Corrente de Magnetização
Corrente de Magnetização
Corrente de Magnetização
n 4
MQUINAS ELCTRICAS
A C o rre n t e E l ct rica d e M ag n e t iz ao
e
A F o rmao do C ircu it o E q u ivale n t e
M an u e l V az Gu e d e s
(Prof. Associado com Agregao)
N cle o d e E st u d o s d e M q u in as E l ct ricas
Fa c u l d a d e d e E n g e n h a r i a d a Un i v e r s i d a d e d o P o r t o
comum (t), varivel no tempo, que percorre um ncleo de material ferromagntico, e que criado pela
passagem de uma corrente elctrica num dos enrolamentos que envolve o ncleo.
Quando o enrolamento indutor formado por uma bobina de
fio condutor com N espiras, que envolve um ncleo macio de
u
N
(T)
1,7
III
II
0,4
I
200
400
600
Curva de Magnetizao
segunda
regio
(II)
curva
de
um andamento rectilneo. Nesta terceira regio, o valor da induo magntica quase independente do
valor da intensidade do campo magntico e, portanto, a inclinao da curva pequena, voltando a curva a
ser reversvel numa grande extenso.
Este comportamento da curva de magnetizao de um material ferromagntico resulta do
comportamento destes materiais durante a magnetizao, principalmente do alinhamento dos pequenos
volumes de matria onde os spins dos electres esto espontaneamente alinhados os domnios
(P. Weiss, 1906).
Depois de efectuada a primeira magnetizao, a relao
entre o campo magntico e a induo por ele criada deixa de
B
Br
H
Hc
Nas
Br Induo Remanente
Hc Fora Coerciva
Ciclo Histertico
B1
H1
B 1 H dB , que
0
proporcional rea limitada pelo ramo inferior do ciclo histertico, pelo semi-eixo positivo da induo
magntica e por um segmento de recta paralelo ao eixo das abcissas e que passa por B1.
Quando, na sequncia da magnetizao, o valor do campo
diminudo de H1 at 0, devolvida uma quantidade de energia por unidade
B1
H1
0 H dB , que
B
1
devidamente adaptada, possvel verificar que ocorre algo semelhante durante a alternncia negativa da
magnetizao, 0 H1. Durante um ciclo de magnetizao, gasta no trabalho de orientao dos
domnios magnticos uma quantidade de energia por unidade de volume proporcional rea contida no
interior do ciclo histertico.
No volume do material que constitui o ncleo magntico, esta energia dissipada, sob a forma de
calor: constitui a energia de perdas por histerese. Quando o campo magntico indutor da magnetizao
varivel no tempo, peridico com uma frequncia f, existem f ciclos de magnetizao em cada segundo
e, consequentemente, haver uma dissipao de energia devida histerese magntica, com uma
densidade volmica fwm; isto , as perdas por histerese so proporcionais frequncia de
magnetizao.
Mas, devido variao, no tempo, do campo magntico existem, tambm, perdas de energia
motivadas pelas correntes de Foucault.
A variao no tempo do fluxo magntico d origem ao
aparecimento de um campo elctrico no meio magntico do ncleo
(Lei de Faraday). Nesse meio, formam-se circuitos fechados, nos quais
(t)
Correntes de Foucault
(t)
Correntes de Foucault
(Laminagem)
aumento do valor da resistncia do circuito fechado, por um aumento da resistividade do material , o que
se consegue com a adio de substncias (silcio) ao ferro em fuso.
Como consequncia do efeito magntico das correntes de Foucault, surge o efeito pelicular, que
provoca a alterao da distribuio da induo magntica, perto do centro da lmina de material
ferromagntico, por aco do campo magntico de reaco criado por aquelas correntes parasitas. Este
efeito pronunciado quando o campo magntico indutor tem uma frequncia elevada (> 950 Hz;
19 harmnico).
soma das perdas de energia, num transformador, motivadas pelo aco de um campo magntico
varivel no tempo, devidas histerese magntica do material ferromagntico e s correntes de Foucault
que circulam nesse material, chama-se perdas no ferro. A densidade volmica destas perdas de energia
dada por uma frmula do tipo,
wFe = WFe/v = wh + wcF = k1fBm2 + k2 f2Bm2
Quando se procuram reduzir as perdas por correntes de Foucault, por utilizao de um ncleo
formado por um empacotamento de lminas de material ferromagntico, surge um outro problema que
tem influncia no valor da corrente elctrica de magnetizao. Devido forma como realizado o
empacotamento da chapa, essencialmente, devido impossibilidade de se obter um ajuste perfeito
entre a chapa das colunas e das travessas, surgem pequenos entreferros nos percursos do fluxo
magntico. So zonas de permeabilidade magntica constante, mas baixa, o = 4107 H/m, o que cria a
necessidade de uma corrente elctrica de magnetizao maior, para que nesses percursos o fluxo
magntico permanea com o mesmo valor constante, que tem nos percursos feitos no interior do material
ferromagntico. Para alm deste, existem, ainda, outros fenmenos com efeitos cumulativos, como o
desenvolvimento de correntes de Foucault entre lminas, que ocorrem devido execuo do
empacotamento do ncleo. O valor do acrscimo da corrente elctrica de magnetizao depende de
muitos parmetros construtivos: presso do empacotamento, tolerncias no corte da chapa, aspectos de
montagem do ncleo, etc
StepLap Joint
ButtLap Joint
i1
1
i1
i
0
t1
Construo Grfica
A forma de onda da corrente magnetizante pode ser obtida atravs de uma construo grfica, em
que nas respectivas escalas, so representadas as curvas de variao no tempo do fluxo totalizado (t) e
a curva de variao do fluxo com a corrente (i) para o material ferromagntico do ncleo. Fazendo
corresponder, para um dado instante t1, o valor do fluxo indutor 1 e o valor corrente magnetizante
necessria para o criar i1, obtm-se um ponto (i1, t1) da curva de variao no tempo da corrente
magnetizante consumida para manter um determinado valor de fluxo no ncleo magntico, i. De uma
forma anloga podem ser determinados os pontos, da curva de variao da corrente elctrica
magnetizante, correspondentes ao ciclo negativo do fluxo magntico.
Esta construo grfica, com um carcter pedaggico notvel, actualmente substituda pela
determinao numrica da curva de variao da corrente magnetizante no tempo i(t), a partir da
expresso da variao no tempo do fluxo totalizado, = mcos(t), e da representao analtica do ciclo
histertico, atravs de funes exponenciais = kr(1exp(ksi)), ou atravs de expresses
fraccionrias, ou atravs de sries de potncias fraccionrias i = r krr, com r < 1 . Normalmente, o
ciclo histertico encontra-se globalmente definido por vrias expresses analticas, vlidas apenas para
uma gama de valores da corrente elctrica magnetizante. Obtm-se, por clculo, uma amostragem dos
valores da forma de onda da corrente elctrica magnetizante, ik(tk).
A forma de onda da corrente magnetizante, tem um andamento no sinusoidal. Devido simetria
do ciclo histertico a forma de onda constituda por duas semi-ondas com igual andamento, mas de
sinal contrrio. Uma anlise harmnica desta onda [5], permite verificar que devido semi-onda positiva
ter andamento igual semi-onda negativa, ela no possui termo contnuo, e apenas possui termos
harmnicos de ordem mpar, e, na situao em estudo em que h simetria da onda da corrente elctrica
relativamente ao eixo das ordenadas, essa onda apenas possui termos com variao em cosseno.
Verifica-se, ainda que a forma de onda da corrente elctrica magnetizante possui um valor de pico
elevado, e que existe um ngulo de esfasamento entre a corrente elctrica e o fluxo magntico: o ngulo
de atraso magntico. Tambm os termos harmnicos alm da amplitude decrescente com a ordem do
harmnico, possuem um esfasamento (phase) prprio h.
Uo = 55,7 V
Io = 1,66 A
Po = 12,5 W
11
13
|ih| A
1,99
1,03
0,22
0,06
0,04
1610-3
1210-3
/ ih
1 1 8,5
9,9
100,3
46,6
147,2
105,6
172,1
um andamento esbelto, em que o valor da fora coerciva Hc muito inferior ao valor do campo magntico
de saturao Hs, e, apenas, se considera representada pela curva de magnetizao a variao do fluxo
magntico com a corrente elctrica (i), pode-se determinar a forma de onda da corrente magnetizante
por uma construo grfica anloga anterior, ou por meio de determinao numrica, a partir das
expresses representativas das relaes entre as grandezas envolvidas, t, , i.
Uma forma analtica de representar a
relao i()
atravs
incompleto
de
da
um
polinmio
forma
torna-se
fcil
elaborar
um
programa
de
Programa CORMAG
Definir constantes pi, f, psim, m, np
Dimensionar as matrizes i( ), psi( ), a( ), ik( )
Ler os np valores de i( ) e psi( )
Chamar subrotina MINQUA9(m,np,i( ),psi( ),
Para cada valor do tempo tk
psi = psim*cos(2*pi*f*tk)
ik(tk) = a(1)*psi + a(2)*psi
m
repetir
Chamar FOURIER_1
4, p. 21] !%
Imprimir tk, ik( ), Bh( ), Ch( )
Fim
S desta forma o fluxo magntico permanece no valor necessrio para criar uma fora electromotriz, e(t) =
= d/dt, no enrolamento indutor, que verifique a equao elctrica do enrolamento: u = Ri e. Existe,
por isso, uma componente sinusoidal da corrente elctrica de magnetizao icF(t) que est em fase com a
fora electromotriz induzida e(t), e em quadratura avano sobre o fluxo magntico (t). Desta forma
verifica-se para a corrente de magnetizao i(t) que: i(t) = i(t) + icF(t). Por isso, a corrente final mantem-se
distorcida, e aumenta o ngulo de atraso magntico.
Mas devido construo laminada do ncleo do transformador, mesmo quando efectuada com a
melhor tecnologia (step-lap joint) e cuidado, existe a necessidade de fornecer uma corrente elctrica de
magnetizao superior ao valor necessrio para contrariar a aco das correntes de Foucault e para criar
uma determinada onda sinusoidal de fluxo. Esse valor que depende do tipo, e modo, de construo do
ncleo, pode ser determinado por curvas de magnetizao para os entreferros (joint), prprias para o tipo
de construo do ncleo utilizado, [1, p. 10]. Assim, o valor da corrente de magnetizao, :
i(t) = i(t) + icF(t) + njij(t)
no ultrapassando um valor de 5 % do valor da corrente do enrolamento, quando est alimentado pela
respectiva tenso nominal. Por exemplo, para um transformador de distribuio trifsico actual com
isolamento seco, (500 kVA, 15 000/400 V, Dy11, 50 Hz), verifica-se que a corrente de magnetizao
i Io2 = 10,47 A (1,45 %). Para um transformador com uma capacidade inferior a 1 kVA, aquela relao
entre correntes elctricas pode ser bastante diferente.
Circuito de Medida
Io
Ia
Im
h I2hef , formada por duas componentes ( Im, Ia), e utiliza-se um circuito elctrico equivalente
anlogo ao primeiro.
io (t)
ia (t)
Im
Rnl
presentes na corrente elctrica de magnetizao, quando o fluxo magntico sinusoidal. Isso exigia que
as restantes resistncias elctricas existentes no transformador, principalmente a resistncia do
enrolamento primrio, fossem modelizadas atendendo ao seu comportamento real face frequncia dos
diferentes harmnicos presentes na corrente elctrica.
Quando
existe a necessidade
de
considerar
real
io (t)
ia (t)
Rnl
i m (t)
10
criar o fluxo sinusoidal . Esta corrente s pode resultar da aplicao de uma tenso sinusoidal, igual
fora electromotriz induzida no enrolamento primrio e(t), a uma bobina no linear. Resulta assim um
circuito elctrico equivalente no linear, com os parmetros concentrados definidos por expresses
analticas, do tipo : i = r krr, e icF = kcFe+ ic.
Com este modelo perde-se o interesse, e a simplicidade, caractersticos do circuito elctrico
equivalente quando utilizado na modelizao de um fenmeno fsico, envolvendo circuitos elctricos.
Existe, por isso, a necessidade de desenvolvimento de um modelo puramente computacional, que
poder ter um carcter qualitativo, mas que, mesmo quando for apenas quantitativo ser complicado e de
difcil determinao das expresses que definem os parmetros.
Os modelos apresentados tornar-se-iam ainda mais complicados se fosse considerado
comportamento no sinusoidal da tenso de alimentao de algumas redes elctricas, e, portanto do
fluxo magntico. Nessa situao, o valor das perdas magnticas, que dependem do valor da induo
magntica, seria afectado pela amplitude dos harmnicos e pelo seu esfasamento, o que complicaria as
respectivas expresses analticas.
Os circuitos equivalentes apresentados podem ser utilizados na anlise do funcionamento dos
transformadores de medida, em regime transitrio, desde que no se considere que o regime de
funcionamento altera o valor da induo remanente, ou, na sua forma computacional, podem ser
integrados nos programas de anlise do regime transitrio de sistemas elctricos.
Concluso
Devido s caractersticas no lineares das propriedades magnticas dos materiais ferromagnticos
utilizados nos ncleos dos transformadores a corrente elctrica de magnetizao necessria criao e
manuteno do fluxo magntico, no sinusoidal e existem perdas magnticas, por histerese e por
correntes de Foucault.
A considerao destas correntes elctricas no sinusoidais, e das perdas de energia permite o
desenvolvimento de modelos do fenmeno de magnetizao do ncleo do transformador, que
representam integralmente as reais condies de magnetizao. Abandonando consideraes
simplificativas usuais, surgem novos modelos, baseados em circuitos elctricos equivalentes de
parmetros concentrados, mas no lineares, que podem representar os fenmenos principais. Surgem,
tambm, modelos computacionais que apenas estabelecem relaes entre expresses analticas, de
difcil determinao
Mas, as modernas condies de explorao dos sistemas elctricos, e o regime de funcionamento
transitrio de alguns transformadores, impem uma adopo criteriosa destes modelos.
Referncias
Bibliogrficas
[1]
[2]
L. F. Blume A. Boyajian G. Camilli; Transformer Engineering, John Wiley & Sons 1958
[3]
[4]
[5]
[6]
ANSI/IEEE C57.12.90; IEEE Standard Test Code for LiquidImmersed Distribution, Power, and Regulating
Transformers and, IEEE 1987
[7]
Manuel Vaz Guedes; Mtodos Numricos Para Anlise do Campo Magntico das Mquinas Elctricas,
dissertao de doutoramento, FEUP 1983
11
Apndice
) de um Material Ferromagntico
Aproximao da Curva i(
Quando se considera a natureza no linear
das propriedades de um material magntico,
torna-se, frequentemente, necessrio conhecer
uma expresso algbrica que represente
precisamente aquela curva caracterstica.
Programa MINQUA9
Definir constantes m, np
Dimensionar as matrizes i( ), psi( ), S( ), t( ), a( )
Ler os np valores de i( ) e psi( )
Anular os elementos de [S] e {t}
Para cada ponto ip at np
S(1,1) = S(1,1) + psi(ip)*psi(ip)
pk = psi(ip)
(2*m+1)
S(1,2) = S(1,2) + pk*psi(ip)
S(2,2) = S(2,2) + pk*pk
t(1) = t(1) + i(ip)*psi(ip)
t(2) = t(2) + i(ip)*pk
repetir
S(2,1) = S(1,2)
denom = S(1,1)*S(2,2) S(2,1)*S(1,2)
!%*
Cramer
a(1) = (t(1)*S(2,2) t(2)*S(1,2))/denom
alfa
!%*
a(2) = (S(1,1)*t(2) S(2,1) *t(1))/denom
beta
!%*
Imprimir a(1), a(2)
Fim
com m>1,
A determinao dos parmetros {, } feita com a utilizao do mtodo dos mnimos quadrados. Pretende-se
minimizar a expresso do quadrado dos resduos,
r [i( r ) ir ]2 = F(,)
Diferenciando em ordem aos parmetros, resulta o sistema de equaes,
F
= 2 r + r2m+1 ir r = 0
r
F
= 2
r + r2m+1 ir r2m+1 = 0
r r2
r
r2m + 2
r r2m+1
2
r2m+2
r irr
=
[S]{a} = {t}
irr2m+1
A soluo deste sistema de equaes pode ser, rapidamente, determinada recorrendo regra de Cramer. Com o
auxlio de um pequeno programa de computador, onde se considera que a amostragem foi feita em np pontos,
determina-se os valores dos parmetros {, } que ficaro no vector {a}.
MVG.92