A Economia Dos Custos de Transação Sob Uma Análise Crítica PDF
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Ribeiro Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
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2- REFERENCIAL TERICO
2.1- A Economia dos Custos de Transao
No artigo de 1937, considerado por muitos estudiosos como clssico, Coase (1937)
comeou a estudar a empresa sob um enfoque alternativo ao convencional. Para ele, os
estudos at ento existentes sobre as empresas e os mercados no estavam preocupados em
estabelecer os princpios fundamentais de anlise fato que ele procurou realizar , mas
em elaborar anlises, de maneira arbitrria, sem quaisquer contedos tericos mais
profundos. Diante desta lacuna ele estabeleceu dois pontos fundamentais: primeiro no a
tecnologia, mas as transaes e seus respectivos custos que constituem o objeto central da
anlise; e, segundo, a incerteza e, de maneira implcita, a racionalidade limitada so
elementos-chave na anlise dos custos de transao.
Em Coase, a empresa teria como funo economizar os custos de transao, o que
se realizaria de duas maneiras: atravs do mecanismo de preos, que possibilitaria
empresa escolher os mais adequados em suas transaes com o mercado, gerando
economia de custos de transao; e substituindo um contrato incompleto por vrios
contratos completos, uma vez que seria de se supor que contratos incompletos elevariam
custos de negociao.
Na opinio de Williamson, Coase (1988) destacadamente o "pai" da economia
dos custos de transao, pois formulou com preciso as questes pertinentes transao
(Guedes, 2000). O ponto de partida de Coase a percepo de que, no mundo real, uma
grande quantidade de transaes realizada dentro da firma, dispensando a coordenao
do mercado. Esse modo de perceber a questo assume a existncia de modos alternativos
de coordenao: a firma e o mercado. Conforme explicita Coase (1988,35):
"Por exemplo, na teoria econmica ns descobrimos que a alocao de fatores de
produo entre diferentes usos determinado pelo mecanismo de preos. O preo do fator
A torna-se mais alto em X que em Y. Como conseqncia, A move-se de X para Y at que a
diferena entre os preos em X e Y, exceto se for compensada por outras vantagens
diferenciais, desaparea. Contudo, no mundo real, percebemos que h muitas reas onde
isto no se aplica. Se um trabalhador muda-se do departamento Y para o departamento X,
ele no o faz em razo de uma mudana nos preos relativos, mas porque recebeu ordem
para faz-lo".
A questo, ento, responder porque, apesar da existncia do mercado e das
funes alocativas que lhe atribuem a teoria econmica, uma parte significativa das
transaes alocada internamente pela firma. A resposta de Coase (1988,38) que "a
principal razo pela qual compensador estabelecer uma firma parece ser que existe um
custo em usar o mecanismo de preos". Assim, custoso alocar os recursos via o
mecanismo de preos porque: 1) custoso descobrir quais so os preos relevantes; 2) h
custos em negociar e concluir um contrato separado para cada transao.
Assim, se custoso transacionar utilizando-se do mecanismo de preo e se a
organizao existe porque reduz esses custos, por que o mercado no definitivamente
suprimido e a produo realizada por uma nica grande firma? O argumento-resposta ai
desdobra-se em dois. Primeiro, a partir de um determinado tamanho, a firma esbarra em
retornos decrescentes de administrao. Este o caso quando a firma cresce e o nmero de
transaes internalizadas compromete a capacidade administrativa de fazer o melhor uso
dos fatores de produo. E segundo; "o preo de oferta de um ou mais fatores de produo
pode subir, porque as outras vantagens" usufrudas por uma firma pequena so maiores
que as de uma firma grande" (Coase, 1988, 46).
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portanto, maior o custo de transao envolvido, tendo em vista que sua eventual utilizao
alternativa dever incorrer em perda de valor de opo do mesmo.
As partes de uma transao podem exigir investimentos de propsito geral ou
especfico. As transaes que exigem investimentos especficos implicam em custos de
transao maiores devido exatamente ao fato de que sua utilizao alternativa no ocorre
de forma automtica e sem perdas. Por outro lado, caso haja o rompimento de um contrato
que implicou no investimento das partes em ativos genricos, cada um dos agentes passa a
seguir novos caminhos e reorientar seus investimentos sem grandes perdas. H, segundo
Williamson (1996) na ECT, ao menos seis tipos distintos de especificidade de ativos:
a)
Especificidade local ou de stio - ocorre quando uma determinada explorao exige
que outra, normalmente complementar (horizontal ou verticalmente) em termos de
matria-prima, se localize prximo;
b)
Especificidade fsica - ocorre quando um determinado produto exige um dado
padro de matria-prima necessrio produo;
c)
Especificidade humana - relaciona-se ao capital de conhecimentos idiossincrticos
necessrios para a produo de um dado produto;
d)
Especificidade de ativos dedicados produo - ocorre no caso em que uma
estrutura produtiva ou um determinado processo de produo exigido para a produo de
um dado produto;
e)
Especificidade de marca relaciona-se reputao que o nome da empresa ou
produto tem no mercado, ocorre quando se exige que uma marca especfica represente
todos produtos advindos da cadeia de suprimentos. Isso faz com que haja necessidade de
exclusividade no fornecimento da matria-prima por parte de uma organizao na cadeia;
f)
Especificidade temporal - est presente quando um determinado produto apresenta
caractersticas de perecibilidade ou qualquer outra condio que implique na necessidade
de consumo em um determinado perodo de tempo.
O que torna a especificidade de ativos a mais importante dimenso da ECT o
vinculo estabelecido por autores como Klein, Crawford e Alchian (1978), no qual o
comportamento oportunista se evidencia na presena de investimentos em ativos altamente
especficos. De acordo com os autores, o oportunismo ps-contratual se justifica pelo
interesse das partes em se apropriar de parcelas de quase-rendas criadas aps o
investimento especifico. A quase-renda entendida como a diferena entre o rendimento
atual do ativo e o rendimento no melhor uso alternativo. A poro potencialmente
aproprivel da quase-renda aquela que excede a encontrada no segundo uso alternativo
de mais valor (Klein, Crawford e Alchian . 1978; 298).
2.4.2 Freqncia
A freqncia est relacionada com a recorrncia e/ou regularidade de uma
transao. A repetio de uma mesma espcie de transao um dos elementos relevantes
para a escolha da estrutura de governana adequada a essa transao. Segundo Farina et al.
(1997), a importncia dessa dimenso manifesta-se em dois aspectos: a) a diluio dos
custos de adoo de um mecanismo complexo por vrias transaes e b) a possibilidade de
construo de reputao por parte dos agentes envolvidos na transao.
A anlise da categoria analtica freqncia ocorre simultaneamente com a
especificidade de ativos tendo em vista comporem, juntamente com a incerteza, os
atributos das transaes. O que ocorre que quando passa a ser exigido algum tipo de
ativo especfico deve haver uma contrapartida em termos de freqncia de transaes para
que o investimento feito seja mais rapidamente amortizado. No parece razovel que uma
produo que exija um investimento idiossincrtico, seja sustentada por um padro de
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incompatvel com critrios de eficincia dinmica, que buscam mudanas nas funes de
produo em direes que se mostrem mais lucrativas, ou que estejam associadas
explorao de novas oportunidades produtivas e tecnolgicas.
Outra crtica metodologia esttico-comparativa utilizada pela ECT em que
mercados e firmas se contrapem como alternativa de coordenao da produo,
trabalhada por Fourie (1989), onde se afirma que os mercados nada produzem so apenas
o lcus das trocas de mercadorias e servios anteriormente produzidos, de alguma forma
coordenada, ou seja, que a troca (ou consumo) de bens pressupes a sua produo.
Prosseguindo nesta linha de raciocnio argumenta-se que as firmas no podem suprimir os
mercados, mas que estes s existem graas quelas e, portanto, no lgico afirmar que
sempre possvel firma desverticalizar-se e recorrer ao mercado, como sugeriu Coase
(1937), e assim a anlise esttico-comparativa torna-se falha por construo.
A anlise esttica ignora tanto os feed-backs institucionais quanto interaes mais
complexas dos agentes econmicos com outras instituies do capitalismo que no
mercados e firmas. Segundo Miller (1993), a anlise ignora as interaes e
interdependncias entre os indivduos e a sociedade. Sendo, de acordo com Hodgson
(1988) assim a ECT ignora a perspectiva da evoluo social que contm processos de
causao cumulativa, apreendendo as instituies em trajetrias dependentes de decises
cruciais em algum momento no tempo. Pessali (1998), ressalta que importante entender
que a performance no trabalho no conseqncia de uma natureza humana imutvel
calcada no oportunismo. O comportamento humano pode muito bem ser construdo a partir
das instituies sociais com as quais os agentes interagem.
Dietrich (1994) faz uma crtica fundamentada na centralidade estrutural das
condutas baseadas exclusivamente na eficincia, sem consideraes de poder. O autor
argumenta que a competio um processo que se baseia na explorao de vantagens
idiossincrticas e que estas so buscadas em cada barganha contratual, no em um s
momento no tempo, mas tambm em barganhas futuras, portanto as consideraes de
poder esto sempre presentes, e no s as de eficincia. Pitelis (1994) coloca que as
consideraes de eficincia e poder so inseparveis, e critica a rejeio do conceito de
poder por Williamson a partir da incapacidade de operacionalizao por quem o deseja
incluir na anlise das instituies econmicas, particularmente da firma. Primeiro porque o
fato de que hoje o conceito no foi ainda operacionalizado no quer dizer que no seja
operacionalizvel; e segundo porque na rea de sociologia h trabalhos caminhando em tal
direo.
Pessali (1998) refere-se ausncia de consideraes sobre o poder e argumenta
ainda que o modelo da ECT ignora outras variveis relevantes, a exemplo do
comportamento mimtico dos agentes e/ou organizaes em resposta incerteza. Desta
forma considera que permanece na ECT o uso da eficincia como racionalizao do status
quo, e a desconsiderao do uso do poder num ambiente competitivo e seus efeitos no
processo seletivo.
Tambm crtica a posio de Bouvier-Patron (1993). Ele identifica dois vises na
anlise de Williamson que lhe limitam o alcance. Um deles j foi comentado e refere-se
imputao de eficincia s estruturas de governana. Segundo Bouvier-Patron (1993), o
argumento usado por Williamson para justific-lo o fato de a firma comparar os custos de
transao no mercado e os custos da organizao. A partir dessa comparao, a firma opta
pela coordenao menos custosa e, assim, mais eficiente. O argumento de eficincia
assim deduzido e jamais demonstrado, uma vez que esse clculo s se pode fazer supondo
transaes homogneas.
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