Simp3 - Ventilação Mecânica em Crianças
Simp3 - Ventilação Mecânica em Crianças
Simp3 - Ventilação Mecânica em Crianças
Captulo III
RESUMO
O presente artigo apresenta ao leitor as principais indicaes de ventilao mecnica assistida em
crianas e as principais modalidades existentes, alm de trazer orientaes para o ajuste dos parmetros iniciais de ventilao de acordo com a indicao e listar as principais complicaes relacionadas
ventilao mecnica e seu tratamento imediato.
Palavras-chave: Ventilao Mecnica. Pediatria. Insuficincia Respiratria.
Introduo
A ampla utilizao da ventilao assistida fora
da sala de cirurgia ocorreu durante a epidemia de poliomielite da dcada de 50.1,2 Desde ento, as tcnicas e os aparelhos tm se tornado cada vez mais sofisticados e a ventilao assistida, antes um procedimento realizado somente em unidades de terapia intensiva (UTIs), vem sendo aplicada na sala de urgncia e at mesmo em domiclio. Mdicos em geral, sobretudo emergencistas e intensivistas, devem estar familiarizados com as tcnicas de ventilao hospitalar
e domstica para atenderem adequadamente s necessidades dos pacientes com doena aguda ou agudizao de doena crnica. Apesar da maioria dos ventiladores parecer complicada a princpio, o entendimento de alguns princpios bsicos da fisiologia respiratria e do funcionamento desses aparelhos possibilita a operao dos mesmos de maneira efetiva e segura. Entretanto, faz-se necessria a compreenso de
alguns conceitos importantes.
Conceitos-chave em anatomia e
fisiologia
O ciclo respiratrio consiste em inspirao e
expirao. A inspirao um processo ativo em que
a contrao da musculatura respiratria gera uma presso negativa intratorcica, deslocando o ar para dentro dos pulmes. A expirao, por outro lado, em condies normais, um processo passivo, onde a fora
elstica dos pulmes e da caixa torcica fora o ar
para fora dos pulmes. A quantidade de ar que entra
nos pulmes durante a inspirao depende de dois fatores: complacncia e resistncia.
Complacncia (C) a capacidade elstica do
trax (que a soma das complacncias dos pulmes
e da caixa torcica). Ela pode ser definida como a
variao do volume pulmonar (V) gerada por uma
variao de presso (P) (Equao 1). Quando a complacncia diminui, os pulmes so descritos como "duros". Doenas como a sndrome do desconforto respiratrio agudo (SDRA), a doena da membrana hialina
Docente da Diviso de Terapia Intensiva Peditrica, Departamento de Puericultura e Pediatria, Faculdade de Medicina de Ribeiro
Preto, Universidade de So Paulo.
Correspondncia:
Prof. Dr. Fabio Carmona
Avenida dos Bandeirantes 3900
14049-900 - Ribeiro Preto - SP.
[email protected]
Artigo recebido em 11/04/2012
Aprovado para publicao em 20/06/2012
Constante de tempo (CT) o tempo necessrio para que ocorra equilbrio de presses entre a
via area e os alvolos. Equivale ao produto da resistncia pela complacncia (Equao 3). Em um recmnascido normal, seu valor aproximado de 0,15 segundos, enquanto que no adulto normal de 0,30 segundos. Em geral, 1 CT equilibra 63% dos alvolos, 3
CT equilibram 95% dos alvolos e 5 CT equilibram
99% dos alvolos. Por isso, em geral, o tempo inspiratrio deve ser ajustado para 3 a 5 CT, o que equivale a 0,45 segundos em recm-nascidos e 1 segundo
em adultos.3
Em geral, o objetivo primrio da ventilao assistida auxiliar o funcionamento do aparelho respiratrio. Isso pode ser obtido garantindo-se a oxigenao, a ventilao e a relao ventilao/perfuso.4
Oxigenao a passagem de molculas de oxignio (O2) do espao alveolar para o sangue, cruzando a membrana alvolo-capilar. Os principais determinantes da oxigenao so a frao inspirada de
oxignio (FiO2) e a presso mdia das vias areas (PVA) (Equao 4).5
CT = R C (Equao 3)
VRI
VC
Capacidade
Capacidade
Vital
Pulmonar
Total
VRE
CRF
VFP
adulto
VFP
criana
Volume Residual
Figura 1. Representao grfica dos volumes pulmonares durante a respirao normal, inspirao e expirao foradas. O crculo
tracejado mostra como o volume de fechamento pulmonar atingido durante a respirao normal em crianas. Legenda: VFP= volume
de fechamento pulmonar, CRF= capacidade residual funcional, VRI= volume de reserva inspiratrio, VC= volume corrente, VRE= volume
reserva expiratrio.
Vm = VC FR (Equao 5)
Onde: Vm= volume-minuto, VC= volume corrente,
FR= frequncia respiratria.
D-se o nome de hipercapnia ao contedo aumentado de CO2 no sangue arterial (PaCO2 > 45 mm
Hg). Acidose respiratria reduo do pH arterial
devido hipercapnia (pH < 7,40). 6
Relao ventilao/perfuso (V/Q) referese ao fato de que, para haver trocas gasosas, necessrio haver ventilao e perfuso simultaneamente nas
mesmas reas dos pulmes. H dois tipos de desequilbrio da relao V/Q: shunt e espao-morto, ambos
cursando com hipoxemia.2 Shunt ocorre quanto h
reas pulmonares perfundidas, porm no ventiladas
(pneumonia, atelectasia). Assim, o sangue no oxigenado ganha a circulao sistmica (shunt direita-es-
querda).1 Espao-morto ocorre quando h reas pulmonares ventiladas, porm no perfundidas (embolia
pulmonar, hipertenso pulmonar). Assim, o ar retorna
atmosfera sem participar de trocas gasosas.1
Falncia respiratria a incapacidade de manter oxigenao e/ou ventilao adequadas, a despeito
da utilizao de terapias conservadoras (p. ex., administrao de oxignio, broncodilatadores, etc.). 4 Pode
ocorrer na presena de hipoxemia grave (PaO2 <
60 mm Hg com FiO2 > 60 %), acidose respiratria
grave (PaCO2 > 50 mm Hg e pH < 7,25) ou ambos.
As principais causas de falncia respiratria so: baixa complacncia, alta resistncia, desequilbrio da relao ventilao/perfuso, hipoventilao (central ou
perifrica), alterao da membrana alvolo-capilar,
trauma crnio-enceflico ou torcico e reduo da
superfcie de troca pulmonar. 7
Outros objetivos da ventilao assistida incluem: controlar a respirao de maneira especfica, para
187
o tratamento de doenas extrapulmonares (p. ex., hiperventilao na hipertenso intracraniana, hipoventilao na sndrome da hipoplasia do corao esquerdo
com hiperfluxo pulmonar, etc.), reduzir o trabalho respiratrio (p. ex., choque sptico ou cardiognico), ou
ainda para administrao de medicamentos (xido
ntrico, Heliox).1
Indicaes
A falncia respiratria a indicao primria
para o uso da ventilao assistida. Ressalta-se, entretanto, que os valores de PaO2, PaCO2, SaO2, FiO2 e
Tabela 1
Principais indicaes de ventilao mecnica assistida.
Situao
Indicaes
Falncia respiratria
188
Equipamentos
Para utilizar corretamente um ventilador, importante tambm entender alguns conceitos bsicos a
respeito do funcionamento desses aparelhos, bem
como das principais modalidades de ventilao existentes. 1 A Figura 2 apresenta um diagrama bsico do
funcionamento dos ventiladores.
Quando o ventilador aumenta a presso na via
area (PVA), a diferena de presso (P) ir gerar um
fluxo (Q) proporcional resistncia (R), e ir entregar um volume corrente (VC) proporcional complacncia (C) (Equao 6). 1
PVA = Q R + ( VC C ) + PEEP (Equao 6)
Onde: PVA= presso da via area, Q= fluxo de ar,
R= resistncia da via area, VC= volume corrente,
C= complacncia pulmonar, PEEP= presso positiva
expiratria final.
Na ventilao mecnica assistida, o ciclo respiratrio ser composto de quatro fases distintas: transio da expirao para a inspirao (disparo), inspirao, transio da inspirao para a expirao
(ciclagem ou ciclo) e expirao. 1
Disparo refere-se ao modo como o ventilador
inicia uma inspirao. O disparo pode ser feito por
tempo ou presso. Quando uma inspirao iniciada
porque foi atingido um limite de tempo pr-determinado, dizemos que o ventilador disparado a tempo.
Quando o ventilador detecta uma reduo na presso
do circuito causada por um esforo inspiratrio do
paciente e inicia a inspirao, dizemos que ele disparado a presso.1,3,6
Uma vez disparada a inspirao, o ventilador
dever fornecer um fluxo de ar para dentro dos pulmes at que um determinado limite pr-estabelecido
seja atingido. Isto pode ser obtido gerando-se uma
presso positiva constante no circuito, durante um tempo determinado, que ir gerar um fluxo e deslocar uma
Fluxo x Resistncia
PVA
PA
Volume x Complacncia
Paciente
Ventilador
Figura 2. Diagrama bsico do funcionamento da ventilao mecnica assistida. Legenda: PVA= presso na via area, PA= presso
alveolar.
189
Tabela 2
Ajustes iniciais sugeridos para ventilao mecnica, de acordo com a faixa etria.
Faixa etria
PIP
VC
PEEP
FR
TI
1520
68
3040
0,40,6
1520
68
2030
0,50,7
1520
68
1525
0,70,9
1520
68
1220
0,81,0
1525
68
1015
1,01,3
Adultos
2025
610
810
1,21,5
Legenda: PIP= presso inspiratria de pico (cm H 2O); VC= volume corrente (mL/kg); PEEP= presso positiva expiratria final (cm H2O);
FR= frequncia respiratria (ipm); TI= tempo inspiratrio (s).
b. Quando for possvel ajustar a relao I:E, certifique-se de que seja de 1:2 ou menor (1:3 ou 1:4),
certificando-se de que o TI corresponda a pelo
menos 3 CT; caso contrrio pode ser necessrio
utilizar uma FR mais baixa ou uma relao I:E
maior (no mximo 1:2). 5
6. Ajustar a presso de suporte. Se o modo selecionado for SIMV+PSV ou somente PSV, deve-se
ajustar o seu valor inicial para 10 cm H2O, ou o
mesmo valor da P.
7. Ajustar a sensibilidade. Nos modos em que o
disparo pode ser iniciado pelo paciente, importante ajustar a sensibilidade do aparelho. Isso significa
determinar que a intensidade de esforo detectado
pelo ventilador ser interpretada como esforo inspiratrio do paciente. O esforo pode ser detectado
atravs de variaes na presso da via area ou no
fluxo do circuito. Em geral, uma sensibilidade entre
2 e 3 cm H2O ou 2 a 4 L/min adequada.
8. Ajustar a concentrao de oxignio. A FiO2 deve
ser ajustada, inicialmente, para 100%. Depois pode
ser reduzida, objetivando-se manter a SaO2 90%
com FiO2 60%.1
9. Ajustar a presso positiva expiratria final. A
PEEP deve ser inicialmente ajustada para 5 cm
H2O. Este valor deve ser ajustado de acordo com a
patologia de base, buscando-se determinar a PEEP
ideal, onde anlise da curva presso volume pode
ser til.1
10. Testar o ventilador. Aps o ajuste dos parmetros da ventilao, o funcionamento do aparelho
deve ser testado, conectando-se o circuito a um
balo de testes ("pulmo artificial") ou a uma luva
estril, selando bem o escape de ar, para verificar
o disparo, a inspirao, a ciclagem e a expirao.
11. Obter o consentimento. Caso o paciente esteja
192
consciente, indispensvel obter seu consentimento antes de conect-lo ao ventilador, informandoo do que ir ser feito, dos desconfortos que poder sentir, dos riscos e dos benefcios esperados.
Esse procedimento poder ser reduzido ou omitido em situaes de urgncia e emergncia.4
12. Conectar o ventilador ao paciente. Antes de
conectar o ventilador, o paciente dever estar sendo
ventilado com dispositivo do tipo bolsa-valva e oxignio a 100%. Realize uma aspirao da via area com tcnica estril. Desconecte a bolsa-valva
e conecte o circuito do ventilador cnula traqueal do paciente.6
13. Examinar o paciente. Imediatamente aps conectar o ventilador ao paciente, deve-se examinar
o paciente com nfase nos aparelhos respiratrio
e cardiovascular. Verifique o nvel de conforto do
paciente, o grau de expanso torcica, a colorao das mucosas e dos leitos ungueais, a presena
de escape de ar ao redor da cnula traqueal, a
sincronia entre o ventilador e o paciente, ausculte
o trax e certifique-se de haver murmrio vesicular bilateral. Faa tambm ausculta cardaca, palpe
os pulsos centrais e perifricos e verifique a frequncia cardaca, a presso arterial e o tempo de
enchimento capilar. O uso de ventilao com presso positiva pode levar a deteriorao cardiovascular pela reduo do retorno venoso ao trio direito e aumento da ps-carga do ventrculo direito.
Podem ser necessrias expanses de volume com
soluo isotnica em alquotas de 10 a 20 mL/kg.7
14. Verificar o funcionamento do ventilador. Verifique se aps a conexo com o paciente o ventilador est operando corretamente e com os parmetros ajustados inicialmente por voc. Faa os
ajustes necessrios.
Sedao e analgesia
O desconforto causado pela presena da cnula traqueal, procedimentos dolorosos, a presso positiva intratorcica, associados ansiedade e a caractersticas da patologia de base geralmente tornam necessria a sedao do paciente. Alm disso, a sedao
pode reduzir o trabalho respiratrio e o consumo de
oxignio, auxiliando a teraputica. Em geral, infuso
contnua de um benzodiazepnico (midazolam, 0,1 a
0,3 mg/kg/h) associado a um opioide (fentanil, 1 a
3 g/kg/h) suficiente para a maioria dos pacientes.7
A associao com um bloqueador neuromuscular (vecurnio, 1 a 3 g/kg/min) reservada a casos selecionados.
Complicaes agudas
O paciente sob ventilao mecnica pode apresentar complicaes agudas que podem ser fatais, se
no houver interveno imediata. Frente a um paciente sob ventilao mecnica assistida com deteriorao sbita, desconecte o ventilador imediatamente
e inicie ventilao com bolsa-valva e oxignio a 100%.
Em seguida, verifique as seguintes situaes, que po-
Situaes especiais
Doena parenquimatosa pulmonar
Em pacientes com doenas graves do parnquima pulmonar, em que a complacncia est muito
reduzida, a reduo da CRF pode levar ao colapso de
grande parte das unidades alveolares, levando a hipoxemia refratria. Para restaurar a relao ventilao/
perfuso e expandir as unidades alveolares colapsadas
deve-se utilizar a PEEP em nveis mais elevados. De
maneira geral, a PEEP deve ser aumentada em 2 cm
H2O a cada 3 a 5 minutos, at que a oxigenao melhore e seja possvel manter a SaO2 90% com FiO2
60%. Lembre-se de que a PEEP pode reduzir o
retorno venoso direito e aumentar a ps-carga do ventrculo direito, levando a baixo dbito cardaco. Podem ser necessrias novas adequaes da volemia
com expanses de soluo isotnica em alquotas de
10 a 20 mL/kg.1,6
Obstruo das vias areas inferiores
Doenas que cursam com obstruo das vias
areas inferiores, como a asma e a bronquiolite, que
levam ao aumento acentuado da resistncia das vias
areas, cursam tambm com hiperinsuflao pulmonar, que pode ser agravada pela presso positiva. A
hiperinsuflao das unidades alveolares, que tambm
so mal-ventiladas e, portanto, hipxicas, leva a compresso dos capilares pulmonares e aumento da resistncia vascular pulmonar. Com isso, h aumento da
ps-carga do ventrculo direito e reduo do retorno
venoso para o trio esquerdo, contribuindo para baixo
dbito cardaco sistmico. Para evitar esses efeitos,
devem-se usar os mnimos valores possveis de PIP
ou VC e PEEP. Alm disso, o tempo necessrio para
completar a expirao pode ser muito maior do que o
habitual, devido ao aumento da resistncia da via area. Por isso, uma nova inspirao pode ser iniciada
antes que a expirao termine e atinja a capacidade
residual funcional, levando a um "empilhamento" de
ciclos respiratrios. Esse fenmeno, conhecido como
PEEP inadvertida ou auto-PEEP, agrava a hiperinsuflao e aumenta a presso mdia das vias areas.
Para evitar isso, deve-se reduzir a frequncia respiratria ao mnimo possvel (mais eficaz) e reduzir a rela194
Ventilao pr
otetor
a
protetor
otetora
Em algumas situaes, podemos utilizar estratgias conhecidas como ventilao protetora, que consiste em tolerar alguns parmetros da gasometria arterial fora dentro de limites mais amplos do que os da
normalidade, em especial a PaCO2 e o pH arterial. A
ventilao protetora permite a utilizao de ajustes
mais "conservadores" no ventilador, de modo a evitar
complicaes relacionadas ao uso de altas presses e
volumes, como por exemplo, pneumotrax e baixo
dbito cardaco, e tambm reduzir a incidncia e a
gravidade das leses pulmonares agudas e crnicas
induzidas pela ventilao mecnica.1,6 De maneira
geral, as estratgias de ventilao protetora so divididas em dois grandes grupos:
Hipercapnia permissiva
Esta estratgia consiste em usar VC abaixo do
recomendado para o peso do paciente (cerca de 4 a 5
mL/kg) e/ou PIP de, no mximo, 35 cm H2O. O menor volume minuto ir levar a hipercapnia, que em geral
bem tolerada, desde que se mantenha a PaCO2 abaixo de 50-55 mm Hg e, principalmente, o pH acima de
7,20.
Hipoxemia permissiva
Esta estratgia consiste em usar FiO2 de at
60%, para evitar os efeitos txicos do oxignio em
altas concentraes, e limitar a PEEP em at 15 cm
H2O, tolerando-se uma SaO2 de pelo menos 85%.
Medidas adicionais
Conforto fsico. Deve-se atentar para o posicionamento confortvel do paciente no leito, com controle de temperatura ambiente, luminosidade e rudos.10
Ajustar a temperatura do umidificador. A
temperatura ideal do umidificador deve estar entre 30
e 34 C.2
Fisioterapia respiratria e aspirao da cnula traqueal. A fisioterapia respiratria fundamental para a utilizao segura e eficaz da ventilao mecnica. A comunicao e cooperao entre o mdico
e o fisioterapeuta podem ser extremamente benficas
para o paciente. A aspirao das secrees traqueais
deve ser realizada no mnimo a cada 4 horas, ou mais
Concluso
Com o entendimento de conceitos bsicos da
fisiologia respiratria e treinamento adequado, o mdico generalista ou pediatra geral pode iniciar a ventilao assistida mecnica em crianas de maneira rpida e segura, sobretudo em situaes de urgncia e
emergncia, favorecendo a estabilizao do quadro
antes da transferncia para uma UTI peditrica ou
neonatal.
Casos clnicos
Caso 1
Recm-nascido com 10 dias de vida, 3 kg,
trazido sala de urgncia com histria de sonolncia e
recusa das mamadas h 12 horas. Ao exame encontra-se hipoativo, ciantico, com frequncia cardaca de
180 bpm, presso arterial de 50 x 30 mm Hg, pulsos
centrais fracos, tempo de enchimento capilar de 5 segundos, frequncia respiratria de 10 ipm, com retraes intercostais, subcostais e de frcula, batimento
de aleta nasal e movimentos do tipo "gasping". Ausculta pulmonar normal, sopro cardaco sistlico +4/+6.
Pergunta-se:
a. Qual o diagnstico?
Resposta: O diagnstico de recm-nascido
com choque circulatrio, que pode ser sptico ou
cardiognico (cardiopatia congnita), e falncia
respiratria. Nessa faixa etria, as causas mais
comuns so o choque sptico e a presena de
uma cardiopatia congnita.
b. Qual deve ser o atendimento inicial?
Resposta: O atendimento inicial deste paciente
inclui a abertura das vias areas (posicionar e aspirar), ventilao com presso positiva usando dispositivo bolsa-valva-mscara e oxignio a 100%,
monitorizao completa e obteno de acesso
venoso de grosso calibre e fazer expanso com
soro fisiolgico 0,9% 5 mL/kg em 15 minutos, at
que se consiga uma radiografia de trax para verificar o tamanho da rea cardaca; se aumentada, sugere choque cardiognico e a infuso de
volume deve ser cuidadosa. Aps ventilar o paciente por aproximadamente 1 minuto, se no houver recuperao de ventilao espontnea efetiva, deve-se proceder intubao. Aps a intubao, poderemos selecionar um ventilador disparado a tempo, limitado a presso e ciclado a tempo, operando em modo IMV. Os parmetros iniciais sero: PIP 15 cm H2O, PEEP 5 cm H2O,
FR 30-40 ipm, TI 0,5 s (I:E ~1:2), FiO2 100%.
Atentar, neste caso, para o diagnstico possvel
de cardiopatia congnita, onde a utilizao de oxignio em altas concentraes pode agravar o quadro pelo fechamento do canal arterial. Portanto,
deve-se providenciar o ecocardiograma o mais
rpido possvel, para esclarecimento diagnstico.
Caso 2
Lactente de 6 meses de idade, 8 kg, com histria de febre alta (40 C), tosse produtiva, espirros e
coriza h 4 dias, e queda do estado geral e dispneia
com piora progressiva h 2 dias. Ao exame, encontrase em regular estado geral, ativo, ciantico, com frequncia cardaca de 130 bpm, presso arterial de 80 x
50 mm Hg, pulsos centrais fortes, tempo de enchimento
capilar de 2 segundos, frequncia respiratria de 60
ipm, com retraes intercostais, subcostais e de frcula
e batimento de aleta nasal. ausculta, murmrio vesicular reduzido e soproso em todo o hemitrax direito.
Pergunta-se:
a. Qual o diagnstico?
Resposta: O diagnstico de pneumonia bacteriana com falncia respiratria. A histria de quadro infeccioso das vias areas superiores seguido de desconforto respiratrio sugestiva de infeco bacteriana secundria (pneumonia). A
ausculta pulmonar compatvel.
b. Qual deve ser o atendimento inicial?
Resposta: O atendimento inicial deste paciente
inclui abertura das vias areas (posicionamento e
aspirao) e administrao de oxignio a 100 %
(mscara no reinalante). Caso no haja melhora da SaO2, est indicada a intubao e ventilao mecnica. Como o provvel mecanismo da
hipoxemia shunt, a presso positiva intratorcica pode ser extremamente til. Aps a intubao, podemos selecionar um ventilador disparado
a tempo e presso, limitado a presso e ciclado a
tempo e fluxo, operando em modo SIMV. Os ajustes iniciais sero: PIP 15 cm H2O, PEEP 5 cm
195
ABSTRACT
The present article presents to the reader the main indications for mechanical ventilation in children and
the most common modalities; it also gives orientation for the initial ventilator settings according to the
indication, and lists the main ventilation-related complications and their immediate treatment.
Keywords: Ventilation, Mechanical. Pediatrics. Respiratory Failure.
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