Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre o paisagista Fernando Chacel e seu conceito de ecogênese. A dissertação discute a paisagem cultural e ambiental do Rio de Janeiro, analisa três parques projetados por Chacel aplicando o conceito de ecogênese, e traça a biografia e obra teórica deste importante paisagista brasileiro.
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre o paisagista Fernando Chacel e seu conceito de ecogênese. A dissertação discute a paisagem cultural e ambiental do Rio de Janeiro, analisa três parques projetados por Chacel aplicando o conceito de ecogênese, e traça a biografia e obra teórica deste importante paisagista brasileiro.
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre o paisagista Fernando Chacel e seu conceito de ecogênese. A dissertação discute a paisagem cultural e ambiental do Rio de Janeiro, analisa três parques projetados por Chacel aplicando o conceito de ecogênese, e traça a biografia e obra teórica deste importante paisagista brasileiro.
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre o paisagista Fernando Chacel e seu conceito de ecogênese. A dissertação discute a paisagem cultural e ambiental do Rio de Janeiro, analisa três parques projetados por Chacel aplicando o conceito de ecogênese, e traça a biografia e obra teórica deste importante paisagista brasileiro.
Baixe no formato PDF, TXT ou leia online no Scribd
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 179
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM URBANISMO - PROURB
PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE
MIRIAN MENDONA DE CAMPOS CURADO MIRIAN MENDONA DE CAMPOS CURADO MIRIAN MENDONA DE CAMPOS CURADO MIRIAN MENDONA DE CAMPOS CURADO
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Urbanismo - PROURB - da Faculdade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessrios para obteno do grau de Mestre em Urbanismo.
Orientadora: Prof a Dr a ROSNGELA LUNARDELLI CAVALLAZZI Co-orientadora: Prof a Dr a LCIA MARIA S ANTUNES COSTA
Rio de Janeiro - RJ - Brasil Dezembro | 2007
2
Curado, Mirian Mendona de Campos C975 Paisagismo contemporneo: Fernando Chacel e o conceito de ecognese./ Mirian Mendona de Campos Curado. - Rio de Janeiro: UFRJ/FAU, 2007. 177 f.: :: : il.; 21 cm. Orientador: Rosngela Lunardelli Cavallazzi. Dissertao (mestrado) - UFRJ/PROURB/ Programa de Ps-Graduao em Urbanismo, 2007. Referncias bibliogrficas: f. 136-142. 1. Paisagismo. 2. Ecossistemas. I. Chacel, Fernando, - Paisagista. II. Cavallazzi, Rosngela Lunardelli. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Ps-Graduao em Urbanismo. IV. Ttulo.
CDD 712
3 Rio de Janeiro, dezembro de 2007.
PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE
MIRIAN MENDONA DE CAMPOS CURADO MIRIAN MENDONA DE CAMPOS CURADO MIRIAN MENDONA DE CAMPOS CURADO MIRIAN MENDONA DE CAMPOS CURADO
Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno de ttulo de mestre em Urbanismo e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Prof Lcia Maria S Antunes Costa, Dra. Prof Lcia Maria S Antunes Costa, Dra. Prof Lcia Maria S Antunes Costa, Dra. Prof Lcia Maria S Antunes Costa, Dra. Co-orientadora UFRJ
Prof. Jos Francisco Bernardino Freitas, Dr. Prof. Jos Francisco Bernardino Freitas, Dr. Prof. Jos Francisco Bernardino Freitas, Dr. Prof. Jos Francisco Bernardino Freitas, Dr. Membro externo UFES
A Sonia Luiza (in memoriam), minha me, que com ar visionrio me ensinou a acreditar no sonho de uma humanidade melhor. A Carlos Herclio, meu pai, pelo apoio incondicional em todos os momentos da minha vida e pelo incentivo carreira acadmica. A Rosngela, pela orientao em todos os sentidos, pelo carinho e estmulo sempre necessrios durante todo o processo. A Lcia Costa e Ivete Farah pelos conselhos paisagsticos. A Lia Gianelli pelas conversas e trocas de idias. Aos colegas do PROURB, a mega-liga, pela amizade, pelas reunies inesquecveis. Aos funcionrios do PROURB, Keila, Carlos e Dona Francisca pela gentileza e ateno. A Caco Scarlatelli pela digitalizao e edio da entrevista. A Felipe Cohen, meu amor e amigo, pela filmagem da entrevista, pelas fotografias e manipulao das imagens, pelas noites mal dormidas, pelo companheirismo. equipe da CAP, a arquiteta Beth Cohen e a secretria Cludia, pela eficincia em disponibilizar todas as informaes. E, principalmente, a Fernando Chacel Fernando Chacel Fernando Chacel Fernando Chacel, por sua amabilidade, por sua obra.
5 PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: PAISAGISMO CONTEMPORNEO: FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE FERNANDO CHACEL E O CONCEITO DE ECOGNESE
SUMRIO SUMRIO SUMRIO SUMRIO
SUMRIO...............................................................................................................................................5 RESUMO................................................................................................................................................7 ABSTRACT ..............................................................................................................................................8 APRESENTAO.....................................................................................................................................9 1. PAISAGEM CULTURAL E MEIO AMBIENTE.......................................................................................14 1.1. CONSIDERAES SOBRE A PAISAGEM.................................................................................15 1.2. PAISAGEM NATURAL E PAISAGEM CULTURAL.........................................................................18 1.3. PAISAGISMO OU ARQUITETURA DA PAISAGEM.....................................................................21 1.4. A NATUREZA E A CIDADE .....................................................................................................23 1.5. MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS ...........................................................................................29 2. RIO DE JANEIRO: ASPECTOS AMBIENTAIS E CULTURAIS.................................................................33 2.1. OS ECOSSISTEMAS DO RIO DE JANEIRO..............................................................................36 2.1.1. MATA ATLNTICA ...............................................................................................................37 2.1.2. MANGUEZAL......................................................................................................................38 2.1.3. RESTINGA ..........................................................................................................................41 2.1.4. OCUPAO DE MANGUEZAIS E RESTINGAS NO RIO DE JANEIRO.......................................43 2.2. O PARQUE BRASILEIRO: A CONTRIBUIO DE GLAZIOU......................................................45 2.3. FLORESTA DA TIJUCA...........................................................................................................48 2.4. SCULO XX: EXPANSO URBANA DO RIO DE JANEIRO..........................................................50 2.5. ATERRO DO FLAMENGO......................................................................................................52 2.6. EXPANSO PARA O OESTE: Lcio Costa e o Plano da Baixada de Jacarepagu.........................54 3. ECOGNESE: ORIGEM, CONCEITOS E APLICAES.........................................................................58 3.1. ROBERTO BURLE MARX.........................................................................................................62
6 3.2. HENRIQUE LAHMEYER DE MELLO BARRETO..........................................................................65 5.3. LUIZ EMYGDIO DE MELLO FILHO.........................................................................................67 3.4. ECOGNESE: OS PRIMEIROS PROJETOS...............................................................................69 3.4.1. PARQUE DO BARREIRO DE ARAX.......................................................................................70 3.4.2. GRUPO BIOLGICO DAS LAGOAS LITORNEAS DO DISTRITO FEDERAL ..............................73 3.5. ECOGNESE E INTERDISCIPLINARIDADE ...............................................................................76 4. FERNANDO CHACEL: REFERNCIA BIOGRFICA E TERICA ..........................................................78 4.1. ASSOCIAO BRASILEIRA DE ARQUITETOS PAISAGISTAS.......................................................86 4.2. PAISAGISMO E ECOGNESE ................................................................................................87 5.3. HOMENAGENS E PREMIAES ............................................................................................89 5. ESTUDO DE CASO: TRS PARQUES NO RIO DE JANEIRO...............................................................91 5.1. PARQUE DA GLEBA E: A PENNSULA......................................................................................93 5.1.1. ASPECTOS HISTRICOS ..............................................................................................94 5.1.2. O PROJETO.................................................................................................................96 5.1.3. SITUAO ATUAL ........................................................................................................99 5.2. PARQUE DE EDUCAO AMBIENTAL MELLO BARRETO: O PARQUE ARISTOTLICO..............105 5.2.1. ASPECTOS HISTRICOS ............................................................................................106 5.2.2. O PROJETO...............................................................................................................107 5.2.3. SITUAO ATUAL ......................................................................................................110 5.2. PENHASCO DOIS IRMOS: REVELADOR DE PAISAGENS.......................................................112 5.3.1. ASPECTOS HISTRICOS ............................................................................................114 5.3.2. O PROJETO...............................................................................................................116 5.3.3. SITUAO ATUAL ......................................................................................................121 6. CONSIDERAES FINAIS ...........................................................................................................123 RELAO DAS ILUSTRAES...............................................................................................................130 BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................................136 ANEXOS .............................................................................................................................................143 ANEXO 1: ENTREVISTA COM FERNANDO CHACEL...........................................................................144 ANEXO 2: LEGISLAO AMBIENTAL FEDERAL ..................................................................................169
7
RESUMO RESUMO RESUMO RESUMO
O paisagismo do sculo XXI tem atuado em consonncia com aspectos ambientais, seja pela fora de uma legislao cada vez mais atuante e determinante de diretrizes, seja pela conscientizao geral da populao. Nessa tendncia, destaca-se Fernando Chacel, paisagista brasileiro contemporneo, com mais de cinqenta anos de atuao profissional na restaurao de ecossistemas degradados. A base de sua metodologia a ecognese, onde se reconstituem os aspectos edafo-ambientais originais, por meio de trabalho em equipe interdisciplinar envolvendo profissionais de diversas reas ligadas ao meio ambiente. Suas maiores influncias foram o paisagista Burle Marx e o botnico Luiz Emygdio, com os quais dividiu experincias profissionais que o levaram a definir sua linha projetual. Vamos analisar as principais caractersticas de seu trabalho em projetos de trs parques urbanos do Rio de Janeiro: Parque da Gleba E, Parque Mello Barreto e Parque do Penhasco Dois Irmos, onde se realizaram importantes processos de recuperao da vegetao nativa.
PALAVRAS-CHAVE: Paisagismo contemporneo, Fernando Chacel, ecognese, parques urbanos.
ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT
Landscaping in the XXI century is in harmony with environmental aspects, either to pass legislation that is both more operational and determinative of lines of direction, or to raise awareness in the population in general. In this tendency, is distinguished Fernando Chacel, brazilian contemporary lanscapist, with more than fifty years of professional performance in the restoration of degraded ecosystems. The base of his methodology is ecogenesis, which reconstitutes the original edaphic-environmental aspects, working with interdisciplinar groups that involve professionals from different areas of environmental sciences. His major influences had been landscapist Burle Marx and botanist Luiz Emygdio, with whom he shared professional experiences that led him to define his project line. We will analyze the main characteristics of his work in projects of three parks in the city of Rio de Janeiro: Gleba E Park, Mello Barreto Park and Penhasco Dois Irmos Park (Twin Brothers Cliffs), where important processes of recovery of native vegetation has been done.
KEY-WORDS: Contemporary landscape, Fernando Chacel, ecogenesis, urban parks.
9 APRESENTAO APRESENTAO APRESENTAO APRESENTAO
As paisagens que se descortinam nas cidades contemporneas nos revelam um ambiente totalmente configurado pela ao humana, onde as formas de construo e a conseqente interveno sobre a paisagem vo-se modificando ao longo da linha do tempo e da Histria. Configuram-se e re-configuram-se os espaos urbanos construindo, destruindo e reconstruindo continuamente assim adequando as cidades s novas necessidades geradas pelos constantemente alterados modos de produo da humanidade. Ao examinarmos a Histria do Brasil, no que tange s relaes com a natureza e o meio ambiente, desde os idos de 1500, notamos que as aes humanas foram quase sempre no sentido de explorao dos recursos naturais, e pouca, ou nenhuma, integrao ao meio ambiente. Considerando-se que a paisagem natural seja aquela gerada to somente por ciclos no criados pela mo humana, fato que, em tempos atuais, a paisagem natural algo quase inexistente, no s no Brasil, mas em todo o planeta, de acordo com Argan 1 : A natureza no est mais alm dos muros da cidade, as cidades no tm mais muros, estendem-se em desesperadores labirintos de cimento, desfiam-se nas srdidas periferias de barracos e, para l da cidade, ainda cidade, a cidade das auto-estradas e dos distribuidores automticos, dos campos cultivados industrialmente. E mesmo que algum pedao de natureza sobrevivesse, escapando da especulao imobiliria ou da indstria turstica, no o veramos, porque o atravessaramos a 200 quilmetros por hora de automvel, ou o sobrevoaramos a jato.
Neste sentido, os modelos de integrao com a natureza e seus conseqentes impactos no ambiente devem ser repensados, e em busca de novas formas de interveno na
1 ARGAN, 1998, p. 222. 1. The Fall of Man.
A Bblia registra e descreve um paraso onde havia equilbrio entre as plantas, os animais e o homem. Infelizmente, a humanidade procurou dominar a natureza e perdeu seu paraso. Com o conhecimento que hoje possuo da ecologia e da importncia de nos relacionarmos com as rvores e as plantas, procuro reconquistar aquele paraso perdido e corrigir os erros das geraes passadas. Burle Marx.
Disponvel em: <http://www.paisagismosantarosa.com.br/>. Acesso em: 19 Mar. 2007.
10 paisagem que nos dedicamos a esta dissertao. De que forma possvel desenvolvermos novas tecnologias e novas formas de produo do espao urbano sem nos privarmos do contato com elementos da flora, da fauna, do solo, da gua o que levaria extino do prprio ser humano enfim, de todos os elementos naturais que constituem a paisagem? Em busca de uma holstica paisagem urbana, nos deparamos com o trabalho desenvolvido pelo arquiteto paisagista Fernando Magalhes Chacel Fernando Magalhes Chacel Fernando Magalhes Chacel Fernando Magalhes Chacel. De acordo com Costa 2 , refletir sobre a natureza do trabalho de Fernando Chacel nos permitir ressaltar o contedo ecolgico, cultural e humanstico do Paisagismo, alm de sua relevncia na configurao do carter das cidades. Chacel tem trabalhado em grandes recuperaes ambientais e paisagsticas utilizando o mtodo da ecognese ecognese ecognese ecognese, que um modelo terico de reconstituio da ambincia natural por meio do replantio de espcies vegetais remanescentes. Esta teoria comeou a amadurecer em suas bases cientficas nos idos de 1940, por meio dos trabalhos dos botnicos Henrique Lahmeyer de Mell Henrique Lahmeyer de Mell Henrique Lahmeyer de Mell Henrique Lahmeyer de Mello Barreto o Barreto o Barreto o Barreto e Luiz Luiz Luiz Luiz Emygdio de Mello Filho Emygdio de Mello Filho Emygdio de Mello Filho Emygdio de Mello Filho, aliadas ao trao do paisagista Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx. a partir destas principais influentes personalidades que Chacel, em mais de meio sculo de carreira, tem atuado em inmeros projetos paisagsticos, dos mais variados portes, desde a pequena escala dos jardins residenciais aos grandes parques urbanos, passando pela atenuao de impactos ambientais em construo de hidreltricas e barragens. Diante de to vasta produo paisagstica, necessrio optar por um modelo de atuao projetual para que possamos aprofundar nossa anlise do processo de restaurao paisagstica. Desta forma, a nossa pesquisa se ater, sobretudo, ao projeto de parques urbanos, equipamentos imprescindveis para a cidade contempornea. Nosso principal objetivo demonstrar de que forma a paisagem restaurada atravs do mtodo da
2 COSTA, 2003, p. 276. 2. Fernando Magalhes Chacel em 2003.
11 ecognese, utilizado por Chacel, constitui-se em modelo de interveno urbanstica para uma reintegrao entre cidade e natureza. Esta dissertao foi estruturada em cinco captulos. No primeiro captulo, intitulado PAISAGEM CULTURAL E MEIO AMBIENTE, vamos fazer uma retomada das principais conceituaes que iremos utilizar para delinear nossa pesquisa, investigando a paisagem e as formas como o ser humano se relaciona com ela, como esta se desdobra em paisagens; vamos falar sobre a arquitetura da paisagem e como as paisagens so desenhadas nas cidades, comentando algumas intervenes paisagsticas de destaque ao longo da Histria Ocidental, e como estas concepes foram evoluindo de acordo com as mudanas de concepo humanstica e ecolgica de cada poca. No segundo captulo, RIO DE JANEIRO: ASPECTOS AMBIENTAIS E CULTURAIS, vamos mostrar a cidade do Rio de Janeiro, como se desenvolveu, qual o ecossistema em que se insere e como se deram as relaes da cidade com seu meio ambiente, citando a obra do paisagista Glaziou, primeiro paisagista a inserir espcies nativas na cidade, as aes de reflorestamento e as grandes expanses da cidade no sculo XX, com a criao do Aterro do Flamengo e a urbanizao das restingas e manguezais da regio oeste da cidade, no bairro da Barra da Tijuca nascido do trao de Lcio Costa em 1969. ECOGNESE: ORIGEM, CONCEITO E APLICAES, o terceiro captulo, apresenta a teoria que deu origem ao desenvolvimento desta pesquisa. Vamos mostrar como surge a ecognese, qual o seu escopo na busca pelo equilbrio entre espaos urbanizados e reas verdes livres. Para dar incio anlise de um paisagismo ecolgico, faremos uma breve apresentao dos primeiros mentores deste novo paradigma ambiental: Roberto Burle Marx, Mello Barreto e Luiz Emygdio. Em seguida faremos uma amostra dos primeiros
12 projetos que seguem esta filosofia holstica: em 1943, o Parque do Barreiro de Arax, e seis anos mais tarde o Grupo Biolgico das Lagoas. No deixando de ressaltar o carter interdisciplinar desta metodologia, apontando alguns dos profissionais envolvidos em trabalhos de recuperao ecogentica e aqueles cuja influncia, mesmo que indireta, fator essencial no processo de incorporao dos valores ambientais aos projetos urbansticos. O quarto captulo, intitulado FERNANDO CHACEL: REFERNCIA BIOGRFICA E TERICA, apresenta o arquiteto paisagista em seu contexto scio-cultural e os principais contatos que o levaram a definir sua linha projetual: ele foi estagirio de Burle Marx, anos depois tornou-se scio de Luiz Emygdio. Hoje associado a Sidney Linhares com quem mantm dois escritrios, um no Rio de Janeiro e outro em So Paulo, trabalha arduamente do alto de seus setenta e seis anos, sempre com afinco e demonstrando constante amadurecimento, em projetos diferenciados em suas particularidades, mas tendo em comum o profundo respeito e integrao natureza. No quinto captulo, ESTUDO DE CASO: TRS PARQUES NO RIO DE JANEIRO, faremos o anlise de trs projetos de Chacel, no intuito de mostrar a aplicao das metodologias de recuperao ambiental. Os dois primeiros parques situam-se na Barra da Tijuca: o Parque da Gleba E e o Parque de Educao Ambiental Professor Mello Barreto, em posio justalagunar e o Parque Municipal Srgio Bernardes, no Penhasco Dois Irmos, com uma insero paisagstica totalmente diferenciada dos dois primeiros. Vamos analisar estes trs espaos da paisagem carioca procurando entender o processo de sua produo, identificando os aspectos scio-culturais, econmicos, polticos, histricos, ambientais.
13 Finalmente temos o ltimo captulo, onde abordaremos nossas CONSIDERAES FINAIS e algumas concluses. Procuraremos responder ao final desta anlise qual a relevncia destes trs espaos para a cidade, quais so suas contribuies para a paisagem urbana, visando uma integrao equilibrada com o meio ambiente, e de que forma estes projetos servem, ou no, de exemplo para futuras intervenes desta natureza. realmente possvel a integrao entre natural e artificial? No procuramos esgotar o assunto chegando a um veredicto determinado, mas acreditamos que estas reflexes sejam uma abertura para prximos estudos que venham contribuir para este campo do conhecimento cientfico que est em definio de paradigmas e metodologias. Ao final do trabalho se encontram a relao das ilustraes, a bibliografia consultada e dois anexos: a entrevista que realizamos com Chacel em dezembro de 2006 e uma relao das leis ambientais federais criadas desde o ano 1951at o ano 2000.
14 1. 1. 1. 1. PAISAGEM CULTURAL E MEIO AMBIENTE PAISAGEM CULTURAL E MEIO AMBIENTE PAISAGEM CULTURAL E MEIO AMBIENTE PAISAGEM CULTURAL E MEIO AMBIENTE
Achamos que devemos dominar a natureza, lutar contra ela, para no sermos dominados por ela. Acontece que a alternativa senhor ou escravo no corresponde realidade das coisas. O caminho que a ecologia nos indica o de scio da natureza. Burle Marx 3
Diante da busca por novas formas de adaptao das sociedades com a natureza, necessrio termos um respaldo terico para embasar nossa pesquisa. Desta forma, antes de falarmos especificamente do mtodo de ecognese adotado por Fernando Chacel em seus projetos paisagsticos, devemos abrir o panorama terico da paisagem. A princpio vamos definir algumas conceituaes bsicas sobre a paisagem, e as variveis que envolvem o que a paisagem, como se desdobra esta em paisagens, e vamos falar sobre quem o profissional que molda essas paisagens. Um breve olhar pela relao da cidade com o meio ambiente nos d um panorama do surgimento dos parques urbanos e das aes ambientalistas, ou seja, abordaremos o surgimento e a evoluo dos movimentos sociais em prol do meio ambiente e da conservao da vida e da biodiversidade na Terra.
3 CALS, 1995, p. 77.
3. Dearest Children, Do you know That we have inherited A miracle. All matter The heavens, sun, the earth itself- Is made From the ashes of stars, Forged in stellar canyons, cycled by volcanoes In sea and air. Clouds, rain, river, rocks, and soils; matter permeates us all animated, including you playing, smiling children. now.
From "A Poem to the World's Children." By Ian McHarg
15 1.1. 1.1. 1.1. 1.1. CONSIDERAES SOBRE A PAISAGEM CONSIDERAES SOBRE A PAISAGEM CONSIDERAES SOBRE A PAISAGEM CONSIDERAES SOBRE A PAISAGEM
O conceito de Paisagem pode ser definido sob ticas bastante diversas, pois a paisagem est nos olhos de cada um; de forma um tanto sinttica, diramos que a paisagem tudo aquilo que nossa vista alcana. Explicao um tanto reducionista segundo Cosgrove 4 pois, para o autor, a paisagem no apenas o mundo que vemos, ela uma construo, uma composio deste mundo. Paisagem um modo de ver o mundo". Com uma viso mais sedimentar, Schama 5 considera que "antes de poder ser um repouso para os sentidos, a paisagem obra da mente. Compe-se tanto de camadas de lembranas quanto de estratos de rochas". A partir destas observaes, consideramos que a mesma paisagem pode ser vista de vrias formas, dependendo de quem a observa: qualquer paisagem compe-se no apenas do que podemos ver, mas tambm daquilo que temos em mente. Neste sentido, Macedo 6
reitera: toda paisagem est ligada a uma tica de percepo humana, a um ponto de vista social e que sempre representa total ou parcialmente um ambiente. Desta forma, a paisagem constituda no somente por espaos livres, mas tambm pelo relevo, pelas guas, construes, estradas, formas de propriedade do solo, aes humanas decorrentes e, finalmente, pelo comportamento dos seres humanos.
4 COSGROVE, 1984, p. 13. 5 SCHAMA, 1996, p. 5. 6 MACEDO, 1999, pp. 11-15.
16 Do ponto de vista do gegrafo Aziz AbSber 7 , a paisagem definida como sendo sempre uma herana, em todo sentido da palavra: herana de processos fisiogrficos e biolgicos, e patrimnio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como territrio de atuao de suas comunidades. Neste sentido, as paisagens persistem e enquadram tempos vrios, diversas temporalidades de acontecimentos, vivncias que vo sedimentando-se na composio das paisagens. Paisagem um complexo e dinmico sistema de elementos naturais e antrpicos, em constante processo de transformao, no qual vivemos e do qual fazemos parte, intervindo e alterando suas configuraes em tempos diversos. Farah 8 afirma que "para Daniels e Cosgrove (1988) a paisagem de um parque mais palpvel, mas no mais real nem menos imaginria do que uma pintura ou um poema. Como uma representao cultural, a paisagem tem categoria de imagem e de smbolo". Maria Franco 9 observa que: as palavras paisagem, do francs paysage paysage paysage paysage, e paisagismo, tm em portugus um significado vasto e difuso. Ser paisagista no subentende, obrigatoriamente, fazer projeto ou o planejamento da paisagem. Pode ser algum que pinta ou descreve paisagens. Ser um arquiteto paisagista, como sugeriu Olmsted, o criador do Central Park Central Park Central Park Central Park de Nova York, subentende uma especialidade da arquitetura que hoje tambm quer dizer arquiteto de exteriores, o que segmenta mais ainda a atividade. Fazer paisagismo, em nosso meio cultural, adquiriu nos ltimos anos uma certa popularidade e entrou num consenso de mercado que torna essa atividade sempre presente nos empreendimentos imobilirios, principalmente a partir da dcada de 1970. Em ingls, o termo landscape landscape landscape landscape - paisagem - surgiu entre os pintores holandeses por volta do sculo XVI que difundiram o gosto pelos quadros de paisagens. Oriunda da palavra
7 ABSBER, 2003, p. 9. 8 FARAH, 2005, p. 17. 9 FRANCO, 1997, p. 9.
17 landschap, que inicialmente significava uma regio ou gleba, mais tarde adquire o sentido artstico, ao ser usada para designar uma pintura representando uma paisagem cnica com belezas naturais. Para Schama 10 , "a palavra 'landscape' nos diz muito. Ela entrou na lngua inglesa no final do sculo XVI, procedente da Holanda. E 'landschap', como sua raiz germnica 'landschaft', significava tanto uma unidade de ocupao humana quanto qualquer coisa que pudesse ser o aprazvel objeto de uma pintura".
10 SCHAMA, 1996, p. 20.
18 1.2. 1.2. 1.2. 1.2. PAISAGEM NATURAL E PAISAG PAISAGEM NATURAL E PAISAG PAISAGEM NATURAL E PAISAG PAISAGEM NATURAL E PAISAGEM CULTURAL EM CULTURAL EM CULTURAL EM CULTURAL
O ser humano necessita da terra e seus ciclos biolgicos para seu sustento; a terra, a gua, as plantas e os animais so necessrios ao bem estar, e mesmo sobrevivncia, da espcie humana, e preciso que a relao entre esse e aqueles ocorra de forma harmoniosa, para que no se quebrem os elos da corrente dos processos naturais. De acordo com McHarg 11 , a natureza deve ser considerada como um processo interativo, responsvel por certas leis, e constitui um sistema de valores que oferece oportunidades intrnsecas, assim como limitaes ao ser humano. A relao do homem com o meio natural foi-se alterando com o passar do tempo, mas em todas as pocas a paisagem natural teve sua importncia no imaginrio coletivo das civilizaes, como um anseio de volta s origens; a natureza como mundo das causas primeiras e das finalidades ltimas, segundo Argan 12 . Para o autor, A regio do mito e do sagrado, no passado, era a natureza. A natureza era o que se encontrava alm dos muros da cidade, o espao no protegido, no organizado, no construdo. (...) Era o sublime e representava o limite, a fronteira entre o habitado e o inabitvel, entre a cidade e a selva, entre o espao geomtrico ou mensurvel e a dimenso ilimitada, incomensurvel do ser.
11 McHARG, 1969, p. 7. 12 ARGAN, 1998, p. 213.
19 Para Schama 13 , a histria do ambiente expe a mudana de relao do homem com a terra: antes as culturas tinham uma reverncia e um culto sagrado ao solo, e mais tarde o homem passa a dominar a terra de modo a exaur-la. Segundo o autor, "para alguns historiadores, foi o Renascimento e as revolues cientficas dos sculos XVI e XVII que condenaram a terra a ser tratada pelo Ocidente como uma mquina que nunca quebraria, por mais que homem usasse e abusasse". A tecnologia trouxe outra dimenso relao entre o homem e o meio natural, pois permitiu que a qualidade de mito, que antigamente era atribuda natureza, fosse derrubada. Ao dominar e anular o lugar do sublime, a contemplao da natureza como transcendncia desaparece. Sobre a questo da mitologia e das mitificaes humanas, Schama 14 nos diz, a partir da crtica de Max Oelschlager, que precisamos de "novos mitos da criao para reparar os danos causados por nosso abuso despreocupado e mecnico da natureza e restaurar o equilbrio entre o homem e os demais organismos com os quais ele partilha o planeta". Existem definies e conceitos diferenciados para a paisagem natural e a paisagem cultural. Para Burle Marx 15 existem duas paisagens: "uma natural e dada, a outra humanizada e, portanto, construda". Para Emdio 16 , a paisagem natural ope-se paisagem artificial, no sentido de que natural tudo aquilo que nasce espontaneamente na natureza, ao passo que por artificial entende-se tudo aquilo que no nasce, ou seja, criado pelas mos do homem.
13 SCHAMA, 1996, p. 18. 14 SCHAMA, op.cit., p. 23. 15 LEENHARDT, 2000, p. 47. 16 EMDIO, 2006, p. 26.
20 Aqui vamos considerar a paisagem natural aquela paisagem ainda virgem, agreste, sem interferncia humana, espao cada vez mais raro em um planeta globalmente urbanizado. A paisagem cultural o ambiente que sofre alteraes na configurao de seus componentes e de sua espacialidade. Esta dissertao se dedica, sobretudo, anlise da paisagem cultural, aquela que sofre interveno antrpica, ou seja, transformada pelo ser humano em todos os estratos e com a sociedade humana como parte integrante do ambiente.
21 1.3. 1.3. 1.3. 1.3. PAISAG PAISAG PAISAG PAISAGISMO OU ARQUITETURA DA PAISAGEM ISMO OU ARQUITETURA DA PAISAGEM ISMO OU ARQUITETURA DA PAISAGEM ISMO OU ARQUITETURA DA PAISAGEM
Ora tambm denominado arquitetura da paisagem arquitetura da paisagem arquitetura da paisagem arquitetura da paisagem, o paisagismo paisagismo paisagismo paisagismo trabalha com a busca do equilbrio formal e esttico entre todos os elementos componentes da paisagem vegetao, rea construda, espaos livres para circulao preocupando-se no s em procurar ser, o mnimo possvel, agressivo natureza, mas tambm em dela tirar proveito, aliando a singular beleza vegetal aos espaos edificados. O paisagismo paisagismo paisagismo paisagismo engloba as caractersticas geogrficas, hidrogrficas, biticas e humanas, seu campo de atuao envolve todos estes fatores, promovendo a convivncia entre os elementos naturais terra, gua, atmosfera, fauna e flora e os elementos antrpicos. Para Sandeville 17 , arte e ambiente sempre foram coisas afins: o homem sempre agiu no ambiente com preocupao esttica. E o ambiente sempre agiu sobre o homem, e seu imaginrio, sua organizao do mundo. E o que a esttica, seno a busca do belo e do sublime? Para Kant, a esttica a reflexo sobre o belo, o que significa que a noo de beleza parte de um juzo esttico cuja finalidade excitar harmoniosamente os nossos sentidos. A arquitetura da paisagem arquitetura da paisagem arquitetura da paisagem arquitetura da paisagem tem a preocupao com o equilbrio esttico entre seus componentes. A paisagem urbana aqui entendida como a composio espacial dos vrios elementos que configuram o meio urbano. Ao se falar em paisagismo, ou em
17 SANDEVILLE Jr., 1989, p. 86.
22 planejamento paisagstico, devemos nos reportar a estudos interdisciplinares que envolvam tanto a rea das cincias biolgicas como a das cincias sociais e comportamentais. O planejamento paisagstico planejamento paisagstico planejamento paisagstico planejamento paisagstico deve incorporar cidade e meio ambiente, num processo interdisciplinar onde esto envolvidos profissionais de diversas reas. De acordo com Chacel, "enquanto o projeto arquitetnico feito para resistir ao tempo, o projeto paisagstico, em contrapartida, feito para realizar-se no tempo". A funo do paisagista paisagista paisagista paisagista deve ser o agenciamento dos elementos da natureza no intrincado misturar de habitats e funes, conciliando usos diversos e, principalmente, relacionando cada uso especfico totalidade da paisagem. O paisagismo muito mais do que apenas preocupar-se em construir belos jardins e paisagens, envolve todo um estudo ambiental e social: alia o prazer esttico a usos e funes, em busca da to sonhada e necessria harmonia entre os mais diversificados elementos componentes do meio em que vivemos. O trabalho do paisagista unir a natureza ao meio urbano, procurando harmonizar esta convivncia.
23 1.4. 1.4. 1.4. 1.4. A NATUREZA E A CIDADE A NATUREZA E A CIDADE A NATUREZA E A CIDADE A NATUREZA E A CIDADE
O parque urbano surge na Europa, como novo equipamento integrante da cidade, a partir da formao e desenvolvimento da cidade industrial, onde a massa operria se espremia em pequenos apartamentos sem ar e luz como se v na gravura de Gustave Dore (figura 4) e necessitava de espaos onde pudesse desfrutar de uma vida um pouco mais salubre. Desta forma os parques foram criados, segundo Costa 18 , "para resolver os mais diversos problemas urbanos, incluindo questes estticas, sanitrias e de ordem social, entre tantas outras". O modo de produo industrial veio alterar a configurao espacial das cidades que, desde suas primeiras formaes, afastaram de seu espao construdo as hostis intempries da natureza e ataques de invasores. Mas, segundo Verssimo 19 , A humanidade jamais se esqueceu, de forma consciente ou inconsciente, do seu ambiente de origem, idealizando sempre alguma forma de recuperar a natureza e assim retornar ao seu habitat ancestral. No imaginrio coletivo, esta situao onrica foi concretizada atravs das religies, como expressa a tradio judaico-crist do Paraso, representado como um imenso jardim. No mundo oriental os jardins sempre fizeram parte de uma tradio clssica, apresentando-se como smbolo de riqueza e opulncia. Os mais belos jardins chineses, no passado, eram de domnio particular, fechados por muros, e pertenciam ao imprio ou aos mais ricos nobres da sociedade. Estes jardins deveriam representar um micro cosmo em seu
18 COSTA, 2003, p. 276. 19 VERSSIMO, 2001, p. 74. 4. Subrbio de Londres sec. XIX
24 interior, constando em sua composio de elementos como pequenas montanhas, lagos, pontes, grutas, construes, bambuzais, flores, em uma composio espacial ldica, convidando ao lazer e fruio da natureza. Na cidade de Suzhou, na China (figura 5), os jardins se localizam no centro da cidade, prximos s habitaes populares. Hoje tombados pela UNESCO 20 , estes jardins esto abertos para a visitao pblica 21 . O jardim japons, originalmente criado para o deleite das classes ricas, sofreu influncias marcantes deste paisagismo chins, vindo a consolidar caractersticas prprias por volta do sculo XI, com o manuscrito Sakuteiki 22 .
20 UNESCO: Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura. 21 Fonte: Patrimnios Mundiais na China, p. 155. 22 TAKEI, J. & KEANE, M., 2001. Sakuteiki o primeiro tratado de que se tem notcia, sobre paisagismo como interveno esttica, escrito no Japo.
5. Suzhou, China.
25 O jardim ocidental, no perodo renascentista, seguiu, sobretudo, a tendncia da rigidez formal do jardim romano clssico, onde o pensamento racional leva ao extremo a idia de ordenao e controle do ambiente, refletindo no uso massivo de formas geomtricas, inclusive na forma dada vegetao, podada ao gosto da arte topiria. O paisagista Andr Le Notre Andr Le Notre Andr Le Notre Andr Le Notre (1613-1700), com os jardins do palcio de Versalhes, na Frana (figura 6), o principal expoente desta nova cultura paisagstica, que espalharia sua influncia pelos pases mais poderosos da Europa no sculo XVII, como Alemanha e ustria 23 . No sculo seguinte, segundo Gombrich 24 , os jardins barrocos franceses passaram a ser considerados como "absurdos e artificiais". Neste momento, para os ingleses, a nova regra de construo da paisagem "deve refletir as belezas da natureza, deve ser uma coleo de belos cenrios naturais". A influncia oriental se reflete no traado irregular e nas formas orgnicas 25 , mas no em seu contedo simblico. Logo em seguida o "jardim ingls", ou o "jardim paisagstico" (figura 7), torna-se moda por toda a Europa no sculo XVIII, e seu principal expoente Sir Lancelot Capability Brown (1716-1783). At ento, na histria das cidades, os jardins, os grandes espaos verdes e ajardinados eram feitos para a aristocracia e para ostentar luxo e poder. A partir da era industrial que o desenho da paisagem urbana passa a incorporar-se linguagem e ao traado da cidade ocidental. Segundo Costa 26 , os parques pblicos do sculo XIX levaram para as cidades uma nova paisagem. Criados para resolver os mais diversos problemas urbanos, incluindo questes estticas, sanitrias e de ordem social, entre tantas outras, os parques
23 GOMBRICH, 1950, p. 449. 24 GOMBRICH, op.cit., p. 460. 25 TERRA, 2000, p.21 26 COSTA, 2003, p. 276.
6. Jardins do Palcio de Versalhes, sculo XVII. Paisagismo de Andr Le Ntre.
7. Bowood House em Wildshire, na Inglaterra, sculo XVIII. Paisagismo de Lancelot Capability Brown.
26 materializavam essas expectativas tendo como modelo projetual os jardins privados das propriedades rurais da aristocracia inglesa. Para a autora, os parques pblicos representam para a cidade smbolo de prestgio e poder, acrescidos do "orgulho cvico". Neste momento, as paisagens com extensos gramados, de traado sinuoso e orgnico constituem, em sua configurao espacial, a anttese da cidade. Nos pases da Europa, o rpido crescimento urbano suscita ideais de beleza e adequao entre a cidade e os elementos naturais: em Viena, o arquiteto Camillo Sitte Camillo Sitte Camillo Sitte Camillo Sitte (1843-1903) defendia que as alamedas e os jardins deveriam ser incorporados cidade como fator de higiene e embelezamento, proporcionando contrastes entre os grupos de rvores e as formas arquitetnicas, ao mesmo tempo garantindo ar mais puro e uma paisagem agradvel; logo depois surge, na Inglaterra, Ebenezer Howard Ebenezer Howard Ebenezer Howard Ebenezer Howard (1850-1928) e sua teoria da cidade-jardim (figura 8), onde alia a vida nas cidades ao contato com a natureza. Frederick Frederick Frederick Frederick Law Olmsted Law Olmsted Law Olmsted Law Olmsted criou, em 1858, o Central Park Central Park Central Park Central Park em New York (figura 9), o primeiro de uma srie de outros parques que foram implantados nos Estados Unidos. Na concepo do plano 27 , Olmsted escreve: "o parque inteiro compe uma nica obra de arte e, como tal, est sujeito lei primria de toda obra de arte, a saber, que ser constrrudo com base num nico e nobre motivo", que o lazer da populao, o descanso do trabalhador, o respiro da cidade. Olmsted preocupou-se em manter o local com poucas interferncias no aspecto natural: "parece de bom alvitre interferir o mnimo possvel em seus contornos fluidos e ondulados e seu cenrio rochoso e pitoresco". Schama observa que o Central Park corresponde aos dois mitos arcdicos presentes na memria moderna: o primitivo e o cultivado, o lugar de imprevisvel empolgao e o lugar de buclico repouso.
27 SCHAMA, 1996, p. 562. 9. Central Park, New York. Projeto de Frederic Law Olmsted, 1858.
8. Diagrama da cidade jardim de Ebenezer Howard.
27 Em mbito mundial os valores ambientais passam a adquirir, cada vez mais, especial relevncia para a composio arquitetnica da paisagem 28 . Paisagistas como Daniel Kiley e Lawrence Halprin (figura 10) comeam a valorizar os elementos vegetais e ciclos naturais, evoluindo nas reflexes sobre os valores ecolgicos e ambientais. Costa 29 observa que "os parques contemporneos no apresentam um nico modelo predominante, com uma mesma referncia conceitual e esttica, mas sim diferentes solues (...) que refletem diferentes vises de natureza e de cidade". O arquiteto paisagista Ian McHarg Ian McHarg Ian McHarg Ian McHarg (1920-2001), nascido em Glasgow, na Esccia, foi um dos grandes idealizadores e realizadores do movimento em prol do meio ambiente. Preocupado em incorporar as qualidades naturais do meio ambiente s regies metropolitanas, para ele a forma urbana deveria seguir mais do que simplesmente a funo, deveria tambm respeitar o meio ambiente natural onde se insere. Em Design with Design with Design with Design with Nature Nature Nature Nature, McHarg fala sobre a necessidade de os planejadores urbanos levarem em considerao o meio ambiente em harmonia com o uso da terra, propondo um novo mtodo de avaliao e implantao de usos do solo atravs do sistema de layers (figura 11). De acordo com Chacel 30 , com esta importante publicao, McHarg chamou a ateno para a importncia de inserir no planejamento e nos estudos clssicos de viabilidade fsico-financeira novos parmetros que considerem tanto a parte bitica quanto a social, e que esses novos parmetros tenham tanta importncia quanto os outros j cultuados dentro do processo de estudo de viabilidade de qualquer empreendimento.
28 NOLL, J. F. A Paisagem Recriada de Fernando Chacel. Disponvel em <http://www.jornaldapaisagem.com.br/artigos/art_no1101.htm>. Acesso em: 20 Ago. 2004. 29 COSTA, 2003, p. 276. 30 Disponvel em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=81&breadcrumb=1&Artigo_ID=824&I DCategoria=997&reftype=1>. Acesso em: 04 Dez. 2006. 10. Ira's Fountain, projeto de Lawrence Halprin. Portland, Oregon, EUA 11. O sistema de layers desenvolvido por Ian McHarg utiliza a sobreposio de mapas para definir as reas adequadas urbanizao, respeitando fatores naturais e sociais.
28 McHarg considerado o mais importante arquiteto paisagista depois de Frederick Law Olmsted, deixando um importante mtodo de interveno ambiental que tornou-se marco paradigmtico na histria do paisagismo contemporneo. O paisagismo contemporneo agrega em seu escopo a vertente ecolgica na composio dos espaos. O arquiteto da paisagem projeta em todos as dimenses e em todos os seus nveis, ou seja, ele trabalha no apenas o espao fsico construdo em sua tridimensionalidade, mas considera tambm os componentes sociais, biticos e abiticos a cidade e seus habitantes, a vegetao, os animais, o solo, as guas, o vento como tambm considera as mudanas de todos estes aspectos e indivduos em si e entre si ao longo do tempo. O arquiteto paisagista da contemporaneidade deve estar atento ao fato de que todos estes componentes fazem parte da paisagem e devem ser levados em considerao no projeto de paisagismo, acumulando as camadas de patrimnio e heranas que a participao de cada um destes elementos imprime sobre a paisagem.
A sociedade contempornea tem se mostrado cada vez mais atuante em estudos e teorias ambientais que, a cada dia, engendram novas legislaes que tornem efetivas aes de proteo preservao da biodiversidade e dos recursos naturais em nosso planeta. Para o bilogo Tiezzi 31 , o sistema poltico-econmico vigente tem uma pressa artificial que vai na contramo da velocidade natural, onde o rpido crescimento urbano e tecnolgico parece querer esmagar os lentos processos biolgicos. Sob essa tica, o autor afirma que: As foras polticas tradicionais esto por demais condicionadas pelos mecanismos econmicos e pelos esquemas ligados ao crescimento para que busquem, com coragem, novos e diferentes valores, e para que compreendam que a realidade no feita apenas de produo e consumo, de salrio e lucro, mas que tm a mesma importncia o equilbrio natural e a renovabilidade dos recursos, o sistema dos organismos vivos e sua reproduo continuada. Desde que o texto de Tiezzi foi publicado, em 1988, at o presente momento, duas dcadas se passaram, e crescem no s as agresses ao meio ambiente, como aumentam os alertas da classe cientfica para a possibilidade de esgotamento do planeta. A preocupao com as questes ecolgicas tem acompanhado o homem desde sculos. Filsofos, arquitetos, grandes pensadores enfim, tm manifestado, h vrias centenas de geraes, a importncia de se saber agenciar os recursos da natureza. Estas foram
31 TIEZZI, 1988, p. 8.
30 importantes contribuies, sem dvida, para a formao dos grupos ambientalistas, que vieram a tomar corpo de movimento a partir da segunda metade do sculo XVIII, com o surgimento da sociedade industrial. De acordo com McCormick 32 , os primeiros grupos de proteo ambiental surgiram na Gr- Bretanha, na dcada de 1860. J nos EUA, na virada do sculo XIX para XX, surge um movimento de preservao das reas virgens e conservao dos recursos naturais. Os movimentos em prol da conservao da natureza comearam desde o surgimento das primeiras metrpoles, em aes pontuais e sem maiores vultos. A verdadeira revoluo ambiental iniciou-se efetivamente a partir da II Guerra, e as maiores mudanas se tornaram visveis a partir de 1962, quando vrios grupos e entidades da sociedade comearam a pensar e agir em defesa dos recursos naturais. Dez anos mais tarde, a Organizao das Naes Unidas cria um novo programa ambiental, onde o meio ambiente passa a ser considerado como assunto cientfico, econmico e poltico. Em junho de 1972, realizou-se em Estocolmo, na Sucia, a Conferncia das Naes Conferncia das Naes Conferncia das Naes Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano Unidas sobre o Meio Ambiente Humano Unidas sobre o Meio Ambiente Humano Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, onde os principais pases de todo o planeta 33
reuniram seus representantes para discutir aes de preservao das paisagens naturais, dando incio criao de polticas ambientais. Este foi o acontecimento que mais influiu na evoluo do movimento ambientalista internacional, deixando quatro resultados importantes: em primeiro lugar, o Ambientalismo adquiriu uma perspectiva mais racional e
32 McCORMICK, 1992. Baseando-se principalmente nas experincias britnica e norte-americana, McCormick fundamenta seu livro na tese de que "o ambientalismo deve ser visto no como uma srie de movimentos nacionais separados, mas como parte de uma mudana mais ampla e de prazo mais longo nas atitudes humanas". 33 Participaram da Conferncia de Estocolmo 113 pases, 19 rgos intergovernamentais e 400 rgos no- governamentais.
31 global, passando a ser mais aceito politicamente. Em segundo lugar, forou compromisso entre os pases mais ricos e os menos favorecidos economicamente. Em terceiro, est o fortalecimento das ONGs e, por ltimo, a criao do Programa de Meio Ambiente das Naes Unidas. Foi neste contexto que surgiu o arcabouo da idia do desenvolvimento desenvolvimento desenvolvimento desenvolvimento sustentvel sustentvel sustentvel sustentvel. No ano seguinte, em 1973, o Governo Federal brasileiro inaugurou a SEMA Secretaria de Meio Ambiente. frente estava o Professor Doutor Paulo Nogueira Neto que, entre 1974 e 1986, criou trs milhes e duzentos mil hectares de Estaes e Reservas Ecolgicas. Sua atuao foi fundamental para a consolidao de uma forte legislao ambiental. O conceito de desenvolvimento sustentvel introduzido pela primeira vez na esfera das discusses sobre o meio ambiente em New York, 1980, atravs da publicao do documento "A Estratgia Mundial para a Conservao", elaborado pelo PNUMA 34 . Segundo Nobre 35 , o desenvolvimento sustentvel, em resumo, o conceito que procura compatibilizar ideais desenvolvimentistas e ambientalistas, que at ento haviam sido considerados como foras antagnicas. Sob o ttulo Our Common Future, foi redigido o Relatrio Brundtland, em 1987, ampliando o debate na esfera do desenvolvimento sustentvel, definido-o como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das geraes futuras de suprir suas prprias necessidades.
34 Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente. Disponvel em: <http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/indedx.htm>. Acesso em: 11 Nov. 2006. 35 NOBRE e AMAZONAS, 2002, p. 23.
32 Em 1992, criou-se a Agenda 21 Agenda 21 Agenda 21 Agenda 21 como resultado da Rio-92 36 , um programa de ao, de carter poltico, cuja meta "viabilizar a adoo do desenvolvimento sustentvel e ambientalmente racional em todos os pases" 37 . A Agenda 21 teve desdobramentos em nveis regional e local, assumindo em cada pas uma Agenda 21 adaptada s caractersticas econmicas, sociais, polticas e ambientais intrnsecas a cada lugar. Face ao cenrio do debate ecolgico em mbito mundial, podemos melhor situar a atuao do paisagista nos dias de hoje, da mesma forma como acontece na natureza, em que todos os elementos integrantes do ecossistema esto intrinsecamente interligados e interagem entre si. Neste sentido, o bilogo David Zee 38 afirma: "O profissional que trabalha com o meio ambiente no sculo XXI pode estar especializado em uma determinada rea, mas deve tambm ter ampla e abrangente base de conhecimentos, com a capacidade de dialogar com diversos campos do conhecimento tcnico e cientfico, como profissionais da biologia, geografia, oceanografia, ecologia, qumica, agronomia, botnica, arquitetura e urbanismo, pedagogia, medicina, sociologia, direito, economia, entre tantas outras reas, para que se possa ter uma anlise dos problemas ambientais de forma integrada". Com base nestas consideraes sobre a paisagem e o meio ambiente, vamos agora para o Rio de Janeiro, lugar onde se encontra a maior floresta reflorestada da Amrica Latina, onde nasceu e vive o arquiteto Fernando Chacel, onde surgiu o conceito de ecognese, e lugar onde esto os parques urbanos que sero objetos de nossa anlise.
36 Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. 37 NOVAES. Disponvel em: http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/index.htm acesso 11 Nov. 2006. 38 ZEE. Disponvel em: <http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-Colunistas/DavidZee.asp>. Acesso em: 15 Out. 2004.
33 2. 2. 2. 2. RIO DE JANEIRO: RIO DE JANEIRO: RIO DE JANEIRO: RIO DE JANEIRO: ASPECTOS AMBIENTAIS E CULTURAIS
Ns amamos as flores, embora nos reservemos o direito de deitar as rvores abaixo, e no nos aflijamos que o faam sem graa nem utilidade". Machado de Assis 39
no Rio de Janeiro que surge o conceito de ecognese ecognese ecognese ecognese, cidade inserida no ecossistema conhecido por Sistema Vegetal Atlntico. Aqui a vegetao predominante se compe de espcies de manguezais, restingas e matas tropicais. Assim, antes de analisarmos o conceito de ecognese interessante apresentarmos o contexto em que ela surgiu, conhecendo as caractersticas de seu stio histrico e as principais personagens desta Histria. A ecognese o conceito de restaurao paisagstica que surge como resposta a um quadro de degradao da paisagem e de seus elementos naturais; conceito este desenvolvido por botnicos, amantes da natureza, atnitos diante de uma devastao ambiental e paisagstica que constataram ser reversvel. O processo de urbanizao sempre marcado pelas condies de seu stio assim como o ambiente ir apresentar fortes marcas da consolidao urbana. Para McHarg 40 , "se quisermos entender uma regio e seus recursos, devemos analisar tanto os fenmenos naturais como as manifestaes culturais".
39 SEGAWA, 1996, p. 11. 40 McHARG, 1969, p. 137.
34
12. Foto satlite do Rio de Janeiro. Nesta imagem o recorte no mostra o centro da cidade (que se encontra direita), local onde se deram as primeiras conformaes urbanas, maiores adensamentos e transformaes radicais do relevo; o Aterro do Flamengo tambm no aparece. Em destaque, nossas reas de estudo. A cor arroxeada corresponde rea urbanizada, e em verde os morros de florestas secundarizadas.
35 A cidade do Rio de Janeiro foi-se formando de acordo com o relevo da cidade, criando como que uma capa, um revestimento do terreno no qual se foi moldando e do qual no se haveria de separar. Rio de Janeiro no construda como uma cidade qualquer. Estabelecida, primeiramente, na zona plana e pantanosa que rodeia a baa, ela se introduziu entre os morros abruptos que a asfixiam de todos os lados, maneira de dedos numa luva muito estreita 41 . A interveno humana sobre esse stio de relevo acentuado e pitoresco comeou de maneira tmida e esparsa, com pequenas alteraes em sua configurao. a partir da chegada da famlia real que a cidade passa a ter maiores recursos e infra-estrutura, realizando, em vrios perodos da histria, desmontes de morros, aterramentos de lagoas e canalizaes de veios dgua. Estas transformaes do solo urbano foram tornando-se cada vez mais ousadas, culminando no desmonte do Morro de Santo Antnio na dcada de 1950 e aterramento do que hoje o Parque do Aterro do Flamengo. Atualmente, apesar da incorporao imobiliria seguir de vento em popa, os impactos na paisagem no tm sido to radicais, com a legislao ambiental que regulamenta as expanses urbanas protegendo reas de preservao.
41 LVI-STRAUSS, 1957, p. 87.
36 2.1. 2.1. 2.1. 2.1. OS ECOSSISTEMAS DO RIO DE JANEIRO OS ECOSSISTEMAS DO RIO DE JANEIRO OS ECOSSISTEMAS DO RIO DE JANEIRO OS ECOSSISTEMAS DO RIO DE JANEIRO
O que ecossistema ecossistema ecossistema ecossistema? Segundo AbSber 42 , ecossistema um conceito que foi introduzido na cincia em 1935 pelo botnico ingls Arthur Tansley, definindo-o como sistema ecolgico de um lugar, envolvendo fatores abiticos e fatos biticos do local, em que estes fatores so identificados como o suporte ecolgico (rocha/solo), a biota ali estabelecida atravs de longos processos genticos e as condies bioclimticas que do sustentabilidade para a vida ali implantada. A regio onde se instala a cidade do Rio de Janeiro compe-se, de um modo geral, de trs principais ecossistemas. Na realidade, no existe uma linha divisria muito bem definida que faa a separao entre estes trs ecossistemas, denominados manguezal, restinga e mata atlntica; todos estes so aspectos que compem o mosaico do Ecossistema Vegetal Atlntico. No entanto, possvel analisarmos algumas das principais caractersticas destes ecossistemas, por meio da observao de suas constituies geogrfica, fisiogrficas e de suas principais espcies vegetais.
42 ABSBER, 2003, p. 137-8. 13. Aziz AbSber
Aziz Nacib AbSber Aziz Nacib AbSber Aziz Nacib AbSber Aziz Nacib AbSber gegrafo brasileiro com extensa pesquisa sobre os domnios e potenciais paisagsticos de todo o pas. Para Chacel ele um grande referencial terico; juntos j realizaram trabalhos de restaurao paisagstica para as usinas hidreltricas de Ibitinga, Promisso, Paraibuna- Paraitinga, entre outras, na dcada de 1970.
37 2.1.1. MATA ATLNTICA
A Floresta Tropical Atlntica e a Floresta Amaznica so as duas maiores e mais importantes florestas tropicais do continente Sul-Americano. De acordo com Lino 43 , A Mata Atlntica fruto direto da umidade trazida pelo Atlntico e mistura-se a ele em ricos esturios cobertos por extensos manguezais, recifes de corais, ilhas costeiras e ocenicas. Mamferos e aves migratria aumentam essa permanente interdependncia, assim como os caiaras, jangadeiros e outros povos litorneos que plantam em terra e pescam no mar. Segundo o Decreto Lei 750/93, o Domnio da Mata Atlntica definido como: "O espao que contm aspectos fitogeogrficos e botnicos que tenham influncia das condies climatolgicas peculiares do mar (Joly/70) incluindo as reas associadas delimitadas segundo o Mapa de Vegetao do Brasil (IBGE, 1993) que inclui as Florestas Ombrfila Densa, Floresta Ombrfila Mista, Floresta Ombrfila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual, manguezais, restingas e campos de altitude associados, brejos interioranos e encraves florestais da Regio Nordeste." 44
A Mata Atlntica ocorre em solo brasileiro desde o litoral sul at o nordeste, englobando reas continente adentro at a divisa entre os Estados de Minas Gerais e Gois. Compe- se de variados ecossistemas e rica biodiversidade, dentre eles manguezais e restingas cujas principais caractersticas sero nosso objeto de estudo.
43 LINO, Clayton F. Texto Sntese A Mata Atlntica. Disponvel em: <http://www.rbma.org.br/anuario/mata_01_sintese.asp>. Aesso em: 01 Dez. 2007. 44 Disponvel em: <http://www.rbma.org.br/anuario/mata_02_dma.asp>. Acesso em: 01 Dez. 2007. 14. A Mata Atlntica, com sua vegetao densa e verde escura, comporta ecossistemas reunindo formaes vegetais diversificadas e heterogneas.
38 2.1.2. MANGUEZAL
O manguezal manguezal manguezal manguezal tpico de zonas tropicais, ocorrendo em diversos continentes da Terra (figura 15), em regies abrigadas como baas, lagoas e esturios. So ecossistemas sujeitos ao de fluxo e refluxo das mars, constituindo-se em ambientes de transio entre o meio aqutico e o terrestre. um dos ecossistemas mais produtivos do globo terrestre, devido grande quantidade de matria orgnica nas guas. Os manguezais apresentam alta produtividade biolgica, onde se encontram animais representantes de todos os nveis da cadeia alimentar (figuras 16, 17 e 18). Devido calmaria de suas guas, local de reproduo de crustceos, moluscos e peixes, e tambm animais terrestres e aves.
15. Mapa-mundi onde se destacam as ocorrncias de mangue nas zonas tropicais. As regies de manguezais encontram-se na Amrica Central, Caribe, Brasil, frica, ndia, Indochina e Austrlia.
16. Caranguejo no manguezal da Gleba E.
17. Anfbio em bromlia na Gleba E.
18. Ave aqutica na Lagoa da Tijuca.
39 A flora do mangue bastante simplificada, e se compe, basicamente, de trs gneros: Avicennia (mangue preto), Laguncularia (mangue branco) e Rhizophora (mangue vermelho) (figura 19) e um quarto taxon monoespecfico conhecido como Conocarpus erecta (mangue-de-boto) 45 . H duas herbceas freqentes, a Spartina alterniflora (pratur), na zona do Lavado, e a Salicornia gaudichaudiana (pratur) no Apicum 46 , que so as diferentes zonas componentes de manguezais. De acordo com a classificao estabelecida pela Dra. Norma Crud Maciel 47 , foram definidas trs fisionomias bsicas para o ecossistema de manguezal: Lavado, Bosque e Apicum (figura 20). O Lavado pode ocorrer na rea frente do bosque, em contato com a gua, sendo visto somente na mar baixa, e pode ocorrer a gramnea Spartina (pratur) ou bancos herbceos junto ao bosque de mangue. O Bosque onde se encontram as arbreas Avicennia, Laguncularia e Rhizophora, e a arbustiva Conocarpus, em rea sujeita ao das mars e ocorre aps a zona do lavado ou em contato direto com a gua. O Apicum fica em rea com topografia mais elevada, sendo inundado esporadicamente, e apresenta uma paisagem bastante varivel, podendo ocorrer em meio ao bosque ou acima dele, apresentando, s vezes, cobertura vegetal herbcea ou lenhosa.
45 RIO DE JANEIRO (RJ), 2000, p. 13. 46 Op.cit., p. 25. 47 Op.cit., p. 26.
19. Rhizophora na Gleba E. Ao contrrio da baixa biodiversidade de espcies vegetais, o manguezal rico em espcies da fauna. As razes-escoras e respiratrias das rvores de mangue so geralmente cobertas de algas, cracas e ostras. Os troncos so percorridos por pequenos caramujos litorina e caramujo-do-mangue, todos comestveis.
40
20. Perfil esquemtico do ecossistema de manguezal com a representao das trs principais espcies arbreas.
41 2.1.3. RESTINGA
As restingas restingas restingas restingas, por sua vez, so vegetaes de ps-mangue e encontram-se em terra firme, ou seja, em faixas de areia depositadas paralelamente ao litoral em conseqncia da dinmica das mars. No Brasil, as restingas so encontradas ao longo do litoral, desde a costa leste do Par at a costa do Rio Grande do Sul, num total de 9.000 km de extenso 48 . Segundo AbSber 49 , o termo restinga (...) se refere aos cordes de areias vinculados histria da sedimentao marinha costeira, dando-se expresso uma conotao nica florstica. O ecossistema de restinga pode ser definido como o conjunto das comunidades estabelecidas sobre os depsitos arenosos costeiros, cuja vegetao no sudeste brasileiro tem origem evolutiva relacionada especialmente s espcies de mata Atlntica 50 . Suas comunidades vegetais sofrem influncia marinha e fluvio-marinha, e se distribuem em mosaicos fisionomicamente distintos, apresentando grande diversidade ecolgica. Dependem mais das condies do solo que do clima. Tanto a flora como a fauna de restinga possuem mecanismos para suportar fatores fsicos dominantes, como a alta salinidade, extremos de temperatura, forte presena de ventos, escassez de gua, solo instvel, insolao forte e direta, entre outras condies adversas.
48 Disponvel em: <www.guiaguaruja.com.br/meioambiente/restinga.htm>. Acesso em: 01 Dez. 2006. 49 ABSBER, 2003, p. 47. 50 CERQUEIRA, 2000, p. 67.
21. Flor da Clusia fluminensis, espcie ornamental tpica da restinga, de grande efeito paisagstico. Foi descoberta por Burle Marx e Luiz Emygdio, em uma excurso ao Esprito Santo, e pela primeira vez foi utilizada em espao pblico nos jardins da praa Senador Salgado Filho, no Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro, dcada de 1950.
42
Entre as espcies vegetais tpicas de restinga, encontramos quaresmeiras, orqudeas, cactos, pitangas e bromlias, entre vrias espcies de grande aplicao paisagstica (figuras 21 a 27). Suas razes so na maioria, extensas e superficiais para aumentar a superfcie de absoro e contribuir para a fixao no substrato mvel. medida que se caminha do mar em direo ao continente, ocorre uma reduo na concentrao salina no solo, o que caracteriza formaes vegetais distintas.
22. Restinga com arbustivas e cactus em solo arenoso.
23. Allagoptera arenaria na restinga de Massambaba, regio dos lagos no Rio de Janeiro, ilustrando a arbustiva e o detalhe de sua flor.
24. Composio natural de Piloso cereus e Vriesea neoregelia.
43 2.1.4. OCUPAO DE MANGUEZAIS E RESTINGAS NO RIO DE JANEIRO
Situada em local de relevo bastante acentuado beira-mar, com inmeros veios dgua circundados pela exuberante Mata Atlntica, a baa de Guanabara oferecia aos olhos humanos uma espetacular paisagem, tinha razes de sobra para ser escolhida pelos primeiros portugueses que aqui se instalaram, estabelecendo o marco inicial, a pedra fundamental da cidade de So Sebastio Rio de Janeiro. A faixa litornea, antes da colonizao portuguesa, era ocupada por tribos de ndios tupis que utilizavam os manguezais para obter alimento, atividade sazonal restrita s pocas do ano em que no se cultivavam razes, quando pescavam e coletavam moluscos 51 . Com a ocupao pelos portugueses, manguezais e restingas passaram a ser erroneamente considerados improdutivos. Partindo deste princpio, as intervenes usuais nestas reas eram, em sua maioria, atividades predatrias do ambiente, como dragagem e canalizao dos cursos dgua, desmatamento e retirada de espcies vegetais para a obteno de lenha ou ornamentao, no caso de espcies como as orqudeas. No sculo XVII a regio da atual Baixada de Jacarepagu comeou a ser ocupada pelo cultivo da cana-de-acar e atividade pecuria, em sesmarias doadas pelos colonizadores aos jesutas, que por sua vez drenaram seus pntanos e canalizaram os cursos dgua. Anos mais tarde, com a decadncia econmica da cana-de-acar, a regio foi aos poucos abandonada. Esta regio de manguezais e restingas, at a dcada de 1920, no sofreu outras intervenes antrpicas, devido sua localizao afastada do centro urbano, pois, do ponto de vista
51 RIO DE JANEIRO (RJ), 2000, p. 17-21.
44 poltico-administrativo, estas reas eram consideradas insalubres, deixadas margem da expanso da cidade ou destinadas a usos pouco nobres; os ncleos populacionais habitavam de preferncia as reas mais secas. O DNOS 52 realizou vrios aterros e drenagem de cursos d'gua em manguezais e alagadios na Baa de Guanabara, assim como nas baixadas de Jacarepagu e Sepetiba, o que afetou significativamente os manguezais, prejudicados com a falta de irrigao. Na baixada de Jacarepagu, os estabelecimentos rurais ali situados se beneficiaram das obras de canalizao e drenagem feitas pelo DNOS; mas, a partir de 1970, o poder pblico abandonou a manuteno do sistema de drenagem, levando decadncia as atividades agro-pastoris. A partir da, a rpida expanso urbana para a zona oeste da cidade vem causando grandes transformaes nas reas de manguezais. As ocupaes so feitas, em sua maior parte, por condomnios de alta renda, mas h tambm casas operrias e favelas. Ocupaes estas que no foram acompanhadas pela infra-estrutura necessria; conseqentemente, o esgoto sanitrio chega s lagoas e canais fluviais, acarretando grandes mudanas na composio ambiental dos manguezais. Estas presses antrpicas tm comprometido drasticamente a qualidade dos manguezais. Dos mangues analisados no j citado livro Manguezais.. 53 , o da Lagoa da Tijuca o que apresenta maior riqueza florstica e faunstica, muito provavelmente em decorrncia do trabalho de ecognese promovido, entre outros empreendedores, pela Construtora Carvalho Hosken na Gleba E e no Parque Mello Barreto, como iremos analisar no sexto captulo.
52 DNOS: Departamento Nacional de Obras e Saneamento 53 RIO DE JANEIRO (RJ), 2000, p. 65.
45 2.2. 2.2. 2.2. 2.2. O PARQUE BRASILEIRO: A CONTRIBUIO DE GLAZIOU O PARQUE BRASILEIRO: A CONTRIBUIO DE GLAZIOU O PARQUE BRASILEIRO: A CONTRIBUIO DE GLAZIOU O PARQUE BRASILEIRO: A CONTRIBUIO DE GLAZIOU
No Brasil, o parque urbano tem sua origem no para atender s necessidades de lazer e embelezamento de grandes centros urbanos (tal como vinha ocorrendo na Europa, como vimos no captulo 1.4); mesmo porque no havia ainda at o sculo XIX cidades brasileiras de porte expressivo. Era, at ento, o Rio de Janeiro uma cidade pacata, ainda pouco desenvolvida, tanto em rea quanto em populao. O parque surge em territrio brasileiro como figura complementar ao cenrio das elites emergentes que procuravam construir uma figurao urbana compatvel com a de seus interlocutores internacionais, especialmente ingleses e franceses. 54 Ao contrrio desses pases, onde os parques urbanos eram voltados para a populao em geral, aqui o parque surge em funo das aspiraes burguesas das classes sociais mais privilegiadas. O primeiro parque urbano inaugurado no Brasil foi o Passeio Pblico Passeio Pblico Passeio Pblico Passeio Pblico, no Rio de Janeiro (figura28), na segunda metade do sculo XIX, onde outrora existiu a Lagoa do Boqueiro da Ajuda, aterrada com o desmonte do Morro das Mangueiras concebido por Mestre Mestre Mestre Mestre Valentim Valentim Valentim Valentim (figura 29), com o intuito de oferecer ao pblico um logradouro pitoresco e higinico. 55 Com traado de clara influncia do paisagismo francs clssico, apresentando fontes, esculturas, pergolados e construes, em meio a caminhos retilneos em perspectiva proporcionada pela vista do mar alis, fato indito no Rio de Janeiro, onde os espaos pblicos geralmente prescindiam da presena do mar e a cidade se desenvolvia indiferente
54 MACEDO, 2002, p. 16. 55 TERRA, 2000, p. 70.
46 a ele o Passeio Pblico era todo cercado por muros e sua visitao estava restrita a normas de vestimenta e conduta. Ao longo de quase um sculo passou por uma srie de reformas e obras de manuteno, mas a alterao mais significativa aconteceu por volta de 1860 56 , por obra do botnico francs Glaziou.
Auguste Franois Marie Glaziou Auguste Franois Marie Glaziou Auguste Franois Marie Glaziou Auguste Franois Marie Glaziou (1833-1906) realizou, no Passeio Pblico, uma mudana radical no traado original (figura 30), atravs de um desenho sinuoso, dando forma orgnicas a caminhos com perspectivas diferenciadas, com pontes e um lago artificial, oferecendo assim novos pontos-de-vista a cada curva. Atualmente, devido aos sucessivos
56 As obras se iniciaram em 1860 e o Passeio Pblico foi reaberto em 1880.
29. Passeio Pblico, 1783. Projeto de Mestre Valentim.
30. Passeio Pblico, 1880. Projeto de Glaziou.
28. Passeio Pblico, Rio de Janeiro.
47 aterros por que passou a Avenida Beira Mar, o terrao do Passeio Pblico no tem mais a vista para o mar; no entanto permanece at hoje o desenho de Glaziou 57 . Glaziou deixou um importante legado para o paisagismo no Brasil, ao iniciar a introduo dos elementos vegetais nativos da mata tropical na composio dos jardins que, antes, eram feitos somente com espcies vegetais exticas. Segundo Terra 58 , Glaziou fez vrias viagens pelo Brasil para a coleta e classificao de espcies vegetais autctones, as quais registrou em publicaes como Notcia sobre Botnica Aplicada, Resumo numrico das espcies de plantas colhidas na Comisso de explorao do Planalto de Gois, entre outras. At ento, as espcies nativas da mata atlntica, de exuberantes formas e cores, eram desconsideradas em seu valor paisagstico e esttico, relegadas apenas ao papel de mato, em privilgio da flora proveniente de outros continentes, como sia, frica e principalmente Europa. Segundo Segawa 59 , poca do colonialismo, a predileo dominante era pelo cultivo de espcies de plantas exticas.
57 TERRA, 2000, p. 71. 58 TERRA, op.cit., p. 60. 59 SEGAWA, 1996, p.139.
48 2.3. 2.3. 2.3. 2.3. FLORESTA DA TIJUCA FLORESTA DA TIJUCA FLORESTA DA TIJUCA FLORESTA DA TIJUCA
Afortunadamente, fugindo a essa tendncia em cultivar apenas espcies exticas em detrimento da vegetao nativa, encontramos um caso peculiar na Histria brasileira, nas palavras de Luiz Emygdio 60 : "a Floresta da Tijuca, a maior floresta urbana do planeta, foi, em grande parte, reflorestada por ordem de D. Pedro II que, inspirado pelo amor natureza de seu mestre Bonifcio, mandou retirar espcimes florestais de Guaratiba e transport-los, em carros de bois, para replant-los nas encostas dos macios da Tijuca". Esta foi a primeira iniciativa no sentido de recuperao da vegetao nativa que se tem notcia no Brasil, na segunda metade do sculo XIX, poca em que a agricultura cafeeira dominava a economia e avanava sobre os terrenos adjacentes cidade, comprometendo os mananciais hdricos. Como medida para se recuperar os cursos dgua o Imperador Dom Pedro II contratou, em 1861 61 , o Major Archer para dar incio ao replantio da floresta, com espcies trazidas de matas adjacentes. Trabalhando inicialmente com seis escravos, posteriormente contratou outros vinte e dois trabalhadores assalariados, que plantaram, em treze anos, cem mil mudas de espcies, em sua maioria nativas do Ecossistema da Mata Atlntica. O Baro Gasto d'Escragnolle deu continuidade ao replantio entre 1874 e 1888, quando foram introduzidas mais trinta mil mudas, e o paisagista Glaziou foi contratado para
60 MELLO Filho, 1999, p. 83-112. 61 SANTOS, 2003, p. 248.
32. Vista do Rio de Janeiro na Floresta da Tijuca. 31. Igreja de Nossa Senhora da Luz, na Floresta da Tijuca.
49 projetar um parque de visitao pblica, com caminhos, espaos de estar, pontes, lagos e fontes, com a insero de algumas espcies vegetais exticas 62 . Segundo Rocha 63 , por quatro vezes seguidas, na primeira metade do oitocentos, o Rio de Janeiro foi castigado por secas (...). Um trabalho planejado, com a desapropriao prvia, desde 1854, de terrenos, stios e propriedades onde estavam as nascentes, foi iniciado visando o reflorestamento com espcies nativas. Logo no primeiro ano, o administrador da floresta plantou 13.500 mudas. Apesar da forma pouco tcnica e pouco cientfica com que o trabalho foi realizado durante longos anos, apesar da incompreenso dos rgos pblicos que cortavam as verbas sempre, no final do sculo j havia nascido uma magnfica floresta que hoje emoldura e protege a cidade do Rio de Janeiro. A partir da Proclamao da Repblica, o parque ficou abandonado durante algumas dcadas, e somente na administrao de Raymundo Ottoni de Castro Maya, entre 1943 e 1946, o parque foi recuperado, com o trabalho do arquiteto Vladimir Alves de Souza e do paisagista Burle Marx.
50 2.4. 2.4. 2.4. 2.4. SCULO XX: EXPANSO URBANA DO RIO DE JANEIRO SCULO XX: EXPANSO URBANA DO RIO DE JANEIRO SCULO XX: EXPANSO URBANA DO RIO DE JANEIRO SCULO XX: EXPANSO URBANA DO RIO DE JANEIRO
no sculo XX que acontecem as maiores expanses e intervenes no stio da cidade do Rio de Janeiro. Com o desuso do trabalho escravo, em 1888, a cidade passou a receber grandes contingentes de imigrantes europeus e de ex-escravos, atrados pelas oportunidades de trabalha que surgiam. Entre 1872 e 1890, a populao carioca duplicou, passando de 274 mil para 522 mil habitantes. Em decorrncia o incremento populacional, o aumento da pobreza agravou a crise habitacional, grande problema da vida urbana no Rio desde meados do sculo XIX. O foco dessa crise era o centro, ou seja, a cidade antiga e suas adjacncias, onde se multiplicavam as habitaes coletivas mais conhecidas como cortios ou cabeas-de-porco e eclodiam as violentas epidemias de febre amarela, varola ou clera-morbo, que conferiam cidade fama internacional de porto ftido e sujo. Do ponto de vista da sade pblica, medidas sanitrias precisavam ser tomadas urgentemente: a regio central tornara-se lugar de malandragens, prostituio e foco de toda sorte de vcios e doenas; enfim, graves problemas sociais alastravam-se em decorrncia de seu rpido e desordenado crescimento 64 . Foram os higienistas os primeiros a formular seu discurso acerca das precrias condies de vida na cidade, propondo intervenes mais ou menos drsticas para restaurar o equilbrio de um organismo doente. Defendida pelo poder pblico como questo de orgulho e boa imagem em nvel nacional e internacional, a reforma urbana de Pereira Passos sustentou-se pelo discurso do saneamento, mas, para isso, o prefeito tomou atitudes
64 RODRIGUES e FALCON, 2000.
51 drsticas: dissolveu a Cmara dos Vereadores e tomou decises de forma ditatorial, amplamente apoiado pelo presidente Rodrigues Alves. A abertura de novas ruas, mais amplas, e o embelezamento dos espaos de circulao tiveram a finalidade de atrair o capital estrangeiro para o pas, afinal, tratava-se da capital federal e era necessrio fazer uma faxina no carto de visitas do Brasil, alavancando, desta maneira, a economia nacional. Era preciso sanear a cidade e, para isso, as ruas deveriam ser, segundo as teorias desenvolvidas na poca, necessariamente mais largas, criando condies para arejar, ventilar e iluminar os edifcios e espaos pblicos. Ruas mais largas estimulariam igualmente a adoo de um padro arquitetnico que fizesse jus a uma cidade-capital. Apoiada nas idias de civilizao, beleza e regenerao fsica e moral, a reforma promoveu uma intensa valorizao econmica do solo urbano do centro, atingindo como um cataclismo a populao de baixa renda que ali vivia. Demoliram-se e despejaram-se, muitas vezes de forma violenta, tudo quanto atravancasse os desgnios do ideal de renovao e modernizao. Mais de mil prdios residenciais antigos foram demolidos e milhares de famlias ficaram desabrigadas; aquelas que possuam algum recurso financeiro tiveram a possibilidade de construir suas casas em reas mais afastadas do centro, iniciando a expanso da periferia; quem no tinha recursos, comeou a construir precrias moradias nas encostas e morros da cidade, dando incio formao das primeiras favelas 65 .
65 ABREU, 1987, p. 51.
52 2.5. 2.5. 2.5. 2.5. AT AT AT ATERRO DO FLAMENGO ERRO DO FLAMENGO ERRO DO FLAMENGO ERRO DO FLAMENGO
Das radicais reformas modernistas que se seguiram, com demolies e desmontes de morros e aterramentos, foi criado o Parque do Aterro do Flamengo que, segundo Costa 66 , curiosamente, surgiu do que hoje certamente seria considerado um crime ambiental o desmonte do Morro de Santo Antnio e o aterro de 120 hectares s margens da Baa de Guanabara. Foi na administrao do prefeito Dulcdio Cardoso (1952-54) que se iniciou o desmanche do Morro de Santo Antnio, dando origem ao aterro que faria a ligao entre o centro e a Avenida Beira Mar (aterro feito na praia de Botafogo durante o governo de Pereira Passos) 67 . As obras do aterro foram concludas no governo de Carlos Lacerda (1961-65) com a concluso das vias expressas e do Parque do Flamengo. Criou-se o Grupo de Trabalho para Urbanizao do Aterrado, presidido por Maria Carlota de Macedo Soares, com projeto urbanstico de Affonso Eduardo Reidy, projeto paisagstico de Burle Marx, assessoria botnica de Luiz Emygdio, arquitetura de Srgio Bernardes e Jorge Moreira, entre outros. O Aterro do Flamengo tem rea de novecentos e trinta mil metros quadrados, o que o torna o maior jardim brasileiro, com um extenso programa que inclui equipamentos de lazer, servios pblicos e vias de circulao de veculos, pedestres, ciclistas, alm das extensas reas ajardinadas e arborizadas 68 . O Parque Brigadeiro
66 COSTA, Lcia, 2003, p. 278. 67 COHEN e FRIDMAN, 1998, p. 41. 68 BONDUKI, 1999, p. 127.
34. Parque do Aterro do Flamengo com a cobertura vegetal desenvolvida.
33. Parque do Aterro do Famengo logo aps sua inaugurao.
53 Eduardo Gomes, conhecido como Aterro do Flamengo, possui 1.200.000m de rea verde, inaugurado em 12 de outubro de 1965. Hoje este parque representa uma das principais referncias na paisagem urbana carioca, "parque pblico de repercusso internacional, a mais importante rea verde pblica carioca do sculo XX" 69 . Desde o Aeroporto Santos Dumont Enseada de Botafogo, o parque oferece diversas atraes, como quadras polivalentes, campos de futebol, playground, anfiteatro, pistas de skate e aeromodelismo, alm de restaurantes e quiosques, a Marina da Glria e o Museu de Arte Moderna - MAM. Sua vegetao apresenta grupos de plantas da mesma espcie, com a aplicao de plantas brasileiras que no eram usuais em paisagismo, como, por exemplo, o abric-macaco e o pau-mulato, em um total de 11.600 rvores de 190 espcies, entre nativas e exticas 70 , oferecendo ao pblico, segundo Luiz Emygdio, inmeras possibilidades de recreao visual.
37. Ambiente no Parque do Flamengo. A arborizao do Aterrado reunir dois elementos o autctone e o extico cuja combinao exigir a justa apreciao de seu comportamento paisagstico e de suas exigncias ecolgicas. Luiz Emygdio em A Arborizao do Aterro Glria-Flamengo, Revista Municipal de Engenharia (Jan.-Dez./1962)
54 2.6. 2.6. 2.6. 2.6. EXPANSO PARA O OESTE: Lcio Costa e o Plano da Baixada de Jacarepagu EXPANSO PARA O OESTE: Lcio Costa e o Plano da Baixada de Jacarepagu EXPANSO PARA O OESTE: Lcio Costa e o Plano da Baixada de Jacarepagu EXPANSO PARA O OESTE: Lcio Costa e o Plano da Baixada de Jacarepagu
Quatro anos aps a inaugurao do Parque do Flamengo, o plano piloto para a Barra e Baixada de Jacarepagu foi desenhado por Lcio Costa, contratado pelo diretor do DER 71 , Geraldo Segadas Viana. Em sua proposio urbanstica 72 , Lcio faz uma retomada histrica da ocupao urbana do Rio de Janeiro, onde divide o crescimento da cidade em trs fases: a primeira vai desde a chegada dos portugueses at o fim do segundo imprio, onde o crescimento lento e adaptado ao relevo; apesar de terem ocorrido desmontes de morros e aterros, nenhuma destas intervenes foi de grande porte. A segunda fase marcada pela criao de dois plos distintos: Tijuca e Copacabana, durante quase todo o sculo XX. A terceira fase inicia-se a partir da implementao deste plano, que faz a ligao entre as zonas sul e norte, dando suporte para a expanso da zona oeste e constituindo a Barra como novo plo de convergncia e irradiao da cidade. Lcio Costa tinha conscincia do valor que representava a Reserva biolgica da regio ao afirmar que "o primeiro impulso h de ser sempre o de impedir que se faa seja l o que for. Mas por outro lado sua intensa ocupao , j agora, irreversvel". Esta a contradio fundamental que se apresenta ao urbanista, e aqui Lcio d margem a que se apresentem propostas inovadoras: "o problema consiste ento em encontrar a frmula que permita conciliar a urbanizao na escala que se impe, com a salvaguarda, embora parcial, dessas peculiaridades que importa preservar".
71 DER: Departamento de Estradas e Rodagem 72 COSTA, 1969, s/p.
55
38. Plano para a Baixada de Jacarepagu, de Lcio Costa, 1969.
56 Para aliar a urbanizao a este cenrio natural agreste, Lcio Costa propunha adotar um partido urbanstico onde houvessem vrios ncleos urbanos, afastados entre si, com edifcios de alturas entre oito e dez pavimentos sendo dois apartamentos por andar, a fim de se evitarem massas edificadas desmedidas e residncias trreas, assim como blocos econmicos, certamente visando a habitao de baixa renda. Entre as edificaes, os espaos livres dariam espao vegetao natural, e para propiciar a confluncia em vez da disperso o urbanista idealizou um sistema de lojas e servios, com passeio coberto de seguimento contnuo, embora quebrado por sucessivas mudanas de rumo, criando-se assim ptios, pracinhas e reas de recreio para crianas. O amplo espao livre restante, para Lcio, deveria ser um bosque rstico, integrando-se ao ambiente natural e proporcionando benfazejo contraste entre os espaos urbanizados e o meio ambiente. Lcio define quais deveriam ser esses espaos naturais: As belas vrzeas contidas entre a Pedra da Panela e os morros da Muzema e do Pinheiro, ou entre os Dois Irmos e a Pedra Negra, assim como a ampla rea que vai do rio Marinho ao rio Caambe e aquela compreendida entre os morros Portela e Amorim, embora comportem ocupao residencial, deveriam ser, de preferncia, consideradas para finalidades que requeiram espaos abertos e ambientao. 73
Lcio Costa tambm definia reas de uso industrial ao norte, no s porque acessveis aos subrbios e trama rodoviria, como porque j comportam slido lastro proletrio. As reas de Sernambetiba e vargens Grande e Pequena deveriam ser de uso rural, como chcaras ou granjas.
73 COSTA, 1969, p. 351.
57 Mas a ocupao da Barra da Tijuca pelas grandes construtoras acabou transformando o espao em algo bem diferente da utopia delineada pelo urbanista. Em 1981 74 , doze anos aps o Plano, Burle Marx observou: "Um dos casos mais aterradores dos ltimos tempos de interferncia brutal na paisagem acontece na Barra (...). A flora de restinga ali existente est sendo pulverizada. A ocupao da rea se faz de acordo com o plano Lcio Costa, mas a legislao que regulamenta a construo no aborda o problema da vegetao original. (...) Esse crime inadmissvel para quem conhece as potencialidades da vegetao de restinga. E afirmo que possvel compatibilizar as necessidades construtivas com a manuteno das formaes vegetais existentes". A atual Barra da Tijuca no segue o projeto de Lcio Costa, como ele prprio registrou alguns anos mais tarde 75 : "o mau destino fez da Barra o que quis. Sobrou apenas este texto que revela a inteno original do urbanista". Para Chacel, o que vem ocorrendo na Barra reflexo de um fenmeno da sociedade atual, em que os arquitetos entraram num processo de perda do poder; os corretores imobilirios tomaram a frente, porm com uma viso muito limitada, com o objetivo apenas de obter lucro imediato, desprezando questes de natureza arquitetnica, social, esttica ou ecolgica.
Agora que tivemos um panorama do contexto em que se insere o tema desta dissertao, vamos falar sobre o conceito de ecognese: como surgiu, quem foram os principais atores, os primeiros projetos e alguns de seus desdobramentos. Denomina-se por ecognese a reconstituio de ecossistemas parcialmente ou totalmente degradados, valendo-se de uma re-interpretao do ecossistema atravs do plantio de espcies vegetais autctones, em um trabalho de equipe multidisciplinar que envolve profissionais da botnica, da biologia, da zoologia, da geografia, entre outros, alm do arquiteto paisagista. A ecognese procura reconstruir as paisagens que j sofreram profundas modificaes em sua estrutura, valendo-se de elementos vegetais provenientes de todos os estratos, e recompondo suas associaes originais, num processo de recuperao ambiental. A primeira vez que se fez um trabalho de recuperao ambiental como foi discutido no captulo 2.3 foi o reflorestamento da floresta da Tijuca, e apesar da pouca tcnica e pouco rigor cientfico, de acordo com Rocha 76 , em alguns anos a floresta renasceu, servindo de exemplo para novas iniciativas desta natureza. De acordo com Santos 77 , outros reflorestamentos foram realizados no Rio de Janeiro por rgos pblicos, ao longo do
59 sculo XX e, embora tenham sido aes isoladas e descontinuadas, originaram trechos considerveis de matas secundarizadas que ainda hoje persistem. Em uma poca em que o esgotamento dos recursos naturais e conseqente aquecimento global so preocupaes em nvel internacional e vrias medidas tm sido adotadas, em todo o mundo, no sentido de reconstituir ambientes destrudos, a ecognese vem brotando como um novo conceito que, ainda em fase de definio de paradigmas e diretrizes, denomina-se de vrias formas. Neste sentido, pesquisadores da EMBRAPA 78 do Estado de Roraima e afirmam que, por tratar-se de uma cincia recente e de carter eminentemente multidisciplinar, seu escopo vem sendo delineado e redefinido constantemente, e que o aprimoramento de tal nomenclatura vem acompanhando a evoluo da pesquisa com o tema e definem por Restaurao Ecolgica a cincia, prtica e arte de assistir e manejar a recuperao e integridade ecolgica dos ecossistemas, incluindo um nvel mnimo de biodiversidade e de variabilidade na estrutura e funcionamento dos processos ecolgicos, considerando seus valores ecolgicos, econmicos e sociais. Para Franco 79 , ocorreram no sculo XX transformaes scio-culturais to radicais que mudaram as nossas relaes espao-temporais, o que leva necessidade de mudana de paradigmas: o conceito de espao substitudo pelo de ambiente, conceito este um tanto mais complexo que se compe de espaos edificados, espaos livres de edificaes, os espaos verdes, as guas e o relevo, assim como os seres vivos e seres humanos que convivem e interagem entre si em um dinmico fluxo que deve se manter em harmonia,
60 acumulando trocas e experincias. Em uma viso holstica, a ecognese trabalha com informaes pertinentes s cincias que estudam cada um destes elementos, procurando atender s necessidades de cada um deles. A palavra ecognese, proveniente da botnica, um neologismo, isto , um nome novo para uma antiga idia. O termo foi cunhado por Luiz Emygdio de Mello Filho, e surgiu com base em pesquisas desenvolvidas em parceria com bilogos e botnicos do Museu Nacional, no Rio de Janeiro da dcada de 1940. E Luiz Emygdio tinha idias semelhantes s do botnico autodidata Mello Barreto, que mesma poca, mas em outra cidade (Belo Horizonte) preconizava vrias das iniciativas do mtodo de reconstituio ecogentica embora no utilizasse a palavra. Nesse tempo, Burle Marx j utilizava espcies nativas em suas paisagens, mas a partir do encontro com Mello Barreto que aprofunda seus conhecimentos acerca das associaes vegetais. Entre 1942 e 1945, Mello Barreto e Burle Marx desenvolveram em parceria os projetos de paisagismo para a Pampulha e para o Parque do Barreiro de Arax, em Minas Gerais, baseando-se principalmente nas caractersticas fitogeogrficas do cerrado 80 . Em Arax o conceito de ecognese foi parcialmente implantado: segundo Chacel 81 , esse parque seria uma espcie de mostrurio da paisagem brasileira, com espcies e associaes do cerrado e tambm de outros ecossistemas brasileiros, como a caatinga e a Amaznia, formando ambientes paisagsticos exatamente como eles aparecem na natureza. No entanto, o Parque do Barreiro de Arax tornou-se economicamente invivel, alm da dificuldade de aceitao pelo fator cultural, como veremos mais adiante.
80 LANA, 1998; PORTO, 2005. 81 CHACEL, 2000, p. 13.
61 Outro projeto desenvolvido por Burle Marx e Mello Barreto, juntamente com o bilogo Mello Carvalho, seguindo essa mesma tendncia ecolgica, foi o Grupo Biolgico das Lagoas, na regio dos lagos do antigo Distrito Federal, atual Estado do Rio de Janeiro. Nesta proposta, datada de 1949, cuja finalidade era representar associaes naturais de animais e plantas, mas, segundo Chacel, no foi executado por falta da presso de uma legislao ambiental efetiva. Alguns anos mais tarde, no incio da dcada de 1950, Fernando Chacel estabelece contato com Burle Marx e Luiz Emygdio, absorvendo influncias que foram decisivas na definio de sua metodologia projetual. Atualmente, a ecognese tem sido, com freqncia, associado ao nome de Chacel, pois ele quem mais a utiliza em seu discurso projetual. No entanto, para falarmos sobre Chacel e sua relao com a ecognese, vamos primeiro entender quem foram os personagens decisivos para a definio de sua metodologia de trabalho. .
Todas as plantas fazem parte de uma organizao que os religiosos chamam de Deus. O criador de alguma coisa ter o direito de saber mais sobre ela, e a iluso de mitigar a sua curiosidade. Burle Marx 82
O paisagismo moderno brasileiro surge com Roberto Burle Marx (1909/1994), artista de incontestvel sensibilidade esttica, de extrema e delicada curiosidade pelos valores plsticos da natureza. A seu respeito, Lcio Costa 83 diz que "sua vida um permanente processo de pesquisa e criao. A obra do botnico, do jardineiro, do paisagista, se alimenta da obra do artista plstico, do desenhista, e vice-versa, num contnuo vai-e-vem". Tabacow 84 nos conta que Lcio Costa foi o primeiro a perceber o dom do garoto de quinze anos, convidando-o a fazer o jardim da primeira casa modernista do Rio; e Roberto, por inexperincia, colocou uma sobreposio de espcies que ele mesmo considerou, mais tarde, "um peru num pires". Mas Lcio dizia-lhe: "ficou muito bom, meu filho". Mas o jovem Roberto percebeu que era mais o professor encorajando o aluno do que o profissional analisando com olhos crticos. Burle Marx desde pequeno j demonstrava inclinaes artsticas, em grande parte estimulado por sua famlia, em especial sua me, amante das artes e da natureza,
82 CALS, 1995, p. 25. 83 COSTA, 1995, p. 429. 84 TABACOW, entrevista disponvel em <http://www.vitruvius.com.br>. Acesso em: 04 Dez. 2006.
39. Burle Marx e Lcio Costa.
63 realizava saraus e cultivava extensos jardins ornamentais. Mas foi em Dahlem, na Alemanha, que despertou seu olhar para o enorme potencial paisagstico da flora tropical. De volta ao Brasil, comeou a utilizar espcies nativas em espaos pblicos de Recife, em Pernambuco, palco das primeiras obras do artista segundo Carneiro e Pessoa 85 , onde realizou seu primeiro jardim ecolgico 86 na praa Euclides da Cunha (figura 40), com o uso de formas livres e espcies vegetais tpicas das regies de Pernambuco e Bahia. Burle Marx despertara seu interesse pelos valores ecolgicos regionais de forma mais ou menos intuitiva, passando a aprofundar seus conhecimentos em botnica e fito-ecologia ao entrar em contato com o botnico Mello Barreto, em Belo Horizonte, Minas Gerais, ocasio em que foi convidado para fazer os jardins do complexo da Pampulha e, logo em seguida, recebeu convite para o Parque de Arax, em 1943. Mello Barreto ensinou-lhe que no basta apenas conhecer as plantas, voc tem que v-las em seu habitat natural, junto com outras plantas. Assim Mello Barreto e Burle Marx realizaram juntos vrias expedies em busca de novas espcies e suas associaes naturais. Em 1950 Burle Marx conheceu o botnico Luiz Emygdio, e a empatia entre eles foi imediata. Emygdio era chefe do Departamento de Botnica do Museu Nacional do Rio de Janeiro, quando recebeu a visita de Burle e o presenteou com uma Heliconia stricta Huber, que o deixara extasiado 87 . Juntos fizeram vrias excurses de onde coletaram inmeras espcies de grande valor ornamental ainda inditas nos projetos de paisagismo.
85 CARNEIRO e PESSOA, disponvel em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq042/arq042_03.asp>. Acesso em: 07 Dez. 2007. 86 FLEMING, 1996, p. 44. 87 MELLO Filho. Disponvel em <http://obras.rio.rj.gov.br/rmen/eletronica_burle/eletronica_html/28.htm>. Acesso em: 20 Jun. 2007
40. Desenho da Praa Euclides da Cunha Recife, 1935.
41. Projeto de Burle Marx para a residncia Odete Monteiro. Petrpolis, 1948.
64 Burle Marx pesquisou, catalogou e colecionou diversas espcies ainda desconhecidas no meio botnico e cientfico e passou a adot-las em suas composies paisagsticas. Algumas espcies por ele encontradas levam seu nome, como, por exemplo, a Calathea burle-marxii, ou a Ctenanthe burle-marxii, provenientes da regio sudeste do pas. Burle declarava que essas viagens trouxeram para mim toda uma compreenso da planta em seu habitat, da maneira justa de associ-las e, muitas vezes, de associar plantas que, embora de regies diversas, se irmanavam nas suas atitudes e exigncias 88 . Ele reinterpretava as associaes da natureza, procurando obter efeitos plsticos diferenciados, sempre atento s formas, cores, texturas, repeties ou contrastes. Conceituava o jardim como "a adequao do meio ecolgico s exigncias naturais da civilizao" 89 , e concebia verdadeiras composies plsticas: decidi-me a usar a topografia natural como uma superfcie para a composio e os elementos da natureza encontrada minerais, vegetais como materiais de organizao plstica, tanto quanto qualquer outro artista procura fazer sua composio com tela, tintas e pincis 90 . Burle Marx realizou diversos jardins e parques, em reas pblicas e particulares, no Brasil e no exterior, deixando um riqussimo legado paisagstico que influenciou geraes de artistas e paisagistas em todo o mundo entre eles, Fernando Chacel.
88 TABACOW, 2004, p.17. 89 LEENHARDT, 2000, p. 47. 90 TABACOW, op.cit., p.23. 42. Parque Del Este, Caracas, Venezuela, 1957. Neste projeto Burle Marx contou com a colaborao de Luiz Emygdio.
65 3.2. 3.2. 3.2. 3.2. HENRIQUE LAHMEYER DE MELLO BARRETO HENRIQUE LAHMEYER DE MELLO BARRETO HENRIQUE LAHMEYER DE MELLO BARRETO HENRIQUE LAHMEYER DE MELLO BARRETO
Henrique Lahmeyer de Mello Barreto nasceu no dia 13 de setembro de 1892, no Rio de Janeiro, transferindo residncia para Belo Horizonte aos dezoito anos, por motivo de sade. Segundo Porto 91 , foi autodidadata em Botnica, e em 1926 assumiu o cargo de Mestre de Cultura da Secretaria de Estado de Agricultura, assumindo tambm a direo do Horto Florestal de Cataguazes. O botnico Renn 92 deixou uma pequena biografia sobre Mello Barreto, de onde tiramos algumas informaes a respeito daquele que viria, trinta e trs anos pstumos, deixar sua memria em uma singela e justa homenagem no parque que leva seu nome, na Barra da Tijuca. Segundo Renn, em janeiro de 1932, o Decreto Lei n 10.232 determinou a criao do Jardim Botnico de Minas Gerais, cujo primeiro e nico diretor foi Mello Barreto. Apesar de sua curta durao, somente dois anos, o trabalho de Mello Barreto no Jardim Botnico atraiu o interesse da comunidade cientfica de outros Estados. Em 1934 o Jardim Botnico foi reduzido Seo de Botnica da Estao Experimental de Minas Gerais, que nos anos 1960 se tornou Instituto Agronmico do Estado. Esse fato no arrefeceu os nimos de Mello Barreto, cuja produo foi to intensa que, em pouco tempo, seu herbrio alcanou notoriedade internacional, atraindo a ateno de botnicos da Alemanha, dos Estados Unidos e de outros pases. Assumiu diversos cargos pblicos para o Estado de Minas Gerais e, alm de lecionar como professor da Cadeira de Histria Natural
91 PORTO, 2005, p. 291. 92 RENN, 1965, pp.1-8.
66 na Faculdade de Medicina de Minas Gerais entre 1933 e 39, tambm lecionou na Faculdade de Filosofia. Mas seu trabalho mais profcuo foi o Herbrio de Mello Barreto (como tornou-se popularmente conhecido), com um rico acervo florstico de Minas Gerais, poca um dos melhores da Amrica Latina. Mello Barreto deixou poucos trabalhos publicados. No entanto, autor de vrias classificaes botnicas, que foram relacionadas em levantamento realizado por Renn 93 e sua equipe. Foi membro da Academia de Cincias de Minas Gerais, Delegado do Conselho Nacional de Fiscalizao das Expedies Artsticas e Cientficas no Brasil, em Minas Gerais, e Membro fundador da Sociedade Botnica do Brasil, fundada em 1950. Freqentou a faculdade de Agronomia por dois anos, mas no chegou a se formar. Era homem estudioso e autodidata, sabia ler em vrios idiomas e tinha largos conhecimentos humansticos e boa cultura, segundo o autor. Em 1946, Mello Barreto voltou ao Rio de Janeiro, a convite da prefeitura do Distrito Federal, para dirigir e reorganizar o Jardim Zoolgico, o que a princpio causou certa estranheza: um botnico ser convidado a gerir um Jardim Zoolgico. Mas seu amplo conhecimento fito-ecolgico realizou sensveis mudanas no local, com a aclimatao dos ambientes e devida adequao s necessidades dos animais. Henrique Lahmeyer deixou sua colaborao tanto nas parcerias paisagsticas com o amigo Burle Marx como em comisses cientficas de vrios Estados, e em 1953 ganhou a medalha de Honra ao Mrito da Esso Standard Brasil. Trabalhou intensamente at sua morte aos setenta anos, em 20 de outubro de 1962.
93 RENN, 1965, p. 5.
Fato curioso na vida de Mello Barreto era a sua superstio por uma determinada planta, vulgarmente conhecida por folha da fortuna (Briophyllum calycinum Salisb.), tida e havida, na crendice popular como planta de azar. Passeando certa vez com Mello Barreto pelos jardins do Instituto Agronmico e aproximando- nos de um canteiro onde vicejava aquela interessante Crassulcea, lembrei-me do fato e resolvi p-lo a prova. Destaquei com certa rapidez algumas folhas deste vegetal e as coloquei nas mos de Mello Barreto, perguntando-lhe: - Que planta esta, mestre? Mello Barreto, quando percebeu em suas mos aquela planta, sua reao foi to pronta e impulsiva, e como se assustasse, atirou-as longe, pronunciou vrias palavras desconexas e incompreensveis e passou-me um sabo, que at hoje me arrependo da brincadeira, e custo a compreender como poderia acontecer isto com Mello Barreto. RENN, op.cit., p. 7.
43. Ilustrao de uma Crassulaceae e detalhes de sua composio.
67 5.3. 5.3. 5.3. 5.3. LUIZ EMYGDIO DE MELLO FILHO LUIZ EMYGDIO DE MELLO FILHO LUIZ EMYGDIO DE MELLO FILHO LUIZ EMYGDIO DE MELLO FILHO
Luiz Emygdio de Mello Filho Luiz Emygdio de Mello Filho Luiz Emygdio de Mello Filho Luiz Emygdio de Mello Filho (1914-2002) considerado por Chacel como pessoa de suma importncia em sua formao profissional. Luiz Emygdio graduou-se em Medicina, Histria Natural e Farmcia, foi doutor em Cincias Biolgicas e Biologia. Foi professor no Museu Nacional e participou de diversos grupos de pesquisa, foi consultor botnico em projetos de arquitetura, paisagismo e urbanismo. Foi ele o responsvel pela incurso dos projetos de Burle Marx nos espaos pblicos do Rio de Janeiro, quando em 1951 foi Diretor do Departamento de Parques do Rio. O primeiro projeto foi o parkway da praia de Botafogo, logo em seguida veio o jardim da praa Salgado Filho, em frente ao Aeroporto Santos Dumont, com a colaborao de Mello Barreto. Luiz Emygdio integrou o Grupo de Trabalho, criado no governo Carlos Lacerda, para coordenao e superviso dos projetos do Aterro do Flamengo como vimos no captulo 2.5 onde foram utilizadas diversas espcies da flora tropical brasileira, em grande parte, inseridas pela primeira vez em espao pblico, como por exemplo a Clusia fluminensis (ver figura 21) ou a Bumelia obtusifolia 94 . O botnico trabalhou com Burle Marx e Chacel; com o ltimo manteve sociedade na empresa A Paisagem, durante sete anos. "Fizemos todo o sistema de vilas de
44. O paisagista Burle Marx acompanhado dos botnicos Magu Costa Ribeiro e Luiz Emygdio.
68 operadores, e reas de influncia direta das barragens pblicas, que foram vrias", diz Chacel, referindo-se s diversas barragens e hidreltricas que juntos realizaram nos anos 1970. Mesmo aps a dissoluo da empresa, a parceria profissional continuou atravs de consultorias, que se seguiram por muitos anos. No prefcio ao livro de Chacel 95 (ver captulo 4.2), Luiz Emygdio fala sobre essa parceria: "pude acompanhar a ascenso conceitual que levou Chacel a situar-se como um pensador que soube encarar, definir e projetar os espaos paisagsticos sob uma viso holstica, embora diferenciados e multifacetados em relao aos atributos peculiares de cada um deles". Na dcada de 1980, foi consultor no projeto da Gleba E; mais tarde, j na dcada de 1990, no Projeto do Parque Mello Barreto, onde encontrou espao para por em prtica suas teorias de ecognese. Chacel afirma que Luiz Emygdio o seu guru, pois foi a partir dessa parceria profissional que ele passou a ter uma viso mais holstica da paisagem. Viveu oitenta e oito anos em plena atividade profissional, o que fazia com entusiasmo e dedicao incrveis. Sua contribuio notria entre bilogos, botnicos e paisagistas. Segundo Chacel, ele foi o mais paisagista dos botnicos e o mais botnico dos paisagistas. No Rio de Janeiro duas homenagens lhe foram prestadas: uma a trilha ecolgica no Parque da Gleba E; a outra o Horto Florestal do Parque do Flamengo, espaos verdes que levam o nome de Luiz Emygdio de Mello Filho.
95 CHACEL, 2001, p. 13.
69 3.4. 3.4. 3.4. 3.4. ECOGNESE: OS PRIMEIROS PROJETOS ECOGNESE: OS PRIMEIROS PROJETOS ECOGNESE: OS PRIMEIROS PROJETOS ECOGNESE: OS PRIMEIROS PROJETOS
Para Chacel, o grande atrativo de se trabalhar com a ecognese est na possibilidade de recriar paisagens imagem e semelhana da ambincia natural. A paisagem criada por mos humanas ser sempre uma paisagem cultural, onde o principal beneficiado o ser humano. Ele afirma que: a ecognese, com pequenas modificaes, como manifestao feita pelo homem, no uma paisagem natural, mas um processo dentro da paisagem cultural. Ela deve considerar as caractersticas culturais de quem vai usar a paisagem, e quem vai usufruir isso o homem. Os outros seres vivo tambm, mas estamos falando principalmente do homem, nesse caso. A ecognese uma interveno local. Ao se fazer um projeto ecogentico no Rio Grande do Sul, vai-se trabalhar com o ecossistema de l; da mesma forma, no se deve trabalhar na Amaznia com flora do litoral. O que caracteriza a ecognese exatamente a busca de elementos primitivos das paisagens naturais dos locais em que se est trabalhando. Ao usar, numa restinga do Rio de Janeiro, elementos da restinga do nordeste, sero espcies exticas em relao restinga do Rio. Existem pequenas diferenas dentro do prprio ecossistema, que so diferenas locais. Vamos apresentar os dois projetos onde pela primeira vez aparecem intenes de se recuperar aspectos originais do meio ambiente: o Parque do Barreiro de Arax, em Minas Gerais, de Burle Marx e Mello Barreto, em 1943, e o Grupo Biolgico das Lagoas, projeto da dupla com a colaborao do zologo Mello Carvalho, de 1949.
70 3.4.1. PARQUE DO BARREIRO DE ARAX
Em 1943, Burle Marx foi convidado pelo governador de Minas Gerais, Benedito Valadares, para realizar o projeto para o Parque do Barreiro, em uma pequena cidade mineira chamada Arax. H um ano Burle j estava trabalhando nos jardins da Pampulha, na capital Belo Horizonte, que viria a ser marco fundamental na moderna arquitetura no Brasil, tanto pela tecnologia avanada como pela diversidade do carter dos espaos de uso coletivo e complexidade dos programas arquitetnico e urbanstico 96 . Nestes trabalhos da Pampulha e de Arax o paisagista encontra o botnico autodidata Mello Barreto. Aqui surge uma profcua parceria que viria a gerar outros projetos, mas que por diversas dificuldades acabaram engavetados ou adulterados, segundo Burle Marx: Nesses anos de convvio, realizamos vrios trabalhos em conjunto, onde ideais paisagsticos e ecolgicos deveriam se completar, num esforo de tornar conhecidas essas formaes peculiares nossa terra. Mas as dificuldades eram grandes e os trabalhos assim concebidos e orientados quase sempre esbarravam na incompreenso ou nas reaes negativas. Os projetos dessa poca, em sua maioria, foram deformados, truncados, realizados parcialmente ou simplesmente ficaram no papel. Burle Marx projetou os jardins do Barreiro de Arax com desenhos de traado curvilneo, estabelecendo formas orgnicas e irregulares, explorando contrastes cromticos e recursos paisagsticos da flora autctone 97 . O plano foi concebido em vinte e cinco sees
96 LANA, 1998, p. 93. 97 PORTO, 2005, p. 296.
45. Parque do Barreiro de Arax
46. Parque do Barreiro de Arax
71 compostas por grupos vegetais de diferentes regies do ecossistema de cerrado e de outras fitofisionomias, criando jardins rupestres 98 com diferentes tipos de formaes rochosas e suas respectivas floras; para tanto foi fundamental a consultoria de Mello Barreto. Havia na proposta, tambm, uma idia de criar um viveiro de animais silvestres que seriam mantido em reas livres, evidenciando a preocupao em estabelecer relaes entre fauna e flora da regio. Os diversos jardins representariam os ecossistemas de diferentes regies do Brasil, uma proposta um tanto ousada para a poca, como relata Fleming 99 : Era um esquema visionrio e provavelmente muito caro, rejeitado pelo comit. Esperando, sem dvida, os canteiros circulares cheios de cravos-de-defunto e outras beldades europias, eles no eram capazes de entender esta abordagem revolucionria. Somente as rvores grandes foram plantadas de acordo com o projeto de Roberto. Mello Barreto registrou no Memorial Descritivo que o Parque do Barreiro do Arax est sendo feito dentro de princpios inteiramente novos, pois se diferencia da esttica vigente de se utilizar poucos elementos vegetais, em sua grande maioria exticos. Mello Barreto revela seu cuidado com o carter cultural destes jardins: ao lado da finalidade paisagstica, tambm existir no Barreiro uma expresso cultural, pois na constituio dos diferentes grupos vegetativos por-se- em relevo a feio decorativa caracterstica que cada um poder apresentar. Para reproduzir os ambientes tpicos de cada associao ecolgica, fizeram parte das composies tambm as rochas e solos tpicos de cada associao florstica. 100 Isto denota
98 Rupestre: que se desenvolve sobre rochas, o mesmo que rupcola. 99 FLEMING, 1996, p. 54. 100 PORTO, 2005, p. 297.
72 a inteno de se criar um parque didtico onde as diversas vegetaes seriam apresentadas ao pblico como espcies de valor ornamental e ambiental. Em uma poca onde o gosto predominante era pelos jardins franceses de estilo clssico, com linhas retas e espcies exticas em topiaria, as propostas de Burle Marx e Mello Barreto no foram compreendidas. Mas Fleming otimista ao ponderar que, apesar da ignorncia ecolgica daquela poca, atualmente a preocupao com a questo ambiental mudou bastante e, como os projetos ainda existem, eles podem vir a ser implantados. Apesar da pouca aceitabilidade da produo ecogentica, a fase mineira trouxe sensveis modificaes no paisagismo de Burle Marx, a partir de quando adquire carter nitidamente interativo com o meio bitico, respaldando-se em critrios cientficos 101 . A importncia da realizao deste projeto est sobretudo na mudana que se operou na metodologia de Burle Marx, que viria a influenciar novas geraes, lanando as sementes de uma nova concepo da paisagem.
101 LANA, 1998, p. 99.
73 3.4.2. GRUPO BIOLGICO DAS LAGOAS LITORNEAS DO DISTRITO FEDERAL
O Grupo Biolgico das Lagoas Litorneas do Distrito Federal foi concebido em 1949, por uma parceria entre Burle Marx, Mello Barreto e o zologo Jos Cndido de Mello Carvalho. O local de interveno a Regio dos Lagos do atual Estado do Rio de Janeiro (figura 47), em uma rea de vinte e cinco mil metros quadrados. De acordo com artigo publicado poca 102 , este projeto tinha por finalidade fazer um mostrurio de associaes de animais e plantas que j se encontravam em vias de desaparecimento, proporcionando assim habitats a vrias espcies de animais e espcies vegetais. Segundo os autores, ao lado do aspecto paisagstico, procurou-se imprimir mesma realizao o maior rigor cientfico possvel. O ambiente natural formava-se em um terreno plano ao lado de elevao em solo rochoso. As espcies vegetais da proposta deveriam ser de formaes hidrfilas 103 e psamfilas 104 e um trecho de zona de meia encosta articulado com o meio montano- florestal, proporcionando formaes relativas s praias e dunas, restinga, s lagoas e brejos, campos midos e formaes rupestres, assim como pequenos trechos de mata higrfila 105 . Os elementos minerais, como gua, areia e rochas, indispensveis na formao da ambientao propcia fauna, tambm foram incorporados como elementos
102 BURLE MARX; MELLO BARRETO; MELLO CARVALHO, 1949, p. 14-16. 103 Hidrfila: vegetao que vive na gua ou em locais encharcados. 104 Psamfila: vegetao que vive em solos arenosos. 105 Higrfila: vegetao que cresce em locais midos. 47. Mapa do Estado do Rio de Janeiro mostrando a localizao das Regio dos Lagos e seus municpios.
74 do projeto. Foram estabelecidos planos de plantio representando os grupos florsticos de cada meio ambiente. Desta forma, a representao das praias, dunas e restingas teria espcies como bromlias, pitangueiras, cajueiros e tambm espcies exticas j aclimatadas, como os coqueiros. Os brejos, lagoas e campos midos seriam plantados com helicnias, gramneas e ninfceas, entre outras. A vegetao de porte elevado teria palmeiras, ips de variadas tonalidades ou o pau dalho, por exemplo. Entre as espcies saxcolas 106 endmicas 107 utilizadas, guisa de exemplo, se encontram o Pilosocereus (figura 48), a Tibouchina grandifolia e a paineira. Os animais inseridos no ambiente seriam a capivara, dezenas de espcies de aves habitantes de lagos e brejos, como o carar, o maguari ou a gara azul, e tambm haveria um lago para os jacars. Na parte de lazer haveria uma grande gaiola para tucanos, junto casa de ch que seria construda sobre o macio rochoso (figura 49). Este projeto englobava os aspectos fito-fisiogrficos, florsticos e faunsticos de um ecossistema ameaado de extino, em uma proposta demasiado visionria para a poca, que no se concretizou pois ainda no havia uma legislao que protegesse o meio ambiente, e tampouco o grande pblico havia se conscientizado para as questes de manuteno e preservao da biodiversidade.
106 Saxcola: vegetao que vive nas rochas. 107 Endmico: que ocorre em determinada regio.
48. Pilosocereus na APA de Massambaba, regio dos Lagos.
75
49. Grupo Biolgico Lagoas Litorneas do Distrito Federal
76 3.5. 3.5. 3.5. 3.5. ECOGNESE E INTERDISCIPLINARIDADE ECOGNESE E INTERDISCIPLINARIDADE ECOGNESE E INTERDISCIPLINARIDADE ECOGNESE E INTERDISCIPLINARIDADE
Dada a interdisciplinaridade da ecognese onde vrios profissionais atuam dentro de suas especificidades tcnicas no poderamos deixar de citar personagens fundamentais no processo de implantao de uma restaurao ecolgica. Falamos um pouco sobre Burle Marx, Mello Barreto e Luiz Emygdio, escolhidos por terem sido os primeiros a delinear os rumos de uma reintegrao entre ambientes naturais e construdos, criando as bases para uma nova esttica da paisagem urbana. Mas certamente houve outros profissionais, no menos importantes, que trabalharam com eles, como, por exemplo, o zologo Mello Carvalho, que participou do projeto do Grupo Biolgico das Lagoas (captulo 3.4.2) e deixou contribuio fundamental para a sociedade, como lder na rea de conservao e renovao dos recursos naturais. Em 1958, Mello Carvalho criou a Fundao Brasileira para a Conservao da Natureza (FBCN); mais tarde participou de todas as fases da legislao ambiental, destacando-se a Lei de Proteo Fauna, organizou a primeira Lista das Espcies de Animais e Vegetais Ameaadas de Extino, assim como a Portaria do IBDF 108 que deu proteo legal fauna brasileira. O zologo publicou mais de seiscentos trabalhos, participou de dezenas
108 IBDF: Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal era, at 1989, autarquia do governo federal brasileiro vinculada ao Ministrio da Agricultura, que passou a se chamar Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis, vinculado ao Ministrio do Meio Ambiente.
77 de congressos e expedies cientficas, entre tantas outras aes que deixaram um referencial terico significativo para a defesa do meio ambiente e da biodiversidade 109 . Contribuindo de forma indireta, no entanto de fundamental importncia, vale tambm ressaltar o trabalho do Professor Paulo Nogueira Neto, principal responsvel pela legislao ambiental do pas. Ainda jovem, fundou a Associao de Defesa do Meio Ambiente, nos anos 1940, em So Paulo. Em 1974, implantou a SEMA (captulo 1.5), o que, segundo Chacel 110 , no foi tarefa fcil, pois estvamos em plena ditadura. Mas Paulo Nogueira foi trabalhando em silncio, cuidadosamente, e a cada dia esboava uma lei, um decreto, e com isso foi montando uma estrutura, um arcabouo muito importante de legislao ambiental, trabalho que realizou por mais de doze anos. Mais tarde foi Secretrio de Meio Ambiente do Distrito Federal. Participou da Comisso Brundtland das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocasio em que se definiu o conceito de Desenvolvimento Sustentvel. Atualmente, Paulo Nogueira professor titular de Biocincias da USP e membro de vrias entidades e associaes em defesa do meio ambiente.
109 LEONTSINIS, S. Disponvel em: <http://zoo.bio.ufpr.br/sbz/honorar.htm>. Acesso em: 09 Jul. 2007. 110 CHACEL, 1999. Disponvel em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=81&breadcrumb=1&Artigo_ID=824&I DCategoria=997&reftype=1>. Acesso em: 04 Dez. 2006. 4. 4. 4. 4. FERNANDO CHACEL: FERNANDO CHACEL: FERNANDO CHACEL: FERNANDO CHACEL: REFERNCIA BIOGRFICA E TERICA
O arquiteto paisagista Fernando Magalhes Chacel Fernando Magalhes Chacel Fernando Magalhes Chacel Fernando Magalhes Chacel nasceu sob o signo de ries, a 5 de abril de 1931, no Rio de Janeiro. Oriundo de famlia de classe mdia, cresceu entre os bairros de Laranjeiras e Cosme Velho, no Rio. Em entrevista a Antnio Barbosa 111 ele relembra: Eu no desenhava sobre papel, usando aquarela ou lpis de cor, como era comum s crianas daquela poca. Eu morava em uma casa com um quintal grande e cheia de terra. Lembro-me bem que o que eu gostava mesmo era de fazer imensos desenhos com pedaos de madeira ou gravetos no cho. Ento eu aprendi a desenhar na terra desde muito pequeno. E ali, com meus grandes desenhos eu criava personagens, construa morros, rios, paisagens e criava estrias imaginrias destes personagens e at conversava com eles em voz alta que, ao que me lembro, deixava algumas pessoas da minha famlia preocupadas e assustadas se eu no estava tendo algum tipo de delrio talvez. Esses desenhos eram muito grandes, e praticamente no tinham limites, e eu ia emendando um desenho no outro, buscando quase uma composio integrada. Posso dizer que eu me distraa muito fazendo aqueles desenhos. Eu passava tardes inteiras no quintal de casa inventando estrias e representando-as nos meus desenhos. Com o passar dos anos, at definir-se como arquiteto-paisagista, Chacel trilhou outros caminhos artsticos e profissionais, sempre inclinado vocao para o mundo das artes. Ele prprio se define como algum que age e trabalha com base na sensibilidade e intuio. Em 1948 ingressou para a Escola Nacional de Belas Artes, depois transferindo- se para o curso de Arquitetura. Durante os anos da graduao, dedicou-se, paralelamente, tambm msica, outra grande paixo. A vida do jovem Fernando Chacel passou a ser tocar acordeo nas noites cariocas, aos finais de semana, em bailes e boates, tornando-se
111 BARBOSA. Disponvel em <http://www.vitrtuvius.com.br/entrevista/chacel/chacel.asp>. Acesso em: 15 Dez. 2004
79 notvago e conhecendo personalidades do mundo da msica, como Amyrton Vallim Amyrton Vallim Amyrton Vallim Amyrton Vallim 112 , com o qual fechou contrato para tocar nas noites do hoje extinto Caf Nice. A vida de msico fez com que Chacel fosse pouco assduo s salas de aula na faculdade de arquitetura; no entanto, ele se refere a trs professores em especial: Lucas Mayerhoffer Lucas Mayerhoffer Lucas Mayerhoffer Lucas Mayerhoffer, na cadeira de Arquitetura Analtica, Wladimir Alves de Souza Wladimir Alves de Souza Wladimir Alves de Souza Wladimir Alves de Souza, que lecionava Teoria da Arquitetura e Paulo Santos Paulo Santos Paulo Santos Paulo Santos, professor de Arquitetura Colonial Brasileira 113 . Durante algum tempo, Chacel viu-se dividido entre a arquitetura e a msica, at o dia em que conheceu Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx e comeou a trabalhar em seu atelier, em 1952. Chacel relata esse primeiro encontro: Conheci Burle Marx no dia em que me apresentei em seu atelier para ser estagirio. Assim foi a minha descoberta e o meu encontro com o paisagismo. Mas com a obra do paisagista e seu extraordinrio alcance, esse encontro veio um pouco mais tarde, quando pude compreender que a arte dos traados e cromatismos dos jardins de Burle Marx se ampliava e se multiplicava com o uso judicioso e sbio do material de base de suas composies: a vegetao em todos os seus estratos. Trabalhei por quase dois anos no atelier de Burle Marx e o que vi e ouvi, naquele perodo de iniciao ao paisagismo, continua vivo na minha memria e ainda hoje presente na concepo e desenvolvimento de meus projetos. O contato com Burle Marx foi marco decisivo na carreira profissional de Chacel. De acordo com as palavras do paisagista, ele aprendeu, com Burle Marx, o ofcio de paisagista, por pensamentos, palavras e obras. Aps treze anos de formado, Chacel passou o ano de 1966 em Paris, com uma bolsa de estudos cedida pelo governo francs para estudar Urbanismo. L, ele fez parte de uma
112 Amyrton Vallim (1913-1994), pianista e compositor carioca. 113 Entrevista realizada em 7/01/2004. Disponvel em: <www.vitruvius.com.br/entrevista/chacel/chacel.asp>. Acesso em: 12 Dez. 2004.
50. Em um almoo no stio Santo Antnio da Bica, Fernando Chacel elogiou a camisa de Burle Marx, pintada por ele. Ali mesmo, Burle deu a camisa de presente a Chacel.
80 turma de arquitetos de dezoito pases diferentes, o que contribuiu muito para ampliar sua contextualizao social e conscincia poltica face ao cenrio internacional. Ele nos conta que, na verdade, no era uma bolsa de formao, mas de informao. Ele afirma que foi uma experincia bastante enriquecedora, pois viajou por toda a Frana e conheceu as operaes urbansticas que estavam sendo realizadas quela poca. A isto se somava a apresentao destas obras feitas pelos prprios autores, que mostravam como era o processo de projeto, detalhamento e implantao das solues urbansticas e paisagsticas. Chacel aproveitou a oportunidade para conhecer o atelier de todos eles. E garante no ter absorvido influncias dos arquitetos franceses, no sentido formal. Mas o acesso maneira de trabalhar e ao processo de criao deles, e como eles se punham frente ao programa que tinham a implantar, permitiu que Chacel entendesse como funciona a concepo dos projetos: "eu sempre me preocupei com a parte conceitual". Destes vrios encontros profissionais surgiu uma grande amizade com o arquiteto paisagista uruguaio Leandro Silva Delgado Leandro Silva Delgado Leandro Silva Delgado Leandro Silva Delgado (1930-2000), formado pela Escola de Paisagismo de Versalhes e radicado na Espanha, onde veio a falecer recentemente, em Segvia, onde realizava experincias conceituais em seu jardim chamado "El Romeral" (figura 51). Chacel afirma ser um arquiteto paisagista autodidata, pois sua formao acadmica se restringe graduao em Arquitetura e Urbanismo. Desta forma, ele sentiu a necessidade de buscar profissionais atuantes na rea do planejamento da paisagem, revelando que "ia religiosamente aos congressos e procurava saber o que estava acontecendo". Procurou participar "religiosamente" de congressos da IFLA IFLA IFLA IFLA 114 114 114 114 , a partir de onde estabeleceu uma srie
114 IFLA: International Federation of Landscape Architecture.
51. El Romeral, jardim cultivado em mais de trinta anos pelo arquiteto paisagista Leandro Silva Delgado, onde foram aclimatadas vrias espcies que, normalmente, no resistiriam ao rigoroso clima da Segvia, na Espanha.
81 de contatos com outros arquitetos paisagistas, fez muitas viagens visitando outros profissionais, mostrando seus trabalhos e observando os trabalhos dos colegas e suas metodologias. Em 1972, Chacel esteve na Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, ampliando o debate ecolgico em nvel mundial. Segundo Chacel 115 , "emerge em escala global a conscincia de que a urbanizao e a industrializao influem diretamente sobre as estruturas sociais, polticas e econmicas de todos os pases". A realizao deste congresso foi muito importante no sentido de que "ressaltou-se a relevncia de preservar e conservar os ltimos remanescentes das paisagens naturais, considerando-se essa atitude como pr-requisito dentro de um novo conceito de desenvolvimento". O caminho profissional de Chacel foi se definindo ao poucos. Em entrevista Revista Projeto Design, edio de julho de 2005, ele afirma que no planejou se tornar paisagista: "As coisas acabaram acontecendo na minha vida e, de repente, me associei a um botnico muito importante, Luiz Emygdio de Mello Filho. Posso dizer que ele foi a pessoa mais importante na minha formao. Na ocasio, fechamos um contrato com a Central Hidreltrica de Furnas, em Minas Gerais, para fazer uma srie de trabalhos na barragem de Furnas. Foi quando comecei a entrar em outra rea, embora com o raciocnio ainda muito ligado idia de jardim. Os trabalhos de Furnas tambm foram vistos por Lucas Nogueira Garcez, da CESP 116 . Ele gostou e me convidou: trabalhei trs anos para Furnas e dez anos para a CESP". E a partir deste perodo que se inicia uma mudana de paradigma em sua metodologia, evoluindo do "jardinismo" para uma viso mais voltada para o meio ambiente. O trabalho
115 CHACEL, 2001, p. 20 116 CESP: Companhia Energtica de So Paulo.
52. Condomnio Parc Monceau, Vila Nova Conceio, em So Paulo, dcada de 1980. Paisagismo de Fernando Chacel e Sidney Linhares. Aqui as formas curvas deixam clara a influncia de Burle Marx.
82 desenvolvido na barragem de Paraibuna, no Estado de So Paulo, foi sua primeira experincia de recuperao de uma rea degradada e de restaurao paisagstica. Neste trabalho, foi decisiva a colaborao do gegrafo Aziz Ab'Sber Aziz Ab'Sber Aziz Ab'Sber Aziz Ab'Sber, que ajudou a ampliar seu entendimento da complexidade que o meio ambiente. Foi realizado um trabalho de cooperao interdisciplinar, com uma srie de pessoas do setor ambiental, agrnomos e engenheiros florestais. Era o embrio para a sistematizao do conceito de ecognese ecognese ecognese ecognese. Assim como Burle Marx, Chacel preocupa-se menos em reconhecer e admirar a exuberncia da flora brasileira, do que em defend-la da destruio. O paisagista atua em um processo de cicatrizao e atenuao da violncia e agresso ao meio ambiente. Procura aliar, assim, a vontade do homem ao dinamismo da natureza. Chacel observa que a cidade do Rio de Janeiro privilegiada pelo relevo acentuado, que proporciona paisagens magnficas aos olhos humanos; as montanhas naturalmente se constituem em empecilhos destruio maior do que a j existente, visto que a ocupao de morros e encostas apresenta um nmero maior de dificuldades do que a construo em reas mais planas. Chacel observa que, quanto menos obstrues fisiogrficas existirem, mais fcil fica a destruio, em uma atitude de carter quase autofgico. A esse respeito, Ab'Sber 117 afirma que: "o domnio dos 'mares de morros' tem mostrado ser o meio fsico, ecolgico e paisagstico mais complexo e difcil do pas em relao s aes antrpicas". Seus trabalhos aparecem tanto em reas pblicas como em reas privadas na capital do Rio de Janeiro. Na pequena escala, Chacel tem projetos de residncias e praas urbanas. Mas entre os trabalhos que representam maior carga emocional esto, sem dvida,
117 AB'SBER, 2003, p. 17. 53. Usina hidreltrica de Paraibuna e barragem de Paraitinga, SP, 1978. Arquitetura de Joo Rodolfo Stroeter e paisagismo de Fernando Chacel, Nina Jamra Tsukumo e Aziz AbSber.
83 aqueles relacionados questo ambiental. As leis de preservao ambiental tm, cada vez mais, exigido dos grandes empreendimentos imobilirios estudos e relatrios de impacto ambiental, seguidos da implantao de projetos de paisagismo como medida compensatria aos impactos sofridos pelo meio ambiente. Chacel acredita que: Com isto surgiu uma nova maneira de atuar nesse campo que o de entender que o projeto paisagstico em um determinado empreendimento, no deve estar limitado apenas a uma suposta satisfao esttica ou a uma idia simplificada de conforto climtico, por exemplo. Nos ltimos anos tenho atuado na restaurao e na recuperao de ecossistemas, isto : com um embasamento ecolgico em nossos projetos paisagsticos. Em seu depoimento, Chacel revela que as atuaes de interveno na paisagem da Barra da Tijuca tm um elo emocional muito forte com as lembranas que ele guarda do local: Conheci a Barra da Tijuca e a Baixada de Jacarepagu em seu estado agreste. O mar, as dunas, as lagoas e seus brejos, os rios abrigados por suas matas ciliares, embasavam um relevo pontuado por monumentos naturais, com interflvios florestados e encostas densamente revestidas por vegetao. So recordaes da minha infncia, da minha juventude, dos tempos j vividos, que se perderam na velocidade do tempo que no para. Mas que ficaram guardadas em algum lugar da minha memria e que, provavelmente, so tambm responsveis pelos projetos que desenvolvi naquela regio. Atualmente, Fernando Chacel coordena dois escritrios, um em So Paulo e outro no Rio, da sociedade que mantm com o arquiteto Sidney Linhares, a empresa CAP CAP CAP CAP Consultoria Consultoria Consultoria Consultoria Ambiental Paisagstica L Ambiental Paisagstica L Ambiental Paisagstica L Ambiental Paisagstica Ltda. tda. tda. tda. onde desenvolve projetos paisagsticos por todo o pas. Chacel diz que a maioria de seus clientes concentra-se no Rio, sobretudo pelos projetos da Barra que engendram outras intervenes por responderem a questes legais.
54. Chacel no Parque Mello Barreto.
84 Sobre os projetos coordenados por Chacel para a Baixada de Jacarepagu, apresentados em seu livro Paisagismo e Ecognese, Bartalini 118 afirma que os projetos de Chacel tm sido uma referncia para o meio tcnico (espera-se que venham a ser tambm para o pblico em geral) pela soluo de compromisso entre urbanizao e conservao, ou recuperao, dos valores da paisagem natural. E afirma que, ao perguntar a seus clientes se eles fariam esses projetos de recuperao ou compensao ambiental caso no houvesse obrigatoriedade da lei, a grande maioria deles responde que no. Desta forma, podemos concluir que a imposio de uma lei ambiental fator decisivo para a implantao de projetos de recuperao e preservao ambiental. Burle Marx lanou a idia da ecognese com o respaldo de equipes interdisciplinares que lhe deram as bases cientficas, mas a falta de conscientizao ambiental e social impediram que esta nova filosofia de construo da paisagem fosse realizada a contento. Dadas as circunstncias de mudana de paradigmas sociais e da prpria legislao, hoje Chacel consegue levar adiante a semente da ecognese plantada pelo mestre. O desenho de Chacel simples e modesto, e em suas formas curvas e orgnicas v-se a clara influncia do trao marcante de Burle Marx, mas em Chacel no o design o elemento que mais se destaca; o que marca fortemente suas paisagens a prpria natureza. como se aquela paisagem tivesse sempre estado ali, ela quase natural na medida em que se aproxima da ambincia natural, entremeando-se com espaos ambientados para usufruto do homem, onde utiliza agrupamentos de uma mesma espcie no intuito de realar seus atributos chamando a ateno de olhos humanos pouco habituados a observar as peculiaridades plsticas de cada espcie esta tambm uma herana de Burle Marx.
118 BARTALINI, 2003, p. 267.
85
55. Projeto de loteamento em Bzios, planejamento paisagstico de Fernando Chacel onde retirada a capa do lenol fretico, fazendo surgir um lago artificial que proporciona novas situaes paisagsticas em uma interveno inventiva e ousada. 56. Fotografia area de recuperao ambiental em fazenda de laranjas no interior de So Paulo, onde se v a rea em processo de recuperao ecogentica. Projeto de Chacel e equipe.
86 4.1. 4.1. 4.1. 4.1. ASSOCIAO BRASILEIRA DE ARQUITETOS PAISAGISTAS ASSOCIAO BRASILEIRA DE ARQUITETOS PAISAGISTAS ASSOCIAO BRASILEIRA DE ARQUITETOS PAISAGISTAS ASSOCIAO BRASILEIRA DE ARQUITETOS PAISAGISTAS
Chacel um dos scios-fundadores da Associao Brasileira de Arquitetos Paisagistas, a ABAP, ao lado de Rosa Kliass e de vrios nomes importantes do paisagismo brasileiro contemporneo como, por exemplo, Benedito Abbud, Luciano Fiaschi, Vladimir Bartalini, entre outros profissionais da rea 119 . A ABAP filiada IFLA International Federation of Landscape Architects e foi fundada em maio de 1976, frente necessidade da existncia de um rgo nacional que representasse a classe de arquitetos paisagistas brasileiros junto instituio internacional. A ABAP realizou em novembro de 2006, no Rio de Janeiro, o seu primeiro congresso internacional, onde diversos profissionais fizeram exposies e palestras de seus trabalhos. Chacel apresentou dois trabalhos onde foram aplicados os princpios da ecognese, revelando com intervenes cada vez mais ousadas a maturidade do trao do artista. Chacel atenta para a importncia destes encontros, onde se cria um campo de debate que permite aos profissionais a troca de idias, propostas, solues, oferecendo a oportunidade de contatos enriquecedores.
119 Disponvel em: <www.abap.org.br>. Acesso em: 01 Nov. 2006. 57. Fernando Chacel e Rosa Kliass. Congresso Internacional da ABAP em novembro de 2006.
87 4.2. 4.2. 4.2. 4.2. PAISAGISMO E ECOGNESE PAISAGISMO E ECOGNESE PAISAGISMO E ECOGNESE PAISAGISMO E ECOGNESE
Aps a realizao de projetos de recuperao ecogentica na regio da plancie Costeira de Jacarepagu, Chacel decidiu escrever um livro sobre essa experincia: Este livro me deu um grande trabalho de fazer. Mas tambm me deu muito prazer e satisfao. um livro cujo foco uma parte do meu trabalho que me interessa profundamente e que tem como centro de interesse algumas questes que venho estudando h alguns anos que dizem respeito ao processo ecogentico de reconstruo e de recuperao de ecossistemas. Lanado em 2001, Paisagismo e Ecognese uma publicao bilnge portugus e ingls que descreve projetos realizados por Chacel, entre os anos de 1986 e 2000, em sociedade com Sidney Linhares. Com apresentao de Hugo Segawa e Prefcio de Luiz Emygdio, Paisagismo e Ecognese apresenta sete projetos de recuperao ecogentica, quase todos de iniciativa privada, com o compromisso de recuperar e conservar os ecossistemas autctones nestes casos, manguezais e restingas. O primeiro projeto apresentado o Parque da Gleba E, de 1986; em seguida o Parque Mello Barreto, de 1994; o parque da Fazenda da Restinga e Via Parque de 1998; o Calado Ecolgico do Rio Office Park em duas etapas, em 1998 e em 2000; o Mdulo Inicial do Parque de Marapendi, de 1995 e, por fim, o Clube Malibu, de 1997. Chacel apresenta as etapas do diagnstico, onde se acumulam informaes sobre o solo, o clima, a vegetao e o nvel de degradao ambiental, alm de serem observados os 58. Capa do livro de autoria de Chacel
88 fatores urbansticos e culturais. Na implantao dos projetos Chacel descreve o processo de construo da paisagem, mostrando as diferentes etapas de recondicionamento do ambiente, como os movimentos de terra e as sucessivas etapas de replantio, at o completo restabelecimento da cobertura vegetal. Chacel afirma que planejar a paisagem sempre foi um problema complexo. No mais apenas um gesto de design mas, principalmente e antes de tudo, um processo em que esto envolvidos administradores, polticos e profissionais das mais diferentes reas. E reitera a importncia da participao de diversos setores cientficos para a ecognese: o planejamento paisagstico s poder ser realizado por uma equipe multi e interdisciplinar 120 . Para Bartalini 121 , o que mais impressiona nos casos apresentados a possibilidade e a viabilidade da recuperao dos ecossistemas, o que torna esta publicao uma espcie de cartilha para novas aes e estratgias de recuperao da paisagem. E Bartalini confirma que estes projetos de Chacel so expresso das conquistas ambientalistas, de uma nova conscincia.
89 5.3. 5.3. 5.3. 5.3. HOMENAGENS E PREMIAES HOMENAGENS E PREMIAES HOMENAGENS E PREMIAES HOMENAGENS E PREMIAES
Em maio de 2005 a Landscape and Garden Studies, da Fundao Dumbarton Oaks, associada Universidade de Harvard, realizou, em Washington, o Simpsio Existence and Experience in Contemporary Garden Design, onde o arquiteto paisagista Peter Jacobs fez uma apresentao de alguns dos principais projetos de Chacel realizados na Barra da Tijuca. Nesta ocasio, a Dumbarton Oaks selecionou quatorze artistas contemporneos em todo o planeta que tivessem obras de especial relevncia em intervenes diferenciadas sobre a paisagem, entre os quais figuram Fernando Chacel. A fundao escolheu trs de seus projetos para integrar o acervo permanente da Coleo de Projetos Paisagsticos Contemporneos de seu Departamento de Estudos de Paisagens e Jardins, cujo objetivo dar a pesquisadores, estudantes e profissionais o acesso s mudanas de formas de intervenes paisagsticas ao longo da Histria 122 . Chacel o nico brasileiro a ter o conjunto de sua obra reconhecido internacionalmente pela fundao norte- americana 123 .
90 Em 2000 e em 2002, o arquiteto paisagista foi premiado com o Golfinho de Ouro 124 , pelos seus trabalhos ecogenticos na Barra da Tijuca, respectivamente, o Parque da Gleba E e o Parque Mello Barreto. Foi homenageado pela Cmara dos Vereadores, por meio da vereadora Aspsia Camargo, com a Medalha de Mrito Pedro Ernesto 125 , em 30 de novembro de 2005 no Plenrio da Cmara dos Vereadores 126 do municpio do Rio de Janeiro.
124 O prmio Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro concedido anualmente pelo Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, destinado a pessoas fsicas. So contempladas 11 categorias. Disponvel em: <http://www.artes.com/sys/sections.php?op=view&artid=13>. Acesso em: 03 Abr. 2006. 125 A Medalha Pedro Ernesto foi criada em outubro de 1980 para ser entregue a quem mais se destaca na comunidade brasileira. A indicao da pessoa escolhida feita atravs de requerimento do vereador, votado em Plenrio. Cada parlamentar s pode propor a concesso de at cinco medalhas por ano (Sesso Legislativa). Disponvel em: <http://www.camara.rj.gov.br/noticias/medalha.htm>. Acesso em: 01 Dez. 2006. 126 Disponvel em: <http://www.camara.rj.gov.br/vereador/cada2005/aspasia_camargo/aspasia_gaberto.html>. Acesso em: 20 Out. 2006 5. 5. 5. 5. ESTUDO DE CASO: ESTUDO DE CASO: ESTUDO DE CASO: ESTUDO DE CASO: TRS PARQUES NO RIO DE JANEIRO
Neste captulo vamos analisar como Fernando Chacel trabalhou, de formas diferentes, o processo de restaurao paisagstica e ecolgica em trs parques urbanos na capital do Rio de Janeiro. O Parque da Gleba E foi o primeiro projeto de Chacel a incorporar o mtodo da ecognese, em parceria com o botnico Luiz Emygdio. O segundo projeto o Parque de Educao Ambiental Professor Mello Barreto, segunda proposta de recomposio ecogentica do manguezal da Lagoa da Tijuca. Sobre o trabalho de Chacel nos parques da Barra, Rosa Kliass aponta 127 : "Fernando Chacel, que na minha opinio o maior entre os melhores arquitetos paisagistas do pas, est desenvolvendo um trabalho muito interessante de recomposio de reas de restinga, baseado na legislao ambiental. Todo empresrio que constri na Barra da Tijuca obrigado, por lei, a oferecer uma recompensa cidade equivalente rea construda. Com isso, Chacel est projetando os vrios quilmetros do parque e cada um dos empreendedores da Barra fica responsvel pela execuo e manuteno de uma parte". Tanto o Parque da Gleba E como o Parque de Educao Ambiental Professor Mello Barreto encontram-se na Barra da Tijuca, lado a lado, dentro da Plancie Costeira de Jacarepagu. Porm com caractersticas formais e conceituais que os diferenciam. Em contrapartida est o terceiro projeto escolhido para discusso dos aspectos fundamentais de um parque urbano: o Parque Municipal do Penhasco Dois Irmos. Neste caso no houve um trabalho
127 Disponvel em: <http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista26.asp>. Acesso em: 20 Mar. 2005 59. Vista area da Barra da Tijuca, onde se v a Pennsula esquerda.
60. Manguezal na Lagoa da Tijuca, Parque Mello Barreto.
92 de ecognese, no sentido cientfico do termo, mas houve tambm um importante processo de recomposio da paisagem que no apenas considera o aspecto ambiental, mas engloba tambm, e principalmente, a questo social. O Parque da Gleba E foi uma iniciativa da Construtora Carvalho Hosken para adequar a rea a uma nova concepo de empreendimento imobilirio. Apresenta, assim como a gleba E, a ecognese como conceito de interveno na paisagem, no sentido da recuperao ambiental do ecossistema degradado. O Parque de Educao Ambiental Mello Barreto surge em conseqncia do trabalho realizado na Gleba E, no que concerne recuperao ambiental e paisagstica, seguindo o mesmo conceito de recuperao paisagstica; porm, em um contexto social, poltico e econmico bastante diverso do primeiro. O Parque Srgio Bernardes, no Penhasco Dois Irmos, tem uma proposta de interveno diferenciada da ecognese: aqui o interesse especial a paisagem que dali se descortina. Trata-se da encosta do morro que passou por um processo de desapropriao movido pela populao em ao junto prefeitura. Para analisar as caractersticas projetuais destes trs parques iremos considerar os aspectos histricos relacionados a estas reas, o processo de concepo e implantao do projeto, e a situao em que os parques se encontram atualmente. 61. Parque Municipal Srgio Bernardes. Penhasco Dois Irmos.
93 5.1. 5.1. 5.1. 5.1. PARQUE DA GLEBA E: PARQUE DA GLEBA E: PARQUE DA GLEBA E: PARQUE DA GLEBA E: A PENNSULA
O primeiro projeto de Chacel a incorporar o conceito de ecognese foi o Parque da Gleba E, na Barra da Tijuca, encravada entre a Avenida das Amricas e a Avenida Ayrton Senna. rea de privilegiado enquadramento paisagstico, encontra-se s margens da Lagoa da Tijuca e cercada pelos monumentos geolgicos naturais: a Pedra da Panela, a Pedra do Itanhang e o Macio da Tijuca. A denominao "gleba E" deve-se ao parcelamento da rea que, at 1938, foi conhecida como Fazenda da Restinga.
62. Informe publicitrio da Construtora Carvalho Hosken.
94 5.1.1. ASPECTOS HISTRICOS
Os registros histricos desta rea remontam a 1567 128 dois anos aps a fundao da cidade do Rio de Janeiro quando o 3 Governador Geral, Mem de S, veio ao Rio de Janeiro para combater a invaso francesa liderada por Villegaignon. Seu sobrinho, Estcio de S (fundador da cidade), foi ferido e morto em combate, tendo sido sucedido por Salvador Correa de S que assumiu a sesmaria da rea da cidade. At 1876 as terras permaneceram como propriedade da famlia S, devido "lei do morgadio" que impedia a partilha de terras. Aps a revogao desta lei, as terras da Fazenda da Restinga foram ento adquiridas por Antnio de Serpa Pinto. As outras fazendas que cobriam as atuais reas da Barra da Tijuca e Baixada de Jacarepagu so: Engenho d'gua, Camorim, Vargem Grande e Vargem Pequena. At 1925 a Fazenda da Restinga permaneceu ntegra, quando foram parcelados dois teros de sua rea e, um ano mais tarde, vendeu-se o tero restante. Em 1932 o proprietrio Carlos Kiehl doou suas terras Companhia Estrada de Ferro So Paulo-Rio Grande como pagamento de dvida. Os condminos da companhia, em 1938, constituram a Barra da Tijuca Imobiliria S.A., quando foi ento a rea parcelada em sete glebas, denominadas de "A" a "G". Glebas estas que, exceo da "E" e "F" (figura 63), em poucas dcadas foram rapidamente urbanizadas, at que, no incio dos anos de 1980, apresentavam um quadro de destruio quase completa do ecossistema local, com ocupaes irregulares e aterros. A flora local encontrava-se em vias de extino,
128 CARVALHO HOSKEN S.A., 1992. 63. Mapa da Fazenda da Restinga em 1938, identificando a diviso em sete glebas. Fonte: CARVALHO HOSKEN, 1992, s/p.
95 praticamente desertificada em decorrncia de aes antrpicas (figura 64); no entanto, sobreviviam ainda pequenos trechos isolados de vegetao, onde se encontravam algumas espcies de bromlias e cactceas, mas em grande parte, o ressecamento do solo provocou na pennsula um excesso de mineralizao. No Plano de Lcio Costa ele se manifesta sobre a regio da gleba E, tambm conhecida como Saco e Saquinho: A Pedra da Panela, bem como o entorno dos chamados Saco Grande e Saquinho, formados pelas pennsulas inseridas na lagoa, constituem por sua inusitada beleza parte essencial da paisagem da Baixada de Jacarepagu (...). No meu entender a regio deve continuar aberta proposio de empreendimentos no industriais da mais variada natureza, uma vez que o gabarito das edificaes seja baixo e o partido de implantao horizontal. De acordo com Fuks 129 , a partir de 1980 h notcias de conflitos judiciais na rea do "Saco e Saquinho", quando as firmas Carvalho Hosken e a Barra da Tijuca Imobiliria apresentaram uma proposta para a construo de 324 edifcios nesta rea. Conflito este que se estendeu at 1986, quando foi apresentada uma nova concepo de empreendimento imobilirio que viabilizava a urbanizao em equilbrio com uma recomposio ecolgica. Nesta nova proposta, houve uma mudana de gabarito das reas a serem edificadas, cujo aumento foi justificado com uma rea destinada recuperao do manguezal que estava em vias de extino.
129 FUKS, 2001, p.101
64. A pennsula denominada Gleba E uma pennsula com 900.000 m. esta era sua fisionomia no incio da dcada de 1980.
96 5.1.2. O PROJETO
O projeto era uma proposta de paisagismo pioneira, tendo como base conceitual base conceitual base conceitual base conceitual a ecognese. Em uma rea total de novecentos mil metros quadrados, o conjunto residencial multifamiliar na pennsula da gleba E deveria ter cerca de oitenta edifcios, numa configurao onde a rea total edificada seria menor que a rea livre compreendendo ruas, passeios e reas verdes. A Fundao Estadual de Engenharia e Meio Ambiente exigia a recuperao da faixa marginal de proteo da lagoa. Em primeira instncia seria necessrio recuperar o ecossistema, pois estava completamente desertificado, apresentando apenas pequenos trechos de manguezais isolados e tambm condenados a desaparecer. Chacel teve a idia de criar situaes paisagsticas integradas e conjugadas, onde haveria um parque de uso extensivo parque de uso extensivo parque de uso extensivo parque de uso extensivo e tambm de cunho ecolgico cunho ecolgico cunho ecolgico cunho ecolgico. Este parque, em todo o conjunto, seria dotado de um continuum paisagstico que atenderia a qualidades estticas e de conforto climtico, bem como a recuperao do ecossistema. Chacel ento concebeu duas formas bsicas de interveno paisagstica: haveria as reas de proteo mxima e as reas urbanizadas, com lagos artificiais, caminhos, ciclovias, reas de estar, estacionamentos e edificaes, assegurando os espaos livres para recreao e circulao, assim como reas de preservao. Estas seriam as bases para o projeto da paisagem, com o intuito de restabelecer uma cobertura vegetal que estivesse conectada com a regio, com o solo, com o clima, e que assegurasse a salvaguarda da fauna residual.
65. Planta baixa, onde se v a rea destinada ao mangue e a rea de transio do parque.
66. Corte esquemtico onde se mostram os nveis de interveno na paisagem, da direita para a esquerda: a lagoa, o manguezal, a restinga, a rea de transio paisagstica com tratamento de parque e o edifcio ladeado por jardins sobre lajes.
97 O primeiro passo seria a instaurao de instaurao de instaurao de instaurao de uma paisagem cultural uma paisagem cultural uma paisagem cultural uma paisagem cultural, ou seja, um novo ecossistema semelhante ao original. A restinga havia se perdido e o manguezal definhava em pequenos trechos esparsos e isolados. Realizou-se o inventrio florstico do local, o que possibilitou criar um programa de ao que estabelecia duas diretrizes: a preservao e restaurao do manguezal e o replantio de espcies de restinga nos solos mais elevados, no sujeitos ao das mars. A conceituao do projeto estabeleceu trs modelos trs modelos trs modelos trs modelos de interveno na paisagem: o modelo mangue, o modelo restinga e o modelo parque. Criaram-se reas de proteo marginal lagoa e dois parques de quarenta mil metros quadrados cada um, alm da rea verde que circunda toda a rea a ser edificada. O modelo mangue modelo mangue modelo mangue modelo mangue foi, basicamente, a recuperao do manguezal. Esta regenerao foi um processo que obteve sucesso rpido, pois se utilizou de mudas do prprio local. O mangue foi restaurado e ampliado, e passou a ocupar toda a margem da lagoa onde havia a influncia direta do fluxo e refluxo das guas. O modelo restinga modelo restinga modelo restinga modelo restinga foi recriado atravs do processo de ecognese, pois que estava extinto no local, e foram plantados elementos e associaes vegetais de restinga, estabelecendo- se as reas de transio com o modelo mangue. Esta rea foi concebida como um grande jardim natural com amostras de espcies deste ecossistema, como bromlias e cactceas. Chacel explica 130 : "esse jardim natural, alm de seu valor esttico, de proteo e manuteno dos elementos das paisagens arenosas de restinga, constitui-se, tambm, em
130 CHACEL, 2001, p. 56.
68. Replantio de espcies vegetais autctones.
69. Bromlias na Gleba E.
67. incio do preparo dos terrenos
98 uma espcie de zona tampo de proteo ao manguezal, cuja rea vedada penetrao". O modelo parque modelo parque modelo parque modelo parque enquadraria a rea de transio paisagstica, tinha a inteno de ter uma "arborizao provida de florao rica, alternada e colorida, permeada de palmeiras estabelecidas sobre reas gramadas e relvadas". Chacel pensou este setor como "um espao aberto e colorido" emoldurando as reas de caminhar e estar. Haveria rica arborizao, com espcies frutferas e sombreamento alternado com clareiras que permitissem visuais abertos e iluminados. As espcies de ps-mangue seriam as mais utilizadas no modelo parque. Este conjunto constitudo pelo manguezal, associaes de ps-mangue, restinga e o mosaico de transio paisagstica do modelo parque estariam em sintonia formal com as praas, arborizao das vias de circulao e dos jardins de pr-arquitetura, e esta mesma conceituao deveria integrar os jardins sobre lajes, quando da consolidao da estrutura edificada. Segundo Chacel, o sucesso do empreendimento comeou a se manifestar com a volta progressiva da fauna; aves, rpteis e anfbios de diversas espcies passaram a ser observados no novo ecossistema.
70. rea de transio paisagstica com tratamento de parque.
72. Cactcea na Gleba E.
71. Praa entre lotes de uso multifamiliar.
99 5.1.3. SITUAO ATUAL
Mas nesta histria de recuperao ambiental h um revs. Existe uma especulao imobiliria, onde o marketing de vendas apropria-se do conceito de ecognese para atrair sua clientela, ao passo que se consolida uma estrutura de edifcios incompatvel com a proposta paisagstica e ambiental original. A partir do momento em que se d incio construo e habitao dos edifcios, o to almejado equilbrio do ecossistema se altera. Alm do mais, hoje o que se pode ver na Pennsula que o projeto original de Fernando Chacel foi quase que completamente alterado. Empreendedores do projeto modificaram a proposta original de paisagismo sem a prvia consulta a seu autor. Somente a rea de proteo dos manguezais foi mantida em respeito lei que protege as reas de mananciais. Por trs destas modificaes emergem interesses que passam longe da preocupao com o meio ambiente, visando apenas o mercado imobilirio sem o cuidado de ter alguma coerncia, ou mesmo preocupao esttica, com o partido adotado inicialmente. Nota-se uma quebra de ritmo e a interrupo do conceito paisagstico original quando se anda pelos parques internos, de forma bastante ntida. Passa-se do desenho de formas livres e orgnicas, com total integrao natureza circundante, ao kitsch das rplicas de esttuas da antiguidade clssica e espelhos d'gua de pedras artificiais (construdas com argamassa armada). Percebemos aqui a ausncia conceitual dos novos parques e a falta de integrao com a recomposio do meio ambiente, proposta por Chacel.
74. Lago construdo em concreto armado, imitando formas de pedras naturais.
73. Modelo parque na Pennsula, em 2005, com as alteraes do projeto original.
100 Chacel se entristece ao ver a dilapidao de todo esse trabalho, e mostra sua indignao ao falar dessas alteraes feitas na gleba E: "j estava feito, no mudaram o projeto. Mudaram o que estava feito, destruram o que estava feito. Modificaram as funes e usos dos dois parques". Em entrevista publicada na revista Projeto Design 131 , em julho de 2005, ao se referir aos empreendimentos imobilirios das grandes incorporadoras, Chacel desabafa: "est difcil, porque a esttica atual dos empreendimentos no aquela que satisfaz meus sentimentos. Eu no posso concordar ou deixar de concordar. muito complicado porque, na realidade, essa esttica adotada por eles o que vende".
78. Proposta original de Chacel para um dos parques internos da Gleba E, com equipamentos de lazer entremeados de densa arborizao de restinga.
102
79. Implantao atual do mesmo parque da pgina 101. O desenho da planta teve pequenas modificaes, mas a transformao radical quando se analisa a supresso da arborizao nativa e a insero de novos elementos construtivos. A paisagem tornou-se rida, com pouqussimas reas de sombreamento.
103
Apesar destas grandes alteraes, nem tudo se perdeu. As faixas de proteo marginal da lagoa tiveram sua perpetuao assegurada e consolidada, com um aspecto que nos revela um modelo de urbanizao em contato com reas de preservao da natureza. Com uma viso ampla da realidade, o depoimento de um morador de comunidade carente na regio da Barra, relatado por Fuks 132 , nos faz ver que o ganho ambiental neste caso enganoso: O que a gente percebe que existe uma franja de mangue remanescente, e que, por trs dessa franja, existe toda uma modificao do ambiente. (...) Houve uma dragagem, o fundo da lagoa foi colocado ali dentro (...). Agora, no mangue, no restinga. O que voc tem so remanescentes de planta de mangue, e, logo atrs, a modificao do ambiente, que era mangue e passou a ser soterrado por fundo de lagoa, virando agora um ambiente de jardim de restinga.
132 FUKS, 2001, p. 207.
80. Em primeiro plano, a Lagoa da Tijuca, de onde se avistam os manguezais da gleba E formando densa massa arbrea com o manguezal de franja, emoldurando os edifcios da Gleba E, ao fundo. Foto tirada do Parque Mello Barreto, onde se percebe que a elevada altura dos edifcios causa grande impacto na paisagem, sobrepondo-se altura do monumento natural que a Pedra da Panela.
104
81. foto satlite de 2007 mostrando a rea da Gleba E e o Parque Mello Barreto
105 5.2. 5.2. 5.2. 5.2. PARQUE DE EDUCAO AMBIENTAL MELLO BARRETO: PARQUE DE EDUCAO AMBIENTAL MELLO BARRETO: PARQUE DE EDUCAO AMBIENTAL MELLO BARRETO: PARQUE DE EDUCAO AMBIENTAL MELLO BARRETO: O PARQUE ARISTOTLICO
O Parque Natural Municipal de Educao Ambiental Professor Mello Barreto situa-se em rea adjacente Gleba E, dando continuidade espacial e metodolgica ao processo de restaurao paisagstica, iniciado s margens da Lagoa da Tijuca. Trata-se de rea pblica, protegida por lei como parte integrante da Faixa Marginal da Lagoa da Tijuca. Este foi o segundo projeto para criao de ecossistema de substituio, e aqui o trabalho tornou-se mais complexo que o primeiro a Gleba E pois havia litgios de conflitos ambientais, esbarrando na questo social, onde houveram desapropriaes e remoes de rea construda e aterrada. Aqui fez-se uma homenagem ao botnico Mello Barreto (captulo 3.2) que exerceu profunda influncia nos jardins de Burle Marx, incansvel defensor da preservao do meio ambiente e recuperao de ambientes paisagsticos com caractersticas ecolgicas. A imagem do parque aristotlico foi uma analogia que Chacel fez em relao escola grega clssica, onde o professor Aristteles lecionava caminhando; da mesma forma se deve conhecer este parque: caminhando ao longo de seu traado linear.
106 5.2.1. ASPECTOS HISTRICOS
impossvel se falar no Parque Mello Barreto sem mencionar o Parque da Gleba E, pois alm do fato de serem reas contguas, seu processo de implantao se deu em continuidade conceitual e metodolgica ao processo iniciado anteriormente. Originalmente coberta por vegetao de manguezal, a rea sofreu uma srie de invases sem que houvesse controle por parte do poder pblico. Por meio de levantamento aerofotogramtrico realizado em 1992, pelo IPLAN (figura 82), constatou-se que a rea encontrava-se em situao de degradao quase completa do ecossistema, devido s ocupaes irregulares e sucessivos aterramentos. Ocupaes estas que, de incio, se compunham apenas por casas de baixa renda e, aos poucos, foram recebendo habitaes mais sofisticadas. Alegando que se tratava de apropriaes indevidas sobre rea pblica, a construtora Carvalho Hosken apresentou uma proposta irrecusvel prefeitura: as ocupaes irregulares e as famlias seriam transferidas para rea prxima, na Baixada de Jacarepagu, e a recuperao ambiental asseguraria a manuteno dos atributos paisagsticos do caminho de acesso Pennsula. Os terrenos foram desocupados e as construes e entulhos retirados em ao integrada onde atuaram a ACIBARRA 133 e a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.
133 ACIBARRA: Associao Comercial e Industrial da Barra da Tijuca.
82. Ocupaes irregulares s margens da Lagoa da Tijuca.
107 5.2.2. O PROJETO
Logo em seguida s remoes de moradores e retirada de entulhos, Chacel foi contratado pela ACIBARRA, com referncia no trabalho j implantado na rea adjacente, a gleba E, oito anos antes e j em fase adiantada de recuperao da paisagem. O projeto para o Parque Mello Barreto - datado de 1994, tendo sua implantao se efetivado no ano seguinte - segue a mesma proposta conservacionista da Gleba E, adotando o conceito ecogentico. Realizou-se primeiro o inventrio do suporte fsico, depois a anlise dos dados obtidos e a partir da estabeleceu-se o mtodo: no h frmula ou modelo pr-estabelecido, mas sim linhas diretrizes a serem adotadas. Foram estabelecidas as seguintes diretrizes: recuperar o manguezal, introduzir a vegetao de restinga, fazer um jardim de bromlias e introduzir elementos da mata atlntica de forma abrangente. Ou seja, no se restringindo apenas s espcies do ecossistema especfico da Barra da Tijuca, mas provenientes tambm de outras regies de restinga e mata atlntica, no intuito de dar nfase vegetao tpica de flora litornea. A primeira interveno foram os movimentos de terra, pois os sucessivos aterramentos com tipos de solo diferentes do original alteravam o habitat das espcies vegetais prprias de mangue. Assim sendo, o solo foi remanejado para facilitar a adaptao das novas espcies a serem plantadas. Todo o entulho das construes teve que ser retirado e o terreno foi
108 escavado at se chegar aos solos hidromrficos 134 , necessrios ao desenvolvimento do manguezal. H um talude que separa o nvel do manguezal, sujeito ao das mars, da rea do parque. Assim foi possvel restabelecer o fluxo e refluxo das guas da lagoa. Os taludes funcionam como compatibilizao entre o modelo manguezal e o parque, para a conteno foram plantados a salsa-da-praia (Ipomea pes-caprae) e o guriri (Allagoptera arenaria).
134 Hidromrficos: solos formados por deposio de sedimentos em lagoas, brejos, em pocas geolgicas relativamente recentes. In: CHACEL, 2001, p. 72.
84. Perspectiva ilustrando a proposta para o setor onde se encontra o jardim das bromlias no Parque Mello Barreto.
83. Arranjo geral do parque.
109 As rvores exticas foram os nicos elementos de interveno antrpica mantidos no parque. Como muitas delas eram frutferas, Chacel teve a idia de criar um jardim de espcies frutferas autctones, como a pitanga, o cajueiro e a grumixama. A fruta po uma extica aclimatada no litoral brasileiro que tambm fez parte do elenco arbreo. Plantaram-se conjuntos de Hibiscus Pernambucensis, Acrostichum Aureum, Philodendron Bipinatifidum, Bactris Setosa, entre outras, que enterneciam o olhar atento do botnico Luiz Emygdio de Mello Filho: A estilizao textural da biota peculiar do pr-mangue, harmoniza-se com a muralha de mangue na interface entre o espao salinizado das lagoas e o espao dulccola da terra firme, configurando um territrio onde a fauna local desenvolve os aspectos teatrais do comportamento animal com seus alaridos ou seu deslizar silencioso. Na proposta original havia duas reas de estacionamento com cinqenta vagas, mas a Secretaria do Meio Ambiente no aceitou, e o estacionamento no saiu do papel. Havia tambm um sistema de ciclovias cuja idia era se estender ao longo do parkway que se pretende construir s margens de toda a Lagoa. A nica construo do parque um teatro de arena. A idia foi criar um parque aristotlico, peripattico. De acordo com a definio do Aurlio, paripattico aquilo que se ensina caminhando, por se tratar de um parque linear, e por se tratar de um parque de educao ambiental, onde a inteno do paisagista foi criar um mostrurio das restingas, apresentando aspectos da restinga especfica da regio da Barra da Tijuca e adjacncias.
110 5.2.3. SITUAO ATUAL
A implantao da continuidade no processo de recomposio ecolgica vem em boa hora como pretexto para encobrir uma outra realidade: no era interessante ao poder imobilirio que o acesso ao condomnio da gleba E fosse margeado por uma favela, isto espantaria os clientes, desvalorizando o empreendimento. Chacel repara que o parque tem uma massa vegetal boa, o que cria uma zona de amortecimento protegendo manguezal. E reitera que este tipo de projeto s possvel de se realizar graas fora da lei, que obriga o empreendedor imobilirio a conservar uma rea de vegetao nativa como forma de compensar a presso exercida pela urbanizao. prefeitura no cabe nenhum investimento. O projeto apresentado Parque Mello Barreto foge um pouco aos parmetros da lei. O que no significa que haja agresso ao equilbrio do ecossistema. neste momento que se faz fundamental o trabalho do arquiteto paisagista, refreando a construo de edificaes e equipamentos de uso intensivo e poluidores. O Parque Mello Barreto uma rea de conservao, mas no de preservao. A conservao tem o uso limitado, ao passo que a preservao tem o uso vedado. H que se ter coerncia, sempre levando em considerao vrios aspectos importantes: esttico, de conforto ambiental, ecolgico, entre outros. 85. Parque Mello Barreto em 2004.
86. Manguezal do parque Mello Barreto em 2004.
111 Este parque d incio a de uma seqncia de parques prevista no Plano Lcio Costa. At se chegar ao Downtown e ao Citt America, so seis quilmetros de distncia, para se chegar ao Parque Fazenda da Restinga. No total, h uma extenso de treze quilmetros de margem da Lagoa que deve ser mantida como rea de conservao ambiental. Muito j foi feito, mas muito ainda h pra ser feito. Chacel afirma sempre: "estas idias todas de ecognese e recuperao da vegetao, estas idias todas no so minhas. H quarenta anos que o pessoal do Museu queria fazer coisas como esta. Em 1949, Burle Marx fez um trabalho nesta linha, mas como no havia uma lei, jamais pde faz-lo. A mim, coube a tarefa de colocar o bloco na rua".
90. Norantea brasiliensis., arbustiva no Parque Mello Barreto, introduzida pela primeira vez em espao pblico.
91. Chacel admira sua flor predileta, a Norantea brasiliensis, herbcea tpica de restinga.
88. Parque Mello Barreto em 2006.
87. Erythrina falcata
89. Ambiente com bromlias, cactceas e palmeira. Ao fundo arbustivas de restinga.
112 5.2. 5.2. 5.2. 5.2. PENHASCO DOIS IRMOS: PENHASCO DOIS IRMOS: PENHASCO DOIS IRMOS: PENHASCO DOIS IRMOS: REVELADOR DE PAISAGENS
O Parque sobre o penhasco Dois Irmos insere-se na rea do patrimnio paisagstico sujeita proteo ambiental. A penedia situada acima dos bairros Leblon e Vidigal foi tombada a 13 de junho de 1994 pelo Conselho Estadual de Tombamento. Trata-se de um dos morros mais importantes e majestosos da cidade do Rio de Janeiro, medindo aproximadamente 530 metros de altura. O macio constitui-se principalmente de gnaisse, apresentando trechos em granito. Na cota de 35 metros acima do nvel do mar, a avenida Niemeyer circunda o morro em uma extenso de 4700 metros, estabelecendo ligao entre as praias do Leblon e de So Conrado 135 . Subindo pela Rua Gabriel Mufarrej, no Leblon, chega-se a um mirante e um estacionamento, onde ficam os carros dos visitantes, sendo o acesso de carros ao parque permitido apenas aos moradores da comunidade adjacente, a Favela Chcara do Cu. A partir da segue-se p, atravessando os portes que permanecem abertos diariamente das sete da manh s cinco horas da tarde.
135 DUNLOP, 1958, p. 43. 92. Entrada para o Parque do Penhasco Dois Irmos.
113
93. Vista area do Penhasco Dois Irmos e Parque Municipal Srgio Bernardes.
114 5.3.1. ASPECTOS HISTRICOS
A abertura da avenida Niemeyer comeou nos idos de 1891, por obra da Cia. Via Frrea Sapuca; a princpio, como leito para uma estrada de ferro que ligaria o bairro de Botafogo ao porto de Angra dos Reis. No entanto, obras de saneamento na lagoa interditaram a continuao da estrada, abandonada aos 800 metros de extenso. Doze anos mais tarde, em 1912, Charles Wicksteed Armstrong, diretor do ginsio Anglo-Brasileiro, situado na antiga chcara do Vidigal, retoma a construo da via, refazendo os trechos destrudos pela ao do tempo e acrescentando outros 400 metros, como forma de melhorar o acesso a seu estabelecimento. Antes disso, seu nico acesso era por uma estrada chamada "Caminho do Cu" 136 , bastante ngreme e oferecendo pouca segurana aos transeuntes. Dois anos depois, o Comendador Conrado Jacob de Niemeyer estendeu o traado da estrada at a praia de So Conrado, em terreno de sua propriedade, e em 1916 ofereceu- a prefeitura como logradouro pblico. Em 1920, quando da visita do Rei Alberto da Blgica, foram realizadas melhorias na estrada: a prefeitura aumentou os raios das curvas, a pista foi alargada e macadamizada 137 . H notcias de favelizao na encosta do morro Dois Irmos desde os anos 1920 quando, por ocasio da vinda do Rei da Blgica ao Rio de Janeiro, o roteiro de passeios planejados para impressionar o real visitante acarretou na remoo dos barraces ali instalados 138 .
136 Provavelmente s margens deste caminho foi-se formando a comunidade hoje ali existente, denominada "Chcara do Cu". 137 Macadamizar: empedrar com macadame, pedra britada com trinta centmetros de espessura, aglutinada e comprimida. Fonte: Dicionrio Aurlio. 138 ABREU, 1994, p. 40.
115 Em 1973 a penedia dois Irmos foi includa no Livro do Tombo do IPHAN. A rea era de propriedade privada at o incio da dcada de 1990, e por pouco no se tornou alvo de especulao imobiliria, pois o proprietrio do terreno, Sanchez Galdeano, tinha projetos para a construo de um complexo hoteleiro no local, o que causaria um grande impacto na paisagem de um dos maiores monumentos naturais da cidade do Rio de Janeiro. Fato este que, felizmente, no ocorreu devido mobilizao de moradores, junto ao do governo municipal. De acordo com Nobre 139 , a efetiva criao do parque s tornou-se possvel: Graas a uma longa negociao da prefeitura com o ento proprietrio do terreno, que recebeu numa operao interligada atravs do aumento de gabarito de um terreno Barra da Tijuca em troca da rea de 144.00 m (rea total do Parque) hoje ocupada pelo Parque. O terreno faz limite com uma reserva florestal e com a favela Chcara do Cu. Tratava-se, portanto, de uma estratgia dupla e urgente, do ponto de vista pblico: por um lado, garantir a preservao ambiental do local; por outro, impedir o crescimento da favela contgua, que j avanava terreno adentro com 18 casas, em fase de remanejamento atravs da Secretaria Municipal de Habitao. Houve protestos da comunidade residente no Leblon, e em ao conjunta com a prefeitura, a populao conseguiu fazer com que o morro Dois Irmos tivesse sua paisagem preservada.
139 NOBRE. Trabalho no publicado.
116 5.3.2. O PROJETO
Para o projeto do parque no Morro Dois Irmos a prefeitura abriu uma concorrncia; onde mais tarde a empresa contratada, por sua vez, convidou Chacel e sua equipe para realizarem o projeto paisagstico. Da proposta inicial, realizada em 1996, ao que hoje encontra-se implantado, alguns anos se passaram e algumas modificaes ocorreram, como veremos adiante. A vegetao da encosta encontrava-se completamente devastada, no havendo mais remanescentes da flora nativa, apenas o capim-colonio, espcie invasora que impede o desenvolvimento da flora autctone. Por outro lado, ao analisar a rea de interveno, Chacel notou que o local apresentava "caractersticas especiais de revelador de paisagens inditas e de grande impacto visual". O projeto de paisagismo para o Parque do Morro Dois Irmos foi delineado por Fernando Chacel, segundo Nobre 140 , com base em detalhadas observaes da topografia. Com extrema sensibilidade para as nuances do relevo, ele define ambientes em nveis, tirando partido das deslumbrantes vistas que se descortinam em cada patamar. A metodologia de interveno utilizada por Chacel seguiu os princpios de McHarg (captulo 1.4), com o uso de superposio de quatro camadas identificando os potenciais paisagsticos de cada rea.
140 NOBRE. Trabalho no publicado.
117
94.
Fonte:
96.
95.
97.
118
98. Projeto preliminar de Chacel para o Parque do Penhasco Dois Irmos
119 As figuras da pgina 116 ilustram as principais caractersticas da rea, como declividades, drenagem, vegetao e intervenes antrpicas. Atravs da superposio dos dois primeiros mapas, criou-se um terceiro onde realizou-se a sntese que revelou as reas potencialmente utilizveis para a implantao dos elementos previstos para o parque, de acordo com o programa elaborado pela Fundao Parques e Jardins. A partir da sntese foi possvel partir para a conceituao (figura 97) que define os limites do parque e da comunidade ali existente, posiciona os equipamentos, define os acessos de carros e pedestres e demarca as reas de preservao e de conservao da vegetao. Durante a construo do parque, a Associao de Moradores do Leblon no via com bons olhos a sua implantao, temendo que a abertura de um parque pblico no local pudesse afetar a tranqilidade dos moradores e a preservao do ambiente natural. Mais tarde, chacel pondera: todas essas questes desfizeram-se diante da evidncia da qualidade do projeto, que prima pela prudncia em relao ao entorno e pelo respeito pelo ambiente natural. O cuidado com a preservao do espetculo da paisagem, mediante a minimizao do impacto ambiental, norteia, de fato, o projeto como um todo. O paisagista elaborou um projeto de reflorestamento visando recuperar a rea de mata atlntica e restinga que outrora existira no local; entre as espcies nativas transplantadas encontram-se helicnias, jequitibs, palmeiras, filodendros e bromlias, s para citar algumas. A implantao do complexo do parque consiste de mirantes e decks de madeira, teatro de arena com capacidade para cinqenta pessoas, quadra polivalente, centros de convivncia com rea de recreao e piquenique e horta comunitria. O projeto de arquitetura para o mdulo administrativo assinado por Ricardo Villar e Antonio Violante.
100. Saindo do estacionamento, desce-se por esta escada que d acesso a um dos mirantes
99. Entrada do parque direita, estacionamento esquerda.
101. Mirante
120 Com relao questo do gerenciamento do espao, de acordo com Nobre 141 , a proposta que o espao seja administrado sob o modelo de gesto participativa, no qual o funcionamento do parque deve ser gerenciado pelos rgos do governo municipal, a Secretaria de Meio Ambiente e a Fundao Parques e Jardins, em conjunto com a participao das Associaes de Moradores da vizinhana.
141 NOBRE. Trabalho no publicado.
103. Ambincia do mirante
104. O penhasco Dois Irmos.
102. A mesma rea de estar, vista por outro ngulo.
121 5.3.3. SITUAO ATUAL
A viabilizao do Parque Municipal Srgio Bernardes deve-se, em grande parte, ao consciente da populao, em que os moradores locais entre eles os moradores dos condomnios de classe mdia da zona sul e os moradores da favela Chcara do Cu se reuniram em busca do interesse comum, que era a preservao da paisagem como patrimnio cultural. Segundo a definio de Carr 142 , os bons projetos para espaos pblicos devem ter o potencial para chamar a ateno da cidade e afirmar a sua imagem; para o autor, a relao do espao pblico com a vida pblica dinmica e recproca, o que significa que novas formas de vida pblica requerem novos espaos pblicos. Cada espao pblico que criado na cidade afeta diretamente a cultura pblica. O que pode ser comprovado neste caso do parque do morro Dois Irmos, onde a ao popular teve papel decisivo no rumo das negociaes entre esfera pblica e poder privado. A tendncia atual do projeto de espao pblico consiste em aliar-se o tratamento da paisagem ao planejamento dos espaos livres pblicos, constituindo um sistema integral de recursos naturais, com preocupao ecolgica e desempenhando tambm um importante papel cvico. De acordo com Scalise 143
para o estabelecimento desse elo, junto com o projeto de arquitetura e de espaos livres, necessria a experimentao social, num trabalho coletivo, a servio do interesse comum,
142 CARR, 1995, p. 344. 143 SCALISE, 2002.
105. Acesso principal do parque.
122 no sentido de materializar o direito cidade, criando oportunidade de comprometimento com as necessidades da populao, capaz de promover e canalizar novas formas de relaes sociais, incluindo as minorias e as relaes transculturais, de mudana de mentalidades. Se antes a ao do governo se impunha de forma arbitrria e autoritria, como foi observado no caso das reformas higienistas modernas da primeira metade do sculo passado no Rio de Janeiro (captulo 2.4), hoje a tendncia que se descortina uma participao cada vez maior dos interesses pblicos nas decises administrativas. Considerando que no caso do morro Dois Irmos houve interesses envolvidos por parte no s dos moradores prximos ao local, como tambm do IPHAN e do INEPAC, rgos responsveis pela institucionalizao do patrimnio cultural, neste caso a mobilizao popular envolveu interesses de toda a cidade, demonstrando uma mudana de atitude por parte da esfera pblica e da cidadania.
106. rea de circulao com esculturas de Oscar Niemeyer.
108. Escultura na rea de circulao, e o mirante ao fundo.
107. rea de circulao com lago antrpico.
109. Vista de um dos mirantes, mostrando a praia de Ipanema ao fundo.
123 6. 6. 6. 6. CONSIDERAES FINAIS CONSIDERAES FINAIS CONSIDERAES FINAIS CONSIDERAES FINAIS
"A floresta nada mais que um bero. Nenhum bero vazio. A floresta viva embala a floresta futura". G. Bachelard 144
Muitos profissionais tm trabalhado em defesa do meio ambiente como forma de manuteno da qualidade de vida no somente humana, mas tambm tendo em mente a conservao da biodiversidade, o que asseguraria a existncia e permanncia das diferentes formas vivas na Terra. certo que as florestas, as grandes florestas, so imprescindveis vida do planeta. certo que as cidades, cada vez maiores, com seu desenfreado consumismo, esto esgotando florestas inteiras, reservas naturais de biodiversidade e energia. O planeta Terra nossa casa. E agora que estamos acabando com a nossa casa, para onde vamos? guisa de curiosidade, cientistas querem fazer ecognese em Marte. Funcionaria mais ou menos assim: a etapa que eles chamam de ecognese consistiria em se fazer mudanas no planeta Marte para permitir a sobrevivncia de microrganismos anaerbios. Em seguida
144 BACHELARD, 2001, p. 207.
124 viria a terraformao, ou seja, a transformao do clima e do ambiente marciano em padres semelhantes aos da Terra, possibilitando a sobrevivncia da espcie humana 145 . Enquanto pesquisas desta natureza so desenvolvidas, as previses de cientistas para o aquecimento global so preocupantes. E enquanto alguns ainda querem pensar que se trata de alarmismo, as evidncias so catastrficas. Tem sido divulgado constantemente pelos meios de comunicao de massa que as geleiras do Plo Norte esto encolhendo drasticamente, que em alguns lugares do mundo o nvel do mar est subindo, que a Floresta Amaznica diminui a cada dia. A ecognese marciana deve demorar cerca de duzentos anos para tornar o planeta vermelho habitvel para o ser humano. Mas se o ritmo de esgotamento de nossos recursos naturais continuar como est, bem antes disso a vida na Terra j ter se tornado insuportvel. A floresta necessria. E a ecognese na Terra uma soluo vivel na reabilitao de florestas destrudas. E quando falamos em reabilitao, estamos falando em matas secundarizadas, ou seja, no so os ecossistemas originais, mas algo parecido com isso, interpretado pelo ser humano com base nos recursos intelectuais e tecnolgicos de que dispe. As reas verdes que analisamos nesta dissertao so parques urbanos implantados em reas que sofreram profundas intervenes antrpicas e destruio (total ou parcial) de seu ecossistema original. O meio ambiente formado nestes parques , sobretudo, um meio ambiente urbano, configurando espaos verdes que se harmonizam com o concreto de nosso solo. Parques urbanos so equipamentos imprescindveis convivncia humana nas cidades, onde a populao habita espaos cada vez menores e abstrados do contato com
125 as foras da terra: verde, solo, vento, chuva, horizonte. Em termos de rea de reflorestamento, no restrito sentido da palavra, os parques urbanos representam uma nfima parte do que seria considerado satisfatrio. A real importncia dos parques urbanos o ser humano, suas necessidades de recreao ao ar livre, prtica de esportes e principalmente, contato e conhecimento dos elementos da natureza. vido defensor da matriz verde como fator primordial para a qualidade de vida, Lewis Mumford 146 (1895-1990) afirma que: "a manuteno do cenrio regional, a matriz verde, essencial para a cultura das cidades. Onde esse cenrio foi apagado, despojado ou obliterado, a deteriorao da cidade deve- se seguir, pois a relao simbitica. (...) A re-ocupao e o revigoramento da paisagem, como fonte dos valores essenciais a uma vida equilibrada, uma das mais importantes condies da renovao urbana". A atual sociedade de consumo nos coloca diante de uma velocidade artificial na medida em que vai contra o ritmo da natureza. Considerando que, em Kant 147 , a fruio do prazer esttico coloca o objeto em situao de sublimao, inclume, onde no h atitude de consumo; neste sentido podemos deduzir que a sociedade de consumo s pode gerar lucro na medida em que se consome cada vez mais. Da a anulao dos prazeres de contemplao em virtude da movimentao contnua e acelerada do consumismo imediatista, a velocidade que a mola propulsora da cidade capitalista, que consome a natureza. Diante destas observaes podemos mais uma vez afirmar que novos paradigmas e novos valores so imprescindveis para o surgimento de uma nova sociedade. A este
146 MUMFORD, 1998, seo ilustrada IV, 58. 147 KANT, 1793.
126 respeito, Mumford 148 otimista, pois ele acredita no surgimento de um novo paradigma para as sociedades vindouras: "em lugar da indstria, a educao que ser o centro das suas atividades". O caminho para mudanas de paradigmas sociais e culturais deve se iniciar com a conscientizao de toda a sociedade em escala global. Para que estas mudanas aconteam de fato, Ab'Sber reitera a responsabilidade de todos e de cada um: "desde os mais altos escales do governo e da administrao at o mais simples cidado, todos tm uma parcela de responsabilidade permanente, no sentido da utilizao no-predatria dessa herana nica que a paisagem terrestre". E vemos j algumas mudanas comeando a ocorrer neste sentido. Por exemplo, Chacel conta uma histria sobre a APA 149 das Tabebuias, no Rio de Janeiro. uma rea de seiscentos mil metros quadrados, localizada entre a Avenida das Amricas e a Salvador Alende, que, segundo Chacel, o "maior tapume" do Rio de Janeiro. A rea pertence a uma famlia, que teve a inteno de construir a Academia Internacional de Tnis do Rio de Janeiro. Havia um contrato com os EUA que j tinha chegado ao gabinete do prefeito. Por sorte, um engenheiro florestal soube do projeto a tempo de constatar que se tratava de interveno em uma rea de Mata Palutosa - quase em extino - em 33% do terreno, ou seja, o equivalente a duzentos mil metros quadrados. O projeto foi ento reavaliado e modificado.
148 MUMFORD, 1998, p. 619. 149 APA: rea de Proteo Ambiental.
127 Burle Marx 150 observava que o verdadeiro progresso seria proporcionar cada vez maior bem-estar populao. Entretanto, o que vemos a diminuio gradativa dos padres de conforto. Fato que, em grande parte, se deve perda da qualidade ambiental no meio urbano. Neste sentido, observamos que Chacel, do mesmo modo que Burle Marx, procura fazer o caminho contrrio a essa perda; ou seja, ele trabalha em busca da melhoria na qualidade ecolgica. Os anos de experincia se somam ousadia em propor solues ambiental e paisagisticamente satisfatrios; mais que isso, com resultados surpreendentes. Em nossa pesquisa pudemos observar que o paisagismo um processo dinmico cujos projetos se realizam ao longo do tempo, e tambm conclumos que, para que os parques urbanos funcionem preciso haver a manuteno da boa qualidade dos espaos, do ponto de vista paisagstico, ambiental, social e, principalmente, cultural. Faz-se necessria a conscientizao da populao, e para isso preciso haver espaos na cidade que propiciem atividades de encontro com a natureza, para que se conheam os elementos naturais essenciais sem os quais nossa existncia no seria vivel. necessrio conhecer para preservar, e neste sentido os parques urbanos so imprescindveis, no s integridade fsica e espiritual do homem, mas tambm preservao das grandes florestas, por se tratar de espaos para a educao ambiental. E qual o papel do arquiteto paisagista diante desse quadro social e ambiental em que nos encontramos? Chacel nos responde, com a frase de um amigo, o arquiteto paisagista Leandro Silva Delgado: o bom arquiteto paisagista como o pratista da orquestra sinfnica, ele no o spalla 151 , porque ele deve dar a pratada certa, na hora certa.
150 TABACOW, 1987. 151 Spalla: primeiro violino de uma orquestra, violinista solista.
128 E qual a relevncia destes trs parques aqui analisados Gleba E, Parque Mello Barreto e Parque Municipal Srgio Bernardes para a paisagem urbana do Rio de Janeiro? O projeto para o Parque da Gleba E constitui-se em modelo de atuao ecolgico- paisagstica, projeto pioneiro onde se concretizou pela primeira vez, de fato, a teoria da ecognese. No entanto, a incompreenso de uma nova esttica que valorize os aspectos plsticos da flora nativa, fizeram com que parte dessa proposta fosse adulterada, modificando sensivelmente a integrao entre os diversos nveis de interveno. Por sorte a legislao ambiental assegurou a manuteno da franja de manguezal, mas os espaos internos do condomnio seguem uma esttica kitsch completamente destacada do conceito ambiental original, alm do grande impacto que os altos edifcios causaram na paisagem, fechando a vista da Pedra da Panela. Os jardins de manguezal e restinga sero utilizados exclusivamente pelos moradores da Pennsula (ou seus convidados), uma vez que a instituio de uma guarita na entrada do condomnio acaba por intimidar o transeunte que queira visitar seus jardins, embora se trate de um espao pblico. O projeto para o Parque de Educao Ambiental Mello Barreto foi, entre estes trs projetos aqui analisados, aquele cuja implantao mais se aproximou da proposta original de Chacel. Com pouqussimas modificaes, a restaurao ambiental foi bem sucedida e hoje v-se uma densa franja de manguezal ao longo de todo o parque, alm da rica arborizao com espcies de restinga locais e exticas. Porm, apesar de ser um parque municipal e, portanto, pblico, a populao utiliza muito pouco este espao. A apropriao e utilizao dificultada pela m resolvida acessibilidade, onde no h estacionamentos, ciclovias ou paradas de nibus; some-se a isto a falta de equipamentos e atrativos para os usurios, que acabam por se ver desmotivados a irem at o parque.
129 O Parque Municipal Srgio Bernardes o que mais se aproxima da concepo de um parque pblico de fato, com intensa utilizao pela populao em todos os dias da semana, onde acontecem atividades educativas e sociais. O projeto original foi bastante alterado pela Fundao Parques e Jardins durante o processo de implantao com a consultoria de Chacel devido a imprecises no levantamento topogrfico e modificaes no programa de necessidades. E, apesar do processo de plantio no ter seguido os parmetros de ecognese (no houve uma equipe interdisciplinar), o trabalho realizado em mutiro proporcionou a erradicao do capim colonio abrindo espao para o plantio de espcies da flora autctone e tambm espcies exticas j h muito aclimatadas e cultivadas em nosso solo, o que deu ao parque uma densa massa arbrea. Consideramos que estas trs propostas de reinsero do verde na malha urbana sejam visivelmente significativas, uma vez que proporcionam novas oportunidades de paisagem aos olhos da cidade. Chacel afirma que muito j se fez, mas muito ainda h para se fazer. Mesmo assim, ele sente uma grande satisfao ao constatar que estes trabalhos de recuperao de paisagem, de natureza ecogentica, so bem aceitos pela comunidade cientfica e pelos rgos ambientais. Esperamos que estas paisagens recompostas possam ser o modelo de intervenes paisagsticas futuras, e passem a ser um modelo tradicional em algumas geraes. E que estas futuras geraes possam compreender que, melhor que recompor uma paisagem, reconstruindo um ecossistema, mant-lo em seu estado primevo.
130 RELAO DAS ILUSTRAES RELAO DAS ILUSTRAES RELAO DAS ILUSTRAES RELAO DAS ILUSTRAES
Figur Figur Figur Figura aa a Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Pgina Pgina Pgina Pgina 1 11 1 The Fall of Man, 1616. Hendrik Goltzius. Disponvel em: http://www.artnet.com/artist/553010/hendrik-goltzius.html acesso 11 Nov. 2006. 9 2 22 2 Chacel em novembro de 2003. A autora. 10 3 33 3 Planeta Terra. Disponvel em: http://www.dse.nl/~zyal/terra.html acesso 15 Out. 2006. 14 4 44 4 Subrbio de Lndres, sculo XIX. Gravura de Gustave Dor. In: HOWARD, 1996, p. 17. 23 5 55 5 Suzhou, China. PATRIMNIOS MUNDIAIS NA CHINA, 2004, s/p. 24 6 66 6 Jardins do Palcio de Versalhes. Paisagismo de Andr Le Ntre. Disponvel em: http://www.twip.org/photo/europe/france/photo-5144-24-02-06-11-04-31.jpg acesso 29 Nov. 2007. 25 7 77 7 Bowood House. Disponvel em: http://www.armin-grewe.com/holiday/wiltshire/bowood-house.htm acesso 05 Dez. 2007. 25 8 88 8 Diagrama de cidade jardim. In: HOWARD, 1996, p. 190. 26 9 99 9 Central Park, New York. Projeto de Frederic Law Olmsted. Disponvel em: http://www.hellonewyork.com/newyork/images/central%20park.jpg acesso 15 Out. 2006. 26 10 10 10 10 Ira's Fountain, Lawrence Halprin. Portland, Oregon, EUA. Disponvel em: http://www.flickr.com/photos/tags/irasfountain acesso 14 Out. 2006. 27 11 11 11 11 Layers de Ian McHarg. Disponvel em: http://go.owu.edu/~jbkrygie/krygier_html/geog_222/geog_222_lo/geog_222_lo06.html acesso 05 Dez. 2007. 27 12 12 12 12 Foto satlite do Rio de Janeiro. Atlas das Unidades de Conservao da Natureza do Estado do Rio de Janeiro, p. 15. 34 13 13 13 13 Aziz Ab,Sber. Disponvel em: www.aoceano.org.br, acesso 27 Jun. 2007. 36 14 14 14 14 Mata Atlntica. Disponvel em: http://www.universidadenet.com/imagens/mata-a5.jpg acesso 11 Dez. 2007. 37 15 15 15 15 Mapa mundi, destacando as ocorrncias de mangue nas zonas tropicais. In: MANGUEZAIS DO RIO DE JANEIRO, p. 24. 38
131 Figura Figura Figura Figura Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Pgina Pgina Pgina Pgina 16 16 16 16 Caranguejo no manguezal da Gleba E. Folheto publicitrio da Construtora Carvalho Hosken, s/p. 38 17 17 17 17 Anfbio em bromlia na Gleba E. Folheto publicitrio da Construtora Carvalho Hosken, s/p. 38 18 18 18 18 Ave aqutica na Lagoa da Tijuca. Folheto publicitrio da Construtora Carvalho Hosken, s/p. 38 19 19 19 19 Rizhophora mangle na Gleba E. A autora. 39 20 20 20 20 Perfil esquemtico do ecossistema de manguezal. Manguezais do Rio de Janeiro, p. 28. 40 21 21 21 21 Flor da Clusia fluminensis. A autora. 41 22 22 22 22 Restinga. Disponvel em: http://www.cpo.org.br/_CpoEspa%C3%A7oSocios.htm acesso 02 Dez. 2007. 42 23 23 23 23 Allagoptera arenaria. A autora. 42 24 24 24 24 Composio natural. A autora. 42 25 25 25 25 Vriesea Neoglutinosa, na restinga de Massambaba, Cabo Frio, RJ. A autora. 42 26 26 26 26 Orqudea Epidendrum denticulatum. A autora. 42 27 27 27 27 Orqudea. Epidendrum huebneri. A autora. 42 28 28 28 28 Foto do Passeio Pblico, Rio de Janeiro. In: MACEDO, 1999, p.42. 46 29 29 29 29 Passeio Pblico, projeto de Mestre Valentim. In: MACEDO, op.cit., p. 26. 46 30 30 30 30 Passeio Pblico, projeto de Glaziou. In: MACEDO, op.cit., p.43. 46 31 31 31 31 Igreja Nossa Senhora da Luz, na Floresta da Tijuca. Disponvel em: http://www.almacarioca.com.br/tijuca.htm acesso 03 Dez. 2007. 48 32 32 32 32 Vista do Rio de Janeiro na Floresta da Tijuca. Disponvel em: http://www.almacarioca.com.br/tijuca.htm acesso 03 Dez. 2007. 48 33 33 33 33 Aterro do Flamengo. Disponvel em: http://www.vivercidades.org.br/publique222/media/aBAP_projeto.jpg acesso 03 Dez. 2007. 52 34 34 34 34 Aterro do Flamengo. In: SIQUEIRA, 2001, p. 63. 52 35 35 35 35 Aterro do Flamengo. Disponvel em: http://www.braziltour.com acesso 04 Dez. 2007. 53
132 Figura Figura Figura Figura Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Pgina Pgina Pgina Pgina 36 36 36 36 Aterro do Flamengo. Disponvel em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/aterro02.jpg acesso 04 Dez. 2007. 53 37 37 37 37 Aterro do Flamengo. Disponvel em: http://www.rioemfotos.blogger.com.br/JARDIM~1.JPG acesso 05 Dez. 2007. 53 38 38 38 38 Plano para a Baixada de Jacarepagu. In: COSTA, 1969, s/p. 55 39 39 39 39 Burle Marx e Lcio Costa. In: FLEMING, 1996, s/p. 62 40 40 40 40 Praa Euclides da Cunha. In: FLEMING, po.cit., p. 44. 63 41 41 41 41 Projeto de Burle Marx para a residncia Odete Monteiro. Petrpolis, 1948. In: SIQUEIRA, 2001, p. 40. 63 42 42 42 42 Parque Del Este, Caracas. Disponvel em: http://www.sefa.es.gov.br/painel/BMBio22.htm acesso 15 Set. 2007. 64 43 43 43 43 Ilustrao de uma Crassulaceae. Disponvel em: http://www.botanique.org/galeries-images/planches- botaniques/crassulaceae-article24295.html acesso 06 Dez. 2007. 66 44 44 44 44 Burle Marx, Magu e Luiz Emygdio. In: CALS, 1995, p. 86. 67 45 45 45 45 Parque do Barreiro de Arax. In: TABACOW, p. 44. 70 46 46 46 46 Parque do Barreiro de Arax. In: TABACOW, p. 167. 70 47 47 47 47 Mapa do Estado do Rio. Disponvel em: http://www.simerj.com/boletim/2006/regiao_lagos.gif acesso 11 Dez. 2007. 73 48 48 48 48 Pilosocereus na APA de Massambaba. A autora. 74 49 49 49 49 Proposta para Grupo Biolgico da Lagoas Litorneas do Distrito Federal. In: BURLE MARX; MELLO BARRETO; MELLO CARVALHO, 1949. 75 50 50 50 50 Burle Marx e Chacel trocam de camisa. Disponvel em: http://www.vitruvius.com.br/entrevista/chacel/01.asp acesso 12 Abr. 2004. 79 51 51 51 51 El Romeral. Disponvel em: http://www.arteinformado.com/servlet/GestionPresentaPub?operacion=detExpoGoogle&codExposicion=00009823 acesso em 04 Dez. 2007. 80 52 52 52 52 Condomnio Parc Monceau. In: MACEDO, 1999, p. 69. 81 53 53 53 53 Usina Hidreltrica de Paraibuna e barragem de Paraitinga, SP, 1978. In: SEGAWA, 2002, p. 166. 82
133 Figura Figura Figura Figura Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Pgina Pgina Pgina Pgina 54 54 54 54 Chacel no Parque Mello Barreto. Disponvel em: www.abap.org.br acesso 25 Ago. 2005. 83 55 55 55 55 Projeto de Chacel, loteamento em Bzios. In: Anais do 1 Congresso Internacional da ABAP. 85 56 56 56 56 Projeto de Chacel para fazenda no interior de So Paulo. In: Anais do 1 Congresso Internacional da ABAP. 85 57 57 57 57 Fernando Chacel e Rosa Kliass. A autora. 86 58 58 58 58 Capa do livro de autoria de Chacel. In: CHACEL, 2001. 87 59 59 59 59 Vista area da Barra da Tijuca. Disponvel em: http://www.peninsulagreen.com.br/site.asp acesso 22 Set. 2007. 91 60 60 60 60 Manguezal na Lagoa da Tijuca. A autora. 91 61 61 61 61 Parque Municipal Srgio Bernardes. A autora. 92 62 62 62 62 Informe publicitrio. Disponvel em: http://www.caringi.com.br/construcao8/construtora.htm acesso 03 Dez. 2007. 93 63 63 63 63 Mapa da Fazenda da Restinga em 1938, com a diviso das sete glebas. In: Carvalho Hosken S. A., s/p. 94 64 64 64 64 Gleba E antes da interveno. In: CHACEL, 2001, p. 51. 95 65 65 65 65 Planta Baixa esquemtica da Gleba E. In: DOURADO, 1997. 96 66 66 66 66 Corte esquemtico da Gleba E. In: DOURADO, 1997. 96 67 67 67 67 Incio do preparo dos terrenos. In: CHACEL, 2001, p.53. 97 68 68 68 68 Replantio de espcies vegetais. In: CHACEL, 2001, p.53. 97 69 69 69 69 Bromlias na Gleba E. A autora. 97 70 70 70 70 rea de transio paisagstica. In: CHACEL, 2001, p. 61. 98 71 71 71 71 Praa entre lotes de uso multifamiliar. In: CHACEL, 2001, p. 62. 98 72 72 72 72 Cactcea na Gleba E. A autora. 98 73 73 73 73 Modelo parque na Pennsula. Disponvel em: http://www.caringi.com.br/construcao8/construtora.htm acesso 03 Dez. 2007. 99
134 Figura Figura Figura Figura Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Ttulo. Fonte. Pgina Pgina Pgina Pgina 74 74 74 74 Lago construdo em concreto armado. Disponvel em: http://www.caringi.com.br/construcao8/construtora.htm acesso 03 Dez. 2007. 99 75 75 75 75 Rplica da Vnus de Milo. A autora. 100 76 76 76 76 Detalhe decorativo do jardim atual. Disponvel em: http://www.caringi.com.br/construcao8/construtora.htm acesso 03 Dez. 2007. 100 77 77 77 77 Detalhe da entrada do condomnio Pennsula. Disponvel em: http://www.vitoremanuel.cim.br/imagens/peninsula/foto15.JPG acesso 11 Dez. 2007. 100 78 78 78 78 Proposta original de Chacel para um dos parques. CAP Consultoria Ambiental Paisagstica 101 79 79 79 79 Implantao atual do mesmo parque. A autora. 102 80 80 80 80 Em primeiro plano, a Lagoa da Tijuca. A autora. 103 81 81 81 81 Foto satlite. Fonte: Google Earth. 104 82 82 82 82 Ocupaes irregulares. In: CHACEL, 2001, p. 69. 106 83 83 83 83 Arranjo geral do parque Mello Barreto. In: CHACEL, 2001, p. 71. 108 84 84 84 84 Perspectiva. In: CHACEL, 2001, p. 71. 108 85 85 85 85 Parque Mello Barreto em 2004. A autora. 110 86 86 86 86 Manguezal no Parque Mello Barreto. A autora. 110 87 87 87 87 Erythrina falcata. A autora. 111 88 88 88 88 Parque Mello Barreto em 2006. A autora 111 89 89 89 89 Ambiente com bromlias, cactceas e palmeira. A autora. 111 90 90 90 90 Norantea brasiliensis. A autora. 111 91 91 91 91 Chacel Admira sua flor predileta. 111 92 92 92 92 Entrada para o Parque do Penhasco Dois Irmos. A autora. 112 93 93 93 93 Vista area do Penhasco Dois Irmos. Foto: Beto Felcio. 113
135 Figura Figura Figura Figura Ttulo. Fonte Ttulo. Fonte Ttulo. Fonte Ttulo. Fonte. .. . Pgina Pgina Pgina Pgina 94 94 94 94 Declividades e drenagem superficial. CAP Consultoria Ambiental Paisagstica. 117 95 95 95 95 Sntese. CAP Consultoria Ambiental Paisagstica. 117 96 96 96 96 Vegetao e intervenes humanas. CAP Consultoria Ambiental Paisagstica. 117 97 97 97 97 Conceituao. CAP Consultoria Ambiental Paisagstica. 117 98 98 98 98 Projeto preliminar. CAP Consultoria Ambiental Paisagstica. 118 99 99 99 99 Entrada do parque direita. A autora. 119 100 100 100 100 Saindo do estacionamento, desce-se por uma escada... A autora 119 101 101 101 101 Mirante. A autora. 119 102 102 102 102 rea de estar. A autora. 120 103 103 103 103 Ambincia do mirante. A autora. 120 104 104 104 104 O penhasco Dois Irmos. 120 105 105 105 105 Acesso principal do parque. A autora. 121 106 106 106 106 rea de circulao com esculturas. A autora. 122 107 107 107 107 rea de circulao com lago antrpico. A autora. 122 108 108 108 108 Esculturas na rea de circulao. A autora. 122 109 109 109 109 Vista de um dos mirantes. A autora. 122
ABSBER, Aziz Nacib. Os Domnios de Natureza no Brasil Os Domnios de Natureza no Brasil Os Domnios de Natureza no Brasil Os Domnios de Natureza no Brasil: potencialidades paisagsticas. So Paulo: Ateli Editorial, 2003. ABREU, Maurcio de A. Evoluo Urbana do Rio de Janeiro Evoluo Urbana do Rio de Janeiro Evoluo Urbana do Rio de Janeiro Evoluo Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO/Zahar, 1987. _______. Reconstruindo uma Histria Esquecida: origem e expanso inicial das favelas do Rio de Janeiro. In: SILVA, Lus Octvio da (Org.). Espao & Debates Espao & Debates Espao & Debates Espao & Debates: Cidade Brasileira, Sculo XX. Ano XIV, V. 14, n. 37. Neru: So Paulo, 1994. p. 34-46. (Coleo: Espao & Debates: Revista de Estudos Regionais e Urbanos). ARGAN, Giulio Carlo. Histria da Arte como Histria da Cidade Histria da Arte como Histria da Cidade Histria da Arte como Histria da Cidade Histria da Arte como Histria da Cidade. 4 a ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998. ttulo original: Storia Dell'Arte come Storia Della Citt, 1984. ATLAS DAS UNIDADES DE CONSERVAO DA NATUREZA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. So Paulo: Metalivros, 2001. BACHELARD, Gaston. O Ar e os Sonhos: O Ar e os Sonhos: O Ar e os Sonhos: O Ar e os Sonhos: ensaio sobre a imaginao do movimento. So Paulo: Martins Fontes, 2001. BARRA, Eduardo. Fernando Chacel Homenageado. In: Paisagem Escrita. Ano I, n. 2, Setembro 2005. p. 1. BARTALINI, Vladimir. Paisagismo no Rio e em So Paulo. In: SCHICCHI, Maria Cristina et alii. Urbanismo Urbanismo Urbanismo Urbanismo: Dossi So Paulo Rio de Janeiro. 1 ed. Campinas: PUC-CAMPINAS/PROURB, 2003. pp. 263-273. _______. Paisagismo e Ecognese: resenha de Vladimir Bartalini. Resenha 005, Dezembro/2001. Disponvel em: <http://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha005.asp>. Acesso em: 11 Dez. 2007. BARBOSA, Antnio A. de Mello. Fernando Chacel e a conscincia ecolgica e ambiental. Disponvel em: <http://www.vitruvius.com.br/entrevista/chacel/chacel.asp>. Acesso em: 12 Dez. 2004. BONDUKI, Nabil (Org.). Affonso Eduardo Reidy Affonso Eduardo Reidy Affonso Eduardo Reidy Affonso Eduardo Reidy. So Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; Lisboa: Editorial Blau, 1999.
137 BURLE MARX, Roberto; MELLO BARRETO, Henrique Lahmeyer; MELLO CARVALHO, Jos Cndido. Grupo Biolgico das Lagoas Litorneas do Distrito Federal. In: Revist Revist Revist Revista Municipal de Engenharia. a Municipal de Engenharia. a Municipal de Engenharia. a Municipal de Engenharia. Vol XVI, n 14, p. 14-16, Jan./Mar. 1949. Disponvel em: <http://obras.rio.rj.gov.br/rmen/eletronica_burle/eletronica_html/9.htm>. Acesso em: 19 Jul. 2007. CALS, Soraia. Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx: uma fotobiografia. Rio de Janeiro: S. Cals, 1995. CARNEIRO, Ana Rita S e PESSOA, Ana Cludia. Burle Marx nas Praas do Recife. Disponvel em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq042/arq042_03.asp>. Acesso em: 07 Dez. 2007. CARR, Stephen; FRANCIS, Mark; RIVLIN, Leanne G. & STONE, Andrew M. Public Space Public Space Public Space Public Space. New York: Cambridge University Press, 1995. CARVALHO HOSKEN S.A. Engenharia e Construes. Parque da Gleba E Parque da Gleba E Parque da Gleba E Parque da Gleba E. Rio de Janeiro: A Entidade, 1992. CERQUEIRA, R. Biogeografia das Restingas. In: ESTEVES, F. A. e LACERDA, L. D. (eds.) Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Rio de Janeiro: Maca: NUPEM/ UFRJ, 2000. p.65-75. CHACEL, Fernando Magalhes. Paisagismo e Ecognese Paisagismo e Ecognese Paisagismo e Ecognese Paisagismo e Ecognese. Rio de Janeiro: Fraiha, 2001. _______. A Paisagem em que Vivemos. In: Revista Revista Revista Revista Problemas Brasileiros. Problemas Brasileiros. Problemas Brasileiros. Problemas Brasileiros. n 339, ano 38. Mai./Jun. 2000. Disponvel em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=81&breadcrumb=1&Artigo_ID=824&IDCategoria=997&reft ype=1>. Acesso em: 15 Nov. 2007. _______. Roberto Burle Marx: o homem e sua arte. In: Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Dez. 1994. Disponvel em: <http://obras.rio.rj.gov.br/rmen/eletronica_burle/eletronica_html/54.htm>. Acesso em: 12 Jul. 2007. CHOAY, Franoise. O Urbanismo O Urbanismo O Urbanismo O Urbanismo: utopias e realidades uma antologia. So Paulo: Editora Perspectiva, 2003. Ttulo original: LUrbanisme: utopies et realits une antologie, 1965. COHEN, Alberto A. & FRIDMAN, Srgio A. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Ontem e Hoje. Rio de Janeiro: Amazon, 1998. COSGROVE, Denis E. Social Formation and Symbolic Landscape Social Formation and Symbolic Landscape Social Formation and Symbolic Landscape Social Formation and Symbolic Landscape. Croom Helm Ltd, 1984. [Madison: The University of Wisconsin Press, 1998.
138 COSTA, Lcia Maria S. A. Parque Pblicos Contemporneos no Rio de Janeiro: a contribuio de Fernando Chacel. In: SCHICCHI, Maria Cristina et alii. Urbanismo Urbanismo Urbanismo Urbanismo: Dossi So Paulo Rio de Janeiro. 1 ed. Campinas: PUC-CAMPINAS/PROURB, 2003. p. 275-285. COSTA, Lcio. Plano-Pilto para a Urbanizao da Baixada Compreendida entre a Barra da Tijuca, o Pontal de Sernambetiba e Jacarepagu. Rio de Janeiro: Estado da Guanabara, 1969. _______. Registro de uma Vivnc Registro de uma Vivnc Registro de uma Vivnc Registro de uma Vivncia. ia. ia. ia. So Paulo: Empresa das Artes, 1995. COSTA, Patrcia da; ZILLI, J. E.; TONINI, H; XAUD, H. A. M. Recuperao de reas Degradadas e Restaurao Ecolgica de Recuperao de reas Degradadas e Restaurao Ecolgica de Recuperao de reas Degradadas e Restaurao Ecolgica de Recuperao de reas Degradadas e Restaurao Ecolgica de Ecossistemas: Ecossistemas: Ecossistemas: Ecossistemas: Definies e Conceitos. Boa Vista: Embrapa Roraima, 2005. (Embrapa Roraima. Documentos, 7). Disponvel em: <http://www.cpafrr.embrapa.br/index.php/cpafrr/publica_es/documentos/recupera_o_de_reas_degradadas_e_restaura_o_ecol_gica_ de_ecossistemas_defini_es_e_conceitos>. Acesso em: 07 Dez. 2007. DOURADO, Guilherme Mazza e equipe (org.) Vises de Paisagem Vises de Paisagem Vises de Paisagem Vises de Paisagem: um panorama do paisagismo contemporneo no Brasil. So Paulo: ABAP, 1997. DUNLOP, Charles J. Rio Antigo Rio Antigo Rio Antigo Rio Antigo. 1 vol. 2 ed. Rio de Janeiro: Livraria Rio Antigo, 1958. EMDIO, Teresa. Meio Ambiente & Paisagem Meio Ambiente & Paisagem Meio Ambiente & Paisagem Meio Ambiente & Paisagem. So Paulo: Editora Senac So Paulo, 2006. FARAH, Ivete Mello Calil. Arborizao Pblica e Desenho Urbano Arborizao Pblica e Desenho Urbano Arborizao Pblica e Desenho Urbano Arborizao Pblica e Desenho Urbano: a contribuio de Roberto Burle Marx. Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 1997. Dissertao (Mestrado). Programa de Ps-Graduao em Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1997. _______. rvores Urbanas rvores Urbanas rvores Urbanas rvores Urbanas: em busca de uma cidade arborescente. Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2005. Tese (Doutorado). Programa de Ps-Graduao em Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005. FRANCO, Maria de Assuno Ribeiro. Desenho Ambiental Desenho Ambiental Desenho Ambiental Desenho Ambiental: uma introduo arquitetura da paisagem com o paradigma ecolgico. So Paulo: Annablume, Fapesp, 1997. FUKS, Mario. Conflitos Ambientais no Rio de Janeiro Conflitos Ambientais no Rio de Janeiro Conflitos Ambientais no Rio de Janeiro Conflitos Ambientais no Rio de Janeiro: ao e debate nas arenas pblicas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2001.
139 GOMBRICH, E. H. A Histria da Arte A Histria da Arte A Histria da Arte A Histria da Arte. Rio de Janeiro: LTC-Livros Tcnicos e Cientficos Editora S. A., 1999. 16 a ed. Ttulo original: The Story of Art, 1950. GUIA DAS UNIDADES DE CONSERVAO AMBIENTAL DO RIO DE JANEIRO. IBAM/DUMA, PCRJ/SMAC, 1998. GROTH, Paul. Frameworks for Cultural Landscape Study. In: GROTH, Paul; BRESSI, Todd W. (ed). Understanding Ordinary Landscapes Understanding Ordinary Landscapes Understanding Ordinary Landscapes Understanding Ordinary Landscapes. London: Yale University Press, 1997. p. 1-21. GRUNOW, Evelise e SERAPIO, Fernando. Entrevista com Fernando Chacel publicada originalmente na revista Projeto Design, edio 305, julho de 2005. Disponvel em: <http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista71.asp>. Acesso em: 05 Dez. 2006. HOWARD, Ebenezer. Cidades Cidades Cidades Cidades- -- -Jardins de Amanh Jardins de Amanh Jardins de Amanh Jardins de Amanh. So Paulo: Annablume Editora, 1996. 2 a ed. Ttulo original: Garden Cities of Tomorrow, 1902. KANT, Immanuel. Crtica da Faculdade do Juzo Crtica da Faculdade do Juzo Crtica da Faculdade do Juzo Crtica da Faculdade do Juzo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1995. 384p. Original alemo: Critik der Urteilskraft und Schriften, 1793. KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de So Paulo Parques Urbanos de So Paulo Parques Urbanos de So Paulo Parques Urbanos de So Paulo. So Paulo: Editora PINI, 1993. LANA, Ricardo. Arquitetos do Jardim: Roberto Burle Marx e Henrique Lahmeyer de Mello Barreto. In: SOUZA, Eneida Maria de. Modernidades Tardias Modernidades Tardias Modernidades Tardias Modernidades Tardias. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. LEENHARDT, Jacques (org.). Nos Jardins de Burle Marx Nos Jardins de Burle Marx Nos Jardins de Burle Marx Nos Jardins de Burle Marx. So Paulo: Editora Perspectiva, 2000. LEONTSINIS, Solon. Jos Cndido de Mello Carvalho (11.VI.1914 21.X.1994): Homenagem da Sociedade Brasileira de Zoologia. Disponvel em: <http://zoo.bio.ufpr.br/sbz/honorar.htm>. Acesso em: 09 Jul. 2007. LVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trpicos Tristes Trpicos Tristes Trpicos Tristes Trpicos. So Paulo: Ed. Anhembi, 1957. LINO, Clayton F. Texto Sntese A Mata Atlntica. Novembro/2003. Disponvel em: <http://www.rbma.org.br/anuario/mata_01_sintese.asp>. Acesso em: 01 Dez. 2007. MACEDO, Silvio Soares. Quadro do Paisagismo no Brasil Quadro do Paisagismo no Brasil Quadro do Paisagismo no Brasil Quadro do Paisagismo no Brasil. So Paulo: FAU/USP, 1999.
140 _______ e SAKATA, Francine Gramacho. Parques Urbanos no Brasil Parques Urbanos no Brasil Parques Urbanos no Brasil Parques Urbanos no Brasil. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002. McCORMICK, John. Rumo ao Paraso: Rumo ao Paraso: Rumo ao Paraso: Rumo ao Paraso: a histria do movimento ambientalista. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 1992. McHARG, Ian L. Design with Nature Design with Nature Design with Nature Design with Nature. Garden City, N.Y.: Natural History Press, 1969. [1992, 2 ed.]. MAGALHES, Manuela Raposo. A Arquite A Arquite A Arquite A Arquitectura Paisagista ctura Paisagista ctura Paisagista ctura Paisagista: morfologia e complexidade. Lisboa: Editorial Estampa, 2001. MARTIGNONI, Jimena. Good Faith Ecology. In: Landscape Architecture Magazine Landscape Architecture Magazine Landscape Architecture Magazine Landscape Architecture Magazine. Disponvel em: <http://www.asla.org/lamag/lam06/march/feature2.html>. Acesso em: 22 Jan. 2007. MELLO Filho, Luiz Emygdio de. O Homem e a rvore. In: MELLO Filho, Luiz Emygdio (org.) [et al.]. Meio Ambiente & Educao Meio Ambiente & Educao Meio Ambiente & Educao Meio Ambiente & Educao. Rio de Janeiro: Gryphus, 1999 - (Educao em dilogo; v. 3). _______. Botnica e Arquitetura - ou, segundo a ordem alfabtica, arquitetura e botnica. In: Anais do I Encontro de Ensino de Anais do I Encontro de Ensino de Anais do I Encontro de Ensino de Anais do I Encontro de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura Paisagismo em Escolas de Arquitetura Paisagismo em Escolas de Arquitetura Paisagismo em Escolas de Arquitetura. Rio de Janeiro: FAU/UFRJ: FUJB, 1998. _______. A Arborizao do Aterro Glria-Flamengo. In: Revista Revista Revista Revista Municipal de Engenharia. Municipal de Engenharia. Municipal de Engenharia. Municipal de Engenharia. Janeiro-Dezembro/1962. Disponvel em: <http://obras.rio.rj.gov.br/rmen/eletronica_burle/eletronica_html/24.htm>. Acesso em: 20 Jun. 2007. _______. Burle Marx uma relao profissional e humana. In: Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Novembro/1998. Disponvel em: <http://obras.rio.rj.gov.br/rmen/eletronica_burle/eletronica_html/28.htm>. Acesso 20 Jun. 2007. _______. O Moderno Jardim da Praia de Botafogo. In: Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Revista Municipal de Engenharia. Julho-Setembro/1954. Vol. XXI, n3, pp. 113-124. MOTTA, Flvio. Roberto Burle Marx e a Nova Viso da Paisagem Roberto Burle Marx e a Nova Viso da Paisagem Roberto Burle Marx e a Nova Viso da Paisagem Roberto Burle Marx e a Nova Viso da Paisagem. So Paulo: Ed. Nobel, 1984. [1986, 3 ed.]. MUMFORD, Lewis. A Cidade na Histria: A Cidade na Histria: A Cidade na Histria: A Cidade na Histria: suas origens, transformaes e perspectivas. 4 a ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998. Ttulo original: The City in History: its origins, its transformations and its prospects, 1961.
141 NOBRE, Ana Luiza. Dois Irmos e um Parque. Disponvel em: <http://www.vitruvius.com.br/ac/ac001/ac001_1.asp>. Acesso em: 12 Jul. 2007. _______. Um Parque sobre o Mar. Fundao Parques e Jardins. Trabalho no publicado. NOBRE, Marcos e AMAZONAS, Maurcio de Carvalho (orgs.). Desenvolvimento Sustentvel Desenvolvimento Sustentvel Desenvolvimento Sustentvel Desenvolvimento Sustentvel: a institucionalizao de um conceito. Braslia: Editora IBAMA, 2002. NOLL, Joo Francisco. A Paisagem Recriada de Fernando Chacel. Disponvel em: <http://www.jornaldapaisagem.com.br/artigos/art_no1101.htm>. Acesso em 26 Set. 2003. PATRIMNIOS MUNDIAIS NA CHINA. China Intercontinental Press, 2004. PELLEGRINO, Paulo Renato Mesquita. A Paisagem Possvel. In: Paisagem Ambiente Paisagem Ambiente Paisagem Ambiente Paisagem Ambiente: ensaios n 3. So Paulo: Universidade de So Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 1989. PORTO, Daniele R. O Barreiro de Arax O Barreiro de Arax O Barreiro de Arax O Barreiro de Arax: projetos para uma estncia hidromineral em Minas Gerais. So Carlos: USP, 2005. 325 p. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo, Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, 2005. Disponvel em: <http://www.teses.usp.br/autor.php?autor=55801>. Acesso em: 10 Jul. 2007. RENN, Lair Remusat. Biografia: Henrique Lahmeyer de Mello Barreto Biografia: Henrique Lahmeyer de Mello Barreto Biografia: Henrique Lahmeyer de Mello Barreto Biografia: Henrique Lahmeyer de Mello Barreto. Belo Horizonte: O Autor, 1965. (Trabalho apresentado ao 16 Congresso da Sociedade Botnica do Brasil, realizado em Itabuna, Bahia, em 1965). Mimeografado. RIO DE JANEIRO (RJ). Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Manguezais do Rio de Janeiro Manguezais do Rio de Janeiro Manguezais do Rio de Janeiro Manguezais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: a Secretaria, 2000. ROCHA, Jos Conde da. Floresta da Tijuca. Disponvel em: <http://www.almacarioca.com.br/tijuca.htm>. Acesso em: 03 Dez. 2007. RODRIGUES, Antnio Edmilson M. e FALCON, Francisco J. C. Tempos Modernos: Tempos Modernos: Tempos Modernos: Tempos Modernos: Ensaios de Histria Cultural. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000. SANDEVILLE Jr., Euler. Arte e Ambiente numa Condio Contempornea o espao/ao de uma nova sensibilidade. In: Paisagem e Paisagem e Paisagem e Paisagem e Ambiente: Ambiente: Ambiente: Ambiente: ensaios n 3. So Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 1989. p. 79-107.
142 SANTOS, Junius F. S. Restaurao Ecolgica associada ao Social no Contexto Urbano: o projeto Mutiro Reflorestamento. In: KAGEYAMA, Paulo Y. et al. Restaurao Ecolgica de Ecossistemas Naturais Restaurao Ecolgica de Ecossistemas Naturais Restaurao Ecolgica de Ecossistemas Naturais Restaurao Ecolgica de Ecossistemas Naturais. Botucatu: FEPAF, 2003. p. 239-263. SCALISE, W. Parques Urbanos evoluo, projeto, funes e usos. Revista Assentamentos Humanos, Marlia, v.4, n.1, p. 17-24, 2002. Disponvel em: <http://aprender.unb.br/mod/resource/view.php?id=26770>. Acesso em: 25 Jun. 2007. SCHAMA, Simon. Paisagem e Memria. Paisagem e Memria. Paisagem e Memria. Paisagem e Memria. So Paulo: Companhia das Letras, 1996. Ttulo original: Landscape and Memory, 1996. SEGAWA, Hugo. Ao Amor do Pblico Ao Amor do Pblico Ao Amor do Pblico Ao Amor do Pblico: jardins no Brasil. So Paulo: Studio Nobel: FAPESP, 1996. SINDICATO DAS EMPRESAS DE COMPRA, VENDA, LOCAO E ADMINISTRAO DE IMVEIS DE SO PAULO. A Indstria Imobiliria A Indstria Imobiliria A Indstria Imobiliria A Indstria Imobiliria e a Qualidade Ambiental e a Qualidade Ambiental e a Qualidade Ambiental e a Qualidade Ambiental: subsdios para o desenvolvimento sustentvel. SECOVI-SP. So Paulo: Pini, 2000. SIQUEIRA, Vera Beatriz. Burle Marx Burle Marx Burle Marx Burle Marx: paisagens transversas. So Paulo: Cosac & Naify Edies, 2001. SITTE, Camillo. A Constru A Constru A Constru A Construo das Cidades Segundo seus Princpios Artsticos o das Cidades Segundo seus Princpios Artsticos o das Cidades Segundo seus Princpios Artsticos o das Cidades Segundo seus Princpios Artsticos. So Paulo, Editora tica, 1992. Ttulo original: Der Stdtebau nach seinen knstlerischen Grundstzen, 1889. TABACOW, Jos (org.). Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx: Arte e Paisagem, conferncias escolhidas. So Paulo: Nobel, 1987. TAKEI, Jiro & KEANE, Marc Peter. Sakuteiki Sakuteiki Sakuteiki Sakuteiki: Visions of the Japanese Garden. Boston: Tuttle Publishing, 2001. TERRA, Carlos Gonalves. Os jardins no Brasil do Sculo XX Os jardins no Brasil do Sculo XX Os jardins no Brasil do Sculo XX Os jardins no Brasil do Sculo XX: Glaziou revisitado. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 2000. VERSSIMO, Francisco Salvador et alii. Vida Urbana: Vida Urbana: Vida Urbana: Vida Urbana: a Evoluo do Cotidiano da Cidade Brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. WISSENBACH, Vicente e TSUKUMO, Vivaldo (eds.). Tratamento Paisagstico de Barragem. In: _______. Cadernos Brasileiros de Cadernos Brasileiros de Cadernos Brasileiros de Cadernos Brasileiros de Arquitetura Arquitetura Arquitetura Arquitetura. Vol.5. 3 a ed. So Paulo: Projeto Editores Associados, 1986. p. 54-58.
143
ANEXOS ANEXOS ANEXOS ANEXOS
144 ANEXO 1: ENTREVISTA COM FERNANDO CHACEL ANEXO 1: ENTREVISTA COM FERNANDO CHACEL ANEXO 1: ENTREVISTA COM FERNANDO CHACEL ANEXO 1: ENTREVISTA COM FERNANDO CHACEL
Esta entrevista foi realizada no Rio de Janeiro, em 30 de novembro de 2006, no escritrio da CAP (Consultoria Ambiental Paisagstica), empresa de Chacel. Aqui ele nos fala sobre sua formao acadmica e profissional, suas principais influncias e parcerias, a origem da ecognese, sua metodologia de trabalho e responde a questes acerca dos trs parques analisados nesta dissertao. A entrevista, fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa, s foi possvel graas s valiosas colaboraes da secretria Cludia, da arquiteta Elizabeth Cohen e, principalmente, do prprio Fernando Chacel. O encontro foi registrado em vdeo e fotografia por Felipe Cohen.
1 | Chacel, fale um pouco sobre sua carreira acadmica. Sabemos que voc se formou Chacel, fale um pouco sobre sua carreira acadmica. Sabemos que voc se formou Chacel, fale um pouco sobre sua carreira acadmica. Sabemos que voc se formou Chacel, fale um pouco sobre sua carreira acadmica. Sabemos que voc se formou arquiteto urbanista na Universidade do Brasil, atual UFRJ. E como foi sua ps arquiteto urbanista na Universidade do Brasil, atual UFRJ. E como foi sua ps arquiteto urbanista na Universidade do Brasil, atual UFRJ. E como foi sua ps arquiteto urbanista na Universidade do Brasil, atual UFRJ. E como foi sua ps- -- - graduao? graduao? graduao? graduao?
No fiz ps-graduao. A minha formao acadmica muito limitada. Eu fiz apenas a graduao em arquitetura. Sou absolutamente autodidata. E como foi esse autodidatismo? Eu senti que teria que procurar profissionais que tivessem atuao na rea, mas, aqui dentro do Brasil tnhamos o Burle Marx, evidentemente, mas ns tnhamos muito pouca gente, no ? E com uma viso mais de planejador, de planejamento da paisagem, eu tinha que procurar. E o que eu fiz foi exatamente isso. Eu participei dos congressos do IFLA e a partir da eu tive contato com uma srie de profissionais, de arquitetos paisagistas; e eu ia religiosamente aos congressos e procurava saber o que estava acontecendo. E toda
145 viagem que eu fazia, eu fiz muitas, eu ia aos escritrios, ou nos atelis dos profissionais especficos de arquitetos paisagistas, graduados nos diversos pases, e eu ia conversar com eles, e mostrava o que eu fazia, e eles se interessavam bastante. Eu procurava ver exatamente o que eles estavam fazendo, inclusive as metodologias que eles usavam. Sob o ponto de vista metodolgico, houve uma publicao que foi muito importante, que foi Design with Nature Design with Nature Design with Nature Design with Nature, do Ian McHarg Ian McHarg Ian McHarg Ian McHarg. Ele que realmente sistematizou toda a maneira de trabalhar na grande escala. Isso foi por volta dos anos 70 [1969], era uma espcie de Bblia dos planejadores de paisagem - os arquitetos paisagistas. A minha formao foi feita no trabalho, me formei, realmente, trabalhando. E aqui temos uma coisa importante: quem foram as pessoas que me ajudaram nessa formao, no nessa formao acadmica, mas uma formao que saiu do exerccio profissional? Eu tive primeiro um scio, durante oito anos, que o mais paisagista dos botnicos e o mais botnico dos paisagistas o mais paisagista dos botnicos e o mais botnico dos paisagistas o mais paisagista dos botnicos e o mais botnico dos paisagistas o mais paisagista dos botnicos e o mais botnico dos paisagistas. Era uma pessoa excepcional, o professor Luiz Emygdio de Mello Filho Luiz Emygdio de Mello Filho Luiz Emygdio de Mello Filho Luiz Emygdio de Mello Filho [1914-2002]. Ento durante oito anos, diariamente, o contato com ele, que realmente foi quem me ensinou no s a Botnica, mas exatamente o qu da botnica, como a gente trabalha sobre os inventrios e os diagnsticos botnicos, como que voc inclui isso nos seus projetos de paisagismo. E tive outro scio tambm, quando eu era consultor da CESP e que, nessa ocasio, fazia parte da equipe: o Aziz Ab'Sber Aziz Ab'Sber Aziz Ab'Sber Aziz Ab'Sber, que um gegrafo extraordinrio, o nosso maior geomorfologista. Ele tambm foi uma pessoa que teve uma influncia muito grande no meu trabalho. Ns fizemos alguns trabalhos. Ele me trazia uma outra leitura da paisagem, que era diferente da do botnico: era a leitura do gegrafo. E isso foi se somando. Outra coisa que ajudou muito a minha formao que eu entendi, desde o incio, que eu no podia trabalhar sozinho, eu trabalhava sempre com consultores. A cada trabalho que eu fazia com um consultor, eu aprendia alguma coisa da rea dele. Por exemplo, eu sempre trabalhei com agrnomos, com engenheiros florestais, trabalhei e trabalho at hoje, e
146 estou sempre aprendendo. H esse contato muito interessante, de voc poder contar com profissionais de outras reas, que so disciplinas afins, mas que tm uma outra viso. Se voc pegar profissionais da rea ambiental, se voc pegar um agrnomo, ele bem diferente do engenheiro florestal, e bem diferente do botnico, e bem diferente do gegrafo, mas todos estes so pessoas fundamentais na formao de uma equipe interdisciplinar. Dependendo do grau de detalhamento que voc tem, ou da escala que voc vai trabalhar, evidentemente que essa presena da interdisciplinaridade cada vez mais forte. Ns temos vrios trabalhos aqui, tipo o trabalho de Bzios: um trabalho muito grande da parte do engenheiro florestal, no s o inventrio como o diagnstico. A partir da, isso que importante; a o trabalho tpico do paisagista, um profissional de sntese. Ele tem que saber, tem que falar a mesma linguagem dos seus consultores. E outra coisa: a consultoria o ponto de partida do seu trabalho, mas ela tem que estar sempre presente em todas as etapas do trabalho. No uma coisa que voc faa pra cumprir uma postura legal. Outra coisa de que eu lano mo o pessoal da EMBRAPA EMBRAPA EMBRAPA EMBRAPA 152 152 152 152 . Ns temos trs consultores que so da EMBRAPA, um at est fora do Rio de Janeiro, mas tem dois outros... quando entra na parte de solos e pedologia, todo o nosso trabalho precedido por um levantamento desse tipo. Ento, por isso que a gente est insistindo muito nesse trabalho de formao de ecossistemas de substituio e, evidentemente pra que isso acontea necessrio que esse trabalho seja desenvolvido com bastante especificidade por cada um dos profissionais com os quais estamos trabalhando. Ento eu acho que a minha formao passa um pouco por a.
152 EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria.
147 2 | Como voc avalia a evoluo do m Como voc avalia a evoluo do m Como voc avalia a evoluo do m Como voc avalia a evoluo do mtodo didtico na rea do Paisagismo? todo didtico na rea do Paisagismo? todo didtico na rea do Paisagismo? todo didtico na rea do Paisagismo?
Hoje j tem o mestrado em paisagismo. Existem tambm alguns cursos cujo foco especificamente paisagismo. o caso, por exemplo, da Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ), que no sei porqu, at hoje no se reconheceu o curso, que se chama Composio Paisagstica. Mas eles tm um trabalho de paisagismo. O programa dele eu no sei, mas realmente, de l j saiu gente boa, voc tem um exemplo muito bom que o Robrio, que paisagista formado pela EBA, o diretor do Stio Burle Marx, ele faz um trabalho muito bom. Onde que est o "calcanhar de aquiles" nessa histria toda? que no tem uma graduao de arquiteto paisagista. Agora, eu soube com muita satisfao no Congresso [ABAP] que est sendo examinado, ou parece que j foi aceito, em So Paulo, que o curso de paisagismo, a formao de arquiteto paisagista vai ser feita dentro da escola de arquitetura: voc tem dois anos iniciais e depois voc toma a alternativa de ser arquiteto paisagista, ento voc faz mais trs anos. Essa era a proposta que o Aziz e eu fizemos nos anos 1970 para as Escolas de Arquitetura, mas isso foi mal visto, no foi entendido pelos arquitetos, eles perderam o bonde da histria, nos acusaram de querer fazer uma ciso da classe e uma srie de coisas meio corporativistas... realmente, no tinham nenhuma vontade que surgisse esse tipo de profissional. Eles achavam que essa era uma atribuio do arquiteto. E ficou dividido entre o arquiteto e o agrnomo. Por exemplo, o CREA. J existiram movimentos assim, absolutamente estapafrdios: o arquiteto projeta toda a parte dos elementos construdos e o agrnomo faz a parte bitica do projeto. Ora, isso um absurdo, voc no faz um projeto de paisagismo feito uma colcha de retalhos. Primeiro de tudo, tem que ser em cima da paisagem, e no caso do arquiteto paisagista a linguagem outra. E hoje ento, est havendo um processo de modificao, que hoje est extremamente ligado parte ambiental. O profissional tem que falar a mesma lngua da
148 sua equipe. Ento, voc tem que ter uma noo, um conhecimento de geografia, de pedologia, de geologia. Um conhecimento bsico, voc no precisa ser um especialista, especialista quem voc contratou. Mas voc realmente precisa saber como dialogar com essa pessoa, at pra voc pedir determinadas coisas, ou mesmo ser capaz de avaliar corretamente, por exemplo, o material que voc recebeu de um bilogo. Tem uma srie de situaes em que entra o bilogo, j em outras melhor chamar um engenheiro florestal, pode acontecer. Porque, tambm, esses profissionais tm essas diferenas, suas especificidades. Certamente, quando voc vai fazer um trabalho de caracterizao de componente vegetal ou de cobertura vegetal, voc no tem que pensar duas vezes: o bilogo o mais indicado para fazer isso. Agora, quando passa da caracterizao para a identificao, ele [o bilogo] pode estar presente tambm, mas quando essa identificao vem por supresso de vegetao, transplantes ou coisas desse tipo, provavelmente o engenheiro florestal vai agir com mais segurana do que o prprio bilogo - que o homem que tem o maior saber de todos. Ele tem uma viso da biologia menos pragmtica que a do engenheiro florestal. preciso saber que, hoje, o engenheiro florestal est tendo uma atitude muito diferente em relao paisagem. Antigamente, o engenheiro florestal estava voltado para os reflorestamentos econmicos. Agora no, ele agora est voltado para os projetos de re-vegetao de natureza ecolgica. Ele trabalha dentro do processo ecogentico, onde ele trabalha dentro dos aspectos sociolgicos do que ele pretende criar e tambm, evidentemente, da situao ecolgica. Esses so os dois pontos de partida pra quando voc quer fazer um projeto de natureza ecogentica. Tem que trabalhar em cima disso, e isso no apenas no estrato arbreo, mas tambm no estrato arbustivo e no estrato herbceo.
149 3 | Quais foram os profissionais que maior influncia exerceram sobre seu trabalho? Quais foram os profissionais que maior influncia exerceram sobre seu trabalho? Quais foram os profissionais que maior influncia exerceram sobre seu trabalho? Quais foram os profissionais que maior influncia exerceram sobre seu trabalho?
A maior influncia que tive foi Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx Roberto Burle Marx. Eu fui estagirio dele, mas nunca fiz nenhum projeto como estagirio, nem nunca participei de um projeto, eu era um estagirio contratado, na verdade, pra preparar uma exposio para Washington, como guaxista, como desenhista ou um pouco como pintor. Mas, na realidade, eu no sabia direito o que estava fazendo. Era meu primeiro contato com o paisagismo Era meu primeiro contato com o paisagismo Era meu primeiro contato com o paisagismo Era meu primeiro contato com o paisagismo. O que eu via realmente eram formas e cores, eu trabalhava com formas e cores, e repetindo exatamente aquilo que eu tinha visto. Eu estava produzindo desenhos por uma instruo a partir dos desenhos de Burle Marx, e toda a maneira com que ele apresentava seus desenhos. E o chefe que fazia a apresentao era quem coordenava todo o trabalho dos estagirios pintores. Esse era o nosso trabalho, era reproduzir, usando tcnicas de guache, os projetos de Burle Marx. Como que eu aprendi? Eu aprendi por pensamentos, palavras e obras Eu aprendi por pensamentos, palavras e obras Eu aprendi por pensamentos, palavras e obras Eu aprendi por pensamentos, palavras e obras. Foi assim: primeiro, eu comecei a procurar, porque tambm houve um processo que me levou a comear a projetar. Quando eu fui admitido no Departamento de Estradas e Rodagens, no setor de Arquitetura e Paisagismo, a sensao foi exatamente a de estar fazendo colagens do Burle Marx (eu conto essa histria numa das revistas da Folha). Isso foi realmente engraado, porque eu no tinha a menor idia do que era pra fazer. Eu j tinha amigos no escritrio do Burle Marx, fui l no arquivo dele e separei trs projetos, que podia ser feito um corte-collage, e saiu uma praa. Agora a dificuldade maior foi quando eu tive que especificar. Porque eu sabia os nomes cientficos, sabia quais cores eram, mas eu no sabia como eram as plantas, suas formas, texturas. E ento foi o mestre de jardins, que trabalhava com o Burle Marx, quem me ajudou a destrinchar o que era aquele amarelo, o que era aquele roxo, o que eram aquelas cores.
150 4 | Quais for Quais for Quais for Quais foram as suas principais parcerias profissionais, os principais contatos am as suas principais parcerias profissionais, os principais contatos am as suas principais parcerias profissionais, os principais contatos am as suas principais parcerias profissionais, os principais contatos profissionais em sua carreira? profissionais em sua carreira? profissionais em sua carreira? profissionais em sua carreira?
Eu fiz uma bolsa de Urbanismo na Frana, mas uma bolsa que na verdade no era uma bolsa de formao, era uma bolsa de informao. Era uma bolsa fantstica porque eu passei quase um ano l, e ns viajamos a Frana norte, sul, leste e oeste, pra ver as operaes urbansticas que estavam fazendo naquela poca, eram muitas nos anos 60. A isto se somava a apresentao destas obras feitas pelos prprios autores, ento ns tnhamos muita informao. E a partir disso, eles mostravam como era o processo de fazer isto se transformar em realidade, dentro dessa idia de, a partir do projeto, chegar em determinada soluo urbanstica, e tambm havia as solues paisagsticas, e a sim, conheci alguns arquitetos paisagistas e fui ao atelier deles todos. No digo que eu tenha influncias dos arquitetos franceses, no tenho mesmo. Mas eu tive acesso maneira, ao processo de criao deles, e como eles se punham em frente ao programa que tinham a implantar. Isso tudo foi muito importante, porque a minha maior preocupao no era com os detalhes, eu sempre me preocupei com a parte conceitual, como era o processo de criao, pra se chegar quela soluo. Ento isso foi muito bom. Isso aconteceu muito na Frana, um pouco na Espanha, onde eu tinha um grande amigo, que o Leandro Silva Leandro Silva Leandro Silva Leandro Silva Delgado Delgado Delgado Delgado [1930-2000]. Ele era uruguaio de nascimento e fez o curso em Versalhes na Escola de Paisagismo, depois trabalhou um tempo com um dos maiores paisagistas franceses da poca, o Jacques Sgard Jacques Sgard Jacques Sgard Jacques Sgard. Depois ele foi para Madri e de l, no fim da vida, se mudou para a Segvia, onde construiu um lugar realmente experimental que se chama El Romeral 153 , e ali ele fez uma srie de experincias... Ele era uma figura muito especial, ele
153 Para maiores detalhes sobre El Romeral consultar: http://www.jardinactual.com/articuloshtm2.php?articulo=391 acesso em 01/07/2007.
151 dizia uma coisa que eu achava tima: "olha, pe na tua cabea que o bom arquiteto paisagista como o pratista da orquestra sinfnica; no o spalla, porque ele entra, ele tem que entrar na hora certa, dar a pratada certa, e isso que voc tem que fazer quando trabalha numa paisagem. Muita gente j trabalhou em cima dela, e voc est ali no como o artista principal, voc entra pra ver o que, dentro daquilo, voc pode colocar de sua interpretao". Essa idia do pratista eu acho uma imagem muito boa.
5 | Fale sobre um projeto de destaque que voc fez em parceria com o Luiz Emygdio. Fale sobre um projeto de destaque que voc fez em parceria com o Luiz Emygdio. Fale sobre um projeto de destaque que voc fez em parceria com o Luiz Emygdio. Fale sobre um projeto de destaque que voc fez em parceria com o Luiz Emygdio.
Bom, ns fizemos juntos todo o sistema de vilas de operadores, e reas de influncia direta das barragens pblicas, fizemos vrias barragens. Depois ns trabalhamos para a CESP, ns comeamos na realidade - nossa firma de paisagismo chamava "A Paisagem", na poca - com sede no Rio de Janeiro. O Luiz Emygdio era o nosso guru. E depois que ns desfizemos a sociedade ele passou a trabalhar comigo como consultor, todos os trabalhos at muito pouco antes de ele morrer. Por exemplo, na Gleba E, a Pennsula, ele foi o consultor desse primeiro trabalho ecogentico. E ele j falava muito na ecognese, na criao de ecossistemas de substituio, porque isso j estava rolando desde os anos 40, no Museu Nacional, do qual ele fazia parte como diretor. Ele foi uma pessoa fundamental na minha formao.
152 6 | Porque o nome do botnico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto no parque? Ele Porque o nome do botnico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto no parque? Ele Porque o nome do botnico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto no parque? Ele Porque o nome do botnico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto no parque? Ele fez algum trabalho de ecognese? fez algum trabalho de ecognese? fez algum trabalho de ecognese? fez algum trabalho de ecognese?
Ele teve uma grande chance de colocar isso [a teoria da ecognese] em prtica no Parque de Arax, onde ele fazia um mostrurio de diversos ecossistemas que compem os domnios morfoclimticos brasileiros. Isso comeou a ser feito, a veio o General Dutra, acabou com os cassinos, e a existncia desse jardim ecolgico estava pendurado no Hotel de Arax, que era do jogo. Como acabou o jogo, ento o trabalho parou na metade.
7 | Qual o principal mtodo que voc utiliza? Qual o principal mtodo que voc utiliza? Qual o principal mtodo que voc utiliza? Qual o principal mtodo que voc utiliza?
Na verdade, eu utilizo vrios mtodos. Eu diria at que, de uma certa forma, a gente criou um mtodo dentro da nossa realidade, e a minha formao vem do trabalho. Ento, cada trabalho desses exige uma maneira de se trabalhar, uma maneira de desenvolver esse trabalho. A metodologia clssica o inventrio, a anlise do diagnstico, conceituao e interveno. Sempre tive a conscincia de que muito tempo se gastava pra armar minha equao, que ela vinha dentro de uma viso, o inventrio fsico, bitico e antrpico da rea que voc vai trabalhar. E procurando adaptar, porque essa uma maneira clssica de se trabalhar. At as coisas que a gente podia fazer aqui. Tem muitos trabalhos que tm uma metodologia que ns desenvolvemos, que so nossas mesmo. Eles tm um vis brasileiro forte, uma maneira de trabalhar. Ns no temos um modelo pr-fabricado. Os nossos projetos so totalmente diferentes um do outro. fundamental adquirir conhecimento pra se trabalhar bem na paisagem. E esse conhecimento dado pelo inventrio, e pelo diagnstico, o fundamental... primeiro esgote sua ttica, ou seja, a prospeco da paisagem prospeco da paisagem prospeco da paisagem prospeco da paisagem onde voc vai intervir, e no s na rea de interveno, mas
153 tambm no seu entorno. E tambm, que voc esgote o raciocnio que voc vai desenvolver sobre como diagnosticar cada um daqueles elementos do inventrio que voc realizou. A voc est em condies de chegar a definir um conceito definir um conceito definir um conceito definir um conceito. Agora, uma vez isto feito, pra voc chegar ao design design design design muito rpido. Uma coisa que realmente brota, daquilo que voc fez, as coisas esto muito claras, voc sabe exatamente, com uma margem muito pequena de erro, o que voc tem que fazer. Isso, evidentemente, um mtodo que considera o relevo, a vegetao, os solos, o vento, a insolao, as reas problemticas, sujeitas eroso, a geomorfologia. Na verdade, isso tudo vai criando uma base pra voc poder trabalhar com tranqilidade. Ento, voc pode at errar, mas seu erro no varejo, no no atacado.
8 | Em seus projetos, manteve o mesmo mtodo ou houve mudanas ao longo do Em seus projetos, manteve o mesmo mtodo ou houve mudanas ao longo do Em seus projetos, manteve o mesmo mtodo ou houve mudanas ao longo do Em seus projetos, manteve o mesmo mtodo ou houve mudanas ao longo do tempo? tempo? tempo? tempo?
O mtodo muda constantemente. Se eu tiver que mexer no conceito, ento eu errei. Mas, a partir do conceito, quando eu passo pro projeto de detalhe mesmo, ele sofre sempre modificaes. E mais, quando comea a construir, eu vou obra e verifico como esto as coisas e o que eu posso melhorar, ento est mudando o tempo todo, um processo. E isso eu vou aprendendo constantemente. Eu tenho 75 anos de idade, chegando aos 76, e isso eu vou aprendendo constantemente. Eu sou realmente um aprendiz, e aprendo muito, observo cada vez mais o desenvolver desse processo, e acredito ser um o privilgio poder trabalhar com uma equipe interdisciplinar equipe interdisciplinar equipe interdisciplinar equipe interdisciplinar, isso muito importante. Agora, voc tem que escolher, essa uma equipe que escolhida e voc precisa trabalhar com pessoas experientes. No d pra voc pegar profissionais que no tenham experincia comprovada. Porque finalmente voc est julgando seu trabalho, quer dizer, se voc tem um diagnstico
154 mal feito, um inventrio mal feito, certamente voc vai incorrer em um erro. Diagnsticos e inventrios setoriais de cada uma das disciplinas e que tm que ser observados na rea da paisagem.
9 | H metodologias diferenciadas para as diversas escalas de interveno? H metodologias diferenciadas para as diversas escalas de interveno? H metodologias diferenciadas para as diversas escalas de interveno? H metodologias diferenciadas para as diversas escalas de interveno?
Completamente. Isso uma coisa importante, porque as escalas de interveno, quando voc comea a trabalhar, o projeto na escala maior, voc percebe que o primeiro passo no nvel do zoneamento paisagstico ecolgico. A voc vai mudando de escala. Uma escala que voc tem uma componente florestal, se trabalha numa escala bastante grande, voc pode trabalhar na escala de 1:1000, ou 1:500. Agora quando voc est trabalhando com uma escala de parque voc j vai poder ir pra 1:200, e quando voc est trabalhando em escala de pr-arquitetura o ideal seria chegar at a escala 1:100. Em paisagismo, escala 1:50 praticamente no existe. At pode, se voc pegar um ptio interno, de 10x10m, em paisagismo voc pode ter uma coisa desse tipo. Se a escala do seu trabalho mais restrita voc obrigado a diminuir as escalas.
10 | Quais so as etapas do processo de concepo Quais so as etapas do processo de concepo Quais so as etapas do processo de concepo Quais so as etapas do processo de concepo, elaborao e implantao do , elaborao e implantao do , elaborao e implantao do , elaborao e implantao do projeto? projeto? projeto? projeto?
Inventrio, anlise do diagnstico, conceituao, a partir da passa pro design, que o projeto, que [por sua vez] se constitui de projeto preliminar, anteprojeto e projeto executivo. Cada um deve ser pensado com uma cabea diferente. Quando fao o projeto preliminar, eu no fico pensando em detalhes do projeto executivo. Quando eu fao o anteprojeto, j estou desenvolvendo aquilo que foi feito no estudo preliminar, mas no cheguei ainda ao
155 detalhamento. Isso eu preciso pra fazer bem feito. Se, ao comear o estudo preliminar, eu for levar em considerao os detalhes do projeto executivo, certamente eu vou me atrapalhar. Ou ento, vou levar muito tempo. Hoje h uma necessidade de velocidade muito grande. E essa velocidade, engraado, eu, alguns anos atrs, quando ns ramos muito mais bem remunerados do que ns somos hoje, eu me lembro que o cliente ficava perguntando "quando que acaba?" E a gente respondia "o projeto acaba quando termina". Eu achava isso muito engraado, achava uma coisa charmosa de falar. Hoje no, hoje, eu que tenho pressa, porque se no acabar rpido, ficamos no vermelho. E j tem uma possibilidade grande de ficamos no vermelho, porque tem essas equipes que ns montamos, e o cliente no paga essa equipe. Ele paga, na realidade, pra voc trabalhar sozinho. E voc precisa desses profissionais caros, no so profissionais baratos. Mas eles valem demais, no d pra ficar sem eles. Outra coisa que interessante, isso tem at uma satisfao minha, que esses trabalhos que so em princpio, esses trabalhos de recuperao de paisagem, de natureza ecogentica eles so aceitos pela comunidade cientfica e pelos rgos ambientais. E foram esses trabalhos que me deram o reconhecimento e um prmio, alis, eu ganhei duas vezes o Golfinho de Ouro 154 dado pelo Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. Era o prmio de Urbanismo, Arquitetura e Paisagismo. Ento eu ganhei com o paisagismo, mas dentro dessa viso mais macro. Nos anos de 2000 e 2002, eu acho.
154 Os prmios Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro, Estcio de S Estcio de S Estcio de S Estcio de S e Governo do Estado do Rio de Janeiro Governo do Estado do Rio de Janeiro Governo do Estado do Rio de Janeiro Governo do Estado do Rio de Janeiro so concedidos anualmente pelo conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro. O Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro Golfinho de Ouro destinado a pessoas fsicas. So contempladas 11 categorias: Artes; Cnicas; Artes Plsticas; Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo; Cincias; Cinema; Comunicao; Meio Ambiente; Educao; Literatura; Msica e Preservao de Patrimnio Cultural. Disponvel em: http://www.artes.com/sys/sections.php?op=view&artid=13 acesso em 03/04/2006.
156 11 | Voc pode falar um pouco sobre essas premiaes? Alm do Golfinho de Ouro, Voc pode falar um pouco sobre essas premiaes? Alm do Golfinho de Ouro, Voc pode falar um pouco sobre essas premiaes? Alm do Golfinho de Ouro, Voc pode falar um pouco sobre essas premiaes? Alm do Golfinho de Ouro, voc j ganhou outros prmios, no? voc j ganhou outros prmios, no? voc j ganhou outros prmios, no? voc j ganhou outros prmios, no?
No, eu ganhei prmios de concurso. Por exemplo, eu ganhei um prmio, foi muito engraado, porque eu tive at que me associar a um arquiteto mineiro, que era o Parque da Gameleira, l em Belo Horizonte, onde houve uma estrutura de concreto que ruiu, e eles resolveram fazer um parque. Bom, ento eu ganhei esse concurso. Eu no me lembro exatamente em que ano foi isso, mas se no me engano foi em meados dos anos 1970. E fora isso tambm ns ganhamos o Rio Cidade Leblon, trabalhando com arquitetos, um projeto que foi muito bem recebido pela sociedade. Eu tirei, tambm, terceiro lugar, no concurso da praa Baro do Rio Branco, com o arquiteto ndio da Costa - o Rio Cidade Leblon tambm foi, com o ndio da Costa e com o Rubens da Costa tambm - at foi o Conde que exigiu que houvesse paisagista nas equipes de arquitetos. Mas a nica equipe realmente que trabalhou assim, com uma parceria total, foi a nossa. No tinha o chefe da equipe. Ns trs ramos associados, parceiros inclusive na diviso de despesas e de ganhos. Foi timo teve um resultado muito bom. De premiao, isso. Tambm tive um grande reconhecimento tambm do trabalho, da Dumbarton Oaks, mas no foi uma premiao, de maneira nenhuma. O que aconteceu foi o seguinte: a Dumbarton Oaks realizou um seminrio onde escolheram projetos feitos dentro do que pode se chamar de diferenciados, ou que tinham pontos em comum, dentro da maneira de ver a paisagem. E a participaram dez profissionais do hemisfrio norte, do hemisfrio sul, da Europa... E a sim houve uma coisa muito interessante, e eles me pediram, pro acervo deles, dois projetos contemporneos, pra ter na biblioteca deles. Projetos desse trabalho na Barra da Tijuca.
157 12 | O que modificado ao longo do processo de implantao? As parcerias alteram a O que modificado ao longo do processo de implantao? As parcerias alteram a O que modificado ao longo do processo de implantao? As parcerias alteram a O que modificado ao longo do processo de implantao? As parcerias alteram a metodologia adotada inicialmente? metodologia adotada inicialmente? metodologia adotada inicialmente? metodologia adotada inicialmente?
No incio voc vai primeiro fazer o reconhecimento da rea que voc vai fazer at o final, voc foi l muitas vezes, cada vez vai vendo coisas novas, e a voc chega concluso que algumas decises iniciais podem ser melhoradas. Ento nesse sentido eu acho que acontece, em um processo dinmico. E h um trabalho de adequao, de melhoria do seu trabalho. O projeto a base do seu trabalho. E o detalhamento sim, tem que ser revisto, e por isso importante ir obra, por isso no pode ficar s dentro do escritrio.
13 | Quais so as diretrizes e os princpios adotados nos projetos de parques urbanos de Quais so as diretrizes e os princpios adotados nos projetos de parques urbanos de Quais so as diretrizes e os princpios adotados nos projetos de parques urbanos de Quais so as diretrizes e os princpios adotados nos projetos de parques urbanos de forma geral: o que ele forma geral: o que ele forma geral: o que ele forma geral: o que eles tm em comum e quais so as especificidades de cada tipo s tm em comum e quais so as especificidades de cada tipo s tm em comum e quais so as especificidades de cada tipo s tm em comum e quais so as especificidades de cada tipo de projeto? de projeto? de projeto? de projeto?
Voc est caracterizando um tipo de parque, o parque urbano, aquele parque que est dentro de uma cidade, dentro da malha urbana. Quanto mais construda a rea que voc est trabalhando, mais relao com a paisagem cultural voc tem. E a paisagem natural, a no ser que voc tenha dentro dela um fragmento de mata, de paisagem natural - e aqui no estamos falando de ecossistemas primrios. Temos os fragmentos de matas secundarizadas, ou fragmentos de vegetao de ecossistema tpico, ainda que esteja modificado. Ento isso um elemento muito forte. Agora, dependendo da escala, a paisagem que voc vai trabalhar e a paisagem fortemente urbanizada, o que voc pode apontar de ganho ecolgico, voc vai trabalhar muito mais dentro dos parmetros estticos e de conforto climtico, evidente que voc pode sempre trazer, criar situaes de atrao para a avifauna e coisas desse tipo, mas normalmente, voc vai cair numa coisa mais
158 tradicional. Agora quando se fala de projeto de restaurao ecogentica, eu vejo isso dentro de reas onde existam fragmentos de ecossistemas primitivos pra que isso faa parte do seu projeto. Sua paisagem final tem que incorporar esses elementos naturais, e a esses elementos naturais passam a ter um carter muito importante, eles comandam a sua componente vegetal.
14 | Voc faz paisagismo para pequenas e grandes reas, dentro e fora do ambiente Voc faz paisagismo para pequenas e grandes reas, dentro e fora do ambiente Voc faz paisagismo para pequenas e grandes reas, dentro e fora do ambiente Voc faz paisagismo para pequenas e grandes reas, dentro e fora do ambiente urbano. Tem predileo por algum tipo de projeto em especial? urbano. Tem predileo por algum tipo de projeto em especial? urbano. Tem predileo por algum tipo de projeto em especial? urbano. Tem predileo por algum tipo de projeto em especial?
A predileo pelo que estou fazendo no momento. Eu gosto de todas as escalas, acho que elas so diferentes, no tenho predileo por nenhuma. O que acontece muito que como ns somos dois escritrios, o escritrio de So Paulo que, basicamente, desenvolve os projetos e ns aqui vamos at mais ou menos at o anteprojeto. Mas isso no estanque, tem sempre uma coisa de ter contato com todas as fases do projeto. Eu gosto muito da rea ambiental. Primeiro, porque eu acho que a recriao de paisagens ditas naturais uma coisa que, realmente, tem um lado de emoo muito forte. Depois porque talvez nesse tipo de trabalho que voc tem a maior, voc dono da bola, o seu cliente no ousa interferir no seu projeto. Ele pode at tentar fazer isso depois que voc fez, depois que ele j conseguiu o que queria. Porque primeiro quem faz isso mostra um problema de baixo nvel cultural, depois porque uma atitude um pouco idiota, porque muitas vezes esse trabalho que gerou o seu sustentculo, at pro lanamento de seus projetos. Ento eles chegarem e modificarem o que est l, no aquilo o que ele pessoalmente tem um sentimento esttico dele no aquele, isso realmente lamentvel. Agora, o pior quem aceita fazer isso em cima do trabalho do colega. A entra na parte tica do profissional.
159 15 | Em que contexto surgiu o conceito de ecognese? Em que contexto surgiu o conceito de ecognese? Em que contexto surgiu o conceito de ecognese? Em que contexto surgiu o conceito de ecognese?
Surgiu em 1940, no Museu Nacional, onde havia uma srie de cientistas e naturalistas preocupados, j naquele tempo, com a destruio da paisagem natural. Eles preconizavam a utilizao no apenas de espcies nativas, mas a utilizao de todo um sistema de recriao de ecossistemas de substituio, que levasse em conta no s o estrato arbreo, mas tambm o arbustivo e o herbceo. Isso tudo dentro de uma situao de entender como que isso se apresenta na natureza, tentando reproduzir, entre aspas, o ecossistema primitivo, mas ele mantinha aquela idia da associao ecolgica, dentro da fitossociologia e mantinha a ambincia dos ecossistemas primitivos. Ento foi assim que surgiu essa idia. E isso foi desenvolvido nove anos depois pelo Roberto Burle Marx, com o Mello Barreto na parte do componente vegetal e o Mello Carvalho 155 na parte de fauna.
16 | Esse foi o projeto para o Parque do Barreiro de Arax? Esse foi o projeto para o Parque do Barreiro de Arax? Esse foi o projeto para o Parque do Barreiro de Arax? Esse foi o projeto para o Parque do Barreiro de Arax?
No. O projeto de Arax foi um pouco diferente. Este, na realidade, fazia um mostrurio dos diversos domnios morfoclimticos brasileiros. Ento, tinha a Amaznia, tinha o Cerrado, tinha a Caatinga. A tem uma coisa interessante: Arax est no cerrado, que uma das reas que, com pequenas modificaes de solo e de irrigao, voc consegue plantar praticamente todos os ecossistemas. Ele bastante receptivo com os elementos exticos ao ecossistema dele. O cerrado tem uma alta capacidade de receber, ele muito amvel com os outros ecossistemas, desde que voc faa as transformaes edafo- ambientais necessrias para isso.
155 Jos Cndido de Mello Carvalho (1914-1994), zologo do Museu Nacional.
160 17 | H outras pessoas trabalhando com o mtodo da ecognese? H outras pessoas trabalhando com o mtodo da ecognese? H outras pessoas trabalhando com o mtodo da ecognese? H outras pessoas trabalhando com o mtodo da ecognese?
Eu sei que, agora, o pessoal est comeando. Eu costumo dizer o seguinte: a idia da ecognese antiga, do pessoal do Museu [Nacional]. Depois Burle Marx fez essa tentativa. Ele foi sempre um pioneiro na introduo de espcies nativas. E foi o primeiro paisagista que trabalhou com equipe interdisciplinar, ele sempre trabalhou com bilogos, agrnomos. Desde os anos 50, quando eu era estagirio dele, eu via que o escritrio estava sempre cheio com o pessoal da comunidade cientfica. Por questes do prprio mercado de trabalho, ou por questes de resistncia a uma nova esttica que a ecognese trouxe, inicialmente quando todo mundo usava espcies exticas, Burle Marx introduziu o uso de espcies nativas. A maneira com que ele trabalhava, considerando os aspectos fitossociolgicos, de associao ecolgica. Trabalhava com as estruturas vegetais, trabalhava com as famlias inteiras, o que muito interessante. preciso entender o trabalho dele, que vai alm daquilo que muito forte, que o aspecto pictrico, aspectos de cor e a qualidade incrvel que ele tem no manejo da vegetao, como que ele usa toda a experincia dos seus trabalhos para compor. E ele tem uma noo de trs dimenses... realmente um homem iluminado.
18 | A ecognese apresenta variaes de acordo com cada projeto? A ecognese apresenta variaes de acordo com cada projeto? A ecognese apresenta variaes de acordo com cada projeto? A ecognese apresenta variaes de acordo com cada projeto?
Varia de acordo com cada ecossistema. E a entram duas coisas: a ecognese, com pequenas modificaes, como manifestao feita pelo homem, no uma paisagem natural, mas um processo dentro da paisagem cultural. Ela tem que considerar toda a parte cultural de quem vai usar essa paisagem, e quem vai usar isso o homem. Os outros seres vivos tambm, mas estamos falando, principalmente, do homem, nesse caso. Ento
161 tem esse aspecto. Ela [a ecognese] muito local. Se voc for fazer um projeto ecogentico no Rio Grande do Sul, vai trabalhar com o ecossistema de l, da mesma forma, no se deve trabalhar na Amaznia com flora do litoral. O que caracteriza a ecognese exatamente a busca de elementos primitivos das paisagens naturais dos locais em que se est trabalhando. Se eu usar, numa restinga do Rio de Janeiro, elementos, por exemplo, da restinga do nordeste, eles so exticos em relao restinga do Rio. Por exemplo, eu uso aqui o "siagus schizophila", ele muito comum no nordeste. O guriri, a allagoptera arenaria aqui no Rio, mas l na Bahia ela o mesmo gnero s que uma espcie diferente. Ento temos essas pequenas diferenas dentro do prprio ecossistema, que so diferenas locais. A restinga de Cabo Frio diferente da [restinga] de Marambaia.
19 | Voc trabalha com espcies exticas, isso uma opo sua ou exigncia do Voc trabalha com espcies exticas, isso uma opo sua ou exigncia do Voc trabalha com espcies exticas, isso uma opo sua ou exigncia do Voc trabalha com espcies exticas, isso uma opo sua ou exigncia do cliente? cliente? cliente? cliente?
Trabalho com exticas sim, um mnimo. opo minha, porque s vezes eu quero apresentar mais a restinga, saindo um pouco do local e indo pro regional. Acho que interessante, trabalhar dentro do ecossistema com as diferenas regionais. Depende da inteno do seu projeto.
20 | A esco A esco A esco A escolha de trazer uma extica uma opo de composio esttica? lha de trazer uma extica uma opo de composio esttica? lha de trazer uma extica uma opo de composio esttica? lha de trazer uma extica uma opo de composio esttica?
uma composio esttica ou, ento, dentro daquela idia de mostrar o ecossistema num espectro mais largo. Eu tenho um trabalho, o mdulo inicial do Parque de Marapendi, onde ns fizemos um mostrurio de jardim de restinga que mostra o imenso potencial, pra
162 que as pessoas conheam a restinga. Eu acho que ns introduzimos restingas que no so, necessariamente, da Barra da Tijuca.
21 | Existem trabalhos de ecognese em outros pases? Existem trabalhos de ecognese em outros pases? Existem trabalhos de ecognese em outros pases? Existem trabalhos de ecognese em outros pases?
Eu no sei se com esse nome, mas eu acredito que sim, existe uma coisa que se chama inconsciente coletivo, deve existir. Eu no tenho notcia. Mas no tem como globalizar a natureza. Se pegar acima do equador, ou abaixo, muito diferente. No tem como pegar um ecossistema simplificado, como o do hemisfrio norte, e um ecossistema do clima tropical, que tem uma biodiversidade fantstica. Voc no pode querer... At algumas coisas voc pode fazer, por curiosidade... Eu at tenho um trabalho que no gosto muito de falar, e nem de pr ele no meu currculo, que eu fiz pra um amigo, um jardim que pudesse ter espcies aclimatadas, e que fica ao lado de uma mata atlntica. Foi como uma brincadeira, uma libertinagem paisagstica (risos). E tem um detalhe, as pessoas acham fantstico, elas gostam muito... (risos).
22 | Fale Fale Fale Fale- -- -nos um pouco sobre o Parque da Gleba E. nos um pouco sobre o Parque da Gleba E. nos um pouco sobre o Parque da Gleba E. nos um pouco sobre o Parque da Gleba E.
A gleba E, como todos os parques de natureza ecogentica que ns fizemos, e devem exclusivamente obrigatoriedade de respeitar uma lei nova que exatamente a lei que regulamentou toda a parte ambiental e que s foi posta em prtica em 1986. Quando se criaram os parques, os EIA-RIMA 156 , a viso de parque ecolgico, de recuperao das reas, de medidas compensatrias, veio a obrigatoriedade de se trabalhar com elementos do ecossistema. O que aconteceu na Gleba E foi isso. Porque ns fizemos um projeto e
156 EIA-RIMA: Estudo de Impacto Ambiental/Relatrio de Impacto Ambiental.
163 ns conseguimos uma espcie de termo de conduta. Foi feito um plano bsico para se plantar isso. Havia uma inteno muito clara, e a FEEMA 157 sabia qual era. Acontece que, quando comeou a ser implantado, o dono da rea, que tinha suas idias prprias, comeou a criar uns jardins temticos ali dentro. Simplesmente, a idia era interessante e eram jardins bem feitos, mas a FEEMA no pensou assim, foi l e embargou isso. Ento nesse momento o cliente nos chamou de novo e pediu que a gente tocasse o trabalho. Eu mantive parte desses jardins temticos, porque era uma coisa pequena e estavam bem feitos, ento eu mantive esses jardins e trabalhei o restante de uma forma ecogentica. Houve um problema da poca, que ns estvamos com muito pouco material [vegetal]. No existia produo desse material, encontravam-se algumas bromlias... mas as rvores e as outras espcies no existiam no mercado produtor. Ento isso foi uma complicao grande pra gente trabalhar. Trouxe uma restrio bem grande de espcies, mas a gente fez. Depois a FEEMA exigiu que o projeto fosse detalhado at as ltimas conseqncias, e ns detalhamos.
23 | Quando voc foi contratado j existia uma interveno paisagstica n Quando voc foi contratado j existia uma interveno paisagstica n Quando voc foi contratado j existia uma interveno paisagstica n Quando voc foi contratado j existia uma interveno paisagstica na gleba E? a gleba E? a gleba E? a gleba E?
Eles tinham o incio de uma interveno, e foi esse incio que a FEEMA no aceitou, porque no era aquilo que estava escrito no termo de conduta. Esse projeto foi absolutamente respeitado. O resultado foi muito bom. Ele [o cliente] bancou do incio at o fim e seguiu risca o que foi combinado, inclusive, foi alm da faixa que tinha que fazer. Ele entendeu que aquilo podia ser um grande parque. H uma faixa e trinta metros que era prevista pelo CONAMA, e ele entendeu isso. E estendeu isso para uma rea muito maior, que era exatamente a rea em que se formou um parque com trs quilmetros de comprimento e
157 FEEMA: Fundao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente.
164 com larguras que chegam a variar at quase cem metros. E com isso ele criou uma confiabilidade, e todo o trabalho, inclusive o lanamento, foi feito em cima da viso ecolgica. Infelizmente, depois as coisas se afastaram, ele comeou a trabalhar naquelas reas que no estavam protegidas, os parque j semi-implantados, fizeram uma srie de modificaes, atendendo quilo que seria o marketing, ou o que o pessoal de vendas achava que iriam gostar. Colocaram uma srie de equipamentos. E os equipamentos j estavam todos eles l, mas s que de uma maneira mais sutil. E o que se fez l foi um desastre, uma descaracterizao total do nosso trabalho. Eu fui chamado, depois, para dar continuidade, mas o que eu vi... Ficou claro que no era possvel, teria que implodir tudo que foi feito, tirar as coisas que eu sei que ele gosta [o empreendedor]. Tinha esttuas, esculturas de mrmore branco que ele espalhou pelo parque e houve tambm uma sria de intervenes desastrosas de colegas, sem o menor respeito pelo nosso trabalho, eles mutilaram os prprios funcionamentos das reas dos parques. Os equipamentos novos que colocaram, superconstruram dentro dos parques e at tem uma coisa que extremamente ridcula, que um rio artificial feito com pedra de concreto. Agora, num projeto que se prope recriar um ecossistema primitivo, voc ter uma coisa dessas mais do que contraditrio, realmente lamentvel.
24 | Qual o Qual o Qual o Qual o papel da equipe e dos colaboradores? papel da equipe e dos colaboradores? papel da equipe e dos colaboradores? papel da equipe e dos colaboradores?
Essa equipe foi fundamental. um projeto grande, eu tenho um scio, o Sidney Linhares, tem a consultoria do Luiz Emygdio, e tem as pessoas todas que trabalhavam no escritrio na poca, e mais do que isso, tambm tem a equipe que fez a execuo, uma empresa de qualidade. Foi o Luiz Saucha, que um agrnomo.
165 25 | E sobre o Parque do Penhasco Dois Irmos? E sobre o Parque do Penhasco Dois Irmos? E sobre o Parque do Penhasco Dois Irmos? E sobre o Parque do Penhasco Dois Irmos?
Este foi um projeto para o qual teve uma concorrncia pblica. S que a firma que ganhou no tinha condio de fazer, no era capaz de fazer o projeto de um parque. E a o pessoal da fundao veio me procurar pra fazer o parque. A firma a Engenharia Ambiental. Eles foram at muito corretos comigo, mas realmente no era um trabalho pra eles. Eles trabalham na rea ambiental, mas o design do parque, as propostas deles deixaram o pessoal meio preocupado.
Curioso eles terem ganho a concorrncia... Curioso eles terem ganho a concorrncia... Curioso eles terem ganho a concorrncia... Curioso eles terem ganho a concorrncia...
No, isso normal, isso acontece muito. Eu sempre perco as concorrncias, e muitas vezes acabo fazendo. o caso do projeto do parque de Marapendi. Eu sou eliminado sempre na papelada, essas firmas todas so muito bem organizadas pra isso. Ali no anteprojeto voc tem bastante coisa, uma srie de intenes. De fazer aquela comunidade integrada ao parque e a a gente foi atravs daquela coisa que mais comum que , me lembro da minha infncia, da minha juventude, que o futebol. O futebol aproxima todo mundo. Eu me lembro quando eu joguei, eu tinha amigos que eram favelados. Ento eu me lembro que tnhamos um time de bairro e tenho boas lembranas... Eu achei que um campo prximo comunidade era um elemento forte de aproximao da comunidade [da favela] com a sociedade que exclui essa comunidade. Ento fizemos aquele campinho l pra eles. Agora, teve uma coisa que no funcionou, que at hoje no foi implantado, foi a horta comunitria. A grande preocupao era que esse parque no tentasse concorrer com o penhasco, o importante era o monumento natural. E eu me lembro que at aconteceu uma coisa muito engraada, quando eu levei o projeto pro Sirkis
166 ele me chamou e disse: "Agora eu queria que voc mostrasse qual a vista desse parque, voc faz uma perspectiva pegando parte da avenida Vieira Souto. Qual a vista que ns vamos ter". E a eu disse pra ele: "Olha, no adianta eu fazer porque o parque no vai ter vista nenhuma da Vieira Souto; o cuidado foi exatamente respeitar a paisagem natural". At h pouco tempo, infelizmente colocaram num lugar muito visvel uma escultura que deve ter sido doada pelo escultor; e as outras esto muito bem colocadas l dentro. A Fundao [Parques e Jardins] fez um trabalho muito bom. Mas a, infelizmente, no sei por qu... uma coisa que voc fazer pra ser visto da Vieira Souto me incomoda muito; a nica coisa que destoou de todo esse cuidado... A maneira como voc v o parque, ns fizemos at uma perspectiva area atravs do avio, um pra-pente ou asa delta, seno voc no v o parque. O projeto inicial teve alteraes, ns fomos muito pressionados, porque havia um estacionamento coberto que ns tnhamos usado e isso gerava uma polmica. No era do interesse da comunidade do Leblon, especialmente os da rua Aperuna. Era uma coisa de bastante insensibilidade. Porque 50 carros, eu me pergunto quantos carros tm dentro de uma garagem de um edifcio... E eles lutaram at o fim pra tirar esse estacionamento. Ento foi uma medida conciliatria no fazer isso [o estacionamento]. Fizeram uma oposio grande construo do parque, uma coisa estranha. Era como se fssemos fazer um mega-empreendimento, como era o anterior, que felizmente houve uma medida compensatria, uma troca, por um terreno na Lagoa da Tijuca. Foi feito isso com a prefeitura.
167 26 | No Penhasco Dois Irmos houve trabalho de ecognese? No Penhasco Dois Irmos houve trabalho de ecognese? No Penhasco Dois Irmos houve trabalho de ecognese? No Penhasco Dois Irmos houve trabalho de ecognese?
No. Houve um reflorestamento que foi feito pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. E houve tambm a introduo de espcies locais. Mas ali dentro da escolha de material tambm... um parque bastante tradicional, no plantio.
27 | Qual a diferena entre o paisagismo tradicional e o paisagismo ecogentico? Qual a diferena entre o paisagismo tradicional e o paisagismo ecogentico? Qual a diferena entre o paisagismo tradicional e o paisagismo ecogentico? Qual a diferena entre o paisagismo tradicional e o paisagismo ecogentico?
A ecognese trabalha em cima de uma restituio, de uma recuperao. No uma tradio. Ela pode at se tornar, daqui algum tempo, um projeto tradicional. Quando se tratar de reas de recuperao de ecossistema primitivo, voc vai ter um mtodo que vai ser ecogentico. Eu tenho outros projetos que so mais tradicionais, tem o projeto do Projac 158 , que absolutamente tradicional e um bom projeto mas no trouxe uma inovao. Esse trabalho ecogentico uma inovao.
28 | Existe alguma relao entre a Gleba E, Existe alguma relao entre a Gleba E, Existe alguma relao entre a Gleba E, Existe alguma relao entre a Gleba E, o Parque Mello Barreto e o Plano Lcio o Parque Mello Barreto e o Plano Lcio o Parque Mello Barreto e o Plano Lcio o Parque Mello Barreto e o Plano Lcio Costa? Costa? Costa? Costa?
Para a Gleba E, no Plano Lcio Costa, o gabarito no era aquele: era unifamiliar, e ali multifamiliar. Agora, nesse processo de mudana pra multifamiliar, sobrou muita rea verde. Realmente, talvez a ocupao unifamiliar fosse mais... no que fosse predatria porque no existia nada na gleba E, era uma rea totalmente degradada, tinha apenas alguns fragmentos de manguezal e que depois foram recuperados. Ali tem um trabalho muito grande de recuperao, e muito interessante.
158 PROJAC: Projeto Jacarepagu, centro de produo da TV Globo no Rio de Janeiro.
168 29 | Voc acredita que a ecognese pode vir a se tornar um modelo de interveno Voc acredita que a ecognese pode vir a se tornar um modelo de interveno Voc acredita que a ecognese pode vir a se tornar um modelo de interveno Voc acredita que a ecognese pode vir a se tornar um modelo de interveno tradicional? tradicional? tradicional? tradicional?
Eu acho, no, eu tenho certeza. O que ns temos o incio. Primeiro que foi muito bem aceito pela comunidade cientfica, pelo pessoal do Meio Ambiente... uma coisa que saiu e agora no tem mais volta. E esto ficando cada vez mais exigentes, os rgos ambientais. Isso timo, muito importante.
30 | Qual a herana que o paisagismo do sculo XX oferece ao sculo XXI? Qual a herana que o paisagismo do sculo XX oferece ao sculo XXI? Qual a herana que o paisagismo do sculo XX oferece ao sculo XXI? Qual a herana que o paisagismo do sculo XX oferece ao sculo XXI?
Acho que o sculo XXI, quer dizer, o 3 milnio, ele vai caminhar fortemente pra a reconstituio com base nos processos ecogenticos. Ento eu vejo que o arquiteto paisagista do 3 milnio vai realmente ser mais bem sucedido trabalhando nesse caminho. Eu sei porque vejo o que acontece com o nosso escritrio, ns temos trabalho sempre desse tipo.
169 ANEXO 2: LEGISLAO AMBIENTAL FEDERAL ANEXO 2: LEGISLAO AMBIENTAL FEDERAL ANEXO 2: LEGISLAO AMBIENTAL FEDERAL ANEXO 2: LEGISLAO AMBIENTAL FEDERAL
Leis Ambientais Federais 159 :
LEI N 1.533, de 31/12/51 LEI N 1.533, de 31/12/51 LEI N 1.533, de 31/12/51 LEI N 1.533, de 31/12/51 Altera Disposies do CPC, Relativas ao Mandato de Segurana LEI N 2.419, de 10/02/55 LEI N 2.419, de 10/02/55 LEI N 2.419, de 10/02/55 LEI N 2.419, de 10/02/55 Institui a Patrulha Costeira e d outras providncias LEI N 3.824, de 23/11/60 LEI N 3.824, de 23/11/60 LEI N 3.824, de 23/11/60 LEI N 3.824, de 23/11/60 Torna obrigatria a destoca e conseqente limpeza das bacias hidrulicas, dos audes, represas ou lagos artificiais LEI N 3.924, de 26/06/61 LEI N 3.924, de 26/06/61 LEI N 3.924, de 26/06/61 LEI N 3.924, de 26/06/61 Dispe sobre os Monumentos Arqueolgicos e Pr-histricos LEI DELEGADA N 4, de 26/09/62 LEI DELEGADA N 4, de 26/09/62 LEI DELEGADA N 4, de 26/09/62 LEI DELEGADA N 4, de 26/09/62 Dispe sobre a Interveno no Domnio Econmico para Assegurar a Livre Distribuio de Produtos Necessrios ao Consumo do Povo LEI N 4.118, de 27/08/62 LEI N 4.118, de 27/08/62 LEI N 4.118, de 27/08/62 LEI N 4.118, de 27/08/62 Dispe sobre a poltica nacional de energia nuclear, cria a Comisso Nacional de Energia Nuclear, e d outras providncias LEI N 4.132, de 10/09/62 LEI N 4.132, de 10/09/62 LEI N 4.132, de 10/09/62 LEI N 4.132, de 10/09/62 Define os casos de desapropriao por interesse social e dispe sobre a sua aplicao LEI N 4.150, de 21/11/62 LEI N 4.150, de 21/11/62 LEI N 4.150, de 21/11/62 LEI N 4.150, de 21/11/62 Institui o regime obrigatrio de preparo e observncia das normas tcnicas nos contratos de obras e compras do servio pblico de execuo direta, concedida, autrquica ou de economia mista, atravs da Associao Brasileira de Normas Tcnicas e d outras providncias LEI N 4.348, d LEI N 4.348, d LEI N 4.348, d LEI N 4.348, de 26/06/64 e 26/06/64 e 26/06/64 e 26/06/64 Nos processos de mandado de segurana, sero observadas as seguintes normas LEI N 4.452, de 05/11/64 LEI N 4.452, de 05/11/64 LEI N 4.452, de 05/11/64 LEI N 4.452, de 05/11/64 Altera a Legislao relativa ao Imposto nico sobre lubrificantes e combustveis lquidos e gasosos, e d outras providncias LEI N 4.466, de 12/11/6 LEI N 4.466, de 12/11/6 LEI N 4.466, de 12/11/6 LEI N 4.466, de 12/11/64 4 4 4 Determina a arborizao das margens das rodovias do Nordeste, bem como a construo de aterros - barragens para represamento de guas LEI N 4.504, de 30/11/64 LEI N 4.504, de 30/11/64 LEI N 4.504, de 30/11/64 LEI N 4.504, de 30/11/64 Dispe sobre o Estatuto da Terra, e d outras providncias LEI N 4.591, de 16/12/64 LEI N 4.591, de 16/12/64 LEI N 4.591, de 16/12/64 LEI N 4.591, de 16/12/64 Dispe sobre o condomnio em edificaes, de um ou mais imobilirias LEI N 4.717, de 29/06/65 LEI N 4.717, de 29/06/65 LEI N 4.717, de 29/06/65 LEI N 4.717, de 29/06/65 Regula a Ao Popular LEI N 4.771, de 15/09/65 LEI N 4.771, de 15/09/65 LEI N 4.771, de 15/09/65 LEI N 4.771, de 15/09/65 Institui o Novo Cdigo Florestal LEI N 4.778, de 22/09/65 LEI N 4.778, de 22/09/65 LEI N 4.778, de 22/09/65 LEI N 4.778, de 22/09/65 Dispe sobre a obrigatoriedade de serem ouvidas as autoridades florestais na aprovao de planos de loteamento para venda de terrenos em prestaes LEI N 4.797, de 29/10/65 LEI N 4.797, de 29/10/65 LEI N 4.797, de 29/10/65 LEI N 4.797, de 29/10/65 Torna obrigatrio, pelas empresas concessionrias de servios pblicos, o emprego de madeiras preservadas e d outras providncias
170 LEI N 4.947, de 06/04/66 LEI N 4.947, de 06/04/66 LEI N 4.947, de 06/04/66 LEI N 4.947, de 06/04/66 Fixa normas de Direito Agrrio, dispe sobre o sistema de organizao e funcionamento do Instituto Brasileiro de Reforma Agrria, e d outras providncias LEI N 5.106, de 02/09/66 LEI N 5.106, de 02/09/66 LEI N 5.106, de 02/09/66 LEI N 5.106, de 02/09/66 Dispe sobre os incentivos concedidos a empreendimentos florestais LEI N 5.173 de 27/10/66 LEI N 5.173 de 27/10/66 LEI N 5.173 de 27/10/66 LEI N 5.173 de 27/10/66 Dispe sobre o Plano de Valorizao Econmica da Amaznia; extingue a Superintendncia do Plano de Valorizao Econmica da Amaznia (SPVEA), cria a Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia (SUDAM) e d outras providncias LEI N 5.197, de 03/01/67 LEI N 5.197, de 03/01/67 LEI N 5.197, de 03/01/67 LEI N 5.197, de 03/01/67 Dispe sobre a Proteo Fauna LEI N 5.318, de 26/09/67 LEI N 5.318, de 26/09/67 LEI N 5.318, de 26/09/67 LEI N 5.318, de 26/09/67 Institui a Poltica Nacional de Saneamento e cria o Conselho Nacional de Saneamento LEI N 5.357, de 17/11/67 LEI N 5.357, de 17/11/67 LEI N 5.357, de 17/11/67 LEI N 5.357, de 17/11/67 Estabelece penalidades para embarcaes e terminais martimos ou fluviais que lanarem detritos ou leo em guas brasileiras, e d outras providncias LEI N 5.371, de 05/12/67 LEI N 5.371, de 05/12/67 LEI N 5.371, de 05/12/67 LEI N 5.371, de 05/12/67 Autoriza a instituio da "Fundao Nacional do ndio" e d outras providncias LEI N 5.868, de 12/12/72 LEI N 5.868, de 12/12/72 LEI N 5.868, de 12/12/72 LEI N 5.868, de 12/12/72 Cria o Sistema Nacional de Cadastro Rural e d outras providncias LEI N 5.870, de 26/03/73 LEI N 5.870, de 26/03/73 LEI N 5.870, de 26/03/73 LEI N 5.870, de 26/03/73 Acrescenta alnea ao Artigo 26, da Lei 4.771, de 15 de Setembro de 1965, que institui o novo Cdigo Florestal LEI N 5.889, de 17/12/73 LEI N 5.889, de 17/12/73 LEI N 5.889, de 17/12/73 LEI N 5.889, de 17/12/73 Institui Normas Reguladoras do Trabalho Rural
LEI N 6.001, de 19/12/73 LEI N 6.001, de 19/12/73 LEI N 6.001, de 19/12/73 LEI N 6.001, de 19/12/73 Dispe sobre o Estatuto do ndio LEI N 6.050, de 24/05/7 LEI N 6.050, de 24/05/7 LEI N 6.050, de 24/05/7 LEI N 6.050, de 24/05/74 4 4 4 Dispe sobre a fluoretao da gua em sistemas de abastecimento quando existir estao de tratamento LEI N 6.151, de 04/12/74 LEI N 6.151, de 04/12/74 LEI N 6.151, de 04/12/74 LEI N 6.151, de 04/12/74 Dispe sobre o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), para o perodo de 1975 a 1979 LEI N 6.225, de 14/07/75 LEI N 6.225, de 14/07/75 LEI N 6.225, de 14/07/75 LEI N 6.225, de 14/07/75 Dispe sobre discriminao, pelo Ministrio da Agricultura, de regies para execuo obrigatria de planos de proteo ao solo e de combate eroso e d outras providncias LEI N 6.276, de 01/12/75 LEI N 6.276, de 01/12/75 LEI N 6.276, de 01/12/75 LEI N 6.276, de 01/12/75 Altera e acrescenta dispositivos ao Decreto-Lei 221, de 28 de Fevereiro de 1967, que dispe sobre a proteo e estmulos pesca, alterado pela Lei 5.438, de 20 de Maio de 1968 LEI N 6.340, de 05/07/76 LEI N 6.340, de 05/07/76 LEI N 6.340, de 05/07/76 LEI N 6.340, de 05/07/76 Estabelece regime especial para o aproveitamento das jazidas de substncias minerais em reas especficas objeto de pesquisa ou lavra de petrleo, e d outras providncias LEI N 6.360, de 23/09/76 LEI N 6.360, de 23/09/76 LEI N 6.360, de 23/09/76 LEI N 6.360, de 23/09/76 Dispe sobre a vigilncia Sanitria a que Ficam Sujeitos os Medicamentos, as Drogas, os Insumos Farmacuticos e Correlatos, Cosmticos, Saneantes e Outros Produtos, e d outras providncias LEI N 6 LEI N 6 LEI N 6 LEI N 6.437, de 20/08/77 .437, de 20/08/77 .437, de 20/08/77 .437, de 20/08/77 Configura infraes Legislao Sanitria Federal, estabelece as sanes respectivas, e d outras providncias LE LE LE LEI N 6.453, de 17/10/77 I N 6.453, de 17/10/77 I N 6.453, de 17/10/77 I N 6.453, de 17/10/77 Dispe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares, e d outras providncias
171 LEI N 6.507, de 19/12/77 LEI N 6.507, de 19/12/77 LEI N 6.507, de 19/12/77 LEI N 6.507, de 19/12/77 Dispe sobre a Inspeo e a Fiscalizao da Produo e do Comrcio de Sementes e Mudas, e d outras providncias LEI N 6.513, de 20/12/77 LEI N 6.513, de 20/12/77 LEI N 6.513, de 20/12/77 LEI N 6.513, de 20/12/77 Dispe sobre a criao de reas Especiais e de Locais de interesse Turstico; Sobre o inventrio com finalidades tursticas dos bens de valor cultural e natural; Acrescenta inciso ao Artigo 2 da Lei 4.132 de 10 de Setembro de 1962; Altera a redao e acrescenta dispositivos lei 4.717, de 29 de Junho de 1965, e d outras providncias LEI N 6.514, de 22/12/77 LEI N 6.514, de 22/12/77 LEI N 6.514, de 22/12/77 LEI N 6.514, de 22/12/77 Altera o Captulo V do Ttulo II da Consolidao das Leis do Trabalho, relativo Segurana e Medicina do Trabalho LEI N 6.535, de 15/06/78 LEI N 6.535, de 15/06/78 LEI N 6.535, de 15/06/78 LEI N 6.535, de 15/06/78 Acrescenta dispositivo ao Artigo 2 da Lei n 4.771, de 15 de Setembro de 1965, que institui o novo Cdigo Florestal LEI N 6.567, de 24/09/78 LEI N 6.567, de 24/09/78 LEI N 6.567, de 24/09/78 LEI N 6.567, de 24/09/78 Dispe sobre regime especial para explorao e o aproveitamento das substncias minerais que especifica e d outras providncias LEI N 6.576, de 30/09/78 LEI N 6.576, de 30/09/78 LEI N 6.576, de 30/09/78 LEI N 6.576, de 30/09/78 Dispe sobre a proibio do abate de aaizeiro em todo o territrio nacional e d outras providncias LEI N 6.607, de 07/12/78 LEI N 6.607, de 07/12/78 LEI N 6.607, de 07/12/78 LEI N 6.607, de 07/12/78 Declara o Pau-Brasil rvore Nacional, institui o Dia do Pau-Brasil, e d outras providncias LEI N 6.631, de 19/04/79 LEI N 6.631, de 19/04/79 LEI N 6.631, de 19/04/79 LEI N 6.631, de 19/04/79 Acrescenta pargrafo ao Artigo 35, do Decreto-lei n 221, de 28 de Fevereiro de 1967, que dispe sobre a proteo e estmulo pesca e d outras providncias LEI N 6.638, de 08/05/79 LEI N 6.638, de 08/05/79 LEI N 6.638, de 08/05/79 LEI N 6.638, de 08/05/79 Estabelece normas para a prtica didtica - cientfica da vivisseco de animais e determina outras providncias LEI N 6.662, de 25/06/79 LEI N 6.662, de 25/06/79 LEI N 6.662, de 25/06/79 LEI N 6.662, de 25/06/79 Dispe sobre a Poltica Nacional de Irrigao, e d outras providncias LEI N 6.746, de 10/12/79 LEI N 6.746, de 10/12/79 LEI N 6.746, de 10/12/79 LEI N 6.746, de 10/12/79 Altera o disposto nos Artigos 49 e 50 da Lei n 4.504, de 30 de Novembro de 1964 (Estatuto da Terra), e d outras providncias LEI N 6.766, de 19/12/79 LEI N 6.766, de 19/12/79 LEI N 6.766, de 19/12/79 LEI N 6.766, de 19/12/79 Dispe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e d outras providncias LEI N 6.803, de 02/07/80 LEI N 6.803, de 02/07/80 LEI N 6.803, de 02/07/80 LEI N 6.803, de 02/07/80 Dispe sobre as diretrizes bsicas para o zoneamento industrial nas reas crticas de poluio, e d outras providncias LEI N 6.894, de 16/12/80 LEI N 6.894, de 16/12/80 LEI N 6.894, de 16/12/80 LEI N 6.894, de 16/12/80 Dispe sobre a inspeo e fiscalizao da produo e do comrcio de fertilizantes, corretivos, inoculantes, estimulantes ou biofertilizantes, destinados agricultura, e d outras providncias LEI N 6.902, de 27/04/81 LEI N 6.902, de 27/04/81 LEI N 6.902, de 27/04/81 LEI N 6.902, de 27/04/81Define o que so as Estaes Ecolgicas LEI N 6.938, de 31/08/81 LEI N 6.938, de 31/08/81 LEI N 6.938, de 31/08/81 LEI N 6.938, de 31/08/81 Dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e d outras providncias LEI N 7.092, de 19/04/83 LEI N 7.092, de 19/04/83 LEI N 7.092, de 19/04/83 LEI N 7.092, de 19/04/83 Cria o Registro Nacional de Transportes Rodovirios de Bens, fixa condies para o exerccio da atividade e d outras providncias LEI N 7.173, de 14/12/83 LEI N 7.173, de 14/12/83 LEI N 7.173, de 14/12/83 LEI N 7.173, de 14/12/83 Dispe sobre o estabelecimento e funcionamento de Jardins Zoolgicos, e d outras providncias
172 LEI N 7.203, de 03/07/84 LEI N 7.203, de 03/07/84 LEI N 7.203, de 03/07/84 LEI N 7.203, de 03/07/84 Dispe sobre a Assistncia e Salvamento de Embarcao, Coisa ou Bem em Perigo no Mar, nos Portos e nas Vias Navegveis Interiores LEI N 7.347, de 24/07/85 LEI N 7.347, de 24/07/85 LEI N 7.347, de 24/07/85 LEI N 7.347, de 24/07/85 Disciplina Ao Civil Pblica de Responsabilidade Por Danos Causados ao Meio Ambiente, ao Consumidor, a Bens de Direitos do Valor Artstico, Esttico, Histrico, Turstico e Paisagstico (VETADO) e d outras providncias LEI N 7.365, de 13/09/85 LEI N 7.365, de 13/09/85 LEI N 7.365, de 13/09/85 LEI N 7.365, de 13/09/85 Dispe sobre a fabricao de detergentes no biodegradveis LEI N 7.369, de 20/09/8 LEI N 7.369, de 20/09/8 LEI N 7.369, de 20/09/8 LEI N 7.369, de 20/09/85 55 5 Institui salrio adicional para os empregados no setor de energia eltrica, em condies de periculosidade LEI N 7.410, de 27/11/ LEI N 7.410, de 27/11/ LEI N 7.410, de 27/11/ LEI N 7.410, de 27/11/85 85 85 85 Dispe sobre a especializao de Engenheiros e Arquitetos em Engenharia de Segurana do Trabalho, a profisso de Tcnico de Segurana do Trabalho e da outras providncias LEI N 7.498, de 25/06/86 LEI N 7.498, de 25/06/86 LEI N 7.498, de 25/06/86 LEI N 7.498, de 25/06/86 Dispe sobre a Regulamentao do Exerccio da Enfermagem, e d outras providncias LEI N 7.509, de 04/07/86 LEI N 7.509, de 04/07/86 LEI N 7.509, de 04/07/86 LEI N 7.509, de 04/07/86 Disciplina o transporte de madeira em toros, por via fluvial LEI N 7.511, de 07/07/86 LEI N 7.511, de 07/07/86 LEI N 7.511, de 07/07/86 LEI N 7.511, de 07/07/86 Altera dispositivos da Lei 4.771, de 15 de Setembro de 1965, que institui o novo Cdigo Florestal LEI N 7.542, de 26/09/86 LEI N 7.542, de 26/09/86 LEI N 7.542, de 26/09/86 LEI N 7.542, de 26/09/86 Dispe sobre a pesquisa, explorao, remoo e demolio de coisas ou bens afundados, submersos, encalhados e perdidos em guas sob jurisdio nacional, em terreno de marinha e seus acrescidos e em terrenos marginais, em decorrncia de sinistro, alijamento ou fortuna do mar, e d outras providncias LEI N 7.566, de 19/12/86 LEI N 7.566, de 19/12/86 LEI N 7.566, de 19/12/86 LEI N 7.566, de 19/12/86 Autoriza a Criao do Fundo para Desenvolvimento Integrado do Vale do Rio Doce LEI N 7.599, de 15/05/87 LEI N 7.599, de 15/05/87 LEI N 7.599, de 15/05/87 LEI N 7.599, de 15/05/87 Altera dispositivo da Lei n 7.194, de 11 de junho de 1984, que autoriza a incluso de recurso da Unio, e d outras providncias LEI N 7.643, de 18/12/87 LEI N 7.643, de 18/12/87 LEI N 7.643, de 18/12/87 LEI N 7.643, de 18/12/87 Probe a Pesca de Cetceos nas guas Jurisdicionais Brasileiras, e d outras providncias LEI N 7.653, de 12 de fevereiro de 1989 LEI N 7.653, de 12 de fevereiro de 1989 LEI N 7.653, de 12 de fevereiro de 1989 LEI N 7.653, de 12 de fevereiro de 1989 Altera a redao dos arts. 18, 27, 33 e 34 da Lei n 5.197, de 3 de janeiro de 1967, que dispe sobre a proteo fauna, e d outras providncias LEI N 7.661, de 16/05/88 LEI N 7.661, de 16/05/88 LEI N 7.661, de 16/05/88 LEI N 7.661, de 16/05/88 Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e d outras providncias LEI N 7.679, de 23/11/88 LEI N 7.679, de 23/11/88 LEI N 7.679, de 23/11/88 LEI N 7.679, de 23/11/88 Dispe sobre a proibio da pesca de espcies em perodos de reproduo e d outras providncias LEI N 7.731, de 14/02/89 LEI N 7.731, de 14/02/89 LEI N 7.731, de 14/02/89 LEI N 7.731, de 14/02/89 Extingue rgos da Administrao Federal direta e d outras providncias LEI N 7.732, de 14 de fevereiro de 1989 LEI N 7.732, de 14 de fevereiro de 1989 LEI N 7.732, de 14 de fevereiro de 1989 LEI N 7.732, de 14 de fevereiro de 1989 Dispe sobre a extino de autarquias e fundaes pblicas federais, e d outras providncias LEI N 7.735, de 22/02/89 LEI N 7.735, de 22/02/89 LEI N 7.735, de 22/02/89 LEI N 7.735, de 22/02/89 Dispe sobre a extino de rgo e de entidade autrquica, cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis e d outras providncias LEI N 7.754, de 14/04/89 LEI N 7.754, de 14/04/89 LEI N 7.754, de 14/04/89 LEI N 7.754, de 14/04/89 Estabelece medidas para proteo das florestas estabelecidas nas nascentes dos rios e d outras providncias
173 LEI N 7.766, de 11/05/89 LEI N 7.766, de 11/05/89 LEI N 7.766, de 11/05/89 LEI N 7.766, de 11/05/89 Dispe sobre o ouro, ativo financeiro, e sobre seu tratamento tributrio LEI N 7.787, de 30/06/89 LEI N 7.787, de 30/06/89 LEI N 7.787, de 30/06/89 LEI N 7.787, de 30/06/89 Dispe sobre alteraes na legislao de custeio da Previdncia Social e d outras providncias LEI N 7.796, de 10/07/89 LEI N 7.796, de 10/07/89 LEI N 7.796, de 10/07/89 LEI N 7.796, de 10/07/89 Cria a Comisso Coordenadora Regional de Pesquisa na Amaznia CORPAM e d outras providncias LEI N 7.797, de 10/07/89 LEI N 7.797, de 10/07/89 LEI N 7.797, de 10/07/89 LEI N 7.797, de 10/07/89 Cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente e d outras providncias LEI N 7.802, de 11/07/89 LEI N 7.802, de 11/07/89 LEI N 7.802, de 11/07/89 LEI N 7.802, de 11/07/89 Dispe sobre a pesquisa, a experimentao, a produo, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercializao, a propaganda comercial, a utilizao, a importao, a exportao, o destino final dos resduos e embalagens, o registro, a classificao, o controle, a inspeo e a fiscalizao de agrotxicos, seus componentes e afins, e d outras providncias LEI N 7.803, de 15/07/89 LEI N 7.803, de 15/07/89 LEI N 7.803, de 15/07/89 LEI N 7.803, de 15/07/89 Altera a redao da Lei n 4.771, de 15 de setembro de 1965, e revoga as Leis n 6.535, de 15 de julho de 1978 e 7.511, de 7 de julho de 1986 LEI N 7.804, de 18/07/89 LEI N 7.804, de 18/07/89 LEI N 7.804, de 18/07/89 LEI N 7.804, de 18/07/89 Altera a Lei n 6.938 de 31 de agosto de 1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao a Lei n 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, a Lei n 6.803, de 2 de julho de 1980, a Lei n 6.902, de 21 de abril de 1981,e d outras providncias LEI N 7.805, de 18/07/89 LEI N 7.805, de 18/07/89 LEI N 7.805, de 18/07/89 LEI N 7.805, de 18/07/89 Altera o Decreto-Lei n 227, de 28 de Fevereiro de 1967, Cria o Regime de Permisso de Lavra Garimpeira, Extingue o regime de Matrcula, e d outras providncias LEI N 7.876, de 13/11/89 LEI N 7.876, de 13/11/89 LEI N 7.876, de 13/11/89 LEI N 7.876, de 13/11/89 Institui o Dia Nacional da Conservao do Solo a ser comemorado, em todo o Pas, no dia 15 de abril de cada ano LEI N 7.886, de 20/11/89 LEI N 7.886, de 20/11/89 LEI N 7.886, de 20/11/89 LEI N 7.886, de 20/11/89 Regulamenta o Art. 43 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, e d outras providncias LEI N 7.990, de 28/12/89 LEI N 7.990, de 28/12/89 LEI N 7.990, de 28/12/89 LEI N 7.990, de 28/12/89 Institui, para os Estados, Distrito Federal e Municpios, compensao financeira pelo resultado da explorao de petrleo ou gs natural, de recursos hdricos para fins de gerao de energia eltrica, de recursos minerais em seus respectivos territrios, plataforma continental, mar territorial ou zona econmica exclusiva, e d outras providncias LEI N 7.997, de 11/01/90 LEI N 7.997, de 11/01/90 LEI N 7.997, de 11/01/90 LEI N 7.997, de 11/01/90 Autoriza o Poder Executivo a criar o Conselho Nacional do Carvo, e d outras providncias LEI N 8.001, de 13/03/90 LEI N 8.001, de 13/03/90 LEI N 8.001, de 13/03/90 LEI N 8.001, de 13/03/90 Define os percentuais da distribuio da compensao financeira de que trata a Lei N 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e d outras providncias LEI N 8.005, de 22/03/90 LEI N 8.005, de 22/03/90 LEI N 8.005, de 22/03/90 LEI N 8.005, de 22/03/90 Dispe sobre a Cobrana e Atualizao dos Crditos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA, e d outras providncias LEI N 8.028, de 12/04/90 LEI N 8.028, de 12/04/90 LEI N 8.028, de 12/04/90 LEI N 8.028, de 12/04/90 Dispe sobre a Organizao da Presidncia da Repblica e dos Ministrios, e d outras providncias LEI N 8.029, de 12/04/90 LEI N 8.029, de 12/04/90 LEI N 8.029, de 12/04/90 LEI N 8.029, de 12/04/90 Dispe sobre a extino e dissoluo de entidades da Administrao Pblica Federal e d outras providncias
174 LEI N 8.078, de 11/09/90 LEI N 8.078, de 11/09/90 LEI N 8.078, de 11/09/90 LEI N 8.078, de 11/09/90 CDIGO DE PROTEO DO CONSUMIDOR Dispe sobre a Proteo do Consumidor e d outras providncias LEI N 8.080, de 19/09/90 LEI N 8.080, de 19/09/90 LEI N 8.080, de 19/09/90 LEI N 8.080, de 19/09/90 Dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao da sade, a organizao e o funcionamento dos servios correspondentes e d outras providncias LEI N 8.167, LEI N 8.167, LEI N 8.167, LEI N 8.167, de 17/01/91 de 17/01/91 de 17/01/91 de 17/01/91Altera a legislao do imposto sobre a renda relativa a incentivos fiscais, estabelece novas condies operacionais dos Fundos de Investimentos Regionais e d outras providncias LEI N 8.171, de 17/01/91 LEI N 8.171, de 17/01/91 LEI N 8.171, de 17/01/91 LEI N 8.171, de 17/01/91 Dispe sobre a poltica agrcola LEI N 8.176, LEI N 8.176, LEI N 8.176, LEI N 8.176, de 08/02/91 de 08/02/91 de 08/02/91 de 08/02/91Define crimes contra a ordem econmica e cria o Sistema de Estoques de Combustveis LEI N 8.257, de 26/11/91 LEI N 8.257, de 26/11/91 LEI N 8.257, de 26/11/91 LEI N 8.257, de 26/11/91Dispe sobre a expropriao das glebas nas quais se localizem culturas ilegais de plantas psicotrpicas, e d outras providncias LEI N 8.287, LEI N 8.287, LEI N 8.287, LEI N 8.287, de 20/12/91 de 20/12/91 de 20/12/91 de 20/12/91 Dispe sobre a concesso do benefcio de seguro-desemprego a pescadores artesanais, durante os perodos de defeso LEI N LEI N LEI N LEI N 8.490, de 19/11/92 8.490, de 19/11/92 8.490, de 19/11/92 8.490, de 19/11/92 Dispe sobre a organizao da Presidncia da Repblica e dos Ministrios e d outras providncias LEI N 8.543, LEI N 8.543, LEI N 8.543, LEI N 8.543, de 23/12/93 de 23/12/93 de 23/12/93 de 23/12/93 Determina a impresso de advertncia em rtulos e embalagens de alimentos industrializados que contenham glten, a fim de evitar a doena celaca ou sndrome celaca LEI N 8.617, de 04/01/93 LEI N 8.617, de 04/01/93 LEI N 8.617, de 04/01/93 LEI N 8.617, de 04/01/93 Dispe sobre o mar territorial, a zona contgua, a zona econmica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e d outras providncias LEI N 8.625, de 12/02/93 LEI N 8.625, de 12/02/93 LEI N 8.625, de 12/02/93 LEI N 8.625, de 12/02/93 Institui a Lei Orgnica Nacional do Ministrio Pblico, dispe sobre Normas Gerais para a Organizao do Ministrio Pblico dos Estados, e d outras providncias LEI N 8.629, de 25/02/93 LEI N 8.629, de 25/02/93 LEI N 8.629, de 25/02/93 LEI N 8.629, de 25/02/93 Dispe sobre a regulamentao dos dispositivos constitucionais relativos reforma agrria, previstos no Captulo III, Ttulo VII, da Constituio Federal LEI N 8.630, de 25/02/93 LEI N 8.630, de 25/02/93 LEI N 8.630, de 25/02/93 LEI N 8.630, de 25/02/93 Dispe sobre o regime jurdico da explorao dos portos organizados e das instalaes porturias e d outras providncias LEI N 8.657, de 21/05/93 LEI N 8.657, de 21/05/93 LEI N 8.657, de 21/05/93 LEI N 8.657, de 21/05/93 Acrescenta pargrafos ao art. 27 da Lei n 6.662, de 25 de junho de 1979, que dispe sobre a Poltica Nacional de Irrigao, e d outras providncias LEI N 8.6 LEI N 8.6 LEI N 8.6 LEI N 8.661, de 02/06/93 61, de 02/06/93 61, de 02/06/93 61, de 02/06/93 Dispe sobre os incentivos fiscais para a capacitao tecnolgica da indstria e da agropecuria e d outras providncias LEI N 8.665, de 18/06/93 LEI N 8.665, de 18/06/93 LEI N 8.665, de 18/06/93 LEI N 8.665, de 18/06/93 Cancela dbitos para com a Superintendncia do Desenvolvimento da Pesca - SUDEPE, e d outras providncias LEI N 8.723, de 28/10/93 LEI N 8.723, de 28/10/93 LEI N 8.723, de 28/10/93 LEI N 8.723, de 28/10/93 Dispe sobre a reduo de emisso de poluentes por veculos automotores e d outras providncias LE LE LE LEI N 8.746, de 09/12/93 I N 8.746, de 09/12/93 I N 8.746, de 09/12/93 I N 8.746, de 09/12/93 Cria, mediante transformao, o Ministrio do Meio Ambiente e da Amaznia Legal, altera a redao de dispositivos da Lei N 8.490, de 19 de novembro de 1992, e d outras providncias
175 LEI N 8.874, de 29/04/94 LEI N 8.874, de 29/04/94 LEI N 8.874, de 29/04/94 LEI N 8.874, de 29/04/94 Dispe sobre Restabelecimento do Prazo Fixado pelo Art. 59 da Lei N 7.450, de 23 de dezembro de 1985, para Instalao, Modernizao, Ampliao ou Diversificao de Empreendimentos Industriais e Agrcolas nas reas de Atuao da SUDAM e SUDENE LEI N 8.918, de 14/07/94 LEI N 8.918, de 14/07/94 LEI N 8.918, de 14/07/94 LEI N 8.918, de 14/07/94 Dispe sobre a Padronizao, a Classificao, o Registro, a Inspeo, a Produo e a Fiscalizao de Bebidas, Autoriza a Criao da Comisso Intersetorial de Bebidas e d outras providncias LEI N 8.970, de 28/12/94 LEI N 8.970, de 28/12/94 LEI N 8.970, de 28/12/94 LEI N 8.970, de 28/12/94 Transforma a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM em empresa pblica, e d outras providncias LEI N 8.974, de 05/01/95 LEI N 8.974, de 05/01/95 LEI N 8.974, de 05/01/95 LEI N 8.974, de 05/01/95 Regulamenta os incisos II. e V do 1 do art. 225 da Constituio Federal, estabelece normas para o uso das tcnicas de engenharia gentica e liberao no meio ambiente de organismos geneticamente modificados, autoriza o Poder Executivo a criar, no mbito da Presidncia da Repblica, a Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana, e d outras providncias LEI N 9.017, de 30/03/95 LEI N 9.017, de 30/03/95 LEI N 9.017, de 30/03/95 LEI N 9.017, de 30/03/95 Estabelece normas de controle e fiscalizao sobre produtos e insumos qumicos que possam ser destinados elaborao da cocana em suas diversas formas e de outras substncias entorpecentes ou que determinem dependncia fsica ou psquica, e altera dispositivos da Lei n 7.102, de 20 de junho de 1983, que dispe sobre segurana para estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituio e funcionamento de empresas particulares que explorem servios de vigilncia e de transporte de valores, e d outras providncias LEI N 9.051, de 18/05/95 LEI N 9.051, de 18/05/95 LEI N 9.051, de 18/05/95 LEI N 9.051, de 18/05/95 Dispe sobre a expedio de certides para a defesa de direitos e esclarecimentos de situaes LEI N 9.055, de 01/06/95 LEI N 9.055, de 01/06/95 LEI N 9.055, de 01/06/95 LEI N 9.055, de 01/06/95 Disciplina a extrao, industrializao, utilizao, comercializao e transporte do asbesto/amianto e dos produtos que o contenham, bem como das fibras naturais e artificiais, de qualquer origem, utilizadas para o mesmo fim e d outras providncias LEI N 9.112, de 10/10/95 LEI N 9.112, de 10/10/95 LEI N 9.112, de 10/10/95 LEI N 9.112, de 10/10/95 Dispe sobre a Exportao de Bens Sensveis e Servios Diretamente Vinculados LEI N 9.265, de 12/02/96 LEI N 9.265, de 12/02/96 LEI N 9.265, de 12/02/96 LEI N 9.265, de 12/02/96 Regulamenta o inciso LXXVII do art 5 da Constituio, dispondo sobre a gratuidade dos atos necessrios ao exerccio da cidadania LEI N 9.272, de 03/05/96 LEI N 9.272, de 03/05/96 LEI N 9.272, de 03/05/96 LEI N 9.272, de 03/05/96 Acrescenta incisos ao Artigo 30 da Lei 8.171, de 17 de Janeiro de 1991, que dispe sobre a poltica agrcola LEI N 9.294, de 15/07/96 LEI N 9.294, de 15/07/96 LEI N 9.294, de 15/07/96 LEI N 9.294, de 15/07/96 Dispe sobre as Restries ao Uso e Propaganda de Produtos Fumgeros, Bebidas Alcolicas, Medicamentos, Terapias e Defensivos Agrcolas, nos Termos do 4 do Art. 220 da Constituio Federal. * Regulamentada pelo Decreto n 2.018, de 01/10/1996 LEI N 9.393, de 19/12/96 LEI N 9.393, de 19/12/96 LEI N 9.393, de 19/12/96 LEI N 9.393, de 19/12/96 Dispe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, sobre o pagamento da dvida representada por Ttulos da Dvida Agrria e d outras providncias LEI N 9.427, de 26/12/96 LEI N 9.427, de 26/12/96 LEI N 9.427, de 26/12/96 LEI N 9.427, de 26/12/96 Institui a Agncia Nacional de Energia Eltrica - ANEEL, disciplina o regime das concesses de servios pblicos de energia eltrica, e d outras providncias LEI N 9.431, de 06/01/97 LEI N 9.431, de 06/01/97 LEI N 9.431, de 06/01/97 LEI N 9.431, de 06/01/97 Dispe sobre a obrigatoriedade da manuteno de programa de controle de infeces hospitalares pelos hospitais do Pas LEI N 9.432, de 08/01/97 LEI N 9.432, de 08/01/97 LEI N 9.432, de 08/01/97 LEI N 9.432, de 08/01/97 Dispe sobre a ordenao do transporte aquavirio e d outras providncias
176 LEI N 9.433, de 08/01/97 LEI N 9.433, de 08/01/97 LEI N 9.433, de 08/01/97 LEI N 9.433, de 08/01/97 Institui a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituio Federal, e altera o art. 1 da Lei n 8.001, de 13 de maro de 1990, que modificou a Lei n 7.990, de 28 de dezembro de 1989 LEI N LEI N LEI N LEI N 9.445, de 14/03/97 9.445, de 14/03/97 9.445, de 14/03/97 9.445, de 14/03/97 Concede subveno econmica ao preo do leo diesel consumido por embarcaes pesqueiras nacionais LEI N 9.478, LEI N 9.478, LEI N 9.478, LEI N 9.478, de 06/08/97 de 06/08/97 de 06/08/97 de 06/08/97 Dispe sobre a poltica energtica nacional, as atividades relativas ao monoplio do petrleo, institui o Conselho Nacional de Poltica Energtica e a Agncia Nacional do Petrleo e d outras providncias LEI N 9.479, de 12/08/97 LEI N 9.479, de 12/08/97 LEI N 9.479, de 12/08/97 LEI N 9.479, de 12/08/97 Dispe sobre a concesso de subveno econmica a produtores de borracha natural e d outras providncias LEI N 9.456, de 25/04/97 LEI N 9.456, de 25/04/97 LEI N 9.456, de 25/04/97 LEI N 9.456, de 25/04/97 Institui a Lei de Proteo de Cultivares e d outras providncias LEI COMPLEMENTAR N 93, de 04/02/98 LEI COMPLEMENTAR N 93, de 04/02/98 LEI COMPLEMENTAR N 93, de 04/02/98 LEI COMPLEMENTAR N 93, de 04/02/98 Institui o Fundo de Terras e da Reforma Agrria - Banco da Terra - e d outras providncias LEI N 9.497, de 11/09/97 LEI N 9.497, de 11/09/97 LEI N 9.497, de 11/09/97 LEI N 9.497, de 11/09/97 Dispe sobre a implantao e a gesto do Parque Histrico Nacional dos Guararapes LEI N 9.503, de 23/09/97 LEI N 9.503, de 23/09/97 LEI N 9.503, de 23/09/97 LEI N 9.503, de 23/09/97 Institui o Cdigo de Trnsito Brasileiro LEI N 9.537, de 11/12/97 LEI N 9.537, de 11/12/97 LEI N 9.537, de 11/12/97 LEI N 9.537, de 11/12/97 Dispe sobre a segurana do trfego aquavirio em guas sob jurisdio nacional e d outras providncias LEI N 9.605, 12/02/98 LEI N 9.605, 12/02/98 LEI N 9.605, 12/02/98 LEI N 9.605, 12/02/98 Dispe sobre as sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e d outras providncias LEI N 9.610, de 19/02/98 LEI N 9.610, de 19/02/98 LEI N 9.610, de 19/02/98 LEI N 9.610, de 19/02/98 Altera, atualiza e consolida a legislao sobre direitos autorais e d outras providncias LEI N 9.636, de 15/05/98 LEI N 9.636, de 15/05/98 LEI N 9.636, de 15/05/98 LEI N 9.636, de 15/05/98 Dispe sobre a regularizao, administrao, aforamento e alienao de bens imveis de domnio da Unio, altera dispositivos dos Decretos-Leis nos 9.760, de 5 de setembro de 1946, e 2.398, de 21 de dezembro de 1987, regulamenta o 2 do art. 49 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, e d outras providncias LEI N 9.649, de 27/05/98 LEI N 9.649, de 27/05/98 LEI N 9.649, de 27/05/98 LEI N 9.649, de 27/05/98 Dispe sobre a organizao da Presidncia da Repblica e dos Ministrios, e d outras providncias LEI N 9.712, de 20/11/98 LEI N 9.712, de 20/11/98 LEI N 9.712, de 20/11/98 LEI N 9.712, de 20/11/98 Altera a Lei n 8.171, de 17 de janeiro de 1991, acrescentando-lhe dispositivos referentes defesa agropecuria LEI N 9.765, de 17/12/98 LEI N 9.765, de 17/12/98 LEI N 9.765, de 17/12/98 LEI N 9.765, de 17/12/98 Institui taxa de licenciamento, controle e fiscalizao de materiais nucleares e radioativos e suas instalaes LEI N 9.782, de 26/01/99 LEI N 9.782, de 26/01/99 LEI N 9.782, de 26/01/99 LEI N 9.782, de 26/01/99 Define o Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria, cria a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, e d outra providncias LEI N 9.785, de 29/01/99 LEI N 9.785, de 29/01/99 LEI N 9.785, de 29/01/99 LEI N 9.785, de 29/01/99 Altera o Decreto-Lei n 3.365, de 21 de junho de 1941 (desapropriao por utilidade pblica) e as Leis ns 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (registros pblicos) e 6.766, de 19 de dezembro de 1979 (parcelamento do solo urbano)
177 LEI N 9.787, de 10/02/99 LEI N 9.787, de 10/02/99 LEI N 9.787, de 10/02/99 LEI N 9.787, de 10/02/99 Altera a Lei n 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispe sobre a vigilncia sanitria, estabelece o medicamento genrico, dispe sobre a utilizao de nomes genricos em produtos farmacuticos e d outras providncias LEI N 9.790, de 23/03/99 LEI N 9.790, de 23/03/99 LEI N 9.790, de 23/03/99 LEI N 9.790, de 23/03/99 Dispe sobre a qualificao de pessoas jurdicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico, institui e disciplina o Termo de Parceria, e d outras providncias LEI N 9.795, de 27/04/99 LEI N 9.795, de 27/04/99 LEI N 9.795, de 27/04/99 LEI N 9.795, de 27/04/99 Dispe sobre a educao ambiental, institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental e d outras providncias LEI N 9.960, de 28/01/00 LEI N 9.960, de 28/01/00 LEI N 9.960, de 28/01/00 LEI N 9.960, de 28/01/00 Institui a Taxa de Servios Administrativos - TSA, em favor da Superintendncia da Zona Franca de Manaus - Suframa, estabelece preos a serem cobrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - Ibama, cria a Taxa de Fiscalizao Ambiental - TFA, e d outras providncias LEI N 9.966, de 28/04/00 LEI N 9.966, de 28/04/00 LEI N 9.966, de 28/04/00 LEI N 9.966, de 28/04/00 Dispe sobre a preveno, o controle e a fiscalizao da poluio causada por lanamento de leo e outras substncias nocivas ou perigosas em guas sob jurisdio nacional e d outras providncias LEI N 9.974, de 06 de junho de 2000 LEI N 9.974, de 06 de junho de 2000 LEI N 9.974, de 06 de junho de 2000 LEI N 9.974, de 06 de junho de 2000 Altera a Lei n 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispe sobre a pesquisa, a experimentao, a produo, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a utilizao, a importao, a exportao, o destino final dos resduos e embalagens, o registro, a classificao, o controle, a inspeo e a fiscalizao de agrotxicos, seus componentes e afins, e d outras providncias. LEI N 9.976, de 03 de julho de 2000 LEI N 9.976, de 03 de julho de 2000 LEI N 9.976, de 03 de julho de 2000 LEI N 9.976, de 03 de julho de 2000 Dispe sobre a produo de cloro e d outras providncias. LEI N 9.984, de 17 de julho de 2000 LEI N 9.984, de 17 de julho de 2000 LEI N 9.984, de 17 de julho de 2000 LEI N 9.984, de 17 de julho de 2000 Dispe sobre a criao da Agncia Nacional de gua - ANA, entidade federal de implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos e de coordenao do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, e d outras providncias. LEI N 9.985, de18 de junho de 2000 LEI N 9.985, de18 de junho de 2000 LEI N 9.985, de18 de junho de 2000 LEI N 9.985, de18 de junho de 2000 Regulamenta o art. 225, 1, incisos I, II, III, e VII da Constituio Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza e d outras providncias. LEI N 9.990, de 21 de julho de 2000 LEI N 9.990, de 21 de julho de 2000 LEI N 9.990, de 21 de julho de 2000 LEI N 9.990, de 21 de julho de 2000 Prorroga o perodo de transcrio previsto na Lei n 9.478, de 6 de agosto de 1997, que dispe sobre a poltica energtica nacional, as atividades relativas ao monoplio o petrleo, institui o Conselho Nacional de Poltica Energtica e a Agncia Nacional do Petrleo, e d outras providncias, a altera dispositivos da Lei n 9.718, de 27 de novembro de 1998, que altera a legislao tributria federal. LEI N 9.991, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.991, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.991, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.991, de 24 de julho de 2000 Dispe sobre realizao de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficincia energtica por parte das empresas concessionrias, permissionrias e autorizadas do setor de energia eltrica, e da outras providncias. LEI N 9.993, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.993, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.993, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.993, de 24 de julho de 2000 Destina recursos da compensao financeira pela utilizao de recursos hdricos para fins de gerao de energia eltrica e pela explorao de recursos minerais para o setor de cincia e tecnologia. LEI N 9.994, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.994, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.994, de 24 de julho de 2000 LEI N 9.994, de 24 de julho de 2000 Institui o Programa de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do Setor Espacial, e d outras providncias. Livros Grtis ( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administrao Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Cincia da Computao Baixar livros de Cincia da Informao Baixar livros de Cincia Poltica Baixar livros de Cincias da Sade Baixar livros de Comunicao Baixar livros do Conselho Nacional de Educao - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Domstica Baixar livros de Educao Baixar livros de Educao - Trnsito Baixar livros de Educao Fsica Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmcia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Fsica Baixar livros de Geocincias Baixar livros de Geografia Baixar livros de Histria Baixar livros de Lnguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemtica Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinria Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Msica Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Qumica Baixar livros de Sade Coletiva Baixar livros de Servio Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo