Livro - História Do Tocantins
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B) A PRODUO AUCAREIRA
Depois de se decidir pela ocupao da terra por meio da colonizao, atravs de um sistema produtivo,
Portugal optou pela produo do acar. A escolha lusa ocorreu por trs motivos fundamentais: 1) A cana-de-acar
adaptava-se bem ao clima e ao solo da maior parte do litoral brasileiro; 2) o acar era um produto conhecido em
toda a Europa; 3) j havia por parte dos portugueses uma certa experincia na produo aucareira, adquirida dos
canaviais das ilhas da Madeira e dos Aores.
A produo aucareira organizou-se de maneira a propiciar a mxima rentabilidade, baseada no sistema de
plantation, ou seja, na grande propriedade, monocultora e escravista, produtora em larga escala de acar destinado
aos mercados externos.
Nessa forma de organizao econmica construiu-se uma sociedade colonial que refletia, sem dvida, as
relaes de produo existentes. Assim, a estrutura dessa sociedade estava baseada, essencialmente, em duas
classes opostas: de um lado, a classe senhorial ou de proprietrios e, de outro, a dos escravos. Numa faixa
intermediria, servindo aos interesses da classe dominante, encontravam-se homens brancos, desempenhado vrias
funes, como: lavradores livres, feitores, padres das capelas, mestres-de-acar, etc.
... O ser Senhor de Engenho titulo a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e
respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser
senhor de engenho, quanto proporcionalmente se estima os ttulos de fidalgos do Reino. Por que engenhos h na
Bahia que do ao senhor quatro mil pes de acar e outros pouco menos, com cana obrigada moenda, de cujo
rendimento logra o engenho ao menos a metade, como de qualquer outra, que nem livremente se mi: e em
algumas partes, ainda mais que a metade...
(ANTONIL, Andr Joo. Cultura e opulncia do Brasil. Belo Horizonte, Itatiaia, So Paulo: Edusp, 1982.)
C) ADMINISTRAO COLONIAL
1- Capitanias Hereditrias: Em 1534, visando promover o povoamento efetivo e o desenvolvimento da Amrica
Portuguesa, o rei D. Joo III instituiu as Capitanias Hereditrias. Esse sistema j havia sido utilizado com xito nas
possesses portuguesas das ilhas do Atlntico (Madeira, Cabo Verde, So Tom e Aores).
Entre os donatrios no figurava nenhum nome da alta nobreza ou do grande comrcio de Portugal, o que
mostrava que a empresa no tinha suficiente atrativo econmico. Somente a pequena nobreza, cuja fortuna se devia
ao Oriente, aqui aportou, arriscando seus recursos. Traziam nas mos dois documentos reais: a carta de doao e os
forais. No primeiro o rei declarava a doao e tudo o que ela implicava. O segundo era uma espcie de cdigo
tributrio que estabelecia os impostos.
A opo pelo sistema de Capitanias Hereditrias foi determinada por uma srie de fatores: primeiro, a
experincia portuguesa, segundo, Portugal no tinha recursos e condies financeiras para arcar com as despesas na
montagem do aparelho administrativo necessrio para sustentar a colonizao.
O regime de capitanias hereditrias transferia para a iniciativa privada, a tarefa de colonizar o Brasil.
Entretanto, devido ao tamanho da obrigao e falta de recursos, a maioria fracassou. Sem contar aqueles que
preferiram no arriscar a sua fortuna e jamais chegaram a tomar posse de sua capitania. No final, das catorze
capitanias, apenas Pernambuco teve xito, alm do sucesso temporrio de So Vicente. Quanto s demais
capitanias, malograram e alguns dos donatrios no s perderam seus bens como tambm a prpria vida.
Infelizmente, para a Coroa, os riscos eram muito grandes e as recompensas demasiado incertas para persuadir
os donatrios a fazer os investimentos requeridos. Apenas duas capitanias foram bem-sucedidas: So Vicente e
Pernambuco. A primeira ficava ao sul da atual cidade de So Paulo, e a segunda, no Nordeste.
(SKYDMORE, Thomas E. Uma Histria do Brasil. So Paulo, Paz e Terra, 3 ed., 2000.)
Portanto, os objetivos pretendidos com a criao das capitanias hereditrias no se consolidaram
totalmente. A falta de recursos financeiros, a inexperincia de alguns donatrios, o precrio sistema de transporte e
comunicao e o relacionamento hostil entre portugueses e indgenas levaram ao fracasso a quase totalidade das
capitanias. Estava claro que o povoamento e colonizao atravs da iniciativa particular era invivel.
FONTE: http://www2.mre.gov.br/acs/diplomacia
2- Governo-geral (1549) Em 1548, diante do fracasso das capitanias, a Coroa portuguesa decidiu tomar medidas
concretas para viabilizar a colonizao. Naquele ano foi criado o governo-geral com base num instrumento jurdico
denominado Regimento de 1548 ou Regimento de Tom de Sousa. O governo-geral foi criado no para extinguir,
mas para complementar o sistema de capitanias hereditrias, centralizando a administrao colonial e coordenando
a ao dos donatrios.
No regimento o rei declarava que o governo-geral tinha como funo coordenar a colonizao fortalecendo
as capitanias contra as aes adversas, destacando-se particularmente a luta contra os tupinamb.
A compra da capitania da Bahia pelo rei, transformando-a numa capitania real sede do governo-geral foi
o primeiro passo para a transformao sucessiva das demais capitanias hereditrias em capitanias reais, instalando
nessa capitania um aparelho administrativo composto pelo ouvidor-mor, pelo provedor-mor e pelo capito-mor da
costa. Os primeiros-governadores-gerais foram:
A) Tom de Sousa (1549-1553) Fundou a cidade de Salvador para ser a sede da administrao colonial,
trouxe os primeiros jesutas, chefiados por Manuel da Nbrega, vieram todos os funcionrios necessrios
administrao. Criou o primeiro bispado da colnia e introduziu a criao de gado bovino.
B) Duarte da Costa (1553-1558) Trouxe outros jesutas, dentre os quais Jos de Anchieta. Em seu
governo, ocorreram srios desentendimentos com o bispo D. Pero Fernandes Sardinha, provocados principalmente
pelas crticas que o bispo fazia ao comportamento imoral de lvaro da Costa. Alm disso, foi durante o seu
governo que a Frana comeou a tentativa de implantao da Frana Antrtica no Rio de Janeiro.
C) Mem de S (1558-1572) Consolidou a administrao colonial por meio da expanso agrcola, da
criao de gado e do aumento do volume de trfico de escravos. Expulsou os franceses com auxlio de tropas
portuguesas comandadas por seu sobrinho Estcio de S.
3- As Cmaras Municipais
O fato de todos os riscos correrem por conta dos proprietrios, cabendo metrpole apenas os possveis
proveitos, condicionou a estrutura poltica da colnia. As cmaras municipais constituam a verdadeira e quase
nica administrao da colnia. Nas eleies para os cargos administrativos votavam apenas os homens-bons (a
aristocracia rural), como se chamavam os proprietrios. O poder das cmaras era, pois, dos proprietrios. O raio
de ao das cmaras era grande, muito alm do estabelecimento das leis: fixavam salrios e preos de
mercadorias, propunham e recusavam tributos reais, decidiam sobre o comrcio e administrao pblica em geral,
chegando a substituir governadores e capites. Algumas cmaras mantinham at representantes efetivos em
Lisboa, tratando diretamente com o governo metropolitano e passando por cima da autoridade colonial. Dessa
forma, o Estado colonial apresenta-se, at meados do sculo XVII, como instrumento de classe desses
proprietrios. dos proprietrios, portanto, e s deles, o poder poltico da colnia. Ele , por isso,
necessariamente disperso. Em cada regio, a cmara respectiva que exerce o poder.
(PRADO JR., Caio. Evoluo Poltica do Brasil: Colnia e Imprio. So Paulo: Brasiliense, 19 ed., 1991.)
A predominncia dos poderes locais representados pelos grandes proprietrios predominou at meados do
sculo XVII, quando tiveram seus poderes reduzidos pela da criao do Conselho Ultramarino, em 1642, que
implantou uma poltica de extrema centralizao administrativa.
D) A EXPANSO TERRITORIAL DA COLONIZAO
Durante os sculos XVII e XVIII, os portugueses foram aos poucos ultrapassando um limite territorial
imposto pelo Tratado de Tordesilhas, assinado com a Espanha no ano de 1494. Expedies militares, bandeirantes,
entradistas, missionrios, criadores de gados, mineradores, exploradores de drogas do serto, cada um a seu modo e
em anos diferentes, interiorizaram a colonizao portuguesa, adentrando um territrio que no papel pertencia
Espanha.
Tal penetrao ocorreu com anuncia e apoio da Coroa portuguesa, interessada nas riquezas que o serto
poderia propiciar. A expanso territorial que atingiu seu auge na Unio Ibrica (1580-1640), ou seja, na fase do
domnio espanhol, ocorreu basicamente, a partir de quatro instrumentos que a ampararam: a criao de gado, como
retaguarda econmica das zonas de engenho e, mais tarde, em apoio a minerao; a caa ao ndio, como
suprimento de mo-de-obra devido ao declnio do comrcio africano; e a busca das drogas do serto, tambm
conhecidas como especiarias da Amaznia.
Nesse quadro de expanso territorial da colonizao, de alargamento das fronteiras, de desrespeito ao
Tratado de Tordesilhas, que uma regio no corao da Amrica Portuguesa passar a fazer parte do mapa colonial.
Regio de grandes riquezas naturais, de rios caudalosos e, sobretudo de muito, muito ouro, como tantos na colnia
puderam comprovar. Trata-se do territrio do atual Estado do Tocantins, cuja rica histria iniciaremos no prximo
capitulo.
Em 1639, foi estabelecida a vice-provncia jesutica do Gro-Par e Maranho, sendo escolhido como
provincial, o padre Antonio Vieira, que s assumiu o cargo em 1653. Foi a partir dessa vice-provncia que os
jesutas chegaram ao Norte de Gois no sculo XVII. Como suas misses na Amaznia se encontravam com um
sistema bem estruturado de "aldeias", e na busca de aumentarem ainda mais o contingente populacional, os jesutas
organizaram diversas expedies fluviais, que subindo o rio Tocantins chegaram ao antigo norte de Gois, tais
expedies ficaram conhecidas como descidas.
Alm dos jesutas, percorreram tambm a regio os padres capuchinhos navegando pelo rio Tocantins,
sendo que alm das citadas descidas, ainda tivemos: 1636: Pe. Luis Filgueira; 1653: Pe. Antonio Ribeiro e Pe.
Antonio Vieira; 1655: Pe. Tom Ribeiro e Francisco Veloso; 1659: Pe. Manuel Nunes; 1668: Pe. Gaspar Misch e Ir.
Joo de Almeida; 1671: Pe. Gonalo de Vera e Ir. Sebastio Teixeira; 1674: Pe. Raposo; 1721-22: Pe. Manuel da
Mota e Pe. Jernimo da Gama.
C) A PECURIA
O gado bovino, trazido pelos portugueses no incio da colonizao era criado para uso na trao animal,
nos engenhos de acar; no transporte de cargas e pessoas, demonstrando toda polivalncia dessa atividade. Com o
aumento do nmero de reses, gerou-se um problema para os proprietrios dos engenhos, pois o gado destrua o
canavial e ocupava um espao que as concepes mercantilistas reservavam cana-de-acar.
Com a proibio da criao de gado, em uma faixa de oitenta quilmetros da costa para o interior, os
vaqueiros se viram obrigados a procurarem terras no interior. Essa medida contribuiu decisivamente para o
desbravamento do serto, alm da ultrapassagem da linha fixada por Tordesilhas. Partindo dos chamados currais
do So Francisco, vaqueiros penetraram com suas reses nos atuais Estados do Piau, Maranho, Paraba, Rio
Grande do Norte e Cear e, atravessando a Serra Geral, abrindo um extenso corredor de picadas, vrios criadores
chegaram ao antigo Norte de Gois se instalando s margens dos rios Tocantins e Araguaia, praticando uma tpica
pecuria voltada subsistncia. Entretanto, estes desbravadores foram importantes, pois vieram com a inteno de
se fixar na regio, podendo-se afirmar que a criao de gado antecedeu a minerao.
Com a descoberta das minas de ouro, a pecuria transformou-se num sistema econmico parte,
fornecendo gado de corte sociedade mineradora. A atividade criatria tornou-se relativamente autnoma,
absorvendo, inclusive, populaes marginalizadas, particularmente mestios provenientes do litoral.
D) ENTRADAS E BANDEIRAS
Podemos chamar de entradas as expedies oficiais organizadas pelas autoridades metropolitanas, nos
sculos XVI e XVII, que partiam sempre de um ponto do litoral com objetivo de explorar o interior, apresar
indgenas destinados escravido e procurar minas.
Bandeiras foram expedies armadas, organizadas por particulares de So Paulo que partiam para o serto
em busca de ndios para escravizar, em busca de metais e pedras preciosas e para combater ndios rebeldes ou
destruir quilombos.
Plo irradiador do bandeirantismo, a capitania de So Vicente no possua condies favorveis colonizao.
Os primeiros engenhos no conseguiam competir com os pernambucanos, em parte devido ao solo, sem falar na
distncia, que tornava mais oneroso o transporte do produto e implicava maiores riscos na travessia martima. O
insucesso do acar vicentino promoveu o deslocamento dos colonos para os campos de Piratininga, onde o
clima, a vegetao e as inmeras aldeias indgenas viabilizavam os estabelecimentos agrcolas. O bandeirantismo
resultou, portanto, da marginalizao econmica da capitania de So Vicente, que incentivou seus habitantes a
buscarem alternativas fora da agricultura de exportao.
(HOLANDA, Srgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. So Paulo, 2 ed: Cia. das Letras, 1994.)
1) BANDEIRAS DE CAA AO NDIO
Nos primeiros anos da capitania de So Vicente, a mo-de-obra indgena j era utilizada pelos paulistas, no
cultivo da terra e em outros servios. Com o passar do tempo a caa ao ndio, sobretudo no incio do sculo XVII,
ir se transformar em uma atividade organizada e sistemtica.
A ocupao holandesa da costa africana antes mesmo de invadir o Brasil, determinou uma estagnao do
trfico de escravos, ao mesmo tempo que gerou uma crise na produo aucareira no nordeste, pois no havia
qualquer possibilidade de produo aucareira sem participao do trabalho compulsrio. Nesse contexto abriu-se
um mercado consumidor da mo-de-obra indgena.
Porm, como o nmero de indgenas prximos a So Paulo j estava reduzido, o jeito foi organizar
expedies de apresamento, bandeiras de caa ao ndio, em regies mais distantes, como o caso de Gois. sempre
bom lembrar que o objetivo dessas expedies era nica e exclusivamente ligada ao aprisionamento de ndios, sem
qualquer inteno colonizadora e de ocupao das novas terras encontradas.
Os primeiros bandeirantes a percorrerem as terras goianas foram Domingos Luis Grau e Antonio Macedo,
entre 1590 e 1593. No norte de Gois, tivemos as bandeiras de Domingos Rodrigues (1608-1613), que desceu at a
confluncia do Tocantins com o Araguaia, na inteno de aprisionar ndios e a bandeira de Andr Fernandes (16131615), alm de outras expedies sertanistas que desbravaram a regio do atual estado do Tocantins com objetivos
preadores.
As bandeiras se constituram, assim, uma cruel perverso dos costumes guerreiros dos Tupi-Guarani, cujos
conflitos constantes no tinham por objetivo mais do que a captura de algumas vtimas para a consumao do rito
antropofgico. Outro aspecto psicolgico perturbador das bandeiras se refere aos mamelucos (nome vindo dos
soldados de uma milcia turco egpcia formada por escravos): filhos de pais brancos e de mes indgenas, eles
atacavam os ndios com dio redobrado.
(BUENO, Eduardo. Brasil: uma Histria. So Paulo: tica, 2003).
2) BANDEIRAS DE CAA AO OURO
Como a atividade de aprisionamento no modificou as estruturas subsistenciais da Capitania de So
Vicente, a atividade expansionista das bandeiras, continuava sendo a nica maneira da populao local de escapar
da misria generalizada.
Com a eliminao dos mercados consumidores de indgenas e com o declnio da produo aucareira, aps
a expulso dos holandeses, renovou-se o interesse tanto bandeirante, quanto da Coroa pelas descobertas de jazidas
aurferas.
Em 1673, partiu de So Paulo rumo a Gois, a maior bandeira que j tinha percorrido a regio. Chefiada
por Sebastio Pais de Barros e Bartolomeu Bueno da Silva. Contava com uns 800 membros e se fixou na regio da
confluncia do Tocantins e o Araguaia, dedicada preferencialmente minerao. Bartolomeu Bueno da Silva, pai,
experiente sertanista, era cego de um olho. Talvez deste defeito fsico venha o apelido "Anhangera", de origem e
significado discutidos. Quase todos os sertanistas eram apelidados pelos ndios. Quanto ao fato de haver ateado
fogo num prato de aguardente para amedrontar os ndios a fim de que lhes mostrassem as minas, no se tratava de
fato original. Era um ardil comum prprio dos exploradores. Segundo Pedro Tanques, linhagista paulistano, o
primeiro bandeirante que usou este mtodo foi Francisco Pires Ribeiro, em Minas Gerais, sobrinho do Caador
das Esmeraldas.
As expedies no eram de todas bem sucedidas. Algumas bandeiras, inclusive em Gois, foram totalmente
aniquiladas pela ao violenta dos ndios. Mesmo assim, a insistncia dos bandeirantes surtiu efeito, em 1693,
encontra-se ouro em Caet, Minas Gerais, iniciando-se o povoamento da regio das serras gerais, onde se
descobriram novos e importantes depsitos de metal precioso.
Em Gois, depois que vrias Bandeiras de aprisionamento e de prospeco ocorreram, Bartolomeu Bueno
da Silva, o segundo Anhangera (1670-1740), conduziu uma expedio com cerca de 500 pessoas, entre brancos,
escravos e ndios, homens livres e cativos, com a inteno de procurar ouro na regio. A bandeira saiu de So Paulo
a 3 de julho de 1722. O caminho j no era to difcil como nos primeiros tempos, porm surgiram inimizades entre
os chefes paulistas e os componentes da bandeira, quase todos "emboabas", complicando a expedio. O roteiro, se
existia, no ajudou para encontrar o caminho. Muitos foram morrendo de fome, outros preferiam voltar em
pequenos grupos para So Paulo. J o Anhangera, que era um homem obstinado, disse que preferia a morte a
voltar fracassado, estava ele impulsionado pela idia de que se existia ouro em Minas Gerais e em Cuiab,
encontrado em 1718, deveria haver tambm em Gois, situado entre Minas Gerais e Mato Grosso. Foi essa a
argumentao para a existncia da bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva.
Apesar de todas as dificuldades, a disposio de encontrar ouro na terra dos Goyazes motivava toda sorte de
pessoas a se deslocarem para a regio. Trs fatores estariam na frente dessa motivao: buscar um caminho por
terra para chegar a Cuiab, onde j se explorava o ouro desde 1719; o momento psicolgico, favorecido pelas
crenas populares e pelas teorias cientficas que diziam existir o metal em Gois; e o momento poltico favorvel,
com o apoio oficial para explorar novas regies em busca do minrio. Tudo concorria para uma expedio de
bandeirantes em Gois.
(PALACIN, Lus. O Sculo do Ouro em Gois. Goinia: Editora da UCG, 1994).
No fim acabou tendo sorte. Numa das voltas da bandeira, quando j lhe restavam poucos companheiros,
descobriu ouro nas cabeceiras do Rio Vermelho na atual regio da cidade de Gois, no dia 26 de julho de 1725.
A 21 de outubro de 1725, aps trs anos, voltaram triunfantes a So Paulo, propagando que tinham descoberto
cinco crregos aurferos, umas minas to ricas como as de Cuiab, com timo clima e fcil comunicao.
Entretanto, no era s o ouro que o Anhangera procurava, sua misso era a de encontrar a famosa serra
dos Martrios, lugar cercado de mistrio e lenda: onde a natureza teria esculpido na pedra a coroa, a lana e os
cravos da paixo de Cristo. No encontrando a tal serra, mas conseguindo encontrar o ouro, o segundo Anhangera
regressou para So Paulo coberto de glria, sendo nomeado superintendente das minas dos Goyazes, posio
conservada at 1734.
Nesse mesmo ano entrou em choque com outros exploradores do ouro e com o governador e capitogeneral de So Paulo, Caldeira Pimentel, homem que inclusive no quis sua nomeao como superintendente, pois
quem o havia nomeado fora seu sucessor, Rodrigo Csar. Fora do cargo, exilara-se em Recife, onde faleceu em
1740. De acordo com Pedro Calmon:
O Anhangera morreu na misria, envenenado a mando do governador paulista, Caldeira Pimentel.
(CALMON, Pedro. Histria do Brasil, a organizao (1700-1800), So Paulo: Cia. Editora Nacional, 1943).
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A notcia levada pelo Anhangera Vila de So Paulo, de que fora encontrado ouro no serto dos
Goyazes em 1725, provocou uma verdadeira corrida para essa regio. No incio, quase todos esses indivduos
dedicaram-se exclusivamente minerao, abandonando qualquer outra atividade, inclusive as indispensveis
sobrevivncia da populao local.
(...) alvo de todos os desejos(...)O proprietrio, o industrialista, o aventureiro, finalmente todos convergiam suas
vistas, seus esforos, seus capitais, toda a sua atividade em suma, para o mister da minerao"
(ALENCASTRE, Jos Pereira de. Anais da provncia de Gois, 1863: Goinia, 1979.).
Preocupada com esse quadro a Coroa portuguesa tratou logo de criar uma estrutura administrativa
na regio com vistas a supervisionar o servio de minerao, cobrar o quinto real, resolver divergncias entre
mineradores, coibir o contrabando, fomentar a produo e repartir os ribeiros de ouro, que eram as principais
atribuies da Intendncia das Minas, bem como de seus representantes.
1) A INTENDNCIA DAS MINAS E A CRIAO DA CAPITANIA DE GOIS
Por terem sido encontradas em territrio paulista, as minas de Gois eram jurisdicionadas a essa
Capitania. Foi criada ento a intendncia das minas de Goyaz, sendo nomeado Superintendente e Capito-Mor:
Bartolomeu Bueno da Silva, Ouvidor-Mor: Joo Leite da Silva Ortiz e Escrivo: Antonio Ferraz de Arajo.
Depois de vinte anos, Gois tinha crescido tanto, em populao e em importncia, que no podia
continuar sendo governado distncia por So Paulo. A Corte portuguesa decidiu tornar Gois independente de So
Paulo, elevando-o categoria de Capitania, no dia 29 de janeiro de 1748. O territrio goiano passou ento a ser
denominado Capitania de Gois, ttulo que conservaria at a independncia, quando se tornou Provncia. A
efetivao desse fato ocorre em 1749, quando chega Gois o seu primeiro governador, D. Marcos de Noronha,
Conde dos Arcos, tomando posse com o ttulo de Governador-Capito-General em 8 de novembro.
A criao da Capitania se deu em um momento de graves tenses entre o poder pblico e os
colonos, por haverem interesses distintos em relao ao ouro. A institucionalizao do aparelho burocrtico do
estado se fazia cada vez mais necessria na regio, na viso da coroa, visto que a mesma, perdia muito de sua
arrecadao por conta do contrabando. Junto com a criao da Capitania efetivou-se o aparelho fiscal, bem
marcante na histria da regio. Alm do crescimento populacional, e do contrabando, as lutas internas, as
descobertas de novas jazidas, cada vez mais distantes dos centros decisrios, e as precariedades dos meios de
comunicao, exigiram a presena de um aparelho administrativo mais organizado.
Mas, mesmo com todas essas medidas, Portugal no conseguiu combater os principais problemas
que a regio apresentava. Complicava a administrao metropolitana a distncia entre as minas, bem como a
distncia entre os arraiais e o governo. A ausncia de estradas, a comunicao falha entre vrias regies,
favorecendo o contrabando do ouro, a falta de um aparelho administrativo competente e voltado para os interesses
da regio e no dos seus prprios, o excesso dos contratadores e dizimeiros, as sedies e rebelies populares, o
pequeno rendimento douro para os mineradores e a incompetncia dos homens que estavam a frente do aparelho
repressor do Estado, representaram os motivos para o fracasso da administrao goiana nas primeiras dcadas da
administrao portuguesa na regio.
2) A COBRANA DE IMPOSTOS
O incio do ciclo minerador foi acompanhado do estabelecimento de um imposto, para aqueles que
se dedicavam extrao aurfera, conhecido como quinto, ou seja, o pagamento de 20% do ouro encontrado
Coroa. Como no era possvel determinar se uma barra ou saca de ouro j havia sido ou no quintada, a sonegao
tornava-se fcil. Para eliminar esse problema, criou-se atravs de uma lei de 1719, as chamadas Casas de Fundio.
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Atravs delas, o minerador entregava seu ouro em p, o qual era fundido e transformado em barras.
Das barras se descontava o quinto, sendo as restantes devolvidas ao minerador, devidamente seladas com o selo
real. Ao mesmo tempo, proibiram-se a exportao e a comercializao de ouro em p.
O ouro das Minas dos Goyazes era quintado em So Paulo. O deslocamento at essa regio
favorecia ainda mais o contrabando. Alm disso, o minerador ainda usava nas suas viagens o ouro em p como
moeda de troca, enriquecendo os comerciantes, pois estes ofereciam algumas vantagens na venda, como prazos,
crditos, escondendo dos mineradores o preo real. No final, eram os comerciantes e no os mineradores os
principais freqentadores das Casas de Fundio, sendo os responsveis diretos pelo pagamento do quinto.
A crescente prosperidade das Minas dos Goyazes e o extravio de ouro fizeram com que as
autoridades portuguesas reformassem o sistema de tributao. No se sabe ao certo o volume do ouro
contrabandeado, mas mercadores, religiosos, estrangeiros e escravos, eram os agentes que constantemente estavam
sendo acusados de sangrar o ouro da regio, causando enormes prejuzos ao errio real.
"(...) nem o cipoal de leis, alvars, cartas rgias e provises, nem os seqestros, devassas de registros, prmios
prometidos aos delatores e comisses aos soldados puderam por freio a este duplo contrabando, interno e externo
do ouro. O governo tinha contra si, nesta tentativa, as dilatadas fronteiras, o escasso policiamento, o costume
interado e a inflexibilidade das leis econmicas.ando (...)".
(PALACIN, Lus. O Sculo do Ouro em Gois. 4 ed. Goinia: Editora da UCG, 1994.).
Entre essas reformas tributrias, a coroa tambm usou de algumas medidas administrativas para
conter atitudes clandestinas. Proibiu-se em 1730 todas as vias de acesso a Gois ficando s um nico caminho, a
chamada estrada dos bandeirantes que ligavam as minas So Paulo e Rio de Janeiro. As picadas vindas do
Nordeste ficavam interditadas. A proibio da navegao fluvial pelo Tocantins distanciava o Norte de Gois de
capitanias prximas como Gro-Par e Maranho.
Em 1735, o quinto substitudo pela capitao, um imposto por cabea de escravo, produtivo ou
no, de sexo masculino ou feminino, maior de doze anos. A coroa portuguesa trabalhava com a idia de que era
mais fcil se esconder o ouro do que o escravo. Alegando que o contrabando diminua sua arrecadao no Norte, a
coroa portuguesa adotou para essa regio uma poltica fiscal diferenciada e bem mais rigorosa que em outras
localidades. A capitao era bem mais alta, com a afirmao de que as minas tambm eram mais ricas.
Como a capitao incidia tambm sobre os estabelecimentos comerciais, a classificao sobre o
comrcio varejista, na regio, adquiriu nmeros bem mais elevados, se comparado ao Mato Grosso e a Minas.
Como veremos posteriormente, essa injusta poltica fiscal, causar a primeira tentativa do Norte de Gois de se
separar de sua respectiva Capitania.
Em 1736, os mineradores do Norte negaram-se a pagar tributos para a Coroa, resistindo at
conseguirem do poder metropolitano a reduo das taxas aos mesmos nveis cobrados em Minas Gerais.
Mesmo a cobrana de capitao no obteve xito na conteno do extravio do ouro, havia uma
dificuldade em se controlar o nmero de escravos vivendo na regio, e mais uma vez, a distncia entre as minas, foi
um fator que causou problemas no controle fiscal por parte das autoridades administrativas da Coroa.
Abandonou-se em 1750 a capitao, restabelecendo-se a cobrana do quinto. Acompanhado do
retorno do quinto, criada a casa de fundio de Vila Boa, porm devido a distncia, os custos com transporte e
ameaa dos ataques indgenas, criada em 1754, a Casa de So Flix, com finalidade especfica de quintar o ouro
produzido no norte da capitania.
"Para quintar o ouro produzido na comarca do norte foi criada uma casa de fundio em So Flix, que comeou
a funcionar no ano de 1754 mas, em 1797, foi transferida para Cavalcante, por no arrecadar o suficiente para
cobrir as despesas com sua manuteno.
(PARENTE, Temis Gomes. Fundamentos Histricos do Estado do Tocantins. Goinia: UFG, 2007.).
Alm do quinto, haviam impostos cobrados por particulares que fechavam contratos com a Coroa,
pagando um determinado valor, se responsabilizando pelas atribuies presentes na assinatura do acordo.
Como exemplo desses impostos, tivemos as entradas, que eram cobrados sobre a circulao das
mercadorias, tanto as que entravam, quanto as que saam, sendo controladas nos chamados registros, que estavam
localizados nos limites geogrficos das capitanias. Ainda tnhamos as contagens, postos de fiscalizao prximos s
minas, que realizava a contagem do gado, das pessoas, sendo que no Norte totalizavam 14. As contagens tinham a
por finalidade controlar impostos como o dzimo, que representava a dcima parte da produo agropecuria, as
passagens, sobre o trnsito nos rios, espcie de pedgio fluvial, os ofcios, sobre a lotao de cargos pblicos e as
sizas, sobre a compra e venda de escravos
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Com o Marqus de Pombal foram expulsos os jesutas, responsveis pelo monoplio da educao
no Brasil. Para suprir a falta dos padres da Cia. de Jesus, foi criado o subsdio literrio, que tinha por finalidade
custear as reformas no campo da educao e instruo. Tal imposto foi cobrado no Norte de Gois, durante
praticamente toda a segunda metade do sculo XVIII, sem a existncia de qualquer investimento educacional por
parte das autoridades metropolitanas.
O aperto dos laos coloniais por parte de Portugal no contexto da minerao, atravs de uma
exagerada cobrana de impostos, atingiu diretamente o norte de Gois, contribuindo para o seu atraso econmico.
Encontramos vrios autores que ao olharem para a situao histrica dessa regio chegaram a afirmar que Portugal
criou uma colnia dentro de outra colnia, tornando abusivo o preo das mercadorias em circulao na regio e
diminuindo consideravelmente o poder de arrecadao dos mineradores que se aventuraram pelas paisagens do
cerrado do atual Estado do Tocantins.
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Por isso a minerao no norte de Gois foi significativa para sua histria, no pela explorao do ouro, mas pela
maneira como isso ocorreu, gerando implicaes sociais e econmicas nesse modo de produo.
Na Amrica Espanhola, encontraram-se formaes geolgicas que exigiam grandes obras para
explorao do ouro, o minrio encontrado no Brasil e conseqentemente no norte de Gois era de aluvio, presente
nas areias e barrancos dos rios. Em vista disso, a tcnica para obt-lo era bem simples e rudimentar. O equipamento
exigido eram algumas ferramentas, alguns pratos de madeira ou estanho e algumas peneiras.
Por se tratar de atividade transitria e itinerante, pois os depsitos aurferos eram superficiais e se
esgotavam com enorme rapidez, no houve na minerao a exigncia de uma mo-de-obra numerosa. Um pequeno
nmero de pessoas, ou um indivduo solitrio, poderia se enveredar pelos caminhos da minerao, com algumas
probabilidades de sucesso.
Pelo fato dos veios aurferos serem superficiais, o fluxo populacional e a locomoo s margens
dos rios se tornou uma constante, onde ncleos populacionais surgiam e logo desapareciam. Tal caracterstica foi a
tnica da minerao no antigo norte de Gois, recebendo milhares de aventureiros de classes sociais distintas e que
no tinham a mnima inteno de fixar residncia. Tal fato perceptvel na arquitetura dos arraiais mineradores
como nos apresenta o texto:
"(...) At as prprias moradias possuam um aspecto provisrio: as paredes eram feitas de pau-a-pique, podendo
mais tarde serem substitudas pelo adobe. Quanto ao mobilirio, era o mais rstico possvel, feito de madeira, em
formato de bancos e jiraus, que poderiam ser utilizados no s como mesas, mas tambm como camas.
(PARENTE, Temis Gomes. Fundamentos Histricos do Estado do Tocantins. Goinia: UFG, 2007.).
Os ncleos de povoamento e ocupao da regio norte de Gois foram estabelecidos a partir de
arraiais (aldeias e lugarejos) formados em torno das minas. Em geral, ocupavam o fundo dos vales, perto dos rios e
das respectivas jazidas aurferas.
Os arraiais do norte de Gois surgiram na segunda fase das descobertas do ouro, sendo Natividade
em 1734 o primeiro. Posteriormente surgiro outros tantos como: Crixs, Almas, Traras, So Jos do Tocantins,
Cachoeira, So Flix, Porto Real, Pontal. Na terceira fase teremos Arraias (1740), Cavalcante, Santa Luzia, Carmo,
Prncipe e Taboca.
A populao dos arraiais desconheceu a estrutura rgida e hierrquica que havia caracterizado a
sociedade aucareira. Na sociedade mineradora, com a presena de indivduos de vrias partes, de diversas
profisses e de diferentes nveis econmicos, tivemos por exemplo, a inexistncia de um latifndio monocultor e a
ampliao do trabalho livre, sem que a escravido perdesse a sua importncia.
2) A PAISAGEM SOCIAL NO NORTE DE GOIS COLONIAL
Como no se exigiam grandes investimentos qualquer pessoa na colnia ou em Portugal poderia se
aventurar na extrao do ouro. Isso explica a presena nas regies mineradoras de uma sociedade to heterognea.
Mas, na maioria eram homens brancos, solteiros ou desacompanhados da famlia, que contriburam para a mistura
de raas com ndias e negras escravas. No final do sculo XVIII os mestios j eram grande parte da populao que
posteriormente foram absorvidos no comrcio e no servio militar. Essas pessoas eram tratadas nos documentos
oficiais como vadios, homens desocupados e trabalhadores ocasionais, que se apresentavam como uma espcie
de mo-de-obra alternativa escravido.
"Traando um perfil geral da paisagem social nortista do sculo XVIII, ressalta-se a presena de uma pequena
elite de mineiros, comerciantes e criadores de gado, em detrimento da grande maioria de pessoas marginalizadas:
escravos, forros, ndios e faiscadores. Estes ltimos eram na sua maioria, garimpeiros autnomos, no-escravos.
Havia ainda uma massa heterognea de brancos e mestios que no eram senhores e desempenhavam mltiplas
atividades. Eram os empregados na zona rural, entre eles lavradores, capatazes e vaqueiros.
(APOLINRIO, Juciene Ricarte. Escravido Negra no Tocantins Colonial: vivncias escravistas em
Arraias(1739-1800). Goinia: Kelps, 2000.).
O ttulo de mineiro parafraseando Antonil era aquele que todos que estavam na regio das minas
aspiravam, pois significava ser proprietrio de lavras e escravos, era garantia de prestgio, riqueza e poder. Ttulo
de honra e acessvel a todos os brancos, que formavam a peque elite do norte, juntamente com burocratas, criadores
de gado e comerciantes compunham o topo da pirmide social na regio da minas.
Em uma camada intermediria se encontrava um grande nmero de forros, ndios e faiscadores, que
praticavam a faiscao, a procura de ouro em terras j lavradas. Eram esses, homens livres, porm pobres que
chegavam todos os dias na regio
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Na base da pirmide social se encontrava o negro minerador, que tinha enorme importncia no
trabalho das minas, j que a escravido se tornou hegemnica no antigo norte goiano.
3) A ESCRAVIDO
A importncia do escravo ia desde sua participao na extrao do ouro, no carregamento, no
beneficiamento, alm de ser uma mercadoria de grande valor, pois a posse do mesmo foi fator fundamental para
que mineiros adquirissem lavras na regio.O tamanho da lavra era medido pela quantidade de escravos que cada
branco possua. Posteriormente, com a criao do imposto de capitao o escravo era a referncia para o pagamento
do mesmo, quanto mais escravos possusse, maior o valor dos impostos pagos ao errio real. Muitos escravos eram
utilizados no contrabando do ouro. Mineiros os obrigavam a deixar cabelos e unhas crescerem, escondendo ouro
em p embaixo, e at mesmo, a engolirem algumas jazidas, tudo para burlar o rgido fisco portugus.
A utilizao da mo-de-obra africana em lugar da indgena no norte de Gois seguiu a mesma linha
de raciocnio do restante da colnia. O africano era comercialmente mais vantajoso tanto para a Coroa, tanto para o
traficante, quanto para o minerador. Muitos negros que chegaram Amrica Portuguesa j trouxeram um enorme
conhecimento em tcnicas mineratrias, pois j faziam isso na frica. J o ndio acostumado a subsistncia no se
adaptou ao rgido sistema de trabalho exigido pelo capitalismo, tornando sua produo de baixa rentabilidade, o
que explica a pouca utilizao do silvcola como trabalhador das minas.
O trabalho nas minas era terrvel para os escravos. A expectativa de vida dos cativos era baixssima,
pois eram obrigados a trabalhar horas e horas, com os ps submersos na gua, aliado a um calor estafante.
"As pssimas condies de trabalho deixavam os escravos merc de diversos males, como: gripes, pneumonias,
pleurites, desvios na coluna e outras enfermidades prprias da garimpagem. Diz-se que em caso de acidentes com
ferimentos, que ocorriam no processo das catas improvisava-se tratamentos base de sal de cozinha modo ou de
sumos de plantas medicinais nativas.O aguardente tambm era usado como antissptico.
(APOLINRIO, Juciene Ricarte. Escravido Negra no Tocantins Colonial: vivncias escravistas em
Arraias(1739-1800). Goinia: Kelps, 2000.).
Escravos tambm estavam presentes nas fazendas de gado, nas roas em geral, nas atividades
urbanas e mesmo no trabalho dos poucos engenhos existentes no norte de Gois, j que a Coroa havia determinado
a sua proibio na regio. Enfim o escravo era utilizado em todo o tipo de atividade. E na regio como em todas as
outras estava sujeito aos castigos e as torturas que marcaram sua histria: chicotadas, palmatrias, placas de ferro,
correntes com peso, gargalheiras e muitas outras espcies de punio.
No podemos nos esquecer que os negros no se mostraram indiferentes ou totalmente submissos
aos seus senhores. Ao contrrio resistiram de diversas formas escravido. Fugas, rebelies, violncia contra os
senhores ou seus empregados (capatazes, feitores, etc.), pouco empenho no trabalho, infanticdio, quebra de
instrumentos de trabalho, suicdios, participao nas irmandades leigas, negociaes com os senhores, intercursos e
procedimentos sexuais, por parte das mulheres cativas, tudo na inteno de tornas sua tarefa diria um pouco
menos complicada. Essa resistncia levantada pela nova historiografia, chegou a ocorrer no norte de Gois com a
presena principalmente de fugas e quilombos. Na regio de Arraias construram-se quilombos caracterizados como
um reduto de negros fugitivos, praticantes de roubos e desordens, voltados ao banditismo.
GRFICO LIVRO ODAIR, PG. 141.
4) OS CONSTANTES ATAQUES INDGENAS
Como j havia ocorrido no litoral, o processo de ocupao da regio norte de Gois foi marcada
pelo confronto entre ndios e colonizadores. Muitos dos ndios que viviam na regio no eram naturais da mesma,
j haviam tido a terrvel experincia de contato com os portugueses. Fugiram para o serto para se isolarem das
epidemias, das guerras justas, do trabalho compulsrio, da discriminao do branco europeu. Por esses e outros
fatores uma das caractersticas principais do perodo minerador no norte de Gois, foi a resistncia da populao
indgena. Tais ataques dificultaram a vida de quem estava nos arraiais, trazendo grandes prejuzos aos mineiros.
De acordo com o historiador Lus Pa1acn, a ocupao das terras dos ndios, a escravizao dos
mais pacficos, os choques com as tribos indomveis, o aldeamento de pequenos grupos, os cruzamentos raciais e a
degenerao e extino de algumas tribos marcaram as caractersticas da relao entre ndios e o colonizador em
Gois, em um processo bem parecido com o ocorrido em outras regies da Amrica Portuguesa.
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Os arraiais de Palma e Pontal chegaram a ser abandonados pelas suas populaes, por temerem a
ao dos ndios. Arraiais sero invadidos, como Natividade, Carmo, Chapada, Taboca e Almas, e fora deles os
ndios resistiro para defenderem suas terras do invasor.
Ao chegarem em terras nortenses os sedentos pelo ouro encontraram as seguintes tribos
indgenas: Akro, Xakriab, Xavante, Xerente, Krah, Apinay, Java, Xambio, Av Canoeiro e Karaj. Sendo
que os ataques partiram mais dos Akro e Xakrib, mas se tem notcia de ataques no sc. XVIII e XIX dos Xerente,
Xavante e Av-Canoeiro.
Grfico livro Odair pg, 110
Vrias medidas foram adotadas pela Coroa visando estabelecer uma coexistncia pacfica entre os
colonizadores e os povos indgenas. Tais medidas eram muito mais preventivas, pois na verdade queria se evitar a
presena de ndios prximos s minas, reflexo da mentalidade dominante, que desprezava a cultura indgena, no o
considerando algum muito diferente de um selvagem.
Entre essas medidas destaca-se a convocao de guerras contra os Akro e os Xakriab, que
resistiram incansavelmente contra o apresamento, a catequese e os aldeamentos.
A fria dos Akro passou a ser, cada vez mais, sentida no norte de Gois e os moradores novamente
representaram ao governador D. Lus de Mascarenhas suas consternaes pelas contnuas invases desses grupo
tnico. Atravs de um requerimento assinado em 23 de fevereiro de 1747, o administrador dos contratos das
entradas das minas de Gois, Jorge Pinto de Azevedo, solicitou providncias ao rei D. Joo V contra os insultos
cometidos pelos Akro-Ass, devido os grandes prejuzos aos cofres da Fazenda Real.
(APOLINRIO, Juciene Ricarte. Os Akro e outros povos indgenas nas Fronteiras do Serto. Goinia:
Kelps, 2006.).
Em 1751 o governo da Capitania enviar o tenente-coronel Wenceslau Gomes da Silva, para tentar
pacificar os ndios da regio. O mesmo Wenceslau ir conseguir deslocar de forma pacfica e negocivel os
Xakriab para o aldeamento de So Jos do Duro, sendo que dois padres jesutas ficaram responsveis pela misso.
J os Akro que viviam margem direita do Tocantins, atacando os habitantes do Carmo, Chapada e Natividade.
Posteriormente, os Akro tambm sero levados para So Jos do Duro, onde posteriormente empreendero uma
srie de revoltas, culminando com a condenao a morte de vrios em 1773.
O estabelecimento de aldeamentos seculares, regidos pela administrao dos diretores ganha
corpo com o chamado projeto civilizacional do Direito dos ndios (1757), que surgiu no perodo pombalino. Dentro
do contexto das luzes, as explicaes da diversidade humana tornaram-se mais cientficas, perdendo seu carter
teolgico. O ndio no seria aldeado apenas para ser tornar um bom cristo. Seu papel passa a ser o de parceiro
na colonizao, portanto ele deveria aprender a se comportar como europeu, na lngua, na religiosidade, nas regras
morais, na vida econmica, como trabalhador, comerciante e membro de milcias para guardar as fronteiras do
imprio. Durante o sculo XVIII esse projeto chegou ao norte de Gois, mas, mais uma vez os resultados foram
desastrosos. Os ndios padeceram de fome e epidemias e vrias comunidades desapareceram dentro do processo
civilizatrio idealizado pela ilustrao.
5) O ABASTECIMENTO DAS MINAS
Como j ocorrido em Minas Gerais a crise no abastecimento tambm foi uma das marcas na
minerao do norte de Gois oitocentista. S para ser ter idia do que representava a falta de alimentos, uma
autoridade portuguesa no incio do sculo XVIII, relatou: Chegou a necessidade a tal extremo que se
aproveitavam de imundos animais e, faltando-lhes esses para poderem alimentar a vida, largaram as minas fugiram
para o mato para comerem cascas e razes. Devorou-se sapos, is, cobras e bichos mui alvos criados em paus
pobres. Formigas tostadas viraram iguarias comparada melhor manteiga de Flandres. No se dava a mnima
importncia para a terra, nem para o plantio, at mesmo os de subsistncia, pois o que interessava era mesmo o
ouro.
A falta de incentivos governamentais contriburam ainda mais para essa crise no abastecimento,
visto que as autoridades se preocupavam com a produtividade das minas. O Intendente Bartolomeu Bueno da Silva
chegou at mesmo a proibir o plantio de cana-de-acar em 1732, temendo um deslocamento do brao escravo para
outra atividade que no fosse a minerao.
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Tal poltica favorecia a especulao, o inflacionamento das mercadorias, por parte dos
comerciantes, que partiam de regies prximas, atrados pela grande margem de lucro proporcionada por um
complexo comrcio montado no perodo.
Para complicar ainda mais a vida do minerador no norte de Gois, a Coroa Portuguesa proibiu a
navegao do rio Tocantins, eliminando a maneira mais fcil e rpida de se chegar a regio. Nesse momento j
existia um contato comercial entre as minas do norte com Belm do Par, o que as restries na navegao faro
com que as mercadorias passassem a vir do Rio de Janeiro ou da Bahia, chegando com enormes sobretaxas e um
valor bem elevado na regio. Contribuiu para a elevao do valor das mercadorias a cobrana das entradas, j
comentado nesse mesmo captulo.
Aos poucos, com a decadncia da produo aurfera, com o aumento dos faiscadores, a cada vez
maior precariedade da situao do comrcio, provou a produo de gneros de subsistncia em stios e lavouras que
iam se formando nas imediaes dos arraiais.
A produo agrcola tambm se fez acompanhar da criao de gado, at mais importante que a
primeira, pela capacidade de auto locomoo e a pouca necessidade de mo-de-obra. De certa forma a economia de
subsistncia serviu de suporte para a populao durante todo o perodo mineratrio e, sobretudo, no perodo de
decadncia e em boa parte do sculo XIX.
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e abandono de algumas regies. Perceberam os portugueses que pagariam um alto preo por terem ignorado com
impunidade, a transio econmica para o moderno mundo industrial que estava ocorrendo na Europa Ocidental e
na Inglaterra.
O norte de Gois, como parte desta Amrica Portuguesa, no ficar de fora dessa crise, onde o
mencionado esgotamento das minas provocar um declnio lento e irreversvel, como j havia ocorrido em outras
regies mineradoras.
B) A DECADNCIA DA PRODUO
O auge da produo do ouro goiano ocorreu nos primeiros anos de estabelecimento das minas
(1726-1735), perodo, e de acordo com Palacn, o ouro aluvional aflorava por toda a regio, resultando numa
produtividade altssima. O declnio coincide com a cobrana do imposto de capitao, fase que mascarada pelo
incremento do contrabando, o que no se permite precisar a quantidade de ouro explorada no norte de Gois.
Entre 1752 a 1778 quando se volta a cobrar o quinto, teremos uma arrecadao que atingir os
nveis mais elevados, porm a produtividade continuava decrescente. Na dcada de 1780, a baixssima
produtividade aurfera ir colocar a regio em uma difcil situao, de depresso, de despovoamento e de misria.
O ouro que antes existiu em grande quantidade agora fazia parte de um passado, narrado pela populao e
comprovado pelas runas das jazidas abandonadas pelos antigos mineiros. Gradualmente a Capitania,
principalmente sua regio norte, entra em estado de dormncia, voltando-se para uma produo agropecuria de
auto-sustento que, pelos mesmos motivos de crise, no encontra suporte para se desenvolver
(PARENTE, Temis Gomes. O ouro como fonte de atraso. In.: GIRALDIN, Odair. A (trans)formao do
Tocantins. 2 ed. Goinia, UFG, 2004.).
Nos anos 1779 e 1822, ocorreu a queda brusca da arrecadao do quinto com o fim das descobertas
do ouro de aluvio predominando a faiscagem nas minas antigas. Podemos apontar como fatores que determinaram
essa decadncia: as tcnicas rudimentares com as quais se exploravam as jazidas, a falta de braos para o trabalho
na minerao, a administrao metropolitana que impediu a busca de alternativas para que a regio sasse da crise.
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silvcolas no haviam diminudo. Nessa longa caminhada, o tempo era um problema, provocava a perda de
produtos ao longo da viagem, sem falar dos custos com pessoal.
D) CONSEQNCIAS DA CRISE
"A crise na minerao provocou uma grave crise que foi irreversvel, arrastando consigo os outros setores a uma
runa parcial: diminuio da importao e do comrcio externo, menos rendimentos dos impostos, diminuio da
mo-de-obra por estancamento na importao de escravos, estreitamento do comrcio interno, com tendncia
formao de zonas de economia fechada e um consumo dirigido pura subsistncia, esvaziamento dos centros de
populao, ruralizao, empobrecimento e isolamento cultural"
(PALACIN, Lus. O Sculo do Ouro em Gois. Goinia: Editora da UCG, 1994)
O norte de Gois no final XVIII e incio do sculo XIX mergulhou em uma profunda crise, que
provocou a regresso uma economia de subsistncia.
Ocorreu uma considervel diminuio da importao pelos motivos que j discutimos, enquanto
que a situao do comrcio interno no era das melhores. A escassez da circulao de moedas, necessrias para
troca de mercadorias, o baixo poder de compra dos moradores e a prpria economia de subsistncia, contriburam
para a falncia do comrcio na regio.
O declnio da produo aurfera se fez acompanhar da diminuio da populao escrava. Muitos
escravos morreram e outros tantos foram usados para pagamentos de dvidas, ou deixaram a regio juntamente com
os seus senhores.
Com o fim da minerao os ncleos urbanos sofreram com a estagnao econmica, sem contar
aqueles que simplesmente desapareceram, pois a regio foi abandonada. Quem permaneceu se dedicou
subsistncia, se deslocando para a zona rural criando gado, plantando, adquirindo um pequeno excedente, que
servia para se trocar por outros produtos necessrios sobrevivncia.
"Realizada a transmutao, por toda a geografia de Gois na segunda dcada do sculo XIX, encontram-se
carcaas de antigas povoaes mineiras outrora cheias de vida, o capim cresce nas ruas, a maior parte das
casas abandonadas por seus habitantes se desmancham e at as igrejas, a comear por suas torres, vo
caindo aos pedaos (...) O norte, sobretudo, foi mais de sculo em recuperar-se"
(PALACIN, Lus. O Sculo do Ouro em Gois. Goinia: Editora da UCG, 1994)
Tal situao provocou uma grande diminuio na arrecadao de impostos, o que por sua vez, levou a Coroa a
negligenciar, pelo menos no primeiro momento, o quadro de misria construdo nesse perodo. O desembargador
Teotnio Segurado, chama a ateno para a lastimvel pobreza da Capitania:
"(...) A Capitania nada exportava; o seu comrcio externo era absolutamente passivo: os gneros da Europa,
vindos em bestas do Rio ou Bahia pelo espao de 300 lguas, chegavam carssimos; os negociantes vendiam
tudo fiado: da a falta de pagamentos, da as execues, da a total runa da Capitania".
E) SADAS PARA A CRISE
A coroa Portuguesa percebe que dar continuidade a minerao decadente e insistir no encontro de
novas minas, de nada adiantaria. A soluo seria o povoamento, fomentando a agricultura, a pecuria e o comrcio
com outra regio.
Em 1782 todos os caminhos que foram interditados no auge da minerao so liberados, inclusive a
navegao pelo Tocantins, objetivando ligar o norte goiano ao porto de Belm, centro comercial do norte da
Amrica Portuguesa.
Essa iniciativa de se promover um intercmbio entre o norte de Gois e o Gro-Par, gera
resultados nas ltimas dcadas do sculo XVIII e se concretizam no incio do sculo XIX. Todas as autoridades
administrativas goianas concordavam que a via fluvial, era o melhor caminho para incrementar e recuperar a
economia goiana. Essa alternativa esbarravam em alguns problemas, que acabaram inviabilizando o projeto: a falta
de capitais, os obstculos naturais impostos pelos rios, que s eram navegveis na poca das cheias, as estradas
precrias, que se tornavam intransitveis no perodo chuvosos, impedindo o acesso aos rios. A continuidade dos
ataques autctones, ao longo do trajeto, o despovoamento da margem dos rios e a falta de interesse dos
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comerciantes, j que o comrcio no era lucrativo na regio. Somente ao longo do sculo XIX, a partir da dcada
de 40 que a navegao comercial se tornou uma soluo.
Nem mesmo a agricultura conseguiu obter um desenvolvimento satisfatrio, apesar da poltica de
incentivos oficiais. A baixa fertilidade dos solos do cerrado, impossibilitava as atividades agrcolas, onde a nica
forma de se aproveit-lo era atravs da extrao de lenha e na criao extenso de gado de forma rstica.
Culturalmente se carregava um certo desprezo pelo trabalho no campo, j que os proprietrios de terra eram na
maioria ex-mineradores. A cobrana do dzimo, as tcnicas rudimentares de preparo do solo, como a coivara,
determinaram a predominncia da subsistncia e da produo familiar.
A partir da decadncia da minerao, h uma clara involuo da economia, que deixa de ser oxigenada pelo
ouro e entra num processo de estagnao econmica, posto que no existiam mercado e nem capacidade de
competir com outras regies do pas, dados os seus custos de transporte e a sua escassez de mo-de-obra. E, na
economia de subsistncia, a populao encontra mecanismos de resistncia para que possa se integrar, mesmo
que lentamente, a uma nova forma de atividade econmica baseada na produo agropecuria, que predomina
at hoje, e constitui a base da economia do atual Estado do Tocantins.
(PARENTE, Temis Gomes. O ouro como fonte de atraso. In.: GIRALDIN, Odair. A (trans)formao do Tocantins.
2 ed. Goinia, UFG, 2004.).
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A Comarca recebeu o nome de So Joo das Duas Barras, pois o prncipe regente D. Joo mandou
instalar a vila de So Joo das Duas Barras, que se transformaria em capital, no extremo norte da Capitania de
Gois, na confluncia dos rios Araguaia e Tocantins.
Como governante da nova Comarca foi nomeado o Desembargador Joaquim Teotnio Segurado,
ele que era Ouvidor por Gois desde 1804. A instalao de uma Comarca no norte j havia sido sugerida pelo
mesmo Desembargador, atravs de um documento conhecido como Memria Econmica sobre o Comrcio Ativo
da Capitania de Gois.
Uma vez instalada a Comarca, escolheu-se como sede provisria o arraial da Natividade para sua
capital. Enquanto isso, Segurado tentava demover de D. Joo a idia da construo da vila de So Joo das Duas
Barras, pois a mesma era muito distante dos julgados mais povoados. Alm da distncia , constatou-se que o solo
da regio era imprprio para a agricultura, o que no conduziu ao povoamento do local que era a principal inteno
da corte, sem nos esquecermos de um srio problema na regio, o surto de malria.
Os apelos de Segurado foram ouvidos pelo prncipe D. Joo, que atravs do Alvar de 25 de
fevereiro de 1814, determinou a construo da vila na Barra da Palma. Em 26 de janeiro de 1815, era inaugurada
por Segurado, a vila de So Joo da Palma, na confluncia dos rios Palma e Paran, onde hoje se encontra a cidade
de Paran. Em outro Alvar foi atendida uma segunda solicitao de Segurado, onde os moradores da comarca
estariam isentos do pagamento dos dzimos por dez anos.
A frente da Comarca, Segurado insistia na idia que defendeu mesmo antes de sua nomeao, qual
seja, a de aproveitar melhor a navegao fluvial pelo Tocantins, estimulando a agricultura, escoando a produo
atravs do rio.
Algumas outras propostas de Segurado para se melhor aproveitar a riqueza natural da regio, o rio
Tocantins, aparece assim na obra de Alencastre:
(...) a formao de companhias de comrcio e estmulo agricultura de algodo, caf e cana; a exportao de
gado e soja dos arraiais do Norte para o Par e no para a Bahia, visto ser mais lucrativo o aproveitamento
dos produtos naturais como o anil e a resina que poderiam ser exportados para a Europa, a exportao do
acar mais vantajosa para o Norte do que a exportao de aguardente; a construo de trs ou quatro
feitorias no Araguaia e duas no Maranho (Tocantins) para garantir a segurana dos comerciantes; o
povoamento das margens desses rios e a iseno por dez anos do pagamento de dzimos aos que ali se
estabelecessem; e, aos comerciantes que exportassem para o Par, a concesso do privilgio de pagar somente
a metade do imposto de entrada por dez anos.
(ALENCASTRE. Jos Maria Pereira de. Annaes da Provncia de Goyaz. Goinia: Lder, 1979.).
Abandonada pelas autoridades da metrpole no final do sculo XVIII, a regio norte de Gois
recebia agora um olhar diferenciado. A instalao da Comarca, a instituio de poderes pblicos, a melhoria da
justia e a tentativa de se fomentar atividades econmicas na regio em nada se relacionavam com questes
humanitrias. A Corte instalada no Rio no estava preocupada com a situao social no Norte de Gois, estava sim
querendo recuperar a arrecadao de impostos em uma regio que os havia oferecido em quantidade considervel
em um passado no to distante. Esses impostos mantinham as regalias da famlia real e sua corte de 15.000
membros. Mal sabia D. Joo que a autonomia relativa, iria gerar no norte um sentimento de emancipao muito
presente no contexto da independncia do Brasil.
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22
O plano era simples, preparar um golpe para derrubar o governo de Sampaio. Porm, antes da
concretizao de tal fato, o plano foi revelado, levando a priso o Capito Cardoso e o Pe. Marques. Como o padre
conseguiu fugir da priso, uma nova tentativa para derrubar Sampaio foi realizada, atravs de uma resoluo das
cortes portuguesas que permitiam a instalao de governos provisrios nas Provncias, cujos governantes se
recusassem o reconhecimento das autoridades parlamentares. Era uma forma de ganhar tempo, criando uma
oposio melhor organizada atravs de comcios, reunies clandestinas, pasquins e proclamaes nos muros.
Mais uma vez Sampaio imps sua autoridade, perseguindo e extinguindo os sediciosos, atravs do
apoio da Cmara e das tropas. O resultado foi a expulso dos mesmos da capital Vila Boa, desaparecendo da capital
o movimento mais consistente e totalmente favorvel independncia.
C) O MOVIMENTO INDEPENDENCISTA DO NORTE GOIANO (1821-1823)
1) A JUNTA PROVISRIA
Exatamente um ms aps a mal-sucedida tentativa de deposio de Sampaio, instalou-se o governo
independencista do norte, sendo escolhida Cavalcante como capital provisria. O movimento contava com o apoio
do Capito Felipe Antonio Cardoso, que ao se retirar do sul da Provncia, se dirigiu at o julgado de Arraiais.
A idia do estabelecimento da Junta provisria partiu do desembargador Teotnio Segurado, que
era Ouvidor da Comarca do Norte, e o prprio assumiu a condio de presidente at janeiro de 1822.
As justificativas para a separao do norte do centro-sul de Gois, aparecem nas palavras
proferidas quando da proclamao da instalao da Provncia do Norte:
Habitantes da comarca da Palma! tempo de sacudir o jugo de um governo desptico; todas as provncias do
Brasil nos tm dado este exemplo; os nossos irmos de Gois fizeram um esforo infrutfero, ou por mal
delineado, ou por ser rebatido por fora superior. Eles continuam na escravido, e at um dos principais
habitantes dessa comarca ficou em ferros. Palmenses! Sejamos livres, e tenhamos segurana pessoal; unamo-nos
e principiemos a gozar as vantagens que nos promete a constituio! Abulam-se esses tributos que nos vexam, ou
por sermos os nicos que os pagamos, ou por no serem conformes s antigas leis adaptveis a esta pobre
comarca. Sadas de gados, dcima, banco, papel selado, entrada de sal, ferro, ao e ferramentas ficam abolidas,
todos os homens livres tm direitos aos maiores empregos; a virtude e a cincia, eis os empenhos para os cargos
pblicos. Todas as cabeas de julgado daro um deputado para o governo provisrio; os arraiais de So Jos, S.
Domingos, Chapada e Carmo ficam gozando da mesma prerrogativa. Esses deputados devem ser eleitos, e
dirigirem-se imediatamente a Cavalcante, onde reside interinamente o governo provisrio. Depois de reunidos
todos os deputados, se decidir qual deve ser a capital, e nela residir o governo. Os soldados que quizerem
sentar praa de infantaria vencero cinco oitavas por ms, e na cavalaria seis e meia. Palmense, nimo e unio!
O governo cuidar da vossa felicidade. Viva a nossa santa religio, viva o Sr. D. Joo VI, viva o prncipe regente
e toda a casa de Bragana, viva a constituio que se fizer nas cortes reunidas em Lisboa.
Presidente Joaquim Teotnio Segurado, Manoel Antnio de Moura Teles, Jos Zeferino de Azevedo, Jos Vitor de
Faria Pereira, Francisco Joaquim Coelho de Matos, Francisco Xavier de Matos, Luiz Pereira de Lemos e Joaquim
Rodrigues Pereira.
Cavalcante, 15 de setembro de 1821.
Percebe-se pelo discurso autonomista, que a instalao do governo provisrio estava ligado em a
questes econmicas, polticas, administrativas e geogrficas. O governador da provncia Manoel Sampaio acusava
o movimento de estar assentado sob interesses pessoais, como a ambio sem limites do Vigrio de Cavalcante o
Pe. Coelho de Matos e o prprio Segurado, acusado por Sampaio de querer escravizar os povos da Comarca do
Norte.
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sua posio de no apoiar a independncia do Brasil, provocou a insatisfao de alguns dos seus correligionrios
polticos e a retirada de apoio causa separatista, alm de grandes rivalidades surgidas entre as lideranas polticas
de Cavalcante, Palma, Arraiais e Natividade, contribuindo para a desagregao da Junta provisria de Cavalcante.
Em outubro de 1821, Segurado transferiu a sede da capital do governo provisrio para Arraias
provocando oposio e animosidade dos representantes de Cavalcante.
Esses conflitos se manifestaram de forma mais concreta aps a instalao da respectiva Junta, em decorrncia
da deciso do presidente Segurado de transferir a capital da Provncia para Arraiais eu outubro daquele ano.
De um lado, se esse fato atendeu a maioria das lideranas dos arraiais, por outro, no deixou de provocar a
oposio e a animosidade dos representantes de Cavalcante e, dentre estes, o Vigrio da Diocese por estar
inconformado com a deciso de Segurado -, fugiu para a Comarca do Sul com o intento de jurar fidelidade ao
governo Sampaio e delatar todos os lderes. Os demais, embora fixados na ex-capital, desligaram-se do
movimento. Contudo, apesar das defeces, a situao manteve controlada enquanto Segurado permaneceu
na presidncia.
(CAVALCANTE, Maria do Esprito Santo Rosa. O Movimento Separatista do Norte de Gois (1821-1988).
Goinia: UCG, 2005.)
A crise tomou propores maiores com a ausncia de Segurado do movimento, pois teve que seguir
para Lisboa para representar a Provncia de Gois, como deputado constituinte nas cortes. Nesse momento os
interesses particulares de lideranas locais, se tornaram maiores que as causas separatistas regionais.
Um novo governo provisrio foi organizado. O Capito Felipe Antnio Cardoso, partidrio da luta
pela independncia nacional, foi quem assumiu a chefia do movimento e organizou o novo governo, apesar de no
participar diretamente dele. Atravs de um decreto, a Comarca da Palma foi desmembrada de Gois e constituiu em
sua jurisdio uma provncia independente. Foi mandado Corte um deputado para comunicar o governo central da
deciso tomada.
O sucessor de Segurado, o tenente-coronel Pio Pinto de Cerqueira, contribuiu ainda mais para o
agravamento dos choques de interesses. Primeiramente determinou a transferncia da capital para Natividade,
elevando-a categoria de vila, transferindo para l a Cmara de Palma, ordenando ainda a destituio do Ouvidor
Febrnio Jos Vieira Sodr de suas funes, Cerqueira acumulava com isso o cargo de Ouvidor e presidente da
junta provisria de governo.
Tais medidas descontentaram as autoridades dos julgados de Cavalcante e Palma que decidiram
no acatar as ordens de Cerqueira, continuando obedecendo Febrnio, que estava em Cavalcante.
Cerqueira de forma autoritria deu ordens de priso ao Ouvidor, a vereadores de Cavalcante e todos
que haviam desacatado sua autoridade. Alguns desses homens se refugiaram em Arraiais, procurando o capito
Felipe Antonio Cardoso, para apoi-los, mas sem sucesso, j que o capito era partidrio do governo de Pio Pinto,
pois esse possua as mesmas convices polticas, ou seja, eram favorveis independncia do Brasil.
Diante dessa situao trs grupos polticos se formaram na Comarca do Norte:
- o poder legtimo em Natividade de Pio Pinto de Cerqueira, Felipe Antonio Cardoso, grupo que defendia a
independncia nacional;
- vereadores de Palma e Cavalcante, refugiados em Arraiais, apoiados pela maioria das lideranas daquela
localidade sem, no entanto, demonstrar claras convices sobre a independncia.
- julgados como Traras, So Domingos e Chapu, e parte da liderana de Arraiais, que no acatavam as ordens
nem de Natividade (Cerqueira), nem de Cavalcante (Febrnio), mas eram obedientes a Junta de governo que havia
sido instalada em Gois recentemente.
3) A PROVNCIA REUNIFICADA
Em abril de 1822 se instala na sede da Provncia, o governo provisrio do sul, onde foi nomeado o
Pe. Luiz Gonzaga Camargo Fleury, como seu representante para defender os interesses da Comarca, com a misso
de pacificar os revoltosos do Norte.
A primeira oportunidade que o Pe. Fleury teve para exercer sua funo de pacificador do norte,
foi quando o capito Cardoso recusou sua proposta de reunificao do norte ao sul, afirmando que s o faria caso
fosse expedida uma ordem direta de D. Pedro. Diante desse fato, o reverendo decretou a priso do capito Cardoso
e promoveu o fechamento do Clube da Natividade, principal foco de resistncia unidade poltica.
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formao de sociedades mercantis e a instalao da navegao a vapor no Araguaia foram suficientes para
viabilizar a comunicao dos julgados do sul com o Par. A navegao do Tocantins prosseguiu, embora cercada de
imensos obstculos.
A navegao prosseguiu, ento, sustentada pela perseverana dos comerciantes do norte. Se no
atendeu aos propsitos de soerguer economicamente toda a regio, ela foi de vital importncia para a economia do
norte na medida em que integrou o serto ao mercado de Belm, proporcionando um surto de desenvolvimento em
vilas e povoados. No final do sculo XIX, saam botes, canoas, bateles e, mais tarde, barcos motorizados
carregados de mercadorias como fumo, algodo, cana-de-acar, couro de boi, peles silvestres e carne seca, rumo a
Belm. De l, vinham as manufaturas, ferro e produtos do reino. Entrepostos comerciais, de onde eram
redistribudas as mercadorias importadas de Belm e repassados os produtos sertanejos, transformaram-se em
prsperas vilas como Porto Imperial (atual Porto Nacional), Pedro Afonso, So Pedro de Alcntara (Carolina-Ma) e
Boa Vista (Tocantinpolis).
Se de um lado a geografia dificultou a produo agrcola, por outro ela ajudou no desenvolvimento
da pecuria. Os cerrados ou campos cerrados, cobrindo a maior parte do territrio da regio, de fertilidade mediana,
permitiram a disseminao da pecuria extensiva.
O gado abriu os caminhos para o interior do serto, a pecuria levou a ocupao da regio na
segunda metade do sculo XIX. Criadores de gado vindos do Piau, Maranho, multiplicavam as fazendas de gado
no norte. A proximidade com o litoral do norte e nordeste serviu como um dos atrativos, alm da ocupao de terras
atravs do apossamento, o que no se alterou mesmo com a Lei de Terras de 1850. Essa posse continuava a ser
definida pela quantidade de escravos que o proprietrio possua. Com o estmulo da pecuria surgiram
agrupamentos humanos ruralizados, constitudos de vaqueiros, criadores e tropeiros. Da conjugao das vrias
fazendas, originaram-se os ncleos urbanos de Araguatins, Lizarda, Ponte Alta do Bom Jesus, Silvanpolis,
Taguatinga, Tocantinpolis e Nazar, como exemplos de cidades do atual Tocantins que nasceram de currais de
gado.
O gado se posicionava como principal produto nas cotas de exportaes, justificada em parte por
requerer reduzido emprego de mo-de-obra e por vencer, por si s, a ausncia de meios de transportes. Indiferente
s dificuldades de conduo, o gado, que se autotransportava, proporcionava o estabelecimento de relaes
comerciais entre Gois, Minas, So Paulo e Bahia. Enquanto isso, as localidades importavam aquilo que no
produziam, tais como sal, ferro, gneros alimentcios requintados entre outros. Arraiais, Carolina, Cavalcante,
Natividade e Conceio, alm dos povoados que surgiram na margem direita do Tocantins realizavam importante
comrcio com as provncias do Par e Bahia.
medida que a pecuria foi se desenvolvendo, gerando certas divisas para a Provncia, ocorreram
novas taxaes sobre o comrcio do gado e derivados, o que provocou o retorno do contrabando, no final do sculo
XIX. No norte, mais uma vez a distncia da capital foi um fator importante, alm da enorme presena de gado
vacum e cavalar.
Mesmo com a insero do norte goiano na economia do pas e apesar das vrias aes
administrativas, as crises alimentcias e os problemas com o abastecimento no terminaram. Percebe-se que a
escassez, a carestia e por vezes, a fome declarada afligiram cronicamente aquela sociedade.
A ao dos atravessadores, a sazonalidade climtica, a falta de estmulo agricultura, a ausncia de tcnicas, a
falta de braos, os altos impostos, as dificuldades de comrcio e transporte so fatores que se cruzam e
entrecruzam para justificar aquela realidade.
MAGALHES, Snia Maria de. Abastecimento alimentar em Gois no sculo XIX: escassez, carestia e fome.
Foi para no se repetir tal situao que no sculo XX, as fazendas de gado j estavam consolidadas
e criaram um novo tipo de sociedade onde a criao de gado, apesar de dominante, convivia com a lavoura de
subsistncia. Alm de se utilizarem da criao de outros animais, como porcos, cabras e ovelhas. Alguns
fazendeiros dividiam seu trabalho entre o campo e a cidade, onde residiam e estabeleciam comrcio onde vendiam
querosene, cachaa, fumo em rolo, pimenta-do-reino, cravo-da-ndia, ervas, rapadura, acar grosso, sal, botes,
novelo de linha, medicamentos diversos, etc. Os vaqueiros, constantemente, intercalavam seu trabalho no campo
com a atividade de barqueiro no rio Tocantins. Eram vaqueiros e remeiros. Os filhos dos fazendeiros ricos ou iam
estudar em Carolina, Porto Nacional, Salvador, Rio de Janeiro; ou permaneciam na tradio familiar com a criao
de gado.
B) NOVAS TENTATIVAS DE DIVISO DA PROVNCIA DE GOIS:
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Em meados do sculo XIX, o governo imperial se dedicou cada vez mais a criar uma cultura para a
nao brasileira, que expressasse os sentimentos tidos como nacionais. Em 1838, foi criado o Instituto Histrico
e Geogrfico Brasileiro (IHGB), reunindo figuras importantes da elite econmica e literria da capital imperial.
Contando com o incentivo de D. Pedro II, que construa uma imagem de imperador letrado e amigo das artes, o
IHGB tinha como principal objetivo escrever uma Histria do Brasil na qual predominassem os grandes
personagens e heris. A idia era construir uma identidade nacional, evitando a fragmentao territorial, a perda da
unidade construda aps a independncia, to ameaada durante o perodo regencial pelas rebelies. Foi por esse e
outros motivos que as tentativas de diviso da Provncia de Gois, separando o norte do sul, esbarraram no veto
daqueles que representavam o legislativo e desconheciam totalmente o caos reinante no norte goiano instaurado
aps o esgotamento das minas.
1- O VISCONDE DE TAUNAY
O primeiro a levantar essa bandeira foi Alfredo Maria Adriano dEscragnolle Taunay, ou
simplesmente Visconde de Taunay. Nascido no Rio de Janeiro em 1843, filho do francs Emlio Taunay, membro
do Instituto de Frana e da Misso Francesa e um dos fundadores da Escola de Belas-Artes do Rio de Janeiro.
Taunay se formou em letras e quando estava s vsperas de se formar como engenheiro militar, eclodiu a Guerra do
Paraguai, em 1864.
Como testemunha ocular dos fatos ocorridos na maior guerra do continente, Taunay que j era um
respeitado escritor no Rio, deixou seu nome gravado eternamente na literatura brasileira por obras como Dirio do
Exrcito e A Retirada de Laguna, o que o levou tambm a ser considerado o grande historiador da Guerra do
Paraguai.
Terminado o conflito, Taunay concluiu o curso de engenharia e ingressou no corpo docente da
Escola Militar, lecionando mineralogia e geologia, at ser convocado por seu professor e mentor, visconde do Rio
Branco para seu gabinete. Apadrinhado poltico de Rio Branco e convencido pelo mesmo, o jovem aristocrata,
iniciou sua carreira poltica sendo eleito deputado pela provncia de Gois, em 1872. Durante sua legislatura
apresentou cmara um projeto para criao da Provncia da Boa Vista do Tocantins, com capital na vila de Boa
Vista (Tocantinpolis). Projeto no aprovado pela assemblia e que Taunay defendeu novamente em 1875, quando
foi reeleito deputado por Gois, na sua obra A provncia de Gois. O ttulo de visconde foi conseguindo em 6 de
setembro de 1889, quando encerrou sua carreira poltica. Durante sua trajetria como poltico, o escritor e militar
Taunay carregou o lema governar povoar, o que explica sua defesa na diviso da provncia goiana.
2- FAUSTO DE SOUZA
Na dcada de 80 do sculo XIX, Fausto de Souza, props a rediviso do Imprio em 40 provncias,
incluindo a provncia do Tocantins na regio do antigo norte goiano. Projeto que no recebeu aprovao por parte
das autoridades polticas do Imprio.
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Ao fim do mandato Ablio Wolney retorna Dianpolis mas jamais conseguiu se livrar do esprito
de vingana e da ira poltica dos Caiado. Uma acusao de roubo de gado que recaa sobre o cl Wolney, fez com
que Tot Caiado enviasse a regio uma comisso judicial para eliminar a influncia daquela famlia que impedia a
hegemonia caiadista no Duro.
No contente com os processos que corriam contra Ablio e seu pai Joaquim Aires Wolney, uma
milcia do governo preparou uma emboscada na fazenda Buraco, reduto coronelista Wolney, em dezembro de
1918, dias antes do julgamento. Morria nesse ato o pai Joaquim, mas Ablio Wolney conseguiu fugir para a Bahia,
onde recrutou um verdadeiro exrcito de jagunos. Enquanto isso, a polcia seqestrava seus parentes, como refns
da justia.
Ablio movimentou seus jagunos para as cercanias de Dianpolis e exigiu que seus parentes fossem
imediatamente libertados. O delegado respondeu que mataria um por um dos prisioneiros no instante em que
Ablio ou qualqur um dos seus jagunos pusessem os ps na cidade. A irm de Ablio foi solta e enviada para
convence-lo que a ameaa era sria, mas ele ignorou as splicas da irm e desfechou seu ataque assim mesmo.
(MACAULAY, Neill. A Coluna Prestes. So Paulo: Alfa mega, 1987.)
Em 16 de janeiro de 1919, Ablio Wolney atacou a cidade, levando os homens da milcia estadual a
baterem em retirada, depois de perceberem a superioridade blica dos homens de Ablio. Mas, a tragdia no foi
evitada, antes de fugirem todos os refns, parentes do coronel, foram executados.
O domnio sobre a cidade ocorreu entre 1919 e 1923, depois de resistir a diversas outras investidas
do aparelho repressor do Estado, que s conseguiu xito em 1923, levando Ablio Wolney a se refugiar na Bahia,
onde continuo exercendo seu mandonismo, como poltico e fazendeiro, retornando a Dianpolis, durante a Era
Vargas, j com o fim do domnio caiadista sobre o Estado de Gois.
2) O CANGAO NO NORTE GOIANO CORONELISMO EM PEDRO AFONSO
As diversas lutas entre cangaceiros no interior do nordeste, fazia com que vrios adeptos dessa
forma de banditismo, se embrenhassem para o grande serto, procurando proteo