perene da "linguagem". Ele interrompido pelo falar, porque as palavras obstruem essa 'linguagem' muda. Palestras podem entreter as pessoas por horas sem torn-las melhores. O silncio, por outro lado, permanente e beneficia a toda a humanidade. . . por silncio se entende eloquncia. Palestras no so to eloquentes quanto o silncio. O silncio a eloquncia incessante. . . a melhor linguagem. H um estado em que as palavras cessam e o silncio prevalece. D: Como ento podemos comunicar nossos pensamentos um ao outro? M: Isso se torna necessrio se o senso de dualidade existir... D: Por que Bhagavan (O Senhor) no sai e prega a Verdade ao povo em geral? M: Como voc sabe que eu no estou fazendo isso? Ser que a pregao consiste em subir em uma plataforma e discursar para pessoas ao seu redor? A pregao simples comunicao do conhecimento, que s pode realmente ser feita emsilncio. O que voc acha de umhomem que ouve um sermo durante uma hora e se vai sem que ele tenha lhe causado viva impresso, de forma a mudar a sua vida? Compare-o com outro, que se senta na presena sagrada e vai embora depois de algum tempo coma sua perspectiva sobre a vida totalmente mudada. Qual o melhor, pregar em voz alta sem efeito ou sentar-se silenciosamente, irradiando fora interior? Ou, ainda, como surge a fala? H o conhecimento abstrato, de onde surge o ego, que por sua vez d origem ao pensamento, e o pensamento palavra falada. Assim, a palavra a bisneta da fonte original. Se a palavra pode produzir efeito, avalie por voc mesmo quo mais poderoso deve ser o pregar por meio do silncio! Mas as pessoas no entendem essa verdade pura e simples, a verdade de sua experincia diria, sempre presente, eterna. Essa verdade a de Si Mesmo. Existe algum desconhece a Si Mesmo? Mas eles no gostam sequer de ouvir esta verdade, enquanto esto ansiosos para saber sobre o que est alm, sobre cu, inferno e reencarnao. Porque adoram o mistrio e no a verdade, as religies os atendem, para assim, finalmente, traze-los de volta para o Self. Quaisquer que sejam os meios adotados, voc deve finalmente retornar a Si Mesmo: ento por que no permanecer em Si Mesmo aqui e agora? Para observar outro mundo, ou para especular sobre isso, o Self (Si Mesmo) necessrio; portanto, eles no so diferentes do Self. Mesmo o homem ignorante, quando v os objetos, v apenas Si Mesmo. III - CONTROLE DA MENTE D: Como posso controlar a mente? M: No h mente alguma para controlar se o Self realizado. O Self brilha quando a mente desaparece. No homem realizado, a mente pode estar ativa ou inativa s o Self existe. Pois mente, corpo e mundo no so separados do Self, e no podem subsistir fora do Self. Podem ser diferentes do Self? Quando se est cnscio do Self, por que se deveria preocupar com essas sombras? Como elas afetam o Self? D: Se a mente apenas uma sombra, como, ento, se faz para conhecer o Self? M: O Self o corao autoluminoso. A iluminao surge a partir do Corao e atinge o crebro, que a sede da mente. O mundo visto com a mente, de modo que voc v o mundo pela luz refletida do Self. O mundo percebido por um ato da mente. Quando a mente recebe a luz do Self, fica cnscia do mundo; quando no recebe essa luz, no tem conhecimento do mundo. Se se volta a mente para dentro, em direo fonte da iluminao, o conhecimento objetivo cessa e o Self sozinho brilha como o Corao. A lua brilha refletindo a luz do sol. Quando o sol se pe, a lua til para que os objetos sejam vistos. Quando o sol se levanta, ningum precisa da lua, ainda que seu disco seja visvel no cu. Assim tambm com a mente e o Corao. A mente se torna til por sua luz refletida. Ela utilizada para que se vejam os objetos. Quando se volta a mente para dentro, ela mergulha na fonte da Iluminao, que brilha por Si Mesma, e a mente , ento, como a lua durante o dia. Quando est escuro, uma lmpada necessria para fornecer luz. Quando o sol se levanta, porm, no h necessidade da lmpada: os objetos se tornam visveis. E para ver o sol, nenhuma lmpada necessria; suficiente que voc volte os olhos na direo do astro autoluminoso. De forma similar, com a mente: para ver os objetos, a luz refletida da mente necessria; para ver o Corao, basta que a mente se volte para ele. Ento a mente irrelevante, e o Corao autorefulgente. D: Depois de deixar este Ashram (comunidade espiritual) em outubro, eu estava ciente da Presena que prevalece na companhia de Sri Bhagavan me envolvendo por cerca de dez dias. Durante todo o tempo, enquanto ocupado no meu trabalho, havia uma subcorrente dessa paz na unidade; era quase como a dupla conscincia que se experimenta enquanto meio adormecido durante uma palestra maante. Ento, ela desapareceu por completo, e as velhas tolices tomaramseu lugar. O trabalho no deixa tempo para a meditao parte. suficiente lembrar-se constantemente "EU SOU", enquanto se trabalha? M: (Aps uma curta pausa). Se voc fortalecer a mente, essa paz vai continuar por todo o tempo. Sua durao proporcional fora da mente adquirida pela prtica repetida. E uma mente assim capaz de sustentar a corrente. Nesse caso, engajando-se ou no no trabalho, a corrente prossegue inafetada e ininterrupta. No o trabalho que dificulta, mas a idia de que voc quem o realiza. D: Uma meditao obstinada necessria para o fortalecimento da mente? M: No, se voc mantiver sempre presente a idia de que no trabalho seu. Inicialmente, necessrio um esforo para lembrar-se disso, mas, depois, torna-se natural e contnuo. O trabalho vai continuar por conta prpria, e sua paz permanecer intacta. A meditao a sua verdadeira natureza. Voc a chama de meditao agora, porque h outros pensamentos a distra-lo. Quando esses pensamentos so dissipados, voc permanece s - isto , no estado de meditao, livre de pensamentos; e essa a sua natureza real, que voc est tentando adquirir agora afastando outros pensamentos. Tal afastar de outros pensamentos agora chamado de meditao. Mas quando a prtica torna-se firme, a sua real natureza mostra-se como a verdadeira meditao. D: Outros pensamentos surgem com mais fora quando se tenta meditar M: Sim, todos os tipos de pensamento surgem na meditao. assim mesmo, pois o que est escondido em voc revelado. A menos que surja, como pode ser destrudo? Os pensamentos surgem espontaneamente, por assim dizer, mas apenas para ser extintos, no devido tempo, fortalecendo, dessa forma, a mente. D: H momentos em que as pessoas e as coisas assumemuma forma vaga, quase transparente, como num sonho. O indivduo deixa de observ-los como se estivessemfora, mas passivamente consciente de sua existncia, embora no ativamente consciente de qualquer tipo de individualidade. Existe uma profunda quietude na mente. nesses momentos que se est pronto para mergulhar em Si Mesmo? Ou essa uma condio doentia, resultante de auto- hipnose? Deve ser encorajada como produtora de paz temporria? M: H conscincia junto com quietude na mente; esse exatamente o estado a ser almejado. O fato de a questo ter sido formulada neste ponto, sem perceber que se trata do Self, mostra que o estado no constante, mas casual. A palavra "mergulhar" apropriada quando h tendncias para fora. Quando, portanto, a mente tem de ser trazida de volta e dirigida para dentro, h um mergulho sob a superfcie das externalidades. Mas quando a tranquilidade prevalece, sem obstruir a Conscincia, qual a necessidade de mergulho? Se esse estado no foi percebido como o Self, o esforo para faz-lo pode ser chamado 'mergulho'. Neste sentido, pode-se considerar tal estado como apropriado para a realizao ou mergulho. Assim, as duas ltimas perguntas que voc colocou no surgem. D: A mente continua a sentir-se afeioada a crianas, possivelmente porque a forma de uma criana muitas vezes usada para personificar o Ideal. Como essa preferncia pode ser superada? M: Atenha-se ao Self. Por que pensar em crianas e em suas reaes a elas? D: Esta terceira visita a Tiruvannamalai parece ter intensificado o sentimento de egosmo em mim e tornou a meditao menos fcil. Ser esta uma fase passageira, sem importncia, ou um sinal de que eu devo evitar tais lugares de agora em diante? M: Isso imaginrio. Este lugar ou outro est dentro de voc. Tais imaginaes devem terminar, pois lugares como esses nada tma ver com as atividades da mente. Os ambientes sua volta no so, tambm, apenas uma questo de sua escolha individual, pois eles esto l, como um fato natural, e voc deve elevar-se acima deles e no ficar enredado neles. (Um menino de oito anos e meio sentou-se no saguo por volta das cinco horas da tarde, quando Sri Bhagavan subiu a Montanha. Enquanto Bhagavan esteve ausente, o menino falou sobre yoga e Vedanta em linguagem Tmil pura, simples e literria, citando livremente as palavras de santos e as Sagradas Escrituras. Quando Sri Bhagavan entrou no saguo, depois de quase trs quartos de hora, s o silncio prevalecia. Durante os 20 minutos em que o menino sentou-se na presena de Sri Bhagavan, ele no falou uma palavra, mas apenas o esteve contemplando fixamente. Ento lgrimas escorreram de seus olhos. Ele as enxugou com a mo esquerda e logo aps deixou o local dizendo que ainda aguarda a autorrealizao). D: Como devemos explicar as extraordinrias caractersticas do menino? M: As caractersticas de seu ltimo nascimento esto fortes nele. Mas, por mais fortes que sejam, elas no se manifestam a no ser em uma mente calma, quieta. Faz parte da experincia de todos que as tentativas de rememorar alguma coisa s vezes falha, enquanto a lembrana se apresenta de sbito quando a mente est calma e tranquila. D: Como podemos tornar a mente rebelde calma e serena? M: Percebendo a fonte da mente, para que ela possa desaparecer, ou realizando a autoentrega, para que ela possa ser abatida. A autoentrega o mesmo que o autoconhecimento, e qualquer um deles implica, necessariamente, autocontrole. O ego se submete apenas quando reconhece o Poder Superior. D: Como posso escapar de samsara (ciclo de nascimentos e mortes, processo da vida no mundo), que parece ser a causa real da inquietude da mente? A renncia no um meio eficaz para se obter a tranquilidade da mente? M: O samsara existe apenas em sua mente. O mundo no se manifesta dizendo: "Aqui estou eu, o mundo". Se o fizesse, estaria sempre l, tornando a sua presena percebida por voc mesmo em seu sono profundo. Uma vez, contudo, que ele no aparece no sono profundo, ele impermanente. Sendo impermanente, falta-lhe substncia. No tendo realidade alguma parte do Self, facilmente subjugado por esse. Apenas o Self permanente. Renncia a no identificao de Si-Mesmo com o no Si-Mesmo. Quando a ignorncia que identifica o Self com o no Self removida, o no Self deixa de existir, e essa a verdadeira renncia. D: No podemos realizar aes sem apego mesmo na ausncia de tal renncia? M: Apenas um atma jnani (conhecedor de si mesmo) pode ser um bom karma yogi (indivduo no apegado a suas aes). D: O Bhagavan condena a filosofia dvaita (dualista)? M: A Dvaita (dualidade) pode subsistir apenas quando voc identifica o Self com o no-Self. Advaita (no-dualidade) no-identificao. IV - BAKTHI E JNANA D: Sri Bhagavata (texto sagrado centrado na vida de Krishna) descreve uma maneira de encontrar Krishna no corao pelo prostrar-se a todos e vendo a todos como o prprio Senhor. este o caminho certo que leva autorrealizao? No mais fcil adorar assim Bhagavan, em tudo o que aparece para a "mente", do que investigar o que se acha alm por meio da inquirio mental Quem sou eu?. M: Sim, quando voc v Deus em tudo, voc pensa em Deus ou no? Voc certamente deve pensar em Deus para ver Deus em tudo sua volta. Manter Deus em sua mente torna-se dhyana (meditao, ateno) e dhyana a fase anterior Realizao. A Realizao s pode ser do Self e no Self. Ela nunca pode se dar parte do Self, e dhyana deve preced-la. Quer voc pratique dhyana em Deus ou no Self, isso irrelevante, pois o objetivo o mesmo. Voc no pode, por meio algum, escapar do Self. Voc deseja ver Deus em tudo, mas no em si mesmo? Se tudo Deus, voc no est includo nesse tudo? Sendo Deus voc mesmo, surpreendente que tudo seja Deus? Esse o mtodo aconselhado no Sri Bhagavata, e em outros textos. Mas, mesmo para essa prtica, deve haver aquele que v ou pensador. Quem ele? D: Como ver Deus, que onipresente? M: Ver Deus ser Deus. No h tudo parte de Deus para que Ele possa impregnar. S h Ele. D: Devemos ler o Gita (Bhagavad Gita, escritura sagrada) de vez em quando? M: Sempre. D: Qual a relao entre jnana (sabedoria) e bhakti (devoo)? M: O estado natural, ininterrupto e atemporal, de permanecer no Self jnana. Para permanecer no Self voc deve amar o Self. Uma vez que Deus , na verdade, o Self, o amor do Self o amor de Deus, e isso bhakti. Jnana e bhakti so, assim, uma coisa s. D: Ao fazer nama japa (repetio do nome de Deus) por uma hora ou mais, eu caio em um estado igual ao sono profundo. Ao acordar, lembro-me de que minha prtica foi interrompida. Ento, tento de novo. M: 'Igual ao sono profundo - correto. o estado natural. Porque voc est agora associado ao ego, voc considera que o estado natural algo que interrompe a sua prtica. Ento, voc deve ter a experincia repetida at que perceba que esse o seu estado natural. Ento voc vai achar que j no h propsito em praticar japa, mas, ainda assim, ela vai continuar automaticamente. Sua dvida atual devida a essa falsa identidade, ou seja, de identificar-se com a mente que pratica japa. Japa significa aderir a um pensamento com a excluso de todos os outros. Esse o seu propsito. Isso leva a dhyana, que termina emautorrealizao ou jnana. D: Como devo proceder em nama japa? M: No se deve usar o nome de Deus mecnica e superficialmente, sem o sentimento de devoo. Para usar o nome de Deus, deve-se invoc-lo com sentimento de urgncia e, sem reservas, entregar-se a Ele. Somente aps essa entrega o nome de Deus permanece constantemente com o homem. D: Qual, ento, a necessidade de inquirio ou vichara (investigao)? M: A entrega s pode ser efetiva quando realizada com pleno conhecimento sobre o que realmente significa a rendio. Tal conhecimento vem depois de investigao e reflexo e termina invariavelmente na autoentrega. No h diferena entre jnana e entrega absoluta ao Senhor, isto , em pensamento, palavra e ao. Para ser completa, a renncia deve ser sem questionamentos, o devoto no pode barganhar com o Senhor ou demandar favores de Suas mos. Tal entrega completa engloba tudo, jnana e vairagya (desapego, indiferena s atraes materiais), devoo e amor. V - SI MESMO E INDIVIDUALIDADE D: A morte no dissolve a individualidade de uma pessoa, de modo que no haja renascimento, assim como os rios que desaguam no mar perdem suas individualidades? M: Mas quando as guas evaporam e retornam como chuva nas colinas, uma vez mais elas fluem na forma de rios e desaguam no oceano; assim tambm, as individualidades, durante o sono profundo, perdem a sua separatividade e, contudo, retornam como indivduos de acordo com seus samskaras (impresses que continuam de vidas anteriores) ou tendncias latentes. Da mesma forma, a individualidade da pessoa com samskaras no est perdida. D: Como pode ser isso? M: Veja como uma rvore, cujos galhos foram cortados, cresce novamente. Assim, desde que as razes da rvore permaneam intactas, a rvore continuar a crescer. Da mesma forma, os samskaras que foram apenas imersos no corao, na morte, mas no pereceram por essa razo, ocasionam renascimento, no momento certo; e assim que os seres individuais renascem. D: Como que os inumerveis seres individuais e o vasto universo, cuja existncia correlativa com a dos jivas, brotam a partir desses samskaras sutis soterrados no corao? M: Assim como as grandes rvores Banyan brotama partir de uma pequena semente, assim os jivas e todo o universo com nome e forma brotam dos samskaras sutis. D: Como que emana individualidade do Absoluto Self, e como o seu retorno se torna possvel? M: Como uma centelha provm do fogo, a individualidade emana do Ser Absoluto. A centelha chamada de ego. No caso do Ajnani, o ego identifica-se com algum objeto, simultaneamente com o seu surgimento. Ele no pode permanecer sem essa associao com objetos. Essa associao devida a ajnana, cuja destruio o objetivo do empenho do indivduo. Se esta tendncia de identificar-se com os objetos destruda, o ego torna-se puro e, em seguida, ele tambm se funde com a sua fonte. A falsa identificao de si mesmo com o corpo dehatmabuddhi, ou a idia "eu-sou-o-corpo. Isso tem de desaparecer, antes de se seguirem bons resultados. D: Como fao para erradic-la? M: Voc existe em sushupti (sono profundo) sem estar associado com o corpo e a mente, mas nos outros dois estados voc est associado com eles. Se voc fosse um com o corpo, como voc poderia existir sem o corpo em sushupti? Voc pode separar-se do que externo a voc, mas no do que uno com voc. Assim, o ego no pode ser uno com o corpo. Isso deve ser percebido no estado de viglia. Os trs estados so estudados a fim de se obter esse conhecimento D: Como pode o ego, que se limita a dois estados, diligenciar para perceber isso que engloba todos os trs estados? M: O ego em sua pureza experimentado nos intervalos entre dois estados ou entre dois pensamentos. O ego como uma lagarta que deixa um apoio apenas depois que se agarra a outro. Sua verdadeira natureza conhecida quando ele est fora de contato com objetos ou pensamentos. Voc deve perceber esse intervalo como a realidade atemporal, imutvel, seu verdadeiro Ser, por meio da convico adquirida pelo estudo dos trs estados, jagrat (viglia), svapna (sono com sonhos) e sushupti (sono profundo, sem sonhos). D: Eu no posso permanecer em sushupti durante o tempo que eu quiser, e tambm estar nele quando quiser, assim como eu estou no estado de viglia? Qual a experincia do jnani desses trs estados? M: O sono profundo existe em seu estado de viglia tambm. Voc est em sushupti mesmo agora. Deve-se adentrar nele conscientemente e chegar nesse estado exatamente na viglia. No h realmente um entrar e sair dele. Estar cnscio de sushupti no estado jagrat jagratsushupti, e isso samadhi. O Ajnani no pode permanecer muito tempo em sushupti, porque ele forado por sua natureza a emergir dele. Seu ego no est morto e vai ressurgir vezes sobre vezes. Mas o jnani esmaga o ego na sua fonte. Esse pode parecer emergir, ocasionalmente, no seu caso tambm, como se impelido pelo prarabdha. Isto , tambmno caso do jnani, para todos os propsitos externos, o prarabdha parece sustentar ou manter o ego, como no caso do Ajnani; mas h essa diferena fundamental: o ego do Ajnani quando surge (no seu caso, realmente, ele s desaparece no sono profundo) totalmente ignorante de sua fonte: em outras palavras, o Ajnani no tem conhecimento de seu sushupti nos estados de sonho e viglia; no caso do jnani, pelo contrrio, o surgimento ou a existncia do ego somente aparente, e ele goza de sua experincia ininterrupta, transcendental, a despeito de tal aparente surgimento ou existncia do ego, mantendo a sua ateno (lakshya) sempre na Fonte. Esse ego inofensivo; apenas como o esqueleto de uma corda incinerada - embora com uma forma, intil para amarrar qualquer coisa. Ao se manter constantemente a ateno na Fonte, o ego dissolvido nessa Fonte como um boneco de sal lanado ao mar. D: Qual o significado da crucificao? M: O corpo a cruz. J esus, o filho do homem, o ego ou a idia "eu-sou-o corpo. Quando o filho do homem crucificado no corpo (a cruz), o ego perece, e o que sobrevive o Ser Absoluto. a ressurreio do glorioso Si Mesmo, do Cristo - o Filho de Deus. D: Mas como se justifica a crucificao? Matar no umcrime terrvel? M: Todo mundo est cometendo suicdio. O estado atemporal, bem- aventurado, natural, tem sido sufocado por essa vida de ignorncia. Dessa forma, a vida atual resulta do matar o eterno, a existncia positiva. No realmente umcaso de suicdio? Ento, por que se preocupar commatar, etc.? D: Sri Ramakrishna diz que nirvikalpa samadhi no pode durar mais do que 21 dias; se persistir, a pessoa morre. Trata-se de um fato? M: Quando o prarabdha est esgotado, o ego completamente dissolvido, sem deixar qualquer vestgio atrs. Esta a libertao final (nirvana =sem vir-a- ser). A no ser que o prarabdha esteja esgotado, o ego vai surgir, como parece acontecer no caso de jivanmuktas (liberados enquanto ainda no corpo). VI - AUTO-REALIZAO D: Como posso alcanar a autorrealizao? M: Realizao no nada de novo a ser ganho; j est l. Tudo o que necessrio se livrar do pensamento 'eu no realizei. Quietude ou a paz Realizao. No existe um momento em que Si Mesmo no esteja. Enquanto houver dvida ou a sensao de no realizao, a tentativa deve ser feita para livrar-se desses pensamentos. Eles so devidos identificao do Si-Mesmo com o no-Si-Mesmo. Quando o no-Si-Mesmo desaparece, apenas o Si-Mesmo permanece. Para criar espao, suficiente que o atulhamento seja removido; o espao no trazido de outros lugares. D: Uma vez que a realizao no possvel sem vasanakshaya (destruio das tendncias latentes), como posso realizar o estado em que as vasanas so efetivamente destrudas? M: Voc est nesse estado agora! D: Isso significa que, atendo-me ao Self, as vasanas devem ser destrudas assim que apaream? M: Elas se destruiro se voc permanecer como voc . D: Como posso alcanar o Self? M: No h alcanar o Self. Se fosse para ser alcanado, isso significaria que o Self no est aqui e agora, mas que ainda est para ser obtido. O que obtido como novo, tambm ser perdido. Assim, ser impermanente. No vale a pena lutar pelo que no permanente. Ento, digo, no se alcana o Self. Voc o Self; voc j Isso. O fato que voc ignorante de seu estado bem-aventurado. A ignorncia sobrevm e lana um vu sobre o puro Si-Mesmo, que bem-aventurana. As tentativas so feitas to somente para remover o vu da ignorncia, que apenas conhecimento errneo. O conhecimento errneo a falsa identificao do eu com o corpo, a mente, etc. Esta identificao falsa tem de desfazer-se, e ento apenas o Si-Mesmo permanece. Portanto, a realizao para todos; a realizao no faz diferena entre os aspirantes. A prpria dvida sobre sua capacidade de realizar e a noo de eu no realizei" so, elas prprias, obstculos. Livre-se desses obstculos tambm. D: Qual a finalidade do samadhi, e pode o pensamento subsistir ento? M: Apenas o samadhi pode revelar a verdade. Os pensamentos lanamumvu sobre a realidade, e, por isso, ela no percebida como tal emoutros estados distintos do samadhi. Em Samadhi h apenas o sentimento "EU SOU" e no h pensamento algum. A experincia do "EU SOU" estar em quietude. D: Como posso repetir a experincia de samadhi ou a quietude que consigo aqui? M: Sua atual experincia devida influncia da atmosfera em que voc se encontra. Voc pode t-la fora dessa atmosfera? A experincia intermitente. At que se torne permanente, a prtica necessria. D: Tm-se, por vezes, vvidos lampejos de uma conscincia cujo centro est fora do eu normal, e que parece ser totalmente includente. Sem nos envolvermos com conceitos filosficos, como que Bhagavan aconselha-me a trabalhar no sentido de obter, manter e ampliar esses raros lampejos? Ser que a abhyasa (prtica espiritual) em tal experincia envolve retiro? M: Est fora! Para quem existe dentro ou fora? Eles s podem existir enquanto houver o sujeito e o objeto Mais uma vez, para quem existem esses dois? Investigando, voc vai descobrir que eles se resumem apenas ao sujeito. Veja quem o sujeito, e essa investigao leva voc pura Conscincia alm do sujeito. O eu normal a mente. Essa mente existe com limitaes. Mas a conscincia pura est alm das limitaes, e atingida por meio da investigao como anteriormente descrito. Obteno: O Self est sempre l. Voc s tem de remover o vu que obstrui a revelao do Ser. Reteno: Quando voc realiza o Self, ele se torna sua experincia direta e imediata. Ele nunca perdido. Extenso: no h extenso alguma do Self, pois ele sempre idntico, sem se contrair ou se expandir. Retiro: Permanecer no Ser solido. Porque no h coisa alguma exterior ao Self. O retiro tem de ser de um lugar ou estado a outro. No existe nem um nem o outro parte do Self. Tudo sendo o Self, o retiro impossvel e inconcebvel. Abhyasa s a preveno do distrbio paz inerente. Voc est sempre em seu estado natural, quer faa abhyasa ou no... permanecer como voc , sem dvidas ou questionamentos, o seu estado natural. D: Ao realizar o samadhi, no se obtmsiddhis (poderes ocultos) tambm? M: Para que os siddhis sejam exibidos, deve haver outros indivduos para reconhec-los. Isso significa que no existe jnna em quem os exibe. Portanto, os siddhis no valem a pena. Apenas jnana deve ser almejada e obtida. D: A minha realizao ajuda os outros? M: Sim, e a melhor ajuda que voc pode prestar aos outros. Aqueles que descobriram grandes verdades o fizeram nas profundezas tranquilas de Si Mesmo. Mas realmente no h 'outros' para serem ajudados. Pois, o ser realizado v apenas o Self, assim como o ourives v apenas o ouro enquanto o avalia em vrias jias feitas desse material. Quando voc se identifica com o corpo, o nome e a forma esto l. Mas quando voc transcende a conscincia do corpo, os "outros" tambm desaparecem. O realizado no v o mundo como diferente de si mesmo. D: No seria melhor se os santos se misturassemcom os outros? M: No h 'outros' com quem se misturar. O Self a nica realidade. D: Eu no deveria tentar ajudar o mundo sofredor? M: O Poder que o criou fez o mesmo com o mundo. Se ele pode cuidar de voc, pode igualmente cuidar do mundo... se Deus criou o mundo, trabalho dele cuidar do mundo, no seu. D: No nosso dever ser patriotas? M: Seu dever ser e no ser isso ou aquilo. "EU SOU ESSE EU SOU" resume toda a verdade; o mtodo est sintetizado em 'aquiete-se'. E o que a quietude significa? Significa "destruir a si mesmo"; porque todo nome e forma a causa do problema. "Eu-Eu" o Self. "Eu sou isso e aquilo" o ego. Quando o "eu" mantido apenas como o "eu", ele o Self. Quando sai pela tangente e diz 'eu sou isso ou aquilo, eu sou tal e tal, o ego. D: Quem Deus ento? M: O Self Deus. "EU SOU" Deus. Se Deus est parte do Self, ele tem de ser um Deus sem Si-Mesmo, o que absurdo. Tudo o que necessrio para realizar o Self estar quieto. O que pode ser mais fcil do que isso? Da que o atma vidya (conhecimento de si mesmo) o mais fcil de obter. VII - O GURU E SUA GRAA D: O que guru Kripa (a graa do guru)? Como ela conduz autorrealizao? M: Guru o Self. s vezes, um indivduo se torna insatisfeito com sua vida e, descontente com o que ele tem, busca a satisfao de seus desejos por meio da orao a Deus, etc. Sua mente gradualmente se purifica at que ele anseia por conhecer a Deus, mais para obter Sua graa que para satisfazer desejos mundanos. Em seguida, a graa de Deus comea a se manifestar. Deus toma a forma de um Guru e aparece ao devoto, ensina-lhe a verdade e, alm disso, purifica sua mente pela associao. A mente do devoto ganha fora e ento capaz de voltar-se para dentro. Atravs da meditao, torna-se ainda mais purificada e permanece sem a menor ondulao. Essa calma vastido o Self. O Guru tanto 'externo' quanto 'interno'. Do 'exterior', ele d um empurro para que a mente se volte para dentro; do interior ele puxa a mente para o Self e auxilia para que ela se aquiete. Isso guru kripa. No existe diferena entre Deus, Guru e o Self. D: Na Sociedade Teosfica, eles meditam a fim de buscar os mestres para guia-los. M: O Mestre interno. A meditao feita para remover a idia ignorante de que s existe externamente. Se ele um estranho que voc espera, est fadado a desaparecer tambm. Qual a utilidade de um ser transitrio como esse? Mas enquanto voc pensar que separado, ou que voc o corpo, o mestre 'externo' tambm ser necessrio, e ele vai aparecer como possuindo um corpo. Quando a identificao errnea de si mesmo com o corpo cessar, o Mestre ser visto como nenhum outro seno si mesmo. D: Ser que o Guru nos auxiliar a conhecer o Self por meio da iniciao, etc.? M: O Guru lhe toma pela mo e sussurra em seu ouvido? Voc pode imagin-lo ser o que voc mesmo . Porque voc pensa que est com um corpo, imagina que ele tambm tem um corpo para fazer alguma coisa tangvel por voc. Seu trabalho se processa internamente, no reino espiritual. D: Como que o Guru encontrado? M: Deus, que imanente, em Sua graa tem piedade do devoto amoroso e manifesta-se de acordo com o desenvolvimento dele. O devoto pensa que Ele uma pessoa e espera interajamcomo dois corpos fsicos. Mas o Guru, que Deus, ou o Self encarnado, atua a partir de dentro, ajuda-o a ver o erro em suas atitudes e guia-o no caminho certo at que ele perceba o Self interior. D: O que deve fazer ento o devoto? M: Ele tem apenas de agir de acordo com as palavras do Mestre e trabalhar interiormente. O Mestre est tanto "dentro" quanto 'fora'. Assim, ele cria condies para conduzi-lo ao interior e, ao mesmo tempo, prepara o "interior" para pux-lo para o Centro. Dessa forma, ele d um empurro de 'fora' e exerce uma atrao a partir de dentro, para que voc se fixe no Centro. Voc acha que o mundo pode ser conquistado por seus prprios esforos. Quando se frustra externamente e impelido para dentro, voc sente Oh! h um poder superior ao homem. O ego como um elefante muito poderoso, que no pode ser mantido sob controle por nada menos poderoso do que um leo, que, neste exemplo, no outro seno o Guru, cuja figura suficiente para fazer o ego, smile do elefante, tremer e morrer. Voc saber, no momento oportuno, que a sua glria reside ali onde voc deixa de existir. A fim de obter esse estado, voc deve render-se. Ento o Mestre v que voc est em um estado adequado para receber orientao, e ele lhe guia. D: Como pode o silncio do Guru que no d iniciao alguma, nem realiza qualquer outro ato tangvel, ser mais poderoso que a Sua palavra, etc.? Como tal silncio pode ser melhor do que o estudo das escrituras? M: O silncio a forma mais potente de trabalho. A despeito de quo vastas e enfticas as escrituras possam ser, elas falham emsua influncia. O Guru silencioso e a Graa predomina. Esse silncio mais vasto e mais enftico que todas as escrituras juntas. D: Mas o devoto pode obter a felicidade? M: O devoto se rende ao Mestre e isso significa que no h vestgio algum de individualidade retida por ele. Se a entrega for completa, todo o senso de eu se perde, e ento no pode haver sofrimento ou tristeza. O Ser eterno no coisa alguma, a no ser a felicidade. Isso vem como uma revelao. D: Como posso obter a Graa? M: A graa o Self. No tambm para ser adquirida; voc s precisa saber que ela existe. O sol luminosidade apenas. Ele no v escurido. Contudo, voc fala das trevas fugindo aproximao do sol. Assim tambm a ignorncia do devoto, como o fantasma da escurido, desaparece com o olhar do Guru. Voc cercado pela luz solar; ainda assim, se quiser ver o sol, deve voltar-se em sua direo e contempl-lo. Da mesma forma, a Graa tambm encontrada pela forma adequada de aproximar-se, embora esteja aqui e agora. D: A Graa no pode acelerar a maturao no buscador? M: Deixe tudo para o Mestre. Renda-se a ele sem reservas. Uma das duas coisas deve ser feita: render-se, porque voc percebe sua insuficincia e precisa da ajuda de uma fora maior para auxili-lo; ou investigar a causa do sofrimento, ir fonte e, assim, fundir-se no Self. De uma maneira ou da outra, voc estar livre do sofrimento. Deus ou Guru nunca abandona o devoto que se rendeu. D: Qual o significado de prostrao ao Guru ou Deus? M: A prostrao significa o desaparecimento do ego, e isso significa fundir-se na Fonte. Deus ou Guru no pode ser enganado por genuflexes, reverncias e prostraes. Ele v se o ego est ali ou no. D: O Bhagavan no vai me dar um pouco do Prasad (alimento consagrado) de sua folha como um sinal de Sua Graa? M: Alimente-se sem pensar no ego. Ento, o que voc come torna-se o Prasad de Bhagavan. D: No o homem letrado melhor qualificado para o esclarecimento, no sentido de que ele no necessita da graa do guru? M: Mesmo um homem culto deve curvar-se perante o sbio iletrado. A falta de instruo ignorncia e a educao ignorncia ilustrada. Em ambos os casos, h ignorncia do verdadeiro objetivo. O sbio ignorante de outra forma. Ele ignorante porque no h "outro" para ele. D: No para obter a Graa do Guru que presentes so oferecidos a ele? Portanto, os visitantes oferecem presentes para Bhagavan. M: Por que trazem presentes? Eu os quero? Mesmo se eu me recusar, eles atiram os presentes em mim! Para qu? No como lanar uma isca para pegar o peixe? Est o pescador ansioso para alimentar o peixe? No, ele est ansioso para alimentar-se dele! D: A idia teosfica de ministrar sucessivas iniciaes antes de se atingir moksha (liberao) verdadeira? M: Aqueles que atingem moksha em uma vida devem ter passado por todas as iniciaes em suas vidas anteriores. D: A Teosofia diz que os jnanis, aps a morte, tmde escolher entre quatro ou cinco linhas de trabalho, no necessariamente neste mundo. Qual a opinio de Bhagavan? M: Alguns podem retomar o trabalho, mas no todos. D: Voc est consciente de uma irmandade de Rishis (sbios) invisveis? M: Se invisveis, como voc pode v-los? D: Na conscincia. M: No h coisa alguma externa na conscincia. D: Eu posso perceb-los? M: Se voc perceber a sua prpria realidade, ento a dos Rishis e Mestres se tornar clara para voc. S h um Mestre, que o Self. D: A reencarnao uma verdade? M: A reencarnao existe apenas enquanto h ignorncia. No h realmente reencarnao alguma, absolutamente, seja agora, seja antes. Nem haver no futuro. Esta a verdade. D: Pode um yogi conhecer suas vidas passadas? M: Voc conhece a vida presente de tal forma que deseja saber o passado? Encontre o presente, ento o resto se seguir. Mesmo com o nosso presente conhecimento limitado, voc sofre tanto; por que voc deve sobrecarregar-se com mais conhecimento? para sofrer mais? D: O Bhagavan utiliza poderes ocultos para fazer os outros perceberem o Ser, ou o simples fato da realizao de Bhagavan suficiente para isso? M: A fora espiritual da autorrealizao muito mais poderosa do que o uso de todos os poderes ocultos. Na medida em que no existe ego no sbio, no existem outros' para ele. Qual o maior benefcio que pode ser conferido a voc? a felicidade, e a felicidade nasce da paz. A paz pode reinar apenas onde no h perturbao, e a perturbao devida aos pensamentos que surgem na mente. Quando a prpria mente est ausente, h paz perfeita. A menos que a pessoa tenha aniquilado a mente, ela no pode ganhar a paz e ser feliz. E a menos que ela prpria seja feliz, no pode conferir felicidade aos "outros". Uma vez que, no entanto, no h "outros" para o sbio que no tem mente, o simples fato de sua autorrealizao , em si, suficiente para fazer felizes os 'outros'. VIII - PAZ E FELICIDADE D: Como posso conseguir a paz? Parece que no consigo obt-la por meio de vichara. M: A paz o seu estado natural. a mente que obstrui o estado natural. Sua vichara tem sido feita apenas na mente. Investigue o que a mente , e ela vai desaparecer. No existe tal coisa como mente parte do pensamento. No entanto, por causa do surgimento do pensamento, voc supe algo a partir do qual ele aparece e nomeia a isso mente. Quando voc sonda para ver o que ela , voc descobre que realmente no existe tal coisa como mente. Quando, dessa forma, a mente evanesce, voc percebe a paz eterna. D: Por meio da poesia, da msica, japa , bhajana, da viso de belas paisagens, da leitura de versos de natureza espiritual, etc., se experimenta, s vezes, um sentido verdadeiro de total unidade. Esse sentimento de profunda e bem- aventurada quietude (emque o eu pessoal no tem lugar) o mesmo que o mergulhar no corao de que Bhagavan fala? A prtica desse estado levar a um samadhi mais profundo e, por fim, a uma viso completa do Real? M: H felicidade quando coisas agradveis so apresentadas mente. Essa felicidade inerente ao Ser, e no existe, de forma alguma, outra felicidade. E no se trata de coisa estranha e longnqua. Voc est mergulhado no Self nessas ocasies que voc considera prazerosas; esse mergulho tem como resultado a felicidade autoexistente. Mas a associao de idias responsvel por impingir a crena de que a felicidade se encontra em outras coisas ou acontecimentos, quando, na verdade, essa bem-aventurana se encontra dentro de voc. Nessas ocasies voc est mergulhando no Si Mesmo, embora inconscientemente. Se voc faz isso conscientemente, com a convico que vem da experincia de que voc idntico felicidade que , na verdade, Si Mesmo, a Realidade nica, voc o chama de Realizao. Quero que voc mergulhe conscientemente em Si Mesmo, isto , no corao. EVANGELHO DE MAHARISHI LIVRO II I - AUTO-INVESTIGAO Discpulo: O que fazer para realizar o Si Mesmo? Maharshi: O Si Mesmo de quem? Descubra. D: Meu, mas quem sou eu? M: Descubra voc mesmo. D: Eu no sei como. M: Basta pensar sobre a questo. Quem que diz: "Eu no sei"? Quem o "eu" em sua declarao? O que no conhecido? D: Algum ou alguma coisa em mim. M: Quem esse algum? Em quem? D: Talvez algum poder. M: Descubra. D: Por que eu nasci? M: Quem nasceu? A resposta a mesma para todas as suas perguntas. D: Quem sou eu, ento? M: (sorrindo.) Voc veio para me arguir? Voc deve dizer quem voc . D: Por mais que eu tente, no parece que eu consiga pegar o 'eu'. Ele nem sequer claramente perceptvel. M: Quem que diz que o "eu" no perceptvel? H dois 'eus em voc, um que no perceptvel para o outro? D: Em vez de perguntar "Quem sou eu?", posso perguntar a mim mesmo Quem voc?, pois assim, ento, a minha mente pode ser fixada em voc, que eu considero ser Deus na forma de Guru? Eu estaria mais perto do objetivo da minha busca com essa investigao do que perguntando a mim mesmo quem sou eu?. M: Qualquer que seja a forma adotada sua investigao, voc deve ao final chegar ao eu nico, o Si Mesmo. Todas estas distines feitas entre "eu" e "voc", mestre e discpulo, etc., so apenas um sinal da ignorncia do indivduo. S h o Eu Supremo. Pensar de outra maneira enganar a si mesmo. A histria purnica (Puranas-Escrituras Sagradas) do sbio Ribhu e de seu discpulo Nidagha particularmente instrutiva nesse contexto. Embora Ribhu ensinasse a seus discpulos a suprema Verdade de que s h Brahman (o absoluto), sem que haja outro, Nidagha, a despeito de sua erudio e compreenso, no ficou suficientemente convencido para adotar e seguir o caminho da jnana, mas estabeleceu-se em sua cidade natal para levar uma vida dedicada observncia da religio cerimonial. O Sbio, porm, amava o seu discpulo to profundamente quanto este venerava seu Mestre. Apesar de ser idoso, Ribhu ia ver o seu discpulo na cidade, s para acompanhar o quanto o ltimo havia superado seu ritualismo. s vezes, o Sbio ia disfarado, para que pudesse observar como Nidagha agiria sem saber que estava sendo observado por seu Mestre. Em uma dessas ocasies, Ribhu, que havia se disfarado de umrstico campons, encontrou Nidagha assistindo atentamente a um cortejo real. No sendo reconhecido pelo morador da cidade, Nidagha, o rstico campons perguntou-lhe que agitao toda era aquela, e lhe foi respondido que o rei saa em procisso. "Oh! o rei. Ele est saindo em procisso! Mas, onde est ele?", perguntou o rstico. "L, no elefante", disse Nidagha. "Voc diz que o rei est no elefante. Sim, vejo os dois", disse o rstico, Mas, qual deles o rei e qual o elefante? "O qu?", exclamou Nidagha: "Voc v os dois, mas no sabe que o homem em cima o rei e o animal em baixo o elefante? Qual a utilidade de se conversar com algum como voc?". Por favor, suplico-lhe, no seja impaciente com um homem ignorante como eu", disse o rstico. "Mas, voc disse 'em cima ' e 'em baixo': o que essas palavras significam?" Nidagha no aguentou mais. "Voc v o rei e o elefante, um em cima e o outro em baixo. No entanto, voc quer saber o que se entende por "em cima" e 'em baixo'?", explodiu Nidagha. "Se as coisas vistas e as palavras proferidas podem transmitir to pouco a voc, apenas a ao pode lhe ensinar. Curve o corpo, e voc vai saber muito bem. O rstico fez o que lhe foi dito. Nidagha subiu em seus ombros e disse: "Saiba agora! Eu estou em cima, como o rei, e voc est embaixo, como o elefante. Isso est suficientemente claro?". "No, ainda no", foi a calma resposta do rstico. "Voc diz que voc est em cima, como o rei, e eu estou em baixo, como o elefante. O 'rei', o 'elefante', 'em cima' e em baixo, at aqui est claro. Mas, rogo-lhe, diga-me o que voc quer dizer com 'eu' e 'voc'?" Quando Nidagha foi assim confrontado, repentinamente, com o extraordinrio desafio de definir o 'voc' parte do eu, a luz despontou em sua mente. Imediatamente ele saltou dos ombros e caiu aos ps do seu mestre, dizendo: "Quem mais, seno o meu Venervel Mestre Ribhu, poderia ter trazido assim a minha mente das superficialidades da existncia fsica para o verdadeiro ser do Si Mesmo? Oh, Mestre benigno, eu imploro as suas benos". Portanto, quando o seu objetivo transcender aqui e agora essas superficialidades da existncia fsica por meio de atma vichara, que espao h para fazer as distines entre 'voc' e 'eu', que dizem respeito apenas ao corpo? Quando voc volta a mente para dentro, buscando a fonte do pensamento, onde est o 'voc' e onde est o "eu"? Voc deve investigar e ser o Si Mesmo, que inclui a todos. D: Mas no engraado que o "eu" deva sair em busca do "eu"? A investigao "Quem sou eu? no se transforma, ao final, em uma frmula vazia? Ou devo colocar a questo para mim incessantemente, repetindo-a como um mantra? M: A autoinvestigao no , certamente, uma frmula vazia; mais do que a repetio de qualquer mantra. Se a investigao, "Quem sou eu?" fosse um mero questionamento mental, no seria de muito valor. O propsito de autoinvestigao concentrar toda a mente na sua fonte. No , assim, um caso de um 'eu' em busca de outro "eu". Muito menos a autoinvestigao uma frmula vazia, pois envolve uma intensa atividade de toda a mente para mant-la constantemente estabelecida em pura autoconscincia. A autoinvestigao o nico meio infalvel, o nico direto, para perceber o Ser incondicionado, absoluto, que voc realmente . D: Por que s a autoinvestigao deve ser considerada o meio direto para jnana? M: Porque todo tipo de sadhana, exceto Atma Vichara, pressupe a reteno da mente como o instrumento para o exerccio da sadhana, e sema mente ela no pode ser praticada. O ego pode tomar formas diferentes e mais sutis nas diferentes fases da prtica do indivduo, porm ele mesmo jamais destrudo. Quando J anaka (rei sbio) exclamou: "Agora descobri o ladro que esteve me arruinando durante todo o tempo - lidarei com ele sumariamente", o rei estava realmente referindo-se ao ego ou mente. D: Mas o ladro pode igualmente ser capturado por outras formas de sadhana. M: A tentativa de destruir o ego ou a mente atravs de sadhanas distintas de atma vichara o mesmo que um ladro assumir o papel de um policial para prender o ladro, que ele prprio. Somente Atma vichara pode revelar a verdade que nem o ego nem a mente realmente existe, e capacitar o indivduo a realizar o puro, indiferenciado Ser do Si-mesmo ou o Absoluto. Tendo realizado o Self, nada sobra para se conhecer, porque ele perfeita Bem-aventurana, o Todo. D: Nesta vida cercada de limitaes, posso alguma vez perceber a bem- aventurana do Self? M: Essa bem-aventurana do Self est sempre com voc, e voc vai encontr- la por si mesmo, se a procurar sinceramente. A causa do seu sofrimento no est na vida exterior; est em voc como ego. Voc impe limitaes a si mesmo e, em seguida, realiza uma luta v para transcend-las. Toda infelicidade devida ao ego; com ele vem todo o seu problema. O que que adianta atribuir aos acontecimentos da vida a causa do sofrimento, que est realmente dentro de voc? Que felicidade voc pode obter de coisas exteriores a si mesmo? Quando voc a conseguir, quanto tempo isso vai durar? Se voc negar o ego e inciner-lo, ignorando-o, voc estar livre. Se aceit-lo, ele vai lhe impor limitaes e ir lan-lo em uma luta v para transcend-las. Era assim que o ladro procurava 'arruinar' o Rei J anaka. Ser o Si Mesmo, que voc realmente , eis o nico meio de realizar a bem- aventurana que sempre sua. D: No tendo percebido a verdade de que apenas o Self existe, eu no deveria adotar os caminhos espirituais (margas) bhakti e yoga como sendo mais adequadas do que vichara para fins de sadhana? No a realizao do Absoluto Ser do indivduo, isto , Brahma jnana, algo praticamente inatingvel para um leigo como eu? M: Brahma jnana no um conhecimento a ser adquirido, de modo que, ao adquiri-lo, se possa obter a felicidade. Essa o ponto de vista da ignorncia, do qual se deve desistir. O Self que voc busca conhecer , na verdade, voc mesmo. Sua suposta ignorncia lhe causa uma aflio desnecessria, como a dos dez homens tolos que se afligiram com a "perda" do dcimo homem, que nunca foi perdido. Os dez homens tolos da parbola atravessaram um rio e, ao alcanar a outra margem, quiseram ter a certeza de que todos tinham, de fato, cruzado em segurana a correnteza. Um dos dez comeou a contar, mas, ao efetuar a contagem, deixou a si mesmo de fora. "Eu vejo apenas nove - com toda a certeza, perdemos um. Quem pode ter sido?", perguntou. "Voc contou corretamente?", questionou outro, e efetuou, ele mesmo, nova contagem. Mas tambm contou apenas nove. Um aps o outro, cada um dos dez contou apenas nove, deixando de considerar a si mesmo. "Somos apenas nove", todos eles concordaram, mas, quem est faltando?, perguntaram-se uns aos outros. Toda tentativa que fizeram para descobrir o companheiro perdido falhou. "Quem quer que seja que tenha se afogado", disse o mais sentimental dos dez tolos, "ns o perdemos". Assim dizendo, comeou a chorar, e o resto dos nove seguiu o exemplo. Ao v-los chorando na margem do rio, um bondoso viandante perguntou sobre a causa. Eles relataram o que havia acontecido e disseram que, mesmo aps contarem-se vrias vezes, no conseguiam encontrar mais do que nove. Ao ouvir a histria, mas vendo todos os dez diante dele, o viajante adivinhou o que tinha acontecido. A fim de faz-los saber por si mesmos que eles eram realmente dez, que todos eles tinham chegado a salvo da travessia, lhes disse: "Cada um de vocs vai contar a si mesmo, mas um aps o outro, em sequncia, um, dois, trs, e assim por diante, enquanto eu darei uma pancada em cada um, para que todos vocs possam ter a certeza de terem sido includos na contagem, e includos apenas uma vez. O dcimo homem 'perdido' ser, ento, encontrado. Ouvindo isso, eles se alegraram com a perspectiva de encontrar seu companheiro "perdido" e aceitaramo mtodo sugerido pelo viajante. Ao passo em que o amvel andarilho dava um golpe a cada um dos dez, o que era golpeado contavase em voz alta. "Dez", disse o ltimo homem, assim que, na sua vez, recebeu a ltima pancada. Desnorteados, olharam-se uns aos outros. "Somos dez", disseram a uma s voz, e agradeceram ao viajante por ter dissipado a sua aflio. Essa a parbola. Onde se foi buscar o dcimo homem? Alguma vez ele esteve perdido? Ao saber que ele estava l o tempo todo, eles aprenderam alguma coisa nova? A causa de sua dor no era a perda real de qualquer um dos dez, era a sua prpria ignorncia, melhor, a sua mera suposio de que um deles estava perdido (embora no pudessem identificar qual), pois haviam contado apenas nove. Tal tambm o caso com voc. No h, realmente, razo para voc se sentir desconsolado e infeliz. Voc mesmo impe limitaes sua verdadeira natureza de Ser Infinito, e ento se lamenta por no passar de uma criatura finita. Dessa forma, voc se vale desta ou daquela prtica espiritual (sadhana) para transcender as limitaes inexistentes. Mas se a sua sadhana pressupe, ela mesma, a existncia de limitaes, como pode ajud-lo a transcend-las? Assim, eu digo, saiba que voc realmente o puro Ser Infinito, o Si Mesmo Absoluto. Voc sempre esse Self e nada mais que o Self. Portanto, voc jamais pode ser realmente ignorante de Si Mesmo; sua ignorncia apenas uma ignorncia formal, como a ignorncia dos dez tolos acerca do dcimo homem 'perdido. Foi essa ignorncia que lhes causou infortnio. Saiba, ento, que o verdadeiro conhecimento no cria um novo Ser para voc; ele s remove a 'ignorncia ignorante. A Bem-Aventurana no adicionada sua natureza - ela simplesmente revela-se como o seu estado verdadeiro e natural, eterno e imperecvel. A nica maneira de se livrar de sua aflio conhecer e ser Si Mesmo. Como pode isso ser inatingvel? II - SADHANA E GRAA D: A pesquisa sobre Deus vem acontecendo desde tempos imemoriais. J foi dada a palavra final? M: (Mantm silncio por algum tempo). D: (Intrigado) Devo considerar o silncio do Sri Bhagavan como a resposta minha pergunta? M: Sim. Mauna Iswara svarupa (a natureza de Deus). Da, o texto: A Verdade do Supremo Brahman proclamada por meio da eloquencia silenciosa D: Diz-se que Buda ignorou tais investigaes sobre Deus. M: E, por causa disso, ele foi chamado de Vadin sunya (niilista). Na verdade, Buda se preocupou mais em orientar o aspirante a perceber a bem- aventurana aqui e agora do que com discusses acadmicas a respeito de Deus, etc. D: Deus descrito como manifesto e no manifesto. Como o primeiro, diz-se que inclui o mundo como parte de seu ser. Se assim, ns, como parte deste mundo, deveramos facilmente conhece-lo na forma manifesta. M: Conhea a si mesmo antes de buscar decidir sobre a natureza de Deus e do mundo. D: Conhecer a mim mesmo implica conhecer a Deus? M: Sim, Deus est dentro de voc. D: Ento, qual o obstculo no caminho de meu conhecimento de mim mesmo ou de Deus? M: Sua mente errante e as suas incorretas formas de se conduzir. D: Eu sou uma criatura fraca. Mas, por que o poder superior de Deus dentro de mim no remove os obstculos? M: Sim, ele remover, se voc tiver a aspirao. D: Por que Ele no cria a aspirao em mim? M: Ento, renda-se. D: Se eu me entregar, nenhuma orao a Deus necessria? M: Entregar a si mesmo uma poderosa orao. D: Mas no necessrio compreender a Sua natureza antes de algum entregar-se? M: Se voc acredita que Deus far por voc todas as coisas que voc quer que ele faa, entregue-se ento a Ele. Caso contrrio, deixe Deus de lado e conhea a si mesmo. D: Deus ou o Guru tem algum desvelo por mim? M: Se voc procurar um ou o outro - eles realmente no so dois, mas um s e idnticos tenha a certeza de que eles o esto buscando com uma solicitude maior do que voc jamais pode imaginar. D: J esus contou a parbola da moeda perdida, em que a mulher a procura at que seja encontrada. M: Sim, isso representa adequadamente a verdade de que Deus ou o Guru est sempre procura do buscador srio. Fosse a moeda uma pea sem valor, a mulher no teria realizado essa longa busca. Voc percebe o que isso significa? O buscador deve qualificar-se atravs da devoo, etc. D: Mas o indivduo pode no estar seguro da Graa de Deus. M: Se a mente imatura no sente a Sua Graa, isso no significa que a graa de Deus esteja ausente, pois tal situao implicaria que Deus, s vezes, no benevolente, ou seja, deixa de ser Deus. D: Isso o mesmo que o dito de Cristo De acordo com a tua f seja feito a ti". M: Isso mesmo. D: Os Upanishads, segundo soube, dizem que s conhece o Atman (Ser Supremo) aquele que o Atman escolhe. Por que razo deveria o Atman escolher? Se ele o faz, por que determinada pessoa? M: Quando o sol nasce, apenas alguns botes florescem, no todos. Voc culpa o sol por isso? O boto tambm no pode florescer por si mesmo, ele necessita da luz do sol para faz-lo. D: No podemos dizer que necessria a ajuda do Atman porque foi o Atman que lanou sobre si mesmo o vu de maya? M: Voc pode dizer isso. D: Se o Atman lanou o vu sobre si mesmo, no deve, ele mesmo, remover o vu? M: Ele o far. Veja para quem o vu. D: Por que deveria eu? Que o prprio Atman remova o vu! M: Se o Atman fala sobre o vu, ento o prprio Atman ir remov-lo. D: Deus pessoal? M: Sim, Ele sempre a primeira pessoa, o eu, ininterruptamente diante de voc. Porque voc d prioridade a coisas mundanas, Deus parece ter recuado a um plano secundrio. Se voc desistir de tudo e buscar apenas Ele, s Ele vai permanecer como o eu, o Si Mesmo. D: O estado final de Realizao, de acordo com o Advaita, diz-se ser a absoluta unio com o Divino; e de acordo com Visishtadvaita, uma unio parcial, enquanto Dvaita sustenta que no h unio alguma. Qual destas deve ser considerada a correta viso? M: Por que especular sobre o que vai acontecer em algum momento futuro? Todos concordamque o "eu" existe. A qualquer escola de pensamento que ele possa pertencer, deixe o srio buscador primeiro descobrir o que o "eu" Ento, haver tempo suficiente para saber o que ser o estado final, se o "eu" vai imergir no Supremo Ser ou permanecer fora dele. No vamos antecipar a concluso, mas manter a mente aberta. D: Mas, alguma compreenso do estado final no ser um guia til mesmo para o aspirante? M: No serve a propsito algum a tentativa de decidir agora o que ser o estado final de Realizao. No h nisso valor intrnseco algum. D: Por qu? M: Porque voc parte de um princpio equivocado. Sua verificao tem de depender do intelecto, que brilha apenas pela luz que obtm do Self. No uma presuno da parte do intelecto se por a fazer julgamento sobre aquilo de que ele apenas uma manifestao limitada, e do qual deriva a sua tnue luz? Como pode o intelecto, que jamais pode chegar ao Self, ser competente para averiguar, e muito menos decidir, sobre a natureza do estado final de Realizao? como tentar medir a luz do sol em sua origem pelo critrio da luz emitida por uma vela. A cera derreter antes de a vela chegar a qualquer lugar perto do sol. Em vez de entregar-se mera especulao, empenhe-se, aqui e agora, na busca da Verdade, que est sempre dentro de voc. III - O JNANI E O MUNDO D: O mundo percebido pelo jnani? M: De quem a pergunta? De um ou jnani ou de um ajnani? D: De umajnani, admito. M: o mundo que busca decidir a questo sobre a sua realidade? A dvida surge em voc. Conhea, em primeira instncia, quem esse que duvida, e ento voc pode considerar se o mundo real ou no. D: O ajnani v e conhece o mundo e seus objetos, que afetamseus sentidos de tato, paladar, etc. O jnani experimenta o mundo da mesma maneira? M: Voc fala acerca de ver e conhecer o mundo. Mas, sem conhecer a si mesmo, o sujeito cognoscente (sem o qual no h conhecimento do objeto), como voc pode conhecer a verdadeira natureza do mundo, o objeto conhecido? Os objetos, no h dvida alguma, afetamo corpo e os rgos dos sentidos; mas para o seu corpo que surge a pergunta? O corpo diz "percebo o objeto, ele real? Ou, o mundo que lhe diz: "Eu, o mundo, sou real"? D: Eu s estou tentando compreender o ponto de vista do jnani sobre o mundo. O mundo percebido pelo jnani aps a autorrealizao? M: Por que se preocupar sobre o mundo e o que acontece com ele depois da autorrealizao? Primeiro perceba a Si Mesmo. Que importa se o mundo percebido ou no? Voc ganha algo para ajud-lo em sua busca pela no percepo do mundo durante o sono profundo? De modo contrrio, o que voc perderia agora pela percepo do mundo? totalmente indiferente ao jnani ou ao ajnani se eles percebemo mundo ou no. Ele visto por ambos, mas seus pontos de vista so diferentes. D: Se o jnani e o ajnani percebem o mundo de igual maneira, onde est a diferena entre eles? M: Ao ver o mundo, o jnani v o Self, que o substrato de tudo o que visto; o ajnani, vendo o mundo ou no, ignorante do seu verdadeiro Ser, o Self. Considere o caso das imagens em movimento na tela do cinema. O que est l sua frente antes de a exibio comear? Apenas a tela. Nessa tela voc v todo o filme, e, aparentemente, as imagens so reais. Mas v e tente peg-las. No que voc toca? Apenas na tela, em que as imagens pareciam to reais. Aps o filme, quando as imagens desaparecem, o que resta? A tela de novo! Da mesma forma, com o Self. S ele sempre existe; as imagens vm e se vo. Se voc se ativer a Si Mesmo, no ser enganado pela aparncia das imagens. Tampouco tem importncia se as imagens aparecem ou desaparecem. Ignorando o Self, o ajnani acha que o mundo real, assim como, ignorando a tela, ele v apenas as imagens, como se estas existissem parte daquela. Quando se sabe que sem o vidente no h coisa alguma a ser vista, assim como no h imagens sem a tela, no se iludido. O jnani sabe que a tela, as imagens e os olhos que as veem so to somente o Self. Com as imagens, o Self est em sua forma manifesta; sem as imagens, ele permanece na forma no-manifesta. Para o jnani, bastante irrelevante se o Self est em uma forma ou outra. Ele sempre o Self. Mas o ajnani, vendo o jnani ativo, fica confuso. D: exatamente esse o ponto que me levou a colocar minha primeira pergunta, ou seja, se a pessoa que realizou o Self percebe o mundo como ns, e, se o faz, eu gostaria de saber como Sri Bhagavan se sentiu quanto ao misterioso desaparecimento da foto ontem... M: (Sorrindo) Voc est se referindo foto do Templo de Madurai. Poucos minutos antes, ela estava passando pelas mos dos visitantes, que a contemplavam. Evidentemente, perdeu-se entre as pginas de um livro ou outro que eles estavam consultando. D: Sim, foi esse o incidente. Como Bhagavan o encarou? Houve uma busca ansiosa pela foto, que, ao final, no pde ser encontrada. Como Bhagavan considerou o misterioso desaparecimento da foto, exatamente no momento em que estava sendo procurada? M: Suponha que voc sonhe que est me levando para o seu distante pas, a Polnia. Voc acorda e pergunta-me: "Eu sonhei assim e assim; voc tambm teve esse sonho, ou sabe, de alguma outra forma, que eu o estava levando para a Polnia?" Que significado voc atribuir a uma tal questo? D: Mas, no que diz respeito foto perdida, o incidente todo ocorreu na frente de Sri Bhagavan. M: A viso da foto e seu desaparecimento, bem como a sua presente pergunta, so, todos, meras operaes mentais. H uma histria purnica que ilustra o ponto. Quando Sita desapareceu do eremitrio na floresta, Rama saiu sua procura, pranteando Oh Sita, Sita!" Diz-se que Parvati (esposa de Shiva) e Parameswara (Senhor Supremo, Shiva) viram de cima o que estava acontecendo na floresta. Parvati expressou sua surpresa a Shiva e disse: "Voc elogiou Rama como o Ser Perfeito. Veja como ele se comporta e se entristece diante da perda de Sita!" Shiva respondeu: "Se voc ctica quanto perfeio de Rama, ento submeta-o a um teste voc mesma. Por meio da sua yoga maya (poder de criar iluses), transforme-se e aparea como Sita diante dele". Parvati fez o que lhe foi sugerido. Ela apareceu na forma de Sita diante de Rama, mas, para seu espanto, Rama ignorou sua presena e seguiu como antes, gritando Oh Sita, oh Sita!, como se fosse cego. D: No compreendi a moral da histria M: Se Rama estivesse realmente procurando a presena corprea de Sita, ele teria reconhecido a pessoa que estava de p na frente dele como a Sita que ele havia perdido. Mas no, a Sita desaparecida era to irreal quanto a Sita que apareceu diante de seus olhos. Rama no estava realmente cego; mas, para ele, umjnani, Sita no eremitrio, seu desaparecimento, sua subsequente busca por ela, bem como a real presena de Parvati sob o disfarce de Sita, eram, todos, igualmente irreais. Entendeu agora como a falta da foto foi percebida? D: No posso dizer que est claro para mim. O mundo que visto, sentido e percebido por ns, de muitas formas, algo como um sonho, uma iluso? M: No h alternativa, a no ser aceitar o mundo como irreal, se voc est procurando a Verdade e somente a Verdade. D: Por que isso? M: Pela simples razo de que, a menos que voc desista da idia de que o mundo real, sua mente vai sempre estar em busca do mundo. Se voc tomar a aparncia como real, voc nunca conhecer o prprio real, embora apenas o real exista. Este ponto ilustrado pela analogia da "serpente na corda. Enquanto voc v a serpente, no pode ver a corda como tal. A inexistente serpente torna-se real para voc, enquanto a corda real parece totalmente inexistente como tal. D: fcil de aceitar, provisoriamente, que o mundo no , em ltima anlise, real, mas difcil ter a convico de que realmente irreal. M: Da mesma forma, o seu mundo de sonho real enquanto voc est sonhando. Enquanto o sonho perdura, tudo o que voc v, sente, etc., nele real. D: Ento, o mundo no coisa alguma alm de um sonho? M: O que h de errado com o senso de realidade que voc tem enquanto est sonhando? Voc pode estar sonhando com algo completamente impossvel, como, por exemplo, estar tendo um alegre bate-papo com uma pessoa que j morreu. Por um momento, apenas, voc pode ter uma dvida no sonho e questionar-se: 'ele no estava morto?'; mas, de alguma forma, sua mente se reconcilia viso do sonho, e como se a pessoa estivesse viva, para os propsitos do sonho. Em outras palavras, o sonho, enquanto sonho, no permite a voc duvidar de sua realidade. Da mesma forma, voc incapaz de duvidar da realidade do mundo de sua experincia na viglia. Como pode a mente, que criou o mundo, aceit-lo como irreal? Esse o significado da comparao feita entre o mundo da experincia na viglia e o mundo dos sonhos. Ambos so apenas criaes da mente; e enquanto a mente se encontra envolvida em qualquer um deles, acha-se incapaz de negar a realidade do sonho, enquanto est sonhando, e do mundo da viglia, enquanto acordada. Se, pelo contrrio, voc retira sua mente completamente do mundo e a volta para dentro e permanece assim, ou seja, se voc permanece sempre desperto para o Self, que o substrato de toda a experincia, voc vai ver o mundo, o nico de que agora voc est cnscio, to irreal quanto o mundo em que voc viveu em seu sonho. D: Como eu disse antes, ns vemos, sentimos e percebemos o mundo de to variadas maneiras. Essas sensaes so as reaes aos objetos vistos, sentidos etc., e no so criaes mentais como nos sonhos, que diferem no s de pessoa para pessoa, mas tambm no que diz respeito mesma pessoa. Isso no suficiente para provar a realidade objetiva do mundo? M: Toda essa conversa sobre inconsistncias e sua atribuio ao mundo dos sonhos surge s agora, quando voc est acordado. Enquanto voc estava sonhando, o sonho era um todo perfeitamente integrado. Quer dizer, se voc sentiu sede em um sonho, a ilusria ingesto de gua ilusria saciou a sua ilusria sede. Mas tudo isso era real e no ilusrio para voc, enquanto voc no sabia que o prprio sonho era ilusrio. Da mesma forma com o mundo da viglia; e as sensaes que voc tem agora se coordenam para dar-lhe a impresso de que o mundo real. Se, pelo contrrio, o mundo uma realidade autoexistente (isso o que voc quer dizer, evidentemente, quando fala da objetividade dele), o que impede o mundo de se revelar a voc no sono profundo? Voc no diz que voc, em seu sono profundo, deixou de existir. D: Nem nego a existncia do mundo, enquanto estou dormindo. Ele existiu durante todo o tempo. Se durante meu sono eu no o vi, outros que no estavam dormindo viram-no. M: Para voc afirmar que continua existente durante o sono profundo, necessrio apelar para o testemunho de outros, de modo a que lhe forneama prova? Por que buscar agora o seu testemunho quanto existncia do mundo? Esses 'outros' podemlhe dizer ter visto o mundo (durante o seu sono profundo) apenas quando voc est acordado. Com relao sua prpria existncia, diferente. Ao acordar, voc diz que teve um sono profundo, de modo que, com relao a esse ponto, voc est consciente de si mesmo no mais profundo sono, enquanto que no tem, ento, a menor noo da existncia do mundo. Mesmo agora, enquanto voc est acordado, o mundo que diz: "eu sou real", ou voc? D: claro que sou eu, mas digo isso quanto ao mundo. M: Bem, ento esse mundo, que voc diz que real, est realmente zombando de voc, por tentar provar a realidade dele enquanto voc ignora a sua prpria realidade. Voc quer, de alguma maneira, sustentar que o mundo real. Qual o padro de realidade? real unicamente aquilo que existe por si mesmo, que se revela para si mesmo e que atemporal e imutvel. O mundo existe por si mesmo? Ele j foi visto alguma vez sem o auxlio da mente? No sono profundo no h mente nem mundo. Quando se acorda, h a mente e existe o mundo. O que significa essa invarivel concomitncia? Voc est familiarizado com os princpios da lgica indutiva, que so considerados a prpria base da investigao cientfica. Por que voc no decide essa questo da realidade do mundo luz desses princpios aceitos da lgica? A respeito de si mesmo, voc pode dizer 'eu existo'. Ou seja, a sua no uma mera existncia, existncia de que voc consciente. Realmente, existncia idntica conscincia. D: O mundo pode no ser consciente de si mesmo; ainda assim, existe. M: A conscincia sempre autoconscincia. Se voc est cnscio de alguma coisa, essencialmente voc est consciente de si mesmo. Existncia no consciente de si prpria uma contradio em termos. No realmente existncia (no sentido de Ser), meramente existncia atribuda, enquanto a verdadeira existncia, sat, no um atributo, a prpria substncia. Vastu (a essncia). A verdade , portanto, conhecida como Sat-Chit, Ser-Conscincia, e jamais apenas existncia (Ser) ou Conscincia, um com a excluso do outro. O mundo no existe por si s, nem consciente de sua existncia. Como voc pode dizer que este mundo real? E qual a natureza do mundo? perptua mudana, um fluxo contnuo, interminvel. Um mundo dependente, inconsciente de si mesmo, em constante mudana, no pode ser real. D: No s a cincia emprica ocidental* considera o mundo real, mas tambm os Vedas, etc., fornecem elaboradas descries cosmolgicas do mundo e sua origem. Por que o fazem, se o mundo irreal? M: O objetivo essencial dos Vedas, etc., ensinar a voc a natureza do Atman (Si Mesmo) imperecvel, e declarar com autoridade: "Tu s Isso". D: Concordo. Mas por que deveriam eles fornecer descries cosmolgicas extensas e detalhadas, a menos que considerassemo mundo como real? M: Adote na prtica o que voc aceita em teoria, e esquea-se do resto. Os shastras tm de guiar todo tipo de buscador da verdade, e nem todos tm a mesma formao mental. Aquilo que voc no pode aceitar considere como artha vada ou argumento auxiliar. * NOTA Em ltima anlise, o mundo da percepo sensorial resolve-se em duas categorias, que so tempo e espao. E eis aqui o que Sir J ames J eans escreve em seu livro, The New Background of Science, como concluso derivada de experimentos baseados na Teoria da Relatividade de Einstein: "Vemos que o espao no significa coisa alguma separada da nossa percepo de objetos, e o tempo no significa coisa alguma que esteja separada de nossa experincia de eventos. O espao comea agora a ser visto apenas como uma fico criada por nossas prprias mentes*, uma ilegtima projeo que impomos Natureza de um conceito subjetivo, que nos ajuda a compreender e a descrever o arranjo de objetos como vistos por ns, enquanto que o tempo aparece como uma segunda fico (sem o passado e o futuro, o tempo, como geralmente concebido, no passa de um mito v. o verso 15 de A Verdade Revelada), servindo a um propsito semelhante para a compreenso e descrio do arranjo de eventos que acontecem conosco". O leitor deve observar que, quando o tempo e o espao so considerados pela cincia moderna como meras fices criadas por nossas prprias mentes, objetos e eventos tornam-se, ipso facto, meras criaes da mente (veja os versculos 17 e 18 de A Verdade Revelada), porque no podem existir sem tempo e espao. Quanto solidez atribuda pelo leigo matria, as seguintes concluses extradas da fsica experimental moderna fornecem a resposta: 1. A cincia no sabe coisa alguma a respeito da verdadeira natureza dos constituintes do tomo. Ela conhece apenas as radiaes que da provm, mas jamais a prpria fonte. 2. Uma vez que o tomo irradia energia continuamente, o eltron de um determinado momento no pode ser identificado com o eltron de outro momento. 3. "O eltron deixa completamente de ter as propriedades de uma coisa, como concebida pelo senso comum - ele apenas uma regio da qual pode irradiar energia. (Outline of Philosophy, de Bertrand Russell). Essa a concluso a que chegou Bertrand Russell: "Agora, devido principalmente a dois fsicos alemes, Heisenberg e Schrodinger, os ltimos vestgios do antigo tomo slido desfizeram-se, e a matria tornou-se to fantasmagrica como qualquer coisa em uma sesso esprita". Que o leitor ento julgue por si mesmo em que maneira o mundo da percepo sensorial na viglia fundamentalmente diferente do mundo dos sonhos, lembrando-se de que foi dito acima, no corpo deste captulo, e do que foi dito por Sri Ramana em 'Quem sou eu?': "Exceto pelo fato de o estado de a viglia ser longa e o estado de sonho ser curto, no h diferena entre os dois" Esta verdade, ecoada pela moderna cincia, expressa assim pelo Dr. Eddington: "A clara constatao de que a cincia fsica se ocupa com o mundo de sombras um dos mais significativos avanos... No mundo da fsica assistimos a um desempenho do drama da vida cotidiana em forma de sombras animadas (a apresentao de imagens na tela de Si Mesmo, como dito por Bhagavan); a sombra do meu cotovelo repousa sobre a mesa de sombra, assim como a sombra de tinta flui sobre a sombra do papel". (The Nature of the Physical World). * A Verdade Revelada (Ramana Maharshi): 15. Apenas com referncia ao presente podem o passado e o futuro existir. Eles tambm, enquanto ocorrem, so o presente. Tentar determinar a natureza do passado e do futuro, ignorando o presente, como tentar contar sem a unidade. 16. Separados de ns, onde esto o tempo e o espao? Se somos corpos, estamos envolvidos no tempo e no espao; mas, somos corpos? Somos um s e idnticos, agora e para sempre, aqui e em toda parte. Portanto, apenas ns, o Ser atemporal e desprovido de espao, somos. 17. Para aqueles que ainda no perceberam Si Mesmo, bem como para aqueles que perceberam, a palavra "eu" se refere ao corpo, mas com a diferena de que, para quem ainda no percebeu, o "eu" se limita ao corpo, enquanto que para aqueles que j perceberamSi Mesmo dentro do corpo, o "eu" brilha como o Si Mesmo ilimitado. 18. Para quem ainda no percebeu ( o Si Mesmo), bem como para aqueles que o fizeram, o mundo real. Mas, para aqueles que ainda no perceberam, a Verdade se restringe ao mundo, enquanto que, para os que perceberam, a Verdade brilha como a Perfeio sem forma e como o substrato do mundo. Esta a diferena entre eles. N.T - A mecnica quntica usual, baseada na chamada "Escola de Copenhague", tem como base filosfica conceitos que exprimem a idia do indeterminismo, da no causalidade, e do fato de que no podemos entrar em contato direto com a natureza, e sim interpretar aquilo que obtemos atravs de um experimento. A natureza no existe como uma realidade objetiva independente do observador. o ato de medida, praticado pelo observador dotado de conscincia, que torna real um dos mltiplos estados potencialmente existentes. IV - O CORAO O SI MESMO D Sri Bhagavan fala do Corao como a sede da Conscincia e como sendo idntico ao Si Mesmo. O que significa exatamente o Corao? M A pergunta sobre o Corao surge porque voc est interessado em descobrir a fonte da conscincia. Para todas as mentes que pensam profundamente, a questo sobre o Si Mesmo e sua natureza tem uma fascinao irresistvel. Chame-o por qualquer nome - Deus, Si Mesmo, Corao ou sede da conscincia a mesma coisa. O ponto a ser compreendido este: que Corao significa o prprio mago do ser do indivduo, o Centro, sem o qual no h coisa alguma, qualquer que seja. D Mas Sri Bhagavan especificou um lugar particular para o Corao, dentro do corpo fsico, dois dedos direita do plano mediano. M Sim, esse o Centro da experincia espiritual, de acordo com o testemunho de sbios. Esse Corao-centro espiritual completamente diferente do rgo muscular propulsor de sangue, conhecido pelo mesmo nome. O Corao-centro espiritual no um rgo do corpo. Tudo o que se pode dizer do Corao que ele o mago mesmo do seu ser. Isso com o qual voc realmente idntico (como a palavra em snscrito significa literalmente), quer voc esteja acordado, dormindo ou sonhando, quer esteja trabalhando ou imerso emsamadhi. D Nesse caso, como pode ele ser localizado em alguma parte do corpo? Fixar um lugar para o Corao implicaria emimpor limitaes fisiolgicas a isso que est alm do espao e do tempo. M Est certo. Mas, a pessoa que faz a pergunta sobre a posio do Corao considera-se como existindo com ou no corpo. Fazendo a pergunta agora, voc diria que somente seu corpo est aqui, mas que voc est falando de algum outro lugar? No, voc aceita a sua existncia fsica. desse ponto de vista que qualquer referncia a um corpo fsico vem a ser feita. Em verdade, a Conscincia Pura indivisvel, no tem partes. Ela no tem forma alguma nem contorno algum, nenhum dentro e nenhumfora. No h direita nem esquerda para ela. A Conscincia Pura, que o Corao, inclui tudo; e nada est fora ou separado dela. Esta a Verdade final. Desse ponto de vista absoluto, o Corao, Si Mesmo ou Conscincia, no pode ter lugar algum designado para ele no corpo fsico. Qual a razo? O corpo , ele prprio, uma simples projeo da mente, e a mente no passa de um reflexo empobrecido do Corao radiante. Como pode isso em que tudo est contido se encontrar, ele prprio, confinado como uma pequena parte dentro do corpo fsico, que no seno uma manifestao infinitesimal, fenomnica, da Realidade nica? Mas as pessoas no compreendem isso. Elas no podem deixar de pensar em termos de corpo fsico e de mundo. Por exemplo, voc diz: Eu vim para este ashram percorrendo todo o caminho desde o meu pas, que se encontra almdos Himalayas. Mas isso no verdade. Onde est ir e vir, ou qualquer outro movimento que seja, para o esprito uno, todo- penetrante, que voc realmente ? Voc est onde sempre esteve. Foi o seu corpo que se moveu ou foi transportado de um lugar a outro at encontrar este ashram. Esta a verdade simples, mas, para um indivduo que se considera um sujeito vivendo em um mundo objetivo, esta verdade aparece como algo completamente visionrio. pela descida ao nvel da compreenso comumque um lugar atribudo ao Corao, no corpo fsico. D Como poderei ento compreender a afirmao de Sri Bhagavan de que a experincia do Centro-Corao se d em umlugar particular do peito? M Uma vez que voc aceita que, do ponto de vista verdadeiro e absoluto, o Corao como Conscincia Pura est alm do espao e do tempo, ser fcil compreender o resto na sua correta perspectiva. D Foi somente nessa base que eu fiz a pergunta sobre a posio do Corao. Estou perguntando sobre a experincia de Sri Bhagavan. M A Conscincia Pura, completamente no relacionada ao corpo fsico e que transcende mente, uma questo de experincia direta. O Sbio conhece sua existncia incorprea e atemporal, assim como o leigo conhece a sua existncia corprea. Mas a experincia da Conscincia pode se dar estando-se cnscio ou no do corpo. Na experincia incorprea da Conscincia Pura, o Sbio est alm do tempo e do espao, e nenhuma pergunta sobre a posio do Corao pode ento surgir, absolutamente. Contudo, uma vez que o corpo fsico no pode subsistir separado da Conscincia, a percepo corprea tem de ser sustentada pela Conscincia Pura. A conscincia corprea, por sua natureza, limitada, e no pode jamais ter a amplido da Conscincia Pura, que infinita e atemporal. A conscincia circunscrita ao corpo simplesmente uma espcie de mnada, reflexo miniaturizado da Conscincia Pura com a qual o Sbio realizou a sua identidade. Para ele, portanto, a conscincia do corpo somente um raio refletido, por assim dizer, da infinita e autorefulgente conscincia, que ele prprio. somente nesse sentido que o Sbio est cnscio da sua existncia fsica. Uma vez que, durante a experincia incorprea do Corao como Pura Conscincia, o Sbio no est, de forma alguma, cnscio do corpo, aquela experincia absoluta localizada por ele dentro dos limites do corpo fsico por uma espcie de recordao-sentimento produzida enquanto ele se encontra cnscio do corpo. D Para homens como eu, que no tiverama experincia direta do Corao nem a consequente recordao, parece um pouco difcil compreender o assunto. Sobre a posio mesma do Corao, talvez precisemos depender de alguma espcie de adivinhao. M Se a determinao da posio do Corao tem de depender de adivinhao, mesmo no caso do leigo, a questo no merece grandes consideraes. No, no de adivinhao que voc tem de depender, mas sim de uma infalvel intuio. D Para quem a intuio? M Para cada um e para todos. D Sri Bhagavan atribui a mim um conhecimento intuitivo do Corao? M No, no do Corao, mas da posio do Corao em relao sua identidade. D Sri Bhagavan diz que eu conheo intuitivamente a posio do Corao no corpo fsico? M Por que no? D (Apontando para si prprio) a mim pessoalmente que Sri Bhagavan est se referindo? M Sim. Essa a intuio! De que forma voc se referiu a si mesmo, por um gesto, neste momento? No colocou o seu dedo no lado direito do peito? Esse exatamente o lugar do Centro-Corao. D Ento, na ausncia do conhecimento direto do Centro-Corao, tenho de depender dessa intuio? M O que h de errado com ela? Quando um estudante diz Fui eu que fiz a soma correta, ou quando ele lhe pergunta: Devo correr e pegar o livro para voc?, ele aponta para a cabea que fez a soma correta, ou para as pernas que rapidamente o levaro para pegar o livro? No, em ambos os casos, seu dedo apontado, naturalmente, em direo ao lado direito do peito, concedendo, assim, uma inocente expresso profunda verdade de que nele a fonte da noo euali se encontra. uma infalvel intuio que o faz referir-se a si prprio dessa maneira, apontando para o Corao, que o Si Mesmo. O ato completamente involuntrio e universal, quer dizer, o mesmo no caso de cada indivduo. De que prova mais forte do que essa voc precisa relacionada posio do Centro-Corao no corpo fsico? V - O LOCAL DO CORAO D Mas eu ouvi um Santo dizer que sua experincia espiritual sentida no local entre as sobrancelhas. M Como eu disse anteriormente, essa a realizao final e perfeita, que transcende a relao sujeito-objeto. Quando alcanada, no importa onde a experincia espiritual sentida. D Mas a questo : qual das duas a correta viso, isto , que o centro da experincia espiritual o local entre as sobrancelhas ou o Corao? M Para os propsitos da prtica voc pode se concentrar entre as sobrancelhas seria ento bhavana ou contemplao imaginativa da mente, enquanto o Estado Supremo de Anubhava, ou Realizao, com o qual voc se torna totalmente identificado e no qual sua individualidade completamente dissolvida, transcende a mente. No pode haver, ento, centro algumpara ser experimentado por voc como um sujeito distinto e separado dele. D Gostaria de fazer a pergunta de uma forma ligeiramente diferente. Pode o local entre as sobrancelhas ser chamado de sede do Si Mesmo? M Voc aceita que o Si Mesmo a fonte primria da Conscincia, e que ele subsiste igualmente durante os trs estados da mente. Mas veja o que acontece quando uma pessoa em meditao vencida pelo sono. Como primeiro sintoma, sua cabea comea a se inclinar, o que no aconteceria se o Si Mesmo estivesse situado entre as sobrancelhas ou em qualquer outro lugar na cabea. Se durante o sono a experincia do Si Mesmo no sentida entre as sobrancelhas, esse centro no pode ser chamado de sua sede sem a implicao de que o Si Mesmo frequentemente abandona o seu lugar prprio, o que absurdo. O fato que o Sadhaka pode ter sua experincia emqualquer centro ou chakra no qual concentra sua mente. Mas, por essa razo, esse local particular da sua experincia no se torna ipso facto a sede do Self. H uma interessante estria sobre Kamal, o filho do santo Kabir, que serve como ilustrao para mostrar que a cabea (e, com mais forte razo, o local entre as sobrancelhas) no pode ser considerada a sede do Si Mesmo. Kabir era intensamente devotado a Sri Rama, e jamais falhou em alimentar aqueles que cantavamlouvores ao Senhor da sua devoo. Em uma ocasio, entretanto, aconteceu que no teve os recursos para providenciar alimentos para tantos devotos reunidos. Para ele, entretanto, no havia alternativa alguma, exceto que devia, de alguma forma, preparar tudo antes de o dia amanhecer. Assim, ele e seu filho se puseram a caminho, noite, para conseguir as provises necessrias. Segue-se que, depois de pai e filho terem removido as provises da casa de um mercador, atravs de um buraco que fizeram na parede, o filho adentrou novamente s para acordar os donos da casa e informar-lhes, por uma questo de princpios, que sua casa havia sido roubada. Quando, tendo avisado ao mercador, o rapaz tentou escapar pelo buraco para se juntar ao pai, seu corpo ficou preso na abertura. Para evitar ser identificado pela vtima (porque, se descoberto, no haveria alimentao para os devotos no dia seguinte), ele chamou seu pai e disse-lhe que cortasse sua cabea e a levasse embora. Feito isso, Kabir conseguiu escapar com as provises roubadas e com a cabea do filho que, ao chegar em casa, escondeu para que no a descobrissem. No dia seguinte, Kabir deu uma festa para os Bhaktas, completamente esquecido do que havia acontecido na noite anterior. Se a vontade de Rama, disse Kabir consigo mesmo, que meu filho tivesse de morrer, que assim seja. tarde Kabir e os participantes da festa foram, como de hbito, em procisso pela cidade, entoando bhajans (cnticos devocionais), etc. Enquanto isso, o dono da casa assaltada notificou o rei, apresentando como prova o corpo mutilado de Kamal, o qual no lhes forneceu pista alguma. Para conseguir que o corpo fosse identificado, o rei mandou at-lo na estrada, em local bem proeminente, de maneira que, quem quer que o levasse ou o reclamasse (porque nenhumcorpo morto abandonado sem os ltimos rituais prestados pelos parentes e amigos) seria interrogado ou preso pela polcia, que havia se escondido com esse propsito. Kabir e seus convidados, com os bhajans em pleno andamento, vinham pela estrada quando, para espanto de todos, o corpo mutilado de Kamal (considerado como totalmente sem vida) comeou a bater palmas, acompanhando o ritmo da msica cantada pelo grupo. Essa histria desmente a teoria de que a cabea ou o local entre as sobrancelhas seja a sede do Si Mesmo. Pode-se tambm observar que, quando no campo de batalha a cabea de um soldado em ao separada do corpo por umsbito e forte golpe de espada, o corpo continua a correr ou a mover seus membros por alguns momentos, numa simulao de luta, como em zombaria, antes de finalmente cair morto. D Mas o corpo de Kamal no estava morto h horas? M O que voc chama de morte no era de fato uma experincia fora do comum para Kamal. Eis a estria do que aconteceu quando ele era ainda mais jovem: Quando menino, Kamal teve um amigo da sua idade com o qual costumava jogar bola de gude. Uma regra que eles observavam entre si era que, se um deles perdesse para o outro uma partida ou duas, teria de haver revanche no dia seguinte. Uma tarde eles se separaram com uma partida a favor do amigo. No dia seguinte, a fim de exigir a revanche, Kamal foi casa do menino e o viu deitado na varanda, enquanto seus parentes choravam ao lado dele. Qual o problema?, perguntou-lhes Kamal; ele jogou comigo ontem tarde e ficou me devendo uma partida. Os familiares choraram mais ainda ao informar que o menino estava morto. No, disse Kamal, ele no est morto, mas simplesmente fingindo para evitar pagar-me a partida que est me devendo. Os parentes protestaram, pedindo a Kamal para ver por si mesmo que o menino estava realmente morto, e que o corpo estava frio e rgido. Mas tudo isto um simples faz-de-conta dele, eu sei o que h de mais em umcorpo frio e rgido? Eu tambm posso colocar-me em igual estado. Assim dizendo, Kamal deitou-se e, num piscar de olhos, estava morto. Os pobres parentes, que at ento estavam chorando pela morte do seu menino, ficaram angustiados e consternados, e comearam a chorar tambm pela morte de Kamal. Mas Kamal ergueu-se, declarando: Percebem agora? Eu estava como morto, mas estou em p novamente, vivo e ativo. assim que ele quer enganar-me, mas no pode iludir-me dessa forma, com seu faz-de-conta. Ao final - diz a estria, - a santidade de Kamal devolveu a vida ao menino morto, e Kamal conseguiu a revanche que lhe era devida. A moral da estria que o Si Mesmo no extinto com a morte do corpo. Sua relao com o corpo no limitada pelo nascimento e morte, e o seu lugar no corpo fsico no delimitado pela experincia do indivduo sentida num lugar especfico, como, por exemplo, entre as sobrancelhas, devido prtica de dhyana feita nesse centro. O supremo estado de conscincia de Si Mesmo nunca est ausente; ele transcende os trs estados da mente, assim como a vida e a morte. D Uma vez que Sri Bhagavan diz que o Si Mesmo pode operar em qualquer dos centros ou chakras, e sua sede no Corao, no possvel que, pela prtica da intensa concentrao ou dhyana entre as sobrancelhas, esse centro possa tornar-se a sede do Si Mesmo? M Enquanto se tratar meramente do estgio da prtica de concentrao, pelo fixar de um ponto para o controle da sua ateno, qualquer considerao sobre a sede do Si Mesmo seria simples teorizao. Voc se considera como o sujeito, o vidente, e o ponto no qual voc fixa a sua ateno torna-se o objeto visto. Isso , to somente, bhavana. Quando, ao contrrio, voc v o prprio vidente, voc imerge no Si Mesmo, torna-se uno com ele; isso o Corao. D Ento aconselhvel a prtica de concentrao entre as sobrancelhas? M O resultado final da prtica de qualquer tipo de dhyana que o objeto no qual o Sadhaka fixa sua mente cessa de existir como distinto e separado do sujeito. Eles (o sujeito e o objeto) tornam-se um com o Si Mesmo, e isso o Corao. A prtica da concentrao no centro entre as sobrancelhas um dos mtodos de Sadhana, e, dessa forma, os pensamentos so efetivamente controlados enquanto dura a prtica. A razo essa: todo pensamento uma atividade extrovertida da mente, e o pensamento segue o que visto fsica ou mentalmente. Deve-se, contudo, observar que essa Sadhana de fixao da ateno entre as sobrancelhas precisa ser acompanhada por japa. Porque, ao olho fsico segue- se o ouvido fsico em grau de importncia para o controle ou para a distrao da mente. Ao olho da mente (isto , a visualizao mental do objeto) segue-se o ouvido da mente (isto , a articulao mental da fala) em grau de importncia para controlar e, assim, fortalecer a mente, ou para distra-la e dissip-la. Portanto, enquanto fixa o olho da mente em um centro, como, por exemplo, entre as sobrancelhas, voc deve tambm praticar a articulao mental de um nama ou mantra. De outra forma, logo voc perde o domnio sobre o objeto da concentrao. A sadhana, como foi descrito acima, leva identificao do Nome, Palavra ou Si Mesmo como quer que voc o chame com o centro escolhido para os propsitos de dhyana. A Pura Conscincia, o Si Mesmo ou Corao, a Realizao final. D Por que Sri Bhagavan no nos orienta a praticar a concentrao em algum centro particular ou chakra? M O Yoga Sastra diz que o sahasrara ou o crebro a sede do Si Mesmo. O Purusha Sukta declara que o Corao a sede. Para habilitar o Sadhaka a se conduzir livre de possvel dvida, eu lhe digo para pegar o fio ou a pista da noo eu ou sentimento eu sou e segui-la at a sua Fonte. Primeiramente, porque impossvel para qualquer um nutrir qualquer dvida sobre seu sentimento eu; em segundo lugar, porque, qualquer que seja a Sadhana adotada, a meta final a realizao da fonte do eu sou, que o dado primrio da sua experincia. Portanto, se voc praticar Atma-Vichara, chegar ao Corao, que o Si Mesmo. VI - AHAM E AHAM VRITTI (Eu sou e ego) D Como pode uma pergunta formulada pelo ego revelar a sua prpria irrealidade? M A existncia fenomnica do ego transcendida quando voc mergulha na Fonte da qual nasce o aham-vritti (pensamento eu). D Mas no o pensamento-eu apenas uma das trs formas em que o ego se manifesta? O Yoga Vasishta e outros textos antigos descrevem o ego como tendo uma trplice forma. M De fato. O ego descrito como possuindo trs corpos o denso, o sutil e o causal, mas isso apenas para os fins da exposio analtica. Se o mtodo da investigao dependesse da forma do ego, pode ter certeza de que qualquer investigao se tornaria impossvel, porque so inmeras as formas que o ego pode assumir. Portanto, para os propsitos da jnana vichara, voc tem de agir combase emque o ego tem somente uma forma, denominada aham-vritti. D Mas isso pode mostrar-se inadequado para a realizao de Jnana. M A autoinvestigao que se faz seguindo a pista do pensamento-eu como o co rastreando o seu dono pelo cheiro. O dono pode estar em um lugar distante e desconhecido, mas nada disso impede que o co o localize. O cheiro do dono uma pista infalvel para o animal, e nada mais - como a roupa do dono, ou sua compleio e estatura - conta para ele. O co se atm a esse cheiro sem que se distraia enquanto procura pelo dono, e finalmente logra xito em encontr-lo. D - A dvida a respeito de por que a busca da origem do aham-vritti, distinto de outros vrittis, deve ser considerada o meio direto para a autorrealizao ainda permanece. M A palavra aham por si mesma muito sugestiva. As duas letras da palavra, isto , a (a) e h (ha), so a primeira e a ltima letras do alfabeto snscrito. A sugesto que se pretende transmitir pela palavra que ela inclui tudo. Como? Porque aham significa a existncia mesma. Embora o conceito de sentimento do eu, ou eu sou, seja conhecido usualmente como aham-vritti, ele no realmente um vritti como os outros vrittis da mente. Porque, diferentemente dos outros vrittis, que no tm inter- relao essencial, o aham-vritti igualmente e essencialmente relacionado a cada ume a todos os vrittis da mente. Sem o aham-vritti no pode haver outro vritti; mas o aham-vritti pode existir por si mesmo, sem depender de qualquer outro vritti da mente. O aham-vritti, portanto, fundamentalmente diferente dos outros vrittis. Dessa maneira, ento, a busca da origem do aham-vritti no meramente a busca pela base de uma das formas do ego, mas sim da prpria Fonte, em si mesma, de onde surge o sentimento eu sou. Em outras palavras, a investigao e a percepo da fonte do ego, na forma de aham-vritti, implicam necessariamente a transcendncia do ego em cada uma de suas possveis formas. D Admitindo-se que o aham-vritti engloba essencialmente todas as formas do ego, por que apenas esse vritti deve ser escolhido como o meio para a autoinvestigao? M Porque ele o nico dado irredutvel da sua experincia; porque buscar a sua origem a nica conduta factvel que voc pode adotar para realizar o Si Mesmo. Diz-se que o ego tem umcorpo causal, mas como pode voc torn-lo o sujeito da sua investigao? Quando o ego adota essa forma, voc est imerso na escurido do sono profundo. D Mas no o ego, nas suas formas sutil e causal, intangvel demais para ser abordado por meio da investigao da origem do aham-vritti, conduzida enquanto a mente est desperta? M No. A investigao da fonte do aham-vritti atinge a existncia em si do ego. Portanto, a sutileza da forma do ego no uma considerao relevante. D Quanto o nico anseio realizar a incondicionada, pura existncia do Si Mesmo, que de forma alguma depende do ego, como pode a investigao relativa ao ego, na forma de aham-vritti, ser de alguma utilidade? M Do ponto de vista funcional, o ego - essa formao, atividade, ou de que outra maneira voc queira cham-lo (isso irrelevante, visto que ele evanescente) - tem uma e somente uma caracterstica. O ego funciona como o n entre o Si Mesmo, que Pura Conscincia, e o corpo fsico, que inerte e insensvel. O ego , por isso, chamado de chit-jada-granthi (n entre a Conscincia e o corpo). Na sua investigao acerca da fonte do aham-vritti, voc toma o aspecto essencial do ego que chit e por essa razo a investigao conduzir realizao da pura conscincia de Si Mesmo. D Qual a relao entre a pura conscincia realizada pelo Jnani e a sensao de eu sou que aceita como o dado primrio da experincia? M A Conscincia indiferenciada do Puro Ser o Corao ou Hridayam, que o que voc realmente , como a prpria palavra em si mesma denota: (hrit + ayam =corao eu sou). Do Corao nasce a noo eu sou como o dado primrio da experincia do indivduo. Por si mesmo, o eu sou de carter suddha-sattva (puro, no contaminado). nessa suddha-sattva svarupa (forma pura, no contaminada por rajas e tamas), que o eu parece subsistir no J nani... D No jnani, o ego subsiste na forma satvica e, portanto, aparece como uma coisa real. Estou certo? M No. A existncia do ego, em qualquer forma, seja no jnani ouajnani, em si prpria uma aparncia. Mas, para o ajnani, que se ilude pensando que o estado de viglia e o mundo so coisas reais, o ego tambm parece ser real. Uma vez que ele v o jnani agir da mesma forma que outros indivduos, ele se sente compelido a pressupor a noo de individualidade tambm com referncia ao jnani. D Como funciona ento o aham-vritti no jnani? M Nele no funciona, absolutamente. A ateno do sbio (jnani lakshya) o prprio Corao, porque ele uno com e idntico Conscincia Pura e indiferenciada a que se referem os Upanishads como Prajnana (conscincia pura). Prajnana, na verdade, Brahman, o Absoluto, e no h outro Brahman que no a Prajnana. D Como ento a ignorncia dessa singular e nica Realidade infelizmente surge no caso do ajnani? M O ajnani v apenas a mente, que um mero reflexo da luz da Conscincia Pura, que surge do Corao. Do Corao mesmo, ele ignorante. Por qu? Porque sua mente extrovertida e nunca buscou sua Fonte. D O que impede a infinita, indiferenciada luz da Conscincia, que nasce do Corao, de revelar-se ao ajnani? M Assim como a gua no pote reflete o enorme sol dentro dos limites estreitos do pote, da mesma forma as vasanas ou tendncias latentes da mente do indivduo, agindo como o meio refletor, captam a onipresente, Infinita luz da Conscincia, que surge do Corao, presente na forma de umreflexo, que o fenmeno denominado mente. Vendo apenas esse reflexo, o ajnani levado a acreditar que ele um ser finito, o jiva. Se a mente torna-se introvertida por meio da investigao sobre a fonte do aham-vritti, as vasanas se extinguem e, na ausncia do meio refletor, o fenmeno da reflexo, quer dizer, a mente, tambm desaparece, sendo absorvida na luz da nica Realidade o corao. Essa a sntese, a essncia de tudo o que umaspirante precisa saber. O que se requer imperativamente dele uma investigao sria e unidirecional sobre a fonte do aham-vritti. D Mas, qualquer tentativa que ele possa fazer limitada mente no estado de viglia. Como pode tal investigao, conduzida em apenas um dos trs estados da mente, destruir a prpria mente? M A investigao da Fonte do aham-vritti , sem dvida, iniciada pelo Sadhaka no estado de viglia da mente. No se pode dizer que nele a mente tenha sido destruda. Mas o prprio processo da autoinvestigao revelar que os trs estados da mente, assim como a alternncia ou transmutao entre eles, pertencemao mundo dos fenmenos, que no pode afetar sua intensa investigao interior. A autoinvestigao s realmente possvel por meio de intensa introverso da mente. O que finalmente realizado como resultado de tal investigao sobre a fonte do aham-vritti verdadeiramente o corao como luz Indiferenciada da Pura Conscincia, em que a luz refletida da mente completamente absorvida. D Para o jnani, ento, no h distino entre os trs estados da mente? M Como poderia haver, quando a mente mesma dissolvida e perdida na luz da Conscincia? Para o jnani, todos os trs estados so igualmente irreais. Mas o ajnani incapaz de compreender isso, porque para ele o critrio de realidade o estado de viglia, enquanto que, para o jnani, o critrio de Realidade a prpria Realidade. Esta Realidade da Pura Conscincia atemporal por sua natureza e subsiste igualmente durante o que voc chama de viglia, sonho e sono profundo. Para aquele que uno com esta Realidade, no h mente nem seus trs estados e, portanto, nem introverso nem extroverso. Seu o estado sempre desperto, porque ele est acordado para o atemporal Si Mesmo; seu o estado de perene sonho, porque para ele o mundo no de forma alguma melhor do que o fenmeno do sonho repetidamente apresentado; seu o estado de perene sono profundo, pois ele se encontra, em todos os momentos sem a conscincia eu sou o corpo. D Devo ento considerar Sri Bhagavan falando comigo em um estado de vigliasonhosono profundo? M Porque a sua experincia consciente est agora limitada durao da extroverso da mente, voc denomina o presente momento de estado desperto, enquanto que, durante todo o tempo, sua mente se encontra adormecida em relao ao Si Mesmo e, portanto, voc est agora dormindo profundamente. D Para mim, o sono profundo um mero vazio. M Assim porque o seu estado de viglia uma simples efervescncia da mente inquieta. D O que eu quero dizer comvazio que no estou cnscio de coisa alguma no meu sono profundo para mim isso o mesmo que no-existncia. M Mas voc existe durante o sono profundo. D Se existo, no tenho conscincia disso. M Voc no est querendo dizer, com toda a seriedade, que voc deixou de existir durante o sono! (rindo). Se voc foi dormir como o Sr. X, vai acordar como o Sr. Y? D Eu conheo minha identidade, talvez, por uma ao da memria. M Admitindo-se isso como tal possvel a no ser que haja continuidade da conscincia? D Mas eu no estava cnscio dessa conscincia. M No. Quem diz que voc est inconsciente no sono profundo? a sua mente. Mas no havia mente alguma no seu sono profundo. Que valor tem o testemunho da mente acerca da sua existncia ou experincia durante o sono profundo? Buscar o testemunho da mente para refutar a sua existncia ou a sua conscincia durante o sono profundo como buscar a evidncia fornecida por seu filho para refutar o nascimento do pai dele, voc! Lembra-se que eu lhe disse uma vez que existncia e conscincia no so duas coisas diferentes, mas uma s e mesma coisa? Bem, se por alguma razo voc se sente compelido a admitir o fato de que voc existe no sono profundo, fique certo de que voc tambm est consciente dessa existncia. De que voc estava realmente inconsciente no seu sono profundo era da sua existncia corprea. Voc est confundindo essa percepo do corpo com a verdadeira percepo do Si Mesmo que atemporal. Prajnana, que a fonte do sentimento eu sou, subsiste sempre, sem ser afetada pelos trs estados transitrios da mente, habilitando-o assim a conservar inalterada a sua identidade. Prajnana tambm est alm dos trs estados, porque ela pode subsistir sem eles e a despeito deles. para essa Realidade que voc deve se dirigir durante o seu assim chamado estado de viglia, seguindo o aham-vritti at a sua Fonte. A prtica intensa nessa investigao revelar que a mente e os seus trs estados so irreais, e que voc a conscincia atemporal, infinita, do Puro Ser, do Si Mesmo ou Corao. APNDICE Bhagavan Sri Ramana Maharshi POR SRI SWAMI SIDDESHWARANANDA Sri Swami Siddheswarananda foi um estudioso erudito da Vedanta e um ilustre membro da Ordem de Sri Ramakrishna, e foi responsvel por sua sucursal em Paris. Enquanto na ndia, visitava frequentemente o ashram e era um fervoroso devoto de Bhagavan Sri Ramana Maharshi, a quem adorava como a encarnao viva da Verdade, uno com todo o universo, o Ser de tudo. Este artigo condensado a partir da traduo feita por Maior AW Chadwick, OBE, do artigo original em Francs. Sri Ramana Maharshi expe um sistema de pensamento e filosofia de vida que encarna a essncia dos ensinamentos da Vedanta. Na ndia, uma filosofia de vida no pode ter influncia alguma, absolutamente, exceto quando se acha refletida na vida de quem a expe. Devemos tambmdizer que a vida de um indivduo e suas 'realizaes' que do oportunidade construo de um sistema filosfico, e essa vida traz uma compreenso e abre um horizonte que afetam toda a sociedade e tornam melhor a relao entre os entes humanos. Quando os profetas da antiga ndia atingiram as verdades ltimas, que imediatamente expressaram em hinos vdicos e nos ensinamentos dos Upanishads, eles foram encarados como o sal da terra, porque se tornaram faris que orientam a humanidade hesitante no seu caminho. As verdades que esses grandes seres descobriram esto escondidas na alma, e o que eles ensinam ao homem to somente o meio de mergulhar em si mesmo para trazer luz do dia o tesouro secreto que todos possuem. o fato de cada um ter o direito de fazer sua prpria introspeco que confere dignidade aos esforos do ser humano, porque a Verdade a nossa herana legtima. Os Upanishads dirigem-se nestes termos a todos aqueles que aspiram Verdade: "Oh vs, herdeiros da felicidade imortal!" Pode existir algo mais animador que essas palavras de esperana? No no pecado original que o ente humano encontra a base de sua existncia, e sim na chama dourada da luz do Atman (o Ser pleno). O Maharshi descobriu isso por conta prpria, sem qualquer ajuda exterior. Estudante muito jovem, ele foi assaltado pelo medo da morte. Lanou fora os livros, que mais frequentemente escondem do que revelam a Verdade. Deitou- se no cho, fechou os olhos e simulou todos os sintomas de morte. Eis o que ele mesmo narrou sobre essa experincia: Agora, a morte chegou; qual o seu significado? O que isto que morreu? O corpo material morre. Eu imediatamente dramatizei a cena da morte. Estendi meus membros e os mantive rgidos. Prendi a respirao. Muito bem, disse a mim mesmo, 'este corpo est morto; eles viro e iro lev-lo ao crematrio e reduzi-lo a cinzas. Mas, quando o corpo morre, eu morro? Este corpo sou eu? Ele est inerte, e eu sinto minha personalidade independente dele. Eu sou, ento, o Esprito imortal que transcende o corpo, que o nico que vive e morre'. Tudo isso surgiu intensamente diante de mim, sem ter de ser expresso, como a verdade viva percebida diretamente e quase sem argumento. O medo da morte desapareceu completa e definitivamente. Essa presena direta e consciente do "eu" ou Self, completamente independente do corpo fsico, tem se mantido desde ento. Esta experincia direta do Ser chamada Aparokshanubhuti, que distinto de todo o conhecimentos obtido por esforo intelectual, que sempre implica uma relao entre o sujeito e o objeto, e, consequentemente, limitado pelo espao e tempo e no tem qualquer valor transcendental. Aquele que tem essa experincia direta do Ser considerado come ente liberado, mesmo enquanto ainda est vivo. Ele chamado de Jivanmukta. A existncia de tais indivduos, que so encarnaes vivas da Verdade, torna a Verdade demonstrvel. A percepo vedntica desses grandes seres resulta efetivamente na possibilidade de uma aplicao prtica, e as suas realizaes elevam o nvel da conscincia humana. este aspecto do Vedanta que tem atrado para seus ensinamentos a ateno dos eruditos. A pesquisa vedntica muito mais profunda do que toda anlise objetiva da matria; dirige-se para a base fundamental da percepo e, como tal, nos d uma sinopse da Verdade, em vez de uma viso reducionista. O interesse que o Ocidente tem na vida e nos ensinamentos de Sri Ramana Maharshi prova a atrao universal da Vedanta, que se pode ver consubstanciada no Sbio de Tiruvannamalai. Em um artigo sobre a yoga indiana, M. Lacombe, da Universidade de Paris escreveu sobre o Maharshi: Sua pessoa irradia uma fora composta de inteligncia e conhecimento profundo de si mesmo. Um olhar cintilante, intenso e fixo, sem severidade, uma olmpica brandura do gesto, esbelto e de constituio refinada em um corpo imvel, ele considerado por crticos judiciosos umautntico Yogi, que alcanou a mais alta Realizao. Cito essa passagem apenas para mostrar a impresso produzida pelo Maharshi no visitante que se expe atmosfera que envolve o Sbio. , no entanto, muito difcil para um europeu, moldado nas tradies da Teologia e da Filosofia do Ocidente, ter qualquer contato com a idia do que a vida do Maharshi. Eu, respeitosamente, observo ao ilustre professor que o Maharshi muito mais um jnani tattva (um indivduo que conhece a verdade) do que um yogi; sua compreenso da vida engloba a totalidade, o que para um indiano abrange os trs estados, jagrat, svapna e sushupti. A vivncia iguica aquela do "eu" como identificao csmica, que toma o estado de viglia (jagrat) como o domnio essencial da experincia. Se se quiser encontrar exemplos dessa universal e csmica experincia do "eu", como M. Lacombe a chama, no h falta de msticos na ndia que tenham atingido suficiente realizao nessa base de experincia. Mas o Maharshi acima de tudo um jnani tattva, e o campo de sua investigao e experincia muito maior que a de um mstico. O Sbio transcende os limites do trs estados. O Maharshi aceita a terminologia sancionada pela tradio e sempre empregada pelos sbios da ndia desde o tempo dos Upanishads. Os ensinamentos de Maharshi esto em perfeito acordo com as escrituras filosficas e espirituais da ndia antiga e procedem diretamente (da mesma fonte) dos grandes sbios do passado. Quem tem a oportunidade de acompanhar de perto o Maharshi sabe muito bem que ele no nem um 'extrovertido' nem um "introvertido". Ele o homem mais normal que algum poderia encontrar. Ele de fato um sthitaprajna, um homem cuja inteligncia est solidamente fundamentada. Eu o vi aparentemente mergulhado em si mesmo, todos acreditando que ele estivesse absorto em seu prprio Eu, mas quando, nesse momento, algum no final do corredor cometeu um erro na recitao de certos versos em Tmil, o Maharshi abriu os olhos, corrigiu o erro, em seguida novamente os fechou e voltou ao seu estado anterior. Eu j disse que no se pode afirmar que o mundo exterior no interessa a ele. Ele chegou a um grau extraordinrio de concentrao, e como a concentrao repousa eternamente em um estado habitual de vida em jnana ou - como a chama o Sbio sahajasthiti, ele no nem um introvertido nem extrovertido. Ele , simplesmente. E, pelo seu conhecimento da Realidade final, ele uno com ela na sua expresso de multiplicidade de manifestao, ele um com o Universo todo. Quando eu o vi, encontrei nele o exemplo perfeito da descrio que Sri Shankaracharya faz em seu Vivekachudamani, quando explica o que caracteriza um Jivanmukta. O versculo 429 reza: "Aquele que, mesmo quando a sua mente est imersa em Brahman, est, contudo, totalmente acordado, mas ao mesmo tempo livre das caractersticas do estado de viglia, e cuja realizao livre de todo desejo, deve ser considerado um homem liberto enquanto ainda est vivo. A noo de introverso e extroverso no pode ser aplicada a algumcuja filosofia de vida repousa de uma forma incomparvel sobre a experincia do estado de viglia (referncia ao sahaja samadhi, vivncia no estado transcendental sem necessidade de transe; o mais elevado samadhi. N.T.). No Panchadasi, que um tratado competente sobre Advaita, encontramos no versculo 13 do captulo VI uma declarao que sumamente importante a esse respeito. O autor, Vidyaranya, diz: "A destruio do mundo e do jiva no significa que eles devem se tornar imperceptveis aos sentidos, mas deve surgir a compreenso determinante da sua natureza irreal. Se devessem tornar-se imperceptveis, as pessoas poderiam encontrar emancipao sem fazer qualquer esforo pessoal (de investigao), como no sono sem sonhos ou em um desmaio (quando todas as percepes desaparecem completamente)". Como diz o Gita, o Atman, esquecendo a sua verdadeira natureza, acredita que o ego e, como tal, autor das aes, o que a causa de todo mal-entendido. Um homem como o Maharshi, que transcendeu o ego, considerado pelos Upanishads o Self de tudo. Se pudssemos passar pelo menos algum tempo ao lado do Maharshi, poderamos, ento, ser capazes de compreender melhor, luz das palavras proferidas pelo sbio sobre questes filosficas, que a vida de iluminao, como o grande fogo que brilha no topo do monte Arunachala*, um verdadeiro farol para aqueles que desejam encontrar na ndia moderna os revivificantes efeitos dos ensinamentos dos Upanishads, consagrados pelo tempo. * Anualmente, durante o festival Kartighai Deepam, uma grande fogueira mantida por alguns dias no topo de Arunachala e funciona, tambm, como um farol para os peregrinos (N.T). GLOSSRIO A Abhyasa: prtica espiritual. Advaita: no-dualidade; tambm, a doutrina da no-dualismo. Aham: 'eu'. Aham-vritti: o pensamento eu', a sensao limitada de egoidade. Ajnana : a ignorncia do indivduo acerca da verdade de si prprio. Ajnani: uma pessoa que ignorante de sua verdadeira natureza. Anubhava: experincia, especialmente a experincia de autoconhecimento. Aparokshanubhuti: experincia direta (do autoconhecimento). Artha-Vada: argumento explanatrio dado para atender a um determinado propsito. Asana: postura, especialmente a postura adotada para a meditao. Asramam: a morada de um sbio ou asceta. Atman: o Ser real. Atma-jnani: a pessoa que atingiu autoconhecimento. Atma-vichara: autoinvestigao, a prtica de examinar ou a prestar ateno sensao de "eu", a fim de descobrir Quem sou eu?' Atma-Vidya: autoconhecimento. B Bhajans: cantos devocionais. Bhakta: devoto. Bhakti: devoo. Bhavana: visualizao, contemplao com imagem, meditao. Brahma-jnana: o conhecimento de Brahman (conhecer Brahman ser Brahman). Brahman: a no-dual realidade absoluta, que o Self, Si-Mesmo ou Atman. C Chakra: um dos sete principais centros yguicos do corpo. Chidananda: a bem-aventurana da conscincia pura. Chit: conscincia pura, que a natureza do Ser real. Chit-J ada-granthi: o n entre Si Mesmo, que conscincia pura, e o corpo, que insensvel. D Dehatma-Buddhi: o sentimento "eu sou este corpo". Dhyana: ateno, meditao. Dvaita: dualidade; tambm, a doutrina do dualismo. G Gita: o Bhagavad Gita, uma das escrituras hindus mais renomadas. Guru: um verdadeiro mestre espiritual, que conscientemente uno com Deus ou Ser real. Guru-Kripa: a Graa do Guru. Grihasta: um chefe de famlia, uma pessoa que leva uma vida de casado. H Hridayam: o corao, que o Eu real. I Iswara-svarupa: a natureza de Deus ou Iswara. J J ada: insensvel. J agrat: o estado de viglia. J agrat-sushupti: o estado de sono profundo em viglia, em que no h pensamento algum, mas em que h plena conscincia da existncia- conscincia "Eu sou. J apa: repetio de um mantra ou um nome de Deus. J iva: alma individual. J ivanmukta: uma pessoa que liberada mesmo vivendo no corpo. J nana: conhecimento, especialmente o conhecimento do Eu real. J nana-vichara: autoinvestigao, investigao levando a J nana ou autoconhecimento. J nani: a pessoa que atingiu o autoconhecimento. K Karma-yogi: uma pessoa cujas aes no so motivadas pelo desejo de benefcio pessoal ou por qualquer tipo de apego. Kevala nirvikalpa samadhi: um estado temporrio de samadhi ou absoro no Self. L Lakshya: alvo (em que a ateno est centrada), o que mantido em vista. M Maharshi: um grande sbio. Mantra: a frmula sagrada usada para japa ou repetio. Marga: um caminho espiritual. Maya: iluso (literalmente: medir, avaliar. Tomar o resultado da medida, da avaliao, como verdade, viver na iluso). Moksha: libertao. Mouna, mauna: silncio. N Nama: nome; tambm, um nome de Deus. Nama-japa: repetio de um nome de Deus. Namaskar: ato de reverncia. Nirvana: o estado de liberao ou ausncia de ego. Nirvikalpa samadhi: o estado de autoabsoro. P Prarabdha: destino; a parte do fruto das aes passadas do indivduo que destinada a ser experimentada nesta vida. Prasad: alimento oferecido ao Guru ou a uma divindade, uma parte do qual pode ser devolvida ao devoto como um sinal de bno. Purusha Sukta: um hino do Rig Veda. Prajnana: conscincia pura. R Rajas: a segunda das trs gunas, ou qualidades da natureza; a qualidade de inquietao, atividade, desejo e paixo. Rishi, rshi: um Sbio. S Sadhana: uma prtica espiritual, um meio adotado visando o progresso espiritual. Sadhaka: uma pessoa que pratica sadhana. Sahaja jnani: a pessoa que permanece em seu estado natural, quer em repouso quer em atividade, tendo atingido o autoconhecimento. Sahaja nirvikalpa samadhi: o estado permanente e natural de samadhi, ou completa absoro no Self. Sahaja-sthiti: o estado natural. Sahasrara: um dos sete centros yguicos, descrito metaforicamente como um ltus de mil ptalas, situado na regio do crebro. Samadhi: o estado de autoabsoro, em que (como definido por Sri Bhagavan, na pag. 23) "h apenas o sentimento de eu sou sempensamento algum". Samsara: o mundo objetivo; o oceano de transformaes; o ciclo de nascimentos e mortes. Samskaras: tendncias latentes; as impresses mentais ou as persistentes tendncias resultantes de vidas anteriores. Sannyasa: renncia. Sannyasin: um renunciante. Sastras: as Escrituras. Sat: verdadeira existncia ou ser. Sat-Chit: existncia-conscincia. Sattva: a primeira das trs gunas, ou qualidades de natureza; a qualidade de calma, bondade e pureza. Sattvic: da natureza da Sattva. Siddhis: poderes ocultos. Sri Bhagavata: um dos dezoito Puranas, um texto sagrado centrado principalmente em torno da vida de Sri Krishna. Sthita-prajna: uma pessoa que permanece firmemente no estado de autoconhecimento. Suddha-sattva : pureza no contaminada, ou sattva. Suddha-sattva svarupa: a forma de sattva no contaminada. Sunya-Vadin: um ateu, um nihilista, uma pessoa que nega a existncia de Deus ou da realidade fundamental. Sushupti: sono sem sonhos. Svapna: sonho. T Tamas: a ltima das trs gunas, ou qualidades da natureza; a qualidade da ignorncia, da escurido e da inrcia. Tattva-jnani: a pessoa que conhece a Verdade. U Ulladu Naarpadu: A Verdade Revelada, ensinamento em forma de poema, de Bhagavan Sri Ramana. Upanishads: as pores posteriores e mais filosficas dos Vedas. V Vairagya: ausncia de desejo. Vasanas: agregados de tendncias mentais similares, que tm continuidade a partir de vidas anteriores. Vasana-kshaya: a destruio de todas as vasanas. Vritti: onda mental, pensamento.