Foucault Vidas Paralelas
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Vidas paralelas
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2. Comentando o caso
de Rivire, Foucault escreve: uma histria
absolutamente estranha.
Pode-se dizer, no entanto, e isso me espantou,
que nessas circunstncias escrever sua vida,
suas lembranas, o que
lhe aconteceu, constitua
uma prtica da qual se
encontra um grande nmero de testemunhos,
precisamente nas prises. Um certo Appert,
um dos primeiros filantropos a percorrer uma
quantidade de campos
de trabalho forado e de
prises, fez os detentos
escreverem suas memrias, das quais publicou
alguns fragmentos. Na
Amrica encontram-se
tambm, nesse mesmo
papel, mdicos e juzes.
Era a primeira grande
curiosidade com relao
a esses indivduos que
se desejava transformar
e para cuja transformao seria necessrio produzir um determinado
saber, uma determinada tcnica. [...] A questo quem este indivduo que cometeu este
crime? uma nova
questo. Ela no suficiente, no entanto, para
explicar a histria de
Pierre Rivire (1999c,
p. 139; cf. Foucault,
1999d, pp. 257-258,
nota 67).
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6. Para os reformadores
do final do sculo
XVIII, o parricdio era
o crime crucificado
pela nova lei. Sua pena
proporcionaria a cena
da punio absoluta
que dominaria todos os
teatros do castigo dirio: o nico caso em
que se deveria procurar
atingir o infinito punitivo. O parricida deveria passar por um suplcio enrgico, que
apresentasse o prolongamento de uma morte dolorosa (cf. Foucault, 1999d, p. 94).
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memrias, Barbin tem para si um sexo sempre incerto, e est privada das
delcias que experimentava quando no tinha esse sexo, ou no totalmente
o mesmo sexo daquelas com as quais vivia, que amava e desejava tanto. O
que evoca de seu passado, ento, o limbo feliz de uma no-identidade,
protegida pela vida dentro daquelas sociedades fechadas, onde se tem a
estranha felicidade, ao mesmo tempo obrigatria e interdita, de conhecer
um nico sexo.
Escapando a uma identidade, Barbin escapa desse saber-poder subjetivador, que a ligaria definitivamente masculinidade. J no est submetida a
essa verdade que define o que ela , subjugando-a. J no est presa sua
prpria identidade. E pergunta dos mdicos e juzes: Qual seu verdadeiro
sexo?, Barbin responde virtualmente com outra: Precisamos verdadeiramente de um verdadeiro sexo?. Resposta-pergunta que no somente uma
resistncia, mas tambm uma transgresso: ela desarticula a questo central
do dispositivo da sexualidade, aquela que pergunta pela verdade do sexo e
pela nossa verdade no sexo. Com isso, a autobiografia de Barbin torna-se
impossvel de ser capturada e objetivada, instaurando a cada passagem um
desafio, confrontando irremediavelmente os saberes-poderes dominantes.
Desarranjando e alterando o campo de foras, Barbin obriga os mdicos a se
calarem a seu respeito.
Para compreender o efeito de poder que o discurso de Rivire produziu
preciso reconstituir rapidamente o jogo bem diverso que sua autobiografia
encontrou na instituio penal. Como Foucault observa, nesse novo espao
o estatuto dos sujeitos falantes, os acontecimentos que os discursos constituam e os efeitos que produziam no eram iguais aos do saber popular em
que o parricida encaixava sua narrativa-crime. Em relao ao seu memorial,
fazia-se agora uma trplice questo de verdade. Primeira, verdade de fato:
tratava-se de determinar se o acusado era realmente o autor do crime. Segunda, verdade de opinio: o tribunal do jri, desde 1832, tinha o direito de
conceder circunstncias atenuantes tratava-se pois de formar uma opinio
sobre ele, de acordo com o que havia feito, com o que havia dito, a maneira
como vivera, a educao que recebera etc. Terceira, verdade de cincia: como
objeto de um exame mdico, tratava-se de saber se sua ao e seu discurso
correspondiam aos critrios de um quadro nosogrfico. De certa forma, Rivire, por meio de seu discurso, responde questo de fato, mas desloca as
outras duas.
Essas duas questes estavam ligadas s tecnologias disciplinares que,
ao adentrar nas penalidades, no procuravam mais castigar os indivduos,
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que se pedisse ao criminoso que fornecesse um relato completo e minucioso de toda sua vida7.
Mas o caso de Rivire possui algo de singular. Seu discurso no foi preparado aps o crime, nem aps a solicitao dos mdicos ou magistrados.
Seu relato precede ou entrelaa-se a seu ato. uma maquinaria assassinatonarrativa que se constitui no nvel de um saber popular, e os prprios contemporneos de Rivire aceitaram esse jogo, ao no considerarem a narrativa do crime como externa ou acima dele, o que devia permitir compreender
suas razes. Para eles, o fato de matar e o fato de escrever, os gestos consumados e as coisas contadas entrecruzavam-se como aes da mesma natureza. Percebendo isso, o magistrado pediu a Rivire que escrevesse, que terminasse de alguma forma o que havia comeado. O memorial no foi tomado
como uma confisso ou como uma justificativa ou defesa, mas como uma
pea do processo.
Porm, mesmo admitindo que gesto e discurso eram consubstanciais,
procurou-se insistentemente avaliar um em relao ao outro como prova de
loucura ou de lucidez. Ao discurso-ato de Rivire, um discurso profundamente engajado nas regras de um saber popular, aplicava-se um saber nascido alhures e gerido por outros, um saber que procurou recobri-lo e classific-lo como discurso de um louco ou de um delinqente.
Apesar desses esforos, o discurso de Rivire constantemente demonstrava, e seus contemporneos o compreenderam, que ele matou por ocupar
a dupla posio de sujeito e de autor prescrita pelos folhetins, e no porque
algo dentro dele o levou inelutavelmente queles atos. As razes de seu
crime no devem, portanto, ser procuradas em uma patologia interna, em
desejos ou instintos maus. Instinto justamente o conceito que permite
psiquiatria converter a transgresso da norma em caracterstica psicolgica
do sujeito. Portanto, um conceito central nos mecanismos disciplinares,
por meio do qual se subjetiva e patologiza a resistncia e a diferena, reforando e levando adiante o processo normalizador.
A autobiografia de Rivire recusa, com isso, as individualidades de delinqente e de louco impostas pelos dois saberes-poderes que se combatiam: o
jurdico e o mdico-psiquitrico. Mais do que isso, ela d visibilidade a essas
lutas e s relaes de poder subjetivadoras que tentavam consumar. O parricida, assim, desconcerta os saberes dominantes, fazendo-os calar. Sua vida
precipita-se para o silncio, deixando como rastro seu memorial, sua marca
nos saberes mdicos e jurdicos, e, por fim, coroando a glria que procurava,
um folheto com a narrativa j deformada do seu crime e de sua morte.
Tanto no caso de Barbin como no de Rivire, os efeitos de poder esperados de seus discursos (respectivamente, a ligao a uma identidade conhecida e determinada de uma vez por todas, e a individualizao de acordo com
as exigncias do poder) no se realizaram. Devido a singularidades que compuseram suas configuraes, elas no s promoveram resistncias, como
tambm desnudaram os mecanismos de poder e desconcertaram os saberes
dominantes, fazendo-os calar. Com isso, precipitaram-se para a obscuridade,
uma obscuridade no apenas de infmia e condenao, mas tambm de um
esquecimento estrategicamente produzido justamente num tempo em que
as descries individuais e os relatos biogrficos se estendiam a todos, objetivando, individualizando, sujeitando (cf. Foucault, 1999d, pp. 159-161).
Por que trazer luz essas vidas sem glria? Porque so vidas paralelas, que em
suas singularidades radicais no se encontram com nenhuma outra vida, e,
precisamente por isso, seus rastros tornam-se to reveladores.
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outro lado, como discurso verdadeiro, induz efeitos de poder que o reproduzem. As autobiografias devem ser submetidas anlise genealgica. Elas,
portanto, no podem ser pensadas como a revelao de uma verdade sobre
si que estaria fora do poder e que at ento havia sido silenciada por ele. De
fato, essa produo da verdade de si est inteiramente infiltrada pelo poder
e ele que a torna possvel (seja por meio de tais mecanismos de poder,
graas a eles ou contra eles). E, tambm, elas induzem efeitos de poder, seja
sobre quem sabe e fala (ligando-o a uma identidade, a uma subjetividade e/
ou a uma individualidade), seja sobre quem escuta e interpreta (resistindo,
desconcertando e expondo os saberes e poderes que lhes investem).
Segunda questo: Por que trazer luz essas vidas sem glria e esquecidas nos arquivos Herculine e Rivire? preciso deixar claro o que se
entende aqui por Herculine Barbin e por Pierre Rivire. No o recolhimento de toda sua existncia, no seu relato biogrfico completo.
Est-se longe dos procedimentos biogrficos, normalizadores e individualizantes promovidos pelas tcnicas disciplinares. Como o prprio Foucault
indica, o indivduo no um a priori sobre o qual o poder pesaria, mas,
ao contrrio, o efeito de uma determinada modalidade de poder. Nesse
sentido, Herculine Barbin e Pierre Rivire so essas configuraes histricas e singulares que se tentou reconstituir aqui. Configuraes formadas pelo cruzamento, pela cooperao, choque, anulao ou articulao
entre discursos, leis, instituies, enunciados cientficos, proposies morais, tcnicas de poder, tcnicas de si, saberes sujeitados etc. Enfim, esse
feixe de foras ou de relaes que se constituiu por meio de, graas a ou
contra todo um campo diversificado de batalhas, cujo frgil equilbrio se
cristalizou em seus discursos autobiogrficos.
Se isso esclarece, no entanto no responde completamente a questo.
Resta saber por que, ento, foram essas as vidas escolhidas, e no outras. A
resposta, evidentemente, no diz respeito repercusso dos casos: ambos
parecem no ter despertado muito interesse em suas pocas. Talvez Foucault os tivesse selecionado devido sua beleza ou ao espanto que causaram. Mas esse no era um motivo suficiente para se fazer um livro. A resposta tem que passar por outro lugar, possivelmente este: devido a
peculiaridades muito singulares que compuseram suas configuraes (Herculine era uma hermafrodita que se regozijava na no-identidade sexual;
Rivire era um parricida que promoveu a insurreio de um saber popular
com seu discurso-ato), em ambos os casos resistiu-se aos poderes que lhes
investiam e desconcertou-se os saberes com os quais procuravam recobri248
los. Desse modo, os efeitos de poder esperados de seus discursos (respectivamente, a ligao a uma identidade conhecida e determinada de uma vez
por todas, e a individualizao de acordo com as exigncias do poder) no
apenas no se realizaram, como se transformaram num contra-efeito desconcertante de desnudamento desses poderes-saberes, silenciando-os. Com
isso, podemos dizer que essas vidas foram iluminadas porque eram vidas
paralelas: em suas singularidades radicais no se encontram com nenhuma
outra vida, mas, justamente por isso, seus rastros tornam-se reveladores e o
silncio se faz ao seu redor, precipitando-as na obscuridade. De certa forma, so os rastros fulgurantes e instantneos dessas vidas que so redescobertos, reconstitudos, e no sua individualidade.
Resta ainda a terceira questo, com a qual fechamos este texto: para que
iluminar esses rastros? O que se pretende com essas vidas paralelas?
Certamente no para que sirvam de exemplos a serem seguidos. Foucault no acredita ser possvel encontrar a soluo de um problema na soluo de outro levantado em um momento diverso e por outras pessoas (cf.
Foucault, 1995b, p. 256). No procura, assim, oferecer uma alternativa,
um programa a ser seguido. Ele no pretende ocupar o lugar de porta-voz de
uma teoria da libertao ou da reivindicao de direitos recusa-se a representar ou a pensar no lugar dos sujeitados. Inversamente, quer devolver a
eles seu direito fala. Alm disso, pela forma como Foucault pensa as relaes de poder8, as resistncias s podem ser tomadas em sua multiplicidade
e como casos nicos, e no como um lugar da grande Recusa alma da
revolta, foco de todas as rebelies, lei pura do revolucionrio (Foucault,
1999b, p. 91). por isso que as vidas paralelas no podem ser imitadas
elas so radicalmente singulares, no h um ponto em que possam se cruzar
com outras vidas.
Portanto, diferentemente de Plutarco, Foucault no quer colocar em
evidncia aquilo que nelas permitiria reuni-las a outras existncias: seu ponto
de exemplaridade. Ao contrrio, precisamente o que possuem de mais
singular que realado. em sua diferena fundamental que elas ganham
seu valor, pois justamente essa diferena que lhes permitiu resistir, desnudar e desarticular os mecanismos de poder e saber que tentavam sujeit-las.
Explodindo antes de serem desfiguradas, suas falas rompem o silncio, produzem-se a partir da excluso o lugar mais fundo da sujeio, onde o
Outro construdo como no-Humanidade (cf. Bruni, 1989, p. 201). Desse
modo, ao redescobrirmos seus rastros e darmos ouvidos a esses discursos,
adotando suas perspectivas particulares, experimentamos uma nova forma
8. As relaes de poder
e as resistncias so pensadas a partir do mesmo paradigma de inteligibilidade do campo
social, ou seja, como os
jogos da multiplicidade de correlaes de
fora localizadas, perifricas e instveis. Correlaes de fora que
so imanentes aos domnios onde se exercem
e constitutivas de suas
organizaes. em funo desse paradigma
que Foucault afirma
que l onde h poder
h resistncia e, no entanto (ou melhor, por
isso mesmo) esta nunca se encontra em posio de exterioridade
em relao ao poder
(Foucault, 1999b, p.
91).
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de olhar, em que os limites do que somos ganham uma visibilidade insuportvel. E com isso podemos desconstruir sua evidncia, descobrindo em
seu lugar no uma natureza ou uma necessidade antropolgica, mas a multiplicidade dos acasos, das escolhas arbitrrias, e outras tantas contingncias advindas das relaes de interao entre os indivduos e os grupos
(Foucault, 2000, p. 187). Assim, tal como Bruni escreve a respeito de Foucault, podemos afirmar sobre essas vidas que sua transgresso nos leva ao
limite, ao ponto em que todas as formas institudas de sentir, de pensar e
agir so como viradas do avesso, deixando escapar suas garras ocultas, constitudas por uma contingncia irredutvel (Bruni, 1989, p. 204).
Porm, ainda assim, podemos no ter chegado resposta, j que os poderes e os saberes revelados so historicamente localizados no sculo XIX.
Pode-se dizer, por exemplo, que hoje no se fala mais em monomania (caso
de Rivire), nem em pseudo-hermafroditas (caso de Herculine). De certo
modo, saberes e poderes se transformaram.
Contudo, os episdios de Pierre Rivire e de Herculine Barbin ainda
levantam questes importantes para nossa atualidade. Assim, 150 anos depois, psiclogos, psiquiatras e psicanalistas ainda se calam diante do memorial
de Rivire (cf. Foucault, 1994, vol. III, pp. 97-98) e experimentam embarao diante do dirio de Herculine. Isso porque seus saberes-poderes continuam perguntando o que, nos desejos, nos instintos e nas paixes, leva
algum a cometer um crime, e permanecem procurando as relaes obscuras, complexas e essenciais entre sexo e verdade. Ainda no se aceita a idia
de que possam existir pessoas totalmente amorais que andam pelas ruas e
so absolutamente capazes de cometer homicdios ou de infligir mutilaes
sem provar qualquer sentimento de culpa ou escrpulo de conscincia (cf.
Idem, vol. III, p. 677). Ainda se acredita que no devemos nos enganar a
respeito de nosso sexo e que ele esconde o que h de mais verdadeiro em
ns (cf. Foucault, 1982, pp. 3-4).
Em nossos dias, psiquiatria, psicologia, psicanlise e outros psis continuam ligados a uma forma de poder que categoriza o indivduo, marca-o
com sua prpria individualidade, liga-o sua prpria identidade, impelhe uma lei de verdade, que devemos reconhecer e que os outros tm que
reconhecer nele (Foucault, 1995a, p. 235).
Pierre Rivire, ao engajar-se em um saber popular, resiste e desnuda saberes-poderes que procuravam individualiz-lo de acordo com suas exigncias.
Herculine Barbin, ao regozijar-se na no-identidade, expe e contrape-se a
um saber-poder que tentava lig-la a uma identidade conhecida e determi250
nada de uma vez por todas. O que se ilumina com a fulgurncia desses rastros instantneos so as batalhas que travaram no exato momento de sua separao e que logo foram esquecidas sob a condenao e o estigma, sob a
obscuridade e o silncio. Batalhas que prosseguem constituindo nossa subjetividade assujeitada. Por meio dessas autobiografias podemos tomar distanciamento de tal subjetividade, contornar sua evidncia familiar, analisar o
contexto terico e prtico ao qual est associada. Elas so luzes que nos permitem descobrir a ns mesmos para recusarmos isso que somos. So armas
nas batalhas que os sujeitos concretos travam cotidianamente contra as formas de sujeio.
Foucault estava engajado nas lutas contemporneas contra esse tipo de
poder que sujeita, contra formas de subjetivao e submisso, contra aquilo
que liga o indivduo a si mesmo e o submete, desse modo, aos outros (cf.
Idem, p. 235). Em sua luta, recorreu diferena e variao dessas vidas
paralelas.
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Abstract
Parallel lives: Foucault, Pierre Rivire and Herculine Barbin
Michel Foucault published two autobiographies: one of Pierre Rivire and the other of
Herculine Barbin. In this article, I take his introduction to the collected volume Vies
Parallles as a key to explaining how he conceived the two works and what he intended
by publishing them. Parallel lives are those whose differences condemn them and set
them apart. Nonetheless, in the precise moment in which this movement of separation operates, some of them leave behind traces: their autobiographies. These instanTexto recebido em 5/
10/2004 e aprovado
em 16/2/2005.
taneous and glowing traces illuminate conflicts that are soon forgotten under the shadows of stigma, but that nonetheless construct our subjected subjectivity.
Keywords:
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