O 1° e o 2° Wittgenstein
O 1° e o 2° Wittgenstein
O 1° e o 2° Wittgenstein
SUMRIO............................................................................................................................2
INTRODUO....................................................................................................................3
I A PROBLEMTICA FILOSFICA CONTEMPORNEA A WITTGENSTEIN..7
1 .1 AMBIENTE DE CRISES E RE-PROPOSTAS...................................................................8
1. 2 DUAS ESCOLAS, CAMINHOS DIFERENTES................................................................13
1. 3 O CAMINHO EMPREENDIDO POR WITTGENSTEIN....................................................16
II A RESPOSTA DO PRIMEIRO WITTGENSTEIN.................................................19
2.1 OS PRIMEIROS PASSOS..............................................................................................19
2.2 SUA PRIMEIRA OBRA: TRACTATUS............................................................................21
2.2.1 A linguagem e o mundo: teoria da figurao..................................................23
2.2.2 A linguagem lgica e o sentido: teoria da verdade.........................................26
III A RESPOSTA DO SEGUNDO WITTGENSTEIN.................................................29
3. 1 A RUPTURA WITTGENSTEINIANA: SUPERAO DA TRADIO E DO TRACTATUS....30
3. 1. 1 Teorias objetivista e espiritual da linguagem................................................31
3. 1. 2 Crtica teoria objetivista e espiritual da linguagem...................................35
3. 2 JOGOS DE LINGUAGEM: A NOVA IMAGEM DE LINGUAGEM......................................43
3. 2. 1. Os Jogos de linguagem seguem regras gramaticais........................................46
3. 2. 2 Jogos de linguagem resguardam semelhanas de famlia.............................48
3. 3 FORMAS DE VIDA....................................................................................................50
CONCLUSO....................................................................................................................53
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................58
INTRODUO
Partir de um perodo histrico ou de um problema especfico, que possa ser tomado
como origem ltima, ou primeira, de todas as coisas, parece ser a caracterstica
fundamental da metafsica. No entanto, no a marca deste Trabalho de Concluso de
Curso que, alm de pesquisar um autor que combate a metafsica, trabalha uma
problemtica bastante situada num perodo e num contexto. Perodo de virada do sculo
XIX para o XX e no contexto marcado pela concepo filosfica tradicional, que atinge
sua expresso mxima na primeira proposta wittgensteiniana, em oposio a qual o autor
apresenta a segunda proposta que protagoniza toda a reviravolta pragmtica lingstica.
O desenvolvimento dessas duas propostas wittgensteinianas, que procuram oferecer
respostas para um mesmo problema, ocorre no seio do movimento filosfico denominado
Filosofia Analtica. Movimento que, alm de estar em desenvolvimento, surgiu como
resposta ou reao a movimentos j existentes. A problemtica filosfica, prpria desse
perodo, desperta Wittgenstein para a busca das causas de tais problemas a fim de elaborar
possveis propostas de soluo para os mesmos. Nesse empreendimento o pensador
constata que os problemas filosficos seriam causados pela m compreenso dos
enunciados lingsticos. E essa m compreenso dos enunciados estaria estritamente ligada
problemtica da significao da linguagem. A partir da constatao dessa nica
problemtica, Wittgenstein apresenta duas propostas de soluo para a mesma.
Este aceno inicial serve como base para expressar que, a partir do seio da Filosofia
Analtica, ser trabalhado o problema da linguagem e seu significado. Tal problema ser
abordado a partir das duas respostas wittgensteinianas. As mesmas sero apresentadas
como a Primeira resposta de Wittgenstein referente filosofia do Tractatus e,
respectivamente, como a Segunda resposta de Wittgenstein referente Filosofia das
Investigaes Filosficas. Na primeira obra, Wittgenstein defende uma linguagem cujo
princpios bsicos de uma Filosofia equilibrada e madura e, pior que isso, se estaria
negando toda a concepo de Filosofia da Linguagem desenvolvida pelo Segundo
Wittgenstein. De acordo com a concepo filosfica do Wittgenstein das Investigaes,
objetiva-se, nas pginas que seguem, compor um jogo de linguagem, no qual, se possa
compreender o contexto em que Wittgenstein depara-se com o problema da significao da
linguagem e quais as possveis respostas que ele apresenta para tal problema. A partir do
problema da significao buscar-se- a resposta apresentada pelo Primeiro e pelo Segundo
Wittgenstein. Da o ttulo deste trabalho ser: Wittgenstein: Um problema, duas respostas.
I A PROBLEMTICA FILOSFICA
CONTEMPORNEA A WITTGENSTEIN
Os pensadores que deixaram sua colaborao para a histria do pensamento foram
indivduos que conseguiram, de alguma forma, interpretar problemticas vigentes em sua
poca e apresentar possveis respostas.
As escolas filosficas freqentemente surgem da emulao ou imitao de um mestre,
cujo poder de convico consiste na sua colocao de novas questes, e amide tambm
de sua descoberta ou inveno de uma resposta adequada a novos mtodos de
argumentao. 3
3
4
O que se percebe que a cada maneira de conceber Filosofia o autor apresenta uma
resposta, tambm diversa, para a questo do significado. Conforme o comentrio de
Marcondes, isso no significa mudana de problema, mas sim diferentes interpretaes e
respostas ao mesmo problema. O problema da Filosofia da Linguagem torna-se o centro
das discusses filosficas a partir do final do sculo XIX e incio do sculo seguinte. Esse
problema ser aqui abordado luz das duas formas metodolgicas que marcam a Filosofia
wittgensteiniana. As duas formas de respostas a tal problema sero distinguidas como as
respostas do Primeiro Wittgenstein e as do Segundo Wittgenstein. Antes de entrar
propriamente na resposta do Primeiro Wittgenstein, que condio para se chegar ao
Segundo, o qual interessa mais propriamente a este trabalho, ser desenvolvida, como
primeiro captulo, uma contextualizao bsica do movimento filosfico em que
Wittgenstein est radicado, a saber, o Movimento Analtico. Dentro desse movimento ser
focalizada a existncia de duas escolas analticas diversas e o caminho que Wittgenstein
toma em tal diversidade.
[...] muitos sistemas filosficos atuais apresentam pontos comuns com questes que encontramos tambm
em Descartes e Leibniz ou, muito antes, em Plato e Aristteles. Mas, tal aspecto, se fosse considerado
absoluto, forneceria uma imagem errnea da Filosofia atual. Tambm na vida filosfica, de maneira
semelhante ao que se verifica nas cincias tcnicas, ocorrem mudanas que caracterizam a Filosofia de hoje
com o selo da unicidade, e isto no apenas por causa do carter de moderno e, em parte, por causa da
radicalidade das opinies defendidas, que no encontram iguais no passado, mas tambm por causa das
mudanas fundamentais nas problemticas. (STEGMLLER. A Filosofia Contempornea. Vol. I, p. 2).
6
Cf. ARISTTELES. Metafsica. Vol. II, p. 11.
7
SALLES. O Caminho Para a Runa.
da revista oficial do
10
18
Ibid., p. 14.
Ibid., p. 15.
XX. Esta vertente foi desenvolvida pelo Segundo Wittgenstein a partir da dcada de 1930
e, em seguida, pelos filsofos da Escola de Oxford. Ser essa a linha pela qual este
trabalho mais se estender, uma vez que o principal objeto a ser atingido por esta pesquisa
a significao da linguagem do Segundo Wittgenstein, onde se encontra a segunda e
definitiva resposta do autor problemtica de sua poca. Os filsofos da linguagem
ordinria, na sua maioria, defendiam a no modificao pela Filosofia do uso natural ou
ordinrio das expresses, bem como a no-adeso a pressupostos metafsicos sugeridos
pela lgica matemtica25. Para Wittgenstein, a Filosofia deve reconduzir as palavras de sua
aplicao metafsica para sua aplicao cotidiana26. O filsofo deve simplesmente
esclarecer o uso dos significados concretos das expresses da linguagem ordinria.
DAgostini centraliza a origem dos dois movimentos na Filosofia de Frege.
Alm disso, o trabalho de Frege pode ser pensado como base nica do dois movimentos.
Frege foi o ponto de referncia tanto de Russell quanto dos neopositivistas austracos,
alemes, polacos; de outra parte, como acenamos e como sustentou rapidamente
Dummett, Frege antecipou a virada lingstica em todas suas variantes, inclusive o
interesse pela linguagem ordinria e pelos aspectos executivos, pragmticos da
linguagem. 27
25
14
Ludwig Josef Johann Wittgenstein nasceu em Viena, em 26 de abril de 1889, o caula numa famlia de oito
filhos. Seu pai era industrial e um dos homens mais ricos da ustria; a casa de Wittgenstein era um centro de
vida social e cultural vienense. [...]. Seu av paterno era um abastado mercador de l judeu de Hesse que se
convertera ao cristianismo protestante [...]. Seu pai Karl [...] estudou engenharia. Em algumas dcadas
acrescentou uma fortuna sua herana por meio de um bem-sucedido envolvimento com a indstria do ferro
e do ao, estabelecendo-se com um dos mais eminentes industriais do imprio austro-hngaro. [...] Era a me
de Wittgenstein, Leopoldine, quem mais se dedicava a encorajar as atividades culturais e musicais da famlia.
[...] O prprio Wittgenstein era dotado de uma fina sensibilidade musical. [...]. Leopoldine Wittgenstein era
catlica romana e Wittgenstein foi criado nessa crena. A religio permaneceu um tema poderoso por toda a
sua vida (GRAYLING. Wittgenstein, 13; 14).
29
Cf. WUCHTERL. Ludwig Wittgenstein. Anlise lingstica e terapia. In: FLEISCHER (Org.). Histria da
Filosofia. Filsofos do sculo XX, p. 62.
30
O Tractatus Logico-Philosophicus foi publicado pela primeira vez, em 1921, no peridico alemo Annalen
der Naturphilosophie, sob o ttulo Logisch-Philosophische Abhandlung. A edio era precria, com muitos
erros. A primeira edio revista pelo autor foi a inglesa de 1922, com o texto alemo e a traduo inglesa face
a face, assinada por C.K. Ogden, que expressamente divide a autoria com P.F. Ramsey (WITTGENSTEIN.
Tractatus Logico-Philosophicus, p. 9).
31
Sua primeira grande obra, o Tractatus Logio-Philosophicus, contm uma espcie de Filosofia da
Linguagem ideal, tendo sido escrito enquanto ele serviu como voluntrio, durante a Primeira Guerra Mundial
(COSTA. Filosofia Analtica, p. 52).
32
O livro trata dos problemas filosficos e mostra creio eu que a formulao desses problemas repousa
sobre o mau entendimento da lgica de nossa linguagem (WITTGENSTEIN. Tractatus LogicoPhilosophicus, p. 131).
15
possvel falar deles: Por outro lado, a verdade dos pensamentos aqui comunicados pareceme intocvel e definitiva. Portanto, minha opinio que, no essencial, resolvi de vez os
problemas33. Esta afirmao ser melhor estudada no prximo captulo deste trabalho.
Mas, no final da dcada de 1920 e incio da dcada seguinte, estimulado por uma
diferente concepo de fazer Filosofia, Wittgenstein retorna ao cenrio filosfico e, em
contraposio ao antigo modo de pensar, desenvolve uma espcie de Filosofia da
Linguagem ordinria.
Ciente disso e estimulado por uma diferente concepo da maneira como a investigao
filosfica poderia ser exercida, Wittgenstein retornou a Cabridge, onde, nos 21 anos
seguintes, desenvolveu o que poderamos classificar como uma espcie de Filosofia da
Linguagem ordinria. Embora tenha, nesse perodo, escrito intensamente, ele no
publicou praticamente nada, alm do Tractatus. A obra mais importante dessa segunda
fase de sua Filosofia leva o ttulo de Investigaes Filosficas.34
33
Ibid., p. 133.
COSTA. Filosofia Analtica, p. 52.
35
A figurao um modelo da realidade (T. 2.12).
36
A figurao concorda ou no com a realidade; correta ou incorreta, verdadeira ou falsa (T. 2.21). Na
concordncia ou discordncia de seu sentido com a realidade consiste sua verdade ou falsidade (T. 2.222).
A totalidade dos pensamentos verdadeiros so uma figurao do mundo (T. 3.01).
34
16
37
A significao de uma palavra seu uso na linguagem (I.F. 43). Uma palavra s tem significao no
contexto da proposio (I.F. 49).
38
H quatro anos, porm, tive a oportunidade de reler meu primeiro livro (o Tractatus LgicoPhilosophicus) e de esclarecer seus pensamentos. De sbito, pareceu-me dever publicar juntos aqueles velhos
pensamentos e os novos, pois estes apenas poderiam ser verdadeiramente compreendidos por sua oposio ao
meu velho modo de pensar, tendo-o como pano de fundo (WITTGENSTEIN. Investigaes Filosficas, p.
12).
17
II A RESPOSTA DO PRIMEIRO
WITTGENSTEIN
Conforme Tugendhat, uma maneira de filosofar s pode constituir-se enquanto
posio filosfica fundamental na confrontao com concepes anteriores de Filosofia.
Por isso, refletir sobre os fundamentos no seria apenas um ato adicional de autoentendimento, mas uma condio para a autenticidade da Filosofia. Autenticidade que
exige da Filosofia a busca de mtodos e conceitos fundamentais existentes para, a partir
destes, desenvolver outros novos39. Acredita-se que Wittgenstein, embora negue a tradio,
deva ser estudado a partir da problemtica filosfica que marcava o perodo histrico no
qual o autor ensaia seus primeiros passos. Uma vez que, pelo menos suas primeiras teorias,
como so mencionadas neste trabalho, buscam a aproximao com a preciso cientfica
para reconquistar o crdito que a Filosofia havia perdido devido a comportamentos
prprios daquele perodo e dos perodos que o antecediam. Tal caminho, que no percurso
desse empreendimento, marcado tanto pela autonomia como pela dependncia da lgica,
o tema que esse trabalho tratar nas linhas que seguem. Tema que no decorrer de todo o
trabalho regido pela busca do significado da linguagem em Wittgenstein.
primeira resposta wittgensteiniana para, ento, chegar segunda resposta do autor, situada
nos jogos de linguagem e nas formas de vida do Segundo Wittgenstein. Para tanto, est-se
percorrendo o caminho aberto pelo autor, levantando a problemtica de sua poca,
passando pela sua primeira resposta a tal problemtica, no intuito de acompanhar e
compreender o desenvolvimento de suas respostas.
Para refazer tal percurso, inicialmente, sero vistos alguns dados que influenciaram
o modo de pensar do autor, para depois passar s principais afirmaes contidas no
decorrer da obra investigada. Feito isso, o estudo centralizar-se- nas duas principais
teorias do Tractatus, a saber, a teoria da figurao e a teoria da verdade que so as colunas
da primeira resposta do autor. A teoria da figurao gira em torno da relao existente entre
o mundo, o pensar e o falar40. Tal figurao ocorre em dois momentos. Primeiro o mundo
transformado em pensamento e depois em expresso lingstica. Aqui mundo e linguagem
possuem a mesma estrutura interna e externa. A teoria da verdade, como no poderia ser
muito diferente, preocupa-se com a verdade ou falsidade das proposies. Aqui existem
proposies complexas e proposies elementares. As complexas so verdadeiras quando
so verdadeiras as proposies elementares que as compem 41 e, as elementares so
verdadeiras quando representam com autenticidade um estado de coisas que existe42.
A obra que introduz a ao de Wittgenstein no campo da Filosofia Analtica o
Tractatus, publicado em 1921, durante a Primeira Guerra Mundial, da qual Wittgenstein
participou servindo o exrcito austraco. No subitem que segue, sero estudados alguns
traos caractersticos da obra e o problema que implica diretamente a busca empreendida
por esta monografia, a saber, o problema do sentido da linguagem. Tal problema ser visto
a partir da teoria da figurao (2.2.1) e da teoria da verdade (2.2.2). A primeira
dependente da relao entre nome e objeto, a segunda depende da verdade das proposies
elementares.
40
Na figurao e no afigurado deve haver algo de idntico, a fim de que um possa ser, de modo geral, uma
figurao do outro (T. 2.161).
41
A proposio uma funo de verdade das proposies elementares (T. 5). A proposio a expresso
da concordncia e discordncia com as possibilidades de verdades das proposies elementares (T. 4.4).
42
verdadeira a proposio elementar, ento o estado de coisas existe; falsa a proposio elementar, ento
o estado de coisas no existe (T. 4.25). As possibilidades de verdade das proposies elementares
significam as possibilidades de existncia e inexistncia dos estados de coisas (T. 4.3).
19
Nessa passagem, o autor resume a proposta de sua obra. A partir dessa concepo,
ele defende, at o final do Tractatus, a teoria de que s pode ser dito algo sobre aquilo do
qual se pode sentenciar claramente. Fiel a essa afirmao, no final do mesmo prefcio, com
teor de quem atingiu o resultado, Wittgenstein diz ter resolvido todos os problemas: A
verdade dos pensamentos aqui comunicados parece-me intocvel e definitiva. Portanto,
minha opinio que, no essencial, resolvi de vez os problemas. 46 Essa afirmao a
expresso mxima de quem seguiu uma proposta e obteve, de maneira satisfatria, o
resultado buscado. Quem continua a leitura depara-se com um Tractatus, que no tem
notas de rodap e quase no cita pensadores clssicos, o que pode gerar interpretaes de
um Wittgenstein claramente arrogante e prepotente. A verdade que detalhes desta ltima
afirmao sero assuntos deixados para outras pesquisas; no so tema deste trabalho.
O que bastante clara, embora no seja o objeto principal deste trabalho, a
sistematicidade e rigorosidade na numerao que acompanha a forma caricatural desta
obra. As frases que so as proposies lapidares 47, em nmero de sete, recebem
numeraes prprias. Essas frases, com suas devidas numeraes, sero aqui apresentadas
com os comentrios de Cond, que tenta esmiuar a idia central de cada frase ou de cada
conjunto delas. Esta interpretao pode at ser um tanto unilateral, mas no foi encontrado
43
20
outro autor que apresentasse uma anlise com semelhante sistematicidade, atravs da qual
fosse possvel confrontar as argumentaes, que assim se apresentam:
1 O mundo tudo que o caso.
2 O que o caso, o fato, a existncia de estados de coisas.
Estas duas proposies tratam da concepo ontolgica do Tractatus, na qual o
mundo no concebido como a totalidade das coisas, mas sim, dos fatos, sendo um fato a
subsistncia de estados de coisas.
3 A figurao lgica dos fatos o pensamento.
A terceira proposio versa sobre a teoria do conhecimento, na qual o pensamento
concebido como uma figurao lgica dos fatos.
4 O pensamento a proposio com sentido.
5 A proposio uma funo de verdade das proposies elementares.
6 A forma geral da funo de verdade ...(a reduo de todos os processos da
lgica negao).
Da quarta sexta proposio abordada a estrutura da linguagem, mesmo que ela
venha em primeiro plano para Wittgenstein. No Tractatus, a linguagem colocada em
termos de uma figurao ou imagem do mundo. Mesmo que a preocupao central do
Tractatus seja a linguagem, a obra inicia abordando a questo ontolgica, ou seja, a
concepo de mundo.
7 Sobre aquilo que no se pode falar, deve-se calar.
A stima proposio carrega uma perspectiva transcendental de inspirao
kantiana48. Da mesma forma que em Kant, a tentativa estabelecer um limite ao
conhecimento no sentido de definir o que posso conhecer. Em Wittgenstein tal tentativa
visa estabelecer um limite ao pensamento e linguagem. Ambos partem de um objeto de
anlise e procuram estabelecer suas condies de possibilidade. Em Kant o objeto de
anlise so os juzos sintticos a priori, em Wittgenstein a proposio. O Tractatus
pergunta e tenta responder como possvel a proposio? No entanto, Wittgenstein,
contrariamente a Kant, rejeita qualquer possibilidade de proposies sintticas a priori49.
Boa parte da obra destina-se a levar adiante os trabalhos sobre lgica e Matemtica
fundamental de Frege e Russell. Este trabalho investigar a primeira resposta
wittgensteiniana, da qual composto o Tractatus, a partir da diviso comum na anlise de
48
49
21
tal obra, segundo a qual a obra composta de duas grandes e principais teorias: a teoria da
figurao e a teoria da verdade.
2.2.1 A linguagem e o mundo: teoria da figurao
Frege e Russell tentam fortalecer a Matemtica para que ela se torne o fundamento
de todas as coisas, mas caem em contradies internas, que no sero abordadas aqui.
Wittgenstein, por sua vez, busca uma soluo para a questo dos fundamentos da Filosofia,
por meio de suas descobertas lgicas e gnosiolgicas. Mas o importante que ele colocou
a linguagem no centro de suas investigaes. Essa uma das caractersticas da Filosofia
Analtica50. Mas aqui, Wittgenstein no trata apenas de linguagens matemticas, lgicas e
cientficas, como Frege ou Russell. Ele pergunta pelas condies de possibilidade da
linguagem. Para isso desenvolve a teoria da figurao. As explicaes indicativas apontam
para elementos da realidade.
Antes de descrever a teoria da figurao vlido relembrar que a questo
fundamental de toda a Filosofia wittgensteiniana a linguagem e o pensamento e este
trabalho busca entender a linguagem e a significao em Wittgenstein. No Tractatus, como
foi visto, sua inteno fundamental estabelecer com clareza a distino entre aquilo que
realmente pode ser dito e aquilo do qual logicamente nada se pode dizer. Aqui, segundo
Oliveira, a linguagem continua exercendo uma funo ocidental51. Funo designativoinstrumentalista-comunicativa, segundo a qual a linguagem reduzida condio de
instrumento que se equipara ao mundo para poder, a partir da isomorfia 52 existente entre
ambos, dizer do mundo. Aqui a linguagem continua sendo um simples instrumento de
comunicao.
Para Wittgenstein, a linguagem figura o mundo e, o mundo, segundo o Tractatus,
a totalidade dos fatos, no das coisas. Os fatos seriam as estruturas complexas, enquanto as
coisas seriam simples. Para Wittgenstein, nomes desconexos, fragmentados, tornar-se-iam
coisas e no teriam denotao. S no contexto de uma proposio os nomes possuiriam
denotao. possvel relacionar a proposio como fato e os nomes como coisas, para
ilustrar que a totalidade dos fatos (proposies) que interessam para Wittgenstein e no
50
Cf. WUCHTERL. Ludwig Wittgenstein. Anlise lingstica e terapia. In: FLEISCHER (Org.). Histria da
Filosofia. Filsofos do sculo XX, p. 64.
51
Cf. OLIVEIRA. Reviravolta Lingstico-Pragmtica, p. 95.
52
Significa mesma forma.
22
das coisas (nomes). Qualquer palavra, s possui denotao quando expressa como parte de
uma frase.
Assim sendo, o sentido de uma frase no conferido pela associao de sentido
contido nas palavras que a formam. Nome e palavra aqui so a mesma coisa, nomes
formam proposies, palavras formam frases. Os nomes (palavras) no possuem sentidos,
eles s possuem denotao. Por isso, o sentido das palavras conferido na frase na qual
esto includas. S a proposio tem sentido; s no contexto da proposio que um
nome tem significado (T. 3.3). Aqui, a novidade, em relao tradio, que se passa a
priorizar a frase (proposio) ao invs das palavras (nomes) independentes. Agora a
perspectiva da relao est em primeiro plano. O que no significa que para as proposies
terem sentido no seja necessrio que os nomes possuam, antes, a possibilidade de
denotarem objetos. O nome substitui, na proposio, o objeto (T. 3.22). Aqui entra o
atomismo de Wittgenstein. Uma proposio s tem sentido se os nomes contidos nela
puderem, em princpio, estabelecer com os objetos do mundo uma relao. Quando isso
no acontece, as proposies resultam em falsidade.
Conforme Oliveira, importante ter claro que Wittgenstein traduz o mundo como
fato.53 Por isso, distingue a categoria fato da categoria estado de coisas. Em tal
distino, possvel dizer que o fato seria um estado de coisas existente, enquanto
estado de coisas seria meramente possvel.
A estrutura do fato consiste nas estruturas dos estados de coisas (T. 2.034). A
estrutura no um objeto, mas um tipo de configurao de objetos que s existem num
estado de coisas existente, num fato. O mundo, como conhecido, assim constitudo,
porque os objetos assim se relacionam no interior dos estados de coisas. Assim sendo,
parece possvel afirmar que se os mesmos objetos se relacionassem de formas diferentes,
diferentes estados de coisas, fatos e conseqentemente mundos seriam possveis.
A partir da teoria da figurao percebe-se que o problema fundamental de
Wittgenstein a relao existente entre o mundo e o pensar. Ele compreende essa relao
como figurao. Seria uma adequao entre o pensar e o real. Mas, dessa adequao,
podem surgir questes como: em que sentido e at quando o real corresponde ao pensar?
possvel pensar uma correspondncia entre dois campos diversos? A teoria da figurao
pretende ser uma resposta a tais questes.
53
23
24
Para Wittgenstein, tudo o que se pode dizer do mundo objeto das cincias
naturais, as quais podem formular claramente seus conhecimentos. Da lgica no se pode
dizer nada, porque para dizer dela necessrio que se esteja fora dela e todo o dizer, que
diz, diz de dentro de uma forma lgica.
57
58
25
Sabe-se que a nica obra filosfica publicada por Wittgenstein foi o Tractatus, em 1921. Todas as outras
publicaes, que abrangem umas trinta mil pginas at hoje no foram integralmente publicadas (Cf.
WUCHTERL. Ludwig Wittgenstein. Anlise lingstica e terapia. In: FLEISCHER (Org.). Histria da
Filosofia. Filsofos do sculo XX, p. 62). Wittgenstein escreveu, entre 1932 e 1934, um grade manuscrito que
s foi publicado, em ingls, em 1974 e em portugus em 2002. Esta obra, intitulada Gramtica Filosfica
seria de suma importncia para este trabalho, uma vez que um de seus temas aborda diretamente o sentido da
proposio (Cf. GRAYLING. Wittgenstein, p. 87).
26
60
27
29
Nas Investigaes Filosficas, como diz Oliveira, parece ser feita uma espcie de
reflexo em voz alta. Aqui difcil encontrar um fio condutor. Mais parece uma
apresentao desordenada de idias. O que dificulta a inteligibilidade e interpretao da
mesma. Deixando a impresso de ser uma reao primeira fase, aqui o pensamento de
Wittgenstein exposto de maneira bem anti-sistemtica. Isso faz com que a interpretao
do Segundo Wittgenstein, alm de no ser fcil, necessite ser conduzida de acordo com
uma linha cuidadosa, para que possibilite responder, pelos menos em parte, s finalidades
de cada pesquisa. Conforme Oliveira, interpretar essa fase de Wittgenstein ir contra ele
mesmo, uma vez que necessrio sistematizar o pensamento que por ele no foi
sistematizado e at deixa transparecer uma antipatia com uma possvel sistematizao. Este
trabalho incorrer na necessidade de andar, de certa forma, na contra-mo de
Wittgenstein. Pois se trata aqui de tentar explicitar, de maneira inteligvel, a superao do
antigo modo de conceber a linguagem e, principalmente, o novo significado de linguagem
para Wittgenstein.
Isso desafia o prprio trabalho a no perder de vista a problemtica que o mesmo
aborda, sob risco de incorrer na mesma falta de sistematizao e clareza da apresentao
do pensamento do Segundo Wittgenstein. Tal forma de conduta exige uma slida
delimitao do problema, o que pode fazer com que a pesquisa parea limitada por uma
camisa de fora. Por isso, ser aqui dada continuidade descrio da teoria da
linguagem, que o problema central de toda esta pesquisa. A pesquisa centrar-se- agora
no problema lingstico visto a partir de sua concepo objetivista e espiritual. Tal teoria
ser abordada contrapondo a antiga com a nova concepo de linguagem.
3. 1. 1 Teorias objetivista e espiritual da linguagem
A teoria da linguagem tradicional, agora combatida veementemente por
Wittgenstein, aqui apresentada em duas concepes. A primeira delas bem explcita, no
captulo anterior, no qual foi abordada a linguagem no Tractatus. Refere-se concepo de
linguagem como simples designadora de objetos. Por isso, concepo objetivista. A
segunda concepo a ser combatida, tambm encontrada no Tractatus, a concepo que
defende a existncia de uma dimenso espiritual presente na linguagem. Tal dimenso teria
a funo de conferir significado ao ato de falar.
30
3. 1. 1. 1 Concepo objetivista
A concepo instrumentalista da linguagem reduz a mesma mera funo
designativa. Conforme Oliveira, desde o Crtilo, de Plato, a linguagem considerada
como instrumento secundrio do conhecimento humano 63. A relao existente entre o
mundo e a linguagem seria uma relao de carter designativo. O significado das palavras
seria relativo capacidade que as palavras teriam em designar objetos. Esta concepo
tradicional, segundo a qual, para saber a significao de uma palavra qualquer seria
necessrio saber o que por ela era designado; Wittgenstein chama de concepo
agostiniana64. Nesta concepo, a linguagem vista como uma mediao necessria. A
linguagem exerce aqui a funo de comunicar o que j conhecido sem a linguagem. Ela
simplesmente possibilitaria comunicar o resultado do conhecimento humano. E nunca, nem
na tradio, nem no Tractatus, era condio que possibilitasse o conhecimento humano.
Conforme Oliveira, mesmo que no Tractatus tente-se negar, implicitamente Wittgenstein
teria, naquela obra, tambm aceitado a tese tradicional do carter secundrio designativo da
linguagem humana.
O que no significa que a partir daqui Wittgenstein negue o carter designativo da
linguagem. Como ele j fazia no Tractatus, ele repudia o exagero da tradio que concebe
a designao como principal e at como nica funo da linguagem. Para o Segundo
Wittgenstein essa concepo de linguagem, como designao, faz parte da linguagem.
Contudo, no a linguagem. A linguagem tambm isso, mas mais que isso. Segundo o
Tractatus (Teoria da Figurao), a linguagem esgotar-se-ia, atingiria seu ponto mximo,
ideal, no momento que ela conseguisse reproduzir com absoluta exatido a estrutura
ontolgica do mundo. Tal linguagem buscaria nada mais que atingir a preciso absoluta do
carter designativo das palavras. Mas para isso vai alm da dimenso corporal sensvel.
Busca uma fundamentao transcendental. Apresenta o humano como algum composto de
um corpo que articula a fala e um esprito que confere significado a tal fala, o que resulta
no dualismo epistemolgico e antropolgico que ser abordado num dos itens seguintes
deste trabalho.
63
64
31
3. 1. 1. 2 Concepo espiritual
O problema aqui mais enraizado do que se possa, num primeiro contato, imaginar.
Conforme Oliveira, a concepo tradicional da linguagem carrega a herana das
concepes antropolgicas tradicionais. A tradio antropolgica sempre se preocupou em
estabelecer no mundo os lugares e as caractersticas de cada ente segundo a sua essncia.
Para tal tradio, definir o homem significa distingui-lo dos outros entes, bem como definir
sua linguagem significa distingui-la de outras linguagens; da dos animais, por exemplo.
Como os animais, bem como outros entes, tambm produzem sons, o que tornaria a
linguagem humana propriamente humana no poderia estar no plano do puramente fsico.
O que transformaria o puro som em linguagem humana seria o fato de o pensamento
humano ser um ato do esprito. O pensar seria uma atividade espiritual, tanto quanto o falar
uma atividade corporal. Esta atividade espiritual, que s o ser humano possui, seria o que
conferiria significao ao ato do falar humano.
possvel dizer que, conforme Wittgenstein, a linguagem humana tradicional se
diferenciaria da linguagem de outros animais por ser composta de duas dimenses:
a) atos corpreos de produo de sons;
b) atos corpreos acompanhados por atos espirituais que lhe conferem significao.
Esses atos espirituais seriam privados e s seu produtor teria acesso a eles. Tais atos
possibilitariam a linguagem humana, enquanto humana, sendo eles objeto de vivncias
individuais, sujeitos vontade dos indivduos que os produziriam65.
O ato de dar significado, bastante falado nas Investigaes Filosficas, teria como
principal funo, a concesso de sentido ao falar. Com isso, fazer com que o fenmeno
fsico ultrapasse o plano fsico e atinja o plano da significao. E, para a teoria tradicional
da linguagem, a significao das palavras provm de um ato subjetivo e interior ao esprito.
Aqui, depara-se com o problema da possibilidade da comunicao interpessoal. Para que
haja realmente comunicao entre dois indivduos necessrio que haja uma conveno
entre os interlocutores para que o receptor consiga compreender o significado daquilo que
o emissor est tentando significar. Compreender apropriar-se da essncia de algo. o
evento espiritual de posse de determinado sentido. Uma vez captado o sentido, o indivduo
se pe em condies de provar se est empregando as palavras de modo justo, se elas se
adaptam s diversas circunstncias em questo (I.F. 140). a compreenso que
possibilita utilizar de maneira correta as palavras.
65
32
Tanto a ordem como a previso que se tem em mente so atos que se dirigem a seus
objetivos independentes de sua existncia ou no. So atos intencionais que produzem seus
prprios objetos. O desejo parece j saber o que o satisfaz ou satisfaria; a frase, o
pensamento parecem saber o que os torna verdadeiros, mesmo quando isso no se faz
presente! Se algum pudesse ver a expectativa, o processo espiritual, deveria ver o que
esperado (I.F. 437,452). A mesma coisa acontece em referncia s recordaes. Mas
voc no pode negar que, por exemplo, ao recordar, ocorre um processo interior. Quando
se diz ocorre a um processo interior, - quer-se acrescentar: voc o v. E pois a este
processo interior que nos referimos com a palavra recordar-se (I.F. 305). Aqui a
recordao presentifica o passado e responsvel no processo de comunicao
intersubjetiva.
S que estas recordaes, ordens e previses, por serem frutos do ter em mente, so
frutos de um ato privado e, portanto, como diz Apel, incorrem em um solipsismo
epistemolgico66. A filosofia tradicional da linguagem abstrai de sua sociabilidade o carter
constitutivo dessa sociabilidade. A comunidade concreta no exerce nenhuma funo na
constituio desta linguagem, apenas no seu uso. Por isso que para o Segundo
Wittgenstein, a tradio tem uma concepo subjetiva e individualista da linguagem,
porque considera as convenes e regras lingsticas como dados imediatos da intuio do
sujeito falante e no como uma construo socializada.
Nesta segunda fase, Wittgenstein repudia a concepo individualista do
conhecimento e da linguagem e o dualismo epistemolgico e antropolgico. Ao lado de
Heidegger, torna-se um dos grandes crticos da Filosofia da subjetividade. Como pano de
fundo do pensamento de Wittgenstein esto os pressupostos que fundamentam a sua
66
33
concepo de Filosofia que deve tratar as questes filosficas como se trata uma doena
(I.F. 255). A causa principal das doenas filosficas a atitude de alimentar o
pensamento apenas com uma espcie de exemplos (I.F. 593). Enquanto a Filosofia deve
resolver os problemas por meio da combinao do que j conhecido, sem desenvolver
nenhuma espcie de teoria. No deve haver nada de hipottico nas consideraes. Toda a
explicao deve desaparecer e ser substituda apenas por descrio (I.F. 109). Aqui a
inteno no criar regras nem complementar nada. A inteno fazer com que os
problemas filosficos desapaream completamente (I.F. 133). E isso no se faz por meio
da elaborao de teorias e hipteses (I.F. 10). Mas simplesmente mostrando o verdadeiro
emprego das palavras. A Filosofia apenas constata o que ocorre (I.F. 126). Aqui o que
importa ver, no demonstrar, fundamentar. A Filosofia deixa tudo como est (I.F. 124).
A Filosofia no deve, de modo algum, tocar no uso efetivo da linguagem (I.F. 124). A
Filosofia simplesmente coloca as coisas, no elucida nada e no conclui nada uma vez
que o que interessa no est oculto, encontra-se vista (I.F. 126). A Filosofia uma
recordao do uso das palavras, uma considerao gramatical (I.F. 90). O mtodo da
explicao substitudo por um mtodo por meio de exemplos (I.F. 133). Assim sendo, a
Filosofia no a tematizao do a priori, mas um mtodo a posteriori.
Wittgenstein situa o homem e seu conhecimento no processo de interao social. A
relao entre conhecimento e ao, linguagem e prxis considerada a constituidora do
conhecimento e da linguagem humana.
3. 1. 2 Crtica teoria objetivista e espiritual da linguagem
Como apresentado at aqui, as concepes objetivista e espiritual da linguagem,
que fazem parte da Filosofia tradicional e da primeira obra wittgensteiniana, que tinha
pretenso de ter oferecido a resposta definitiva a todos os problemas, ressurgem povoadas
de inmeras interrogaes, limitaes e parcialidades. O Segundo Wittgenstein combate e
destri concepes que aqui se apresentam como problemticas e que acompanharam um
longo trajeto da concepo de linguagem em Filosofia. Tais como o essencialismo e o
subjetivismo, que reduziram a linguagem a um patamar secundrio parcial e instrumental.
Nos dois sub-itens, que seguem aps este, abordar-se-, num primeiro momento a
parcialidade da concepo instrumentalista, segundo a qual a linguagem seria reduzida a
um simples instrumento de comunicar aquilo que conhecido por outros vieses, menos
pela linguagem. Num segundo momento, ser possvel acompanhar, resumidamente, a
34
35
problema do esclarecimento dos conceitos, para que a linguagem deixe de ser a origem de
mal-entendidos, continua no centro da Filosofia wittgensteiniana, mas, nessa obra,
superada a concepo da figurao que, no Tractatus, se dava de maneira isomrfica, para
a qual a linguagem comportava de maneira essencialista uma necessidade de buscar no
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68
36
Nesta sua segunda resposta, Wittgenstein tenta provar que a afirmao tradicional
de que h algo comum no passa de uma idia que no resiste a um exame dos fatos. Na
realidade, h semelhanas e parentescos entre os diversos tipos de jogos. Eles no possuem
uma propriedade, mas elementos que se interpenetram. Por isso, o uso das palavras no
tm fronteiras definitivas. Como foi visto, para a tradio ocidental, a definio de algo
significa o seu lugar e o seu fim no mundo real, suas fronteiras e seus limites, e isso era
definitivo. Aqui a significao dos conceitos universais no unitria. No permanece
necessariamente onde est hoje. possvel ser aplicada em novos e diferentes casos. A
significao da palavra no mais est estabelecida de modo definitivo:
Quando se diz: Moiss no existiu, isto pode significar diferentes coisas. Pode
significar: os israelitas no tiveram nenhum chefe quando deixaram o Egito ou: no
existiu nenhum homem que tivesse realizado tudo o que a Bblia narra de Moiss ou
etc., etc. Segundo Russell, podemos dizer: o nome Moiss pode ser definido por meio
de diferentes descries. Por exemplo, como: o homem que guiou os israelitas atravs do
deserto, o homem que viveu naquele tempo e naquele lugar e que naquela poca foi
chamado Moiss, ou o homem que em criana foi retirado do Nilo pela filha do Fara,
etc. E, dependendo da definio que consideremos, a frase Moiss existiu recebe um
sentido diferente, e do mesmo modo qualquer outra frase que se refira a Moiss (I.F.
79).
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38
contextos em que estas palavras ocorrem. o uso que decide a significao das expresses
lingsticas. Todo o signo sozinho parece morto. [...] No uso, ele vive (I.F. 432). [...] a
significao de uma palavra seu uso na linguagem (I.F. 43). S se pode entender a
linguagem humana a partir do contexto em que os humanos se comunicam entre si.
Aprender uma linguagem significa um certo ajustamento, uma capacitao de domnio de
uma tcnica (I.F. 30). Cada situao exige um ajustamento especfico.
Cada prtica lingstica exige uma adaptao. Toda a prtica lingstica tem um
sentido em si mesma. Em si ela perfeita. Ela tem o sentido em si mesma e no necessita
buscar tal sentido em algo transcendental (linguagem ideal). Ao invs de apelar para uma
linguagem ideal, para conhecer a linguagem basta observar o funcionamento da linguagem
concreta dos humanos. O papel da Filosofia descrever os diferentes usos da linguagem,
sem tentativas de justificao ou explicao. Ela deve apenas ver e deixar tudo como . A
Filosofia no deve, de modo algum, tocar no uso efetivo da linguagem; em ltimo caso,
pode apenas descrev-lo. Pois tambm no pode fundament-lo. A Filosofia deixa tudo
como est (I.F. 124). Os problemas filosficos surgem quando os filsofos resolvem dar
explicaes e abusam da linguagem. Por isso, que a Filosofia no deve ir alm de
descrever o que acontece. Sua funo deve ser teraputica.
No devemos construir nenhuma espcie de teoria. No deve haver nada de hipottico nas
nossas consideraes. Toda explicao deve desaparecer e ser substituda apenas por
descrio. E esta descrio recebe sua luz, isto , sua finalidade, dos problemas
filosficos. Estes problemas no so empricos, mas so resolvidos por meio de um
exame do trabalho de nossa linguagem e de tal modo que este seja reconhecido: contra o
impulso de mal compreend-lo. Os problemas so resolvidos no pelo acmulo de novas
experincias, mas pela combinao do que j h muito tempo conhecido. A Filosofia
uma luta contra o enfeitiamento do nosso entendimento pelos meios da nossa linguagem
(I.F. 109).
39
70
O termo ter-em-mente, como pode ser visto na anlise de Spaniol, carregado de um sentido e uma
significao de relevada importncia e implicao no entendimento, principalmente, do Segundo
Wittgenstein. S este tema seria de suficiente importncia para o desenvolvimento de um trabalho como este
que se est apresentando. A conscincia de tal importncia implica na conscincia de que a abordagem deste
termo carecer aqui de maior aprofundamento. O que, infelizmente, deixar a desejar na qualidade deste
trabalho, mas por hora, no se tem flego para abordar este item altura que ele merece (Cf SPANIOL.
Filosofia e Mtodo no Segundo Wittgenstein, p. 54).
40
41
O uso cotidiano das expresses, nas diferentes situaes e contextos em que elas
acontecem, conduz Wittgenstein a formular a noo de jogos de linguagem. Conforme
Cond, as Investigaes abandonam a concepo de linguagem como clculo para
adotarem a concepo de linguagem como um jogo, abrangendo, com isso, o aspecto
pragmtico presente na linguagem. A noo de jogo de linguagem envolve o todo das
atividades que esto ligadas s expresses. Chamarei tambm de jogos de linguagem o
conjunto da linguagem e das atividades com as quais est ligada (I.F. 7). Os jogos de
linguagem so mltiplos e variados. S possuem em comum certas semelhanas de famlia.
Eles esto aparentados entre eles de diversas e diferentes formas e este parentesco que os
possibilita serem denominados jogos de linguagem (I.F. 65-67).
No entanto, o autor no perde de vista sua problemtica bsica. Sua reviravolta no
atinge a pergunta pelo significado das expresses. O problema que o inquieta e para o qual
71
42
ele oferece uma primeira resposta lgica e uma segunda resposta prtica, segue o mesmo
do incio ao fim de sua Filosofia. O que muda nas Investigaes a metodologia da
pergunta, mas o objeto de sua preocupao o mesmo. Wittgenstein critica agora a teoria
objetivista da linguagem na qual inclui-se o Tractatus. Combate, tambm, a funo
afigurativa da linguagem, para a qual a mesma seria uma cpia fiel dos fatos no mundo.
L, a Filosofia enquanto anlise da linguagem tinha uma ntima relao com a essncia do
mundo, embora no pudesse exprimi-la em frases.
Aqui possvel afirmar que Wittgenstein nega-se a formular, pelo menos
sistematicamente, teorias. Teorias filosficas passariam a ser frutos de desconhecimentos
do funcionamento da linguagem. O que se deve fazer agora no especular sobre a
linguagem para buscar sua estrutura ou essncia. Deve-se agora observar como a
linguagem funciona, como usamos as palavras. Por isso, agora no se fala de nova teoria
da linguagem, mas de nova imagem.
A linguagem agora uma atividade humana como andar, passear, colher... Aqui o
conceito de linguagem est muito prximo do conceito de ao. A linguagem chega a ser
considerada uma ao. No mais separada a considerao da linguagem da considerao
do agir humano ou a considerao do agir no mais ignora a linguagem. A linguagem
sempre realizada em contextos de ao bem diversos e s pode ser compreendida a partir
do horizonte contextual em que est inserida. A funo de tal linguagem, que passa a ser
um jogo, depende sempre de cada determinada forma de vida em que acontecem tais jogos.
A categoria jogos de linguagem o centro da nova imagem de linguagem
wittgensteiniana. S que ele no define o que um jogo de linguagem. Mais que isso,
segundo sua nova maneira de pensar, tal definio torna-se impossvel. No segundo
pargrafo das Investigaes o autor chega, no mximo, a apresentar um exemplo do que
pode ser um jogo de linguagem.
Aquele conceito filosfico da significao cabe bem numa representao primitiva da
maneira pela qual a linguagem funciona. Mas, pode-se tambm dizer, a representao
de uma linguagem mais primitiva que a nossa. Pensemos numa linguagem para a qual a
descrio dada por Santo Agostinho seja correta: a linguagem deve servir para o
entendimento de um construtor A com um ajudante B. A executa a construo de um
edifcio com pedras apropriadas; esto mo cubos, colunas, lajotas e vigas. B passa-lhe
as pedras, e na seqncia em que A precisa delas. Para esta finalidade, servem-se de uma
linguagem constituda das palavras cubos, colunas, lajotas, vigas. A grita essas
palavras; - B traz as pedras que aprendeu a trazer ao ouvir esse chamado. Conceba isso
como linguagem totalmente primitiva (I.F. 2).
43
72
44
Para Wittgenstein, gramtica pode significar regras do emprego de uma palavra, mas tambm pode
significar o complexo das regras que constituem uma linguagem, ou ainda, as significaes dadas dessas
regras (Apud. OLIVEIRA. Reviravolta Lingstico-Pragmtica, p. 141).
74
Cf. GLOCK. Dicionrio: Wittgenstein, p. 194.
75
Cf. Ibid., p. 197.
45
No pode ser que apenas uma pessoa tenha, uma nica vez, seguido uma regra. No
possvel que apenas uma nica vez tenha sido feita uma comunicao, dada ou
compreendida uma ordem, etc. Seguir uma regra, fazer uma comunicao, dar uma
ordem, jogar uma partida de xadrez so hbitos (costumes, instituies) (I.F. 199).
76
Acredita-se que o aprendizado da linguagem consiste no fato de que se d nomes aos objetos: homens,
formas, cores, dores, estados de esprito, nmeros, etc. Como foi dito, - o denominar algo anlogo a pregar
uma etiqueta numa coisa. Pode-se chamar isso de preparao para o uso de uma palavra (I.F, 26).
77
Cf. OLIVEIRA. Reviravolta Lingstico-Pragmtica, p. 142.
78
Cf. Ibid., p. 141.
46
Tal rejeio significa a considerao dos diferentes usos das palavras e a descoberta
de caractersticas semelhantes e parentescos. O que Wittgenstein chama de semelhanas de
famlia.
3. 2. 2 Jogos de linguagem resguardam semelhanas de famlia
Como foi visto, os jogos de linguagem so mltiplos e variados. S possuem em
comum certas semelhanas de famlia. Esto aparentados entre eles de diversas e diferentes
formas e este parentesco que os possibilita serem denominados jogos de linguagem (I.F.
65-67). Tal parentesco ou semelhana no pode ser confundido com a essncia invarivel
do Primeiro Wittgenstein. Aqui, no se postula a identidade das semelhanas. As
semelhanas podem variar dentro de um determinado jogo de linguagem ou ainda de um
jogo de linguagem para outro, ao passo que no Tractatus a essncia era a mesma em todos
os contextos lingsticos.
Os jogos de linguagem comportam uma rede de aes e significaes que podem
mudar completamente de um jogo de linguagem para outro. Neste sentido, d at para
dizer que no h algo em comum a todos os jogos. Para enfatizar a no existncia de uma
unicidade invarivel de um jogo de linguagem para outro, possvel dizer que o que um
jogo de linguagem possui em relao a outros uma certa analogia. Para um jogo ser
considerado jogo, basta que tenha apenas uma semelhana ou caracterstica comum de um
jogo para outro, sem haver a necessidade de que tal semelhana ou caracterstica seja a
mesma em todos os jogos.
Considere, por exemplo, os processos que chamamos de jogos. Refiro-me a jogos de
tabuleiro, de cartas, de bola, torneios esportivos, etc. O que comum a todos? No diga:
Algo deve ser comum a eles, seno no se chamariam jogos, - mas veja se algo
comum a eles todos. Pois, se voc os contempla, no ver na verdade algo que fosse
comum a todos, mas ver semelhanas, parentescos, e at toda uma srie deles (I.F.
66).
47
48
idias principais, de tal concepo, essa pesquisa monogrfica apresenta no item que
segue.
3. 3 Formas de vida
Nas Investigaes, os jogos de linguagem esto diretamente relacionados com as
formas de vida. O uso que Wittgenstein faz do termo forma de vida enfatiza o
entrelaamento entre cultura, viso de mundo e linguagem 79. Os jogos de linguagem so
sustentados pelo contexto da vida80. A forma de vida seria como que a totalidade das
atividades comunitrias em que esto imersos os jogos de vida. A linguagem emerge de
uma forma de vida. [...] representar uma linguagem significa representar-se uma forma de
vida (I.F. 19). Para Wittgenstein, todo o contexto que envolve uma atividade lingstica
de suma importncia para a compreenso de tal atividade.
Para o reconhecimento e o emprego significativo de sentidos da linguagem deve, por
conseguinte, existir uma situao global, uma espcie de forma lingstica de vida, um
contexto, a partir do qual so exclusivamente compreensveis os significados que so
aprendidos e depois transmitidos. 81
49
de vida. A cada forma de vida existente ou a cada contexto prtico lingstico, corresponde
um jogo de linguagem. Como h inmeros jogos de linguagem, h tambm incontveis
formas de vida.
De acordo com as citaes, acima apresentadas, possvel afirmar que o termo
forma de vida, embora intrinsecamente ligado ao termo jogo de linguagem, seria de carter
mais geral e elementar que o termo jogo de linguagem. Seria como que algo relacionado ou
parte da histria natural. Histria natural aqui contemplaria dois aspectos. O primeiro deles
ressaltaria a dimenso biolgica e cultural presente nas formas de vida. O segundo
ressaltaria o problema da fundamentao82, que no abordado por este trabalho. Foi visto
que a noo de jogos de linguagem nega qualquer forma de essncia ou fundamento
ltimo. A forma de vida seria a encarregada de constituir ou oferecer o lugar onde a
linguagem se assentaria. A forma de vida seria o abrigo da linguagem. [...] o falar da
linguagem uma parte de uma atividade ou de uma forma de vida (I.F. 23), tanto quanto
o andar, comer, beber, jogar (I.F. 25).
A forma de vida a base ltima da linguagem. O que pode implicar a pergunta
sobre possibilidade ou necessidade de existir ou no um fundamento ltimo tambm para
garantir a forma de vida. No entanto, para Wittgenstein a forma de vida algo dado 83 de
onde tudo se origina e se fundamenta e que no cabe linguagem buscar explicaes alm
do descrever o que acontece.
Em sntese, possvel afirmar que Wittgenstein apresenta, nessa segunda obra,
Investigaes, uma filosofia reacionria a sua primeira obra, Tractatus. No entanto, esse
grande filsofo do sculo XX84, vai muito alm da mera atitude de ser contra. Ele
prope, de maneira original e louvvel, uma reviravolta metodolgica que dificilmente ser
apagada da histria da Filosofia ocidental. No Tractatus possvel ler um monlogo
filosfico, marcado pelo atomismo lgico, por meio do qual o sujeito subjetivo, regido pela
forma lgica, conferia o significado aos nomes, relacionando-os aos objetos do mundo. J
nas Investigaes possvel ler uma espcie de dilogo filosfico, marcado pelo uso
prtico, por meio do qual a comunidade intersubjetiva, regida pela forma de vida, confere
significado linguagem na atividade dos prprios jogos de linguagem. Percebe-se um
Primeiro Wittgenstein, que apresenta como resposta para o problema da significao a
82
50
relao entre nome-objeto. E um Segundo Wittgenstein, que apresenta como resposta para
o mesmo problema, a atividade lingstica realizada no prprio jogo de linguagem.
51
CONCLUSO
Chegar a determinado objeto ou concluso que possa ser tomado como resoluo
dos problemas filosficos foi o objetivo que regeu a vida de muitos pensadores. Alguns
deles, como o Wittgenstein do Tractatus, at pensou ter certeza de que havia atingido tal
objetivo. Pretenso que est longe do que foi possvel desenvolver no trabalho que, por
ora, possvel apresentar. Esse ainda no ultrapassa o patamar de uma exposio, bastante
inicial, acerca da inquietude diante do exerccio de uma das mais nobres formas do
humano ser, a saber, como comunicativo. Aristteles j dizia que o humano se diferencia
dos outros animais pela sua capacidade de duvidar, de admirar, de memorizar, mas acima
de tudo, de ensinar85. O ensinar, visto aqui, como um ato lingstico por excelncia. Ato
que implica, diretamente, a capacidade de compreender, de significar, de expressar.
Implicaes que compem a problemtica central da Filosofia Analtica e das duas
respostas wittgensteinianas.
Essa pesquisa, que foi inicialmente motivada pela necessidade de apresentar um
tema como Trabalho de Concluso de Curso, aos poucos, transformou-se numa prazerosa
empreitada. Empreitada que, a cada passo, desperta aquela curiosidade de ir alm na
constante busca do desvendamento do mistrio implicado na problemtica aqui estudada.
O problema perseguido por este trabalho foi o da significao da linguagem na tradio
filosfica ocidental, no Tractatus e nas Investigaes Filosficas de Wittgenstein. Toda a
problemtica foi abordada de maneira bem resumida e limitada. Sabe-se da dificuldade em
abarcar a grande empreitada filosfica apresentada pelo autor trabalhado, uma vez que a
grande maioria de sua obra no esteve ao alcance desta pesquisa. Por isso, o que foi aqui
trabalhado se resume interpretao de idias contidas nas duas obras citadas. O que no
significa uma limitao frustrante, uma vez que o objetivo deste trabalho trazer para o
85
53
54
lngua materna. Chamarei esses jogos de jogos de linguagem, e falarei muitas vezes de
uma linguagem primitiva como de um jogo de linguagem. [...]. Chamarei tambm de
jogos de linguagem o conjunto da linguagem e das atividades com as quais est
interligada (I.F. 7).
A Filosofia dessa segunda fase de Wittgenstein acusada de cair num relativismo
desregrado, segundo o qual a linguagem sem referncia ou essncia perderia sua
credibilidade. Tal linguagem acusada de negar a tica, a moral, o espiritual; enfim,
relativisaria tudo.
Mesmo que tal problema seja assunto para outro trabalho, igual ou
maior que esse, bom lembrar que existem jogos de linguagem sobre a moral, sobre regras
morais, que so usados diariamente. um entre muitos jogos. No necessrio que
tenhamos um s jogo para ter regras morais. Tal acusao parte do princpio de que tudo se
tornaria vlido. Mas nem tudo vlido, porque nas Investigaes possvel elaborar
intersubjetivamente muitos jogos de linguagem. Saber jogar um jogo saber seguir regras
que so estipuladas durante o prprio jogo. Jogos tm finalidades prticas. Um jogo que
no tem nenhuma finalidade, nenhuma utilidade, nem que seja uma utilidade esttica ou
ldica, no jogado. Sabe-se que esta questo muito complicada; por isso, fica aqui
aberta a discusso que desperta, neste trabalho, muito interesse de continuidade, mas que
devido s limitaes presentes, tal continuidade, ser adiada.
E assim marcado o limite deste primeiro degrau empreendido na construo da
grande, e quem sabe infinita, escadaria que exigida para quem deseja chegar ao topo do
problema que envolve a Filosofia da Linguagem e sua significao. Ao mesmo tempo em
que este trabalho gera satisfao pelo gosto de ter dado incio base de uma complicada
empreitada difcil que algum ouse dizer que trabalhar Filosofia Analtica fcil, no
entanto gostoso fica o vazio e o clamor para ir busca de tantos temas e conceitos que
ficaram fora, ou foram tratados superficialmente, e que em muito enriqueceriam este
trabalho. No foram tratados conceitos como gramtica, regras, ter-em-mente,
compreenso. Poder-se-ia ter enfatizado a concepo wittgensteiniana da funo
teraputica da Filosofia (I.F. 133). A concepo de Filosofia como aquela que mostra
mosca a sada do vidro (I.F. 309), dentre tantos outros conceitos que limitam um melhor
desenvolvimento das idias aqui expressas. Fica aqui uma pgina preenchida. Pgina que
alm de exigir o preenchimento das que a seguem sujeita retificao daquilo que nela
est escrito.
55
Este Trabalho de Concluso de Curso deixou uma clara preferncia pela segunda
obra, alvo original desta pesquisa, mas que no decorrer de seu desenvolvimento, passou a
perceber o enriquecimento que poderia advir de um enfoque em que situasse Wittgenstein
como o autor que ofereceu duas respostas a uma mesma problemtica. No entanto, aqui a
primeira resposta no deixou de ser vista como base para a segunda e mais simpatizada
resposta, mas que parece necessitar ser entendida como oposio e superao da primeira.
O prprio autor afirma, no prefcio das Investigaes, que H quatro anos, porm, tive
oportunidade de reler meu primeiro livro e de esclarecer seus pensamentos. De sbito,
pareceu-me dever publicar juntos aqueles velhos pensamentos e os novos, pois estes
apenas poderiam ser verdadeiramente compreendidos por sua oposio ao meu velho modo
de pensar, tendo-o como pano de fundo86. Apesar de no ter um espao to privilegiado
como as Investigaes, o Tractatus no pode ser considerado, por este trabalho, como uma
obra de segunda categoria, uma vez que a resposta apresentada pela primeira obra est
imbricada na resposta apresentada pela segunda.
86
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