Desenvolvimento de Armadilhas

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Desenvolvimento de Dispositivo Repelente


Automtico de Pssaros para Linhas de
Transmisso
C. F. S. e Souza, CTEEP, M. T. Nakahata, R. J. Riella, J. A. Pereira, LACTEC

Resumo: Este trabalho tem como objetivo descrever o desenvolvimento de um prottipo de um sistema de proteo contra excrementos de pssaros para linhas de transmisso, visando solucionar o problema de desligamentos em linhas de transmisso
causados por excrementos de pssaros que pousam nas torres
de transmisso. O desenvolvimento deste projeto consistiu em
especificar, desenvolver e colocar em operao na Companhia
de Transmisso de Energia Eltrica Paulista CTEEP um sistema composto por duas solues distintas para diferentes configuraes de estruturas de transmisso. Para as torres que
apresentam cadeias de isoladores em suspenso, foi adaptado
um equipamento que impede o pouso de aves diretamente sobre
a cadeia, impedindo que seus dejetos venham a causar uma rea
de baixa impedncia entre as fases superiores e a estrutura da
torre, sem impedir o seu pouso em outros pontos da torre onde
sua presena no apresenta potencial para gerar desligamentos.
J para as torres que apresentam cadeias de isoladores em ancoragem, onde o dispositivo anterior no surte efeito, foi desenvolvido um equipamento eletrnico que detecta a presena e
afugenta as aves atravs de sinais luminosos e sonoros.

Figura 1 rea de ocorrncia

Aps inspees nas estruturas das torres das LTs atingidas, verificou-se que estes desligamentos so ocasionados
por excrementos de pssaros, principalmente pelo Theristicus caudatus, conhecido popularmente pelo nome curicaca.

Palavras-chave repelente de pssaros, curicaca, birdstreamer, desligamentos.

I. INTRODUO
Desde o final dos anos 90 tm-se observado um crescente
nmero de desligamentos fase-terra nas linhas de transmisso (LTs) de 138kV da CTEEP, na regio nordeste do estado de So Paulo, com causas inicialmente desconhecidas. Na
figura 1 esto representados os locais onde ocorreram desligamentos na rea de atuao da CTEEP, entre os anos de
2002 a 2004.

Figura 2 bird-streamer

M. T. Nakahata trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento - Lactec (e-mail: [email protected]).


R. J. Riella trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento
- Lactec (e-mail: [email protected]).
J. A. Pereira trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento - Lactec (e-mail: [email protected]).
C. F. S e Souza trabalha na Companhia de Transmisso de Energia Eltrica Paulista - CTEEP (e-mail:[email protected]).

Neste processo, conhecido internacionalmente por birdstreamer, os dejetos de pssaros de grande porte, quando
eliminados nas regies entre os cabos condutores e a estrutura da torre, geram reas de baixa resistncia eltrica, provocando curtos-circuitos entre a linha e a estrutura da torre,
com conseqentes desligamentos fase-terra. Na figura 2 temse um exemplo da ocorrncia do bird-streamer. Desta maneira, este comportamento da curicaca faz com que as regi-

es das pontas- das msulas das torres tornem-se pontos crticos, onde a presena destas aves deve ser evitada para que
no haja probabilidade de ocorrncia de curtos-circuitos
causados pelos dejetos destes pssaros. Foram ento desenvolvidos estudos sobre as caractersticas anatmicas, comportamentais e sensoriais das aves em geral e, mais especificamente da curicaca, com foco na busca de novas solues
tecnolgicas agregadas preservao da fauna existente,
visando solucionar este problema que compromete a confiabilidade operativa do sistema eltrico. Os resultados destes
estudos foram utilizados no desenvolvimento de um sistema
de proteo contra desligamentos em linhas de transmisso
provocados por essas aves. Este sistema baseado em diferentes configuraes, dependendo do tipo de cadeia de isoladores presente na torre. Para as torres que possuem cadeias
de isoladores em suspenso foram desenvolvidos pela
CTEEP, dispositivos para a proteo da cadeia e para o impedimento do pouso das curicacas no ponto crtico, imediatamente acima do cabo condutor fase superior. J para as
torres que possuem cadeias de isoladores em ancoragem, foi
desenvolvido atravs do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnolgico da Aneel, um sistema eletrnico microcontrolado que detecta a presena destas aves e aciona
automaticamente um dispositivo repelente visando afast-la
da torre. Este dispositivo repelente atua de duas formas: inicialmente dispara-se uma lanterna composta por leds de altobrilho, que emite luz de forma pulsada. Se o feixe de luz no
for suficiente para espant-las, dispara-se um sinal sonoro
intermitente com potncia suficiente para afastar as aves,
mas que tambm est em um nvel sonoro incapaz de incomodar os moradores das proximidades. Desta forma, este
artigo descreve o desenvolvimento do sistema repelente de
pssaros para linhas de transmisso, assim como os resultados obtidos com a implantao deste nas linhas de transmisso de 138 kV da CTEEP.
Alm do dispositivo eletrnico, foi montada uma estrutura
para ser instalada nas msulas, de forma a impedir o pouso
das aves logo acima da cadeia de isoladores.

II. DESENVOLVIMENTO
A. Caractersticas das Curicacas
Atravs de inspees realizadas pela equipe de manuteno da CTEEP, verificou-se que muitos dos desligamentos
nas linhas de transmisso so ocasionados por excrementos
de pssaros, principalmente pelo Theristicus caudatus, conhecido popularmente pelo nome curicaca. Em vista disso, o
projeto teve como primeira etapa um estudo dessa ave, com
o intuito de conhecer as suas caractersticas sensoriais e
comportamentais. Esta pesquisa foi necessria, pois apesar
de ser uma premissa o fato que seria utilizado um dispositivo
eletrnico sonoro, no estava descartado a utilizao de
qualquer outro tipo de estimulo capaz de repelir as aves,
desde que se mostrasse eficaz.

Figura 3 Curicaca (Theristicus caudatus)

O nome curucaca utilizado no Paran e em Santa Catarina, embora em algumas regies deste ltimo a chamem de
carucaca. Mais ao norte, em Gois, Mato Grosso e Nordeste,
a denominao curicaca. O nome onomatopico, embora
no dicionrio esteja dito que provm do tupi Kuri Kaka.
Seu nome cientfico Theristicus caudatus e pertence ordem dos Ciconiformes, famlia Threskiornithidae. As caractersticas principais desta famlia so as pernas e pescoo
longos, o bico comprido, o habitar em lugares encharcados,
beiras de rios e lagos, e alimentar-se de peixes e outros animais aquticos.
Mas a Curucaca , em muitos aspectos, exceo ordem.
No habita lugares encharcados, procura os campos secos,
no desce nos banhados, o que fez com que suas pernas ficassem mais curtas e que se alimentasse de insetos e outros
animais do seco. O bico sim, comprido chegando a medir
15 cm. Outras aves dessa ordem so o Jaburu, a Gara, o
Guar, o Soc e a Cegonha.
Possui tamanho avantajado, com cerca de 70 cm de envergadura, sendo sua colorao geral cinza-escuro para o
dorso e abdmen. A cor que predomina o cinza claro, no
dorso, no ventre e nas penas das asas junto ao corpo.
A cabea ferrugem esmaecendo em direo ao pescoo,
tomando um tom amarelado no peito. Apresenta duas manchas implumes separadas na garganta, remiges e cauda negra, coberteiras superiores brancas, bico curvo e preto, ps
avermelhados. No possui dimorfismo sexual externo aparente, porm nota-se uma maior acentuao da mancha peitoral nos machos.
A Curucaca ocorre da Colmbia Terra do Fogo, Andes e
em todo o Brasil em regies de clima subtropical mido e
com formaes vegetais herbceas, suportam inverno, poca
em que so encontrados os maiores bandos.
A combinao entre mato e campo que tornou o habitat
ideal para a ave, que passa os dias nas campinas catando
insetos e noite procura rvores altas para dormirem.
A Curucaca prefere o ambiente campestre primitivo, no
gostando muito de descer nas lavouras estabelecidas em reas de campo, tendo havido uma diminuio de exemplares
nas regies onde a agricultura expulsou a pecuria. Atualmente a Curucaca mais comum em algumas regies dos
Campos Gerais e nos Campos de Palmas. Trata-se de uma

ave com grande capacidade de adaptao. Para ilustrar esta


adaptao citamos a diferena entre dois grupos de Curucacas, o que vive nos Campos de Palmas, que pela regio apresentar rvores altas, costuma nidificar em cima dessas rvores e o que vive nos Campos Gerais onde a rocha tpica, o
arenito Furnas, pela sua forma de eroso deu origem a muitos tabuleiros em forma de pequenas cavernas, fato que levou as curucacas a outra exceo na ordem dos ciconiformes, nidificarem em paredes inacessveis.
A Curucaca insetvora, apanha gafanhotos, aranhas, centopias, lagartixas, cobras e ratos. Podem incluir em sua
dieta pequenos camundongos, rs, rpteis, lacertlios e ofdios. O alimento encontrado e capturado no solo, entre a
vegetao. Alimenta-se tambm de trmitas, abundantes em
campos, cuja captura facilitada pela conformao do bico,
podendo penetrar nos orifcios do cupinzeiro.
Vocalizam regularmente, possuindo sons diferentes para
cada situao, tendo sido notadas emisses em vo alto,
quando esto reunidas em bandos, sons de vigilncia, quando se alimentam nos campos onde sempre uma ave fica de
vigia, sons produzidos entre indivduos de um mesmo bando
como se fossem uma conversa, sons emitidos por surpresa
ou espanto, sons emitidos por ocasio do acasalamento e
nidificao. Em todos os casos citados, h variao na notas
e na entonao do som emitido.O timbre semelhante ao de
uma galinha-dangola.
Essas aves so encontradas normalmente aos bandos ou
aos pares. Um nmero mximo de 50 indivduos foi observado fora do perodo de reproduo. Ao aproximar-se do
perodo reprodutivo, as aves se separam em casais e normalmente assim so encontradas.
Com algumas excees, observam-se bandos de seis a oito
indivduos, diminuindo com a intensificao do perodo de
incubao e cuidado com os filhotes.
As Curucacas nidificam em trs locais distintos, bastante
protegidos, dificultando o acesso de predadores. Foram encontrados ninhos dentro e capes, em rvores altas (prximo
a copa), em fendas abaixo do nvel do solo em formaes
rochosas que afloram nos campos e em salincias e ocos de
rochas altas isoladas.
Foi notada uma variao muito grande em relao poca
de postura, alguns casais iniciaram-na no ms de julho, abandonando, porm os ovos e fazendo nova postura em outubro. A postura de uma maneira geral inicia-se no ms de
setembro prolongando-se at dezembro. No perodo de outubro a novembro, possvel encontrar filhotes com idades
diferentes, o que sugere a varincia na poca de postura. A
cada ano, a ave pode aproveitar o mesmo local para postura,
algumas vezes s retoca o antigo, outras empurram para fora
os gravetos velhos e constroem novo ninho. s vezes no
mesmo ano o ninho utilizado em duas oportunidades.
Os ninhos so volumosos, de forma arredondada, irregular, feitos de gravetos de diferentes tamanhos, entrelaados
ate formarem uma base firme, e revestidos por folhas gramneas.
As variaes entre indivduos seguem uma ordem cronolgica com alterao na plumagem, tamanho e comportamento. Filhotes com trs dias de idade apresentam corpo

arredondado, revestido de plumagem branca, deixando aparecer epiderme rosada, bico e ps negros. Permanecem
imveis no ninho, a cabea cada ao lado quando esto dormindo, ou em posio normal.
J com quinze dias de vida, evidencia-se um aumento no
tamanho, apresentam revestimento escapular e coberteiras de
cor cinza, encimadas por penugem, o restante do corpo revestido de plumagem branca. Com vinte e um dias de vida a
colorao muda para marrom acinzentada. Iniciam o aparecimento de penas definitivas no pescoo e cabea. O bico
torna-se preto com a ponta azulada. Com cinqenta dias de
vida os filhotes j apresentam plumagem completa, porm
desbotada em comparao com a dos adultos. Porte e tamanho quase normal. Movem-se em p pelo ninho, saltando e
levantando as asas. Em dez dias os filhotes devem deixar o
ninho.
B. Caractersticas fisiolgicas
No foi encontrado um estudo aprofundado sobre a fisiologia das curicacas, sendo que os trabalhos pesquisados apresentavam uma descrio superficial dessas caractersticas. Em vista disso, foram utilizados estudos fisiolgicos das
aves de uma forma geral, bem como de trabalhos que utilizam estas caractersticas para afugentar as aves.
Durante a fase inicial do projeto existia uma grande expectativa quanto eficcia da utilizao de ultra-sons para
repelir as aves, pois este seria um mtodo imperceptvel ao
ser humano, evitando transtornos e possveis reclamaes.
No entanto alguns trabalhos sobre a utilizao de ultrasons para afugentar as aves no foram bem sucedidos. Woronecki, P.P, realizou um estudo com equipamentos mistos
(sonoros e visuais) para afugentar pombos. O estudo conduzido com esta espcie confere resultados significativos devido urbanizao e capacidade de adaptao dos mesmos,
certamente resultados positivos podem ser extrapolados para
outras espcies de aves, principalmente quando estas no so
urbanas. Neste estudo foram utilizados o aparelho de ultrasom UET-360, o aparelho de som Deva-megastress II e a
imagem Deva-Spinning eyes.
O aparelho de ultra-som emitia 79 pulsos por minuto com
alcance de trs metros. Foi avaliada sua eficcia em afugentar pombos de uma casa abandonada. Durante o incio da sua
utilizao foi verificada a presena de 64 aves na casa. Em
resumo, o aparelho quando ligado nos primeiros dias causava o afastamento de no mximo 15 pombos do ambiente
estudado, os quais logo retornavam. No ltimo dia de avaliao existiam 75 pombos e com presena de ninhos indicando que o aparelho no tinha qualquer efeito sobre eles.
O estudo da sua capacidade visual tambm foi importante
no projeto e desenvolvimento de medidas que possam impedir o pouso e permanncia de aves em locais imprprios.
Pouco se sabe sobre a viso das aves, mas sabe-se que possuem sensibilidade as cores, semelhante a nossa. Alm disso,
so capazes de perceber a luz ultravioleta e luz polarizada,
faculdade que as aproxima dos insetos.
As aves em geral possuem quatro tipos distintos de cones
que so clulas fotoreceptoras usados para percepo de

cores. Fotos, imagens computadorizadas e imagens videogrficas tm sido um estmulo popular na experimentao da
capacidade cognitiva dos pssaros. Muitos autores os consideram estmulos complexos para as aves, mas alguns os tratam como estmulos naturais.
Diante do que se tem estudado acerca dos mtodos para e
evitar pssaros em uma determinada regio, a tcnica de
modificao do habitat isolada, geralmente no previne os
pssaros de utilizarem o local. A combinao da modificao do Habitat com tcnicas de afugentamento aumentam as
chances de sucesso consideravelmente.
Os mtodos envolvendo sons tm se revelado til e com
bons resultados no afugentamento de aves, no entanto muitas
aves tm demonstrado capacidade de se habituar ao aparelho
e o som gerado em um perodo mdio de sete dias. Para reduzir a capacidade de habituao, os sons devem ter a maior
variedade possvel ambos em local e contedo do sinal. O
uso de tcnicas associadas conforme o j mencionado geralmente funciona melhor do que qualquer outro sistema
isolado, como por exemplo, a combinao de imagem e som,
ou luz e som, mas uma ateno muito grande deve ser dada a
mudana do tipo de som, volume e localizao de ambos os
dispositivos para prevenir a habituao da ave.
Outra tcnica para evitar o pouso das aves consiste na utilizao de estruturas que empeam a fixao de seus ps,
dificultando o equilbrio da ave. Dispositivos circulares de
grande dimetro e superfcie lisa um exemplo deste tipo de
estrutura. Na figura 4 so mostrados alguns exemplos de ps
de aves.

por pombos domsticos como local de pernoite.


Inicialmente, foram feitos testes de reao dos pombos
luz ultravioleta em seu local de pernoite, verificando se estes
se incomodavam quando da projeo deste tipo de luz. Os
testes de reao das aves luz ultravioleta (UV) foram efetuados utilizando-se um dispositivo emissor de luz UV,
composto por um conjunto de diodos emissores de luz
(LEDs) com comprimento de onda de emisso na faixa de
430nm. Uma vez que este comprimento de onda encontra-se
no limiar entre a faixa visvel e a radiao ultravioleta tipo
A, esta no possui restries de exposio pele dentro da
faixa de potncia utilizada, de 2mW por LED. Entretanto,
esta radiao requere restries quanto a sua visualizao.
Isto ocorre devido ao fato de que este comprimento de onda
no excita a retina humana, fazendo com que no haja contrao da ris e, conseqentemente, haja uma injeo direta
da radiao na retina. Contudo, este mesmo fato no se aplica s aves, uma vez que estas possuem em suas retinas bastonetes sensveis a radiao ultravioleta tipo A no comprimento de onda utilizado. Para este teste foi construdo um
dispositivo que possibilita tanto o funcionamento contnuo
dos leds, mantendo-os todos ligados, quanto o funcionamento intermitente, piscando-os todos em uma freqncia varivel, que pode ser selecionada girando um potencimetro,
disposto na parte superior de sua caixa.
Os testes realizados com luz UV mostraram que os pombos sentiam-se incomodados quando expostos a este tipo de
radiao durante o perodo de preparao para o sono. Entretanto, este incmodo no garantiu que os pombos fossem
efetivamente repelidos do local de pouso, principalmente
quando j h nidificao no local. Desta maneira, os testes
com radiao UV sobre os pombos mostraram que esta tecnologia pode fazer parte de uma alternativa para repel-los
sem, entretanto, ser caracterizado como principal princpio
ativo do dispositivo.
Assim, os resultados destes testes motivaram a utilizao
de dispositivos de emisso de sinais de udio e, posteriormente, uma combinao de luz UV e sinais de udio, tentando melhorar a eficcia do sistema. Desta forma, foram realizados novos testes com o sistema de leds ultravioleta e som,
verificando-se que as aves so muito mais sensveis aos sinais de udio do que luz.
D. Testes em campo

Figura 4 Detalhe do p da Curicaca

C. Experimentos iniciais
Inicialmente, visando avaliar a susceptibilidade das aves
luz como possvel mtodo para repel-las, foi adotada a metodologia utilizada por Woronecki, P. P. Esta metodologia
sugere que os testes sejam realizados no local onde as aves
costumam dormir, longe de movimentao. Seguindo o critrio disposto nesta metodologia, o local escolhido para os
testes com as aves foi um barraco abandonado, utilizado

Uma vez obtidos os resultados dos testes utilizando pombos domsticos, definiu-se a estrutura do prottipo para utilizao em testes de campo, diretamente nas estruturas de
transmisso. Este prottipo deveria possuir as mesmas funcionalidades do equipamento utilizado nos testes com pombos domsticos, sendo construdo para atestar a eficcia do
uso de sinais luminosos e sonoros para afugentar as aves das
torres de transmisso. Assim, o prottipo do equipamento
para testes composto por um transmissor e quatro receptores de rdio, um para cada torre de transmisso. Cada receptor de rdio capaz de disparar dois conjuntos de dispositivos luminosos, formados por leds ultravioleta e um disposi-

tivo sonoro. Os equipamentos que formam este sistema podem ser vistos na figura 5.

Figura 6 Instalao de um dos receptores para testes em campo.

Figura 5 Dispositivos do prottipo para testes em campo.

Uma vez que este equipamento foi desenvolvido para testes in loco, era necessrio criar-se uma forma de acionamento que garantisse equipe de pesquisa manter-se a uma distncia que no chamasse a ateno das aves e cobrisse uma
rea correspondente a algumas torres, evitando assim que as
aves se concentrassem em uma torre que no possusse equipamentos, o que inviabilizaria os testes. Desta forma, projetou-se um circuito transmissor baseado em rdio digital com
alcance mnimo de quatro quilmetros.
O transmissor desenvolvido para os testes, visto na figura
5, capaz de acionar at quatro receptores individualmente,
selecionando o tipo de disparo, entre luminoso e sonoro,
com alcance de at 15 km e confirmao de disparo via. Este
equipamento foi construdo baseado em um rdio digital
microcontrolado onde cada receptor programado com uma
palavra-chave de disparo e retorno. Desta forma, quando
solicita-se o disparo de um receptor especfico, o transmissor
envia uma palavra de comando contendo a palavra-chave do
receptor e os dispositivos a serem acionados. Quando o receptor aceita o disparo, retorna ao transmissor um sinal de
confirmao de disparo, fazendo com que o transmissor acenda um led verde como retorno ao usurio. Quando o receptor no consegue reconhecer o disparo, o sinal de confirmao no enviado, fazendo com que o transmissor acenda um led vermelho.
Os receptores so alimentados atravs de uma bateria e
capazes de disparar dois dispositivos luminosos e um sonoro
de forma independente, ao comando do transmissor.
Para realizar os testes em campo foram instalados na linha
de transmisso de 138kV da CTEEP Euclides da Cunha Caconde, nas torres de transmisso de nmero 50 a 53. Em
cada torre foram instalados um dispositivo luminoso ultravioleta e dispositivo sonoro, controlados por uma central microprocessada que acionada remotamente atravs de uma
comunicao via rdio com o transmissor. A figura 6 mostra
a instalao dos dispositivos na msula superior da torre de
transmisso nmero 50.

No primeiro dia de testes, os equipamentos foram instalados nas quatro torres, e por volta das 17h15min as aves pousaram na torre 51. Aps o pouso foi acionado o conjunto de
leds ultravioleta, mas o mesmo no foi capaz de afugentar as
aves. Seqencialmente, foi acionado o dispositivo sonoro
que espantou as aves, que rumaram para a torre 52. O mesmo procedimento foi realizado, e outra vez apenas a sirene
afugentou as aves, sendo que estas voaram para a torre 53.
Com o acionamento da sirene nesta torre as aves voaram em
direo a mata e no mais retornaram.
No segundo dia as aves retornaram um pouco mais tarde,
por volta das 17h45min, e pousaram na torre 51, sendo que
sem motivo aparente levantaram vo aps alguns segundos,
rumando em direo torre 53. Aps as aves posarem na
torre, foi acionado o conjunto de leds ultravioleta, o que
afugentou as aves que rumaram para a mata e no voltaram.
No terceiro dia as aves apareceram por volta da
17h55min, sobrevoaram o local, mas no pousaram em nenhuma das torres e depois de algum tempo rumaram em direo mata.
Assim, com os resultados obtidos nos testes em campo,
concluiu-se que os sons, dentro do espectro audvel, capaz
de repelir as curicacas de forma eficiente. Porm a luz ultravioleta s apresentou resultados satisfatrios quando a luminosidade ambiente mostrava-se mais baixa.
Outros testes foram realizados na linha de transmisso de
138kV RPR/EUC, nas estruturas 122, 123 e 124. Nesta linha
de transmisso, cujas estruturas em estudo localizam-se prximas a rea urbana do municpio de Mococa, notou-se que
as curicacas somente deixavam a torre quando do acionamento do dispositivo sonoro na hora do pouso sendo que,
quando o dispositivo foi acionado aps o pouso, estas caminhavam sobre a estrutura tentando se afastar do dispositivo
sonoro sem, entretanto, levantar vo.
Desta forma concluiu-se que o equipamento repelente de
aves deveria conter no somente um dispositivo sonoro, mas
dois, apontados um para cada msula da torre de transmisso. Escolheu-se trocar os dispositivos emissores de luz ultravioleta por luz visvel multicor, uma vez que estes apresentam um custo menor para fabricao e sero utilizados

em complemento aos dispositivos sonoros, que apresentaram


melhores resultados nos testes de campo.
E. Sistema Repelente de aves
Os resultados obtidos com o prottipo de testes nortearam
o desenvolvimento do equipamento eletrnico repelente de
pssaros. Desta maneira, este foi desenvolvido utilizando-se
trs mdulos distintos: um sistema de deteco da presena
de aves, sistema de disparo de alarme visual e sonoro e um
sistema de gerao e armazenamento de energia eltrica baseado em painis solares, que ter por funo fornecer a
alimentao a todo o equipamento. Estes mdulos esto integrados na mesma caixa metlica, de forma a proteger todo
o circuito interno do equipamento. A figura 7 mostra o prottipo do equipamento. Apenas os dispositivos de luz esto
localizados externamente ao equipamento, sendo instalados
nas pontas das msulas da torre e conectados via cabos.

Figura 7 Equipamento eletrnico repelente de pssaros.

Conforme a figura 7, o equipamento repelente de aves


constitudo por dois sensores de presena, emissores de luz e
uma sirene sonora, sendo estes dispositivos controlados atravs de um sistema digital microcontrolado.
O sensor de presena utilizado no processo de deteco
da aproximao de aves no ponto crtico ao qual o sistema
est instalado. Este sensor apresenta uma distncia mnima
de deteco de trs metros, o que possibilita o disparo dos
emissores de luz e da sirene sonora quando da presena de
aves de grande porte em qualquer ponto da cadeia de isoladores, conforme visto na rea de abrangncia do sensor de
presena, nas vistas frontal e superior da figura 8.
O conjunto emissor de luz ultravioleta composto por um
conjunto de leds com comprimento de onda de emisso na
faixa visvel, nas cores vermelha e branca. Este conjunto de
leds est disposto de forma a gerar um facho de luz na rea
de abrangncia do sistema repelente de aves, com o objetivo
de gerar uma sensao de incmodo s aves presentes nestes
pontos, auxiliando assim a repeli-las. Quando do disparo do
sistema, o conjunto emissor de luz pisca de forma aleatria
entre os disparos, evitando assim que as aves se acostumem
com o sistema.
A sirene sonora, inclusa no sistema repelente de aves, age
simultaneamente com o conjunto emissor de luz, sendo este

dispositivo utilizado como principal princpio ativo do sistema. Assim como o conjunto emissor de luz, a sirene sonora tambm dispara sinais sonoros variados, aleatoriamente
entre disparos, com o mesmo objetivo de evitar que as aves
se acostumem com o sistema, vindo a ignor-lo.
J o sistema digital microcontrolado o gerenciador de
todos os dispositivos, verificando o sinal do sensor de presena e efetuando tanto os disparos quando da deteco da
presena de aves quanto a gerao dos sinais para conjunto
emissor de luz e para a sirene sonora. Neste dispositivo esto
armazenados os vrios tipos de sinais capazes de serem disparados pelos conjuntos visual e sonoro, sendo estes sinais
escolhidos por processo aleatrio, quando do disparo do
sensor de presena.
Para gerar energia para os vrios sistemas repelentes de
aves dispostos na torre, foi desenvolvido um equipamento
gerador e acumulador de energia eltrica baseado em painis
solares. Este sistema ser composto por trs mdulos: um
painel solar, uma bateria e um circuito regulador de tenso e
gerenciador de carga da bateria.
O painel solar utilizado como componente gerador de
energia, sendo capaz de gerar potncia suficiente para carregar a bateria, que alimentar todo o equipamento repelente
de aves, em um dia, dependendo das condies de luminosidade.
A bateria do sistema utilizada para efetivamente alimentar todos os sistemas repelentes de aves instalados em uma
torre. Esta bateria capaz de, quando em plena carga, manter o bom funcionamento de todos os sistemas por pelo menos uma semana sem recarga.
O circuito regulador de tenso e gerenciador de carga de
bateria tem por finalidade realizar a interface entre o painel
solar e a bateria, aplicando bateria o ciclo de carga condizente com sua especificao, quando da presena de potncia no sistema gerador. Quando da ausncia desta potncia o
circuito regulador deve impedir que o gerador torne-se carga
bateria, aumentando assim o seu tempo de carga. Nos testes efetuados com o sistema de carga da bateria, um perodo
de insolao de 4 horas capaz de carregar plenamente a
bateria do equipamento. A figura 8 mostra um croqui do
equipamento instalado em uma torre de transmisso.

Leds

VISTA LATERAL

VISTA FRONTAL
rea de
atuao do
sensor

VISTA SUPERIOR

Figura 8 Croqui do equipamento repelente de pssaros instalado em uma


torre

O equipamento eletrnico repelente de pssaros para torres de transmisso foi desenvolvido visando espantar os pssaros apenas das torres que possuem cadeias de isoladores
em ancoragem, sendo que no interessante espantar as curicacas de todas as torres de transmisso, mas apenas diriglas a pontos na torre onde no possam causar desligamentos.
Assim, para o caso das torres que possuem cadeia de isoladores em sustentao, adotou-se uma soluo utilizando
dispositivos que impeam o pouso das curicacas imediatamente acima da cadeia, deixando livre toda rea restante na
torre.
Este dispositivo, que foi adaptado de um sinalizador de linha, conforme a figura 9, composto por uma semi-esfera,
que posicionada na ponta da msula superior da torre, conforme visto na figura 10.

Figura 9 Semi-esfera utilizada para impedir o pouso de curicacas sobre a


cadeia de isoladores

Figura 10 Dispositivos anti pouso instalados em uma torre de transmisso.

III. CONCLUSES
De uma forma geral o projeto foi muito bem sucedido,
pois o objetivo inicial de desenvolver um prottipo capaz de
repelir as aves para proteger as cadeias de isoladores, tanto
em ancoragem como em sustentao, foi alcanado. Na torre
onde foi instalado o dispositivo desenvolvido as curicacas
foram repelidas e aps algumas tentativas de pouso no retornaram mais ao local. Apesar de no ter sido utilizado ultra-sons, conforme inicialmente planejado, a utilizao de
sons audveis mostrou-se vivel, no gerando transtornos aos
moradores e a fauna da regio. Isso se deve ao fato da grande altura das torres de transmisso, o que diminui sensivelmente a intensidade sonora ao nvel do solo. Alm disso, as
curicacas demonstraram ser muito ariscas, com uma capacidade de aprendizado muito desenvolvida, e uma vez afugentada pelo dispositivo, tendem a no retornar ao mesmo local.
Como o dispositivo s acionado quando detectada a presena das curicacas, este tende a no gerar sons depois de
algum tempo da instalao, ficando em estado de espera. Os
resultados com relao aos benefcios proporcionados a longo prazo ainda esto sendo avaliados, devido sua recente
implantao nas torres de transmisso. Um item a ser observado a robustez do dispositivo, devido s condies adversas do local de instalao.
A outra soluo apresentada, utilizando os protetores circulares, mostrou-se muito eficiente e de baixo custo, principalmente pela sua fcil instalao e pela utilizao componentes padres, o que facilita a sua aquisio pelas companhias de transmisso. Nas torres onde estes dispositivos foram instalados as curicacas no pousaram sobre a msula, e
no foram mais registradas interrupes no local. No entanto est ultima soluo capaz de proteger apenas a cadeia de

isoladores em sustentao, sendo que para as cadeias em


ancoragem deve-se utilizar o dispositivo eletrnico desenvolvido que possui um custo mais elevado, porm apresenta
uma grande rea de atuao.

IV. AGRADECIMENTOS
Os desenvolvedores agradecem ao professor Ambires Ceclio Machado Riella (in memorian) pelo auxlio no estudo
da ave curicaca, imprescindvel no desenvolvimento deste
projeto e ao Eng Eduardo Sachelli Teixeira, da CTEEP pela
iniciativa e pelas contribuies durante a especificao e
execuo deste projeto.

V. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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caudatus, Dusenia, 13(4): 145-149, 1982.
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