Introducao Ao at Zenger Salmos
Introducao Ao at Zenger Salmos
Introducao Ao at Zenger Salmos
muitas vezes caricaturada como "happy end", constitui uma expresso da esperana de
que Jav em ltima instncia se revelar como um Deus que quer e pode concretizar
vida abundante justamente para as pessoas atormentadas at a morte.
idem, "Von seinem Thronsitz schaut er nieder auf alie Bewohner der Erde" (Ps 33,14).
Redaktionsgeschichte und Kompositionskritik der Psalmengruppe 25-34, in: FS O.
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1994); idem, Ein Gott der Rache? Feindpsalmen verstehen, Freiburg 1994.
1. Designaes e estrutura
1.1. Nmero e forma de contagem dos salmos
O livro dos Salmos uma composio de 150 textos poticos ("salmos") de diferentes gneros (formas principais: lamentao, splica, louvor, gratido), origens e
pocas. Esses 150 salmos no perfazem os nicos salmos da Bblia. Tambm em
outros livros ocorrem salmos, geralmente numa localizao estruturalmente
destacada (p. ex., o cntico de vitria no mar dos Juncos: Ex 15,1-18; o cntico de
Moiss: Dt 32; o cntico de Debor: Jz 5; o "magnificat" de Han: 1Sm 2,1-11; o
cntico de despedida de David: 2Sm 23,1-7; o hino de gratido dos
salvos: Is 12; o salmo de Jonas: Jn 2,3-10; o cntico de Judite: Jt 16). Vrios livros
ou partes de livros so permeadas de linguagem de salmos (p. ex., Is 40-55; Jr; J).
O livro das Lamentaes at poderia ser designado de segundo livro cannico de
salmos.
Pelo menos na fase final do surgimento do livro dos Salmos, o objetivo claro era
criar uma seleo de exatamente 150 salmos. o que corrobora a verso da LXX,
que por um lado conta vrios salmos singulares de maneira diferente do livro
hebraico dos Salmos e por outro se atm de tal forma ao nmero 150 que ela caracteriza expressamente como fora da contagem o "salmo final", Sl 151, que ela
traz como "excedente" em relao ao livro hebraico de salmos. Tambm em
Qumran se preserva o nmero 150, quando no rolo 11 QPsa, referente ao ltimo
tero do livro dos Salmos de Qumran, os salmos que ainda seguem aps os cinqenta salmos so claramente catalogados como "apndice".
Visto que a Vulgata tambm enumera os salmos pela subdiviso da LXX, uma
parte dos comentadores cristos manteve essa contagem at tempos bem recentes.
Tambm os livros oficiais da liturgia catlica utilizam essa enumerao (geralmente trazem entre parnteses a contagem da Bblia hebraica). A fim de evitar
confuso, desejvel que prevalea a forma de contar da Bblia hebraica especialmente quando esse texto tomado como base para as tradues s lnguas
vernculas.
A enumerao diferente ocorre pelo fato de que a LXX considera tanto os S19 e 10
quanto os 114 e 115 como um nico salmo e decompe cada um dos 51 116 e 147
em dois salmos. Da resultam as seguintes diferenas na contagem:
M (hebraico) G
(LXX)
1-8
1-8
9/10
9
11-113
M
114/115
116,1-9
116,10-19
G
113
114
115
M
G
117-146 116-145
147,1-11
146
147,12-20
147
148-150 148-150
151
1.2. As designaes
A designao "(livro dos) Salmos" que se tornou usual na tradio crist originou-se
do ttulo dos salmos, j confirmado na LXX como traduo do ttulo mais freqente
(57 vezes), mizmr = falar cantado em forma de cantilena, com acompanhamento de
cordas (inXp o, de ij uXKeLv = tanger as cordas). Esse termo, tambm utilizado no
NT (cf. Lc 20,42; 24,44; At 1,20), consta expressamente como ttulo do livro sobre
os 150 salmos no manuscrito B (Codex Vaticanus), originrio do sc. IV d.C.
Contudo, questionvel se esse ttulo pode ser interpretado como definio da
forma de recitao desses textos praticada no tempo bblico. Essa titulao surgiu
presumivelmente no contexto da "davidizao" dos salmos (v infra; mizmr ocorre
35 vezes em conexo com "de/para David") e adere tradio bblica
S13:
S14:
S15:
S16:
S17:
situaes de aflio
cerco de inimigos
carncia social
falta de direitos
enfermidade
cerco de inimigos
513,6:
514,9:
Si 5,4:
Si 6,7:
517,12
esquema cronolgico
manh
entardecer
manh
dia
noite
O grupo de preces dos Si 9-14 gira em torno da ameaa mortal dos "pobres" caracterizados como grupo social que, no meio de um mundo hostil que o cerca,
deposita sua esperana no Deus do juzo, o qual combate o caos e restabelece a
ordem transtornada da vida. O centro dessa composio o Sl 8 em forma de hino,
que considera que o fundamento da dignidade humana dos perseguidos e pobres que
se lamentam, nos S13-7 e 9-14, o Deus Criador e rei do universo, que ao mesmo
tempo o Deus de Israel (Si 8,2.10: "Jav, nosso Senhor..."). O S18 constitui de certo
modo a coluna central [de um altar gtico], da qual pendem as duas tabelas de
quadros dos S13-7 e 9-14. As dobradias so claramente perceptveis no texto: o
517,18 (final do salmo) retomado no S18,2 (comeo). O Si 8,10 (final)
continuado no Sl 9,2s (comeo).
5142-49, de Qrah
42/43(eu) -44 (ns)
45-48
49 (eu)
Si 84-85.87-88, de
Qrah
84 (eu) - 85 (ns)
87
88 (eu)
composio
"doutrina"
lamento
resposta (de Deus)
lamento
Sl 73-77, de Asaf
73
74 (ns)
75-76
77 (eu)
Sl 78-83, de Asaf
78
79-80 (ns)
81-82
83 (eu)
Si de Asaf
50
B
Si de Davi
51-72
C
Si de Asaf
73-83
B
Sl de Qrah
84-89
A
1-2
3-41
42-72
73-89
90-106
107-145
146-150
de levitas permanecia nos degraus entre o trio das mulheres e o dos homens. Nessa
posio a comunidade presente podia ver e ouvir bem o coral. A "comunidade" via de
regra cantava somente o refro ou um versculo breve (p. ex., "pois sua
fidelidade/bondade para sempre", cf. Si 135). Obviamente era pequeno o nmero dos
salmos utilizados nessa ocasio. Ele no se orientava pela seqncia do livro cannico
dos Salmos (os "salmos da semana" eram, a comear pelo domingo como primeiro dia
da semana, os S124; 48; 82; 94; 81; 93; 92). Da mesma forma temos certeza de que
determinados salmos eram entoados por todos, em liturgias, nas quais a comunidade
estava mais intensa e diretamente envolvida que no ritual do sacrifcio (p. ex., os
"salmos festivos", S150; 81; 95, numa "festa da aliana" ou os "salmos de hallel", Sl
113-118, na noite da Pscoa). Tampouco cabem dvidas de que o coral apresentava os
"salmos de lamentao do povo" por ocasio das grandes liturgias de lamentao e
penitncia no templo (cf. o livro das Lamentaes). Contudo isso tudo no constitui
uma comprovao suficiente para afirmar que o livro dos Salmos se formou para a
participao no culto do templo. Para o culto havia possivelmente pequenos "rolos de
salmos" especficos, selecionados e ordenados segundo critrios litrgicos. Alguns dos
rolos de salmos encontrados em Qumran (em fragmentos), com seqncias diferentes de
salmos, poderiam confirmar essa hiptese. Pelo menos diversos especialistas defendem
que algumas colees de salmos de Qumran foram direcionadas para o uso litrgico.
O livro de Salmos tampouco surgiu como "livro de cnticos e oraes da liturgia da
sinagoga". Lamentavelmente temos at agora pouca informao exata sobre o
surgimento e a organizao das comunidades das sinagogas e sobre a relao delas com
as "comunidades locais". Deve-se presumir que nesse caso as condies eram diferentes
em Israel e na dispora. Contudo, mesmo em Israel deve ter havido diferentes
"concepes de sinagoga", nas quais os diferentes agrupamentos e movimentos
praticavam sua identidade judaica com acentos especficos. Mesmo que haja
probabilidades de que a estrutura bsica da liturgia era prescrita s diferentes sinagogas
(leitura da Escritura, bendies/doxologias como moldura, "ouve Israel"), no existem
indcios de que o livro dos Salmos fazia parte dos elementos estruturais comuns.
Sobretudo no h comprovao, nem literria nem histrica, para a hiptese que no
passado foi apresentada repetidas vezes, de que os 150 salmos bblicos teriam sido
selecionados para a liturgia matinal aos sbados na sinagoga como "salmos de resposta"
s (redondamente) 150 leituras da Tor (de acordo com a ordem palestina de leituras,
prevista para 3 anos). Entretanto pouco provvel que a liturgia da sinagoga tenha
transcorrido totalmente "sem salmos".
O canto, a recitao e a explicao de salmos devem ter ocupado um espao
importante sobretudo em reunies "particulares" de culto a Deus. Disso no apenas
do notcia alguns rolos de salmos de Qumran e as informaes de Flon sobre a
celebrao noturna dos agrupamentos de terapeutas que viviam no Egito. Tambm no
NT encontram-se indcios de que nos mais antigos cultos (domiciliares) cristos eram
usados salmos bblicos (cf., p. ex., At 4,24-30).
Entre os judeus do tempo de Jesus, pelo que se evidencia, o livro bblico dos Salmos
representava o texto bsico da religiosidade pessoal meditativa e das esperanas
messinicas. Ele era o "livro da vida", em especial daqueles grupos que nos salmos so
denominados "os pobres", "os fiis" e "os justos". Nos salmos eles buscavam e
encontravam edificao, consolo, esperana e orientao para a vida. At que ponto os
assim chamados pequenos tinham capacidade para ler eles prprios os salmos e os liam,
se havia sbios escribas que os ensinavam e os comunicavam a eles, se os salmos
faziam parte da "matria de aprendizado" elementar das "casas de ensino" (cf. Sr 51,23)
e das sinagogas, se eles eram textos centrais de meditao nas "irmandades" (habrt)
do movimento dos fariseus tudo isso pode ser imaginado, sem que, porm, seja
possvel demonstr-lo com certeza. A difundida familiaridade com o livro dos Salmos
esclarece por que justamente o Saltrio, conforme a evidncia das citaes no NT, era o
livro predileto do cristianismo. Praticamente um tero de todas as citaes do AT no NT
so provenientes do Saltrio. Com nenhuma outra parte de seu Primeiro Testamento os
cristos estavam familiarizados nessa proporo, tanto os destinatrios dos escritos
neotestamentrios quanto seus autores.
O livro de Salmos hoje existente formou-se em vrias "remessas", a saber, pela
juno de coletneas menores, parte das quais possui cada uma sua prpria histria de
surgimento. Como regra geral pode valer: a seqncia das coletneas parciais no livro
dos Salmos tambm corresponde sua idade.
Bem poucos salmos isolados so originrios do tempo anterior ao exlio. As
coletneas parciais mais antigas podem ser distinguidas nos saltrios de David,
513-41 e 51-72. A afirmao de que essas colees j existiam como composies
prontas antes de ser unificadas numa coletnea maior comprova-se no fato de que
nelas um salmo foi transmitido com terminologia quase idntica, porm com diferenas de peso, devidas ao contexto/grupo em que est inserido (S114 = S153;
principal diferena: Si 14,6 uma afirmao da teologia dos pobres, de acordo com
o contexto dos "salmos dos pobres", SI 11-14 [v supra]; o 5153,6 uma promessa
de livramento, diante dos "sitiantes", em conformidade com o contexto de guerra e
perseguio dos "salmos de David", Sl 52-68; no saltrio de David, S151-72, a
"teologia dos pobres" aparecer somente nos S169-71). As coletneas mais antigas
surgiram como "colees davdicas" na poca do exlio como compilao de salmos
de lamentao e gratido, porque se buscava no "David" perseguido uma figura de
identificao que inspirasse esperana.
Diversos salmos singulares so variaes magistrais dos quatro gneros bsicos dos
salmos: salmo de lamentao (esquema da estrutura: invocao lamentosa do nome de
Deus com descrio da aflio, pedido por salvao, confisso de confiana; exemplos:
Si 6; 13), salmo de splica (esquema da estrutura: pedido introdutrio com nfase na
inocncia, splica central com deta-
lhada descrio da aflio, preces finais em vista de inimigos e amigos; exemplos: S15;
17), hino/salmo de louvor (esquema da estrutura: convite a louvar a Jav, justificativa e
execuo do louvor, geralmente iniciado com ki = pois, fechamento; exemplos: Si 113;
117), e salmos de gratido (esquema da estrutura: anncio da gratido, narrativa da
salvao obtida, convite "comunidade" para aderir gratido; exemplos: 5130; 116).
Numerosos salmos constituem poemas originais que se aproximam apenas de forma
bastante vaga das categorias bsicas, ou sequer o fazem. Outros salmos possuem uma
estrutura mais condicionada pelo tema (salmos de Sio, de peregrinao, de Jav como
rei, salmos do rei, salmos da Tor).
frases radicam na realidade de Deus, de que ELE est presente e quer estar presente
no meio de SEU povo. A posio fundamental da qual provm os salmos, e que
eles oferecem para aceitao e exerccio prtico, que o Deus Jav no o dolo de
uma transcendncia vazia (filosfica ou matemtica), mas um tu vivo, um Deus
com quem se pode falar, que ouve e se deixa desafiar, perante o qual se pode
derramar o corao, a quem se pode dizer tudo (sem medo de mal-entendidos e
sanes), que at se "arrepende" (cf. Ex 32,14). Cada um dos salmos de
lamentao, quando lamenta e denuncia em alta voz o carter enigmtico e o
silncio de Deus, ou o abandono por ele, experimentado como hostilidade, atesta a
convico de que a vida humana unicamente pode se realizar e se consumar como
vida perante e com o Deus vivo. Por isso os salmos de lamentao concluem (para
ns muitas vezes de forma surpreendente) com uma afirmao de testemunho
positivo. E por isso justamente os salmos de lamentao, enquanto expresso
literria da busca agnica do Deus misericordioso e salvador, constituem uma
glorificao do Deus Jav.
3.4 - A tradio judaica j atribuiu no tempo bblico todo o livro dos Salmos
autoria de David. Esse processo da "davidizao" (N. Fglister) do Saltrio, que
comeou quando nos ttulos (secundrios) David foi citado como autor de salmos
(na Bblia hebraica em 73 dos 150 salmos; na traduo grega so 83), e prosseguiu
quando se acrescentaram diversas vezes indicaes sobre uma situao da vida de
David, na qual o respectivo salmo estava "ambientado", constitui uma
qualificao teolgica do Saltrio: ele o livro real-messinico por excelncia. Os
salmos so as oraes da esperana messinica. Enquanto ressoam os salmos "de
David", permanece acesa a esperana pelo "David" que retorna. "David",
compositor e orador de salmos, a figura ideal do Israel que vive perante e com
seu Deus. O midraxe o expressa do seguinte modo: "Cada trecho que David
afirmou no livro dos Salmos, ele afirmou com referncia a si prprio e com
referncia ao Israel todo" (MidrPs 24,3). Inversamente certo que, quando
"Israel" pronuncia os salmos, como se o prprio David os pronunciasse e
cantasse (cf. MidrPs 4,1). Nesse ponto importante notar que as indicaes
"biogrficas" nos ttulos escolheram, como tipo para o Israel amado por Deus e
que ama a Deus, no o David "herico" e "guerreiro", e sim o David perseguido,
sofredor, pecador e penitente. David na "noite", cheio de saudades do "alvorecer",
a figura-mestra messinica que se torna presente a partir e dentro dos salmos.
nessa biografia mstica de David que os oradores dos salmos penetram ouvindo e
orando. Foi assim que tambm Jesus orou os salmos: no "seguimento" a David.
assim que Israel ora os salmos at hoje. E tambm dessa maneira, ombro a
ombro com Israel, no seguimento a "David", que os cristos devem or-los. Com
Jesus. Na esperana pela vinda do reino de Deus.
4. Relevncia
Os salmos fazem parte dos grandes poemas da literatura mundial. Inspiraram
muitos poetas. Tornaram-se o livro clssico oficial de oraes da Igreja, singularmente
na orao eclesial das horas e como salmos responsivos na liturgia. Vrios salmos esto
at hoje entre as oraes prediletas de judeus e cristos.
Entretanto, diversos salmos causam dificuldades a muitos oradores. H outras
pessoas que manifestam reservas teolgicas contra o uso de salmos
"veterotestamentrios/judaicos" como oraes crists. Sobre isso cabe ponderar o
seguinte:
4.1- Freqentemente vista uma contradio entre formulrios de orao, ou
"oraes enlatadas", e a orao pessoal, espontnea, que brota de uma situao. Nessa
atitude avalia-se como autntica somente a segunda maneira de orar. A prpria
Escritura nos informa com freqncia sobre oraes condicionadas situao nas
narrativas histricas e nos profetas. Entretanto, com suas canes e oraes
canonizadas, ela tampouco ignora que o ser humano precisa de modelos para orar. H
situaes de necessidade (alheia e prpria), e at situaes de alegria, que deixam uma
pessoa sem palavras, quando ela fica agradecida que os salmos lhe emprestam a palavra,
a fim de pronunciar perante Deus o que a move. sob esse aspecto que os salmos
ajudam os distrados, os desorganizados, os atormentados e mudos a se dirigir a Deus.
Privilegiar a orao espontnea desconhecer que orar no significa somente o falar
individual de cada sujeito com Deus, mas pode ser realizado na comunho pequena e
grande. Por natureza a gratido, o louvor e a alegria pressionam para a comunicao.
Lamento e aflio permanecem antes trancadas. Com freqncia os salmos podem ser o
primeiro passo para a comunicao com outros, convidando-os, assim, ao envolvimento
solidrio.
4.2 - Os salmos muitas vezes servem de alvo da reclamao crist. Critica-se a
"onipresena" de inimigos justamente nas oraes de lamentao, que dificilmente
atingiria a situao do orador moderno. Nas imprecaes dos inimigos, nos insistentes
apelos "vingana de Deus", que ele condene os inimigos pessoais do orador,
transparece um trao no-cristo, que no sobe ao nvel do amor cristo ao inimigo.
Tais julgamentos globais devem auto-examinarse se no esto dando um impulso ao
preconceito, difcil de exterminar desde Marcio, de que o Deus da vingana do AT
estaria em oposio ao Deus do amor do NT, um preconceito que envenenou as relaes
entre cristianismo e judasmo e compromete pesadamente a unidade da Bblia crist do
Primeiro e do Novo Testamentos. Primeiramente h que exigir o respeito diante do envolvi
Ele se situa numa aflio real e a leva sem filtragens at Deus. Suas oraes convocam a
falar sobre inimigos e inimizades e a no reprimir essas realidades sempre existentes. O
orador luta pela anulao de suas diversas necessidades e solicita que os padres divinos
sejam implantados agora em sua vida ante a morte. Sob esse aspecto os salmos podem
ajudar o cristo a perceber sofrimentos concretos, a no adiar o combate a eles e a
manter acesa a f no Deus misericordioso e justo, que introduzir sua justia.
4.3 - A Igreja se atm firmemente aos "salmos de David" por fidelidade a Jesus que
orou os salmos. Os evangelhos, particularmente a histria da Paixo, o apresentam
como o orador paradigmtico dos salmos, que seguiu seu viver e morrer como caminho
com e para o Deus de Israel, recitando e meditando os salmos de lamento e confiana da
tradio judaica (entre outros, Si 22; 31; 42/43; 69), ao mesmo tempo esperando aquela
comunho indestrutvel e salvadora com Deus, que se articula precisamente nesses
salmos (cf. em especial o S116). A cristologia do Novo Testamento , em boa extenso,
"cristologia de salmos".
4.4 - A Igreja primitiva entendeu e defendeu o fundamento judaico lanado por
Jesus para a orao crist. Nem o Novo Testamento nem a literatura eclesial do sc. II
produziram uma coletnea "nova" de oraes e hinos cristos. Certamente houve, nos
cultos a Deus celebrados pela Igreja primitiva e pelas comunidades por ela fundadas,
um brotar espontneo carismtico e entusistico de "salmos e hinos" (cf. ICor 14,15.26;
Cl 3,16; Ef 5,19). Contudo, no foram colecionados para se tornarem uma parte da
Bblia cannica ou das ordens eclesisticas. E quando pela evidente influncia de
Marcio os marcionitas criaram um novo saltrio oposto, para o que encontraram vrios
imitadores, a Igreja combateu essa composio hertica e gnstica de hinos, porque no
tinham nada de judaico no universo imaginrio e estilo, e porque se distanciavam do
modelo de orao do orador (de salmos) Jesus. Na rejeio de heresias cristolgicas,
Tertuliano, o primeiro Pai da Igreja latino, j por volta de 200 a.C. recorre aos salmos de
David, que ele contrape aos hereges platonizantes como testemunhos bblicos da
verdadeira humanidade de Jesus: "Nisso os salmos nos do apoio, no os do apstata,
herege e platnico Valentino, mas os santos e plenamente reconhecidos salmos de
David. David canta para ns de Cristo, e por meio dele Cristo canta para ns sobre si
prprio". E no incio do sc. III a Didascalia sria recomenda aos que tm riqueza e
tempo que leiam livros, a Tor e os evangelhos - e os salmos de David: "Se anseias por
hinos, tens os salmos de David".
4.5 - Ao recitar os salmos de Israel, a Igreja diz um "sim" declarado sua histria
de origem judaica e ao legado "espiritual" que ela reparte desde os seus
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