REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE EDUCADOR SOCIAL Antonio Pereira/Uneb
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE EDUCADOR SOCIAL Antonio Pereira/Uneb
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE EDUCADOR SOCIAL Antonio Pereira/Uneb
RESUMO:
um texto que analisa a profisso de educador social a partir do processo de
regulamentao profissional e seus impactos sobre a formao, o currculo e a sua
profissionalidade. Conceitua e contextualiza a educao e educador social. Descreve,
criticamente, as tenses e intenes em torno do Projeto de Lei(PL) n 5346/2009, que
transmita no Congresso Nacional visando a regulamentao da profisso de educador
social. Esse projeto tem sido alvo de muito debate e crtica entre os profissionais da
educao social a ponto de muitos desejarem a sua retirada do Congresso porque no
defende os seus interesses, por exemplo, permitir que qualquer outro profissional
obtenha registro, sem necessariamente a comprovao tcita e formal de que so
educadores sociais, fragilizando dessa forma a construo de sua identidade profissional.
O PL acusado ainda de silenciar a questo formativa que deveria ser a superior,
graduao em pedagogia, apenas determina a formao nvel mdio, o que a categoria
acredita ser um equivoco, j que para atuar necessita de conhecimentos do campo da
pedagogia, psicologia, sociologia.
PALAVRAS-CHAVE: Educao.
Profissionalidade. Formao.
Educador
social.
Regulamentao
profissional.
INTRODUO
A educao social um campo de conhecimento terico-prtico, multirreferencial,
situado em contextos sociais concretos e agregador de prticas educativas, algumas
estruturadas, outras em fase de estruturao, como a educao de rua, educao
prisional, educao de pessoas trabalhadoras do sexo, educao comunitria, dentre
outras. A cincia dessa educao chamada de Pedagogia Social, que busca
sistematizar essas prticas educativas, teorizando-as, explicitando as suas contradies,
1 Doutor em Educao pela Faculdade de Educao/Universidade Federal da Bahia, professor da
Universidade do Estado da Bahia/Departamento de Educao I, membro do Comit de tica e Pesquisa
em Seres Humanos (CEP-UNEB), lder do Grupo de Pesquisa em Educao Social, Currculo e
Formao de Educador (GESCFORME) e pesquisador do Grupo de Pedagogia Social/USP.
e sua
Ratificando, a educao social se define como uma prtica educativa que busca a
integrao dos diversos indivduos e grupos marginalizados, lutando para que estes
sejam considerados como sujeitos de direitos; portanto, uma educao que est,
concomitantemente, dentro e fora dos muros da escola, que pertence tanto ao campo das
prticas pedaggicas formais, como no formais, sem deixar de sensibilizar-se pelas
informais. Concebemos que essa educao o campo onde as prticas se fazem
presentes e a pedagogia social, como cincia dessas prticas, busca estud-las, ao
mesmo tempo, fornece-lhes possibilidades didticas para a sua concretizao.
Para Caliman (2011, p. 245 grifo nosso), a pedagogia social uma cincia
normativa, descritiva, que orienta a prtica sociopedaggica voltada para indivduo ou
grupo que precisam de apoio e ajuda em suas necessidades [...]. E a educao social,
segundo Loureiro e Casteleiro (2009, p.88), [...] constitui a ao, um espao de
interveno pblica [...], que, segundo Silva (2011, p. 188), isso se refere tanto [...]
educabilidade social do indivduo, como [...] educabilidade da famlia, da comunidade,
da sociedade, dos governos, do Estado e de suas instituies.. Para rico Machado,
(2012, p. 4), a educao social so prticas transformadoras que [...] no seguem a
guarda resqucio histrico com algum modelo de pedagogia social, seja com aquelas
nascida na Alemanha, pelas mos de Karl Magwer, Diesterweg e Nartop com forte
influncia de Pestalozzi e Froebel, seja aquelas mais crticas influenciadas pelo marxismo.
Caliman (2010, 2011) identifica algumas concepes de pedagogia social desde o seu
nascedouro at os tempos atuais, so elas: a) como teoria da educao geral, j que toda
educao social, b) como educao poltica e nacionalista de formao da juventude
para adaptar-se aos determinantes sociais, c) como ao que viabiliza a participao
coletiva na sociedade a partir da socializao de todos, para todos, d) como educao
para a preveno social.
No Brasil, a concepo assumida norteia-se pela prxis como possibilidade de
mudana radical da vida de pessoas excludas, ainda nos movimentos sociais em prol da
infncia e adolescncia em situao de riscos, mais detidamente relacionado aos
meninos/as de rua, nos anos de 1980 -1990, aqui ficou conhecida, segundo Pereira
(2009), como educao social de rua e as bases estavam na pedagogia de Paulo Freire.
Nessa poca, houve um alarido de que se tratava de uma prxis educativa
transformadora, posta pela dialtica educao-educando-educador social.
Alguns estudos, como os de Graciani, buscavam dar conta dessa possibilidade,
defendo a prxis no contexto da educao social, porque havia uma crena, e que ainda
hoje permanece inabalvel, de que a articulao teoria e prtica educativa e um forte
aparato de assistncia social seria o caminho para a emancipao dos meninos/as de rua.
campo de atuao desse profissional, sendo determinado que nos espaos no formais
da educao. Aqui, existe uma omisso quando desconsidera os espaos formais como
lugar
de
atuao,
pois
tambm
existem
pessoas
em
situao
de
acontece
com
profisso
de
turismlogo,
de
bibliotecrio,
da
ao
concreta
nos
problemas
das
populaes
de
atuao
profissional,
como
pedagogia
social,
pedagogia
ABRAPSocial quando do segundo substitutivo (SBT 2), proposto pela CTASP, aps o
dilogo com setores e pessoas interessadas nesse PL, no diz quem, mas pela exposto
aqui fica evidente que
formao especfica em Pedagogia Social, nos termos desta Lei. Vejamos que prevalece
a legalizao do campo e no dos atributos psicofsicos da atividade de trabalho do(a)
educador(a) social, incluiu o(a) pedagogo(a) social
formao na rea, isso implica em ampliar esse PL para atender a pedagogia social e, ao,
mesmo
tempo,
inclui
formao
superior
como
possibilidade
de
atuao,
CONCLUSO
profissional de nvel mdio e superior, ao movimento social dos educadores, que agora
devem continuar lutando para fazer valer a lei, quando esta for promulgada, as entidades
de representao profissional quanto a defesa dos interesses dos seus associados, etc.
Nesse sentido, esse Projeto de Lei tem o grande mrito de estabelecer o debate
nacional em torno da educao e dos educadores sociais. um momento mpar de
visibilidade da histria da educao social e dos movimentos sociais de educadores e
educadoras sociais no Brasil. As disputas so necessrias e mostram que h disposio
poltica e ideolgica na defesa desse modelo de educao e profisso. Ambas so
importantes tanto para o Estado, como sociedade civil, quanto para o mundo do trabalho e
a academia.
Isso uma grande conquista dos(as) educadores(as) sociais, esto vivendo uma
situao histrica importante, almejada h muitos pela velha guarda de educadores que
atuaram nos anos de 1970-1990 e que no tinham garantias legais do exerccio de sua
profisso e nem tempo de se movimentar em busca dessa regulamentao, porque o
trabalho com as populaes vulnerveis estava comeando. Tateavam nas prticas
educativas, no tinham certeza de nada, apenas que faziam um trabalho social, um tanto
perigoso, um tanto no improviso, com alguma ideia de pedagogia de Paulo Freire, mas
que quando chegavam na prtica concreta, querendo aplicar a teoria, viam que no era
possvel dadas as condies dos sujeitos que trabalhavam.
Eles queriam aplicar a teoria freireana, no entendiam que uma teoria pedaggica
no se aplica, apenas serve de referncia a uma nova realidade, pois a realidade social,
cultural e pedaggica requer sempre um posicionamento dialtico e a (re)construo de
novos conhecimentos situados nessa realidade.
Esse movimento mostra avanos na profissionalidade do(a) educador(a) social, que
comeou, sem dvida, na atuao com os meninos e meninas de rua. Nessa fase, por
exemplo, quem no se lembra do trabalho no terceiro turno que ia das 19h s 23h? E
quanto aos lugares onde se concentravam os meninos/as usurios/as de maconha, cola e
outras drogas? E o partilhamento de furtos que muitas vezes presenciavam? Quantos
educadores no protegeram esses/as meninos/nas da policia, dos traficantes, dos
transeuntes, dos padrastos e deles mesmos? E os medos diante de situaes perigosas
que colocavam em risco a integridade fsica e psquica dos educadores? E qual o
educador que no fazia o trabalho de assistncia social, visitando a famlia desses
meninos e meninas em lugares que muitos da coordenao do trabalho de rua no
queriam ir por medo e preconceito? Quantos educadores e educadoras no foram vtimas
de furtos e de intrigas dos/as meninos/as? Quantas afrontas sofridas pelo educandos?
Quantas falsas testemunhas, inclusive relatos por parte dos/as meninos/as que estavam
sendo assediados/as pelos educadores/as?
Hoje, a frente de batalha outra, mais difcil, como, por exemplo, o trabalho com
crianas e adolescentes mortificados pelo crack, abusados sexualmente e ameaados
pelos traficantes; as aes educativas com os profissionais do sexo; com os moradores
de rua; com as populaes que brigam em prol da moradia,
da terra, de tudo. No
Referncias:
ASSOCIAO DE EDUCADORES E EDUCADORAS SOCIAIS DO ESTADO DE SO
PAULO. Proposta de Emendas ao Projeto de Lei 5346/09. Leitura crtica da AEESSP s
propostas da ABRAPSocial. Disponvel em:
https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=forums&srcid=MDU4NDU0NzMwMTQyNTM3M
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Acesso em: 08 de fevereiro de 2013.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Ministrio da Educao, n
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http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=79ACD134F48
2E205C0113905A393E710.node2?codteor=661788&filename=PL+5346/2009. Acesso
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BRASIL. Resoluo do Conselho Nacional de Educao. Conselho Pleno, n 01, de maio
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Licenciatura. Dirio Oficial [da Repblica Federativa do Brasil]. Braslia, 16 de maio