Gestão de Compras
Gestão de Compras
3
Referencial terico - Compras e a cadeia de suprimentos
(supply chain)
Neste captulo sero descritos os conceitos de logstica e de cadeia de
suprimentos e onde a funo Compras se insere neste processo. Alm disto,
sero apresentados alguns modelos de gesto que destacam a funo Compras
e sua contribuio para a Organizao.
3.1
27
28
3.2
Definio da funo Compras
O modelo das 5 foras de Porter (1979) pode ser considerado relevante
para o reconhecimento da funo de Compras como funo estratgica, na
medida em que reconhece os fornecedores como uma das foras do mercado.
Assim, a rea de Compras definida como uma funo importante na
organizao, em funo do contato direto com o mercado fornecedor (CARR e
SMELTZER, 1997)
Ellram e Carr (1994) consideram que Compras possui um papel-chave
para o sucesso de uma organizao, na medida em que responsvel pela
seleo e desenvolvimento dos fornecedores, que serviro de base para o
crescimento da empresa no longo prazo. Alm disto, Compras tem ao direta
na reduo dos custos de aquisio dos insumos de produo.
A funo Compras geralmente a primeira interface da empresa com seus
fornecedores e sua importncia para a organizao se evidencia no fato que as
compras externas representam cerca de 60% do custo de venda do produto, no
caso de empresas produtoras de bens, e 25% para organizaes que atuam na
prestao de servios (ELLRAM, 2002).
Ainda segundo Ellram, se for considerada a indstria de bens de
consumo, na qual se enquadram os xampus e condicionadores, o papel de
Compras se torna ainda mais crtico, pois se trata de um segmento com alto
nvel de competio e presso alta por lucratividade.
Para Narasimhan e Das (2000), a rea de Compras importante para
organizaes industriais que busquem ser mais flexveis e com isto serem mais
competitivas.
Carr e Smeltzer (1997) afirmam que fundamental que as aes de
Compras estejam alinhadas com a estratgia global da organizao (CARR e
29
3.3
A funo Compras na cadeia de suprimentos
Comprar afeta indiretamente o fluxo de produtos no canal de
suprimento fsico. As decises relativas seleo dos pontos de
embarque do fornecedor, a determinao das quantidades de compra e
os mtodos de transporte, so algumas das decises importantes que
afetam os custos logsticos. (BALLOU, 2002, p. 327).
de
matrias-primas,
suprimentos
componentes
para
uma
30
Gesto de inventrios;
Melhoria de qualidade;
Desenvolvimento de fornecedores;
Padronizao;
31
32
Administrao de relacionamento;
Foco no consumidor.
33
uma funo de apoio estratgia corporativa, ou sendo, ela prpria, uma funo
estratgica. De fato, a funo Compras j vista em algumas empresas como
uma atividade de importncia estratgica considervel e este papel estratgico
reconhecido como relevante, na medida em que as decises estratgicas do
setor passaram a ser tomadas no nvel de diretoria, no se limitando gerncia
departamental. A estratgia de compras seria ento um conjunto de aes de
responsabilidade da funo de Compras, que so realizadas para atingir os
objetivos definidos pela estratgia corporativa da empresa.
3.4
O modelo das 5 foras de Michael Porter (1979)
O modelo das 5 foras de Porter (1979) reconhece as foras que atuam no
contexto organizacional, a importncia estratgica de cada uma delas e analisa
como elas influenciam a indstria na qual a organizao est inserida. Para
Porter (1979) a essncia da formulao de uma estratgia competitiva est em
relacionar a empresa com o meio ambiente em que atua.
Dentre as foras apresentadas por Porter destaca-se a importncia de
compradores e fornecedores. Segundo Porter, os fornecedores podem exercer
seu poder de barganha em uma indstria, aumentando preos ou reduzindo a
qualidade dos seus produtos e servios. Quanto maior o poder dos
fornecedores, maior o risco de comprometimento da lucratividade do setor, que
34
podem
comprometer
as
condies
comerciais
acordadas,
35
3.5
O modelo de James Austin (1990)
O Modelo de Anlise Ambiental Environmental Analysis Framework
EAF, proposto por Austin, tem como objetivo principal identificar e entender os
canais atravs dos quais as foras externas causam impacto na organizao.
Segundo o modelo, devem se classificar as foras externas em quatro
categorias de fatores ambientais, a saber: econmicos, polticos, scio-culturais
e demogrficos.
36
37
ambientais
mencionados
anteriormente,
sendo
que
aes
em
determinado nvel podem afetar os demais nveis, uma vez que eles so
interativos.
Desta maneira, o modelo de Austin (1990) objetiva oferecer uma estrutura
para analisar de forma integrada o contexto no qual a arena competitiva se
insere, onde pode-se apontar, como principais diferenas em relao ao
tradicional modelo de Porter (1979), as abordagens abaixo:
1. As aes do Governo ganham o status de mega-fora, fazendo com que
o modelo passe a contar com seis foras (o controle dos recursos e poderes
3.6
Anlise de Portflio de Kraljic
Peter Kraljic publicou em 1983 um artigo que se tornou referncia para os
estudos sobre estratgicas organizacionais de compras. Segundo Kraljic, uma
estratgica de fornecimento organizacional depende basicamente de dois
fatores, que seriam:
A importncia estratgica do insumo, em funo de sua participao no
custo do produto final, no montante de compras da empresa ou do seu
impacto no nvel de lucratividade da empresa;
A complexidade do mercado fornecedor, em termos de disponibilidade de
fornecedores, de tecnologia para produzir o insumo, de barreiras de
entrada, de custos logsticos e a existncia de monoplios / oligoplios no
setor.
38
Gerncia de
Gerncia de
materiais
suprimentos
Gerncia de
Gerncia de
compras
sourcing
39
40
demanda uma ateno especial para alguns itens que, embora possuam um
valor relativamente baixo, so crticos para a produo e no podem faltar no
estoque.
3.7
A deciso de fazer ou comprar
Os custos de transao abordados por Ronald Coase (1937) em sua obra
The Nature of The Firm, consistem nos custos incorridos quando das transaes
entre agentes econmicos. So custos difceis de precificar e que correspondem
principalmente
incertezas
existentes
quanto
possibilidades
de
41
Caracterstica do Investimento
Clssicos)
(Contratos
Governana de Mercado
Recorrente
Ocasional
No-especfico
Frequncia
Misto
Governana
Idiosincrtico
Trilateral
(Contratos Neo-clssicos)
Governana Governana
Bilateral
Unificada
(Contratos relacionais)
A governana de mercado seria indicada para investimentos noespecficos, realizados tanto de maneira recorrente como ocasional, para os
quais indicada a confeco de contratos clssicos que estabelecem punies,
normalmente financeiras, caso uma das partes no cumpra com o acordado. Por
envolverem a compra de produtos ou servios considerados standard, faz com
que a possibilidade de encontrar uma alternativa no mercado, caso surgisse
algum litgio entre as partes, represente a melhor proteo para a empresa
contra uma ao oportunista da outra parte.
42
no processo.
O risco de oportunismo est ligado procura do auto-interesse e envolve
a astcia ou mesmo a fraude. A hiptese no de que todos os indivduos sejam
oportunsticos em mesmo grau, mas de que mesmo os menos oportunsticos
"tm o seu preo". Uma implicao bsica de que, em funo da incerteza e
das modificaes no cenrio que envolvem a vigncia de uma relao contratual,
possibilidades de litgio e obstculos para o cumprimento do contrato podero
surgir.
Desta forma, relaes econmicas que envolvem prazos longos e
lacunas contratuais exigem uma estrutura institucional apropriada, capaz de
diminuir os riscos e efeitos do comportamento oportunstico.
O comportamento oportunstico seria ento uma caracterstica da
natureza humana, a qual gera implicaes quanto ao formato jurdico-legal que
determinadas transaes vo assumir ou quanto s adaptaes que devero ser
realizadas no formato das transaes.
O conceito de oportunismo especialmente importante na anlise da
atividade econmica que envolve investimentos especficos transao, em
capital fsico e humano, no eficiente processamento de informaes e tambm
na avaliao dos custos de transao, que uma tarefa que envolve uma
anlise institucional comparativa.
43
3.8
Objetivos da funo compras
Como visto, o contexto econmico no qual operam atualmente as
indstrias tem sofrido constantes alteraes (WOOD JR. e ZUFFO P.K., 1998) e
mudanas importantes no contexto de mercado, como a intensificao da
competio local e a insero de concorrentes globais, tornam ainda mais difcil
a tarefa das empresas que pretendem obter sucesso no mercado em que atuam
(CAPS, 2002).
Para Carr e Smeltzer (2000), a funo Compras tem importncia crucial
para as empresas e representa um recurso que pode ajudar a organizao a
44
esto inseridas num contexto voltil, em que a nica certeza que se tem a
constante mudana. A orientao estratgica torna-se ento uma premissa
fundamental para a empresa que busque ser eficiente nas suas aes de
compra (LEENDERS e FEARON, 1997, apud ELLRAM et al. 2002)
Diante deste cenrio, a CAPS (Center for Strategic Supply Research),
realizou em 2002 uma pesquisa junto a uma grande empresa americana
fabricante de produtos, com o intuito de identificar as boas prticas de Compras,
que poderiam contribuir para melhorar o desempenho da rea e que tornem a
organizao mais competitiva no mercado em que atua. Diversas prticas foram
sugeridas, como a centralizao das compras das diferentes unidades,
principalmente de commodities e materiais de uso comum, a reviso do nmero
45
3.9
Prticas de Compras
Compras Globais (Global Sourcing)
Segundo Quintens et al (2006), a prtica de Global Sourcing seria a ao
de procura e compra efetiva de bens e servios a partir de fontes localizadas em
diferentes partes do mundo, com o objetivo de tornar a empresa compradora
mais competitiva perante seus concorrentes.
Trata-se de um processo que possui carter estratgico, que visa o
desenvolvimento de sinergias entre as empresas, para assegurar a eficcia da
operao.
Os autores ressaltam que a operao vai alm da movimentao fsica
de produtos e adquire caracterstica estratgica, enfatizando tambm que uma
deciso de compra local pode ser considerada uma prtica de global sourcing,
desde que a empresa tenha avaliado as possibilidades de compra em outros
pases.
Kraljic, em seu conhecido artigo publicado em 1983, Purchasing must
sourcing.
Moncka e Giunipero (1997) afirmam que, uma empresa que busque ser
referncia no cenrio internacional (world class organizations), precisa adotar
estratgias que a tornem mais competitiva. No caso especfico da rea de
Compras, preciso enxergar o mundo como um grande mercado fornecedor e,
com isto, procurar insumos ao menor custo possvel.
Para Monckza e Morgan (2000), a prtica de global sourcing representa
um desafio para os profissionais de Compras e pode gerar ganhos para a
empresa que aproveite bem as oportunidades ligadas s diferenas de impostos
entre os pases e possveis variaes cambiais. Enfatizam ainda que preciso
que os profissionais de Compras tenham liberdade e poder para identificar,
desenvolver e negociar com fornecedores localizados em diferentes pases, com
46
3.9.1
Aspectos ligados ao processo de Compras Globais (Global Sourcing)
Quintens et al (2006) apresentam alguns aspectos ligados ao processo
de
global
sourcing,
classificados
em
elementos motivadores
(drivers),
global sourcing.
Elementos facilitadores:
sourcing.
47
Barreiras
Variaes na demanda.
3.11
Alianas com fornecedores
Monczka et al (1998, p. 555-556, apud Furtado, 2005) definem alianas
com fornecedores como sendo relaes cooperativas e de longo prazo,
estabelecidas com o objetivo de influenciar as competncias estratgicas e
operacionais das empresas que dela participam na busca contnua de benefcios
para cada uma das partes.
Portanto, antes de estabelecer alianas com fornecedores, a empresa
deve avaliar se o parceiro escolhido ser capaz de agregar valor operao e
48
et al, 1995).
Para Lambert e Cooper (2000), a empresa deve desenvolver alianas
com um pequeno grupo de fornecedores, com o objetivo de estabelecer um
relacionamento ganha-ganha em que os dois lados sejam beneficiados. Alianas
com fornecedores-chave tm sido uma tendncia em alguns setores da indstria
(DIXON e PORTER, 1994; HENDRICK e ELLRAM, 1993, apud ELLRAM et al,
2002).
Segundo estes autores, empresas de sucesso esto mais atentas ao fato
que os fornecedores so potenciais candidatos ao estabelecimento de alianas,
49
distribuidores
compartilham
informaes
crticas
com
as
50