Um Conto Chinês: Um Olhar Sobre A Cultura e A Identidade.
Um Conto Chinês: Um Olhar Sobre A Cultura e A Identidade.
Um Conto Chinês: Um Olhar Sobre A Cultura e A Identidade.
Uruguay
INTRODUO
Como um bom relato melanclico no velho estilo portenho, tendo roteiro e direo
do argentino Sebastin Borensztein, Um Conto Chins (Un Cuento Chino, 2011) traz o
paradoxo de uma existncia metdica em Buenos Aires contrastando com um estranho caso
de uma vaca que cai do cu na China. A cena pr-abertura serve de mote para a narrativa. Um
grupo de ladres tenta roubar um rebanho bovino tendo como meio de transporte um pequeno
avio. Em seguida, campesinos armados partem em disparada atrs da aeronave, tentando
salvar os animais. A empreitada d parcialmente certo: os disparos contra os ladres acabam
por desestabilizar o voo. Do cu, j distante da fazenda onde o episdio ocorrera, uma vaca
despenca e atinge um barco num lago em Fucheng, na China. O choque mata uma moa
chinesa cujo namorado, Jun, estavas prestes a lhe fazer um pedido de casamento.
Inspirado em uma histria real que se passou no Japo, na qual um barco de pesca
japons atingido por uma vaca enquanto navegava em alto mar, o filme refora que o
absurdo inerente vida humana. Depois da inusitada cena, a cmera gira vagarosamente e,
do outro lado do mundo, em Buenos Aires, na Argentina, a cmera atravessa o vidro da porta
para mostrar a histria de Roberto, interpretado por Ricardo Darn, um homem solitrio,
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arisco, dono de uma pequena loja de ferragens, que por acontecimentos passados, explicados
ao longo da trama, no consegue manter um relacionamento interpessoal. Definido como malhumorado, zangado e impaciente, Roberto leva uma vida previsvel e montona; um homem
metdico (contagem de parafusos de uma caixa - inspecionando um por um), que no se abre
para o mundo e faz questo de manter distncia das pessoas que o cercam. H nele uma
pacincia beirando o limite em relao aos clientes (desconfiados, que o fazem gastar tempo
ou que o perturbam como o manaco por esttica). Com poucos amigos, em seu tempo livre
o protagonista coleciona manias, entre elas, ler notcias absurdas de vrios jornais e recortar
as mais interessantes e colecionar pssaros de vidro em miniatura de todo o mundo para a
falecida me. O seu passado presente. Ele no consegue a libertao. Primeiro com a ligao
com sua me, que no a conheceu, depois pela perpetuao de seu pai. Por tudo que passou,
aprendeu a vivenciar sua individualidade de forma plena, sem brechas.
Tudo comea a mudar quando Jun, interpretado por Igncio Huang, aparece em sua
vida de repente, jogado literalmente em seu caminho, dando incio a uma histria repleta
de casos e acasos que mudariam a vida de ambos. A partir da, trava-se um lao e a dupla que
sequer consegue se entender, estabelece uma relao de solidariedade, travestida de
estranhamento e empatia: Jun no fala uma palavra em espanhol e Roberto no entende o
cantons. Entre mmicas e troca de olhares, ambos tentam estabelecer a comunicao, fazendo
com que o espectador intua o dilogo, preenchendo um no dito da mesma forma que eles o
fazem.
A linguagem de cada personagem, em suas mais variadas formas, traz o mundo que
suas culturas expressam, apresentando a complexa relao do eu e o outro. Por este motivo,
este artigo oferece um espao de reflexo sobre a forma como esta relao inesperada entre as
personagens e o choque de suas diferentes culturas apresentada, bem como os diferentes
atos de linguagem que mostram esta relao. Em meio a esse universo do filme, o presente
estudo prope utilizar contribuies tericas dos campos da cultura e da identidade para
ampliar o olhar sobre o uso da linguagem, em suas mais diferentes formas, como meio de
entender a si mesmo e aos outros pela interpretao das expresses que produzem e recebem.
O OUTRO
No contexto do mundo contemporneo, alm das cidades, do lugar, alm da nao,
existe um novo espao, o espao da Modernidade-Mundo, conceituado por Ortiz (2007) como
um espao no qual so construdos um mundo de signos, smbolos, memria e identidade que
so transnacionais, que se desterritorializam passando a fazer parte de um imaginrio coletivo,
Segundo o autor, o outro possui o direito sua estranheza, pois esta a nica
maneira pela qual o meu prprio direito pode expressar-se, estabelecer-se e defender-se. Esta
relao que gera, nas aplicaes dirias, a liberdade, o poder, o dever e a fraternidade. Ser
responsvel pelo outro e Ser responsvel por si mesmo (BAUMAN, 1999, p. 249). Esta
negao pode ser percebida na cena em que Jun decide fazer o caf da manh, diferente do
caf feito por Roberto diariamente; atravs de gestos, na tentativa de agradar, Jun sugere fazer
omelete. Roberto o ignora, vai at a geladeira pega o po e sai da cozinha. No h a aceitao
de outra vontade que no a sua. Alm da invaso da sua casa, da moral do seu espao, o outro
invade os seus hbitos e tudo aquilo que isso representa.
No decorrer do filme, o medo de Roberto passa a atrelar-se ao desdm da tolerncia,
situao em que Roberto no consegue ainda ver a diversidade e a diferena como condio
necessria da sua preservao. Tolerante e no solidrio, Roberto tenta constantemente livrarse da companhia do estranho e de seus problemas, o que parece ser uma perspectiva atraente e
segura, ao invs de se dispor realmente a lutar pela sua diferena e causa, ao invs da prpria.
A tolerncia egocntrica e contemplativa, a solidariedade orientada e militante
(BAUMAN, 1999, p. 271). Neste contexto, pode-se mencionar a cena em que Jun vai pedir
informaes sobre o seu tio em um estabelecimento de uma comunidade chinesa na
Argentina, acompanhado por Roberto que, ao perceber que Jun tinha sumido e no estava
mais naquele local, se enche de alegria e vai rpido para o carro com a inteno de livrar-se
dele, no entanto, ao chegar ao carro, Jun o est esperando. Outra cena em que desponta a
tentativa de livrar-se quando Roberto pede suposta famlia chinesa de Jun que fiquem com
ele at ser encontrado o tio verdadeiro, com a justificativa de que falam a mesma lngua e tem
os mesmos costumes.
A tolerncia plenamente compatvel com a prtica da dominao social. Pode ser
pregada e exercida sem medo porque reafirma mais do que questiona a
superioridade e privilgio do tolerante: o outro sendo diferente perde o direito a um
tratamento igual com efeito, a inferioridade do outro plenamente justificada pela
diferena. [...]. Com os laos mtuos reduzidos tolerncia, a diferena significa
uma perptua distncia. (BAUMAN, 1999, p. 292).
Claude Lvi Strauss, mencionado por Bauman (2001, p. 118), afirma que duas
estratgias foram utilizadas na histria da humanidade como forma de enfrentar a alteridade
dos outros: a antropomica e a antropofgica. Ambas, cada uma sua maneira busca enfrentar
o encontro com estranhos. No caso de Um Conto Chins, a relao entre Roberto e Jun
varia entre o mico e o fgico, o primeiro pelo fato de Roberto querer Jun fora de sua
Portanto, segundo Laraia (1986), o homem o resultado do meio cultural em que foi
socializado. um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a
experincia adquirida pelas numerosas geraes que o antecederam. Tudo que o homem faz,
aprendeu com os seus semelhantes e no decorre de imposies originadas fora da cultura.
Conceito desenvolvido por Pierre Bourdieu, em que um campo de interao pode ser conceituado como um
espao de posies, diacronicamente, como um conjunto de trajetrias.
explica que Isto chourio, ferro puro. Vaca argentina, nada de vaca louca. Isso inveno
dos ingleses que brincaram com a gentica. E aquilo ali ... criadilla. Testculos. Um manjar.
Ningum aqui come. Comem fgado, tripa, rim. Bagos no. As pessoas tm nojo. Bando de
idiotas..
Jun pega o alimento na mo, estranha, e mesmo sem entender a explicao de
Roberto, tendo um alimento to distinto de sua cultura, come. A comida chinesa diferente da
comida ocidental onde a protena da carne o prato principal de uma refeio. Porm, Jun se
adapta sem questionamentos. Talvez isto ocorra pelo fato de Jun estar em outro pas, no
entanto, pode-se pensar tambm como uma forma tradicional chinesa de respeito perante
Roberto que o acolhe, o que tambm se percebe na postura de Jun, permanentemente sentado
mesa com os braos para baixo.
A cena mostra a fixidez do alimento em sua cultura, mesmo sem que o chins
compreenda importante para Roberto reafirmar a sua cultura perante o outro. Isto tambm
mostrado quando, em um momento de alegria com a sada de Jun, Roberto traz um vidro de
doce de leite para fazer parte do caf da manh, dizendo Para sua despedida. Isto doce de
leite, a melhor coisa do mundo. Vocs esqueceram de inventar, por isso ns inventamos.
Prove!. a primeira vez em que Roberto sorri, um momento especial, comemorado com
doce de leite, Jun demonstra satisfao e repete. A partir da fala, expresso e manifestao do
que seu, da sua cultura, Roberto busca marcar a diferena entre ambos.
No filme se desconhece o tipo de alimentao de Jun, porm h uma interpretao
finalista por parte de Roberto e Mari em duas cenas. Em um dia de comemorao, Mari tenta
agradar Jun pedindo entrega de comida chinesa, rompe-se neste momento a relao entre
lugar e alimento. sugerida uma comida industrial que no possui vnculo territorial, j que
feita na Argentina, e mesmo aproximando-se do que seria a alimentao de Jun, no se pode
dizer que seria comida tipicamente chinesa, pois no traz toda a singularidade cultural do
alimento, a mesma apresentada com orgulho por Roberto sobre a parrillada. Esta convico
sobre a alimentao de Jun tambm percebida na cena em que Jun janta na casa de Mari e
sua cunhada diz: Como no vai gostar. So milhes e milhes na China, comem o que h,
no perguntam como voc. Eles so sbios. Comem escorpies, serpentes, formigas.... o
que Todorov (2003) chama de convico anterior experincia, crenas que influenciam
interpretaes, no h a preocupao em entender quais so os hbitos e desejos de Jun, a
informao que se tem da televiso ou que se houve falar tida como final.
Ainda mesa, no filme so apresentadas diversas cenas sobre o caf da manh de
ambos, uma xcara de caf preto e meio po francs. A mesa no farta, o caf da manh
autor, ele no precisa ser provado, uma verdade probabilstica a partir da repetitividade
histrica e discursiva. Est sempre em excesso do que pode ser provado empiricamente.
O esteretipo formado a partir de um discurso ambivalente, sendo ao mesmo tempo
um objeto de desejo e escrnio, uma articulao da diferena contida dentro da fantasia da
origem da identidade. H um reconhecimento da diferena cultural e racial e seu repdio,
fixando o no familiar a algo estabelecido, de forma repetitiva, que vacila entre o prazer e
medo. No entanto, a fixao uma tendncia e, ao mesmo tempo, uma impossibilidade
(SILVA, 2012, p. 84). Em outros termos, o esteretipo cultural, aquele que no se
enquadra no discurso dominante.
A censura afeta, de imediato, a identidade do sujeito. Nesse passo podemos fazer
uma relao entre a rarefao do sentido produzida pela relao com o Poder (a
censura) e a produzida pela relao com o desejo (narcsea). (ORLANDI, 2007, p.
79).
Esta relao de poder perceptvel na relao entre Roberto e Jun, suas diferenas
so traduzidas em termos de superioridade e inferioridade, recusa de Roberto em relao a
existncia de uma substncia humana realmente outra. Roberto, por estar em seu local de
origem, em seu prprio campo, tem o poder de agir na busca de seus prprios objetivos e
interesses. Os sujeitos so sempre colocados de forma desproporcional em oposio ou
dominao atravs do descentramento simblico de mltiplas relaes de poder (BHABHA,
2007, p. 113). Porm, no decorrer da obra, Roberto passa a perceber que as certezas que tinha
e os esteretipos fixados que representavam o chins, o estrangeiro intruso, passam a se
decompor na medida em que convive com Jun.
O esteretipo no uma simplificao porque uma falsa representao de uma
dada realidade. uma simplificao porque uma forma presa, fixa, de
representao que, ao negar o jogo da diferena, constitui um problema para a
representao do sujeito em significaes de relaes psquicas e sociais.
(BHABHA, 2007, p. 117).
significados e as diferentes atribuies de sentido que passam a fazer parte da vida de ambos
do sentido a novas experincias, mudando-os; principalmente no caso de Roberto que passa
a perceber que o outro no to outro assim.
A lngua, neste caso, as diferentes formas de linguagem, assim como o silncio,
passam a constituir uma cadeia de significados que remete a esta diferena. Conforme Orlandi
(2007, p. 90), a identidade no se reduz identificao; ela mobiliza processos mais
complexos. Um desses processos nos permite apreciar a produo da diferena, justamente
pela forma como o silncio faz parte da relao do sujeito com o sentido.
entre significante e significado, por ter a sua origem situada socialmente no mesmo contexto
que Jun, bem como por conhecer a cultura local de Roberto.
Em relao linguagem, uma cena em especial chama a ateno. Em um jantar na
casa de Mari, a mesa redonda deixa evidente a comunicao que permeia o silncio,
ultrapassa as barreiras culturais, acontecendo por gestos e troca de olhares. Jun tenta imitar a
forma como os argentinos sua volta comem: usa talheres, suga o tutano do boi de forma
atrapalhada. Ao lado, Mari se insinua atravs de olhares para Roberto, que no percebe.
Atento, Jun sorri. Neste momento, Roberto quem parece o estrangeiro, ele no compreende
a linguagem utilizada na mesa e o sentido daquela ao, no entanto, Jun percebe a
comunicao implcita no olhar, os deixando a ss no final do jantar. Neste sentido, a cena
confirma a expresso de Charaudeau (2008, p. 17) de que o ato de linguagem no esgota sua
significao em sua forma explcita, neste caso, pelo contrrio, o implcito, o manifestado
em um lugar de sentidos mltiplos, um conjunto de combinaes que permitiu a compreenso
de Jun.
No filme, a linguagem verbal no o ponto principal de comunicao entre as
personagens. Em uma das cenas, Jun procura agradar Roberto e atravs de gestos pergunta se
h ovos para fazer omelete, Roberto ignora e sai, no dia seguinte, Jun no faz o caf como
forma de demonstrar sua insatisfao e mesmo sem falar uma palavra Roberto compreende. A
insatisfao de Roberto tambm percebida na cena em que ele simplesmente se dirige at
Jun na cozinha e fecha o vidro de doce de leite, que estava aberto como forma de
comemorao pela sua partida. Os gestos e as aes so compreensveis no decorrer de todo o
filme a partir das circunstncias que vo se apresentando na relao entre os protagonistas.
A ausncia da linguagem verbal no compromete a obra, ao contrrio a enriquece
pela sua complexidade. De acordo com a teoria de Charaudeau (2008) em relao ao
fenmeno linguageiro, h quatro elementos que participam dos processos de produo e
interpretao: o Eu comunicador (EUc) que se dirige ao Tu destinatrio (Tud); e o Tu
interpretante (TUi) que analisa o texto considerando o Eu enunciador (EUe). Tem-se, dessa
forma, alm dos sujeitos agentes da manifestao (EUc e TUi), os outros imaginados por
esses agentes (TUd e EUe), que constroem e interpretam a enunciao baseados nas
representaes mentais.
Apesar de as personagens possurem experincias das mais variadas, com contextos
histricos e sociais distintos, ambos conseguem encontrar gestos e smbolos universais que
permitem a comunicao eficaz neste jogo entre o explcito e o implcito em seus atos de
linguagem, comunicando ao outro imaginado. Quando Roberto escreve os nmeros em um
papel, mostrando a Jun quantos dias ele pode ficar em sua casa, a ideia compreendida.
Mesmo que os nmeros tenham sido escritos conforme a linguagem ocidental, Jun percebe
que significam dias pelo fato de Roberto apontar com a caneta o dia atual e risc-lo. Contudo,
preciso lembrar que toda interpretao uma suposio de inteno (CHARAUDEAU,
2008, p. 31). Roberto, Jun e o espectador do filme se envolvem na criao de hipteses
durante toda a histria, buscando, atravs de prticas sociais compartilhadas estabelecerem
um dilogo.
Em uma das ltimas cenas, em que Jun est ao telefone, a linguagem verbal
substituda pelas expresses e sensibilidade das interpretaes dos atores. Ao longo de Um
Conto Chins, importante lembrar que Roberto solta palavres e ventila frustraes porm nesta cena, a cmera se fixa no rosto do chins que conversa com seu tio ao telefone, e
ento o "silncio" que se torna eloquente. O silncio no fala, mas significa. O silncio
fundante, quer dizer, o silncio a matria significante por excelncia. O real da significao
o silncio. (ORLANDI, 2007, p. 29).
Na cena, no apenas se recebe s meio dilogo (no se ouve o lado do tio) como no
se compreende a fala de Jun em cantons; um silncio entre aspas. No entanto, a compreenso
da palavra na cena no necessria, a imagem e o semblante de Jun manifestam tudo o que
ele quer dizer, Jun deixa de ser a caricatura do chins e passa a expressar o que sente, o alvio
de ter encontrado o seu nicho seguro onde todos so parecidos com ele e onde, assim, a
fala fcil. Roberto, ao fundo, tambm deixa pra trs a amargura e se emociona. Afeto e
empatia entram em cena, elementos da comunicao humana que dispensam a linguagem
falada.
CONSIDERAES FINAIS
histrias de vida os unem, fazendo com suas identidades passem do confronto da recusa
familiaridade. E como diz Jun, tudo tem sentido, o longe e o perto perdem o significado
e abre-se espao para a verdadeira solidariedade.
As personagens passam a compreender que eu sou o outro e que o outro
eu. Mesmo que possuam hbitos e costumes distintos, conduta e posicionamentos diferentes
em relao vida, a existncia de sua cultura no implica no aniquilamento da cultura do
outro, elas podem coabitar. H uma articulao da diferena, uma relao de recusa em
conhecer o outro e ao mesmo tempo grande dificuldade em abandon-lo, um vacilo entre o
repdio e o familiar. Roberto e Jun se encontram neste binarismo, no espao da cultura. De
pouco em pouco, eles percebem as mudanas e partem a um futuro diferente do que era antes,
deixando de lado vises fixas do outro.
Essa dupla relao do eu e do outro vai se traduzindo nas situaes inteligentes
de uma comdia leve, humana, comovente, que trata do desamparo em um mundo no qual o
absurdo iguala a todos.E embora muitas falas sejam em chins, sem serem compreendidas por
Roberto, tampouco pelo pblico que assiste ao filme; Um Conto Chins se comunica
perfeitamente bem. As personagens e o espectador se envolvem na criao de hipteses e
conseguem estabelecer um dilogo, onde os silncios, os no ditos, gestos, expresses e
diversos outros elementos da comunicao humana possuem significado, dispensando a
lngua falada. Surge ento com fora e ritmo no filme a percepo de que a identidade,
mesmo que paradoxal segue como um processo em construo com base em atributos
culturais, ou como descreveu Castells (1999), um conjunto de atributos culturais interrelacionados, os quais prevalecem sobre as outras fontes de significado.
Pode-se dizer que no s o absurdo paradoxal da obra, como tambm reflexes
sobre cultura, identidade e linguagem podem transformar a nossa compreenso em relao ao
outro, permitindo-nos escut-lo na sua verdade, indiferente se cai ou no uma vaca do cu. A
riqueza da obra e da expresso cinematogrfica, nos permite a visibilidade das representaes
articuladas com o mundo social, como pensa Chartier (1990), exibindo uma maneira prpria
de estar no mundo,
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