1) O poema descreve um momento no qual um cortejo fúnebre passa em frente a um café e os homens presentes automaticamente tiram o chapéu em sinal de respeito, mas permanecem distraídos e voltados para suas próprias vidas.
2) Um dos homens, no entanto, demora-se olhando o caixão, reconhecendo a futilidade e traição da vida diante da certeza da morte.
3) Ele saúda o corpo do morto, sabendo que a alma também se extingue,
1) O poema descreve um momento no qual um cortejo fúnebre passa em frente a um café e os homens presentes automaticamente tiram o chapéu em sinal de respeito, mas permanecem distraídos e voltados para suas próprias vidas.
2) Um dos homens, no entanto, demora-se olhando o caixão, reconhecendo a futilidade e traição da vida diante da certeza da morte.
3) Ele saúda o corpo do morto, sabendo que a alma também se extingue,
1) O poema descreve um momento no qual um cortejo fúnebre passa em frente a um café e os homens presentes automaticamente tiram o chapéu em sinal de respeito, mas permanecem distraídos e voltados para suas próprias vidas.
2) Um dos homens, no entanto, demora-se olhando o caixão, reconhecendo a futilidade e traição da vida diante da certeza da morte.
3) Ele saúda o corpo do morto, sabendo que a alma também se extingue,
1) O poema descreve um momento no qual um cortejo fúnebre passa em frente a um café e os homens presentes automaticamente tiram o chapéu em sinal de respeito, mas permanecem distraídos e voltados para suas próprias vidas.
2) Um dos homens, no entanto, demora-se olhando o caixão, reconhecendo a futilidade e traição da vida diante da certeza da morte.
3) Ele saúda o corpo do morto, sabendo que a alma também se extingue,
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas
Professora Dr. Yudith Rosenbaum
MOMENTO NUM CAF
Caroline Fasciana N USP: 8571493
So Paulo 2014
Morrer sem deixar porventura uma alma errante... A caminho do cu? Mas que cu pode satisfazer teu sonho de cu? - Manuel Bandeira, A morte absoluta.
Introduo
Tomarei como objeto de anlise neste trabalho o poema Momento num caf de Manuel Bandeira. Pertencente ao livro Estrela da manh, livro este que representa uma fase mais madura na obra do autor, munido de grande experincia, pois j reunia uma grande bagagem literria, passando por uma fase parnasiano-simbolista e antecedendo caractersticas modernistas, mais tarde incorpora o movimento modernista assiduamente por influncia das vanguardas europeias, resultando em poemas como o de Estrela da manh, com uma modesta grandeza de seu estilo humilde nas palavras de Davi Arrigucci. Manuel desentranha com maestria, de simples fatos do dia-a-dia, a poesia. Antes de comear a anlise, considero importante citar algumas caractersticas essenciais do Modernismo, assim como seu contexto e qual sua direta influencia na obra de Manuel Bandeira. O Modernismo, trs consigo a arte da desumanizao, em que a liberdade esttica e a arte pela arte so evidenciadas. Em que a arte parnasiana questionada. Num momento em que o ser humano deixa de ser a ateno central, em que o individualismo cresce inclusive na sociedade, que passa a se concentrar em grandes centros, metrpoles e o novo estilo de vida capitalista surge com grande impulso. No Brasil, o movimento modernista, chega, mesmo que tardiamente, e se adequa a realidade vivida no pas, um Brasil que vivia um processo de urbanizao e que ao mesmo tempo ainda possua muito do conservadorismo e da poltica oligrquica, e, por sua vez, buscava atravs da arte buscava libertar-se do antigo e conservador, criando uma literatura nacional, aproveitando a diversidade cultural local e alimentando- se do que viesse de fora (antropofagia).
Anlise
Momento num caf
Quando o enterro passou Os homens que se achavam no caf Tiraram o chapu maquinalmente Saudavam o morto distrados Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida uma agitao feroz e sem finalidade Que a vida traio E saudava a matria que passava Liberta para sempre da alma extinta.
O ttulo do poema sugestivo, pois momento num caf pode soar ambiguamente como momento nunca f, ideia que tratarei mais a adiante. O poema desenvolve-se por uma espcie de narrao, possvel perceber uma cena cotidiana. Entretanto, ao analisarmos o primeiro verso (Quando o enterro passou) a utilizao da palavra enterro nos remete a ao puramente fsica de enterrar o morto, e ao deparar-se com os prximos versos, fcil perceber que o que est acontecendo ali um cortejo fnebre, um ritual, antes da parte fsica de enterrar o morto, j que os observadores esto num caf, e no em um cemitrio. Alm disso, em questo de sonoridade h a presena do fonema /n/ em quando e enterro que indica algo lento, dando quase um ritmo marcha fnebre. Entretanto, seguido da palavra passou que indica a ao que estava ocorrendo enquanto encontravam-se no caf, mas que est no pretrito perfeito, e pode indica uma ao que terminou completamente, deixou rapidamente de possuir a ateno dos observadores. No segundo verso (os homens que se achavam no caf) o autor introduz de forma bem impessoal que os homens, que no sabemos quem, qual seu extrato social, sua profisso e seu nome so situados no espao caf, estabelecimento que tambm citado no ttulo do poema e que diferentemente de bar ou botequim, soa como um estabelecimento mais elegante ou requintado. Seriam os homens burgueses? No d para afirmar, mas so frequentadores de cafs. Interessante, frisar que em relao ao contexto histrico, o Brasil estava em sua poca de grande produo e exportao de caf. Tiraram o chapu maquinalmente, este terceiro verso apresenta uma atitude cordial e um costume social de tirar o chapu em sinal de respeito, que, porm, complementado pelo advrbio maquinalmente que trs a ideia de que tirar o chapu no passou por reflexo e por um propsito, foi um ato automtico, uma obrigao. Alm de trazer a ideia da prpria mquina, que um smbolo da modernidade, da urbanizao e que cabe a ideia do prprio humano como mquina, trabalhando e agindo atravs de movimentos e costumes repetitivos e coordenados. Essa imagem possvel ser percebida na estruturao do poema, pois o segundo e terceiro versos so decasslabos heroicos e possuem o mesmo ritmo, reforando a ideia que esses homens esto nesse movimento maquinal. O prximo verso refora essa mesma ideia de falta de reflexo, pois os homens saudavam distrados o morto, reforando a imagem maquinal e despercebida do ato. Interessante perceber que quase contraditria a ao, pois a saudao consiste numa expresso ou gesto de respeito, deferncia e/ou apreo, o que completamente anulado j que os homens encontravam-se distrados. A contradio, a oposio se torna clara nos versos seguintes quando a verdadeira posio destes homens estabelecida, esto voltados para a vida, como se estivessem de costas para a morte, absortos, concentrados em seus prprios pensamentos, em suas prprias vidas, confiantes nela. Dessa forma, retratado o interior destes homens, que vm o morto, mas no tiram disto uma reflexo, no reconhecem ali um ente querido ou que um dia a morte chegar para eles. uma representao de certo individualismo, mas de uma conduta humana muito natural: a de que a morte sempre do outro. No ltimo verso da primeira estrofe (Confiantes na vida), a palavra vida reaparece e, novamente, reforada a ideia da direo de seus intentos para a vida, esto confiantes nela, portanto, no h porque temer a morte. Na segunda e ltima estrofe, o primeiro verso extenso, largo e demorado (Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado), refletindo em sua forma o seu contedo, atentando para oposio de um dos homens, que no apenas se descobriu do chapu, mas descobriu-se a si mesmo. Ou seja, passou pela reflexo sobre a morte. No prximo verso, (Olhando o esquife longamente), aparece pela primeira fez o verbo no gerndio que d uma sensao de maior continuidade da cena, diferentemente do verbo usado no pretrito perfeito indiciando algo totalmente acabado, esse verbo apresenta-se em transio e indica que aquele momento para aquele homem no foi apenas alguns segundos de meros gestos sociais. Portanto, o homem atentou-se longamente ao caixo, voltou-se de certa forma para a morte. Em ambos os versos, h os fonemas nasais, que do ainda mais impresso da extenso do momento, alm do uso dos adjetivos largo e demorado, e o advrbio longamente. A seguir, vem uma reflexo (Este sabia que a vida uma agitao feroz e sem finalidade), j apresentando uma viso ctica, j que no h finalidade. Apresentando tambm, que, ao contrrio daqueles homens que encontravam- se absortos e confiantes na vida, para este homem a vida no tinha finalidade, (Que a vida traio), continua a ideia do que a vida, e a classifica desta vez como traio, deixando em evidncia essa ideia, sozinha no prximo verso. Se o homem olhava para morte, pode muito bem estar se referindo a traio da vida, que a qualquer momento lhe tirada, pois a morte certa, mas o momento no, voc pode estar em um momento, absorvido vida, com grandes planos para a vida e, entretanto, a morte pode interromper tudo isso. E ainda, pode indicar que tal homem sofreu muitas traies durante sua vida, ento se encontra at mesmo com inveja do outro que morreu, pois ao menos no sofre mais. O que parece fazer sentido nos prximos dois ltimos versos. Saudava a matria que passava, desta vez a saudao parece muito mais substancial, muito mais verdadeira, dando toda a reflexo anterior, entretanto, a viso ainda ctica, no s a matria, o corpo, passa. A alma tambm extinta (Liberta para sempre da alma extinta.), novamente h a evidncia de uma viso ctica, de uma falta de f em algo ps-vida. A matria liberta para sempre, mas aquele momento nunca f, pois a alma tambm extinta. Essa viso descrente e o tema da morte aparecem em outros poemas de Manuel Bandeira, no prprio livro Estrela da Manh, nos poemas Orao a Nossa Senhora da Boa Morte e Jacqueline. O primeiro poema anterior ao Momento num Caf, e desenrola-se com vrias tentativas de pedidos e oraes, o que j no parece to ctico, mas termina sempre com desiluses, nunca h respostas divinas. E Jacqueline, que vem depois do momento num caf, trata tambm da morte, aparentemente de duas pessoas, de Jacqueline e de outra mulher que no tem sua morte totalmente esclarecida. Porm, o que pretendo frisar aqui o verso Os anjos!... Bem sei que no os h em parte alguma. que demonstra uma descrena de sua existncia, pois no os h em parte alguma. Dessa forma, podemos fazer um paralelo entre os trs poemas que apresentam o tema da morte tratado de formas diferentes, e uma viso ctica da vida. Concluo com as palavras de Davi Arrigucci, sobre Manuel Bandeira em O Cacto e as Runas, que transparece os intentos e a vida do poeta em relao vida e morte, tema central do poema analisado. E sobre sua arte potica: Confiava na espera do inesperado, atento ao encontro inslito, sempre atrado pelo magnetismo passional do momento: volpia ardente, minada pelo senso do transitrio e do perecvel, pela busca de uma beleza que parecia trazer na face o sinal da destruio. Lidara com a doena e a ameaa da morte desde cedo. Uma profunda humildade caracterizava sua atitude artstica. (ARRIGUCCI, pag.12)
Referncias Bibliogrficas BANDEIRA, Manuel. Estrela da Manh. So Paulo: Global, 2012.
ARRIGUCCI Jr. Davi. A Beleza Humilde e spera in O Cacto e As Runas. So Paulo, Duas Cidades, 1997, pp. 9 a 76.
ORTEGA Y GASSET, J. A desumanizao da arte. Traduo de Ricardo Arajo reviso tcnica da traduo Vicente Cechelero. 5. ed. So Paulo: Cortez, 2005.