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DlVALDO FRANCO Pelo Esprito Joanna de ngelis
Srie Psicolgica Joanna de Angelis
Vol. 8 1
Esta uma obra resplandecente de conceitos libertadores do Esprito Joanna de ngelis, atravs da mediunidade de Divaldo Franco. A mensageira da Imortalidade oferece, em linguagem simples e acessvel, estudos dos problemas humanos luz da Psicologia Esprita com os subsdios da Psicologia Transpessoal, a fim de minorar os problemas e dificuldades da existncia corporal, preparando o Esprito para a sua destinao futura. Temas delicados so tratados com beleza e oportunidade para o entendimento dos aparentes enigmas da reencarnao, propondo solues para as dificuldades de relacionamento, de comportamento, da existncia em si mesma. Os profundos conceitos, que chegam com sabedoria ao atendimento de todos, encontrados nesta e nas demais obras da Srie Psicolgica de Joanna de ngelis, jamais sero esquecidos.
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Divaldo Pereira Franco um dos mais consagrados oradores e mdiuns da atualidade, fiel mensageiro da palavra de Cristo pelas consoladoras e esperanosas lies da Doutrina Esprita. Com a orientao de Joanna de Angelis, sua mentora, tem psicografado mais de 250 obras, de vrios Espritos, muitas j traduzidas para outros, idiomas, levando a luz do Evangelho a todos os continentes sedentos de paz e de amor. Divaldo Franco tem sido tambm o pregador da Paz, em contato com o povo simples e humilde que vai ouvira sua palavra nas praas pblicas, conclamando todos ao combate violncia, a partir da auto pacificao. H 60 anos, em parceria com seu fiel amigo Nilson de Souza Pereira, fundou a Manso do Caminho, cujo trabalho de assistncia social a milhares de pessoas carentes da cidade do Salvador tem conquistado a admirao e o respeito da Bahia, do Brasil e do mundo.
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Salvador 12. ed. -2013 (1997) Centro Esprita Caminho da Redeno - Salvador (BA) 12. Ed.-2013 5.000 exemplares (milheiros: de 62 a 66)
Reviso: Jorge Leite Oliveira Christiane Barros Loureno Editorao eletrnica: Lvia Maria Costa Sousa Capa: Cludio Urpia
Coordenao editorial: Luciano de Castilho Urpia Produo grfica:
LIVRARIA ESPRITA ALVORADA EDITORA Telefone: (71) 3409-8312/13 - Salvador BA E-mail: [email protected] Homepage: www.mansaodocaminho.com.br Dados Internacionais de Catalogao na Publicao ( CIP) (Catalogao na Fonte)
1. Espiritismo 2. Psicologia 3. Comportamento I. Divaldo Pereira Franco II. Joanna de Angelis III. Ttulo CDD: 133.90
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DIREITOS RESERVADOS: todos os direitos de reproduo, cpia, comunicao ao pblico e explorao econmica desta obra esto reservados, nica e exclusivamente, para o Centro Esprita Caminho da Redeno. Proibida a sua reproduo parcial ou total, mediante qualquer forma, meio ou processo, sem a prvia e expressa autorizao, nos termos da Lei 9.610/98.
Impresso no Brasil Presita en Brazilo
Smula 0 milagre da vida 7
1 Vida 11 1.1 Definio e proposta 11 1.2 Impedimentos naturais, domsticos, afetivos, 15 sociais, econmicos, do inter-relacionamento pessoal 1.3 Doena e sade 21 1.4 Obsesses 23
2 Significado do ser existencial 27 2.1 Objetivos da vida humana 27 2.2 Conflitos pessoais 30 2.3 Mitos, iluso e realidade 33
3. Fatores de insegurana 39 3.1 A Criatura astuta 39 3.2 Necessidade da mentira 43 3.3 Afetividade conflitiva 47 3.4 Apoios ineficazes 50
4 Energias da vida 53 5
4.1 Hbitos mentais 53 4.2 Frustraes e dependncias 56 4.3 Sensaes e emoes 58 4.4 Vida interior 61
5 Significado do ser integral 65 5.1 Bases para a auto realizao 65 5.2 Conquistas que plenificam 69 5.3 Lies de vida 72
6 Aspectos da vida 6.1 Juventude e velhice 6.2 Estar desperto 6.3 Alegria de viver
7 Descobrindo o inconsciente 7.1 Anlise do inconsciente 7.2 Processo de individuao 7.3 Os Arqutipos
8 Auto despertamento inadivel 8.1 O despertar do Si 8.2 Esforo para equilibrar-se 8.3 Disciplina da vontade 8.4 Aes libertadoras
9 Relacionamentos saudveis 9.1 A influncia dos mitos na formao da personalidade 9.2 Conceitos incorretos e perturbadores 9.3 Estabilidade de comportamento
10 A busca da realidade 10.1 Necessidades humanas 10.2 Lutas conflitivas 10.3 Autorrealizao
11 11.1 O crebro intelectual e o crebro emocional 11.2 Meditao e visualizao 11.3 O pensamento bem-direcionado 6
O milagre da vida
Por mais que a mente humana interrogue a respeito da vida, na atual conjuntura do conhecimento intelectual, embora inegavelmente vasto, difcil se torna encontrar as respostas adequadas que lhe facilitem apreender todo o seu sentido e significado. Reduzindo-a a acasos absurdos, destitudos de qualquer lgica, alguns investigadores simplificaram-na, eliminando maiores preocupaes em torno da sua magnitude. Outros a estabeleceram sobre contedos mitolgicos de fcil aceitao, graas aos componentes do sobrenatural e do maravilhoso. O milagre da vida muito mais complexo e, por isso mesmo, o seu ponto de partida somente pode ser encontrado no Criador que a elaborou e a vem conduzindo atravs de bilhes de anos, produzindo na sua estrutura as indispensveis adaptaes, desdobramentos, variaes... No que diz respeito vida humana em si mesma, detectamos sua gnese no Psiquismo Divino, que a concebeu e a inspira, proporcionando-lhe a energia de que se nutre, que a impulsiona ao crescimento atravs das multifrias reencarnaes do Esprito imortal, tambm denominado princpio inteligente do Universo. Simples, na sua constituio, liberta as complexidades que se lhe fazem necessrias para o crescimento, qual semente que se intumesce no seio generoso do solo, a fim de alcanar o vegetal que a sua fatalidade, ora dormindo no seu ntimo. Ignorante quanto sua destinao, desperta para a prpria realidade mediante as experincias intelectuais e vivncias morais que o capacitam para a conquista da plenitude. semelhana da semente humilde e nobre, que jamais contemplar a espiga dourada, em razo da morte que lhe faculta 7
o surgimento do gro, o Esprito, na sua simplicidade inicial como psiquismo, no se apercebe do anjo que se lhe encontra silencioso no mago, e um dia singrar os infinitos rios da Imortalidade. Esse processo de evoluo, no entanto, assinalado por desafios, cada vez mais graves e significativos, quanto mais se lhe desdobram as faculdades e o discernimento. O desabrochar dos valores internos , de certa maneira, dilacerador em todas as espcies vivas. A vida vegetal rompe a casca protetora da semente, a fim de libertar-se; o mesmo ocorre com o ser humano que se v envolto pela carapaa forte que o encarcera no princpio e cuja priso lhe deixa marcas profundas que devem ser eliminadas, na razo direta em que se desenvolve e passa a aspirar a mais amplos espaos e a mais gloriosa destinao. A luta se lhe faz, portanto, intensa, sem quartel, avolumando- se na medida da capacidade de resistncia e de esclarecimento que lhe facultam as vitrias. Viver um desafio sublime, e realiz-lo com sabedoria uma bem-aventurana que se encontra disposio de todo aquele que se resolva decididamente por avanar, autossuperar-se e alcanar a comunho com Deus.
Estudamos, neste modesto livro, diversos desafios que o homem e a mulher modernos enfrentam no cotidiano. Graas ao valioso concurso das doutrinas psquicas em geral e da Psicologia Esprita em particular, excelentes contribuies existem e se encontram disponveis para todos aqueles que esto sinceramente interessados na construo de uma conscincia saudvel, de um ser responsvel e lcido, de uma sociedade feliz. No apresentamos nenhuma frmula mgica, e tal no existe, que possa resolver as dificuldades e os problemas naturais, que fazem parte do processo da evoluo. Todas as propostas e solues para os desafios existenciais da vida dependem de cada pessoa, do seu esforo, da sua perse- verana e da sua ao confiante. O que no seja conseguido em um momento, mediante a insistncia saudvel ser alcanado depois. Reconhecemos que existem excelentes obras que abordam alguns, seno a quase totalidade dos temas aqui apresentados, e com melhores contribuies. 8
A nossa singela colaborao, porm, se fundamenta nos postulados vigorosos da Doutrina Esprita, que vem, desde h quase cento e quarenta anos, quando da publicao de O Livro dos Espritos, por, (1) Allan Kardec, no dia 18 de abril de 1857, iluminando vidas e libertando conscincias.
Confiamos que, embora inexpressiva, a nossa oferenda poder auxiliar algum leitor que se encontre experimentando.
1- Nota da Editora - Com a publicao da presente obra, homenageamos O Livro dos Espritos, de Allan Kardec, por ocasio do transcurso do seu 140 aniversrio de publicao, que ocorrer no prximo dia 18 de abril do ano em curso. Igualmente, congratulamo-nos com o mdium Divaldo Pereira Franco, pela celebrao do seu cinquentenrio de labor esprita pela palavra, iniciada medi unicamente no dia 27 de maro de 1947, na cidade de Aracaju, Sergipe, onde ter lugar o Io Congresso Esprita Es- tadual, nos dias 27 a 30 de maro prximo, comemorando a abenoada ocorrncia. Desafios, aqui descobrindo as solues correspondentes e tornando-se harmonizado, a caminho da conquista da felicidade.
Salvador, 20 de janeiro de 1997 Joanna de ngelis
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1 VIDA
Definio e proposta. Impedimentos naturais, domsticos, afetivos, sociais, econmicos, do inter- relacionamento pessoal. Doena e sade. Obsesses.
Definio e proposta
Os bons dicionaristas definem a vida como um Conjunto de propriedades e qualidades graas s quais animais e plantas, ao contrrio dos organismos mortos ou da matria bruta, se mantm em contnua atividade, manifestada em funes orgnicas tais como o metabolismo, o crescimento, a reao a estmulos, a adaptao ao meio e a reproduo, segundo o Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa. A vida pode tambm ser considerada como o perodo que medeia entre as aes e reaes que vitalizam os seres vivos, como resultado de organizaes celulares de grandiosa complexidade, que se desenvolvem entre o nascimento e a morte. Supe-se que a vida teve incio no perodo pr-cambriano, embora a ausncia de vestgios fsseis, que por certo desapareceram, em vez de no haverem existido, pois que, no perodo imediato - o cambriano - j era volumosa a presena da fauna, rica e diversificada. 10
Quando surge uma estrutura celular se pode identificar o ser vivo. No caso dos vrus, alguns deles ainda no possuindo estrutura celular, no podem ser considerados como tal.
Todos os seres vivos dependem grandemente do consumo da energia, que chega Terra atravs da luz do Sol, que a exterioriza, convertendo quatrocentos e vinte milhes de toneladas de massa em cada segundo, para poder manter o Sistema, e, por consequncia, todas as formas de vida em nosso planeta, especialmente as plantas que servem de base para a manuteno dos vegetais, ao lado de outras substncias, e que, por sua vez, nutrem os animais. Embora essas expresses variadas de compreenso em torno da vida, eis que ela transcende a tais limites impostos pela deficincia de linguagem, pela pobreza da forma e da maneira para entender-lhe o significado profundo que a oculta, mesmo aos olhos dos observadores mais atentos. A vida manifesta-se conforme a sua estrutura prpria e peculiar, sendo detectada por cada estudioso, por cada analista, de acordo com o seu ngulo de entendimento ao v-la e senti-la. Santo Agostinho a considerava filosoficamente muito simples como a nutrio, o crescimento, o depauperamento, tendo por causa um princpio que traria em si o seu prprio fim, que ele denominava entelquia. J Cludio Bernard considerava impossvel defini-la, por ser inacessvel e abstrata. O conceito, portanto, sobre a vida varia de acordo com a corrente de pensamento filosfico ou de comportamento cientfico, em se considerando que cada um apoia sua viso em torno dela, mediante as prprias bases de sustentao cultural. Os mecanicistas elucidam que a vida se originou atravs de fenmenos totalmente fsico-qumicos. Os vitalistas acreditam na vigncia de um princpio vital, encarregado de transformar a matria inerte em animada ou pulsante. J o materialismo dialtico apresenta o conceito de que a vida se teria originado em um sistema no qual tudo se modifica em um incessante 11
movimento de superao de umas partes por outras; em que no h fenmenos isolados, mas tudo est relacionado. O espiritualismo parte da realidade de um Ser Transcendente que a criou e a mantm, facultando-lhe um desdobramento infinito em quantidade e qualidade, que se direciona para o rumo da perfeio. O bilogo dir que a vida o resultado da organizao celular, em admirveis aglutinaes, formando rgos, sistemas e funes que se individualizam. O filsofo apresentar formulaes diferentes, que decorrem da sua ptica vivencial e cultural, concordando com a Escola a que se vincule, limitando-a, entretanto, ao perodo que se estende entre o bero e o tmulo. O artista, conforme a rea a que se dedique, tentar traduzi-la em beleza e majestade, copiando-a, manifestando-a com deslumbramento ou desencanto, em relao estrutura psicolgica que lhe seja peculiar. ... E assim, sucessivamente, cada pessoa, entendendo--a, definindo-a de acordo com a sua percepo, a sua emoo, a sua capacidade cultural, fornecer conceitos compatveis com a sua forma de ser. A vida, no entanto, em determinado momento, extraordinrio qumico, que transforma gua e hmus em madeira e acar, no vegetal, oferecendo perfume flor e sabor ao fruto, enquanto no estmago prepara solues vigorosas para modificar os alimentos e digeri-los, a fim de que no peream os seres, que dessa forma se nutrem. Simultaneamente o artista incomum que trabalha todas as folhas dos vegetais com riqueza de contornos, que nunca se repetem, colocando, num homem, impresses dactiloscpicas, que jamais so encontradas noutro. Ao mesmo tempo, com toques mgicos d cor e brilho s plantas, aos pssaros e a todos os demais seres vivos, enquanto adorna a Natureza com festas arrebatadoras em tons infinitos, impossveis de serem repetidos. um fsico incomparvel, que trabalhou todos os campos de energia, permitindo que, s a pouco e pouco, o homem lhe pudesse penetrar os milagres, ora abertos a inmeros setores do conhecimento que deslumbra as inteligncias mais aguadas. Entrementes, a vida surge da unio de um protoplasma com um raio de sol, que o fragmenta, multiplicando--o ao infinito, de forma que tudo quanto vive no mundo terrestre a teve o seu 12
comeo. E to forte essa fantstica unio de energias difanas, que humilde raiz, em insignificante greta, lentamente pode culminar o seu desenvolvimento fendendo a rocha...
No ser humano, apresenta-se frgil e poderosa ao mesmo tempo, pois que estruturou o seu corpo com tais recursos que ele resiste a diferentes presses atmosfricas, a choques vigorosos e deixa-se afetar por delicada picada de um alfinete que, se infectado, pode lev-lo morte, ou por um corte que lhe permite a perda de sangue, caso no se forme o cogulo tampo produzido pela fibrina, ou vtima de um traumatismo de pequena monta... Uma gripe de aparncia comum pode afet-lo gravemente; uma virose pode vir a roubar-lhe a existncia, enquanto se recompe de processos graves e infecciosos, de cirurgias e transplantes expressivos com naturalidade, podendo enfermar ou restabelecer-se sob o comando da mente, da vontade, pela manuteno do oxignio, da gua e, principalmente, do amor. A Vida, no entanto, Deus, e, por isso, ainda difcil, seno impossvel de ser compreendida plenamente, alm das suas manifestaes, que fazem parte do processo da realidade dos seres, precedendo-lhes ao surgimento na forma material e sobrevivendo-lhes decomposio cadavrica. No incomparvel e no dimensvel oceano da Vida, encontramo-nos sob Leis que estabelecem as diretrizes essenciais para o processo da felicidade que a tudo e a todos aguarda que a incomum fatalidade para a qual se expressa no mundo: a perfeio!
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Impedimentos naturais, domsticos, afetivos, sociais, econmicos, do inter-relacionamento pessoal.
Estudando-se os primrdios do planeta terrestre, pode-se imaginar os graves impedimentos existentes para o aparecimento da vida. Temperaturas muito elevadas, convulses geolgicas incessantes, gases venenosos que pairavam na atmosfera, turbilho em toda parte, quase o caos... Lentamente, porm, o psiquismo existente na imensa geleia que envolvia o Orbe desceu intimidade das guas abissais dos oceanos, dando incio s primeiras molculas, na razo direta em que amainava o calor comburente e amorteciam os movimentos gigantescos das ondas do mar golpeando as rochas. Obedecendo a uma hbil e complexa programao transcendental teve incio a aglutinao molecular, e o hlito Divino em forma de vida passou a sustentar as organizaes iniciais. Transcorridos quase dois bilhes de anos, o ser humano direciona o pensamento para as conquistas do macrocosmo, enviando sondas espaciais que lhe facultam o conhecimento mais profundo do Sistema Solar e avanam, audaciosamente, no rumo do mais alm da sua rbita... No obstante esse desenvolvimento tecnolgico, no ocorreu equivalente crescimento moral, e, como consequncia, o prprio homem ameaa o ecossistema que lhe preserva a existncia fsica, enlouquecido pelas ambies desvairadas, atirando-se no abismo da loucura pelo gozo... Indubitavelmente a vida triunfa sobre o meio hostil, e as espcies, s dezenas de milhares, surgiram, desenvolveram-se e desapareceram, repetindo-se em ciclos de periodicidade de aproximadamente cem mil anos.
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inexorvel o aprimoramento das formas que envolvem o psiquismo, o crescimento das aspiraes e compreenses dos valores, cada vez mais nobres, que convidam a inteligncia e o sentimento ao permanente trabalho de sublimao. Como inevitvel, no suceder dos ciclos da evoluo, as conquistas e os prejuzos de cada experincia se refletem na imediatamente posterior, exigindo maior contribuio do ser para depurar-se e desenvolver outros segmentos que nele jazem aguardando oportunidade. A residem os demais impedimentos expresso da vida, que se podem relacionar como domsticos, sociais, afetivos, econmicos, do inter-relacionamento pessoal. O Esprito, portanto, incurso nas suas realizaes, repete por atavismo automatista, as mesmas experincias, particularmente aquelas nas quais malogrou, at fixar novas aprendizagens. Aristteles afirmava que o conhecimento se adquire e a virtude se exercita, de modo a conseguir-se a sabedoria. O conhecimento do dever e a virtude da responsabilidade caminham lado a lado, desenvolvendo recursos latentes e aprimorando-os atravs do contributo das sucessivas reencarnaes. Em face dessa conjuntura, os impedimentos domsticos ou familiares tm suas razes na necessidade de o princpio inteligente, que rege a vida humana, conviver com os problemas ou as bnos que produziu nas atividades anteriores, a cujas razes se encontra vinculado. Lares difceis, relacionamentos familiares speros, presena de me dominadora e de pai autoritrio, fomentando o surgimento de conflitos na personalidade infantil, remontam aos perodos pretritos de alucinao, de instinto e de desregramento.
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Quando se compenetrarem, os pais, de que o lar o santurio para a vida humana e no um campo de disputas para a supremacia do ego; quando os adultos se conscientizarem que a educao um ato de amor e no um meio de intimidar, de descarregar problemas; quando as pessoas entenderem a famlia como um compromisso dignificador e no um ringue de lutas, as trgicas ocorrncias do abuso infantil, pela violncia, pela indiferena, pelo estupro, pela misria em que nasce o ser e a ela fica relegado, cedero lugar construo de uma sociedade justa, equnime e feliz. Isso porque, a criana maltratada, sob qualquer aspecto que se considere, projeta contra a sociedade o espectro do terror que a oprime, do abandono em que estertora e, na primeira oportunidade, tentar cobrar pela crueldade o amor que lhe foi negado. Investiguem-se as origens sociais dos criminosos em- pedernidos, salvadas as excees de natureza patolgica - hereditariedade, comprometimento pelas obsesses e se detectaro os lares infelizes, as famlias desajustadas ou grupos perversos reunidos em simulacros familiares, vitimados pelo abuso e descaso de pessoas inconscientes e chs ou pelos sistemas ainda mais insensveis que culminam pela hediondez das leis em que se apoiam. O impedimento familiar ser superado a partir da conscincia de amor, entendendo as circunstncias do renascimento e administrando os conflitos mediante terapias especializadas e a convivncia com grupos de auxlio e sustentao. Surgem os impedimentos afetivos, que resultam de inmeros fatores, entre os quais o prprio desajuste emocional do indivduo: timidez, complexos de inferioridade, de superioridade, narcisismo... As marcas psicolgicas perturbadoras no cicatrizadas fazem- no refugiar-se na infncia infeliz, procurando sustentar a imagem de desvalor que lhe foi inculcada ou que se lhe estereotipou, negando-se a liberdade e o direito de ser ditoso.
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Castrado nos sentimentos do amor, que no experimentou e por isso no desenvolveu, anela pela afetividade, que teme, receando amar e no acreditando merecer qualquer tipo de afeto, desenvolvendo sim, na sua insegurana, o cime, a desconfiana sistemtica, a dominao do outro, ou tombando em tormentos maiores de ordem psicolgica, iniciando-se no crime, pela extino da vida fsica daquele a quem ama apaixonadamente ou por quem amado. Na imensa gama dos conflitos perturbadores, o indivduo se dissocia do convvio social, a princpio atravs de uma fragmentao da personalidade, que se sente destroada, derrapando em atitudes de autocomiserao ou de agressividade, a depender do prprio arcabouo psicolgico. inevitvel que, nessa conjuntura aflitiva, o convvio social seja insuportvel, ou exera um tipo de presso emocional angustiante, que o empurra no rumo da alienao. As vezes o grupo social fechado, impeditivo de crescimento, evitando que novos membros se lhe associem, o que constitui um estgio primrio no processo da evoluo, assim temendo a invaso da privacidade que preserva como mecanismo de autodefesa. Apesar disso, em grande nmero de vezes, ele prprio inseguro, atormentado que rejeita a sociedade, refugiando-se em escusas de que no seria aceito caso insistisse, mesmo vencendo os seus limites e resistncias. H sempre presente o mecanismo de autopreservao, quando se trata de personalidades conflituosas em relao ao comportamento social, evitando o grupo e acusando-o de rejeio. Por outro lado, as dificuldades financeiras geram impedimentos para a plenificao existencial, por facultarem complexos de inferioridade econmica entre os aparentemente triunfadores, que dispem de recursos para desfilar o seu triunfo, a sua sade, a sua felicidade... Sabe-se que os valores amoedados certamente promovem o indivduo, o grupamento social onde ele se movimenta, porm de maneira alguma evita que padea a injuno de todos os sofrimentos que so comuns s demais criaturas. A aplicao desses valores pode atenuar as dificuldades, diminuir as provaes, ensejar comodidade, nunca porm impedir as 17
ocorrncias que a todos afetam, especialmente as de ordem ntima, que antecedem o comportamento atual. Quando se possui uma personalidade estruturada, os desafios econmicos se apresentam e so avaliados, a fim de serem superados, conquistando-se patamares de equilbrio, que em nada invalidam os valores reais que exornam o carter ntimo de cada qual. No , desse modo, o ter ou no ter recursos econmico-financeiros, mas a forma como se encara a situao ou a dependncia a que se entrega a pessoa ante a circunstncia que defronta. De alguma forma, esses impedimentos perturbam o inter- relacionamento social, ou alguns deles, ou mesmo apenas um, a depender da estrutura emocional de cada qual. Uma personalidade bem-desenvolvida e desbloqueada encara os desafios, os impedimentos existenciais, como testes de valorizao, sentindo-se convidada a lutas e esforos que mais lhe desenvolvem a capacidade para enfrentar futuras dificuldades. O amadurecimento psicolgico d-se a pouco e pouco, jamais atravs de golpes-surpresas, muito do agrado dos inseguros e sonhadores. Enquanto sejam identificados impedimentos plenificao da vida, se est em crescimento, em processo de valorizao existencial, de desenvolvimento intelecto-moral. Em vez de constiturem obstculos, devem ser encarados como estmulo, como emulao descoberta e aplicao de recursos que jazem ignorados e podem ser aplicados com eficincia para a harmonia pessoal.
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Doena e sade
Sade o estado ideal da vida. Doena ocorrncia vibratria perturbadora, mudana de comportamento na organizao molecular do indivduo ou no seu psiquismo em processo de amadurecimento. Essa distonia no mecanismo sutil do ser, abrindo espaos para a manifestao e proliferao dos processos degenerativos, tem sua sede nas intrincadas malhas do Esprito, em si mesmo herdeiro dos atos que o acompanham na larga trajetria da evoluo, sempre responsvel pelo que e pelo que se candidata a conseguir. A doena, no entanto, nem sempre representa estado de calamidade na maquinaria ou nos equipamentos responsveis pelas expresses da inteligncia, do pensamento, da emoo. Quando bem-entendida e direcionada para finalidades superiores, que so conseguidas por meio da reflexo, do amadurecimento das ideias, pode ser considerada, em muitos casos, como terapia preventiva a males piores os de natureza moral profunda, espiritual significativa - advertindo que a organizao somtica sempre uma indumentria de breve durao e que o ser, em si mesmo, que merece todo o investimento de preocupao e esforo iluminativo, preservador. A fatalidade da vida estabelece equilbrio, harmonia e perfeio, porque o ser rebelde ou descuidado, transitando por estgios de desajustes que abrem campo para a instalao das doenas. A sade resulta de uma bem-dosada quota de valores mentais em consonncia com a estabilidade fsica e a ordem psicolgica, que produzem o clima de vitalidade responsvel pela funcionalidade do corpo. Qualquer alterao nos equipamentos sensveis da maquinaria fisiopsquica e logo surge um campo propiciatrio manifestao da doena. Nesse sentido, a rea psquica portadora de grande responsabilidade, porque graas sua vibrao encarregada de manter o perfeito entrosamento entre as manifestaes fsicas, emocionais e mentais que as ocorrncias nas diferentes expresses podem sofrer alterao.
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A educao mental, que resulta do esforo pelo cultivo das ideias edificantes, torna-se de alta validade no processo de uma existncia saudvel, geradora de futuros comportamentos orgnicos e psquicos, que sempre produziro bem-estar e felicidade. O mesmo ocorre quando se instalam hbitos mentais perturbadores, que produzem desconforto emocional, campo fsico vulnervel instalao de agentes microbianos degenerativos, perturbaes psquicas lamentveis, que se transferem de uma para outra existncia corporal, como fruto da Lei de Causa e Efeito. Todo o esforo, portanto, para ter preservada a mente da invaso de ideias portadoras de energias dezequilibrantes, torna- se psicoterapia preventiva, responsvel pela vida s.
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Obsesses
Toda fixao indevida nos processos mentais e emocionais em torno de pessoas, fatos e coisas converte-se em estado perturbador do comportamento, empurrando o indivduo para os transtornos de ordem neurtica assim como psictica. Esses procedimentos, que podem preceder existncia atual, como surgir durante a vilegiatura do momento, decorrem das ambies desmedidas, dos desregramentos comportamentais, dos anseios exagerados que afetam o metabolismo cerebral, propiciando a produo descompensada de enzimas que afetam a harmonia do sistema nervoso em geral e do comportamento em particular. medida que constituem imperativo dominador, tornam-se obsesses que passam a inquietar o indivduo, levando-o a estados mais graves na rea da sade mental. Surgem, ento, as obsesses compulsivas, os estados de fragmentao da personalidade a um passo da degenerao do comportamento. Outras vezes, trata-se de fenmenos que procedem de outras existncias, nas quais o Esprito malogrou, sendo objeto de conflitos profundos ou de circunstncias agressivas que lhe danificaram os equipamentos perispirituais, ora modeladores das ocorrncias doentias. Paralelamente, em razo de condutas extravagantes, no campo da tica e da Moral, das aes mentais e comportamentais, aqueles que se lhes fizeram vtimas, embora vivendo em outra dimenso, na Esfera espiritual, sintonizam com o responsvel pela sua desdita e do curso a perseguies, ora sutis, ora violentas, no campo psquico, e se instalam outros tipos de obsesso. Essas, portanto, de origem espiritual, em face da presena de faculdades medinicas no paciente, que passa a sofrer constrangimentos mais diversos, at derrapar nos abismos da alucinao, do exotismo, das alienaes mentais. Ningum foge da prpria conscincia, que o campo de batalha onde se travam as lutas da reabilitao ou os enfrentamentos da regularizao de atitudes malss. 21
Por isso, ainda so o controle mental e a educao do pensamento que podem representar a eficiente terapia de preveno de distrbios, como a curadora para os processos de ordem espiritual, desde que alterando a faixa vibratria por onde transitam as ideias, se superiores, eleva-se, ficando indene sintonia com os seres atrasados, e, se negativas, passando a frequentar os nveis onde se encontram e se digladiam as energias e sentimentos em constante litgio, vinculando-se a essas emisses deletrias, que terminam por afetar o organismo fsico e os complexos mecanismos mentais, responsveis pelo conjunto produtor da sade. As obsesses que resultam de traumas psicolgicos, de conflitos de profundidade, de insuficincia de enzimas neuronais especficas, surgem tambm da interferncia das mentes dos seres desencarnados, interagindo sobre aqueles aos quais so direcionadas, em processos perversos de vingana. A sade exige cuidados especficos que lhe podem e devem ser dispensados, a fim de manter-se inalterada, ou, quando afetada, esforos especiais para reconquist-la sob orientao especializada na rea mdica, tanto quanto direcionamento espiritual, a fim de realizar o seu mister, que auxiliar o Esprito encarnado na sua viagem celular, temporria, a caminho da plenitude que pode ser antevista na Terra, porm, somente desfrutada depois da reencarnao, quando os implementos corporais sujeitos ao mecanismo degenerativo da prpria matria no mais se encontrem sob os imperativos da Lei de Entropia e da fragilidade de que constitudo.
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2 Significado do ser existencial
Objetivos da vida humana. Conflitos pessoais. Mitos, iluso e realidade.
Objetivos da vida humana
Ningum se encontraria reencarnado na Terra, no tivesse a existncia fsica uma finalidade superior. O ser produto de um largo processo de desenvolvimento dos infinitos valores que lhe dormem em latncia, aguardando os meios propiciatrios sua manifestao. Etapa a etapa, passo a passo, so realizados progressos que se fixam mediante os hbitos que se incorporam individualidade, que resulta do somatrio das vivncias das multifrias reencarnaes. Erros e acertos constituem recursos de desdobramento da conscincia para os logros mais grandiosos da sua destinao, que a de natureza csmica, quando em perfeita sintonia com os planos e programas do Universo. Passando o princpio inteligente por diversos patamares do processo da evoluo, fixa todas as experincias que lhe constituem patrimnio de crescimento mental e moral, atravessando os perodos mais difceis e laboriosos da fase inicial, para alcanar os nveis de lucidez que o capacitam compreenso e vivncia dos Soberanos Cdigos que regem o Cosmo. No perodo do pensamento primrio tudo feito mediante automatismos dos instintos, preservando os fenmenos inevitveis da vida biolgica, de modo a poder desenvolver as faculdades do discernimento sob a fora do trabalho brutal, suavizando a prpria faina com o esforo das conquistas operadas. Nesse ser primitivo as esperanas cantam as expectativas das glrias futuras. Ele olha o zimbrio estrelado e 23
no entende as lanternas mgicas rutilando ao longe, que lhe parece prximo. A saga da evoluo longa e, por vezes, dolorosa, deixando-lhe sulcos profundos, que noutras fases, sob estmulos inesperados dos sofrimentos, ressurgem como angstia ou violncia, desespero ou amargura que no consegue explicar. Constituir- lhe-o arqutipos a exercerem grande influncia no seu comportamento psicolgico durante vrias existncias corporais, assinalando-lhe a marcha ascensional. Mesclam-se, em cada personalidade proveniente das reencarnaes, dando surgimento a algumas personificaes parasitrias e perturbadoras, que constituem o captulo das personalidades mltiplas, em forma de comportamentos alienados. A sua evoluo psicolgica , tambm, a mesma antropolgica, especialmente nos passos primeiros. Avanando lenta e seguramente, aprendendo com as foras vivas do Universo, entesoura os recursos preciosos do conhecimento que lhe custou sacrifcios inumerveis no longo curso das experincias, e agora se interroga a respeito da finalidade de todo esse curso de crescimento, descobrindo, por fim, que se encontra no limiar das realizaes realmente plenificadoras e profundas, porque so as que significam libertao dos atavismos remanescentes, ampliando as aspiraes na rea das emoes mais nobres, portanto, menos afligentes, aquelas que no deixam as sequelas do cansao, da amargura ou do desnimo. A criatura est fadada felicidade, conquista do Infinito, alm das expresses do espao. A dor que hoje a comprime camartelo de estimulao para que saia da situao que propicia esse desagradvel fator de perturbao. Compreendendo, por fim, a grandeza do amor, ala--se s cumeadas do trabalho pelo bem geral, empenhando--se na conquista de si mesma, do seu prximo, da vida em geral. Tudo quanto pulsa e vibra interessa-lhe, retira-a da pequenez e conduz grandeza, trabalhando-lhe o ntimo que se expande e se harmoniza em um hino de confraternizao com tudo e com todos, passando a fazer parte vibrante da vida. Esse significado existencial somente descoberto quando atinge um grau de elevada percepo da realidade, que transcende o limite da forma fsica, transitria e experimental 24
que, todavia, pode e deve ser cultivada com alegria e sade integral. No se creia, portanto, equivocadamente, que a finalidade primeira da conjuntura existencial seja viver bem, no sentido de acumular recursos, fruir comodidades, gozar sensaes que se renovam e exaurem, alcanando o pdio da glria competitiva e todos esses equivalentes anelos do pensamento mgico, partindo para as aspiraes fenomnicas e miraculosas dos privilgios e das regalias que no harmonizam o indivduo com ele mesmo. Certamente, na pauta dos objetivos e do sentido existencial, constam as realizaes sociais, econmicas, artsticas, culturais, religiosas, todas aquelas que fazem parte do mundo de relaes interpessoais. Entretanto, no so exclusivas - metas finais das buscas e das lutas - desde que o ser transpe os umbrais do tmulo e continua a viver, levando os seus programas de elevao gravados no imo profundo. Lutar sem fadigas exaustivas por conquistar-se, su-perando-se quanto possvel, enfrentando os desafios com alegria e compreendendo que so os degraus de ascenso diante dos seus passos - eis como incorporar ao cotidiano os objetivos essenciais do seu aprimoramento fsico, emocional e mental.
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Conflitos pessoais
Nesse empreendimento de ascenso inevitvel, o ser depara-se com as construes do seu passado nele insculpidas, que se exteriorizam amide, afligindo-o, limitando-o. Apresentam-se, essas fixaes, como conflitos nas paisagens ntimas, ameaando a sua realizao, a alegria do trabalho, a harmonia da convivncia com outras pessoas, transformando-se com facilidade em complexos perturbadores na rea da emoo e do comportamento. No se podem negar os fatores responsveis por tais distrbios, a comear pelos comportamentos da gestante, afetando o ser na vida intrauterina e culminando com a convivncia em famlia, particularmente com pais dominadores, mes castradoras, neurticas, que transferem as suas inseguranas e todos os outros conflitos para os filhos em formao, que se tornam fragilizados sob a alta carga de tenses que se veem obrigados a suportar. Por outro lado, as presses sociais e econmicas, culturais e educacionais se transformam em gigantes apavorantes que passam a perseguir com insistncia o educando, que absorve esses fantasmas e no os digere vindo a tem-los, a detest-los e a conduzi-los por toda a existncia, quando no recebeu conveniente tratamento. E certo que o Esprito renasce onde se lhe torna melhor para o processo da evoluo. Como, todavia, ningum vem Terra para sofrer, seno para reparar, adquirir novas experincias, desenvolver aptides, crescer interiormente, todos esses empecilhos que defronta fazem parte da sua proposta de educao, devendo equipar-se de valores e de discernimento para super-los e, livre de toda constrio restritiva sua liberdade, avanar com desembarao na busca da sua afirmao plenificadora.
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Esta , sobretudo, a funo da Psicologia, ao penetrar o mago do ser, para o desalgemar dos conflitos e heranas infelizes que lhe pesam na economia emocional. Sigmund Freud, o insigne Pai da Psicanlise, afirmava com razo muito pessoal que, na raiz de todo conflito neurtico, sempre existe um problema da libido. No se pode descartar essa manifestao recalcada da libido, nos diversos comportamentos perturbadores que afetam a criatura humana. Isso porque, remanescente das suas experincias coevas, o ser renasce sob as injunes das condutas pelas quais transitou. No complexo de Edipo, por exemplo, detectamos uma herana reencarnacionista, tendo em vista que a me e o filho apaixonados de hoje foram marido e mulher de antes, em cujo relacionamento naufragaram desastradamente. No complexo de Eletra, deparamos uma vivncia ancestral entre esposos ou amantes, e que as Soberanas Leis da Vida voltam a reunir em outra condio de afetividade, a fim de que sejam superados os vnculos anteriores de conduta sexual aflitiva. Esses amantes reencontrando-se e guardando no inconsciente, isto , no Esprito, as reminiscncias das atividades vividas sob tormentos, sentem os apelos de ontem reaparecerem vibrantes, e, no possuindo uma forte conduta moral, derrapam nas relaes incestuosas, portanto infelizes. Mesmo nos complexos de inferioridade como nos de superioridade, ressurge o passado espiritual dominador, pro- vocando os estados mrbidos, que levam ao desequilbrio, a um passo da alienao mental. No deixamos de ter em vista os fatores familiares, educacionais, sociais, que pesam na manifestao dessas perturbaes, constituindo-se estmulos ao seu surgimento, piorando as tendncias inquietadoras, sulcando a psique de forma poderosa.
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Nos quadros fbicos, podemos encontrar Espritos que conduzem, no ntimo, pavores que sobreviveram ao fenmeno biolgico da reencarnao, cicatrizes do mundo espiritual inferior por onde transitaram, ou do despertamento na sepultura, em face das mortes aparentes, havendo desencarnado, em consequncia, por falta de oxignio, e que reexperimentam o tormento comea na claustrofobia. Outrossim, as recordaes de cenas apavorantes de que participaram na multido como vtimas ou desencadeadores, revivem-nas, inconscientemente, na agorafobia. Nas psicoses depressivas de vria manifestao, convm lembrar a presena da conscincia de culpa, que preexiste ao corpo, portanto, formao psicolgica atual, produzindo mecanismos de fuga ao dinmica, sob o imprio, no poucas vezes, de enzimas neuroniais responsveis pelo desajuste, como de fatores causais prximos e mesmo de obsesses espirituais, que se fazem atuantes no comrcio mental com as criaturas humanas. Nesse captulo, as dolorosas obsesses compulsivas tm suas razes etiopatognicas em graves condutas do Esprito nas existncias pretritas, assinaladas pelo descaso dignidade humana, por desrespeito s leis constitudas... Quando a educao tiver como objetivo a construo do homem integral, os fatores de perturbao cedero lugar a outros tipos de estmulos, que so os edificadores da esperana, mantenedores das aspiraes elevadas, no esforo para a superao das heranas doentias que cada um traz em si mesmo.
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Mitos, Iluso e Realidade.
Quando a criana no consegue amadurecer psicologicamente aps o perodo de desenvolvimento do seu pensamento mgico, transfere aquelas construes para todas as fases da sua existncia fsica, mantendo-se um indivduo mendaz, que se refugia na criatividade imaginativa para liberar-se da responsabilidade dos atos imaturos. Essa conduta igualmente tem suas razes profundas no arqutipo herdado do homem ancestral que viveu o processo de evoluo pensante e deixou fixadas no inconsciente coletivo as marcas do trnsito por aquele perodo. Entretanto, a conduta de pais dominadores, que se sentem compensados pelo amor em carncia, com a bajulao e a sujeio da prole, impe que a fase mtica permanea na estrutura da personalidade infantil, vendo, inclusive, nos filhos, mesmo adultos, os seres em formao que gostariam de continuar dirigindo. Trata-se de um conflito que se transfere de uma para outra gerao, cada vez com resultados mais danosos. A falta de honestidade do adulto para autoanalisar-se e assumir a coragem de libertar-se de todos os impedimentos e amarras, que o detm nas fixaes do passado, responde por condutas de tal natureza. A sua insegurana ntima produz o ditador que se cerca de leis injustas e atos arbitrrios, de guardas ferozes e cuidados especiais, intimidando, destruindo e fazendo-se detestado como forma de sentir-se realizado. No dio que lhe votam as vtimas, ele sente-se homenageado, porque temido, transferindo os seus medos em relao a tudo e todos para os demais em relao sua pessoa. Os mitos, que remanescem do perodo infantil ou da falta de maturidade do adulto sob a ao de arqutipos especficos, trazem de volta considerao os velhos conceitos em torno de deuses, semideuses, magos, fadas, fantasmas, crendices, como formas de aguardar proteo em deidades superiores, que chegaro magicamente para o salvar da maldade humana, da sociedade injusta, dos amigos infiis...
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O pavor que lhe infundia o pai, ao alcanar a idade da razo, transfere-o para Deus, que reflete a imagem detestada do genitor fsico, ou para os deuses mais terrveis que a imaginao concebeu nos perodos anteriores da cultura mais primitiva. A me arbitrria construir no inconsciente a bruxa m, invejosa, que ser vencida pela interferncia da fada madrinha.
Os conflitos da afetividade no lar inspiraro a confiana em um amor romntico, estilo medieval, que vir arrancar a vtima do encarceramento emocional em que sofre solido e desconforto. O mestre mesquinho e perverso que mais se compraz em intimidar que em ensinar, estrutura, no psiquismo do educando, o invasor sem alma que lhe penetra o castelo existencial paia destruir, sob pretexto de amizade e ajuda. Soterrados, mas no mortos, os mitos esto nos alicerces do inconsciente, sempre prontos a tomarem de assalto a casa mental e o campo psicolgico, levando o indivduo a fugas ocasionais por intermdio dos sonhos acordados, da fertilidade imaginativa. A vida, para essas pessoas, passa a ter o seu lado de realidade e pleno, embora todas as suas aspiraes estejam centradas no mundo do encantamento, certas de que, em um momento ou outro tudo se alterar e vivero felizes para sempre. Essa iluso de que a vida fsica o todo, a proposta essencial do existir, produz terrveis conflitos, porque, confiando com total dedicao no mundo material, as prprias injunes do desenvolvimento do ser apresentam-lhe a fragilidade estrutural em que se apoia, e isso produz-lhe desencanto, dor e desfalecimento nos ideais. A crena firmada na iluso de que tudo duradouro, seno eterno, no mundo terrestre, propicia o choque com a realidade dos fenmenos das transformaes incessantes, que ocorrem por fora da prpria transitoriedade da matria e de tudo quanto ela se reveste. O ser profundo resistente s situaes da mudana das ocorrncias humanas ou fenomnicas do habitai, construdo de energia pensante, que independe dos fatores transitrios do corpo somtico, a ele preexistente e sobrevivente, portanto uma realidade que vence tempo e espao, avanando sem cessar. 30
Os fatos que o demonstram resistem s teses que se lhe opem e apresentam os resultados filosficos e psicolgicos dos seus contedos de segurana. Transitar da iluso para a realidade imperativo para a aquisio da harmonia pessoal, da felicidade ntima. Buscar o apoio do conhecimento, a fim de discernir o que ilusrio e o que verdadeiro, o que tem estrutura resistente ao tempo e s transformaes culturais e aquilo que apenas engoda, oferece ensejo de amadurecimento psicolgico, de realizao interior. Com essa determinao, os apegos perturbadores, os cimes injustificveis, as angstias da ansiedade sem sentido, as decepes infantis, ante os acontecimentos normais do desenvolvimento dos fenmenos, cedem lugar libertao de pessoas, coisas e prazeres, que, embora sejam motivao para viver, no constituem a nica razo da vida. So realidades inalienveis as ocorrncias do nascimento e da morte, da velhice e das doenas, porque fazem parte dos mecanismos da vida fsica. Tornar mais aprazveis os dias vividos no corpo, eliminar os fatores de perturbao que tornam a existncia insuportvel, s vezes, fundamentar o conhecimento por meio das experincias so opes ao alcance de toda pessoa lcida, que pode conseguir o desejado atravs do esforo empregado para tanto. Prolongar a existncia fsica factvel, no, porm, indefinidamente, por motivos bvios. Sendo inevitvel a morte prpria ou dos seres amados, enfrent-la com serenidade um sentido de vida normal, que no deve surpreender, nem magoar. Aceitar os indivduos como so, eliminando a hiptese de que so perfeitos, deuses ou semideuses do panteo da iluso, funciona como termmetro para o equilbrio da emoo em torno da realidade da vida humana. Nem paixo, nem abandono diante da vida, mas conscincia de como bem viver no relativo tempo terrestre.
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3 Fatores de insegurana
A criatura astuta. Necessidade da mentira. Aeetmdade conelitiva. Apoios ineficazes.
A criatura astuta
Com variaes, narram os mitlogos gregos que a cidade de Corinto, quando em determinado perodo era governada por Ssifo, apresentava-se rida e desprovida de fontes de recursos para a prpria manuteno.2 O rei mitolgico, para a preservao(2) da cidade e do seu povo, mantinha um verdadeiro exrcito de assaltantes que atacavam os viajantes imprevidentes, que se viam obrigados a passar pela regio demandando outras reas. Graas astcia de que era constitudo, estava sempre informado das ocorrncias locais e tambm das acontecidas no Olimpo. Tomou conhecimento, graas aos seus espies, de que o deus Asopo andava desesperado porque sua filha Egina desaparecera sem deixar vestgio, e estava oferecendo fortuna e fertilidade a quem desse informao que levasse jovem raptada. Ssifo, mui astuciosamente, conseguiu saber do paradeiro da moa e, buscando-lhe o pai, prometeu dizer onde a mesma se encontrava, se ele cumprisse a promessa de compensar aquele que o auxiliasse a encontrar Egina. Confirmando o que estabelecera, Asopo soube que fora Zeus quem a raptara e a mantinha em cativeiro.
2- Vide o nosso livro Desperte e Seja feliz. Captulo 24 - Inteireza moral. Editora LFIAL. Nota da Autora espiritual.
O pai angustiado procurou o supremo deus e exigiu--lhe a entrega da filha. Sem poder negar-se solicitao, Zeus 32
devolveu-lha com a condio de saber quem o delatara, o que Asopo informou sem rebuos. Tomando conhecimento do fato, Zeus enfureceu-se e mandou a Morte buscar Ssifo. O astuto, que pensara haver solucionado o problema-da sua terra e do seu povo, que passaram a ter guas em abundncia, com a sua atitude gerou um novo desafio, que era enfrentar a detestada encerradora de destinos. Acreditando-se, no entanto, invencvel na astcia, quando a Morte chegou, elogiou-a, informando que desejava homenage-la com um colar especial que havia reservado para aquele momento. No entanto, solicitava o prazer de adorn-la, ele prprio. Envaidecida, a Morte aceitou o gesto do rei e, quando este lhe ps o adorno, reteve-a, porquanto se tratava de uma coleira habilmente disfarada em colar. A Morte ficou encarcerada e ele acreditou-se livre de futuras injunes, assim vencendo Zeus. Outros deuses, no entanto, como Saturno, soberano dos mares e dos infernos, e Mercrio, responsvel pela guerra e pela morte, procuraram o supremo deus e levaram--lhe speras queixas. Com o aprisionamento da Morte, os infernos estavam sem populao nova e as guerras foram interrompidas. Exigiam, dessa forma, que a mesma fosse libertada e Ssifo viesse trazido a julgamento. Dessa vez, Zeus enviou Hermes, que no teve dvida em apresentar-se ao astucioso e impor-lhe a viagem postergada. Colhido de surpresa, o deus-rei pediu licena para despedir-se da mulher e, ao faz-lo, sussurrou-lhe ao ouvido que, aps a sua morte, no lhe deixassem sepultar o cadver, porque ele pretendia regressar. Assim, mui prazerosamente seguiu Hermes presena de Zeus, que havia reunido o Olimpo para o julgamento do ambicioso. Na oportunidade, diante de todos, antes que lhe fosse aplicada a sentena, Ssifo solicitou a Zeus que o deixasse retornar Terra, porque o seu corpo no houvera recebido as homenagens que so devidas aos reis, particularmente queles de procedncia mitolgica. Ademais, como se podia verificar, ele no se encontrava com o eidolon (corpo espiritual), exigindo, dessa forma, um retorno Terra.
O Soberano lhe concedeu a volta ao mundo e, quando retomou o corpo, sem demora, evadiu-se de Corinto com a mulher, a fim de fugir fria de Zeus. Certamente resolveu um novo desafio, 33
no entanto gerou um problema muito mais grave, que iria defrontar posteriormente. Instado pelos demais deuses a respeito da punio que deveria ser aplicada no fujo, respondeu-lhes o Soberano: Mandarei agora um deus do qual ele no fugir para sempre. Trata-se do Tempo. E silenciou. Ssifo fugiu quanto pde, porm, medida que o fazia, era tomado pela velhice, pelas enfermidades, at que a Morte veio busc-lo. Ao ser apresentado a Zeus, sem qualquer escusa, ouviu a pena que lhe estava reservada, por haver tentado burlar as leis, fugir Justia. Deveria conduzir uma pedra de grandes propores montanha acima, at coloc-la no acume. Para evitar diminuio de movimento no trabalho, quando lhe adviesse o cansao, foi destacada uma Ernia para fustig-lo com um bidente. E at hoje, narram os mitlogos, Ssifo tenta conseguir o intento. Isso porque, ao chegar prximo parte superior da montanha, a pedra escapa-lhe das mos e volta ao piso, exigindo- lhe repetir a faanha, sem xito, indefinidamente. bem o testemunho de advertncia queles que esto sempre transferindo deveres e realidades, acreditando na prpria astcia. Supem-se, todos quantos assim agem, que so muito espertos, enquanto os demais so estpidos ou ingnuos. "Em realidade, astcia no expressa inteligncia, mas sim, instinto de preservao da vida e dos jogos de interesses pessoais. Todo indivduo enfrenta desafios para crescer. A prpria existncia terrestre um permanente convite ao esforo. A melhor soluo para enfrentar problemas tentar resolv-los nas suas fontes, evitando-se as atitudes que os postergam, trazendo- os de volta mais complicados. O que no feito hoje, amanh estar, por certo, mais difcil de ser conseguido. Quando se resolve mal um problema, ele d surgimento a outro, que lhe resultado, ou retorna mais desafiador. Por isso, somente as atitudes corretas, baseadas na honradez e na lealdade, conseguem resolver em definitivo as dificuldades e as ocorrncias desagradveis do percurso. O indivduo imaturo sempre adia solues, na iluso de que amanh as possibilidades sero melhores do que as de hoje, fugindo ao enfrentamento com a conscincia e o dever. Suas vitrias so conseguidas atravs dos mecanismos da deslealdade, 34
da conduta incorreta, que lhes permitem sorrir da forma como ludibriam os demais. Em verdade, porm, enganam-se a si mesmos, porque o compromisso retorna-lhes sempre para a necessria regularizao. O amadurecimento psicolgico prope que cada atividade tenha lugar no seu momento prprio, e cada desafio seja atendido no instante correto, quando se apresente. A autocompaixo diante dos problemas e a astcia para fugir deles so mecanismos infantis que em nada os resolvem. Problema solucionado significa patamar vencido e novo desafio de crescimento adiante, porque assim a constante da vida humana em seu sentido de evoluo.
Necessidade da mentira
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Os remanescentes da fase de mendacidade permanecem no adulto imaturo, levando-o ao prosseguimento da distoro da realidade, de modo que lhe agrade aos sentidos, gerando, inconsequente, situaes vexatrias que o fazem sofrer e aos demais, aps o que, liberado do que poderiam ser resultados infelizes, mesmo prometendo-se que no voltar a reincidir no vcio, no condicionamento da mentira, repete a experincia desagradvel. A insegurana infantil est presente nesse indivduo que se recusa ao crescimento, acreditando chamar a ateno utilizando- se desse instrumento de perturbao. A mentira dever ser rechaada sob qualquer forma em que se apresente, em face dos prejuzos morais que provoca, levando maledicncia, calnia e a todo um squito de terrveis distonias psicolgicas e ticas no comportamento social. O mentiroso algum enfermo, sem dvida, no entanto provoca desprezo, em razo da forma de proceder, tornando sua palavra desacreditada mesmo quando se expressa corretamente, o que nem sempre acontece. De tal forma se lhe faz natural alterar o contedo ou a apresentao dos fatos, que os revela de forma irreal, esperando manipular pessoas atravs desse ignbil ardil. As razes da mentira esto no lar malformado, instvel, onde a insegurana era substituda pela compra dos valores que a fantasia disfara. Alm desse fator, os conflitos da personalidade induzem ao comportamento da fantasia, em fuga neurtica da realidade, que constitui ao paciente um verdadeiro fardo, que no gosta de enfrentar. As coisas e os acontecimentos para ele devem ser coloridos e sempre bons. Assim, quando no ocorre, o que normal, apresentasse-lhe assustador, parecendo ameaar-lhe a paz e levando-o ao mecanismo da falsificao do acontecimento. Tornou-se to habitual o fenmeno da distoro dos fatos, que se criou a imagem da chamada mentira branca, isto , aquela de carter suave, que no prejudica, pelo menos intencionalmente, e evita situaes que se poderiam tornar desagradveis, caso fosse dita a verdade.
A face da verdade transparente e nunca deve ser ocultada. Na histria da humanidade, as grandes lies sempre foram apresentadas de forma potica, simulada, velada, a fim de sobreviverem aos tempos e terem o seu significado interpretado 36
conforme os parmetros de cada poca, em todos os sculos, como o Vedanta, a Bblia, o Zend Avesta, o Coro, para nos referirmos a apenas alguns dos grandes Livros espirituais, passando pela literatura de Homero, de Virglio, de Ovdio, de Horcio, de Dante. So assim os contos, as suras, as parbolas, as estrias, os koans... Apesar da forma, a verdade ressalta no contedo dessas narrativas, levemente escondida, de modo a preencher o entendimento daqueles que as ouviram dos seus autores, bem como tornar-se fcil narr-las posterioridade, que delas todas se vem beneficiando no transcurso dos milnios. H, quase sempre, nos indivduos, uma reao psicolgica contra a verdade. Deseja-se sempre ouvi-la, porm, como se assevera popularmente, dourando-se a plula, isto , escamoteando-a. Certamente, no se deve zurzi-la como um ltego, que uma forma neurtica de agir, de impor-se com a sua verdade, ferindo e, dessa maneira, sentindo-se triunfante, em mecanismo perturbador de falsa superioridade moral. Todo aquele que assim procede portador de grave complexo de inferioridade inconsciente, que se exibe como autoridade e fiscal da fragilidade humana. A verdade deve ser ministrada com naturalidade, suavemente, sem alarde, sem imposio, mas tambm sem ser falseada, sem perder a fora do seu contedo. O mentiroso desculpa-se, incidindo no erro e acusando as demais pessoas, que parecem no o entender, fugindo responsabilidade das suas informaes alteradas. Uma disciplina e vigilncia rgida na arte de falar, procurando repetir o que ouviu como escutou, o que viu conforme ocorreu, evitando traduzir o que pensa em torno do assunto, que no corresponde legitimidade do fato, so de vital importncia para o encontro com a realidade. A terapia da boa leitura, dos hbitos saudveis no campo moral, sem pieguismo nem autocompaixo, produz resultado relevante e reajusta o indivduo harmonia entre o que pensa, v, ouve e fala. No h, portanto, necessidade de mentir, e quando isso ocorre, defronta-se um distrbio de comportamento que precisa ser corrigido. 37
A filosofia budista, entre outros ensinamentos nobres, mostra as sete linhas da conduta saudvel, estabelecendo os itens ideais do bem proceder, dos quais destacamos apenas: pensar corretamente, falar corretamente, agir corretamente... No pensamento, portanto, tem lugar o planejamento de tudo. Dessa forma se deve pensar com correo, falar com correo, de modo a se poder agir com correo. Por isso, a vida familiar deve ser um lugar de segurana emocional, de realizao total e no o reduto onde se vo descarregar o meu humor e as tenses do cotidiano. Uma criana de sete anos indagou sua genitora, profissional de televiso, por que ela sempre se apresentava sorrindo na tela do aparelho, enquanto que em casa estava sempre aborrecida e enfezada. Surpreendida com a indagao, a senhora respondeu que, na televiso, ela ganhava para sorrir. Diante da resposta, a filha, que a amava, indagou--lhe, esperanosa: - E quanto a senhora quer ganhar para sorrir tambm em casa? Os filhos so mais do que reprodues do corpo. Trata-se de Espritos atentos, necessitados uns, preparados outros, para seguirem adiante e construrem o mundo do futuro. Todo o cuidado que lhes seja dispensado sempre de resultado feliz.
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Afetividade conflitiva
Entre as condutas perturbadoras, convm seja destacada a afetividade conflitiva como de relevncia, apresentada pela criatura humana que, desajustada emocionalmente, expressa todos os seus tipos de realizaes mediante estados de desequilbrio, gerando novas ansiedades, insatisfaes e desajustes. A carncia afetiva e a insegurana normalmente produzem comportamentos antinaturais, instveis, que chamam a ateno de forma desagradvel. Confundindo afetividade com paixo, o paciente transfere o seu potencial de irrealizaes para o ser elegido e prope-se a dominar-lhe a existncia, utilizando-se de ardis variados, atravs dos quais, sentindo-se sem valor para receber amor, tenta conquistar piedade, simpatia, fazer-se necessrio, isolando o afeto de outros relacionamentos e atividades, de forma a estar sempre presente e tornar-se um misto de servo e amante ao alcance da mo. As suas manifestaes de afetividade so egosticas, insaciveis, derrapando no cime doentio, que assevera ser demonstrao de amor, destruindo a espontaneidade das atitudes na convivncia. Mesmo que amado, desconfia dessa possibilidade, afirmando ser do outro um sentimento de compaixo e no um amor cheio de arrebatamento e de profundidade. Sempre almeja dedicao exclusiva at o asfixiar da pessoa escolhida, que perde a personalidade sob o jugo implacvel desse algoz afetivo. No obstante consiga conquistar algum, no capaz de mant-lo, porque sempre aspira a mais, a ponto de tornar insuportvel o convvio, fugindo para a autodestruio psicolgica. Suas maneiras so artificiais, sua preocupao nica cercar o ser querido com demonstraes cansativas do que diz ser o amor que devota, no compreendendo que o outro tem inquietaes prprias e anseios diferentes dos seus, e nem sempre est disposto a suportar a asfixia que lhe imposta.
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A criatura nasceu para ser livre, e, por isso mesmo, o amor sentimento que liberta, proporcionando paz e alegria. Quando manifestado por exigncias descabidas, deperece e morre. O amor tem infinita capacidade de compreender e de tolerar, de ser franco e honesto, nunca diminuindo, quando em dificuldades, por dispor de recursos nobres para eliminar os impedimentos e incompreenses. Um relacionamento saudvel feito de dilogos e coerncia de comportamentos, de lealdade na forma de ser e autenticidade na maneira de viver, de tal forma que a presena do outro no inibe, antes agrada, preenchendo os espaos sem as imposies habituais de tom-los. A pessoa nem sequer se d conta de como o outro ser -lhe importante, at o momento em que lhe sente a ausncia, experimentando a profundidade afetiva e o significado daquele a quem ama. Quando a afetividade se apresenta atravs de uma pessoa insegura, torna-se tormentosa, cansativa, e aquele que parece amado sente-se bem quando longe do seu controlador emocional. Por sua vez, o atormentado olha todos quanto estimam o seu elegido como adversrios ou competidores, invejosos ou dificultadores da sua plenificao e felicidade. As razes dessa conduta esto na infncia solitria, maltratada, que foi vivida conflituosamente e transferiu para o futuro as aspiraes de dominao para ter, em vez da afirmao pessoal para ser. Na fase infantil, sentindo-se desamada, a criana chamava a ateno pelo choro, pela insubordinao, pelo fingimento, que transferiu para a idade adulta, dissimulando o que pensa e o que faz, em razo dos recursos mentais de que dispe. A libido funciona, nesses casos, sob estmulos equivocados, quando o indivduo passa de um estado de posse ao de perda, agigantando-se e desejando o outro, submetendo--se a situaes humilhantes, desagradveis, sem importar--se, desde que atenda o ego em angustiosa desesperao. Quase nunca relaxa quem assim se comporta, vivendo de suspeitas e procurando provas do que pensa, por isso exigindo sempre mais abnegao, pacincia e demonstraes de amor que espera receber, sem satisfazer-se. Essa afetividade patolgica requer terapia cuidadosa, a fim de o paciente adquirir a tranquilidade perdida e a autossegurana, necessrias para poder amar sem conflitos. 40
Quanto mais a pessoa tentar ignorar que esse um comportamento irregular, tanto mais difcil se lhe torna a convivncia com as demais criaturas, particularmente quando manifesta a tendncia para ser vtima, transferindo a culpa do que lhe ocorre para as demais pessoas. A coragem para assumir responsabilidades e reconhecer a urgncia, em favor de uma terapia conveniente para o seu conflito, j um passo significativo para o seu processo de cura.
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Apoios ineficazes
Procurando fugir da realidade, o paciente portador de insegurana e que vive experincias perturbadoras, no poucas vezes recorre a mecanismos de apoio, a fim de evitar o enfrentamento com a prpria conscincia, sendo, por isso mesmo, vtima de transtornos comportamentais que vitaliza sistematicamente, por escassear-lhe o discernimento para o que correto, razo pela qual a sua uma conduta patolgica. . A postura de vtima constante uma das suas caractersticas, refugiando-se nesse esconderijo em busca de compaixo e de justificao para todos os seus desequilbrios. Torna-se enfadonha, cansativa para os demais, a sua forma de apresentar- se sempre incompreendido, sem o menor esforo para compreender, tomando postura de responsabilidade dos atos. Noutras vezes, passa de vtima a acusador inconsequente, vendo o que lhe apraz e nunca identificando o que realmente acontece, complicando mais a situao em que se encontra. Tem grande preocupao em conseguir aderentes desinformados para a sua rea, usando recursos infantis ou perversos como a calnia, a infmia, a maledicncia, desde que resultem nus favorveis para os objetivos que persegue. A dissimulao atitude habitual, variando de um para outro estado, de forma que se apresente com aparncia jovial ou inocente, infeliz ou amargurada, a depender da circunstncia e do objetivo que tem em vista. Esse paciente recorre a esses apoios, que so ineficazes, por causa da sua personalidade infantil, sem desenvolvimento emocional, ingenuamente acreditando que, na falta de coragem para viver integralmente conforme as ocorrncias, a sua existncia deve transcorrer em plano de fantasia e irrealidade. O ser psicolgico maduro enfrenta desafios e vence-os com naturalidade, sem pressa, confiando no prprio crescimento e nos recursos de que possa usufruir na convivncia social. Quando se fragiliza, para, reflexiona e recomea, procurando fortalecer-se na prpria luta, evitando fugir, porquanto esse recurso no leva a nada.
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J o indivduo imaturo no se enfrenta, nem a ningum enfrenta, utilizando-se de mecanismos especiais para evitar definies, assumir compromissos e cumpri-los. Outras vezes, tem facilidade para comprometer-se, como forma de postergar decises e solues, transferindo, porm, sempre, a realizao. Sero necessrios muitos esforos do paciente para libertar-se dessa tendncia de recorrer a apoios ineficazes, porquanto perigosos, resolvendo-se pelas atitudes definitivas, mesmo que a preo de esforo e luta. Em qualquer situao, ser-lhe- sempre exigido o trabalho. Que o seja, portanto, quando para o xito e no para transferncia; para o momento, em vez do futuro; para a verdade e a libertao, em detrimento da fantasia e da iluso que se dissipam, deixando-o no ar, em maior insegurana emocional e real.
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4 Energias da vida
Hbitos mentais. Frustraes e dependncias. Sensaes e emoes. Vida interior.
Hbitos mentais
vida biolgica, em si mesma, resultado de automatismos, funcionando com harmonia desde que os equipamentos orgnicos se encontrem em ordem. Obedecendo ao ritmo cardaco e s reaes cerebrais, todos os fenmenos apresentam-se repetitivos, previsveis, dentro dos atavismos ancestrais. Sujeita aos fatores mesolgicos, alimentares nutrientes, no primeiro perodo da existncia fsica transcorre sem alteraes, marchando inexoravelmente para a fatalidade do seu desenvolvimento. A vida mental se inicia por vislumbres e percepes medida que o Esprito se assenhoreia dos equipamentos do crebro, que lhe decodificam as ondas do pensamento. Dos impulsos iniciais, instintivos, at compreenso csmica e toda uma larga experincia, abre as comportas da comunicao, para tornar-se lgico, antes de alcanar a etapa superior, que a identificao com a Conscincia Divina. O ser humano, vitorioso nas etapas anteriores pelas quais passou, ao atingir o momento da razo, traz, nsitos nos refolhos das fixaes da aprendizagem intelectual, os hbitos mentais. So eles que passam a dirigir a sua conduta, porque toda a programao existencial comea no pensamento. de alta relevncia considerar essa questo, porquanto no pensamento esto as ordens do que se deve realizar e como proceder sua execuo. Deixando-se conduzir pelas manifestaes primitivas, habituais, repetem-se, sem resultados positivos, os labores que mantm o ser no estgio em que se encontra, sem o valor moral para alcanar novos patamares do processo da evoluo. 44
Desde que no pensamento est a diretriz da conduta, pensar corretamente deve constituir o grande desafio de quem almeja o triunfo. Em decorrncia das vivncias anteriores, ficaram mais profundamente marcados os pensamentos de dor, de angstia, de pessimismo, em razo da sua fora desequilibradora. So essas evocaes inconscientes que primeiro assaltam a casa mental do indivduo no seu cotidiano. Vinculado aos mecanismos repetitivos da conduta sofredora, ele mantm as tendncias para o masoquismo, cultivando, sem dar-se conta, os hbitos mentais geradores de conflitos e de padecimentos. Constri a ideia, e sofre-a, de que tudo sempre lhe h de sair mal, no se esforando para que as suas tentativas de mudana se coroem de resultados positivos. Preserva conceitos destrutivos a respeito das pessoas, coisas e acontecimentos, alimentando a fonte das irradiaes mentais de cargas pesadas quo degenerativas, que lhe impossibilitam o direcionamento correto, franco e saudvel, que recarrega de energias realizadoras os centros da vontade ento viciada.
Tornando-se vtima espontnea desse pessimismo, que sustenta no campo das idias, estabelece padres negativos a respeito de situaes e pessoas, no alterando a forma de pensar nem de agir, assim vivendo sob o estigma do mau humor, das insinuaes malss, da falta de sorte, em que se refugia a fim de evitar a luta necessria para o xito. Os seus clichs mentais sobrepem-se a todas as vises de limpidez psquica a respeito da vida e das demais criaturas, tornando--se a sua existncia um caos psicolgico, por falta exclusiva do desejo de alterar a forma de pensar e de ser. Desde que todas as expresses do evoluir dependem do pensamento, porque dele provm, fcil pensar de forma varivel, substituindo aquele que seja incorreto por outro que parea favorvel. Como a pessoa poder dizer que no sabe discernir qual o ideal daqueloutro que pernicioso, basta que faa uma avaliao do que lhe constitui bengala para sustentar o j experimentado e perturbador, passando a novo tentame de construo diferente.
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A princpio, a acomodao levar o indivduo a repetir-se e a no acreditar no xito da experincia em formao. Cabe-lhe, nesse caso, insistir e perseverar, abrindo novo espao no campo mental viciado, plantando as sementes novas do otimismo e da esperana, a fim de sair do estado doentio. Logo depois, imprescindvel comear a valorizar tudo quanto se encontra sua volta, estabelecendo novos padres de compreenso, assim libertando-se das construes negativas-pessimistas. O novo hbito se ir implantando lentamente no subconsciente at tornar-se parte integrante do comportamento. Pensar bem ou mal uma questo de hbito. Toda vez que ocorrer um pensamento servil, doentio, perverso, malicioso, injusto, de imediato substitu-lo por um digno, saudvel, amoroso, confiante, justo, sustentando-o com a onda de irradiao do desejo de que assim seja realizado. O que se pensa, torna-se realidade, como natural. Eis por que, pensar e agir so termos da mesma equao existencial. Primeiro pensar, para depois atuar, a fim de que no venha a agir antes, arrependendo- se quando passe a reflexionar. As construes mentais superiores, que produzem os hbitos saudveis, renovam-se e crescem no ser, originadas do Esprito que as capta do Pensamento Divino, de onde procedem todas as foras da edificao e da realizao total.
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Frustraes e dependncias
O indivduo est sempre no momento presente, que o seu instante decisrio. O passado, por isso mesmo, no pode servir de parmetro, seno para aprender como no repetir os erros, pois que irrecupervel, no entanto, reparvel. Nada existe que possa ser recuperado na rea moral comprometida, no entanto, desde que haja interesse real, poder ser corrigido. Assim, negativo manter saudades do j ocorrido, sentir-se frustrado pelo que gostaria que houvesse sucedido mas no aconteceu, ou arrependido em profundidade pelo insucesso de que foi objeto. Tais sentimentos no podem modificar as consequncias desencadeadas no pretrito, no entanto, podem ser reformuladas as bases da ao que se repetir em forma nova, assim modificando os futuros resultados. Eis por que se deve perdoar a tudo e a todos, igualmente proporcionando--se perdo a si mesmo, recompondo-se emocionalmente e recomeando a tarefa onde ela se desencaminhou.
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O homem psicolgico saudvel no vive de recordaes, nem se atormenta com as aspiraes. Portador de um presente enriquecedor, os seus movimentos atuais esto sempre voltados para as aes que o promovem, confiando, naturalmente, no futuro de forma natural, racional, sem inquietao, despido de ansiedade, vivendo integralmente cada instante do seu hoje. Personalidades instveis sentem-se frustradas facilmente em razo da falta de idealismo perseverante para se realizarem. Ambicionam em demasia ou a nada aspiram, deixando-se arrastar por estados melanclicos que cultivam, sem o competente esforo para sarem da situao doentia. Inmeros fatores contribuem para as frustraes pessoais, entre outros, os conflitos da libido no realizada, geradora de medos injustificveis ou de melancolias carregadas de sombras; o convvio familiar insatisfatrio, no qual as imagens dos pais mal- humorados e reclamadores produzem ansiedades e desejos de fuga da realidade inquietante; dificuldades de autorrealizao, por decorrncia de falta de iniciativa ou por pequenos insucessos que poderiam ser transformados em xitos, se tivesse havido perseverana; inveja pelo triunfo das outras pessoas, muitas vezes logrado a grande esforo, que o paciente se recusa usar... Todo o squito de frustraes leva o indivduo dependncia emocional, criando tabus, buscando amuletos para a sorte madrasta, tentando o sobrenatural, procurando solues mgicas para o que poder tornar-se um desafio ao alcance da vitria, na luta encetada. Essa dependncia se transfere das crenas supersticiosas para as pessoas que as devem carregar psicolgica, fsica e economicamente, solucionando os seus problemas, resolvendo as suas dificuldades, que se renovam, por falta de deciso e reflexo para agir corretamente. Porque no encontram aqueles que estejam dispostos a suportar to pesada carga, mais aumentam as suas frustraes, que adquirem estgio mrbido, levando aos transtornos psicticos manaco-depressivos.
Quando a pessoa considerar que se encontra na Terra, no momento, no lugar e com as pessoas certas, aquelas que lhe so necessrias para o prprio desenvolvimento, despertar da dependncia infantil e da frustrao debilitadora, recuperando a 48
sade comportamental atravs da renovao mental e das motivaes atraentes para tornar a sua existncia mais do que suportvel, perfeitamente feliz. O indivduo deve aspirar ao mximo, que, mesmo no logrado, significa-lhe viso otimista do porvir, que o aguarda, permitindo- se ento o que seja possvel conseguir, sem produzir mecanismo frustrante ou dependncia daqueles que o lograram. Como o pensamento a fonte geradora das aspiraes, anelar pelo melhor, trabalhar por adquiri-lo, representa elevao e engrandecimento moral. No se perturbar, todavia, quando isso no ocorra, demonstrao de maturidade e de equilbrio que todos devem manter.
Sensaes e emoes
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A criatura humana um feixe de sensaes, resultado natural dos perodos primrios da evoluo, em trnsito para a realidade das emoes. As largas experincias vividas nas faixas primitivas do passado deixaram impresses profundas que se tornaram prevalecente exigncia no comportamento pessoal social e principalmente psicolgico. Impulsos e reaes fazem parte desse processo que estabelece os paradigmas da conduta, quando fora do crivo da razo. Nesse estgio da vida, nutre-se emocionalmente das sensaes objetivas, dos contatos com o mundo e suas manifestaes, comprazendo-se no jogo desmedido do querer ter, longe da aspirao de ser. Adormecida para as percepes mais sutis da existncia, acumula coisas e compraz-se com elas at saturao, quando se transfere para possuir pessoas, que no so fceis de se deixaram pertencer, produzindo choques emocionais, que desarticulam a planificao interior do ambicioso. Sentindo a frustrao do desejo no transformado em prazer, amargura-se e rebela-se, fugindo, no poucas vezes, para as libaes alcolicas, o tabagismo ou para as drogas aditivas. lento o curso de mudana da faixa grosseira do ime-diatismo para as sutilezas da emoo dignificada. Nesse trnsito, comum deparar-se com a fase da sensao-emotiva, quando h um descontrole no sistema nervoso e o excesso de emotividade domina-lhe as paisagens comportamentais. No acostumado s expresses da beleza, da sinceridade, do amor, facilmente se deixa comover, derrapando no desequilbrio perturbador, no entanto, passo inicial para o clima de harmonia que o aguarda. O homem-sensao exigente e possuidor, no se apercebendo do valor da liberdade dos outros, que pretende controlar, nem dos deveres para com a sociedade que se lhe no submete. Sentindo-se marginalizado, graas hostilidade que mantm em relao a todos quantos se lhe no subalternizam, volta-se contra os estatutos vigentes e as pessoas livres, brutalizando-se e agredindo, pelos meios ao alcance, os demais.
Ao despertar a emoo, torna-se natural a valorizao do prximo e da vida, o respeito pelos valores humanos e gerais, ao mesmo tempo que trabalha em favor do progresso, que preza, ampliando os horizontes de entendimento e de realizao interior. 50
A sensao herana do instinto dominador; a emoo tesouro a conquistar pelos caminhos da ascenso. Quando desperta a conscincia para a necessidade da emoo, a nica alternativa que resta a luta por alcan-la. Esse empenho torna-se fcil quando o combate se inicia, facultando o encontro com a sua realidade, energia pensante que e no somente grupo de clulas em departamentos especializados formando o corpo. No perodo da emoo, o indivduo no est isento das sensaes, que lhe permanecem oferecendo prazeres, alegrias e advertncias, s que sob controle, em equilbrio, orientadas e produtivas. Na fase da sensao, igualmente, o ser experimenta emoes algo desordenadas e, vez que outra, propiciadoras de bem-estar, o que lhe constitui estmulo para crescer e esforar-se por consegui-las. Nas diferentes psicopatologias h predominncia das sensaes e grande descontrole das emoes, o que traduz o transtorno da mente, refletindo-se no comportamento alienado. Podemos encontrar razes desse estado na estrutura do lar desajustado, de pais imediatistas, ambiciosos, incapazes de amar, que transmitiram aos filhos a ideia de que todo aquele que possui, vale; enquanto que os outros existem para servir aos primeiros. Essencialmente, porm, o Esprito, em si mesmo, em fase de desenvolvimento, que se revela no corpo, experimentando mais as expresses fortes em detrimento das manifestaes mais elevadas. O esforo bem-direcionado, o cultivo das ideias enobrecedoras e o trabalho edificante promovem de uma para outra faixa todo aquele que aspira libertao da fase primitiva em que ainda estagia.
Vida interior
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To necessrio quanto a alimentao para uma existncia saudvel, o cultivo da reflexo, da orao e da meditao torna-se de relevncia. A primeira atende s clulas fsicas e o outro quelas que so de ordem psquica, geradoras da organizao material. Sem a vibrao harmnica, procedente do psiquismo, o campo no qual se desenvolvem as de constituio condensada desequilibra-se e, por consequncia, a distonia na forma prejudica a realizao da modelagem no exterior. O oxignio mantm o corpo, a onda mental sustenta a vida. Indispensveis, ambos, para o ser em equilbrio, nem sempre so utilizados, esses recursos, com a sabedoria que conduz dosagem prpria. Alguns indivduos, compreendendo a necessidade de uma respirao bem-orientada, buscam esportes e espairecimento ao ar livre, descuidando-se da vida interior ou abandonando outros compromissos que constituem imperativo bsico para o seu real crescimento. Outros, tomados pelo entusiasmo e encantamento do bem- estar que fruem mediante o exerccio de interiorizao, descuidam-se dos relacionamentos humanos e isolam-se, criando fatores dissolventes na rea do comportamento, que levam ao egosmo, falta de solidariedade edificante no mundo social, A vida interior bem-direcionada ensina a criatura a aceitar-se como , sem desejar imitar modelos transitrios das glrias momentneas, que brilham sob os focos das lmpadas da iluso; mas tambm a no ambicionar parecer-se com outrem, cujas caractersticas so belas nele e no em quem a elas aspira. Ser autntico em si mesmo, autoamar-se, sem derrapar nas ambies acumuladoras inspiradas pelo egosmo, nem supor-se melhor do que os demais constitui uma vitria sobre os conflitos e os complexos que atormentam e facultam a desvalorizao da pessoa amargurada entre lutas internas e fracassos externos. Ao aceitar-se como , desenvolvendo os recursos ntimos para mais crescer e conquistar novos valores morais, o ser atinge o cume das ambies que anelava, sem o saber, no sofrendo os impactos perturbadores das alturas, nem as aflies das regies servis de onde procede.
Esse comportamento sugere a experincia do amor, como forma de entrega lcida e destituda das paixes que amesquinham o sentimento. Ao amar, busca esquecer-se de si 52
mesmo a fim de doar-se, enriquecendo-se enquanto promove os demais. Esse desdobrar do sentimento afetivo constitui o momento glorioso da autorrealizao, aquele no qual o ser entoa um canto de entusiasmo vida, exaltando--a e glorificando-a em si mesmo e em torno dos prprios passos. Essa manifestao do amor irrompe do seu interior como um sol que nasce suave e belo, crescendo at atingir o mximo, com uma diferena, que a de no declinar jamais, permanecendo a aquecer e iluminar. Enquanto perdura o sentimento de amor-permuta, dar para receber, ou primeiro receber para doar depois, o egosmo, o sentido de criana psicolgica permanece dominador, dificultando o amadurecimento real. Esse amor que leva ao auto esquecimento - das paixes perturbadoras, das exigncias descabidas, das iluses injustificveis - conquista interior que dignifica e liberta. Nessa fase do desenvolvimento da vida interior, o ser passa a acreditar na sua destinao espiritual, que a conquista da felicidade desde agora, e, tranquilizando-se quanto aos fatores dissolventes e amesquinhantes, avana sem preocupar-se com as torpezas que ficam na retaguarda. Somente acreditando nas prprias possibilidades e empenhando-se por viv-las, apesar dos obstculos que surgem, que se atinge com xito a viagem interior, o autodescobrimento e as tcnicas que podem ser aplicadas para auferir os benefcios dessa realizao. Alcanado esse estgio, surge a vontade da libertao das coisas, das cadeias frgeis que atam aos condicionamentos passados, que pareciam oferecer segurana, em uma existncia fsica que se interrompe a qualquer momento, mas que parece impor necessidades de fixao, que no vo alm de quimeras. Todos os pertences valem o preo que lhes so atribudos, devendo ser considerados de menor importncia, embora a sua momentnea utilidade. A libertao dos pertences momento de alta magnitude para a harmonizao psicolgica em relao vida, seja no corpo ou fora dele. vida interior implcita, quando conquistada, ressurge no campo das formas em manifestao explcita. O ser se apresenta total, livre de impedimentos, rico de aspiraes, sem conflitos, sem queixas; pleno, portanto. 53
5 Significado do ser integral Bases para a autorrealizao - Conquistas que plenificam - Lies de vida.
Bases para a autorrealizao
Jesus, o mais notvel psicoterapeuta que a humanidade conheceu, afirmou: Vs sois deuses e podeis fazer tudo quanto fao e muito mais, se quiserdes. Trata-se de uma proposta- desafio para seres amadurecidos psicologicamente, capazes de ambicionar o alm do habitual, e que esto dispostos a consegui- lo. Para lograr o xito nesse tentame, necessrio possuir autoconfiana e f, essa certeza coerente que existe entre o desejar e o poder realizar, saindo do mesmismo perturbador das ambies exclusivamente de natureza material, imediata. Identificar-se com um deus ampliar os valores que dormem no ntimo e so desconsiderados. Uma fasca sabedora do seu poder de combusto, que encontre substncias fceis de arder, consegue produzir um incndio. Quando algum se identifica possuidor desse recurso, pode atear o incndio que devora os vcios e abre espaos virgens para a instalao dos elevados potenciais do desenvolvimento pessoal. Quem toma conhecimento dos recursos prprios, dispe de medida para avaliar as possibilidades de triunfo e empenha-se para alcan-lo, enquanto aquele que os desconhece detm-se no pretexto da prpria fragilidade, porque, no ntimo, assim o prefere.
O ser existencial tem o seu significado relevante, que necessita ser detectado e utilizado com segurana. Os seus alicerces 54
repousam nas camadas profundas do inconsciente - as experincias do passado - e nas possibilidades imensas do seu superconsciente - as conquistas que lhe cumpre lograr - debatendo-se nas reminiscncias do ontem e nas ambies do futuro. O ser existencial oscila entre esses dois plos, que contribuem para a realizao feliz ou desventurada no presente, a depender, naturalmente, das opes elegidas e do empenho aplicado na sua execuo. Inicialmente lcito fazer-se uma avaliao do que so tesouros: os de ordem externa e os interiores. Quais deles tm primazia para serem conquistados, e como fazer, a fim de os conseguir. O ser fisiolgico preferir os de significado e aplicao imediata, enquanto o ser psicolgico analisar aqueles que tm primazia e dar-se- conta da necessidade desses que so externos como utilitrios e aqueles que esto internos, os permanentes. Sem abandonar os primeiros, dedicar-se- conquista dos mais valiosos, que so os permanentes. Nesse af se identificar com realidades que o fascinaro. Descobrir que, em mdia, o ser humano experimenta sessenta mil pensamentos por dia, o que demonstra a grandeza, a majestade da sua organizao mental, descobrindo quanto nobre aprender a utilizar desse tesouro abundante, que muitas vezes se perde em crculo de viciaes mentais, malbaratando tempo e oportunidade em lamentaes, queixas, pessimismo, desgaste das potncias de que constitudo. Reconhecer a necessidade de ser pessoa e no mquina, evitando o repetir-se monotonamente, sem direcionamento para frente nem para o melhor. Aplicar cada pensamento mais poderoso, de sentido profundo, de valor utilizvel na construo do seu mais adequado comportamento para a paz. Eliminar aqueles que so perturbadores e podem ser substitudos amide, fomentando um clima psquico de sade com respostas orgnicas de bem-estar. Com essa atitude mental vencer o medo de adoecer, de envelhecer, de ficar pobre, de enfrentar dificuldades, de morrer, pois compreender serem todos esses fatores perfeitamente controlveis, desde que assuma a sua condio de deus e passe a fazer tudo quanto possvel atravs do empenho pessoal. A doena sempre acidente de percurso, jamais sendo uma realidade, antes um estado transitrio, que pode ser 55
ultrapassado, mesmo quando se apresente com caractersticas expiatrias. J que o ser eterno, as manifestaes orgnicas e mentais desta ou daquela natureza fazem parte da transitoriedade do mundo da forma. No se justifica, dessa maneira, o medo de doenas. O envelhecimento no deve inspirar qualquer tipo de receio, porquanto a beleza de cada fase da existncia corporal encontra- se na atitude interior de quem observa o mundo externo. As experincias nascem das vivncias e para poder fru-las exigido o patrimnio do tempo, no que ocorrem o envelhecimento do corpo e o amadurecimento do Esprito. A verdadeira pobreza interior, quando se perdem as aspiraes de crescimento e realizao ntima. A financeira sempre contornvel, desde que o indivduo se empenhe por super-la, e o trabalho assim fonte geradora de recursos externos, enquanto internamente aprimora o sentido de vida. Os verdadeiramente pobres perderam a razo de viver e entregam-se, funestamente, aos prazeres perturbadores, aos gozos desgastantes, aos jogos da iluso cansativa... ... E a morte, a grande devoradora da vida, desmitifica-se e j no inspira qualquer receio, porque ela faz parte do processo existencial, como forma de desenvolvimento do ser profundo, que experimenta, etapa a etapa, novos mecanismos de elevao. O processo de envelhecimento, por ser portador de muita beleza, lento, biologicamente bem-elaborado, proporcionando o tesouro da sabedoria, em forma de discernimento lcido, propiciador de harmonia ntima e de auto entrega, aps o ciclo da existncia fsica. O ato de aprender a amar tudo quanto se faz, a realizar bem tudo quanto se gosta, a repartir com todos as alegrias e esperanas da vida em triunfo, d significado pleno ao ser existencial, que agora pode fazer tudo quanto Jesus realizou, identificando-se com Deus.
Enquanto isso, o ser fisiolgico est desfrutando das regalias das sensaes, emaranhando-se no cipoal das paixes, at ser despertado pelos choques do processo evolutivo, que podem ser 56
as dores, as preocupaes profundas, as amargas decepes, ou os maravilhosos apelos do amor pela beleza, pela necessidade de harmonia e de paz. E indispensvel estar acordado, desperto para a realidade do ser, consciente das suas responsabilidades e objetivos reais nos desafios existenciais, encontrando todos os significados e desenvolvendo-se.
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Conquistas que Plenificam
Quando a infncia se fez caracterizar por problemas e desafios no solucionados, as dificuldades se transferem no inconsciente do indivduo para todos os diferentes perodos da vida. Tornasse- lhe difcil o amadurecimento psicolgico, procurando permanente refgio no perodo infantil, que prossegue desafiador. A necessidade de autopunio faz-se, s vezes, extremada, como mecanismo de justificao das pequenas travessuras, das irresponsabilidades, das mentiras ou outros quaisquer mecanismos de evaso daquela realidade, por meios nem sempre ideais. Em casos que tais, surgem os criminosos, que havendo sido crianas maltratadas, sentem necessidade de punir a sociedade pelo que lhes ocorreu, tornando-se, dessa forma, bandidos. necessrio, inicialmente, redescobrir a criana que permanece no imo e avaliar o seu estado de crescimento, suas necessidades, seus anseios. Se permanecerem os jogos e despreocupaes, a transferncia de responsabilidade para os outros e a culpa sempre dos outros, impe-se a psicote-rapia como urgncia, a fim de auxiliar no crescimento e na libertao dos traumas daquela fase. No desejo estabelecer que a criana seja retirada do cenrio existencial, porm que ocupe o seu verdadeiro lugar no alicerce do inconsciente, a fim de que no perturbe a pessoa da atualidade. E mesmo vlida a presena da criana que existe em todos os indivduos, tornando a existncia apetecvel e sonhadora, dentro dos limites da normalidade que deve prevalecer a quaisquer condicionamentos de tempo e de lugar. Um bom relacionamento social fator de relevncia para a plenificao do indivduo, porque, sendo animal gregrio, o seu convvio com os demais seres fator de desenvolvimento das suas aptides, propiciando-se os atritos e choques que fazem parte da existncia, sem derrapar nas animosidades, pelo contrrio, desenvolvendo a tolerncia, superando a prepotncia de submeter todos os demais ao talante da sua pessoa.
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Aquele que vive sozinho, foge da realidade de si mesmo, que v projetada nos outros. Tem medo do convvio com os demais, porque no sabe transitar seno nos seus domnios, onde impe a sua vontade e realiza os seus desejos, sem o sentimento de reparti-los, ou, por sua vez, de compartir as experincias alheias. A conquista da humildade faz parte do programa de crescimento interior, evitando o exibicionismo que se torna perturbador, particularmente por alterar a viso da realidade e de si mesmo, agredindo os outros com a aparncia, por no ter segurana dos prprios valores, que seriam capazes de oferecer harmonia no conjunto humano onde se encontra. Essa humildade comea na conscientizao de si mesmo, observando que faz parte do Universo, cuja grandeza demonstra- lhe a pequenez em que ainda se acha e quanto dever crescer para entender a majestade e a harmonia do mundo no qual vive. No se ensoberbece com o que sabe, nem se entristece pelo muito que ignora. E simplesmente humilde diante da vida e reconhece a necessidade de crescer mais e tornar-se melhor. comum a luta desenfreada para possuir sempre, asfixiando as demais aspiraes, que cedem lugar predominncia do instinto de posse desequilibrada. Quando se atinge o estgio de maturidade psicolgica, o importante no ter mais, porm ser mais, isto , sempre melhor em valores internos, em conquistas morais e intelectuais, sem jactncia, porm com a conscincia da vitria sobre si mesmo e sobre os desafios da existncia, aumentando a capacidade de resistncia cada dia. A felicidade real independe daquilo que se tem, mas resultado daquilo que se . Muito oportuno o fato de uma clebre personagem de propaganda na Televiso, cuja bela aparncia fora aproveitada para sorrir e, por isso, sua imagem sempre fascinava os estranhos, que a desejavam imitar. Todos olvidavam que era sua profisso sorrir, e para isso lhe pagavam, embora o seu humor habitual no correspondesse a essa realidade. Deve-se sorrir por profisso, no entanto a alegria de viver leva a sorrir por prazer e por beleza, gerando uma autoterapia valiosa, porquanto aquele que est de bem com ele mesmo, encontra-se bem com o mundo.
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Numa das suas habituais viagens a Londres, o clebre Mahatma Gandhi deteve-se, oportunamente, no Aeroporto, a observar os objetos expostos, ricos e agradveis aos olhos. Demorava-se a examin-los e sorria de prazer. Preocupado com aquela atitude inabitual no homem que renunciara a todas as coisas do mundo, um membro da comitiva inglesa acercou-se- lhe, esclarecendo: Se o Mahatma tem interesse por algum desses objetos, teremos o prazer de, em nome de Sua Majestade, oferecer-lhe, o que nos constituir uma honra. O nobre missionrio, que se havia encontrado consigo mesmo, sem desdm nem menosprezo respondeu, sorrindo: Estou feliz em olh-los, e verificar quanta coisa eu j no necessito. A verdadeira sade, em sua expresso profunda, manifesta-se como libertao interior, sem o masoquismo das fugas do mundo e das afirmaes dos prprios valores atravs do desprezo e do flagcio ao corpo, qual se fora ele responsvel pelas debilidades do carter, imperfeies da conduta, frustraes psicolgicas decorrentes da viso alterada do mundo e sua realidade. Quando esse estado saudvel se estabelece no ser, ele experimenta harmonia em qualquer situao na qual se en- contre. Na multido, experimenta o prazer do convvio com os outros, de ser til, de receber e de dar ateno s manifestaes da vida. Quando a ss, preenche todos os seus espaos com atividades e pensamentos enriquecedores, no se sentindo solitrio, embora esteja desacompanhado. Sua mente sempre sua companheira a exigir ou a compensar o que experimenta como emoes de viver. E bvio que todo aquele que se faz possuidor de conflitos de qualquer natureza ter dificuldade de sentir-se compensado, pois que a sua estrutura ntima, deficitria, estar sempre refletindo as lutas em que se sente envolvido, portanto em contnuas ansiedade e insatisfao.
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Lies de vida
A beleza da vida est nas experincias que propem o desenvolvimento do ser integral. Nascido para o triunfo, as dificuldades que encontra fazem parte do mtodo para alcanar as metas para as quais ruma inevitavelmente. Cada etapa vencida apresenta-se, depois, como uma vitria alcanada, sendo lio de inaprecivel significado que se incorpora ao patrimnio de que se enriquece. Todos os seres pensantes experimentam oportunidades psicolgicas de magnitude, como desafios de iluminao e de sabedoria, que nem todos, porm, sabem utilizar como devido. A sabedoria brota de um para outro momento, mesmo nas mentes mais perversas e nos sentimentos mais frios, abrindo novos espaos para a libertao do egosmo e a aquisio do sentido de fraternidade. H momentos psicolgicos muito prprios para a absoro das lies que a vida oferece a cada viandante da evoluo. Nem todos conseguem identificar essa hora mgica, de maneira a lucrar com o aprendizado de que se faz portadora. Luiz XIV, que se celebrizou como o Rei Sol, em Frana, recebeu uma denncia de que se tramava contra o trono. O delator foi encarregado de trazer-lhe uma lista dos suspeitos, que deveriam ser condenados morte, por crime contra Sua Majestade. Apresentada a lista, estavam assinalados por uma cruz aqueles que conspiravam contra o monarca. Vendo a relao, o rei, tomado de espanto, teria declarado: - No os posso condenar, porquanto esto marcados pelo instrumento com que mataram o Inocente. E a todos perdoou.
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No obstante a conscincia de sono do governante, que se mostrava indiferente quanto ao futuro do trono e do povo, pois que tinha por hbito declarar que, aps ele, viesse o dilvio, assim se entregando a toda ordem de prazeres e abusos, naquele instante foi tocado no recesso do ser pelo smbolo da ignomnia com que tentaram silenciar a Grande Voz, evitando tornar-se algoz impenitente de uma condenao arbitrria, que seria apresentada sem qualquer julgamento, decorrente de uma suspeita, na qual, por certo, encontravam-se em jogo vis interesses do intermedirio da denncia. Certamente, o medo de ser injusto e de passar Histria, a grande julgadora dos acontecimentos de todos os tempos, bem como dos seus promotores, como ignbil, fez que mudasse o plano funesto e pensasse no Inocente. uma lio da vida para outras vidas, que ficou anotada nas pginas daquela vida atribulada e passou para o futuro, norteando outros destinos. Oxal se lhe abrisse a mente para outras atitudes de dignificao humana, longe dos interesses pessoais e transitrios que se consumiram quando da consumpo do seu corpo. Como ningum foge de si mesmo, porquanto sempre estar onde se encontrem suas aspiraes e necessidades, malgrado as fugas psicolgicas e desmandos mentais, a conscincia se firma e se agiganta, traando as rotas de segurana com as realizaes propostas pelo conhecimento e vividas pelo sentimento. Por outro lado, narra antigo koan que um prncipe chins orgulhava-se de sua coleo de porcelana, de rara quo antiga procedncia, constituda por doze pratos assinalados por grande beleza artstica e decorativa.
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Certo dia, o seu zelador, em momento infeliz, deixou que se quebrasse uma das peas. Tomando conhecimento do desastre e possudo pela fria, o prncipe condenou morte o dedicado servidor, que fora vtima de uma circunstncia fortuita. A notcia tomou conta do Imprio, e, s vsperas da execuo do desafortunado servidor, apresentou-se um sbio bastante idoso, que se comprometeu devolver a ordem coleo. Emocionado, o prncipe reuniu sua corte e aceitou a oferenda do venerando ancio. Este solicitou que fossem colocados todos os pratos restantes sobre uma toalha de alvinitente linho, bordada cuidadosamente, e os pedaos da preciosa porcelana fossem espalhados em volta do mvel. Atendido na sua solicitao, o sbio acercou-se da mesa e, num gesto inesperado, puxou a toalha com as porcelanas preciosas, atirando-as bruscamente sobre o piso de mrmore e arrebentando-as todas. Ante o estupor que tomou conta do soberano e de sua corte, muito sereno, ele disse: - A esto, senhor, todos iguais conforme prometi. Agora podeis mandar matar-me. Desde que essas porcelanas valem mais do que as vidas, e considerando-se que sou idoso e j vivi alm do que deveria, sacrifico-me em benefcio dos que iro morrer no futuro, quando cada uma dessas peas for quebrada. Assim, com a minha existncia, pretendo salvar doze vidas, j que elas, diante desses objetos, nada valem. Passado o choque, o prncipe, comovido, libertou o ancio e o servo, compreendendo que nada h mais precioso do que a vida em si mesma, particularmente a humana. As lies mais severas, a vida oferece, convidando os indivduos reflexo. Quando se adquire maturidade psicolgica, embora se preservem bens materiais, valorizam-se mais aqueles que so do Esprito, da realidade perene, expresses elevadas da vida.
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O que se possui de mais precioso a oportunidade existencial, pois que ela enseja todas as outras ocorrncias e conquistas, permanecendo como patrimnio inalienvel do ser no seu percurso evolutivo. Quando lcido, vive intensamente seu momento, cada momento, florescendo onde se encontra, sem os tormentos de realizar-se nessa ou naquela outra parte, criando razes e desenvolvendo-se, livre das injunes da ambio desregrada, das paixes perturbadoras, das fixaes inquietantes, aberto s novas realizaes que harmonizam. Torna-se, desse modo, parte integrante do Universo, no qual se encontra e que o convida a conquist-lo. Para conseguir esse estado e aprender as lies da vida, o candidato se deve trabalhar interiormente, educar--se, j que atravs desse valioso contributo modifica-se e aprimora-se, liberando-se dos atavismos perniciosos e dos fatores degenerativos que lhe remanescem. A educao valioso instrumento para o trabalho de construo da pessoa feliz, que se torna, por sua vez, uma viva lio da vida para as demais, que seguem na retaguarda.
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6 Aspectos da vida
Juventude; e velhice - Estar desperto - Alegria de viver
vida no corpo apresenta-se sob vrios aspectos, que lhe constituem a realidade existencial. Nem sempre, porm, essa realidade significa o legtimo viver, o expressar-se com segurana, o desfrutar plenamente a oportunidade e avanar jubilosamente, sem remorsos que resultam do passado, nem ansiedades que assinalam as ambies do futuro. Uma existncia feliz no , necessariamente, aquela que se faz breve ou larga, mas sim aquela que se transforma em mensagem de alegria e bem-estar para a prpria pessoa, bem como para todos aqueles que a cercam. Cada existncia uma mensagem, cujo contedo deve ser positivo, de forma que dignifique outras, enriquecendo-as de esperana. A doena, os problemas, no so aspectos de infelicidade, porm convites do organismo e da vida, para dizer que necessrio estar lcido e consciente. A morte, por isso mesmo, no um fracasso da vida, mas uma nova admirvel experincia. O ser amadurecido psicologicamente sabe discernir quais os valores que so autnticos, para a sua realizao, e aqueles que apenas apresentam como indumentria transitria para o elenco dos movimentos existenciais. Dessa forma, cada fase da existncia orgnica se apresenta com caractersticas que tipificam o processo de desenvolvimento das estruturas da personalidade e da individualidade, facultando o armazenar de experincias que podem ser aplicadas na construo da vida ideal, na qual os fatores de perturbao no encontram campo para atuar e deteriorar os aspectos saudveis, que formam o conjunto do indivduo realizado.
lento o desenvolvimento do ser em cada aspecto, passando de uma para outra fase, sem marcas inquietadoras de incompletude, de maneira que no prximo estgio se viva com as 65
manifestaes do anterior, daquele que j dever estar ultrapassado e consolidado nos alicerces da individualidade. Cada indivduo, porm, alcana o patamar do amadurecimento por meio de experincias diversas. Uns conseguem crescer sob o estmulo dos ideais e das aspiraes que acalentam interiormente; outros o fazem sob a inspirao da beleza, a exteriorizar-se nas artes, na literatura, na cultura em geral; muitos so atrados pela tecnologia e os diferentes recursos das modernas conquistas; inmeros so conduzidos pelo amor, pela necessidade da fraternidade que cultivam com acendrado carinho; a grande multido, no entanto, empurrada pelo sofrimento, ltima alternativa para o desenvolvimento dos recursos internos que lhe dormitam no imo. Ningum h, no entanto, que se impea o desenvolvimento do ser superior, esmagado momentaneamente pelos perigosos adversrios de si mesmo, que so o primarismo, a ignorncia, o egosmo e todo o seu squito de hediondez. O ser humano segue uma fatalidade grandiosa: a au- torrealizao total, sob a atrao do Pensamento Divino que a tudo invade e domina. A sua origem transcendental leva-o de volta, iniludivelmente, sua Causalidade Superior. Todavia, enquanto no se d conta dessa obstinada destinao, transita em crculo de estreito mbito emocional, sem que a fora de atrao da Vida lhe produza qualquer influncia. Assim considerando, so todos valiosos, os diferentes aspectos da vida, durante a existncia fsica, que devem ser expe- rimentados de forma total.
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Juventude e velhice
Tornou-se ontolgica a forma inamistosa do ser em relao velhice, que considera como decadncia, amargura, soledade, doena e morte, na viso estreita da imaturidade psicolgica. Para esse, viver acalentar sonhos permanentemente juvenis, sensaes brutalizantes e de efeito rpido, passando de uma para outra entre insatisfaes e conflitos ntimos. A juventude, diga-se com clareza, no somente um estado biolgico atinente a determinada faixa etria. Mas tambm todo o perodo em que se pode amar e sentir, esperar e viver, construir e experimentar necessidades novas e edificantes. O perodo juvenil, limitado entre a infncia e a idade da razo, de muita significao para o desenvolvimento real do indivduo, porque abre os espaos existenciais para a aprendizagem, fixao dos conhecimentos, ansiedades de conquistas e realizaes, em um caleidoscpio fascinante. tambm o perodo da imaturidade, do desperdcio de oportunidades, porque tudo parece to distante e farto, que os prejuzos de tempo e produo no tm significado profundo, dando nascimento a futuros conflitos que necessitam ser vencidos. jovem, porm, todo aquele que aspira aos ideais de enobrecimento humano, esteja transitando por qualquer perodo existencial, no importa. Mantendo a capacidade de realizar e realizar-se, de produzir e multiplicar, de renovar e renovar-se, desfruta do largo prazo da juventude real. A velhice se apresenta quando o indivduo se considera intil, quando experimenta o desprestgio da sociedade preconceituosa, que elaborou conceitos de vida em padres torpemente materialistas hedonistas. .A Cincia mdica est a comprovar a cada instante que todos os perodos da vida so ricos de oportunidades para aprender, para crescer e desenvolver a capacidade de fixao dos valores humanos. Os conceitos ortodoxos dos limites para o incio da velhice, quando surgem os sinais de decadncia orgnica, esto totalmente ultrapassados.
Nesse contexto, a mente fator importante que gera energias incessantes, num ou noutro sentido, de forma positiva ou 67
destrutiva, e, enquanto se pode pensar com autoestima e confiana, os limites impostos pela idade desaparecem, para facilitarem a continuao da existncia enriquecedora. Assim tambm, quando o jovem se deixa abater e passa a pensar destrutivamente, encarcera-se nos pores da decadncia psicofsica e degenera. O crebro, que antes era pouco identificado nas suas incomparveis produes, como a maior glndula do corpo humano, hoje conhecido como um extraordinrio e incomum conjunto harmnico de setenta e cinco a cem bilhes de neurnios em circuito especializado e complexo, como o mais notvel computador que a mente ainda no pode conceber. Suas enzimas, cerebrinas, globulinas e outras secrees comandam as reaes de todo o corpo, trabalhando pela vida fsica e psquica. No entanto, essa mente no lhe fruto de elaborao prpria, procedendo de uma fonte geradora que o antecede e sucede ao processo do conjunto neuronial. Pesando em mdia um quilo e trezentos gramas, absorve oxignio em quantidade expressiva, vinte por cento de todo aquele que necessita o corpo total. Quando ocorre a morte de cada clula nervosa e a mente trabalha, pesquisa e se esfora para manter os equipamentos em ordem, amplia-se, transformando as suas extremidades em rvores (dentrites), que facultam o fluxo das informaes, sem qualquer soluo de continuidade, produzindo as maravilhosas sinapses eletroqumicas, que mantm todo o equilbrio dele mesmo e do organismo em geral. Ainda desconhecido e pouco utilizado, centro dinmico da vida, nas mais complexas operaes que se possa imaginar, antena transceptora, que se coloca na direo das faixas parapsquicas, sem perder a sua estruturao para os registros e captaes no campo do psiquismo normal. semelhana dos msculos que, no ativados pelo exerccio, tendem fragilidade, flacidez, quando no movimentado pelas energias mentais renovadoras, perde as possibilidades de produo, porque ao morrerem as clulas nervosas, as restantes, sem novos estmulos, no se ampliam, falhando na transmisso das mensagens que lhes cabe registrar, encaminhar e responder.
Durante milnios permaneceu quase desconsiderado da Cincia, havendo sido estudado e descoberto, praticamente, por Gall, mdico e anatomista, pai da Frenologia, como Lamarck o 68
fora do Transformismo. At ento, os conceitos se dividiam entre os filsofos, os pais da Medicina e da Patrstica religiosa, com as suas supersties e conceitos ultramontanos. Passando por extraordinrios estudiosos, dentre muitos outros Cabanis e Broca, a sonda da investigao foi penetrando a massa cinzenta e decifrando as suas protuberncias, que hoje nos do uma ideia, embora ainda muito imperfeita, do seu mundo de infinitas informaes por detectar. Nele, portanto, esto as disposies e da velhice, dependendo sobretudo da mente que o vitaliza e movimenta, que o aciona e mantm. Todavia, muitos crem que a velhice sinal de perda de memria, de deterioramento do raciocnio, do desequilbrio das emoes... Sem dvida, com o suceder dos anos, a maquinaria orgnica experimenta desgaste e, certamente, diminui a capacidade de produo e eficincia de resultados. Entretanto, a perda de memria no sintoma exclusivo do envelhecimento, porquanto muitos fatores contribuem para essa ocorrncia em qualquer idade, como as enfermidades sutis, quais sejam as infeces urinrias, as intoxicaes por medicamentos, a depresso, o mal de Alzheimer, etc. O importante, desse modo, o estado psquico do indivduo, que lhe determina qual a fase em que se encontra e lhe apraz permanecer; se na juventude que se alonga ou na velhice que lhe chega precocemente. De extraordinrio resultado a ao do trabalho nesse comportamento, facultando o prosseguimento dos deve-res, dos estudos, das buscas e realizaes novas, sem fadigas nem justificativas de impossibilidade para crescer e permanecer jovem.
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Estar desperto
A humanidade em geral vive em estado de sono, em letargo, e, por isso mesmo, padece da enfermidade mais dominadora, que a ignorncia de si, da destinao de cada um, do significado da existncia. Acomodados situao em que se encontram, os indivduos queixam-se, mas quase nada fazem para mudar os fatores degenerativos do conjunto social, normalmente neles mesmos presentes; lamentam-se, por necessidade masoquista de inspirar compaixo; entregam-se ocorrncia por comodismo, no se esforando, realmente, para conseguir a superao de todo aparente obstculo que surge como ameaa ou impedimento ao seu progresso. A conscincia de sono predomina no mundo moderno, em razo das suas concesses ao prazer imediato, sem a consequente proposta e oportunidade para as emoes libertadoras. Assim, a sociedade se divide em grupos que se hostilizam sub-repticiamente, distanciando-se cada vez mais uns dos outros, quando deveriam eliminar as barreiras separatistas, e no manter ignorncia sobre as infinitas possibilidades de realizao e de despertamento. Surge, inevitavelmente, o instante em que o ser v-se induzido a despertar ou permanecer na morte da realidade. Para que consiga acordar do pesado sono a que se submete, necessrio todo o empenho possvel, de modo que possa arrebentar as cadeias que o vm atando ao processo de autocompaixo e infelicidade, de auto desestima e desrespeito para com ele prprio. Estar acordado encontrar-se pleno, consciente da sua realidade interior e das infinitas possibilidades de crescimento que esto ao seu alcance; libertar-se dos medos que o imobilizam na inutilidade; redescobrir a alegria de viver e de agir; ampliar o campo da comunicao com a Natureza e todos os seres; multiplicar os meios de dignificao humana, colocando-os ao alcance de todos; submeter-se eloquente proposta de iluminao que pode encontrar em toda parte...
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O apstolo Paulo estava to certo do valor do despertamento da conscincia, que em memorvel carta aos Efsios, conforme se encontra no captulo cinco, versculo catorze, conclamou: Desperta, tu que dormes, levanta-te entre os mortos e o Cristo te esclarecera. Isso porque, sono forma de morte, de desperdcio da oportunidade educativa, esclarecedora, teraputica, enriquecedora. E nesse sentido, quando se est desperto, Jesus o esclarece, a fim de que avance corajosamente na busca da sua auto identificao. Todos os triunfadores foram e so pessoas despertas para a sua atividade, o seu compromisso para com a vida, conscientes do prprio valor, sem os pieguismos e fugas psicolgicas de autodesvalorizao, de autopunio. Desfraldando o estandarte da coragem, partem para a batalha a que se entregam, superando os vcios e desenvolvendo as virtudes, no campo imenso da conscincia, qual a proposta feita por Krishna a Arjuna, no Bhagavad Gita, essa maravilhosa cano de dignidade psicolgica e saga de um triunfador sobre as prprias paixes... O ser desperto no se permite a astcia de Ssifo nem a crueldade de Zeus, que tinham necessidade de demonstrar a sua fora, o seu poder, na fragilidade do homem imaturo e dormido. Quando o prncipe Sidarta Gautama fez-se Buda, portanto, quando se permitiu iluminar, porque acordou do letargo, aps uma das suas prelees educativas, foi interrogado por um discpulo: - Senhor, j encontrastes Deus? E se o defrontastes, onde se encontra Ele? O missionrio meditou por um pouco e respondeu sem prembulos: Aps penetrar na realidade de mim mesmo, encontrei Deus no mais ntimo do meu ser, em grandiosa serenidade e ao dignificadora. Quando se est desperto, as conquistas e encontros so internos, resplandecentes e calmos, poderosos como o raio e suaves como a brisa do amanhecer. Portadores de vida, conduzem o indivduo na direo segura de si mesmo, fazendo que possa compreender os que dormem e no se interessam pela deciso de entender-se ou compreender a finalidade da existncia. Tampouco se irrita, ou se enfastia, ou se perturba com aqueles que o agridem, que o perseguem, que buscam afligi- lo.
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Maria de Magdala despertou da loucura em que se encarcerava ao encontrar Jesus, e transformou-se totalmente; Paulo de Tarso despertou, aps o chamado de Jesus e nunca mais foi o mesmo; Francisco de Assis aceitou o convite do Mestre e renasceu, abandonando o homem velho e tornando-se cantor da Natureza; Leonardo da Vinci, Galileu, Newton, Ren Descartes, Pasteur, Albert Schweitzer e muitos outros nos vrios campos do pensamento, da Cincia e da Arte, da Religio e do Amor, aps despertarem para a realidade, alteraram a prpria rota e ergueram a humanidade para um patamar de maior beleza e de mais ampla felicidade. Estar desperto significa encontrar-se construindo, livre de preconceitos e de limites, aberto ao bem e verdade de que se torna vanguardeiro e divulgador.
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Alegria de viver
A vida um poema de beleza, cujos versos so constitudos de propostas de luz, escritas na partitura da Natureza, que lhe exalta a presena em toda parte. Em consequncia", a oportunidade da existncia fsica constitui um quadro parte de encantamento e conquistas, mediante cuja aprendizagem o Esprito se afermoseia e alcana os paramos da realidade. Em todo lugar h sol e harmonia convidando paz e participao no seu conjunto feliz. Somente a criatura humana, porm, apresenta-se triste, assinalada pelas urzes morais que carrega das atitudes e aes transatas, dos compromissos mal vivenciados, das realizaes desastrosas, transferindo de uma para outra etapa o que poder lograr de uma vez, caso se resolva pela soluo das dificuldades de dentro para fora, a contributo de esforo bem-direcionado. A alegria, pois, de viver, deve ser parte ativa do programa de construo pessoal da criatura inteligente. Fruir toda a magia existente no painel universal, retirando as maravilhosas concesses de completude que pairam ao alcance de todo aquele que deseja elevar-se, livre de tormentos e de amarras com o passado. O destino da criatura a liberdade, para onde segue com os olhos postos no futuro. Ser livre significa no depender, optando pelo que lhe constitui emulao para a vitria; no ter passado nem inquietar-se pelo futuro, vivendo amplamente o presente em transportes de paz e alegria. A medida que se amadurece psicologicamente, a alegria de viver constitui uma razo poderosa para o prosseguimento da atividade de iluminao. Tal alegria certamente no impede os episdios de reflexo pela dor, de ansiedade pelo amor, de espera pela sade, de presena da enfermidade, de angstia momentnea, de inquietao diante do que esteja ocorrendo. Esses fenmenos, que fazem parte do curso existencial, no eliminam a alegria, antes do-lhe motivo de presena, porque a cada desafio segue uma vitria; aps cada testemunho advm uma conquista; a cada empreendimento de dor se apresenta um novo patamar de equilbrio, fazendo que a alegria seja constante e motivadora para a produo de novos valores. 73
A alegria proporciona ao crebro maior contribuio de enzimas especiais, encarregadas de produzir sade, facultando o riso, que um estimulante poderoso para a fabricao de imunoglobulina salivar (sIgA), portadora de fatores imunizantes, que propiciam o constante equilbrio orgnico, evitando a invaso de vrios vrus e bactrias perniciosos. Quando se ri, estimulam-se preciosos msculos faciais e gerais, eliminando-se toxinas prejudiciais acumuladas, que terminam por intoxicar o indivduo. Rir uma forma de expressar alegria, sem que a gargalhada estrdula, nervosa, descontrolada, tome parte na sua exteriorizao. Risoterapia, hoje, significa um recurso precioso para evitar determinadas contaminaes, mas tambm para auxiliar no restabelecimento de patologias graves, principalmente as infecciosas mutiladoras, as degenerativas da mquina orgnica e vrios distrbios nas reas emocional e psquica. Assevera o Evangelho que raramente Jesus sorria. Normalmente era visto chorar e quase nunca a sorrir. Ele, que se apresentava como o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de modelo e Guia, como esclareceram os Espritos ao eminente codificador Allan Kardec. Parece paradoxal que chorasse... Trata-se de uma contradio aparente. Suas lgrimas no eram de sofrimento, mas de compaixo, esse sentimento superior e elevado de coparticipao que direcionava s criaturas, que preferiam permanecer na ignorncia a aproveitarem Suas lies libertadoras. Era uma forma de expressar ternura pelos enfermos voluntrios, que nele teriam a teraputica eficaz para se livrarem dos males que os amarguravam, e, no entanto, relegavam a plano secundrio, aturdidos pela busca do quase nada imediato e fugaz. Isso est demonstrado quando fala da Sua Boa Nova de Alegria e se apresenta como a Porta das ovelhas, a Luz do mundo, o Caminho, a Verdade e a Vida, o Pastor, o Messias, informando que somos o sal da Terra, as ovelhas, os necessitados de todo jaez, dele necessitados como Condutor e Psicoterapeuta para nossas inumerveis deficincias e enfermidades da alma. O autoconhecimento revela ao ser as suas possibilidades e limitaes, abrindo-lhe espaos para a renovao e conquista de novos horizontes de sade e plenificao, sem conscincia de culpa, sem estigmas. 74
Por isso, a Psiconeuroimunologia vem demonstrar que o estado de sade pode ser conseguido pelo prprio indivduo que se resolve renovar e crer em si mesmo, nas suas imensas reservas de energias, no valor das suas conquistas. Perfeitamente compatveis com a Lei de Causa e Efeito, as realizaes positivas eliminam ou diminuem o peso das negativas e prejudiciais. A criatura humana o seu psiquismo. Conforme ele atua, assim se apresentam as manifestaes do mundo do Eu e do Self. O pensamento, portanto, bem-construdo, age no mecanismo do sistema nervoso, no crebro, e estes, conjugados, produzem enzimas protetoras que tornam imune o organismo a muitas invases de agentes destrutivos, propiciando sade. A alegria de viver convite para uma existncia rica de produes morais, espirituais, artsticas, culturais, estticas e nobres. A fatalidade existencial deixa de ser viver bem, que uma das metas humanas, para bem viver, que uma conquista pessoal intransfervel, especial, que jamais se altera ou se perde, fomentando felicidade e trabalhando pela paz que todos almejam.
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7 Descobrindo o Inconsciente
Anlise do Inconsciente - Processo de individuao - os arqutipos.
Anlise do Inconsciente
O eminente psicanalista Carl Gustav Jung estabeleceu que o inconsciente um verdadeiro oceano, no qual se encontra a conscincia mergulhada quase totalmente. como um iceberg, cuja parte visvel seria a rea da conscincia, portanto, apenas cinco por cento do volume daquela montanha de gelo ainda pouqussimo conhecida. A conscincia, ainda segundo o mesmo estudioso, pode ser comparada a uma rolha flutuando no enorme oceano. Tem-se, dessa forma, uma ideia do que significava o inconsciente para o ilustre psiquiatra, que o fora antes de dedicar-se Psicanlise. Nas suas investigaes profundas, procurou detectar sempre a presena do inconsciente, que seria responsvel por quase todos os atos e programas da existncia humana, desde os fenmenos automatistas mais primitivos, que lhe dariam incio, at as inmeras manifestaes de natureza consciente. Indubitavelmente, nesse oceano encontram-se guardadas todas as experincias do ser, desde as suas primeiras expresses, atravessando os perodos de desenvolvimento e evoluo, at o momento da lucidez do pensamento lgico, no qual hoje transita com vistas ao estgio mais elevado do pensamento csmico para onde ruma. muito difcil dissociar-se o inconsciente das diferentes manifestaes da vida humana, porquanto ele est a ditar, de forma poderosa, as realizaes que constituem os impulsos e atavismos existenciais. Indispensvel, porm, ter-se em mente a presena do Esprito, que transcende aos efeitos e passa a exercer a sua funo na 76
condio de inconsciente, depsito real de todas as experincias do largussimo trajeto antropossociopsicolgico, de que se faz herdeiro nos sucessivos empreendimentos das reencarnaes. O ego participa de todo esse processo como a pequena parte da psique que autoconsciente, que se identifica consigo mesma. E o Eu, que se conhece na condio de ser, de rea prpria de energias, que so totalmente diversas dos outros. a parte pequena de ns que se apercebe das coisas e ocorrncias, a personalidade, numa viso que seja detectada pela conscincia. Invariavelmente o Eu pensa somente em si, no com- preendendo a imensidade do inconsciente, que o Eu total, dando margem a situaes curiosas, quando as pessoas se referem a acontecimentos que nunca atribuem a si mesmas, informando que no foram elas, isto , o seu consciente que realizou determinados labores e teve tais ou quais compor- tamentos, o que as surpreende sempre. Toda vez que a mente consciente d-se conta de que o inconsciente se encontra envolvendo-a, tomada por certas expresses de deslumbramento ou choque, j que a totalidade, o oceano incluindo o iceberg, que vem tona. Para Sigmund Freud, tanto quanto para Gustav Jung, o inconsciente somente se expressa atravs de smbolos, e esses smbolos podem e devem ser buscados para conveniente interpretao atravs dos delicados mecanismos dos sonhos e da Imaginao Ativa, de modo a serem entendidas as suas mensagens. As manifestaes onricas oferecem contedos que necessitam ser interpretados, a fim de facilitarem o desenvolvimento do indivduo. Mediante a Imaginao Ativa, tenha-se em conta que no se trata de fico no seu sentido convencional, mas de uma forma criativa do pensamento - possvel entrar-se no arcabouo dos registros e depsitos do inconsciente, abrindo-lhe as comportas para uma equilibrada liberao, que ir contribuir grandemente para a conduta salutar do indivduo, proporcionando-lhe uma existncia equilibrada.
Permitimo-nos, porm, acrescentar que, tambm atravs da concentrao, da orao, da meditao, e durante alguns transes nas tentativas das experincias medinicas, o inconsciente 77
faculta a liberao de vrias das impresses que nele jazem, dando origem aos fenmenos anmicos, estudados cuidadosamente pelo nobre codificador do Espiritismo, com muita justia, um dos identificadores dos arquivos do inconsciente, embora sob outra designao. Nesse extraordinrio oceano, ainda segundo os nobres psicanalistas referidos, formidandas foras esto trabalhando, ora em favor, ora contra o ser, que necessita decifrar todos esses enigmas de modo a conseguir sua realizao interior quanto exterior. Nele se encontram em depsito os mitos e as fantasias, as lendas e supersties de todos os povos do passado e do presente, e, no seu mais profundo mago, nascem ou dormem as personalidades paralelas que se incorporam existncia individual gerando conflitos e transtornos neurticos. O objetivo, porm, da interpretao dessas mensagens, conforme o pensamento dos citados mestres, no resolver imediatamente os distrbios de natureza neurtica, e sim utilizar de forma conveniente as suas foras portadoras de energia de crescimento, de elevao, de conhecimento e de libertao. O grande desafio da existncia humana est na capacidade de explorar esse mundo desconhecido, dele retirando todos os potenciais que possam produzir felicidade e autorrealizao. Os indivduos normalmente se movimentam na vida em estado quase de sono, sem dar-se conta do que acontece sua volta, sem conscientizar-se das ocorrncias nem dos seus mecanismos. Raramente se detm na reflexo, considerando os objetivos e necessidades da vida em si mesma. Tudo se lhes sucede de maneira automtica, fortuitamente, vitimados que se encontram pelos mecanismos fisiolgicos em predomnio, at mesmo por ocasio das manifestaes de natureza psicolgica, o que lamentvel. Em razo disso, vivem inconscientemente, longe da realidade, dispersos, acumulando conflitos e deixando-se arrastar pelos instintos que neles so dominantes.
A existncia humana uma aprendizagem valiosa que no pode ser desperdiada de maneira vulgar ou vivida utopicamente, qual se fosse uma viagem ao pas da iluso, no qual tudo tem 78
lugar de maneira atemporal, mecnica, destituda de sentido ou de razo. A marcha do processo da evoluo ascensional, e o ser deve, a cada dia, armazenar experincias criativas quanto iluminativas, que lhe ampliaro o campo de desenvolvimento, levando-o na direo da sua fatalidade csmica, que a liberdade total, a plenitude. Enquanto no corpo, naturalmente sofrer as consequncias, positivas ou negativas, dos seus prprios atos, que so os construtores do seu futuro. Por isso mesmo cabe-lhe viver conscientemente, desperto para a realidade do existir. Eis por que a concentrao -lhe de valor inestimvel, por propiciar-lhe encontrar-se com os arquivos que lhe guardam as impresses passadas que geram dificuldades ou problemas no comportamento atual. Em um nvel mais profundo, a meditao -lhe o instrumento precioso para a auto identificao, por facultar-lhe alcanar as estruturas mais estratificadas da personalidade, revolvendo os registros arcaicos que se lhe transformaram em alicerces geradores da conduta presente. Por outro lado, a orao, alm de lenir--lhe os sentimentos, suavizando as aflies, contribui para a elaborao dos fenmenos da Imaginao Ativa, liberando impresses que, por associao, ampliar-lhe-o o campo do entendimento da realidade, exumando fantasmas e diluindo-os, ressuscitando traumas que podem ser sanados e ficando com um campo mais livre de imagens perturbadoras, para os mecanismos automatistas dos sonhos. Embora toda essa contribuio valiosa apresentada pela Psicanlise, proporamos o desdobramento consciente da personalidade, isto , do Esprito, nas suas viagens astrais, atravs das quais experimenta sempre, quando lcido, maior liberdade, assim podendo superar as sequelas dos graves conflitos das reencarnaes passadas, em depsito no inconsciente. Esse mergulho consciente nas estruturas do Eu total, faculta a liberao das imagens conflitantes do passado espiritual e do presente prximo, ensejando a harmonia de que necessita para a preservao da sade ento enriquecida de realizaes superiores. Enquanto o indivduo no descobre a realidade do seu inconsciente, pode permanecer na condio de vtima de transtornos neurticos, que decorrem da fragmentao, do vazio 79
existencial, da falta de sentido psicolgico, por identificar apenas uma pequena parte daquilo que denomina como realidade. Percebe-se em isolamento, sem direo prpria para a soluo dos vrios problemas que o afligem e, corri isso, foge para os estados de neurotizao nos quais se realiza. Essa queda emocional faz que desaparea o sentido de religiosidade, porquanto, ainda conforme a anlise dos citados investigadores, no inconsciente que estariam a presena e o significado de Deus, do Esprito, das percepes em torno da Divindade... Para os citados mestres, quando o ser demora-se ignorando as possibilidades do inconsciente, rompe as ligaes com o seu Eu profundo, portanto, com os mecanismos que o levariam compreenso de Deus, da alma e da vida imortal. Certamente a encontramos a presena do Esprito, nos refolhos do ser, impregnado pelas lembranas que no chegam conscincia atual, mas que afetam o comportamento de maneira indireta, proporcionando estados inquietadores e desconhecidos da estrutura do ego. A sua auto identificao, o autodescobrimento, permite o conhecimento das necessidades de progresso, ao tempo que desarticula as dificuldades que foram trabalhadas pelas experincias negativas das existncias transatas, cujos resduos continuam produzindo distonias. Somente quando se passa a viver a compreenso da realidade interior, descobrindo-se e conservando-se desperto para a ao do pensamento lgico e consciente, que se liberam os efeitos danosos do passado e se estabelecem novas normas de conduta para o futuro. Adquire-se ento liberdade para a ao criativa, sem as amarras da culpa, que sempre se estabelece depois de qualquer atitude irregular, de toda ao prejudicial. O ser manifestao do Pensamento Divino, que o criou para a vigorosa realizao de si mesmo. Desse modo, necessrio deixar de ignorar o seu mundo interior, o seu inconsciente, mergulhando no abismo de si mesmo e autorrevelando-se sem traumas ou choques, sem ansiedades ou inquietaes, em um processo de individuao.
Toda essa energia de que portador o inconsciente pode ser canalizada para a edificao de si mesmo, superao dos medos e perturbaes, dos fantasmas do cotidiano, que respondem pela insegurana e pelo desequilbrio emocional do indivduo. 80
Com perspiccia admirvel Jung estabeleceu que em todas as criaturas esto presentes muitos smbolos, que dormem no seu inconsciente, num grande pluralismo, que deve ser controlado at atingir um sentido de unidade, de unificao dos termos opostos em uma nica manifestao de equilbrio. Utilizou-se, assim, das expresses yin e yang presentes na existncia humana de todos, numa representao do masculino (Yang) e do feminino (Yin). O primeiro ativo, dinmico, forte, rico de movimento, de calor, a claridade; o outro passivo, repousante, frgil, sem muita atividade, frio, a sombra... Esses aparentes opostos produzem conflitos, porque, no momento em que se pensa algo fazer, de imediato uma ideia surge em sentido contrrio no ntimo para no o realizar; deseja-se prosseguir e, ao mesmo tempo, parar; o desafio surge para tentar conquistas, enquanto outra parte trabalha para permanecer sem novas experincias. So, sem dvida, as expresses do masculino e do feminino latentes no ser. Na antiguidade, o misticismo oriental, em forma de sabedoria, trabalhava a pessoa para saber conduzir uma e outra fora com equilbrio, permitindo que houvesse predomnio desta ou daquela, conforme a situao, terminando pela produo do equilbrio, que o resultado da harmonia de controle, nos momentos adequados, por tal ou qual manifestao interior. Nessa fase, a de harmonia, possvel separar-se o que bom do que mau, o justo do arbitrrio, identificando os opostos e dando um sentido de perfeito equilbrio a si mesmo, em identificao com o Cosmo. No ser esse o momento da aquisio do pensamento csmico, quando o Psiquismo Divino se desenvolve no ser humano e ele pode exclamar, qual o fez Jesus Cristo: - Eu e o Pai somos Um!
Jung ainda pde identificar a dualidade existente nas criaturas, a que as denominaes de animus e anima, que esto sempre presentes nos sonhos. O animus como sendo a representao masculina nas atividades onricas das mulheres e o anima, nas dos homens, como simbolismo presente das 81
mulheres, que repetem os grandes vultos mitolgicos, histricos, religiosos, presentes nas estrias, fantasias e mitos dos povos de todas as pocas, proporcionando associaes e vivncias psicolgicas, conforme a estrutura interior de cada qual. Concordando com o pensamento do admirvel investigador da psique humana, somente nos encorajaramos a propor que, nessas representaes onricas, muitas das personagens animus e anima so as reminiscncias, as revivescncias das vidas anteriores arquivadas no inconsciente de cada um, graas ao perspirito ou corpo intermedirio entre o Esprito e a matria. Jesus, por exemplo, harmonizava as duas naturezas, o animus, quando era necessrio usar da energia e vontade forte para invectivar os hipcritas e lutar sem receio pelo ideal do Amor, e o anima, quando atendia os infelizes que O buscavam, necessitados de entendimento e auxlio. Ningum, como Ele, conseguiu essa perfeita identificao do yang e do yin, provando ser o Esprito mais elevado que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de modelo e guia, conforme responderam os Mensageiros da Humanidade a Allan Kardec, em O Livro dos Espritos, na questo nmero 625. Por excelncia, nesse esforo profundo de auto identificao, o amor deve ser trabalhado conscientemente, a fim de desenvolver- se, j que inerente natureza humana, proveniente de toda a Natureza, que Obra do Amor de Deus, que a impregnou desse sentimento, estruturando-a na vibrao de harmonia que prevalece, mesmo quando se enfrentam os reflexos dos contrrios. Esse arqutipo do pensamento junguiano - o amor -faz parte da imensa listagem que foi preparada para traduzir as imagens nsitas no inconsciente humano, mas que muitos psicanalistas advogam poder ser ampliada de acordo com a aptido de cada pessoa, tendo em vista as suas prprias experincias na rea dos sonhos, crescendo cada vez mais, de modo a atender a todas as necessidades de formulao, sem que se fique aprisionado em uma faixa estreita de representaes. Do inconsciente para o consciente, para a individuao, que o ser pode harmonizar-se, conquistar a sua paz e sade total. 82
Processo de individuao As multifrias experincias da reencarnao deixam no ser profundo infinitas caractersticas, que poderamos denominar como sendo os arqutipos junguianos. Heranas ancestrais, que se transformam em material volumoso no inconsciente, ditando os processos de evoluo das ocorrncias no ser e que o propelem para as diferentes atitudes comportamentais do cotidiano. Todos os indivduos so os somatrios de suas existncias transatas, em que as diversas personalidades constroem a sua realidade pensante, com toda a carga de conflitos e lutas vivenciados que os assinalaram profundamente. Poder mergulhar nesse oceano tumultuado de atividades vividas a proposta em favor da sua conscientizao. A fim de lograr o xito, cada qual se deve considerar nico, diferente, no obstante com todas as analogias que so comuns aos demais membros da imensa famlia humana. Normalmente, o indivduo toma como padres, e procura assemelhar-se queles que lhe parecem melhores,verdadeiros modelos, esquecendo-se que se torna impossvel conseguir resultados positivos, nesse tentame, porque, medida que imita outros perde a sua identidade, o seu carter, amoldando-se a frmulas e dolos falsos, que tambm lutam e disfaram as suas necessidades na exteriorizao da personalidade. O grande trabalho psicolgico de crescimento do ser reside na busca de si mesmo. Embora parecido com outros, qual ocorre com o material fsico que a todos constitui, cada pessoa diferente da outra. Psicologicamente, existem no inconsciente todos os smbolos das diferentes culturas, que se mesclam, formando a realidade individual. Todavia, indispensvel buscar a individuao, isto , a sua legitimidade, construindo-se idealmente e assumindo-se com os valores que lhe so peculiares, intransferveis. Nesse processo, deve operar a transformao moral do Si, descobrindo tudo aquilo que lhe perturbador e tentar superar, por eliminao, sem que esse esforo gere trauma ou insatisfao, assim diluindo as condensaes das vivncias anteriores, atravs da conscientizao da sua integridade interior em harmonia com as suas manifestaes exteriores. Esse processo pode durar toda a existncia, o que muito saudvel, porque o ser se descobre em constante renovao para 83
melhor, liberando-se das cargas negativas que lhe ditavam as reaes e lhe produziam problemas em forma de distrbios ntimos, afetando-lhe a conduta. Tornar-se um ser total, original, nico, a proposta da individuao, que liberta a conscincia das constries mais vigorosas do inconsciente dominador. indispensvel, dessa forma, enfrentar o inconsciente com serenidade, descobrindo-o e integrando-o conscincia atual, pelos melhores caminhos que estejam ao alcance. Cada ser encontra a sua prpria rota, que deve seguir confiadamente, trabalhando-se sempre, sem culpa, sem ansiedade, sem receios injustificveis, sem conflitos responsveis por remorsos... Embora pertencente a determinado grupo social, deve encontrar os seus prprios interesses, mantendo, simultane- amente, os valores e qualidades que so inerentes a todos, de forma que no se aliene do contexto no qual se movimenta e deve viver. Por mais se assemelhem os indivduos, cada ser possui a sua prpria estrutura psicolgica, sempre resultante das experincias vivenciadas nas diferentes existncias fsicas. Eis por que, somente a reencarnao explica essa multiplicidade de contedos psicolgicos nas criaturas, tornando--as distintas umas das outras, j que procedendo do mesmo tronco, cada uma viveu situaes mui especiais e diferentes. Buscando a individuao, percebe-se que as contribuies do mundo exterior imprimem, no ser, valores que no so verdadeiros para o seu nvel de maturidade, e que somente possuem legitimidade aqueles que lhe procedem do mago, do seu inconsciente, agora em sintonia com a conscincia lcida. Isso oferece muita tranquilidade, porque permite identificar que no se torna necessrio, para obter o triunfo, ser igual a ningum, smile de outrem ou cpia dos modelos que se exibem na mdia, nos sucessivos festivais da iluso e dos tormentos generalizados.
Cada ser possui uma infinita riqueza no seu mundo interior, que a herana divina nele jacente, que agora desperta e toma- lhe a conscincia, libertando-o dos atavismos perturbadores. 84
A psique humana, que se constri como resultado dos smbolos universais existentes, dilata-se na individuao que aguarda ser alcanada por todos os seres pensantes, por outro lado, meta da reencarnao: a conquista do Si, a elevao do Esprito, pairando sobre os destroos das experincias malogradas, transformadas em edificaes de paz.
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Os Arqutipos
O conceito de arqutipo, adotado por Jung, j era conhecido desde Philo Judaeus, referindo-se Imago Dei, que seria a imagem divina que existe no ser humano. Irinaeus, por sua vez, segundo Jung, afirmava que O criador do mundo no formou estas coisas diretamente de si mesmo, mas as copiou de arqutipos exteriores. Em realidade, o arqutipo procede da proposta platnica em torno do mundo das idias, primordial e terminal, de onde tudo se origina e para onde tudo retorna. Jung utilizou-se do pensamento platnico para referir-se a imagens universais, que so preexistentes no ser - ou que procedem do primeiro ser - desde os tempos imemoriais. Permanecem esses smbolos no inconsciente humano, independendo de quaisquer outras construes psicolgicas, dando-lhe semelhana e at uniformidade de experincia, tornando-se uma representao que perdura imaginativamente. Tais imagens so comuns a todos os povos e caractersticas da espcie humana desde os seus primrdios, que surgem espontaneamente e tm vrias configuraes nos mitos e smbolos de todas as culturas. A palavra arqutipo se origina do grego arkhe, que significa o primeiro, e typon, que significa marca, cunho, modelo, sendo, por isso mesmo, as marcas ou modelos primordiais, iniciais, que constituem o arcabouo psicolgico do indivduo, facultando a identificao da criatura humana. Existem no ser como herana, como parte integrante do seu processo de evoluo. Muitas vezes esses arqutipos surgem nos sonhos como imagens preexistentes, liberando-se do inconsciente. No entanto, nem todos os smbolos so procedentes dos arqutipos, porque podem ter origem na prpria energia do indivduo, nas suas atuais fixaes, traumatismos psicolgicos, conflitos, frustraes, ansiedades e desejos. Diferem, os arqutipos, dessa energia inerente ao ser, porque os primeiros tm um carter universal, enquanto os outros so individuais.
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Em se considerando a universalidade dos arqutipos, h uma grande variedade de smbolos que foram classificados por Jung, e posteriormente pelos seus discpulos e sucessores. No entanto, no podem ter um nmero fixo, porque sempre esto a apresentar-se com caractersticas individuais, em variaes naturais, decorrentes de padres e sinais de cada personalidade. Jung asseverou que o termo alma, adotado pelas religies, apareceu naturalmente, em razo do arqutipo, que tem a sua contrapartida psicolgica. Na mulher, a alma seria masculina, de existncia interior, que se casa com Cristo, no conceito da unio paulina e do matrimnio religioso da mulher com Jesus, enquanto que, no homem, feminina, como sendo a sua musa inspiradora, responsvel pela beleza potica, literria e artstica em geral. Essa representao psicolgica aparece nos sonhos como anima para os homens e animus para as mulheres. Se um indivduo tem um sonho com o demnio, no significaria necessariamente que estivesse em contato com ele, mas com o arqutipo smbolo do mal, que existe no inconsciente de todos os povos desde a sua origem e permanece atravs dos milnios. Assim tambm o anjo, o amor, o dio e outros so smbolos que sempre existiram no ntimo dos seres e que se transmitem atravs do inconsciente coletivo, exercendo um papel preponderante na linguagem onrica e no comportamento existencial. Eles surgem e preponderam na vida psicolgica dos indivduos, sem que os mesmos se dem conta, aparecendo, inclusive, nos acontecimentos banais, comuns do dia da dia. Quando algum se refere a outrem, exaltando-lhe o estoicismo ou citando a covardia, est identificando o arqutipo que vive no seu prprio inconsciente e tem um carter geral, comum a todos os demais. Assim sendo, sempre encontrado nos outros aquilo que jaz na prpria pessoa, o que lhe facilita o reconhecimento. As criaturas so todas multidimensionais, possuindo caractersticas comuns, resultado da perfeita reunio dos ar- qutipos que constituem cada individualidade. Isto faculta a compreenso da outra, a sua identificao em valores, qualidades e sentimentos.
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Normalmente esses arqutipos aparecem envoltos em smbolos msticos, divinos, com caractersticas de realidade ou em forma de fantasias, que os sonhos desvelam de maneira determinante. Concordando, em parte, com o eminente mestre, agregaramos que muitos smbolos, que se apresentam como arqutipos, provm de um outro tipo de herana primordial: a da experincia de cada Esprito pelo imenso oceano das reencarnaes. Graas s mesmas, so transmitidas as vivncias de uma para outra etapa, prevalecendo como determinantes do comportamento aquelas que foram mais vigorosas, assim estabelecendo, no inconsciente individual e profundo, smbolos que emergem no sonho ou durante a lucidez como conflitos variados, necessitados de liberao. O processo da reencarnao explica a presena dos arqutipos no ser humano, porque ele herdeiro das suas prprias realizaes atravs dos tempos, adquirindo, em cada etapa, valores e conhecimentos que permanecem armazenados nos refolhos do ser eterno que . Enquanto o insigne mestre situa todos os deuses e gnios, heris e modelos do Panteo grego, inclusive os de outros povos, como sendo a presena dos smbolos geradores dos arqutipos, o estudo das reencarnaes demonstra que, mesmo em forma de smbolos, algumas das lendas e mitos presentes na histria dos povos so resultantes da inspirao espiritual, de insigbts experimentados por inmeras pessoas, assim tambm confirmando a preexistncia do Esprito ao corpo e a sua sobrevivncia morte. Esses tipos primordiais, retiradas as indumentrias das lendas, que pertencem ao desenvolvimento do pensamento nos seus variados nveis de crescimento at alcanar o racional, o lgico, existiram, no somente na imaginao, mas como realidade que a fantasia adornou e perpetuou em figuraes mitolgicas.
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Certamente, como afirma Jung, esses arqutipos aparecem nos sonhos como personalidades divinas, religiosas, portadoras de contedos transcendentais e se apresentam como sobrenaturais, invencveis. Em muitas circunstncias, porm, so encontros com seres transpessoais, que sobrevivem morte e que habitam, no s o mundo das idias, da concepo platnica, mas o da energia, precedente ao material, ao orgnico, que causai e atemporal. Podemos, portanto, em uma viso transpessoal dos acontecimentos, associar os arqutipos a outro tipo de realidade vivida e nsita no inconsciente profundo - o Esprito - ditando os comportamentos da atualidade, que so as experincias espirituais, parapsquicas e medinicas. Aprofundar a busca no oceano do inconsciente para eliminar os conflitos decorrentes das vrias ocorrncias passadas as atuais e as das reencarnaes anteriores conseguir a individuao, eis a meta que aguarda aquele que deseja estar desperto, consciente da sua realidade e que luta em favor da sua iluminao interior e felicidade total.
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8 Autodespertamento Inadivel
O despertar do sl. Esforo para equilibrar-se. Disciplina da vontade. Aes libertadoras.
O despertar do Sl
A fase inicial da vida, sob qualquer aspecto considerado, a do sono. Por isso mesmo, o psiquismo dorme no mineral, sonha no vegetal, sente no animal, pensa no homem, conforme sintetizou com muita propriedade o eminente filsofo esprita Lon Denis, e prossegue, com a imensa capacidade da intuio, no anjo, adquirindo novas experincias sem cessar, infinitamente. O ser est fadado perfeita sintonia com a Conscincia Csmica, que nele dorme, aguardando os fatores que lhe propiciem o desenvolvimento, o contnuo despertar. Despertar, portanto, indispensvel, abandonando o letargo que procede das faixas por onde transitou, libertando-se do marasmo, em forma de sono da conscincia, para as realidades transcendentes, desapegando-se das constries que impedem a marcha, escravizando o Si nas paixes remanescentes, adormecidas, por sua vez, no inconsciente profundo, que prossegue enviando mensagens pessimistas e perturbadoras. Conscientizar-se do que , do que necessita fazer, de como conseguir o xito, constitui, para o ser, chamamento urgente, como contribuio valiosa para o empenho na inadivel tarefa da revoluo ntima transformadora.
No poucas vezes encontramos no comportamento humano as referncias ao dormir, estar dormindo, adormecido, 90
caracterizando estados existenciais das criaturas. Certamente, de fato, a maioria est adormecida para as prprias realidades, para os desafios da evoluo, para as conquistas do Si. Imediatamente apaixonada por interesses mesquinhos, mergulhada em sombras ou fascinada pelo doentio narcisismo, prefere permanecer em estado de conscincia de sono, a experimentar o despertamento para a lucidez, portanto, para os compromissos em relao vida e ao crescimento interior, que se lhe apresenta como um verdadeiro parto, no que tem razo. Despertar para a realidade nova da vida como experimentar um parto interior, profundo, libertador, dorido e feliz. Outras vezes, alguns que pretendem o acordar da conscincia buscam os gurus famosos em cada poca, a fim de que eles pensem e ajam sem o esforo pessoal dos que se fazem seus discpulos (cheias), desse modo estimulando-lhes a paralisia dos braos e do corpo em longos quo improdutivos estados de meditao prolongada, em fugas inoportunas aos labores edificantes da vida atual, sempre desafiadora e exigente. Constitui, essa conduta, uma forma de transferncia de responsabilidade para longe dos compromissos graves do prprio esforo, que a nica maneira de cada qual encontrar-se com sua realidade e trabalh-la, ampliando-lhe a capacidade de desenvolvimento. Felizmente, chega-se ao momento em que os verdadeiros mestres e guias ensinam os caminhos, porm exigem que os aprendizes avancem, conquistando, eles prprios, as distncias, particularmente aqueles ntimas que os separam do imperecvel Si. A Psicologia, por seu turno, convida o indivduo a avanar sem a utilizao de novas bengalas ou de dependncias de qualquer natureza, a fim de ser livre. compreensvel que, em determinados momentos, durante a aprendizagem, a iniciao, o candidato se apoie naqueles que os instruem, liberando-se, a pouco e pouco, de forma a conquistar o seu prprio espao. As revolues do pensamento tm sido muito velozes e se acentuam nesta ltima dcada, prenunciadora de uma Nova Era da Conscincia, quando os horizontes se faro mais amplos e a compreenso da criatura se tornar mais profunda, particularmente em torno do Si, do Esprito imortal. Todas as correntes da atual Filosofia, com raras excees e experimentos das doutrinas psquicas e parapsquicas, como 91
ocorre em algumas outras reas, convergem para o ser permanente e real, aquele que atravessa o portal da morte e volve ao proscnio terrestre em nova experincia iluminativa. Como consequncia, a busca da realidade vem sendo orientada para o mundo interior, no qual o ser mergulha com entusiasmo e sabedoria, superando os imperativos das paixes perturbadoras, das sensaes mais primitivas a que se vinculava. Essa proposta muito antiga, porque as necessidades humanas tambm o so. Pode-se, porm, arrolar no Evangelho de Jesus, que considerado um verdadeiro tratado de psicoterapia e deve ser relido com viso nova e profunda por todos, particularmente conforme vem ocorrendo com a Psicologia e as demais doutrinas do psiquismo; refere-se, inmeras vezes, ao estar dormindo, ao dormir, tanto quanto ao despertar. Quando Jesus foi visitar Lzaro, que parecia morto, acercou-se do tmulo, informou que o amigo dormia e mandou abrir-lhe o tmulo na rocha, convidando-o a que despertasse e sasse das sombras. Escutando-lhe a voz que ressoou na acstica da alma, o catalptico despertou e retomou a conscincia, vindo para fora do sepulcro, sem a necessidade de qualquer milagre. Jesus percebera que a morte no lhe arrebatara o Esprito, nem rompera os liames vigorosos do perspirito, portanto, estava vivo ainda, porm dormindo. Tratava-se de um sono orgnico provocado pela catalepsia, porque Lzaro j houvera despertado para a Realidade, razo pela qual ele pde ouvir o chamado de retorno. (3) Seguindo as pegadas de Jesus, o Apstolo Paulo repetiu a proposta do despertamento inmeras vezes, em situaes diferenciadas, de acordo com o estado de adormecimento em que se encontravam os seus ouvintes ou interessados na sua mensagem.
Numa carta que dirigiu aos romanos, conforme captulo treze, no seu versculo onze, depois de algumas consideraes escreveu o desbravador das gentes: Digo isto, porque sabeis o tempo, que 92
j hora de vos despertardes do sono... (4) que retm as pessoas distradas e distanciadas da Verdade, em permanente indeciso, ou em exigncias infindveis, ou em discusses inteis, ou em buscas infrutferas, sem aprofundamento de nenhuma causa, todos mecanismos escapistas para abraar o conhecimento libertador. O estado de sono paralisia da alma, peso na conscincia individual e prejuzo na coletiva, que compraz, no entanto, a todos quantos fogem, consciente e inconscientemente, dos compromissos mais graves para com o Si, assim como em referncia sociedade que exploram e perturbam com a sua dependncia. Ainda examinando a problemtica do sono, exclamou, em outra carta, que dirigiu aos Efsios, o libertador das gentes, com energia e vitalidade: Desperta, tu que dormes, e levanta-te entre os mortos. (5) Evidentemente o apelo dirigido queles que, embora vivendo, so mortos para a realidade do Si, permanecendo em estado de hibernao dos valores admirveis da sua imortalidade. Transitam, pelo mundo, os mortos para as emoes superiores, encharcados das paixes a que se aferram em terrvel estado de intoxicao, padecendo-lhes as injunes martirizantes. So cadveres que respiram, em uma alegoria evanglica. Sempre que convidados ao direcionamento superior, aos ideais de enobrecimento, ao agigantamento dos valores ticos, escusam-se e recusam cooperar, afirmando que a vida tem outros objetivos, empanturrando-se de alimentos e gozos, que logo passam, deixando-os sempre vazios e esfaimados. O seu despertar sempre doloroso, porque se lhes torna difcil abandonar os hbitos doentios e adotar novos comportamentos, que a princpio se fazem incomuns, incompletos, sem sentido. Quando est desperto, lcido para os objetivos essenciais da existncia, ergue-se, o indivduo, e sai do meio dos outros que esto mortos para a realidade.
3-Joo11:11 4- Romanos, 13:11; (Nota da Autora espiritual). 5-Efsios, 5:14(Nota da Autora)
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Por sua vez, prosseguindo na mesma terapia, o renovado apstolo Pedro, compreendendo e digerindo o que lhe aconteceu, voltou-se para os que o seguiam e admoestou com simplicidade: Tenho por justo, enquanto estou neste tabernculo, despertar- vos com recordaes... (6) Vale se considere o corpo como um tabernculo, no qual possvel a sublimao dos sentidos, tornando-se necessrio despertar os demais, mediante recordaes de tudo quanto aconteceu e est esquecido; de todas as ocorrncias de vida, que agora jazem no olvido; de todos os valores que significaram esperana e dignidade e esto ao abandono. Mediante esse volver a viver - o recordar - possvel um saudvel despertar e um tranquilo viver. Examinando-se imparcialmente essas propostas de despertamento, compreende-se que o problema urgente, embora o tempo que vem transcorrendo desde as advertncias existentes em todas as doutrinas de dignificao humana. Chama, porm, a ateno, a prpria experincia de Pedro, nos momentos que antecederam a traio do Amigo e a inolvidvel tragdia do Calvrio, sendo advertido carinhosamente: ... Esta noite antes de o galo cantar, trs vezes me negars...(7) prenunciando-lhe a defeco, por estar adormecido para a grandiosidade de comportamento junto ao Benfeitor, quando fosse convidado ao testemunho - que sempre prova de maioridade psicolgica e existencial. Parecia impossvel que se concretizasse esse prognstico, no entanto o mesmo sucedeu com a riqueza de detalhes com que foi anunciado, chamando o inadvertido ao verdadeiro despertar, que o fez autodoar-se at o momento final... Prosseguindo-se em uma releitura do Evangelho de Jesus, o discurso est exarado sempre em advertncias aos adormecidos, seja pelo sono fisiolgico, seja pelo sono moral, seja pelo sono intelectual.
6-II Pedro: 1.13; 7- Mateus: 26:34. (Nota da Autora espiritual)
Destaque-se mais uma vez que, quando Jesus se encontrava em comunho com Deus, pouco antes das humilhaes a que seria submetido, por trs vezes saiu de Si e foi visitar os 94
companheiros que deveriam estar em viglia e todos dormiam, anestesiados pela indiferena ou pela inconsequncia do seu estado de conscincia. Convidados ao despertamento nas repetidas oportunidades, por fim foram deixados, porque j era tarde, no mais adiantava acord-los. O desafio do sono muito grande, face ao largo perodo de permanncia nas faixas primrias do processo da evoluo, pelo qual passa o ser no seu crescimento espiritual. O inconsciente est no comando das sensaes e das emoes, deixando pouco espao para a conscincia, a lucidez dos atos. No obstante, quando Jesus informou a Pedro sobre a negao e o cantar do galo, pde-se inferir que o inconsciente estava representado pela figurao da ave que faz barulho, que desperta, e isso se daria somente quando o remorso lhe assomasse lucidez invigilante. O despertar inadivel, porque liberta e concede autoridade para o discernimento. De tal forma se apresenta a capacidade de entender, que uma viso otimista e clara se torna a base do comportamento psicolgico, portanto, do mecanismo ntimo para a aquisio da felicidade. Essa realizao no se d somente quando tudo parece bem, mas sim quando sucedem ocorrncias que so convencionalmente denominadas como infortnios. Diante de tais fatos, em vez de haver uma revolta ou desespero, na serenidade do estar desperto, interroga-se: O que me est desejando dizer este fenmeno perturbador? Tratando-se de uma enfermidade, um desgaste fsico, emocional ou psquico, uma perda de valores amoedados ou de um trabalho, que o sustento da existncia, pergunta-se: Isto que me est acontecendo, que significado tem para o meu progresso? Qual ou quais as razes destas mensagens? E penetrando-se com harmonia e sincero desejo de autodescobrir-se, de identificar o fator desequilibrante, a conscincia identifica a causa real e trabalha-a, administrando* a distonia profunda que se exterioriza na forma intranquilizadora. Tal comportamento proporciona segurana, fixao no ideal, harmonia, equilbrio. Quando no est desperto, o indivduo se transfere de uma para outra dependncia, buscando guias e condutores que lhe diminuam o esforo para pensar, e passem a assumir responsabilidades que lhe dizem respeito. 95
No mergulho do Si nasce a coerncia para com a vida e suas possibilidades, trabalhando pela libertao de todos os vnculos escravistas. Nem busca modelos pr-fabricados, nem formas unvocas que sirvam para todos. Cada ser possui as suas caractersticas e recursos, o que no estimula ao individualismo perverso, antes aquisio da prpria identidade. No obstante, h um Guia e Modelo, cuja vida exemplar tem resistido a todos os vendavais do tempo e a todas as crticas cidas quo demolidoras de muitos pensadores, que Jesus, o verdadeiro divisor de guas da Histria. Psicologicamente completo e desperto, tornou-se o maior exemplo de Conscincia plena que se conhece no processo da evoluo do ser, ensinando sem presuno, amando sem qualquer capricho, imolando-se sem qualquer mecanismo masoquista. Portador de sade por excelncia, jamais se Lhe registrou qualquer tipo de distrbio, como exaltao ou como depresso, mesmo nos momentos mais difceis de uma trajetria assinalada pela incompreenso dos Seus coevos. Simples e desataviado, Seu comportamento era otimista, rico de beleza e de ternura, demonstrando inequivocamente a Sua ascendncia moral e intelectual. Sempre desperto, Jesus o exemplo mximo da conquista do Si.
Esforo para equilibrar-se
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H, em todo processo de amadurecimento psicolgico, de despertamento da conscincia, um jogo de interesses, que pode ser sintetizado nas experincias vivenciadas que formaram a personalidade do ser, criando hbitos e comportamentos, e na aspirao pelo que se deseja conseguir, enfrentando lutas e desafios constantes, at que se estabeleam as condies para os fenmenos automatistas da nova realidade. Trata-se de uma luta sem quartel, em razo dos impulsos cristalizados no j feito e a incerteza das aspiraes pelo que se deseja realizar. Nesse tentame, pode o indivduo pecar por excesso de qualquer natureza, ou abandonando a experincia nova, para entregar-se ao amolecimento, ou dedicando-se exaustiva, irracionalmente anelada conquista, que ainda no pde ser testada pelas resistncias do combatente. O ideal, em toda situao, sempre o equilbrio, que constitui medida de avaliao das conquistas logradas. Equilbrio harmonia entre ao que se aspira, o que se faz e como se comporta emocionalmente, sem ansiedade pelo que deve produzir, nem conflito por aquilo que foi conseguido. Trata-se de uma conquista interior, capaz de medir, sem paradigma esttico, o valor das prprias conquistas. Detectando-se falhas do passado no comportamento, com tranquila naturalidade refazer-se o caminho, corrigir-se os equvocos e, quando se descobrir acertos, ampli-los serenamente, sem extravagncias ou presuno, compreendendo que apenas se encontra no limiar do de- senvolvimento interior, do amadurecimento profundo do ser psicolgico. O equilbrio resulta da identificao de vrios recursos adormecidos no inconsciente profundo que, penetrado, abre campo para a conscientizao dos deveres e responsabilidades a desempenhar. Somente atravs do trabalho constante de auto identificao, possvel conseguir-se a harmonia para agir, iniciando a conduta nas paisagens mentais, pelos pensamentos cultivados, que se transformam em motivos para a luta.
Protgoras de Abdera afirmou que o homem a medida de todas as coisas, sendo a realidade um permanente devir, variando a verdade de acordo com as pocas e os prprios processos de desenvolvimento do ser humano. Entretanto, 97
Herclito afirmava que a natureza gosta de esconder-se, em uma proposta-desafio para que seja encontrada a razo de todas as coisas, porquanto o olhar desatento somente alcana limites e nunca a natureza em si mesma. Para Herclito, o ver parte integrante do dizer e do ouvir, numa trade constitutiva da sua realidade. Em uma anlise mais profunda, a natureza est oculta porque dormindo no inconsciente coletivo de todos os observadores, nas suas heranas atvicas, nas conquistas variadas dos tempos e dos povos, cada qual descobrindo parte do todo at alcanar o limite do olhar, a capacidade do dizer e a faculdade de ouvir alm dos sentidos fsicos. Por outro lado, esse homem que se apresenta como medida de todas as coisas remanescente do processo natural da evoluo, nos diferentes perodos - antropolgico, sociolgico, psicolgico - avanando para a sua conscientizao, a sua identidade plena. O Si adquire experincias pelas etapas sucessivas das reencarnaes, superando condicionamentos e dependncias atravs da lucidez de conscincia, que lhe impe equilbrio para a conquista do bem-estar emocional, da sade integral. As Leis do equilbrio esto em toda parte mantendo a harmonia csmica, ao mesmo tempo nsitas no microcosmo, a fim de estabelecer e preservar o ritmo da aglutinao molecular. No campo moral, trata-se da capacidade de medir-se os valores que so adequados paz interior e necessidade de prosseguir-se evoluindo, sem os choques decorrentes das mudanas de campos vibratrios e comportamentais que todo estado novo produz no ser. O esforo para equilibrar-se o meio eficaz para a au- torrealizao, o prosseguir desperto. Trata-se de uma proposta de ao bem-direcionada, mediante a qual pode ser disciplinada a vontade de atingir a meta iluminativa.
O trabalho se apresenta como o meio prprio para o cometimento, ao lado, certo, da viagem interior. O trabalho externo realizado no tempo horizontal, nas horas convencionais dedicadas atividade para aquisio dos recursos de manuteno da existncia corporal, no qual se investem as 98
conquistas da inteligncia, da razo e da fora, a resistncia orgnica. Ao lado dele outros surgem que passam a utilizar-se do tempo vertical, que ilimitado, porque caracterizado como de natureza interna. O trabalho de qualquer natureza, quando enobrecido pelos sentimentos, o amor em atividade. O horizontal mantm o corpo, o vertical, sustenta a vida. Pode ser realizado com carter beneficente, sem remunerao habitual ou mesmo da gratido, da simpatia, feito com abnegao, em cujo tempo de execuo o ser se encontra consigo prprio e desenvolve os valores reais do Esprito, compreendendo que servir meta existencial, e amar dever de libertao do ego em constante transformao. O equilbrio que se haure, enquanto se serve, permanece como marca de progresso, como lio viva do despertar, no se fadigando, nem se deprimindo quando no sucederem os propsitos conforme anelados. O simples esforo para o equilbrio j definio do novo rumo que se imprime existncia, superando os condicionamentos perturbadores, egoicos, remanescentes dos instintos imediatos do comer, dormir, procriar... A existncia fsica mais do que automatismos, constituindo-se um apaixonante devir, que se conquista etapa a etapa at culminar na autoconscincia. Esforo, nesta leitura psicolgica, pode ser descrito como tenacidade para no se deixar vencer pelo marasmo, pela acomodao, pelo limite de realizaes conseguidas. o investimento da vontade para crescer mais, alcanar novos patamares, desembaraar-se de toda peia que retm o Esprito na retaguarda.
Disciplina da vontade
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Essa faculdade de representar um ato que pode ou no ser praticado, como definem os bons dicionaristas, a vontade, tem que ser orientada mediante a disciplina mental, trabalhada com exerccios de meditao, atravs de pensamentos elevados, de forma que gerem condicionamento novo, estabelecendo hbito diferente do comum. Necessariamente so indispensveis vrios recursos que auxiliam a montagem dos equipamentos da vontade, a saber: pacincia, perseverana, autoconfiana. A pacincia ensina que todo trabalho comea, mas no se pode aguardar imediato trmino, porque conquistada uma etapa, outra surge desafiadora, j que o ser no cessa de crescer. Somente atravs de um programa cuidadoso e continuado logra-se alcanar o objetivo que se busca. Tranquilamente se processa o trabalho de cada momento, abrindo-se novos horizontes que sero desbravados posteriormente, abandonando-se a pressa e no se permitindo afligir porque no se haja conseguido conclu-lo. A pacincia recurso que se treina com insistncia para dar continuidade a qualquer empreendimento, esperando-se que outros fatores, que independem da pessoa, contribuam para os resultados que se espera alcanar. Esse mecanismo todo um resultado de esforo bem-- direcionado, consistindo no ritmo do trabalho que no deve ser interrompido. Lentamente so criados no inconsciente condicionamentos em favor da faculdade de esperar, aquietando as ansiedades perturbadoras e criando um clima de equilbrio emocional no ser. Como qualquer outra conquista, a pacincia exige treinamento, constncia e f na capacidade de realizar o trabalho, como requisitos indispensveis para ser alcanada. Evita exorbitar nas exigncias do crescimento ntimo, no comeo, elaborando um programa que deve ser aplicado sem saltos, passo a passo, o que contribui para os resultados excelentes, que abriro oportunidade a outras possibilidades de desenvolvimento pessoal.
Na tradio do Cristianismo primitivo, consideravam-se santos aqueles que eram portadores de atitudes inco-muns, capazes de enfrentar situaes insuportveis e mesmo testemunhos incomparveis. Certamente surgiram tambm vrias lendas, 100
muito do sabor da imaginao, conforme sucede em todas as pocas. No obstante, conta-se que So Kevin, desejando orar, foi tomado por uma atitude de ardor e distendeu os braos pela janela aberta, preparando-se. Nesse momento, uma ave canora pousou-lhe na palma da mo distendida, e comeou a fazer um ninho nesse inusitado suporte. Passaram duas ou mais semanas, e So Kevin permaneceu imvel, at que a avezita concluiu o dever de chocar os ovos que ali depositara. Os companheiros consideraram esse um ato de pacincia abenoada e invulgar pacincia! No necessrio que se chegue a esse estgio, certamente impossvel de viv-lo, mas que serve para demonstrar que, mediante a sua presena, mesmo o inverossmil torna--se verossmil. Surge, ento, a perseverana como fator imprescindvel disciplina da vontade. A perseverana se apresenta como pertincia, insistncia no labor que se est ou se pretende executar, de forma que no se interrompa o curso programado. Mesmo quando os desafios se manifestam, a firmeza da deciso pela conscincia do que se vai efetuar, faculta maior interesse no processo desenvolvido, propondo levar o projeto at o fim, sem que o desnimo encontre guarida ou trabalhe desfavoravelmente. Somente atravs da perseverana que se consegue amoldar as ambies aos atos, tornando-os realizveis, raaterializando-os, particularmente no que diz respeito queles de elevada qualidade moral, que resultam em bnos de qualquer natureza em favor do Esprito. Quando no iniciado no dever, o indivduo abandona os esforos que deve envidar para atingir as metas que persegue. Afirma-se sem o necessrio valor moral para prosseguir, no obstante, quando se direciona para o prazer, para as acomodaes que lhe agradam o paladar do comportamento doentio, deixa-se arrastar por eles, deslizando nos resvaladouros da insensatez, escusando-se luta, porque, embora diga no se estar sentindo bem, apraz-lhe a situao, em mecanismo psicopatolgico masoquista. conquista da conscincia desperta o esforo para perseverar nos objetivos elevados, que alam o ser do parasitismo intelectual e moral ao campo no qual desabrocham os incontveis recursos 101
que lhe dormem no mundo ntimo, somente aguardando o despertamento que a sua vontade proponha. Como qualquer outro condicionamento, a perseverana decorre da insistncia que se impe o indivduo, para alcanar os objetivos que o promovem e o dignificam. Ningum existe sem ela ou incapaz de consegui-la, porque resulta apenas do desejo que se transforma em tentativa e que se realiza em atitude contnua de ao. Da conquista da pacincia, em face da perseverana que a completa, passa-se autoconfiana, certeza das possibilidades existentes que podem ser aplicadas em favor dos anseios ntimos. Desaparecem o medo e os mecanismos autopunitivos, autoafligentes, que so fatores dissolventes do progresso, da evoluo do ser. Mediante essa conquista, a vontade passa a ser comandada pela mente saudvel, que discerne entre o que deve e pode fazer, quais so os objetivos da sua existncia na Terra e como amadurecer emocional e psicologicamente, para enfrentar as vicissitudes, as dificuldades, os problemas que fazem parte de todo o desenrolar do crescimento interior.
Nesse trabalho, a criana psicolgica, adormecida no ser e que teima por ser acalentada, cede lugar ao adulto de vontade firme e confiante, que programa os seus atos trabalhando com afinco 102
para conseguir resultados satisfatrios. Nessa empreitada ele no deseja triunfar sobre os outros, conquistar o mundo, tornar-se famoso, conduzir as massas, ser deificado, porque a sua a luta para conquistar-se, realizar-se interiormente, de cujo esforo viro as outras posses, essas de secundria importncia, mas que fazem parte tambm dos mecanismos existenciais, que constituem o desenvolvimento, o progresso da sociedade, o surgimento das suas lideranas, dos seus astros e construtores do futuro. Todo esse empreendimento resulta da vontade disciplinada, que se torna o mais notvel instrumento de trabalho para a vitria da existncia fsica do ser pensante na Terra. Equipado por esses instrumentos preciosos, comea o novo ciclo de amadurecimento da criatura humana, que agora aspira conquista do Universo, porquanto o seu cosmo ntimo j est sendo controlado.
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Aes libertadoras
Possuindo os instrumentos hbeis para disciplinar a vontade, mantendo o conhecimento do Si, claro que o indivduo se auto desperta, percebendo a prpria realidade e os objetivos essenciais para desfrutar de uma existncia saudvel, o que no significa viver sem qualquer aflio ou desafio. Antes, havendo adquirido conscincia dos prprios limites, amplia-os em possibilidades de realizao, assim tambm dos fenmenos normais que fazem parte da sua jornada evolutiva. Assim considerando, percebe que deve partir para a ao, porquanto o conhecimento sem a experincia vivida no cotidiano carece de valor para significar equilbrio, por no haver passado pelo teste demonstrativo da sua resistncia. Vive-se, na Terra, o momento do desvelar o que se encontra oculto. No que este seja um perodo pior do que outros que foram ultrapassados. E mesmo caracterizado por muitas bnos advindas do progresso e do desenvolvimento cultural dos seus habitantes, embora ainda permaneam muitos desastres evolutivos em forma de violncia, de desrespeito aos cdigos soberanos da Vida, de desequilbrios em expresses diferentes, mas todos muito graves quo perturbadores. Sucede que muitos dos acidentes morais que chegam ao conhecimento pblico e fazem a felicidade dos tabloides escandalosos e da mdia em geral, que com eles se preocupam, assim interessam s criaturas porque so projees in- conscientes do que est gravado no ntimo dos seres, perma- necendo ocultos. De certo modo, o ser humano sente prazer quando detecta desgraa alheia, vendo-se refletido no outro, que parecia nobre e bom, no entanto portador das mesmas misrias que ele. Como consequncia, compraz-se em divulgar o fato, hipocritamente algumas vezes, dando a impresso de lament-lo, quando o est aplaudindo e ampliando a rea da informao mals, ou simplesmente quando se ergue para agredir em nome da moralidade ou da defesa dos ideais de enobrecimento, assim agindo, irado, porque o outro realizou o que ele gostaria de fazer e no pde, no teve coragem, as circunstncias no lhe facultaram. O comportamento emocional muito complexo para ser reduzido a padres que inspirem segurana e estrutura, em razo 104
do processo de evoluo de cada criatura, ao largo das reencarnaes, tendo como predominncia, em a sua natureza, o perodo multimilenrio de experincias nas
faixas mais primrias do desenvolvimento e pouco tempo no acesso razo, ao discernimento, ao sentimento de amor. As aes, portanto, so o reflexo da fixao das conquistas psicolgicas e intelectuais, tornando-se realidades na pauta do comportamento humano e no inter-relacionamento pessoal. Comeam como tolerncia para com aqueles que se encontram nos patamares inferiores do processo de crescimento moral, ensejando-lhes aberturas fraternais para a sua realizao, ao mesmo tempo auxiliando de forma direta na conquista do necessrio ao seu crescimento interior e externo. A tolerncia real conquista valiosa, que se transforma em degrau de progresso, porque faculta novas expresses de solidariedade, destacando-se o perdo irrestrito a todo mal que se haja feito, com esquecimento real da ofensa. Superar esse desafio significa um passo avanado no processo iluminativo pessoal, que abre campo para as aes da caridade fraternal, do auxlio aos mais necessitados, da presena onde se tornem indispensveis o apoio e a ajuda dignificadora. Ao a palavra de ordem, em todo o Universo. O movimento constitui mecanismo que impulsiona a vida em todos os sentidos. O ser humano somente se identifica com a sua realidade quando age, tornando-se til, desprendido dos bens materiais e das paixes pessoais ainda primitivas. Muitas desgraas que lhe acontecem so lies da vida, cujos bens morais deve compreender e armazenar. Enfermidades inesperadas, acontecimentos desagradveis, mortes prematuras, separaes que surpreendem, acusaes descabidas so ocorrncias que favorecem o enrijecimento do carter do Esprito e que o enobrecem, promovendo-o das faixas psquicas mais pesadas onde se encontra, para que se possa movimentar em outras ondas elevadas que o aguardam no processo de libertao. Por isso mesmo, nem todo infortnio deve ser lamentado, seno aceito de modo positivo, porque a Vida sabe o que necessrio para o ser, proporcionando-lhe conforme a sua capacidade de aceitao e oportunidade de experimentao. 105
Assim realizado, esse ser autodesperto j no pode adiar a sua contribuio em favor do meio social onde vive, passando a agir de maneira infatigvel. As suas aes se tornam fator preponderante para o progresso de todos os demais seres, que agora se lhe tornam irmos, companheiros da mesma jornada. A sua ascenso eleva-os; a sua queda os conduz ao abismo. Sua responsabilidade torna-se expressiva, porquanto, autoconsciente dos compromissos que lhe esto reservados, entende por que se encontra na Terra neste momento e sabe como desincumbir-se dos confrontos e lutas que lhe chegam, preservando os valores morais e humanos que lhe so prprios. Quaisquer conflitos que porventura lhe surjam, agora no constituem mais razo de desequilbrio ou de perturbao, mas oportunidade de ampliar-lhe a capacidade de entender e de solucionar, de crescer infinitamente, porque o seu futuro a conquista do Si plenamente, superando todos os obstculos decorrentes das reencarnaes passadas com vistas nas propostas desafiadoras do futuro.
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9 Relacionamentos Saudveis
A influncia dos mitos na formao da personalidade. Conceitos incorretos e perturbadores. Estabilidade de comportamento.
Relacionamentos saudveis
Ningum consegue viver sem a harmonia do grupo social no qual se encontra. Animal gregrio, o ser humano nutre-se da vibrao e da presena de outro igual, que o estimula para avanar na busca da sua autorrealizao. O relacionamento social de grande importncia para desenvolver os valores que se encontram adormecidos nos refolhos do inconsciente, aguardando os estmulos que os fazem exteriorizar-se, e isso, somente possvel, na convivncia com outros indivduos da mesma espcie. O isolacionismo sintoma de desajuste emocional, portanto de psicopatologia que necessita seja aplicada uma terapia competente. Na convivncia com o prximo, o ser humano lima as arestas interiores e ajusta-se ao grupo, aprendendo que a sua perfeita sintonia com os demais resulta em produo e aperfeioamento moral para todos. O seu crescimento conquista geral, o seu fracasso desastre coletivo. Nesse mister, portanto, descobre a beleza da harmonia, que resulta da perfeita identificao com os componentes do conjunto. Quem duvide do valor da renncia pessoal em favor do aperfeioamento do grupo social, observe, numa orquestra, qualquer instrumento que se destaque, por exibicionismo, destoando da pauta musical, e teremos a tragdia do esforo de todos.
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Assim, portanto, h uma necessidade tica, psicolgica, moral, em favor do relacionamento entre as criaturas, particularmente quando este pode ser saudvel. A sua proposta se faz mediante o intercmbio fraternal, aspiraes culturais, doaes dignificadoras, que se convertem em esforo de construo de momentos enriquecedores. Os estmulos humanos funcionam de acordo com os propsitos agasalhados, porque a mente, trabalhando os neurnios cerebrais, estimula a produo de enzimas prprias aos sentimentos de solidariedade ou s reaes belicosas. Assim, portanto, aspirar a idias de teor elevado e mant-las constitui meio seguro de conseguir-se relacionamentos saudveis.
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A Influncia Dos Mitos na Formao Da Personalidade
Todos os seres so herdeiros naturais das suas experincias transatas. O processo da evoluo antropolgica permanece impresso nos painis do inconsciente profundo, no prprio Esprito, que se socializa e desabrocha as expresses psquicas por intermdio das vivncias sucessivas e ininterruptas, o que lhe faculta crescer e adquirir maior soma de valores intelecto-morais. Os mitos, dessa forma, encontram-se no bojo da sua formao, no dissociados do seu comportamento atual. Atitudes e realizaes, anseios e propostas de variado teor repousam, inconscientes, em mitos que no foram decodificados pela conscincia. O temor a Deus, remanescente do pensamento primrio, mesmo de forma automtica, prossegue conduzindo os indivduos a processos religiosos sem nenhuma estrutura lgica, em forma instintiva de preservao do Si, para a eventualidade de existir um Ser Superior, Criador do Universo. Como consequncia dessa atitude, o comportamento social sempre caracterizado por ameaas, imposies, exigncias descabidas e antolgicas, disfarando o medo que lhe permanece dominador nas fibras do sentimento maldirecionado. No tendo conseguido superar as impresses infantis que ficaram no ntimo, em forma de atitudes injustificveis, o indivduo continua transformando a vida em um proscnio especial para a vivncia dos seus dramas e conflitos interiores, e espera acolhimento da plateia que o cerca. No se conscientizando da realidade do cotidiano, foge para as paisagens das fbulas que lhe encantaram o perodo juvenil e aguarda as presenas fantsticas que lhe retiram os fardos opressores do trabalho, do esforo, das conquistas culturais, elegendo-o como privilegiado e semideus. Sua personalidade experimenta deformao constitutiva e apresenta-se com sinais de morbidez.
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medida que o ser se desenvolve psicologicamente, os mitos, que nele se encontram em forma arquetpica, sofrem transformaes e adaptaes aos mecanismos dos diferentes perodos de crescimento e de amadurecimento. As leves construes fantasistas vo sendo substitudas por novas aspiraes realistas que se fundem na imaginao, abrindo espao para um desenvolvimento equilibrado e saudvel. Na raiz de muitos comportamentos estranhos, encontram-se mitos no diludos, comandando o indivduo que prossegue imaturo. Inmeros desses mitos se originaram em ocorrncias que no puderam ser comprovadas e passaram galeria da imaginao, enriquecidos pelos sonhos e aspiraes de pessoas e geraes sucessivas, que se encarregaram de dar-lhes vida, ora real, em outros momentos com carter apenas simblico. Povos e civilizaes que teriam existido, quais os atlantis e os lemurianos, passaram galeria dos mitos, alguns dos quais enraizados em diferentes Livros sagrados, ao se referirem criao da criatura humana, expulso do paraso, ao dilvio, arca de No, aliana entre a Divindade e o homem, renascendo, mais tarde, nas belas fbulas da ndia, da China, do Tibet, do Japo, nos deuses das grandes civilizaes do norte da frica e do Oriente Mdio, ou, no Ocidente, no Panteo greco-romano, com o surgimento dos deuses-homens e dos homens-deuses, com paixes e sublimaes caractersticas, que se transferem de gerao em gerao at o homem moderno, de alguma forma plasmando--lhe a personalidade. A libertao do mito se torna possvel quando o indivduo se reveste de valor moral e cultural, para enfrentar--se e demitizar- se, resolvendo-se por assumir a sua realidade espiritual.
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A existncia humana, porm, transcorre num mundo assinalado pelos conflitos, pela competio impiedosa, pelo desrespeito aos valores legtimos do ser, empurrando, natu- ralmente, as constituies psicolgicas mais frgeis para a fantasia, para as fugas ocasionais da face objetiva da realidade, onde se resguardam e se preservam com a imaginao, estagnando ou retrocedendo emocionalmente ao perodo infantil. Fobias, insegurana e timidez se exteriorizam nas suas atitudes, que so resultantes da cultura receosa de agresso e descaso pelos aparentemente triunfadores. A imaginao religiosa tem contribudo para a preservao desses mitos, portadores de dons e graas especiais, que so esparzidos com os seus eleitos ou com aqueles que se fazem eleger, atravs dos mesmos processos com que na Terra se conquistam os poderosos, tornando os solicitadores sempre dependentes, sem oportunidade de crescimento interior. Nesse caso esto os gnomos, fadas e anjos, que possuem os ingredientes das imaginaes frteis, tornando-os seres especiais, portadores de poder inimaginvel e de recursos inesgotveis, que pem disposio dos seus aficionados, de todos aqueles que se lhes submetam e prestem culto de adorao. As fantasias desbordam e os excessos seduzem os incautos, que abandonam a lgica da razo para se comprazerem no mercado da iluso, submetendo-se a imposies que no os engrandecem do ponto de vista psicolgico nem cultural. A posse de uma dessas personificaes, que representam imagens arquetpicas das antigas fobias e aspiraes, oferece fora e poder para o indivduo superar a m sorte, as dificuldades do dia a dia, os sofrimentos, e viver privilegiadamente no grupo social, sem sofrer as injunes naturais do processo de crescimento interior.
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Estranhvel seria se a constatao desse culto quase fetichista se desse apenas entre as pessoas de menores possibilidades culturais. Ele est presente em todos os segmentos sociais, e assim se encontra disseminado, porque os Espritos reencarnados procedem de velhos cultos do pretrito, que ainda permanecem assinalados pelos atavismos impressionveis do perodo primitivo do pensamento. A Psicologia Esprita, eliminando os mitos da criao, oferece a viso cientfica dos fatos, estimulando ao crescimento interior, sem receios nem constries prejudiciais razo. A realidade sem crueza, o objetivo sem magia, o subjetivo sem superstio demonstram que a conquista da felicidade e da harmonia pessoal depende do esforo que cada qual empreende para ser livre, para aspirar ao futuro, a fim de voar, no pela imaginao, mas atravs dos recursos psquicos na direo da Conscincia Csmica, que nele se desenvolve a pouco e pouco.
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Conceitos incorretos e perturbadores
O ser humano, imaturo psicologicamente, sofre a angstia das incertezas quanto sua conduta no grupo social em que se encontra. A sua insegurana leva-o, no poucas vezes, a comportamentos dbios, destitudos de significado equilibrador. Sentindo-se sem condio para exteriorizar a realidade que o caracteriza, procura agradar aos demais, sufocando as prprias aspiraes e assumindo posturas que no condizem com a sua forma de ser. Torna-se espelho, no qual refletem as outras pessoas, perdendo a prpria identidade e derrapando em conflitos ainda mais inquietadores. Supondo que essa seria uma forma de encontrar apoio social e emocional, descaracteriza-se e termina por no corresponder ao que espera como xito, porque, por outro lado, as demais criaturas so tambm muito complexas, inseguras, e aquilo que em determinado momento as satisfaz, j no corresponde ao verdadeiro em outra oportunidade. Os relacionamentos degeneram e as suspeitas substituem a aparente estima antes existente, com resultado desgastante para ambas as partes. Nessa situao, o indivduo assume a atitude agressiva, mediante a postura de desvelar-se conforme , esquecendo-se de diluir a insegurana e o dissabor, tornando-se, por isso mesmo, uma presena desagradvel no meio social, que aguarda valores compensadores para a convivncia saudvel, quanto possvel, que redunde em bem-estar e harmonia geral. Essa criatura no sabe realmente o que deseja, para onde ruma e como se comporta, porquanto se encontra em estado de sonambulismo com flash de lucidez, que logo retorna ao nvel de entorpecimento.
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Preocupado com as demais pessoas, esquece-se de si mesmo, desvalorizando-se ou agredindo, quando deveria simplesmente despertar para a sua realidade e a que predomina no lugar em que se encontra. No entanto, nesse torpor robotiza-se, deixando- se conduzir pelas regras que lhe so impostas, mesmo no satisfazendo s exigncias e necessidades que lhe so peculiares, ou seguindo o curso das tradies que nada tm a ver com seu objetivo, ou vitimado por hbitos que so resultantes de heranas anteriores sem nenhuma vinculao com o seu modo de ser, assim deixando-se massificar pela mdia extravagante e dominadora ou pelo grupo social que o asfixia... Ele desejaria ser membro atuante desse grupo, que o repele, ou ele prprio se exila, por no haver compreendido a sua funo existencial. Tornasse-lhes, ento, indispensvel o despertar real, atravs de uma reflexo em torno dos acontecimentos e das suas aspiraes, a fim de situar-se em paz no contexto humano e ser livre, sem exibicionismo narcisista ou timidez depressiva. O apstolo Paulo, agindo de forma psicoteraputica, por observar o letargo em que se encontravam os indivduos do seu tempo, que reflete o nosso tempo atual, proclamou: Desperta, tu que dormes, levanta-te entre os mortos e o Cristo te esclarecer., conforme se encontra na sua admirvel carta aos Efsios, no captulo cinco, versculo quatorze, e a que j nos referimos anteriormente. O sono produz a morte do raciocnio, da lucidez, do compromisso elevado com o prprio Si, e como Cristo dis- cernimento, proposta de vida, conhecimento, necessrio permitir-se a sintonia com Ele, a fim de viver em claridade e sempre desperto para a vida. O processo de libertao impe alguns requisitos valiosos para culminar o propsito, como tais: indagar de si mesmo o que realmente deseja da existncia fsica, como fazer para se identificar com os objetivos que persegue, e avaliar se as aes encetadas levaro aos fins anelados. Trata-se de um empenho resoluto, que no deve estar sujeito s variaes do humor, nem s incertezas da insegurana. Estabelecida a meta, prosseguir arrostando as consequncias da deciso, porque todo ideal custa um preo de esforo e de dedicao, um nus de sacrifcio.
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Libertar-se das bengalas psicolgicas de apoio para as dificuldades constitui um passo decisivo no rumo da vitria. Da mesma forma, a vida exige que o indivduo se libere da autocomiserao, que lhe parecia um mecanismo de chamar a ateno das demais pessoas, que assim passariam a v-lo como um necessitado, portanto, algum carente de afetividade. O mundo real no tem lugar para a compaixo nos moldes da piedade convencional, que no edifica, nem proporciona dignidade a ningum. Na grande luta que se trava, a fim de que a espcie mais forte sobreviva imposta pela prpria Natureza, os fracos, os tmidos, os inseguros, os de comportamento infantil e apiedados de si mesmos ficam margem do progresso, cultivando os seus limites, enquanto o carro da evoluo prossegue montanha acima. No tem a criatura motivo para a autocompaixo. Esse comportamento paranoico injustificvel e resulta da aceitao da prpria fragilidade, que trabalha pela continuao de dependncia dos outros, o que muito cmodo, no campo dos desafios morais. Esse falso conceito de aguardar que os demais o ajudem, apenas porque se apresenta fraco, no tem ressonncia no ser saudvel, que desfruta de lucidez para enfrentar as vicissitudes que desenvolvem a capacidade de luta e de empreendimentos futuros. O indivduo faz-se forte porque tem fortaleza interior aguardando o desabrochar da possibilidade. A sua carga emocional deve ser conduzida e liberada, medida que as circunstncias lhe permitam, entesourando os recursos de realizao e crescimento que esto ao alcance de todos os demais seres. Nos relacionamentos humanos, somente aqueles que oferecem segurana e alegria proporcionam renovao e entusiasmo para o ser consciente. Aprofundar reflexes, em torno do que e do que parece ser, constitui proposta de afirmao da identidade e libertao dos mecanismos de evaso da realidade.
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Estabilidade de comportamento
O comportamento saudvel segue uma linha de direcionamento equilibrado, sem os altibaixos constantes dos transtornos neurticos que produzem instabilidade emocional. A escala de valores adquire inteireza e passa a comandar as atitudes em todos os momentos possveis. O indivduo permanece desperto, atento para as res- ponsabilidades que lhe dizem respeito, no quadro de realizaes humanas e no se apresenta assinalado pelas incertezas e limitaes que antes lhe eram peculiares. H uma lcida integrao nos compromissos que assume e um positivo relacionamento com todas as pessoas, que resulta da autoestima e da aloafeio. Desenclausurado da concha do ego enxerga o mundo de forma correta, compreendendo as suas imposies, mas, sobretudo descobrindo-se como ser eterno, cuja trajetria na Terra tem uma finalidade superior, que a conquista dos recursos que lhe perduram latentes, herana divina aguardando desdobramento. A estabilidade do comportamento no fica adstrita a regras adrede estabelecidas, mas resulta de um amadurecimento ntimo, que ensina como agir diante dos desafios do cotidiano, a enfrentar as situaes menos favorveis, perceber o significado das ocorrncias e a deixar-se preencher pela resultante dos valores do amadurecimento da afetividade.
Com a mesma naturalidade com que enfrenta os momentos de jbilo, atravessa as horas de dificuldade, procurando descobrir a lio oculta em cada experincia, j que todo acontecimento portador de uma mensagem que pode contribuir para o aprimoramento do ser. Por isso, a sua uma forma agradvel de viver, assinalada pela auto identificao e pela autorrealizao.
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Isso no implica ausncia de lutas, antes, pelo contrrio, essas se fazem mais fortes, porque os horizontes a descortinar so mais amplos e os planos de conquistas so mais grandiosos. Surgem como desafios novos e geram dvidas, confuses momentneas, conflitos para a seleo de qualidade... No entanto, so diludos com relativa facilidade esses imperativos, que cedem lugar ao discernimento que seleciona o que deve e o que pode ser executado, sem espao para aflies desnecessrias, que poderiam perturbar o comportamento habitual. As tenses, que so parte das lutas humanas, no conseguem gerar estados estressantes, mostrando-se momentneas e logo passando ao equilbrio e confiana na prpria capacidade de enfrentar problemas e solucion-los de forma saudvel. A esse indivduo de comportamento estvel, se associam as qualidades morais que o tornam um homem ou uma mulher de bem, que se faz portador de conquistas interiores relevantes, que no se confunde nem se perturba nos choques existenciais. Essa pessoa de bem lcida, porque sabe reconhecer os seus limites, porm conhece tambm as infinitas possibilidades de crescimento e se entrega tarefa de alcanar os novos patamares que vislumbra. No se atemoriza ante as propostas de aperfeioamento, porque est acostumada com as realizaes de todo tipo, havendo transposto os limites internos e superado as barreiras externas do convencionalismo, das heranas mticas, das suspeitas injustificadas, tornando-se parte ativa do todo universal, com desempenho individual harmnico que proporciona alegria de viver.
O ser humano, em razo dos atavismos, do adormecimento da conscincia, no tem sabido eleger o que fundamental para a sua existncia transitria no mundo, nem para a sua realidade como ser imortal. Atua por automatismos na busca do prazer e encoraja-se a realizar experincias libertadoras sem entregar-se plenamente a essa meta que lhe deveria constituir o objetivo essencial da sua reencarnao. Aprisionado no corpo, que lhe serve de escafandro especial para o desenvolvimento dos valores morais na Terra, tem dificuldade de ensaiar as emoes superiores, que lhe podem proporcionar equilbrio psquico, e, por consequncia, grande bem-estar fsico, mesmo que sob os flagcios das enfermidades, que lhe constituem processo depurador da organizao biolgica. A forma, no mundo corporal, est sempre em processo de transformao em todas as reas e inevitvel que a enfermidade como desgaste visite-lhe a roupagem orgnica, impondo-lhe as sensaes desagradveis de dor e insatisfao. Todavia, se consegue harmonizar-se com o Cosmo, graas perfeita sintonia entre o Si e o Infinito, supera essas constries de breve durao para viver as elevadas manifestaes do gozo interior, modificando a escala axiolgica habitual e passando a valorizar aquilo que lhe duradouro acenando-lhe com os projetos da imortalidade.
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No se trata de uma viso terica, mas factual essa sobrevivncia destruio molecular, impulsionando desde agora introjeo das conquistas pessoais relevantes, de forma que a conduta seja desenvolvida dentro de um programa criterioso e lcido de objetivos definidos, que iro sendo conquistados de maneira consciente. Essa realidade deve ser buscada como necessidade bsica do seu processo de evoluo, que no deve ser transferido sitie die, tendo em vista a prpria transitoriedade do corpo fsico, no qual se encontra mergulhado.
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Necessidades Humanas
O ser humano estabeleceu como necessidades prprias da sua vida aquelas que dizem respeito aos fenmenos fisiolgicos, com toda a sua gama de imposies: alimentao, habitao, agasalho, segurana, reproduo, bem-estar, posio social. Poderemos denominar essas necessidades como imediatas ou inferiores, sob os pontos de vista psicolgico e tico-esttico. Inevitavelmente, a conquista dessas necessidades no plenifica integralmente o ser e surgem aqueloutras de carter superior, que independem dos contedos palpveis imediatos: a beleza, a harmonia, a cultura, a arte, a religio, a entrega espiritual. Toda a herana antropolgica se situa nos automatismos bsicos da sobrevivncia no corpo, na luta com as demais espcies, na previdncia mediante armazenamento de produtos que lhe garantam a continuao da vida, na procriao e defesa dos filhos, da propriedade... Para que pudesse prosseguir em garantia, tornou-se belicoso e desconfiado, desenvolvendo o instinto de conservao, desde o aprimorar do olfato at a percepo intuitiva do perigo. Desenhadas no seu mundo interior essas necessidades bsicas, indispensveis vida, entrega-se a uma luta incessante, feita, muitas vezes, de sofrimentos sem termos, por lhe faltarem reflexo e capacidade de identificao do real e do secundrio. Aprisionado no crculo estreito dessas necessidades, mesmo quando intelectualizado, sua escala de valores permanece igual, sem haver sofrido a alterao transformadora de objetivos e conquistas. Todas as suas realizaes podem ser resumidas nesses princpios fisiolgicos, inferiores, de resultado imediato e significado veloz. Atormenta-se, quando tem tudo organizado e em excesso, dominado pelo medo de perder, de ser usurpado, e atira-se na volpia desequilibrada de querer mais, de reunir muito mais, precatando-se contra as chamadas incertezas da sorte e da vida. Se experimenta carncia, porque no conseguiu amealhar quanto desejaria, a fim de desfrutar de segurana, aflige-se, por perceber-se desequipado dos recursos que levam tranquilidade, em terrvel engodo de conceituao da vida e das suas metas. Ningum pode viver, certo, sem o mnimo de recursos materiais, uma existncia digna, social e equilibrada. 120
Mas, esse mnimo de recursos pode atender e sustentar outros valores psicolgicos, superiores, que situam o ser acima das circunstncias oscilantes do ter e do deixar de ter. A grande preocupao dever ser de referncia a como conduzir-se diante dos desafios da sua realidade, no excogitada como essencial para a prpria auto identificao, autorrealizao integral. A luta cotidiana produz resultados imediatos, que contribuem para atender as necessidades bsicas da existncia, mas indispensvel alongar-se na conquista de outras importantes exigncias da evoluo, que so as de natureza psicolgica, que transcendem lugar, situao, posio ou poder. Enquanto um estmago alimentado propicia reconforto orgnico, uma conversao edificante com um amigo faculta bem-estar moral; uma propriedade rica de peas raras e de alto preo oferece alegria e concede comodidade, mas um momento de meditao enriquece de paz interior inigualvel; o apoio de autoridades ou guarda-costas favorece segurana, em muitos casos, entretanto a conscincia reta, que resulta de uma conduta nobre, proporciona tranquilidade total; roupas expressivas e variadas ajudam na aparncia e agradam, no entanto, harmonia mental e correo de trato irradiam beleza incomum; o frenesi sexual expressa destaque na vida social, todavia, o xtase de um momento de amor profundo compensa e renova o ser, vitalizando-o; a projeo na comunidade massageia o ego, mas a conquista do Si felicita interiormente... As necessidades bsicas fisiolgicas so sempre acompanhadas de novas exigncias, porque logo perdem a funo. Aquelas de natureza psicolgica superior se desdobram em va- riantes inumerveis, que no cessam de proporcionar beleza. Por isso mesmo, a realidade do ser est alm da sua forma, da roupagem em que se apresenta, sendo encontrada nos valores intrnsecos de que constitudo, merecendo todo o contributo de esforo emocional e moral para conseguir identificar-se. Somente a a sade se torna factvel, o bem se faz presente e os ideais de enobrecimento da sociedade como da prpria criatura se tornam legtimos, de fcil aquisio por todo aquele que se empenha na sua conquista.
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Lutas conflitivas
A experincia vivencial feita de lutas. No passado remoto, o mais forte venceu a fragilidade do outro e imps-se, abrindo o campo da evoluo antropolgica. medida que o crebro foi-se desenvolvendo sob o imprio do psiquismo espiritual e tornando- se mais complexo, a inteligncia contribuiu para que o processo de vitria se fizesse menos agressivo, embora ainda predomine na criatura humana uma soma de manifestaes da natureza animal. O ser, no entanto, j discerne, repetindo as lutas cruentas por atavismo e sentido de perversidade, muitas vezes patolgica, que lentamente sero superadas pela fora mesma da evoluo. Apesar disso, abandonar os patamares mais imediatos, do que considera como necessidade de sobrevivncia, exige uma luta feita de conflitos entre o que se desfruta e ao que se aspira, o que se tem e o que se pode e deve conseguir. Essa luta tem muito a ver com os hbitos ancestrais que deixaram sulcos profundos no inconsciente e que se repetem por quase automatismo que razo compete superar. Nesse esforo ressurgem as impresses das reencarnaes prximas, caracterizadas pela predominncia do instinto, sem matrizes dominantes da razo e do sentimento de solidariedade. Reaparecem, ento, como tormentos ntimos, frustraes e desaires que atormentam, exigindo terapia conveniente e esforo pessoal, a fim de ultrapassar os limites impostos pelas circunstncias. Da mesma forma que existe o fototropismo, o heliotropismo, podemos encontrar na vida um psicotropismo superior propelindo os seres iniciantes a crescer, a se direcionar no rumo do Pensamento Causai e Organizador de tudo. inevitvel essa atrao e ningum pode fugir-Lhe ao imperioso magnetismo, que vitaliza tudo e a tudo envolve.
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A luta, porm, trava-se no mago do ser acostumado ao menor esforo e muitas vezes explorao do trabalho alheio. Nessa ascese, cada qual desempenha um papel importante e ningum pode viver por outrem o compromisso que lhe cabe atender. Esse crescimento feito com suot e esforo bem-direcionado que, por isso mesmo, compensa e fascina abrindo novas oportunidades e desenvolvendo outras propostas de integrao, que no mais se compadecem com a autocomiserao, nem com a angstia, medo, limites a que se est acostumado. O desafio da evoluo grandioso e todos os seres so conduzidos inevitavelmente sua conquista. Como luta pode oferecer resultados sempre melhores, porque fortalece aquele que combate, essa, a da evoluo das necessidades bsicas para as libertadoras, superar os conflitos em que o ser vem mergulhado, libertando-o das amarras que o prendem na retaguarda do progresso. Os seres humanos que caminham sob o jugo da insegurana pessoal, diante da vida, aclimatam-se s regies de sombras, porque a se refugiam para prantearem os limites em que se comprazem, temendo tomar decises que os libertariam, mas que, por outro lado, exigem-lhes o denodo, o sacrifcio e a coragem para no desistir. Comeada essa batalha nova, a de conquistar os espaos da evoluo, mesmo sob conflitos perturbadores, d-se o primeiro passo, que logo ser seguido por outros, at o momento em que o prazer de ser livre se torna o emulador para mais audaciosas realizaes. Ningum, portanto, aspire a vencer, aguardando que outros realizem o esforo que lhe cumpre desenvolver, porque a conquista pessoal e intransfervel, no havendo lugar para fraude ou enganos. Quando o homem primitivo ergueu os olhos para o Infinito, atemorizou-se e curvou-se ante a majestade que no conseguiu entender. Lentamente, porm, perscrutando a Natureza e exercitando-se, passou do instinto grotesco para os mais refinados e abriu o campo da razo, que lhe faculta alcanar as primeiras manifestaes da intuio que lhe ser patrimnio futuro, quando totalmente livre dos imperativos da matria.
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Assim, a luta conflitiva cede lugar de natureza consciente e racional, porque apresenta a meta a ser conquistada, sem cuja vitria o sofrimento permanece como ditador, impondo as suas diretrizes arbitrrias e nem sempre necessrias. A vida no exige dor, mas brinda amor. A primeira experincia para vivenciar o segundo, que no tem sido valorizado como necessrio. Desse modo, os mecanismos da evoluo se impem como necessidades de um nvel mais avanado, as tico-mo-ral- estticas, que fomentaro outras mais grandiosas que se tornaro de natureza metafsica, porque penetraro as regies mais altas do processo de crescimento da vida.
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Autorrealizao
Considerando-se o imperativo das necessidades imediatas, as fisiolgicas, como essenciais preservao do corpo e movimentao no grupo social, deem-se espaos para as de natureza esttica, aquelas que embelezam a vida e so o prtico para o encontro com as metanecessidades. O homem e a mulher, despertos para os deveres, atravessam os diferentes estgios das necessidades primrias sem apegos ou aprisionamentos, conseguindo perceber que as conquistas culturais e artsticas que lhe proporcionam a viso esttica e deslumbram, sensibilizam o crebro emocional sob o entendimento e absoro dos seus contedos pela razo. Transposta esta fase, detectam as metanecessidades, que se apresentam como fortes apelos para o autodescobrimento, para a interiorizao, por cujos meios podero conseguir a autorrealizao. Esse processo d-se lentamente como decorrncia da insatisfao advinda dos valores reunidos, diante dos quais, porque j conseguidos, os estmulos para o prosseguimento da luta diminuem, perdendo a empatia e a significao que antes conduziam com entusiasmo para alcan-los. Noutras vezes, surgem como insights que abrem as percepes para a realidade transpessoal, que ora deixa de ser um epifenme no do sistema nervoso central ou uma alucinao, para apresentar-se com estrutura constituda e tornar-se realidade. A pessoa que se encontra nesse patamar do processo de crescimento psicolgico medita em torno dos objetivos existenciais e anela pelo prosseguimento da vida, que no termina com a morte orgnica. Descobrindo-se como um feixe de energia, sob a ao e comando da conscincia que pensa, identifica a leveza das teses materialistas e imerge no oceano ntimo, liberando o inconsciente sagrado, que faz despojar-se do primarismo, porque ascende vibratoriamente s regies causais da vida, passando a sintonizar com as foras vivas e atuantes do Pensamento Divino.
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Controla a mquina orgnica e suas funes, conseguindo desenovelar-se dos liames perispirituais e viajar pelo veculo da psiconutica, inebriando-se e vitalizando-se de tal forma, que todas as aspiraes passam a centrar-se no ser real, integral, que o Esprito. Um regozijo intenso invade esse novo nauta, que se autor realiza. As metanecessidades se fazem imperiosas, desdobrando painis mais amplos quo atraentes, que, penetrados, mais favorecem com jbilo. Esse ser torna-se, ento, o seu prprio terapeuta e no mais tomba nas torpezas habituais, ancestrais, livre, por fim, dos condicionamentos viciosos e perturbadores, porque aspirou a outras paisagens enriquecedoras, de psicosfera mais pura e penetrante, e as viveu. O apstolo Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses - I Captulo cinco, versculo dezesseis - props, com nfase, aps retornar de uma dessas meta excurses: - Regozijai-vos sempre. A proposta psicoterpica que ele oferece concisa e sem comentrios, como imposio para uma autorrealizao imediata, sem fugas espetaculosas nem justificativas desnecessrias. No se refere ele ao regozijo das horas alegres nem dos momentos felizes apenas, ou de quando tudo transcorre bem e de modo confortador, de realizaes em clima de paz, porm, sempre, em qualquer circunstncia, o que implica viver o regozijo nos momentos difceis e provacionais, por saber que ele tem importncia liberativa, portanto, motivos justos para serem frudos. O imperativo se estende, numa anlise profunda, em torno das ocorrncias desagradveis e aparentemente danosas, como aquelas que surgem com as tormentas fsicas e morais, que passam deixando destroos e mutilaes, que so convertidas em renovao e recomeo. Assim, a metanecessidade conclama mudana de comportamento, transformando amargura em sorriso, revolta em abnegao, mgoa em perdo, desencanto em esperana, com que so superados os fatores de perturbao e conquistados os tesouros iluminativos.
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Galgando degraus ascendentes, a pessoa desperta rompe a treva ntima com a adaga de luz da autorrealizao. No abandonando as tcnicas e recursos da orao, dilui ansiedades e conflitos; da concentrao nas metanecessidades, aps suprir as fisiolgicas e tico-estticas, aprofunda-se na meditao, de cujo exerccio retorna para a ao do bem, do amor e da libertao de vidas. Essa magnfica odisseia pode e deve ser tentada em qualquer perodo da existncia, mesmo sob o aodar das necessidades fisiolgicas, elegendo uma metanecessidade e empenhando-se para atend-la. O tentame deixar sulcos e sinais fecundos na conscincia, que aspirar por novos logros, criando o hbito de nutrir-se com essas vibraes de retempera para o nimo, motivadoras de libertao das bsicas e imediatas necessidades primrias. O ser avana da ignorncia para o conhecimento, da forma abrutalhada para a essncia superior, autor realizando-se, vivenciando a prpria imortalidade, que nele se encontra estabelecida.
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11 VlDA: DESAFIOS E SOLUES
O Crebro Intelectual e o Crebro Emocional. Meditao e visualizao. O pensamento Bem-Direcionado.
vida fsica uma experincia iluminativa que enfrenta inumerveis desafios, no seu processo de crescimento, exigindo esforos bem-direcionados, a fim de os solucionar. O ser humano, graas ao seu instinto gregrio, est fadado construo do grupo social, no qual se realiza, recebendo auxlio e oferecendo recursos que so somados aos contributos do passado, de forma que a existncia se torne mais agradvel e enriquecedora. No entanto, em razo dos seus atavismos e vinculaes s atitudes agressivas, padece as injunes constritoras que o asfixiam em conflitos, atormentando-o continuamente. Ao liberar-se, no raro, de uma dificuldade defronta outra, porque impelido ascenso e toda ascese exige sacrifcio, renncia e dedicao. Para onde se volta depara convites ao crescimento, ao mesmo tempo testemunhos que o assustam. Se amadurecido, considera cada vitria uma oportunidade de evoluo, que o colocar diante de novos desafios, qual ocorre com os fenmenos da prpria existncia, que faculta vises diferentes da realidade de acordo com os perodos que so vividos. Em cada etapa h uma escala de valores que tm um grande significado. Logo depois de ultrapassada, surgem novos, que passam a interessar e a exigir esforos do indivduo. Se, todavia, no desenvolveu a escala de autodescobrimento, de maturidade, mergulha nos complexos dramas do desequilbrio, perdendo-se no emaranhado das paixes e dos tormentos que o alienam.
Viver construir-se interiormente, superando cada patamar da evoluo mediante o burilamento de si mesmo. No uma tarefa simples, porque tem muito a ver com a realidade moral e 128
espiritual da criatura, que chamada a um incessante trabalho de autovalorizao, de aperfeioamento ntimo, com superao das dependncias que a amesquinham. Convidada s conquistas exteriores, multiplicam-se--Ihe os estados perturbadores na rea da emoo: estados fbicos, complexos de inferioridade ou de superioridade, narcisismo, egolatria, ressentimentos, inquietaes quanto ao futuro, carncia afetiva, transtornos neurticos e psicticos em variada gama, que no sabe como administrar, em razo da falta de hbito de adentrar-se interiormente, a fim de saber exatamente o que deseja da atual existncia. Acomodada, por hbitos ancestrais, receia autodescobrir-se, justificando no saber como enfrentar-se, j que durante todo o tempo esteve fugindo da sua realidade. Nesse estgio, a viagem interior para solucionar os desafios faz- se inadivel, sem reserva, sem retrica.
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O Crebro Intelectual E O crebro Emocional
Durante os ltimos oitenta anos, aproximadamente, a Psicologia esteve aprisionada no conceito do crebro intelectual, que se exteriorizava atravs dos QIs, cuja escala de valores estabelecia os crditos dos que deveriam triunfar na existncia fsica. Todos aqueles que fossem bem-dotados intelectualmente, de certo modo, eram tidos como futuros triunfadores, passando a uma atitude quase arrogante em relao s demais pessoas, como se no necessitassem de mais nada para conseguirem a vida feliz que todos anelam. Valorizando-se os resultados dos testes de Binet e Simon, graas sua escala mtrica da inteligncia, no se levava em conta as emoes do indivduo, que poderia ser comparado a um rob com capacidade de enfrentar os problemas e solucion-los com frieza, equipado que se encontrava pela inteligncia para os mais graves cometimentos existenciais. A verdadeira ditadura dos elevados QIs selecionava os tipos eleitos pela natureza, abrindose-lhes as portas para o triunfo, criando, desse modo, uma casta privilegiada, que deveria conduzir as mentes humanas e a sociedade em geral. Os resultados, porm, na prtica, no corresponderam s expectativas dos seus formuladores. Naturalmente, o indivduo bem-dotado de inteligncia encontra mais facilidade para solucionar os desafios das situaes mais graves. Todavia, h outros fatores de muita importncia que devem ser levados em conta e que dizem respeito ao crebro emocional, porquanto o ser humano , antes de tudo, um feixe de emoes, que o dirigem, condicionam, elaboram programas para a sua estrutura psicolgica, contribuem para a sua autorrealizao.
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Foi possvel observar-se, com o passar do tempo, que homens e mulheres superdotados no lograram o xito desejado por falta de vontade para a luta, por acomodao ou eleio de outros valores-prazeres que os dificultaram na conquista do bem-estar. Simultaneamente, outros com menor capacidade intelectual, variando entre 90 a 100, conseguiram realizar e realizar-se, em face da tenacidade e esforo moral para alcanar os patamares, que se prometeram e no pararam de lutar sem os atingir. Muitas vezes tm sido encontrados aqueles que alcanaram o expressivo QI de 160 e, no obstante, so dirigidos por outros que no passaram de 100... As habilidades relacionais e emocionais so fundamentais para o xito do ser humano e no apenas as resultantes da sua inteligncia. Defronta-se, ento, no momento, uma nova proposta, que diz respeito ao desenvolvimento da inteligncia interpessoal, que se responsabiliza pelo relacionamento social, pela observao e acompanhamento das ocorrncias, pela capacidade de poder discernir, respondendo de forma consciente aos variados estados espirituais, aos diferentes temperamentos com os quais se deve lidar, aos cuidados que devem ser direcionados no trato com as demais pessoas, que extrapolam robotizao intelectual. Em razo disso, necessrio harmonizar emoo e pensamento, de forma que se ajudem mutuamente, a emoo dando calor razo que, por sua vez, oferecer entendimento ao corao, evitando sempre a permanncia em uma nica vertente da realidade que constitui o ser humano. As emoes, naturalmente, quando maldirecionadas perturbam o pensamento, dificultando a concentrao e trabalhando em sentido diferente do intelecto. Da mesma forma, a inteligncia fria e lgica cria obstculos doao afetiva, concentrao emocional, tornando o indivduo destitudo de amor e de sensibilidade. Ele pode expressar toda a beleza, descrever toda a harmonia, narrar toda a grandeza da vida, sem nada sentir, fazendo-o apenas de forma intelectual, sem vida.
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Quando h predominncia da emoo, as atitudes so embaraosas, e a pessoa simplesmente no consegue pensar corretamente, discernir entre o certo e o errado, criando dificuldades de comportamento. A neurocincia denomina o fenmeno como decorrente da memria funcional, que se localiza no crtex pr-frontal. E necessrio, portanto, que, no festival da vida, as emoes convivam bem com a racionalidade, a fim de que sentimento e pensamento deem-se mutuamente contribuio, para o cometimento dos resultados felizes nas decises e condutas humanas. A criatura, conclumos, possuidora de dois crebros: o emocional e o racional, que poderamos denominar como dois tipos de inteligncia ou, mesmo, dois tipos de mentes. O desenvolvimento de ambos os fatores responde pelos sucessos ou pelos prejuzos que afetam as criaturas humanas.
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Meditao E Visualizao
Para um bom desempenho existencial, um adequado processo de evoluo, torna-se indispensvel uma anlise profunda do Si, a fim de enfrentar a vida com os seus desafios e encontrar as convenientes solues. Entre os muitos mtodos existentes, somos do parecer que a meditao, destituda de compromissos religiosos ou vnculos sectaristas - mais como terapia que outra qualquer condio - oferece os melhores recursos para a incurso profunda. Diferentes Escolas apresentam mtodos diferenciados, cada qual mais exigente nos detalhes, como certas da excelncia dos seus resultados, que merecem nosso respeito, mas no o nosso acatamento para o fim a que nos propomos neste contexto de pensamento e de identificao. Assim, importantes no sero a postura, as palavras mntricas, as melodias condicionadoras, mas os meios que sejam mais compatveis com cada candidato e suas resistncias psicolgicas. E sempre ideal que se tenha em mente a boa respirao, como forma de eliminar o gs carbnico retido nos pulmes por deficincia respiratria, e, lentamente, a eleio de uma postura que no se faa pesada, cansativa, constritora. Logo depois, seja selecionado o em que meditar e como faz-lo. Como a nossa proposio no se refere s tcnicas da meditao transcendental ou outras determinadas, muito conhecidas no Esoterismo, na Yoga, etc, sugerimos que o indivduo procure relaxar-se ao mximo, iniciando pela con- centrao em determinadas partes do corpo, a saber: no couro cabeludo, na testa, nos olhos - cerrados ou no, como for melhor para cada um - na face e descendo at os dedos dos ps. A repetio do exerccio criar um novo condicionamento mental, induzindo o pensamento a permanecer firme nas metas que lhe so apresentadas, e raciocinando, que a sua principal peculiaridade. No incio no seria conveniente ouvir msica, a fim de evitar criar dependncia desse gnero. Mais tarde, quando j aclimatado experincia, a msica poder exercer uma funo igualmente teraputica, contribuindo para o relaxamento. 133
Deve-se ter em mente o tempo disponvel. De incio, o esforo deve ser breve e, vagarosamente, ampliado at o suportvel com bem-estar e sem preocupao, atingindo--se depois o limite desejvel de trinta ou sessenta minutos, conforme as possibilidades individuais. No h regras rgidas estabelecidas, antes propostas que facultem a educao da mente e criem o hbito da interiorizao, em face do contubrnio em que se vive, distante de todo processo que induz ao silncio mental, ao equilbrio das emoes, harmonia do pensamento. A mente um corcel rebelde, que necessita ser domada pelo exerccio de direcionamento a valores que elevem e dignifiquem o ser. A polivalncia de preocupaes, de apelos, de necessidades deixa-a sempre agitada ou esgotada, incapaz de novas contribuies, quando so solicitadas colaboraes inabituais, gerando dificuldade de concentrao e de captao de idias diferentes. Criada a atmosfera de relaxamento sem dificuldade, com a respirao pausada, em tempos especficos de inspirar com a boca cerrada, reter, mantendo-a ainda fechada, e expirar, abrindo-se suavemente os lbios, modifica-se esse tipo de estrutura convencional, a que se est acostumado, dando-se lugar a um novo mtodo saudvel de absoro e eliminao do ser. Perceber-se-, aos primeiros dias do exerccio, uma renovao orgnica, muscular e melhor disposio para as atividades, como efeito da boa respirao, passando-se ento para a visualizao, que um mtodo de enriquecer o pensamento e a memria, despojando a ltima das fixaes pessimistas e inquietadoras que se tornaram habituais. Basta que se pense em uma regio agradvel: praia tranquila, bosque perfumado, jardim colorido, regato cantante e manso, lago espelhado, montanha altaneira, recanto bonito, qualquer lugar que oferea uma paisagem, uma viso encantadora e confortante, para poder transferir-se mentalmente para a mesma.
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Conservando o relaxamento e a respirao, a mente que elabora o lugar ou a memria que traz de volta um referencial sedutor, como cromo festivo, deve fixar o pensamento e a viver as agradveis harmonias, enquanto se deixa penetrar pelas foras ignotas da Natureza, facultando a sintonia com a Energia Divina, que se encontra em toda parte, abrindo espao para as influncias dos Espritos superiores, que se utilizam desses momentos, a fim de auxiliarem os seus pupilos, particularmente aqueles que esto interessados no prprio crescimento moral. Quando estiver estabelecido esse novo hbito, deve--se visualizar um acontecimento agradvel que se encontra guardado no inconsciente, retirando-o dali pela memria ativa e voltando a experiment-lo de tal forma, que se torna vivido e saudvel, proporcionando o mesmo bem-estar daquela oportunidade ora passada. Esse expediente auxiliar a emoo a reviver cenas felizes, que esto sepultadas sob os desencantos e problemas acumulados, que ora constituem carga emocional muito desagradvel e inquietadora. Com esse mtodo fcil de reviver a felicidade, podem--se visualizar, tambm, momentos desagradveis, ocorrncias ms, que deixaram resduos cidos e ressentimentos
graves desculpando o ofensor, distendendo-lhe o perdo, retirando-o dos arquivos do inconsciente e liberando-se para preencher o espao com acontecimentos vitalizadores. Por fim, visualizar uma grande luz com tonalidades suaves e penetrantes, deixando que se lhe adentre pelo centro coronrio, invadindo o aparelho circulatrio, a partir do crebro e tomando todo o organismo, lentamente, liberando-o das energias deletrias que facultam a instalao de microrganismos destruidores e de larvas mentais, formas--pensamento e outros, que contribuem para o surgimento de enfermidades degenerativas. Com a fora mental deve-se empurrar os impedimentos que a luz encontre nas artrias, veias e vasos, at que todo o corpo interiormente seja uma torrente luminosa. Durante trs a cinco minutos permanecer em estado de claridade interior teraputica, mantendo o pensamento na visualizao salutar e volvendo ao ambiente onde se encontra, sem pressa e com tranquilidade. 135
E claro que se deve selecionar o lugar onde se vai meditar e visualizar, a fim de que nada preocupe, nem crie embarao ou perturbao. Passado o exerccio, conservar a experincia com naturalidade quanto possvel nos painis mentais, at que outras preocupaes lhe tomem o lugar, sem gerar aflio. Com essa tcnica simples apresentamos uma forma teraputica para a libertao de alguns conflitos, que devem ser trazidos, um a um, visualizao, atravs do tempo, superando-os ou diluindo-os. Caso permaneam alguns mais difceis de liberao, evidente que a pessoa necessita de um grupo de apoio, ou de um psicoterapeuta para tanto, credenciado pelas Academias. A viso da Psicologia Transpessoal sobre a criatura favorece-a com possibilidades inimaginveis de auto encontro, para uma autorrealizao que vai sendo conseguida com esforo e prtica de boas aes, que se encarregam de restaurar os crditos morais que as atitudes das encarnaes passadas desperdiaram, gerando efeitos danosos para a atual. Como todos esto na Terra para serem felizes e superarem os impedimentos perfeio que lhes est destinada, todo o esforo e empenho moral envidados contribuem para a harmonia e felicidade.
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O Pensamento Bem-Direcionado
O pensamento fora viva e atuante, porque procede da mente que tem a sua sede no ser espiritual, sendo, portanto, a exteriorizao da Entidade eterna. Conforme o seu direcionamento, manifesta-se, no mundo das formas, a sua realizao. A sua educao relevante, porque se torna fator essencial para o enfrentamento dos desafios e encontro das solues necessrias vida saudvel. Normalmente, em razo do hbito de mal pensar, os indivduos asseveram que tudo quanto pensam de negativo lhes acontece, e no se do conta de que so, eles prprios, os responsveis pela construo mental do que anelam, inconscientemente, e elaboram pelo pensamento. Alterassem a forma de encarar a vida e de pensar, e tudo se modificaria, tornando-se lhes a existncia mais apetecvel e positiva. A Neurolingustica demonstra que as fixaes mentais contribuem para as realizaes humanas, e a Neurocincia confirma o poder da fora mental na atividade humana. de mau vezo cultivar-se pensamento destrutivo, pejorativo, perturbador, porquanto a sua emisso vai criar fatores que lhe facultam a condensao na rea das emoes, das realidades fsicas. Sempre que se pensar a respeito de uma ocorrncia desagradvel que se espera acontea, e constate que a mesma sucedeu, estar na hora de alterar a maneira de elaborar as idias, construindo-as de forma edificante ou positiva. Ver-se- que se alteraro os acontecimentos, tornando-os mais felizes e confortadores. No desejamos com isso afirmar que, com o simples fato de elaborar-se uma ideia, necessariamente, acontecer como se quer ou como se planeja. No entanto, a onda mental emitida se transforma em fator propiciatrio, que ir contribuir para tornar vivel o desejo, que deve ser acompanhado do empenho, do esforo para torn-lo real, construtivo e edificante.
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Vitimado por uma necessidade masoquista, o ser humano, que gosta de chamar a ateno pela piedade e no pelos seus incomparveis valores morais, intelectuais, culturais, sociais e outros, sempre se fixa nos complexos de desgraa, cultivando mentalmente as atitudes que geram infelicidade, assim desenvolvendo uma grande capacidade para produzir os efeitos. Modificando a estrutura psicolgica, pelo sanear do conflito a que se apega, deve direcionar a fora mental para a sua realizao, a fim de que lhe surjam fatores especiais que o auxiliem na modificao das paisagens ntimas e das ocorrncias externas, desde que est programado pelo Pensamento Divino para alcanar os patamares mais elevados da vida. Necessrio que se adapte s alturas, de forma que o crescimento se d natural e caracterizado pelas bnos da alegria, da sade, da ventura. A harmonia que predomina no Universo igualmente se encontra no ser humano, que momentaneamente est em desenvolvimento dessas belezas que cantam em toda parte, emulando-o ao avano sem repouso, ao trabalho sem fadiga, edificao do melhor em todos os momentos. Desse modo, os desafios existenciais fazem parte da vida, sem os quais o ser seria destrudo pela paralisia da vontade, dos membros, das aspiraes, que se transformariam em doentia aceitao dos nveis inferiores do estgio da evoluo. Viajar no rumo do inconsciente para liber-lo das heranas primrias e enriquecer o Si com a luz do discernimento elevado, em ininterrupto esforo de engrandecimento e sintonia com a Vida, a finalidade precpua da reencarnao, que liberta o Esprito da roda automtica das experincias do ir-e-vir sem conquistas correspondentes s propostas da Divindade. E porque esse fenmeno de conquista do Infinito no cessa, terminada uma etapa outra surgir mais desafiadora, e mediante essas vitrias o ser se plenifica e se torna uno com Deus.
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Joanna de ngelis, que realiza uma experincia educativa e evanglica de altssimo valor, tem sido nas suas diversas reencarnaes, colaboradora de Jesus: a ltima ocorrida em Salvador (1761 - 1822), como Sror Joana Anglica de Jesus, tornando-se Mrtir da Independncia do Brasil; na penltima, vivida no Mxico (1651 - 1695), como Sr Juana Ins de La Cruz, foi a maior poetisa da lngua hispnica. Vivera na poca de So Francisco (sculo XIII), conforme se apresentou a Divaldo Franco, em Assis. Tambm vivera no sculo I, como Joana de Cusa, piedosa mu- lher citada no Evangelho, que foi queimada viva ao lado do filho e de cristos outros, no Coliseu de Roma. At o momento, por intermdio da psicografia de Divaldo Franco, autora de mais de 60 obras, 31 das quais traduzidas para oito idiomas e cinco transcritas em Braille. Alm dessas obras, j escreveu milhares de belssimas mensagens.