2015-2 - Guia de Estudos Ética e Sociedade
2015-2 - Guia de Estudos Ética e Sociedade
2015-2 - Guia de Estudos Ética e Sociedade
tica e Sociedade
2 edio revisada, ampliada e atualizada.
Graduao
APRESENTAO
A IMPORTNCIA DA TICA NA SOCIEDADE
A GLOBALIZAO E A TICA
REFERNCIAS
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24
48
74
90
126
tica e Sociedade
Claudio Luiz Oro Organizador
Ancelmo Pereira de Oliveira
Ardinete Rover
Carlos Weinman
Diego Beal
Elizandra Iop
Evandro Ricardo Guindani
Idovino Baldissera
Marcio Trevisol
Rejane Ramborger
Joaaba 2015
proibida a reproduo desta obra, no todo ou em parte, sob quaisquer meios, sem a permisso expressa da Editora Unoesc.
E84
CDD 177
Reitor
Aristides Cimadon
Vice-reitores de Campi
Campus de Chapec
Ricardo Antonio De Marco
Campus de So Miguel do Oeste
Vitor Carlos DAgostini
Campus de Videira
Antonio Carlos de Souza
Campus de Xanxer
Genesio To
Pr-reitor de Graduao
Ricardo Marcelo de Menezes
SUMRIO
APRESENTAO........................................................................................................................................... 7
PLANO DE ENSINO-APRENDIZAGEM.................................................................................................8
Para refletir
Saiba mais
Exclamao
Pergunta
APRESENTAO
tica e Sociedade
PLANO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
EMENTA
PLANO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
OBJETIVO GERAL
COMPREENDER e ANALISAR a tica dentro do contexto scio-histrico, considerando suas diferentes concepes.
OBJETIVOS ESPECFICOS
METODOLOGIA
O componente curricular ser desenvolvido por meio do Portal de Ensino Unoesc,
que a sala de aula virtual. As aulas sero acompanhadas por um grupo de professores que presta assistncia metodolgica e pedaggica para o desenvolvimento da
aprendizagem. Alm disso, o Guia de Estudo serve para orientar o aprendizado por
meio de um dilogo, facilitando a compreenso dos contedos que sero trabalhados.
CRONOGRAMA
EVENTO
Incio do componente
curricular
Unidade 1
Unidade 2
Unidade 3
Unidade 4
Unidade 5
ATIVIDADE
DATA
Aula presencial
Leitura do programa de aprendizagem e orientaes iniciais
_______/______
Leitura da Unidade
_______/______
Leitura da Unidade
_______/______
_______/______
_______/______
_______/______
_______/______
_______/______
_______/______
PLANO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
tica e Sociedade
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BIBLIOGRAFIA BSICA
SANDEL, Michael J. Justia: o que fazer a coisa certa. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2012.
VALLS, lvaro Luiz Monteiro. O que tica. 3. ed. So Paulo: Brasiliense, 2004.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
SUNG, Jung Mo; SILVA, Josu Cndido da. Conversando sobre tica e sociedade. 17.
ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
TUGENDHAT, Ernst. Lies sobre tica. 6. ed. Petrpolis: Vozes, 2007.
PLANO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
UNIDADE 1
A IMPORTNCIA DA
TICA NA SOCIEDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade, voc ter condies de:
Com o objetivo de alcanar o que est proposto a esta unidade, o contedo est
dividido nas seguintes sees:
SEO 1
A importncia do
outro
SEO 2
A tica e a vida
social
SEO 3
tica e sociedade na
universidade
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tica e Sociedade
A vida em sociedade exige que reconheamos a importncia do outro e sejamos compreensivos, tolerantes e sensveis aos desafios que nos rodeiam!
Como nossa cultura ainda muito individualista, precisamos de um longo caminho para nos
tornar mais ticos. esse caminho que o convidamos a trilhar no componente curricular tica
e Sociedade.
Ento, vamos iniciar nossos estudos de tica e Sociedade? Para isso, precisamos entender por
que se estuda a tica e em que momento surge a preocupao tica na sociedade. Inicialmente, vamos falar daquilo que o eixo central da tica: o reconhecimento do outro.
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Uma pessoa ou grupo de pessoas muito importantes na sua vida:
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Se voc precisar se desfazer de uma dessas coisas, qual ser?
Elimine uma de suas escolhas.
E se voc precisar abrir mo de mais duas coisas? Elimine outras duas respostas.
Enfim, o que restou?
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tica e Sociedade
pela incompletude e inacabamento; a todo o momento buscamos o outro, ou para
partilhar, ou para nos completar como indivduos.
Quantas vezes voc est desanimado, chateado, e ao conversar com outra pessoa
parece ficar mais leve e tranquilo?
Isso tudo nos ajuda a entender que o outro nos completa em nossos pensamentos e
aes.
A IMPORTNCIA DA TICA NA SOCIEDADE
Em relao ao reconhecimento do outro, Boff (2003a) tambm se refere ao meio ambiente, ao planeta Terra, a tudo o
que sai da nossa esfera individual. Reconhecer o outro-animal,
o outro-natureza, na sua dignidade, reorganizar toda uma
forma de ver o mundo, , como sugere o autor, produzir uma
nova tica: A tese de base desta tica afirma que a lei suprema
do universo a da interdependncia de todos com todos. Tudo
est relacionado com tudo em todos os pontos e em todos momentos. Ningum vive fora da relao. (BOFF, 2003a).
Percebemos, assim, que o outro faz parte de nossa vida.
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A base de toda a construo tica fundamenta-se nesta pressuposio: a tica surge quando o outro emerge diante de ns.
Boff (2003a) leva-nos a perceber que sempre temos uma postura diante do outro:
ou nos distanciamos, ou nos aproximamos, ou ignoramos. nessa relao que somos considerados ticos ou no.
A tica surge a partir do modo como se estabelece
a relao com esses diferentes tipos de outro. Pode
fechar-se ou abrir-se ao outro, pode querer dominar o outro, pode entrar numa aliana com ele,
pode negar o outro como alteridade, no respeitando-o, mas incorporando-o, submetendo-o ou, simplesmente, destruindo-o. (BOFF, 2003a).
A todo momento estamos em relao com o outro, e isso nos caracteriza como seres morais moralmente bons ou ruins no
h como negar essa condio humana; temos nossa dimenso
moral.
O que essa dimenso moral?
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tica e Sociedade
Na caa s bruxas, durante a Idade Mdia, as mulheres eram consideradas demonacas, portanto, podiam ser destrudas, mortas.
As tribos maias, incas e astecas, na Amrica, tambm foram praticamente extinguidas pelos espanhis porque eram consideradas pags e inferiores.
tica e Sociedade
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Precisamos discutir a tica dentro da sociedade em que vivemos, na qual buscamos concretizar nossas aspiraes individuais. Sociedade e indivduo formam um todo inseparvel; no h
como negarmos essa relao entre aes individuais e sociedade. Esta possui uma lgica de funcionamento que acaba determinando grande parte de nossas aes individuais.
Mas, o que isso tem a ver com a tica?
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tica e Sociedade
Como percebemos isso concretamente?
Procure analisar a nossa sociedade capitalista: as ideias presentes no mundo publicitrio, no cinema, na televiso esto centradas na busca pelo sucesso.
Voc lembra do desenho do Pica-pau? Que ideias esse personagem transmite? Que
devemos obter sucesso a qualquer custo. E o Tio Patinhas? Para ele, ganhar dinheiro o mais importante.
Figura 1 Tio Patinhas
EXEMPLO
A sociedade constri modelos de relaes entre as pessoas, estabelece normas de convivncia. Nas grandes capitais, comum
tropear em algum dormindo nas caladas, faz parte do cotidiano da cidade haver crianas pedindo dinheiro nas ruas; essa
indiferena comea a fazer parte do costume, da vida cotidiana.
tica e Sociedade
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tica e Sociedade
Muitos cientistas do sculo XIX acreditavam que a cincia deveria aprimorar seus inventos e descobertas, debruar-se apenas
sobre seu campo especfico do saber para evoluir a partir de
suas prprias pesquisas.
Sabe qual foi o resultado disso?
tica e Sociedade
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O conhecimento cientfico que no leva a tica para dentro de sua rea especfica
corre o risco de desenvolver srios prejuzos sociedade e a todo o planeta Terra.
Os acontecimentos citados tiveram como causa principal a crena de que a cincia
possui poderes absolutos e sempre fonte de verdade e de certeza.
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tica e Sociedade
Os desafios do terceiro milnio possuem alto grau de complexidade, de inter-relaes e interdependncias. O profissional da Economia no consegue resolver
sozinho o problema da fome; o profissional da Educao no consegue educar
sozinho; o profissional da Sade no consegue, sozinho, garantir sade a todos; o
profissional do Direito no consegue, somente por meio da lei, criar uma sociedade
justa e organizada; o profissional de Engenharia precisa discutir as finalidades de
sua tcnica numa perspectiva humana e social. Nenhum desses profissionais consegue resolver sozinho todos esses problemas.
Em razo de um perodo acentuado de especializao, a cincia
acabou se fechando no seu objeto de conhecimento e perdendo um pouco a relao com a sociedade e com outras reas do
saber. muito comum encontrarmos algumas cincias considerando-se superiores a outras, ou profissionais que se fecham ao
dilogo com outros profissionais por consider-los inferiores
ou pouco relevantes.
Assim, a tica nos convida a reconhecer a importncia do dilogo e da conscincia do inacabamento, porque nunca estamos
prontos, sempre precisamos aprender com o outro diferente.
Autoavaliao 1
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tica e Sociedade
UNIDADE 2
TICA, MORAL
E CULTURA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade, voc ter condies de:
COMPREENDER o que tica e cidadania no contexto atual, percebendo diferentes implicaes ticas e
morais nas condutas sociais;
IDENTIFICAR a cultura e suas implicaes no convvio social;
PROPICIAR uma reflexo sobre as questes atuais que envolvem preconceitos, discriminao, violncia
e valores.
ROTEIRO DE ESTUDO
Com o objetivo de alcanar o que est proposto a esta unidade, o contedo est dividido nas seguintes sees:
SEO 1
tica e Cidadania
SEO 2
A cultura, a moral
e a violncia
SEO 3
Preconceito e discriminao: violncia
contra o outro diferente
SEO 4
Os valores morais
e a liberdade de
conscincia
tica e Sociedade
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Nesta Unidade, voc vai saber como a nossa educao cultural contribui ou no
para sermos mais ticos, como viver como cidados e como somos educados na
relao com o outro, principalmente com o outro de cultura diferente.
Embora esses questionamentos paream mais latentes na atualidade, segundo Boudoux (2014, p. 1), Na verdade eles nasceram
no momento em que o homem passou a viver em sociedade e, para
tanto, comeou a perceber a necessidade de regras que regulamentassem esse convvio. Diante da necessidade de regular o convvio, aos poucos vo surgindo normas e regras, a fim de se obter
o bom relacionamento social. Desse contexto emerge a tica, que
ser objeto de nosso estudo, quanto prtica da cidadania.
Vamos l?!
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tica e Sociedade
injusto perante as escolhas que temos que fazer, as quais podem afetar ou no as
situaes cotidianas.
A tica j fazia parte do estudo da filosofia, especialmente a de ascendncia grega, e, durante toda a histria, muitos pensadores se ocuparam em entend-la, esclarec-la e at
conceitu-la, sempre visando melhoria nas relaes sociais. As normas ticas revelam
a melhor forma de o homem agir e relacionar-se com a sociedade e consigo mesmo.
Segundo Boudoux (2014, p. 1), Scrates, considerado o pai da filosofia antropolgica, relaciona o agir moral com a sabedoria, afirmando que s quem tem conhecimento pode ver com clareza o melhor modo de agir em cada situao. Podemos, ento,
deduzir que a preocupao com o modo de viver em sociedade constante, e, assim
como a teoria socrtica, muitas outras foram formuladas ao longo da histria de
alguma forma para a melhoria do agir humano e, consequentemente, para o exerccio
da cidadania e para o bom convvio social. Lembre-se de que na Grcia, a escravido
era prtica comum e indiscutvel; hoje, abominvel. No entanto,
podemos perceber que outras formas de escravido surgiram e
que, do ponto de vista tico, tambm no so aceitveis, e, embora as formas e as compreenses tenham evoludo, o que contraria
a dignidade humana ser sempre motivo de rejeio.
Diante do atual cenrio poltico-social-cultural no qual nos inserimos, percebe-se a necessidade de um estudo e aplicao de
normas ticas, para que se possa recuperar formas dignas de convivncia, haja vista tanta violncia contra a pessoa e o patrimnio
pblico ou privado.
Ento, perceba que sem uma retomada dos princpios
fundamentais basilares, ou seja, dos valores perenes de
justia, responsabilidade, honestidade, legitimidade,
liberdade, entre outros tendo sempre como pano de
fundo a vida como o valor primordial, em todas as suas
manifestaes no se vislumbram melhores condies
de qualidade de vida, e sem um reposicionamento
favorvel ao desenvolvimento da vida plena, no h
como fazer acontecer o desenvolvimento de um povo,
de uma nao, de um pas.
Situando a tica
tica a parte da filosofia que se ocupa com o estudo do comportamento humano, no que se refere prtica dos valores que
norteiam o destino humano e investiga o sentido que o homem
atribui s suas aes na busca da verdadeira felicidade, para
alcanar o bem viver, no sentido grego.
tica e Sociedade
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Para Vasconcelos (2011, p. 199), A tica, tambm vista como julgamento do carter moral de uma pessoa, aplicada em diversos setores da sociedade, entre os
quais, economia e poltica, assim como nas situaes do dia a dia. Assim, a tica,
desde os tempos remotos at hoje, uma necessidade premente e est sempre
presente no cotidiano, pois em todas as nossas relaes e atos, em algum grau,
utilizamos nossos valores de vivncia tica. Assim, eles nos auxiliam e facilitam os
relacionamentos, porque os valores praticados para o bem nos fazem ver e sentir
que estamos avanando, progredindo em direo a um mundo melhor.
dos pelas relaes entre os homens e, em particular, pelo seu
comportamento moral efetivo. Pode-se constatar que uma moral
primitiva surgiu com o prprio homem, na qual a sobrevivncia bsica se constitua na norma tica fundamental. A Moral
Tribal se resumia em trabalhar para comer, matar para no
morrer. Dessa forma, podemos compreender que cada tempo e
cada lugar gera seus prprios costumes, modos de vida e jeito de
viver.
Em um sentido amplo, a tica engloba um conjunto de valores
que se traduzem em regras e preceitos de ordem valorativa, que
esto ligados prtica do bem e a evitar a prtica do mal, aprovando ou desaprovando a ao dos homens de um grupo social
ou de uma sociedade inteira.
A palavra tica, derivada do grego ethos, significa comportamento, que, segundo Boff (2000), pode ser tambm traduzida
por [...] morada moradia no como algo acabado, mas aberto
a ser feito. Heidegger atribui ao termo ethos o significado de
morada do ser. Para Aristteles, o centro do ethos (moradia)
a felicidade, para Plato, o bem. De qualquer forma, a tica se situa no convvio humano como a forma de conduta, no qualquer
conduta, mas aquela que conduz o homem prtica dos bons
costumes, que edificam o humano, distanciando-se da barbrie,
da brutalidade e do confinamento egosta da vida.
Voc compreendeu esses conceitos?
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tica e Sociedade
Em razo dos valores estabelecidos pela conscincia do ser humano, a tica pode
ser entendida como objetiva e subjetiva. A primeira pressupe que os valores so
constitudos individualmente, impossibilitando formas de colocar valores para os
outros, enquanto na segunda, os valores so vlidos para todos os seres humanos,
tornando todos seus defensores.
tica e Sociedade
haja um contgio que atinja a maioria. Deduz-se, dessa forma, que a formao de
valores passa pela formao cultural, que na maioria das vezes se baseia no senso
comum de um grupo.
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Percebeu, ento, que a formao de conceitos se baseia no senso comum da sociedade, pois sentido por toda uma comunidade, um povo ou uma nao, inferindo-se que cada indivduo, embora seja influenciado pelo grupo com o qual convive,
pode e deve, tambm, influenciar o grupo, fazendo a simbiose na construo da
sociedade do futuro. Agora, pergunta-se: para qual sociedade do futuro esto sendo
voltadas as aes humanas?
Quando se trata de tica como algo presente no convvio humano, no se quer dizer que j se nasa assim, com a conscincia
Podemos afirmar, sem sombras de dvidas, que a tica fundamental para termos uma vida plena, uma vez que se situar na
vida cotidiana basilar, porm, somente quando h coragem
para se decifrar como um ser confiante na prpria vida, no amor
como a maior manifestao do ser humano no grupo social
, com respeito por si e pelo outro e, principalmente, aliado
verdade, estando acima de quaisquer interpretaes, ideias ou
opinies.
Situando a moral
As prticas humanizadas certamente conduziro a um futuro de boas possibilidades (prtica de valores bons virtudes) ou ento, diferente disso, sem destino e
sem rumo.
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tica e Sociedade
A moral o conjunto de normas, livres e conscientes, adotadas, que visam organizar as relaes humanas, tendo como base o bem e o mal, com vistas aos costumes sociais praticados em determinado local e por determinado tempo, podendo
estender-se de forma mais duradoura e tambm abrangendo maiores espaos,
dependendo da aceitao ou da rejeio de acordo com costumes e/ou hbitos
praticados.
Lembre-se de que apesar de serem semelhantes, e por
vrias vezes se confundirem, tica e moral so termos
aplicados diferentemente. Enquanto o primeiro trata o
comportamento humano como objeto de estudo e normatizao geral e ampla, o segundo se ocupa de atribuir um
valor ao local e imediata, e diz respeito aos costumes
e hbitos praticados por grupos mais restritos. Como
exemplo, pode-se citar o aborto, tomado em sentido geral,
que tratado como antitico, pois atenta contra a vida
e, portanto, fere um valor fundamental. Por outro lado,
tratando-se de situaes particulares (fecundao resultante de um estupro, ou uma m-formao congnita), o
aborto pode ser moralmente aceito. H pases que adotam
a prtica de aborto como ato de controle de natalidade,
portanto, naquele pas abortar moral.
Aristteles, em seu livro A Poltica, descreve que Os pais sempre parecero antiquados para os seus filhos. Essa afirmao
demonstra que, na passagem de uma gerao familiar para
outra, os valores morais mudam radicalmente. Outro exemplo
o de que quando est em veraneio na praia, um casal de namorados pode passear tranquilamente, ela vestida apenas com
biquni e ele com uma sunga, que ningum ir estranhar ou
molest-los por causa disso. Porm, se esse mesmo casal for
para a faculdade com esses trajes, certamente ser censurado
por isso. Essa mudana de comportamento e juzo de valor
provocada, simplesmente, pelo meio geogrfico.
Conforme nos ensina Boudoux (2014, p. 3):
tica e Sociedade
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O ato moral tem consequncias medida que afeta no somente a pessoa que pratica, mas tambm aqueles que a cercam e a prpria sociedade. Ento, para que um
ato seja considerado moral, ou seja, julgado como bom, deve ser livre, consciente,
intencional e solidrio.
Podemos afirmar que do ato moral decorre a responsabilidade, exigindo da pessoa que assuma as consequncias
por todos os seus atos, livre e conscientemente, para que
seja considerado bom, salutar, construtivo.
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tica e Sociedade
Situando a cidadania
O termo cidado tem origem em cidade, habitante da cidade, parafraseando a Grcia antiga que tinha na plis (cidade) a vida comunitria regrada, cujo habitante era
o poltico, (vivia dentro da plis cidades gregas cercadas de muros).
Logo, cidado aquele que vive e participa da vida da cidade. Cabem, aqui, reflexes e anlises sobre como viver na cidade, ter vida cidad. Pode-se viver na cidade
como morador apenas, sem estar comprometido com ela, ocupando espao apenas
para usufruir do que a cidade proporciona; ou ento ser ativo, fiscalizar, tomar parte dos projetos, das decises, enfim, da vida da cidade.
Cidado no sentido tico significa aquele que participa da vida
da cidade, no apenas como morador, mas como sujeito ativo, que influencia nos rumos dela e toma como sua funo ser
atuante. Logo, a conduta do cidado deve pautar-se em alguns
tica e Sociedade
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O Brasil ainda caminha a passos lentos no que diz respeito tica e cidadania, principalmente no cenrio poltico e social, que
se revela a cada dia. Porm, inegvel o fato de que realmente a
moralidade tem avanado, mas ainda muito aqum do desejado
(BOUDOUX, 2014).
Vrios fatores contriburam para a formao desse quadro catico. Entre eles, os principais so os golpes de Estados Golpe
de 1930 e Golpe de 1964 e at mesmo as polticas pblicas
adotadas pelos governos em tempos de democracia. Durante o
perodo em que o pas viveu uma ditadura militar e a democracia foi colocada de lado, o cidado teve seus direitos suspensos,
a liberdade de expresso foi calada e o medo tornou-se constante, tirando o mpeto de repudiar, de protestar e at de expressar-se livremente. Tivemos a suspenso do ensino de filosofia e,
consequentemente, de tica nas escolas e universidades. Como
consequncia dessa srie de medidas arbitrrias e autoritrias,
nossos valores morais e sociais foram se perdendo, levando a
sociedade a uma apatia social, sendo estabelecidos os valores
que o Estado queria impor ao povo, ou seja, a vontade de poucos
prevaleceu sobre a vontade da maioria.
Na atualidade, estamos presenciando ensaios de liberdade cidad no que diz respeito aplicabilidade das leis e da tica no poder: os crimes de corrupo e de desvio de dinheiro esto sendo
mais investigados e punidos, mesmo que com a lentido tpica
da justia brasileira, a prpria polcia tem trabalhado com mais
liberdade de atuao e tem se policiado em prol da moralidade
e do interesse pblico, o que tem levado os agentes pblicos a
refletir mais sobre seus atos antes de comet-los.
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tica e Sociedade
Essa democracia, implantada como democracia brasileira, foi especialmente efetivada aps a promulgao da Constituio de 1988. Etimologicamente, o termo
democracia vem do grego demokrata, em que demo significa governo e krata,
povo. Logo, a definio de democracia governo do povo. Se isso fosse levado a
srio, por si s j garantiria, de certa forma, o uso da tica nas relaes de poder,
governo e governado. Ento, teramos a democracia conferindo ao povo o poder
de influenciar na administrao do Estado por meio do voto, porque o povo que
determina quem vai ocupar os cargos de direo do Estado. Decorre, ento, que se
insere, nesse contexto, a responsabilidade tanto do povo, que escolhe seus dirigentes, quanto dos escolhidos, que devero prestar contas de seus atos no poder
(BOUDOUX, 2014).
Aqui, segundo relata Boudoux (2014, p. 4):
A tica tem papel fundamental em todo esse processo, regulamentando e exigindo dos governantes
o comportamento adequado funo pblica que
lhe foi confiada por meio do voto, e conferindo
ao povo as noes e os valores necessrios para o
exerccio de seus deveres e cobrana dos seus direitos. E por meio dos valores ticos e morais determinados pela sociedade que podemos perceber se os atos cometidos pelos ocupantes de cargos
pblicos esto visando ao bem comum ou ao interesse pblico.
tica e Sociedade
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Constitucionalmente, os direitos esto garantidos, tanto individuais quanto coletivos, sociais ou polticos, porm, so precedidos de responsabilidades que o cidado
deve ter diante da sociedade. Assim como a Constituio garante o direito propriedade privada, exige que o proprietrio pague os tributos que o exerccio desse
direito gera, e o pagamento dos impostos devidos, consequentemente, ser revertido em seu benefcio.
Exercer a cidadania tem por consequncia ser responsvel e agir com tica, assumindo as consequncias de seus deveres enquanto cidado inserido no convvio social.
Portanto, o caminho que leva a tica passar da teoria prtica
fazer com que cada um sinta que tem crdito e que suas opinies
no so apenas ouvidas, mas tambm valorizadas, e suas ideias
aceitas, entendidas e levadas a srio. Assim, a confiana gerada
engloba todos os envolvidos na ao, sejam governantes ou governados, sejam subalternos ou superiores.
Deveres e direitos andam juntos no que diz respeito cidadania. No se pode querer exigir um direito sem que antes tenha executado o dever a ser cumprido. uma
via de mo dupla: seus direitos aumentam na mesma proporo de seus deveres
perante a sociedade.
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tica e Sociedade
O modo de agir uma consequncia do modo de ser. A pessoa que se exercita na
prtica de virtudes tem uma conduta de vida e deixa transparecer em sua atuao,
quer como profissional quer como cidado, os valores que cultiva em sua vida pessoal. Assim, as virtudes so essencialmente hbitos bons que, para florescer, devem
ser praticados. As organizaes e, especialmente, as instituies de educao tm a
responsabilidade de promover, incentivar e encorajar o comportamento tico.
A condio humana real de agir de acordo com a racionalidade (uso da razo), porm, a racionalidade sofre influncias do
meio e constitui-se a partir dos valores ali praticados. Dessa
forma, no basta uma ao cidad local, mas preciso ampliar a
todas as esferas da sociedade. Para tanto, necessrio que cada
um atue a partir de onde se encontra de forma direta ou indireta como cidado consciente de seus deveres e direitos.
Para ser cidado no basta votar e eleger um candidato a um
cargo pblico. preciso conhecer a histria de comprometimento com a coisa pblica desse candidato, preciso ter acesso
a ele enquanto atuar, seja na criao, aplicao ou execuo das
leis que afetam a cada um de ns no cotidiano. O servidor pblico precisa cumprir seu papel de servir ao pblico na funo
para que fora investido, e o cidado comum, cumprir com suas
tica e Sociedade
obrigaes de contribuir com os impostos, mas tambm exigir os servios pblicos eficientes que o poder pblico tem obrigao de devolver ao contribuinte com
seriedade ao gerir os recursos.
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tica e Sociedade
Em nossa cultura, a violncia entendida como o uso da fora fsica e do constrangimento psquico para obrigar algum a agir de modo contrrio sua natureza e
ao seu ser. Ento, nos perguntamos: que relao existe entre cultura e violncia?
Costumes e violncia?
tica e Sociedade
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A tica faz parte do nosso cotidiano, nossa vida familiar, educacional, profissional,
etc. Vamos refletir sobre a presena da violncia na nossa sociedade, em alguns
espaos do nosso cotidiano: famlia, educao, trabalho e sade pblica.
Famlia
Se voc j precisou sair de casa, est estudando fora ou morando distante da famlia, deve sentir muita saudade e falta de um
aconchego; a famlia vista como um lugar e espao do bem.
Porm, no precisamos ir muito longe para nos defrontar com
problemas de violncia familiar: pais que espancam filhos e,
ainda mais grave, cometem abusos sexuais contra eles, problemas de alcoolismo, drogas, desemprego, todos esses fatores
desencadeiam processos de violncia. A reflexo sobre a violncia traz consigo a necessidade de discutirmos as relaes de
poder. H abuso de poder quando uma pessoa reduz a outra
condio de objeto assim se concretiza a violncia.
Anlise da Organizao
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tica e Sociedade
Quais questionamentos ticos poderamos fazer
sobre essa famlia? Quem tratado como objeto?
Quem exerce poder sobre o outro? Como a
violncia faz parte do cotidiano, da normalidade e
do costume?
Voc lembra que iniciamos nossos estudos falando sobre a reflexo tica? Pois
bem, ela surge para questionarmos a moral e os costumes, mas estes esto no
nosso dia a dia, e o que considerado normal pela tradio e pela cultura pode ser
fonte de violncia contra as pessoas, aes antiticas presentes na moral familiar.
A famlia, no mundo ocidental, essencialmente patriarcal e, por conseguinte,
essa estrutura tem grande possibilidade de se tornar machista. Os papis sociais,
No Brasil, no incio do sculo XX, era considerado normal professores baterem em alunos, aplicarem castigos, enfim, a violncia na escola era explcita; uma ao que tambm refletia
a moral familiar da poca. Para as provas, o aluno precisava
decorar todo o contedo e responder de forma idntica ao professor. Essa metodologia expressava que o mais importante era
o contedo. Se o aluno interpretasse, traduzisse o contedo com
suas palavras, a resposta era considerada errada. O aluno no
podia fazer perguntas, era um meio de passagem entre a lousa e
a folha da prova, era um objeto.
Precisamos, portanto, entender as formas de violncia na transmisso do conhecimento. Quantas vezes o conhecimento cientfico e a figura do professor so colocados pela escola como algo
superior ao aluno?
Outra forma de violncia existente na escola a reproduo da
excluso. Filhos de famlias ricas tm maiores chances de prosperar na vida acadmica do que os de classe menos favorecida.
Patriarcal:
Na cultura
ocidental
patriarcal, o
pai o chefe
de famlia.
tica e Sociedade
Muitas crianas, para ajudar a sustentar a casa, acabam deixando a escola, enquanto muitas outras, alm de frequentar a escola regular, tm condies de fazer
cursos paralelos.
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tica e Sociedade
digno, muitos poderiam afirmar que foi predestinada e que uma realidade social
qual precisa se submeter.
tica e Sociedade
tica: identificar e perceber a violncia velada nos costumes e na moral das instituies, nesse caso, a sade pblica.
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Todas as instituies exercem, de uma forma ou de outra, violncia contra o indivduo; cabe a voc considerar e perceber a importncia dessas reflexes em qualquer
projeto profissional.
Dogmtica: que se
apresenta
com carter
de certeza
absoluta
Para Aranha (1992, p. 181), preconceito (pr-conceito) significa conceito (ou opinio) formado antecipadamente, sem
adequado conhecimento dos fatos. O perigo do preconceito est
na recusa em reexaminarmos as convices quando se tornam
dogmticas. Nesse ponto, o preconceito fonte de intolerncia
e, portanto, de violncia. O preconceito leva discriminao,
quando o diferente considerado inferior, excludo dos privilgios de que os melhores desfrutam.
44
tica e Sociedade
Um exemplo de preconceito cultural o dos colonizadores europeus, que consideravam os povos tribais inferiores, no como
uma cultura diferente, mas de menor importncia. Aqui, surge
a legitimidade de muitos atos violentos contra povos indefesos.
Sabemos que a populao indgena brasileira foi praticamente
exterminada pelos brancos.
tica e Sociedade
era semianimal, bruto e rebelde e exigia pulso forte por parte do dominador. Por resistir
ao trabalho escravo, o negro passa a ser avaliado por meio de esteretipos: indolente,
malandro, cachaceiro. A dominao justificada por considerar o negro inferior.
Sabemos que o racismo muito presente em nossa cultura. A reflexo tica nos convida a analisar como o racismo
est fundamentado na ignorncia e na falta de racionalidade crtica.
Na prxima seo, vamos compreender como a cultura e a moral nos impedem de ser ticos.
Esteretipos: que
so vistos
todos de um
mesmo modo
de ser.
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46
tica e Sociedade
Scrates, filsofo grego de Atenas, levava os jovens a questionar aquilo em que acreditavam e que repetiam, a questionar os
prprios valores. Foi um dos primeiros filsofos a estimular o
questionamento tico, porque provocava uma reflexo profunda sobre os valores. A grande contribuio do pensamento e da
ao socrtica foi no sentido de demonstrar que o que entendemos como valores (certo, errado, bonito, feio) construdo
dentro de um contexto cultural, geogrfico e em determinado
tempo. Scrates fazia as pessoas indagarem sobre a origem e a
essncia das virtudes (valores e obrigaes) que julgavam praticar ao seguir os seus costumes.
Portanto, no podemos afirmar que nossos valores sejam vlidos para todos. Quando voc no consegue perceber a particularidade dos seus valores, no conseguir pensar alm da sua
cultura e da sua moral. Assim, seus valores morais limitam a
sua liberdade de pensamento e reflexo. Muitas vezes, ouvimos
a expresso: A minha opinio esta e no abro mo porque
a verdade!; uma afirmao como essa demonstra que o sujeito
no consegue refletir alm de seus princpios morais, tirando-lhe a liberdade de reflexo. o chamado fundamentalismo ou
fanatismo: o indivduo fica preso aos seus referenciais culturais
de mundo.
tica e Sociedade
Em nossa vida, quando seguimos o que dito como correto pela cultura da sociedade em que vivemos, achamos que estamos no caminho certo. Scrates nos perguntaria:
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48
tica e Sociedade
UNIDADE 3
O PENSAMENTO
FILOSFICO E A TICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade, voc ter condies de:
SEO 2
Um percurso entre
as correntes filosficas: dos gregos
at a atualidade
SEO 3
Reflexo sobre a
construo
da moral
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tica e Sociedade
tica e Sociedade
As questes ticas so, acima de tudo, questes filosficas. Por isso, para construirmos uma reflexo tica, precisamos, antes de tudo, resgatar o papel e o conceito de
filosofia.
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Chau (2003, p. 23) discute a ideia de filosofia como a [...] fundamentao terica e
crtica dos conhecimentos e das prticas.
Com isso, percebemos que a filosofia busca problematizar as prticas e os conhecimentos j estabelecidos. Em nossa educao, o conhecimento transmitido por
intermdio dos costumes, e, por isso, no buscamos levantar dvidas sobre ele, at
porque todos pensam da mesma forma, ento, acabamos nos acostumando com
certas ideias e prticas. Para progredirmos eticamente, contudo, precisamos colocar em dvida e em questo os nossos prprios costumes .
parecido com o que sugeriu Marx, ao afirmar que a filosofia ficou
muito tempo refletindo e que deveria agir. Portanto, ela deve nos
conduzir a uma ao que tenha reflexos imediatos na sociedade,
interferindo diretamente nas aes dos seres humanos e nas suas
relaes com o mundo, com os outros e consigo mesmos.
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tica e Sociedade
A filosofia assume, na histria, uma funo
investigativa, crtica e problematizadora.
tica e Sociedade
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tica e Sociedade
na sua atuao na plis (cidade). Para os gregos no era possvel separar a discusso entre tica e poltica.
Outro elemento importante a ser considerado nas discusses sobre a tica entre
os gregos o conceito de virtude, visto que ele entendido como uma excelncia
humana, um superlativo sobre alguma atividade. Desse modo, a virtude (aret)
designa qualidades morais, espirituais e at intelectuais dos indivduos (JAEGER,
2003).
O surgimento da democracia implicou a transformao da percepo de tica dos gregos. Essa mudana est intimamente ligada questo poltica. Ser cidado passa a ser a condio mais
nobre dentro da cidade. Embora o universo do Ethos (tica) fosse pensado em termos de carter e na vida da casa do cidado, a
poltica passa a ser percebida como a condio da realizao da
tica. Assim, no seria possvel perceber a desvinculao entre
tica e cidadania. A partir de ento, as qualidades morais esperadas so as do cidado como ser ativo, que est em condio de
igualdade e de liberdade para tomar as decises pertinentes
cidade.
a) A Filosofia tica dos Sofistas
Os filsofos sofistas fazem parte do universo da democracia Grega do sculo V a.C., eles se apresentam como mestres da virtude.
Para os filsofos sofistas no h conceito nico de virtude; os
tica e Sociedade
valores, as regras sociais so construes humanas. Isso podemos perceber na afirmao do filsofo Protgoras o homem a medida de todas as coisas. Essa citao
indica que os sofistas apresentavam um relativismo tico, ou seja, no percebiam
valores ticos como eternos e absolutos.
55
b) A tica Socrtica
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tica e Sociedade
com um certo cuidado, visto que as nossas experincias podem nos enganar, passar
uma viso errada do certo e do errado.
A concepo de tica de Plato est ligada ao conceito de natureza humana, percebida por intermdio de uma capacidade racional (que possibilita conhecimento
das ideias), de uma capacidade irascvel (ligada aos sentimentos) e uma capacidade
concupiscente (ligada ao desejo e aos apetites sexuais). A felicidade, a tica, a virtude e a justia dependem do domnio racional sobre outras capacidades humanas.
A razo constitui a capacidade que possibilita o conhecimento imutvel. Quando
a razo domina outras capacidades temos justia, do contrrio, injustia. Assim, a
tica alada por meio do domnio racional, do conhecimento do bem.
d) A tica Aristotlica
e) A tica Helenista
tica e Sociedade
57
Nos sculos III e II a.C., a Grcia antiga passou para o domnio do imperador romano Alexandre Magno. As discusses inseparveis entre tica e poltica passam
aos poucos a privilegiar mais as questes morais. A filosofia desse perodo passa
a destacar a vida interior do ser humano, as questes esto voltadas questo do
bem viver, vida privada. Nesse contexto, duas correntes ou doutrinas obtiveram
destaque: estoicismo e o epicurismo.
O epicurismo foi fundado pelo filsofo Epicuro de Samos no final do Sculo IV a.C.
Para o epicurismo, a tica deve buscar a finalidade da existncia humana, ou seja,
a felicidade, que consequente da satisfao do prazer. Todavia, no se trata de
um prazer espordico e intenso, mas de obter o mximo de prazer e evitar a dor,
visto que a ausncia de dor em relao a sensaes que perturbam a alma humana (ataraxia) e, tambm, em relao ao corpo
constituem uma forma de prazer, ou sumo prazer. Diante disso,
58
tica e Sociedade
g) A tica na Modernidade e o Iluminismo
derno de valorizar o conceito de razo como fonte de conhecimento, de orientao da conduta humana, em detrimento aos pressupostos medievais que firmavam a superioridade do valor da f.
h) O Conceito de moralidade Kantiano
O conceito de moralidade em Kant (1724-1804) tem uma designao distinta em relao moral tradicional, que se encontrava
fundamentada [...] numa f transcendental e, base desta f,
numa subordinao da vontade a uma autoridade. A filosofia
moral kantiana coloca no indivduo a autoridade e ao mesmo
tica e Sociedade
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tica e Sociedade
jetivos, assumidos por ele como plenamente vlidos no seu agir. (BECKENKAMP,
1998, p. 27). Essa a condio para sua validade prtica.
Os princpios prticos indicam, segundo Kant (1980), o que bom fazer ou deixar
de fazer. Nesse caso, o conceito bom pode se referir a um efeito esperado ou a algo
que bom em si mesmo. Dessa forma, o princpio objetivo pode indicar a regra
necessria para uma ao ser bem sucedida em relao a determinado efeito, ou,
ainda, pode determinar uma possvel ao como boa em si mesma. No obstante, a nossa vontade nem sempre considera o que a razo determina por meio de
representaes; por vezes, determinada por outras motivaes, fazendo com que
o princpio objetivo passe a ser percebido na forma de obrigao. No entanto, [...]
a representao de um princpio objetivo, enquanto obrigante para uma vontade,
em seu: [...]
primeiro grau,
os imperativos
tcnicos dos
projetos humanos, impem
os meios necessrios para
um fim.
61
tica e Sociedade
como procedentes de uma motivao moral ou no, pois a moral trata do princpio
do querer.
Segundo Kant (1980), podemos demonstrar vrias aes que so conformes ideia
do dever, mas no esto subjetivamente motivadas por ele, mas por outros mbiles subjetivos. No exemplo do dever moral de no mentir, podemos encontrar na
conformidade da ao a motivao do indivduo simplesmente pelo o que ordena a
lei ou por medo, ou ainda, em vista de uma vantagem pessoal. O ato moral aquele que considera unicamente o que ordena a lei; do contrrio, agimos segundo as
nossas inclinaes. A fim de que uma ao seja considerada moral, no basta que
ela seja conforme a moralidade, mas que contemple um nico princpio: a prpria
lei moral.
A forma do imperativo categrico que tem em si o conceito de
universalidade comparada, por analogia, com o conceito formal da natureza, podendo ser enunciado da seguinte maneira:
[...] age como se a mxima de tua ao se devesse tornar, pela
tua mxima em lei universal da natureza. (KANT, 1980, p. 130).
Por meio dessa formulao, o imperativo considera unicamente a necessidade segundo a qual os indivduos possam querer
que suas mximas sejam universalizveis. A partir de ento
possvel perceber que algumas mximas podem ser pensadas
sem contradio, como uma lei da Natureza; porm, o critrio
leva, em ltima instncia, necessidade de poder querer que a
mxima se torne lei universal.
Com a frmula do imperativo categrico, consideramos o
seu contedo que somente pode ser a forma, que a prpria
conformidade com a lei moral, a qual expressa, por sua vez, a
necessidade de adequar as mximas de modo que possam ser
consideradas universalmente. J os imperativos hipotticos,
pelo contrrio, no possibilitam perceber antecipadamente
o seu contedo, pois eles tomam como base as intenes dos
indivduos e demonstram as regras necessrias para alcanar
determinados objetivos. As duas espcies de imperativos servem como princpio da vontade, e o [...] que serve a vontade
de princpio de sua autodeterminao o fim. (KANT, 1980, p.
134). Portanto, a razo se reporta a nossa vontade a partir de
duas espcies de fins, como disse Beckenkamp (1998, p. 29):
62
tica e Sociedade
Uma vontade absolutamente boa no deve se reportar a fins relativos. Seu fim deve ser independente, pois todo o ser racional
deve ser percebido como um fim em si. A partir desse elemento,
Kant nos leva a um terceiro modo da apresentao do princpio
da moralidade, que contm uma determinao completa e exige
o reconhecimento de todo o ser racional como legislador universal. Dele se segue a necessidade de as mximas se adequarem a
uma possvel legislao universal da vontade, e, ao mesmo tempo, que o ser racional passe a ser reconhecido como autor da lei
moral qual est submetido, pois justamente essa autolegislao que caracteriza a autonomia de sua vontade.
O princpio da autonomia da vontade exige que as mximas possam ser includas [...] no querer mesmo, uma lei universal. Desse modo, o homem deve ser considerado como membro de um
reino dos fins, correspondente a uma [...] ligao sistemtica de
seres racionais por meio de leis comuns. (KANT, 1980, p. 144).
Essa ligao um ideal da razo e no corresponde a um reino
tica e Sociedade
de fato, mas a uma ligao possvel de seres racionais que, dada a sua natureza
racional, so um fim em si mesmos. Por ela, a moralidade passa a ser considerada
sob o conceito da autonomia da vontade, pela qual temos a exigncia de considerar
o ser racional um legislador universal, estando ele submetido s suas prprias leis.
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A crtica feita por Nietzsche para a filosofia e a tradio do pensamento e da busca da fundamentao da moral est na separao entre o pensamento e a vida. Para esboar essa crtica, o
filsofo faz uso de dois personagens presentes na filosofia grega.
Esses personagens so o dionisaco e o apolneo. O primeiro
corresponde a um personagem da mitologia grega considerado o Deus do Vinho e da embriaguez. Na filosofia de Nietzsche,
Dionsio assume a forma humana da fora instintiva e da sade,
da paixo, da sensao, considerado smbolo da humanidade.
Por sua vez, Apolo corresponde ao Deus da razo, da harmonia.
Segundo Nietzsche, no perodo pr-socrtico temos a conciliao entre o dionisaco e o apolneo. Contudo, com a filosofia de
Scrates, a humanidade passou a valorizar mais a razo e buscar
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tica e Sociedade
por princpios racionais, constituindo-se uma forma de negao do humano. A partir disso, passamos a ter uma separao entre a vida, a arte e o conhecimento.
A fundamentao dos modelos de moralidade ocidentais passaram a considerar
um mundo superior, o que pode ser esboado na crena da existncia de um Deus.
Porm, com o desenvolvimento das cincias, o ser humano deixa-a para o segundo
plano, ou melhor, temos a morte de Deus, pois os valores e as concepes de bem e
mal so modificados com a criao da cincia moderna. Todavia, a morte de Deus
liberta o homem de determinadas cadeias que ele mesmo criou, mas no deixa
outros pontos de referncia. A consequncia disso o niilismo, pois no h mais
valores absolutos, no h nada que possa orientar, nenhum mundo transcendente,
nem um Deus. A nica coisa que existe a necessidade do ser humano de ter que
inventar a si mesmo.
A filosofia do alemo Heidegger torna-se um marco para pensar a tica e a sociedade contempornea. Segundo Heidegger
(2006), para definirmos o ser humano, devemos partir do fato
de este estar no mundo. No podemos definir os valores e o
ser humano sem uma reflexo sobre o sentido do ser, ou seja,
do ser a apresentado na expresso alem dasein, como uma
forma que se apresenta a conscincia. Todavia, a questo do
ser, do desein, que deve ser pensada como o desvendamento
A vida inautntica pode ser percebida por meio de trs elementos fundamentais: a facticidade, a existencialidade e a runa.
A facticidade condio pela qual o ser humano se encontra
no mundo, determinado pelas condies sociais, geogrficas,
histricas e econmicas. A situao em que o ser humano colocado no depende da sua escolha, simplesmente lanado no
mundo. A existencialidade ou transcendncia consiste no fato
de que o ser humano busca ir alm das determinaes postas
a ela, ou seja, o ser humano um ser que se projeta para alm
das suas condies. A runa corresponde s circunstncias que
levam os indivduos a se afastarem dos seus projetos essncias.
Isso ocorre em razo das preocupaes cotidianas, as quais
fazem com que o ser e o eu se distanciem (HEIDEGGER, 2006).
Diante dessa situao, a nica forma de superar a vida inautntica o sentimento de angstia, que decorre da tenso entre o
tica e Sociedade
que o indivduo e o que poder ser. Assim, a angstia promove o encontro do ser
humano com si mesmo, ou seja, a sua vida autntica.
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l. O Existencialismo de Sartre
O existencialismo uma das correntes filosficas do nosso tempo. A principal caracterstica dessa corrente buscar entender o
ser humano no por conceitos ou ideias, mas a partir do conceito de existncia. O filsofo Jean Paul Sartre (1905-1980) um
dos representantes dessa corrente.
Segundo Sartre (1980, p. 2) no tem sentido buscar pelas essncias ou ideias dos seres humanos e muito menos buscar valores
e princpios ticos universais e ideais. Desse modo, A existncia
precede a essncia. Em outras palavras o ser humano primeiro
existe e depois se define.
Sobre as questes ticas e morais, no existem conceitos prontos sobre o certo ou errado. No h uma tica universal, nenhum
ser Divino que diga o que se deve ou no fazer. O ser humano
detm plena liberdade de decidir sobre esses princpios. Essa
liberdade aparece como necessidade, uma espcie de condenao. Visto que o ser humano tem a necessidade de agir no mundo, no escolhe as possibilidades e tem que escolher. Ademais,
responsvel por suas aes. Como diz Sartre (1980, p. 9): [...]
o homem est condenado a ser livre. Condenado porque no se
criou a si prprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lanado
no mundo, responsvel por tudo o que fizer.
No entanto, o ser humano, na sua constituio como ser e como ser de relaes,
detm muitas possibilidades. Entre elas, encontramos a aniquilao de todas as
demais possibilidades e projetos, ou seja, temos a conscincia que o ser humano
um ser para a morte. Essa conscincia ou angstia capaz de fazer com que o
ser humano venha superar as mesquinharias do cotidiano e se elevar ao autoconhecimento. Assim, diante da morte somos levados a pensar e
a refletir sobre o que realmente importante para a nosso ser
(MARAS, 2004).
66
tica e Sociedade
A liberdade se define como atividade de escolha. O ser humano escolhe ao agir sobre
as circunstncias sociais e histricas em que est inserido. Essa escolha feita por
meio das aes, que revelam os nossos projetos individuais que esto implicados em
toda a humanidade. Visto que quando um indivduo faz uma escolha individual, est
implicada nesta, a humanidade, ou seja, [...] ao criar o homem que desejamos ser
criamos a imagem do homem como julgamos que deve ser. (SARTRE, 1980, p. 6).
m. A tica Contempornea e a Linguagem
Entre os modelos de tica contemporneos encontramos a tica do discurso do Filsofo alemo Habermas (1929). A tica discursiva recorre razo comunicativa para
sua fundamentao. Segundo Habermas (2006), a atividade argumentativa uma
tica e Sociedade
67
Para entender essa relao social entre os homens, voc tambm precisa entender a relao do homem com a natureza, ou
seja, com a realidade material.
Na sociedade primitiva, a luta pela sobrevivncia exigia a construo de uma coletividade. Assim, surge uma srie de normas
que beneficiam a comunidade. A moral nasceu com a finalidade
de assegurar a concordncia do comportamento de cada um
com os interesses coletivos. O que bom ou ruim definido
em razo da comunidade, ou seja, tudo o que venha a reforar
os interesses da coletividade passa a ser bom, enquanto tudo o
que ameaa a coletividade passa a ser ruim; surgem alguns deveres de todos os membros de uma tribo (todos so obrigados a
lutar contra os inimigos da tribo, por exemplo).
Essa moral coletivista, caracterstica das sociedades primitivas
que no conhecem a propriedade privada nem a diviso de
classes, uma moral nica e vlida para todos os membros da
comunidade.
Isso parece constituir um modelo de sociedade
tica, mas qual o problema?
A moral acontece quando o homem supera sua natureza puramente natural, instintiva, e passa a possuir uma
natureza social, que surge quando o homem passa a ser
membro de uma coletividade.
68
tica e Sociedade
Essa moral nica para todos os membros da tribo limitada pelo prprio mbito
da coletividade: alm dos limites da tribo, seus princpios e suas normas perdiam
sua validade; as outras tribos eram consideradas inimigas e, por isso, no lhes eram
aplicadas as normas e os princpios vlidos no interior da comunidade. Na sociedade primitiva, h uma absoro do individual pelo coletivo, no havendo espao para
uma autntica deciso pessoal e, por conseguinte, uma responsabilidade pessoal.
A coletividade apresenta-se como um limite da moral, por isso uma moral pouco
desenvolvida, cujas normas e princpios so aceitos, sobretudo, pela fora do costume e da tradio. Observe que uma moral coletivista no contribui para o desenvolvimento da conscincia tica; as pessoas cumpriam as regras porque as recebiam
da tradio, no porque tinham conscincia desses valores e normas. O ser humano
somente tem valor se pertence tribo; os membros de outras
tribos podiam ser mortos e escravizados, eram considerados
inferiores.
Perceba que uma comunidade aparentemente sem problemas
de violncia nem sempre pode ser considerada eticamente
avanada.
Veremos que houve mudanas no decorrer da histria...
Essa diviso provocou a separao da sociedade em duas morais: uma dominante, dos homens livres a nica considerada
verdadeira e a dos escravos. A moral dos homens livres era
legitimada nos escritos da poca e por muitos filsofos.
tica e Sociedade
69
vida melhor aps a morte, j que no mundo terreno sua felicidade era negada pelo fato de nascerem servos.
Observe que na sociedade feudal h certa continuidade da
separao entre os homens livres e os escravos, mas surge o
papel fundamental da Igreja na legitimao da desigualdade e
da hierarquia.
70
tica e Sociedade
Cada um confia nas suas prprias foras, desconfia dos demais, busca seu prprio
bem-estar, ainda que precise passar por cima dos outros. A sociedade converte-se
em um campo de batalha, em uma guerra de todos contra todos, tal a moral individualista e egosta que corresponde s relaes sociais burguesas.
tica e Sociedade
71
Com essa anlise histrica da moral, percebemos a complexidade de uma reflexo tica, quando esta busca estudar e compreender os princpios morais. No decorrer da nossa vida, nem sempre percebemos que aquilo que consideramos bom ou ruim para
ns, certo ou errado no comportamento humano, foi construdo
historicamente. Estudar os fundamentos tericos e sociais da
moral ajuda-nos a compreender melhor as aes humanas e o
comportamento dos indivduos.
Uma anlise tica convida-nos sempre a contextualizar a ao
individual. A historicidade da moral ajuda-nos a refletir sobre
nossa forma de pensar os valores vigentes na sociedade em que
vivemos.
s vezes, achamos normal que determinado indivduo no
tenha boas condies financeiras ou passe fome. Por que
achamos isso normal?
72
tica e Sociedade
Se voc absorver todos os valores morais da sociedade capitalista de mercado, poder ficar tranquilo, acreditando que cada um responsvel pelo sucesso ou insucesso, buscando sua riqueza pessoal e erguendo muros ao redor de sua residncia,
poder legitimar sua ao com a ideia de que, simplesmente, a vida resume-se em
obter sucesso individual, e que sucesso sinnimo de ficar rico. Quando estamos
absortos por essa ideologia, ficamos cegos complexidade social, poltica e econmica do mundo.
A atitude e o agir humano so objetos da tica, considerada a arte da reta conduo da vida, que se ocupa com a garantia de temas universais, ou seja, com o que
todos desejam possuir: vida, liberdade, autonomia, conscincia,
etc. Cabe a cada um se encaminhar para esse viver tico, independente das aes dos outros posso observar as aes do
1 Faa uma reflexo socrtica (de acordo com Scrates) sobre a sociedade atual. Que indagaes voc faria sobre a sociedade atual?
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2 Compare o modelo de tica dos sofistas e de Scrates. Defenda um
dos modelos.
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3 Qual o significado da afirmao de Sartre O homem o resultado
das suas escolhas? Explique.
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tica e Sociedade
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Autoavaliao 3
UNIDADE 4
A GLOBALIZAO E A
TICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade, voc ter condies de:
SEO 2
O fenmeno da
globalizao
SEO 3
O fundamentalismo da globalizao
econmica
SEO 4
O avano tecnolgico
e a tica
tica e Sociedade
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Fazendo uma reflexo filosfica sobre a tica e os valores morais, vamos percebendo que eles mudam com o decorrer do tempo.
Um conceito que marca a nossa realidade a globalizao. Esse fenmeno est modificando a configurao cultural e a relao do homem com o outro e com o meio
em que vive. Esse ser o tema de discusso desta Unidade.
A sociedade em que vivemos, chamada globalizada, resultante da hegemonia capitalista no mundo. Como j vimos, essa
sociedade construiu e legitimou uma moral, uma forma de
relao entre as pessoas pautada na mxima: querer poder.
O progresso cientfico e econmico dos sculos XIX e XX esteve
ancorado nos paradigmas da conquista e da dominao. A globalizao um processo econmico e cultural que inicia ainda
no sculo XV, porm, no final do sculo XX que ganha maior
expressividade, modificando intensamente as relaes sociais
entre grupos e grupos e indivduos e grupos.
A GLOBALIZAO E A TICA
76
tica e Sociedade
A GLOBALIZAO E A TICA
Sofremos, hoje, as consequncias desse paradigma da conquista. A conquista de novos espaos, de novos mercados,
de sonhos de consumo, de grandes taxas de lucro, do avano
tecnolgico que alcanamos responsvel pelos grandes desafios ticos que enfrentamos. Na sociedade atual globalizada
sofremos as duras consequncias de um poder sem limites de
conquista, de um consumismo exagerado que gerou grandes
problemas ambientais e que tambm afeta a relao entre indivduos e indivduos e grupos e grupos.
A busca desenfreada pelo lucro e pela expanso dos mercados
gerou, tambm, um alto ndice de excluso social. Pochmann e
Amorin (2003) apontam que a excluso social no Brasil cresceu 11% entre 1980 e 2000, revertendo a tendncia verificada
entre os anos 1960 e 1980, quando houve queda de 13,6%. No
incio dos anos 1960, o pas tinha 49,3% de excludos. A taxa
caiu para 42,6% em 1980, mas retornou para 47,3% em 2000.
Dez anos depois de Pochmnn e Amorin (2014) publicarem dados sobre a excluso social no Brasil na dcada anterior, agora
publicam novamente sobre o ndice de excluso social e fazem
um balano do como estava a excluso social e de como est
atualmente. Os dados apontam que:
Norte e Nordeste apresentam um padro homogneo de excluso social, com proporo irrisria
tica e Sociedade
de municpios de elevado IES, alguns marcados em situao mediana e predominncia de municpios com grave situao de excluso social. A Regio
Centro-Oeste registra situao intermediria, com razovel nmero de municpios com alto IES (representando 11,4% do total e 48,9% da populao),
expressiva maioria com IES mdio e poucos no espectro mais agudo da excluso social. J Sul e Sudeste revelam grande homogeneidade, com praticamente metade de seus municpios com IES alto (42,7% e 45,5%, respectivamente) e proporcionalmente poucos em situaes mais graves. As manchas
extremas de excluso social, concentradas fortemente no Norte e Nordeste,
indicam reas em que a pobreza dos cidados elevada e as oportunidades
de emprego formal, escolaridade e alfabetizao so baixas, entre outros fatores. A anlise mostra grande desigualdade social nas metrpoles e elevado
grau de excluso social nos municpios menores, em sua maioria marcados
pela pouca oferta de bens e servios. (OLIVEIRA, 2014).
77
Muitos acreditam que a razo da misria o aumento populacional, mas o problema est no consumo excessivo, na busca
desenfreada por maior poder de conquista.
A GLOBALIZAO E A TICA
O ndice da excluso social atual continua apontando preocupante concentrao regional da excluso social entre as regies
brasileiras, com maior preocupao para a regio Norte e Nordeste, carentes de infraestrutura e maior participao efetiva do
Estado.
78
tica e Sociedade
como diria Bauman (2003) na atual sociedade tudo muito fludo, muito efmero,
tudo passa muito rpido, os processos sociais no so mais pensados para durarem
uma vida toda, pelo contrrio. No campo econmico, os bens so produzidos com
tempo de vida curta, para serem substitudos por novos produtos. No h mais
heris para que a humanidade tenha referncia, o que temos so celebridades no
campo artstico produzidas pela mdia com interesses de consumo. De acordo com
esse autor, esse momento chama-se modernidade lquida, tudo flui como gua, seja
no campo dos relacionamentos e afetivo seja no campo econmico, o qual j est
resultando em um alto custo humanidade.
O individualismo associado ao corporativismo tem constitudo uma barreira limitadora do desenvolvimento tico dentro da sociedade. As pessoas buscam conquistar
A GLOBALIZAO E A TICA
Vamos, inicialmente, entender como e onde se percebe essa realidade da globalizao. De acordo com Ramos (2004), precisamos compreender que existem quatro importantes fatores que
tm contribudo de forma diversa para configurar o processo de
globalizao nos ltimos 20 anos: a globalizao nas comunicaes, a econmica, a poltica e a dos valores presentes no convvio em todos os nveis: pessoal, social, nacional e mundial.
tica e Sociedade
79
A ligao entre esses quatro fatores demonstra que a revoluo nas comunicaes
favorece e permite a integrao econmica; o fator econmico, por sua vez, tem
implicaes no cenrio e no relacionamento poltico; e o elemento poltico, em
ltima instncia, est presidido por valores e princpios. A presena ou ausncia de
valores ticos e princpios morais nas pessoas que comandam a poltica, a cultura,
a economia e as comunicaes fundamental para compreender a evoluo da
humanidade e o processo de globalizao em curso.
A globalizao, segundo Branco (2003), contribuiu para determinar um modelo de sociedade que atende aos interesses do
individualismo e do consumismo, portanto, no se trata apenas
de globalizao econmica, mas de um processo social.
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H um claro divisor de guas entre aqueles que defendem os aspectos positivos da integrao econmica e aqueles que somente veem as mazelas do processo, que so consequncias, mesmo que por vezes involuntrias, da integrao econmica mundial.
Lembre-se de que a reflexo tica essencialmente
investigativa: quais os benefcios da globalizao, para
quem e como so buscados?
Para as empresas, a globalizao facilitou o acesso s novas tecnologias, ao financiamento, ao trabalho e difuso dos produtos e servios; ao mesmo tempo, acelerou o processo de fuso e incorporao de empresas. Alm
disso, observamos uma concentrao do capital e uma expanso
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Surge aqui, segundo o autor, a construo de uma cultura capitalista, uma cosmoviso materialista, individualista e sem qualquer freio tico. Tal cultura provoca
certa homogeneizao da sociedade: apenas um pensamento, apenas um modo
de produo (capitalista), apenas um tipo de mercado, apenas um tipo de religio
(cristianismo), apenas um tipo de msica (rock), apenas um tipo de comida (fast
food), apenas um tipo de executivo, apenas um tipo de educao, apenas um tipo de
lngua (ingls), etc. Boff (2003a) apresenta um questionamento tico para a globalizao, quando esta se torna uniforme e quando h a imposio
de um nico modelo de vida para o Planeta.
Nesse processo de globalizao, o desenvolvimento tecnolgico assume grande importncia, influenciando o modo de ser e
de pensar das pessoas, provocando o surgimento de grandes
questes ticas.
Podemos dizer que o mundo tecnolgico contempla dois horizontes contrapostos. De um lado, a internet e todas as maravilhas trazidas pelo mundo computadorizado que deram
ao homem uma capacidade criativa nunca vista; no campo da
informao, os recursos tecnolgicos asseguraram ao homem
uma mobilizao sintonizada com tudo o que ocorre em nosso
Planeta. De outro lado, percebemos que a mesma ao que coloca todas as pessoas em sintonia escraviza e cria fundamentos
ideolgicos tambm de natureza global; com isso, homogeneza,
limita a capacidade criativa e desenvolve uma lgica cega que
tem como norte conduzir as pessoas a uma forma de consumo irracional. Pode-se perceber que o uso das tecnologias de
comunicao tem colocado em risco o contato social e tende
a individualizar relaes sociais. Percebe-se que por meio da
tecnologia parte da humanidade pode viver sem ter o contato
A GLOBALIZAO E A TICA
Com a negao da heterogeneidade, da diferena, a sociedade-mundo atual se coloca em contradio com a tica. Essa atitude
perversa tem como consequncia a m qualidade de vida atual
em todos os mbitos sociais, culturais e ambientais.
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tica e Sociedade
direto com outras pessoas, como se a tecnologia fosse um segundo ser, por meio
dela possvel trabalhar, divertir-se, conversar e estabelecer relaes afetivas. O
uso desenfreado da tecnologia est reconfigurando relaes sociais e colocando em
desuso antigos hbitos e valores de uma humanidade inteira de milhes de anos.
Na anlise tica da sociedade atual, vemos entrar em cena o conhecimento cientfico e tecnolgico, que assume vital importncia na vida de cada pessoa e passa
a ser um diferencial de grande relevncia no embate competitivo provocado pelo
mercado. A capacidade cientfica do homem, associada ao desenvolvimento tecnolgico, garantiu humanidade o desenvolvimento de grandes projetos sociais. Foi
com base no conhecimento cientfico que as distintas sociedades em nosso Planeta
passaram a estruturar o trabalho de forma a facilitar o desenvolvimento. A tecnologia, desde que foi incorporada no processo produtivo, tem
descartado mo de obra, porm, no atual momento, percebe-se que esse descarte continua, mas no so apenas mos de
A GLOBALIZAO E A TICA
A revoluo nas comunicaes tem demonstrado que a tecnologia busca a cada dia encurtar distncias e apressar a transmisso de informaes que determina a importncia dos meios
de comunicao para o processo de integrao social, poltica e
cultural.
O avano das comunicaes na dcada de 1990 foi surpreendente, como mostram os indicadores de comunicao global divul-
cio criativo:
significa libertar-se da ideia
tradicional do
trabalho como
obrigao e
ser capaz de
apostar numa
atividade em
que o trabalho
se confundir
com o tempo livre e o
estudo, isto
, quando
trabalhamos,
aprendemos e
nos divertimos
ao mesmo
tempo.
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A GLOBALIZAO E A TICA
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tica e Sociedade
empresas e pases. (RELATRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, 1999,
p. 5).
A GLOBALIZAO E A TICA
Uma das grandes questes ticas levantadas em torno do avano tecnolgico diz respeito questo teleolgica. Uma reflexo
tica sobre o avano tecnolgico reside, portanto, nas questes:
para quem se destina essa inveno tecnolgica? Que tipo de relao humana essa inveno vai proporcionar? Enfim, que modelo de sociedade o progresso tecnolgico buscar construir?
Que relaes afetivas sero produzidas com o uso da tecnologia?
Sero produzidas relaes slidas? Questes a serem pensadas.
So questes que colocam o progresso cientfico sob o crivo da
tica. No decorrer da histria, percebemos diversos acontecimentos que tiveram fundamentao cientfica e tecnolgica,
porm, acarretaram drsticas consequncias para a humanidade, como foi o caso do holocausto na Alemanha (morte de mais
de seis milhes de judeus, ainda homossexuais, negros e pessoas com deficincia), da bomba atmica no Japo e da guerra no
Vietn. A que ponto a conduta humana chegou? At que ponto
o homem chegar em busca do poder? Talvez mais do que em
outros tempos h uma emergncia pela discusso da tica na
atual sociedade e uma mudana de comportamento social voltada para a paz mundial e para a integrao do homem com a
natureza.
A reflexo tica nos faz perceber que o progresso tecnolgico pode no significar um avano para a sociedade, porque a
evoluo da cincia nem sempre contribui para a soluo dos
grandes desafios sociais, como a excluso social e a degradao
ambiental. Aqui fica a pergunta: A humanidade tem avanado
nas questes humanas ou retrocedido?
Teleologia
a discusso e
o estudo das
finalidades,
dos objetivos
de determinada ao
Autoavaliao 4
tica e Sociedade
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Estudo de caso
Leia com ateno o texto Promessa dvida, de Denys Monteiro, e responda s questes.
Em pocas difceis, nas empresas, comum, infelizmente, que os gerentes, para no perder seus funcionrios, faam promessas de dias melhores:
No se preocupe, assim que aumentarmos as vendas, iremos promover
voc, ou, ento: Se conseguirmos atingir as metas, distribuiremos um
percentual maior de lucro este ano. E l se vai o gestor desferindo golpes
certeiros no bolso e no ego de sua equipe.
Nesse momento, a reao na empresa vigorosa. Todos se do as mos e
vibram como se fossem a seleo brasileira entrando no Maracan aps a
palestra do treinador, todos confiantes de que o ttulo j est no papo. Soa
o apito e o jogo comea, com tudo dando certo: as reas se falam mais e
resolvem suas diferenas em benefcio do cliente, e no mais baseadas nas
rixas entre elas; um novo servio implementado, com reduo de custos
para a empresa; os memorandos param de circular vagarosamente pela
empresa e as decises so tomadas on-line; as equipes de venda convertem
mais vendas. Algumas faltas cometidas, pequenos erros e retrabalhos...
Mas tudo bem, faz parte da tenso e ansiedade pelo resultado positivo.
Ao apito final, no h mais nada a fazer. O ano acabou, as entregas foram
feitas. Vendas, s no prximo ano. Todos com o sentimento de dever cumprido: ganharam market share, reduziram gastos em publicidade, contratos de longo prazo foram estabelecidos com clientes estratgicos. S o que
se v pela empresa so pessoas cansadas, mas felizes por terem corrido
sem parar durante os 90 minutos do jogo.
Eis que as reunies de avaliao de desempenho comeam. Todos na expectativa de ganhar a recompensa pelo bom desempenho. Uma grande
reunio convocada e os nmeros da partida so apresentados. O discurso comea com um agradecimento pelo desempenho de todos e comprometimento de cada um nos ltimos meses. Em seguida, iniciam-se as
surpresas: Como vocs podem ver neste grfico, apesar de as vendas na
regio Sul estarem maiores, em compensao, as da regio Norte ficaram
abaixo da expectativa e, com isso, houve uma pequena queda no resultado
global da companhia em relao ao esperado. Surgem os primeiros olhares, incrdulos, e o zumzumzum percorre a sala. E o discurso continua:
Graas s redues de despesas que conseguimos, as margens por produto aumentaram num primeiro momento, mas, como grande parte dos
componentes so importados, a oscilao do dlar fez com que a margem
operacional diminusse em aproximadamente 30%. Alguns j comeam a
entender o recado de que o juiz no viu a mesma partida de futebol que os
atletas jogaram.
Mais meia hora de grficos, tabelas, justificativas, recomendaes e surge
um novo desafio para o prximo semestre. Se atingido, pode recuperar os
resultados desse perodo e a tudo volta normalidade, com o crescimento
da empresa e da economia. Mas como essa foi apenas a coletiva para a imprensa, os funcionrios aguardam ansiosos as suas avaliaes individuais.
Afinal, todos tinham metas bem definidas e a confiana reina nos craques.
Os feedbacks comeam. Aqueles que tiveram desempenho ruim recebem
pouco mais do que uma cobrana mais rgida e uma avaliao no muito
animadora para o prximo ano. Chega a hora dos confiantes e... e... L vem
o discurso de novo: Pedro, voc foi um lder durante todo o processo, sem
voc no teramos conseguido nem este resultado, as pessoas confiam em
voc e no seu potencial. Na sua regio, voc superou os objetivos, inclusive.
Agora, com relao promoo que eu havia lhe prometido... No vou po-
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Autoavaliao 4
der fazer ainda. Veja bem, no fique preocupado, s at as coisas melhorarem. Eu no tenho como justificar para a matriz uma promoo e aumento
com este resultado ruim.
Ainda h uma tentativa de argumentao, um incio de discusso, que no
leva a nada, alm de outras promessas ainda mais audaciosas: Veja bem,
estou te preparando para o meu lugar, preciso maturidade nesta hora. E
d-lhe blblbl...
A frustrao imensa. Quantas horas de sono perdidas, viagens constantes,
o tempo que voc no ficou com os seus amigos e filhos. No existe coisa
pior no mundo corporativo do que prometer em vo. O tiro sai pela culatra,
o time perde a confiana em tudo o que vem pela frente. preciso que os
gestores e o papel do RH fundamental na orientao de sua postura
joguem limpo, conhecendo e esclarecendo a situao e as possibilidades da
empresa. Mencionar s ao final fatores dos quais ningum tinha conhecimento (como a variao do dlar) imperdovel.
Duas so as opes dos funcionrios nessa hora: fazer uma nova aposta
para a prxima temporada ou colocar o currculo no mercado e sair em busca de novas oportunidades. Se a experincia ajuda a refletir, tenho visto a
segunda opo com mais frequncia do que a primeira. Uma vez abalada, a
confiana, premissa indispensvel entre funcionrio e empregador, jamais
ser a mesma.
Portanto, pense bem na importncia de debater esse assunto com a cpula
da empresa e com os responsveis por equipes. Ajude sua empresa a evitar
surpresas desagradveis, como a perda dos seus melhores talentos para a
concorrncia.
A GLOBALIZAO E A TICA
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A GLOBALIZAO E A TICA
UNIDADE 5
OS CONFLITOS TICOS
DA SOCIEDADE ATUAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta unidade, voc ter condies de:
SEO 4
A legitimao da
concentrao de
renda e da corrupo no Brasil
SEO 2
tica e Meio
Ambiente
SEO 5
Esperana tica
SEO 3
tica e Direitos
Humanos
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92
tica e Sociedade
Vivemos na sociedade do conhecimento, ento, imprescindvel a busca pela formao acadmica; mas como o indivduo vai
conciliar essa formao com uma vaga no mercado de trabalho?
tica e Sociedade
93
Em nenhum momento de sua existncia, a humanidade contou com tamanha riqueza. Essa riqueza, como evidenciamos, produzida pelo avano tecnolgico, que
surgiu com a finalidade de proporcionar ao homem maior comodidade. No entanto,
o monoplio que se estabeleceu sobre as tecnologias serviu para ampliar riquezas
e, consequentemente, a distncia entre quem possui ou no acesso s tecnologias e
s estruturas que asseguram o ordenamento material da vida de cada pessoa, indicando que houve uma real limitao na participao de todos os indivduos dentro
dos mais variados benefcios produzidos pelos avanos tecnolgicos.
A crise de perspectivas mais evidente na sbita retirada
dos meios materiais de subsistncia da populao desprovida de um capital cultural e econmico que lhe permita
acompanhar o desenvolvimento do mundo tecnolgico.
A intolerncia
94
tica e Sociedade
Entre os perigos da intolerncia, podemos ressaltar o seu
poder de obstruir o desenvolvimento democrtico de uma
sociedade, tornando invivel a convivncia, resultando,
assim, uma constante quebra da alteridade.
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A pena de morte
Por muitos anos, alguns pases ou estados vm adotando a pena de morte como
alternativa para a soluo dos problemas sociais. Da forca at a cadeira eltrica,
vrios instrumentos foram criados para eliminar as pessoas. No Brasil, muito se
discute sobre a adoo da pena de morte. As pessoas que refletem o senso comum
levantam essa bandeira, defendida por alguns parlamentares, como uma medida
redentora da situao catica que vivemos em razo da violncia urbana.
Ao trazer essa reflexo para o campo da tica, devemos formular uma nova argumentao, acompanhada de muitas perguntas: assumir a pena de morte como
forma de coibir a violao das normas elementares de uma
convivncia social representa a soluo para o problema? Em
que proporo ela no representaria a instituio da prpria
96
tica e Sociedade
Nossas reflexes sobre a engenharia gentica podem ser vistas no plano da biotica, que [...] estuda a moralidade da conduta humana na rea das cincias da vida.
(NALINI, 1999, p. 120).
Como ramo do saber, associada filosofia e biologia, a
biotica procura argumentar em torno dos elementos que
configuram a biomedicina, que, no mundo ps-moderno,
avanou de forma espetacular, protagonizando coisas somente cogitadas na fico.
No h como negarmos que a engenharia gentica tem apresentado grandes resultados que apontam para a soluo de
srios problemas no campo da sade humana. H uma grande
euforia por parte dos cientistas que defendem, de forma irrestrita, a manipulao da gentica; cumpre a ns o papel de
inquiridores.
tica e Sociedade
97
A relao que o homem vem estabelecendo com a natureza ao longo do desenvolvimento humano no imutvel. Pelo contrrio, de acordo com o desenvolvimento
social, o homem e a natureza vo assumindo concepes diferentes em perodos
histricos distintos. A seguir, veremos a relao do homem com a natureza ao longo
da histria humana.
98
tica e Sociedade
por sua vez, e em conjunto com os demais seres, servem ao homem. (MILAR;
COIMBRA, 2004, p. 11).
A Idade Mdia o perodo conhecido por idade das trevas (mil anos de escurido),
em que a luz (razo) estava impedida pela autoridade religiosa de ser cultivada.
Esse perodo se estende do sculo V ao XV. A Igreja exercia grande poder e domnio
sobre a organizao social, ela utilizava as filosofias de Plato e Aristteles (filsofos gregos) para convert-la ao cristianismo e como forma de manter seu domnio
sobre a sociedade por meio da submisso da razo para o fortalecimento da f. De
acordo com Costa (2003, p. 7), A Igreja Catlica usava a razo (inicialmente pelos
ensinamentos de Plato, depois com os conhecimentos de Aristteles) como forma
de manter seu poder e divulgar a f.
Assim, a religio passou a ser utilizada pelo autoclero para
condicionar o comportamento humano e a sociedade, explicando tanto os fenmenos sociais quanto os naturais. Em razo do
poder vigente, o saber passa a ser segregado, aos mais pobres,
somente o saber religioso, desprovido de dvidas e questionamentos, e aos mais abastados, um conhecimento mais elaborado
de teologia, filosofia crist, astronomia e geometria, porm, esse
saber estava restrito aos muros dos mosteiros.
tica e Sociedade
serem seguidos. Portanto, esse perodo rompe com o saber religioso e provoca uma
ruptura na concepo de um modelo de mundo Teocntrico para Antropocntrico,
que vai predominar na modernidade.
99
A nfase no mais sobre Deus, mas sobre o homem. Inicia-se o declive do poder
divino sobre o homem e a natureza e prospera o poder do homem sobre estes.
Com o Renascimento, inicia-se a ideia de que o homem o senhor absoluto do
universo, estando em suas mos a possibilidade de investigar as leis que organizam
o mundo, desvinculados do saber religioso. Tira-se Deus do centro e coloca-se o
homem.
Porm, o homem renascentista no se torna descrente de Deus, apenas muda sua
forma de pensar sobre o mundo e a natureza. A partir desse momento, o homem
adquire maior confiana na sua prpria capacidade, que passa a
ser vista como ilimitada, vindo a criar novas formas de compreenso sobre si e a natureza. Esse processo todo marca o Movimento Racionalista, que enfatiza a razo para a produo do
conhecimento (RECCO; CATARIN; BANDOUK, 2000).
descoberto
pelo grego
Ptolomeu.
O sculo XVII marcou o incio das cincias modernas, responsvel por profundas e importantes transformaes que ocorrero
na investigao e produo do conhecimento sobre a natureza,
100
tica e Sociedade
o que marca uma ruptura entre o saber anterior com o saber produzido a partir
das cincias modernas. Trs traos fundamentais so percebidos nesse momento,
o primeiro a substituio do modelo geocntrico pelo heliocntrico. Outro trao
que a experincia passou a ocupar papel fundamental na investigao das leis da
natureza, e, por ltimo, a matematizao do espao, em que possvel ter certeza
Modelo astronmico que
e rigor no processo de investigao cientfica. A partir desse momento, em razo
presumia que
o Sol era o cenda descoberta das cincias fsica, qumica e biolgica, uma nova ideia sobre o hotro do universo
mem e a natureza produzida. O homem dotado de razo tem poder de dominar
e de que todos
os planetas
a natureza. Dessa forma, a natureza passa a ser vista como produto submetido aos
giravam em
torno dele. O
interesses humanos, ou seja, o homem acredita que tem poder sobre a natureza,
responsvel
pelo heliocnpodendo domin-la e transform-la. Assim, vai se desenvolvendo a ideia de que o
trismo Nicohomem no parte integrante da natureza e nem est em um
lau Coprnico.
mesmo nvel que a natureza, pelo contrrio, o homem superior
a ela. Esse pensamento ficou vigente desde esse momento at
metade do sculo XX, quando um novo conhecimento sobre a
natureza produzido.
O sculo XVIII conhecido como o sculo das luzes, movimento
do perodo Moderno, sculo em que o Movimento Iluminista
alcanou seu auge. Esse movimento consagrou a razo humana
como sendo o instrumento que libertaria o homem das trevas e
prises, ou seja, [...] durante este sculo, segundo se acreditava
na poca, a razo teria atingido um tal estgio de desenvolvimento que tornava possvel reduzir ou at mesmo eliminar de
vez toda a ignorncia humana. (NASCIMENTO; NASCIMENTO,
2002, p. 5). Portanto, a razo significava luz, e as trevas, ignorncia. O Iluminismo considerou o perodo anterior de perodo das
trevas, dizendo que foram mil anos de escurido. Entende-se,
ento, que o Iluminismo quis dizer que durante a Idade Mdia
no perdurou liberdade, e a razo estava submetida autoridade divina. Porm, se a nova era Moderna se desenvolvia pelo
uso da razo, esta teve seu germe na Idade das Trevas; assim,
um pouco contraditrio que o Iluminismo enfatize que foram
mil anos de escurido.
A nfase na razo humana proporcionou ao homem acreditar
que havia alcanado a liberdade plena, j que na Antiguidade
Clssica o homem estava preso ao poder dos mitos e na Idade
Mdia preso ao poder da religio. Dessa forma, na Idade Moderna o homem estaria livre e conduziria seu destino por meio de
sua vontade. O lema do Iluminismo era tornar o homem senhor
de si mesmo (HORKHEIMER (1991).
tica e Sociedade
101
A tcnica que se origina do saber cientfico proporciona a mistificao da verdade sobre a natureza das coisas e sobre a prpria
realidade. No processo do desenvolvimento da humanidade,
esta mais uma das formas de subjugar o homem e sua condio humana, determinada por aqueles que desenvolveram a
tcnica e a converteram em tcnica racionalizada com a inteno de reificar o homem e dominar a natureza. Poder e saber,
como diz Horkheimer (1980), so sinnimos, e a tcnica a
essncia desse saber, que tem no mtodo a eficcia da explorao do trabalho para o desenvolvimento e progresso do capital e
da prpria tcnica.
na tcnica que os homens veem a possibilidade de explorar e
dominar a natureza e o prprio homem.
102
tica e Sociedade
tica e Sociedade
103
Crise ambiental
A crena no progresso econmico e cientfico, o individualismo, a noo antropocntrica de mundo e a noo de natureza instrumental resultaram em graves efeitos sociedade como um todo, tambm sentida na prpria natureza, como: escassez dos recursos naturais, aquecimento global, extino de espcies da fauna e flora
e desequilbrio das estaes climticas.
Essa crise o resultado da viso antropocntrica que predominou no Ocidente e que concedeu ao homem o papel de dominador da natureza, podendo utilizar seus recursos de forma
ilimitada, pois esse paradigma, conhecido como Desenvolvimentista, de base racionalista, coloca o homem acima da natureza e
parte dela. Enquanto o humanismo supervalorizou a posio
do homem no universo, o mecanicismo coisificou e instrumentalizou a natureza no-humana. (SOFFIATI NETO, 2005, p. 204). O
modelo mecanicista nos coloca uma viso fragmentada sobre a
realidade e a natureza, no qual as partes no estabelecem relao com o todo, ou seja, a ao humana sobre a natureza no implica reao. Isso fez com que originasse a ideia de que o homem
poderia intervir sobre a natureza e a sociedade sem que estas
se manifestassem. De acordo com essa concepo, conferida
natureza a condio de objeto sendo natureza reificada pelo
homem. Daqui derivam as formas de dominao, como a crena
de que o homem domina a natureza. Assim, a crise ambiental
tambm pode ser entendida como uma crise de valores.
A crise ambiental impe sociedade uma nova forma de relacionamento entre homem e natureza, uma nova postura tica
da sociedade sobre a sociedade. Essa nova postura tica implica
uma mudana de concepo de natureza e de homem, visto que
o homem passa a fazer parte do Ethos natural, com lugar garantido nele, desde que o respeite, no sentido de que h elementos
naturais que no foram criados para serem utilizados para interesses imediatistas do homem, que possuem outras finalidades
que escapam a nossa compreenso e sensibilidade.
[...] as interaes do homem moderno com seu meio, munido pelo manancial da cincia e da tcnica, foram de tal forma incrveis que acabaram gerando um potencial destrutivo de risco em larga escala em relao ao meio
ambiente natural. (MARQUES, 2004, p. 175).
104
tica e Sociedade
tica e meio ambiente
A natureza passa a ser entendida como o meio ambiente Ethos, onde existe uma diversidade de sistemas ou ecossistemas que interagem interdependente entre si. Os
ecossistemas so conhecidos por animal, vegetal, mineral, microrganismos e, nessa
concepo, podemos incluir ecossistema humano.
Entende-se por ecossistema:
tica e Sociedade
105
[...] unem todas as espcies num nico sistema de sustentabilidade do mundo, onde a reponsabilidade de todos e de cada um est na satisfao de necessidades atuais sem fraudar as perspectivas das geraes futuras, pois
nela que reside a compreenso da nossa gerao, e desde ela que nos
atormenta a angstia da incompletude em preserv-las. (BOFF, 1999, p. 89).
[...] tal tica somente poder surgir a partir da superao da viso de mundo que venha reduzir todos os seres condio de objetos cujo reside no
lucro que podem produzir. Essa tica [...] implica
em uma mudana radical em nossa maneira de
compreender nossa identidade enquanto humanos e nosso lugar no Cosmos, o nosso lugar entre
outros seres. (UNGER, 2004, p. 36, grifo do autor).
A tica ao meio ambiente implica ao homem agir com responsabilidade e conscincia de conservao para com a natureza, para
garantir equilbrio entre as partes que a compem. Assim, atribuda natureza uma importncia moral, pois o homem, precisando
dela, necessita de um comportamento moral em seu benefcio,
pois ele quem tem interesse em uma natureza equilibrada e, para
tanto, sucumbe aes ticas, voltadas prtica da sustentabilidade
para manter o equilbrio entre natureza e homem.
106
tica e Sociedade
E isso somente possvel com uma mudana de paradigmas, que implica uma nova
concepo de homem e de natureza a nvel mundial, pois o paradigma antropocntrico fundou uma guerra entre homem e natureza, com a necessidade da destruio
de um destes, a pergunta que se faz : Dessa guerra quem ser dizimado, homem
ou natureza?
A funo da tica do meio ambiente reside na conscincia do ser humano em
saber que proteger a natureza se proteger.
Para que o homem seja superior ao restante da natureza necessrio que o homem
assuma um comportamento de proteo para com a natureza e todos os que nela
residem, inclusive o prprio homem Rolla (2010). preciso que o homem desenvolva prticas de gesto da natureza, de transformao desta, de
forma que haja sempre a preocupao com as geraes que esto por vir, que necessitam dos recursos naturais para a sobrevivncia, assim, ele estar cuidando e protegendo tanto a natureza
quanto a si prprio.
Discutir e escrever sobre a relao entre tica e direitos humanos no tarefa fcil. Uma das questes reside na dificuldade de
precisar pontos comuns entre tica e direitos humanos. A resposta a essa questo somente ser possvel com um olhar mais
apurado que permite perceber pontos comuns que nos ajudam
a entender a relao entre os direitos humanos e a tica. Como
ponto comum, destacamos a universalidade e a historicidade.
Tanto a tica quanto os direitos humanos primam pelo
reconhecimento universal de suas determinaes independentemente das questes sociais, polticas, tnicas,
culturais ou de soberania dos Estados.
tica e Sociedade
107
Os direitos humanos constituem uma classe varivel, como a histria dos ltimos sculos demonstra
suficientemente. O elenco dos direitos humanos se
modificou, e continua a se modificar, com a mudana das condies histricas, ou seja, dos carecimentos e dos interesses, das classes no poder, dos
meios disponveis, para a realizao dos mesmos,
das transformaes tcnicas, etc.
Por isso, segundo Bobbio (2004, p. 35), [...] os direitos humanos no nascem todos de uma vez, eles so histricos e se
formulam quando e como as circunstncias scio-histrico-polticas so propcias ou se referem inexorabilidade do reconhecimento de novos contedos, podendo-se falar em geraes de
diretos [...] importante perceber que todas as conquistas dos
direitos humanos so o resultado do processo histrico, nascidas de mobilizaes e lutas desencadeadas pelos cidados, visto
que, na base dos direitos humanos esto as lutas por igualdade,
liberdade e justia, que abrem a possibilidade de reconhecimento formal e jurdico de certos direitos. Contudo, mais que
apenas o reconhecimento de fato, a garantia de certos direitos
universais possibilitou a reivindicao contra atitudes de desrespeito ou violao do conjunto de direitos humanos.
108
tica e Sociedade
Feitas as devidas colocaes das semelhanas entre tica e direitos humanos, agora
nos lanamos na difcil tarefa de conceituar e situar os direitos humanos em uma
anlise crtica de sua efetivao. Podemos definir os direitos que pertencem ou deveriam pertencer a todos os seres humanos e dos quais nenhum indivduo pode ser
despojado. Para comear, bom lembrar que em 10 de dezembro de 2008 a Declarao dos Direitos Humanos completou 60 anos. Mas, embora passado seis dcadas
e mais de 30 artigos publicados, os direitos humanos ainda parecem um ideal utpico a ser alcanado. Basta uma breve observao do cotidiano para verificarmos
que os direitos humanos so negados, desrespeitados por grande parte da populao, a comear pelo primeiro artigo da Declarao: Todas as pessoas nascem livres
e iguais em dignidade e direito, no entanto, a todo instante vemos o desrespeito e
a violao de tais direitos.
No Brasil, a excluso social simbolizada na misria e na desigualdade social impossibilita que uma grande parcela da
populao acesse certos direitos, como educao e sade
de qualidade.
Concentrar a discusso dos direitos humanos sobre esses aspectos empobrec-la e negligenciar o esforo da humanidade
para traar princpios universais de respeito ao ser humano.
No possvel negar as conquistas que a humanidade conseguiu nestes ltimos 60 anos e, especialmente, no Brasil, nas
ltimas trs dcadas. Os direitos humanos iluminam a maneira
que pretendemos conduzir a humanidade sobre a gide da
liberdade, da igualdade e da dignidade. Segundo Kant (2003),
filsofo que expressou de forma mais clara a defesa da dignidade humana como princpio para pensar a formalidade das
constituies:
tica e Sociedade
109
Esses ideais de dignidade podem ser vistos na Revoluo Francesa e na Independncia dos Estados Unidos. Em ambas, o
esforo foi de assegurar certos direitos inalienveis, com base na
liberdade, na dignidade e na igualdade. A igualdade, na liberdade e na dignidade, a base da Declarao Universal dos Direitos
Humanos elaborada pela Organizao das Naes Unidas (ONU)
em 1948.
A Declarao Universal dos Direitos do Homem comea com as seguintes palavras: Todos os Homens
nascem livres e iguais em dignidade e direito. Essas palavras no so novas. Podemos l-las muitas
outras vezes. Basta recordar o artigo primeiro da
declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, de
1789, que comea assim: Os homens nascem livres
e permanecem livres e iguais nos direitos, onde as
diferenas so insignificantes. E retornando um
pouco mais no tempo, encontramo-nos diante da
declarao de independncia dos estados americanos de 1776, que se expressa desse modo: Consideramos incontestveis e evidentes em si mesmas
as seguintes verdades: que todos os homens foram
criados iguais, que eles foram dotados pelo criador
de certos direitos inalienveis, que entre esses direitos esto, em primeiro lugar, a vida, a liberdade e
a busca pela felicidade.
110
tica e Sociedade
O seu progenitor mais autorizado foi John Locke, o qual, no segundo captulo do Segundo tratado sobre o governo civil, introduziu o discurso sobre
o estado de natureza, escreveu: Para bem compreender o poder poltico e
deduzi-lo de sua origem, deve se considerar em qual estado se encontram
naturalmente todos os homens, e esse um estado de perfeita liberdade de
regular as prprias aes e de dispor das prprias posses e da prpria pessoa, como se acredita seja o melhor, dentro dos limites da lei da natureza,
sem a permisso ou depender da vontade de nenhum outro. Tambm um
estado de igualdade, no qual cada poder e cada jurisdio so recprocos
(...), j que no h nada mais evidente do que isto, que criatura da mesma espcie e do mesmo grau, nascidas sem distino, com as mesmas vantagens
da natureza e com o uso das mesmas faculdades, devem ser tambm iguais
entre si, em subordinao e submisso. (BOBBIO, 2004, p. 485).
Fica claro que no h nada de novo nas colocaes da Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948) e a construo
dos filsofos jusnaturalistas. Para Locke e os jusnaturalistas, a
afirmao dos direitos naturais era apenas uma teoria ideal que
poderia se tornar real quando uma constituio lhe acolhesse
e transformasse em uma srie de prescries jurdicas. A novidade reside no aspecto legal e formal. Quando esses direitos de
igualdade e liberdade so assumidos pela Declarao Universal dos Direitos Humanos, deixam de ser ideais e passam a ser
prescries jurdicas reconhecidas e protegidas contra eventuais violaes por parte de indivduos, do poder econmico ou do
poder poltico. Isso tem uma importncia mpar para a histria
da humanidade. O reconhecimento dos direitos humanos em escala universal nos garante duas conquistas: que existem direitos
humanos protegidos fora do mbito do Estado e que o reconhecimento dos direitos humanos se torna um mecanismo de
proteo do cidado contra as violaes cometidas pelo prprio
Jusnaturalismo. Do
latim Jus, Juris,
Direito, de
onde vem o
direito natural.
Significa dizer
que existem
certos direitos que so
inalienveis e
intransferveis.
So direitos
naturais, j
nascem com
os indivduos
e no podem
ser retirados
ou violados.
Os direitos
naturais so a
igualdade e a
liberdade.
tica e Sociedade
111
Estado, isto , funciona como uma proteo do cidado quando o Estado falha em
suas obrigaes.
Referimos-nos
aos direitos
naturais as
garantias que
so nascidas
com o indivduo e que no
dependem de
uma lei escrita.
Trata-se de direitos universais e vlidos
para todos os
humanos. Por
isso, so admitidas como
anteriores
tica e ao direito positivo. O
direito positivo
uma criao humana
e constitudo
pelo costume
moral ou pela
norma escrita.
112
tica e Sociedade
Os direitos so doravante protegidos (ou seja, so autnticos direitos positivos), mas valem somente no mbito do Estado que os reconhece. Embora
se mantenha, nas frmulas solenes, a distino entre os direitos do homem
e direitos de cidado, no so mais direitos do homem e sim apenas do cidado, ou, pelo menos, so direitos do homem somente enquanto so direitos
do cidado deste ou daquele Estado particular. (BOBBIO, 2004, p. 29).
O autor nos fornece duas contribuies importantes para entender os direitos humanos: a formalizao dos direitos humanos por meio da lei e, consequentemente,
tica e Sociedade
tos sociais foi motivada pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Logo aps o
conflito que vitimou milhares de pessoas, especialmente judeus, de forma brbara,
os Estados membros da ONU assinaram a Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948) que se tornou um marco na luta pela efetivao dos direitos humanos.
113
A partir de 1948, a proteo dos direitos humanos deixou de ser apenas dos Estados e passou a ser de interesse internacional. A comunidade internacional passou a
observar e acompanhar os Estados, a fim de garantir que eles no violem os diretos
humanos definidos internacionalmente. sabido que muitos governos autoritrios
podem se converter em grandes violadores dos direitos de seus prprios cidados.
Nesse mbito, desenvolve-se um direito internacional que assegura que os destinatrios dos princpios nele contido no so mais apenas deste ou daquele Estado,
mas todos os seres humanos em todo o Planeta. Todo o Estado
que no garantir os Direitos Humanos, ou viol-los, dever ser
responsabilizado pelo Direito Internacional. Para Bobbio (2004,
p. 483), [...] os direitos sociais so mais difceis de proteger do
que os direitos de liberdade; a proteo internacional mais
difcil do que a proteo no interior dos prprios Estados. So
inmeros os exemplos que evidenciam o antagonismo entre as
idealizaes dos direitos humanos e sua efetivao prtica, a elegncia e a grandeza das discusses e a misria das realizaes,
principalmente dos pases perifricos. A negao dos direitos
sociais visvel na negao da educao bsica, na negligncia
da sade, nos programas habitacionais, no transporte coletivo,
no sistema prisional, no lazer, no acesso ao sistema jurdico, etc.
114
tica e Sociedade
Hoje podemos falar de uma quarta gerao de direitos
conhecida como Direitos Coletivos. Essa gerao de direitos
caracteriza-se pela incorporao de novas realidades, como
pesquisas genticas, ao meio ambiente, o monoplio blico
e destruidor dos armamentos, direitos dos idosos, adolescentes, crianas, consumidores, mulheres, minorias tnicas,
homossexuais, etc.
tica e Sociedade
115
A segunda novidade a indivisibilidade dos direitos humanos. Os direitos polticos, civis e sociais no podem ser separados, isto , a garantia de um a garantia
de todos os demais direitos. Por serem indivisveis, os direitos
humanos se fortalecem e se acumulam.
importante assinalar que a cidadania est ligada garantia dos direitos civis, polticos e sociais que asseguram uma vida digna e plena. Um Estado, ao assegurar os diretos humanos, abre espao para a
efetivao prtica da cidadania. Mas notemos que um caminho de
via dupla, por um lado, o Estado deve garantir os direitos humanos,
mas por outro, a efetivao prtica dos direitos humanos somente
possvel a partir de uma luta poltica, isto , torna-se fundamental
que os indivduos lutem e busquem seus direitos.
preciso que os direitos humanos deixem de ser somente
formais presentes nos tratados, nas leis e nos acordos e
passem a ser de fato, exercidos na prtica cotidiana.
116
tica e Sociedade
Na maioria das vezes, a falta de conhecimento sobre os direitos humanos levam o
cidado a emitir opinies distorcidas sobre a extenso, funcionalidade e importncia que desempenham para a efetivao de uma sociedade justa. Os que j gozam
dos direitos conquistados talvez desconheam as dificuldades enfrentadas e as
lutas travadas em longos sculos para a libertao da dominao e da opresso.
Para entender a presena prtica dos direitos humanos no cotidiano basta realizar
uma breve reflexo. Percebemos a presena dos direitos humanos na liberdade de
expressar publicamente sua opinio em um blog ou jornal contrrio ao governo,
quando uma pessoa ingressa uma ao no judicirio e exige da prefeitura os medicamentos necessrios ao tratamento de certa doena, quando participa de manifestaes polticas, ou quando participa de movimentos sociais. Em todos esses casos
e em muitos outros o indivduo est usufruindo dos direitos
humanos. Segundo Aranha (2013, p. 235):
tica e Sociedade
117
excluso social promovida por questes relacionadas cor de pele. Embora o IBGE
(2010) tenha constatado que somando os indivduos que se declaram negros e pardos sejam 50% da populao, ainda sofrem com as dificuldades para acessar aos
direitos sociais. A situao fica pior quando pensamos nos indgenas que, na maioria das vezes, ficam marginalizados dos processos sociais, no participam assiduamente da poltica e tm dificuldades de acessar o sistema de ensino. Infelizmente, a
educao no Brasil ainda tratada como privilgio e no como direito.
Uma terceira questo refere-se fome. A Constituio de 1988, por exemplo, define
[...] o acesso alimentao como um direito humano. So belas as palavras contidas na Constituio, pena que ainda no se fazem valer plenamente na sociedade
brasileira. Estima-se que 14 milhes de brasileiros vivam em situao de insegurana alimentar, isto , no tm nenhuma garantia de que faro
trs refeies dirias em qualidade e quantidade suficientes
(BOMENY, 2013).
Esses trs exemplos tratados (gnero, etnia e a fome) expressam no somente as questes do elitismo, do autoritarismo
social e da desigualdade, mas a dificuldade de fazer valer na
prtica social os direitos humanos. claro que nas ltimas dcadas conquistamos muitos direitos, porm, precisamos ter conscincia que o caminho longo e as lutas so necessrias para a
conquista da cidadania.
118
tica e Sociedade
Segundo Pochmann (2004 apud FUTEMA, 2004), o Brasil um dos pases mais
desiguais do mundo, o nmero de ricos no pas dobrou de 1980 a 2000. Em 2000,
existia 1.162 milho de famlias ricas no pas, o correspondente a 2,4% da populao brasileira, 20 anos antes, havia 507 mil famlias ricas, 1,8% da populao na
Toda essa realidade de desigualdade social, corrupo e analfabetismo poltico acaba esquecida e tolerada sob o argumento de
que vivemos em um pas maravilhoso e de que Deus brasileiro. A beleza das mulheres, a riqueza natural, o carnaval e o
futebol parecem desempenhar um papel de viseira tica diante
de uma realidade violenta e injusta.
Rega (2004) afirma que O jeito, ou o jeitinho brasileiro, a imposio do conveniente sobre o certo. a filosofia do: Se d
certo, certo; desde, claro, que dar certo signifique resolver meu problema, ainda que no definitivamente. Assim o
brasileiro: d jeito em tudo. Sua versatilidade abrange um sem-nmero de situaes: o para-lama do carro amarrado, em vez
de soldar; so os juros embutidos no valor da prestao fixa;
tica e Sociedade
matar a av pela quinta vez para justificar a ausncia a uma prova na escola, mas o
jeitinho , tambm, pedir a um mdico amigo para atender uma pessoa carente ou
para fazer uma cirurgia pela Previdncia; o revezamento dos vizinhos para socorrer uma pessoa doente; conseguir um emprego para um pai desempregado.
119
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Claro que no podemos condenar essa cultura do jeitinho, pois nem todo jeito
negativo. Para o autor, a inventividade e a criatividade so algumas das facetas mais
relevantes do lado positivo do jeito. Inventar e criar so habilidades do brasileiro
na sua capacidade de adaptao a situaes inesperadas, como a falta de dinheiro.
O jeitinho busca encontrar uma soluo possvel para uma situao que a princpio seria impossvel. Rega (2004) cita o caso do
operrio que cobre o outro em seu turno enquanto aquele participa de um curso no supletivo para ganhar o tempo perdido.
Diante disso, voltamos especificidade da tica que como parte da filosofia busca sempre fazer uma anlise mais global do
assunto. Devemos condenar o jeitinho brasileiro como uma ao
antitica? O desemprego no uma situao individual, ento algumas aes encontradas para superar essa problemtica social
precisam ser analisadas de forma global e profunda.
Observe a situao dos vendedores ambulantes; muitos esto
em situao ilegal, deram um jeitinho para sobreviver. O operrio que faz curso supletivo e conta com a ajuda do colega para
isso tambm faz parte de uma situao que deve ser analisada
dentro de uma tica global.
tica e Sociedade
Em suma, o descaso generalizado das autoridades pblicas quanto s reais necessidades do povo gera o salve-se quem puder que, por sua vez, alimenta o jeito
e incentiva a transgresso das normas. Disso corrupo apenas um passo; to
logo se estabelea, a corrupo generalizada acolhe a impunidade e, assim, fecha-se
o crculo.
121
Em uma ocasio, um adolescente entregou-me sua agenda para que lesse alguns
poemas que ele havia feito. Li-os, cuidadosamente; tratavam da realidade de nosso
pas. Ao final de um deles, havia uma frase, cuja autoria o adolescente ignorava:
Em Roma, ela se chama bustarela; em Moscou,
vzyatha; em Berlim, tink gel; e, em Braslia, pode
ser jeitinho, mas em qualquer lugar do mundo e
a qualquer poca ser sempre corrupo, uma prtica to antiga quanto existncia do homem. Sua
arma predileta a dissimulao, e seu instrumento
mais eficaz, o suborno, desde o mais clebre da Histria, o de Judas Escariotes, ao do empreiteiro que
paga comisso ao homem pblico.
De acordo com Rega (2004), percebemos que o jeitinho brasileiro possui contexto dentro de um crculo vicioso que envolve o
cidado brasileiro. Torna-se negativo quando usa de justificativas para o ato corrupto, para a negligncia.
O jeitinho tambm o hbito de simplificar a realidade
com afirmaes reducionistas, como: Ah! Todo mundo
faz, ento, farei tambm.
122
tica e Sociedade
No! Precisa comear agora, na nossa vida acadmica. Precisamos compreender que o conhecimento que buscamos na
universidade deve contribuir para a resoluo dos problemas
sociais e para a melhoria da qualidade de vida no lugar onde
vivemos.
Essa inteligncia tica pressupe, necessariamente, uma mudana de crenas e de concepes, um olhar mais profundo
sobre a realidade em que vivemos, que no se limite ao senso
comum, legitimado pelas instituies, pela cultura e pela grande mdia. Por isso, a inteligncia tica um saber que ultrapassa o conhecimento especfico que adquirimos em nossos
cursos. Alm de sermos bons em nossa funo, em nossa rea,
precisamos ser sbios.
O que ser sbio? A palavra sabedoria origina-se do grego,
sophos, que significa totalidade. Uma pessoa sbia , portanto,
tica e Sociedade
123
algum que olha o mundo na sua totalidade, alm de sua realidade individual, ou
poderamos dizer alm de seu prprio umbigo.
A esperana tica na sociedade atual concretiza-se medida que mudamos nossas concepes e atitudes sobre a
realidade em que vivemos.
1 A partir dos casos apresentados, procure escrever sua opinio, fundamentada em uma reflexo tica.
Eutansia/Morte assistida
Uma pessoa querida, com uma doena terminal, est viva apenas porque seu corpo est ligado a mquinas que o conservam. Suas dores so
intolerveis. Inconsciente, geme no sofrimento. No seria melhor que
descansasse em paz? No seria prefervel deix-la morrer? Podemos
desligar os aparelhos, ou no temos o direito de faz-lo? Que fazer?
Qual a ao correta?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
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Autoavaliao 5
124
tica e Sociedade
Autoavaliao 5
Aborto
Uma jovem descobre que est grvida. Sente que seu corpo e seu
esprito ainda no esto preparados para a gravidez. Sabe que seu
parceiro, mesmo que deseje apoi-la, to jovem e despreparado
quanto ela e que ambos no tero como se responsabilizar plenamente pela gestao, pelo parto e pela criao de um filho. Esto desorientados e no sabem se podero contar com o auxlio de suas
famlias (se as tiverem).
Se ela for apenas estudante, ter de deixar a escola para trabalhar,
a fim de pagar o parto e arcar com as despesas da criana. Sua vida
e seu futuro mudaro para sempre. Se trabalha, sabe que perder
o emprego, porque vive em uma sociedade em que os patres discriminam as mulheres grvidas, sobretudo as solteiras. Receia no
contar com os amigos. Ao mesmo tempo, deseja a criana, sonha com
ela, mas teme lhe dar uma vida de misria e ser injusta com quem
no pediu para nascer. Pode fazer um aborto? Deve faz-lo?
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___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
tica e Sociedade
125
Autoavaliao 5
5 Entre os povos da Antiguidade oriental, a justia baseava-se na Lei
de Talio, cujos princpios eram resumidos pela expresso olho
por olho, dente por dente, ou seja, o culpado por um crime deveria
ser condenado por uma pena que lhe provocasse um mal equivalente ao dano causado por seu crime. Esse procedimento seria justificado hoje? Em que medida os atos violentos praticados (refere-se
ao ato de fazer justia com as prprias mos) no Brasil so uma
afronta aos Direitos Humanos?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________________
6 Os direitos humanos no so universais, mas universalizveis. Explique a diferena conceitual para o fortalecimento dos direitos humanos.
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
AUTOAVALIAO 4
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