Sob A Luz de Aldebarã
Sob A Luz de Aldebarã
Sob A Luz de Aldebarã
Sob a luz de
Aldebar
ndice
* Evocaes da adolescncia
1. Introduo
2. Prova e expiao
3. A evoluo
4. Privaes
5. A rvore que j no d maus frutos
6. De toda a vossa alma e de todo o vosso Esprito
7. Ao princpio no foi assim
8. Voltar ou voltar
9. Dogmas
10. Atropelamento na calada
11. Me de Deus
12. Quando todo sentimento intil
13. Um encontro com Nietszche
Introduo
Evocaes da adolescncia
A evoluo
Evoluir tudo que se quer neste vasto mundo. Atravs de O Livro dos Espritos,
aprendi o significado da palavra evoluo para o Esprito. Crescimento moral-intelectual,
aperfeioamento, proximidade com Deus. Todavia, Deus detm em si a perfeio infinita, o
que significa dizer que, o conceito de um Deus em evoluo no se adequa aos
pensamentos espritas.
Deus, inteligncia suprema, no necessita evoluir mais, por ter atingido... . ( No
posso dizer, ter atingido. Passa uma idia que Ele foi evoluindo at atingir o grau mximo
da perfeio. E Deus perfeito desde sempre.) Reformulemos a frase, ento. Deus,
inteligncia suprema, no necessita evoluir, pois situa-se no pice da evoluo, onde
somente Ele esteve desde sempre.
Criador da prpria evoluo, espelhou-se em seus atributos, nos ideais de justia e
liberdade, para arquitetar um modelo onde todos pudessem crescer em virtudes e sabedoria,
at que, por mritos prprios, Dele se aproximassem para entend-lo em plenitude.
Aproximar no bem o termo, pois Dele estamos sempre prximos. Soa melhor com Ele
nos identificarmos, pois Deus no habita um lugar especfico do universo, isso o limitaria
espacialmente.
At aqui o meu corao esprita entendia bem. Mas, um dia, visitando o Crculo de
Renovao espiritual, ouvi do palestrante da noite, uma frase que me deixou pensativo
vrios dias. Meu corao esprita sempre gostou de aceitar tudo que vem da doutrina, mas
minha cabea dana em compasso diferente. Necessita primeiramente repartir os
ensinamentos, registrar-lhes a coerncia, para depois junta-los e liberar o corao para que
se entregue sem reservas. A minha cabea e o meu corao parecem nunca concordar
quanto a esse detalhe. Aquela fria, metdica, analtica, questionadora, crtica. Este
emoo, sentimento, doao, entrega. Por isso minha cabea ps rdeas em meu corao e
no as larga um s instante, para que ele no faa muita bobagem. Mas, mesmo com tanta
vigilncia, s vezes, minha cabea se deixa adormecer com os sonhos bonitos que meu
corao traz e, adormecida, baixa a guarda. ento que ama sem os entraves da lgica e do
racionalismo, pois em determinados ngulos do amor os homens comuns no encontram
nenhuma lgica.
Disse o orador: A evoluo para o Esprito infinita. Enquanto ele existir, quer
dizer, sempre, continuar evoluindo. O corao achou lindo. A cabea puxou as rdeas e
comeou o seu velho exerccio de contestao e de busca. Se Deus no evolui, pois
encontra-se no topo, e o Esprito continua evoluindo para sempre, no chegar o dia em
que ambos se igualaro? Comecei a visualizar Deus parado no pice e o Esprito
caminhando... caminhando. Infinito infinito! O Esprito ter que encostar em Deus um
dia.
O corao tentou argumentar dizendo que Deus tudo pode e que a lgica humana
diferente da lgica divina, mas a cabea encerrou o assunto enfatizando: Tudo pode! Menos
agir como mgico. No outro dia, sai procura de argumentos matemticos que me
convencessem estar a frase do orador correta. De tanto procurar, cheguei a Zeno, o eleata
Uma outra dvida que logo se estabeleceu em meu Esprito, e quando isso acontece
ele fica inquieto at que a solucione, foi saber o real significado atribuda palavra,
princpio, no texto de Mateus, impresso em O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu
captulo XXII.
Naquele tempo eu ainda no me interessara por divrcio, pois sempre acreditei
serem firmes os laos em uma relao de amor. Falo de amor a qualquer coisa. A relao de
amor que eu tenho com o estudo da Doutrina Esprita tem sido prioridade que no se deixa
fragilizar em minha vida. Uma relao assim, para que se estabelea, precisa ser trabalhada,
entendida e alimentada. E isso demanda tempo.
Chamou-me a ateno a maneira como Kardec desdobrou o texto abaixo, dando-lhe
um carter interpretativo, fora dos padres do evolucionismo, o que no lhe peculiar.
Aprofundemos um pouco a questo, dando margem a que os leitores tirem suas prprias
concluses.
Diz O Evangelho Segundo o Espiritismo em seu captulo XXII - No separeis o
que Deus juntou: ... No princpio no foi assim, ou seja, na origem da Humanidade, quando
os homens no estavam ainda pervertidos pelo egosmo e pelo orgulho, e viviam segundo a
Lei de Deus, as unies, fundadas na simpatia recproca e no sobre a vaidade ou a ambio,
no davam motivo ao repdio.
No captulo III do mesmo Evangelho, H Muitas Moradas na Casa de Meu Pai,
pode-se observar a seguinte afirmativa: ... Nos mundos inferiores a existncia toda
material, as paixes reinam soberanas, a vida moral quase no existe. E mais adiante: ...
Nos mundos mais atrasados, os homens so de certo modo rudimentares. Possuem a forma
humana, mas sem nenhuma beleza; seus instintos no so temperados por nenhum
sentimento de delicadeza ou benevolncia, nem pelas noes do justo e do injusto; a fora
bruta a sua nica lei.
Esse pequeno trecho acima transcrito foi retirado do Resumo do ensinamento de
todos os Espritos superiores.
Mas, por que tantas citaes?
Para podermos entender sem mesclas de dvidas, os ensinamentos de Jesus e dos Espritos
que nos orientam doutrinariamente. O que Jesus quis dizer com: No princpio no foi
assim? Mas isso no foi Jesus quem disse, e sim Kardec. No texto extrado de Mateus, lse: Ao princpio no foi assim. Mas, ser que a simples troca de no por ao, pode mudar a
essncia da frase?
Faamos o papel de alunos rebeldes e questionemos.
No princpio no foi assim, ou seja, na origem da Humanidade quando os homens ainda
no estavam pervertidos pelo egosmo e pelo orgulho, e viviam segundo as leis de Deus...
princpio no era assim, posto que o homem recebera de Deus os ensinamentos corretos de
como proceder diante do casamento.
Pelo evolucionismo, essncia que permeia todo o arcabouo esprita, o Esprito parte
da singeleza do desconhecimento para o domnio do conhecimento. E essa a razo pela
qual prefiro optar pelo princpio-lei e no pelo princpio-tempo.
procurei aconselhar-me com velho amigo, sobre aquela dvida e ele
humoristicamente me confidenciou: Tenho dvidas sobre este assunto, pois, dentre os
animais, mais simples e ignorantes que os prprios Espritos em seus estgios iniciais de
evoluo, existe um quebra- pau dos diabos por causa das fmeas, na maioria das
espcies. Tive que concordar com ele. A disputa pela fmea no reino animal algo srio.
Mas essas coisas, s com as fugas para as bibliotecas da Universidade e a solido
comigo mesmo que foram se revelando na minha impaciente e indagadora cabea de 17
anos. A alma, no sei quantos anos tem. Sei apenas, que deve ter varrido muitos chos de
templos, buscando o seu alimento maior, o conhecimento.
Prova e expiao
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primou pela excelncia e clareza naquilo em que escrevia, o mesmo valendo para os
Espritos que o orientavam. Se a resposta pergunta 940 induz o aprendiz a confundir
expiao com prova, a mesma deve ser revista e clarificada.
No h nenhum demrito em atualizar ou corrigir obras ainda inacabadas. Kardec
no ps o selo da terminalidade em sua obra. Antes, alertou aos aprendizes para que a sua
evoluo estivesse coerente com a cincia e de braos com o bom senso.
J passei dezenas de vezes por esta pergunta e sempre lembro da primeira vez que a
li, discordando da inadequao em seu contexto da palavra expiao. A contabilizo como
um desses descuidos de quem escreve, o qual deve ser corrigido por um bom revisor. H
mais de 130 anos que esse revisor no aparece. No seria o caso de uma equipe
multidisciplinar fazer correes e atualizaes, apresentando-as comunidade esprita
como sugestes?
Creio que esse pensamento coerente com o esprito evolutivo da doutrina. Ou
deveramos permanecer com determinadas incorrees somente para manter a genuna
escrita kardequiana?
Voltar ou voltar
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Kardec, faz na condio de Jesus homem, ser de carne e osso, pessoa humana que padeceu
fome, sede, dor, ingratido.
Mas o que me deixou perplexo foi saber que a FEB discordava de Kardec, que
considerava seus argumentos incuos, de vez que em sua interpretao Jesus tivera um
corpo fludico.
A ser assim, enfatiza Kardec, ele teria fingido o tempo todo, sendo excelente ator,
pois disso ningum desconfiou um s segundo de sua vida. Adicione-se a este ttulo o de
mistificador, e ressalte-se que, por este crime, nem Roma, nem os fariseus, que procuravam
incrimin-lo a qualquer custo, nem os apstolos, nem sequer os cegos e os leprosos, que se
atiravam a seus ps para beij-los, julgaram estar diante de uma mistificao ambulante.
Que um homem tenha l suas opinies, admite-se. A escala que separa a idiotice da
genialidade, comporta inumerveis caminhantes. Mas, que ele se aproveite de uma posio
mundana e transitria para induzir outros a seguir seus distorcidos raciocnios, lanar a
tica no pntano das incoerncias.
As notas da editora, nas pginas 354 e 355 da 17 edio de A Gnese, traduo de
Guillon Ribeiro, so nitidamente tendenciosas a favor do corpo fludico de Jesus, teoria
soterrada por Kardec, mas ainda rodeada pelos adoradores de escombros.
Diz a nota: Diante das comunicaes e dos fenmenos surgidos aps a partida de
Kardec, concluiu-se que no houve realmente vo simulacro, como igualmente no houve
simulacro de Jesus, aps a sua morte, ao pronunciar as palavras que foram registradas por
Lucas ( 24; 39): - sou eu mesmo, apalpai-me e vede, porque um Esprito no tem carne nem
osso, como vedes que tenho.
E a outra: No somente foram anatematizados os apolinaristas, mas tambm os
reencarnacionistas e os que se pem em comunicao com os mortos.
Ora, Kardec disse: se tudo nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a reiterada
predio de sua morte, a cena dolorosa do jardim das oliveiras, sua prece a Deus para que
lhe afastasse dos lbios o clice de amarguras... no teria passado de vo simulacro... .
Diante das comunicaes e dos fenmenos surgidos aps a partida de Kardec...
Que comunicaes? Quais fenmenos? Mesmo que uma nica comunicao tivesse surgido
a favor da opinio da FEB, esta teria que submeter-se a velhas perguntas anti-embuste. De
onde veio? Por quem veio? Por que veio? Sabe-se, e a advertncia partiu do prprio Jesus,
que lobos se travestem de ovelhas e que os falsos profetas seriam capazes de alguns
prodgios, enganando a muitos. Mas, nesse caso, o lobo quis ficar no cipoal e apenas
espalhou o boato do ouvi dizer, que algum comunicou algo, que aconteceu um fenmeno.
Algum foi no sei aonde, comprar no sei o qu e volta no sei quando, tal o recado da
FEB, escrito em forma de nota de rodap.
Que fenmeno? Fsico ou qumico? Comunicao verbal ou escrita? Quando?
Onde?
Ora, s os lobos caem em armadilhas de lobos. A nota, alm de vaga, imprecisa,
dispensvel, tambm incua pela falta de consistncia.
No somente foram anatematizados os apolinaristas, mas tambm os
reencarnacionistas... . Crianas! Por que tantas travessuras? Ser que julgam os espritas
leitores medocres, a tal ponto de no entender o raciocnio, alis primrio, embutido nesta
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Privaes
Um dos mais extensos captulos, que vem sendo escrito a ferro e fogo no livro das
injustias desse planeta, o que traz o gosto amargo das privaes. O homem comum,
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pessoa, ento a responsabilidade dever recair sobre esta outra pessoa e no sobre quem
sofre a constrio, o efeito da privao.
Estou fazendo tempestade toa, diro alguns. Ou, querendo aparecer, diro outros.
Todavia, no estou interessado em crticas pessoais, mas em respostas para as minhas
dvidas, que so extensas.
Ser que a redao no ficaria mais clara dessa maneira: ... Se ela por culpa de
outrem, a responsabilidade recair sobre estes, pois aqueles que a sofrem, se a suportarem
com resignao sero consolados. Mas aqui eu abriria enorme parntese para que a palavra
resignao no viesse a ser confundida com medo, acomodao, subservincia, conivncia,
covardia...
No bom portugus, resignao significa: coragem para enfrentar a desgraa;
pacincia. Com coragem e pacincia, com um ideal justo a norte-lo, o homem imbatvel.
Nesses dias de saudosismo da juventude, no que eu esteja me sentindo velho, essas
inquietaes parecem voltar com muita nfase, como me forando a nada deixar inconcluso
para trs.
E por isso que eu as estou despertando da memria. A dvida de um , s vezes, a
dvida de centenas.
Quem sabe, nessas idas e voltas eu no encontre alguma semente?
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Senhor, apuremos nossos ouvidos e muito mais a nossa razo. O corao e a mente do
homem justo sabem discernir o que bom para si e para o seu irmo. A no ser assim, o
pensamento de Kardec sobre a f inabalvel, que inicia o Evangelho, no teria nenhuma
utilidade.
Acho que Simeo usou apenas um recurso de linguagem para embelezar o seu texto,
que bom. Todavia, se me causou estranheza, pode acontecer a outro que no penetre na
alma do texto, beijando-lhe apenas a superficialidade.
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Na Mocidade Esprita Mrio Rocha, onde prossegui meus estudos espritas, pois que
os iniciei sozinho, cada membro tinha seus livros e os debates eram sempre apaixonados,
como apaixonados so os jovens em sua discusses.
Dr. Mrio, profundo conhecedor do Espiritismo, incentivava estudos e debates, mas
sobretudo a vivncia doutrinria. Homem estudioso, pois era professor universitrio, jamais
se negou a discutir, esclarecer, aprofundar ou tirar dvidas de seus dirigidos. Disciplinado e
disciplinador, sabia como poucos unir caridade e disciplina, mostrando uma postura
exemplar, que nos servia de referencial dentro da doutrina. De carter slido como os
cedros do Lbano, se fazia amado pelos mritos que conquistara, sobretudo pela virtude que
mais o caracterizava, a justia, pois a vivia como se ela estivesse no ar que respirava.
A mocidade que freqentei e onde passei muitos anos em estudos e debates tinha a
marca inconfundvel da pesquisa. Aprendi a rastrear textos, retendo o bom e destinando
lixeira as inutilidades. Treinei mos na escrita e ouvidos na escuta, e hoje, quando Dr.
Mrio Rocha j no se encontra no rol dos encarnados, continuo fiel a seu estilo, com a sua
ajuda.
E foi na leitura inicial de O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XV - O
Maior Mandamento - que iniciei ligeiro debate sobre as palavras alma e Esprito, vocbulos
rotineiros em nossa vida esprita.
Meu companheiro Marclio, leu: ... Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso
corao, de toda a vossa alma e de todo o vosso Esprito.
Ento eu interrompi a leitura com um pedido de aparte e argumentei: no seria, de
toda a vossa alma e de todo o vosso entendimento?
- No, redargiu meu velho companheiro de estudos.
- Mas o professor Herculano Pires assim traduz o pensamento de Jesus nessa
passagem.
- Estou lendo a traduo de Salvador Gentile e no noto nada de anormal nela.
Com a mania de filosofar que me era prpria, iniciei o debate aps o restante da
leitura, citando a cartilha principal, ou seja, O Livro dos Espritos em sua definio de
alma e de Esprito. O debate, situao que mais me agradava nas manhs de domingo,
estava aceso como uma vela de aniversrio.
- Que o Esprito? ( pergunta 23)
- O principio inteligente do universo.
Essa resposta no diz muito da natureza ntima do Esprito, mas serve como ponto de
partida para inmeras discusses doutrinrias.
- Que a alma? ( pergunta 134)
- Um Esprito encarnado
- Que era a alma antes de se unir ao corpo?
- Esprito
- As almas e os Espritos so pois identicamente a mesma coisa?
- Sim, as almas no so seno os Espritos. Antes de se unir ao corpo, a alma um
dos seres inteligentes que povoam o mundo invisvel e que revestem temporariamente um
envoltrio carnal para se purificar e esclarecer.
Compreende-se das duas respostas que alma a mesma coisa que Esprito, embora
na condio limitada de encarnado. Se traduzem a mesma essncia por que a redundncia?
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No seria mais correto interpretar, de todo o vosso corao, como: com toda a vossa
emoo, sensibilidade, paixo, ternura... ? De todo o vosso Esprito, como: com toda a
vossa inteligncia, na condio de encarnado ou desencarnado, posto que Esprito e alma
traduzem o mesmo pensamento? E de todo o vosso entendimento, como: com todo o vosso
intelecto, vossa cincia, filosofia, arte, religio... com todo vosso patrimnio moral e
intelectual, enfim?
De que adiantaria dizer: de toda vossa alma, se esta no for tomada como sinnimo
de Esprito? No pode um corpo sem Esprito amar a nada ou a ningum. Portanto, s h
sentido na expresso , de toda a vossa alma, quando esta for utilizada como sinnimo de
Esprito, e a temos a redundncia clara, sem a beleza e a profundidade da traduo do
professor Herculano Pires.
Ora, isso so detalhes, lembrou Eliane, em nada compromete a doutrina.
verdade que so detalhes, respondi, mas nesse mesmo Evangelho, e apontei para suas
mos, est escrito: Sede perfeitos, como vosso pai celestial perfeito. E isso inclui, como
dizia Dr. Mrio, at o arrumar da gaveta onde guardamos nossos pertences.
L fora o sol do Cear faiscava atravs do mrmore das janelas. Mostrava a
perfeio do seu deslocamento pelo azul bordado de algodo. Eu j entendia o caminho do
sol, e pensei: amar o sol amar a Deus com todo o entendimento, ou seja, o que o nosso
entendimento alcana deve estar impregnado de Deus, posto que Ele a tudo construiu.
Dogmas
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ao exerccio das virtudes evanglicas, sob a diretriz da dinmica caridade. Para essa
doutrina luminosa, o campo de atuao maior a dignificao do ser humano. Ao
apresentar uma filosofia otimista centrada em Jesus, o Espiritismo enfatiza a supremacia
dos valores espirituais, e ao mesmo tempo luta para que todos tenham direito aos bens
decorrentes dos valores materiais, fruto do trabalho, obrigao e regra geral para todos os
encarnados com fora de exerce-lo. A educao, a sade, a dignidade, a cidadania enfim,
no podem ser negadas a ningum, por serem condies inerentes espcie humana. O
mundo a casa de todos, apesar de alguns julgarem ser os donos.
O Espiritismo a doutrina do amor vida. Tudo que aspira, defende, humaniza,
dignifica e eleva a vida tem a sua marca.
No vejo diante do exposto, nenhum demrito em se dizer que h dogmas nessa
doutrina. Algum seria capaz de negar a existncia do amor? Diante da negativa a esta
pergunta, podemos dizer que o amor o maior de todos os dogmas. Aquele que capaz de
transformar qualquer epitfio em bero de alegrias.
Estudemos para sermos livres. No dizer de Victor Hugo, grande defensor do
Espiritismo, a liberdade comea onde acaba a ignorncia. E a vida bela demais para
sermos apenas assistentes encarcerados. Sejamos livres. Sejamos espritas.
Apenas um i a mais
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Na mesma Europa, em Frana, a luta desenvolvia-se com outras armas, com outro
general, com outra filosofia. A revoluo francesa trouxera um sopro de liberdade,
conscientizao, e humanizao, embora que marcado a fogo pelo grito do terror. Os
Espritos estavam preocupados em trazer ao mundo O Consolador, e tal como Israel fora
escolhida para a vinda de Jesus devido a sua fidelidade ao Deus nico, a Frana foi
preferida pela sua condio de cidade-luz, centro da razo, embora um pouco embotada
pelos desmandos de alguns e mediocridade de outros. Kardec, partindo do oposto, coloca
Jesus como modelo para a humanidade, as conquistas do Esprito como herana maior e
pe nas livrarias O Livro dos Espritos, cujo livro terceiro, representa expressivo avano
na legislao no oficial do planeta. Com ele, a lei do mais forte representava um tempo j
ultrapassado pelo estgio cultural e moral dos habitantes terrenos. Os resqucios
remanescentes podiam ser contabilizados por conta da atuao de alguns Espritos
moralmente inferiorizados. Kardec no idealizou a figura de nenhum super-homem, mas
apontou o cidado comum como futuro conquistador, de vez que, atravs da evoluo, de
encarnao em encarnao, ele atingiria a superioridade moral exigida para adentrar um
mundo superior, onde a justia reinaria soberana ao lado do amor. Alis, deixou bem claro,
a semelhana de Jesus que, aquele que desejasse ser o maior entre os homens, que fosse o
que mais servisse a estes.
Em oposio a Nietszche, Kardec estabelece a harmonia do mundo baseada em leis
naturais e as descreve como modelo ideal de convivncia e de felicidade para os povos. A
Lei Divina ou Natural, a Lei de Adorao, a Lei do Trabalho, de Sociedade, do
Progresso, de Igualdade, de Liberdade, de Justia, de Amor e de Caridade, so regras
divinas que o homem tenta abafar, substituindo-as por condies mesquinhas, felizmente
transitrias.
Ao final do livro terceiro, Kardec enfatiza a perfeio moral, condio de
verdadeiro poder para o Esprito, o nico que lhe confere supremacia nos planos celestiais.
Atravs de argumentao segura, estabelece que o mal, parcela intil que o homem adiciona
natureza e sociedade, uma criao deste, quando utiliza de maneira equivocada o seu
livre arbtrio.
Como tudo que intil tambm necessariamente transformvel, o autor da
inutilidade volta cena para os devidos reparos, coagido pela lei de causa e efeito. A
reencarnao nesse contexto, apresenta-se como veculo de aplicao dessa lei, com o
objetivo de levar o Esprito perfeio, fazendo-o tambm cumprir a sua parte na obra da
criao.
Mostra um Deus pai, bondoso e justo, ao contrrio do guerreiro parcial e impiedoso.
Se Nietszche encarnou o Deus de Moiss, Kardec defendeu o Deus de Jesus. Se para
aquele a caridade era sinal de fraqueza, para este a fora bruta era a negao da fortaleza. O
Esprito forte aquele que no despreza os fracos, antes, procura ampar-los em suas dores.
Qual a causa que leva o homem a guerra? Pergunta Kardec aos Espritos. A
resposta enfatiza a supremacia da natureza animal sobre a natureza espiritual como
elemento catalisador da barbrie. Nietszche volveu ao passado para encontrar seu superhomem. Kardec o situa no futuro. A guerra desaparecer um dia da face da Terra? Quando
todos os homens compreenderem a justia e praticarem a lei de Deus. Essa a resposta
simples e bvia dos Espritos. Para o filsofo prussiano o super-homem implantaria no
planeta o reinado do orgulho e do egosmo, para o professor francs, o homem do futuro
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aspiraes para cofres cada vez mais sofisticados, mas sempre vulnerveis aos ladres ou
ferrugem.
Onde est o teu tesouro est tambm o teu corao. Foi assim que descobri que
poucos coraes no mundo poderiam me comportar. Quem seria capaz de me ter como um
tesouro, desses que se vela no dia e que se cuida na noite? Certamente aquela loura no
seria capaz de tal romance.
E foi atravs de duchas e jatos de gua fria sobre o meu romantismo que fui
descendo da nuvem cor-de-rosa onde dormia, para sentar-me vigilante as margens do rio
que tudo leva, posto que nada de triste ou de perecvel me atrai neste vasto mundo.
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Atropelamento na calada
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delas, naquele malabarismo de quem salta para o trapzio da alegria e s vezes cai no
tablado da tristeza.
Na poca desse acidente, eu j conhecia um pouco da doutrina esprita e a morte no
me era de todo estranha. No parecia ser o mesmo para minha me, que se deixara curvar,
quando antes era altiva em sua verticalidade. Ela desconhecia o recado de Sanso, escrito
em O Evangelho Segundo o Espiritismo, notadamente na passagem que neutraliza a
revolta , ao dizer: Podeis pensar que o Senhor dos mundos queira, por simples capricho,
infligir-vos penas cruis?. Pois esse o sentimento dominante em muitas mortes
prematuras, onde costuma-se lamentar a brevidade da vida de quem parte.
A vida ainda confundida com instantes de permanncia na carne, quando, nesse
espao, o Esprito mais limitado e tolhido que fora dele. Nesses instantes, arranja-se
motivos, transfere-se culpas, acusa-se a terceiros, blasfema-se contra a morte, face metade
da vida, e poucos lembram que cumpre-se a vontade de Deus. No a vontade caprichosa,
estril, injustificada. Mas a vontade lei, embasada na evoluo do Esprito, fundamentada
na justia e selada pelo amor de quem tudo criou.
... uma terrvel desgraa, dizeis, que uma vida to cheia de esperanas seja
cortada to cedo! Mas de que esperanas quereis falar? Das esperanas da Terra, onde
aquele que se foi poderia brilhar, fazer sua carreira e sua fortuna?.
Que consoladora a Doutrina Esprita! Ao conscientizar o Esprito que ele
imortal, que seus objetivos no se limitam as conquistas materiais, que os que se amam
jamais se separam, que esta Terra campo de luta para o ingresso em terras mais belas...
d-lhe uma resistncia inquebrantvel.
O amor, para muitos humanos, ainda a presena no dia a dia, o sentimento de
posse, o borbulhar das futilidades, a vigilncia estressante para que o outro no lhe escape
do domnio. O Espiritismo traz o amor confiana, a f no futuro, a lucidez que liberta a
alma das amarras do egosmo. Um amor que sobrevive a qualquer tragdia, pois entende
que a maior de todas as tragdias no amar. Alicerada no amor a Deus e ao prximo,
essa doutrina nos mostra, pois que a sua prtica extremamente frtil em exemplos, que os
chamados mortos nos rodeiam, conservam seus sentimentos a nosso respeito, nos inspiram,
auxiliam-nos em nossas dificuldades. E quando chega a hora do nosso ltimo suspiro na
vestimenta carnal, nos recebem para novamente escreverem outras pginas de lutas e
glrias.
s vezes me pergunto: o que seria de minha vida sem esta doutrina? Apenas uma
busca incessante para encontr-la.
A morte nos entrega a chave da vida, quando em vida construmos a chave da morte.
Estava pensando nestas coisas em minha rede, pois tudo eu fazia na rede, estudava,
almoava pensava... quando olhei para o livro que j me tirara dezenas de dvidas sobre a
morte. O livro, principal obra da codificao, ficava sempre exposto no guarda-roupa que j
no possuia portas. Os cupins j nos aliviara daquele contratempo. Quis reler perguntas e
respostas alusivas morte. O que , qual a sua funo, por que minha irm?
So perguntas simples, e que geralmente o esprita sabe a resposta, mas que a morte
de um familiar exige recapitulaes e aprofundamentos.
A morte o esgotamento dos rgos. Estes, impregnados de fluido vital, no reagem
quando esgotados pela velhice ou pela doena. Mas, minha irm tinha 15 anos. Seus laos
perispirituais, ligados molcula a molcula em seu corpo, no foram desatados e sim
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quebrados pelo brusco acidente. Com o acontecido, apossou-se a morte do corpo, mas
certamente, como acontece em casos tais em que o perisprito se desliga lentamente por
deter largas cotas de fluido vital, minha irm deveria ainda estar no corpo.
Por outro lado, j ouvira relatos sobre Espritos que, aps a morte fsica,
permaneciam junto aos corpos, sofrendo falta de ar, como se estivessem sepultados com o
corpo. Tais Espritos estariam mesmo desencarnados?
Uma rvore jovem tem suas razes entranhadas no solo que as protegem. Comecei a
pensar que minha irm havia morrido, mas ainda no desencarnado, ou seja, poderia ainda
estar na carne. Com o perisprito retido e o seu Esprito em perturbao dolorosa, somente a
prece teria alguma lgica para quem quisesse ajud-la. Em horas tais, quando a dor possui a
regncia, quem se importa ou lcido o bastante para lembrar-se da lgica?
Haveria alguma coerncia no que eu pensava? Se admitirmos desencarne como
sada ou libertao da carne, sim. Para evitar essa confuso, Kardec interpretou
acertadamente a morte como um fenmeno biolgico, restrito exclusivamente ao corpo
fsico. Morrer ter os rgos esgotados de fluidos vitais. A morte o fim do ciclo iniciado
no nascimento onde a matria possui a nobre funo de ser o templo do Esprito, cessao
da atividade do crebro, carcaa imobilizada na horizontal, sem possibilidades de abrigar o
ser que a animava.
O fenmeno morte restrito matria, com repercusso no Esprito. Esta se traduz
por uma perturbao breve ou longa, a depender do gnero de morte e das condies do
Esprito. A perturbao uma conseqncia natural de quem entra ou sai da matria. Ao
nascer, segue-nos o esquecimento. Ao morrer, espera-nos o aturdimento. Nos acidentados,
nas morte violentas, o Esprito pego desprevenido, se aturde mais que outro, que aguardava
o evento. Se ele possui conhecimentos sobre a vida espiritual, estes podero ajud-lo na
compreenso do transe que vive, apressando-lhe o final. Se tal conhecimento foi praticado,
orientado pela tica e pelo amor, tanto melhor, a perturbao mais se apressa em esgotar-se
pela prpria desmaterializao ( desapego da matria) observada no perodo da
encarnao.
Os efeitos da morte sobre o Esprito so atenuados ou agravados a depender das
conquistas morais-intelectuais por ele empreendidas. certo que a morte uma porta para a
vida, mas tambm verdade que a vida pode estar cheia de sinais de morte,quando nos
negamos a investir nela nossos talentos maiores.
Baseado naquele raciocnio, eu poderia estar certo. A morte o esgotamento dos
fluidos vitais e o desencarne a sada do Esprito da carne, o que pode ocorrer depois da
morte.
Minha irm era na prtica uma criana. Nunca tivera um namorado sequer. Era
ligada a minha me por uma gratido que no se explica a no ser que se admita outras
existncias alm daquela to efmera.
Alguns dias atrs ela cantara no colgio uma msica em homenagem a minha me e
aquilo marcara fundo na alma de ambas. Mas, minha irm tinha l seus dbitos e os
liquidou com toda a nobreza de sua alma. No dia do meu aniversrio ela comunicou-se
comigo atravs da psicofonia de uma amiga e disse: Entrei em uma escola muito grande e
bonita e vi uma placa na porta de um dos apartamentos. Estava escrito: professor Luiz
Gonzaga Pinheiro. Acho que voc vai ser professor. E no deu outra.
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Hoje as duas, minha me e minha irm, esto novamente juntas no plano espiritual.
A primeira, altiva em sua verticalidade e a segunda, forte em sua coragem. Trabalham,
estudam, visitam-nos e esperam-nos a mudana.
Na verdade, j conversei com centenas de Espritos desencarnados e deles obtive os
reais sinnimos para a morte. Viagem, mudana, transferncia...
Em qualquer lugar do universo, a morte ser apenas um passaporte para a vida. E foi
isso que minha irm me pediu para dizer a minha me, que parecia no entender a
grandiosidade da doutrina que admirava, mas que no estudava.
Aquele atropelamento na calada comandou as minhas reflexes por muitos dias,
dos quais sai mais velho, amadurecido fora, como meu pai fazia com os mames tirados
ainda verdes, apresando-lhes a madureza pelo calor do sol.
Desde ento, tenho amado a vida como o mais cantante passarinho.
Hansenianos
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Asilos
Um dia de vero, decidi reunir a mocidade esprita para visitar um asilo de velhos.
Levaramos um pouco de nossa alegria, de nossa msica, de nossa f. Eu nunca estivera em
um asilo antes. Fora acostumado a observar homens livres, que caminhavam, gargalhavam,
mesmo com o farol da fortuna a meia luz.
Disseram-me para levar uma tesoura de unha e o meu violo. Deveramos cantar e
cortar as unhas dos velhos, de vez que muitos no tinham condies de faz-lo. Era preciso
saber ouvir mais que falar, pois o velho, isolado do mundo, parece querer contar todas as
suas histrias, todas as suas mgoas, todas as suas decepes e maus tratos de uma nica
vez, como se nunca mais fosse ser visitado.
Eu me preparei para a visita, com uma expectativa de ver muitos cabelos brancos
pontilhados com a bravura de quem j domara touros e cavalos. Mas o que me aguardava
provocou-me tremendo choque emocional. Os velhos se amontoavam como gado. O mau
cheiro invadia as nossas narinas qual gs sufocante a nos tirar o flego. Velhos com
piolhos, unhas negras de sujeira, roupas rotas e sujas, a dor, a dor na sua expresso mais
amarga, regia aquela sinfonia miservel. Cegos, amputados, paraplgicos, espectros, antes
homens e mulheres saudveis, haviam sido abandonados pelas famlias, como erva daninha
que se extrai do solo e lana fora.
Os gritos de socorro, os pedidos de comida, a revolta ostensiva e silenciosa, o
mutismo rancoroso ali se misturavam em caldeiro digno das descries de Dante, em sua
Divina Comdia. Fiquei confuso. Que fazia eu com aquele violo naquele espao onde a
msica era o caos? Tive vergonha, tristeza, entrei em parafuso levado pelas imagens fortes
que observava e chorei muito, para surpresa dos meus amigos.
Mas, passado o impacto emocional daquelas cenas, fui me acalmando. Deixei o
violo no canto e passei a escutar os velhos. Tudo pediam: sabonetes, fivelas para cabelo,
rapadura, biscoitos, roupas, um rdio... ah! um rdio para ouvir msicas e matar o tempo.
Sentei na ponta da cama de Maz, velha magricela e semi-louca que tinha fixao por
peixe. Queria, antes de morrer, comer uma peixada com bastante sal e cebola, um piro
escaldado desses que enche a barriga e a pessoa passa a tarde bebendo gua. Como Maz
no enxergava bem, sempre que algum se aproximava de sua cama, perguntava: a
Maria? Mas, Maria jamais aparecera naquele cho, ltimo ceitil, choro e ranger de
gengivas, pois dentes os velhos no tinham mais.
Eu havia passado no concurso da Base Area e breve teria que ir para So Jos dos
Campos (So Paulo) aprender a manejar avies. Disse ento a Maz: quando eu ganhar o
primeiro salrio, mando o dinheiro para voc comer essa peixada. Uma semana depois parti
em velho avio da Aeronutica, e um ms depois mandei o dinheiro para que a mocidade
fizesse a peixada com aquele piro que deixa a pessoa bebendo gua durante toda a tarde.
No pude assistir a cena, mas me disseram que ela quase desencarna de tanto comer.
Ao por do sol, sentava nos bancos do ITA, olhando para os eucaliptos, lembrando daquele
quadro depressivo.
Os velhos... lenis manchados de urina, moscas nas pstulas, mos lentas, olhos
lentos, histrias lentas, tempo lento. Eu estava longe e parecia ter parado ali no asilo. Meu
Deus! Que pas! Que mundo! Que vida esta? Quando voltei, Maz j havia desencarnado.
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queimar a pele enrugada dos velhos por muitos anos, antes que a caridade plena se
avizinhe.
Igualmente a dor maior, a solido, o abandono da famlia, a ingratido dos filhos, (
meu Deus! como se pode ter um filho, ama-lo tanto e depois receber em troca o
esquecimento e a ingratido?) lembranas que mais molham os olhos e ressecam o corao
dos velhos, espinhos das poucas flores da velhice, ainda mancharo seus lenis, chinelos e
oraes por incansveis domingos.
Coisas assim parecem me afastar das pessoas. Fico mais amigo do sol, do vento...
fugindo dos aglomerados e das festividades. Tais visitas me guardaram nos livros, me
fizeram profundamente reflexivo, viver velhice antecipadamente e, que paradoxo, com a
alma cada vez mais jovem.
O Espiritismo e suas lies me mostraram a velhice como um breve estgio,
semelhante ao que a lagarta se fecha em seu casulo para sair borboleta livre e brilhante.
Hoje, no choro mais de choques emocionais quando visito asilos de velhos. Suas
histrias me emocionam e do a certeza que aquele tempo, o tempo da justia,
inevitavelmente esmagar toda e qualquer atitude hostil velhice. Quem viver ( todos ) ser
testemunha dessa poca em que o Espiritismo ser o aroma do jardim de muitos homens.
Quanto ao que aprendi nos livros, o conhecimento como fonte de transformao
interior, eu o utilizo para mudar a mim mesmo. Para sair do autismo intelectual,
socializando as verdades e as alegrias que o Espiritismo em sua prodigalidade oferta a
todos. Eu o utilizo para que as pessoas sejam livres pelo conhecimento da verdade, ideal de
Jesus, pelo qual deu sua prpria vida. Para que no abandonem seus jovens e muito menos
seus velhos; para que sejam fortes e confiantes no futuro; no descreiam do reino que no
deste mundo. Para que as Mazs, Euclides e Josus, tenham peixe e rapadura, e as unhas de
tantos outros no sejam fartas apenas em areia e negritude.
Na verdade, a minha maior alegria, e as tenho muitas, poder testemunhar a
excelncia dessa doutrina que me faz amar exageradamente a vida, sem temer a visita da
morte. Amanheo todos os dias querendo e amando escrever. E quando pergunto a mim
mesmo, pelo assunto , meu corao se enche de temas, de cores, de casos, de certeza que as
pginas que viro sero de amor e por amor ao Espiritismo.
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atitudes lotricas e de feitores. Deus no poderia descer a essa condio. Ele criou a lei,
justa, equnime, que se cumpre em qualquer tempo, qualquer espao, qualquer Esprito, nas
boas ou ms atitudes.
Que lei? A lei de causa e efeito, a mesma aludida por Jesus quando sentenciou: A
cada um ser dado segundo as suas obras; quem com o ferro fere com o ferro ser ferido, e
outras citaes de semelhante teor, esquecidas propositadamente pelo homem que faz suas
conquistas a ferro e ao aplicando ferimentos na pele dos indefesos.
Sim, mas quando algum nasce cego, surdo, deformado, paraltico?
Bem, a nos encontramos diante de um fato com duas explicaes, sendo que, apenas uma
delas verdadeira. A outra fantasia criada por mentes infantis. Resumamos assim: ou Deus
justo, e neste caso o Esprito merece aquela existncia dolorosa ou injusto, e est
punindo o Esprito por algo que ele no fez.
Ser que algum que nasce com a cegueira pode ser punido pelo mal que seus pais
fizeram? Isso negaria as afirmaes de Jesus, rebaixando-O a simples mentiroso e iria de
encontro a qualquer principio de justia, por mais elementar que ele seja. Voc leitor,
aplicaria um castigo desse gnero em seu filho? Punies ou condenaes, transferveis, so
invenes que no constam nos imperfeitos cdigos humanos. Estariam elas lavradas nos
cdigos divinos?.
Como pode algum nascer cego por um mal que ainda no fez? Entra em cena
nessa resposta o conceito milenar da reencarnao. A vida uma s. Um todo contnuo
onde ora estamos encarnados, ora deixamos o corpo de carne e voltamos a ptria espiritual.
Quando nos comprometemos com a lei, gerando graves delitos, ela nos impe reparaes
que podem se desdobrar a uma ou vrias encarnaes, at que o dbito seja quitado. A lei
nos obriga ao retorno carne nas condies que ns prprios criamos com os nossos
desatinos.
Mas ser que Deus no tem pena de ver uma criancinha frgil nascer paraltica,
imbecilizada? Voltamos ao ponto de atribuir a Deus comportamentos puramente humanos.
Deus fonte de amor e de justia. Se tivesse pena do infrator ou lhe desse o perdo gratuito,
a fonte de justia secaria e a de amor estaria poluda pela impunidade que facilmente levaria
o universo a desordem.
A graa de Deus concedida a todos indistintamente. Ela faz nascer o sol sobre
justos e injustos. Os milagres da vida, da terra, do mar... esto a disposio do fiel e do
infiel s leis soberanas. Se um malfeitor pe sementes de trigo na terra, elas nascero tal
qual acontece com o santo lavrador. Se um homicida lana a rede ao mar, desde que haja
peixes, ele os recolher, ocorrendo o mesmo com aquele que defende a vida. As flores do
campo nascem para todos e o perfume que espalham no foge ao mau caminheiro que lhes
agridem.
Tais so as graas divinas. A paz de esprito, a disciplina, a perseverana no bem, a
sabedoria... Essas, Deus no d nem a todos nem a ningum em particular. Ns as
conquistamos com o nosso esforo, nossa f, nosso trabalho. Todas essas graas esto a
nossa disposio aguardando que as conquistemos com a ajuda e a inspirao que vem de
Deus. Quando a Ele recorremos e pedimos fora, nimo, discernimento... atravs da orao
sincera para com elas efetuarmos nossas conquistas espirituais, as recebemos.
Mas, em ltima anlise, a graa entendida como condio evolutiva capaz de nos
tornar melhores em matria e Esprito trabalho nosso. como cultivar uma extensa gleba.
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Deus d a chuva, o sol, o ar, ( elementos que facultam a fotossntese para a sobrevivncia
das plantas) mas o lavrador tem que tomar o arado, sulcar a terra, depositar as sementes,
proceder a vigilncia contra as pragas e ervas daninhas e finalmente recolher a colheita.
Aqueles que esperam graas de graa da divindade, tambm as esperam dos
homens, pois em suas cabeas, Deus apenas um super-homem. Da o desapontamento e o
desnimo que lhes tomam o Esprito quando seus pedidos no recebem pronto atendimento.
Esperam colher sem haver semeado e isso na agricultura divina impossvel.
Decepcionam-se com a sua religio, mas no questionam o importante aspecto que
no o rtulo que salva e sim as aes de cada um. sempre mais fcil transferir para
fora de si a responsabilidade que primariamente interior.
A colega professora precisa urgentemente usar o seu senso crtico. Sem ele ficamos
na dvida em identific-la como mestra se lhe falta o mais elementar diploma, a
criticidade.
E ningum ensina aquilo que ainda no aprendeu
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Introjetando a culpa
Sou de opinio que cada pessoa escolha a sua religio de maneira livre, e a estude,
pratique, colaborando para sanear o planeta dos males comuns que nos tornam antifraternos. Da no constar de meus hbitos, criticar religies ou religiosos em sua prtica,
quando tica, por entender que o nico caminho para Deus no apenas o Espiritismo.
Amar a Deus e ao prximo resume a Lei e os profetas disse-nos Jesus, e isso , e
deveria ser, a essncia de todas as religies. O restante, a ritualstica, os aparatos, as teorias,
os desdobramentos, so meros acessrios, em muitos casos, dispensveis.
A propsito desse tema, ao desembarcar na rodoviria de um certo municpio
cearense e dirigir-me em companhia de um confrade para a sua casa, tive a surpresa de
escutar em plena praa pblica, o discurso de um religioso para seus liderados: Meus
irmos! O demnio chegou a esta cidade hoje! Vamos orar para que ele no nos
contamine...
Fiquei surpreso, quando descobri que o demnio era eu, que viera como convidado
para fazer uma palestra esprita. Escutei ainda alguns instantes aquela cena infantil. O
orador falava de castigos e culpas, do fogo do inferno e condenaes, e pedia que no
olhassem para o demnio. A cidade estava dividida entre catlicos, protestantes e espritas,
estes em menor nmero.
Que vamos fazer? Perguntei ao amigo esprita que havia me convidado, diante
daquela estranha recepo. Nada! Respondeu ele convicto. Tenho lido em seus artigos que
devemos ser mansos e pacficos em qualquer ocasio. E foi a minha vez de argumentar:
Sei! Mas, voc nunca me ouviu dizer para sermos bestas e omissos diante da agresso.
Ele ficou preocupado com o que eu faria, mas eu o tranqilizei, dizendo que as
melhores respostas estavam no Evangelho e que eu me limitaria a elas. Na pousada onde
fiquei, tive que reorganizar a minha palestra, introduzindo nesta apontamentos acerca do
sentimento de culpa introjetado no ser humano pela religio mal dirigida.
Concentrei-me um pouco e fui passando pela memria, quantos traumas j havia
encontrado, filhos do sentimento de culpa, colocado no corao dos homens por pessoas
que utilizavam a religio como fonte de poder e dominao. Interpretaes sem
fundamento, notadamente na rea da sexualidade, no relacionamento familiar, na fixao do
destino aps a morte, so fontes generosas de medos e neuroses, minando o pouco de
alegria que algum pode ter em planeta ainda to agressivo.
As religies deveriam priorizar, ensinar e praticar o amor, a tolerncia, a
fraternidade, o sentimento paternal de Deus para com toda a criao. Paralelamente, como
medida preventiva contra o erro, viriam os ensinamentos acerca dos resgates, quando a lei
fosse violada. Se a justia fosse mostrada como Deus a criou e no como cada um a
entende, Haveria menos neurticos sobre a Terra. Talhar comportamentos pela opresso
no um bom mtodo, pelos efeitos colaterais que ele deixa.
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pelo amor. Esse pensamento nos foi legado por Jesus h muitos sculos. Pena que muitos
dos que se dizem seus seguidores pensem o contrrio.
Na verdade o homem s se torna bom quando decide s-lo por conta prpria.
Quando se convence que a bondade o caminho mais curto e menos penoso para a
felicidade. O medo parece ser o agente menos qualificado para essa misso. Aqueles que,
do alto de suas ctedras falam de demnios, condenaes eternas, choro e sofrimento sem
final, esto caindo em descrdito popular pela simples contradio com o Evangelho que
tentam representar.
Que no esqueam que Jesus colocou o samaritano, considerado herege, como
aquele que realmente amou o seu prximo, em detrimento do religioso que passou
indiferente ao sofrimento humano. Criticou ostensivamente os fariseus, lembrando-lhes a
hipocrisia, quando limpavam os cofres das vivas, apegando-se ao formalismo material,
esquecendo o burilamento do Esprito. Diante das portas do reino se perturbam com suas
tolas iluses e, no entram nem deixam entrar aqueles que os seguem, observao perfeita
de Jesus, para quem se apega ao acessrio e relega o essencial.
E foi por a que comecei a palestra da noite, resgatando o amor que salva no lugar da
culpa que marginaliza.
No outro dia o demnio foi embora deixando inquietantes pensamentos acerca da
liberdade e do amor de Deus. Deixou ainda uma ameaa. Poderia voltar qualquer dia para
novas conversas.
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Competncia esprita
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no h trabalho preciso lutar por ele. Isso exclui a idia de um Espiritismo despreocupado
com as questes sociais e polticas.
A competncia esprita passa pela face humana, tcnica e poltica, desde que se
entenda por competncia o saber fazer bem. A competncia humana v o outro como seu
igual. o amor ao prximo, essncia de qualquer religio. A competncia tcnica exige o
estudo metdico e aprofundado da doutrina, seus postulados e fundamentos. A competncia
poltica se faz pela correta aplicao da competncia tcnica e humana, dentro dos variados
segmentos da atuao doutrinria. Desnecessrio acrescentar que a tica deve nortear a
competncia, pois no se admite uma religio atica, pela prpria definio e objetivo das
religies, qual sejam, religar o homem a Deus. Que fique bem claro que competncia
poltica no se relaciona com poltica partidria e sim com capacidade de articulao, com a
arte de administrar conflitos e desagrados, socializao dos benefcios e superao de
dificuldades.
O sentido poltico da competncia esprita gerir a tcnica, orientado pela caridade
e a justia, face humana do processo. Vista por esse ngulo, de onde se pode observar
qualquer profissional, a competncia algo raro na atividade humana, mas extremamente
necessria como elemento propulsor de verticalizao.
O exerccio esprita exige competncia. E no se chega a ela com fobia ao trabalho e
ao estudo. Conhecer sua doutrina obrigao de qualquer discpulo, e quanto a isso, parece
no existir outra sada. O no conhecer tem forte cheiro de acomodao. O no viver os
ensinamentos tem o amargo gosto da hipocrisia. Entende-se que a vivncia de qualquer
virtude evanglica difcil. Isso deveria servir como motivao para iniciar de j a
tentativa, e no, como rotineiramente se faz, o adiamento para sculos futuros.
Diante do estudo doutrinrio, as negativas se avolumam, fazendo coro com a
preguia, tornando imenso o coral dos ignorantes. o cansao, o sono, a dor de cabea, a
letra mida do livro, o arder nos olhos... desculpismo contnuo que convence s vezes, ao
prprio preguioso, de que tudo aquilo insupervel. O aprofundamento nas obras bsicas
da codificao parece ser o remdio amargo e salvador, ainda recusado por muitos que
esto satisfeitos com o desconhecimento.
Sempre questionei essa falta de compromisso com a doutrina. A rede e a cama
exercem profundo fascnio em muitos aprendizes do Espiritismo, que alimentam a
ingnua iluso de que estudam durante o sono. Sei que no plano espiritual h escolas e
palestrantes. Matriculo-me por l, disse-me um deles. Escolas srias so feitas para
estudantes srios. Comparecem s boas palestras bons alunos. O que faz algum pensar que
sendo acomodado em vida no o seja na morte? Ou, sendo relapso em viglia, no o seja no
sono?
A competncia tcnica, que tem gnese no estudo doutrinrio, matria prima para a
competncia poltica e solidez para a competncia humana, esbarra nos entraves
construdos pela falta de hbito para o estudo. Sem hbitos, no surgem as atitudes e
posturas, e a competncia como um todo continua adormecida pelos sonferos da preguia
mental e da falta de conscientizao.
Infelizmente, alguns aprendizes da doutrina parecem estacionados na fase romntica
do deslumbramento, esperando aprendizado sem esforo, competncia sem suor, evoluo
sem luta, colheita sem semeadura. Beno e luzes so para quem as conquistam. Milhes de
mundos felizes h no espao sem fim. Neles no existem sentinelas para barrar o ingresso
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dos infelizes ou dos ignorantes. Entra quem conquistou atravs da competncia, a sua
indumentria compatvel com as condies do meio. A tnica nupcial de que nos fala Jesus.
Cada Esprito tem o que constri. Mgica e romantismo no tm lugar na
competncia esprita. Deus optou pela evoluo atravs da aprendizagem contnua, infinito
a fora. E nesse detalhe, ningum aprende por ningum, havendo a necessidade da
construo do conhecimento por parte de cada um. Orientadores no faltam, a mostrar
caminhos para a aquisio da competncia. Mestres que so livros, livros que so mestres,
cruzam nossos caminhos a cada jornada. Alguns trazem e mostram apenas uma face da
competncia e outros se confundem com ela.
Jesus o paradigma da humanidade. Kardec, um roteiro seguro que aponta para esse
referencial. Por esse caminho passa a competncia esprita. Fora dele busca por ele.
No confundamos, pois, ingenuidade com bondade, de vez que essa confuso pode
alargar-se, a ponto de algum julgar-se possuidor da competncia e ter apenas em sua
contabilidade a repetncia.
E a, voltar e administrar o prejuzo, atrasando-se na marcha irresistvel do
progresso..
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Acomodao e carma
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A mudana diante dessa postura, recebe o entrave das castas miserveis, que no se
sentem injustiadas, recusando o poder de presso que deveria vir de baixo para cima,
modificando o quadro de misria e indigncia de muitos. Por outro lado, homens
considerados santos, no tm o mnimo interesse em bens materiais, no que so apontados
como paradigmas, para que outros tambm se tornem santos e miserveis.
At admira a ndia ser a potncia que , com suas guerras internas entre hindustas e
muulmanos, e com boa parcela da sua populao sendo adepta do budismo, religio que
desaconselha a cobia, apontando o desprendimento dos bens terrenos como uma das
maneiras de atingir o nirvana, ou em linguajar simples, estado de felicidade plena.
Todavia, no Espiritismo a situao bem adversa. Aquilo a que chamam de carma, (
ns espritas utilizamos mais os termos, lei de causa e efeito) a mesma lei citada por
Jesus, quando enfatizando a excelsitude da justia disse: A cada um ser dado segundo as
suas obras. portanto, o conjunto de boas e ms aes praticadas pelo Esprito, que o
credencia a uma situao atual ou futura em consonncia com os seus mritos e demritos.
Mas no paramos por a. O Espiritismo mostra a existncia de outras leis. A lei do
progresso, a lei de justia, amor e caridade, que autorizam o Esprito no estacionar no
patamar em que se encontra. Atravs do estudo e do trabalho, pois que cada homem tem o
seu livre arbtrio, ele pode atingir outros estgios de riqueza material e intelectual,
sobressaindo-se no meio em que nasceu, e at mesmo deix-lo, para assumir outros
segmentos da sociedade.
Se no Hindusmo o livre arbtrio anulado pela falta de autocrtica das castas, no
Espiritismo ele alavanca para o progresso e evoluo. O pensamento esprita no se
acomoda na dor, na pobreza ou na ignorncia. A exortao do Esprito Verdade, ao
conclamar os espritas para o amor e a instruo bem demonstra o carter progressista da
doutrina. Aqueles que nos julgam masoquistas, conformistas, alienados ou fanticos, so
apenas desenformados quanto a excelncia da doutrina, que aconselha o progredir sempre
pois tal a lei.
A interpretao do determinismo, como nico norteador de nossa vida, o que lhe d
um carter fixo a cada ao do Esprito, no tem lugar no Espiritismo. Entendemos que
Deus aceita o sorriso do amor no lugar da careta de dor, daqueles que procuram resgatar
seus dbitos atravs do trabalho gerador de bens coletivos. Como pai, se teu filho lanasse
fora a comida que guardavas para o mendigo, o que farias?
Creio que seria prudente averiguar a inteno dele em primeiro lugar. A comida
poderia estar estragada e faria mal a quem a ingerisse. Se praticou o ato por maldade, seria
mais proveitoso para todos, aplicar uma surra no peralta ou coloc-lo a fazer ou conseguir a
comida esbanjada para outros mendigos? Que proveito real traria a aplicao de uma surra?
A est a diferena. O filho, reconhecendo o erro, pode trabalhar e produzir at mais que o
perdido para os deserdados. E no aceitando a moeda do amor, cai no determinismo da dor;
mas, repito, por seu livre arbtrio.
Temos como concluso que, o uso incorreto do livre arbtrio leva ao determinismo.
H o que pede a hansenase e aquele que solicita a mediunidade, para com ela auxiliar
centenas de enfermos. H os que reencarnam com a misso de promover o bem-estar social
e escravizam subordinados. Algum, no lugar de ser um peso para a famlia e para a
sociedade nascendo paraplgico, pode pedir e obter a permisso de nascer sadio e cuidar de
paraplgicos. A dor lancinante, s vezes, a nica soluo para alguns casos; mas em
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outros, o amor que redime gera benefcios por onde passa. Queremos dizer com isso, que
mais til para todos, Esprito envolvido e circunstantes, quando o reencarnante decide por
pagar seus dbitos com o amor, embora sendo este moeda rara, esteja na maioria da vezes,
fora de alcance do senso comum.
Temos como legtima a luta dos povos por liberdade, igualdade perante a lei e
fraternidade. O Espiritismo no condena a riqueza nem a pobreza. Aconselha a superao
desta e o bom uso daquela, para que a justia social seja implantada na Terra.
A doutrina dos Espritos jamais concordaria com o sistema de castas sociais. Luta
pelo bem estar e o progresso dos povos, irmanados em suas necessidades e fraternos em
suas abastanas.
Por que todos os homens no so igualmente ricos? Pergunta O Evangelho
Segundo o Espiritismo. Porque eles no so igualmente inteligentes, ativos e laboriosos
para adquirir, nem sbrios e previdentes para conservar, a sua resposta.
Quanto a riqueza intelectual, o mesmo se pode dizer para a aquisio e a sua
aplicao. Administrando a problemtica vem a lei de causa e efeito, com a sua
flexibilidade na maneira de como resgatar o dbito. Flexibilidade existe, omisso do
pagamento jamais. Discute-se como pagar, pois no pagar est fora dos limites do possvel.
Diz Emmanuel, Esprito esprita e escritor: O bem que fazemos hoje o nosso
advogado a qualquer tempo. Faamos o bem desinteressadamente e a vida se modificar a
partir do instante em que o pratiquemos.
Estejamos atentos ao sentido de busca evolutiva. Quem procura acha! E esse recado
especial para os acomodados em seus destinos. Na parbola dos talentos, dois homens
dobraram seus patrimnios e um outro permaneceu imobilizado. Esse dinamismo com
relao ao que se tem e ao que se , essa busca pela satisfao das necessidades inerente
ao ser humano. O que reprovvel o acmulo, o excesso, o apego, escravizando o
Esprito ao reino da matria.
Fala-se aqui de necessidades reais para o bem viver, e no de exigncias que vo
alm do suprfluo, concentrando demasiada riqueza em pequenas ilhas, rodeadas por
oceanos de misria.
O Espiritismo no induz ningum ao conformismo ou a passividade. Contrariamente
a esse pensamento ele impulsiona para o progresso, sob a inspirao da justia, guiado pelas
mos da caridade material e moral.
Que descansem suas lnguas descuidadas os que interpretam erroneamente o
Espiritismo .Utilizem mais o tempo em pesquisar e aprender, para que no estacionem na
casta dos ignorantes, que por sinal enorme nos meios religiosos. Quem sabe, se estudando
um pouco a doutrina dos Espritos, no venham a conhecer melhor a si prprios?
Afinal, conhecer suas prprias limitaes tambm uma maneira de libertar-se.
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Cobram os Espritos pelas curas que fazem? Exigem remunerao os Espritos que
escrevem? Kardec escreveu fora dos direitos autorais no h salvao? Jesus aconselhou
vender o que de graa se recebe?
Quando um homem comete um erro por ignorncia, tem sempre atenuantes a seu
favor. Quando ele erra naquilo em que ou deveria ser especialista, tem agravantes no seu
tormento. O crime do inculto no o mesmo do legislador. Quem deveria ser a sentinela da
liberdade no pode jamais aprisionar. O pastor da luz no pode associar-se penumbra.
Lamentvel, portanto, toda tentativa de obstaculizar a socializao do saber, porque
atitude anti-fraterna, anti-evolutiva e anti-esprita. Sementes para germinar necessitam de
luz. O carcereiro da luz o mesmo matador de sementes. Como Jesus interpretaria a atitude
de um matador de sementes? Obviamente lamentaria o seu gesto e lhe diria: Brilhe a tua
luz diante do mundo! Todavia, em seu corao Jesus sabe que a relao de proximidade
luz-carcereiro inversa, ou seja, quanto mais o homem nega a luz, mais ela se distancia
dele. Com a mesma velocidade que a luz parte, 300.000km/s, a sombra tambm chega para
aquele que a expulsa.
No incio Deus disse: Faa-se a luz! E a luz se fez. A Doutrina Esprita, luz em
forma de postulados, no pode deter-se em observao de quem no se afina com ela.
Continua e continuar o seu fiat lux para os homens, com os homens, malgrado os
homens. Aquele que lhe colocar empecilhos, corre o risco de ofuscar-se e marginalizar-se
do maior de todos os bens, a luz.
Aqui, como em tudo, lembremos os sbios conselhos do Cristo. Ningum, pois,
acende uma luzerna e a cobre com alguma vasilha, ou a pe debaixo da cama; pe-na, sim,
sobre um candeeiro, para que vejam a luz os que entrem.
Portanto, amigos, no desprezemos a luz, pois pode chegar o dia em que precisemos
correr atrs de um simples pirilampo na densa treva da noite.
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Superdotados e infradotados
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em O Livro dos Espritos: ... No resta dvida que as almas so iguais ao nascer ou so
desiguais. Se so iguais por que as aptides to diversas? Dir-se-ia que isso depende do
organismo? ento, a doutrina mais monstruosa e mais imoral. O homem no mais que
uma mquina, joguete da matria, sem responsabilidade dos seus atos, podendo tudo repelir
em razo de suas imperfeies fsicas. Se elas so desiguais que Deus as criou assim; mas,
ento, por que a superioridade inata concedida a algumas? Esta parcialidade est conforme
a sua justia e o amor igual que ele tem a todas as suas criaturas?
Admitamos, ao contrrio, uma sucesso de existncias anteriores progressivas e tudo
est explicado. Os homens trazem ao nascer, a intuio do que aprenderam antes. Eles so
mais ou menos avanados segundo o nmero de existncias que viveram, segundo estejam
mais ou menos distantes do ponto de partida; absolutamente como, em uma reunio de
indivduos de todas as idades, cada um ter um desenvolvimento proporcional ao nmero
de anos que tenha vivido.
A problemtica do superdotado portanto explicada e de fcil compreenso
segundo a tica reencarnacionista, ponto inicial para a sua discusso e soluo. No se trata
de conceder privilgios, dando margem a que o orgulho aconselhe ao superdotado a falsa
posio de superioridade. Mas, aproveitar-lhe o potencial a favor dos demais e facultar-lhe
o crescimento a partir do que j atingiu. E isso a escola leiga e a escola esprita podem
fazer.
Trabalhando nesse sentido, evita-se a solido e a inadaptao do superdotado em
meio ao senso comum, por ele j ultrapassado. Entendamos que tratar os diferentes de
maneira diferente no conceder-lhes favores imerecidos, mas, principio de justia, virtude
que deve orientar qualquer sistema educacional.
Quantos no so os aprendizes que superam os mestres? No necessrio que nos
tornemos espritas para entendermos to claro raciocnio. urgente apenas que sejamos
racionais. E quando atingirmos tal estgio, superdotados e infradotados sero apenas alunos
em estgios diferentes no longo curso da vida.
Nesse dia, difcil ser no ser esprita.
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A verdade
... Jesus j fora interrogado por Ans acerca dos seus discpulos e da sua doutrina.
Dissera que falara abertamente nas sinagogas e nas praas, nada ocultando de si e de sua
boa nova. Havia sido esbofeteado por um criado do sumo sacerdote por essa resposta, e
seguira manietado a Caifs, para nova audincia. Mas, Caifs, para no contaminar-se, pois
era Pscoa, o enviou a Pilatos. Este, preocupado apenas com ttulos e honrarias e sobretudo
em no perde-los, indagou: tu s o Rei dos Judeus? Jesus tenta explicar que seu reino no
pertencia ao mundo material, mas Pilatos, homem do mundo, no poderia entender a
sutileza de um plano menos palpvel. Logo tu s rei? Repete o administrador a pergunta
com ar de curiosidade. Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao
mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que da verdade ouve a minha
voz. Foi a resposta do mestre. Ento, surpreendentemente, aquele homem ntimo das
mentiras e futilidades mundanas perguntou: Que a verdade?
Jesus silenciou entendendo a inutilidade das palavras naquele momento. Exaltou o
silncio que induz a reflexes e que fala por milhes de palavras em sua discrio e
eloquncia. A pergunta de Pilatos todavia, continua a fazer parte da busca e dos
questionamentos humanos, mesmo aps Jesus haver afirmado ser o Caminho, a Verdade e a
Vida.
Na velha Grcia, a preocupao com o conhecimento, ou seja, com a verdade
fundamental das coisas, com a essncia, com a separao do aparente e ilusrio do real e
imutvel, foi o centro de toda a filosofia.
Herclito, apresentava a natureza como um eterno escoar de acontecimentos a
caminho do seu contrrio, nada sendo igual no momento seguinte, ao que era no instante
anterior. So sua palavras: No podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque as
guas nunca so as mesmas e ns nunca somos os mesmos. Para esse filsofo, tudo
caminhava para o polo oposto de si mesmo, assim como a noite traz o dia, o inverno traz o
vero e a vida traz a morte. Nesse contexto, a realidade se baseia na harmonia dos
contrrios, sendo necessrio para isso uma separao entre o que os sentidos percebem e o
que o pensamento deduz. Herclito chama a ateno para a instabilidade mostrada pelo
pensamento, em contraste para a estabilidade registrada pela percepo, afirmando como
verdade o que o pensamento alcana.
Parmnides, em oposio a Herclito, fundamentou seu pensamento do seguinte
modo: s podemos pensar naquilo que permanece idntico a si prprio. Coisas que so
instveis, que mudam a cada instante, que so contrrias, mutantes, no podem ser
conhecidas, pois conhecer dominar o idntico. Se no mundo o quente esfria, o frio se
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aquece, a gua se transforma em vapor e este volve a gua, a primavera traz o outono, que
passado primavera, no d para pensar o instvel, que a cada intervalo contrrio a si
mesmo. Herclito e Parmnides faziam a distino entre pensamento e percepo, mas o
segundo afirmava ser o instvel impossvel de deduo pelo pensamento e que somente o
imutvel era objeto do pensar.
Demcrito foi mais alm em sua intuio cientfica, ao dizer que tudo na natureza
era formado por tomos. Criou ento o atomismo. tomo quer dizer, indivisvel, o que no
corresponde a realidade atual, onde o tomo j quebrado para que dele se libere a energia
do seu ncleo. Para Demcrito, os seres surgem por arranjos de tomos, transformam-se por
novos arranjos e morrem pela desagregao desses arranjos. Para a sua poca esse
pensamento e essa deduo eram avanadssimos, pois no fica muito a dever s concluses
modernas.
Ao afirmar que somente o pensamento poderia conhecer os tomos, imperceptveis a
viso comum, Demcrito tambm estabelecia uma diferena entre o que se percebe pelos
sentidos e o que se conhece pelo pensamento, concordando com a opinio dos dois
filsofos j citados, mas, atribuindo maior valor a verdade apreendida pelo pensamento.
Em meio a este cenrio surgem sofistas de um lado e Scrates de outro, buscando a
verdade por caminhos opostos. Os sofistas concordavam na impossibilidade de
conhecermos o Ser, devido a subjetividade de opinies que temos da realidade. Devido a
isso, valorizavam o poder da linguagem como elemento persuasivo para impor as idias. A
verdade para os sofistas era centrada no discurso, razo pela qual colocavam a percepo e
o pensamento abaixo da opinio e da persuaso.
Scrates, preocupado em no desvincular a moral, da filosofia, em estabelecer as
diferenas entre conhecimento verdadeiro e iluso, entre os valores imutveis e os falsos
valores, empenhou todas as suas energias em tornar tico o conhecimento e a sua aplicao,
estabelecendo como verdade, a justia, o amor, o bem... situando-se na vanguarda do
pensamento cristo.
Com o seu criterioso mtodo conhece-te a ti mesmo Scrates aconselhava para o
conhecimento da verdade, o afastamento das iluses dos sentidos, das palavras e opinies
particulares, para se alcanar a verdade j conquistada por cada um. Acreditando ser o
homem uma alma com vivncias anteriores ao bero e posteriores ao tmulo, atravs de sua
maiutica, arte de partejar, ou seja, multiplicar as perguntas a fim de obter por induo
dos casos particulares e concretos um conceito geral do objeto em questo, o filsofo
extraia do seu aluno, ensinamentos j registrados em sua mente. Tais ensinamentos
poderiam ter sido adquiridos em etapas reencarnatrias passadas, ou mesmo na atual,
havendo a necessidade de levar o aprendiz a sucessivas buscas perceptivas, at faz-lo
chegar por si mesmo a concluso acerca do assunto comentado.
O curioso, que muitas vezes, durante o parto das idias, o aluno caia em
contradio com seus prprios conceitos de ento, reformulando-os, complementando-os e
aperfeioando-os no final do dilogo. Scrates tinha a habilidade de levar o aluno a
reflexo, de sacudir as suas idias, de desafi-lo, extrair dele conceitos que ele prprio
julgava desconhecer.
Jesus advertiu: conhecers a verdade e ela vos libertar, e Scrates aconselhou o
conhece-te a ti mesmo, como caminhos para o entendimento da verdade, guardando-se as
propores evolutivas de cada um. Sem saber quem sou, como sou e por que sou, fica
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difcil conhecer a intimidade das leis naturais. Se no me entendo enquanto ser pensante na
busca da verdade, qualquer verdade que encontre, cai no meu no entendimento,
tornando-se incompleta em sua essncia.
A aquisio da verdade desse modo, gradativa, conforme o conhecimento que cada
um tem de si e das coisas. Acumulando conhecimento, aprimorando idias, o Esprito se
aperfeioa, a medida que exercita sua inteligncia nos dois planos da vida. A proporo que
se conhece, vai entendendo o universo, pois faz parte dele, vai penetrando no pensamento
divino, pois nele est inserido.
A verdade no vem em pacotes, arrancada dos entulhos da iluso, garimpada em
meio aos enganos da percepo ilusria e dos sentimentos mutantes. A verdade dorme em
meio a cipoal e geralmente, para conquist-la, nos ferimos algumas vezes.
Mas, Jesus no conseguiu dizer tudo o quanto necessitava o mundo. E ao partir,
prometeu enviar o Esprito de Verdade para complementar a sua misso.
Na sesso de 25 de maro de 1856, realizada em casa do Sr. Baudin, o futuro Allan
Kardec, posto que assim ainda no se batizara, indaga ao Esprito comunicante que o
orienta qual a sua identidade. A resposta no se fez esperar. Para ti, chamar-me-ei
Verdade. Este, como Jesus, trouxe a boa nova, veio trazer a boa verdade, universal,
cristalina, sem os costumeiros partidarismos dos homens. Guia da falange de Espritos
superiores encarregados de trazer o Consolador Terra, achou por bem chamar-se verdade,
virtude que entra e cabe em qualquer templo, religio ou corao que a busque.
Fala da essncia , do Esprito, do ser enquanto ser, busca da filosofia iniciada entre
os gregos na antigidade. Alis, eles prprios voltaram aps demorados estudos no plano
espiritual, de vez que Scrates e Plato foram colaboradores na elaborao da proposta
esprita. Abre as portas do mundo espiritual, revelando seus mistrios. Aplica o golpe de
misericrdia na morte eternizando a vida. Revela o criador do universo como inteligncia
suprema, coloca o Esprito como sua criao imortal, submetido a evoluo atravs das
reencarnaes, interligadas pela lei de causa e efeito. Confirma a excelsitude de Jesus,
apontando-o como guia e modelo para a humanidade fundamentando em seus
ensinamentos a essncia da nova revelao. Revela aos homens o que o mestre no havia
dito, por falta de suporte moral-intelectual na mentalidade da poca, antecipando as
preocupaes e buscas da cincia quanto a vida em outros mundos e ao corpo espiritual.
Expe as leis naturais priorizando a caridade como virtude mxima, regente das aes
humanas.
A Doutrina Esprita extinguiu o sobrenatural e o misterioso ao dar explicaes
naturais aos fatos miraculosos. Definindo a mediunidade como faculdade humana, colocou
os mdiuns, antes tidos como anormais, no terreno paranormal, estabelecendo o
intercmbio saudvel com o alm, ao fixar normas e critrios para essa prtica.
O Esprito de Verdade, como de se esperar da verdade, pulverizou mitos e
fantasias que pesavam sobre o Esprito, definindo-o como, princpio inteligente do
universo, conquistador de seus mritos e construtor de suas desgraas, mediante o uso do
seu livre arbtrio. Reduziu a cinzas os conceitos estticos e alienantes de cu, inferno e
purgatrio, tratando-os como estados transitrios da alma, em seus xtases ou tormentos.
O Espiritismo jamais negou a existncia de regies de intenso sofrimento no alm,
todavia, sempre enfatizou o seu carter transitrio, proporcional aos demritos de cada um.
O cu para o esprita no uma regio geogrfica plena de ociosidade, mas o estado de paz
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consciencial, de felicidade pelo dever cumprido; o libertar-se das encarnaes nos mundos
inferiores e adentrar os planos divinos.
A foice que o Espiritismo trouxe, atingiu tambm o perdo gratuito ao infrator das
leis naturais, os privilgios de casta, a salvao pelo rtulo religioso, a cadeira cativa para
quem se diz infalvel, tudo isso ao melhor estilo evanglico, quando diz: a cada um dado
segundo as suas obras. Esse departamento, o de conceder mritos a algum, de
competncia da justia, definida pela Doutrina Esprita como respeito aos direitos de cada
um .
Portanto, quem tem direitos, os receber, e quem no os tem que trate de conquistlos. No sei como se faz em outras instncias, mas no Espiritismo a mquina da evoluo
tem muitos vages e poucos passageiros. Quem traz o suor no rosto e o amor no corao
tem sempre um lugar reservado nessa locomotiva. Quem no apresenta essas credenciais
fica na estao a espera do prximo trem.
Assim a verdade esprita, que no diferente da verdade de Scrates, de Jesus, dos
Espritos superiores, seus enviados para libertar as almas pelo conhecimento da verdade.
Todavia, para os no crentes nessa verdade, vale repetir e finalizar o artigo com as
palavras de Jesus: ... Para isso vim a este mundo, a fim de dar testemunho da verdade.
Todo aquele que da verdade ouve a minha voz.
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Mudana de sexo
Quem estuda est sempre carregando alguma dvida consigo. Nada mais natural que
isso ocorra, de vez que sendo a cincia e o aprendizado do Esprito extensos caminhos,
torna-se obrigatrio na evoluo deste, questionamentos e meditaes, a semelhana do
garimpeiro que separa de toneladas de cascalhos o diamante que lhe satisfaz.
E foi pesquisando o tema, mudana de sexo que cheguei a O Livro dos
Espritos, a pergunta 202. o seu contedo: Quando se Esprito, prefere-se encarnar no
corpo de um homem ou de uma mulher? - Isso pouco importa ao Esprito; ele escolhe
segundo as provas que deve suportar.
Kardec acrescenta: Os Espritos se encarnam homens ou mulheres porque eles no
tm sexos. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posio social, lhe
oferece provas e deveres especiais, alm de oportunidade de adquirir experincia. Aquele
que fosse sempre homem no saberia seno o que sabem os homens.
Mas, por fora do hbito que adquiri de no discordar a priori de tudo quanto me
chega ao conhecimento, antes analisando friamente o ensinamento apresentado, como
aconselha a doutrina, passei aos questionamentos rotineiros de contestao. Ora, quando um
ensinamento resiste ao debate, a argumentao, a contestao e sai inclume em meio aos
porqus e aos e se..., ou seja, aprovado pelo crivo da razo, d mostras de ser um bom
caminho a ser percorrido.
Ocorre, que a possibilidade de um Esprito sempre encarnando como homem ou
como mulher poder chegar ao ponto evolutivo onde no mais seja necessrio a condio
sexual, nunca fora descartada por mim, justamente porque os argumentos que sempre me
apresentaram, foram frgeis demais para uma postura cientfica.
preciso encarnar como mulher para aprimorar a ternura, a sensibilidade... . A
afirmativa machista que ternura e sensibilidade coisa de mulher, no convence o senso
crtico de ningum. Jesus era chamado de meigo e doce Rabi da Galilia. Que sensibilidade
mais apurada que a dos compositores de msicas eruditas? No foram eles em sua
esmagadora maioria homens? E os poetas, pintores...?
Tais argumentos podem ser desprezados pela inconsistncia. Ternura, meiguice,
sensibilidade... so atributos do Esprito, e isso ele pode obter na condio de homem ou de
mulher. De que o Esprito precisa para a sua evoluo? Centralizei a questo nesse
raciocnio. Duas asas, segundo Emmanuel. Sabedoria e moral. A primeira algo que
transcende cincia, a filosofia, as artes... e a segunda resume as virtudes, ultrapassando os
cdigos de tica apresentados pela prpria religio, que tambm evolui em seus
ensinamentos.
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anormais. As viragos, de carter e gostos varonis, algumas das quais apresentam ainda
vestgios dos atributos de outro sexo, por exemplo, barba no mento, so, evidentemente,
homens reencarnados. Elas nada tm de esttico e sedutor; sucede o mesmo com os homens
efeminados, que tm todos os caractersticos das filhas de Eva e acham-se como transviados
na vida. Quando um Esprito se afez a um sexo, mau para ele sair do que se tornou a sua
natureza.
Exageros parte, Leon Denis tambm admite a possibilidade de o Esprito
permanecer encarnando em apenas um sexo, e mais, afirma ser intil e perigosa a
alternncia, pelo efeito complicador que ele produz no comportamento e na aparncia fsica
do futuro corpo.
Certamente, depois de dez ou vinte encarnaes em um mesmo sexo, o Esprito
deve criar condicionamentos relativos ao modo de agir daquele sexo, havendo a
necessidade de um descondicionamento, ajuste psicolgico, ao novo mtodo de agir ou
maneira de comportar-se. Creio que o ponto central da questo atrela-se a rea psicolgica e
no ao campo anatmico-fisiolgico, de vez, que este determinado pela carga gentica e
aquele fruto de condies intrnsecas do Esprito. obvio que por ocasio do reencarne, o
reencarnante pode trazer anomalias perispirituais, a modelar o futuro corpo, sob orientao
gentica.
Assim, em ltima instncia, os arranjos genticos sero presididos e encaminhados a
gerarem esta ou aquela patologia, necessria a evoluo daquele Esprito. E a que propsito
citamos este detalhe? Para separarmos a questo sexual, desvinculando-a das leis de causa e
efeito. Algum pode nascer homem e mulher por injunes crmicas, mas essa lei,
fundamentalmente no existe para determinar alternncia de sexos entre Espritos.
Algum pode encarnar como homem e ser imberbe por fora de fatores hormonais,
ou na condio de mulher ter o seu bigodinho sem necessariamente ter encarnado em
sexo oposto na romagem terrena prxima passada, ou mesmo por dvidas crmicas.
Vincular barbas e atitudes mais delicadas ou varonis ao carma ou a mudana de sexo entre
os Espritos me parece amesquinhar a essncia dessa lei que fazer valer a justia no
relacionamento humano.
Portanto, mesmo admitindo que a passagem de um sexo para outro seja
perfeitamente lgica e possvel, eu no colocaria um ponto final na questo, quanto a
possibilidade de o Espirito evoluir atravs de encarnaes em um nico sexo. Basta que
apenas um consiga esta proeza para invalidar a obrigatoriedade a que muitos atribuem a
essa alternao.
Teoricamente, no h empecilhos reais e inamovveis para a existncia dessa
possibilidade, alis, defendida por Leon Denis e por seus guias. No momento atual, quando
a mulher tem acesso ao campo profissional e intelectual, antes apenas masculino, o
raciocnio de kardec a respeito do tema, no tem tanta sustentao quanto em sua poca.
Partindo-se do principio que no existe virtude ou defeito masculino ou feminino,
mas espiritual, ou seja, adquirido pelo Esprito, tambm no se v a obrigatoriedade de
alternncia sexual para aquisio desta ou alijamento daquele.
Aprende-se pela observao, pelo estudo, pela vivncia...
Quais seriam as virtudes especficas de cada sexo? Continuo no sabendo responder, talvez
porque todas elas sejam de ambos. Se algum me disser que para aprender a criar filhos
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necessrio nascer mulher, certamente vou lhe perguntar: para aprender a no ser suicida
necessrio praticar o suicdio?
Para fechar o assunto, o considero em aberto, ou seja, admito a possibilidade de um
Esprito evoluir reencarnando apenas como homem ou mulher, at que, fatos concretos ou
slidos argumentos me provem o contrrio
Na pequena livraria do Centro Esprita onde trabalho, e trabalho duro, pois diz a
doutrina que o limite do trabalho o limite das foras, tem-se pequena amostra da
preferncia dos leitores espritas, cuja maioria parece cansada demais para estudar.
Aqui fao a distino entre estudo e leitura, pois o primeiro requer pesquisa,
aprofundamento, debates, e a segunda, uma boa rede para que as letrinhas fiquem
gradativamente menores... at o sono atacar de vez. O pblico maior aquele que adora ler
pequenas mensagens. So lindas, dizem. Quanto mais curtas, mais empolgantes.
Se Andr Luiz ou Emmanuel caprichar mais na extenso da mensagem, ela j no
parece to consoladora . Gosto de mensagens pequenas. Dessas que Jesus disse: Dai a
Csar o que de Csar e a Deus o que de Deus, ouvi um confrade confidenciar-me em
meio a uma palestra. O aprofundamento nesta frase daria para escrever um livro to
volumoso quanto a Bblia, disse-lhe. Mas, ele rebateu: Por isso no leio a Bblia.
Aps o pblico das mensagens, segue-se a preferncia pelos romances. Quanto
maior a semelhana com novelas lacrimosas, mais agradvel de ler. Algumas pessoas
choram emocionadas envolvidas com o drama apresentado pela leitura, e no final, no h
um resumo prtico para aplicao no cotidiano. Nada tenho contra romances espritas,
notadamente os escritos por Emmanuel. Mas, o valor literrio e doutrinrio de alguns no
so de alta qualidade, gua com acar como se diz, investimento cultural sem grandes
lucros.
As obras bsicas, o aspecto cientfico e filosfico da doutrina, a pesquisa sria, os
livros que realmente orientam e fornecem base slida para o domnio do conhecimento, so
relegados poeira das prateleiras. Os caadores de mensagens e de romances parecem
alrgicos ao estudo metdico e com intensa fobia ao debate filosfico, poltico, social,
antropolgico, sexual... Tudo isso no cincia? Quando comparecem a um desses grupos
de estudos, comeam a sentir dor de cabea, calafrios, nsias de respirar l fora, porque
assistem ao indigesto. O amai-vos e instrui-vos tratado como lema de outra escola,
talvez a dos loucos, que sentem imenso prazer em conhecer a essncia das coisas.
Certa feita, depois de participar de um debate sobre as trs faces da doutrina, uma
senhora me abordou para perguntar: Esse o primeiro livro esprita que estou lendo, o
senhor acha um bom comeo? Olhei o livro nas mos da senhora (Brida) e respondi: Nem
esse livro esprita nem o seu comeo foi dos melhores. A mulher tomou um susto. Por que
o senhor no gosta desse autor? Continuou a mulher o seu interrogatrio.
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- Minha senhora. Qualquer pessoa que afirme fazer chover a qualquer hora, no
um bom escritor.
Aconselhei ento a leitura de O Livro dos Espritos, obra bsica do Espiritismo.
Mas, o que fazer, quando livrarias espritas misturam obras espritas com obras
espiritualistas e at com obras vulgares? Uma livraria pode vender qualquer obra, mas se
ela esprita o assunto muda de figura. Que pelo menos ela separe o livro esprita de um
lado e o no esprita de outro. A S.O.S. livros espritas, uma das estandes que representou o
movimento esprita na bienal de So Paulo deu pssimo exemplo ao vender
indiscriminadamente livros de Paulo Coelho e outros livros esotricos, sem esclarecer ao
visitante a diferena entre o ao e o bagao. Alis, comum no meio esprita considerar-se
Ubaldi e Ramatis como autores espritas, e agora, com a conivncia da S.O.S. livros
espritas corremos o risco de trazer para a doutrina a imagem de Paulo Coelho, que de
esprita no tem absolutamente nada. Fecho questo sobre ele com uma destacada escritora
cearense, Rachel de Queiroz, ao comentar a obra do citado cidado: No sei como ele
consegue vender livros. Tentei ler um deles e no consegui passar da oitava pgina.
Pelo que se observa, a divulgao doutrinria no vai l bem das pernas, a comear
pela FEB, duramente criticada pela sua posio Roustainguista, sem respaldo portanto, para
cobrar das demais entidades a pureza e a coerncia doutrinrias. Louve-se as editoras, que
atravs de seus conselhos editoriais, fazem a seleo das obras a editar, tomando como
referencial Jesus e Kardec. Que seja valorizada a fidelidade aos fundamentos bsicos da
doutrina e no aos rendimentos que possam surgir da venda de obras pueris ou fantasiosas.
Atento ao gosto dos caadores de romances, as editoras os empurram para as
livrarias, alguns deles sem consistncia doutrinria, e por isso mesmo com zero de
contribuio para a evoluo do movimento. So os romances rapadura, pois que atraem
pelo acar que trazem, alimentando mais a preguia mental que a sede de aprender. Os
leitores de mensagens e romances, geralmente no resistem a uma discusso fundamentada,
onde sejam exigidos os princpios bsicos e seus desdobramentos, onde a argumentao
inteligente, a defesa slida, a explicao coerente sejam o poema a ser escrito. Para tais
alunos, o simples clculo 2+2 j contorcionismo mental.
Nas vitrines h romances de todos os tipos, de todas as flores, de todas as dores,
como se as flores e as dores fossem ineditismo no mundo. Romances que agradam pelo
drama ou pela trama, mas que no sacodem, no desafiam os leitores a se tornarem
estudantes. Os grupos de estudos doutrinrios so escassos no pas. Grupos de
aprofundamento, esses so ainda mais raros. Por que ser que o conhecimento metdico,
seqenciado, aprofundado, to difcil de ser construdo? Por que a falta de afinidade com
essa construo? Haver uma outra maneira de ser esprita?
Na verdade, Kardec foi exemplo tambm nessa postura. Estudou e pesquisou a
doutrina desde que a conheceu at a pulsao final do seu corao indomvel. Por isso tinha
argumentos para responder a qualquer mistificao ou agresso aos postulados que ajudara
a organizar. Isso que se chama construir sobre a rocha, ou desespero dos detratores, ou
ainda, referencial de segurana.
A preocupao de ser instrudo na doutrina to importante quanto a de ser
caridoso. Alis, a caridade ingnua e sem sabedoria tem estreitos limites em sua aplicao.
Alguns julgam que sendo caridosos, mas sem instruo, Deus ir instruir-lhes em todos os
instantes onde o saber cientfico ou filosfico for exigido. Ser?
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Invaso cultural
Ao fazer uma pesquisa com meus alunos sobre seus dolos, deparei-me com extenso
material para reflexo, e por que no dizer, para preocupao. Dos 40 alunos que
responderam pergunta, qual o seu maior dolo, somente 4 disseram ser Jesus um dolo
para a juventude. Os demais apontaram Michael Jackson, Ronaldinho, Xuxa, Madona...
entre outros.
Fato sintomtico, essa opo por culturas inteis e alienantes, diz bastante da alma
de um povo, que ainda no se definiu por valores positivos e duradouros. Um povo que
acostumou-se ao colonialismo cultural, ao modismo importado, a ter sua vontade
subjugada, sua auto-crtica amordaada, ao afastamento de suas razes.
H mais de meio sculo que o Brasil vem sofrendo esse processo de invaso
cultural, hoje instalado atravs de marcas de roupas, eletrodomsticos, veculos, cigarros,
alimentos, produtos de limpeza e de beleza, msicas, armas, nomes de lojas, revistas... que
diretamente proporcional ao esquecimento de sua prpria identidade.
A juventude no assistiu a esse incio de invaso e no consegue distinguir a cultura
invasora da cultura invadida, mesmo porque a Histria oficial no tem se empenhado em
resgatar o passado, nossa realidade histrica, onde ndios, negros e brancos construram to
formidvel pas. Ser por vergonha dos massacres de ndios e negros? Claro que no
apenas por isso. O motivo principal a aprovao, a permisso, a identificao das classes
dominantes com o capital estrangeiro.
O estilo americano, basta ter vontade para ser vitorioso, a riqueza acessvel a
todos, parece fascinar muitos brasileiros que, contaminados pelos enlatados da TV,
filmes e FMs, se deixam americanizar, perdendo assim suas razes histricas, passando a ser
simplesmente consumidores, obedientes e passivos defensores das multinacionais.
Toda essa absoro de costumes estrangeiros desvia a ateno dos verdadeiros
problemas brasileiros, deixando a poltica e os polticos vontade para impor diretrizes que
fortalecem o continusmo, ou seja, o enriquecimento ilcito, a injustia social, a corrupo, a
sonegao e a violncia generalizada. E o que pior. Chegando aos mais distantes recantos
do pas atravs da televiso, os enlatados conseguem contaminar trabalhadores rurais,
bias-frias, pees... que se deixam domesticar, tornando-se dceis e mansinhos a seus
espoliadores.
As lutas de classe, as razes histricas, as diversidades regionais, a individualidade
prpria de cada indivduo, o incmodo que a injustia causa, o menino de rua, o sem terra,
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Jesus salva, o dio entre pessoas que pensam diferente... O mundo precisa de paz. E para
que ela exista, h de se respeitar a religio, a cultura, os hbitos de cada pas.
Discriminar algum por ter uma postura religiosa diferente aprofundar a discrdia
e o ressentimento. Cada indivduo tem o direito de ter a sua religio e de agrupar-se com os
seus iguais, desde que o seu procedimento seja tico. O mesmo vale para os pases.
Um cidado, morador do condomnio onde habito, me ofereceu um plstico para
colocar no vidro do carro, com a seguinte frase: Tudo com Jesus. Nada sem Maria.
Rejeitei o presente, com a justificativa de que tambm gostava de Buda, Confcio,
Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Antnio de Pdua... O homem no entendeu nada.
Como assim? Perguntou-me. Se s Jesus e Maria salvam, o que fazer com milhes de
chineses, indianos, japoneses, ndios... Um dia eles vo conhec-LOS e sero salvos.
Respondeu-me.
O que o homem no conseguia entender era a atitude dinmica da salvao. ( No
gosto dessa palavra. Prefiro evoluo)
Amar a Deus e ao prximo. Eis toda lei e os profetas. Ento o certo seria: Sem amor
a Deus e ao prximo no h salvao. Isso eliminaria rtulos e personagens religiosas para
atingir a tal salvao, desde que, naturalmente, seja sincero esse amor a Deus e ao prximo.
Se o ser humano pode assim proceder em qualquer latitude do planeta, igualmente pode
salvar-se onde estiver. E jamais ser diferente. Deus no poderia deixar um de seus filhos
sequer sem essa oportunidade, igual para todos.
Kardec foi mais realista e coerente, ao escolher junto com os Espritos a caridade
como virtude maior para o exerccio doutrinrio. A caridade universal. No pertence a
nenhuma religio em particular, e de todas ao mesmo tempo. Em todos os tempos e
lugares, os missionrios de Jesus repetem suas verdades insistentemente, modificadas
conforme os costumes, mas semelhantes em sua essncia, ou seja, algo divergente na
forma, mas convergente no mago.
Os povos devem invadir a privacidade uns dos outros pela via da caridade. A
caridade no conhece diferenas de latitude e no faz distino dos homens pela cor.
Quando o interesse de um povo sobre outro for administrado pela justia e pela caridade,
tais invases culturais e expoliaes de bens materiais estaro acabados.
A caridade paciente; benigna, no invejosa, no busca seus prprios
interesses....
A caridade um dia invadir toda a Terra e submeter toda a cultura ao seu perfume.
Ento, a Terra ser um lar.
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Amnsia
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sopro de vida. O corpo uma mquina que o corao movimenta; existe enquanto o
corao faz circular o sangue nas veias; e para isso no necessita da alma.
O aperfeioamento da matria, aliada ao princpio inteligente e a posteriori ao
Esprito, deu origem aos automatismos. O Esprito, partindo dos instintos para a angelitude,
necessitando e contribuindo para a sutileza e aprimoramento de seus corpos, imprime nestes
a sua vontade soberana fazendo-os geis e maleveis. O Esprito, ao passar de um mundo
para outro, troca de fluidos perispirituais e no de perisprito. Este, herdeiro de tantos
reflexos e automatismos no poderia deixa-los a cada troca de mundo. Esse patrimnio
permanece com ele e aperfeioa-se com ele.
A frma perispiritual, preenchida com os fluidos do mundo em que vem habitar,
para que atravs destes, possa perceber as impresses e especificidades prprias do planeta.
S h interao com a matria daquele mundo, caso haja no perisprito do visitante a
afinidade fludica que permita o revestimento perispiritual levado a efeito com os citados
fluidos. Quando um Esprito superior precisa atuar na Terra, toma dos fluidos terrenos o
material que dever compor ( talvez, para efeito didtico, fosse melhor dizer a expresso
preencher) o seu perisprito, o que lhe imprimir a lentido, o cansao, a reduo do
potencial vibratrio e todas as limitaes concernentes aos habitantes terrenos.
importante lembrar que, quanto mais evoludo o Esprito, maiores condies ele
ter de retirar da atmosfera planetria os fluidos mais puros para compor o seu perisprito.
Mesmo assim, as vertigens da fome, sede, frio, calor... todas as leis fsicas do planeta lhe
pesaro sobre os ombros, pois ao tomar os fluidos do planeta ele passa a fazer parte daquele
mundo, estando portanto submetido as suas diretrizes fsicas. S o amor puro faz um
missionrio das altas esferas encarnar na Terra e conviver com o sacrifcio que esta lhe
impe. Mas, o que no se faz por amor?
Podemos ento classificar a memria, a grosso modo, como sendo fisiolgica,
conquistas do corpo somtico e do perisprito, e psicolgica, referente ao Esprito, sede de
todo o conhecimento intelectual e moral. A memria psicolgica portanto, espiritual, e os
corpos que o Esprito utiliza funcionam como abafadores de sua grandeza ou de sua
misria. Alis, estes corpos so reflexos do Senhor da memria, o Esprito, que se ajustam,
no espao e no tempo, a sua condio evolutiva.
Por que ser, abro um parntese, que na velhice, vamos lembrando com detalhes de
acontecimentos de nossa infncia, quando na idade adulta eles estavam apagados? Seria
uma adaptao, uma preparao, uma volta infncia para nascermos novamente para o
mundo espiritual? Estaria a memria buscando contato com o ponto onde se viu abafada
pelo corpo somtico?
Estvamos discutindo tais sutilezas, quando o relgio nos avisou que o tempo
deveria ser utilizado pelos desencarnados, tambm estudantes, pertencentes ao grupo,
atuando em outra dimenso. Nosso amigo espiritual, ao utilizar o mdium, fez a seguinte
analogia: nas salas de aulas terrenas, o aluno, diante de um curso qualquer, pode ter
desempenho, mau, insuficiente, regular, bom ou excelente. O que tenho notado em termos
de memria, do lado de c, que ela pode receber a mesma classificao. Alguns chegam, e
lembram de encarnaes a perder de vista. Outros, mal conseguem lembrar da ltima. E
contou um caso ocorrido com um seu amigo, de boa memria.
... Quando ele chegou aqui, de repente ficou desmemoriado. Ningum entendia a
razo do esquecimento. Como?! Ele era um Esprito honesto, esforado, amante da paz e da
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justia, uma pessoa sem traumas... Mas deu um branco e ele no conseguia lembrar de
nada. Pois bem, submeteram-no a regresses de memria, palestras, meditaes... at que
descobriu-se a razo da amnsia. Ele estava com medo. Fra a sua ltima encarnao em
um planeta de provas e expiaes e ele estava temeroso de ir para um outro planeta
diferente, embora que superior Terra. Superado o impasse, a sua memria liberou as
conquistas efetuadas.
A aprendizagem um continum. No se deixa a Terra sem aprender as lies que
esta pode oferecer. Se todo o volume de ensinamentos do planeta pudesse ser absorvido
pelo bom aprendiz em 100 encarnaes, na 101 ele estaria apto a uma nova aventura em
um mundo melhor de condies imediatamente superiores Terra.
A memria se constri gradativamente, sem saltos que a deixe com lacunas
esvaziadas. Para habitar um mundo mais evoludo existe necessidade de amadurecimento
moral e intelectual por parte do Esprito ( patrimnio que constitui a memria) e tambm
dos automatismos do perisprito ( memria fisiolgica). por esta razo que algum que
no seja suficientemente evoludo no se adapta a um mundo melhor por absoluta falta de
adequao fisiolgica e psicolgica.
A sensao de mudar de cidade, de pas, de mundo, a idia que traz embutida um
esforo de adaptao, s vezes assusta o viajante. Assusta tanto, que pode bloquear sua
memria nos casos agudos de insegurana frente ao novo, como aconteceu no citado caso.
o drama de deixar os amigos, familiares, costumes, paisagens, de tornar-se
estranho em terra estranha. Todavia, a parentela do Esprito no consaginea, mas,
espiritual. Nesse contexto, ele sempre est entre irmos, desde que com eles tenha
afinidade. Nos mundos mais perfeitos, essa afinidade se alarga e caracteriza a esmagadora
maioria de seus habitantes. Em mundos mais inferiores, como a Terra, essa afinidade forma
pequenas ilhas frente aos interesses e objetivos de outros grupos.
De um mundo para outro a memria arrasta as experincias vividas e segue sempre
adicionando conhecimentos. Como o Esprito imortal, indestrutvel a sua memria. O
caso de amnsia provocado pelo medo de enfrentar um mundo novo surpreendeu aos
prprios Espritos, que com ele tiveram contato. A insegurana em determinadas disciplinas
escolares faz igualmente alguns estudantes passarem por brancos nas avaliaes.
Cultivemos o discernimento diante de nossas aflies e a fidelidade em nossa f.
Assim nossa memria caminhar nos trilhos da razo, sem necessidade de incluir lacunas
de esquecimento em meio ao oceano de conhecimento. Vivamos bons momentos, faamos
o bom combate e a amnsia s conseguir subtrair-nos os pesados fardos do orgulho,
egosmo, vaidade, intolerncia, e toda a crte de squitos que os acompanham. Assim como
a memria seletiva naquilo que lhe interessa, a amnsia tambm pode s-lo.
Saturemo-nos de Deus e em qualquer lugar estaremos presentes, e de tudo daremos
conta.
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fosse apenas trabalho, como incluir os enfermos? Se fosse apenas mental, o que dizer dos
loucos? Se a praticssemos apenas aos ps dos santos, como tratar os cegos? Deus sendo
justo, no deixaria nenhum dos seus filhos fora do alcance desse benefcio. A orao
palavra, pensamento, ao. Qualquer uma dessas trs faces pode voltar-se para Deus em
prece sublime. Mesmo o louco no cai no esquecimento, posto que os bons Espritos a
ningum excluem quando em suas oraes.
portanto a orao, um ato de f, falado, escrito, suado, cantado, de tantas maneiras
quantas sejam as que o bem possa expressar-se.
Quantos so os que oram em silncio nos laboratrios de pesquisa. So muitos os
poetas, palhaos, professores, os que retiram o lixo das avenidas, deixando-as suaves para
que os velhos no tropecem.
No centro Esprita, a orao movimenta e dinamiza as atividades com energia. a
palestra, o passe, a desobsesso, o atendimento fraterno, a evangelizao... No fingi orar
demasiado, porque no ser pelas muitas palavras que sereis atendidos, mas pela
sinceridade delas. ( O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec)
O Evangelho nos ensina, no a multiplicao das palavras, mas a sinceridade em
nossas boas obras. Que o desencarne nos encontre antes em trabalho que em louvaes
improdutivas. Na verdade, muitos confundem a louvao com a negociata, oferecendo a
Deus algumas frases e cnticos para depois pedir privilgios inconfessveis.
Nossos cantos se tornam sensveis a Deus quando entoados no tom da caridade. a
lio do Espiritismo para a humanidade. As notas musicais da Doutrina Esprita so de
luzes, amor e instruo. Amor dinmico e diversificado, pois ao que chamam de adorao
sem trabalho no amor, bajulao. O mesmo vale para a instruo, que permeia a
cincia, a filosofia, a arte e a religio.
Jesus, em seu apostolado, tinha sempre a pele queimada pelo sol e o suor como fruto
do seu trabalho. No fundou mosteiro para que os homens vivessem contemplativamente.
No ergueu catedrais para que pessoas famintas dormissem em suas caladas. Uma prece
cabe em qualquer lugar. Em qualquer espao pode haver trabalho. Convivendo com
pecadores e convertendo muitos com seu exemplo, Jesus convocava os homens ao trabalho
de renovao de suas prprias existncias, modificando hbitos e atitudes hostis, em gesto
de acolhimento.
O homem deve ao mundo em que nasce a preservao do bem j construdo e o bom
combate ao mal que encontra. Infeliz daquele que inverte essa equao e retarda o pndulo
do progresso. Pobre daquele cuja riqueza a contemplao, filha mimada da f sem obras.
O essencial no orar muito, mas orar bem, afirmam os Espritos, na maior entrevista do
mundo, levada a efeito por Allan kardec em O Livro dos Espritos.
Se na prece falamos com Deus, no trabalho estamos em Deus. Na porta do paraso
no se observa somente o desgaste das cordas vocais, mas igualmente as mos calejadas, os
ps cansados. O pssaro canta ao amanhecer e durante o dia busca alimento, colhe
pequenos ramos para o ninho, alimenta os filhotes... e canta ao entardecer. O homem faz
sua prece ao acordar, e noite, agradece a Deus pelo dia vivido.
A interao criador-criatura deve ser constante. o canto, a poesia, a luta, a
vida. Esta deve ser uma grande prece. Nesse contexto que considero desnecessrio sete
preces para uma reunio esprita, qualquer que seja o seu carter e a sua durao. O que se
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faz e como se faz na reunio, entendido e recebido como orao nos planos celestiais, de
vez que no existem reunies espritas destinadas a promover malefcios a ningum.
Se pela prece que nos lembramos de Deus pelo trabalho que esquecemos de ns.
Somos vida! Vida movimento, cor, riso, amizade, carinho, veleiros que chegam e que
partem a cada momento. A vida a rebeldia revolucionria que Jesus exemplificou; o
centralizar de energias para a conquista da verdade e da liberdade. Nem a formiga nem a
cigarra como herdeiras da coroa da vida, mas ambas fazendo o trabalho conjunto, pois se
preciso cantar urgente trabalhar.
Cultivemos a prece em nossos Centros Espritas. Todavia, no transformemos
nossas reunies em rosrio de cantilenas. A prece inicial e a final so bastantes, de vez que
entre uma e outra existe a prece maior que o trabalho. E que Deus nos ilumine para bem
sabermos o que orar.
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Concluso
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Os suicidas
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ideoplastia, arquivos da alma ... firmando-se como excelente fonte de pesquisa para aqueles
que por tais assuntos se interessem.
E foi estudando este livro que me afeioei de maneira perene aos suicidas, e deles
no esqueo nas preces que iniciam cada reunio de desobsesso. Fui alm. Organizei um
caderno que fica sempre sobre a mesa das reunies, em cujas pginas constam o nome de
centenas de suicidas, retirados de jornais, e noticirios. Dedico o primeiro minuto da
reunio para eles, ocasio em que lhes enviamos preces e vibraes, onde quer que se
encontrem. Por inmeras vezes tenho recebido a visita desses amigos, que agradecem o
apoio, a solidariedade na dor, a afeio, o amor, pois o que dedicamos a eles o pequeno
amor que temos.
Certa feita, um companheiro espiritual, um suicida j em recuperao, utilizou a
mediunidade psicofnica para pedir que colocssemos o seu nome em nosso caderno.
Dissemos na ocasio, que o nome de todos, estava escrito em um caderno mais extenso, o
nosso corao. Ele se emocionou e quis nos abraar, mas se o fizesse, disse, passaria
vibraes doloridas para a nossa alma e isso ele no queria. Na verdade, aprendi com
Yvonne Pereira a cultivar essa afeio, ela que igualmente alimentava uma grande ternura
pelos suicidas, tendo sido um deles em encarnao passada.
Tenho tido inmeras e belas alegrias com esse trabalho e no h caso de suicdio
que no me provoque compaixo. Tanto por saber do atroz sofrimento que o causa quanto
das terrveis dores que lhes so conseqncias. uma emoo que parece me fazer mais
humano, me arrancar do senso comum da noite e enviar ao vale da sombra e da morte, com
leve filete de luz.
Mas, por que algum resolve matar-se?
Por que tenta a fuga de uma situao real de vida intolervel, responde a psiquiatria. A
religio no capaz de evitar que algum se suicide? Isso relativo. H muitas religies e
pouca religiosidade. Rtulos so pregados a cada esquina. Sentimentos sinceros se firmam
no suor dos milnios. A grande maioria das religies possui um corpo de idias confusas no
que se refere ao ps-morte.
Paulo VI, falando a imprensa mundial disse: existe uma vida aps a morte, mas no
sabemos como ela . Essa afirmao, gravssima por sinal, deixa indeciso o Esprito, que
encara o amanh como uma incgnita. Sem o esclarecimento da religio, o homem apela
para a cultura exercitada em seu pas, sempre a da classe dominante, que geralmente
acorrentada aos bens materiais, tanto, que no o larga.
Os amigos de Csar, pela impossibilidade de amar a dois senhores, pouco sabem (
ou preferem ignorar) das coisas de Deus, razo pela qual no se tornam ntimos da f no
futuro, e o amor, esse sentimento que desata o n da corda dos enforcados, no consegue
pousar em seus calhamaos de incongruncias.
O homem sem bssola ou com seus instrumentos de orientao avariados, sempre
nufrago de algum oceano. Teorias psicolgicas e sociolgicas tentam explicar o suicdio
como fracasso na adaptao para com a vida, sem todavia, entrar no verdadeiro cerne da
questo.
O homem um Esprito imortal. Est submetido lei de evoluo e atravs de
inmeras encarnaes vai adquirindo o conhecimento que o liberta do domnio que a
matria exerce sobre ele. Nessa caminhada, os tropeos so geralmente a regra geral.
Pedagogicamente, o homem utiliza o erro como tentativa de acerto, firmando a experincia
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Fugas
Sempre fugi do natal. Talvez porque, quando criana, eles tenham sido inspidos,
sem ceias especiais, sem presentes, sem palavras.
Por muitos natais eu fiquei sozinho a espera que algo ou algum, fosse anjo ou
pessoa, que lembrasse da minha existncia e libertasse a minha alma da mistura de revolta e
ansiedade que eu sentia nesse dia, to iluminado para alguns e depressivo para outros.
Na velha casa onde eu morava, o natal chegava atravs das msicas do rdio,
divertimento predileto da minha me. Nessa poca, eu era um adolescente cheio de dvidas,
com cicatrizes no corpo, Esprito inquieto e sonhador. Lembro de um dia em que o rdio,
que fazia minha me cantar msicas de Orlando Silva, Francisco Alves, Slvio Caldas...
trouxe um som que me fascinou. Era um som de rebeldia, e de pronto me atraiu porque
sempre fui um rebelde com alvos definidos, ao contrrio dos rebeldes sem causa.
A minha rebeldia uma fora que transforma a pedra inculta em mrmore, terra
agreste em celeiros, descontentamento em satisfao. O som das guitarras dos Beatles, esse
era o conjunto que me eletrizou quando adolescente, passou a incendiar a minha vida, e eu
mudei na escola, no bairro, na poesia que escrevia e at na maneira de pentear os cabelos,
sempre de lado, moda Odete, criada por minha me.
S o natal continuou sendo o mesmo. Sempre adormecendo o meu lado alegre e
despertando a minha viso dramtica. Hoje, natal, noite, reconheo que fugi bem cedo para
outro tempo. Tempo em que se escuta milhares de sons, mas continua-se a acreditar que o
mais agradvel o silncio.
Nem todo conhecimento esprita acumulado ao longo de anos de estudos, que me
manda priorizar o trabalho junto aos tristes, consegue impedir essa fuga natalina. Por isso a
vida me tomou de assalto bem cedo e me levou infncia, tempos de liberdade, de
aventuras, de inconseqncia.
Naqueles dias, eu andava horas para tomar banho em uma lagoa, sem interessar-me
se ela estava poluda. Eu nem sabia o que era poluio. Corria atrs de borboletas, subia em
grandes rvores e gostava de pular de cima da casa s para sentir um friozinho na barriga
durante a queda sobre um monte de areia existente no quintal. Por muitas vezes cortei os
ps com vidros, arames e pedregulhos. Apanhei muitas vezes por essas aventuras, o que me
parecia um preo alto, mas que no vacilava em pagar.
Hoje sou estranhamente perfeccionista, exigente para comigo, para com a vida. s
vezes, sinto-me cansado, porque quem persegue a perfeio enfrenta volumosas decepes
e obstculos a cada trilha. Mas, essa mania vem de longe. Dos tempos em que fazia pipas.
Detalhadas, centrada em tcnicas, elas sempre voavam alm dos morcegos, que ao
entardecer acordavam para a lida. De quando em vez sou acometido dessa nostalgia. Parece
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que tive de adaptar-me vida por extrema presso, e no, por concordncia do meu
Esprito.
Meus companheiros so rudemente adultos e defendem esse estgio com o peso de
suas experincias, de adultos, claro. Meu trabalho severamente adulto. Minhas roupas
so rigorosamente adultas. Meu barbeiro sabe que meu corte adulto. Mas a vida em si
continua cheia de apelos saudosistas.
O cheiro de terra molhada, que eu respirava; as fruteiras atrs das cercas, que eu
pulava; o gado manso , que eu puxava o rabo; os passarinhos, que eu nunca atirei pedras; o
amanhecer e o entardecer, que eu adorava....
S o tempo de participar, envolver-se, vivenciar que parece tomado pelos gestos
de adulto. O processo de crescimento sofrido quando subtrai os contatos prazerosos do
Esprito com o seu meio.
Sinto uma imensa saudade do antes, quando brigvamos e instantes aps estvamos
unidos. No mundo dos adultos existe o ressentimento, a mgoa, essa coisa horrvel de
competir sem amparar a queda do outro. Os adultos tomam sorvete como se estivessem
ingerindo qualquer alimento. As crianas o fazem devagar, lambendo os dedos, e nunca
jogam a casquinha fora.
Mas, a vida. Tenho que conviver com a minha idade que tambm tem a sua beleza.
A beleza de identificar o senso do ridculo, a mesquinharia barata, e tentar no se
contaminar com eles.
J que estou de volta da viagem nostlgica do natal, registro nessa pgina minha
fotografia atual, para o velho lbum da vida.
Fotografia
Eu nunca estive em New York nem em Bombain
No conheo as ilhas do Caribe nem sinto vontade de visit-las
Eu no gosto de caviar nem saberia beber champanhe sem tossir
Eu nunca coloquei uma nica jia sobre a pele
No sou afeito a maquilagens ou carnavais
Meu nome jamais ocupou qualquer coluna social
Eu gosto de cho, de mato, de sol, de mar...
De gente simples, que tira o chapu quando fala em Deus
De pessoas que plantam, que vo ao leprosrio sem venda nos olhos
De gente que trabalha, honesta, que defende a justia
De pessoas, cujos gestos so poemas e nem se apercebem
Eu gosto de gostar da vida
De ter saudade do futuro
De ouvir a msica do vento
Do gotejar de chuva nas vidraas
De ver o azul nas poas de gua
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Me de Deus
Dentre as antigas oraes que meu pai fazia, havia uma que me chamava a ateno,
pela incoerncia nunca corrigida por ele, que sempre se pautara pelo bom senso e pelo
equilbrio. Mas meu velho, com toda a sua vigilncia em favor dos acertos, nunca ligara
para tal detalhe, que particularmente me incomodava.
Aquele parecia ser seu ponto de tolerncia, pois mesmo sabendo que Deus jamais
tivera me, agia como se desconhecesse o fato, como quem diz: orao para ser rezada, e
no para ser contestada. Costumeiramente o encontrava em seu monlogo com Maria,
quando noite ele pegava seu antigo livro de oraes e recitava: Santa Maria, me de Deus,
rogai por ns....
Se Maria me, quem o pai? perguntava eu em tom de brincadeira. O certo que
o fato de se ter uma me traz em seu bojo a idia de ter sido gerado, o que incompatvel
com o conceito de Deus, criador absoluto de todas as coisas.
Mas por que o culto a Maria to forte em determinados templos, superando s
vezes, at mesmo a gratido que devemos a Jesus? Cita a Histria que essa devoo vem
aumentando a partir do ano 431, quando o Conclio de feso, reunido em uma Igreja que
supostamente guardava seus restos mortais a declarou Me de Deus. Durante a Idade
Mdia, incorporou-se ao seu culto inmeros atributos de deusas mitolgicas das religies
existentes na antigidade, atribuindo-se a me de Jesus os mais variados milagres.
Atualmente, tempo de profundas contestaes, podemos ler em textos autorizados
pela Igreja Catlica, como o do padre Raymond Brown, a seguinte argumentao aqui
resumida: A Bblia de Jerusalm, fiel ao texto original hebraico, no cita a palavra
virgem, mas sim jovem, moa. Para esse autor, o texto que se refere a virgindade de
Maria poderia ser traduzido da seguinte forma: uma mulher, atualmente virgem, conceber
por meios naturais, logo que passe a conviver com o seu marido.
Para mim, o fato de Jesus ter nascido atravs de um ato sexual no tem nenhuma
significao frente a sua inquestionvel evoluo espiritual. Assim nasceram Buda,
Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Antnio de Pdua, Confcio... todos os habitantes da
Terra. O contrrio, nascer de uma mulher virgem, sem a presena de um espermatozide,
seria uma discriminao, de vez que as leis biolgicas vigentes no planeta no autorizam
semelhante proeza.
Se Jesus no veio destruir a lei, se em tudo ( fisicamente ) ele foi semelhante a seus
irmos, por que haveria de ser diferente nesse detalhe que tantos prejuzos causou ao
exerccio sexual a partir de ento? Se Ele evitou nascer atravs de um ato sexual porque
no quis submeter-se a um ato impuro e indigno de sua angelitude. Foi a deduo da
mentalidade da poca. Mas Jesus negou essa pseudo contaminao ao conviver, falar,
andar, alimentar-se com prostitutas e gente de toda laia. Para Ele, os sos no precisavam
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de mdicos, e como para o que detm o medicamento o natural buscar os enfermos, foi o
que Ele fez.
Creio que Jesus no recusaria o nascimento atravs da funo sexual, deixando no ar
certa nota de imoralidade relacionada com a sublime funo reprodutiva. Tanto que se dizia
o filho do homem, posto que um homem lhe fornecera a carga gentica, o corpo,
instrumento para que o Esprito pudesse atuar em meio denso. Mas Jesus reconhecia outro
pai, o pai celestial, a quem se reportava orando: Pai Nosso, que ests no cu.... Se sendo
maus sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso pai celestial que est nos
cus, dar boas ddivas aos que lhas pedirem. ( Mateus: VII: 7-11)
Jesus no foi filho nico. Isso fica bem claro nos Evangelhos. No ele o filho do
carpinteiro? No se chama a me dele Maria e os seus irmos Tiago, Jos, Simo e Judas?
E as suas irms no vivem todas entre ns? ( Mateus: 13: 55-56); Olha que tua me e teus
irmos te buscam a fora ( Mateus: VII: 46-50); Pois nem mesmo os seus irmos
acreditavam nele ( Joo: 7-5); Eram assduos orao, com algumas mulheres, entre as
quais Maria, me de Jesus, e os irmos dele ( Atos: I: 12-14); No vi nenhum outro
apstolo, mas somente Tiago, irmo do Senhor. ( Paulo - Glatas 1: 19)
No livro Memrias de um Suicida psicografia de Yvonne Pereira, podemos ler
uma das rarssimas aluses a esse Esprito, em obras espritas. Legio dos Servos de Maria
- Legio chefiada pelo grande Esprito Maria de Nazar, ser anglico e sublime que na
Terra mereceu a misso honrosa de seguir, com solicitudes maternais, Aquele que foi o
redentor dos homens.
Assim se expressa Camilo Castelo Branco, suicida que teve a autorizao de
escrever um romance sobre a situao desses desgraados no plano espiritual, esclarecendo
aos homens o grande equvoco que o suicido, crime passvel das mais rigorosas
expiaes.
o que sabemos sobre Maria atualmente, de vez que, da coordenao e implantao
do movimento esprita sobre a Terra no consta que ela haja participado explicitamente.
Para ns espritas, Pai, filho e Esprito santo no formam uma unidade como se
todos fossem iguais e inseparveis. Deus o Pai justo e misericordioso. Filhos somos todos
ns, os j evoludos e os que um dia, atravs do processo evolutivo, atingiro a condio de
Espritos puros. Esprito Santo o conjunto formado por todos os Espritos que auxiliam
na obra de Deus, sob suas diretrizes.
Reconhecemos em Maria um Esprito anglico e trabalhador, em Jesus o Esprito
mais perfeito que encarnou na Terra e em Deus, a causa primria de tudo, inteligncia
suprema, criador incriado. Nesse contexto que me sentia incomodado com meu velho pai
quando dizia ser Maria a me de Deus.
E existe algum mal em chamar Maria de Me de Deus? Nenhum. Exceto o de no se
estar falando a verdade. E Jesus disse: Eu vim a este mundo para dar testemunho da
verdade. Quem da verdade ouve a minha voz.
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Ingratido programada
Scrates ensinou a Plato, que ensinou a Aristteles, que ensinou a Alexandre, que
dominou o mundo pela fora, o que prova que no aprendeu nada do que lhe ensinaram.
Entender uma atitude subjetiva. Cada qual entende a sua maneira, com a
profundidade e a relatividade intrnsecas ao seu mundo. E o universo de cada pessoa
imensamente rico e desconhecido. O no julgueis aconselhado por Jesus traz embutido
toda a problemtica da injustia que se comete com o conhecimento superficial nos
julgamentos. Julgamos pelo que conhecemos, sem nos darmos conta de que a parte
desconhecida sempre a maior.
O papel do mestre ensinar, encaminhando as lies para o grande escoadouro da
justia. Nesse contexto, o principal obstculo de um mestre a ignorncia, que se arma de
diferentes fantasias na tentativa de confundir a razo, tarefa impossvel, de vez que esta no
adormece ao compasso de nenhum entorpecente.
s vezes a ignorncia se traveste de ingratido, poluindo a gua que lhe matou a
sede. A ingratido fere fundo, martirizando o corpo. um corte invisvel que provoca
diferentes sintomas e deixa cicatriz exposta no Esprito no afeito ao perdo. A ingratido
a arma dos insensveis beleza e bondade, pois preciso que algum tenha aguado
instinto de destruio para retribuir o afago recebido com a bofetada do desprezo.
No Brasil, a ingratido para com os professores programada por motivos bvios. O
professor trabalha com viso de mundo, criticidade, esperana, utopia, libertao de
conscincias... sendo portanto um indivduo perigoso para os objetivos hipcritas e egostas
da classe dominante. Ao conscientizar os alunos sobre os direitos que lhes so negados, da
arrogncia e prepotncia de alguns que se elegem donos do planeta; dos casusmos e das
injustas leis que privilegiam minorias; do excesso na concentrao de riquezas em mos
eleitas; que o presente cenrio de injustia social e violao de direitos vai de encontro
aos planos de Deus para os humanos, o professor faz a parte do libertador.
Sou um severo crtico da falta de estudos cientficos e filosficos entre grande
parcela dos espritas. A crtica se expande aos Centros Espritas que no divulgam a
doutrina adequadamente. Para transformar necessrio conhecer. Sem conhecimento, o
Esprito pode vir a ser joguete do conhecimento mal empregado. Pior! Pode colaborar com
a injustia, julgando, atravs da bondade ingnua ou romntica, que apenas manso e
pacfico.
No cenrio atual, o vamos orar no tudo. Acrescido a este vem o vamos arar.
O arado simboliza a luta para arrancar da terra os bens necessrios sobrevivncia. Se o
esprita no ara, no estuda os mecanismos de dominao, as ideologias perniciosas que
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dessa batalha fortalece a ingratido para com os educadores e as correntes que fazem seus
filhos rastejarem penosamente
Est na Constituio: A educao um dever do Estado e um direito do aluno. Est
no Evangelho: Conhecers a verdade e ela te libertar. Est no Esprito o desejo indomvel
e soberano de liberdade.
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religiosos, com a clareza da estrela que serviu de ttulo a obra. Aldebar a estrela mais
brilhante que conhecemos. Talvez no to luminosa quanto o conhecimento, o amor, o
perdo e outras virtudes evanglicas ainda distantes desse planeta azul e aquoso, mas,
certamente, um farol a nos inspirar o nimo para lutar pela dignidade de sua morada. Quem
caminha sob a luz, segue em direo a Deus. Isso qualquer estrela sabe, qualquer verdade
confirma, qualquer prece anuncia. Este livro traz uma maneira especial de dizer isso.
Luiz Gonzaga Pinheiro